Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 2ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES/MA.

“É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso” (Art.4º, §


1º, da Lei 10.741/2003 – ESTATUTO DO IDOSO).

PROCESSO Nº: 0802261-67.2022.8.10.0069

FRANCISCO JOSÉ PRADO DA CRUZ, já qualificada(o) nos autos do


processo em epígrafe, proposto em desfavor de BANCO BRADESCO S/A,
vem, mui respeitosamente, à presença do Meritíssimo(a), inconformado com a r.
sentença, interpor sua APELAÇÃO, nos termos das disposições correlatas do CPC,
pelos fundamentos expostos, esperando, após exercido o juízo de admissibilidade, sejam
os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Termos em que,

Espera deferimento.

Araioses – MA, 24 de janeiro de 2024.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A
RAZÕES DO RECURSO

ORIGEM: 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES - MA

RECORRENTE: FRANCISCO JOSÉ PRADO DA CRUZ

RECORRIDO: BANCO BRADESCO S/A

PROCESSO Nº: 0802261-67.2022.8.10.0069

EGRÉGIA TURMA, EMÉRITOS JULGADORES.

Em que pese a cultura jurídica do MM. Juiz prolator da sentença de primeiro


grau, a demandante, ora recorrente, não pode se conformar com os termos da decisão
recorrida, vez que, não foi acertada como comumente ocorre, porquanto não houve a
fixação do DANO MORAL, data vênia, considerando as peculiaridades do caso em
tela, deixando de atingir suas finalidades: PUNITIVA, COMPENSATÓRIA e
PEDAGÓGICA, ainda mais em se tratando de VERBA ALIMENTAR DE
PESSOA IDOSA; GRAVIDADE DO ILICITO PERPETRADO; CONDIÇÃO
SOCIAL DA VÍTIMA; PATRIMÔNIO ECONÔMICO DO DEMANDADO E
REITERAÇÃO DE ILÍCITOS DESSA NATUREZA, DE MODO QUE A
CONTUMÁCIA NÃO TORNEM ENDÊMICAS AS FRAUDES DESSA
NATUREZA EM NOSSO PAÍS, GERANDO UMA VERDADEIRA INVERSÃO
DA ORDEM, FATO ESTE QUE VEM SENDO COMBATIDO PELO STJ COM
FIRMEZA, assim sendo, esta merece ser reformada TOTALMENTE, pelos motivos de
fato e de direito que o recorrente passa a aduzir:

I-DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

O presente apelo deve ser conhecido, uma vez que é adequado, interposto
pela parte legítima, processualmente interessada e regularmente representada. O
Recurso é tempestivo, uma vez que fora interposto no prazo legal, previsto pelo
CPC.

No que pertine ao preparo este não deve será levado a rigor, uma vez que o(a)
demandante, ora recorrente é pobre nos termos da Lei 1.060/50, conforme consta na
própria exordial, precisamente trata-se de um(a) aposentada(o), pelo que requer os
benefícios da Justiça Gratuita.
Neste contexto, impõe-se o conhecimento do presente recurso inominado, por
restarem comprovados todos os pressupostos de admissibilidade recursal.

II- DA SINTESE DA LIDE

Colendo Tribunal, o(a) autor(a)/recorrente alegou fraude em seu


benefício previdenciário de um desconto ilícito, decorrente de empréstimo, e em sua
contestação o banco sustentou que a contratação foi legítima e regular e que os
descontos foram devidos, PORÉM NÃO APRESENTOU O COMPROVANTE DE
REPASSE DOS VALORES AO AUTOR REFERENTE AO CONTRATO
336454300-3, CONSIDERADO VÁLIDO E LEGÍTIMO DAS SUPOSTAS
CONTRATAÇÕES. NO ENTANTO O PRESENTE RECURSO VEM
DEMONSTRAR E REQUERER A REFORMA DA DECISÃO INICIAL,
DEVIDO A PARTE RECORRIDA NÃO APRESENTOU OS RECIBOS QUE
COMPROVEM A EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS
PARTES. OUTROSSIM, O JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA JULGOU IMPROCEDENTE
A AÇÃO, PELO QUE EXTINGUIU O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO. Dessa forma, fica demonstrada a total ilegalidade da parte recorrida no
negócio jurídico realizado entre as partes, pois a recorrente jamais realizou o
empréstimo em questão e nunca recebeu o valor que mensalmente fora descontado em
seu benefício, à luz das disposições correlatas do CDC e do NCC.

Com efeito, o juízo a quo julgou IMPROCEDENTE o feito, extinguindo


o processo com resolução do mérito, com fundamento no art. 487, I, do CPC.

III- DAS RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

DA INEXISTÊNCIA DA COMPROVAÇÃO DO REPASSE DE VALOR


SUPOSTAMENTE PACTUADO/PACTA SUNT SERVANDA

Não obstante, o Recorrido não juntou aos autos o repasse dos valores
supostamente contratados que justifiquem os descontos ilegais realizados pelo recorrido
no benefício previdenciário da recorrente referente ao contrato nº 336454300-3.

Em se tratando de empréstimo consignado, a Súmula nº 18 do TJPI


disciplina:

“A ausência de comprovação pela instituição financeira da


transferência do valor do contrato para a conta bancária do
consumidor/mutuário, garantidos o contraditório e a ampla defesa,
ensejará a declaração de nulidade da avença, com os consectários
legais."
O Tribunal de Justiça do Estado do Piauí já vem decidindo em casos
como o atual, adotando a aplicação da SÚMULA 18 TJPI:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO C/C


REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS. APLICABILIDADE DO CDC.
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. CONTRATO JUNTADO AOS AUTOS. AUSÊNCIA
DE COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DOS VALORES
CONTRATADOS PELA PARTE AUTORA. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 18 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
PIAUÍ. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO PROPORCIONAL E RAZOÁVEL.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. (Relatora Dra. MARIA ZILNAR COUTINHO LEAL,
Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
PI., julgado em 12/08/2021). Grifos nossos;

No caso em análise, a parte recorrida não comprovou a disponibilização em


favor da parte autora, dos valores objetos do suposto contrato. A ausência de
comprovação da existência da disponibilização em favor da parte demandante, do valor
objeto do contrato, caracterizada se encontra a fraude na contratação, a qual, ainda que
praticada por terceiro, não pode ser considerada ato isolado e exclusivo do infrator
(CDC, artigo 14, § 3º, inciso II), para o fim de exculpar a responsabilidade da empresa.

Sendo assim, mesmo que o banco recorrido tenha juntado aos autos suposto
contrato, deverá comprovar a transferência do valor do mesmo para a conta
bancária do contratante, sob pena de nulidade da suposta contratação.

No seu sentido mais comum, o princípio pacta sunt servanda refere-se aos
contratos privados, enfatizando que as cláusulas e pactos e ali contidos são um direito
entre as partes, e o não-cumprimento das respectivas obrigações implica a quebra do
que foi pactuado. Esse princípio geral no procedimento adequado da práxis comercial
— e que implica o princípio da boa-fé — é um requisito para a eficácia de todo o
sistema, de modo que uma eventual desordem seja às vezes punida pelo direito de
alguns sistemas jurídicos mesmo sem quaisquer danos diretos causados por qualquer
das partes.

No caso em questão, a recorrente foi obrigada a pagar várias parcelas de


empréstimo sem que tenha sequer solicitado e tão pouco se beneficiado de tais
valores, o que comprova que mesmo que o suposto contrato tenha existido
legalmente não teria sido cumprido e muito menos respeitado pela parte recorrida
pois em momento algum comprova o repasse de tais valores a Recorrente.
DO DANO MORAL

A MM. Juíza de 1º Grau, não concedeu o pedido de indenização por danos


morais pois argumenta que não houve ato ilícito, e sim exercício regular de direito.
Todavia, o banco não juntou nenhum documento que comprove suas alegações.

A parte autora é idosa, aposentada com 1 salário mínimo, e jamais solicitou o


empréstimo ora questionado. Tal situação é agravada ainda mais, na medida em que a
autora depende de seu benefício previdenciário para sobreviver.

Os atos realizados pela recorrida além de acarretarem prejuízo de ordem


material, acarretam abalo moral para a Autora, pois o valor em que a Re locupletou-se e
vem se locupletando indevidamente pode não representar grande cifra para a mesma,
pois acostumada a trabalhar com cifras milionárias, a referida importância apenas
representa um lucro fácil e indevido.

Soma-se a isso, o fato de o desconto ter se estendido por longo período em


benefício de caráter alimentar. Desse modo, o dano moral no presente caso mostra-se
“in re ipsa”, tendo em vista que ocasionados por débitos contraídos mediante
fraude.

Dessa forma, a indenização pecuniária em razão de dano moral e à imagem,


apresenta-se como um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo
sofrido, superando o déficit acarretado pelo dano.

DO DANO MATERIAL E REPETIÇÃO INDÉBITA

O banco não juntou nenhum documento que comprove sua alegação. Outro
ponto que deve ser observado é a informação repassada pelo banco de que repassou um
valor bem menor do que o supostamente contratado.

A Segunda Seção do Colendo Superior Tribunal de Justiça publicou recente


súmula (479) com os seguintes dizeres: “As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Os bancos foram inseridos no círculo da responsabilidade objetiva e diversas


razões conspiram para aceitabilidade do entendimento. Primeiro, o disposto no art. 14
da lei 8.078/90 (CDC) que dispensa a prova da culpa para proteger o consumidor vítima
das operações bancárias e, depois, pela própria gestão administrativa das agências, pois
mirando atender bem para conquistar ou manter a clientela, finaliza providências
planejadas com esse desiderato sem executá-las com o cuidado exigido para a segurança
dos envolvidos, direta ou indiretamente.

Desse modo, não tendo o banco réu se cercado dos cuidados necessários, agindo
com negligência, imperícia e imprudência, causando também danos materiais a autora,
deve o banco ser condenado ao pagamento em dobro pelas quantias descontadas
de seu benefício de forma indevida, não havendo que se falar em compensação, por se
tratar de contrato fraudulento.

Nesse sentido:

3ª TESE (POR UNANIMIDADE, APRESENTADA PELO


DESEMBARGADOR RELATOR): "Nos casos de empréstimos
consignados, quando restar configurada a inexistência ou invalidade
do contrato celebrado entre a instituição financeira e a parte autora,
bem como demonstrada a má-fé da instituição bancária, será cabível
a repetição de indébito em dobro, resguardadas as hipóteses de
enganos justificáveis". (redação após o julgamento de Embargos de
Declarações).

IV – DOS PEDIDOS

Por tudo considerado, será, além de um ato de justiça, um relevante serviço


à cidadania e à defesa do consumidor, já que qualquer um que pratique qualquer ato do
qual resulte prejuízo a outrem, deve suportar as conseqüências de sua conduta. É regra
elementar do equilíbrio social. A justa reparação é obrigação que a lei impõe a quem
causa algum dano a outrem.

Por todo o exposto, REQUER a recorrente:

1) seja conhecido e provido o presente recurso, a fim de que


seja reformada a sentença a quo, totalmente, que julgará totalmente
procedente os pedidos do(a) recorrente, visto que a ora recorrida não
apresentou o comprovante de repasse dos valores referentes
ao contrato nº 336454300-3, de modo que este COLENDO
TRIBUNAL ARBITRE O DANO MORAL, PELOS SEUS
PRÓPRIOS CRITÉRIOS ANALÍTICIOS E JURÍDICOS,
CONSIDERANDO A JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO, E AINDA
CONDENE O RECORRIDO A DEVOLVER EM DOBRO À
RECORRENTE OS VALORES DESCONTADOS DE SEU
BENEFÍCIO, VEZ QUE OCORRERAM DESCONTOS
ILICITOS NA VERBA ALIMENTAR DO RECORRENTE.
2) sendo julgado procedente o recurso de apelação ora interposto pelo(a)
recorrente, seja fixada a condenação nos ônus da sucumbência, no percentual de 20%,
nos termos legais.

3) Requer, ainda lhe seja deferida a assistência judiciária, nos termos do art. 4º,
da Lei 1.060/50, por não ter condições, no momento, de arcar com as custas do
preparo e eventual sucumbência;

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Araioses – MA, 24 de janeiro de 2024.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A

Você também pode gostar