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DESCONTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO

CONCEITOS BÁSICOS
É comum uma pessoa contrair uma dívida a ser paga no futuro. Nestas condições, o devedor
deve fornecer ao credor um documento que permite formalizar publicamente a existência da dívida,
denominado título de crédito.
Alguns títulos de crédito permitem que sejam efetuadas as seguintes operações financeiras: o
credor pode negociar com terceiros, geralmente instituições financeiras, a antecipação do recebimen-
to; já o devedor, pode negociar o pagamento antecipado da dívida. Estas operações recebem o no-
me de desconto de títulos de crédito.
Os títulos de crédito mais utilizados na prática, que podem ser descontados, são: a nota pro-
missória, o cheque pré-datado, a duplicata mercantil e a letra de câmbio.

A nota promissória é um título de crédito muito utilizado entre pessoas físicas ou entre pes-
soas físicas e uma instituição financeira. Devem constar na nota promissória: o valor a ser pago (nor-
malmente acrescido de juros), a data do pagamento, o nome e a assinatura do devedor bem como o
nome do credor ou da pessoa que deve receber a importância a ser paga.

O cheque pré-datado, embora não especificado pela legislação, tem sido cada vez mais em-
pregado em operações comerciais, tendo em vista a facilidade operacional do seu uso Devem cons-
tar no cheque pré-datado: o valor a ser pago (normalmente acrescido de juros), a data programada
para o depósito bem como a assinatura do devedor.

A duplicata mercantil é um título emitido por uma pessoa jurídica contra um cliente (que
pode ser pessoa física ou jurídica), para o qual ela vendeu mercadorias a prazo ou prestou serviços
a serem pagos no futuro.
A emissão da duplicata só tem valor legal, se baseada na nota fiscal correspondente à venda
das mercadorias ou à prestação de serviços. O cliente deve dar o seu aceite na duplicata confessan-
do-se devedor da quantia apresentada, embora de fato isto não seja necessário para provar a veraci-
dade do título, tendo em vista a existência da nota fiscal.
Devem constar da duplicata: o valor a ser pago (normalmente acrescidos de juros), a data do
pagamento, bem como nome do devedor e do credor.

A letra de câmbio é um título que corresponde a uma ordem de pagamento, emitida hoje em
volume muito pequeno pelas Financeiras (Sociedades de Crédito e Financiamento) não pertencentes
a nenhum grupo financeiro, com o intuito de captar fundos por meio de sua colocação ao público, e
desta maneira obter recursos para efetuar empréstimos a clientes em operações de Crédito Direto ao
Consumidor ou de Crédito Pessoal.
Na prática o procedimento ocorre da seguinte forma: um cliente deseja comprar um bem qual-
quer e não dispõe da quantia necessária para efetuar a compra à vista. Utiliza então o Crédito Direto
ao Consumidor oferecido pela loja por meio de um convênio com uma Financeira, assinando um con-
trato e uma nota promissória A Financeira paga ao lojista à vista e, com base nesta nota promissória,
emite letras de câmbio que vão render determinada taxa de juros. Desta forma ao colocar estas letras
de câmbio no Mercado refaz o seu caixa para futuras operações.

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Em outras palavras, a Financeira capta recursos no Mercado para aplicar no próprio Mercado.
É óbvio que os juros cobrados nas notas promissórias são maiores do que os pagos pela Financeira
nas letras de câmbio, o que constitui o seu lucro.
Constam da letra de câmbio o valor a ser resgatado (normalmente acrescido de juros), a data
do resgate (data de vencimento do título), o nome do órgão emitente bem como o nome do credor.

Como já vimos, a operação de desconto consiste na antecipação do recebimento (pagamento)


de valores futuros, representados por títulos de crédito.
Entretanto, ao antecipar um recebimento (pagamento), o credor (devedor) não recebe (paga)
o valor futuro total que consta no título, denominado valor nominal ou valor de face, que será repre
sentado por N.
A justificativa para este fato se baseia na premissa de que o dinheiro tem um custo associado
ao tempo. Assim, para antecipar este valor nominal, deve-se deduzir o custo de oportunidade, ou se-
ja, o juro que seria resultante da aplicação deste valor por um período de tempo correspondente a an-
tecipação. Estes juro é denominado desconto, e será representa por D.
Conseqüentemente o valor presente a ser recebido pelo credor (pago pelo devedor), denomi-
nado valor líquido, valor de resgate ou valor atual, que será representado por A , é igual ao valor
nominal menos o desconto:

A = N − D

Embora o desconto represente os juros associados a operação de desconto de títulos, o con-


ceito de juros está associado a operações de capitalização (levar do presente para o futuro), enquan-
to o desconto está associado a operações de descapitalização (trazer do futuro para o presente).

O DESCONTO DE TÍTULOS E A CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMOS


As operações de desconto de títulos, podem ser consideradas como empréstimos concedidos
pelas instituições financeiras que efetuam este tipo de operação financeira. O valor de resgate do tí-
tulo corresponde ao empréstimo efetivo, o desconto corresponde aos juros pagos pelo empréstimo
e o valor nominal do título corresponde ao pagamento final que deve quitar a dívida

DESCONTO SIMPLES

Neste caso o desconto é obtido através de cálculos lineares. Serão analisadas duas modalida-
des de desconto: o desconto racional e o desconto comercial ou bancário.

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DESCONTO RACIONAL SIMPLES
Nesta modalidade, também chamada de desconto por dentro, o desconto ( DR ) é calculado
sobre o valor atual do título de crédito ( AR ).
Assim sendo, lembrando que o desconto representa os juros da operação financeira, podemos
tendo em vista a fórmula dos juros na capitalização simples:

J = PV i n
escrever que:
DR = AR d n (1)

onde d é a taxa de desconto utilizada na operação financeira. Por outro lado, como:
AR = N - DR (2)

segue substituindo (2) em (1) que:

DR = ( N - DR ) d n ⇒ DR = N d n - DR d n ⇒ DR + DR d n = N d n ⇒

N d n
DR =
⇒ DR ( 1 + d n ) = N d n ⇒ 1 + dn

Utilizando o resultado acima podemos agora obter a fórmula do valor atual ( AR ) :

Ndn N(1 + dn) - Ndn


AR = N - DR ⇒ AR = N - ⇒ AR = ⇒
1+ d n 1 + dn

N + Ndn - Ndn N
⇒ AR = ⇒ AR =
1 + dn 1 + dn

EXERCÍCIO
1.) Um comerciante vendeu a prazo uma mercadoria no valor de R$ 35.000,00 nas seguintes condi-
ções: 20% de entrada e o saldo em 120 dias com juros compostos de 12,9% am. Entretanto, neces-
sitando de dinheiro, solicitou a uma instituição financeira o resgate antecipado da duplicata gerada pe
la venda. Admitindo que será efetuado um desconto racional com taxa de 28,5% am, determine o va-
lor nominal da duplicata, o valor do desconto e a quantia recebida pelo comerciante, supondo que o
resgate ocorreu:
a) 18 dias antes do vencimento;
b) 55 dias antes do vencimento;
c) 110 dias antes do vencimento;
d) no caso do item b), se o comerciante em vez de resgatar a duplicata com 55 dias de antecedência,
tomasse um empréstimo à juros simples correspondente ao valor resgatado por 55 dias, com taxa
de 28,5% am, quanto pagaria de juros e qual seria o valor do pagamento final.
RESPOSTAS: a) N = R$ 45.491,87 , DR = R$ 6.643,13 e AR = R$ 38.848,74;
b) N = R$ 45.491,87 , DR = R$ 15.612,15 e AR = R$ 29.879,72;
c) N = R$ 45.491,87 , DR = R$ 23.246,46 e AR = R$ 22.245,41;
d) J = R$ 15.612,15 e FV = R$ 45.491,87.

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OBSERVAÇÕES
1ª) A resolução do exercício anterior mostrou com clareza, que o desconto de títulos de crédito só é
viável economicamente se o prazo que antecede o seu vencimento for curto.

2ª) A resolução do item d) nos mostrou que, o valor AR resultante do desconto racional de um títu-
lo de crédito de valor nominal N a uma taxa d com antecipação de t períodos, é equivalente a
um empréstimo a juros simples no valor de AR com taxa i ( i = d ) por t períodos que deve
gerar um pagamento final (empréstimo + juros) igual a N.

N
i

0 . . . n . . . n+t

AR

Para comprovar o exposto na observação acima, basta comparar as fórmulas:


FV = PV ( 1 + i n ) e N = AR ( 1 + d n )

3ª) A modalidade de desconto racional simples não apresenta nenhuma aplicação prática relevante
nas operações comerciais ou bancárias. Sua apresentação nesta apostila tem apenas o intuito de
ressaltar as diferenças com relação ao desconto comercial simples.

DESCONTO COMERCIAL SIMPLES


Nesta modalidade, também chamada de desconto por fora, o desconto ( DC ) é calculado so-
bre o valor nominal do título de crédito ( N ).
Assim sendo, lembrando que o desconto representa os juros da operação financeira, podemos
tendo em vista a fórmula dos juros na capitalização simples:

J = PV i n
escrever que:
DC = N d n
Por outro lado, como:
AC = N - DC

segue que:
AC = N - N d n ⇒ AC = N ( 1 - d n )

EXERCÍCIO: Refazer o exercício anterior supondo que foi utilizado desconto comercial.
RESPOSTAS: a) N = R$ 45.491,87 , DC = R$ 7.779,11 , AC = R$ 37.712,76;
b) N = R$ 45.491,87 , DC = R$ 23.769,50 , AC = R$ 21.722,37;
c) N = R$ 45.491,87 , DC = R$ 47.539,00 , AC < 0;
d) J = R$ 11.349,94 , FV = R$ 33.072,31.

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OBSERVAÇÕES

1ª) A resolução do exercício anterior nos mostra que o desconto comercial, assim como ocorreu com
o desconto racional, só é viável economicamente se o prazo de antecipação do resgate for curto.
Entretanto é preciso notar que, neste caso, o prejuízo do portador do título é muito maior.

2ª) A resolução do item c) nos alerta que em alguns casos não tem sentido efetuar o desconto comer
cial, tendo em vista que o valor do desconto DR é maior do que o valor nominal do título. Este
fato ocorre quando:

dn > 1 ⇒ DC > N ( pois: DC = N d n )

Por outro lado, tendo em vista que:

dn = 1 ⇒ DC = N

concluímos que, neste caso, não tem sentido efetuar o desconto para uma antecipação superior
a 105 dias (VERIFIQUE ! ).

3ª) A resolução do item d) permite verificar que o valor de resgate AC resultante do desconto co-
mercial de um título de crédito de valor nominal N a uma taxa d com antecipação de t perío-
dos, não é equivalente a um empréstimo a juros simples, no valor de AC com taxa i ( i = d )
por t períodos que deve gerar um pagamento final (empréstimo + juros) igual a N.
A justificativa para este fato reside no fato de que enquanto a taxa de desconto d incide sobre o
valor nominal do título N, a taxa de juros i incide sobre o valor de resgate do título AC.

4ª) Todos os empréstimos em nosso Sistema Financeiro estão sujeitos ao Imposto sobre Operações
Financeiras ( IOF ). Atualmente o IOF é cobrado antecipadamente, à alíquota de 0,0041% ad (e-
quivalente a 1,5% aa ) tanto para pessoas físicas como jurídicas, e calculado linearmente sobre o
valor do empréstimo.

5ª) Quando a operação de desconto comercial envolve uma taxa de serviços incidente sobre o valor
nominal do título, além da taxa relativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ambas de
responsabilidade do financiado, ela costuma ser denominada desconto bancário. Nesta apostila
não faremos distinção entre estas expressões, que serão tratadas como sinônimos.

6ª) A modalidade de desconto comercial simples apresenta ampla aplicação nas operações
comerciais
ou bancárias de curto prazo, particularmente, no desconto de duplicatas. Por este motivo vamos
concentrar nossos estudos neste tipo de desconto.

7ª) Os recursos (funding) para as operações de desconto são, em geral, captados pelos bancos através
da venda de CDB's. Assim a taxa de desconto é formada pelo custo de captação acrescido dos cus
tos operacionais, despesas administrativas e da margem de lucro.

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O DESCONTO COMERCIAL E A CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMOS
O valor AC resultante do desconto comercial de um título de crédito de valor N uma taxa d
com antecipação de t períodos, é equivalente a um empréstimo no valor de N no sistema de juros
simples, com taxa i ( i = d ) por t períodos com pagamento antecipado de juros J = DC = N - AC.
Concluímos assim que a taxa efetiva ie do empréstimo em questão não coincide com a taxa d
do desconto comercial.

N
ie ≠ d

0 . . . n . . . n+t

AC = N - DC

EXERCÍCIO
Verifique a equivalência entre o desconto comercial simples e a concessão de empréstimos no
sistema de capitalização simples com pagamento antecipado de juros, no caso do desconto comercial
de um título de crédito de valor nominal igual a R$ 5.700,00, com taxa de 8,75% am e antecipação
de 37 dias.

TAXA EFETIVA DE DESCONTO


A taxa efetiva de desconto também chamada de custo efetivo do cliente ou rendimento da
instituição financeira que realiza o desconto é aquela que é realmente cobrada na operação de des-
conto. Em outras palavras, esta taxa quando aplicada sobre o valor resgatado pelo cliente, gera no pe
ríodo, um montante igual ao valor nominal do título, isto é, gera juros iguais ao valor do desconto
No caso do desconto racional, tendo em vista a equivalência entre este desconto e a conces-
são de empréstimos com pagamento de juros ao final da operação, o custo efetivo da operação é a
é a própria taxa de desconto.
Por outro lado, no caso do desconto comercial, tendo em vista a equivalência entre este tipo
de desconto e a concessão de empréstimos com pagamento antecipado de juros, a taxa efetiva do em
préstimo, ou seja, o custo efetivo da operação, não coincide com a taxa de desconto.
Muito embora o desconto comercial seja obtido através de cálculos lineares (capitalização sim
ples) entendemos que o cálculo do custo efetivo deva ser efetuado de forma exponencial (capitaliza-
ção composta) por retratar de forma mais fiel o real comportamento dos juros.

EXERCÍCIO
Determine a taxa efetiva mensal (linear e exponencial) relativa a operação de desconto comer-
cial do exercício anterior.
RESPOSTA: taxa linear = 9,81% am ; taxa exponencial = 9,70% am.

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OBSERVAÇÕES
1ª) Observando a resolução do exercício anterior, verificamos que as taxas efetivas linear e exponen-
cial são maiores do que a taxa de desconto comercial correspondente.

2ª) Ainda tendo em vista a resolução do exercício anterior, notamos que a taxa efetiva mensal expo-
nencial é menor do que a taxa efetiva mensal linear. Isto ocorre porque o período considerado é
maior do que um mês (37 dias). Caso o período considerado fosse menor do que um mês, ocor-
reria exatamente o oposto. (VERIFIQUE ! )

3ª) É possível deduzir fórmulas que relacionam a taxa de desconto comercial com a taxa efetiva
linear bem como com a taxa efetiva exponencial. Entendemos entretanto, que a resolução apre-
sentada no caso do exercício anterior, é suficientemente simples e intuitiva, de modo a dispensar
a utilização de mais uma fórmula, o que é um dos objetivos do nosso curso.

4ª) A menos de informações em contrário, fica doravante convencionado que a taxa efetiva relativa
a uma operação de desconto comercial simples, é aquela calculada na convenção exponencial.

EXERCÍCIOS
1.) Um cliente solicitou de um banco, o desconto de um título de crédito com antecipação de 45 dias
e valor nominal igual a R$ 7.500,00. Supondo que além da taxa de desconto de 2,35% am e do IOF,
o cliente teve que pagar uma taxa de serviços bancários (TSB) correspondente a 1,5% do valor nomi-
nal do título, determine a taxa efetiva mensal da operação financeira. RESPOSTA: 4,03% am.

2.) ( Palestra do Professor Mário Henrique Simonsen na FGV-Rio ) : " Em 1964 foi oferecido a
um executivo um empréstimo a uma taxa de desconto de 4,5% am por 6 meses, que ele não aceitou,
optando pela mesma taxa por um período de 12 meses. Como resultado pagou uma taxa efetiva de
117,39% aa em vez de 87,65% aa e perdeu o emprego ".
Verifique que a afirmação acima está correta e mostre a todos que você não perderia o emprego.

3.) A empresa A apresentou a uma instituição financeira no dia 17/03/03 o seguinte borderô de dupli-
catas para desconto:
SACADO CNPJ NF VALOR VENCIM.
Empresa X 11.111.111/111-11 123456 R$ 5.500,00 21/04/03
Empresa Y 22.222.222/222-22 135246 R$ 6.380,00 05/05/03
Empresa Z 33.333.333/333-33 246135 R$ 8.900,00 18/05/03
Supondo que será utilizada uma taxa de desconto de 3,57% am, determine o valor total do resga-
te bem como a taxa efetiva mensal envolvida na operação financeira, sabendo que entre taxas e im-
postos a empresa pagou a quantia de R$ 415,60
RESGATE: valor do resgate = R$ 19.106,67 ; taxa efetiva mensal = 5,09% am.

4.) Um banco efetua operações de desconto comercial com taxa de 2,7% am, porém exige um saldo
médio de 25% do valor da operação à título de reciprocidade, saldo este que será remunerado à taxa
de 1,2% am e cobra uma taxa de serviços correspondente a 1,5% do valor do título. Determine o va-
lor a ser resgatado por uma empresa, que pretende descontar uma duplicata de R$15.700,00 com an-
tecipação de 40 dias bem como a taxa efetiva mensal envolvida na operação financeira. Considere a
incidência de IOF
RESPOSTA: valor do resgate = R$ 10.867,15 ; taxa efetiva mensal = 5,78% am.

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PRAZO MÉDIO DE UM CONJUNTO DE TÍTULOS
Denomina-se prazo médio de um conjunto de títulos, que vamos denotar por nm , o prazo
em que devemos descontar a soma dos valores nominais deste conjunto, a uma dada taxa de descon-
to comercial, de modo a obter como resultado a soma dos descontos de cada título a esta mesma ta-
xa.

Sejam N1 , N2 , . . . , Np os valores destes títulos com prazos de antecipação respectivamente


iguais a n1 , n2 , . . . , np . Assim, sendo d a taxa de desconto comercial, podemos escrever:

( N1 + N2 + . . . . . + Np ) d n m = N1 d n1 + N2 d n2 + . . . . . + Np d np

ou ainda:

( N1 + N2 + . . . . . + Np ) d n m = d ( N1 n1 + N2 n2 + . . . . . + Np np )

Eliminando agora d de ambos os membros resulta:

N 1n1 + N 2 n 2 + . . . . . + N p n p
nm =
N1 + N 2 + . . . . . + N p

ou seja, o prazo médio nada mais é do que a média ponderada dos prazos de antecipação dos títu-
los do conjunto, na qual os pesos correspondem aos valores de cada título.

UTILIZANDO A HP12-C NO CÁLCULO DO PRAZO MÉDIO


Para obter o prazo médio de um conjunto de títulos nas condições acima, basta seguir os se-
guintes passos:
n1 < ENTER > N1 < ∑+ >

n2 < ENTER > N2 < ∑+ >


.
.
.

np < ENTER > Np < ∑+ >

< g > < xw >

EXERCICIO
Refazer o exercício 3.) da lista anterior utilizando o conceito de prazo médio.

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CAPITAIS EQUIVALENTES
As vezes temos a necessidade de modificar a forma de pagamento de uma dívida, ou mesmo,
saber se uma nova forma de pagamento que nos é apresentada, é equivalente àquela que havíamos
aceito quando contraímos a dívida.
De forma geral, a solução para este tipo de problema está ligada a equivalência de capitais.

CAPITAIS DIFERIDOS
Quando dois ou mais capitais são exigíveis (ou estão disponíveis) em datas diferentes eles se
denominam capitais diferidos.

EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS DIFERIDOS


Dois ou mais capitais diferidos dizem-se equivalentes, em uma certa data, a uma taxa dada, se
os seus valores calculados nessa data, com esta taxa, forem iguais.
A data em questão é denominada data de equivalência.

EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS NO REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES


No regime de capitalização simples se dois (ou mais) capitais são equivalentes, é necessário
que se declare além da data de equivalência e da taxa utilizada, o tipo de equivalência, pois podemos
ter capitais equivalentes com desconto comercial simples ou com desconto racional simples (juros
simples).
Neste curso estudaremos apenas a equivalência de capitais com desconto comercial simples.

UM FATO IMPORTANTE
No regime de capitalização simples, ao se estabelecer uma equivalência entre dois (ou mais)
capitais com uma determinada taxa, a data de equivalência deve ser bem determinada, pois: capitais
(diferidos) equivalentes em uma determinada data não o serão em outra data.
Pode-se demonstrar que apenas capitais iguais exigíveis (ou disponíveis) em datas iguais man-
tém a equivalência quando se muda a data de equivalência.

EXEMPLO
Com taxa de desconto comercial de 3% am, um título de R$ 11.460,00 com vencimento em
45 dias, e outro, de R$ 11.820,00 com vencimento em 75 dias, não são equivalentes hoje mas o se-
serão em 30 dias. (VERIFIQUE ! )

JUSTIFICATIVA
A justificativa para o fato acima se baseia em uma particularidade do regime de capitalização
simples, denominada incindibilidade do prazo.
De fato, suponhamos inicialmente que um capital PV tenha sido aplicado a taxa i por n1 pe-
ríodos, e que o montante apurado nesta aplicação, seja então aplicado a mesma taxa i por n2 perío-
dos, gerando o montante:
PV ( 1 + i n1 ) ( 1 + i n2 )

Suponhamos agora que o mesmo capital PV seja aplicado à taxa i durante o prazo total, ou
seja, n = n1 + n2 períodos, gerando o montante:

PV ( 1 + i n )

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Notando agora que:

PV ( 1 + i n ) = PV ( 1 + i ( n1 + n2 ) ) = PV ( 1 + i n1 + i n2 )
e
PV ( 1 + i n1 ) ( 1 + i n2 ) = PV ( 1 + i n1 + i n2 + i n1 i n2 )
concluímos que:
PV ( 1 + i n ) ≠ PV ( 1 + i n1 ) ( 1 + i n2 )

ou seja, no regime de capitalização simples, não é possível fracionar o prazo de aplicação no cálculo
do montante (e reciprocamente na determinação do capital).

A EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS COM DESCONTO COMERCIAL SIMPLES


De forma geral, a técnica utilizada na resolução deste tipo de problema, ou seja, determinar se
uma série de pagamentos equivale a outra, é a seguinte:

1° PASSO: estabelecer uma data de comparação (data de equivalência);


2° PASSO: deslocar os capitais de cada série para esta data de equivalência, capitalizando ou descon-
tando conforme a posição de cada capital em relação a data de equivalência;
3° PASSO: estabelecer na data de equivalência uma equação, denominada equação de equivalência,
em que cada membro corresponde a soma dos capitais de cada série.

Tendo em vista que no regime de capitalização simples, a equivalência de capitais não se


man- tém quando mudamos a data focal, a escolha desta data é de fundamental importância neste
modelo de resolução.
No caso da equivalência com desconto comercial simples, a data de equivalência só pode ser
a data focal zero, isto porque tendo em vista que este desconto representa os juros sobre o valor no-
minal do título, somente na época do resgate é que a dívida terá o mesmo valor para as duas formas
de pagamento.
Assim, neste caso, os capitais das duas formas de pagamento devem ser descontados para a
data focal zero.

EXERCÍCIOS
1.) Uma pessoa deseja substituir um título de R$ 15.000,00 com vencimento para 45 dias, por outros
3 títulos de mesmo valor nominal, com vencimento para 30, 60 e 90 dias respectivamente. Determine
o valor nominal dos títulos, sabendo que será utilizada uma taxa de desconto comercial de 2% am.
RESPOSTA: R$ 5.052,08

2.) Um industrial deve pagar 3 títulos a saber: o primeiro de R$ 10.000,00 em 45 dias, o segundo de
R$ 15.000,00 em 60 dias e o terceiro de R$ 20.000,00 em 75 dias. Na impossibilidade de resgatá-los
no vencimento, propõe ao credor substituí-los por 2 outros títulos de mesmo valor nominal, vencíveis
em 90 e 120 dias respectivamente. Determine o valor nominal dos títulos supondo que a taxa de des-
conto comercial a ser utilizada é de 3,5% am.
RESPOSTA: R$ 23.678,98
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O DESCONTO COMPOSTO.
O desconto composto é utilizado em operações de longo prazo, tendo em vista que nestes ca-
sos a aplicação do desconto comercial simples, pode levar a resultados sem sentido conforme vimos
no exercício da página 53 (item c).
Como ocorreu no desconto simples, existem dois tipos de desconto composto: o comercial e
o racional.
O desconto comercial composto ou "por fora" é calculado sobre o valor nominal do título, e
como não apresenta aplicação relevante nas operações comerciais ou bancárias, não vamos estudá-lo
neste curso.
O desconto racional composto ou "por dentro" é calculado sobre o valor atual do título.

DESCONTO RACIONAL COMPOSTO


De forma semelhante ao que ocorreu na capitalização simples, o valor AR resultante do des-
conto racional composto de um título de crédito de valor nominal N, a uma taxa d, com antecipa-
ção de t períodos, é equivalente a um empréstimo a juros compostos, no valor de AR por t períodos
com taxa i (i = d) , que deve gerar um pagamento final (empréstimo +juros) no valor de N.

N
i

0 . . . n . . . n+t

d
AR

. Tendo em vista o acima exposto, podemos escrever:

N = AR ( 1 + d ) n

ou ainda:
N
AR =
(1 + d )n

Por outro lado como:


DR = N − AR (♣)

substituindo o valor de AR em (♣) resulta:

N N ( 1 + d) n − N
DR = N − =
(1 + d )n ( 1 + d) n
e obtemos:

N ( (1 + d )n -1)
DR =
(1 + d )n

60
OBSERVAÇÕES
1ª) Observando a fórmula do desconto comercial composto, verificamos que:
(1 + d )n −1
< 1
(1 + d )n
e conseqüentemente temos:
DR < N

Assim ao utilizar o desconto racional composto, não corremos o risco de obter resultados sem
nexo (DR > N) como ocorreu no desconto comercial simples. Por isso, é esta a modalidade de des-
conto utilizada nas operações de longo prazo.

EXERCÍCIOS
1.) Uma duplicata com valor de resgate de R$ 6.350,00 foi descontada 100 dias antes do vencimento,
com desconto racional composto de 3,8% am. Determine o valor do desconto, o valor do resgate e a
taxa efetiva mensal (exponencial) envolvida na operação financeira.
RESPOSTA: DR = R$ 742,33 ; AR = R$ 5.607,67 ; ie = 3,80% am.

2.) Um banco capta recursos por meio de CDB's à uma taxa de 1,3% am. Sabe-se ainda que o banco
em suas operações de desconto aplica um SPREAD de 10% sobre a taxa de captação e cobra uma ta
xa básica de serviços (TBS) de 1,5% sobre o valor nominal do conjunto de títulos a serem desconta-
dos. Para uma duplicata com valor de resgate de R$ 17.500,00 a vencer em 120 dias, determine: o va
lor do desconto, o valor do resgate e a taxa efetiva mensal envolvida na operação financeira.
OBSERVAÇÃO: considere a incidência do IOF (0,0082% ad + 0,38%).
RESPOSTA: DR = R$ 966,21 ; AR(líquido) = R$ 16.045,77 ; ie = 2,19% am.

EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS A JUROS COMPOSTOS


No regime de capitalização composta, dois (ou mais) capitais são equivalentes com uma deter
minada taxa, se os seus valores calculados em qualquer data com esta taxa, forem iguais.
Segue da definição que, se dois (ou mais) capitais são equivalentes em uma certa data, eles o
serão em qualquer outra data. A justificativa para este fato será apresentada a seguir.

A CINDIBILIDADE DO PRAZO
O sistema de capitalização composta, ao contrário do que ocorre no sistema de capitalização
simples, apresenta uma característica que facilita o tratamento de alguns problemas básicos: é pos-
sível fracionar prazos
De fato, suponhamos inicialmente que um capital PV tenha sido aplicado à taxa i por n1 pe-
ríodos, e que o montante apurado nesta aplicação seja então aplicado à mesma taxa i por n2 perío-
dos, gerando o montante:
PV ( 1 + i ) n1 ( 1 + i ) n 2

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Suponhamos agora que o mesmo capital PV seja aplicado a taxa i durante o prazo total, ou
seja, n = n1 + n2 períodos, gerando o montante:

PV ( 1 + i ) n

Assim tendo em vista a propriedade do produto de potências de mesma base, podemos escre-
ver que:

n1+ n
PV ( 1 + i ) n
= PV ( 1 + i ) 2
= PV ( 1 + i ) n1
(1+ i ) n 2

o que nos mostra que é possível fracionar o prazo de aplicação no cálculo do montante (e reciproca-
mente na determinação do capital).

EXEMPLO
Com taxa de desconto racional composto de 3% am, verifique que um título vencível em 45
dias no valor de R$ 11.460,00 , e outro no valor de R$ 11.803,80 vencível em 75 dias, são equivalen-
tes hoje, daqui a 60 dias, daqui a 100 dias assim como em qualquer outra data.

TÉCNICA A SER UTILIZADA NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS


A técnica utilizada na resolução dos problemas de equivalência com desconto racional com-
posto, é semelhante àquela utilizada na resolução dos problemas de equivalência com desconto co-
mercial simples, à exceção do fato que neste caso, qualquer data pode ser escolhida como data de
equivalência.

EXERCÍCIOS
1.) Um título de R$ 34.500,00 vencível em 30 dias vai ser trocado por outro de R$ 44.850,00. Deter-
mine o vencimento deste novo título, supondo que será utilizada uma taxa de desconto racional com-
posto de 9,14% am.
RESPOSTA: 120 dias.

2.) Uma empresa deve pagar dois títulos de R$ 25.000,00 em 60 e 90 dias respectivamente. Na im-
possibilidade de pagá-los no vencimento, propõe ao credor substituí-los por 3 títulos de valores no-
minais iguais, vencíveis em 90, 120 e 150 dias respectivamente. Determine o valor destes títulos, su-
pondo que será utilizada uma taxa de desconto racional composto de 5,75% am.
RESPOSTA: R$ 18.112,84

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