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Discente: Enzo Bellini Machado Matrícula: 11821DIR001

Docente: Profª. Dra. Márcia Leonora Santos Regis Orlandini

Direito do Trabalho II - 27/01/2022, quinta-feira

PARECER JURÍDICO

João – vigilante, jornada de 12x36, é remunerado com um salário mínimo nacional


vigente (R$ 1.212,00), não percebe nenhum adicional, não possuindo, inclusive,
intervalo para descanso. Trabalha das 04:00 às 16:00, chega vinte minutos antes
para vestir uniforme. Por falta de vigilante, João, nesta semana, encerrou o seu
expediente às 16:00 de segunda-feira e iniciou-o, novamente, 01:30 da manhã da
terça-feira, quando era pra iniciar às 04:00.

João é vigilante em empresa em que o objeto precípuo é a guarda de valores,


patrimônio, logo, deveria fazer jus à adicional de periculosidade, intrínseca à sua
atividade - OJ 259 da SDI-I do TST.

O TST, recentemente, reafirmou o entendimento de 2015 em que a pessoa, por si


só, exercer cargo de vigia em agência bancária não gera adicional de periculosidade.
Teria que haver possível enquadramento como agente e segurança patrimonial, o que na
questão não é possível inferir, pois nem fala se ele faz uso de arma de fogo
(TST-RR-10778-06.2015.5.15.0149, DJET 26.02.2021).

João precisaria ter, pelo menos, uma hora de descanso intrajornada ou, no
máximo, duas horas, porque o seu período de trabalho é maior do que seis horas (doze
horas), nos termos do art. 71 da Consolidação da Lei do Trabalho (CLT).

Com base, ainda, no parágrafo único do artigo 59-A, em dissonância ao artigo


73, ambos da CLT, o adicional noturno de João teria que estar embutido em seu
salário-base, o que não se percebe, já que ele recebe apenas um salário-mínimo.
Dessa forma, João deveria fazer jus aos vinte por cento proporcionais por
trabalhar das 04:00 às 05:00 da manhã (parágrafo segundo do artigo 73 da CLT).

Porém, ainda, deve se considerar o tempo que João leva para trocar de roupa.
Dessa forma, caso a empregadora, minha cliente, obrigar que a colocação do uniforme
se dê dentro da agência, o período máximo de tolerância é de cinco minutos antes de
bater o ponto é de cinco minutos depois, João demora vinte minutos, logo, deveria bater
o ponto e colocar o uniforme, caso o empregador não tolere que ele já venha
uniformizado (fonte:
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/uniforme_horaextra.htm).

Por fim,

HORAS EXTRAS. PRORROGAÇÃO DA JORNADA. NORMA


COLETIVA. CONDICIONADA AUTORIZAÇÃO DO EMPREGADO.
Quando as Convenções Coletivas de Trabalho autorizam a escala de plantão,
mas condicionam a prorrogação e compensação da jornada à prévia anuência
do empregado, a validade dessas sujeitam-se a prova da referida anuência.
(TRT-5, Relator: PAULO SÉRGIO SÁ, 4ª. TURMA, Publicação: 14/10/2014)

Também é inválido quando houver prestação de horas extras habituais. Por


exemplo: são realizadas as 12 horas de trabalho, porém com folgas de apenas
24 horas, quando deveriam ser concedidas folgas de 36 horas. 1

Dessa forma, João deveria ter, minimamente, trinta e seis horas entre uma
jornada e outra de trabalho. O que, por exemplo, não se percebe no caso concreto, já que
ele de segunda para terça ficou menos de doze horas sem trabalhar.

Marluce é bancária e atua como gerente de vendas, percebendo gratificação de um


terço sobre o salário normal (não pode, tem que ser igual ou superior a 40% do
salário-base) e não dispõe de poder de mando, com subordinação ao gerente da
agência. Expediente de 10:00 às 17:00, com descanso de 30 minutos. Percebe cinco
mil reais, sem receber qualquer adicional.

A legislação trabalhista destaca alguns requisitos básicos para que o colaborador


ocupe o cargo de confiança, nos termos do art. 62, II, CLT, quais sejam: remuneração
diferenciada, significativa atribuição e desempenho de um cargo de gestão.

1
Fonte:
https://informativotrabalhista.jusbrasil.com.br/artigos/183866114/jornada-de-trabalho-12x36-con
sideracoes-trabalhistas. Acesso em 27 de jan. 2022.
Com base nas informações apresentadas, é necessário analisar o caso concreto,
para confirmar se, de fato, suas funções podem ser enquadradas em um cargo de
confiança. Segue a verbete da súmula n. 102, do Colendo TST:

BANCÁRIO. CARGO DE CONFIANÇA (mantida) - Res. 174/2011, DEJT


divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

I - A configuração, ou não, do exercício da função de confiança a que se


refere o art. 224, § 2º, da CLT, dependente da prova das reais atribuições do
empregado, é insuscetível de exame mediante recurso de revista ou de
embargos. (ex-Súmula nº 204 - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)

II - O bancário que exerce a função a que se refere o § 2º do art. 224 da CLT


e recebe gratificação não inferior a um terço de seu salário já tem
remuneradas as duas horas extraordinárias excedentes de seis. (ex-Súmula nº
166 - RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982)

III - Ao bancário exercente de cargo de confiança previsto no artigo 224, §


2º, da CLT são devidas as 7ª e 8ª horas, como extras, no período em que se
verificar o pagamento a menor da gratificação de 1/3. (ex-OJ nº 288 da
SBDI-1 - DJ 11.08.2003)

IV - O bancário sujeito à regra do art. 224, § 2º, da CLT cumpre jornada de


trabalho de 8 (oito) horas, sendo extraordinárias as trabalhadas além da
oitava. (ex-Súmula nº 232- RA 14/1985, DJ 19.09.1985)

Da mesma forma, em casos semelhantes as decisões dos tribunais têm sido


firmes em reconhecer a jornada de 6 horas ao bancário que não exercer a real função de
confiança:
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA
GRATUITA. PESSOA NATURAL. DECLARAÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. DECLARADO PELO
TRABALHADOR SUA HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA,
PRESUME-SE VERDADEIRA TAL CONDIÇÃO PARA A CONCESSÃO
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. APLICAÇÃO DO ARTIGO
790, § 3º, DA CLT, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 10.537/2002,
E DO ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO ITEM I DA SÚMULA Nº
463 DO TST. RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE PROVIDO
PARA CONCEDER A ELE O BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA.
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMADO. PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS E RESULTADOS. SÚMULA Nº 451 DO TST. EM QUE PESE
PREVISÃO NORMATIVA EM SENTIDO CONTRÁRIO, É DEVIDO O
PAGAMENTO DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS
RELATIVO AO ANO DA RUPTURA DO CONTRATO DE TRABALHO,
CALCULADA DE FORMA PROPORCIONAL AOS MESES
TRABALHADOS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
ISONOMIA E DO ENTENDIMENTO CONSUBSTANCIADO SÚMULA
Nº 451 DO TST. PROVIMENTO NEGADO. RECURSO ORDINÁRIO DO
RECLAMANTE E DO RECLAMADO. ANÁLISE CONJUNTA DA
MATÉRIA COMUM. BANCÁRIO. HORAS EXTRAS. GERENTE DE
RELACIONAMENTO. GERENTE DE EMPRESAS. ARTIGO 224 X
ARTIGO 62, II, DA CLT. 1. Estando o bancário ao abrigo das regras
especiais contidas nos artigos 224 a 226 da CLT, exclui-se, por expressa
disposição legal, da incidência da norma de caráter geral do artigo 62
consolidado. Negado provimento ao recurso do reclamado. 2. Sujeita-se à
jornada de seis horas o empregado cujas funções não são inerentes ao grau de
confiança mais elevado do que aquele atribuído aos trabalhadores bancários
em geral. A percepção de gratificação de função em valor excedente a um
terço do salário do cargo efetivo não é suficiente para atrair a incidência do
parágrafo segundo do artigo 224 da CLT, quando não revelada a existência de
fidúcia diferenciada, de verdadeiro cargo de confiança bancária. Provido o
recurso do reclamante. (TRT 4ª R.; RO 0021682-52.2017.5.04.0010; Quarta
Turma; Relª Desª Ana Luiza Heineck Kruse; DEJTRS 13/08/2019; Pág. 358)

No mesmo sentido, o Colendo Tribunal Superior do Trabalho decidiu, no


processo n.º 10671-39.2015.5.03.00054, que a gerência geral de agência compartilhada
não caracteriza cargo de gestão, conforme depreende-se dos autos:

É incontroverso nos autos que o reclamante exercia a função de Gerente


Comercial e que a estrutura administrativa da agência apresentava, no topo,
o próprio reclamante juntamente com o Gerente Operacional.

Em outras palavras, o exercício da autoridade máxima da agência era


partilhado entre o reclamante (Gerente Comercial) e o Gerente Operacional.

Em casos como tal, a jurisprudência do TST se firmou no sentido que aqueles


que exercem a gerência comercial ou a gerência operacional, não se revestem
individualmente de autoridade máxima na agência. A gerência partilhada da
unidade afasta a incidência da exceção do art. 62, II, da CLT.

Todavia, em sentido contrário, a Primeira Turma do Tribunal Superior do


Trabalho devolveu o recurso de um gerente comercial do Banco Bradesco S.A. ao
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região para que examinasse a sua pretensão do
empregado de receber as horas extras. Segundo a Turma, a lei estabelece o incremento
salarial de 40% para o empregado que exerce cargo de gestão, mas o banco pagava
percentual inferior (25%), o que lhe dá direito às horas extraordinárias (Vide Processo
n.º RR-2208-47.2011.5.03.0103).

Também, em recente decisão, a Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho


condenou o Itaú Unibanco S.A. ao pagamento de horas extras que ultrapassarem a
oitava hora diária a um bancário paulista que ocupava posição diferenciada na estrutura
hierárquica da empresa, mas era subordinado ao gerente geral da sua área. Para a
Turma, embora desempenhasse cargo de confiança, o empregado não era a autoridade
máxima do setor. Para o TRT, embora não figurasse como autoridade máxima na sua
área, ele ocupava posição diferenciada na estrutura hierárquica do banco, com efetivos
encargos de gestão na sua área de atuação e com ingerência no destino da empresa
(Vide Processo n.º RRAg-878-10.2015.5.02.0036).
Se configurado cargo de confiança e, portanto, ela não ter poder de gestão, só
trabalha seis horas mesmo nos termos do artigo 224, caput, não fazendo jus ao mínimo
de 40% de gratificação nos termos do artigo 62, II, todos da CLT. No caso concreto ela
trabalha durante sete horas, ou seja, se a premissa aqui exposta for verdadeira, ela teria
que receber por uma hora extra, podendo ser considerado o um terço que ela já recebe
para tal.

Considerando que ela possua poder de gestão e, portanto, exerça cargo de


confiança, nos termos do art. 62, II, parágrafo único da CLT, o seu salário deve
compreender a gratificação de função e esse não pode inferior ao valor do respectivo
salário efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento). In casu, a empregada recebe ⅓ de
gratificação, como já dito anteriormente, mas a duração de seu trabalho não excederá às
8 horas diárias. Logo, caso essa hipótese seja a verdadeira, é necessária a
complementação do percentual da gratificação, devido ao cargo de gestão.

De qualquer forma, por fim, ela deveria ter um intervalo intrajornada mínimo de
1 hora ou máximo de duas horas, já que trabalha mais de seis horas por dia, nos termos
do artigo 71 da CLT.

Enzo é menor púbere (relativamente incapaz: 17 anos). Ajudante de limpeza.


Trabalha 4h/dia, não realiza qualquer intervalo. Percebe setecentos reais. Faz uma
hora-extra de segunda à sexta, para compensar às quartas, já que firmou acordo
individual de compensação de jornada.

O contrato de trabalho de Enzo pode ser normal, não necessariamente sendo de


menor aprendiz, pois este é de 14 anos até 16 anos completos (art. 403, parágrafo único
da CLT) e o menor púbere em questão tem dezessete anos completos.

Mas, com relação ao artigo 405 da CLT c/c a NR 15, Enzo não poderia ser
ajudante de limpeza, já que trabalha com produtos químicos (produtos de limpeza) e
biológicos (lixo), logo, sua atividade é insalubre, vedada, portanto, ao menor.

Por fim, com relação a uma hora extra que Enzo faz de segunda, terça, quinta e
sexta, para não trabalhar às quartas, tudo correto, pois com relação ao art. 413, I, da
CLT, o menor não pode fazer duas horas extras ou mais por dia, senão mediante
convenção ou acordo coletivo. Desta forma, as horas excedentes de um dia, poderão ser
compensadas em outro dia posterior, sem o pagamento de horas extras.

Ainda vale dizer que a remuneração dele está escorreita, pois trabalha meio
período, percebendo mais de metade de um salário-mínimo, que o caso concreto já se
considerou o atualizado, conforme percebemos no explicado em “João”, ou seja R$
1.212,00.

É o parecer.

Sem mais para o momento,

Nos colocamos à disposição.

Bellini Advogados Associados

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