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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA Ú NICA DA COMARCA DE

VARJOTA DO EGRÉ GIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ .


Interposiçã o de Recurso Inominado
Processo:
Parte Recorrente:
Parte Recorrida: BANCO ITAÚ BMG CONSIGNADO
, já qualificado nos autos, vem, mui respeitosamente, por meio de seus advogados in fine
assinados, perante Vossa Excelência, interpor o presente
RECURSO INOMINADO
o que faz com fulcro na lei e no arrazoado em anexo, à Egrégio Turma Recursal do Tribunal
de Justiça do Estado do Ceará , apó s cumpridas as formalidades legais.
Termos em que,
Pede deferimento.
Sobral/CE, 14 de maio de 2021.

Razõ es em Recurso Inominado


Processo:
Parte Recorrente:
Parte Recorrida: BANCO ITAÚ BMG CONSIGNADO
Colenda Turma,
Em que pese a relevâ ncia dos fundamentos da Douta Sentença impugnada, no que atina à
nã o declaraçã o da inexistência/nulidade de contrato com a restituiçã o em dobro e à nã o
condenaçã o em danos morais , é imperioso destacar, data má xima venia , que a lançada
sentença deve ser reformada.

I- DO RESUMO DOS FATOS E DO PROCESSO


Trata-se de açã o em que pleiteia a reparaçã o dos danos materiais e morais, decorrentes da
ilegalidade de contrato firmado com o recorrido.
Apesar disso, a sentença proferida pelo MM. Juiz julgou improcedente a pretensã o autoral,
por entender que o recorrente realmente firmou o contrato de empréstimo questionado,
visto ter o banco juntado extratos e contrato que, em confronto com os documentos
apresentados pela pró pria parte autora, demonstram que supostamente houve a
contrataçã o do respectivo empréstimo sob nú mero de contrato: .
Dispô s, em sentença, que a apresentaçã o do contrato é prova capaz de induzir que houve a
legalidade na celebraçã o do negó cio jurídico, o documento supostamente comprovaria que
a instituiçã o bancá ria efetuou o crédito de valores oriundos do empréstimo.
No que tange à apresentaçã o do contrato, este nã o faz prova inequívoca de que a assinatura
presente no instrumento seja realmente do recorrente. Trata-se de fraude quando da
assinatura do instrumento, nã o devendo o recorrente ser penalizado por ser vítima de
fraude quando da assinatura do contrato em questã o. Portanto, o instrumento merece ser
reconhecido como invá lido em todos seus termos, tendo em vista a fraude da assinatura do
contrato.
Nã o obstante, observa-se que nã o houve assinatura de testemunhas e do correspondente
bancá rio que procedeu com as negociaçõ es contratuais. No ato apresentado pelo recorrido
apenas consta a suposta assinatura do recorrente o que gera grande incerteza sobre a
validade do contrato, tendo em vista as inú meras fraudes que ocorrem com benefícios
previdenciá rios de pessoas idosas e de baixa instruçã o escolar.
Irresignada, data venia , o reclamante interpõ e o presente recurso inominado, com vistas à
reforma total do decisum de 1º grau, por ser de direito, conforme se demonstrará a seguir.

II- DOS FUNDAMENTOS DA REFORMA


Das Razõ es Para a Reforma da Sentença
No caso em aná lise, tem-se que o evento danoso consiste nos descontos indevidos de parte
do benefício previdenciá rio recebido pela recorrente, em razã o da falsificaçã o dos
contratos de empréstimos.
O banco promovido, ao realizar tal tipo de empréstimo, criou um risco ao admitir o
recebimento das informaçõ es contratuais. Assim, três sã o as condiçõ es que podem,
alternativa ou cumulativamente, ser consideradas causa do evento danoso , quais sejam, a
criaçã o de um risco para o negó cio , decorrente da aceitaçã o de informaçõ es advindas de
terceiros ou nã o, a falsificaçã o da assinatura aposta no contrato por terceiro e, por fim, a
falta de diligência na conferência dos documentos apresentados e da assinatura aposta no
contrato pela instituiçã o financeira .
Necessá rio, portanto, estabelecer quais condiçõ es devem ser elevadas a categoria de causa
jurídica do evento danoso, que, nos casos de fraudes em empréstimos consignados o risco
criado pelos bancos, no caso de assinatura falsa, juntamente com a negligência no dever de
conferência, revelam-se causa direta e imediata do dano .
Há , pois, solidariedade entre o terceiro fraudador e a instituiçã o financeira conveniada,
posto que sã o os participantes do fato causador do dano.
Ademais, a jurisprudência acerca da responsabilidade civil por consignaçã o fraudulenta
decorrente de contrato de empréstimo com assinatura falsa nã o é unívoca, admitindo-se a
responsabilidade exclusiva da instituiçã o financeira.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, conforme se verifica pelos arestos abaixo, segue o
entendimento de que a instituiçã o financeira é a causadora do dano, uma vez que presta
serviço defeituoso na medida em que nã o propiciou a segurança que dele se esperava.
RESPONSABILIDADE CIVIL - EMPRÉSTIMO CONSIGNADO - OPERAÇÃO FRAUDULENTA - FORTUITO INTERNO - DANO
MORAL- CABIMENTO. O empréstimo obtido de forma fraudulenta não exime a instituição bancária do dever de
reparar o dano causado àquele que teve sua conta debitada indevidamente . Fato de terceiro que se insere no
risco do empreendimento. Dano moral caracterizado, cuja quantificação foi bem mensurada, dentro da ideia
compensatória e punitiva, não merecendo qualquer reparo. Desprovimento do recurso. (2009.001.09333 -
APELACAO - DES. RICARDO COUTO - Julgamento: 10/03/2009 - SETIMA CÂMARA CIVEL)

No mesmo sentido é a jurisprudência dos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul e de


Minas Gerais.
RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESCONTO EM FOLHA. FRAUDE NA CONTRATAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. RISCO DO NEGÓCIO. CONFERÊNCIA DOS DADOS. AUSÊNCIA DE
CAUTELA PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS . QUANTUM. REDUÇÃO. 1. O dano
moral, em realidade, é ínsito à própria situação noticiada nos autos e reside nos diversos incômodos e dissabores
experimentados pela demandante, ao se ver privada de dispor da totalidade de seus rendimentos, em razão de
empréstimo consignado realizado fraudulentamente. 2. O quantum da reparação deve compreender, dentro do
possível, à compensação pelo dano infligido a vítima, ao mesmo tempo servindo de freio, de elemento inibidor e
de sanção ao autor do ato ilícito. Hipótese em que o montante arbitrado pelo julgador monocrático reclama
redução. Valor fixado em R$6.000,00. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº , Décima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 22/01/2009)
INDENIZATÓRIA. DÉBITOS NÃO AUTORIZADOS LANÇADOS EM CONTA-CORRENTE BANCÁRIA, REFERENTE A
PAGAMENTO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO CONSIGNADO NÃO CONTRATADO PELO DEMANDANTE. FRAUDE NA
CONTRATAÇÃO. SITUAÇÃO QUE PERSISTE POR SEIS MESES, APESAR DA RECLAMAÇÃO DO CONSUMIDOR. DESÍDIA
DO RÉU QUE ENSEJA O RECONHECIMENTO DE DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS . 1. Falha bancária. Responsabilidade
objetiva. Art. 14, § 3º, do CDC. Fragilidade do sistema de contratação, expondo o consumidor a ações de terceiros
de má-fé. Risco de disfunções que deve ser assumido pela instituição financeira requerida, exploradora da
atividade de risco. 2. Danos morais configurados, em razão da privação do capital, por seis meses seguidos,
configurando efetiva desconsideração para com a pessoa do consumidor, diante da reiteração da prática e da
ausência de soluções. Aplicação da função dissuasória da responsabilidade civil. Necessidade, todavia, de se
reduzir o quantum indenizatório fixado pela sentença, adequando-o às circunstâncias do caso concreto. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº , Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Eugênio
Facchini Neto, Julgado em 25/11/2008)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO - CONTRATO
DE EMPRÉSTIMO - DOCUMENTO E ASSINATURA FALSIFICADOS - FRAUDE - RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA - SÚMULA 479 DO STJ - DANOS MORAIS - PRESUNÇÃO - QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM
VALOR ADEQUADO - MANUTENÇÃO - JUROS DE MORA - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL - TERMO INICIAL
- EVENTO DANOSO - PRIMEIRO RECURSO PROVIDO EM PARTE E SEGUNDO RECURSO NÃO PROVIDO. (TJMG.
Apelação Cível Nº 1.0002.13.002273- 0/001 no Proc. Nº 0022730-11.2013.8.13.0002. Publicado em 22/06/2015)

Note, Ínclitos Magistrados, que o caso dos autos é ainda mais grave, pois a parte
promovente é de pouca instruçã o intelectual. Diante disso, mesmo que sido apresentado o
suposto contrato, a responsabilidade seria da instituiçã o financeira de provar que as
assinaturas que porventura constariam nos instrumentos apresentados eram do autor,
sendo o banco ainda responsá vel pelas fraudes nas contrataçõ es dos empréstimos.
Depreende-se deste cená rio a alta probabilidade de os empréstimos terem sido forjados
por estelionatá rios para obterem comissã o pelos empréstimos requeridos.
Além do mais, o banco réu tem que tomar as cautelas necessá rias, no momento da
contrataçã o, a fim de certificar-se sobre quem estava contratando e a documentaçã o
pessoal respectiva. Ao oferecer tal serviço assume os riscos da atividade, devendo
responder pelos prejuízos suportados pelas vítimas, que na maioria das vezes sã o idosos
que necessitam da aposentadoria para sobreviver.
Primeiro, porque nos documentos anexos nã o há prova inequívoca de o requerente ter
efetuado o saque dos valores correspondentes aos empréstimos com o BANCO ITAÚ BMG
S/A . Segundo, pois o que está sendo analisado é a (in) correçã o/(ir) regularidade dos
empréstimos bancá rios, e nã o o fato de o autor ter ou nã o usufruído das quantias. Repise-se
que a parte promovente nã o firmou o pacto supracitado com a ré.
A jurisprudência assim já decidiu em casos semelhantes:
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
BENEFICIÁRIA DO INSS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CONTRATO NÃO CELEBRADO PELO RECORRIDO. VALOR
DEPOSITADO PELO BANCO. AMOSTRA GRÁTIS. FALTA DE COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO. DANOS
MATERIAIS E MORAIS DEVIDOS. SENTENÇA REFORMADA. Empréstimo realizado por terceiros em nome da
aposentada do INSS para pagamento com desconto nos seus proventos visto a ausência de comprovação de
regularidade na celebração do contrato. A recorrida juntou aos autos comprovante de transferência eletrônica,
porém não demonstrou que o contrato foi efetivamente firmado pela recorrente, já que não foi acostada cópia do
instrumento contratual aos autos ou qualquer outra prova sólida neste sentido. DA RELAÇÃO DE CONSUMO: A
recorrente é consumidora por equiparação nos termos do artigo 17 do CDC. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
EMPRESA RECORRENTE: Da intelecção do artigo 14 do CDC sobressai desnecessária a discussão sobre culpa/dolo
ou má-fé na prática do ilícito. Afasta-se a responsabilidade apenas quando comprovada a culpa exclusiva de
terceiro ou da vítima, o que não é o caso. Banco não impugna os fatos apresentados pela parte recorrente
sustentado em provas consistente. O documento de transferência de valores de fl. 53 não comprova a
regularidade do negócio. Portanto, basta a presença do nexo causal entre a ação e o dano. DO DANO: Funda-se na
prestação defeituosa do serviço, exteriorizada pelos descontos realizados no benefício da requerente, reduzindo
expressivamente os seus rendimentos sem sua expressa autorização, e assim violando o seu direito à dignidade,
causando-lhe transtornos que superam a normalidade. Eventual ato de terceiro, caracterizado como fortuito
interno, que não afasta a responsabilidade da empresa, pois considerando as atividades que exerce, cabe-lhe
adotar normas de segurança que resguardem a contratação de seus serviços, com a identificação precisa dos
interessados. DO DEPÓSITO EFETUADO PELO BANCO: Eventual depósito realizado pela instituição bancária sem a
comprovação da solicitação do empréstimo equipara-se à amostra grátis, aplicando-se ao caso a disposição do art.
39, parágrafo único c/c art. 39, III, do CDC. DANOS MATERIAIS: Demonstrada a dedução indevida das parcelas,
deve ser determinada a devolução dos valores descontados de forma simples conforme documentos dos autos
que apurado gerou o total de R$ 322,00 e, não, R$ 345,00 (trezentos e quarenta e cinco reais). DO DANO MORAL:
In re ipsa, decorrente da ação perpetrada pela empresa, o qual dispensa a extensa produção de prova das lesões
sofridas. DO VALOR DA REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS: a indenização deve ser fixada em R$ 3.000,00,
especialmente pela pequenez dos recursos que sofrem a dedução e sua destinação, além do percentual
comprometido da renda auferida pelo autor, que possui caráter alimentar, considerando o valor da parcela que
comprometeu tais rendimentos. Sentença merece reforma, para condenar a recorrida ao pagamento de
indenização pelos danos morais sofridos pela recorrente, pois que esta atende a dúplice finalidade. Compensar a
vítima dos danos extrapatrimoniais experimentados e pedagógica-punitiva, no sentido de refrear ações desta
natureza em prejuízo a demais consumidores. RECURSO PROVIDO. Custas e honorários advocatícios em 15% sobre
o valor da condenação pelo banco. Súmula do julgamento que serve de acórdão por inteligência do art. 46,
segunda parte, da Lei nº 9.099/95. (TJMA; Rec 690/2012-1; Ac. 56613/2012; Rela Juíza Ana Paula Silva Araújo;
DJEMA 25/02/2013)

Como o recorrente alega que nunca firmou o contrato com a instituiçã o financeira, nã o lhe
incube o ô nus da prova dessa alegaçã o, pois impossível se provar fato negativo
indeterminado, constituindo prova diabó lica por excelência. Porém, pode a empresa ré
provar a inveracidade dessa alegaçã o, cabendo-lhe, portanto, o ô nus da prova.
Ocorre, nobres julgadores, que, em situaçõ es como a analisada, entende-se que a
responsabilidade do banco recorrido é objetiva, nos termos da sú mula nº 479 do Superior
Tribunal de Justiça e do entendimento jurisprudencial dominante:
SÚMULA nº 479 do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, em 27/6/2012.
PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. PRELIMINAR. DE NULIDADE DE CITAÇÃO E CONSEQUENTE DECRETAÇÃO DA REVELIA DO BANCO.
REJEITADA. MÉRITO. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO CONSIGNADO. PESSOA ANALFABETA. AUSÊNCIA DE INSTRUMENTO
PÚBLICO. NULIDADE DO CONTRATO. DESCONTOS INDEVIDOS. CONFIGURAÇÃO DE NEXO CAUSAL. DANOS MORAIS
E REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO. APELO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. In casu, a citação fora enviada para o endereço do réu, sendo válida a forma pela via
postal. Até porque o requerido compareceu à audiência de conciliação, instrução e julgamento, apresentando
contestação. Sem razão a alegada nulidade. 2. Sendo ônus da instituição financeira a comprovação da legalidade
dos empréstimos, e não se desincumbindo a contento, configura-se a existência de fraude, ante a inexistência de
provas nos autos. 3. Deve o banco responder pelos transtornos causados à demandante da ação originária, tendo
em vista que a responsabilidade civil decorrente da prestação do serviço bancário a consumidor é de ordem
objetiva. 4. Teor da Súmula n. 479 do STJ, as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.
5. Mais do que um mero aborrecimento, patente o constrangimento e angústia da apelada, ante os descontos
ilegais em seus proventos. 6. Apelação Cível conhecida e parcialmente provida. Preliminar afastada. (TJPI |
Apelação Cível Nº .000786-1 | Relator: Des. Fernando Carvalho Mendes | 1a Câmara Especializada Cível | Data de
Julgamento: 09/08/2016)

Saliente-se que, ao saber dos descontos, a recorrente ficou extremamente revoltada com a
situaçã o constrangedora que estava passando, pois era de seu conhecimento que nã o devia
nada a ninguém, pois sempre foi uma pessoa honesta, de bons princípios morais relevantes
e de boa índole.
Nã o sendo o bastante, sabendo da vulnerabilidade das transaçõ es que envolvem os
empréstimos consignados, evidenciada pelas inú meras ocorrências de fraudes em todo o
país, a instituiçã o financeira assume os riscos do negó cio, devendo, por tanto, restituir em
dobro ao autor os valores descontados em seu benefício, nos termos do art. 42 do CDC,
mantendo-se a veneranda sentença do juiz a quo.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATO DE
MÚTUO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. DESCONTOS INDEVIDOS EM PROVENTOS DE APOSENTADORIA. VALOR
INDENIZATÓRIO. DANO SOFRIDO. MANUTENÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO. I - o banco requerido deve ser
responsabilizado pelos descontos indevidos em proventos de aposentadoria, uma vez que não foi firmado
qualquer contrato de empréstimo com consignação. II - O dano moral decorrente da diminuição da capacidade
financeira do apelado bem como o constrangimento de ver descontado do seu vencimento quantia que não
contratou, não precisa ser provado, pois o mesmo e presumido. Ademais, os bancos também respondem
objetivamente pelos danos que venham a causar a seus clientes. III - A reparação por dano moral deve servir para
recompor a dor sofrida pela vítima, assim como para inibir a repetição de ações lesivas da mesma natureza. Sua
fixação, no entanto, deve obedecer os princípios da razoabilidade e da moderação. IV - DEVE SER MANTIDA A
COBRANÇA EM DOBRO DO VALOR COBRADO INJUSTAMENTE , com os acréscimos legais, nos termos do artigo
sexto, inciso III, do CDC e art. 186, 876 e 1059, do Código civil. Recurso de apelação conhecido, mas improvido.
(TJGO. 1a Câmara Cível. Apelação Cível n.º 108211-2/118. Relator Dr. Jeová Sardinha de Moraes. DJ 15014 de
05/06/2007)

Da Justiça Gratuita
Na sentença, o MM. Juiz apreciou o pedido de concessã o do benefício da gratuidade da
justiça ao promovente. Ademais, conforme previsto no artigo 99 do Novo Có digo de
Processo Civil ( NCPC), há presunçã o de veracidade na alegaçã o de hipossuficiência por
pessoa natural, somente podendo ser ela afastada se existirem nos autos elementos que
evidenciem a falta dos elementos legais para a concessã o da gratuidade:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.
§ 4º A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça.

O que se verifica na realidade é que a recorrente nã o possui condiçõ es financeiras de arcar


com as custas processuais sem prejuízo do seu pró prio sustento e de sua família, conforme
declaraçã o de pobreza anexada ao processo.
Assim, o recorrente faz jus aos benefícios da justiça gratuita, nos termos do art. 98 e
seguintes do NCPC.
Dos Danos Morais
No caso específico dos autos, o dano moral decorre da falha na prestaçã o do serviço que
implicou invasã o da privacidade e insegurança ao consumidor recorrente, que se viu
privado de parte de seus proventos em virtude de desconto indevidamente realizado pela
instituiçã o financeira. E, nessas hipó teses, sequer há necessidade de comprovaçã o dos
danos morais suportados pela vítima, pois decorre da conduta do ora recorrido, que
indevidamente lançou os descontos no salá rio previdenciá rio percebido pela parte autora,
caracterizando o dano in re ipsa.
Portanto, verifica-se que o promovente sofreu grande desconforto, pois suportou
significativo desconto mensal no seu benefício que, ante seu cará ter alimentar, teve sua
esfera pessoal e social atingida.
Perfilhando o mesmo entendimento, manifesta-se a jurisprudência, veja-se:
EMPRÉSTIMO NÃO CONTRATADO. DESCONTOS INDEVIDOS DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DIREITO À
DEVOLUÇÃO DOS VALORES. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. Danos morais configurados. A situação de ter
descontos no benefício mensal de valores relativo a empréstimo não contratado pela parte é situação capaz de
gerar angústia e sofrimento em razão da manifesta insegurança causada. RECURSO PROVIDO. ( RS, Relator:
Eduardo Kraemer, Data de Julgamento: 22/06/2011, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 29/06/2011)
***
DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM REPARAÇÃO DE
DANOS. DESCONTOS INDEVIDOS EM FOLHA DE PAGAMENTO DA APOSENTADORIA DA AUTORA. Contrato de
empréstimo consignado, cuja subscritora figura como representante da autora, que é analfabeta, contudo, não há
instrumento de mandato a ela outorgado. O empréstimo obtido de forma fraudulenta não exime a instituição
bancária do dever de reparar o dano causado àquele que teve sua conta debitada indevidamente. Fato de terceiro
que se insere no risco do empreendimento. Defeito no serviço configurado, pois era obrigação da instituição
financeira conferir a autenticidade dos documentos apresentados. O fato de haver a possibilidade de terceiros
terem praticado a fraude constitui fortuito interno da atividade desenvolvida pelo réu, não afastando sua
responsabilidade sob a alegação de culpa terceiro. Dano moral caracterizado, cuja quantificação foi bem
mensurada, dentro da ideia compensatória e punitiva, não merecendo qualquer reparo. Assim, não merece
provimento a apelação do réu, tampouco o recurso adesivo da autora. Sentença que se mantém, com base no
artigo 557 do CPC. (TJRJ, 0001681- 66.2009.8.19.0072 - Apelação - 1a Ementa, Des. Maria Augusta Vaz - j.
17/12/2010 - Primeira Câmara Cível.)

Como se sabe, a quantificaçã o dos danos morais é matéria de intenso debate na esfera
jurídica, em virtude de sua intrínseca subjetividade, devendo o ó rgã o julgador, quando de
sua fixaçã o, arbitrá -lo de uma forma que nã o provoque o enriquecimento sem causa da
parte ofendida, assim como nã o estabeleça um valor insignificante de modo a incentivar a
conduta ilícita do devedor.
Decerto, caracterizado o dano moral, há de ser fixada a indenizaçã o em valor consentâ neo
com a gravidade da lesã o, observadas a posiçã o familiar, cultural, política, social e
econô mico-financeira do ofendido e as condiçõ es econô micas e o grau de culpa do lesante,
de modo que, com a indenizaçã o, se consiga trazer uma satisfaçã o para o ofendido, sem
configurar enriquecimento sem causa, e, ainda, uma sançã o para o ofensor.
Assim, diante da ausência de critérios objetivos de fixaçã o do quantum indenizató rio, faz-se
mister a aná lise dos julgados desta Corte de Justiça e dos Tribunais Pá trios, que
constantemente apreciam hipó teses de estreita similitude com o caso em apreço:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DESCONTOS INDEVIDOS DE
PARCELAS EM PROVENTOS DE APOSENTADO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO
TRAZ AOS AUTOS O SUPOSTO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. VALOR EXCESSIVO. REDUÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
1. No caso em exame, tem-se Ação de Indenização c/c Repetição do Indébito, onde o autor requer a restituição
dos descontos indevidos realizados em razão de contrato de empréstimo que alega não ter firmado, e a
indenização pelos danos morais sofridos. 2. Com efeito, devido à inversão do ônus da prova, cabia ao banco
apelante a comprovação da relação contratual que afirma existir com a parte autora. Todavia, este não trouxe aos
autos nem o contrato, nem qualquer outra prova que pudesse indicar que o empréstimo foi realizado pelo
demandante.
3. Os danos causados pelo desconto indevido de empréstimo na folha de pagamento do apelado, agravando a sua
situação financeira, ultrapassam os limites do mero dissabor, sobretudo se considerada a sua avançada idade. 4.
Merece prestígio, portanto, a r. sentença recorrida, na parte em que condenou a ré/apelante ao pagamento de
indenização por danos morais e materiais. 5. Todavia, no tocante ao quantum arbitrado a título de danos morais
(R$ 10.000,00), o mesmo mostra-se excessivo, considerando-se as circunstâncias do caso concreto, não podendo a
verba indenizatória representar fonte de lucro indevido, nem ser irrisória, impondo-se a sua redução para a
quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Precedentes. (TJCE, Apelação Cível 9257201080601071, Relator: Des.
Francisco Sales Neto, Órgão Julgador: 1a Câmara Cível, data de registro: 19/05/2011)
***
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NÃO
CONTRATADO. FRAUDE. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. NEGLIGÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PROVENTOS DE
APOSENTADORIA. FOLHA DE PAGAMENTO. DESCONTO INDEVIDO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. ENGANO
JUSTIFICÁVEL. FORMA SIMPLES. SUSPENSÃO DOS DESCONTOS. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. MINORAÇÃO. 1. Restando comprovado nos autos que os descontos efetuados nos proventos do
aposentado foram indevidos, eis que provenientes de um contrato de empréstimo inadvertidamente celebrado
com terceiro que por ele se fez passar, impõe-se, por parte da instituição financeira contratante, a decretação de
inexistência de negócio jurídico, a restituição da quantia indevidamente descontada e a reparação por danos
morais. A responsabilidade ostentada pela instituição financeira, nestes casos é objetiva, nos termos previstos no
Código de Defesa do Consumidor, independentemente da existência ou inexistência de prova de culpa ou do nexo
causal. 2. A repetição do indébito em dobro, com base no Código de Defesa do Consumidor , é cabível desde que
não se afigure hipótese de engano justificável. Apurando-se que a instituição financeira cuidou de suspender os
descontos efetuados indevidamente assim que foi citada para a ação, a repetição do indébito se fará de forma
simples. 3. Deve ser reduzido o quantum indenizatório a título de danos morais, quando se verificar que foi fixado
pelo juiz em desconformidade com os critérios da razoabilidade e proporcionalidade condizentes com as
circunstâncias do caso e fora dos parâmetros adotados por este Tribunal, que vem fixando, em casos análogos, a
quantia de R$5.000,00 (cinco mil reais) para efeito de reparação do dano sofrido pela vítima do embuste . (TJDFT, ,
Relator SANDOVAL OLIVEIRA, 1a Turma Cível, julgado em 17/02/2011, DJ 24/02/2011 p. 67)

Cumpre destacar que a recorrente juntou aos autos documentaçã o bastante a fazer prova
de todo o alegado, ao contrá rio do que entendeu na sentença o Juiz a quo , e que é por uma
questã o da mais lídima justiça que esta Corte deve reformá -la em todos os seus
fundamentos.
Sendo assim, cumpre reconhecer que o promovente logrou êxito em demonstrar os fatos
constitutivos de seu direito.
Dessa maneira, existindo prova cabal irregularidade do contrato, dos descontos no salá rio e
danos morais sofridos é que se pede a procedência do recurso inominado.

III - DOS PEDIDOS


Assim, ante o exposto, requer-se o seguinte:
1. Seja conhecido e provido o presente recurso, para:
1.1. Conceder o benefício da JUSTIÇA GRATUITA a
CAMELO, nos termos do art. 98 e seguintes do NCPC;
1.2. Reformar a sentença impugnada, a fim de: reconhecer a
inexistência/nulidade do contrato nº com o BANCO ITAÚ BMG CONSIGNADO , tendo em vista a sua não
apresentação e a irregularidade das contratações, condenando a parte ré no pagamento em dobro das parcelas
efetivamente pagas, bem como indenização por danos morais, nos termos da petição inicial;
1.3. Subsidiariamente, requer seja anulada a sentença, extinguindo-se o
processo sem julgamento de mérito, com base no art. 51, II, da Lei 9.099/95, em virtude da inaplicabilidade do
procedimento sumaríssimo, tendo em vista a necessidade de realização de perícia técnica/grafotécnica.

Termos em que,
Pede deferimento.
Sobral/CE, 01 de fevereiro de 2021.

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