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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva
Av. Presidente Antonio Carlos, 251 10º andar - Gab. 28
Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ

RECURSO ORDINÁRIO – TRT/RO - 0173700-58.2009.5.01.0451 - RTOrd


ACÓRDÃO
7ª Turma

INTERVALO INTRAJORNADA. ART. 71 DA CLT. A


não-concessão ou a concessão parcial do intervalo
intrajornada para repouso e alimentação implica o
pagamento total de período não usufruído pelo
empregado. Recurso parcialmente provido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso


Ordinário em que são partes LUCIANO MARQUES DOS REIS, como
recorrente, e CONCESSIONÁRIA ROTA 116 S.A., como recorrida.

RELATÓRIO
Irresignado com a decisão da 01ª Vara do Trabalho de Itaboraí
(fls. 949/951), complementada às fl. 958, de lavra do Juiz do Trabalho Andre
Corrêa Figueira, que julgou procedentes em parte os pedidos, recorre o
reclamante (fls. 961/966).
Postula, em síntese, a reforma da sentença quanto às horas
extras, ao repouso semanal remunerado, à diferença de vale-refeição, ao
adicional de quebra de caixa e ao adicional de periculosidade.
Devidamente notificada, a ré apresentou contrarrazões (fls.
995/1007).
Não houve remessa dos autos ao d. Ministério Público do
Trabalho, por não se vislumbrar qualquer das hipóteses previstas no anexo do
Ofício PRT/1ª Reg. Nº 214/13-GAB, de 11/03/2013.
É o relatório.

VOTO
ADMISSIBILIDADE
Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos de
admissibilidade.

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MÉRITO
HORAS EXTRAS
O reclamante pleiteia horas extras do período de novembro de
2005 a janeiro de 2008, quando a empresa adotou a escala de 12x36, com
“sábado invertido”. Assevera que em “uma semana trabalhava, 2ª/4ª/6ª/sábado
e domingo, em escala de 12x36, portanto, trabalhava 60 horas semanais, e na
outra trabalhava apenas 36 horas” (fl. 961).
A norma coletiva pode, em situações excepcionais, instituir a
jornada de 12x36. E pode instituir, em todos os setores, a semana espanhola,
que alterna o trabalho no módulo de 48h numa semana com 40h em outra,
tudo consoante jurisprudência consolidada do Tribunal Superior do Trabalho,
conforme pode ser observado na Orientação Jurisprudencial da SDI-I nº 323 e
na Súmula nº 444, textualmente:
“OJ - SDI-I nº. 323. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE
JORNADA. “SEMANA ESPANHOLA”. VALIDADE
É válido o sistema de compensação de horário quando a
jornada adotada é a denominada "semana espanhola",
que alterna a prestação de 48 horas em uma semana e
40 horas em outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT
e 7º, XIII, da CF/1988 o seu ajuste mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho.”

“Súmula nº 444. Jornada de trabalho. NORMA


COLETIVA. LEI. Escala de 12 por 36. Validade. É valida,
em caráter excepcional, a jornada de doze horas de
trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou
ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de
trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a
remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O
empregado não tem direito ao pagamento de adicional
referente ao labor prestado na décima primeira e décima
segunda horas”.

Há previsão na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria


da possibilidade de adoção de “regime especial de revezamento de horário de

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trabalho, consistente em 12 (doze) horas ininterruptas de trabalho por 36 (trinta


e seis) horas correspondentes e ininterruptas de descanso” (Cláusula 8ª,
Parágrafo Primeiro/Parágrafo Segundo - fl. 46/57).
Todavia, com o chamado “sábado invertido”, a jornada de
trabalho semanal passa a ser de 60 horas, o que não pode ser tolerado. A
própria empresa admite que não está cumprindo a legislação ao remeter uma
mensagem eletrônica (rosangela@rota116.com.br) aos funcionários, nos
termos que ora se transcreve:
“A todos,
Atendendo a uma orientação da Empresa, informamos
que, a partir do dia 21/08/2008, a escala dos setores de
coordenação, operação e CCT será cumprida seguindo
o critério da CLT, ou seja: o colaborador que cumprir
esta escala trabalhará 12 horas e terá 36 horas de folga.
Logo, num final de semana o colaborador que trabalha
numa sexta-feira, folgará no sábado e voltará ao trabalho
no domingo e assim sucessivamente.” (grifei) (fl. 168)

Via de consequência, dou provimento ao recurso para reformar


a sentença e condenar a reclamada a pagar, de novembro de 2005 a janeiro de
2008, as horas que excederam a 40ª hora semanal como extras, tomando-se
como referência o divisor 220 (Cláusula 8ª das CCTs - fl. 46/57), com o
acréscimo de 50% e reflexos, nos termos do pedido, a serem apuradas em
liquidação de sentença.

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO


O reclamante afirma que a empresa não lhe concedia o
repouso semanal remunerado de forma correta, ficando, no período de 2004
até outubro de 2005, diversos meses sem ter um domingo de descanso. No
período, aduz em sua inicial, que trabalhou em escala de 6x2 - trabalhava 6
(seis) dias e folgava 2 (dois).
Sobre a questão, dispôs o Juízo que “no que concerne ao fato

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de somente usufruir poucas folgas aos domingos, a não concessão de folga


nestes dias acarreta mera infração administrativa, nada sendo devido ao autor,
que usufruía folga compensatória.” (fl. 958)
Pois bem.
Em relação à remuneração em dobro dos domingos e feriados
laborados, importa considerar que a Constituição da Republica, em seu art. 7°,
inciso XV, determina que a concessão dos repousos semanais remunerados seja
“preferencialmente” aos domingos.
De outra parte, o art. 9° da Lei nº 605/49 estabelece que os
feriados laborados serão pagos em dobro se não houver folga compensatória. No
mesmo sentido a Súmula nº. 146 do Tribunal Superior do Trabalho, textualmente:
“TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS, NÃO
COMPENSADO. O trabalho prestado em domingos e
feriados, não compensado, deve ser pago em dobro, sem
prejuízo da remuneração relativa ao repouso semanal.”

No caso dos autos, em fl. 46, a Convenção Coletiva pactuou que a


duração do trabalho seria de 8 (oito) horas, durante 6 (seis) dias consecutivos e
folga de 2 (dois) dias subsequentes, sendo uma folga compensatória e outra
destinada ao repouso semanal remunerado.
Ao compulsar os cartões de ponto do período mencionado pelo
reclamante (fls. 162/167), observa-se que o trabalhador laborava seis dias (48
horas), compensando as horas excedentes em um dia e usufruindo o repouso
semanal dentro dos sete dias da semana.
Via de consequência, nego provimento.

INTERVALO INTRAJORNADA
O juízo monocrático condenou a reclamada ao pagamento do
intervalo intrajornada, porém, limitou o pagamento até 31 de janeiro de 2008.
O autor almeja a reforma da sentença sob o argumento de que

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“nunca foi consignado no cartão de ponto tal intervalo”.


Razão lhe assiste.
É incontroverso que não há marcação do horário de intervalo
intrajornada nos cartões de ponto carreados nos autos. O que se observa é
que em alguns meses foi assinalado nos cartões de ponto o “horário britânico”
de almoço das 12h às 13h, sem que houvesse a real marcação do horário de
gozo do referido intervalo, consoante observado nos cartões de ponto juntados
nas fls. 336 e 337, logo, tais cartões são imprestáveis como meio de prova,
consoante, inclusive, o item III da Súmula nº 338 do C. Tribunal Superior do
Trabalho:
“JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA
PROVA (…)
III - Os cartões de ponto que demonstram horários de
entrada e saída uniformes são inválidos como meio de
prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas
extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a
jornada da inicial se dele não se desincumbir.

De outro lado, os depoimentos das testemunhas que


trabalharam para a ré (fls. 944/946) são uníssonos ao afirmar que o reclamante
não possuía intervalo intrajornada.
Atente-se que os intervalos intrajornadas buscam recuperar as
energias do empregado, configurando-se, como meio importante para a
preservação da higidez física e mental do trabalhador, diante da prestação
diária de serviços.
À luz do artigo 7º, inciso XXII, da Constituição da República,
que dispõe acerca da redução de riscos inerentes ao ambiente laboral como
direito fundamental ao trabalho, e do comando do seu art. 194, caput, que
versa sobre o direito à saúde, é possível extrair que os diplomas referentes aos
intervalos em questão possuem natureza de normas de saúde pública, o que
limita, inclusive, a sua flexibilidade.
Salienta-se que, após a edição da Lei nº 8.923/1994, a não-

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concessão total ou parcial do intervalo intrajornada mínimo para repouso e


alimentação, gera o pagamento total do período correspondente, com
acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal
de trabalho, em consonância com o art. 71 da CLT.
Corrobora com a interpretação esposada neste voto a redação
da Súmula nº 437 do Tribunal Superior do Trabalho, in verbis:
“INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E
ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou
a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo,
para repouso e alimentação, a empregados urbanos e
rurais, implica o pagamento total do período
correspondente, e não apenas daquele suprimido, com
acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da
remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT),
sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para
efeito de remuneração.
II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva
de trabalho contemplando a supressão ou redução do
intervalo intrajornada porque este constitui medida de
higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por
norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da
CF/1988), infenso à negociação coletiva.
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71,
§ 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923,
de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou
reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada
para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no
cálculo de outras parcelas salariais.
IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas
de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada
mínimo de uma hora, obrigando o empregador a
remunerar o período para descanso e alimentação não
usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional,
na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.”

Destarte, a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, reveste-se


de natureza salarial, repercutindo, portanto, diante da habitualidade, nas
demais parcelas decorrentes do contrato de trabalho.
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a sentença e condenar a reclamada ao pagamento de uma hora extra por dia


efetivo de serviço em decorrência da supressão do intervalo intrajornada por
todo o período não prescrito da relação contratual, consoante a fundamentação
supra.

GRATIFICAÇÕES DE QUEBRA DE CAIXA E DE


ATINGIMENTO DE METAS
O reclamante pugna pelo pagamento das gratificações de
quebra de caixa e de atingimento de metas, sob a seguinte fundamentação,
textualmente:
“Os próprios recibos e documentos anexados junto com a
inicial comprovam que todos os
operadores/arrecadadores recebiam adicional de quebra
de caixa, sendo certo que os coordenadores tinham entre
suas atribuições também o exercício da função de
arrecadadores quando o movimento exigia, pois, ao ficar
o pedágio movimentado, tinham que efetuar o 'papa fila'
para auxiliar os arrecadadores. (…) o reclamante, como
coordenador, tinha que efetuar as 'sangrias' e ficar
responsável por importâncias, tendo que repassar e
conferir o caixa ao final do turno, junto com o
coordenador que o rendesse, tendo que arcar co as
diferenças apuradas nos caixas (…).

Em relação ao pedido de gratificação por atingimento de


metas – participação nos lucros, que era recebido por
outros funcionários, (…) inclusive por outro operador,
sendo certo que nunca houve qualquer meta e/ou
participação nos lucros, apenas alguns funcionários eram
escolhidos para receber a gratificação por terem mais
acesso à direção da empresa (…).” (fl. 963)

Em contrarrazões, a reclamada argumentou que “a quebra de


caixa é a parcela paga aos bancários com o intuito de indenizar uma eventual
diferença existente no caixa, com previsão em instrumento coletivo” (fl. 1002),
logo, não se aplicaria ao reclamante.
Em relação à gratificação por atingimento de meta, a

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contestação justifica o pagamento a um outro empregado com o mesmo


cargo do reclamante da seguinte maneira:
“(...) o Coordenador que recebeu a parcela é o de
Tráfego, que trabalha no Centro de Controle Operacional
(CCO), na sede da empresa, responsável por monitorar
todo o tráfego (…).” (fl. 237)

Pois bem.
O acervo probatório, em especial os contracheques da Sra.
Vivian Nunes (fl. 77) e do Sr. Ricardo Morsch (fl. 125), demonstra que havia
empregados da reclamada que recebiam as gratificações de quebra de caixa e
de atingimento de metas. Ora, se o autor era responsável por manuseio de
valores arrecadados nas praças de pedágio (fls. 78/121), nos mesmos termos
da Sra. Vivian Nunes, e se possui o mesmo cargo do Sr. Ricardo Morsch, nada
justifica, à luz do princípio da isonomia, que o mesmo não recebesse as
gratificações respectivas.
Estamos diante de um claro tratamento não isonômico levado a
cabo pela Concessionária Rota 116 S.A., isto é, pelo que está evidenciado no
conjunto probatório carreado aos autos, chega-se à conclusão que foi
dispensado um tratamento diferenciado ao empregado em relação a outros
dois empregados da empresa, a Sra. Vivian Nunes (fl. 77) e o Sr. Ricardo
Morsch (fl. 125).
É precisa a lição de Alfredo Ruprecht sobre o princípio da
igualdade, textualmente:
“Quanto ao conteúdo, o princípio da igualdade de
tratamento não significa uma completa igualação. Não
atenta contra nenhuma proibição o fato de uma pessoa
ser tratada especialmente, mas o empregador, enquanto
procede de acordo com pontos de vista gerais e atua
segundo regulamentações estabelecidas por ele mesmo,
não deve excetuar arbitrariamente, de tais regras, um
trabalhador individual. É arbitrário o tratamento
desigual em casos semelhantes por causas não
objetivas.” (grifei) (RUPRECHT, Alfredo J. Os Princípios

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7ª Turma

do Direito do Trabalho. Tradução de Edilson Alkmin


Cunha. São Paulo : LTr, 1995. p. 102, In. CARVALHO,
Augusto César Leite de. Direito do Trabalho. Curso e
Discurso. Aracaju: Avocati, 2011, p. 79 - 80)

Nesse sentido, é oportuna a percuciente lição de Celso Antônio


Bandeira de Mello, in verbis:
“(...) é agredida a igualdade quando o fator diferencial
adotado para qualificar os atingidos pela regra não
guarda relação de pertinência lógica com a inclusão ou
exclusão no benefício deferido ou com a inserção ou
arrendamento do gravame imposto.
Cabe, por isso mesmo, quanto a este aspecto, concluir: o
critério especificador escolhido pela lei, a fim de
circunscrever os atingidos por uma situação jurídica - a
dizer: o fator discriminação - pode ser qualquer elemento
radicado neles; todavia, necessita inarredavelmente,
guardar relação de pertinência lógica com a diferenciação
que dele resulta. Em outras palavras: a discriminação não
pode ser gratuita ou fortuita. Impende que exista uma
adequação racional entre o tratamento diferenciado
construído e a razão diferencial que lhe serviu de
supedâneo (...)” (In. Conteúdo Jurídico do Princípio da
Igualdade. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 38/39).

Os contracheques da Sra. Vivian Nunes (fl. 77) e do Sr.


Ricardo Morsch (fl. 125) demonstram que os valores das gratificações de
quebra de caixa e de atingimento de metas são, respectivamente, de 10% (dez
por cento) do valor da parcela designada “Horas Normais” e de R$ 3.183,37,
referente ao ano de 2007.
Atente-se, por oportuno, que autor não comprova que houve
pagamento da gratificação por atingimento de metas em outros anos além do
de 2007.
Via de consequência, dou provimento ao recurso para reformar
a sentença e condenar a reclamada ao pagamento (i) da gratificação de quebra
de caixa, no valor de 10% sobre a parcela “Horas Normais”, durante todo
período não prescrito de trabalho, a ser apurado em liquidação de sentença, e

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(ii) da gratificação por atingimento de metas, referente ao ano de 2007, no valor


de R$ 3.183,37.

DIFERENÇAS DO VALE-REFEIÇÃO
Pleiteia o autor o pagamento da diferença do valor do vale
refeição a partir de 01 de março de 2008 até a data da rescisão do contrato de
trabalho.
Aduz que, desde novembro de 2005, o valor pago pela
empresa é de R$ 128,00, todavia, a partir da Convenção Coletiva de Trabalho
(2008/2009) ficou estabelecido o valor mínimo de R$154,00 para o vale
refeição.
Em sua defesa, a reclamada argumentou que “o valor diário do
ticket foi mantido, ocorre que, (...), o reclamante passou a laborar na escala
13x36, ou seja, passou a receber o mesmo valor por dia trabalhado, descabido
o pleito sob pena de enriquecimento sem causa.” (fl. 239)
A questão, a partir de 01 de março de 2008, não passa por
quantos dias o empregado trabalhou, posto que ficou definido na CCT
(2008/2009) que o valor mínimo para o pagamento de “ticket refeição” ou
“ticket alimentação” seria de R$ 154,00 (Cláusula 20ª – Refeição/Alimentação -
fl. 61).
Destarte, dou provimento ao recurso para reformar a sentença
e condenar a reclamada a pagar a diferença de R$ 26,00 por mês de trabalho,
referente ao vale-alimentação, de 01 de março de 2008 até o término da
relação de trabalho, com base na fundamentação supra.

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE
O autor não se conforma com a sentença que, com fundamento
na conclusão do laudo pericial, julgou improcedente o pedido de adicional de
periculosidade.

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Sem razão.
Sobre a questão, dispõe a Consolidação das Leis do Trabalho,
in verbis:
“Art. 195 - A caracterização e a classificação da
insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do
Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a
cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho,
registrados no Ministério do Trabalho. (...)
§ 2º - Arguida em juízo insalubridade ou periculosidade,
seja por empregado, seja por Sindicato em favor de grupo
de associado, o juiz designará perito habilitado na forma
deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao
órgão competente do Ministério do Trabalho.”

Pois bem.
O perito designado pelo juízo, Sr. José Carlos Braga
Guimarães, em uma consistente análise (fls. 829/837) concluiu textualmente:
“À vista do exposto, com base nos levantamentos
realizados nas dependências da ré, Concessionária Rota
116 S/A, nas informações prestadas pelas partes durante
o ato pericial e na legislação trabalhista vigente, concluo
que as tarefas realizadas pelo autor Luciano Marques dos
Reis durante seu período laboral na referida empresa não
estão tipificadas na NR 16 – Atividades e Operações
Perigosas ou no Decreto nº 93.412/86 e, portanto, do
ponto de vista legal, não podem ser consideradas
periculosas para efeito da percepção do adicional de
periculosidade” (grifei) (fl. 837).

Para o perito, o reclamante não estava exposto a risco similar e


equivalente aos trabalhadores submetidos ao sistema elétrico de potência,
tendo esclarecido que “o fato de acessar, quando necessário, um armário com
circuitos e disjuntores, isolados do contato elétrico, para reiniciar o sistema
elétrico-eletrônico de controle das cabines do pedágio, não o inclui dentre
aqueles beneficiados pela OJ nº 324” (fl. 877).
Via de consequência, nego provimento ao recurso.

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CONCLUSÃO
Ante o exposto, CONHEÇO do recurso e, no mérito, DOU-LHE
PARCIAL PROVIMENTO para condenar a reclamada ao pagamento
acrescendo ao já decidido na sentença (i) de horas extras que excederam a
40/48ª semanal, conforme semana espanhola, adotada no acordo coletivo,
tomando-se como referência o divisor 220 (Cláusula 8ª das CCTs - fl. 46/57),
de novembro de 2005 a janeiro de 2008, com adicional de 50% e reflexos,
conforme pedido, a serem apuradas em liquidação de sentença; (ii) de uma
hora extra por dia de efetivo serviço em decorrência da supressão do intervalo
intrajornada por todo o período não prescrito; (iii) da gratificação de quebra de
caixa, no valor de 10% sobre a parcela “Horas Normais”, durante todo período
não prescrito de trabalho, a ser apurado em liquidação de sentença; (iv) da
gratificação por atingimento de metas, referente ao ano de 2007, no valor de
R$ 3.183,37; e (v) de R$ 26,00 por mês de trabalho, referente ao vale
alimentação, de 01 de março de 2008 até o término da relação de trabalho, na
forma da fundamentação supra.

DISPOSITIVO
Vistos e examinados,
A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Sétima
Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade,
CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para
condenar a reclamada ao pagamento acrescendo ao já decidido na sentença (i)
de horas extras que excederam a 40/48ª semanal, conforme semana
espanhola adotada no acordo coletivo, tomando-se como referência o divisor
220 (Cláusula 8ª das CCTs - fl. 46/57), de novembro de 2005 a janeiro de
2008, com adicional de 50% e reflexos, conforme pedido, a serem apuradas
em liquidação de sentença; (ii) de uma hora extra por dia de efetivo serviço em

4841 12
PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva
Av. Presidente Antonio Carlos, 251 10º andar - Gab. 28
Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ

RECURSO ORDINÁRIO – TRT/RO - 0173700-58.2009.5.01.0451 - RTOrd


ACÓRDÃO
7ª Turma

decorrência da supressão do intervalo intrajornada por todo o período não


prescrito; (iii) da gratificação de quebra de caixa, no valor de 10% sobre a
parcela “Horas Normais”, durante todo período não prescrito de trabalho, a ser
apurado em liquidação de sentença; (iv) da gratificação por atingimento de
metas, referente ao ano de 2007, no valor de R$ 3.183,37; e (v) R$ 26,00 por
mês de trabalho, referente ao vale alimentação, de 01 de março de 2008 até o
término da relação de trabalho, na forma da fundamentação.

Rio de Janeiro, 18 de Setembro de 2013.

Desembargadora do Trabalho Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva


Relatora

apf

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