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A competência é do Juízo do domicílio do consumidor, por força do art. 101, I, do CDC.

AO JUÍZO DO .... JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE CONSUMO DA COMARCA DA ..../.....

NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, RG nº ....., órgão expedidor e inscrito no
CPF/MF sob o nº ...., residente e domiciliado ...., por sua advogada infra-assinada, já devidamente
constituída e qualificada em instrumento de mandato procuratório em anexo, com endereço
profissional endereço na ...., onde recebe notificações e intimações (CPC, art.39, I), vem
respeitosamente a presença de Vossa Excelência com fulcro nos arts. 186 e 927 do Código Civil, bem
como no art. 5°, V, CRFB/88 e demais dispositivos legais previstos no Código de Defesa do Consumidor
propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS.

Contra ......, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº ....., estabelecida com endereço
....... e ......, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº ....., estabelecida com endereço
....... pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I – PRELIMINARES

DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

A priori, se faz necessário ressaltar que a Parte Autora é pessoa juridicamente necessitada, com
insuficiência de recursos financeiros para arcar com as custas, as despesas processuais e
honorários advocatícios, até porque, como é de se verificar em documentos que ora seguem
acostados.

Assim, a fim de não prejudicar sua própria subsistência, requer a parte Autora a concessão da
gratuidade de justiça com fundamento no artigo 98, do Novo Código de Processo Civil.

DESINTERESSE NA DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

A parte autora manifesta, expressamente, o seu desinteresse na designação da audiência de


conciliação e mediação, nos termos do art. 334, § 5º do CPC. E em observância aos Princípios
da Razoável Duração do Processo, Celeridade e Economia Processual, requer a imediata

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instrução e julgamento do feito.

Ainda que seja desnecessária a audiência de conciliação, em homenagem ao Princípio da


Cooperação, insculpido no art. 6º do CPC, indica os canais de comunicação constantes no
timbre para uma eventual composição amigável, informando desde já que seus patronos
possuem os poderes especiais previstos do art. 334, § 10º, do CPC.

DAS INTIMAÇÕES, PUBLICAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

Nos termos do art. 272, §§2º e 5º do Código de Processo Civil, requer que todas as Intimações,
Publicações e Notificações, dizendo respeito à presente ação, tenham a devida publicação,
com expressa indicação, sempre, de todos os advogados constituídos, sob pena de NULIDADE.

II – DOS FATOS

No dia ..................., a parte demandante resolveu fazer uma consulta acerca de obtenção de crédito
junto a algumas instituições financeiras com o objetivo de financiar a compra de um imóvel.

Ocorre que, o Autor teve seus pedidos negados de pronto, tendo em vista que se encontrava com a
pontuação (score) em cadastro de proteção ao crédito reduzida em razão do lançamento de dívidas
prescritas, não sendo possível a obtenção do financiamento para a compra do imóvel.

Prontamente, o Autor procurou obter informações sobre o ocorrido e entrou em contato com empresa
de cobrança e outra de recuperação de crédito ao pagamento, as quais vinham tentando realizar a
cobrança extrajudicial de débitos prescritos e, por causa disso, o seu nome havia sido incluído no
“Serasa Limpa Nome" (conforme doc. .....) e, consequentemente, teve seu score afetado
negativamente, figurando no mercado como mau pagador.

O autor tentou então, por diversas vezes e em diversos canais de atendimento ao consumidor, através
de telefone, email, chats das referidas empresas para que resolvesse a questão, conforme documentos
anexos com os protocolos de atendimento ((INCLUIR TODOS OS PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO E
DOCUMENTOS QUE COMPROBATÓRIOS).

Todavia, sem sucesso, já que ambas as empresas se negaram a retirar o nome do Autor, afirmando ser
lícita a conduta já que este era inadimplente e que manteriam o registro desabonador que constava
em seu nome.

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Assim, com um score menor, afetado por débitos prescritos, o consumidor sofreu constrangimento, e
tal registro significou relevante barreira para obtenção de crédito, bem como em realizar operações
no mercado ou mesmo fechar negócios, o que, em muito, ultrapassa a barreira do mero
aborrecimento.

Tendo em vista o ocorrido e a negativa recorrente de ambas as empresas e a abusividade de sua


conduta, não restou ao Autor outra via que recorrer ao Judiciário para fazer valer os seus direitos.

III – DO DIREITO

A) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DA RESPONSABILIDADE


CIVIL SOLIDÁRIA DOS FORNECEDORES

Conforme súmula 297 do STJ e art. 3, §2º do Código de Defesa do Consumidor (CDC), as relações
jurídicas realizadas entre uma pessoa física e uma instituição financeira são definidas como uma
relação de consumo, em que existe a procura por um serviço e o fornecimento do mesmo, conforme
segue:

Súmula 297 do STJ - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.

Art. 3º, CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo
as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Cumpre ressaltar que ambas as empresas possuem responsabilidade solidária devendo figurar no polo
passivo desta demanda, considerando-se tanto a instituição .............., titular do débito quanto a
empresa ................. que efetua cobranças em nome da cessionária do crédito, sendo plenamente
aplicável ao caso, os arts. 7º, § único e 25, § 1º do CDC:

Art. 7°[...] Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

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Art. 25. [...] § 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

Vejamos a jurisprudência sobre o tema:

PRELIMINAR Alegada ilegitimidade passiva Descabimento Legitimidade da Ré que efetua


cobranças em nome da cessionária do crédito Solidariedade dos envolvidos na cadeia
de serviços prestados, nos termos do art. 7º, § único, do CDC Preliminar afastada. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
TUTELA ANTECIPADA Cobrança extrajudicial de débito prescrito, e manutenção do nome
do devedor nos cadastros de inadimplentes e afins Procedência, para declarar a
inexigibilidade dos débitos, determinar que a ré se abstenha de inserir informações a eles
relativas nos cadastros de inadimplentes e exclua-os do cadastro Serasa Limpa Nome,
onde ainda permanecem inseridos, além da condenação ao pagamento de indenização
por danos morais no importe de R$5.000,00 Apelo da ré Ante a prescrição, fica extinta a
possibilidade de qualquer tipo de cobrança, seja judicial ou extrajudicial ou a inclusão do
nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito Súmula 323 do C. STJ Manutenção do
nome negativado que não representa simples aborrecimento, gerando mácula e dano in
re ipsa à pessoa, passível de indenização Valor fixado na sentença (R$ 5.000,00) que não
pode ser reduzido, pois tal quantia é suficiente a minimizar o sofrimento da vítima, sem
importar em seu enriquecimento indevido, além de evitar a reiteração da conduta lesiva
por parte do ofensor Sentença mantida RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1008955- 95.2019.8.26.0047; Relator: Ramon Mateo Júnior; Órgão Julgador: 15ª Câmara
de Direito Privado; Foro de Assis - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 21/09/2020; Data
de Registro: 21/09/2020)

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. Sentença que julgou o pedido procedente, em parte, para declarar a
inexigibilidade da dívida. Insurgência da autora. Pretensão de reconhecimento da
legitimidade passiva da Recovery, bem como condenação dos réus ao pagamento de
indenização por danos morais e repetição do indébito, em dobro. LEGITIMIDADE PASSIVA.
Configurada. Recovery que atua como empresa de cobrança, sendo a responsável pela
inclusão da dívida no sistema "Serasa Limpa Nome". DANOS MORAIS. Apelante que
ostenta inscrições em rol de maus pagadores anteriores à discutida nestes autos. Súmula
385 do Superior Tribunal de Justiça plenamente aplicável à espécie. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. Inexistência de cobrança da dívida já paga pelos apelados que afasta a
aplicação do artigo 940 do Código Civil. Recurso provido em parte somente para afastar a

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ilegitimidade passiva da Recovery. (TJSP; Apelação Cível 1024497-23.2020.8.26.0564;
Relator: Marcos Gozzo; Órgão Julgador: 23ª Câmara de Direito Privado; Foro de São
Bernardo do Campo - 9ª Vara Cível; Data do Julgamento: 19/10/2021; Data de Registro:
19/10/2021)

B) DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO

Por estar a relação jurídica, neste caso regida pelo CDC, devem as demandadas sempre primarem pela
segurança do consumidor e de suas informações, pois este é um objetivo da Política Nacional da
Relação de Consumo (art. 4º, CDC), sendo um direito básico dos consumidores (art.6º, I, CDC) e, sem
dúvidas, um dever do fornecedor de produtos e serviços (art. 12, §1º e 14, §1º do CDC). 1

Junte-se a isso, que as Rés falharam e violaram o dever de informação, previsto no art. 6º, inc. III, da
lei consumerista, que é um direito básico do consumidor, tendo em vista que apesar das cobranças
feitas, em nenhum momento o autor teve notícia de que seu nome constava em quaisquer cadastros
de consulta de crédito e que, só ficou ciente do fato de que seu score estava baixo, constando como
mau pagador, quando foi tentar obter um financiamento para a compra de um imóvel tendo seu
pedido negado para tanto.

O CDC em seu art. 14, caput, traz a responsabilidade objetiva dos fornecedores de serviços pelos danos
causados aos consumidores decorrentes de sua atividade, vejamos:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

O banco como prestador de serviços, possui responsabilidade objetiva com relação a qualquer risco
inerente a sua atividade, com isso, o dano seja gerado por um fortuito interno ele deverá ressarcir o
consumidor independentemente de culpa, conforme Súmula 479 do STJ, in verbis:

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“6. Já o dever de segurança consiste na exigência de que produtos ou serviços ofertados no mercado,
ofereçam a segurança esperada, ou seja, não tenham por resultado a causação de dano aos
consumidores tomados individual ou coletivamente. O dever de segurança é noção que abrange tanto
a integridade psicofísica do consumidor, quanto sua integridade patrimonial”. Exceto extraído do voto
vencedor proferido pela Ministra Nancy Andrighi, no julgamento do REsp n. 1.995.458/SP, relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9/8/2022, DJe de 18/8/2022.

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Súmula 479 do STJ - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias.

Com isso, quanto à responsabilidade civil das demandadas, considera o aplicado no art. 927 do Código
Civil (CC), que preceitua que por aquele que comete ilícito, e causar dano a outrem deverá repará-lo
independentemente de culpa.

Dessa forma, tem-se aqui um quadro de efetivo fato do serviço, nos moldes do art. 14, caput e §1º do
CDC. Logo, as demandadas deverão ser responsabilizadas pelos prejuízos extrapatrimoniais que esse
fato do serviço lhe causou, independentemente da análise de culpa, sendo irrelevante para tanto a
existência de ato ou omissão negligente, imprudente ou imperito.

A parte demandada, ainda, se quedou inerte quando foi notificada pela parte demandante sobre o
ocorrido, restando configurada a abusividade de sua conduta em manter o nome do Autor como
devedor relativo à dívidas que se encontram prescritas, descumprindo o disposto no art. 43, §§1º e 5º,
do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados
sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e
em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas
referentes a período superior a cinco anos.
[...] § 5º Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não
serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer
informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos
fornecedores.

Resta incontroverso, diante dos fatos narrados, que a falha na prestação do serviço gerou
aborrecimentos ao autor, que transbordam aqueles do cotidiano, gerando prejuízos de ordem
extrapatrimonial, afetando a sua dignidade e os seus direitos da personalidade, figurando
injustamente como mau pagador perante o mercado.

C) DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE DÍVIDA PRESCRITA

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A prescrição atinge a exigibilidade do cumprimento de uma obrigação, transmudando-a de obrigação
civil para obrigação natural, era mesmo de rigor a declaração da inexigibilidade do débito.

Ainda que não fulminada a obrigação, em si, a prescrição afasta a possibilidade do exercício prático da
cobrança da dívida, não somente em Juízo, mas também fora dele.

No que se refere a isso, voltamos a citar o disposto no art. 43, §§ 1º e 5º do CDC, que além do
reconhecimento da prescrição, inadmissível, também, a prática de atos extrajudiciais de cobrança das
dívidas, já prescritas.

Nesse sentido, de acordo com entendimento do Superior Tribunal de Justiça, no REsp n.


2088100/SP, Inf. n. 792, restou firmado o entendimento de que o art. 189 do Código Civil
estabelece, expressamente, que o alvo da prescrição é mesmo a pretensão, instituto de
direito material. Ao cobrar extrajudicialmente o devedor, o credor está, efetivamente,
exercendo sua pretensão, ainda que fora do processo. Se a pretensão é o poder de exigir
o cumprimento da prestação, uma vez paralisada em razão da prescrição, não será mais
possível exigir o referido comportamento do devedor, ou seja, não será mais possível
cobrar a dívida. Logo, o reconhecimento da prescrição da pretensão impede tanto a
cobrança judicial quanto a cobrança extrajudicial do débito. Observe a ementa:

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE


DÉBITO PRESCRITO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO. INSTITUTO DE DIREITO MATERIAL.
DEFINIÇÃO. PLANO DA EFICÁCIA. PRINCÍPIO DA INDIFERENÇA DAS VIAS. PRESCRIÇÃO
QUE NÃO ATINGE O DIREITO SUBJETIVO. COBRANÇA EXTRAJUDICIAL DE DÍVIDA
PRESCRITA. IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO ESTADUAL.

1. Ação de conhecimento, por meio da qual se pretende o reconhecimento da prescrição,


bem como a declaração judicial de inexigibilidade do débito, ajuizada em 4/8/2021, da
qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 26/9/2022 e concluso ao
gabinete em 3/8/2023.

2. O propósito recursal consiste em decidir se o reconhecimento da prescrição impede a


cobrança extrajudicial do débito.

3. Inovando em relação à ordem jurídica anterior, o art. 189 do Código Civil de 2002
estabelece, expressamente, que o alvo da prescrição é a pretensão, instituto de direito
material, compreendido como o poder de exigir um comportamento positivo ou negativo
da outra parte da relação jurídica.

4. A pretensão não se confunde com o direito subjetivo, categoria estática, que ganha
contornos de dinamicidade com o surgimento da pretensão. Como consequência, é possível
a existência de direito subjetivo sem pretensão ou com pretensão paralisada.

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5. A pretensão se submete ao princípio da indiferença das vias, podendo ser exercida tanto
judicial, quanto extrajudicialmente. Ao cobrar extrajudicialmente o devedor, o credor está,
efetivamente, exercendo sua pretensão, ainda que fora do processo.

6. Se a pretensão é o poder de exigir o cumprimento da prestação, uma vez paralisada em


razão da prescrição, não será mais possível exigir o referido comportamento do devedor,
ou seja, não será mais possível cobrar a dívida. Logo, o reconhecimento da prescrição da
pretensão impede tanto a cobrança judicial quanto a cobrança extrajudicial do débito.

7. Hipótese em que as instâncias ordinárias consignaram ser incontroversa a


prescrição da pretensão do credor, devendo-se concluir pela impossibilidade de
cobrança do débito, judicial ou extrajudicialmente, impondo-se a manutenção do
acórdão recorrido.

8. Recurso especial conhecido e desprovido. (REsp n. 2.088.100/SP, relatora Ministra


Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 17/10/2023, DJe de 23/10/2023.)

Assim, não se pode olvidar que a cobrança de dívida prescrita, bem como a manutenção do nome
do Autor em cadastro de crédito como inadimplente, afetando seu score de forma negativa perante
os credores, se mostra abusiva e deve ser repreendida e a responsabilidade das Rés reconhecida.

D) DO DEVER DE REPARAR OS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS

REFERENTES AO SCORE DE CRÉDITO

A “Serasa Limpa Nome” constitui-se em uma ferramenta que ajuda o credor a obter ao menos parte
do crédito prescrito, por meio da inserção do nome do devedor na plataforma, o qual tem a
possibilidade de saldar a dívida por meio de grandes descontos e/ou parcelamentos.

Todo o procedimento é realizado pela SERASA, com a autorização do contratante, que paga pela
manutenção dos dados do consumidor no sistema, com o objetivo de incentivá-lo a pagar o débito no
setor de “ofertas”, a fim de obter mais crédito.

Mas note-se: A “Serasa Limpa Nome” destina-se, de fato, à proteção do crédito visando alertar os
fornecedores sobre eventuais maus pagadores.

O atrativo para o devedor é que, com o adimplemento, seu “Serasa Score” aumentaria. Assim, ao
renegociar os débitos, entende-se que tal operação é capaz de aumentar a pontuação do score do
consumidor, consequentemente o seu status de bom pagador junto ao mercado.

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A contrario sensu, é possível concluir que a existência de tais débitos, ainda que não tenha sido
negativado o nome do consumidor, causam reflexos negativos no score. Assim, A REDUÇÃO DO
SCORE TRAZ PREJUÍZOS AO CONSUMIDOR, QUE TEM RESTRINGIDO OU DIMINUÍDO O SEU CRÉDITO
NO MERCADO.

Dito isso, o score se presta a registrar uma pontuação que reflete quão bom pagador é uma
determinada pessoa, tratando-se de uma pontuação que indica se uma pessoa tem poucas, médias ou
grandes chances de não cumprir uma obrigação, baseado em seu histórico de pagador. Um score baixo
prejudica, por exemplo, a obtenção de um empréstimo no mercado, ou mesmo, se exigido para
celebração de um determinado negócio pode levar à sua frustração, como é o caso aqui narrado.

Em tal contexto, é evidente que os débitos, repise-se entendidos como inexistentes, já que prescritos,
levaram a um score com menor número de pontos, o qual poderia ser aumentado se fossem pagas
dívidas inexistentes.

Portanto, AQUELE QUE TEM SEU SCORE REDUZIDO INADEQUADAMENTE, COMO NO CASO, PODE
TER RELEVANTES BARREIRAS PARA REALIZAR OPERAÇÕES NO MERCADO OU MESMO FECHAR
NEGÓCIOS, O QUE, EM MUITO ULTRAPASSA A BARREIRA DO MERO ABORRECIMENTO,
JUSTIFICANDO PLENAMENTE A IMPUTAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL.

Sobre a matéria, convém ressaltar a jurisprudência do STJ, em Tema Repetitivo n. 710, dispondo sobre
a natureza dos sistemas de scoring e a possibilidade de violação a princípios e regras do Código de
Defesa do Consumidor capaz de gerar indenização por dano moral, no qual firmou-se a seguinte tese:

I - O sistema "credit scoring" é um método desenvolvido para avaliação do risco de


concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas variáveis,
com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito).
II - Essa prática comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da
Lei n. 12.414/2011 (lei do cadastro positivo).
III - Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites estabelecidos pelo
sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima
transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011.
IV - Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a
ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados
considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas.

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V - O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema "credit scoring",
configurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode ensejar a
responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do responsável pelo
banco de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência
de danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis (art.
3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos casos de comprovada recusa
indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.

- REFERENTES AO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR


O dano temporal está relacionado com a área do direito do consumidor, derivado do dever de sua
proteção pelo Estado, previsto no art. 5º, XXXII, da Constituição Federal, o qual trata-se de um
verdadeiro bem jurídico do indivíduo brasileiro, permeia todo o sistema jurídico brasileiro, em que
está pautado em prazos.

Se tomado como um tipo de recurso, o tempo é caro e finito; se concebido como uma espécie de
direito, o tempo é componente do próprio direito à vida. Se é questão de direito, o tempo também é
questão de justiça.

O tempo é precificado – integra a remuneração da jornada de trabalho – e é benefício – o tempo de


férias, o tempo livre com a família etc. Por ser limitado e valioso, uma das principais frustrações
cotidianas é a perda de tempo.

O consumidor tem sido constantemente alvo dessa subtração de tempo, especialmente em razão das
longas jornadas a que costuma ser submetido ao se deparar com defeito em um produto ou serviço.

A constatação do tempo do consumidor como recurso produtivo e da conduta abusiva do fornecedor


ao não empregar meios para resolver, em tempo razoável, os problemas originados pelas relações de
consumo é que motivou a chamada teoria do desvio produtivo.

Segundo o doutrinador Marcos Dessaune a atitude do fornecedor ao se esquivar de sua


responsabilidade pelo problema, causando diretamente o desvio produtivo do consumidor, é que gera
a relação de causalidade existente entre a prática abusiva e o dano gerado pela perda do tempo útil.
Segundo Dessaune:

A Teoria do desvio produtivo sustenta que o tempo é o suporte implícito da vida, que dura
certo tempo e nele se desenvolve, e a vida constitui-se das próprias atividades existenciais
que cada um escolhe nela realizar. Logo o tempo é tanto um dos objetos do direito

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fundamental à vida – ou seja, um bem jurídico constitucional – quanto um atributo da
personalidade tutelado no rol aberto dos direitos da personalidade.

Junte-se a isso, convém ainda mencionar a tese de Laís Berstein, que trata da teoria relativa ao
MENOSPREZO PLANEJADO presente em sua obra “O tempo do consumidor e o menosprezo
planejado: o tratamento jurídico do tempo perdido e a superação das suas causas”. De acordo com tal
teoria, o dever de reparar o dano temporal deve ser observado através de dois critérios: menosprezo
ao consumidor e o planejamento. Dispõe a autora

O menosprezo ao consumidor é verificado nos casos de fornecedores que ignoram os


pedidos e as reclamações do consumidor ou não lhe prestam informações adequadas,
claras e tempestivas. (BERGSTEIN, 2019, p.113).

Já o segundo critério apontado diz respeito ao planejamento, ao tempo do consumidor que poderia
ter sido poupado pelo fornecedor de produtos ou serviços mediante a implementação de mecanismos
para aumentar a segurança das contratações. (2019, p.117).

Neste contexto, o fornecedor por meio de diversas práticas pode planejar ou induzir ao menosprezo
do tempo do consumidor, controlando a distribuição dos recursos na rede de produção de consumo.
Assim, presente o menosprezo planejado ao tempo do consumidor como podemos observar nesta
demanda, caracteriza-se a responsabilidade civil do fornecedor.

No caso em apreço, o Demandante necessitou se desviar dos seus recursos produtivos 2 para buscar a
solução do caso, quando isso deveria ser feito pelas Demandadas.

Buscando manter sua função basilar de dar fim aos litígios de forma correta e coerente, o Judiciário
está constantemente se atualizando, tendo em vista que as relações pessoais se tornam cada vez mais
complexas.

Neste contexto de nova realidade, somada à multiplicidade de serviços oferecidos e prestados, bem
como o alcance da informação à grande maioria das pessoas, verifica-se que o tempo se tornou cada
vez mais escasso, e, portanto, mais importante.

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“[...]o consumidor, sentindo-se prejudicado, gasta o seu tempo vital – que é um recurso produtivo –
e se desvia das suas atividades cotidianas, que geralmente são existenciais.[...]” DESSAUNE, Marcos.
Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e a da
vida alterada. 2ª ed, 2017, p. 67-8

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Nas últimas décadas, as atividades realizadas por cada pessoa multiplicaram-se, em que pese o dia
continue a ter “apenas” 24 horas. Nesse sentido, o tempo é cada vez mais valioso, em especial pela
sua irrecuperabilidade.

Assim, o tempo se tornou um bem jurídico a ser tutelado pelo Estado, de modo que seu desperdício
infundado por culpa de outrem é passível de indenização. Consta dizer que a perda de tempo, ainda
que não cause um prejuízo material, constitui um bem irrecuperável, dado que poderia estar sendo
aproveitado para qualquer outra atividade mais relevante, como o convívio familiar, lazer, trabalho,
etc.

Deste modo, o tempo, por sua escassez, tornou-se um bem precioso, adquirindo um valor que
extrapola a dimensão econômica. No caso em apreço, por exemplo, em razão da desídia da Ré que
não prestou o serviço de qualidade e adequado para que o problema pudesse ser resolvido de forma
administrativa, sem necessidade de que a parte Autora se visse obrigada a despender seu tempo em
inúmeros contatos telefônicos, e-mails e conversas virtuais infrutíferas, bem como as vezes que teve
de deslocar-se até as agências e lojas das Rés para que pudesse tentar solucionar um problema que
não só lhe causou possíveis prejuízos de ordem patrimonial e extrapatrimonial.

Assim, a perda do tempo do Autor em razão da falha no serviço prestado pelas Rés configura fortuito
interno, inerente ao risco das suas atividades, devendo a mesma, portanto, indenizá-los.

O reconhecimento da perda involuntária do tempo como um dano causado pelo mau atendimento
das demandas de consumo por parte dos fornecedores de produtos e serviços revela-se como um
dos mais importantes e atuais avanços na defesa do consumidor.

Sobre o tema, vejamos a jurisprudência que sobre desvio produtivo do consumidor:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZATÓRIA. COBRANÇA DE FATURAS NÃO RECONHECIDAS
PELO CONSUMIDOR. Embora não tenha havido a inscrição indevida do seu nome nos
cadastros restritivos de crédito, o consumidor merece ser indenizado por ter tentado, por
quatro meses, cancelar uma conta que não tinha contratado. Lavratura de boletim de
ocorrência comprobatório da fraude que não teve o condão de impedir as cobranças
indevidas. Teoria do desvio produtivo do consumidor ou da perda do tempo útil. Falha
na prestação do serviço. Art. 14, do CDC. Responsabilidade objetiva. Caracterizado o
desvio do tempo do consumidor na tentativa de resolver, por 120 (cento e vinte) dias,
um problema a que não deu causa. Danos morais configurados. Precedentes deste

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Tribunal de Justiça. Reforma da sentença. Apelação a que se dá provimento. (TJRJ,
APELAÇÃO 0245810-45.2019.8.19.0001. Des(a). CARLOS JOSÉ MARTINS GOMES -
Julgamento: 26/05/2022 - DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL) (Grifo nosso)

Ação indenizatória por danos morais – Contratação de cartão de crédito celebrado por
terceiro fraudador, com a inscrição do nome do autor no Sistema de Crédito do Banco
Central – Sentença de procedência – Recurso exclusivo do réu discutindo a ocorrência dos
danos morais e o quantum indenizatório – Aplicação da legislação consumerista (art. 14
do CDC) – Responsabilidade objetiva da instituição financeira – Aplicação da teoria do
risco do negócio – Matéria pacificada no julgamento de recurso repetitivo e súmula 479
do STJ – Danos morais evidenciados – Aplicação da teoria do desvio produtivo do
consumidor – Indenização arbitrada em consonância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade – Honorários advocatícios - Aplicação dos princípios da causalidade e
sucumbência - Sucumbência do réu - Sentença mantida – Recurso negado.
(TJSP; Apelação Cível 1005089-12.2021.8.26.0176; Relator (a): Francisco Giaquinto;
Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro de Embu das Artes - 2ª Vara Judicial;
Data do Julgamento: 03/06/2022; Data de Registro: 03/06/2022)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. SAQUES INDEVIDOS EM CONTA


BANCÁRIA. FRAUDE EVIDENCIADA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. 1. Em havendo elementos probatórios, nos autos, que indicam a utilização
indevida da conta bancária de titularidade da parte autora para a realização de operações
indevidas, via PIX, é cabível a restituição dos valores indevidamente debitados.
Aplicabilidade da Súmula nº 479 do STJ. 2. Indenização por danos morais igualmente
cabível, haja vista os transtornos experimentados pela parte autora para a resolução
administrativa do problema apresentado, bem como em virtude do impacto em suas
finanças. Indenização fixada em conformidade com o artigo 944 do CC/2002. 2. Ônus
sucumbenciais redistribuídos. APELAÇÃO DO BANCO RÉU DESPROVIDA. RECURSO
ADESIVO DA PARTE AUTORA PROVIDO. (TJRS; AC 5000574-51.2021.8.21.0127; São José
do Ouro; Décima Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Umberto Guaspari Sudbrack; Julg.
24/02/2022; DJERS 08/03/2022)

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. TRANSAÇÕES BANCÁRIAS EM


CONTA CORRENTE (TRANSFERÊNCIAS INTERBANCÁRIAS DE ELEVADOS VALORES ATRAVÉS
DE TED E PIX) NÃO RECONHECIDAS PELA AUTORA. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM
DO BANCO RÉU EVIDENCIADA. Inexistência de litisconsórcio passivo necessário entre o réu
e terceiros beneficiados pelas transações impugnadas, inviabilizando a pretendida

13
denunciação da lide, ressalvando-se o direito do Banco demandar em regresso contra os
causadores diretos dos danos. Aplicação da legislação consumerista (artigos 2º, 3º e 29
do CDC e Súmula nº 297 do STJ). Responsabilidade objetiva do réu. Súmula nº 479 do STJ.
Matéria pacificada no julgamento do RESP 1.199.782/PR, com base no art. 543-C do
CPC/73. Banco réu não se desincumbiu do ônus de comprovar a regularidade das
transferências interbancárias impugnadas (TED e PIX), de altos valores, realizadas no
curto espaço de tempo de um dia, e a inviolabilidade de seu sistema para coibir a fraude
(art. 6º, VIII, do CDC). Restituição dos valores fraudulentamente retirados da conta
corrente. Danos morais evidenciados. Aplicação da Súmula nº 227 do STJ. Descaso do
réu em resolver o problema de forma célere, a despeito das tentativas da autora em
resolver a situação na esfera extrajudicial. Aplicação da teoria do desvio produtivo.
Damnum in re ipsa. Indenização arbitrada em consonância com os critérios da
razoabilidade e proporcionalidade, segundo a extensão do dano (art. 944 do CC), não
comportando modificação. Rec. Negado. Correção e juros de mora. Termo inicial.
Inadimplemento contratual. Correção monetária incidindo do arbitramento da
indenização por danos morais, fluindo os juros de mora da citação. Precedentes do STJ.
Rec. Negado. Recurso negado. (TJSP; AC 1006495-48.2021.8.26.0506; Ac. 15314903;
Ribeirão Preto; Décima Terceira Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Francisco Giaquinto;
Julg. 12/01/2022; DJESP 27/01/2022; Pág. 3958)

RECURSO INOMINADO. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL


AFASTADA. Relação de consumo. Contrato bancário. Realização de pix e outras transações
não reconhecidas pela autora. Golpe praticado por terceiro através de aplicativo instalado
no aparelho celular. Falha na prestação do serviço. Reclamação administrativa não
atendida. Dano material comprovado. Termo inicial da correção monetária a partir do
efetivo prejuízo. Súmula nº 43 do STJ. Incidência dos juros moratórios a partir da data da
citação, em caso de relação contratual. Alteração de ofício. Dano moral configurado in re
ipsa. Quantum indenizatório mantido. Recurso conhecido e improvido. (JECMT; RInom
1039425-96.2021.8.11.0002; Turma Recursal Única; Rel. Juiz Gonçalo Antunes de Barros
Neto; Julg 04/08/2022; DJMT 08/08/2022)

Recurso inominado. Reclamação c/c indenização por danos morais. Cobranças indevidas
incluídas em fatura de telefone. “Itens Eventuais”. Netflix. Serviço não contratado. Falha
na prestação de serviço. Tentativas administrativas de resolução do problema na seara
administrativa sem êxito. Teoria do desvio produtivo do consumidor. Danos morais
excepcionalmente configurados. Quantum indenizatório a ser fixado de acordo com os
postulados da razoabilidade e proporcionalidade. Sentença parcialmente reformada.

14
Recurso conhecido e parcialmente provido.
1. Trata-se de ação indenizatória em que a recorrente V. A. S. P. postula reparação por
danos morais, em razão de cobranças indevidas incluídas na sua fatura de telefone, sob a
rubrica de “itens eventuais” – Netflix – não contratado.
2. Sustentando a consumidora que solicitou o serviço objurgado – Netflix –, competia à
empresa Recorrida comprovar a legalidade das cobranças embutidas nas faturas de
telefone, nos termos do art. 14, § 3.º c/c art. 373, inciso II, do Código de Processo Civil,
ônus do qual não se desincumbiu.
3. Por tal razão, impõe-se o reconhecimento da ilegalidade dos débitos objurgados,
fazendo jus a consumidora à restituição, em dobro, dos valores pagos indevidamente, tal
como reconhecido na origem.
4. Esta e. Turma recursal possui firme entendimento no sentido de que a mera cobrança
indevida, via de regra, não dá azo à reparação por danos morais. Todavia, verifica-se que
restou comprovada a excepcionalidade do caso concreto, em razão das tentativas de
resolução do problema na seara administrativa por parte da consumidora, consoante
protocolo carreado à inicial.
5. Quando a prestadora de serviço soluciona prontamente o infortúnio, minimizando
eventuais transtornos e aborrecimentos, não se verifica a configuração do dano moral. No
entanto, quando sua conduta é de resistência a reparação do erro cometido, como no caso
em tela, fazendo com que o consumidor seja submetido a um calvário para o fim de obter
o seu direito, caracteriza-se o dano moral.
6. Aplica-se no caso, a teoria do desvio produtivo do consumidor, já homenageada pelo
C. Superior Tribunal de Justiça (REsp 1737412/SE), segundo a qual: “caracteriza-se
quando o consumidor, diante de uma situação de mau atendimento, precisa desperdiçar
o seu tempo e desviar as suas competências — de uma atividade necessária ou por ele
preferida — para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de
oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável”.
7. Na fixação do montante da condenação a título de danos morais, deve-se atender a
uma dupla finalidade: reparação e repressão. Portanto, há que se observar a
capacidade econômica do atingido, mas também a do ofensor, com vistas a evitar o
enriquecimento injustificado, mas também garantir o viés pedagógico da medida,
desestimulando-se a repetição do ato ilícito.[...] 10. Recurso conhecido e parcialmente
provido. (TJMT, Recurso Inominado n. 1000794-23.2020.8.11.0001, Turma Recursal Única,
06/10/2020). (grifos do original).

15
Ora, se o objetivo da Política Nacional da Relação de Consumo é justamente preservar a dignidade da
pessoa humana e buscar a melhoria da sua qualidade de vida (art. 4º, CDC), não pode ser tolerada a
conduta do fornecedor de se omitir na solução dos problemas gerados na relação de consumo.

A Lei 8.078/90 expressamente prevê como direito básico do consumidor a efetiva reparação dos
patrimoniais e morais (art. 6º, VI), o qual é aferido a partir da análise dos requisitos seguintes: a)
conduta ilícita; b) resultado danoso; c) nexo de causalidade entre ambos.
Como se trata de um fato na prestação do serviço, que acabou por transbordar do serviço para atingir
o consumidor em sua moral, aplica-se o disposto no art. 14 do CDC.

Isso é uma clara violação dos atributos da personalidade da parte demandante, como o seu bom nome,
sua imagem e sua intimidade, na medida em que perante a sua família não conseguiu fazer frente às
despesas domésticas (v. Anexos)

Por fim, o nexo é evidente, pois somente houve o prejuízo extrapatrimonial à autora diante da conduta
da parte demandada de violar todo o sistema normativo legal e infralegal que fixa o dever de segurança
das informações sobre o consumidor.

De outro lado, também se aplica ao presente caso a responsabilidade por desvio produtivo do
consumidor, como já demonstrado.

Há, sem dúvida, um grave problema na relação de consumo (atraso injustificado na solução do defeito
na prestação do serviço) do qual o fornecedor abusivamente se esquiva de resolver. A parte
demandante buscou solucionar a questão pela via extrajudicial, com mais de uma tentativa. No
entanto, as demandadas se quedaram inertes, não respondendo às solicitações da parte demandante,
inclusive negando-se a dar uma solução à questão e de forma contínua manteve sua conduta abusiva.
Muita energia e tempo foram despendidos para alcançar a solução consensual do caso, o que não é
compatível com boa-fé.

Sobre o quantum indenizatório, é imperiosa a fixação do dever de indenizar da parte reclamada, a


fim de prevenir e reprimir a conduta praticada.

Na linha defendida pelo Superior Tribunal de Justiça 3, o valor da indenização deve seguir o critério
bifásico de mensuração dos danos morais.

3
84712627 - RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. [...] QUANTUM
INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO.
VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. RECURSO ESPECIAL

16
Para a primeira fase, devem-se considerar o valor fixado para os casos análogos sobre indenização por
danos por falha na prestação do serviço. Em situações idênticas à presente, o Tribunal de Justiça de
..... tem fixado o valor entre R$ ..... (por extenso) a R$ ...... (por extenso). (incluir jurisprudência do
tribunal sobre casos análogos)

Para a segunda fase, como brilhantemente assentou o Min. Paulo de Tarso Sanseverino 4, é de se
considerar que: a dimensão do dano, como pelo abalo profundo à sua imagem, à sua honra e pelo
desrespeito ao tempo vital do ser humano; a culpabilidade é grave, haja vista que a Demandada agiu
de má-fé ao não aceitar a solução extrajudicial do caso, principalmente porque tinha o dever legal de
agir para prevenir e remediar o problema; enfim, a capacidade econômica da parte reclamada é
notória, por se tratar de instituições financeiras, enquanto a do reclamante é a de um cidadão de classe
média. (explicitar de acordo com o caso em concreto)

Com isso, é razoável a fixação da indenização no caso presente em R$ ..... (por extenso), com juros
de mora de 1% ao mês, desde a citação, e correção monetária pelo IGPM desde o arbitramento.

E) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

PROVIDO. 1. O método bifásico, como parâmetro para a aferição da indenização por danos morais,
atende às exigências de um arbitramento equitativo, pois, além de minimizar eventuais
arbitrariedades, evitando a adoção de critérios unicamente subjetivos pelo julgador, afasta a tarifação
do dano, trazendo um ponto de equilíbrio pelo qual se consegue alcançar razoável correspondência
entre o valor da indenização e o interesse jurídico lesado, bem como estabelecer montante que melhor
corresponda às peculiaridades do caso. 2. Na primeira fase, o valor básico ou inicial da indenização é
arbitrado tendo-se em conta o interesse jurídico lesado, em conformidade com os precedentes
jurisprudenciais acerca da matéria (grupo de casos). 3. Na segunda fase, ajusta-se o valor às
peculiaridades do caso com base nas suas circunstâncias (gravidade do fato em si, culpabilidade do
agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes), procedendo-se à fixação
definitiva da indenização, por meio de arbitramento equitativo pelo juiz. [...] 5. Recurso Especial
provido. (STJ; REsp 1.608.573; Proc. 2016/0046129-2; RJ; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; Julg.
13/12/2018; DJE 19/12/2018; Pág. 14838) destacou-se; (vide também REsp 1.152.541/RS e Recurso
Especial 1.473.393/SP)

4
Assim, as principais circunstâncias a serem consideradas como elementos objetivos e subjetivos de
concreção são:
a) a gravidade do fato em si e suas consequências para a vítima (dimensão do dano);
b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente (culpabilidade do agente);
c) a eventual participação culposa do ofendido (culpa concorrente da vítima);
d) a condição econômica do ofensor;
e) as condições pessoais da vítima (posição política, social e econômica).
(Trecho extraído das fls. 12 de voto vencedor no julgamento do REsp 1.152.541; Proc. 2009/0157076-
0; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; Julg. 13/09/2011; DJE 21/09/2011)

17
Como a relação jurídica entre os litigantes é nitidamente consumerista, deve ser concedida à parte
demandante a facilitação de sua defesa, com a inversão do ônus probatório para o fornecedor-
demandado, nos termos do artigo 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90.

A documentação na qual está lastreada esta inicial evidencia a verossimilhança da alegação, na


medida em que evidencia que as Rés neste caso falharam no sentido de manter o nome do autor em
cadastro para consulta, tendo em vista tratar-se de dívidas prescritas. Além disso, é certo que a parte
demandante é pessoa hipossuficiente, tanto pelo prisma econômico (v. provas anexas) quanto pelo
técnico.

Aqui incide sobre o Consumidor a plena dificuldade de produzir provas em seu favor, devendo as Rés
provarem a licitude dos seus atos em decorrência da alegada inadimplência do Autor. Cumpre
destacar, em relação ao art. 6º, VIII, do CDC, que a parte autora se encontra em nítida situação de
hipossuficiência em relação à instituição financeira, o que por si só autoriza a inversão do ônus
probandi, uma vez que se trata de aplicação do direito básico do consumidor, inerente à facilitação de
sua defesa em juízo, como também nos termos do artigo 373, inciso II, do CPC.

Assim, fica requerida a inversão do ônus da prova para a requerida, com a imposição deste ônus já na
fase de saneamento do feito, por se tratar de uma regra de procedimento 5.

IV – DOS PEDIDOS

Em razão de todo exposto, pede, respeitosamente:

a) Concessão do benefício da justiça gratuita para as instâncias de 1° e 2° grau, requerido no


instrumento procuratório; nos termos dos arts. 98 e 99, caput e § 3°, CPC, e da Lei Federal 1.060/50;

b) Que não seja designada a audiência de mediação e conciliação, tendo em vista a manifestação
de desinteresse da parte autora, nos termos do art. 334, §5º do CPC;

c) Por oportuno, requer que todas as notificações e publicações referentes ao processo em


epigrafe sejam realizados em nome da Dra. ....., OAB/UF nº..... (procuração nos autos). E-mail: ..... Na
forma do art. 272 do CPC/2015, sob pena de nulidade;

5
A inversão do ônus da prova não é regra estática de julgamento, mas norma dinâmica de
procedimento/instrução (EREsp 422.778/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Rel. p/ acórdão
Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, DJe 21.6.2012). ... (REsp 1806813/SP, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2019, DJe 10/09/2019)

18
d) Proceder com a citação das Rés para, querendo, apresentarem contestação, sob pena de seu
não oferecimento importar na incidência dos efeitos da revelia e na aceitação das alegações de fato
formuladas, nos moldes do art. 344 do Código de Processo Civil de 2015;

e) Determinar a incidência das regras do Código de Defesa do Consumidor em razão da


vulnerabilidade e da hipossuficiência do autor em face do réu, sendo invertido o ônus da prova nos
termos do art. 6, VIII do diploma em comento;

f) Requer que sejam as Rés condenadas a indenizar a parte autora no valor de R$...... (valor por
extenso)., pelos danos morais advindos da conduta ilícita praticada.

Protesta provar o alegado por todos os meios de Prova em direito admissíveis, especialmente a
documental inclusa e depoimento pessoal do Representante da Demandada sob pena de Confissão,
bem como a apresentação de demais documentos que entender necessários e que forem ordenados,
tudo nos termos do artigo 369 do Novo Código de Processo Civil.

Portanto, dá-se à causa, o valor de R$ ...... (valor por extenso)..

Termos em que,
Pede deferimento.

Local, Data.

ADVOGADO
OAB/UF nº.....

DOCUMENTOS QUE INSTRUEM A INICIAL:

ANEXO 01 - documento pessoal;


ANEXO 02 - comprovação da hipossuficiência;
ANEXO 03 – extrato da conta corrente;
ANEXO 04 – notificações enviadas aos fornecedores;
ANEXO 05 – resposta negativa dos fornecedores ;
ANEXO 06 – scr e extrato do scoring;

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ANEXO 07 – comprovante das contas atrasadas;

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