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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0101118-60.2016.5.01.0016
Relator: EDITH MARIA CORREA TOURINHO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 15/09/2019


Valor da causa: R$ 40.000,00

Partes:
RECORRENTE: NELIO DE SA FREIRE
ADVOGADO: TATIANA DA SILVA E SILVA
RECORRENTE: COMPANHIA ESTADUAL DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE
ADVOGADO: ISABEL DE ALMEIDA TAVARES
ADVOGADO: MARCELO ASSIS RIBEIRO DE ALBUQUERQUE MARANHAO
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS CORDEIRO
ADVOGADO: GUSTAVO SMITH HEIZER
ADVOGADO: CRISTOVAO TAVARES MACEDO SOARES GUIMARAES
RECORRIDO: NELIO DE SA FREIRE
ADVOGADO: TATIANA DA SILVA E SILVA
RECORRIDO: COMPANHIA ESTADUAL DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE
ADVOGADO: ISABEL DE ALMEIDA TAVARES
ADVOGADO: MARCELO ASSIS RIBEIRO DE ALBUQUERQUE MARANHAO
ADVOGADO: MARCUS VINICIUS CORDEIRO
ADVOGADO: GUSTAVO SMITH HEIZER
ADVOGADO: CRISTOVAO TAVARES MACEDO SOARES GUIMARAES
ADVOGADO: Luiz Eduardo Prezidio Peixoto
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Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0101118-60.2016.5.01.0016 (ROT)

RECORRENTE: NÉLIO DE SÁ FREIRE, COMPANHIA


ESTADUAL DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE

RECORRIDO: NÉLIO DE SÁ FREIRE, COMPANHIA ESTADUAL


DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE

RELATOR: MÁRIO SÉRGIO M. PINHEIRO

EMENTA
MATÉRIA COMUM. DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS.
PLANTÕES EXTRAS. Considerando que a testemunha indicada pelo
Autor apresentou fatos contraditórios; que a testemunha arrolada pela Ré
informou que o Autor realizava 03 ou 04 plantões extras por mês e que a
Ré não juntou os controles, ônus que lhe competia, encontra-se adequada
a conclusão do julgador de primeiro grau, de que o reclamante faz jus às
horas extras, pelo trabalho em 04 plantões extras por mês, permitindo a
dedução das horas extras quitadas. Trata-se de valoração da prova, feita
pelo juízo a quo, que por estar em contato direto com as testemunhas e a
colheita da prova, possui maior capacidade de analisar o grau de
confiabilidade das informações prestadas e, salvo quando verificar
incongruências, o Juízo ad quem deve modificar a supracitada valoração,
o que não é a hipótese dos autos. Recursos a que se nega provimento.

RECURSO ORDINÁRIO DO AUTOR. GRATUIDADE DE


JUSTIÇA. AÇÃO PROPOSTA ANTES DA LEI Nº 13.467/2017.
ASSISTÊNCIA POR ADVOGADO PARTICULAR. Não se
controvertia, até o advento da Lei nº 13.467/2017, quanto a ser bastante à
concessão da gratuidade de justiça que a parte declarasse, diretamente ou
por seu advogado, seu estado de miserabilidade econômica, consoante a
Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-I do C. TST, requisito
atendido na hipótese. Gratuidade de Justiça deferida. HORAS EXTRAS.
ESCALA 24x72. O Autor estava submetido à escala de 24 x 72 h
significa que prestava, no máximo, 8 plantões de 24h por mês, totalizando
192 horas mensais (24 x 8= 192). Entretanto, em recente decisão
prolatada nos autos do Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº.
0101536-12.2017.5.01.0000 (Julgamento: 06/06/2019, DEJT: 14/06
/2019), deste Tribunal, decidiu o Tribunal Pleno fixar a tese jurídica de
que: "São válidas as cláusulas dos acordos coletivos celebrados pela
CEDAE, com vigência entre 2004 e 2016, que fixaram o divisor 220 para
a apuração das horas extras dos empregados que se submetem a 40 horas
semanais de trabalho". Ressalvado o entendimento do Relator, quanto à

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aplicação do divisor 192 para as jornadas realizadas em regime de


revezamento 24 x 72. INTERVALO INTRAJORNADA. O Autor
trabalhava sozinho no local em escala 24x72 e a testemunha da Ré
afirmou que não havia proibição de usufruir o intervalo, mas o empregado
não podia sair da unidade em razão do trabalho e que o operador não
podia dormir, mas poderia descansar, permanecendo com atenção para
qualquer tipo de vazamento. Conclui-se que o intervalo intrajornada era
reduzido pela necessidade do trabalho, impedimento causado pelo
empregador e em benefício deste e não por vontade do empregado.
Assim, devido o pagamento de 02 horas extras, por dia trabalhado, pela
fruição parcial dos intervalos (almoço e jantar). Art. 71, § 4°, da CLT;
Súmula 437 do TST; IUJ 0001484-42.2016.5.01.0000 (DEJT:12/05
/2017). TÍQUETE-REFEIÇÃO. CEDAE. ESCALA 24 X 72.
PLANTÕES EXTRAS.A Norma Coletiva prevê que os empregados
escalados previamente para plantões, desde que não sujeitos a escala de
24 x 72, farão jus ao ticket-refeição. A exceção feita àqueles que
trabalham em jornada de 24 X 72, se dá pelo fato de que, nesta jornada
especial, os empregados já realizam plantões normais. Entretanto, o
pedido não diz respeito aos plantões normais, mas aos plantões extras, ou
seja, aqueles laborados nos dias de folgas; não havendo qualquer
impedimento na norma, no que diz respeito aos plantões extras. Ademais,
não é razoável pensar que, em plantões extras, o empregado não necessita
se alimentar. Assim, estando à disposição do empregador é injustificável o
não recebimento da parcela, nestes dias. ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO
MONETÁRIA DAS VERBAS TRABALHISTAS. Consoante decisão
do Pleno do C. TST na ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, o fator de
atualização a ser utilizado na tabela de atualização monetária dos débitos
trabalhistas na Justiça do Trabalho é o IPCA-E, critério que melhor
promove o reequilíbrio da "equação econômico-financeira entre devedor e
credor". A correção monetária feita por índice prefixado não é "adequada
a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover
os fins a que se destina", conclusão a que também chegou o Plenário do
STF, por maioria, em 20/11/2017, no julgamento do RE 870947. Não
obstante a modulação adotada pelo C. TST nos autos da ArgInc-479-
60.2011.5.04.0231, o Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento
plenário de 3/10/2019, com repercussão geral, "por maioria, rejeitou todos
os embargos de declaração e não modulou os efeitos da decisão
anteriormente proferida" nos autos do RE 870.947. Para o STF, "não cabe
a modulação" de efeitos que permita a aplicação da TR a créditos
anteriores a março de 2015. Assim, o IPCA-E aplica-se de junho de 2009
em diante. Recurso a que se dá parcial provimento.

I - RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recursos ordinários,


em que são partes; NÉLIO DE SÁ FREIRE e COMPANHIA ESTADUAL DE AGUAS E
ESGOTOS CEDAE, como Recorrentes e Recorridos.

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Trata-se de recursos ordinários interpostos pelo Autor (ID f3cc943) e pela


Ré (ID 15516a8), contra a sentença da MM. 16ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra do Juiz ÉRI
CO SANTOS DA GAMA E SOUZA, que julgou PROCEDENTES EM PARTE os pedidos (ID
f093b34).

A Ré busca a reforma do julgado no que diz respeito à condenação ao


pagamento de diferenças de horas extras.

O Autor busca a reforma do julgado no que diz respeito ao pedido de


gratuidade de justiça; pagamento de horas extras pelos plantões realizados aos sábados e domingos e pelo
intervalo intrajornada não usufruído; horas extras a partir da 40ª semanal; ticket-refeição dos plantões
extraordinários; correção monetária das verbas salariais pelo IPCA.

Custas e Depósito Recursal ID. c7c8d93; e87d2e3; f7d5f6d; ac16838.

Contrarrazões ID. 4bc100b, pela Ré e ID. 7a51951, pelo Autor, com


preliminar de não conhecimento do recurso da ré.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por não


configurada hipótese de sua intervenção.

É o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

ADMISSIBILIDADE

DA PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DA RÉ, POR


AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE

O Autor sustenta que a Ré não ataca a fundamentação da r. sentença que


levou à condenação.

Analiso.

A insatisfação da Reclamada foi exposta no Recurso e se deu dentro dos


termos da decisão de primeiro grau, se encontrando ajustada ao art. 1.010, II do CPC.

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Ademais, com a nova redação da Súmula 422 do TST só se permite o não


conhecimento do recurso ordinário interposto pela parte, no âmbito dos Tribunais Regionais, caso a
fundamentação do recurso da parte seja inteiramente dissociada dos fundamentos da sentença, o que não
se verifica na hipótese dos autos.

Rejeito.

Conheço dos recursos por preenchidos os pressupostos legais de


admissibilidade.

MÉRITO

RECURSOS ORDINÁRIOS DA RÉ E DO AUTOR. MATÉRIA COMUM

DAS DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS. PLANTÕES EXTRAORDINÁRIOS

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"II.4 - JORNADA: O reclamante alegou na EMENDA SUBSTITUTIVA que "...laborava


na jornada de trabalho de 24 (vinte e quatro) horas de trabalho por 72 (setenta e duas
horas) de descanso, sendo que, durante todo o período imprescrito até a data de seu
desligamento, o empregado realizou, além dos plantões ordinários, mais 7 a 8 plantões
extraordinários de 24 horas por mês, sendo que a Reclamada nunca remunerou
corretamente esses plantões. (...) Vale ressaltar que o reclamante NÃO teve intervalo
intrajornada superior a 40/50 minutos para refeição e descanso. Observa-se, ainda, que
a empregadora também não aplicou corretamente o percentual de 100% (cem por cento)
para os plantões realizados pelo reclamante aos domingos e feriados, considerando que
laborava em média 2 (dois) domingos por mês e metade dos feriados. Ainda com relação
ao pagamento das horas extras, a empresa deixou de utilizar o limite de 40 (quarenta)
horas semanais e aplicar o correto divisor no cálculo das horas extras, deixando de
observar norma por ela mesma criada..." (id fd5e4f8 - Págs. 02/03).

Em sua defesa, a reclamada negou o trabalho na jornada alegada na EMENDA


SUBSTITUTIVA, bem como afirmou que respeita as normas coletivas, cujo divisor para
apuração do salário hora previsto é 220:00 horas/mês, mesmo para a escala de 24 x 72
horas, na qual eram usufruídos regularmente os intervalos.

Neste aspecto, colhe-se dos depoimentos prestados pelas testemunhas na audiência de


11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386) o seguinte:

[..]

Verifica-se pelo depoimento da testemunha ANTÔNIO BARROS que a sua semana


dispunha de 09 (nove) dias e não 07 (sete), pois se três operadores trabalhassem 03

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(três) plantões de 24 horas por semana não caberiam todos nos 07 (sete) dias, sendo,
pois, o seu depoimento imprestável.

Devem, assim, prevalecer os fatos narrados pela testemunha EDSON CLAUDIO, no


sentido de que eram realizados, em média, 04 plantões extras a cada mês, sendo certo
que em cada plantão eram usufruídos os dois intervalos regularmente (1:00 hora a cada
intervalo).

Registre-se que para os trabalhadores que atuam em escala de 12 horas de trabalho por
36 horas de descanso se concede um único intervalo de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 11:00 horas a cada escala. Assim, para os que atuam em escala de 24
horas de trabalho devem ser concedidos dois intervalos de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 22:00 horas.

Quanto ao trabalho nos finais de semana, somente aquele realizado aos domingos que
se remunera com adicional de 100%, em face dos termos das normas coletivas trazidas
aos autos, entretanto, estes não foram identificados na inicial ou nos depoimentos
prestados na audiência 11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386).

Neste aspecto, o artigo 71, da CLT, é claro ao dispor que para o "...trabalho contínuo,
cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para
repouso e alimentação, o qual será, no mínimo, de uma hora...", não havendo legislação
que imponha a concessão de 1:00 hora de intervalo a cada seis trabalhadas. Ao
contrário, o mencionado artigo da CLT determina somente o intervalo de 15 minutos
para o trabalho em jornadas de 6:00 horas.

Se considerarmos a escala de 24 x 72 horas, são realizados cerca de 08 (oitos) plantões


a cada mês de 30 dias, ou seja, realmente restou incontroverso que o reclamante
trabalhava por 04 (quatro) plantões extras ao mês.

Diante de todo o exposto, se convenceu o Juízo que o reclamante trabalhava em 04


(quatro) plantões extras em média por mês, com 2:00 horas de intervalo a cada plantão,
perfazendo cerca de 88:00 horas extras mensais, sendo certo que há pagamento de
horas extras na ficha financeira do reclamante (fls. 225/238) e recibos de pagamento
(fls. 255/306), sob os códigos 0230 e 0030, as quais devem ser deduzidas em seus
valores efetivamente pagos.

Inicialmente, , as normas coletivas do quanto ao divisor das horas extras período


imprescrito (19.07.2011) trazidas pelas partes preveem na clausula 7ª (a partir de
01.04.2012), na cláusula 9º (a partir de 01.05.2014) a utilização do divisor de 220 horas
para apuração do salário-hora e o percentual de 50%.

A partir de 01.05.2016, norma coletiva 2016-2018, em sua cláusula 6ª expressamente


fixou o divisor de 200 horas para apuração do salário-hora para o regime de trabalho
diário e o divisor de 192 horas para apuração do salário-hora para regimes de trabalho
em escalas, o que vem sendo observado.

Portanto, não há que se falar em aplicação do divisor de 200 ou 192 horas para efeito
do cálculo das horas extraordinárias antes de 01.05.2016, devendo ser respeitadas as
disposições normativas, em face do previsto no artigo 7º, inciso XXVI da Constituição
Federal.

Assim, devidas as horas extras com adicional de 50%, arbitradas em 88:00 horas
mensais e adicional noturno, arbitrado em 28:00 horas mensais, no período imprescrito
até 18.07.2016 (ajuizamento da ação), e os reflexos no repouso remunerado, na base de
1/6, nas férias com adicional de 1/3 e 13º salários, pela média física mensal, no FGTS
(8,0%) a ser depositado, observada a variação salarial, a base de cálculo formada pelo
salário fixo, adicional de insalubridade e triênio, o divisor de 220 horas/mês e de 192
horas/mês (a partir de 01.05.2016).

Não há reflexo do repouso semanal remunerado sobre as parcelas acima (férias, 13º
salários, aviso prévio e FGTS), em face do entendimento contido na Orientação
Jurisprudencial nº 394, da SBDI-I, do TST." (ID f093b34)

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A Ré sustenta que a documentação juntada aos autos, resumo de horas


extras (Id.e1ea566) e recibos de pagamento (Id.b8369be), comprova o correto pagamento das horas
extras efetivamente prestadas pelo autor; que tanto ocorria o correto pagamento da parcela, que os
contracheques do reclamante apontam pagamento de grande quantidade de horas extras, por vezes valor
próximo ou superior ao salário. Afirma que, caso assim não entenda, eventual condenação deve observar
a média "3 ou 4 plantões", conforme depoimento da testemunha e não a existência de 4 plantões extras
por mês.

O Autor sustenta que deve ser considerada a jornada de trabalho declinada


na peça de ingresso e deferidas as horas extras, com as consequentes integrações nas parcelas contratuais
e rescisórias, pois a Ré deveria ter juntado aos autos os controles de ponto (manual ou eletrônico), sob as
penas previstas no art. 359 do CPC, mais não o fez gerando presunção de validade da jornada apontada
na exordial.

Analiso.

O Autor trabalhou na Ré de 13/11/1980 a 04/11/2015, na função de


Mecânico de Hidrômetro, em escala de 24 x 72 horas e na inicial (emenda substitutiva) alegou que
trabalhava, além de sua escala, mais 7 a 8 plantões extraordinários de 24 horas, por mês.

A Ré não trouxe aos autos os controles de frequência.

O Magistrado colheu os depoimentos do autor e de duas testemunhas:

Depoimento pessoal do reclamante: "Indagado disse que no período imprescrito o


depoente trabalhou no tratamento de água na estação de Mazomba em Itaguaí em escala
de 24x24 horas, com cerca de 40 minutos de intervalo de almoço e mais 40 minutos de
intervalo para jantar; que havia um cartão de ponto que era assinado pelo depoente uma
vez ao mês onde anotava a escala de 24 x 72 horas, mas em decorrência do baixo número
de pessoas trabalhando o depoente atuava em escala de 24x24 horas; que no período
imprescrito o depoente não ficou afastado do trabalho; que na Mazomba trabalhava um
funcionário por turno de 24 horas; que o depoente atuava verificando a dosagem de cloro
e flúor que eram inseridas na água de tratamento, sendo também realizados testes na
água a cada 2 horas; que no intervalo de cada teste de água o depoente corria a linha de
abastecimento para verificar a pressão e se não havia qualquer entupimento; que o
depoente verificava o crivo (tubulação furada tipo chuveiro invertido) para não passar
detritos para a tubulação, bem como limpava a linha de água que passava pelo cloro para
manter o fluxo constante; que a verificação do crivo e limpeza da linha ocorriam de 2 a 4
vezes por dia; que com o tempo bom o depoente levava 30 minutos nessas tarefas; que
após a limpeza do crivo e da linha de água havia alteração na pressão e o depoente tinha
de ajustar a regulagem dos aparelhos que abasteciam o cloro e o flúor, não tendo o
depoente como precisar quanto tempo gastava pois às vezes a regulagem era fácil e às
vezes não, acreditando que gastasse cerca de 30 minutos; que o depoente não se recorda
quantos tickets-refeição recebia, mas era o número previsto na norma coletiva; que o
depoente tinha como encarregado o Sr. Renato; que a cada plantão um encarregado fazia
visita ao posto de trabalho do depoente, lá permanecendo de 1 a 2 horas; que o depoente
recebia pagamento de horas extras como se estivesse realizando a escala de 24x72 horas
e não a de 24x24 horas; que não havia orientação da ré de não usufruir de 1h de
intervalo, mas o serviço não permitia que fosse gozado o intervalo integral." (ID
8e8b20d)

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Primeira testemunha do reclamante: (ANTONIO BARROS PEREIRA), "Inquirido disse


que no período imprescrito atuou como operador de tratamento de água, no posto de
mananciais de Mazomba, tendo trabalhado na ré de 1991 a fevereiro de 2017; que no
posto de Mazomba trabalhavam 3 operadores no tratamento de água, o depoente, o autor
e o Sr. Altamiro, sendo que um rendia o outro, uma vez que a cada turno só atuava um
operador; que a escala era de 24x72 horas, mas em razão do reduzido número de
funcionários, além do plantão da escala, trabalhava mais 3 plantões de 24h por semana,
sendo que todos os operadores mencionados também faziam os 3 plantões; que
esporadicamente comparecia o encarregado no posto da Mazomba; que geralmente o
depoente trabalhava no plantão das 8 às 8 horas; que em razão do sistema de dosagem do
cloro, tinha de ficar monitorando o equipamento dosador e por isso não podia sair do
posto para realizar a refeição; que em razão da oscilação da quantidade de água, havia
oscilação de vazão e por isso tinha de monitorar os equipamentos de dosagem de cloro e
flúor; que somente atuava o operador no posto da Mazomba, sem qualquer auxiliar, o
que ocorria com todos os operadores que atuavam no setor; que o depoente trabalhava 8
/9 plantões normais de 24h e mais 3 ou 4 plantões extras por mês; que o depoente
retificou o depoimento para dizer que eram 8 a 9 plantões extras por mês; que na
Mazomba não havia refeitório ou dormitório, sendo que dormia debaixo da bancada do
laboratório, onde eram realizadas as operações; que o depoente não dormia, apenas
descansava, sendo que a cada 30 minutos em média levantava para verificar os dosadores
em dias que não houvesse chuva."

Primeira testemunha da reclamada: (EDSON CLAUDIO DA SILVA DIAS) - "Inquirido


disse que trabalha na ré desde 1990; que no período imprescrito o depoente atuou na
função de encarregado; que o depoente era o encarregado do autor, que trabalhou em
Mazomba e em Muriqui; que a cada turno trabalhava apenas um operador; que em razão
do reduzido número de funcionários, trabalhavam em cada uma das unidades 3
operadores; que o autor trabalhava em plantão de 24x72 horas, além de 3 ou 4
plantões extras de 24h a cada mês, em face do revezamento entre os operadores que
atuavam em turnos de 24h; que o turno era das 7:30 às 7:30h do dia seguinte; que tanto
na Mazomba como em Muriqui havia o monitoramento da água em sala de operação no
interior de uma casa, tendo o local para fazer a refeição; que o trabalho necessitava de
muita atenção em razão de atuarem com cilindros de cloro a fim de evitar qualquer tipo
de vazamento ou contaminação; que de 2 em 2 horas era realizado o teste de água, que
levava de 15 a 20 minutos e no restante do tempo o operador ficava monitorando os
dosadores, como também tinha de ir na área de captação onde havia um crivo que era
necessário verificar para que não houvesse entupimento; que o depoente comparecia aos
postos uma ou duas vezes por semana; que não havia proibição de tirar 1h para almoço e
jantar, mas o funcionário não podia sair da unidade em razão do trabalho com o cloro;
que o operador não podia dormir, mas poderia descansar, permanecendo com atenção
para qualquer tipo de vazamento; que o depoente não se recorda dos períodos que o autor
trabalhou em Mazomba e Muriqui, mas ficou mais tempo na Mazomba, onde a
testemunha Antonio também trabalhou; que em média eram realizados 3 ou 4 plantões
extras ao mês, mas se houvesse necessidade poderia haver convocação para mais
algum plantão; que não era comum o trabalho por mais de 3 ou 4 plantões ao mês."
(ID 41a93b5) (g.n.)

O depoimento da testemunha do Autor foi desconsiderado, o que merece


ser mantido, tendo em vista que, como relatou o Magistrado a quo, o relato da testemunha aponta semana
de 09 (nove) dias e não 07 (sete). No caso, a testemunha afirmou que havia 03 empregados, no
revezamento durante a semana, cada um com escala de 24 x 72; que todos os operadores faziam os 3
plantões e que, além do plantão da escala, trabalhavam mais 3 plantões de 24h por semana e, nestes

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termos, seriam 09 dias trabalhados por semana, o que não pode ser acolhido. Observo, ainda, que a
testemunha, de início, afirmou que os plantões extras seriam em número de 3 ou 4 plantões extras por
mês e, em seguida, retificou o depoimento para dizer que eram 8 a 9 plantões extras por mês. Tais fatos
tornam a prova testemunha frágil e incapaz de transmitir a credibilidade necessária ao convencimento do
Julgador.

A testemunha arrolada pela Ré afirmou que era o encarregado do autor e


que o reclamante trabalhava em plantão de 24x72 horas, além de 3 ou 4 plantões extras, por mês, em face
do revezamento entre os operadores que atuavam em turnos de 24h, afirmando, ainda, que em média
eram realizados 3 ou 4 plantões extras ao mês, mas se houvesse necessidade poderia haver convocação
para mais algum plantão.

Considerando o relato da testemunha e que a Ré não juntou os controles,


ônus que lhe competia, considero adequada a conclusão do julgador de primeiro grau, de que o
reclamante trabalhava em 04 (quatro) plantões extras em média por mês, com 2:00 horas de intervalo a
cada plantão, perfazendo cerca de 88:00 horas extras mensais.

Trata-se de valoração da prova, feita pelo juízo de primeiro grau, que


possui ampla liberdade na sua apreciação, conforme art. 765 da CLT e art. 131 do CPC e, por estar em
contato direto com as testemunhas e a colheita da prova, possui maior capacidade de analisar o grau de
confiabilidade das informações prestadas e, ainda, quem está ou não faltando com a verdade e, dessa
forma, salvo quando verificar incongruências, o Juízo ad quem deve modificar a supracitada valoração, o
que não é a hipótese dos autos.

Quanto às horas extras quitadas, observo que o Magistrado determinou


que a dedução das horas pagas conforme ficha financeira do reclamante e recibos de pagamento, sob os
códigos 0230 e 0030. Assim, não há falar em excesso.

Nego provimento a ambos os recursos.

RECURSO ORDINÁRIO DO AUTOR

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20021109284838300000042540062
Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 8
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 10

"II.2 - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA: Improcede o pedido de "gratuidade de justiça",


pois o artigo 790, parágrafo 3º, da CLT, com redação dada pela Lei nº 10.537/02, faculta
e não impõe ao Juiz a sua concessão. Ademais, no âmbito da Justiça do Trabalho, a
assistência é prestada pelo sindicato a que pertence o trabalhador (artigo 14, da Lei nº
5.584/70)." (ID f093b34)

O Autor sustenta que demonstrou a hipossuficiência, através de


declaração própria, firmada na conformidade da legislação vigente; que a gratuidade de justiça não é uma
deliberação do juízo, e sim um benefício legalmente garantido e que a declaração de miserabilidade à
época da distribuição da referida (ID f1d2e03) ação, era é o único requisito do artigo 790, § 3º da CLT,
estando pacificado este entendimento conforme OJ Nº 304 da SBDI-1 do TST, inclusive em casos em
que o Autor estivesse assistido por advogado particular. Assim, não há impedimento ao deferimento pelo
fato do Autor não estar assistido pelo sindicato da categoria.

Analiso.

Não se ignoram as recentes modificações na legislação trabalhista que


tratam dos requisitos para a concessão da gratuidade de justiça, assim como dos ônus sucumbenciais. Em
momentos como esse, porém, em que a insegurança facilmente se alastra, é que se recomenda adicional
prudência e razoabilidade na aplicação da norma, tendo sempre em vista as garantias constitucionais do
acesso à justiça e da assistência jurídica aos necessitados (art. 5º, XXXV, LXXIV, CRFB/1988; art. 8º, 1,
Convenção Interamericana de Direitos Humanos).

Relembremos, de início, que, com o advento do CPC 2015, o C. TST


atualizou a antiga Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-I, convertendo-a na Súmula 463, in verbis:

SUM-463 ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. COMPROVAÇÃO (conversão


da Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-I, com alterações decorrentes do CPC de
2015)

I - A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência judiciária gratuita à pessoa


natural, basta a declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu
advogado, desde que munido de procuração com poderes específicos para esse fim (art.
105 do CPC de 2015);

II - No caso de pessoa jurídica, não basta a mera declaração: é necessária a demonstração


cabal de impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo.

A novidade, desde então, consistia, apenas, na aplicação do art. 105 do


CPC 2015, no tocante à exigência de outorga de "poderes específicos" ao advogado para a declaração de
gratuidade, exigência essa da qual não se cogitaria na hipótese de declaração da própria "pessoa natural",
em regra, a parte autora.

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20021109284838300000042540062
Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 9
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 11

E, em relação ao momento oportuno para formulação do requerimento da


gratuidade, nenhuma mudança, tanto que inalterada a OJ nº 269, do C. TST, quanto a ser possível
requerer o benefício da gratuidade mesmo na inexistência de pedido anterior:

OJ-SDI1-269 JUSTIÇA GRATUITA. REQUERIMENTO DE ISENÇÃO DE


DESPESAS PROCESSUAIS. MOMENTO OPORTUNO (inserido item II em
decorrência do CPC de 2015)

I - O benefício da justiça gratuita pode ser requerido em qualquer tempo ou grau de


jurisdição, desde que, na fase recursal, seja o requerimento formulado no prazo alusivo
ao recurso;

II - Indeferido o requerimento de justiça gratuita formulado na fase recursal, cumpre ao


relator fixar prazo para que o recorrente efetue o preparo (art. 99, § 7º, do CPC de 2015).

Na verdade, salvo quanto à exigência dos poderes específicos para a


declaração de gratuidade firmada por advogado, nem mesmo se poderia falar de mudanças naquele
momento, pois o art. 99, §3º do CPC 2015 é dispositivo cujo conteúdo apenas reverencia as normas
regedoras da matéria na seara trabalhista. De fato, a presunção de veracidade da alegação de
"insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural", referida no art. 99, §3º do CPC, está nas
origens do processo do trabalho. Tanto é assim, que o §3º do art. 790 da CLT, com redação dada pela Lei
nº 10.537/02 cuidava da faculdade de os "juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do
trabalho de qualquer instância conceder[em], a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça
gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos", àqueles que percebessem "salário igual ou inferior
ao dobro do mínimo legal", ou declarassem, "sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar
as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família". A declaração de
hipossuficiência, portanto, seria bastante para a concessão da gratuidade, qualquer que fosse o salário
recebido.

Entrementes, a Lei nº 13.467/2017 promoveu alteração substancial no §3º


do art. 790 da CLT, que passou a contar com mais um parágrafo, in verbis:

§ 3º. É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de
qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça
gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário
igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) [g.n.]

§ 4º. O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência
de recursos para o pagamento das custas do processo.

O § 3º do art. 790 da CLT enuncia agora uma presunção de


miserabilidade decorrente dos rendimentos do trabalho auferidos pelo trabalhador. Concretamente, para
aqueles "que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social", presume-se a miserabilidade. Nesses casos,
portanto, inexigível qualquer comprovação de insuficiência de recursos. Atentemos, ainda, para a

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20021109284838300000042540062
Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 10
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 12

circunstância de que a lei se refere "àqueles que perceberem salário". Logo, primeiro, o destinatário da
norma não é outro senão o trabalhador, pois empregador não percebe salário; e, segundo, não se
cogita de concessão de gratuidade "de ofício" a empregador.

Já o §4º do mesmo artigo celetista abrange as situações em que, não


obstante o rendimento do trabalho supere o percentual de "40% (quarenta por cento) do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social", a miserabilidade seja comprovada por outros
meios. Assim, nesse caso, a concessão da gratuidade estaria a critério do magistrado, a partir dos
elementos de convencimento carreados aos autos, cumpre ressaltar.

No caso, constata-se que a ação foi ajuizada em 19/07/2016, portanto ante


s da vigência da Lei nº 13.467/2017. Logo, sob pena de ilegal retroação da Lei, não pode a parte ser
surpreendida pela inovação no ordenamento, até porque condição nova e mais gravosa foi imposta ao
requerente da gratuidade de justiça. A segurança jurídica, pedra angular em um ordenamento que se diga
cunhado num Estado Democrático de Direito, não pode ser solapada sob a premissa - aliás, equivocada -
de que se estaria fazendo aplicação imediata de norma processual.

Assim, considerando que o pedido de gratuidade foi formulado na petição


inicial da reclamação trabalhista (ID 40edfa5 - Pág. 2), oportunidade em que a parte autora, por seu
advogado, afirmou não poder arcar com as custas e honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento
e de sua família e que a parte Autora firmou declaração de pobreza (ID f1d2e03) , atendidos estão os
requisitos para a obtenção da gratuidade, de acordo com as normas vigentes ao tempo da
propositura da ação.

Dou provimento ao recurso, para conceder à parte autora o benefício da


gratuidade de justiça, como permite o art. 790 da CLT.

DO INTERVALO INTRAJORNADA

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"II.4 - JORNADA: O reclamante alegou na EMENDA SUBSTITUTIVA que "...laborava


na jornada de trabalho de 24 (vinte e quatro) horas de trabalho por 72 (setenta e duas
horas) de descanso, sendo que, durante todo o período imprescrito até a data de seu
desligamento, o empregado realizou, além dos plantões ordinários, mais 7 a 8 plantões

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20021109284838300000042540062
Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 11
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 13

extraordinários de 24 horas por mês, sendo que a Reclamada nunca remunerou


corretamente esses plantões. (...) Vale ressaltar que o reclamante NÃO teve intervalo
intrajornada superior a 40/50 minutos para refeição e descanso. Observa-se, ainda, que
a empregadora também não aplicou corretamente o percentual de 100% (cem por cento)
para os plantões realizados pelo reclamante aos domingos e feriados, considerando que
laborava em média 2 (dois) domingos por mês e metade dos feriados. Ainda com relação
ao pagamento das horas extras, a empresa deixou de utilizar o limite de 40 (quarenta)
horas semanais e aplicar o correto divisor no cálculo das horas extras, deixando de
observar norma por ela mesma criada..." (id fd5e4f8 - Págs. 02/03).

Em sua defesa, a reclamada negou o trabalho na jornada alegada na EMENDA


SUBSTITUTIVA, bem como afirmou que respeita as normas coletivas, cujo divisor para
apuração do salário hora previsto é 220:00 horas/mês, mesmo para a escala de 24 x 72
horas, na qual eram usufruídos regularmente os intervalos.

Neste aspecto, colhe-se dos depoimentos prestados pelas testemunhas na audiência de


11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386) o seguinte:

[..]

Verifica-se pelo depoimento da testemunha ANTÔNIO BARROS que a sua semana


dispunha de 09 (nove) dias e não 07 (sete), pois se três operadores trabalhassem 03
(três) plantões de 24 horas por semana não caberiam todos nos 07 (sete) dias, sendo,
pois, o seu depoimento imprestável.

Devem, assim, prevalecer os fatos narrados pela testemunha EDSON CLAUDIO, no


sentido de que eram realizados, em média, 04 plantões extras a cada mês, sendo certo
que em cada plantão eram usufruídos os dois intervalos regularmente (1:00 hora a cada
intervalo).

Registre-se que para os trabalhadores que atuam em escala de 12 horas de trabalho por
36 horas de descanso se concede um único intervalo de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 11:00 horas a cada escala. Assim, para os que atuam em escala de 24
horas de trabalho devem ser concedidos dois intervalos de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 22:00 horas.

Quanto ao trabalho nos finais de semana, somente aquele realizado aos domingos que
se remunera com adicional de 100%, em face dos termos das normas coletivas trazidas
aos autos, entretanto, estes não foram identificados na inicial ou nos depoimentos
prestados na audiência 11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386).

Neste aspecto, o artigo 71, da CLT, é claro ao dispor que para o "...trabalho contínuo,
cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para
repouso e alimentação, o qual será, no mínimo, de uma hora...", não havendo legislação
que imponha a concessão de 1:00 hora de intervalo a cada seis trabalhadas. Ao
contrário, o mencionado artigo da CLT determina somente o intervalo de 15 minutos
para o trabalho em jornadas de 6:00 horas.

Se considerarmos a escala de 24 x 72 horas, são realizados cerca de 08 (oitos) plantões


a cada mês de 30 dias, ou seja, realmente restou incontroverso que o reclamante
trabalhava por 04 (quatro) plantões extras ao mês.

Diante de todo o exposto, se convenceu o Juízo que o reclamante trabalhava em 04


(quatro) plantões extras em média por mês, com 2:00 horas de intervalo a cada plantão,
perfazendo cerca de 88:00 horas extras mensais, sendo certo que há pagamento de
horas extras na ficha financeira do reclamante (fls. 225/238) e recibos de pagamento
(fls. 255/306), sob os códigos 0230 e 0030, as quais devem ser deduzidas em seus
valores efetivamente pagos.

Inicialmente, , as normas coletivas do quanto ao divisor das horas extras período


imprescrito (19.07.2011) trazidas pelas partes preveem na clausula 7ª (a partir de
01.04.2012), na cláusula 9º (a partir de 01.05.2014) a utilização do divisor de 220 horas
para apuração do salário-hora e o percentual de 50%.

A partir de 01.05.2016, norma coletiva 2016-2018, em sua cláusula 6ª expressamente


fixou o divisor de 200 horas para apuração do salário-hora para o regime de trabalho

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 12
Número do documento: 20021109284838300000042540062
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diário e o divisor de 192 horas para apuração do salário-hora para regimes de trabalho
em escalas, o que vem sendo observado.

Portanto, não há que se falar em aplicação do divisor de 200 ou 192 horas para efeito
do cálculo das horas extraordinárias antes de 01.05.2016, devendo ser respeitadas as
disposições normativas, em face do previsto no artigo 7º, inciso XXVI da Constituição
Federal.

Assim, devidas as horas extras com adicional de 50%, arbitradas em 88:00 horas
mensais e adicional noturno, arbitrado em 28:00 horas mensais, no período imprescrito
até 18.07.2016 (ajuizamento da ação), e os reflexos no repouso remunerado, na base de
1/6, nas férias com adicional de 1/3 e 13º salários, pela média física mensal, no FGTS
(8,0%) a ser depositado, observada a variação salarial, a base de cálculo formada pelo
salário fixo, adicional de insalubridade e triênio, o divisor de 220 horas/mês e de 192
horas/mês (a partir de 01.05.2016).

Não há reflexo do repouso semanal remunerado sobre as parcelas acima (férias, 13º
salários, aviso prévio e FGTS), em face do entendimento contido na Orientação
Jurisprudencial nº 394, da SBDI-I, do TST." (ID f093b34)

O Autor sustenta que os plantões são feitos ininterruptamente durante 24


horas, não existindo outros funcionários da Recorrida para substituí-lo nos intervalos para refeição e
descanso, impossibilitando desta forma que o Recorrente se ausente de seu local de trabalho; que a
reclamada sequer informou a existência de outros empregados para substituir o Reclamante durante os
seus intervalos e que foi confessado pela Recorrida que o Recorrente não poderia ausentar-se do seu local
de trabalho para realizar os seus intervalos de refeições.

Analiso.

A Ré não trouxe aos autos os controles de frequência.

O Magistrado colheu os depoimentos do autor e de duas testemunhas:

Depoimento pessoal do reclamante: "Indagado disse que no período imprescrito o


depoente trabalhou no tratamento de água na estação de Mazomba em Itaguaí em
escala de 24x24 horas, com cerca de 40 minutos de intervalo de almoço e mais 40
minutos de intervalo para jantar; que havia um cartão de ponto que era assinado pelo
depoente uma vez ao mês onde anotava a escala de 24 x 72 horas, mas em decorrência
do baixo número de pessoas trabalhando o depoente atuava em escala de 24x24 horas;
que no período imprescrito o depoente não ficou afastado do trabalho; que na Mazomba
trabalhava um funcionário por turno de 24 horas; que o depoente atuava verificando a
dosagem de cloro e flúor que eram inseridas na água de tratamento, sendo também
realizados testes na água a cada 2 horas; que no intervalo de cada teste de água o
depoente corria a linha de abastecimento para verificar a pressão e se não havia
qualquer entupimento; que o depoente verificava o crivo (tubulação furada tipo chuveiro
invertido) para não passar detritos para a tubulação, bem como limpava a linha de água
que passava pelo cloro para manter o fluxo constante; que a verificação do crivo e
limpeza da linha ocorriam de 2 a 4 vezes por dia; que com o tempo bom o depoente
levava 30 minutos nessas tarefas; que após a limpeza do crivo e da linha de água havia
alteração na pressão e o depoente tinha de ajustar a regulagem dos aparelhos que
abasteciam o cloro e o flúor, não tendo o depoente como precisar quanto tempo gastava
pois às vezes a regulagem era fácil e às vezes não, acreditando que gastasse cerca de 30
minutos; que o depoente não se recorda quantos tickets-refeição recebia, mas era o
número previsto na norma coletiva; que o depoente tinha como encarregado o Sr.
Renato; que a cada plantão um encarregado fazia visita ao posto de trabalho do

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do documento: 20021109284838300000042540062
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depoente, lá permanecendo de 1 a 2 horas; que o depoente recebia pagamento de horas


extras como se estivesse realizando a escala de 24x72 horas e não a de 24x24 horas; que
não havia orientação da ré de não usufruir de 1h de intervalo, mas o serviço não
permitia que fosse gozado o intervalo integral." (ID 8e8b20d) (g.n.)

Primeira testemunha do reclamante: (ANTONIO BARROS PEREIRA), "Inquirido disse


que no período imprescrito atuou como operador de tratamento de água, no posto de
mananciais de Mazomba, tendo trabalhado na ré de 1991 a fevereiro de 2017; que no
posto de Mazomba trabalhavam 3 operadores no tratamento de água, o depoente, o
autor e o Sr. Altamiro, sendo que um rendia o outro, uma vez que a cada turno só atuava
um operador; que a escala era de 24x72 horas, mas em razão do reduzido número de
funcionários, além do plantão da escala, trabalhava mais 3 plantões de 24h por semana,
sendo que todos os operadores mencionados também faziam os 3 plantões; que
esporadicamente comparecia o encarregado no posto da Mazomba; que geralmente o
depoente trabalhava no plantão das 8 às 8 horas; que em razão do sistema de dosagem
do cloro, tinha de ficar monitorando o equipamento dosador e por isso não podia sair
do posto para realizar a refeição; que em razão da oscilação da quantidade de água,
havia oscilação de vazão e por isso tinha de monitorar os equipamentos de dosagem de
cloro e flúor; que somente atuava o operador no posto da Mazomba, sem qualquer
auxiliar, o que ocorria com todos os operadores que atuavam no setor; que o depoente
trabalhava 8/9 plantões normais de 24h e mais 3 ou 4 plantões extras por mês; que o
depoente retificou o depoimento para dizer que eram 8 a 9 plantões extras por mês; que
na Mazomba não havia refeitório ou dormitório, sendo que dormia debaixo da bancada
do laboratório, onde eram realizadas as operações; que o depoente não dormia, apenas
descansava, sendo que a cada 30 minutos em média levantava para verificar os
dosadores em dias que não houvesse chuva."

Primeira testemunha da reclamada: (EDSON CLAUDIO DA SILVA DIAS) - "Inquirido


disse que trabalha na ré desde 1990; que no período imprescrito o depoente atuou na
função de encarregado; que o depoente era o encarregado do autor, que trabalhou em
Mazomba e em Muriqui; que a cada turno trabalhava apenas um operador; que em
razão do reduzido número de funcionários, trabalhavam em cada uma das unidades 3
operadores; que o autor trabalhava em plantão de 24x72 horas, além de 3 ou 4
plantões extras de 24h a cada mês, em face do revezamento entre os operadores que
atuavam em turnos de 24h; que o turno era das 7:30 às 7:30h do dia seguinte; que
tanto na Mazomba como em Muriqui havia o monitoramento da água em sala de
operação no interior de uma casa, tendo o local para fazer a refeição; que o trabalho
necessitava de muita atenção em razão de atuarem com cilindros de cloro a fim de evitar
qualquer tipo de vazamento ou contaminação; que de 2 em 2 horas era realizado o teste
de água, que levava de 15 a 20 minutos e no restante do tempo o operador ficava
monitorando os dosadores, como também tinha de ir na área de captação onde havia um
crivo que era necessário verificar para que não houvesse entupimento; que o depoente
comparecia aos postos uma ou duas vezes por semana; que não havia proibição de tirar
1h para almoço e jantar, mas o funcionário não podia sair da unidade em razão do
trabalho com o cloro; que o operador não podia dormir, mas poderia descansar,
permanecendo com atenção para qualquer tipo de vazamento; que o depoente não se
recorda dos períodos que o autor trabalhou em Mazomba e Muriqui, mas ficou mais
tempo na Mazomba, onde a testemunha Antonio também trabalhou; que em média eram
realizados 3 ou 4 plantões extras ao mês, mas se houvesse necessidade poderia haver
convocação para mais algum plantão; que não era comum o trabalho por mais de 3 ou 4
plantões ao mês." (ID 41a93b5) (g.n.)

É incontroverso que o Autor trabalhava sozinho no local e a testemunha


da Ré afirmou que não havia proibição de usufruir 1h de intervalo no almoço e no jantar, mas o
empregado não podia sair da unidade em razão do trabalho com o cloro e que o operador não podia

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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dormir, mas poderia descansar, permanecendo com atenção para qualquer tipo de vazamento. Ora, se o
setor contava apenas com 01 empregado e este não podia se ausentar, por certo, o intervalo intrajornada,
era reduzido pela necessidade do trabalho, impedimento causado pelo empregador e em benefício deste e
não por vontade do empregado.

A garantia do intervalo intrajornada não está apenas contemplada pela


norma legal imperativa do art. 71 da CLT, como também tem assento constitucional, no art. 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal. A concessão do intervalo intrajornada não é benesse, liberalidade do
empregador. Trata-se de norma de saúde pública, gestada com o duplo objetivo de preservar a saúde
física e mental do empregado. Importa, assim, em medida legislativa de cunho "profilático", pode-se
dizer, porque visa a prevenir doenças relacionadas ao trabalho e acidentes de trabalho ocasionados por
fadiga laboral. Daí a indisponibilidade do conteúdo da norma.

A supressão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada faz surgir a


obrigação do pagamento de uma hora acrescida do adicional de 50%, como estatui o § 4º, do art. 71, da
CLT. Suprimido ou concedido parcialmente - como é a hipótese - o intervalo destinado à alimentação e
ao repouso do trabalhador, no curso da jornada de trabalho com duração superior a seis horas, nasce o
direito ao pagamento integral da hora que deveria ter sido de repouso, com acréscimo de 50%, sem
dedução dos minutos efetivamente usufruídos. Ademais, a natureza salarial da hora relativa ao intervalo
suprimido, ou concedido parcialmente, e sua consequente repercussão nas demais parcelas do contrato, é
matéria já pacífica, consoante a novel redação da Súmula nº 437 do C. TST, que transcreve-se:

"SÚM-437 INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO.


APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs
307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012

I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão ou a concessão parcial do intervalo


intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica
o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com
acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho
(art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de
remuneração.

II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a


supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene,
saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e
art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.

III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido
pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação,
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 15
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 17

IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do


intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o
período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo
adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT." (g.n.)

Acrescento que o entendimento acima resta consolidado em decisão,


prolatada nos autos do Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº 0001484-42.2016.5.01.0000
(DEJT em 12/05/2017), deste Tribunal:

"Decidiu o órgão colegiado do Tribunal Pleno, por maioria absoluta, que "o
descumprimento do intervalo previsto no artigo 71 da CLT tem como consequência
pagamento do período integral do intervalo para repouso e alimentação, mesmo quando
fruída alguma parcela de descanso, em conformidade com o entendimento consolidado
na Súmula 437, I, do TST. [..]" (IUJ-0001484-42.2016.5.01.0000; Relatora: Claudia
Regina Vianna Marques Barrozo; Julgamento: 04/05/2017; DEJT: 12/05/2017)

Dou provimento para condenar a Ré ao pagamento de 2 horas por dia


trabalhado em cada plantão, acrescidas de 50%, pela fruição parcial dos intervalos (almoço e jantar). Por
habituais, são devidos os reflexos no RSR; férias, acrescidas de 1/3; 13º salário; FGTS e verbas
rescisórias.

DAS HORAS EXTRAS PELA JORNADA REDUZIDA

O Autor trabalhou na Ré de 13/11/1980 a 04/11/2015, na função de


Mecânico de Hidrômetro, em escala de 24 x 72 horas.

Na inicial (emenda substitutiva), postulou o pagamento de horas extras


alegando que "o divisor mensal compatível com a jornada de 24 x 72 horas é o de 192 horas, já que
neste tipo de jornada estão previstas, no máximo, oito plantões ordinários mensais que, multiplicados
pelas 24 horas, atingem um total de 192 horas".

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

""II.4 - JORNADA: O reclamante alegou na EMENDA SUBSTITUTIVA que "...laborava


na jornada de trabalho de 24 (vinte e quatro) horas de trabalho por 72 (setenta e duas

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 16
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 18

horas) de descanso, sendo que, durante todo o período imprescrito até a data de seu
desligamento, o empregado realizou, além dos plantões ordinários, mais 7 a 8 plantões
extraordinários de 24 horas por mês, sendo que a Reclamada nunca remunerou
corretamente esses plantões. (...) Vale ressaltar que o reclamante NÃO teve intervalo
intrajornada superior a 40/50 minutos para refeição e descanso. Observa-se, ainda, que
a empregadora também não aplicou corretamente o percentual de 100% (cem por cento)
para os plantões realizados pelo reclamante aos domingos e feriados, considerando que
laborava em média 2 (dois) domingos por mês e metade dos feriados. Ainda com relação
ao pagamento das horas extras, a empresa deixou de utilizar o limite de 40 (quarenta)
horas semanais e aplicar o correto divisor no cálculo das horas extras, deixando de
observar norma por ela mesma criada..." (id fd5e4f8 - Págs. 02/03).

Em sua defesa, a reclamada negou o trabalho na jornada alegada na EMENDA


SUBSTITUTIVA, bem como afirmou que respeita as normas coletivas, cujo divisor para
apuração do salário hora previsto é 220:00 horas/mês, mesmo para a escala de 24 x 72
horas, na qual eram usufruídos regularmente os intervalos.

Neste aspecto, colhe-se dos depoimentos prestados pelas testemunhas na audiência de


11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386) o seguinte:

[..]

Verifica-se pelo depoimento da testemunha ANTÔNIO BARROS que a sua semana


dispunha de 09 (nove) dias e não 07 (sete), pois se três operadores trabalhassem 03
(três) plantões de 24 horas por semana não caberiam todos nos 07 (sete) dias, sendo,
pois, o seu depoimento imprestável.

Devem, assim, prevalecer os fatos narrados pela testemunha EDSON CLAUDIO, no


sentido de que eram realizados, em média, 04 plantões extras a cada mês, sendo certo
que em cada plantão eram usufruídos os dois intervalos regularmente (1:00 hora a cada
intervalo).

Registre-se que para os trabalhadores que atuam em escala de 12 horas de trabalho por
36 horas de descanso se concede um único intervalo de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 11:00 horas a cada escala. Assim, para os que atuam em escala de 24
horas de trabalho devem ser concedidos dois intervalos de 1:00 hora, sendo trabalhadas
efetivamente 22:00 horas.

Quanto ao trabalho nos finais de semana, somente aquele realizado aos domingos que
se remunera com adicional de 100%, em face dos termos das normas coletivas trazidas
aos autos, entretanto, estes não foram identificados na inicial ou nos depoimentos
prestados na audiência 11.12.2018 (id 41a93b5 - fls. 385/386).

Neste aspecto, o artigo 71, da CLT, é claro ao dispor que para o "...trabalho contínuo,
cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para
repouso e alimentação, o qual será, no mínimo, de uma hora...", não havendo legislação
que imponha a concessão de 1:00 hora de intervalo a cada seis trabalhadas. Ao
contrário, o mencionado artigo da CLT determina somente o intervalo de 15 minutos
para o trabalho em jornadas de 6:00 horas.

Se considerarmos a escala de 24 x 72 horas, são realizados cerca de 08 (oitos) plantões


a cada mês de 30 dias, ou seja, realmente restou incontroverso que o reclamante
trabalhava por 04 (quatro) plantões extras ao mês.

Diante de todo o exposto, se convenceu o Juízo que o reclamante trabalhava em 04


(quatro) plantões extras em média por mês, com 2:00 horas de intervalo a cada plantão,
perfazendo cerca de 88:00 horas extras mensais, sendo certo que há pagamento de
horas extras na ficha financeira do reclamante (fls. 225/238) e recibos de pagamento
(fls. 255/306), sob os códigos 0230 e 0030, as quais devem ser deduzidas em seus
valores efetivamente pagos.

Inicialmente, , as normas coletivas do quanto ao divisor das horas extras período


imprescrito (19.07.2011) trazidas pelas partes preveem na clausula 7ª (a partir de
01.04.2012), na cláusula 9º (a partir de 01.05.2014) a utilização do divisor de 220 horas
para apuração do salário-hora e o percentual de 50%.

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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 17
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 19

A partir de 01.05.2016, norma coletiva 2016-2018, em sua cláusula 6ª expressamente


fixou o divisor de 200 horas para apuração do salário-hora para o regime de trabalho
diário e o divisor de 192 horas para apuração do salário-hora para regimes de trabalho
em escalas, o que vem sendo observado.

Portanto, não há que se falar em aplicação do divisor de 200 ou 192 horas para efeito
do cálculo das horas extraordinárias antes de 01.05.2016, devendo ser respeitadas as
disposições normativas, em face do previsto no artigo 7º, inciso XXVI da Constituição
Federal.

Assim, devidas as horas extras com adicional de 50%, arbitradas em 88:00 horas
mensais e adicional noturno, arbitrado em 28:00 horas mensais, no período imprescrito
até 18.07.2016 (ajuizamento da ação), e os reflexos no repouso remunerado, na base de
1/6, nas férias com adicional de 1/3 e 13º salários, pela média física mensal, no FGTS
(8,0%) a ser depositado, observada a variação salarial, a base de cálculo formada pelo
salário fixo, adicional de insalubridade e triênio, o divisor de 220 horas/mês e de 192
horas/mês (a partir de 01.05.2016).

Não há reflexo do repouso semanal remunerado sobre as parcelas acima (férias, 13º
salários, aviso prévio e FGTS), em face do entendimento contido na Orientação
Jurisprudencial nº 394, da SBDI-I, do TST." (ID f093b34)

O Autor postula a reforma da sentença, com o deferimento do pedido


formulado na inicial. Alega que é aplicável a norma regulamentar interna da Ré, vigente à data da
contratação que estabelece a jornada semanal de todos os seus funcionários reduzida a 40 horas, inclusive
os sujeitos a escala de 24x72 , como é o caso.

Analiso.

No caso, há 3 situações bem distintas nos processos da CEDAE que


versam sobre divisor de HE: na primeira, o empregado está submetido à jornada semanal de 44h e
postula o divisor de 200 horas, ou seja, trabalha 8h diárias e 44h semanais, e aí não haveria direito ao
divisor de 200 horas; no segundo caso, o trabalhador estaria sujeito à jornada de 40h semanais e,
portanto, faria jus ao divisor de 200 horas.

Há, contudo, um terceiro caso, expressamente ressalvado nas normas


coletivas, da escala de 24 x 72. Muito bem. O caso dos autos se situa na terceira hipótese.

É incontroverso que o autor laborava em escala de plantão de 24 x 72


horas, e não de 8 horas diárias. As normas coletivas juntadas estabelecem na cláusula 51ª que "a
Companhia, por liberalidade, manterá em vigor a jornada máxima de 40 (quarenta) horas para todos
os empregados que não trabalham em regime de escala 24 x 72, ressalvadas as situações de
empregados que, em virtude da Lei, estejam submetidos à jornada semanal especial" [destaquei]. Assim,
a própria norma coletiva fez exceção àqueles que, como o Autor, "trabalham em regime de escala 24 x
72". (ID c8b0318 - Pág. 4)

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 18
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 20

Quanto à fixação do divisor de horas mensais, imperioso se faz adotar o


critério da proporcionalidade. Nesse sentido, o divisor 220 foi estabelecido com base na jornada e
limitação da duração do trabalho semanal, observada a especificação contida no inciso XIII do art. 7º da
Constituição de 1988.

Desta forma, a consequência lógica da redução do número de horas


semanais, seja por fixação contratual ou coletiva, seria também a redução do divisor para a apuração do
valor do salário-hora.

Vale aqui ressaltar a necessidade de interpretação sistemática na leitura do


art. 64 da CLT, que determina que o salário-hora normal, no caso do empregado mensalista, será obtido
dividindo-se o salário mensal correspondente à duração do trabalho, a que se refere o artigo 58, por trinta
vezes o número de horas dessa duração (30 dias x 44 horas semanais : 06 dias úteis na semana = 220).
Assim, se o empregado tiver reduzido o número de horas semanais, deverá haver redução
proporcional também do divisor para fins de apuração do valor do salário-hora. Entendimento
diverso seria admitir a redução do valor do salário-hora para fins de apuração de verbas que
tenham essa unidade como base de cálculo. Estar o Autor submetido à escala de 24 x 72 h significa
que presta, no máximo, 8 plantões de 24h por mês. Então, o divisor deve ser obtido com a
multiplicação da jornada de 24 horas pelas 08 jornadas mensais por ele apontadas (24 x 8= 192).

Ora, se para aqueles que são destinatários das 40h semanais é já pacífico,
no C. TST, que o divisor a ser adotado para o cálculo do salário-hora será 200, em razão da configuração
da proporcionalidade, com muito mais razão se repele a tese de que os submetidos à jornada ainda
inferior poderiam estar sujeitos ao divisor de 220h!

A adoção do divisor de 220 para os que trabalham em escala de 24 x 72,


na melhor das hipóteses, contraria o entendimento contido na Súmula nº 431 do C. TST, in verbis:

"SUM-431 SALÁRIO-HORA. EMPREGADO SUJEITO AO REGIME GERAL DE


TRABALHO (ART. 58, CAPUT, DA CLT). 40 HORAS SEMANAIS. CÁLCULO.
APLICAÇÃO DO DIVISOR 200 (redação alterada na sessão do tribunal pleno realizada
em 14.09.2012) - Res. 185/2012 - DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

Para os empregados a que alude o art. 58, caput, da CLT, quando sujeitos a 40 horas
semanais de trabalho, aplica-se o divisor 200 (duzentos) para o cálculo do valor do
salário-hora."

A jurisprudência do C. TST é firme no sentido de, à luz do art. 64 da


CLT, ser inaplicável o divisor de 220 horas para aqueles que laboram na escala de 24 x 72 na CEDAE,
incidindo, ao revés, o divisor de 192h. O divisor deve se adequar à jornada efetivamente cumprida.

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 19
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 21

Mas há ainda o aspecto de que pretender a aplicação do referido divisor


àqueles que trabalham na escala em apreço configura, no mínimo, interpretação nefasta da norma
coletiva. Isto porque quando a norma coletiva ressalva o direito à manutenção da jornada semanal de 40h
(e, como consectário, dá ensejo ao divisor de 200, para os que trabalham 40h semanais), excluindo
aqueles que "trabalham em regime de escala 24 x 72", está apenas a dizer o óbvio: que a especificidade
dessa escala implica, necessariamente, na extrapolação do limite semanal de 44h, dada a alternância de
48h e 24h de labor semanal. Nada, além disso.

Entendo cabível, portanto, a condenação ao pagamento de diferenças


de horas extras tendo em vista que o divisor a ser aplicado é de 192 horas.

Contudo, em decisão, prolatada nos autos do Incidente de Resolução de


Demandas Repetitivas nº 0101536-12.2017.5.01.0000 (DEJT: 14/06/2019), deste Tribunal, fixou-se a
seguinte tese jurídica:

"São válidas as cláusulas dos acordos coletivos celebrados pela CEDAE, com
vigência entre 2004 e 2016, que fixaram o divisor 220 para a apuração das horas
extras dos empregados que se submetem a 40 horas semanais de trabalho."

Nesse contexto, considerando que a Norma Coletiva dos autos prevê que a
carga horária semanal de 40 horas, não acarretará em alteração do divisor de 220 horas (ex. ID c8b0318 -
Pág. 4), não há como dar provimento ao recurso, sem prejuízo da uniformização da jurisprudência deste
Regional.

Porém, ressalvo o meu entendimento no particular, no que tange à


aplicação do divisor 192 para as jornadas realizadas em regime de revezamento 24 x 72.

Assim, com ressalva de entendimento, nego provimento ao recurso.

DO TICKET-REFEIÇÃO DOS PLANTÕES EXTRAORDINÁRIOS

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
https://pje.trt1.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20021109284838300000042540062
Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 20
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 22

"II.5 - TICKET - PLANTÕES: O autor alegou trabalhar em escala de 24 x 72 horas, bem


como que a reclamada não forneceu os tickets para os dias em que trabalhou em
plantões extras. A reclamada contestou o pedido, aduzindo ter concedido de forma
correta os tickets, bem como que as normas limitam a 24 (vinte e quatro) tickets mensais.

A cláusula 3ª da norma coletiva 2014/2016 (fls. 58/59), que repete a dos anos anteriores,
dispõe o seguinte:

"Cláusula 3ª - TICKET REFEIÇÃO - A Companhia concederá para seus empregados,


mensalmente, 01 (um) ticket-refeição por dia trabalhado, a partir de 1º de maio de 2014,
no valor facial unitário de R$ 21,21 (vinte e um reais e vinte e um centavos), em
quantidade máxima de 24 (vinte e quatro) tickets, com exceção do previsto no parágrafo
4º, descontando de cada um os valores mensais irreajustável, correspondente a unidade
de menor padrão monetário vigente, sendo na data deste acordo o valor de R$

0,01 (um centavo) e/ou valor que vier a ser fixado pela paridade decorrente da
Legislação Federal, a título de participação neste benefício, obedecidas as disposições
dos parágrafos seguintes.

(...)

Parágrafo 4º - Os empregados escalados previamente para plantões, desde que não


sujeitos a escala de 24 x 72, farão jus ao ticket-refeição.

Parágrafo 5º - O benefício do ticket refeição ora acordado, pela sua própria natureza e
de acordo com a legislação específica que rege a matéria, não será, em qualquer
hipótese, incorporado aos salários dos empregados.

Parágrafo 6º - Sempre que a freqüência do empregado for integral, ou seja, coincidir


com o número de dias de trabalho no mês, será concedido o quantitativo de 24 (vinte e
quatro) tickets refeição no mês seguinte ao da apuração."

De fato, a norma coletiva em seu caput limita a concessão do ticket refeição a 24 (vinte
e quatro) tickets, FAZENDO EXCEÇÃO quanto aos empregados escalados previamente
para plantões, desde que não sujeitos a escala e 24 x 72que também farão jus ao
benefício.

Ora, se o reclamante recebia os 24 (vinte e quatro) tickets refeição por mês e trabalhava
em escala de 24 x 72, não há que se falar no fornecimento de tickets pelos 04 plantões
extras reconhecidos acima, em face do disposto no parágrafo 4º, acima transcrito, de
interpretação restritiva que se deve dar às normas coletivas de trabalho.

Por fim, o ticket refeição não integra o salário, conforme expresso cláusula normativa
acima transcrita.

Diante disso, improcedem os pedidos das alíneas "F" e "G" da inicial." (ID f093b34)

O Autor sustenta que faz jus ao pagamento de ticket-refeição dos plantões


extraordinários, pois como se observa da própria cláusula 7ª do ACT, a quantidade máxima de 24 tickets
possui uma exceção prevista no parágrafo 5º da referida cláusula, correspondente aos empregados
escalados previamente para plantões.

Analiso.

A sentença de primeiro grau acolheu a alegação de trabalho em plantões


extras, fixando estes em 04 plantões, por mês; decisão mantida por este acórdão.

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 21
Número do documento: 20021109284838300000042540062
Fls.: 23

As normas Coletivas, a exemplo da 2014/2016 (cláusula 3ª, §4º ID.


a97760b - Pág. 1-2), cujo teor é o mesmo, à exceção do número da cláusula e do valor do tíquete
estabelecem, verbis:

"Cláusula 3ª - A Companhia concederá aos seus empregados, mensalmente, 01 (um)


ticket-refeição por dia trabalhado, a partir de 1º de maio de 2014, no valor facial unitário
de R$21,21 (vinte e um reais e vinte e um centavos), em quantidade máxima de 24 (vinte
e quatro) tickets, com exceção do previsto no parágrafo 4º, descontando de cada um o
valor mensal irreajustável (...).

(...)

Parágrafo 4º - Os empregados escalados previamente para plantões, desde que não


sujeitos a escala de 24 x 72, farão jus ao ticket-refeição." (g.n.)

Como se verifica, o §4º acima transcrito excetua o pagamento do ticket-


refeição aos empregados que trabalham em plantões sujeitos à jornada de 24 X 72. Tal exceção se dá
pelo fato de que os empregados que trabalham nesta jornada especial, na realidade, já realizam plantões.

Entretanto, o pedido do Autor não diz respeito aos plantões normalmente


trabalhados, mas aos plantões extras, ou seja, aqueles laborados nos dias de folgas, fora da escala de 24
X 72.

E nesta perspectiva, não verifico qualquer impedimento da norma, no que


diz respeito aos plantões extras.

Ademais, não é razoável pensar que o empregado não necessita se


alimentar, quando trabalha em plantões extras de 12 horas.

Assim, estando à disposição do empregador é injustificável o não


recebimento da parcela, nestes dias, que deve considerar o fixado na sentença de primeiro, mantida por
este acórdão (04 plantões mensais).

Registro que não há falar em dedução dos tíquetes entregues a mais,


justamente pelo fato de tal determinação, para pagamento da totalidade dos tíquetes, ser proveniente da
Norma Coletiva.

Dou provimento para condenar a Ré ao pagamento dos Tíquetes


Refeição, em virtude de 04 plantões extras, mensais.

DA CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IPCA

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Fls.: 24

O Juízo de primeiro grau assim decidiu:

"II.7 - CORREÇÃO MONETÁRIA: Os créditos trabalhistas são corrigidos


monetariamente, conforme legislação própria (Lei nº 8.177/1991 e parágrafo 7º, do
artigo 879, da CLT, com redação dada pela Lei nº 13.467/2017), sendo mensalmente
divulgadas tabelas de índices pelo Colendo TST. " (ID f093b34)

O Autor requer que a correção monetária das verbas salariais seja feita
pelo IPCA.

Analiso.

Desde o julgamento da ArgInc-479-60.2011.5.04.0231 pelo Pleno do


TST, em 04/08/2015, celeuma se instaurou sobre a atualização monetária dos débitos trabalhistas.
Naquele julgado, com base no decidido pelo STF nas ADIs 4.357,e 4425, e na decisão proferida nos
autos da Ação Cautelar 3764 MC/DF, o Pleno do TST declarou a inconstitucionalidade da expressão
"equivalentes à TRD", contida no caput do art. 39 da Lei 8.177/91, e adotou "a técnica de interpretação
conforme a Constituição para o texto remanescente do dispositivo impugnado, a preservar o direito à
atualização monetária dos créditos trabalhistas". Em lugar da TR, definiu-se "a variação do Índice de
Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de atualização a ser utilizado na tabela de
atualização monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho", critério que, sem dúvida alguma,
melhor promovia o reequilíbrio da "equação econômico-financeira entre devedor e credor".

Entretanto, em 14/10/2015, no julgamento da Medida Cautelar em


Reclamação 22.012/RS, ajuizada pela Federação Nacional dos Bancos - FENABAN contra o C. Tribunal
Superior do Trabalho, o Ministro Dias Toffoli concedeu liminar para suspender os efeitos da decisão
oriunda da ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, que determinava a aplicação da tabela única editada pelo
CSJT. Com isto, permaneceram suspensas a decisão do TST e a "tabela única" editada pelo CSJT.

Em boa hora, porém, esse panorama jurídico é novamente alterado, pois,


em 5/12/2017, a 2ª Turma do STF, por maioria, julgou improcedente a Rcl 22.012, nos termos do voto do
Ministro Ricardo Lewandowski, vencidos os Ministros Dias Toffoli (Relator) e Gilmar Mendes.
Concluiu o STF que a decisão proferida nos autos da ArgInc-479-60.2011.5.04.0231 não configura
desrespeito ao decidido nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) 4357 e 4425, que analisaram a
emenda constitucional sobre precatórios. Em síntese, foi superada a assertiva de que a utilização de
índice diverso da TR para atualização monetária dos débitos trabalhistas importaria atritar com o
decidido pelo STF nas ADI's.

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E se já não mais se cogita de efeito suspensivo na aplicação do IPCA-E


aos débitos trabalhistas, com peculiar relevância emergem as "premissas" da decisão na ArgInc-479-
60.2011.5.04.0231 quando cotejados com recente decisão do STF nos autos do RE 870947, que teve
repercussão geral reconhecida.

Com efeito, o silogismo jurídico na decisão do C. TST partiu das


seguintes "premissas", consoante trecho do Acórdão, in verbis:

a) o crédito trabalhista reconhecido por sentença judicial, representativo de obrigação


expressa em dinheiro, tem o seu valor depreciado a cada mês, em virtude da inflação;

b) a depreciação mencionada no item anterior caracteriza empobrecimento do credor


trabalhista e correlato enriquecimento ilícito do devedor, ao beneficiar-se de sua
própria torpeza, quando insiste em retardar o cumprimento, a tempo e modo, da
obrigação contida na decisão judicial definitiva, postura essa, aliás, que viola dever
ético que compreende o respeito à atuação do Poder Judiciário;

c) o reconhecimento de incidência de índice de atualização da dívida que não represente


a efetiva e plena desvalorização do poder aquisitivo viola o direito subjetivo do credor
trabalhista à própria atualização e, de igual modo, o direito de propriedade que lhe é
assegurado constitucionalmente (artigo 5º, XXII); os também constitucionais proteção à
coisa julgada (artigo 5º, XXXVI), isonomia de tratamento (artigo 5º, caput) e princípio
da separação dos Poderes (artigo 2º); e atinge a eficácia e a efetividade do título
judicial."

A negativa de "preservação do valor real" do crédito, em última análise,


acarreta violação à isonomia, pelo desequilíbrio entre os sujeitos da relação jurídica, "devedor e credor,
em desfavor deste último, ou seja, negar-lhe o direito acarreta o seu empobrecimento e correlato
enriquecimento do devedor, pois a dívida é quitada mutilada ou de maneira parcial, ao passo que o
sujeito passivo da obrigação dela se desincumbe de modo reduzido". No mesmo passo, a adoção de
índice prefixado para a correção monetária malfere o direito de propriedade, por não fazer face à
desvalorização da moeda.

Se a correção monetária feita por índice prefixado não é "adequada a


capturar a variação de preços da economia", ela é "inidônea a promover os fins a que se destina",
conclusão a que chegou o Plenário do STF, por maioria, em 20/11/2017, no julgamento do Recurso
Extraordinário 870947, em que se discutiam os índices de correção monetária e os juros de mora a serem
aplicados nos casos de condenações impostas à Fazenda Pública. Eis a Ementa:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE CONDENAÇÕES
JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA
UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE
POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO
DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII).
INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DE CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA,

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QUANDO ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS.


DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR
PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CRFB, ART. 5º, CAPUT). RECURSO
EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput), no seu núcleo essencial,
revela que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na
parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda
Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-
tributária, os quais devem observar os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda
Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de relação jurídica diversa da tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança
é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto legal
supramencionado.

2. O direito fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII) repugna o disposto no art.
1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, porquanto a
atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se
destina.

3. A correção monetária tem como escopo preservar o poder aquisitivo da moeda diante
da sua desvalorização nominal provocada pela inflação. É que a moeda fiduciária,
enquanto instrumento de troca, só tem valor na medida em que capaz de ser transformada
em bens e serviços. A inflação, por representar o aumento persistente e generalizado do
nível de preços, distorce, no tempo, a correspondência entre valores real e nominal (cf.
MANKIW, N.G. Macroeconomia. Rio de Janeiro, LTC 2010, p. 94; DORNBUSH, R.;
FISCHER, S. e STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2009,
p. 10; BLANCHARD, O. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2006, p. 29).

4. A correção monetária e a inflação, posto fenômenos econômicos conexos, exigem, por


imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados a realizar a primeira
sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual os índices de correção monetária
devem consubstanciar autênticos índices de preços.

5. Recurso extraordinário parcialmente provido.

Conclui o STF que a Fazenda Pública não poderia, sem prejuízo da


isonomia, remunerar seu crédito tributário com juros superiores àqueles que utiliza para solver suas
dívidas. Em outras palavras, o STF afirmou a necessária igualdade de tratamento para credor público e
credor privado, em relação aos juros moratórios. E, em relação à correção monetária, a tese firmada pelo
STF é, em resumo, a de que a utilização da remuneração oficial da caderneta de poupança nas
condenações impostas à Fazenda Pública implica desproporcionalidade repugnada pelo direito
fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), dada a inexorável distorção entre valor nominal e
valor real da moeda, ocasionada pelo fenômeno inflacionário. No particular, vale a transcrição do
seguinte trecho do voto do Relator no RE 870947:

Ora, se o Estado não utiliza a caderneta de poupança como índice de


correção quando tem o objetivo de passar credibilidade ao investidor ou de atrair contratantes, é porque
tem consciência de que o aludido índice não é adequado a medir a variação de preços na economia. Por
isso, beira a iniquidade permitir utilizá-lo quando em questão condenações judiciais. O cidadão que
recorre ao Poder Judiciário não optou por um investimento ou negócio jurídico com o Estado. Foi

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obrigado a litigar. Tendo seu direito reconhecido em juízo, vulnera a cláusula do rule of lawvê-lo
definhar em razão de um regime de atualização casuísta, injustificável e benéfico apenas da autoridade
estatal.

A "casuística" que se verifica nos índices da remuneração da poupança


não é diversa da utilizada na TR, índice também prefixado. Não obstante, como ponderou o Ministro
Relator no RE 870947,

a correção monetária não é jamais prefixada, uma vez que a inflação é insuscetível de
captação apriorística. A variação de preços na economia é sempre constatada ex post,
mas nunca fixada ex ante, exceto em regime ditatoriais em que há controle de preços e
economia planificada.

Daí a desproporcionalidade, pois adota-se índice prefixado para,


pretensamente, dar conta de fenômeno "insuscetível de captação apriorística", a inflação.

Deveras, se o STF considera injustificável que credor público e credor


privado se submetam a regimes de tratamento diversos, em matéria de juros moratórios, e, na mesma
esteira, posiciona-se pela manutenção do IPCA-E em condenação imposta à Fazenda Pública, em virtude
da inadequação de índice prefixado para "capturar a variação de preços da economia", com muito mais
razão se deve argumentar em prol da igualdade de tratamento entre devedor público e devedor privado,
em matéria de correção monetária, na atualização do crédito trabalhista.

A primordial igualdade que se pretende atingir, na atualização do crédito


trabalhista, é, como destacado inicialmente, aquela que resulte do reequilíbrio da "equação econômico-
financeira entre devedor e credor".

A adoção do IPCA-E, independentemente da natureza jurídica ostentada


pelo devedor, irá resguardar o "direito subjetivo do credor trabalhista à própria atualização e, de igual
modo, o direito de propriedade que lhe é assegurado constitucionalmente (artigo 5º, XXII)", assim
também a proteção à coisa julgada e à isonomia de tratamento (art. 5º, caput), como arrazoado nos autos
da ArgInc-479-60.2011.5.04.0231.

Tal entendimento, repitamos, não foi infirmado pela Rcl 22.012, na qual o
STF decidiu que não configura desrespeito ao decidido nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI)
4357 e 4425 a utilização de índice diverso da TR para atualização monetária dos débitos trabalhistas.

O índice aplicável à atualização monetária, portanto, é o IPCA-E.

Vale a ressalva de que a alteração legislativa promovida pela inclusão do


§7º ao art. 879 da CLT ("§ 7º. A atualização dos créditos decorrentes de condenação judicial será feita

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pela Taxa Referencial (TR), divulgada pelo Banco Central do Brasil, conforme a Lei no 8.177, de 1º de
março de 1991.") em nada alterou o posicionamento da mais Alta Corte Trabalhista quanto à aplicação
do IPCA-E, "com respaldo em decisão vinculante do STF", como se colhe dos seguintes recentes
julgados do TST, todos posteriores à Lei nº 13.467/2017:

RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014 1 - EXECUÇÃO.


CORREÇÃO MONETÁRIA. ATUALIZAÇÃO. ÍNDICE APLICÁVEL. 1. O Pleno do
TST, no julgamento do processo ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, DEJT 14/8/2015,
declarou a inconstitucionalidade do art. 39 da Lei 8.177/1991 e, em consequência,
determinou a adoção do IPCA-E para atualização dos créditos trabalhistas, em
substituição à TRD. 2. Ao analisar os embargos de declaração que se seguiram (ED-
ArgInc - 479- 60.2011.5.04.0231, DEJT 30/6/2017), o Tribunal Superior do Trabalho
decidiu fixar novos parâmetros para a modulação dos efeitos da decisão, definindo o dia
25/3/2015 como o marco inicial para a aplicação da variação do Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de atualização. 3. Em suma, nos
termos da decisão proferida pelo Pleno do TST no julgamento do processo ArgInc-479-
60.2011.5.04.0231, deve ser mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança (TRD) para os débitos trabalhistas devidos até o dia 24/3
/2015, e, após, a partir do dia 25/3/2015, a correção deve ser realizada pelo Índice de
Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). Recurso de revista conhecido e
provido. (TST-RR-0000007-17.2016.5.04.0641, Rel. Min. Delaíde Miranda Arantes, 2ª
turma, DEJT 25/05/2018)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. TAXA REFERENCIAL - TR. INCIDÊNCIA


RETROATIVA DO DISPOSTO NO ART. 879, § 7º, DA CLT INTRODUZIDO
PELA LEI Nº 13.467/2017. CARÁTER MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIO DA
MEDIDA ELEITA. MULTA PREVISTA NO ART. 1.026, § 2º, DO CPC.
APLICABILIDADE. No pretexto de suprir omissão, a embargante provoca
indevidamente o exercício da jurisdição ao suscitar tema que extrapola os limites da
lide, a propósito da incidência retroativa do disposto no art. 879, § 7º, da CLT,
introduzido pela Lei nº 13.467/2017, que previu a aplicação da TRD como fator de
correção dos débitos trabalhistas. A Turma, na decisão embargada, aplicou a tese
jurídica adotada em precedentes vinculativos do TST e do STF declarando a
inconstitucionalidade da Taxa Referencial - TR como fator de correção monetária do
crédito trabalhista. Ademais, a lei nova não pode alcançar os efeitos futuros de fatos
ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor, sob pena de violar a garantia do
direito adquirido (art. 912 da CLT e art. 5º, XXXVI, da CF/88), como se dá em
relação à forma de atualização dos débitos trabalhistas liquidados em data anterior
à vigência da lei nova. A procrastinação do trâmite regular do processo dá azo à
aplicação de multa. Embargos de declaração a que se nega provimento, com multa.
(Processo: ED-RR - 351-51.2014.5.09.0892 Data de Julgamento: 21/03/2018, Relator
Ministro: Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 23/03/2018) [g.
n.]

RECURSO DE REVISTA. CORREÇÃO MONETÁRIA DE DÉBITOS


TRABALHISTAS. IPCA-E. DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO DO TST. TEMA 810.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA PELO STF. JULGAMENTO
DEFINITIVO DO STF NA RECLAMAÇÃO Nº 22012/RS. 1. O Pleno do TST, por
meio da Arguição de Inconstitucionalidade nº 479-60.2011.5.04.0231, declarou
inconstitucional a expressão "equivalentes à TRD", inscrita no art. 39, "caput", da Lei n°
8.177/91, aplicando a técnica de interpretação conforme a Constituição para o texto
remanescente da norma impugnada. Definiu, ainda, a variação do Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de atualização a ser utilizado na
tabela de atualização monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho. 2. No
julgamento definitivo da Reclamação 22012 MC/RS, contra a decisão do Pleno desta
Corte, o STF concluiu que "o conteúdo das decisões que determinam a utilização de
índice diverso da TR para atualização monetária dos débitos trabalhistas não possui
aderência com o decidido pelo STF nas duas ADIs". 3. A decisão é corroborada pelo
julgado proferido pelo excelso Supremo Tribunal Federal, no RE nº 870.947 RG/SE,
com repercussão geral, publicada no DJe de 20.11.2017, no qual se considerou
inconstitucional a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública
segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, prevista no art. 1º-F da Lei

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9.494/1997, por impor "restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art.


5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de
preços da economia", inflação essa que somente é corretamente aferida pelo IPCA-E,
calculado pelo IBGE, "índice escolhido pelo Banco Central". 4. Definido o índice, aplica-
se a modulação de efeitos fixada pelo Pleno do TST, no julgamento dos embargos de
declaração à arguição de inconstitucionalidade, em 20.3.2017, segundo a qual o IPCA-E
incide a partir de 25 de março de 2015. Recurso de revista não conhecido. (Processo:
ARR - 25694-04.2013.5.24.0072 Data de Julgamento: 11/04/2018, Relator Ministro:
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/04
/2018.) [g.n.]

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO


NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. FASE DE EXECUÇÃO. TAXA
REFERENCIAL - TR. INCIDÊNCIA RETROATIVA DO DISPOSTO NO ART.
879, § 7º, DA CLT, INTRODUZIDO PELA LEI Nº 13.467/2017 .
APLICABILIDADE. A parte agravante não consegue viabilizar o acesso à via recursal
de natureza extraordinária, à míngua de comprovação de inequívoca violação de
dispositivo da Constituição da República, nos moldes da Súmula nº 266 do TST. Na
hipótese, o disposto no art. 879, § 7º, da CLT, introduzido pela Lei nº 13.467/2017, única
questão articulada no presente agravo, em nada altera a decisão do Plenário do TST
que declarou a inconstitucionalidade da Taxa Referencial como fator de correção
monetária dos débitos trabalhistas, com respaldo em decisão vinculante do STF.
(Processo: Ag-AIRR - 71300-30.2005.5.02.0078 Data de Julgamento: 18/04/2018,
Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 20/04
/2018.)

No Acórdão acima, ponderou o I. Relator que "não existe campo


processual fértil para aplicação da lei nova às situações jurídicas já consolidadas sob o império da lei
pretérita; e, não possui respaldo jurídico a referência do § 7º do art. 879 da CLT a um dispositivo da Lei
nº 8.177/91 que o TST já havia declarado inconstitucional".

Portanto, com base em todo o arrazoado acima, em se tratando de


liquidação de cálculos que viesse a ser promovida antes da vigência da Lei nº 13.467/2017, com muito
mais razão deveria ser repelida a aplicação da TR como índice de atualização monetária. E, de acordo
com o decidido nos autos da ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, deveria ser mantida a aplicação do índice
oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TRD) para os débitos trabalhistas devidos até o
dia 24/3/2015, e, após, a partir do dia 25/3/2015, a correção deve ser realizada pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).

Não obstante a modulação adotada pelo C. TST nos autos da ArgInc-479-


60.2011.5.04.0231, o Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento plenário de 3/10/2019, com
repercussão geral, "por maioria, rejeitou todos os embargos de declaração e não modulou os efeitos da
decisão anteriormente proferida" nos autos do RE 870.947. Para o STF, "não cabe a modulação" de
efeitos que permita a aplicação da TR a créditos anteriores a março de 2015. Concluiu a Corte Suprema
"que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) para a atualização de débitos judiciais
das Fazendas Públicas (precatórios) aplica-se de junho de 2009 em diante".

Diante desse novo panorama jurídico, respaldado na igualdade de


tratamento entre devedor público e devedor privado, em matéria de correção monetária, na atualização do

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crédito trabalhista, que emana da decisão do E. STF, não há lugar para a modulação de efeitos até então
admitida à luz da ArgInc-479-60.2011.5.04.023.

Irrelevante, portanto, que, no caso, haja créditos anteriores a 24/03/2015.


A atualização deve ser feita, exclusivamente, pelo IPCA-E.

Assim, dou parcial provimento para determinar que a atualização dos


créditos trabalhistas seja feita, exclusivamente, pelo IPCA-E.

III - DISPOSITIVO

A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO, por unanimidade, REJEITAR a
preliminar de não conhecimento do recurso da Ré, arguida em contrarrazões e CONHECER dos
recursos e; no mérito, também por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao Recurso da Ré e DAR
PARCIAL PROVIMENTO ao Recurso do Autor, para conceder à parte autora o benefício da
gratuidade de justiça, como permite o art. 790 da CLT; para condenar a Ré ao pagamento de 2 horas por
dia trabalhado em cada plantão, acrescidas de 50%, pela fruição parcial dos intervalos, com reflexos no
RSR; férias, acrescidas de 1/3; 13º salário; FGTS e verbas rescisórias; para condenar a Ré ao pagamento
dos Tíquetes Refeição, em virtude de 04 plantões extras, mensais; e para determinar que a atualização
dos créditos trabalhistas seja feita, exclusivamente, pelo IPCA-E, consoante a fundamentação supra, nos
termos do voto do Desembargador Relator. Custas pela reclamada, sobre o valor arbitrado para a
condenação, ora mantido.

Rio de Janeiro, 15 de junho de 2020.

Mário Sérgio M. Pinheiro


Desembargador do Trabalho
Relator

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msmp/emcb/ddlo

Assinado eletronicamente por: MARIO SERGIO MEDEIROS PINHEIRO - 18/06/2020 11:22:16 - 82a850b
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Número do processo: 0101118-60.2016.5.01.0016 ID. 82a850b - Pág. 30
Número do documento: 20021109284838300000042540062

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