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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região

Recurso Ordinário - Rito Sumaríssimo


0000115-44.2022.5.14.0031
Relator: EDSON CARVALHO BARROS JUNIOR

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 06/07/2022


Valor da causa: R$ 36.521,83

Partes:
RECORRENTE: WILTEMBERG DOS SANTOS LIMA
ADVOGADO: MONICA REBANE MARINS
RECORRIDO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL
ADVOGADO: FABRICIA LOPES GERONIMO DE ARAUJO
ADVOGADO: EDSON BERNARDO ANDRADE REIS NETO
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Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO: 0000115-44.2022.5.14.0031
CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO em RITO SUMARÍSSIMO
ÓRGÃO JULGADOR: 1ª TURMA
ORIGEM: 1ª VARA DO TRABALHO DE ARIQUEMES - RO
RECORRENTE: WILTEMBERG DOS SANTOS LIMA
ADVOGADO: MONICA REBANE MARINS
RECORRIDO: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ADVOGADO: EDSON BERNARDO ANDRADE REIS NETO
ADVOGADA: FABRICIA LOPES GERONIMO DE ARAUJO
RELATOR: JUIZ CONVOCADO EDSON CARVALHO BARROS JÚNIOR

1 RELATÓRIO
Dispensado o relatório, na forma do art. 852-I, da CLT (processo de rito sumaríssimo).
2 FUNDAMENTOS
2.1 CONHECIMENTO
Os pedidos da petição inicial foram julgados improcedentes, inclusive o de concessão dos
benefícios da justiça gratuita, e o Autor foi condenado ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios sucumbenciais.
O Recorrente renova o pedido de gratuidade da justiça.
Constato a existência no ID ed438eb de declaração de hipossuficiência de próprio punho do
Autor.

Aludida declaração tem presunção de veracidade, a teor do art. 99, § 3º, do CPC, que veio a dar
plena eficácia ao art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da República.

Portanto, dou provimento ao apelo, no particular, para conceder ao Autor os benefícios da


Justiça Gratuita, motivo pelo qual fica isento do recolhimento das custas processuais.

Em consequência, preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal, conheço do recurso


ordinário.
2.2 MÉRITO
2.2.1 DA PRETENDIDA INCORPORAÇÃO DE GRATIFICAÇÃO

Assinado eletronicamente por: EDSON CARVALHO BARROS JUNIOR - 17/03/2023 18:30:29 - d5ee738
https://pje.trt14.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=23021414065555100000009817059
Número do processo: 0000115-44.2022.5.14.0031 ID. d5ee738 - Pág. 1
Número do documento: 23021414065555100000009817059
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O Juízo "a quo" julgou improcedente o pedido de incorporação de gratificação pelos seguintes
fundamentos:

"De início, cabe ressaltar que não há controvérsia nos autos a respeito do efetivo
recebimento de gratificação de função pelo reclamante, ao menos durante o
período de fevereiro de 2012 até fevereiro de 2022.

Ademais, o exercício de função comissionada pelo trabalhador decorre de


faculdade do empregador, sendo possível a reversão ao cargo efetivo,
anteriormente ocupado, sem que isso configure alteração lesiva do contrato, na
forma do parágrafo único do art. 468 da CLT, em redação anterior à Lei 13.467
/2017.

No entanto, a Súmula 372 do TST é expressa quanto ao reconhecimento do


princípio da estabilidade financeira do empregado, motivo pelo qual não chancela
a retirada sem justificativa da gratificação de função recebida por dez anos ou
mais. Segue o seu teor:

GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. SUPRESSÃO OU REDUÇÃO. LIMITES


(conversão das Orientações Jurisprudenciais nos 45 e 303 da SBDI-1) - Res. 129
/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - Percebida a gratificação de função por dez ou mais anos pelo empregado, se o


empregador, sem justo motivo, revertê-lo a seu cargo efetivo, não poderá retirar-
lhe a gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade financeira. (ex-OJ nº
45 da SBDI-1 - inserida em 25.11.1996)

II - Mantido o empregado no exercício da função comissionada, não pode o


empregador reduzir o valor da gratificação. (ex-OJ nº 303 da SBDI-1 - DJ
11.08.2003)

Conforme se constata, a mencionada Súmula do c. TST foi editada no ano de


2005.

Ocorre que, em 11/11/2017, passou a vigorar a Lei nº. 13.467 /2017, a qual
acrescentou o §2º ao artigo 468 da CLT, dispondo da seguinte forma:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das


respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não
resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade
da cláusula infringente desta garantia.

§1º Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que


o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado,
deixando o exercício de função de confiança.

§2º A alteração de que trata o §1º deste artigo, com ou sem justo motivo, não
assegura ao empregado o direito à manutenção do pagamento da gratificação
correspondente, que não será incorporada, independentemente do tempo de
exercício da respectiva função.

Nota-se que há confronto entre a súmula 372 do TST e o art. 468, §2º, da CLT,
incluído pela Lei nº 13.467, de 2017, na medida em que o primeiro assegura a
incorporação da gratificação de função quando percebida por mais de 10 anos e o
segundo veda expressamente essa incorporação, independentemente do tempo de
seu exercício.

Assinado eletronicamente por: EDSON CARVALHO BARROS JUNIOR - 17/03/2023 18:30:29 - d5ee738
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Ainda que vigente e não alterada a Súmula 372 do TST, é certo que se trata de
súmula persuasiva, a qual manifesta entendimento jurisprudencial consolidado ao
tempo de sua edição, não se sobrepondo a eventual alteração legislativa que
modifique o patamar legal aplicável ao caso.

Evidentemente que mencionada Súmula permanece válida e perfeitamente


aplicável a situações consolidadas anteriormente à vigência da Lei nº. 13.467
/2017, haja vista que esta não possui eficácia retroativa, não podendo ferir o
direito adquirido dos empregados que outrora obtiveram direito à estabilidade
financeira decorrente do exercício de função de confiança durante mais de 10
anos, a teor do entendimento jurisprudencial até então majoritário.

Porém, não é possível que após o advento da novel legislação se continue a


reconhecer a aquisição do direito à estabilidade financeira com base em
entendimento jurisprudencial manifestamente contrário à legislação atual.

(...)

No caso dos autos, a parte autora exerceu, efetivamente, função de confiança no


período de fevereiro de 2012 até fevereiro de 2022, quando foi revertida ao cargo
efetivo. Ao menos é o que se extrai do documento juntado no ID. dd292ea. No
mesmo sentido os documentos juntados pelo próprio autor com a inicial no ID.
1504e30, ou seja, a gratificação é recebida desde 2012.

Ou seja, além da reversão ao cargo efetivo ter ocorrido após o advento da Lei nº
13.467/2017, tem-se que em 10/11/2017 a parte reclamante sequer havia
completado os 10 anos de exercício de função comissionada que lhe garantiriam o
direito à estabilidade financeira.

Assim, não há que se falar em incorporação da gratificação de função em razão


da disposição expressa do art. 468, § 2º, CLT, incluído pela Lei nº 13.467/2017.

(...)"
Insiste o Recorrente na pretendida incorporação, ao argumento de que as disposições do § 2º do
art. 468 da CLT, com a nova redação dada pela Lei n. 13.467/2017, "não se aplicam ao contrato de
trabalho dos empregados que foram admitidos pela CEF antes da vigência da Lei 13.467/2017".
Não lhe assiste razão.
A jurisprudência desta Turma se fixou no sentido de que as disposições de direito material da
Lei n. 13.467/2017, em que pese não possam retroagir, se aplicam a partir do início de sua vigência em
11-11-2017, nos exatos termos do art. 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-
Lei n. 4.657/1942: "A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.")
No caso ora em análise, a pretensão do recorrente não se trata de ato jurídico perfeito, direito
adquirido nem de coisa julgada, sendo certo que por ocasião da entrada em vigor da Lei n. 13.467 em 11-
11-2017 tinha aproximadamente 5 anos de percepção de gratificação de função, não se configurando a
hipótese da Súmula n. 372 do TST.
Portanto, nego provimento ao recurso, no particular.
2.2.2 - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

Assinado eletronicamente por: EDSON CARVALHO BARROS JUNIOR - 17/03/2023 18:30:29 - d5ee738
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Alega o Recorrente a impossibilidade de ser condenado ao pagamento de honorários


advocatícios de sucumbência por ser beneficiário da Justiça Gratuita, citando em defesa da tese julgados
de outros Regionais e a decisão do STF na ADI n. 5766. Se superado, requer suspensão da exigibilidade
respectiva e redução do percentual de 10% para 5%.
Sem razão.
O Tribunal Pleno desta Corte nos autos Arginc-0000147-84.2018.5.14.0000, declarou a
inconstitucionalidade parcial do art. 791-A, § 4º, da CLT, consignando ser devido honorários
sucumbenciais, mesmo quando a parte condenada é beneficiária da justiça gratuita, afastando-se,
contudo, a possibilidade de desconto deste crédito de eventuais valores recebidos no mesmo processo ou
em outros, sendo que as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de
exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de hipossuficiência que
justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.
Quanto a decisão do STF na ADI n. 5766, que possui efeitos "erga omnes", vinculante, e tem aplicação
imediata, a interpretação desse julgado por esta Turma é no sentido de que a declarada
inconstitucionalidade do § 4º do art. 791-A da CLT, com redação dada pela Lei n. 13.467/2017, é apenas
parcial, em consonância com a decisão do Pleno deste Regional nos autos da Arguição de
Inconstitucionalidade n. 0000147-84.2018.5.14.0000.
Outrossim, entendo que o percentual de 10% fixado em sentença já atende aos parâmetros do §
2º do art. 791-A da CLT e aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
Recurso parcialmente provido somente para determinar que os honorários sucumbenciais fiquem
sob condição suspensiva de exigibilidade na forma do art. 791-A, § 4º, da CLT.
2.3 CONCLUSÃO
Dessa forma, concedo ao Autor os benefícios da Justiça Gratuita e conheço do recurso ordinário;
no mérito, dou-lhe parcial provimento para determinar que os honorários sucumbenciais devidos pelo
Autor fiquem sob condição suspensiva de exigibilidade na forma do art. 791-A, § 4º, da CLT.
3 DECISÃO
ACORDAM os Magistrados integrantes da 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª
Região, à unanimidade, conceder ao Autor os benefícios da Justiça Gratuita e conhecer do recurso
ordinário; no mérito, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Relator. Sessão de julgamento
virtual realizada no período de 9 a 14 de março de 2023.
Porto Velho-RO, 14 de março de 2023.

(assinado digitalmente)
EDSON CARVALHO BARROS JÚNIOR
JUIZ CONVOCADO - RELATOR

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Número do processo: 0000115-44.2022.5.14.0031 ID. d5ee738 - Pág. 4
Número do documento: 23021414065555100000009817059
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Número do processo: 0000115-44.2022.5.14.0031 ID. d5ee738 - Pág. 5
Número do documento: 23021414065555100000009817059

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