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EXMO. JUÍZO DA XX VARA CÍVEL DA COMARCA DA


CAPITAL - RJ

Processo n° xxx
GRERJ XXXX

RENATO, inconformado com a sentença de


fls. xx proferida na ação indenizatória em epígrafe, que move em face de
FORNECEDOR S.A, por seu advogado regularmente constituído, com
fundamento art. 1.009 do CPC, vem interpor

APELAÇÃO

a fim de ver reformada a decisão guerreada, pelas razões em anexo,


requerendo a V. Exa. que receba e processe o presente recurso apenas no
efeito devolutivo, distribuindo-o a uma das Colendas Câmaras Cíveis após
a intimação do Recorrido.

Aproveita para juntar desde logo o


comprovante de recolhimento do preparo recursal.

E. deferimento.

LOCAL, DATA

ADVOGADO
OAB

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RAZÕES RECURSAIS

RECORRENTE: RENATO
RECORRIDO: FORNECEDOR S.A
AÇÃO: INDENIZATÓRIA
PROCESSO: XXXX

Colenda Câmara,

Merece reforma a douta decisão sentença ora


combatida pela equivocada apreciação dos fatos e do direito, incorrendo em
error in judicando como se expõe a seguir.

DA TEMPESTIVIDADE

O Recorrente foi intimado da sentença de fls.


xx na data xx/xx/xxxx, conforme certidão de fls. xx. Assim, a interposição
do presente recurso nesta data é perfeitamente tempestiva, eis que dentro
do prazo de 15 dias previsto no art. 1.003, § 5º, CPC1.

BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

O Recorrente é consumidor do serviço de


telefonia prestado pelo Recorrido e desde xx/xx/xxx vem recebendo
incessantes cobranças por uma dívida que não reconhece, chegando a
receber mais de 20 ligações em um único dia. Ao buscar solução pela via
administrativa, encontrou resistência do Recorrido, conforme os protocolos
1
Art. 1.003, § 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

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xxx, xxx e xxx. Sem alternativa, ajuizou demanda pleiteando a declaração


de inexistência do débito, a cessação das cobranças e indenização pelos
danos morais suportados.

O Recorrido, por sua vez, apresentou


contestação genérica, que, em suma, alegava que o débito era pertinente,
que as cobranças eram exercício regular de direito e que não havia danos
morais a serem indenizados. Contudo, não lastreou suas alegações com
acervo probatório idôneo.

Em audiência de instrução, o Recorrente e o


Recorrido se reportaram à inicial e à defesa, respectivamente. Após, foi
prolatada sentença de parcial procedência, considerando se tratar de relação
de consumo e que o Recorrido não se desincumbiu do ônus probatório para
descaracterizar o fato do serviço no caso concreto, declarando inexistente o
débito perseguido e determinando a cessação das cobranças.

Contudo, o decisum não reconheceu ter havido


dano moral, entendendo se tratar de mero aborrecimento, desgosto inerente
à vida em sociedade. Inconformado com este capítulo, o Recorrente busca
sua reforma.

DO ERRO DE JULGAMENTO

A Carta Política consagrou a proteção do


consumidor como um direito fundamental (art. 5º, XXXII, CRFB/88) 2, cuja
norma regulamentadora detém status de norma de eficácia supralegal,
conferindo assim maior efetividade a um dos fundamentos primordiais da
2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

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República, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CFRB/88) 3, visto que
todos são consumidores.

Adentrando à matéria específica da proteção ao


consumidor, o art. 6º, VI, CDC 4 consagra o princípio da reparação integral
do consumidor, inclusive os danos extrapatrimoniais. Este direito básico
concentra o cerne de todo o sentido da legislação consumerista: positivar
regras capazes de prevenir potenciais lesões ao consumidor e garantir a
escorreita reparação das que mesmo assim ocorrerem.

Uma vez que a sentença reconhece a existência


de fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC 5, imperioso reconhecer a
obrigação de reparação dos danos sofridos.

A mácula da sentença está na valoração dos


fatos. O juízo a quo entendeu que as inúmeras ligações diárias realizadas
pelo Recorrido, durante vários dias, não são capazes de produzir dano
moral.

Ora, a inteligência do art. 187 do CC 6 traduz


justamente o contrário. Em que pese cobrar débito de cliente seja exercício
regular de direito do credor, o seu exercício ao arrepio da boa-fé configura
abuso de direito, portanto, ato ilícito.

3
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana

4
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

5
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

6
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

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Não há como chancelar práticas flagrantemente


abusivas dos fornecedores, sob pena de incentivar grandiosa injustiça e
importunação daqueles mais vulneráveis, com esteio no art. 42 do CC 7. Se
a cobrança abusiva é reprovável quando existe dívida, quem dirá quando o
consumidor não está inadimplente.

É cristalino dano moral sofrido pelo


Recorrente, o qual pode ser descrito sucintamente como a ofensa a
qualquer direito da personalidade, dentre eles, o direito à dignidade, à
intimidade, à vida privada e à honra, dispostos exemplificativamente no art.
5º, X, da CRFB/888.

É inegável o sentimento de impotência e de


angústia experimentados pelo Autor. O Recorrido frustrou a justa
expectativa daquele em ser tratado com respeito e lealdade, observados os
bons costumes, principalmente por ser cliente em perfeita adimplência com
suas obrigações. O Recorrido perturba a paz e invade a esfera pessoal do
Recorrente ao cobrar insistentemente débito que nem lhe pertence.

Em que pese tal fato, a caracterização dessa


espécie de dano prescinde de demonstração/quantificação da angústia e do
sofrimento suportado, pois decorre do próprio fato. Frise-se que a cobrança
através de inúmeras ligações telefônicas diárias é fato incontroverso.

7
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

8
Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

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Diante de evidente ato ilícito, o posicionamento


pacífico do Tribunal da Cidadania9 e deste E. Tribunal10 é de que tal prática
acarreta dano moral indenizável.

Destarte, provada a ocorrência de fato do


serviço e de cobranças que extrapolam a razoabilidade, não há como incluir
o presente caso dentre aqueles em que se busca aventura processual ou
mesmo dentre os casos de frustrações normais do convívio social.

A lide ora apresentada ultrapassa e muito um


mero aborrecimento, merecendo reforma a r. sentença para julgar
procedente na integralidade o pedido veiculado na exordial.
9
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. COBRANÇA
ABUSIVA. ATO ILÍCITO. DANOS MORAIS. REVISÃO. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. DEFICIÊNCIA NA
FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. 1. Hipótese em que o Sodalício local foi claro ao afirmar que
houve manifesto abuso do direito de cobrança de crédito, diante do número excessivo de ligações
diárias que a instituição financeira passou a realizar. 2. Na forma do art. 42 do CDC, não é admissível que
o consumidor seja submetido a cobranças de natureza vexatória, constrangedora ou ameaçadora, sob
pena de cometimento de ato ilícito por parte da figura do credor. 3. Considerando o posicionamento
exposto pela Corte a quo, no sentido de que teria havido ato ilícito diante do abuso do direito de
cobrança, descabe a este Tribunal Superior a reanálise do caso concreto, pois, para isso, seria necessário
revisitar o acervo fático-probatório dos autos, o que não é admissível, tendo em vista o que prevê a
Súmula 7/STJ. 4. Ademais, a revisão do entendimento da Corte de origem, no tocante à existência de
danos morais e ao valor da indenização, também demandaria o revolvimento do acervo fático-
probatório acostados aos autos, o que é vedado pela Súmula 7/STJ. 5. No tocante à questão do termo
inicial dos juros de mora, destaco que a parte recorrente deixou de trazer o dispositivo legal que teria
sido violado, razão pela qual deve incidir o óbice da Súmula 284/STF. 6. Agravo Interno não provido.
(AgInt no AREsp 1617472/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
21/09/2020, DJe 29/09/2020)

10
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. INSISTENTES
COBRANÇAS POR SMS. DÉBITO NÃO COMPROVADO PELO RÉU. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. REFORMA
QUANTO AO VALOR INDENIZATÓRIO. 1. Se o réu, em contestação, alega que a cobrança aqui impugnada
é oriunda de contrato de cartão de crédito, mas traz aos autos apenas um contrato de empréstimo
consignado, celebrado com a autora em data diversa daquela do primeiro instrumento, forçoso é o
reconhecimento do acerto da R. Sentença na espécie, ao atribuir responsabilidade ao apelante pelos
fatos narrados na inicial. 2. Dano moral inafastável, diante do aborrecimento contínuo da autora com as
várias cobranças recebidas em seu celular por débito que nunca contraiu, bem como com a negativação
do seu nome nos cadastros restritivos de crédito, confessada pelo próprio banco réu. 3. Considerados os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e a função pedagógica da indenização por dano
moral, tem-se que merece ser majorado o quantum indenizatório para R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 4.
Desprovimento do recurso do réu e provimento do apelo da autora para majorar o valor indenizatório
para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), condenado o réu ao pagamento das custas e honorários de 10% sobre
o valor total da condenação. (TJRJ – APELAÇÃO 0009416-96.2019.8.19.0203 – Des(a). GILBERTO CLÓVIS
FARIAS MATOS - Julgamento: 10/11/2020 - DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL)

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DOS PEDIDOS

Ante o exposto, pede e requer a esta C. Turma


que o presente recurso seja recebido e provido para reformar a sentença
combatida, julgando totalmente procedente o pedido do Autor, ora
Recorrente, condenando o Recorrido ao pagamento de R$xxx pelos danos
morais suportados.

E. deferimento.

Local, data.

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