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administração financeira

Unidade II
3 DECISÕES DE FINANCIAMENTO em CURTO PRAZO

Nossa experiência, após centenas de demonstrações financeiras examinadas, sinaliza que as empresas
entram num cenário de dificuldades financeiras basicamente por meio de duas consequências: má
formação do capital social inicial ou busca de empréstimos bancários para sanar esta má formação,
redundando em excesso de despesas financeiras e baixa lucratividade.

Quando uma empresa inicia suas atividades, em seu Balanço Patrimonial há a entrada de
dois tipos de investimentos: um deles cobre o investimento fixo devido aquisição de máquinas,
equipamentos e demais itens que comporão o Ativo imobilizado. O outro compõe os saldos
em caixa ou mesmo em bancos para gastos rotineiros ou emergenciais e apresentam liquidez
imediata ou de curtíssimo prazo. Estoques também fazem parte desse componente, bem como
contas a receber. A esta outra parte do investimento inicial, as reservas de recursos, dá‑se o
nome de capital de giro.

Pelas palavras de Hoji (2012, p. 107),

O capital de giro é conhecido também como capital circulante e corresponde


aos recursos aplicados em Ativos Circulantes, que se transformam
constantemente dentro do ciclo operacional. [...]. Como o próprio nome
dá a entender, o capital de giro fica girando dentro da empresa e, a cada
vez que sofre transformação em seu estado patrimonial, produz reflexo
na contabilidade. [...]. O estudo do capital de giro é fundamental para a
Administração Financeira, porque a empresa precisa recuperar todos
os custos e despesas (inclusive financeiras) incorridos durante o ciclo
operacional e obter o lucro desejado, por meio da venda do produto ou
prestação do serviço.

Mais adiante voltaremos ao assunto administração de capital de giro. Por enquanto, vamos ilustrar
dois exemplos típicos de formação de capital com valores hipotéticos.

Empresa com má formação do capital social inicial

Iniciaremos com a consideração de uma empresa em que a formação de capital não é das melhores:

• Empresa com má formação do capital social inicial

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Quadro 1

Ativo Passivo

Disponível 1.000,00
Imobilizado 2.000,00 Capital social 3.000,00

Total
3.000,00
Total 3.000,00

Neste caso, os acionistas ou sócios dimensionaram sua participação em $3.000,00 no capital


social. Tal dimensionamento demonstrou ser, a princípio, provavelmente insuficiente, uma vez que dos
$3.000,00 um percentual de 66,6% ou $2.000,00 foram aplicados na aquisição de imobilizado, sendo
certo que esta participação é altíssima e poderá levar a empresa a uma busca de empréstimos bancários,
se os restantes $1.000,00 não forem suficientes para o giro da empresa.

Observação

Observe que mais da metade do capital social foi imobilizado,


representando baixa liquidez imediata.

O erro de má formação de capital inicial da empresa, em termos financeiros, poderá ser constatado
ao calcularmos a necessidade de capital de giro. O capital de giro da empresa é a parte das fontes de
longo prazo, representadas pelo Passivo Não Circulante não comprometidas com o financiamento das
aplicações de longo prazo, e que estão no Ativo Não Circulante. De outra forma,

CDG = PNC – ANC

onde,

CDG = capital de giro;

PNC = Passivo não circulante;

ANC = Ativo não circulante.

Para o caso do exemplo hipotético, se este cálculo indicar o valor, digamos de $800, isso significa
que a empresa deverá tomar um empréstimo bancário em idêntico valor. Se não for assim, não terá
como financiar o giro dos estoques e das vendas a prazo.

Tomando‑se o mesmo exemplo, e em continuidade, a empresa toma os $800 como empréstimo


bancário para satisfazer seu giro, e daí resultará o seguinte Balanço Patrimonial, também com dados
hipotéticos sendo o disponível dividido em duas contas: disponível e estoques.

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• Empresa buscando empréstimos bancários

Quadro 2

Ativo Passivo

Disponível 400,00 Empréstimos bancários 800,00


Duplicatas a receber 800,00
Estoques 600,00
Imobilizado 2.000,00 Capital social 3.000,00

Total 3.800,00 Total 3.800,00

Após a tomada do empréstimo, vê‑se que a composição do Balanço Patrimonial sofre alguma alteração:
no lado do Passivo temos o aumento de 800,00 representados pelos empréstimos tomados e que deverão
ser pagos no curto prazo, pois está no Passivo Circulante. O lado do Ativo também evoluiu em termos
monetários, permanecendo o mesmo valor para o imobilizado (investimento inicial). É possível perceber
que, ainda no Ativo, os 1.000,00 iniciais também lá estão, só que agora desmembrados em disponível,
supostamente caixa e bancos e estoques. O acréscimo dos 800,00 está em duplicatas a receber.

Lembrete

Lembre‑se do que foi afirmado anteriormente: o capital de giro fica


girando dentro da empresa e, a cada vez que sofre transformação em seu
estado patrimonial, produz reflexo na contabilidade.

Com esta alternativa, a empresa inicia um ciclo de decisões que poderá ser correto e adequado, ou
então, vicioso, chegando até a provocar o encerramento de suas atividades. Isto porque os acionistas
cobrarão um retorno sobre o capital social de $3.000,00 e os bancos financiadores cobrarão despesas
financeiras sobre o valor de $800,00.

Assim, os gestores da empresa terão duas obrigações, simultaneamente: por um lado, atender aos
acionistas e, por outro, atender aos bancos. Se os concorrentes não têm esta obrigação, certamente
trabalharão com preços menores porque não terão as mesmas despesas financeiras, e, com isso, suas
vendas serão mais estáveis e muito provavelmente com menores sacrifícios de preço e, portanto,
melhores margens.

Portanto, tratamos aqui de um das fontes de capital de giro e para Hoji (2012, p. 110),

Algumas fontes são geradas pelas próprias operações, tais como duplicatas a
pagar aos fornecedores, impostos a recolher, salários e encargos sociais a pagar.
Outras são provenientes de atividades financeiras, como os financiamentos e

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empréstimos bancários. As principais fontes de financiamento são onerosas,


pois geram encargos financeiros, tais como empréstimos e financiamentos
bancários e parcelamento de impostos vencidos. As duplicatas a pagar
aos fornecedores de materiais e serviços, se forem financiadas, embutem
encargos financeiros, de uma forma ou de outra. [...]. Existem fontes de
financiamento não onerosas geradas naturalmente pelas operações normais
da empresa. As principais são: salários a pagar, encargos sociais a recolher,
impostos a recolher e provisões para férias e 13º salários.

Essas decisões são as que norteiam esta parte do livro‑texto, cujo objetivo principal será o de trazer
exemplos de controles que as facilitem e que permitam evitar as já conhecidas “cirandas financeiras”,
que têm levado à bancarrota milhares de bons empreendimentos.

3.1 Planejamento de caixa

Planejar o caixa consiste em estabelecermos, com antecedência, as decisões financeiras que serão
tomadas em circunstâncias e condições previamente estabelecidas, com a propriedade de previsão dos
recursos que serão utilizados para que os objetivos traçados possam ser atingidos.

Lembrete

Quando se fala de “caixa”, a abrangência é para todo o disponível, ou


seja, para todo recurso em dinheiro que circula pelo Ativo das empresas.

Na realidade, o Ativo Circulante é um “grande caixa” que, partindo do dinheiro propriamente


dito, se “desmancha” por utilização em outras contas que compõem o Ativo como um todo, desde o
Circulante (estoques, duplicatas a receber) ao Ativo fixo (imobilizações), retornando a ser “caixa” e assim
sucessivamente.

Observação

Deve‑se levar em consideração que nem sempre a opção pela


manutenção de elevados saldos em caixa seja a melhor alternativa do
gestor financeiro. A escolha deve levar em consideração as características
da empresa.

É notória a percepção e o objetivo dos empreendedores em geral em manter o maior volume de


recursos no caixa, no saldo bancário, mas isso nem sempre é possível pela própria circulação e giro que
a empresa tem, e o gestor não consegue manipular de acordo com sua conveniência. Afinal, a empresa
tem sua dinâmica e o caixa é, em particular, o representante desse dinamismo e dessa circulação diária
de recursos.

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Um planejamento de caixa comporta três tipos específicos:

• o planejamento estratégico de caixa, que é de longo prazo, antecipado aos fatores externos e
internos à empresa, sinalizando quase sempre decisões complexas e que envolvem grande volume
de recursos;

• o planejamento tático de caixa, que tem um alcance mais curto em termos de prazo, envolvendo
o resultado particular de alguma área, como a de marketing, por exemplo;

• o planejamento operacional de caixa, que tem a finalidade de maximizar os recursos aplicados


em operações de determinado período, geralmente de curto e médio prazos.

Qual, então, a essência de um planejamento de caixa? Trata‑se, a nosso ver, de uma ação estratégica,
razão de ser de um sistema orçamentário. Todos os orçamentos são elaborados – orçamento de pessoal,
orçamento de despesas, orçamento de investimentos, orçamento de vendas e custos – e culminam
no orçamento do caixa, que dá o tratamento final às possibilidades financeiras objetivadas nestes
orçamentos.

Sobre o assunto, Hoji (2012) salienta que o gestor financeiro deve ter uma visão integrada
do fluxo de caixa. Para ele, quando a área que chama de tesouraria efetua pagamentos e/ou
recebimentos, pouca coisa há a fazer: os fatos geradores não estão sob seu controle. As decisões
foram tomadas anteriormente. Se há um pagamento a fazer, é porque alguma despesa/compra
foi gerada. Se há recebimento, houve venda. Trabalha, muitas das vezes, no presente com fatos
geradores do passado. Assim, ao gestor financeiro – ou qualquer outro nome que ocupe o cargo
da administração das finanças – cabe interagir preventivamente junto a áreas geradoras de
recebimentos e de pagamentos.

Muitas vezes as empresas adotam estratégias diante da tomada de decisão. Podemos dizer que, vez
ou outra, as empresas adotam política de caixa. Política, de modo geral, é um modo de ação que norteia
a direção e o sentido para um processo de tomada de decisões que podem se repetir continuamente, ou
que ocorram para atingirmos um objetivo.

Como exemplo de uma política financeira tem‑se o caso de uma empresa que adota uma política
de preços do tipo “cobrimos qualquer oferta” para crescer seu faturamento e, com isso, alcançar um
acréscimo de 20% em suas vendas anuais. Visando atingir tal objetivo, a empresa autoriza a concessão de
descontos de até 10% em seus preços de venda, independentemente de autorização superior, bastando
que os clientes apresentem os preços anunciados pelos concorrentes. Tal política pode ser adotada
quando o que interessa para a empresa, naquele momento, seja um reforço de caixa lançando mão de
lucratividade.

Vários são os motivos que levam as empresas a tomar tal atitude: possibilidade de entrada de
um produto substituto ao seu ou mesmo entrada de novo concorrente; estoque elevado de produtos
acabados e assim por diante.

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Saiba mais

Do ponto de vista de tomada de decisão estratégica com relação a


preços, a leitura do livro de Thomas Nagli e John Hogan, Estratégia e Táticas
de Preços: um Guia para Crescer com Lucratividade (4. ed. São Paulo:
Prentice Hall Brasil, 2007), apresenta‑se bastante interessante.

Não é propósito, neste livro, estabelecermos um modelo de planejamento de caixa, à margem dos
demais orçamentos. Procuraremos, nesta obra, tratar dos cenários existentes e que envolvam situações
que possibilitem o conhecimento das variáveis que induzem a um planejamento eficiente de caixa e
que, ao mesmo tempo, contribuam para a superação de algumas das dificuldades que, por vezes, tornam
o planejamento inadequado como elemento vital no processo decisório.

3.2 Administração do caixa

É o aspecto mais prático e que envolve os saldos bancários de livre movimentação e as aplicações
financeiras de resgate ou liquidez mais ou menos imediatas.

O nível de saldos médios ou reserva de segurança, deve ser objetivado pelo que denominamos de fluxo
diário de caixa. As empresas devem ter uma previsão do seu dia a dia, dos valores que provavelmente
serão depositados nos bancos nos diversos dias, e dos valores que, com certeza, deverão ser pagos
naquelas datas.

Este fluxo diário é que norteia o nível de saldo médio, que, se constituírem sobras financeiras, devem
ser aplicadas no mercado financeiro, observadas as condições de liquidez, segurança, risco e rentabilidade
inerentes a qualquer aplicação financeira.

É importante destacar que saldo bancário excessivo não significa necessariamente a existência de
lucro. O lucro pode, sim, se transformar em saldo bancário, bastando que se tenha uma política de
remuneração do acionista/cotista definida para tal transformação. Mas o lucro também pode estar em
qualquer conta do Ativo – nos estoques ou mesmo no financiamento do total de contas a receber, por
exemplo – e não necessariamente à disposição para que se paguem contas, ou se adquiram bens para
circulação ou não.

Há vários outros motivos para que se tenha um maior ou, por vezes, um menor saldo médio
bancário, ou, como também é reconhecido, uma reserva de segurança. Entre os mais comuns, se
situam uma especulação de preços junto a fornecedores, e aquisição de algum item imobilizado
que esteja em promoção por tempo limitado nos fornecedores ou em razão direta de alguma
condição específica da parte dos proprietários de um terreno para investimento em ampliação
futura, por exemplo.

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Uma das finalidades da gestão do caixa é manter um saldo mínimo de recursos que possa ser
utilizado imediatamente, em função da incerteza associada aos fluxos de recebimentos e pagamentos,
pois, caso os recebimentos previstos não se concretizem conforme a previsão, a empresa pode incorrer
em problemas de inadimplência temporária.

Saiba mais

Até meados da década de 1990, no Brasil, as altas taxas de inflação


ameaçavam a sobrevivência das empresas que dependiam fortemente
da eficiência de uma boa administração de caixa. Cada recurso parado
representava incorrer em custo financeiro e perda de capital devido à
inflação e perda do poder de compra do dinheiro no tempo. Caso deseje
saber mais sobre o assunto “inflação brasileira”, bem como o relacionamento
empresarial diante de tal processo, leia o livro de Marco Antonio Sandoval
Vasconcelos, Rudinei Toneto Jr. e Amaury Patrick Gremaud, cujo título é
Economia Brasileira Contemporânea (7. ed. São Paulo: Atlas, 2007). Ali você
encontrará os fatores geradores da inflação, bem como as tentativas de
combate e as repercussões no mundo dos negócios.

Para Hoji (2012, p. 113),

[...] na gestão de caixa, é importante conhecer a capacidade de obtenção de


caixa em longo prazo da empresa. Conhecendo antecipadamente o limite
máximo de recursos financeiros que a empresa poderá tomar emprestado
de terceiros e do próprio acionista, é possível planejar com maior eficácia a
expansão do nível de atividades e resolver eventuais problemas de oscilação
nas disponibilidades de caixa.

3.3 Orçamento diário de caixa

Um orçamento diário de caixa é uma projeção diária das entradas e saídas para um período de
tempo imediatamente seguinte ao da data da sua elaboração. Vamos exemplificar, com uma situação
existente numa indústria têxtil.

Com base na publicação das demonstrações financeiras de uma Indústria Textil S.A. de 31 de
dezembro de 2006, é possível elaborar um fluxo diário de caixa para o próximo período, utilizando‑se
das informações hipotéticas que são a seguir apresentadas:

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Quadro 3 – Balanço Patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2006

Indústria Têxtil S.A.


Ativo Circulante 22,224 Passivo Circulante 14,189
Disponível 466 Fornecedores 7,295
Duplicatas a receber 11,327 Contas a pagar 3,600
Estoques 12,161 Empréstimos bancários 3,294
Outras contas (1,730)
Exigível Longo Prazo 2,926
Realizável Longo Prazo 171 Financiamentos 1,300
Outras contas 1,626
Permanente 9,385
Investimentos 322 Patrimônio Líquido 14,665
Imobilizado 9,063 Capital social 21,541
Diferido – Reservas e lucros acumulados (6,876)

Total do Ativo 31,780 Total do Passivo 31,780

Podemos observar a previsão de vendas para o período 2007.

Quadro 4

1. Previsão das vendas para 2007

À vista 02 dias – 14.412


A prazo 13 dias – 16.955
A prazo 26 dias – 35.111
Não recebidas – 15.596 82.074

A previsão de compras também traz importantes informações.

Quadro 5

2. Previsão das compras de matérias‑primas para 2007

À vista 05 dias – 3.226


A prazo 16 dias – 10.643
A prazo 19 dias – 8.449
Não pagas – 8.403 30.721

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Há, ainda, que se considerar a previsão de pagamento dos impostos, dos custos e das despesas
operacionais para o ano de 2007.

Quadro 6

3. Previsão de pagamento dos impostos, custos e despesas operacionais para 2007

Mão de obra direta 4 dias – 9.425


Cifs – financeiros 13 dias – 6.713
Cifs – depreciação não desembolsável – 2.246
Impostos sobre vendas 14 dias – 15.594
Despesa com vendas 19 dias – 5.663
Despesas administrativas 23 dias – 2.513
Despesas financeiras 28 dias – 1.198

Para o dimensionamento do fluxo de caixa, considerem‑se as seguintes informações:

• desses pagamentos, 10% a empresa deixará de pagar, e o saldo permanecerá no Passivo.

• se houver necessidade de tomar empréstimos diários, a taxa a ser considerada é de 0,2% ao dia.
Se houver possibilidade de aplicações diárias, taxa de 0,1% ao dia.

Mais informações são necessárias, só que agora referentes ao ano de 2006.

Quadro 7

4. Passivo Circulante de 2006

Fornecedores 12 dias – 7.295


Demais contas a pagar 18 dias – 3.600
Empréstimos bancários 13 dias – 3.294

Quadro 8

5. Ativo Circulante de 2006

Disponível 1 dia – 466


Duplicatas a receber 19 dias – 10.432
Estoques realizado através das vendas
Créditos diversos 12 dias – 644

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Informações adicionais e relevantes:

Quadro 9

6. Outras informações

a) o Realizável em Longo Prazo terá o valor de $40 como Receitas financeiras, adicionadas a seu saldo;
b) o Exigível em Longo Prazo terá o valor de $730 como Despesas financeiras, adicionadas a seu saldo;
c) o exercício é feito com dados hipoteticamente anuais, porém com movimentações de caixa
simuladas dentro do período de um mês (31 dias);
d) caso, no dia 31, o saldo de caixa esteja negativo, a empresa recorrerá a um empréstimo bancário
10% maior que esta diferença.

Como solução, temos a seguinte planilha de fluxo de caixa:

Tabela 1

Entradas Pagtos. Saídas Saldos


Ren. Desp. Mat. Desp./
Data Vendas At. Circ. Emprest. P. Circ.
Empr. Financ. Prim. Cust.

1 466 466,00
- -

2 14.412,00 14878,47
- -

3 14893,34
- -

4 8.482,00 6426,24
- -

5 3.226,00 3206,66
- -

6 3209,87
- -

7 3213,08
- -

8 3216,29
- -

9 3219,51
- -

10 3222,73
- -

11 3225,95
- -
12 644 (3419,82) (6,84) 7.293,00 (3419,82)

13 16.955,00 6.041,00 3.294,00 4193,34


- -
14 (9836,47) (19,67) 14.034,00 (9836,47)
15 (9856,14) (19,71) (9856,14)

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16 (20518,85) (41,04) 10.643,00 (20518,85)


17 (20559,89) (41,12) (20559,89)
18 (24201,01) (48,40) 3.600,00 (24201,01)
19 10.432,00 (27362,41) (54,72) 8.449,00 5.096,00 (27362,41)
20 (27417,14) (54,83) (27417,14)
21 (27471,97) (54,94) (27471,97)
22 (27526,92) (55,05) (27526,92)
23 (29842,97) (59,69) 2.261,00 (29842,97)
24 (29902,66) (59,81) (29902,66)
25 (29962,46) (59,92) (29962,46)
26 35.111,00 - - 5088,61
27 - - 5093,70
28 - - 1.078,00 4020,80
29 - - 4024,82
30 - - 4028,84
31 - - 4032,87
Totais 66.478,00 11.542,00 (575,76) 22.318,00 36.992,00 14.187,00

3.4 Capital Circulante Líquido

O fluxo diário de caixa é uma previsão próxima da realidade, num horizonte de tempo de, por
exemplo, um mês seguinte. Quanto maior o período de tempo a ser previsto, maior será a probabilidade
de desvios em relação a esta previsão, porque aumenta o grau de incerteza dos lançamentos esperados.
As atividades de estocagem, produção, vendas e recebimento das vendas têm determinação de épocas
mais difícil de se prever.

Há, normalmente, uma dificuldade nessa previsão diária, e para tal surge o Capital Circulante Líquido
(CCL) que, por sua natureza, apresenta dados mais abrangentes.

Observando a figura extraída do Balanço Patrimonial, podemos notar o Capital Circulante Líquido:
Ativo Passivo

Passivo Circulante
Ativo Circulante

Capital Circulante
Liquido (CCL) Patrimônio
Líquido
Ativo Permanente

Figura 2 – Como localizar o Capital Circulante no Balanço

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Unidade II

A figura demonstra que o Capital Circulante Líquido é a diferença entre o Ativo Circulante e o
Passivo Circulante, constituindo‑se na diferença positiva ou negativa entre estes grandes grupos pelos
quais circulam os recursos. Numa situação em que haja carência de CCL, esta poderá ser corrigida por
meio de financiamentos de longo prazo, que entrarão pelo Passivo de terceiros ou, ainda, por aporte de
capital próprio.

De outra forma, quando a soma dos elementos do Ativo corrente é maior do que a soma dos
elementos do Passivo corrente, o CCL é positivo. Em caso contrário, o CCL é negativo. Quando a soma
dos elementos do Ativo corrente é igual à soma dos elementos do Passivo corrente, o CCl é nulo.

Na situação de CCL positivo uma parte do Ativo corrente está sendo financiada pelo Passivo não
corrente, que são recursos de longo prazo representados pelos grupos do Exigível em Longo Prazo e
Patrimônio Líquido.

Em caso de CCL negativo, o Passivo corrente está financiando parte do Ativo não corrente, que são
investimentos de longo prazo classificados em Ativo Realizável em Longo Prazo e em Ativo Permanente.

Na situação do CCL nulo, existe um equilíbrio entre o Ativo corrente e o Passivo corrente.

Exemplificando, observe as informações a seguir:

Quadro 10

Ativo Circulante 1.000,00


Passivo Circulante 800,00

CCL 200,00

Se desejarmos um CCL de $300,00, não devem ser realizados empréstimos bancários de curto prazo,
sob pena de anulação da operação, porque tanto o Ativo Circulante como o Passivo Circulante serão
ampliados no montante do empréstimo contraído, conforme se demonstra na sequência:

Quadro 11

Ativo Circulante 1.300,00 (com o recebimento do empréstimo)


Passivo Circulante 1.100,00 (com o recebimento do empréstimo)

CCL 200,00

Desta forma, para termos um CCL maior, ou maior folga financeira, precisamos optar por outros
canais de financiamento, preferivelmente por meio de recursos financeiros obtidos em longo prazo, ou,
então, mediante aumento do capital próprio proveniente de acionistas ou cotistas.

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administração financeira

Exemplificando com os mesmos dados, e obtendo‑se ao mesmo tempo um empréstimo de $200,00


em longo prazo, e um aumento de $300,00 de capital:

Quadro 12

Ativo Circulante 1.800,00 (com o recebimento de $200 + $300 )


Passivo Circulante 1.100,00 (continuou com os mesmos saldos )

CCL 700,00 ( os $200 anteriores + os $500 atuais )

Entende‑se, portanto, que o Capital Circulante Líquido seja um estudo que atinge apenas a dois
grupos financeiros do Balanço Patrimonial: o Ativo Circulante e o Passivo Circulante.

Observação

Por isso mesmo, eles têm uma abrangência de curto prazo – um ano
após o encerramento do Balanço Patrimonial, com base nos critérios legais
de classificação.

Como conclusões a respeito do CCL, podemos relacionar algumas afirmações e suas comprovações
financeiras logo a seguir:

• quanto maior o CCL, menor será o risco de a empresa enfrentar problemas financeiros envolvendo
pagamentos atrasados ou descumprimento de obrigações nas datas previstas.

Veja, no quadro a seguir, tal situação.

Quadro 13

Ativo Circulante 1.800,00


Passivo Circulante 1.100,00

CCL 700,00

Comentários: a empresa conta com uma folga de $1.800,00 para pagar compromissos de $1.100,00.

• se a participação dos estoques no Ativo Circulante da empresa for muito elevada, o CCL poderá
não significar folga financeira, conforme o que se demonstra a seguir.

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Unidade II

Quadro 14

Ativo Circulante 1.800,00 Passivo Circulante 1.100,00


Estoques 1.000,00
Demais contas 800,00

CCL 700,00

Comentários: o Ativo Circulante ficaria restrito a $800 ($1.800 – $1.000) e com um Passivo Circulante
de $1.100 – o CCL seria reduzido para apenas $100, diminuindo, como consequência, a folga financeira,
e com grandes probabilidades de surgirem problemas de pontualidade nos pagamentos

• se a conta de duplicatas a receber apresentar prazos extensos, ou seja, com um prazo médio de
recebimento das vendas excessivo, o CCL poderá não significar folga financeira, senão vejamos:

Quadro 15

Ativo Circulante 1.800,00 Passivo Circulante 1.100,00


Estoques 1.000,00
Dupl. a receber 500,00
Demais contas 300,00

CCL 700,00

Comentários: o Ativo Circulante ficaria restrito a $300 porque extraímos os saldos dos estoques
(1.000) e das duplicatas a receber (500) do total de $1.800. Assim, o CCL ficaria negativo em 800 (300 –
1.100) e com totais probabilidades de a empresa ter problemas de pontualidade, ou até de insolvência
em seus compromissos.

• o CCL de valor baixo pode não necessariamente implicar problemas como pontualidade no
cumprimento das obrigações diárias:

Quadro 16

Ativo Circulante 1.800,00 Passivo Circulante 1.600,00

CCL 200,00

Comentários: dependendo do tempo, ou até mesmo dos dias, em que os valores do Ativo Circulante
serão transformados em dinheiro, e do tempo ou dos dias que os vencimentos das obrigações do
Passivo Circulante ocorrerão, os compromissos podem ser saldados sem qualquer problema até uma
determinada data que a deficiência aparecerá.
56
administração financeira

• quando um gestor financeiro aplicar recursos no Ativo Permanente, ele deve ter noção de que
poderá provocar diminuição no CCL se estes recursos forem suprimidos do Ativo Circulante. De
nada adiantará, também, neste caso, se os recursos forem obtidos em curto prazo:

Quadro 17
Ativo Circulante 1.800 Passivo Circulante 1.100

CCL 700

Comentários: se houver a aquisição de um imóvel para utilização da empresa, por exemplo, no valor
de $500, a demonstração do CCL passará a ser de:

Quadro 18

Ativo Circulante 1.300 (houve a redução de 1.800 (‑) 500 = $1.300)


Passivo Circulante 1.100

CCL 200 (houve a redução dos $500 pela aplicação)

• quando um gestor financeiro aplicar recursos no Ativo permanente, o ideal é que obtenha esses
mesmos recursos por meio do exigível em longo prazo ou por meio dos acionistas ou sócios:

Quadro 19

Ativo Circulante 1.800 Passivo Circulante 1.100

CCL 700

Comentários: se, por exemplo, esta aquisição fosse de $500 – teríamos um Balanço Patrimonial
demonstrado da forma seguinte, em que não se alterariam os valores do Ativo e Passivo Circulantes.

Quadro 20

Ativo Circulante 1.800 Passivo Circulante 1.100


Ativo Permanente 500 Exigível em Longo Prazo 500
Patrimônio Líquido 700
Total 2.300 Total 2.300

• um CCL elevado significa sem dúvida um índice de liquidez corrente saudável:

57
Unidade II

Quadro 21

Ativo Circulante 1.800 Ativo Circulante 3.000


Passivo Circulante 1.100 Passivo Circulante 1.100

CCL 700 CCL 2.100

Comentários: no primeiro exemplo, à esquerda, a liquidez corrente teria ao resultado de 1,63 –


enquanto no segundo exemplo, à direita, o resultado seria de 2,72.

• o CCL elevado tem limites quanto à sua influência junto à rentabilidade da empresa. Ele pode
estar concentrado em contas cujo excesso não traz rentabilidade, como estoques excessivos, ou
saldos médios excessivos nas contas a receber:

Quadro 22

Realidade da empresa Ideal da empresa

Ativo Circulante 1.800 Ativo Circulante 1.500


Disponível 300 Disponível 300
Estoques 1.000 Estoques 800
Dupl. a receber 500 Dupl. a receber 400
Passivo Circulante 1.100 Passivo Circulante 1.100

CCL 700 CCL 400

Comentários: neste exemplo, haveria um excesso de $200 em estoques e $100 em duplicatas a


receber, totalizando $300. Na pior das hipóteses, se a empresa não trabalhar este excesso de $300 em
mais produção e mais vendas, portanto mais lucros, poderia aplicá‑lo objetivando geração de receitas
financeiras.

O Capital Circulante Líquido é evidenciado na Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos


– DOAR. Para Groppelli e Nikbakht (1999, p. 405),

[...] a maioria das origens (fundos) vem dos lucros, da depreciação, dos
aumentos de capital e de empréstimos de longo prazo, enquanto aumentos
em contas a receber, em títulos negociáveis e Ativos imobilizados representam
os principais usos desses fundos. Descobrir de onde esses fundos vieram
e para onde eles foram é extremamente importante, porque isso ajuda os
gerentes financeiros a encontrar os melhores caminhos para gerá‑los e
utilizá‑los.

58
administração financeira

Ainda, de acordo com os mesmos autores, para calcular as origens e as aplicações dos fundos,
utilizam‑se as seguintes regras simples: origens de caixa ocorrem quando:

• existe uma diminuição nos Ativos de um período para outro;

• existe um aumento no Passivo de um ano para outro;

• existem despesas de depreciação no demonstrativo de resultado no último ano;

• uma empresa vende ações;

• uma empresa obteve lucro no último exercício.

De outra forma, aplicações de recursos ocorrem quando:

• os Ativos aumentam de um ano para outro;

• passivos diminuem de um ano para outro;

• a empresa incorreu em prejuízo no último exercício;

• a empresa pagou dividendos em dinheiro;

• a empresa recomprou ou retirou ações.

Voltando então ao nosso exemplo, demonstramos da seguinte forma:

Quadro 23

Origens de recursos

Lucro Líquido do exercício 6.431


Depreciação 5.219
Aumento de capital 21.782
Aumento do Exigível Longo Prazo 73.742
Venda de imobilizado 3.344
Redução do Realizável Longo Prazo 3.704 114.222

59
Unidade II

Quadro 24

Aplicações de recursos

Aquisição de imobilizado 9.459


Aquisição de investimentos 791
Aumento do Realizável Longo Prazo 2.375
Redução do Exigível Longo Prazo 35.795 48.420

Aumento do Capital Circulante Líquido 65.802

A conclusão, pelo que expõe a DOAR, é a de que, logo após a obtenção desses dados, a empresa
terá $65.802 a mais em seu Ativo Circulante, identificando para o CCL uma variação positiva, ou um
aumento deste em relação ao período anterior.

Lembrete

Lembre‑se de que a diminuição nos estoques resulta em fonte de fundos


e aumentos em títulos negociáveis. Nas contas a receber, nos estoques e
nos Ativos brutos representam usos de fundos.

3.5 Administração do capital de giro

Administrar o capital de giro pode ser sinônimo de administrar o Ativo Circulante, composto das
disponibilidades, das contas a receber, dos estoques e de outros créditos.

Nesta análise, não importam os vários conceitos de capital de giro, pois todos eles convergem para
o mesmo ponto:

• é a soma dos recursos que giram (ou circulam);

• são os Ativos que devem transformar‑se em dinheiro;

• são os recursos que financiam o ciclo operacional e financeiro.

Observação

Dentro desse panorama, vamos estudar a administração do capital


de giro situando‑a nos seus componentes fundamentais: o disponível, o
contas a receber e os estoques.

60
administração financeira

Pode‑se dizer que a política de administração de capital de giro envolve duas questões básicas: a
primeira é saber qual a quantidade apropriada de Ativos Circulantes que uma empresa deve manter,
tanto no total quanto para cada conta específica. A segunda, saber como devem ser financiados os
Ativos Circulantes.

Saiba mais

A obra de Eugene Brighan, Louis Gapenski e Michael Ehrhardt, cujo


título é Administração Financeira: Teoria e Prática (São Paulo: Atlas, 2001),
aborda o assunto com maestria. O capítulo 21, “Administração do Ativo
Circulante”, é bastante interessante e repleto de informações que elucidam
o assunto. Fica aqui a nossa recomendação.

3.6 Administração do disponível

Administrar o disponível – ou o caixa – é cuidar cotidianamente dos Ativos cuja característica seja a
sua transformação em dinheiro ou liquidez imediata, de forma natural e sem interferências de terceiros.

Tradicionalmente, a contabilidade os classifica em:

• valores em moeda corrente;

• saldos bancários;

• aplicações de liquidez imediata;

• aplicações de liquidez em curto prazo;

• aplicações em moeda estrangeira.

O trabalho do gestor da tesouraria, ou administrador do caixa, é cuidar diariamente para que a


liquidez da empresa se mantenha nos níveis planejados, com observação da pontualidade e obediência
aos vencimentos e contratos com seus fornecedores, governo etc.

Basicamente, suas preocupações são com as entradas e saídas previstas de caixa. Se a empresa tem
filiais, ou várias unidades que podem interferir nesse processo, esta característica poderá ampliar seus
controles e preocupações.

A manutenção adequada e dentro das expectativas nas entradas e saídas de recursos previstas são
o principal escopo diário.

61
Unidade II

Como entradas típicas ou comuns, podemos relacionar:

• vendas à vista;

• recebimento de vendas a prazo (duplicatas a receber);

• recebimento de outras contas a receber;

• crédito de empréstimo bancário;

• crédito de receitas financeiras;

• recebimento de empréstimos de terceiros;

• aumento do capital social;

Como saídas típicas ou comuns, podemos relacionar:

• pagamento de despesas diárias;

• pagamento de fornecedores;

• pagamento de empréstimos bancários;

• aquisição de Ativos Permanentes;

• pagamento de despesas financeiras;

• empréstimos a terceiros;

• pagamento de dividendos ou distribuição de lucros.

O caixa muitas vezes é chamado de Ativo não lucrativo. Ele é necessário para o pagamento de mão
de obra e de matérias‑primas, para a compra de Ativos fixos, pagamento de dividendos etc. Entretanto,
o caixa em si, não recebe juros. Assim, o objetivo do administrador de caixa é minimizar a quantia de
caixa que a empresa deve manter para a conduta de suas atividades normais de negócio, ainda assim,
ao mesmo tempo, manter caixa suficiente para:

• obter descontos de compra;

• manter a classificação de crédito;

• arcar com necessidades inesperadas de caixa.

62
administração financeira

Uma dificuldade bastante significativa que se coloca ao gestor financeiro é a manutenção de um


saldo mínimo de caixa. Estudos feitos por Baumol e Miller‑Orr levam‑nos a este assunto, até com
muita propriedade; contudo, sua aplicabilidade no Brasil é vedada pela impossibilidade, no momento,
de os saldos excedentes serem aplicados no sistema de open market (mercado aberto, com operações
conhecidas por overnight, isto é, de um dia).

De qualquer forma, abordaremos os tópicos mais relevantes que interferem ou colaboram para o
controle desse saldo mínimo de caixa:

• tipo de atividade exercida – uma loja apresenta um caixa mínimo substancialmente diferente de
uma indústria ou de um prestador de serviço;

• histórico anterior – o passado pode razoavelmente indicar‑nos qual o valor mínimo que devemos
manter em determinadas situações, mesmo nas ocasiões sazonais;

• reciprocidade bancária – mesmo que não existam empréstimos bancários, a reciprocidade (saldos
médios diários) é um fator de aproximação e exigência para futuros e eventuais empréstimos;

• política de vencimentos – podemos negociar alterações mínimas nas datas de nossos fornecedores
mais comuns e constantes;

• uso de meios eletrônicos – facilitam as transações mas nos escravizam na obediência aos
vencimentos. Entretanto, podemos exigir o mesmo procedimento por parte de nossos clientes,
por meio da utilização do meio mais rápido de crédito que possamos ter;

• acúmulo de vencimentos – é prática, no Brasil, que a maioria dos vencimentos salariais, locatícios,
tributários e governamentais, venham a ocorrer do dia 1 ao dia 10 de cada mês. Se este acúmulo
não se coaduna com a situação, devemos tentar alterá‑lo no que for possível, ou antecipar aquele
que favoravelmente colabora para quitá‑lo.

Para melhor gerenciar o fluxo de caixa, é necessário que ele seja um instrumento gerencial para
tomada de decisões, tanto para coletar e organizar os dados como para gerar subsídios que permitam a
análise de desempenho financeiro da empresa.

Com o manejo do fluxo de caixa, o gestor financeiro tem condições de compatibilizar, no tempo, as contas
a pagar com as contas a receber, e, consequentemente, tomar decisões sobre situações importantes, como:

• o melhor momento de comprar e pagar;

• o melhor momento de vender e receber;

• os momentos mais acumulados de contas a pagar;

• projeção de sobras, e faltas de caixa.


63
Unidade II

3.7 Administração das duplicatas a receber

As empresas, em geral, preferem vendas à vista em vez de vendas a crédito, entretanto, pressões
competitivas forçam a maioria das empresas a oferecer crédito.

Observação

Observe que a administração de contas a receber começa com a decisão


de oferecer crédito ou não.

Administrar as duplicatas a receber ou, como também é chamado, o contas a receber, significa cuidar
do crédito e da cobrança nas transações a prazo.

A decisão sobre vendas a prazo passa pelo estabelecimento de uma política de concessão do crédito,
sem o qual se podem ter problemas com a cobrança. Crédito é o instrumento de política financeira a
serviço das entidades, quando estas correm o risco de transferir a posse de dinheiro, mercadorias ou
serviços, mediante a promessa de reembolso futuro. Tem característica de reciprocidade, uma vez que,
ao ser concedido por alguém, é automaticamente recebido por alguém.

Nos regimes capitalistas, pressupõe‑se que haja ao concessor uma vantagem financeira pelo ato de
conceder, e, ao tomador, uma desvantagem financeira pelo ato de tomar. Esta vantagem/desvantagem
financeira é geralmente determinada pelo valor dos juros compreendidos na operação de crédito.

Sob o ângulo estritamente comercial, quando a concessão está ligada à transferência de mercadorias
ou serviços, admite‑se que o concessor esteja ligado ao interesse em obter maior lucratividade em suas
transações, e ao tomador resta‑lhe a obtenção de capitais de terceiros de que necessita também em seu
negócio.

O crédito cumpre uma série de funções específicas:

• movimentar o processo de produção em todas as suas etapas, possibilitando maior volume de


operações;

• estimular o consumo, tal que a produção crescente possa ser absorvida pela sociedade;

• possibilitar aos investidores a aplicação de suas economias no processo produtivo, ou em nível de


consumo;

• reunir capitais que, sozinhos, não conseguiriam financiar grandes projetos sociais, levando a
sociedade a um bem‑estar econômico e adequada distribuição da renda.

64
administração financeira

Saiba mais

Se você acessar o site do Banco Central do Brasil, encontrará um excelente


artigo sobre o crédito no Brasil. O nome do artigo é Democratização do
Crédito no Brasil: Atuação do Banco Central (ALVES, 2004). Vale a leitura.

O crédito divide‑se em dois tipos da forma mais ampla: o crédito público e o crédito privado. O
crédito público trata das relações entre entidades públicas – governo federal, estadual e municipal – e
as pessoas ou empresas. O crédito privado trata das relações entre as pessoas ou entre as empresas.

O crédito privado, nosso foco nesta obra, pode subdividir‑se em: crédito mercantil e crédito bancário.

O crédito mercantil é a forma mais comum de financiamento em curto prazo, e também é


conhecida como crédito comercial. Podemos definir crédito mercantil como sendo o crédito em curto
prazo concedido por um fornecedor a um comprador, em decorrência da compra de mercadorias,
matérias‑primas ou serviços para posterior revenda ou utilização. O produtor concede o crédito, quando
vende seus produtos, a prazo, ao atacadista. Concede‑o depois, o atacadista, quando faz a venda desses
mesmos produtos ao varejista. E concede‑o, finalmente, o varejista, quando por sua vez, vende esses
mesmos produtos ao consumidor final, a prazo.

3.8 Políticas de crédito

Para conceder crédito, as empresas precisam estabelecer, entre as políticas possíveis, aquela que irão
adotar. Há três políticas para concessão de crédito:

• Política de crédito liberal

As empresas que adotam normas que determinam e controlam este tipo de política devem ser
aquelas cuja situação financeira é razoavelmente boa. É comum o estabelecimento deste tipo de política
pelas empresas novas no mercado, e que precisam se tornar conhecidas rapidamente, a fim de que suas
vendas aconteçam.

Esta política pode ser utilizada também pelas empresas cuja margem de lucratividade seja considerada
alta. A competição de mercado, por seu lado, pode ser elemento impulsionador para a prática da política
de crédito liberal. Pode ocorrer sua prática em circunstâncias especiais, quando em promoções gerais ou
específicas a produtos de pouco giro, ou até obsoletos ou fora de linha de comercialização ou produção.

O que, por seu turno, deverá ser objeto de consequência ao adotá‑la, é que, como fator de um maior
volume de vendas que poderá trazer, seguir‑se‑á um risco maior no crédito, com possibilidades de maior
atraso nas contas as receber e, com isso, maiores possibilidades de perdas.

65
Unidade II

• Política de crédito rígida

As empresas que adotam normas que determinam e controlam esse tipo de política devem ser
aquelas cuja situação financeira não permite maiores riscos por falta de capital de giro. É comum
encontrá‑la nas empresas que comandam determinados mercados com poucos concorrentes, ou nas
monopolistas, como também em épocas de demanda elevada de consumo com produção insuficiente
para atendê‑la.

Observação

De modo geral, fatores como falta de capital de giro, margem de


lucratividade pequena e tendência à inadimplência por parte dos clientes
são motivos adicionais a serem considerados na adoção desse tipo de
política.

Como consequência, poderemos ter menores vendas, menor lucratividade, menor quantidade de
clientes atendidos e menor risco de crédito. Em contraposição, teremos possibilidades maiores de as
contas a receber estarem sendo pontualmente quitadas.

• Política de crédito compatível

As empresas que seguem normas que determinam e controlam esse tipo de política são aquelas que
adotam uma linha de flexibilidade de ação, levando em conta as condições do mercado e de seus clientes.

É a política moderada que leva em conta, sobretudo, as possibilidades de capital de giro da empresa
ao empreender sua linha de financiamento aos clientes. Não deixa de pertencer ao tipo de empresa com
alto grau de controle em seus negócios.

Como consequência desse tipo de ação, espera‑se obter vendas de acordo com o planejamento e com
o mercado, um maior equilíbrio entre as vendas e os recebimentos, permitindo uma situação financeira
controlável no decorrer do tempo, pois todos os riscos do crédito são absolutamente planejados.

Observação

Cada uma dessas políticas de crédito apresenta riscos inerentes, que


se traduzem nas possibilidades de perda e incerteza nas previsões de
recebimento.

3.9 Segurança do crédito: os Cs do crédito

A análise de crédito pode ser feita com base em técnica conhecida como 5 Cs, que se referem aos
seguintes aspectos: caráter, capacidade, capital, colateral e condições (HOJI, 2012, p. 127). Em termos
66
administração financeira

de risco de crédito, segurança absoluta é uma utopia. Segurança relativa com base nas técnicas mais
apropriadas de concessão de crédito é o objetivo mais adequado. Os 5 Cs buscam esta segurança relativa.
São eles:

Caráter

Refere‑se à determinação de pagar. É a integridade ou qualidade moral que se traduz em honestidade


em todas as transações comerciais. O caráter é o item mais importante na análise de crédito. A avaliação
da cultura da empresa e do caráter de seus administradores, apesar do alto grau de subjetividade, por
se referir a aspectos morais e éticos, é muito importante, porque vai depender da sua integridade ética
(honestidade) para saldar compromissos financeiros.

O levantamento de dados históricos, tais como pontualidade nos pagamentos, protestos de títulos e
pendências judiciais, pode auxiliar na avaliação do caráter. Se o caráter do cliente não for aceitável, os
outros itens da análise ficam prejudicados (HOJI, 2012).

Condições

Referem‑se às condições financeiras ligadas à conjuntura econômica, do país ou entre as nações, ao


ambiente econômico e sua organização ou desorganização. Condições econômicas atuais e o cenário
econômico em que a empresa estará inserida devem ser avaliados em conjunto com o ramo de atividade
em que ela atua.

Capacidade

Refere‑se às condições de gerenciamento do negócio que o cliente possui, à sua competência


administrativa e às suas habilidades no negócio. Para Hoji (2012, p. 128), “a firme determinação de pagar
(caráter) não terá validade se o cliente não tiver capacidade de saldar seus compromissos financeiros.
O potencial de o cliente saldar os compromissos financeiros pode ser obtido por meio da análise das
demonstrações financeiras e informações financeiras adicionais, em instituições como a Serasa”.

Capital

Refere‑se às condições materiais de que dispõe o cliente, se ele possui ou não capital de giro
suficiente para trabalhar e gerir o negócio.

Colateral

Refere‑se às garantias e bens pessoais que o cliente oferecerá na hipótese do negócio ruir ou fracassar.

3.10 Modelo de limitação de crédito

Finalizando o assunto, apresentaremos um modelo de limitação de crédito, de nossa autoria, o qual


pretende determinar um limite à concessão e que seja compatível com as possibilidades de cada cliente.
67
Unidade II

A fase de compra e venda mediante o prazo inicia‑se pela visita de um vendedor ao cliente e é
materializada pela efetiva compra de mercadorias, matérias‑primas ou serviços.

Há duas possibilidades: de a venda ser feita à vista ou de ser feita a prazo. Se ela for efetuada a
prazo, teremos o preenchimento de uma ficha cadastral, com dados de bancos, fornecedores e demais
fontes de informação.

Essa ficha será analisada, as confirmações de idoneidade serão colhidas, serão ouvidas entidades
ligadas ao crédito, como a Serasa e a Associação Comercial, e quando for o caso, analisadas as
demonstrações financeiras fornecidas.

Se todas as informações forem favoráveis e a análise das demonstrações financeiras sinalizar a


concessão do crédito solicitado, virá a questão importante: qual o valor do acúmulo de vendas a prazo
que poderá ser concedido para aquele cliente, ou, em outras palavras, qual será o limite de crédito que
aquele cliente suporta ou merece, da parte de um só fornecedor?

A fórmula a seguir apresentada foi discutida em apresentação para a obtenção do título de mestre em
ciências contábeis por um dos autores, em 1990, tendo sido plenamente aprovada pela banca de exame.

Seus parâmetros financeiros são os seguintes:

LC = {[(0,10 x PL) + (0,05 x EST) + (0,08 x DR) + (0,02 x DISP)] – [(0,10 x FORN) +
(0,02 x SAL) + (0,10 x EBCP) + (0,03 x OC)]}

A primeira somatória de informações é denominada de fontes positivas de crédito, e os significados


das abreviaturas são os seguintes:

Quadro 25

PL Patrimônio Líquido
EST Estoques
DR Duplicatas a receber
DISP Disponibilidades

A segunda somatória de informações é denominada de fontes negativas de crédito, e os significados


das abreviaturas são os seguintes:

Quadro 26

FORN Fornecedores
SAL Salários, contribuições e tributos
EBCP Empréstimos bancários de curto prazo
OC Outras contas a pagar

68
administração financeira

3.11 Aplicação do modelo de limitação de crédito

Analisaremos três empresas do ramo de produção de alimentos, com situações totalmente diferentes,
e cujas demonstrações apresentam‑se a seguir.

A aplicação da fórmula determinou:

Tabela 2

Fontes positivas Indústria A Indústria B Indústria C


0,10 x PL 2.703 797 11.581
0,05 x EST 908 459 2.706
0,08 x DR 916 305 5.451
0,02 x DISP 14 7 72

Tabela 3

Fontes negativas
0,10 x FORN 563 663 2.978
0,02 x SAL 136 46 228
0,10 x EBCP 1.475 447 –––
0,03 x OC 10 13 70
Limite de crédito 2.357 399 16.534

Tabela 4

Comparações
Faturamento anual 117.786 103.388 449.085
Liquidez corrente 1,41 1,22 2,20
Retorno sobre o Patrimônio Líquido 8,28% 2,05% 5,26%

Podemos notar que os limites são bastante heterogêneos, o que justifica a necessidade da análise
das demonstrações financeiras, conforme se procede.

Quadro 27 – Balanço Patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2006

Indústria A
Ativo Circulante 32,497 Passivo Circulante 23,032
Disponível 593 Fornecedores 5,633
Duplicatas a receber 6,961 Contas a pagar 7,148
Estoques 18,170 Empréstimos bancários 10,251
Outras contas 6,773  
Exigível Longo Prazo 15,369

69
Unidade II

Realizável Longo Prazo 4,182 Financiamentos 398


Outras contas 14,971
Permanente 28,759  
Investimentos 1,938 Patrimônio Líquido 27,037
Imobilizado – Capital social 21,404
Diferido 26,821 Reservas e lucros acumulados 5,633
 
Total do Ativo 65,438 Total do Passivo 65,438

Quadro 28 – Balanço Patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2006

Indústria B
Ativo Circulante 16,978 Passivo Circulante 13,870
Disponível 358 Fornecedores 6,631
Duplicatas a receber 3,817 Contas a pagar 2,769
Estoques 9,183 Empréstimos bancários 4,470
Outras contas 3,620  
Realizável Longo Prazo 1,036 Exigível Longo Prazo 9,053
Financiamentos 8,824
Outras contas 229
Permanente 12,880  Patrimônio Líquido 7,971
Investimentos 1,911
Imobilizado 10,969 Capital social 4,300
Diferido – Reservas e lucros acumulados 3,671
Total do Ativo 30,894 Total do Passivo 30,894

Quadro 29 – Balanço Patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2006

Indústria C
Ativo Circulante 196 Passivo Circulante 86
Disponível 3 Fornecedores 29
Duplicatas a receber 68 Contas a pagar 57
Estoques 54 Empréstimos bancários –
Outras contas 71  
Exigível Longo Prazo 65
Realizável Longo Prazo 1 Financiamentos 9
Outras contas 56
Permanente 72  
Investimentos – Patrimônio Líquido 118
Imobilizado 71 Capital social 6
Diferido 1 Reservas e lucros acumulados 112
Total do Ativo 269 Total do Passivo 269

70
administração financeira

É interessante observar que a utilização da fórmula evidenciou que a empresa com menor liquidez
corrente foi aquela que apresentou menor limite de crédito, enquanto a de maior liquidez corrente foi
a que apresentou maior limite de crédito.

Lembrete

Lembre‑se de que a liquidez corrente representa o volume de bens e


direitos de curto prazo, comparados com as obrigações de curto prazo.

3.12 Administração dos estoques

Os estoques têm grande importância dentro do grupo do Ativo Circulante. Apesar da moderna
administração dos estoques, pela aplicação contínua da logística, eles representam volumes consideráveis
entre as demais contas do Ativo Circulante.

Nas empresas comerciais, os estoques são chamados de mercadorias e, nas empresas industriais,
subdividem‑se em: matérias‑primas, produtos semiacabados, produtos acabados e materiais diversos.

Três situações são fundamentais na administração dos estoques:

• quanto e quando comprar;

• quanto e quando produzir;

• quais os itens que merecem maiores cuidados.

Controles estatísticos e informações instantâneas são pontos básicos para que tenhamos uma boa
administração dos estoques. Uma gestão eficiente de estoques implica manter o menor volume possível
de recursos financeiros nesse Ativo, de modo que os recursos disponíveis sejam aplicados em outros
Ativos Circulantes mais rentáveis, maximizando o resultado operacional da organização.

Os erros mais comuns que podem ser encontrados na administração dos estoques são:

• compra em quantidade maior do que a necessária. Muitas vezes provocada por informação
deficiente sobre o volume e andamento das vendas, ou mesmo com intenções de especulação.
Corre‑se o risco de, por modificação no mercado, o excesso permanecer ocioso e sem
movimentação.

• compras efetuadas no tempo errado. Se antecipada à produção ou momento da venda,


poderá permanecer ociosa com risco de obsolescência ou de avarias. Se feita em descompasso
com a produção ou momento da venda, permanecerá dispensável e também com riscos de
perdas.

71
Unidade II

• compra sem conhecimento da produção. Quando há produção sob encomenda, ou produção feita
antecipadamente à venda. Como no comércio, compramos para vender posteriormente. Controles
estatísticos e compras moderadas são formas de tentar errar menos ou não errar neste instante.

• itens de maior densidade. Quer de saída, quer de produção, quer estratégicos, requerem cuidados
especiais. Suas informações precisam ser tratadas com maior frequência que os demais.

• armazenagem deficiente. Que prejudique a movimentação dos estoques, sua requisição natural
para a produção ou para as lojas, pode ser fator preponderante na manutenção de estoques
excessivos,

• seguros de valor inadequado. Os itens estocados devem ter um valor segurado que seja adequado
à reposição, e ao tempo em que isso se dará, entre o sinistro e o recebimento de novos estoques.

• desuso e obsolescência. Nas fábricas, pela desativação de alguns produtos, e no comércio pela
mudança de estação ou mudança de hábitos, merecem cuidados especiais os itens mais sujeitos
a este tipo de alteração.

• políticas definidas. É comum as áreas interessadas nos estoques terem atenção focada em
pensamentos divergentes. Assim, o departamento de compras deseja comprar para que não faltem
os insumos necessários. O departamento de produção gostaria de grandes volumes para atender
melhor suas máquinas. O departamento comercial gostaria de mais produtos ou mercadorias
estocadas a fim de nenhum cliente viesse a reclamar de faltas. Finalmente, a área de finanças
precisa ajustar recursos para atender a todos os anseios, mesmo os exagerados.

Segundo Hoji (2012), a responsabilidade direta pela administração dos estoques não é do
administrador financeiro, mas ele pode influir sobre os resultados globais da empresa, interagindo
junto a áreas operacionais responsáveis pelo controle do giro e níveis adequados de estoques. Ainda
para Hoji,

[...] os responsáveis pelas diversas áreas de uma empresa procuram cumprir


bem seu papel, esquecendo, muitas vezes, o objetivo principal da empresa,
A principal atribuição do gerente de compras é a de assegurar os estoques
em nível suficiente, adquiridos a preços mínimos, para não interromper
o processo de produção, o que poderia levá‑lo a comprar grandes lotes,
desnecessariamente, para obter descontos. A principal atribuição do gerente
industrial é a de produzir com boa qualidade em quantidade suficiente para
atender à demanda, o que poderia levá‑lo a manter alto nível de estoques de
matéria‑prima e de produtos acabados, além de consumir tempo excessivo
de produção. O gerente de vendas tenderia, também, a manter alto volume
de estoques de produtos acabados e em grande variedade, para atender
rapidamente a todos os pedidos. (HOJI, 2012, p. 122).

72
administração financeira

Observação

Observe que o principal propósito da administração de estoques


é determinar e manter o nível de estoque que satisfaça os pedidos dos
clientes em quantidades suficientes e a tempo.

Como a manutenção de estoques é dispendiosa devido à imobilização monetária, o custo do estoque


impede que outras oportunidades lucrativas sejam aproveitadas. Assim, como bem ressaltam Groppelli
e Nikbakht (1999, p. 388), quando se pensa em administração de estoques deve‑se pensar em lote
econômico de compra, mais conhecido como LEC. Entende‑se por LEC, a quantidade de um item que,
quando pedido regularmente, resulta em custos mínimos de pedido e manutenção. Pode ser obtido pela
seguinte equação:
2QxCp
LEC = , onde:
Cm
Q = número de unidades requeridas por período de tempo.

Cp = custo por pedido de compra.

Cm = custo de manutenção.

Vamos a um exemplo de aplicação da fórmula do conhecimento do LEC?

Admita uma empresa cujo consumo anual de um item seja de 25.000 unidades, o custo do pedido
de compra seja de R$215,00, e o custo de manutenção por unidade igual a R$5,00. Nestas condições, o
lote econômico de compra será de 1.466 unidades, com valores arredondados. Vejamos a aplicação da
fórmula.

Fórmula do lote econômico de compra:


2QxCp
LEC =
Cm
Substituindo os valores do enunciado na fórmula do lote econômico de compra:

(2x25000)x215
LEC =
5

Efetuando, então, as operações:

50000x215
LEC =
5

73
Unidade II

10750000
LEC =
5

LEC = 2150000

LEC = 1.466

A empresa minimizará o custo total de pedir e manter se 1.466 unidades forem requisitadas em cada
pedido de compra. Já que o consumo anual é de 25.000 unidades, a empresa deve emitir 17 pedidos de
compra, solicitando 1.466 unidades de cada vez.

Como determinar o número de pedidos por ano?

Número de pedidos no ano = Consumo Anual


LEC
Do exemplo:
25000
Número de pedidos no ano =
1466
O conhecimento do lote econômico de compra pode até não ser responsabilidade do gestor financeiro
– aliás, está mais para a responsabilidade do departamento de logística e distribuição. Como o gestor
financeiro precisa ter uma visão integrada, deve, portanto, ter noção de sua representatividade.

3.13 Necessidade de capital de giro

O livro Análise das Demonstrações Financeiras, de Antonio Salvador Morante, apresenta amplas
observações a respeito do capital de giro, que culminou com a fórmula do Prof. Dante Carmine Matarazzo,
que estabeleceu um modelo utilizando os prazos médios de recebimento das vendas, de renovação dos
estoques e de pagamento das compras.

Os estudos sinalizam várias opções, a fim de que tenhamos o valor adequado para dimensionar a
necessidade do capital de giro.

Neste mesmo capítulo, ao estudarmos a administração do capital de giro, demos especial atenção às
contas duplicatas a receber e estoques.

Vamos iniciar este tópico evidenciando os ciclos existentes: o operacional e o financeiro.

Ciclo operacional é o tempo decorrente desde a compra da matéria‑prima para a produção


(indústria) ou as mercadorias para revenda (comércio), passando pela venda do produto (indústria) ou
as mercadorias (comércio), até o recebimento dessa venda.

74
administração financeira

Assim, é a soma de dois prazos médios: o prazo médio de renovação dos estoques e o prazo médio
de recebimento das vendas.

Ciclo financeiro é o tempo decorrente entre todas as movimentações de caixa. Abrange o período
compreendido desde a compra dos estoques, mais o período até o recebimento das vendas, menos o
período do pagamento das compras.

Podemos evidenciar as seguintes fórmulas:

Ciclo Operacional = PMRE + PMRV


Ciclo Financeiro = PMRE + PMRV (–) PMPC

Onde:

PMRE = Prazo Médio de Renovação dos Estoques.

PMRV = Prazo Médio de Recebimento das Vendas.

PMPC = Prazo Médio do Pagamento das Compras.

Entretanto, devido ao PMRE e PMPC conterem em seus dados somatórias de informações a preço de
custo, precisamos fazer sua equivalência ao preço de venda.

A fórmula do ciclo financeiro, que é base para a determinação do capital de giro, teria sua equivalência
da seguinte maneira:

CFeq = PMREeq + PMRV (–) PMPCeq

PMREeq = PMRE x Custo das Vendas x 100


Vendas

PMPCeq = PMPC x Compras x 100


Vendas

A fórmula desenvolvida para a necessidade de capital de giro, pelo mesmo autor é:

NCG = CFeq x VD + (OAC – OPC)

Onde:

NCG = Necessidade de Capital de Giro.

CFeq = Ciclo Financeiro Equivalente.

75
Unidade II

VD = Vendas Diárias.

OAC = Outros Ativos Circulantes.

OPC = Outros Passivos Circulantes.

3.14 Exemplo de aplicação de ciclo operacional e ciclo financeiro

Desenvolvidas as fórmulas da equivalência e da necessidade de capital de giro, processaremos alguns


exemplos, extraídos das informações contidas nas empresas relacionadas anteriormente, com base no
ano de 2006.

Tabela 5

Informações Básicas Empresa A Empresa B Empresa C


Compra de matérias‑primas 57.008 41.272 179.000
Consumo de matérias‑primas 49.540 37.702 178.687
Vendas anuais 117.786 103.388 449.085
Estoques em 31.12.06 18.170 9.183 54.135
Fornecedores em 31.12.06 5.633 6.631 29.786
Outros Ativos Circulantes 2.866 3.981 74.901
Outros Passivos Circulantes 21.899 7.242 59.720

Saindo do curto para o longo prazo, o próximo capítulo versará sobre as decisões de financiamento
em longo prazo à disposição do gestor financeiro. O dilema entre a utilização de capital próprio como
fonte de financiamento das necessidades de capital ou capital de terceiros para amortização em longo
prazo passa pela análise da alavancagem financeira. Este conceito, ao lado de outros conceitos relativos
aos principais papéis que são oferecidos no mercado de capitais, serão vistos a seguir, juntamente com
formas alternativas de financiamento de Ativos fixos, indispensáveis às operações industriais.

4 DECISÕES DE FINANCIAMENTO Em LONGO PRAZO

As empresas dispõem de fontes internas e fontes externas de recursos financeiros para o financiamento
de suas atividades. Com base na evolução dos seus negócios, poderão existir lucros retidos ao longo do
tempo. Além disso, poderá obter condições mais adequadas de financiamento de suas compras, em
relação às suas vendas, desfrutando, assim, de um giro dos créditos maior do que o giro dos débitos.
Significa um prazo médio de recebimento das vendas menor do que o prazo médio de pagamento das
compras. Pode, ainda, planejar e adequar, de forma racional, os pagamentos de impostos inerentes à
sua atividade, em todas as esferas administrativas, ou seja, tributos municipais, estaduais e federais, cuja
participação no faturamento e nos lucros da atividade tem importância significativa nos dias de hoje.
Outra forma de capitalização do negócio consiste na desmobilização, ou seja, na venda de Ativos fixos
pertencentes ao Ativo Permanente do negócio que, de alguma forma, podem ser vendidos a terceiros,
sem prejuízo das atividades. E, com criatividade, outras oportunidades poderão despontar, por exemplo,

76
administração financeira

alienação de parte do controle do negócio, obtenção de recursos em função de futuros produtos que
serão oferecidos, formação de joint venture, fusão, aquisição de outras empresas com fluxo de capital
conveniente e comprovada sinergia com o negócio principal etc.

Já as fontes externas propriamente ditas compreendem recursos próprios e recursos de terceiros.


Como recursos próprios que poderão ser carreados para o empreendimento destaca‑se a ampliação
do capital social do negócio, mediante aporte de capital ou negociação de novas ações no mercado
primário de capitais, conforme se verá um pouco mais à frente. Por recursos de terceiros entendem‑se
as debêntures, commercial papers, os empréstimos bancários, o crédito subsidiado, os empréstimos
externos, obtenção de recursos de fornecedores e outras formas.

4.1 Fontes de recursos para o financiamento empresarial

Mercado de capitais

Na condução dos negócios, o principal executivo da área financeira das organizações se defronta com
necessidades de financiamento das atividades produtivas e do capital de giro a prazos mais dilatados
do que aqueles usualmente praticados pela empresa no mercado financeiro. Decide, então, realizar uma
incursão pelo mercado de capitais. Nesse mercado são negociados títulos, tais como ações, debêntures
e commercial papers e bônus de subscrição. Eles constituem os valores mobiliários, conforme definido
em lei.

Principais Ativos de emissão das empresas

Vejamos, inicialmente, algumas características de cada um desses Ativos.

• Ações

As ações compreendem as menores frações do capital de uma empresa. Constituem um investimento


de prazo indeterminado e de renda variável. Representam um título de propriedade, caracterizado por
um certificado de propriedade que confere ao seu possuidor uma parcela de participação no controle e
nos lucros da empresa, bem como em suas obrigações, sob dependência da espécie de papel, conforme
se verá mais adiante. Este título deve ser emitido necessariamente por uma sociedade anônima. Confere
ao seu possuidor o direito de recebimento periódico de dividendos. O certificado de propriedade de uma
ação confere ao seu titular o direito de fiscalização dos negócios e de participação nas deliberações
sociais por meio de voto correspondente à sua parcela do capital social do empreendimento. A
responsabilidade dos sócios ou acionistas é limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou
adquiridas. Um certificado de propriedade de ações pode ser vendido a terceiros, quando, então, se dá
a transferência desta propriedade. Na análise sobre as condições de uma ação, deve‑se atentar para a
espécie (ação ordinária ou preferencial), forma (nominativa ou escritural), tipo (comum, resgatável) e
classe (A, B, C...).

Existem várias classificações para este tipo de papel, com maior ou menor prevalência nas operações
realizadas em bolsa de valores. Assim, uma ação ao portador designava uma ação que não trazia o nome
77
Unidade II

do seu proprietário. Pertencia, portanto, a quem a tivesse em seu poder. Este tipo de ação deixou de existir
legalmente a partir de 1990. Uma ação cheia é uma ação cujos direitos, tais como dividendos – parcela
sobre os lucros do período –, bonificação – pagamento em dinheiro ou em novas ações de parcela dos
lucros não distribuídos anteriormente – e subscrição – direito estendido aos acionistas para aquisição de
ações da empresa, quando esta decide emitir novas ações para aumentar seu capital – ainda não foram
exercidos. Por seu turno, uma ação vazia é uma ação cujos direitos já foram exercidos. Uma ação com
valor nominal tem um valor impresso, estabelecido pelo estatuto da empresa que a emitiu. Uma ação
endossável compreende um tipo de ação nominativa que pode ser transferida para outro proprietário
mediante endosso. Já uma ação escritural se refere a uma ação nominativa – a seguir descrita – sem
a emissão de certificados, mantida em conta de depósito do seu titular, na instituição depositária que
for designada. Uma ação listada em bolsa é uma ação negociada no pregão de uma bolsa de valores.
Uma ação nominativa é um tipo de ação na qual consta o nome do proprietário, sendo que sua venda
deve ser registrada na empresa que a emitiu. Dentre outras classificações, uma ação objeto é um valor
mobiliário a que se refere uma opção. No rol dos mais conhecidos jargões do mercado financeiro, uma
ação ordinária é um tipo de ação que proporciona ao seu proprietário o direito de voto. Por sua vez,
uma ação preferencial dá ao seu proprietário prioridade no recebimento de dividendos e restituição do
capital em caso de extinção da empresa, mas não dá o direito a voto. Algumas empresas diferenciam,
por meio de letras (A, B etc.) as séries de seus papéis lançados no mercado. Ainda com relação aos
conceitos derivados deste tipo de papel, uma ação sem valor nominal significa uma ação para a qual
não se convenciona valor emissão, prevalecendo o preço de mercado por ocasião do lançamento.

De particular importância para a compreensão do valor de uma ação é a apreensão de três conceitos
referentes a valor de um papel desta natureza: o valor de mercado, o valor patrimonial e o valor de
reposição. O primeiro refere‑se ao preço da ação no mercado. Assim, o valor de uma ação ordinária
nominativa da Itaú S.A. – Investimentos Itaú S.A. no mercado de ações da Bolsa de Valores de São
Paulo, no fechamento de 8 de junho de 2007, foi de R$16,70, o que equivale a R$16.700,00 por lote
de mil ações. Por sua vez, o valor patrimonial de cada ação é o resultado da divisão do Patrimônio
Líquido da empresa pelo total de ações em circulação. Então, no caso da Itaú S.A., sendo o valor do
Patrimônio Líquido, em 31 de dezembro de 2006, igual a R$12.842.285.000,00, e a empresa possuindo
3.177.929.000 de ações em circulação, o valor patrimonial da controladora Itaú S.A. foi, à época,
R$4.041,09 por lote de mil ações, resultado da divisão de R$12.842.285.000,00 por 3.177.929 lotes de
mil ações, conforme apontado nas demonstrações financeiras da empresa. Para uma visão mais acurada
do valor de mercado veja o release (informação para a imprensa e investidores) de 30.4.2007 emitido
pela Itaú S.A. Conforme consta desse comunicado à imprensa, a empresa constitui uma das primeiras
holding companies (empresa‑mãe, numa tradução livre) puras de capital aberto aqui instaladas. Com
isto, as decisões financeiras e estratégicas das empresas controladas são assumidas pela holding. A
empresa relaciona sua participação em outras empresas e o correspondente valor de mercado de cada
uma das ações destas empresas, obtendo, pela ponderação, o valor de mercado de seus papéis. Este valor
de mercado é comparado com a cotação da ação mais líquida da própria empresa holding conforme
cotação na Bovespa, daí resultando a comparação entre o valor de mercado da Itaú S.A. versus valor de
mercado de sua participação nas empresas coligadas e, por extensão, a taxa de desconto. A diferença
entre o valor de mercado verificado para a holding em comparação com o valor de mercado teórico
que se obtém pela soma das partes que a compõem, ou seja, a soma dos valores de mercado das ações
das empresas controladas, computada a participação da controladora em cada uma destas empresas
78
administração financeira

– “soma das partes” –, dá‑se o nome de “desconto”. No caso da Itaú S.A., o valor da “soma das partes”
é maior do que o valor de mercado de suas próprias ações, o que é um estímulo à aquisição do seu
papel. Isto porque os analistas, acionistas e investidores do mercado de capitais consideram que “o valor
‘justo’ da Itaú S.A. seria composto pelo valor de mercado da soma de suas participações nas companhias
abertas controladas”.

Resta‑nos abordar o conceito de valor de reposição. Refere‑se ao custo corrente de reposição dos
Ativos de uma empresa. Quando a empresa adquire um Ativo, o valor de reposição e o valor patrimonial
são idênticos. Depois desse momento, os valores podem divergir livremente. Uma relação entre o valor
de mercado e o valor patrimonial das ações ordinárias, ou seja, o quociente entre estes dois valores, bem
como o quociente resultante da relação entre o valor de mercado dos Ativos e o valor de reposição dos
Ativos – conhecido por q de Tobin1 – são indicadores do sucesso da empresa. Um quociente entre valor
de mercado e valor patrimonial ou um índice q de Tobin maior do que 1 indica que a empresa tem tido
êxito em suas decisões de investimento.

• Debêntures

As debêntures são uma alternativa para a obtenção de recursos financeiros de longo prazo. Os
investidores que adquirem as debêntures recebem uma taxa de juros fixa ou variável sobre o valor
emprestado, além de dividendos. Essas debêntures podem ou não ser conversíveis em ações, em
épocas e condições predeterminadas, possibilitando ao seu titular uma participação direta no capital
da empresa lançadora da debênture. As debêntures representam títulos de crédito de longo prazo
emitidos necessariamente por sociedades anônimas. São utilizadas para captar recursos para financiar
projetos de investimentos ou para saldar dívidas do emitente. Elas garantem ao seu comprador uma
remuneração de juros periódicos, prêmio e outros rendimentos fixos ou variáveis e reembolso específico
do principal – o valor nominal da debênture – na data do seu vencimento. Envolvem geralmente valores
elevados, com todas as características da operação estabelecidas em escritura. Podem ser oferecidas de
forma direta ou por oferta pública. Uma colocação de debênture em um mercado de forma direta
é feita diretamente a um comprador ou grupo de compradores, formado geralmente por instituições
financeiras ou fundos de pensão. Quando tais operações são realizadas por companhias de capital
fechado e, portanto, sem um mercado secundário organizado – consistindo operações “de balcão”, ou
seja, um mercado onde as operações são realizadas exclusivamente por sistema eletrônico de negociação,

1 De maneira sintética, o q é definido como o quociente entre o valor de mercado de uma empresa e o valor de
reposição de seus Ativos físicos. Assim, ele representa a razão entre dois valores atribuídos ao mesmo conjunto de Ativos.
Tobin e Brainard, dois pesquisadores norte‑americanos, apresentaram, em 1968 e em 1969, uma definição mais ampla de
valor de mercado da empresa, com a consideração do valor de reposição dos Ativos, em lugar de seu valor contábil. Em sua
formulação básica, o q de Tobin pode ser expresso como

VMA + VMD
q=
VRA

onde VMA representa o valor de mercado das ações, ou capital próprio da firma, VMD é o valor de mercado das
dividas, ou capital de terceiros empregado e VRA é o valor de reposição dos Ativos da firma. Assim sendo, o numerador VMA
+ VMD representa o valor de mercado total da empresa.
79
Unidade II

sendo nele transacionadas ações de empresas não listadas em Bolsas de Valores – as taxas de juros são
geralmente mais elevadas do que nas operações de oferta pública. Essas operações de oferta pública
se diferenciam por apresentarem um mercado secundário. Dadas as características das operações, as
debêntures poderão ser colocadas no mercado com descontos – abaixo, portanto, do valor nominal – ou
com prêmio – acima do valor nominal.

• Commercial paper

Entende‑se por commercial paper nota promissória emitida por uma empresa no mercado externo,
ou seja, no mercado distinto daquele da sede do empreendimento, para captação de recursos em curto
prazo. Esse procedimento irá configurar uma dívida de curo prazo para a empresa. Trata‑se de uma
modalidade de captação de recursos no exterior para atender a necessidades financeiras específicas de
uma empresa, tais como uma expansão, aquisição de novas máquinas, investimento no desenvolvimento
de ferramentas (moldes) etc. Os papéis têm prazo de emissão de 30 a 180 dias – no caso de companhias
fechadas – e de 30 até 360 dias – no caso de companhias abertas. Os títulos são mantidos em custódia
em nome de seus titulares junto ao banco emissor, com emissão de recibos de aplicação.

• Bônus

Um bônus caracteriza um título emitido por uma sociedade anônima, no limite do capital autorizado.
Conforme condições constantes no certificado, confere a seu titular o direito de subscrever ações, direito
que será exercido contra apresentação do bônus à companhia e pagamento do preço de emissão da
ação.

Conforme já aventado, essas operações no mercado de capitais podem se dar de forma primária ou
secundária. Vejamos de perto esta distinção entre mercado primário e mercado secundário de títulos.
Quando um título é vendido pela primeira vez, ou seja, quando é posto em circulação no mercado
financeiro, diz‑se que tais operações ocorreram no mercado primário. Quando o primeiro comprador
revende este Ativo financeiro a uma terceira pessoa e esta a outra e assim por diante, essas operações
se realizam no mercado secundário. A importância do mercado primário se concretiza na constatação
de que é nesse mercado que a empresa obtém recursos financeiros para seus investimentos em novos
Ativos ou mesmo em capital de giro. E também onde os bancos obtêm recursos para financiar seus
clientes. É nesse mercado, portanto, que ocorrem as transferências de fundos dos ofertantes de recursos
para os tomadores de recursos, tanto para investimentos como para consumo.

As novas emissões de ações ou outros valores mobiliários se realizam no mercado primário. As


empresas recorrem ao mercado primário para complementar os recursos que necessitam, visando ao
financiamento de seus projetos ou seu emprego em outras atividades produtivas.

E o mercado secundário? É ali que se realizam as transferências de um segundo proprietário para um


terceiro potencial comprador do papel. Assim, o valor transacionado nesse mercado não é canalizado
para a empresa emitente do título ou para o banco emitente do título, mas, sim, para um aplicador que
adquiriu o papel de outro investidor. Portanto, sob o ponto de vista econômico, essas operações não
configuram um aumento ou mesmo diminuição de recursos para financiar novos empreendimentos.
80
administração financeira

Desta maneira, a função deste mercado é dar liquidez aos papéis negociados no mercado primário.
Trata‑se, portanto, de um mercado tão importante quanto o primário, uma vez que sua existência é
condição para o funcionamento do outro. Os Ativos financeiros não encontram colocação no mercado
primário se não contarem com um mercado secundário organizado capaz de dar liquidez a esses papéis.
No mercado secundário, como no open market (mercado aberto), são negociados títulos como os de
emissão do Tesouro Nacional, Letras de Câmbio, Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e outros.
Evidentemente, a Bolsa de Valores concentra grande parte das transações de compra e venda de títulos
negociados há décadas pela primeira vez no mercado primário, repassando de mãos em mãos esses
títulos nas operações que ali acontecem diariamente.

4.2 O dilema entre capital próprio e capital de terceiros

O financiamento das atividades empresariais passa pela decisão entre investimento com recursos
próprios ou investimento com recursos de terceiros. Nos tópicos anteriores abordamos as diversas
formas de captação de recursos no mercado de capitais, mediante lançamento de ações, negociação de
debêntures, commercial paper e bônus na subscrição de ações.

4.3 O conceito de alavancagem financeira

“Dê‑me um ponto de apoio e uma alavanca, e eu moverei a Terra”. Esta frase é atribuída a Archimedes,
o maior matemático da época clássica ocidental e, para alguns, o maior matemático da história. Nasceu
em Siracusa, na ilha da Sicília, em 287 a.C. e morreu 75 anos depois. De que maneira o conceito de
alavanca proporciona a compreensão de uma série de fenômenos financeiros? Observe as figuras 3,
4 e 5 a seguir. Existe uma alavanca e um ponto de apoio que se move em cada uma das figuras. Na
figura 3, o ponto de apoio se localiza no centro da alavanca. Na figura 4, o ponto de apoio está situado
mais à direita e, na figura 5, o ponto de apoio se localiza à esquerda. Em qual deles se torna mais fácil
o movimento da alavanca, de forma a levantar o peso com menor emprego de força mecânica? Em
termos financeiros, os recursos de terceiros estariam proporcionando uma necessária alavancagem de
lucro para a empresa, em condições mais vantajosas do que os custos da dívida assumida? A figura 3
seria um indício de que houve um empate entre custo e lucro. A figura 4 indica que não houve uma
alavancagem em condições favoráveis e a figura 5 indica que a alavancagem financeira foi adequada.
Vejamos por que:

Figura 3 Figura 4 Figura 5

81
Unidade II

4.4 Retorno sobre o Ativo (RsA)

Para uma adequada configuração da alavancagem financeira, é preciso mensurar o retorno


proporcionado pela utilização dos Ativos da empresa. A medida derivada da geração de riqueza dos
Ativos financiados tanto por capital próprio como por capital de terceiros é chamada de Retorno sobre
o Ativo (RsA) e é calculada com base na relação entre o Lucro Antes das Despesas financeiras (LADF) e o
Ativo Total (AT) da empresa:

LADF
RsA =
AT

O RsA pode ser entendido como o retorno que os Ativos proporcionaram, excetuando‑se as despesas
financeiras no período. É, portanto, uma medida de rentabilidade do negócio antes da ocorrência das
despesas financeiras originadas pela tomada de recursos de terceiros.

4.5 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RsPL)

A relação entre o Lucro Líquido (LL) – a última linha do Demonstrativo de Resultado do Exercício – e
o Patrimônio Líquido (PL) da empresa indicará o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RsPL):

LL
RsPL =
PL

O RsPL é uma das mais importantes medidas de rentabilidade de um empreendimento, porque


compara o lucro líquido gerado pelas atividades com o total do Patrimônio Líquido, ou seja, com o
capital mais reservas acumulados durante a existência do negócio.

Já podemos, então, relacionar o retorno sobre o Patrimônio Líquido com o retorno sobre o Ativo total
da organização, para medir o grau de alavancagem financeira (GAF) do empreendimento. Então,

RsPL
GAF =
RsA

O valor derivado desta relação poderá ser maior do que 1, menor do que 1 ou igual a 1. Vejamos
quais as conclusões que daí se pode extrair:

Quando GAF > 1, o numerador da fração (RsPL) é maior do que o denominador da fração (RsA). Em outras
palavras, o retorno sobre o Patrimônio Líquido é maior do que o retorno sobre o Ativo total da empresa. Isto
indica que o capital de terceiros contribuiu para a geração de um retorno adicional para o acionista.

Quando GAF < 1, o numerador da fração (RsPL) é menor do que o denominador da fração (RsA).
Isto caracteriza uma situação em que o capital de terceiros teve um custo tal que não só prejudicou,

82
administração financeira

como não possibilitou a geração de um retorno adicional para o acionista, por que o retorno sobre o
Patrimônio Líquido foi menor do que o retorno sobre o Ativo total da empresa.

O terceiro caso é aquele em que GAF = 1, ou seja, quando o numerador da fração (RsPL) é igual ao
denominador da fração (RsA), tal que o retorno sobre o Patrimônio Líquido é igual ao retorno sobre
o Ativo total. Desta maneira, o capital de terceiros não contribuiu – mas também não prejudicou –
com geração de retorno adicional para o acionista, por que o retorno sobre o Patrimônio Líquido foi
relativamente igual ao retorno sobre o Ativo total da empresa.

Para a mensuração do retorno do capital de terceiros ou, como também é conhecido, custo da dívida
proveniente da utilização de recursos de terceiros (CD), é necessário relacionar as despesas financeiras
do período com o volume de empréstimos bancários (EB) existentes ao final do período. Então,

Despesas financeiras
CD =
Emprestimos
´ bancarios
´

Essas relações irão constituir importante instrumento auxiliar na gestão financeira, conforme se
depreenderá a seguir. Ao comparar o retorno sobre o Ativo total (RsA) com o custo da dívida (CD), três
situações poderão existir:

• RsA > CD

Neste caso, a tomada de recursos de terceiros possibilitou um retorno sobre o Ativo total maior do
que o custo da dívida. Portanto, o endividamento é benéfico para a empresa e a alavancagem financeira
é favorável.

• RsA < CD

Aqui, a tomada de recursos de terceiros tem um custo maior do que o retorno sobre o Ativo total
proporcionado. Então, o endividamento não se mostrou benéfico para as contas da empresa e a
alavancagem financeira é desfavorável.

• RsA = CD

Observa‑se que o endividamento é neutro, não contribuindo para uma alavancagem, que será
igualmente neutra, por que o custo da dívida será de mesma proporção que o retorno sobre o Ativo
total da organização.

Agora já podemos associar a magnitude do grau de alavancagem financeira com as figuras 3, 4 e 5


a que nos referimos no início dos estudos deste conceito. Vamos dispor um eixo horizontal demarcado
por um delimitador 1 e que possui um extremo à direita indicado por–∞ e outro extremo à esquerda
indicado por +∞. O ponto de apoio deslizará sobre este eixo, à esquerda e à direita, para indicar o
tamanho do grau de alavancagem, conforme se depreenderá das figuras 6, 7 e 8, modificadas:

83
Unidade II

+∞ 1 -∞ +∞ 1 -∞ +∞ 1 -∞
Figura 6 Figura 7 Figura 8

4.6 Aplicação do GAF, do RsA e do RsPL

Quadro 30

BAZAR AZUL
Balanço Patrimonial encerrado em 31 de dezembro
ATIVO PASSIVO
20X4 20X5 20X6 20X4 20X5 20X6

Ativo Circulante 6,603.00 7,291.00 9,918.00 Passivo Circulante 2,150.00 2,750.00 3,775.00
Disponibilidade 260.00 380.00 600.00 Fornecedores 1,320.00 1,620.00 2,600.00
Duplicatas a receber 1,900.00 2,300.00 2,800.00 Contas a pagar 350.00 450.00 600.00
Provisão para (57.00) (69.00) (162.00) Salários a pagar 360.00 380.00 400.00
devedores duvidosos
Estoques 4,500.00 4,680.00 6,680.00 IR a pagar 120.00 300.00 175.00

Realizável em Longo Exigível em Longo


275.00 375.00 580.00 3,800.00 3,400.00 3,200.00
Prazo Prazo
Diversas contas a 275.00 375.00 580.00 Financiamentos 3,800.00 3,400.00 3,200.00
receber

Ativo Permanente 9,800.00 10,800.00 11,200.00 Patrimônio Líquido 10,728.00 2,316.00 14,723.00
Imobilizado 2,500.00 3,000.00 3,500.00 Capital 4,180.00 4,276.00 9,655.00
Terrenos 4,000.00 4,500.00 4,500.00 Reservas 2,550.00 3,200.00 3,200.00
Resultado
Imóveis 3,800.00 3,900.00 3,900.00 3,998.00 4,840.00 1,868.00
acumulado
Depreciação (500.00) (600.00) (700.00)

Total do Ativo... 16,678.00 8,466.00 21,698.00 Total do Passivo... 6,678.00 8,466.00 21,698.00

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administração financeira

Quadro 31

BAZAR AZUL
Demonstração do Resultado em 31 de dezembro
20X4 20X5 20X6

Vendas 28,000.00 32,200.00 34,600.00


Custo das mercadorias vendidas (16,250.00) (18,600.00) (19,400.00)
Lucro bruto 11,750.00 13,600.00 15,200.00

Despesas operacionais (4,600.00) (5,700.00) (6,800.00)


Despesas com vendas (900.00) (1,200.00) (1,400.00)
Despesas administrativas (1,400.00) (1,600.00) (1,950.00)
Despesas com marketing (2,300.00) (2,900.00) (3,450.00)

Despesas financeiras (5,600.00) (4,800.00) (3,800.00)


Receitas financeiras 320.00 540.00 630.00

Lucro antes do IR 1,870.00 3,640.00 5,230.00


IR (748.00) (1,456.00) (404.00)
Lucro Líquido 1,122.00 2,184.00 4,826.00

Exemplificando numericamente os conceitos aprendidos, vamos considerar o Balanço Patrimonial


e o Demonstrativo de Resultado do Exercício do Bazar Azul do ano de 2006 como base para nossos
cálculos.

O Lucro Líquido somado com as despesas financeiras, caracterizando o Lucro Antes das Despesas
financeiras (LADF) foi de $8.626 em 2006. Por sua vez, o valor do Ativo Total (AT) da empresa é de
$21.698. Então,

LADF 8.626
RsA = = = 0, 40
AT 21.698

Por sua vez, o Lucro Líquido (LL) foi de $4.826 e o Patrimônio Líquido (PL) correspondeu a $14.723.
Daí,

LL 4.826
RsPL = = = 0, 33
PL 14.723

Com base nestas medições,

RsPL 0, 33
GAF = = = 0, 82
RsA 0, 40

85
Unidade II

Observa‑se, portanto, que o capital de terceiros não contribuiu para aumentar o retorno do acionista.
Vejamos, agora, o retorno sobre o capital de terceiros ou custo da dívida.

O volume de despesas financeiras do período foi de $3.800 e, por sua vez, o valor dos financiamentos
constantes do Exigível de Longo Prazo é de $3.200. Logo,

Despesas financeiras 3.800


CD = = = 119
,
Emprestimos
´ bancarios
´ 3.200

Vê‑se, portanto, que

RsA < CD

Ou seja, o retorno sobre o Ativo total da empresa foi menor do que o custo da dívida. Assim, não
houve benefício na tomada de recursos de terceiros, indicando que a alavancagem foi desfavorável.

4.7 Financiamento de Ativos fixos

Vejamos, neste tópico, algumas das formas de obtenção de financiamentos de longo prazo disponíveis
no mercado financeiro para novos Ativos fixos:

Leasing ou arrendamento mercantil

Exploremos, inicialmente, as características do arrendamento mercantil financeiro, ou, como é mais


conhecido, leasing. Trata‑se de modalidade que vem sendo largamente utilizada, especialmente para a
utilização de veículos, máquinas, computadores e outros equipamentos.

Conforme estabelecido na legislação em vigor, citados em informativo da ABEL – Associação Brasileira


das Empresas de Leasing, “considera‑se arrendamento mercantil (...) o negócio jurídico realizado entre
pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e
que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da
arrendatária e para uso próprio desta”.

Assim, a arrendatária é a parte que tem a necessidade do bem e que o escolheu livremente no
mercado, sem que houvesse interferência da arrendadora na seleção deste. As arrendadoras, por sua
vez, são as sociedades de arrendamento mercantil e carteiras de arrendamento mercantil de bancos
múltiplos, devidamente autorizadas a operar e sob fiscalização direta do Banco Central do Brasil (Bacen).
Sua função consiste na aquisição do bem escolhido pela arrendatária junto ao fornecedor indicado
por ela. Depois de entregue o bem, a arrendatária deverá cumprir com todas as obrigações relativas ao
pagamento das parcelas referentes às contraprestações, bem como dos valores convencionados a título
de pagamento de Valor Residual Garantido (VRG), impostos, multas e demais obrigações inerentes ao
bem.

86
administração financeira

Com base na legislação em vigor, considera‑se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em


que:

• as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam


normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o
prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

• as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem


arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

• o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o
valor de mercado do bem arrendado.

Um contrato de leasing financeiro tem o prazo mínimo de 24 meses para veículos e computadores.
No caso de máquinas e equipamentos, o prazo mínimo é de 36 meses, conforme legislação em vigor.
Na análise das condições de uma operação de leasing, deve‑se atentar especialmente para aquelas
referentes ao Valor Residual Garantido (VRG). Conforme dispositivos legais, o VRG constitui um preço
contratualmente estipulado para exercício da opção de compra. Assim, as partes convencionam que,
ao final do contrato, a arrendatária poderá, se quiser, exercer a compra do bem pelo valor e formas
estabelecidos no instrumento contratual firmado. Refere‑se, portanto, a um valor contratualmente
garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do
bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra pela arrendatária. Por isto, caberá à
arrendatária ou a terceiro por ela indicado, garantir à arrendadora o pagamento do valor estabelecido
no contrato.

No caso de exercício do VRG, a sua forma de pagamento poderá ser livremente pactuada entre
as partes, podendo ser a) antecipado, ou seja, pago já no início do contrato, b) parcelado ao longo da
vigência do contrato, ou c) pago no encerramento da vigência do contrato.

Observa‑se, portanto, que, no final do prazo contratual, a arrendatária deverá se manifestar


formalmente pela intenção de adquirir o bem, devolvê‑lo ou renovar o contrato de arrendamento
por um novo período. Se a arrendatária resolver devolver o bem ao final do contrato, a arrendadora
poderá vendê‑lo no mercado. Neste caso, se a arrendatária tiver antecipado qualquer importância a
título de VRG, esta deverá ser devolvida pela arrendadora, descontando‑se as despesas incorridas para
a realização da venda. Se o valor da venda for inferior ao VRG estabelecido no instrumento contratual,
a arrendatária deverá cobrir a diferença verificada.

Entre as características que conferem flexibilidade ao contrato de leasing em relação a outros


instrumentos de financiamento existentes no mercado financeiro, destacam‑se a possibilidade de
transferência do contrato para uma terceira parte, com manifestação expressa de todos no correspondente
instrumento, e ainda a possibilidade de substituição do bem arrendado, com a concordância expressa das
partes. Os bens arrendados são normalmente segurados por meio de apólice específica contra acidentes,
roubo, incêndio etc.

87
Unidade II

Leasing operacional ou locação

Esta não constitui uma operação sujeita à regulamentação do Banco Central. Pode, portanto, ser
realizada por qualquer empresa que, tendo adquirido o bem, queira cedê‑lo a uma terceira parte por
período de tempo estabelecido em um contrato de locação por uma determinada taxa de locação,
que pode ser semanal, mensal, trimestral ou anual. Uma das vantagens desta modalidade é a que diz
respeito à manutenção do bem, geralmente de total responsabilidade da empresa locadora. Ao final do
contrato ou a qualquer tempo, obedecidas às condições contratuais específicas a este respeito, o bem
será devolvido à locadora. O instrumento contratual pode ou não estipular uma condição de opção de
compra a ser oferecida ao locatário, a partir de determinada vigência do contrato.

É comum observar‑se no mercado a aquisição de determinado bem pela modalidade leasing


financeiro que será oferecido para locação por meio de um leasing operacional.

Lease back

Esta é mais uma forma de obtenção de recursos financeiros de longo prazo disponível no mercado
financeiro. Consiste em uma operação de venda de um Ativo fixo da empresa, totalmente desimpedido,
para uma sociedade de arrendamento mercantil. Esta empresa de leasing adquire o bem e processa
uma operação de leasing financeiro ao vendedor do Ativo. Desta maneira, o bem permanece no mesmo
local, sendo normalmente utilizado pela empresa ex‑proprietária que poderá, ao final do contrato
de arrendamento, exercer a opção pela aquisição do bem, com base no VRG a que nos referimos
anteriormente.

Operações de financiamento com bancos de desenvolvimento

Dentre as formas de obtenção de capital de investimento de longo prazo, não se poderia deixar
de verificar as modalidades de financiamento disponibilizadas pelos Bancos de Desenvolvimento, tais
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco de Desenvolvimento
do Estado de Minas Gerais (BDMG), o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (BANRISUL), Banco do
Nordeste e outros bancos comerciais que disponibilizam linhas de crédito especiais para aquisição de
bens do Ativo fixo e mesmo capital de giro.

Os custos financeiros dessas operações são geralmente inferiores aos custos praticados no mercado
financeiro. Dá‑se preferência a máquinas e equipamentos novos, com elevado grau de nacionalização
dos componentes, bem como à ampliação da capacidade exportadora da empresa tomadora dos recursos,
dada a importância da ampliação das reservas internacionais de divisas do país. São beneficiárias as
empresas de qualquer porte e setor, legalmente estabelecidas no país. A operacionalização dessas
linhas de crédito se faz geralmente com a participação de um agente financeiro – um banco comercial
ou instituição financeira com a qual a empresa tomadora realiza suas operações bancárias de forma
regular – que fará a análise creditícia, estabelecimento das garantias e outros detalhes correspondentes
à operação financeira solicitada e devidamente enquadrada nas linhas de crédito em vigor à época da
consulta.

88
administração financeira

Neste estágio de busca de informações sobre o ambiente financeiro das organizações e suas
especificidades é chegada a hora de implementar as ferramentas disponibilizadas ao longo do curso
para a elaboração de um diagnóstico empresarial que considere, sobretudo, os parâmetros setoriais
oferecidos por entidades de reconhecida competência, como o Serasa e a Revista Exame. É o que
veremos na unidade final deste livro.

Resumo

Vamos, então, relembrar o que vimos nesta unidade. Aqui, o conteúdo foi
mais aplicado do que o apresentado na unidade I, e esperamos sinceramente
que tenha aproveitado o que lhe oferecemos. Esperamos ainda que resolva
os exercícios de fixação e que, desta forma, saia da unidade com muito
mais conhecimento sobre Administração Financeira.

A unidade iniciou‑se apresentando necessidade de tomada de decisão


de financiamento de curto prazo, a partir de um exemplo de empresa
formando o capital. Lembramos nesta unidade que o capital social de uma
empresa é formado a partir das contas do Passivo e que são levadas a
Ativo para produzir Patrimônio Líquido. Para tanto, a unidade considerou
alternativas de formação de capital, bem como planejamento de caixa, sua
administração e seu orçamento.

Se bem lembrar, a maior concentração do início da unidade esteve em


apresentar formas alternativas de administrar capital de giro, a partir da
administração do disponível, das duplicatas a receber, da política de crédito,
terminando com a administração de estoques.

Após isto, passamos a tratar das decisões de investimento em longo


prazo, inserindo o mercado de capitais na apresentação. Analisamos quando
e em quais situações uma empresa deve optar por capital próprio ou por
capital de terceiros, bem como a importância de conhecer a alavancagem
financeira. A unidade termina apresentando cálculos de retorno sobre o
capital e sobre o Ativo, bem como implicações do financiamento de Ativos
fixos. A próxima unidade trata do assunto “indicadores de desempenho”,
esteja preparado para recebê‑la.

Exercícios

Questão 1 (Enade 2012). O quadro a seguir apresenta o balanço patrimonial de 2011 da empresa
D.T. Ltda, em R$ mil.

89
Unidade II

Ativos Circulantes 1.400 Passivos circulantes 800


Imobilizados 5.800 Dívidas de longo Prazo 1.200
Depreciação Acumulada (2.200) Patrimônio Líquido 3.000
Total ativo 5.000 Total Passivo 5.000

Fonte: GITMAN, L., J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Addison Wesley, 2003. p 189
(adaptado).

Com relação às informações patrimoniais apresentadas, avalie as afirmações a seguir.

I – Menos da metade dos ativos da empresa foram financiados pelos credores.

II – A empresa apresenta índices de liquidez corrente e geral satisfatórios.

III – No longo prazo, a empresa terá mais valores a receber do que valores a pagar.

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) III, apenas.

C) I e II, apenas.

D) II e III, apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I) Afirmativa correta.

Justificativa: para verificar o que se afirma em I, é necessário verificar a composição dos ativos bem
como dos recursos que os financiam.

Total dos ativos = Ativos circulantes + Imobilizados.


Total dos ativos = 1.400 + 5.800
Total dos ativos = 7.200
Total dos financiamentos de credores = Passivos Circulantes + Dívidas de Longo Prazo
Total dos financiamentos de credores = 800 + 1.200
Total dos financiamentos de credores = 2.000

90
administração financeira

A afirmativa sugere que menos da metade dos ativos da empresa foram financiados pelos credores.

A metade dos ativos é de 3.600 (7.200/2). O total dos financiamentos de credores é de 2.000, ou seja,
menos da metade dos ativos. Portanto, a afirmativa está correta.

II) Afirmativa incorreta.

Justificativa: quanto ao índice de liquidez corrente, indica quanto a empresa possui de ativo
circulante para cada unidade monetária de passivo circulante. Quanto maior a capacidade de pagamento,
melhor para a empresa, ou seja, quanto mais alto for o índice, melhor.

O cálculo do índice de liquidez corrente se dá pela divisão (Ativo Circulante/ Passivo Circulante).
No caso apresentado, (1.400/800) = 1,75. Significa que, na análise, para cada R$1,00 de obrigações de
curto prazo, a empresa tem recursos de curto prazo de R$1,75. Este é um bom índice, pois quanto maior,
melhor.

Quanto ao índice de liquidez geral, indica quanto a empresa possui de ativo circulante mais o
ativo não circulante para cada unidade monetária de dívida geral (passivo circulante mais o passivo
não circulante). No caso apresentado, [(1.400 + 5.800)/(800 + 1200)] = 3,60. Significa que, na análise,
para cada R$ 1,00 de obrigações totais, a empresa tem aproximadamente R$ 3,60 de recursos para
liquidação. Mesmo em se considerando a depreciação como ativo não circulante, o índice de liquidez
geral mostra-se bastante elevado: 2,50.

Apesar de os dois índices serem bem elevados, e quanto maior, melhor, não há como indicar a
afirmativa como correta. Motivo: sugerir que a empresa apresenta índices de liquidez corrente e geral
satisfatórios. O que é um índice satisfatório? Pode-se entender satisfatório aquele que esteja próximo
de R$ 1,00, o mínimo aceitável, o satisfatório. Ainda: para afirmar que algo seja satisfatório, há também
necessidade de comparação entre situações diferentes, o que o exercício não oferece. Portanto, a
afirmativa deve ser indicada como incorreta.

III) Afirmativa incorreta.

Justificativa: não há como afirmar. O exercício oferece apenas valores das dívidas de longo prazo
(1.200). Não há projeção de vendas para saber os recebimentos de longo prazo bem como não se conhece
a composição do Passivo Não Circulante.

Questão 2 (Enade 2006). A diretoria da Cia. Aroeira quer que seus gerentes se concentrem em
melhorar a rentabilidade de cada uma das divisões sob sua responsabilidade. Quais as medidas de
avaliação de desempenho que mais possibilidades têm de estimular esse comportamento?

A) Dividendo por ação, retorno sobre o Patrimônio Líquido e índice de endividamento.

B) Rotatividade dos Ativos Operacionais, margem bruta e retorno sobre o patrimônio.

91
Unidade II

C) Retorno sobre Ativos Operacionais, índice de liquidez geral e índice de endividamento.

D) Rotatividade dos Ativos Operacionais, dividendos por ação e participação do capital de terceiros.

E) Retorno sobre o Patrimônio Líquido, margem bruta de lucro e índice de endividamento.

Resolução desta questão na plataforma.

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