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Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Quarta Câmara Cível

AGRAVO DE INSTRUMENTO 0021175-16.2021.8.19.0000


PARTE AGRAVANTE: PEDRO DA SILVA MACHADO
PARTE AGRAVADA 1: SABEMI SEGURADORA S.A.
PARTE AGRAVADA 2: JM DE OLIVEIRA FERNANDES PROMOÇÃO DE VENDAS LTDA.

RELATOR: DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM

Agravo de Instrumento. Direito do Consumidor. Empréstimo Consignado.


Montante creditado na conta do agravante que dias após,
voluntariamente, sem a participação da primeira agravada, foi transferido
para a conta da segunda agravada. Decisão recorrida que indeferiu a
antecipação de tutela pleiteada. Descabimento da suspensão integral do
pagamento do empréstimo contratado junto à primeira agravada sem
prova ou, ao menos, indício de sua participação na alegada fraude.
Precedentes deste Tribunal de Justiça. Descontos que, entretanto,
somados com os demais débitos obrigatórios e autorizados, devem
respeitar a limitação de 35% prevista na Lei 14.131/2021, em respeito ao
Princípio da Dignidade Humana. Provimento parcial do recurso.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento


0021175-16.2021.8.19.0000 em que consta como parte agravante: PEDRO DA
SILVA MACHADO, como parte agravada 1: SABEMI SEGURADORA S.A. e como parte
agravada 2: JM DE OLIVEIRA FERNANDES PROMOÇÃO DE VENDAS LTDA., acordam os
Desembargadores da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, por unanimidade, em dar provimento parcial ao recurso, na forma
do voto do Desembargador Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento tirado contra decisão


proferida pelo r. Juízo de Direito da 1ª Vara Cível Regional de Bangu, vazada nos
seguintes termos:

Assinado em 03/12/2021 17:24:42


MARCO ANTONIO IBRAHIM:4330 Local: GAB. DES MARCO ANTONIO IBRAHIM
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... 1 - Defiro JG. 2 - Trata-se de tutela de urgência requerida por PEDRO DA


SILVA MACHADO em face de JM DE OLIVEIRA FERNANDES PROMOÇÃO DE
VENDAS LTDA e SABEMI SEGURADORA S.A. para suspensão dos descontos
mensais de R$ 1.632,03 em seu contracheque, feitos pelo 2º réu, para
amortização de empréstimo. Alega que celebrou com a 1ª ré JM DE OLIVEIRA
contrato para ´investimento´, cabendo ao autor fazer empréstimo
consignado com o 2º réu SABEMI e repassar para a 1ª ré JM DE OLIVEIRA
parte do crédito recebido (cláusula 7ª de fl. 49); a ré JM, então, ficaria
responsável pelo pagamento mensal das prestações do empréstimo
consignado junto ao réu SABEMI. Afirma que havia ´parceria´ entre os réus
para essa modalidade de contratação. Em síntese, o autor pretende,
liminarmente, a cessação dos descontos em seu contracheque, alegando ter
sido vítima de fraude. Isso se vê da leitura dos fatos narrados à fl. 07. É breve
o relatório. Decido. A responsabilidade é contratual, de natureza objetiva,
havendo relação jurídica que deve ser analisada à luz do CDC. Contudo, as
alegações deduzidas, quanto à existência de defeitos no negócio jurídicos
aptos a viabilizar a sua anulação, e até mesmo de prática de condutas
criminosas, devem ser analisadas sob o crivo do contraditório, mormente
pelo fato de não haver imputação clara de prática de ilícito por parte do 2º
réu (credor das prestações). Ressalte-se que, a despeito das alegações
autorais, não há, por ora, qualquer evidência de existência de parceria entre
o 2º réu (credor) e a 1ª ré. O contrato com a JM foi assinado em 18/03/2019
(index 47), enquanto que o contrato firmado com a ré SABEMI foi celebrado
em 04/04/2019, NÃO HAVENDO QUALQUER INTERVENÇÃO DO 1º RÉU EM
SUA CELEBRAÇÃO. O próprio autor reconhece que pretendia fazer uma
espécie de investimento. Todo investimento importa em risco, vale dizer,
significa a chance de resultar em retorno abaixo do esperado, de se perder
tudo o que foi investido ou, em casos extremos, de a perda ultrapassar o
valor do investimento original. A rentabilidade está sempre associada ao
risco, e cabe ao investidor definir o grau de risco que está disposto a correr
para obter uma maior lucratividade. Ademais, o relato contido às fls. 7
parece indicar que o autor estava plenamente ciente de como funcionaria a
transação. Este é o entendimento da jurisprudência: TJRJ. 14ª Câmara Cível.
Agravo de Instrumento nº 0077937-23.2019.8.19.0000. Des(a). FRANCISCO
DE ASSIS PESSANHA FILHO - Julgamento: 12/02/2020. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. CONSUMIDOR. AÇÃO DESCONSTITUTIVA DE NEGÓCIO
JURÍDICO CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. AUTOR ALEGA TER SIDO
VÍTIMA DE ESTELIONATO PERPETRADO POR TERCEIROS MEDIANTE CONLUIO
NA CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. ´PIRÂMIDE
FINANCEIRA´. PRETENSÃO DE SUSPENSÃO DOS PAGAMENTOS E BLOQUEIO
DE VALORES. RECURSO CONTRA A DECISÃO QUE INDEFERIU A TUTELA

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PROVISÓRIA. MANUTENÇÃO. RECONHECIMENTO DE VÍCIO DE


CONSENTIMENTO QUE DEMANDA DILAÇÃO PROBATÓRIA, NOTADAMENTE
PELO MODUS OPERANDI PREVISTO NA AVENÇA. AUSENTE A
PROBABILIDADE DO DIRETO AUTORAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 300 DO
CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 59 DO TJRJ. PRECEDENTES. RECURSO
DESPROVIDO. Portanto, à míngua de elementos que evidenciem a
probabilidade do direito invocado, havendo necessidade de dilação
probatória, mormente pelo fato de o autor dizer que foi vítima de fraude, e
de não haver elementos robustos que demonstrem a tal ´parceria´ entre os
componentes do polo passivo, INDEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA. 3- Citem-
se pelo portal eletrônico, se possível....

Na origem, foi ajuizada ação de anulação de contrato c/c indenizatória


(0004755-03.2021.8.19.0204) por PEDRO DA SILVA MACHADO em face de JM DE
OLIVEIRA FERNANDES PROMOÇÃO DE VENDAS LTDA. e SABEMI SEGURADORA S.A.,
alegando ter sido procurado pela primeira ré com oferta de investimento de
montante que seria obtido através de empréstimo junto à segunda ré. Informou
ter concordado com a operação, contratando com a SABEMI o empréstimo de R$
64.023,77 e transferindo 90% deste montante para a primeira ré (JM), vindo
posteriormente a saber ter sido vítima de uma fraude, como várias outras
pessoas, tanto que os ilícitos cometidos pela primeira ré vêm sendo investigados
pela Polícia Federal. Requereu a gratuidade de justiça, a inversão do ônus da
prova, a concessão de antecipação de tutela para suspender os descontos do
empréstimo em seu contracheque a ser confirmada por sentença com a
condenação de ambos os réus a ressarcir o total descontado pelo empréstimo
fraudulentamente contratado e a pagar R$ 15.000,00 pelos danos morais
sofridos.

Diante da decisão interlocutória que indeferiu a concessão da


antecipação de tutela, o agravante requer sua reforma, bem como a concessão
da medida em sede recursal, argumentando que o vínculo entre as empresas rés
está demonstrado pela menção do nome da SABEMI nas propagandas veiculadas
pela JM e por declaração firmada por testemunha que trabalhou nesta empresa,
afirmando que os contratos do banco eram levados aos clientes juntamente com
os contratos da própria empresa JM.

Foi indeferida a antecipação de tutela recursal às fls. 24/31.

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Somente a segunda agravada apresentou contrarrazões (fls. 46/58 e


certidão de fls. 60), alegando não ter participado das negociações entabuladas
entre o agravante e a JM DE OLIVEIRA e que, inclusive, costuma alertar seus clientes
sobre os riscos de fraudes cometidas por terceiros.

É o relatório.

VOTO

Satisfeitos os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de


admissibilidade, este recurso deve ser conhecido.

Com efeito, na espécie dos autos, o agravante pretende seja suspenso


o pagamento das parcelas do empréstimo por ele contratado com uma das
agravadas (SABEMI), sob o argumento de que teria sido fraudado pela outra (JM)
e que ambas estariam agindo em conjunto.

Ocorre que, em cognição sumária, não restou comprovada a


participação ativa da entidade financeira que concedeu o empréstimo.

O autor comprovou a existência de dois contratos distintos, firmados


em datas diversas (18/03/2019 com a JM e 04/04/2019 com a SABEMI), sem
apresentar prova indiscutível de que a SABEMI soubesse do trato que ele
assumira com a outra empresa. É evidente que o a menção do nome de várias
instituições financeiras (BRADESCO, DAYCOVAL, SAFRA, OLÉ, SABEMI, BANCO
PAN, SANTANDER, BANCO BONSUCESSO, BANCO ITAÚ BMG) nas propagandas da
empresa que lhe ofereceu o investimento tinha como objetivo revestir de
credibilidade a operação oferecida, mas não vincula, em princípio, qualquer das
instituições mencionadas, uma vez que necessária a comprovação de que elas
tenham participado da fraude, avalizado o referido investimento ou a atuação da
contratante.

Ressalte-se que a declaração prestada pela suposta ex-funcionária da


empresa fraudadora é genérica “A JM de Oliveira tem parceria com os Bancos...”
não é suficiente a comprovar a ciência ou a conivência de qualquer um deles,
nem, no presente caso, a SABEMI.

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Além do mais, o montante emprestado foi depositado na conta do


autor no Banco do Brasil e por ele, voluntariamente, transferido, dias depois, para
a conta da primeira agravada (fls. 53 dos autos originais) no Santander.

Desta forma, não há nos autos elementos suficientes a justificar, neste


momento processual, a suspensão integral do pagamento do empréstimo
confessadamente contratado pelo agravante.

Entretanto, os descontos efetuados pela primeira agravada devem


estar limitados, juntamente com os demais descontos obrigatórios e autorizados,
ao percentual de 35%, em respeito ao Princípio da Dignidade Humana, conforme
o estabelecido no artigo 931, III, c/c 882 da Lei Estadual nº 279/79, alterado pelo
disposto no artigo 1º3 da Lei 14.131/2021. A respeito, os precedentes deste
Tribunal de Justiça:

1
Art. 93 - Para os descontos, são estabelecidos os seguintes limites, referidos às bases para desconto:
I - quantia estipulada por lei ou regulamento;
II - até setenta por cento para os descontos previstos nos itens 2 e 3 do inciso III do art. 88 desta lei;
III - até trinta por cento para os descontos não enquadrados nos incisos anteriores.

2
Art. 88 - Os descontos são classificados em:
I - Contribuição para:
1 - a Pensão Militar;
2 - o Instituto de Previdência do Estado do Rio de Janeiro;
3 - a Caixa Beneficente e/ou Caixa de Pecúlio da Corporação;
4 - a Assistência Médico-hospitalar.
II - Indenizações:
1 - a Órgãos Federais, Estaduais ou Municipais, em decorrência de dívida.
III - Consignações:
1 - em favor das entidades consideradas consignatárias;
2 - para pensão alimentícia;
3 - para aluguel ou aquisição de residência do PM ou BM;
4 - para outros fins determinados pelo Comandante-Geral.

3
Art. 1º Até 31 de dezembro de 2021, o percentual máximo de consignação nas hipóteses previstas no
inciso VI do caput do art. 115 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, no § 1º do art. 1º e no § 5º do art.
6º da Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, e no § 2º do art. 45 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro
de 1990, bem como em outras leis que vierem a sucedê-las no tratamento da matéria, será de 40%
(quarenta por cento), dos quais 5% (cinco por cento) serão destinados exclusivamente para:
I - amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou
II - utilização com finalidade de saque por meio do cartão de crédito.
Parágrafo único. Quando leis ou regulamentos locais não definirem percentuais maiores do que os
previstos no caput deste artigo, o aumento, na forma prevista nesta Lei, do percentual máximo de

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA C/C


INDENIZATÓRIA. AUTOR ALEGA TER SIDO VÍTIMA DE FRAUDE CONHECIDA
COMO `PIRÂMIDE FINANCEIRA¿, PERPETRADA PELA SEGUNDA AGRAVADA,
A QUEM REPASSOU SIGNIFICATIVO VALOR DE EMPRÉSTIMO CONTRAÍDO
JUNTO AO BANCO, ORA PRIMEIRO AGRAVADO. PRETENSÃO DE SUSPENSÃO
DO PAGAMENTO DAS PARCELAS RELATIVAS AO EMPRÉSTIMO AO
ARGUMENTO DE SUPERENDIVIDAMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA QUE
RESTOU INDEFERIDA. INCONFORMISMO DO AUTOR. PRETENSÃO RECURSAL
QUE NÃO MERECE PROSPERAR. NECESSIDADE DE MAIOR DILAÇÃO
PROBATÓRIA A ENSEJAR COGNIÇÃO EXAURIENTE SOBRE A MATÉRIA POSTA
EM APRECIAÇÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PLANO DA
PROBABILIDADE DO DIREITO ARGUIDO. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-
CONSTITUÍDA QUANTO A EVENTUAL CONLUIO DAS RÉS, TENDO A ORA
AGRAVANTE, INCLUSIVE, CELEBRADO CONTRATOS DISTINTOS E
AUTÔNOMOS. REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC QUE NÃO RESTARAM
DEMONSTRADOS. PRECEDENTES. ARGUMENTO DE SUPERENDIVIDAMENTO
QUE ENSEJA, EM TESE, LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS A 30% DOS
VENCIMENTOS DO AGRAVANTE E NÃO A SUSPENSÃO INTEGRAL DOS
DESCONTOS, COMO REQUERIDO. DECISÃO QUE DEVE SER MANTIDA.
DESPROVIMENTO DO RECURSO. (Agravo de instrumento 0040474-
76.2021.8.19.0000, Des. ALVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA, Vigésima
Quarta Câmara Cível, j. 28/07/2021)

ESQUEMA DE PIRÂMIDE - CONTRATOS DE EMPRÉSTIMOS CELEBRADOS COM


BANCO - POSTERIOR CESSÃO DE CRÉDITO - AUSÊNCIA DE INDICATIVO
MÍNIMO DE PARTICIPAÇÃO DO BANCO EM ESQUEMA FRAUDULENTO -
LIMITAÇÃO DESCONTOS - 30% Agravo de Instrumento em face de decisão
que determinou a apresentação de documentos para apreciação do pedido
de tutela, e manifestação sobre interesse de prosseguimento da ação.
Pretensão de deferimento da tutela. Na origem o agravante alega fraude

remuneração, de soldo ou de benefício previdenciário que pode ser descontado automaticamente para
fins de pagamento de operações de crédito aplica-se também a:
I - militares das Forças Armadas;
II - militares dos Estados e do Distrito Federal;
III - militares da inatividade remunerada;
IV - servidores públicos de qualquer ente da Federação;
V - servidores públicos inativos;
VI - empregados públicos da administração direta, autárquica e fundacional de qualquer ente da
Federação; e
VII - pensionistas de servidores e de militares.

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financeira perpetrada pelos agravados Reali e Roniel em conluio com o


banco. O próprio agravante informa ter efetivado contrato junto à
promotora Reali e ter repassado todo o valor contratado a esta. Ausência em
cognição sumária de demonstração de participação do Banco em ato
fraudulento. Contrato de empréstimo que se reveste, em linha de princípio,
de validade. No entanto, extrai-se dos autos que os descontos referentes a
empréstimos realizados pelo autor ultrapassam o percentual de 30%. Assim,
o agravo merece ser parcialmente provido devendo ser oficiado à fonte
pagadora e aos réus para adequação dos descontos, observando-se a ordem
cronológica dos empréstimos. Recurso parcialmente provido. (Agravo de
instrumento 0043825-91.2020.8.19.0000, Des. NATACHA NASCIMENTO
GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA, Vigésima Sexta Câmara Cível, j.
30/07/2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CÍVEL COM PEDIDO DE TUTELA DE


URGÊNCIA. ALEGAÇÃO DO AUTOR DE QUE AO TENTAR REALIZAR
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO FOI VÍTIMA DE PIRÂMIDE FINANCEIRA.
INDEFERIMENTO DA TUTELA. DECISÃO AGRAVADA REFORMADA EM PARTE.
1. Irresignação recursal do agravante para bloqueio do valor total das
parcelas vencidas e não pagas pela 2ª agravada, suspensão dos descontos
ou limitação dos descontos em 30% dos seus ganhos. 2. Tutela antecipada
deferida parcialmente em estrita observância aos pressupostos
autorizadores. Ademais, deve-se considerar, que a apreciação em sede de
agravo de instrumento se dá em cognição sumária, fundada em juízo de
verossimilhança, e não de certeza, pelo que não há que se falar em valoração
definitiva do conteúdo probatório, o que naturalmente, se dará no juízo de
origem. 3. Documentos juntados aos autos que autorizam a concessão
parcial da tutela extraindo, com efeito, fortes indícios de que o agravante de
fato foi vítima de aliciamento para participar de pirâmide financeira,
contraindo, em junho de 2019, empréstimos consignados perante o Banco
Santander (3º agravado), intermediado - segundo alegou o recorrente - pela
4ª agravada (GMVM), cujas parcelas são descontadas diretamente nos
contracheques do agravante (index 27). 4. Agravante acreditava tratar-se de
cessão de crédito para investimento financeiro, salientando que a empresa
GOLD se comprometera a depositar na conta do recorrente, mês a mês, os
valores correspondentes às parcelas do consignado até a 12ª das 72
prestações pactuadas, quando então quitaria integralmente os
empréstimos, recebendo o ora agravante, ao final, a porcentagem de 10% a
20% do valor total, como uma pirâmide financeira. 5. Desde o mês de
novembro de 2019, os repasses, todavia, cessaram, tomando conhecimento
da prisão do Sr. Roniel (1º agravado), quando veio a descobrir que estava

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sendo vítima de um golpe, que vem lhe trazendo sérios prejuízos. 6. Não
reconhecimento das assinaturas nos contratos de empréstimo junto ao
banco, pois somente confirmou seus dados por telefone, salientando que sua
assinatura foi falsificada. 7. Presentes além da probabilidade do direito
alegado, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação,
notadamente em razão dos descontos incidirem sobre o soldo do agravante,
verba de caráter alimentar. 8. Limitação dos descontos sobre os vencimentos
do autor/agravado limitado a 30%. 9. Precedente jurisprudencial do TJRJ. 10.
Decisão agravada que se reforma em parte. 11. Recurso ao qual se dá parcial
provimento. (Agravo de instrumento 0001996-33.2020.8.19.0000, Des.
WILSON DO NASCIMENTO REIS, Vigésima Sexta Câmara Cível, j. 09/07/2020)

À conta de tais fundamentos, hei por bem votar no sentido de dar


provimento parcial ao recurso, nos termos acima expostos.

Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2021.

DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM


Relator
5

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