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Note, Ínclitos Magistrados, que o caso dos autos é ainda mais grave, pois a parte
promovente é de pouca instruçã o intelectual. Diante disso, mesmo que sido apresentado o
suposto contrato, a responsabilidade seria da instituiçã o financeira de provar que as
assinaturas que porventura constariam nos instrumentos apresentados eram do autor,
sendo o banco ainda responsá vel pelas fraudes nas contrataçõ es dos empréstimos.
Depreende-se deste cená rio a alta probabilidade de os empréstimos terem sido forjados
por estelionatá rios para obterem comissã o pelos empréstimos requeridos.
Além do mais, o banco réu tem que tomar as cautelas necessá rias, no momento da
contrataçã o, a fim de certificar-se sobre quem estava contratando e a documentaçã o
pessoal respectiva. Ao oferecer tal serviço assume os riscos da atividade, devendo
responder pelos prejuízos suportados pelas vítimas, que na maioria das vezes sã o idosos
que necessitam da aposentadoria para sobreviver.
Primeiro, porque nos documentos anexos nã o há prova inequívoca de o requerente ter
efetuado o saque dos valores correspondentes aos empréstimos com o BANCO ITAÚ BMG
S/A . Segundo, pois o que está sendo analisado é a (in) correçã o/(ir) regularidade dos
empréstimos bancá rios, e nã o o fato de o autor ter ou nã o usufruído das quantias. Repise-se
que a parte promovente nã o firmou o pacto supracitado com a ré.
A jurisprudência assim já decidiu em casos semelhantes:
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
BENEFICIÁRIA DO INSS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CONTRATO NÃO CELEBRADO PELO RECORRIDO. VALOR
DEPOSITADO PELO BANCO. AMOSTRA GRÁTIS. FALTA DE COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO. DANOS
MATERIAIS E MORAIS DEVIDOS. SENTENÇA REFORMADA. Empréstimo realizado por terceiros em nome da
aposentada do INSS para pagamento com desconto nos seus proventos visto a ausência de comprovação de
regularidade na celebração do contrato. A recorrida juntou aos autos comprovante de transferência eletrônica,
porém não demonstrou que o contrato foi efetivamente firmado pela recorrente, já que não foi acostada cópia do
instrumento contratual aos autos ou qualquer outra prova sólida neste sentido. DA RELAÇÃO DE CONSUMO: A
recorrente é consumidora por equiparação nos termos do artigo 17 do CDC. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
EMPRESA RECORRENTE: Da intelecção do artigo 14 do CDC sobressai desnecessária a discussão sobre culpa/dolo
ou má-fé na prática do ilícito. Afasta-se a responsabilidade apenas quando comprovada a culpa exclusiva de
terceiro ou da vítima, o que não é o caso. Banco não impugna os fatos apresentados pela parte recorrente
sustentado em provas consistente. O documento de transferência de valores de fl. 53 não comprova a
regularidade do negócio. Portanto, basta a presença do nexo causal entre a ação e o dano. DO DANO: Funda-se na
prestação defeituosa do serviço, exteriorizada pelos descontos realizados no benefício da requerente, reduzindo
expressivamente os seus rendimentos sem sua expressa autorização, e assim violando o seu direito à dignidade,
causando-lhe transtornos que superam a normalidade. Eventual ato de terceiro, caracterizado como fortuito
interno, que não afasta a responsabilidade da empresa, pois considerando as atividades que exerce, cabe-lhe
adotar normas de segurança que resguardem a contratação de seus serviços, com a identificação precisa dos
interessados. DO DEPÓSITO EFETUADO PELO BANCO: Eventual depósito realizado pela instituição bancária sem a
comprovação da solicitação do empréstimo equipara-se à amostra grátis, aplicando-se ao caso a disposição do art.
39, parágrafo único c/c art. 39, III, do CDC. DANOS MATERIAIS: Demonstrada a dedução indevida das parcelas,
deve ser determinada a devolução dos valores descontados de forma simples conforme documentos dos autos
que apurado gerou o total de R$ 322,00 e, não, R$ 345,00 (trezentos e quarenta e cinco reais). DO DANO MORAL:
In re ipsa, decorrente da ação perpetrada pela empresa, o qual dispensa a extensa produção de prova das lesões
sofridas. DO VALOR DA REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS: a indenização deve ser fixada em R$ 3.000,00,
especialmente pela pequenez dos recursos que sofrem a dedução e sua destinação, além do percentual
comprometido da renda auferida pelo autor, que possui caráter alimentar, considerando o valor da parcela que
comprometeu tais rendimentos. Sentença merece reforma, para condenar a recorrida ao pagamento de
indenização pelos danos morais sofridos pela recorrente, pois que esta atende a dúplice finalidade. Compensar a
vítima dos danos extrapatrimoniais experimentados e pedagógica-punitiva, no sentido de refrear ações desta
natureza em prejuízo a demais consumidores. RECURSO PROVIDO. Custas e honorários advocatícios em 15% sobre
o valor da condenação pelo banco. Súmula do julgamento que serve de acórdão por inteligência do art. 46,
segunda parte, da Lei nº 9.099/95. (TJMA; Rec 690/2012-1; Ac. 56613/2012; Rela Juíza Ana Paula Silva Araújo;
DJEMA 25/02/2013)
Como o recorrente alega que nunca firmou o contrato com a instituiçã o financeira, nã o lhe
incube o ô nus da prova dessa alegaçã o, pois impossível se provar fato negativo
indeterminado, constituindo prova diabó lica por excelência. Porém, pode a empresa ré
provar a inveracidade dessa alegaçã o, cabendo-lhe, portanto, o ô nus da prova.
Ocorre, nobres julgadores, que, em situaçõ es como a analisada, entende-se que a
responsabilidade do banco recorrido é objetiva, nos termos da sú mula nº 479 do Superior
Tribunal de Justiça e do entendimento jurisprudencial dominante:
SÚMULA nº 479 do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, em 27/6/2012.
PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. PRELIMINAR. DE NULIDADE DE CITAÇÃO E CONSEQUENTE DECRETAÇÃO DA REVELIA DO BANCO.
REJEITADA. MÉRITO. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO CONSIGNADO. PESSOA ANALFABETA. AUSÊNCIA DE INSTRUMENTO
PÚBLICO. NULIDADE DO CONTRATO. DESCONTOS INDEVIDOS. CONFIGURAÇÃO DE NEXO CAUSAL. DANOS MORAIS
E REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO. APELO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. In casu, a citação fora enviada para o endereço do réu, sendo válida a forma pela via
postal. Até porque o requerido compareceu à audiência de conciliação, instrução e julgamento, apresentando
contestação. Sem razão a alegada nulidade. 2. Sendo ônus da instituição financeira a comprovação da legalidade
dos empréstimos, e não se desincumbindo a contento, configura-se a existência de fraude, ante a inexistência de
provas nos autos. 3. Deve o banco responder pelos transtornos causados à demandante da ação originária, tendo
em vista que a responsabilidade civil decorrente da prestação do serviço bancário a consumidor é de ordem
objetiva. 4. Teor da Súmula n. 479 do STJ, as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.
5. Mais do que um mero aborrecimento, patente o constrangimento e angústia da apelada, ante os descontos
ilegais em seus proventos. 6. Apelação Cível conhecida e parcialmente provida. Preliminar afastada. (TJPI |
Apelação Cível Nº .000786-1 | Relator: Des. Fernando Carvalho Mendes | 1a Câmara Especializada Cível | Data de
Julgamento: 09/08/2016)
Saliente-se que, ao saber dos descontos, a recorrente ficou extremamente revoltada com a
situaçã o constrangedora que estava passando, pois era de seu conhecimento que nã o devia
nada a ninguém, pois sempre foi uma pessoa honesta, de bons princípios morais relevantes
e de boa índole.
Nã o sendo o bastante, sabendo da vulnerabilidade das transaçõ es que envolvem os
empréstimos consignados, evidenciada pelas inú meras ocorrências de fraudes em todo o
país, a instituiçã o financeira assume os riscos do negó cio, devendo, por tanto, restituir em
dobro ao autor os valores descontados em seu benefício, nos termos do art. 42 do CDC,
mantendo-se a veneranda sentença do juiz a quo.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATO DE
MÚTUO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. DESCONTOS INDEVIDOS EM PROVENTOS DE APOSENTADORIA. VALOR
INDENIZATÓRIO. DANO SOFRIDO. MANUTENÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO. I - o banco requerido deve ser
responsabilizado pelos descontos indevidos em proventos de aposentadoria, uma vez que não foi firmado
qualquer contrato de empréstimo com consignação. II - O dano moral decorrente da diminuição da capacidade
financeira do apelado bem como o constrangimento de ver descontado do seu vencimento quantia que não
contratou, não precisa ser provado, pois o mesmo e presumido. Ademais, os bancos também respondem
objetivamente pelos danos que venham a causar a seus clientes. III - A reparação por dano moral deve servir para
recompor a dor sofrida pela vítima, assim como para inibir a repetição de ações lesivas da mesma natureza. Sua
fixação, no entanto, deve obedecer os princípios da razoabilidade e da moderação. IV - DEVE SER MANTIDA A
COBRANÇA EM DOBRO DO VALOR COBRADO INJUSTAMENTE , com os acréscimos legais, nos termos do artigo
sexto, inciso III, do CDC e art. 186, 876 e 1059, do Código civil. Recurso de apelação conhecido, mas improvido.
(TJGO. 1a Câmara Cível. Apelação Cível n.º 108211-2/118. Relator Dr. Jeová Sardinha de Moraes. DJ 15014 de
05/06/2007)
Da Justiça Gratuita
Na sentença, o MM. Juiz apreciou o pedido de concessã o do benefício da gratuidade da
justiça ao promovente. Ademais, conforme previsto no artigo 99 do Novo Có digo de
Processo Civil ( NCPC), há presunçã o de veracidade na alegaçã o de hipossuficiência por
pessoa natural, somente podendo ser ela afastada se existirem nos autos elementos que
evidenciem a falta dos elementos legais para a concessã o da gratuidade:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.
§ 4º A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça.
Como se sabe, a quantificaçã o dos danos morais é matéria de intenso debate na esfera
jurídica, em virtude de sua intrínseca subjetividade, devendo o ó rgã o julgador, quando de
sua fixaçã o, arbitrá -lo de uma forma que nã o provoque o enriquecimento sem causa da
parte ofendida, assim como nã o estabeleça um valor insignificante de modo a incentivar a
conduta ilícita do devedor.
Decerto, caracterizado o dano moral, há de ser fixada a indenizaçã o em valor consentâ neo
com a gravidade da lesã o, observadas a posiçã o familiar, cultural, política, social e
econô mico-financeira do ofendido e as condiçõ es econô micas e o grau de culpa do lesante,
de modo que, com a indenizaçã o, se consiga trazer uma satisfaçã o para o ofendido, sem
configurar enriquecimento sem causa, e, ainda, uma sançã o para o ofensor.
Assim, diante da ausência de critérios objetivos de fixaçã o do quantum indenizató rio, faz-se
mister a aná lise dos julgados desta Corte de Justiça e dos Tribunais Pá trios, que
constantemente apreciam hipó teses de estreita similitude com o caso em apreço:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DESCONTOS INDEVIDOS DE
PARCELAS EM PROVENTOS DE APOSENTADO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO
TRAZ AOS AUTOS O SUPOSTO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. VALOR EXCESSIVO. REDUÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
1. No caso em exame, tem-se Ação de Indenização c/c Repetição do Indébito, onde o autor requer a restituição
dos descontos indevidos realizados em razão de contrato de empréstimo que alega não ter firmado, e a
indenização pelos danos morais sofridos. 2. Com efeito, devido à inversão do ônus da prova, cabia ao banco
apelante a comprovação da relação contratual que afirma existir com a parte autora. Todavia, este não trouxe aos
autos nem o contrato, nem qualquer outra prova que pudesse indicar que o empréstimo foi realizado pelo
demandante.
3. Os danos causados pelo desconto indevido de empréstimo na folha de pagamento do apelado, agravando a sua
situação financeira, ultrapassam os limites do mero dissabor, sobretudo se considerada a sua avançada idade. 4.
Merece prestígio, portanto, a r. sentença recorrida, na parte em que condenou a ré/apelante ao pagamento de
indenização por danos morais e materiais. 5. Todavia, no tocante ao quantum arbitrado a título de danos morais
(R$ 10.000,00), o mesmo mostra-se excessivo, considerando-se as circunstâncias do caso concreto, não podendo a
verba indenizatória representar fonte de lucro indevido, nem ser irrisória, impondo-se a sua redução para a
quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Precedentes. (TJCE, Apelação Cível 9257201080601071, Relator: Des.
Francisco Sales Neto, Órgão Julgador: 1a Câmara Cível, data de registro: 19/05/2011)
***
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NÃO
CONTRATADO. FRAUDE. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. NEGLIGÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PROVENTOS DE
APOSENTADORIA. FOLHA DE PAGAMENTO. DESCONTO INDEVIDO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. ENGANO
JUSTIFICÁVEL. FORMA SIMPLES. SUSPENSÃO DOS DESCONTOS. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. MINORAÇÃO. 1. Restando comprovado nos autos que os descontos efetuados nos proventos do
aposentado foram indevidos, eis que provenientes de um contrato de empréstimo inadvertidamente celebrado
com terceiro que por ele se fez passar, impõe-se, por parte da instituição financeira contratante, a decretação de
inexistência de negócio jurídico, a restituição da quantia indevidamente descontada e a reparação por danos
morais. A responsabilidade ostentada pela instituição financeira, nestes casos é objetiva, nos termos previstos no
Código de Defesa do Consumidor, independentemente da existência ou inexistência de prova de culpa ou do nexo
causal. 2. A repetição do indébito em dobro, com base no Código de Defesa do Consumidor , é cabível desde que
não se afigure hipótese de engano justificável. Apurando-se que a instituição financeira cuidou de suspender os
descontos efetuados indevidamente assim que foi citada para a ação, a repetição do indébito se fará de forma
simples. 3. Deve ser reduzido o quantum indenizatório a título de danos morais, quando se verificar que foi fixado
pelo juiz em desconformidade com os critérios da razoabilidade e proporcionalidade condizentes com as
circunstâncias do caso e fora dos parâmetros adotados por este Tribunal, que vem fixando, em casos análogos, a
quantia de R$5.000,00 (cinco mil reais) para efeito de reparação do dano sofrido pela vítima do embuste . (TJDFT, ,
Relator SANDOVAL OLIVEIRA, 1a Turma Cível, julgado em 17/02/2011, DJ 24/02/2011 p. 67)
Cumpre destacar que a recorrente juntou aos autos documentaçã o bastante a fazer prova
de todo o alegado, ao contrá rio do que entendeu na sentença o Juiz a quo , e que é por uma
questã o da mais lídima justiça que esta Corte deve reformá -la em todos os seus
fundamentos.
Sendo assim, cumpre reconhecer que o promovente logrou êxito em demonstrar os fatos
constitutivos de seu direito.
Dessa maneira, existindo prova cabal irregularidade do contrato, dos descontos no salá rio e
danos morais sofridos é que se pede a procedência do recurso inominado.
Termos em que,
Pede deferimento.
Sobral/CE, 01 de fevereiro de 2021.