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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DA VARA DO TRABALHO DE

[CIDADE ONDE SERÁ PROTOCOLADA] – ESTADO DO PARANÁ


PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
DOENÇA OCUPACIONAL
E PESSOA IDOSA
TRABALHADOR (A), [qualificaçã o completa + telefone + endereço eletrô nico], por seu (s)
advogado (s) devidamente constituído (s) por procuraçã o (anexa) e que ao final assina (m),
com endereço profissional na [endereço completo + telefone + endereço eletrô nico], onde
recebe (m) as notificaçõ es e intimaçõ es de estilo, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no art. 840 da CLT, propor a presente
RECLAMATÓRIA TRABALHISTA
pelo Rito [Sumário ou Ordinário]
em face de EMPREGADOR, [qualificaçã o completa + CNAE + telefone e endereço eletrô nico,
se houver], o que faz pelas razõ es de fato e de direito a seguir expostas.
I – PRELIMINARMENTE / DA JUSTIÇA GRATUITA
A Reforma Trabalhista, em seu art. 790 trouxe expressamente o cabimento do benefício à
gratuidade de justiça, ao dispor em seus pará grafos 3º e 4º:
“§ 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de
qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita,
inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou
inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social.
§ 4º O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência
de recursos para o pagamento das custas do processo.” (grifou-se)
No presente caso, a Reclamante percebeu, como ú ltima remuneraçã o, o valor líquido de R$
1.705,00 (mil e setecentos e cinco reais), antes de ter sido demitida e se ver desempregada.
Ademais, declarou o seu estado de hipossuficiência financeira, o que é comprovado pelos
recibos, declaraçõ es escritas e demais documentos anexos
Evidente, portanto, que a Reclamante nã o possui condiçõ es de arcar com as custas dos
processos e demais ô nus, preenchendo assim o requisito previsto no artigo 790 da CLT,
razã o pela qual faz jus aos benefícios da justiça gratuita.
Por tais razõ es, requer seja deferida a justiça gratuita à obreira.
II – DO ARTIGO 840 § 1º DA CLT
De acordo com o artigo 840 § 1º da CLT a petiçã o inicial deve conter pedido certo,
determinado e com a indicaçã o de seu valor, todavia, nã o há necessidade da apresentaçã o
de cá lculo exato do valor do pedido, mas tã o somente mera expectativa de valor, sem a
necessidade de liquidaçã o e demonstraçã o com cá lculo contá bil.
Nesse sentido, o art. 12, § 2º da IN TST/2018 que assim dispõ e:
“Art. 12. (…)
§ 2º Para fim do que dispõe o art. 840, §§ 1º e 2º, da CLT, o valor da causa será estimado,
observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 291 e 293 do Código de Processo Civil.”
Assim, requer seja recebida a petiçã o com os valores que se lançam por estimativa, quais
deverã o ser rerratificados em liquidaçã o de sentença.
III – PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO PROCESSUAL
A Reclamante é vítima de doença profissional consubstanciada em acidente de trabalho,
conforme se demonstrará a seguir, e continua afastada do trabalho pela recusa injustificada
da Reclamada, sem perceber nenhum salá rio desde a alta previdenciá ria, e demitida
posteriormente ainda no período de estabilidade provisó ria.
Ademais, consta com idade avançada, já que tem, à época do ajuizamento da presente
demanda, 68 (sessenta e oito) anos de idade, o que faz enquadrar em dispositivos da Lei nº
10.741/2003 ( Estatuto do Idoso).
Portanto, observadas estas condiçõ es, a Reclamante faz jus à prioridade na tramitaçã o
processual, conforme previsã o no art. 71 da Lei nº 10.741/2003 e art. 43, alínea “e” da
Consolidaçã o dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho
(Recomendaçã o Conjunta 1/GP.CGJT, de 3 de maio de 2011) c/c art. 1º da Portaria
Conjunta Presidência-Corregedoria nº 2, de 30 de janeiro de 2018 do TRT-9ª Regiã o.
IV – DA LIMITAÇÃO À APLICAÇÃO DA LEI 13.467/17
O art. 5º, inciso XXXVI da Carta Maior dispõ e que a lei nã o prejudicará o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No mesmo sentido, o art. 6º da LINDB.
Com efeito, aplicaçã o da Lei nº 13.467/17 aos contratos celebrados antes da sua vigência é
afrontar o direito adquirido e configurar alteraçã o contratual em prejuízo ao empregado, o
que é vedado pelo art. 468 da CLT.
Ademais, pensar de modo diferente seria afrontar o preceito do art. 5º, § 2º (vedaçã o ao
retrocesso social) e o princípio da norma mais favorá vel ao trabalhador, previsto no art. 7º,
ambos da CF/88.
Por fim, traria prejuízo financeiro ao empregado que teria sensivelmente reduçã o salarial
apó s a vigência da reforma, o que é vedado pelo inciso VI do artigo 7º da CF.
No presente caso, conforme se demonstrará a seguir, a Reclamante tem vínculo
empregatício com a Reclamada desde o ano de 2003, ou seja, o pacto laboral que regula as
relaçõ es entre as partes antecede as mudanças legislativas, nos termos dos dispositivos
constitucionais e juslaborais citados.
Portanto, reconhecidos os direitos previstos anteriores a reforma, deverã o ser deferidos
por todo o pacto laboral nã o se aplicando as alteraçõ es promovidas pela Lei nº 13.467/17
no presente caso.
V – DO CONTRATO DE TRABALHO
A Reclamante foi contratada pela Reclamada para trabalhar na funçã o de cozinheira em
data de 08/09/2003, percebendo como ú ltima remuneraçã o o valor líquido de R$ 1.705,00
(mil e setecentos e cinco reais), conforme registro em CTPS e holerites anexos.
Em razã o da idade, a Reclamante já está aposentada pelo INSS, tendo mantido o vínculo
empregatício vigente com a Reclamada.
Dentro de suas funçõ es de cozinheira, era responsá vel por elaborar o preparo e a
finalizaçã o de alimentos, restriçõ es de dietas e nutriçã o especial destinados, observando
métodos de cocçã o e padrõ es de qualidade dos alimentos aos pacientes da Reclamada.
Desde o início do vínculo empregatício, laborava em jornada especial de 12x36 (doze horas
trabalhadas por trinta e seis de descanso), de segunda a sá bado, das 7h00min à s 13h00min
e das 15h00min à s 19h30min/20h00min. Também trabalhava dois domingos por mês em
mesmo horá rio.
Por recomendaçã o médica, a jornada de trabalho da Reclamante foi alterada em Jun/2019
para 06 horas diá rias, quando entã o passou a laborar, de segunda a sá bado, das 07h00min
à s 13h0min com apenas 30 minutos de intervalo intrajornada.
Em aproximadamente Ago/2020, a Reclamante sofreu uma séria queda no local de
trabalho e machucou severamente seu ombro direito. A Reclamada nã o procedeu à
emissã o da CAT na época, embora foi necessá rio o seu afastamento para a realizaçã o de
consultas, exames e o respectivo tratamento médico, conforme atestado anexo.
O profissional médico do trabalho recomendou, em razã o das lesõ es sofridas no ombro pela
obreira, restriçõ es consistentes em: a) ao exercer as atividades laborais, evitar esforço
físico e/ou levantamento de peso acima das suas capacidades; b) evitar horas extras
frequentes, e; c) reduçã o da carga horá ria para 6h/dia.
Apenas em Mar/2021, a Reclamante foi submetida a um exame que constatou a lesã o no
supraespinal do ombro direito, tendo sido afastada por 45 (quarenta e cinco) dias e
recomendado ainda tratamento médico e restriçõ es no ambiente de trabalho.
Ocorre que, ao ser submetida a novo exame de retorno ao trabalho, o médico responsá vel
apontou no atestado de saú de ocupacional (ASO) que a Reclamante estava inapta para
exercer suas funçõ es.
Em consequência, a Reclamada preferiu afastar a Reclamante e encaminhá -la ao INSS em
vez de atender a recomendaçã o médica quanto à s restriçõ es nas atividades laborais e
adaptabilidade de funçã o.
Logicamente, o INSS negou o benefício previdenciá rio, pois a Reclamante já é aposentada,
quando entã o a Reclamada determinou o exame médico de retorno.
Ocorre que, embora o profissional tenha condicionado o retorno da obreira à restriçõ es no
trabalho, face a frá gil condiçã o de saú de da mesma, a Reclamada procedeu à sua demissã o
sem justa causa em data de 24/09/2021 e sem lhe pagar-lhe devidamente as verbas
rescisó rias, inclusive de natureza indenizató ria, sendo necessá ria a propositura da
presente demanda para que este d. Juízo aplique o direito invocado.
VI – JORNADA DE TRABALHO / INTERVALOS INTRAJORNADAS / INDENIZAÇÃO /
ADICIONAIS DE 50% E 100%
Conforme narrado, desde Jun/2019, a Reclamada concedia à Reclamante diariamente
intervalos intrajornadas de apenas de 30 (trinta) minutos, em média, em jornadas
superiores a 06h00 diá rias.
Há que se observar inicialmente que, por nã o respeitar o disposto no art. 71, caput da CLT,
o qual prevê o direito a usufruir o intervalo mínimo de 01 (uma) hora para repouso ou
alimentaçã o aos empregados que laborem em jornadas a partir de 06 (seis) horas diá rias,
como era é o presente caso, a Reclamada deve ser condenada a indenizar a Reclamante
pelas horas suprimidas no período, bem como os seus reflexos.
Destaca-se que, no presente caso, trata-se de nã o concessã o de metade do período de
intervalo intrajornada, o que justifica a condenaçã o da Reclamada a indenizar a obreira
durante todo o período da contrataçã o em que houve a supressã o, conforme art. 71 da CLT.
A respeito, cita-se a Sú mula 437 do TST:
“INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA
CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) -
Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo
intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o
pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo
de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da
CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.
II - E inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a
supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene,
saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art.
7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo
empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo,
assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo
do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar
o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do
respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.” (grifou-se)
Assim, considerando o salá rio da Reclamante no respectivo período, inclusive as
diferenças quando percebeu remuneraçã o inferior que o piso mínimo da categoria, tem
direito a ser indenizada por todo o período em que nã o pô de usufruir dos intervalos
intrajornadas, bem como os reflexos decorrentes em DSR’s e demais verbas salariais,
aplicando-se os adicionais de 50% para dias ú teis normais e 100% em caso de feriados.
Valor estimado do pedido: R$ 1.887,28 (mil e oitocentos e oitenta e sete reais e vinte
e oito centavos).
VII – ACIDENTE DE TRABALHO / RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR /
RECONHECIMENTO / ESTABILIDADE PROVISÓRIA / NULIDADE DA DEMISSÃO /
REINTEGRAÇÃO OU INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA / PENSÃO MENSAL VITALÍCIA
Conforme narrado, a Reclamante foi contratada como cozinheira em data de 08/09/2003
pela Reclamada, sendo responsá vel por elaborar o preparo e a finalizaçã o de alimentos,
restriçõ es de dietas e nutriçã o especial, observando métodos de cocçã o e padrõ es de
qualidade dos alimentos destinados aos pacientes.
Também era responsá vel pela limpeza do local de trabalho, tanto da louça e objetos
utilizados na execuçã o das atividades pró prias da funçã o quanto do ambiente.
Cabe destacar que, desde o início do vínculo empregatício, laborava em jornada especial de
12x36 (doze horas trabalhadas por trinta e seis de descanso), de segunda a sá bado, das
7h00min à s 13h00min e das 15h00min à s 19h30min/20h00min. Também trabalhava dois
domingos por mês em mesmo horá rio.
Por recomendaçã o médica, a jornada de trabalho da Reclamante foi alterada em Jun/2019
para 06 horas diá rias, quando entã o passou a laborar, de segunda a sá bado, das 07h00min
à s 13h0min com apenas 30 minutos de intervalo intrajornada.
Em meados de Ago/2020, a Reclamante sofreu uma queda no ambiente de trabalho e
sofreu graves lesõ es no ombro direito, tendo sido afastada das suas funçõ es para consultas,
exames e tratamento médico, conforme atestado anexo.
O profissional médico do trabalho recomendou, em razã o das lesõ es sofridas no ombro pela
obreira, restriçõ es consistentes em: a) ao exercer as atividades laborais, evitar esforço
físico e/ou levantamento de peso acima das suas capacidades; b) evitar horas extras
frequentes, e; c) reduçã o da carga horá ria para 6h/dia.
Apenas em Mar/2021, a Reclamante foi submetida a um exame que constatou a lesã o no
supraespinal do ombro direito, tendo sido afastada por 45 (quarenta e cinco) dias e
recomendado ainda tratamento médico e restriçõ es no ambiente de trabalho.
A origem da patologia está intrínseca e exclusivamente ligada à s atividades exercidas para
a Reclamada e à s condiçõ es do trabalho, as quais contribuíram diretamente para a lesã o
sofrida pela Reclamante durante o período de contratualidade.
Importa transcrever o que dispõ e os arts. 19 e 20 da Lei n. 8.213/91:
“Art. 19. Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Art. 20. Considera-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes
entidades mórbidas:
I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício
do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.” (grifou-se)
Portanto, o evento se configura exatamente um acidente de trabalho, uma vez que a queda
ocorreu no ambiente de trabalho e as lesõ es no ombro direito sã o consequentes do evento.
À época, nã o ocorreu a abertura de CAT pela empresa, em descumprimento ao art. 332 da
Instruçã o Normativa INSS/PRES nº 77/2015, e a Reclamante foi afastada devido ao
atestado médico.
Mesmo comunicada e ciente do acidente, a empresa manteve-se inerte e, conforme narrado
anteriormente, a Reclamante apenas foi submetida a exames médicos em Mar/2021,
ocasiã o em que foi realizado uma ressonâ ncia e que constatou a lesã o no ombro direito,
regiã o corporal que havia sofrido na queda ocorrida no ano anterior.
A Reclamante foi entã o afastada por 45 (quarenta e cinco dias) ininterruptos, mas nã o
pô de gozar do auxílio-doença acidentá rio, já que se encontrava aposentada, sendo que a
Reclamada impediu a mesma de retornar ao trabalho apó s o seu restabelecimento.
A propó sito, cabe transcrever o dispositivo em apreço:
“Art. 332. As CAT relativas ao acidente do trabalho ou à doença do trabalho ou à doença
profissional ocorridos com o aposentado que permaneceu na atividade como
empregado ou a ela retornou, deverão ser registradas e encerradas, observado o
disposto no art. 173 do RPS.
Parágrafo único. O segurado aposentado deverá ser cientificado do encerramento da
CAT e orientado quanto ao direito à Reabilitação Profissional, desde que atendidos os
requisitos legais, em face do disposto no § 2º do art. 18 da Lei nº 8.213, de 1991.” (grifou-se)
O art. 18, § 2º da Lei nº 8.213/1991, por sua vez, dispõ e:
“Art. 18. (…)
§ 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que permanecer em
atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da
Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à
reabilitação profissional, quando empregado.”
Deste modo, nos termos do art. 118 da Lei n. 8.213/1991 e da Sú mula 378 do TST, a
Reclamante faz jus à chamada estabilidade acidentá ria no prazo mínimo de 12 (doze)
meses, com a manutençã o de todos os direitos decorrentes do contrato de trabalho.
Todavia, a Reclamada nã o encaminhou a obreira à reabilitaçã o profissional, nos termos do
art. 89 da Lei n. 8.213/1991, e ainda, desde o acidente, se recusava injustificadamente a
reintegrá -la ao trabalho e pagar-lhe os salá rios do período.
Por fim, embora ciente inequivocadamente da moléstia sofrida pela Reclamante e que esta
guardava relaçã o com o acidente de trabalho, preferiu demiti-la.
A atitude da Reclamada é ilícita, nos termos do art. 187 do Có digo Civil, e conduz o direito
da Reclamante a ser reintegrada, bem como a perceber todos os salá rios que nã o foram
pagos no período, considerando que o contrato de trabalho permanece vigente.
Como é sabido, ao empregador é obrigató ria a observâ ncia das medidas de segurança e
medicina do trabalho a fim de evitar riscos aos seus trabalhadores, conforme dispõ e o art.
7º, inciso XXII da CF/88, veja-se:
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;”
Ademais, ocorrendo acidente de trabalho, ficará a cargo do empregador seguro contra
acidentes, sem excluir a indenizaçã o decorrente da responsabilidade civil.
Nesse sentido o art. 7º, XXVIII da CF dispõ e:
“XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”.
Também há previsã o na Clá usula Décima Sexta da CCT XXXXX-2021 da categoria a
obrigaçã o do empregador em manter seguro de vida à s suas expensas em benefício do
empregado.
“CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA - SEGURO DE VIDA
As empresas providenciarão as suas expensas, para todos os empregados, seguro de vida no
valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), a partir da vigência desta Convenção Coletiva de
Trabalho, corrigíveis pelo índice oficial, salvo quando houver norma proibitiva da SUSEP, que
impossibilite a contratação do seguro.”
Francisco Milton Araú jo Junior explica a respeito 1:
“Constata-se, então, que a garantia de emprego do trabalhador vítima de acidente
laboral que foi afastado de suas atividades laborais por prazo superior a 15 (quinze)
dias não se encontra condicionada à percepção do auxílio-doença acidentário,
especialmente quando se verifica que a impossibilidade de concessão do mencionado benefício
previdenciário ocorrer em razão de vedação legal, por ação culposa ou dolosa do
empregador, e por equívoco do órgão previdenciário na concessão do benefício.” (grifou-se)
Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI
13.015/2014. 1. ALTA PREVIDENCIÁRIA. ENCERRAMENTO DA SUSPENSÃO CONTRATUAL.
RECUSA INJUSTIFICADA DA EMPREGADORA EM ACEITAR O TRABALHO OBREIRO.
PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. CABIMENTO. 2. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. 3. DANOS
MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO. 4. ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO. SÚMULA
XXXXX/TST. 5. EQUIPARAÇÃO SALARIAL. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA XXXXX/TST. O texto
celetista, concretizando os primados constitucionais ligados à saúde no meio ambiente
laboral (art. 6º, 7º, XXII, XXVIII, 196, 200, VIII, CF), estipula obrigação do empregador
na prevenção de doenças ocupacionais (art. 157). Já a Convenção nº 161 da OIT impõe,
como princípio de uma política nacional, ‘a adaptação do trabalho às capacidades dos
trabalhadores, levando em conta seu estado de sanidade física e mental’. Dessa forma,
cabe ao empregador, na incerteza quanto à aptidão do obreiro para o exercício de suas
funções, realocá-lo em atividade compatível com suas limitações físicas, e não
puramente recusar seu retorno ao trabalho. Nesse sentido, assente-se ser
desnecessário que o empregado se submeta a processo de reabilitação profissional,
junto ao INSS, para fins de readequação no trabalho. Isso porque, segundo o
ordenamento jurídico pátrio, o empregador também é responsável pela manutenção e
respeito aos direitos fundamentais do empregado, devendo zelar pela afirmação de
sua dignidade e integração no contexto social – e a readequação de suas funções no
processo produtivo de empresa faz parte deste mister. Na hipótese, o TRT registrou a
recusa injustificada da Reclamada em aceitar o labor do Obreiro, após a alta
previdenciária, por considerá-lo inapto. Nesse passo, verifica-se que a Reclamada
obstou o retorno do Reclamante ao trabalho em função compatível com a sua condição
física (restrição a levantamento de peso). Com efeito, competia a ela reinserir o
Reclamante em atividade compatível com suas condições de saúde, após a alta
concedida pelo INSS, diante da controvérsia acerca da possibilidade de retorno às
funções anteriormente desempenhadas. Assim, permanecendo o vínculo empregatício,
é da Reclamada a responsabilidade pelo pagamento dos salários após a alta médica
conferida pelo INSS e o posterior reconhecimento da sua incapacidade laboral pelo
instituto previdenciário, ante o fato de o Reclamante já estar aposentado pelo RGPS.
Nesse sentido, insta destacar que a condição de aposentado do Autor não obsta a
condenação da Reclamada no aspecto. Como visto, a decisão recorrida se harmoniza com a
ordem jurídica atual, que aloca o indivíduo em posição especial no cenário social,
despontando nítido o caráter precursor do direito à dignidade da pessoa humana (1º, III, da
CF) sobre todo o sistema constitucional. Outrossim, para que se pudesse chegar, se fosse o
caso, a conclusão fática diversa, seria necessário o revolvimento do conteúdo probatório
constante dos autos, propósito insuscetível de ser alcançado nesta fase processual, diante do
óbice da Súmula XXXXX/TST. Agravo de instrumento desprovido.” (TST - AIRR-AIRR:
XXXXX20135010037, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento:
28/06/2017, 3ª Turma, Data de Publicaçã o: DEJT 03/07/2017, grifou-se)
Nesse caso, em se tratando de doença profissional ou do trabalho, ainda que seja uma
simples suspeita de sua ocorrência, a notificaçã o ao INSS por parte do empregador é
obrigató ria, nos termos do art. 169 da CLT, o que nã o ocorreu, apesar da ciência da mesma.
Conforme se verifica pelos exames e demais documentos médicos ora juntados foram
realizados por médico da pró pria Reclamada, a qual se manteve inerte mesmo diante da
gravidade e precá rias condiçõ es de saú de da trabalhadora, preferindo-se a demissã o do
que a readaptaçã o em nova funçã o.
Nesse sentido, deve ser reconhecida e declarada a doença profissional adquirida pela
Reclamante no exercício de suas atividades durante o vínculo empregatício com a
Reclamada e, consequentemente, a responsabilizaçã o pelos danos decorrentes.
Em decorrência das patologias ora apontadas, a Reclamante teve considerá vel reduçã o da
capacidade laborativa, inclusive com tratamento médico contínuo, o que será melhor
comprovado através da perícia médica.
Com a reduçã o da capacidade laborativa ocorrida em decorrência de ato omissivo ou
comissivo da Reclamada, a Reclamante possui o direito a reparaçã o com supedâ neo nos
arts. 7º inciso XXVIII da CF/88 e 186 e 927 do Có digo Civil de 2002.
Nesse liame, a responsabilidade civil da Reclamada é extracontratual, uma vez que
ocorreu infraçã o a deveres previstos em normas gerais de direito à proteçã o do
trabalhador, norma nã o prevista no contrato de trabalho.
No presente caso, o dano emerge das patologias que acometem a Reclamante; a culpa é
demonstrada pela omissã o da Reclamada em nã o tomar medidas para reduçã o dos riscos
a acidentes de trabalho, cujo direito é consagrado no art. 7º, inciso XII da Carta Maior.
Por fim, o nexo causal deve ser considerado como causalidade direta, ou seja, aquela em
que há vinculaçã o imediata entre a prestaçã o de serviço e consequente doença do trabalho,
o que será comprovado através da perícia médica.
Por derradeiro, configurada a responsabilidade civil da Reclamada, deve esta indenizar a
Reclamante por danos materiais decorrentes da reduçã o da capacidade laborativa, seja
emergentes ou lucros cessantes.
Assim, constatada o acidente de trabalho/doença ocupacional, a Reclamante,
independentemente da reintegraçã o da obreira, permanece o dever de indenizar, já que,
consoante jurisprudência do TST a permanência no emprego e percepçã o da mesma
remuneraçã o nã o modifica tais parâ metros:
“(...) II - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014. DOENÇA
OCUPACIONAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. PENSÃO MENSAL VITALÍCIA.
CUMULAÇÃO COM REINTEGRAÇÃO. POSSIBILIDADE. Demonstrada possível violação do art.
950 do Código Civil, impõe-se o provimento do agravo de instrumento para determinar o
processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento provido. III - RECURSO DE
REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. PENSÃO MENSAL VITALÍCIA. CUMULAÇÃO COM REINTEGRAÇÃO.
POSSIBILIDADE. Hipótese em que o Tribunal Regional, embora tenha reconhecido a culpa da
reclamada pela doença ocupacional sofrida pelo autor, entendeu que, diante da reintegração
determinada pelo juiz de primeiro grau, não haveria dano material a ser reparado enquanto
existente o vínculo de emprego entre as partes. No entanto, a determinação de
reintegração e a consequente percepção de remuneração são circunstâncias que não
afastam o direito à indenização por danos materiais na forma de pensão mensal,
porquanto possuem fatos geradores distintos. Com efeito, a reintegração foi deferida
com fulcro na norma coletiva da categoria, ao passo que a indenização por dano
material, deferida na forma de pensão, tem alicerce na legislação civil (art. 950 do
Código Civil), cujo escopo é obrigar o empregador a ressarcir os danos materiais
causados ao reclamante em decorrência da doença ocupacional. Assim, o exercício de
atividades em função readaptada na empresa, com a natural percepção de salários
não constitui óbice para o deferimento da indenização. Precedentes. Recurso de revista
conhecido e provido.” (RR - XXXXX-14.2014.5.02.0471 - Relatora Ministra: Delaíde Miranda
Arantes, Data de Julgamento: 17.10.2018, 2ª Turma, Data de Publicaçã o: DEJT 19.10.2018).
Logo, confirmada a ocorrência do acidente de trabalho e/ou doença ocupacional com a
consequente reduçã o da capacidade laborativa da Reclamante, ainda que parcial, deve ser
declarada a nulidade da demissã o.
De igual forma, a Reclamante ainda faz jus à estabilidade provisó ria no emprego prevista
no art. 118 da Lei nº 8.213/91, pelo prazo mínimo de doze meses, a contar de sua dispensa,
devendo ser reintegrada no emprego e readaptada na funçã o com a condenaçã o da
Reclamada ao pagamento de todos os salá rios do período desde a data de 24/09/2021 até
a efetiva reintegraçã o.
Nã o sendo possível a sua reintegraçã o, ante o término do período da estabilidade
provisó ria, deve a mesma ser convertida em indenizaçã o substitutiva, em valor
correspondente aos salá rios mensais, gratificaçã o natalina, férias acrescidas do terço
constitucional e depó sitos do FGTS + 40%, sem prejuízo dos salá rios nã o percebidos no
período desde a demissã o.
Concomitantemente, requer-se a condenaçã o da Reclamada ao pagamento de indenizaçã o
por danos materiais a título de pensã o mensal vitalícia, correspondente a 20% (vinte por
cento) ou outro percentual que for apurado em perícia, aplicado sobre o ú ltimo salá rio da
Reclamante, em razã o da reduçã o da capacidade laborativa, sob a forma do art. 950, §
ú nico do Có digo Civil, ou seja, de uma só vez.
Valor provisório do pedido: R$ 24.552,00 (vinte e quatro mil e quinhentos e
cinquenta e dois reais).
VIII – PEDIDO SUBSIDIÁRIO / DIFERENÇAS EM VERBAS RESCISÓRIAS
Da leitura do TRCT expedido pela Reclamada verifica-se a existência de diferenças nas
verbas rescisó rias, uma vez que nã o se observou que seu salá rio integralmente recebido
era de R$ 1.705,00 (mil e setecentos e cinco reais).
Além disso, nã o foi esclarecido devidamente para a Reclamante qual a base remunerató ria
utilizada para o cá lculo e os respectivos valores, especialmente em razã o da ausência de
assistência sindical e a respectiva homologaçã o da rescisã o, o que corrobora com os erros
existentes.
Desta forma, caso seja confirmada a demissã o e convertida a reintegraçã o em indenizaçã o
substitutiva, postula-se SUBSIDIARIAMENTE a condenaçã o da Reclamada no pagamento
das diferenças em verbas rescisó rias a serem pagas com base na totalidade da
remuneraçã o recebida pela Reclamante, por todo o período efetivamente trabalho e
demais verbas requeridas na presente açã o, tais como: saldo de salá rios, aviso prévio
indenizado (81 dias), férias vencidas e proporcionais acrescidas do terço, 13º salá rio
proporcional, depó sito de FGTS e a multa fundiá ria.
Valor estimado do pedido: R$ 7.760,53 (sete mil e setecentos e sessenta reais e
cinquenta e três centavos).
IX – DA MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT
A Reclamante foi demitida sumariamente em 24/09/2021 por iniciativa da Reclamada na
sede da empresa sem que fosse feito o depó sito da multa rescisó ria do FGTS de 40% no
mesmo prazo da rescisã o.
Logo, considerando que a Reclamada nã o pagou as verbas rescisó rias na sua integralidade
que eram devidas no prazo legal, se impõ e o pagamento de uma multa equivalente a um
mês de salá rio revertida em favor da Reclamante, conforme § 8º do artigo 477,
devidamente atualizado.
Valor estimado do pedido: R$ 1.705,00 (mil e setecentos e cinco reais).
X – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
Em consequência das doenças adquiridas durante o pacto laboral e por intermédio deste, a
Reclamante teve reduçã o significativa da sua capacidade laboral, o que lhe causa sérios
danos de ordem íntima, bem como intranquilidade e sofrimento.
Nã o bastasse a aquisiçã o de doença profissional, conforme anteriormente demonstrado, a
Reclamada simplesmente ignorou o estado de saú de da Reclamante, o direito à
estabilidade no emprego e, especialmente, a dignidade da obreira, tendo procedido à sua
demissã o sem justa causa.
A Reclamante, que dedicou toda uma vida de trabalho à Reclamada, encontra-se hoje,
devido ao seu quadro se saú de resultante dos esforços realizados com a atividade
profissional, impossibilitada de realizar atividades simples da sua rotina diá ria, seja nos
afazeres domésticos ou mesmo brincar com seus netos pequenos, uma vez que é acometida
de fortes dores constantemente.
Nã o bastasse, foi encaminhada ao INSS pela empregadora quando esta sabia de que era
impossível a percepçã o acumulada da aposentadoria com o benefício do auxílio-doença.
E, por fim, ainda despediu a obreira no período da estabilidade provisó ria em decorrência
do acidente/doença, apesar da indicaçã o médica confirmando a enfermidade.
Primeiramente, cabe trazer à baila o conceito de dano moral, nos dizeres do professor
Yussef Said Cahali (O Dano Moral – ed. Revista dos Tribunais), veja-se:
“O dano moral é a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida
do homem e que são a paz, a tranqüilidade de espírito, a liberdade individual, a integridade
individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos, classificando-se desse
modo, em dano que afeta a parte social do patrimônio moral (honra, reputação, etc) e dano
que molesta a parte afetiva do patrimônio moral (dor, tristeza, saudade, etc), dano moral que
provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante etc.) e dano moral
puro (dor, tristeza, etc.)”.
Na legislaçã o atual, o dano moral está previsto no art. 5º inciso V e X da Constituiçã o
Federal, veja-se:
“Art. 5º (…)
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano
material, moral ou à imagem;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”
Acrescentando, o Có digo Civil prevê que aquele que comete ato ilícito causando dano a
alguém, tem o dever de repará -lo, inteligência dos artigos 186 e 927.
Assim, consoante narrado na doutrina citada, a privaçã o ou diminuiçã o de bens que tem
valor precípuo a vida do homem, incluindo a integridade física, perfaz a ocorrência do dano
moral, nascendo o direito a reparaçã o do dano para o ofendido.
No caso em tela, a Reclamante teve sua integridade física comprometida, reduzida
consideravelmente, algo que levará para o resto da vida e já lhe causa sérios
constrangimentos e sofrimentos de ordem íntima, além da perda da força laboral.
A propó sito, a jurisprudência dispõ e:
“I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO
SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 E DO NCPC - DOENÇA DO TRABALHO - DANOS MORAIS
E MATERIAIS – CONFIGURAÇÃO. Demonstrados o dano, o nexo de causalidade e a culpa do
empregador, a Reclamada é responsável pelos riscos oriundos do contrato de trabalho, é
devida a indenização a título de danos morais e materiais. Inteligência dos arts. 186 e 927,
caput, do Código Civil. (...)” (TST - ARR: XXXXX20135020431, Relator: Maria Cristina Irigoyen
Peduzzi, Data de Julgamento: 15/08/2018, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/08/2018)
“DOENÇA DO TRABALHO - REPARAÇÃO POR DANO MORAL - DEVIDA - Comprovado que o
trabalho desenvolvido junto à reclamada foi a causa do surgimento da doença do reclamante,
resta evidente a existência de dano moral, tendo em vista a ofensa à integridade física da
reclamante e a dor suportada em razão da doença, as quais merecem reparação, nos termos
do disposto no art. 5º, X, da CF. Assim sendo, por estarem presentes os requisitos ensejadores
da responsabilidade civil (dano, culpa e nexo de causalidade), devido o reconhecimento do
direito obreiro à reparação por danos morais.” (TRT-9 - RO: XXXXX20155090653 PR,
Relator: SERGIO MURILO RODRIGUES LEMOS, Data de Julgamento: 30/04/2018)
Com a publicaçã o da Lei 13.467/17 (Reforma Trabalhista), a CLT fora alterada para
inclusã o dos critérios de fixaçã o da indenizaçã o por danos morais a depender da gravidade
do dano e, com isso, foi incluído o art. 223-A da CLT que define a responsabilidade do
empregador em caso de omissã o ou açã o que resulte ofensa na esfera moral do empregado.
Com efeito, a CLT agora reformada, em seu novo art. 223-G, prevê o valor a ser arbitrado
pela gravidade da lesã o, sendo:
I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;
II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;
III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do
ofendido.
É certo que, diante da lesã o à saú de do empregado e sua integridade física, sendo
permanente a reduçã o da capacidade laboral, a ofensa é de natureza grave, devendo a
Reclamada ser condenada nos termos do inciso IV supracitado.
Por estas razõ es, requer de Vossa Excelência, a condenaçã o da Reclamada ao pagamento
de indenizaçã o por danos morais no montante de 30 (trinta) vezes o ú ltimo salá rio
contratual da Reclamante.
Valor estimado do pedido: R$ 51.150,00 (cinquenta e um mil e cento e cinquenta
reais).
XI – DOS DESCONTOS A TÍTULO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E FISCAIS
A Reclamada deverá , ainda, ser compelida a recolher todas as contribuiçõ es
previdenciá rias a favor da Reclamante, durante todo o período laborado.
Importante frisar que, apó s reiteradas decisõ es do STJ e TRF-4ª Regiã o, conforme os Temas
478, 479 e 737, nã o incidem contribuiçõ es previdenciá rias sobre terço de férias e aviso
prévio indenizado, o que dever ser considerado no presente caso.
Neste sentido, o TST já firmou posicionamento idêntico aos demais Tribunais Superiores
citados, conforme se verifica a seguir:
“RECURSO DE REVISTA. APELO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 13.015/2014.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE FÉRIAS INDENIZADAS E TERÇO
CONSTITUCIONAL E AVISO PRÉVIO INDENIZADO. Nos termos do inciso I do art. 28 da Lei n.º
8.212/91, são "salário de contribuição" os rendimentos pagos, destinados a retribuir o
trabalho, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do
empregador. A norma não encampa parcelas de natureza indenizatória. Assim, e
independentemente de o Decreto n.º 6.727/2009 ter revogado a alínea f do inciso Vdo § 9.º do
art. 214 do Decreto n.º 3.048 (que previa expressamente que o aviso prévio indenizado não
integra o salário de contribuição), o fato é que o aviso prévio indenizado não se destina a
retribuir trabalho prestado, tampouco a compensar tempo à disposição do
empregador. Verifica-se, ainda, que, nos termos do art. 28, § 9.º, d, da Lei n.º 8.212/91, as
férias não gozadas, acrescidas de 1/3, não integrarão o salário de contribuição em razão da
natureza indenizatória da referida parcela. Entretanto, sobre as férias gozadas, necessária é
a incidência de contribuição previdenciária, pois, nesse caso, a verba tem nítida natureza
salarial. Já no que tange ao terço constitucional de férias, não há incidência de
contribuição previdenciária, ante a natureza indenizatória do mencionado plus,
entendimento pacífico desta Casa, firmado à luz da jurisprudência. Recurso de Revista
parcialmente conhecido e provido.” (TST - RR: XXXXX20125030069, Relator: Maria de Assis
Calsing, Data de Julgamento: 10/08/2016, 4ª Turma, Data de Publicaçã o: DEJT
19/08/2016, grifou-se)
Já em relaçã o à s contribuiçõ es mensais, deverá a Reclamada ser condenada ao
recolhimento de eventuais valores referentes ao IRPF, pois se os encargos tributá rios
tivessem sido pagos em época pró pria, certamente recolhimentos remanescentes nã o
existiriam.
XII – DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer-se de Vossa Excelência receber a presente Reclamató ria
Trabalhista, observado o disposto no art. 840, § 1º da CLT e a IN TST 41/2018, e julgar
procedente a sua fundamentaçã o para o especial fim de:
a) Conceder os benefícios da justiça gratuita à Reclamante, conforme item I da
fundamentaçã o;
b) Reconhecer e declarar a inaplicabilidade das alteraçõ es promovidas pela Lei nº
13.467/17 no presente caso, nos termos do item “IV” da fundamentaçã o exposta;
c) Condenar a Reclamada a indenizar a Reclamante por todo o período em que nã o pô de
usufruir dos intervalos intrajornadas, bem como os reflexos decorrentes em DSR’s e demais
verbas salariais, aplicando-se os adicionais de 50% para dias ú teis normais e 100% em
caso de feriados, cujo valor estimado é de R$ 1.887,28 (mil e oitocentos e oitenta e
sete reais e vinte e oito centavos), conforme o item V da fundamentaçã o;
d) Reconhecer e declarar a nulidade da demissã o em decorrência do acidente de trabalho
ou doença ocupacional, com a consequentemente reintegraçã o da Reclamante no
emprego, sem prejuízo dos seus salá rios nã o percebidos desde a data da demissã o até ser
efetivamente reintegrada, nos termos do item “VII” da fundamentaçã o;
d.1) Subsidiariamente, seja convertida a reintegraçã o em indenizaçã o substitutiva, cujo
valor provisório é de R$ 20.460,00 (vinte mil e quatrocentos reais), nos termos do
item “VII” da fundamentaçã o;
e) Condenar a Reclamada a pagar à Reclamante indenizaçã o por danos materiais a título
de pensã o mensal vitalícia, correspondente a 20% (vinte por cento) ou outro percentual
que for apurado em perícia, aplicado sobre o ú ltimo salá rio da Reclamante, em razã o da
reduçã o da capacidade laborativa, sob a forma do art. 950, § ú nico do Có digo Civil, ou seja,
de uma só vez, em valor estimado de R$ 4.092,00 (quatro mil e noventa e dois reais),
conforme o item “VII” da fundamentaçã o;
f) Subsidiariamente, caso seja confirmada a demissã o da Reclamante, condenar a
Reclamada no pagamento das diferenças em verbas rescisó rias a serem pagas com base na
totalidade da remuneraçã o recebida pela Reclamante, por todo o período efetivamente
trabalho e demais verbas requeridas na presente açã o, tais como: aviso prévio indenizado
(81 dias), férias vencidas e proporcionais acrescidas do terço, 13º salá rio proporcional,
depó sito de FGTS e a multa fundiá ria, cujo valor estimado é de R$ 7.760,53 (sete mil e
setecentos e sessenta reais e cinquenta e três centavos), nos termos do item “VIII” da
exordial;
g) Ainda subsidiariamente, caso seja confirmada a demissã o da Reclamante, condenar a
Reclamada ao pagamento da multa do art. 477 da CLT, em razã o do nã o recolhimento dos
depó sitos de FGTS e da respectiva multa no prazo legal, valor este estimado em R$
1.705,00 (mil e setecentos e cinco reais), nos termos do item “IX” da fundamentaçã o;
h) Condenar a Reclamada ao pagamento de indenizaçã o por danos morais no montante de
30 (trinta) vezes o ú ltimo salá rio contratual da Reclamante, cujo valor estimado é R$
51.150,00 (cinquenta e um mil e cento e cinquenta reais), conforme o item X da
fundamentaçã o;
i) Recolhimento das contribuiçõ es previdenciá rias e fiscais a cargo do empregador,
observando-se a inexibilidade sobre o terço de férias e aviso prévio indenizado, nos termos
do item “XI” da fundamentaçã o;
j) Inversã o do ô nus da prova, nos termos do art. 818, § 1º da CLT, para que a Reclamada
traga aos autos os holerites, cartõ es de ponto, o comprovante dos depó sitos do FGTS
durante a contratualidade e recolhimento da multa fundiá ria, nos termos da Sú mula 461 do
TST;
k) Juros e correçã o monetá ria na forma da lei;
l) Condenaçã o da Reclamada ao pagamento de honorá rios de sucumbência, no patamar de
15% (quinze por cento) sobre o valor da condenaçã o;
m) Liquidaçã o de sentença nos termos do art. 840, § 1º da CLT e art. 12, § 2º da Instruçã o
Normativa TST 41/2018.
XIII – DOS REQUERIMENTOS FINAIS
Requer-se a citaçã o da Reclamada, no endereço supra, para querendo, contestar a
presente açã o, sob pena de confissã o e revelia, bem como para que acompanhe a presente
açã o até final decisã o que a condenará ao pagamento das verbas ora pedidas, acrescidas de
juros, correçã o monetá ria e demais cominaçõ es de direito.
Requer, assim, digne-se Vossa Excelência, designar audiência de conciliaçã o, instruçã o e
julgamento, determinando a notificaçã o da Reclamada, para nela comparecerem e oferecer
defesa e as provas que tiverem, querendo, sob pena de revelia.
Considerando que a Reclamante é pessoa idosa (68 anos) e vítima de doença profissional
consubstanciada em acidente de trabalho, tendo sido demitida sem justa causa apesar da
frá gil saú de, requer-se seja conferida à presente reclamató ria a prioridade na tramitaçã o
processual, nos termos dos arts. 77, VI da Lei nº 10.741/2003 e 43, alínea e da
Consolidaçã o dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho,
(Recomendaçã o Conjunta 1/GP.CGJT, de 3 de maio de 2011).
Ultimada a instruçã o processual, requer, seja por Vossa Excelência, julgada a presente
Reclamaçã o Trabalhista procedente em todos os seus termos, para condenar a Reclamada
a procederem ao pagamento das verbas anteriormente requeridas conforme valores a
serem apurados em sede de liquidaçã o de sentença.
Outrossim, em caso de sucumbência no objeto da perícia, requer a isençã o dos honorá rios
periciais, uma vez que a Reclamante comprova a insuficiência de recursos financeiros para
tal encargo agravado pelos parcos créditos trabalhistas aqui deferidos, conforme
entendimento do STF expresso no julgamento da Açã o Direita de Inconstitucionalidade
(ADI) 5766, ou, caso Vossa Excelência entenda de forma diversa, requer sejam os
honorá rios arbitrados no mínimo previsto pelo CSJT, disposiçã o do art. 790-B, § 1º da
CLT.
Protesta provar o alegado, utilizando-se de todos os meios em direito admitidos,
requerendo, desde logo, pelo depoimento pessoal do representante da Reclamada, sob
pena de confissã o quanto a matéria de fato, ouvida de testemunhas, juntada de novos
documentos, perícia, enfim, os demais que se fizerem necessá rios.
Dá -se à causa o valor de R$ 87.054,81 (oitenta e sete mil e cinquenta e quatro reais e
oitenta e um centavos).
Nestes termos, pede deferimento.
CIDADE/ESTADO, 05 de novembro de 2021.
ADVOGADO (A)
OAB/XX XX.XXXX

1 ARAÚ JO JUNIOR, Francisco Milton. Doença ocupacional e acidente de trabalho: aná lise
multidisciplinar. Sã o Paulo: LTr, 2009.

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