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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DA VARA ÚNICA

DO TRABALHO DE CONFRESA, ESTADO DE MATO GROSSO

JOSÉ BENTO DA SILVA, brasileiro, casado, agente


sanitário, portador da cédula de identidade RG n. 22087214, regularmente
inscrito no CPF (MF) nº. 947.386.531-72, residente e domiciliado na rua
Monteiro Lobato nº. 103 – bairro Vila Nova – CEP 78652-000, na cidade e
comarca de Confresa, Estado de Mato Grosso, endereço eletrônico:
tatianemartinsmc@hotmail.com, através de suas procuradoras que esta
subscrevem, vem respeitosamente à Douta presença de Vossa Excelência,
propor a presente
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
pelo Rito Ordinário
em face de ÁGUAS DE CONFRESA S.A., pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ nº. 19310815/0001-03, situada à Avenida Brasil, nº 525,
Jardim Vitória, município de Confresa, estado do Mato Grosso – CEP:
78652-000, endereço eletrônico: itamar.camargo@nascentesdoxingu.com.br,
 consubstanciado pelos motivos fáticos e jurídicos à seguir expostos:
1. JUSTIÇA GRATUITA
O Reclamante é pessoa pobre, no sentido legal do
termo, não tendo condições de arcar com as despesas processuais e
honorárias advocatícios, sem prejuízo de seu respectivo sustento e de sua
família, de modo que requer que V. Exa. se digne a conceder os beneplácitos
da Assistência Judiciária Gratuita, conforme art. 789, § 9º, da CLT,
combinado com o art. 4º da Lei 1.060/50 e artigo 5º LXXIV da Constituição
Federal.
Junta-se nesta oportunidade declaração de
hipossuficiência, bem como extrato de concessão de benefício concedido pelo
INSS ao Sr. José Bento, que encontra-se enfermo.
2. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A teoria do ônus da prova, conforme denota-se nos
artigos 818 da CLT e 333 do CPC, encontra-se superada. Atualmente, e
previsto que o princípio da prova, a significar o ônus probandi é de quem
possui condições de cumpri-lo.
A empresa Reclamada, aproveitou-se do labor do
Reclamante, descumprindo com obrigações contratuais, logo não poderá
agora, por mais uma vez, aproveitar-se da sua supremacia capitalista, bem
com da vulnerabilidade da reclamante, para se beneficiar processualmente na
presente demanda.
Vejamos as considerações do doutrinador Bezerra
Leite sobre o assunto:
“Atualmente parece-nos não haver mais dúvida sobre o cabimento da
inversão do ônus da prova nos domínios do direito processual do
trabalho, não apenas pela aplicação analógica do artigo 6º, VII, do
CDC, mas também pela autorização contida no artigo 852-D da CLT.
(...)
Poder-se-ia dizer que tal regra é específica do procedimento sumaríssimo.
Todavia, entendermos que em matéria de prova, não é o procedimento
que vai impedir o juiz de dirigir o processo em busca da verdade
real, levando em conta as dificuldades naturais que geralmente o
empregado reclamante enfrenta nas lides trabalhistas”. -
Destacamos
O mesmo entendimento tem tido o Tribunal
Superior do Trabalho, que interpreta o previsto no art. 6º, VIII, do CDC em
face da hipossuficiência do trabalhador.
“ALEMIDA, Cleber Lúcio de “ [...] a conduta humana é regulada por todo o
direito e não por uma norma ou mesmo um conjunto fechado de normas.
Dessa forma, deve ser buscada no ordenamento jurídico uma solução que
possibilite tornar concreto o direito ao acesso a uma justiça rápida,
eficiente e efetiva. – Destacamos
Assim, requer a atenuação da rigidez do artigo 818
da CLT e 373 do CPC, estendendo o entendimento dado pela Súmula 338, do
empregado perante seu empregador, que autoriza o juiz do trabalho adotar a
inversão do ônus probandi e ampliando a aplicação do princípio “in dúbio pro
operarium”.
3. DA INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL
Em razão da ADI proposta pela PGR e ante a seus
fundamentos, o Reclamante requer desde já a declaração de
inconstitucionalidade do artigo 790-B da CLT (caput e parágrafo 4ª), que
responsabiliza a parte sucumbente (vencida) pelo pagamento de honorários
periciais, ainda que beneficiário da justiça gratuita. Requer, outrossim, a
declaração de inconstitucionalidade do artigo 791-A, que considera devidos
honorários advocatícios de sucumbência por beneficiário da justiça gratuita,
sempre que tenha obtido em juízo, ainda que em ouro processo, créditos
capazes de suportar a despesa. No mais, requer, seja declarada ainda, a
inconstitucionalidade incidental do artigo 844, parágrafo 2º.
4. CONTRATO DE TRABALHO
O Reclamante foi admitido pela empresa Reclamada
em 05 de março de 2014, para exercer função de AGENTE OPERACIONAL
(CBO 8623-05), com remuneração mensal inicial de R$ 800,00 (oitocentos
reais).
No decorrer do contrato de trabalho foi promovido
para o cargo de AGENTE DE SANEAMENTO.
Com carga horária contratada de segunda a
sexta-feira das 07h00 às 17h48, com 02 horas para intervalo e refeição, e, aos
sábados das 07h00 às 11h30.
Em 08 de outubro de 2017, foi afastado em
decorrência de acidente de trabalho ocorrido durante o exercício das suas
atividades laborais. Muito embora não tenha sido emitido Comunicação de
Acidente do Trabalho - CAT, o Sr. José Bento sofreu evidente acidente de
trabalho o que restá incontroverso pelo boletim de ocorrência anexo e na carta
de concessão de auxílio doença por acidente do trabalho (B-91), o qual cessou
em 18 de setembro de 2018.
Conforme denota-se na tabela abaixo, extraída da
plataforma “MEU INSS”, o Reclamante, desde junho do corrente ano (2021)
encontra-se afastado devido sua incapacidade laboral, sendo que no dia 06
deste mês (outubro) cessou seu beneficio.

O Reclamante ainda encontra-se incapaz para o


labor, motivo pelo qual solicitou junto a Previdência Social prorrogação do
benefício de auxílio doença, tendo o INSS emitido a seguinte decisão:
Esta é a breve síntese do contrato de trabalho, que
foi marcado pela inobservância de inúmeras normas consolidadas na Legislação
Trabalhista, bem como da Constituição Federal, como se demonstrará no
decorrer da peça inaugural.
5. DA JORNADA DE TRABALHO
O Reclamante laborava habitualmente horas extras,
sendo certo que sua jornada de trabalho real era de:
✔ De segunda à sexta-feira: das 07h00 às 20h00, com intervalo
para descanso e refeição de 01 hora
✔ Aos sábados: das 07h00 às 12h00
Habitualmente, pelo menos 01 (uma vez) na
semana, devido a intercorrências que haviam nos reservatórios, o Reclamante
laborava até as 24h00.
O Reclamante laborava aproximadamente 25 horas
extras semanais, as quais não eram pagas corretamente pela empresa
Reclamada.
Importante esclarecer que, inicialmente o controle
de jornada era realizado através de relógio mecênico, posteriormente a
empresa passou a realizar o controle manualmente, e por fim através de
aplicativo. Somente quando o controle de ponto era realizado através de
relógio de ponto os horários eram registrados corretamente, as demais formas
de controle de jornada eram burladas pela empresa.
Dos domingos e feriados não remunerados
Trabalhava pelo menos 01 domingo ao mês, e nos
feriados quando convocado.
Assim, após a incorporação aos salários da
diferença do piso salarial da categoria, subsistem horas extras, não
adimplidas, com adicional de 75% (conforme percentual constante nos recibos
salários anexos) a serem pagas a Reclamante:
a) das excedentes a 8º hora diária e 44º semanal, nos
termos do inciso XIII, artigo 7º da Constituição Federal e horas
em dobro, dos feriados e domingos trabalhados, por força da
Lei 605/49 e Enunciado n°. 146 do TST.
As horas extras, como habituais, devem ser
refletidas nas verbas de 13° salários, férias com 1/3, aviso prévios, DSR`s,
FGTS e etc.
Valor das horas-extras e reflexos (últimos cinco
anos R$23.060,09 + 62.113,16): R$ 85.173,25
R$465,71 + R$1.618,06 + R$1.688,38 + R$1.671,70 + R$1.514,05 +
R$1.673,44 + R$1.633,65 + R$1.671,70 + R$1.619,52 + R$1.687,18 +
R$1.673,44 + R$1.635,09 + R$1.268,65 + R$1.820,50 + R$30,66 + R$264,97
+ R$1.123,39 + R$1.671,81 + R$1.618,16 + R$1.686,30 + R$1.671,81 +
R$1.516,77 + R$1.685,55 + R$1.619,62 + R$1.671,81 + R$1.634,34 +
R$1.673,55 + R$1.688,49 + R$1.601,98 + R$1.656,33 + R$1.618,16 +
R$1.670,24 + R$1.671,81 + R$1.582,45 + R$1.671,81 + R$1.618,16 +
R$1.686,30 + R$1.619,62 + R$1.673,55 + R$1.687,29 + R$1.619,62 +
R$1.687,29 + R$1.618,16 + R$1.671,81 + R$1.686,30 + R$1.514,15 +
R$1.673,55 + R$1.618,16 + R$1.670,24 + R$778,66 + R$1.838,14 +
R$1.836,68 + R$1.284,80 + R$342,73 + R$1.376,41 + R$1.384,08 + R$616,48
7. DO ADICIONAL NOTURNO
Como já mencionado anteriormente, pelo menos 01
(uma) vez na semana, o obreiro praticava jornada noturna, tendo que laborar
até as 24h00. Porém jamais recebeu o adicional integralmente devido e seus
penduricalhos.
Dessa forma é devido o adicional noturno de toda
jornada noturna e até mesmo quanto à prorrogação havida, com reflexos no
aviso prévio, férias e 13ºsalário, além de nas horas extras pedidas nesta ação.
Valor estimado: R$ 870,00
8. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
O Reclamante DURANTE TODO SEU CONTRATO
DE TRABALHO FICOU PERMANENTEMENTE EXPOSTO A RISCOS E
CONDIÇÕES INSALUBRES.
Tanto no exercício das funções de Agente
Operacional, como na função de Agente de Saneamento, ficava exposto a
agentes insalubres constantes nos anexos 11, 13 e 14 da NR 15 da Portaria
3.214/78, tendo em vista as atividades desempenhadas em contato com
esgotos urbanos (desentupimento esgotos; reparos encanação; manutenção e
troca de bombas; manutenção em reservatórios de esgoto; reparos vazamento
valas/galerias/esgotos; conserto e instalações hidráulicas em geral e etc).

O trabalho do Reclamante é considerado


extremamente nocivo, em decorrência da extrema facilidade de disseminação
de agentes biológicos (ex: fezes humanas), geradores de doenças,
independentemente de luvas ou breve contato.

Como se não bastasse, além de agentes biológicos,


o obreiro ficava constantemente exposto a agentes químicos diversos
potencialmente nocivos, utilizados para o tratamento da água que
comprovadamente trazem sérios riscos a saúde dos trabalhadores, podendo
causar desde intoxicação até câncer.

A exposição a agentes insalubres lhe garante a


receber o adicional de insalubridade na proporção máxima, isto é, 40% de
adicional. No entanto, o Reclamante não recebeu tal adicional.

Frisa-se que, conforme relatado, o obreiro realizava


seu mister em ambiente inóspito, úmido e em contato com mais de um agente
insalubre (biológico e químico).

Importante ressaltar que, a empresa Reclamada


nunca forneceu EPI’s adequados para a realização do trabalho do autor. Para
o manuseio não tinha luvas adequadas, tampouco era fornecido máscaras e
botas eficazes para amenizar o contato direto com agentes e produtos
insalubres, seja pela pele, seja inalando, o que lhe garante receber tal
adicional em proporção máxima.

Requer, pois, a designação de Perícia Técnica


especializada, a fim de constatar o grau de adicional de insalubridade
devido que, certamente será no importe de 40% (quarenta por cento) sobre o
salário percebido pelo Reclamante, consoante o dispositivo 7º, XXVI, da
Constituição Federal, ficando-lhe assegurada a concessão do adicional de
insalubridade com base no seu piso salarial, durante todo pacto laboral,
acrescido do adicional legal e reflexos, férias + 1/3, 13º salário, DSR’s e
feriados e FGTS+ 40%, horas extras e etc.
Valor estimado: R$ 31.500,00
9. DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

O Reclamante, durante todo o pacto laboral,


desenvolvia suas atividades de forma extremamente penosa e em áreas de
risco normatizadas, sendo a exposição/permanência rotineira. O obreiro
também era encarregado de realiazar reparos elétricos.
O cotejo dos holerites de dezembro/2016 e
dezembro/2018 (docs. anexos), demonstram que tanto no primeiro cargo de
Agente Operacional, como no segundo de Agente de Saneamento, a empresa
Reclamada pagou ao autor adicional de periculosidade no percentual máximo
(30% trinta por cento), vejamos:

Assim, resta incontroverso a periculosidade das


funções exercidas pelo obreiro durante todo o pacto laboral, muito embora o
referido adicional conste apenas em alguns recibos salários.
No caso sub judice aplica-se o mesmo entendimento
consagrado na Súmula 453 do TST:
SUM 453 – ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. PAGAMENTO
ESPONTÂNEO. CARACTERIZAÇÃO DE FATO INCONTROVERSO.
DESNECESSÁRIA A PERÍCIA DE QUE TRATA O ART. 195 DA CLT.
(conversão da OJ nº. 406 da SBDI-I) Res. 194/2014, DEJT divulgado em
21, 22 23.05.2014.
O pagamento de adicional de periculosidade
efetuado por mera liberalidade da empresa, dispensa a realização da prova
técnica exigida pelo art. 195 da CLT, pois torna incontroversa a existência do
trabalho em condições perigosas.
Assim, faz jus o Reclamante ao adicional de
periculosidade, durante todo o período laborado em grau máximo (30%), sobre
o valor do seu salário base, ficando-lhe assegurada a concessão do aludido
adicional com base no seu piso salarial, com seus reflexos em todas as verbas
salariais, inclusive nas indenizatórias, bem como diferenças no benefício
previdenciário auferido pelo Reclamante, calculado com base nos últimos
salários do obreiro.
Valor estimado: 21.000,00

10. DA POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE


INSALUBRIDADE E DE PERICULOSIDADE

Por oportuno, é importante ressaltar a possibilidade


e legalidade da cumulação dos aludidos adicionais.
As disposições contidas na Convenção n. 155 da
OIT, aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 2, de 17.03.92, ratificada
em 18.05.92 e promulgada pelo Decreto n. 1.254, de 29.09.94, devem
prevalecer sobre àquelas constantes do parágrafo 2º, do art. 193 da CLT e do
item 15.3 da NR-15.
Ademais, a previsão contida no artigo 193, § 2º, da
CLT não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que, em seu
artigo 7º, XXIII, garantiu de forma plena o direito ao recebimento dos
adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade, sem qualquer
ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha remetido sua regulação à
lei ordinária.
"RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE
INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE. PREVALÊNCIA
DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS SOBRE A CLT.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO AO EFEITO
PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM DESCOMPASSO COM OS
TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.
INCOMPATIBILIDADE MATERIAL. CONVENÇÕES NOS 148 E 155 DA OIT.
NORMAS DE DIREITO SOCIAL. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE.
NOVA FORMA DE VERIFICAÇÃO DE COMPATIBILIDADE DAS NORMAS
INTEGRANTES DO ORDENAMENTO JURÍDICO. A previsão contida no
artigo 193, § 2º, da CLT não foi recepcionada pela Constituição Federal de
1988, que, em seu artigo 7º, XXIII, garantiu de forma plena o direito ao
recebimento dos adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade,
sem qualquer ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha
remetido sua regulação à lei ordinária. A possibilidade da aludida
cumulação se justifica em virtude de os fatos geradores dos direitos serem
diversos. Não se há de falar em bis in idem. No caso da insalubridade, o
bem tutelado é a saúde do obreiro, haja vista as condições nocivas
presentes no meio ambiente de trabalho; já a periculosidade traduz
situação de perigo iminente que, uma vez ocorrida, pode ceifar a vida do
trabalhador, sendo este o bem a que se visa proteger. A regulamentação
complementar prevista no citado preceito da Lei Maior deve se pautar
pelos princípios e valores insculpidos no texto constitucional, como forma
de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma. Outro fator que sustenta
a inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução no sistema jurídico
interno das Convenções Internacionais nos 148 e 155, com status de
norma materialmente constitucional ou, pelo menos, supralegal, como
decidido pelo STF. A primeira consagra a necessidade de atualização
constante da legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a
segunda determina que sejam levados em conta os" riscos para a saúde
decorrentes da exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes ".
Nesse contexto, não há mais espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º,
da CLT. Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento."
(TST - RR: 18718720135120022, Relator: Cláudio Mascarenhas Brandão,
Data de Julgamento: 12/08/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
14/08/2015)
CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E
PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE. Importante observar que os tratados
de direitos humanos ratificados pelo Brasil gozam de hierarquia
supralegal. As disposições contidas na Convenção n. 155 da OIT, aprovada
no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 2, de 17.03.92, ratificada em 18.05.92
e promulgada pelo Decreto n. 1.254, de 29.09.94, devem prevalecer sobre
àquelas constantes do parágrafo 2º, do art. 193 da CLT e do item 15.3 da
NR-15. A norma constitucional, quando tratou do"adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas", não
estabeleceu qualquer impedimento à sua cumulação, até porque os
adicionais são devidos por causas e com fundamentos absolutamente
diversos. A impossibilidade de percepção cumulada dos adicionais de
periculosidade e insalubridade constante do parágrafo 2º, do art. 193 da
CLT e do item 15.3 da NR-15 não se mostra compatível com as normas
constitucionais mencionadas, notadamente ao princípio da dignidade da
pessoa humana e ao direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho e
ao meio ambiente laboral saudável." (TRT-2 - RO:
00022934620125020064 SP 00022934620125020064 A28, Relator:
IVETE RIBEIRO, Data de Julgamento: 19/05/2015, 4ª TURMA, Data de
Publicação: 29/05/2015).
No caso em questão, verifica-se que a cumulação
dos referidos adicionais é plenamente cabível, uma vez que o obreiro estava
em contato constante com agentes insalubres e perigosos, o que enseja ao
pagamento de ambos adicionais, nos termos das jurisprudências acima
expostas.
Portanto, em razão da exposição a agentes diversos,
fatos geradores dos respectivos adicionais, deve-se aduzir pela necessidade de
cumulação destes, consoante disposição contida no artigo 7º, XXIII, da
Constituição Federal e nas Convenções nº 148 e 155 da OIT das quais o Brasil
é signatário.

Diante dos apontamentos acima, aliados aso


entendimentos colacionados, requer-se que seja determinada a realização de
perícia para apuração/confirmação das condições que foi exposto o obreiro ao
longo de todo o contrato laboral, determinando-se a condenação da empresa
Reclamada ao pagamento dos respectivos adicionais, ambos em grau máximo
sobre o salário base do Reclamante, com reflexos em DSR´s, INSS, horas
extras, férias + 1/3 constitucional, 13º.salário, FGTS, verbas indenizatórias,
diferenças do benefício concedido pelo INSS calculado sobre os últimos
salários do obreiro, ficando-lhe assegurada a concessão dos adicionais de com
base no seu piso salarial.
11. DO ACIDENTE DE TRABALHO
Na data de 08 de outubro de 2017, em um
domingo, o Reclamante foi convocado ao labor, para realização de
reparo/manutenção em um reservatório da empresa.
Conforme instruções da preposta da Reclamada, o
Sr. José Bento compareceu na sede da empresa, pegou o veículo e as
ferramentas que ficavam acopladas na moto, e se dirigiu até o reservatório
que necessitava de realização de reparo/manutenção.
Ocorre que, no trajeto o Reclamante foi abalroado
por um veículo Fiat Toro, como se pode verificar no boletim de ocorrência
anexo.
Durante a colisão que ocorreu quando prestava
serviços para a Reclamada, o obreiro teve sua perna fraturada, foi socorrido
por ambulância e internado no Hospital Municipal de Confresa.
O Sr. José Bento passou por cirurgia para colocação
de 08 pinos na perna, teve que ficar vários dias internado, permaneceu longe
da família e passou aproximadamente 01 (um) ano acamado.
A Lei de benefícios previdenciários - Lei 8.212/91-
estabelece que o acidente de trabalho “é o que ocorre pelo exercício do trabalho
a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no
inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou pertubação
funcional que cause morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária,
da capacidade para p trabalho” – art. 19.
A ocorrência de acidente de trabalho típico é
incontroversa, conforme denota-se pelo benefício previdenciário concedido pelo
INSS – Auxilío Acidente do Trabalho “B 91” – de 24 de outubro de 2017 à 18
de setembro de 2018.
No boletim de ocorrência do sinistro, consta que o
reclamante não tinha habilitação, e mesmo tendo conhecimento desse fato, a
empresa Reclamada, ordenava que o obreiro dirigisse.
Importante esclarecer que, fazia parte da atividades
habituais do autor deslocar-se em veículo da empresa para realização de
manutenção e instalações em reservatórios, valas e esgotos dentro e fora da
sede da Reclamada.
Ressalta-se que, o Sr. José Bento expressou, por
mais de uma vez, sua insatisfação em infringir a lei dirigindo sem habilitação,
sugerindo, inclusive, que um funcionário habilitado lhe conduzisse até os
reservatórios e demais locais em que era necessário realização de operação
sanitária, entretanto a solicitação do autor nunca foi atendida, sendo sempre
instruído a conduzir a moto da empresa de forma ilegal, sob pena de
responder por insubordinação.
Excelência, o Reclamante é pessoa humilde de
pouca instrução e necessitava do emprego para sua subsistência e de sua
família, não havia como deixar de acatar seus superiores, pois estaria
colocando em risco o sustento de sua família.
Independente de quem ocasionou o acidente de
trânsito que lesionou o Reclamante durante o labor, o fato é que a empresa
atribuiu ao Reclamante a tarefa de conduzir veículo sem habilitação,
demonstrando a falta de procedimentos de segurança da empresa com seus
colaboradores, conduta está que teve relação direta com a ocorrência do
acidente de trabalho em tela.
Importante consignar, neste diuturno, que em se
tratando de acidente do trabalho, a culpa do empregador é sempre presumida
(responsabilidade objetiva), tendo em vista que aquele somente se verifica em
razão das condições em que o trabalho é prestado, sendo certo que se avalia a
conduta (omissiva ou comissiva) da Reclamada de atuar com prevenção dos
riscos inerentes às atividades desenvolvidas pelo então obreiro, zelando e
prevenindo pela sua segurança e saúde, que se trata de um direito
constitucional humano.
Esclarece-se que a empresa Reclamada coagia
outros colaboradores à dirigir sem habilitação, ou seja, além de instruir os
empregados infringirem a lei, colocava-os em risco, o que demonstra o total
descaso e falta de zelo da empresa com seus funcionários e os demais
membros da sociedade.

O acidente ocorreu quando o Reclamante estava a


serviço da empresa Reclamada, com o veículo da mesma que tinha total
conhecimento que o Reclamante não estava tinha habilitação, entretanto
convocou o obreiro, em seu dia de folga, para realizar diligência, não há assim
como a empresa alegar que sua atividade não implicou risco extraordinário do
acidente, tampouco que tomou as medidas cabíveis para assegurar a saúde e
segurança do trabalhador.
Não bastasse a culpa da Reclamada pelo acidente
ocorrido, vez que se não fosse as suas ordens o obreiro não teria conduzido
veículo ilegalmente, a empresa não prestou socorro ou qualquer tipo de
assistência ao obreiro.
Postas essas considerações, no caso em apreço,
encontram-se presentes todos os elementos que justificam a
responsabilização patronal, quais sejam, o nexo causal, a culpa da
reclamada (decorrente da ação delineada pela sua imprudência e de falta de
propiciação de condições seguras de trabalho) e o dano.
Diante do explicitado, restou plenamente
caracterizada a culpa da empresa ao descumprir normas legais e
regulamentares pertinentes à segurança do trabalho por força do art. 157 I e
II, da CLT, razão pela qual a Reclamada está obrigada a indenizar os danos
experimentados com fulcro nos artigos 5º, V e X, da Carta Magna e art. 159 do
Código Civil.
12. DA DOENÇA OCUPACIONAL - TEORIA DA CONCAUSA
O Reclamante, após a cessado o auxílio doença por
acidente de trabalho, em 18 de setembro de 2018 retornou ao labor,
oportunidade que a Reclamada não se sensibilizou com o trauma emocional e
as limitações fisícas do obreiro, lhe recolocando nas mesmas funções que eram
extremamente penosas, além de insalubres e perigoras exigiam do obreiro
enorme esforço físico.
As atribuições que o Reclamante exercia na
Reclamada, exigia força, especialmente para adentrar e sair das
valas/esgotos/reservatórios, o que acabou agravando as lesões decorrentes do
acidente do trabalho.
Em junho do corrente ano o Sr. José Bento,
atendendo ordens da empresa, em uma das diligências de manutenção, foi
obrigado a descer uma vala de mais de 02 (dois) metros de profundidade,
momento em que se lesionou e não conseguiu subir, tendo que ser socorrido.

Em decorrência dos esforços incompatíveis com suas


limitações físicas ocasionadas pelo acidente do trabalho, o seu quadro clínico se
agravou demasiadamente, tendo o obreiro que se afastar por incapacidade para
o labor. Colacionamos laudo médico:

Restará comprovado com perícia médica, que se


requer desde já a nomeação de ortopedista, o nexo causal da lesão crônica
decorrente do acidente do trabalho, bem como o seu agravamento com o labor
prestado para a Reclamada, vez que a empresa, recolocou o obreiro lesionado
em função incompatível com sua condição física após o acidente, acarretando
assim a total falta de mobilidade/funcionalidade do seu membro inferior.
O médico especialista em ortopedia, que será
nomeado por este I. Juízo, irá constatar que o Reclamante encontra-se
totalmente incapaz por problemas gerados pela moléstia adquirida no trabalho,
o que, sem dúvida alguma, reforça a tese do nexo causal com o seu labor na
Reclamada.
Frisa-se que princípio é constitucional que se
houver um acidente de trabalho, por culpa do empregador, este deverá
responder pela indenização obrigatoriamente!
13. DA RESPONSABILIDADE DA RECLAMADA – DEVER DE INDENIZAR
Excelência, conforme relatado linhas antecedentes,
as condutas da empresa Reclamada violaram direitos do Reclamante e lhe
causaram enorme prejuízo.
A ré, por duas vezes, agiu com total imprudência e
negligência com o Sr. José Bento. Primeiro a empresa convocou o Reclamante
ao trabalho, em seu domingo de folga, impondo-lhe que se deslocasse da sede
da empresa até um determinado reservatório, com veículo de propriedade da
Reclamada, para realização de manutenção, o que quase custou a vida do
Reclamante que, como era de conhecimento da empresa, não tinha
habilitação.
Não bastasse isso, cessado o benefício
previdenciário do obreiro, a Reclamada de forma totalmente desumana e
irresponsável recolocou o empregado sequelado, em atividades extremamente
penosas e incompatíveis com suas condições físicas após o acidente de
trabalho.
No nosso Código Civil, o definido no seu art. 159, já
mencionado no tópico anterior, é de uma clareza meridiana, quando letra:
"Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado
a reparar o dano." - Destacamos
Já o inciso III, do art. 1521, do mesmo Diploma
Legal, expressa:
"Art. 1521. São também responsáveis pela reparação civil:
III - O patrão, o amo ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou por ocasião
dele.” - Destacamos
Pelo consignado no nosso Código Civil, fica
consistente o entendimento de que havendo dano, por negligência ou
imprudência da empresa ou seu preposto, o empregador é o responsável pela
reparação.
O Egrégio Supremo Tribunal Federal já apaziguou
tal entendimento, na Súmula 341: "É presumida a culpa do patrão ou comitente
pelo ato culposo do empregado ou preposto."

Segundo o artigo 7.° da Constituição Federal:


“São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: XXI/YII seguro contra a
cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou - acidentes do trabalho, culpa;”

Por fim, o artigo 950 do Código Civil prescreve que:


“Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas dp tratamento e lucros cessantes até ao fim
da convalescência, incluirá pensão correspondente a importância do
trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único: o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez”.

13.1. Da estabilidade acidentária


As concausas são circunstâncias que concorrem
para o agravamento do dano, mas que não excluem o nexo causal,
desencadeado pela conduta principal. Assim, a situação de desenvolvimento da
doença pela atividade laboral despendida já é considerada como fator possível
de salvaguarda pela estabilidade provisória descrita no art. 118 da Lei nº
8.213/91, independentemente da comprovação ou não do acidente de trabalho
típico.
Deste modo, conclui-se que o labor exercido pelo
obreiro na empresa Reclamada, foi a causa (acidente de trabalho), bem como
concausa que colaborou de forma fundamental para o agravamento da lesão
que incapacitou o Reclamante, ensejando, portanto, a responsabilização da
Reclamada ao pagamento de indenização pelo período de estabilidade por
acidente do trabalho.
Total do valor do período de estabilidade: R$ 21.442,8
13.2. Da pensão no caso de constatação de incapacidade –
lucros cessantes
A jurisprudência entende que a indenização paga pela
incapacidade para o trabalho, provocada por ato ilícito, alonga-se por toda a
vida, que vai, hoje, até os 75 anos, para efeito de cálculo do quantum da
indenização devida em caso de acidente do trabalho, até o limite desta idade.
Uma vez constatada a incapacidade do obreiro,
necessário seja a Reclamada condenada ao pagamento de pensão
correspondente à importância do trabalho, além da estabilidade acidentária.
O art. 950 do Código Civilista, na parte final,
estabelece que a pensão será correspondente à importância do trabalho, para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Com isso, o que vale para a fixação do percentual, é a


incapacidade para o trabalho que exercia no momento do ato lesivo, pouco
relevando que haja incapacidade apenas parcial para outras atividades, salvo
comprovação que o ofendido exerce outro emprego remunerado. Frisa-se que a
mera possibilidade de fazê-lo está fora da presunção legal.
Ressalta-se que a referida pensão mensal vitalícia
deverá ser cumulativa a qualquer benefício previdenciário eventualmente
percebido pelo reclamante, nos termos o art. 7º, inciso XXVIII, da Constituição
Federal e do art. 121 da Lei n. 8.213/91.
Provável que o Reclamante jamais seja capaz de
exercer o trabalho que exercia no momento do ato lesivo, pois, em decorrência
do acidente de trabalho e a sua posterior recolocação em atividades totalmente
incompatíveis com suas lesões, houve agravamento do seu quadro clínico, que
evoluiu para uma artrose no quadril e joelho, e uma fratura consolidada no
fêmur que lhe incapacitou totalmente ao trabalho.
Diante do exposto, considerando a perda de
funcionalidade total do autor para o exercício da função de Agente Sanitário; a
idade do Reclamante; sua expectativa de sobrevida; o salário percebido, requer
seja a Reclamada condenada a pagar pensão mensal vitalícia equivalente a
100% do salário mensal do Reclamante, acrescido de férias e 13º salário, com
um deságio de 20% pela antecipação do pagamento (R$ 1.429,52 x 100% = R$
1.429,52 x 308 meses = R$ 440.322,96- 20% = R$ 352.258,368).
Valor total estimado (considerando incapacidade de 100%):
R$ 352.258,368
Caso a prova técnica constate valor percentual de
incapacidade inferior, o valor consequentemente será reduzido.
13.3. Subsidiariamente - Necessidade de readaptação do
Reclamante

Na remota hipótese do expert nomeado por este


Nobre Juízo, constatar que o Reclamante não está totalmente incapaz para
exercer às funções de Agente Sanitário, o que não se espera, vez que o
Reclamante perdeu a mobilidade/funcionalidade do corpo, necessário seja a
empresa Reclamada condenada a proceder a readaptação do autor para
funções compatíveis com sua função e sua condição de saúde, devendo se
atentar a limitação física do obreiro.

Frisa-se que, a readaptação em função diferente


não significa recuperação da capacidade de trabalho, mas a consolidação
da incapacidade para a atividade anteriormente exercida, devendo neste
caso a empresa Reclamada ser condenada ao pagamento de pensão no valor
apontado acima (100%).
Ad cautelam, caso a perícia constate a possibilidade
de retorno do Reclamante ao labor na função de Agente Sanitário, o que, mais
uma vez, não acredita nem se espera, necessário que a empregadora cumpra a
sua função social de forma efetiva, em conformidade com o direito social
ao trabalho digno e à readaptação adequada, ficando impedida de expor o
empregado a qualquer ato discriminatório e a situação humilhante e vexatória.

13.4. Dos demais danos suportados


A Consolidação das Leis do Trabalho assegura a
reparação material e moral, bem como, expressamente assegura que se tratam
de reparações de naturezas distintas, das quais não cabe compensação entre
uma e outra espécie, conforme se depreende do artigo 223 –F da CLT:
Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida
cumulativamente com a indenização por danos materiais decorrentes do
mesmo ato lesivo.
§ 1º. Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão,
discriminará os valores das indenizações a título de danos
patrimoniais e das reparações por danos de natureza
extrapatrimonial.
§2º. A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros
cessantes eo danos emergentes, não interfere na avaliação dos danos
extrapatrimoniais. – Destaques nossos.
13.4.1. Dano material
A indenização pelo dano material deve abranger,
além do pensionamento, a soma das despesas com tratamentos médicos,
inclusive manutenção do plano de saúde.
Importante esclarecer que a indenização referente
aos gastos com medicamentos, plano de saúde e tratamentos médicos até o
dia da convalescença corresponde ao que o Reclamante efetivamente gastou e
ainda gastará com despesas médicas, hospitalares, farmacêuticas e etc.
Valor ilíquido
13.4.2. Danos morais
Inseridos nos direitos constitucionais assegurados à
pessoa humana, encontra-se o direito à integridade física e psíquica.
Os efeitos do quadro gerado pelo acidente resultou
em fratura consolidada no fêmur; fratura perna esquerda (que ficou menor
que a direita); agregado a dor física; cicatrizes dos pinos que foram necessários
colocar; perda da mobilidade e funcionalidade - isso somado ao agravamento
acarretado pelos enormes esforços físicos que o Reclamante teve que realizar
para cumprir as ordens da empresa que acabou agravando seu estado de
saúde e lhe deixando totalmente incapaz, trazendo consequências negativas
não apenas na vida profissional do obreiro, afeta a paz interior e o estado
psicológico do ser humano.
A impotência funcional de um membro do corpo ou
parte dele, ainda mais sendo aparente, ocasionando inclusive transformação
física do Reclamante que ficou com uma perna mais curta que outra, lhe
deixando manco, causa tristeza, desgostos e constrangimentos, que
submete-se ao conceito de dano moral e como tal merece ser indenizado.
Ressalta-se ainda a imensa frustração de ter sua
carreira profissional rompida, o sentimento de inutilidade que acomete o Sr.
José Bento que possuía uma vida ativa e agora encontra-se impossibilitado de
trabalhar.
Conforme se pode verificar no relatório médico
anexo, o qual foi colacionado no corpo da presente, bem como restará
demonstrado no decorrer da instrução processual, o acidente do trabalho e a
consequente doença ocupacional (agravamento das sequelas do acidente),
além de incapacitar o Reclamante lhe deixou depressivo.
Não há necessidade de comprovar a dor
experimentada pela lesão que incapacite a pessoa. Não se apresenta de forma
corpórea, palpável, visível ou material. Ao contrário, é detectável tão somente
de forma intuitiva, sensível, lógica e perceptiva.
Por isso, basta o mero implemento do dano injusto
para criar a presunção dos efeitos negativos na órbita subjetiva do lesado.
Não se cogita prova de dor, ou aflição, ou de
constrangimento, pois são fenômenos ínsitos na alma humana como reações
naturais a agressões do meio social. Basta a demonstração do resultado lesivo
e a conexão com o fato causador.
No caso, basta-nos a análise da ocorrência do ato
ofensivo, sua conexão com a ação ou omissão dolosa do ofensor e se, esse
evento danoso, é capaz de gerar no ser humano de um modo geral, reflexos
danosos nas relações da vítima com o mundo exterior, no plano social,
objetivo, configurando situações de constrangimento, humilhação e
degradação ou ainda lhe atingir a autoestima.
A Lei nº. 13.467/2017 incluiu na CLT o art. 223-A e
seguintes, que dispõem em um rol exemplificativo sobre as causas de danos de
natureza extrapatrimonial, ou que pode ser facilmente observado no caso em
tela. Referido artigo também estabelece os limites para o valor da indenização,
embora de forma inconstitucional.
Todavia, ad cautela, entende o Reclamante, que as
lesões perpetradas contra sua integridade se revelam de NATUREZA GRAVE,
ao passo que se mostram incuráveis, impossibilitando sua ascensão
profissional.
Desta feita, segundo os critérios fixados no artigo
223-G, § 1º, inciso III da CLT deverá este juízo, arbitrar indenização por danos
morais em valor não inferior a 20 vezes o salário do obreiro (R$ 1.429,52),
considerando que ambos acidentes ocasionados por culpa exclusiva da
Reclamada, incapacitaram o Reclamante.
Valor: R$ 28.590,40
13.4.3. Danos estéticos
O dano estético se traduz na lesão à integridade e
harmonia física do ser humano, tais como a perda de membros, deformidades
morfológicas, cicatrizes, dentre outros que possam causar repulsa perante
terceiros ou mesmo redução na autoestima, o que não se confunde com o
dano moral, uma vez que visa à proteção de bem jurídico de natureza distinta
(harmonia física), sendo portanto cumuláveis (Súmula 387 STJ).
No presente caso, o Reclamante, além das cicatrizes
decorrentes da cirurgia e colocação de diversos pinos, o mesmo ficou manco,
com uma perna mais curta que a outra, ou seja, é inconteste o dano estético.
Diante do exposto, requer-se seja condenada a
Reclamada ao pagamento dos danos estéticos causados ao Reclamante, cujo o
valor deverá ser fixado levando-se em conta a visibilidade das lesões, a
deformidade (que é visível), o sofrimento individual do obreiro pelo acidente de
trabalho, pelo que se sugere um valor mínimo equivalente, ao menos, 10 (dez)
vezes a remuneração do obreiro.
Valor: R$ 14.295,2
14. INDENIZAÇÃO EQUIVALENTE AOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
TEORIA DA REPARAÇÃO INTEGRAL
Com o advento da Lei 13.467/17, a CLT passou a
admitir os honorários advocatícios sucumbenciais, nos termos do art. 791-A,
tornando sem efeito os entendimentos fixados nas Súmulas 219 e 329 do C.
TST.
Entretanto, entendemos que é cabível, também, na
Justiça do Trabalho a regra insculpida no art. 389 do Código Civil Brasileiro,
que permite a condenação, inclusive ex officio, de indenização equivalente aos
honorários advocatícios em favor da parte.
Destarte, requer seja a reclamada condenada ao
pagamento de indenização equivalente aos honorários advocatícios, ora
estipulados contratualmente em 30% sobre o valor das verbas deferidas, que
reverterá em proveito exclusivo da reclamante, sem incidência dos honorários
advocatícios contratuais e com expedição de guia de retirada em nome
exclusivamente do reclamante em relação a tal verba, haja vista que a verba
ora deferida não se confunde com honorários de sucumbência, antes, trata-se
de valor indenizatório que se destina à reparação dos prejuízos
experimentados pelo trabalhador que, para receber o seu crédito trabalhista,
necessitou contratar advogado às suas expensas, causando-lhe perdas.
Aplicação subsidiária dos artigos 389 e 404 do Código Civil Brasileiro.
Incumbe à Secretaria da Vara, no momento da
entrega da Guia de Retirada ao reclamante, esclarecê-lo de que a presente
verba é de sua titularidade exclusiva, sem incidência dos honorários
advocatícios contratuais.
Destaco, por oportuno, que a indenização
equivalente aos honorários advocatícios não se confunde com os honorários
advocatícios sucumbenciais, inexistindo bis in eadem.
 
15. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, a Reclamante requer seja julgada
TOTALMENTE PROCEDENTE a presente Reclamação Trabalhista,
respeitando a prescrição quinquenal, condenar a empresa Reclamada:
a) Horas Extras, das excedentes a 8º hora diária e 44º semanal, nos
termos do inciso XIII, artigo 7º da Constituição Federal e horas
em dobro, dos feriados e domingos trabalhados com adicional de
75%, bem como dos reflexos delas decorrentes em DSR´s, férias +
1/3 legal, 13º salário e FGTS
_________________________________Valor estimado R$ 85.173,25;
b) Adicional noturno e reflexos decorrentes em DSR´s, férias + 1/3
legal, 13º salário INSS e FGTS, e verbas indenizatórias
______________________________________Valor apurado R$ 870,00;
c) Adicional de insalubridade durante todo o período contratual em
grau máximo de 40% sobre o salário base do Reclamante,
ficando-lhe assegurada a concessão do aludido adicional com
base no seu piso salarial, com seus reflexos em todas as verbas
salariais, inclusive nas indenizatórias e na diferença do benefício
previdenciário auferido pelo Reclamante, o qual foi calculado com
base nos últimos salários do obreiro, bem como dos reflexos delas
decorrentes em DSR´s, férias + 1/3 legal, 13º salário INSS e
FGTS, além de nas horas extras pedidas nesta ação
__________________________________ Valor apurado R$ 31.500,00;
d) Adicional de periculosidade durante todo o período contratual, em
grau máximo de 30% sobre o salário base do Reclamante,
ficando-lhe assegurada a concessão do aludido adicional com
base no seu piso salarial, com seus reflexos em todas as verbas
salariais, inclusive nas indenizatórias e na diferença do benefício
previdencíario auferido pelo Reclamante, o qual foi calculado com
base nos últimos salários do obreiro, bem como dos reflexos delas
decorrentes em DSR´s, férias + 1/3 legal, 13º salário INSS e
FGTS, além de nas horas extras pedidas nesta ação
__________________________________ Valor apurado R$ 21.000,00;
e) Seja reconhecida a possibilidade de cumulação dos adicionais de
insalubridade e periculosidade nos termos supramencionado;
f) Seja reconhecida a culpa exclusiva da Reclamada no acidente do
trabalho ocorrido em 08.10.2017, nos termos supramencionados;
g) O reconhecimento da doença ocupacional do Reclamante,
oficiando-e o INSS para retificação do benefício auxílio-doença por
incapacidade por acidente de trabalho (espécie 91);
h) Uma vez reconhecida o acidente do trabalho e a doença
ocupacional, sejam as Reclamadas compelidas a realizarem os
recolhimentos previdenciários e do FGTS do período em que o
obreira ficou, bem como econtra-se efetivamente afastado pela
Previdência Social;
i) O reconhecimento da estabilidade acidentária, com a condenação
das Reclamadas ao pagamento de indenização no valor de
_______________________________________________ R$ 21.442,80;
j) Caso a prova pericial, que desde já se requer, comprove a
incapacidade total e permanente do Reclamante, sejam as
Reclamadas condenadas à pagarem ao Sra. José Bento a título de
pensão vitalícia em decorrência da sua incapacidade laboral o
montate de ____________________________________ R$ 352.258,36;
k) Na remota hipótese da prova pericial considerar o Reclamante
apto para exercer a função de Agente Sanitário, requer seja a
empresa Reclamada: k.1) compelida a readequar o obreiro na sua
função de forma adequada, respeitando suas limitações físicas e
k.2) seja a reclamada condenada ao pagamento de pensão
vitalícia, equivalente ao percentual de incapacidade apurado
sobre o salário do autor, considerando a perda de funcionalidade
para o exercício da função de Agente Sanitário; a idade do
Reclamante (53 anos); sua expectativa de sobrevida (75 anos); o
salário percebido (R$ 1.529,42 mais acréscimos ilíquidos),
acrescido de férias e 13º salário, com um deságio de 20% pela
antecipação do pagamento___________________________ à liquidar;
l) Sem prejuízo, requer-se a condenação da Reclamada ao
pagamento de todos os medicamentos e procedimentos médicos
necessários para o tratamento do obreiro, inclusive, ao
pagamento/manutenção de plano de saúde
vitalício______________________________________________à liquidar;
m) Indenização a título de danos morais, em valor não inferior a 20
(vinte) vezes o salário do Reclamante
___________________________________valor estimado R$ 28.590,40;

n) Indenização a título de danos estéticos, em valor não inferior a


10 (dez) vezes o salário do Reclamante
__________________________________ valor estimado R$ 14.295,20;
o) Honorários advocatícios na razão de 15% sobre o valor da
condenação_________________________________________ à liquidar;
p) seja a reclamada condenada ao pagamento de indenização
equivalente aos honorários advocatícios, ora estipulados
contratualmente em 30% sobre o valor das verbas deferidas
_____________________________________________________ à liquidar;
16. DOS REQUERIMENTOS FINAIS
Requer a notificação da Reclamada para que,
querendo, apresente sua defesa, sob pena de revelia e confissão;
Requer ao juízo que determine o IPCA-E em lugar da
TR para a correção das verbas a serem deferidas em favor do Reclamante a
partir 25/03/2015.
Para efeitos de liquidação de sentença, requer que
tome-se para base de cálculo das verbas trabalhistas e indenizatórias a
remuneração total do Reclamante, a qual equivale ao maior salário percebido,
mais a integração dos reflexos das horas extras, adicional de insalubridade e
periculosidade, mais a integração dos reflexos dos DSR’S, etc.
O quantum condenatório deverá ser apurado em
liquidação, devendo ser observados todos os reajustes salariais que
beneficiaram e que beneficiarão a sua categoria profissional, concedidos
através de Legislação, Dissídios, Acordos, Convenções Coletivas de Trabalho,
Aditamentos, etc., devendo ainda serem observados os demais direitos e
vantagens que forem deferidos a referida categoria profissional.
A concessão do benefício da Assistência
Judiciária Gratuita, com base no Art. 790, §3º, da CLT por tratar-se A
Reclamante de pessoa pobre nos termos da lei, não possuindo condições
financeiras de arcar com os custos da presente ação sem prejuízo de sua
subsistência e de sua família.
Nos termos da Instrução Normativa nº 41 do TST,
em seu artigo 12, paragrafo 2º, requer o reclamante, que os pedidos
constantes na presente, sejam liquidados com exatidão, tão somente após o
trânsito em julgado da reclamatória, tendo em vista que os valores que
constam na exordial são meramente estimativos.
Pugna-se pela atenuação da rigidez do artigo 818 da
CLT e 373 do CPC, estendendo o entendimento dado pela Súmula 338, do
empregado perante seu empregador, que autoriza o juiz do trabalho adotar a
inversão do ônus probandi e ampliando a aplicação do princípio “in dúbio pro
operarium”.
Pleiteia, ainda, pela declaração de
inconstitucionalidade do artigo 790-B da CLT (caput e párarafo 4ª), que
responsabiliza a parte sucumbente (vencida) pelo pagamento de honorários
periciais, ainda que beneficiário da justiça gratuita. Requer, outrossim, a
declaração de inconstitucionalidade do artigo 791-A, que considera devidos
honorários advocatícios de sucumbencia por beneficiário da justiça gratuita,
sempre que tenha obtido em juízo, ainda que em ouro processo, créditos
capazes de suportar a despesa. No mais, requer, seja declarada ainda, a
inconstitucionalidade incidental do artigo 844, parágrafo 2º.
Requer a produção de todas as provas em direito
admitidas, como documental, testemunhal, pericial e inspeção judicial.
Isto posto, requer seja a ação julgada
TOTALMENTE PROCEDENTE, com a condenação da empresa Reclamada ao
pagamento das verbas postuladas, acrescidas de juros de mora, correção
monetária, custas processuais e honorários advocatícios, bem como suportar
os ônus dos recolhimentos fiscais e previdenciários.
De acordo com o artigo 425, inciso IV, do CPC as
advogadas que esta subscrevem autenticam todos os documentos que
instruem a presente petição inicial.
Requer-se, também nesta ocasião, que todas as
publicações e intimações do presente feito sejam veiculadas em nome de
TAMMY DE ALBUQUERQUE FRANCO – OAB/SP 294413 e TATIANE
MARTINS CARNEIRO - OAB/SP 411.022, sob pena de nulidade.
Dá-se a causa o valor de R$ 555.130,01
(quinhentos e cinquenta e cinco mil, cento e trinta reais e um centavo),
apenas para efeitos fiscais, uma vez que todas as verbas deverão ser apuradas
em regular liquidação de sentença.

Termos em que,
pede deferimento.
Confresa-MT, 02 de outubro de 2021.

TAMMY DE ALBUQUERQUE FRANCO


OAB/SP nº. 294.413
TATIANE MARTINS CARNEIRO
OAB/SP nº.411.022

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