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ILUSTRÍSSIMOS SENHORES CONSELHEIROS DA JUNTA DE RECURSOS DO CONSELHO DE

RECURSOS DO SEGURO SOCIAL

NB 206.560.861-1

CELSO CASSIMIRO, brasileiro, casado, portador do RG: 14.200.111 e


inscrito no CPF de nº 124.566.178-78, residente e domiciliado na Rua José
India, nº 110, Taboão, São Bernardo do Campo/SP, CEP: 09671-150 , vem,
por meio de seus procuradores, com fulcro no art. 587 da IN 128/2022,
interpor o presente RECURSO ORDINÁRIO:

A concessão da Aposentadoria por Tempo de Contribuição NB: 42/206.506.861-1


requerida em 20/09/2022 e concluído o processo em 28/11/2022 se deu de forma que não
propiciou ao requerente o recebimento do melhor benefício, veja:

Não foram considerados 04 períodos como especiais, mas quanto ao reconhecimento


da atividade especial, tratarei em um segundo momento, pois agora iriei demonstrar o direito
ao melhor benefício com a reafirmação da DER (no curso do processo administrativo) que a
Autarquia não viabilizou.

Dados da DER reconhecidos pelo INSS – 20/09/2022

Idade 57 anos, 10 meses e 03 dias.


Tempo de Contribuição 40 anos, 10 meses e 16 dias
Pontos 98,8
RMI R$ 5.731,22

Dados da DCB reconhecidos pelo INSS – 28/11/2022


Idade 58 anos e 11 dias.
Tempo de Contribuição 41 anos, 01 mês e 14 dias
Pontos 99,15
RMI R$ 6.844,33

Simplesmente REAFIRMANDO A DER para a DCB ou até mesmo alguns dias antes, o Sr.
Celso já havia preenchido os requisitos para Aposentadoria por Tempo de Contribuição – Regra
de transição Pontos com um coeficiente de 102%.

Como é possível verificar na cópia do processo administrativo, o Requerente autorizou a


reafirmação da der.

A nova Instrução Normativa 128/2022, trouxe, em outras palavras a reafirmação da DER


da IN 77/2015, mas agora encontra previsão no artigo 577:

Art. 577. Por ocasião da decisão, em se tratando de requerimento de benefício, deverá


o INSS:

II – verificar se, não satisfeito os requisitos para o reconhecimento do direito na data de


entrada do requerimento do benefício, se estes foram implementados em momento posterior,
antes da decisão do INSS, caso em que o requerimento poderá ser reafirmado para a data em
que satisfizer os requisitos, exigindo-se, para tanto, a concordância formal do interessado,
admitida a sua manifestação de vontade por meio eletrônico.

Assim, embora o texto tenha sido modificado, a possibilidade de reafirmação da DER


permanece intacta no âmbito administrativo, apesar de não ter sido aplicado no caso em tela.
Além disso, a reafirmação da DER já foi objeto de julgamento pelo STJ (Tema 995),
ocasião em que foi definida tese favorável à sua aplicação.

Ademais, no mesmo diploma, IN 128/2022, há também o direito ao melhor benefício,


que encontra previsão legal nos seguintes dispositivos:

Art. 222.

§ 3º Na hipótese de ser identificado o direito a mais de uma forma de cálculo de


aposentadoria, fica resguardada a opção pelo cálculo mais vantajoso, observada a reafirmação
da data de entrada do requerimento administrativo a critério do segurado, se for o caso, na
forma do art. 577.

Art. 589.

§ 1º Na hipótese de o segurado ter implementado todas as condições para mais de uma espécie
de aposentadoria na data da entrada do requerimento e em não tendo sido lhe oferecido o
direito de opção pelo melhor benefício, poderá solicitar revisão e alteração para espécie que
lhe é mais vantajosa.

Portanto, por mais que o INSS não tenha reconhecido alguns períodos essenciais,
somente com a Reafirmação da DER para antes da data de concessão, o requerente já teria um
benefício muito superior ao que foi deferido.

DO PERÍODO DE EXPERIÊNCIA
O requerente iniciou seu vínculo com a empresa Chesterton do Brasil em 05/04/2000 e
não em 06/07/2000, como considerou a Autarquia previdenciária.

Sendo que, de 05/04/2000 até 05/07/2000 esteve no período de experiência, o qual


deve ser contabilizado para todos os fins previdenciários.

Com o reconhecimento dos três meses de experiência, o requerente preenchia:

DER: 20/09/2022 – RMI de R$ 6.812,18


Reafirmação da DER para 28/11/2022: RMI de R$ 6.865,76

É possível observar que, mesmo sem a reafirmação da DER, somente com a


comprovação dos 90 dias do contrato de experiência na empresa Chesco do Brasil, o Sr. Celso
teria um benefício muito superior ao que foi concedido.

DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE ESPECIAL

Dos períodos que o requerente solicitou o reconhecimento como especial e sua


conversão para tempo comum (fator de 1,4), todos remetem a mesma empresa VOLKSWAGEN
DO BRASIL – INDÚSTRIA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES Ltda – CNPJ: 59.104.422/0041-47.

Apesar de estar, por todo o período, exposto ao ruído no chão de fábrica, a Perícia
Médica não enquadrou 04 (quatro) períodos, dos quais, trarei a refutação de cada um em
ordem cronológica, com o recorte dos itens 13, 14 e 15 do PPP:

22/10/1980 até 31/12/1981


Conforme se extrai do documento observamos que o obreiro estava exposto a ruído
acima do limite de tolerância da época. Além disso, na profissiografia, nos informa que, apesar
de ter aulas teóricas e práticas, eram desenvolvidas “NO AMBIENTE DE TRABALHO” o que se
fazia essencial para a formação do Aprendiz de Mecânica Geral.

Não obstante, nas observações do PPP, consta que, além do documento ser
contemporâneo, os resultados expostos no item 15 (Exposição a fatores de risco) são
resultantes de uma exposição habitual e permanente, não ocasional nem intermitente.

Todavia, este período não foi enquadrado pela perícia do INSS, com a seguinte
justificativa:
Primeiramente a fundamentação aponta para “nos termos da legislação vigente à
época” e o decreto mencionado na fundamentação para a negativa é de 11/2003, sendo que o
período analisado remete aos anos 80. Dessa forma, não merece prosperar a fundamentação
aqui apresentada com base no Decreto nº 4.882 de 18/11/2003.

E mesmo sendo considerado o referido Decreto, a legislação não especifica que a


exposição deve ser constante durante toda a jornada de trabalho, mas sim que não deve ser
ocasional ou intermitente. Portanto, a exposição regular e habitual ao ruído durante as
atividades práticas deveria ser considerada como permanente para fins de enquadramento,
porém, além das atividades práticas, as teóricas também aconteciam no ambiente laboral.

Além disso, aponta que não é possível caracterizar a permanência de exposição ao ruído
apenas com base em trecho recortado da atividade.

Ora, o médico perito esqueceu de completar a citação, na qual o documento afirma que
as atividades eram feitas no local de trabalho e não em uma sala de aula afastada do ruído.
Visto que, a descrição do trabalho como aprendiz de mecânico geral implica necessariamente
em exposição contínua ao ruído, já que a atividade prática em um ambiente mecânico
geralmente envolve o uso constante de máquinas e ferramentas que emitem muito barulho.

Para refutar os argumentos trazidos pela Autarquia, no próprio PPP, que apontado
(Observações), indica a exposição de modo habitual e permanente, não ocasional nem
intermitente para os níveis de ruído apresentados.

Fica evidente na leitura completa do PPP, e não do documento fragmentado que há


exposição acima do limite tolerado ao ruído, sem que haja prejuízo a saúde. Uma vez que,
mesmo em uma função de aprendizagem, essa era parte integrante e necessária das atividades
desenvolvidas, e que a legislação da época deve ser interpretada de forma a proteger a saúde
do trabalhador.

01/01/1982 até 31/10/1983


Como no período anterior que não foi reconhecido, o Perfil Profissiográfico aponta o
nível de ruído exposto, indica que há exposição se dá de modo habitual e permanente, não
ocasional nem intermitente e ainda descreve a atividade no “chão de fábrica”, mesmo que
necessite da supervisão do instrutor.

Mas, mesmo assim o INSS negou o reconhecimento deste período, com o seguinte
fundamento:

Não tem fundamento o não enquadramento do referido período pela perícia do INSS.
Isso porque não há nenhum embasamento técnico ou legal para desconstruir o PPP dessa
forma. Não foi citado o que está em desacordo com a NR 15, tampouco o que deveria constar
para que houvesse o enquadramento, apresentando assim, argumentação genérica e não
precisa, diante do PPP que apresenta todos os elementos para comprovação da exposição.

Em relação ao código GFIP não informado ou o seu preenchimento com 00, não deve
impedir o enquadramento do período como especial, uma vez que o obreiro não deve ser
duplamente penalizado por ato que não é de sua responsabilidade.

A Autarquia que é incumbida de fiscalizar e cobrar o devido custeio a aposentadoria


especial, e assim deve prosseguir diante da comprovação da exposição da atividade insalubre
como no caso concreto, e não privar o segurado de seus direitos.

“E isto porque, inda que conste o código zero no campo do PPP relativo à GFIP, não há
impedimento à consideração da atividade como especial, em que pese o INSS entender que
tal reconhecimento ficaria sem custeio específico, ante a ausência das contribuições
dispostas nos arts. 57, §§ 6.º e 7.º, da Lei n.º 8.213/91, e art. 22, inc. II, da Lei n.º 8.212/91,
porquanto, se estiver comprovado o trabalho em condições adversas à saúde do trabalhador,
a mera ausência do código ou o preenchimento equivocado no referido documento não
obsta o direito do trabalhador ao cômputo do tempo especial, uma vez que o INSS possui os
meios necessários para sanar eventual irregularidade constatada na empresa, não podendo
o segurado ser penalizado por falha do empregador. (Relator Des. JOÃO BATISTA PINTO
SILVEIRA. APELAÇÃO CÍVEL Nº 5001600-80.2015.4.04.7118/RS. 03/05/2018).”

As justificativas do não enquadramento deste período, comparado com o restante da


análise do PPP (conforme consta na cópia do processo administrativo) torna a análise no
mínimo contraditória.

Veja a análise feita no mesmo processo mas para o período compreendido entre
01/11/1983 até 31/08/1984, o qual abarca a mesma legislação que o período totalmente não
enquadrado que acabamos de ver:

Colocarei agora o que está contido no PPP, tanto deste período que foi INTEGRALMENTE
ENQUADRADO como do anterior que foi totalmente não enquadrado.

Mesmo Fator de risco (15.3), mesma Técnica Utilizada (15.5) e ambos com GFIP 00.

Ora, se neste o perito federal enquadrou devido a NR 15 anexo I, como pode o período
anterior, conter as mesmas indicações no PPP que este, e ter sido totalmente não enquadrado?

Não consigo responder, mas venho requerer que os conselheiros de Junta de Recursos
reconheçam a atividade especial dos períodos não reconhecidos pelo INSS.

01/11/1984 até 31/08/1985


Veja que aqui a exposição ao ruído se mostra muito maior, mas mesmo assim o INSS
negou o enquadramento de todo o período:

A negativa do INSS para o enquadramento deste período não deve prosperar, pois há
elementos para convicção. O Documento traz a exposição a 91 dB(A), informa que a exposição
é habitual e permanente, não ocasional nem intermitente.

Em relação a fonte geradora de ruído, ora, o local de trabalho é a montadora da


Volkswagen e a atividade realizada, por mais que não estivesse tocando no maquinário e sim
em papel, precisava circular pela fábrica, na qual o barulho estava dissipando por todos os
lados, independentemente do objeto que trabalhava com as mãos.

01/09/1985 até 21/10/1987


Pelos parâmetros presentes no PPP temos a efetiva comprovação da atividade especial,
seja pela exposição ao ruído de 91 dB(A), muito superior ao limite da época (80dB).

Há indicação no PPP de habitualidade, permanência, não ocasional e não intermitente e,


além de todos os fatores, é possível o enquadramento por categoria profissional.

As atividades de ferramenteiro exercidas até 28/04/1995 devem ser reconhecidas como


especiais em decorrência do enquadramento por categoria profissional previsto à época da
realização do labor.

Veja que há jurisprudência consolidada, inclusive pela TNU:


No dia ${data_generica}, o Recorrente elaborou requerimento de aposentadoria
especial, a partir do reconhecimento da especialidade dos períodos contributivos
compreendidos entre ${data_generica} a ${data_generica}, ${data_generica} a $
{data_generica}, ${data_generica} a ${data_generica} e ${data_generica} a ${data_generica}.

No presente caso, a autarquia previdenciária não reconheceu a especialidade dos lapsos


acima requeridos sob a justificativa de que os PPPs não fazem menção à indicação de exposição
a agentes nocivos. Ocorre que as atividades desempenhadas pelo Segurado estão claras tanto
em sua CTPS quanto nos PPPs, de forma que a correspondência desse ofício, nos setores
citados, no LAUDO TÉCNICO apresentado, demonstra a inequívoca exposição aos agentes
nocivos ruído e sílica.

Sendo assim, passa-se à análise detalhada das atividades especiais desenvolvidas, bem
como das razões pelas quais a decisão deve ser revista.

DO DEVER DE FISCALIZAÇÃO DO INSS

É importante mencionar, inicialmente, que compete ao servidor do INSS responsável


pela condução do processo, juntamente com o segurado requerente, a instrução do processo
administrativo, com o intuito de reunir toda a documentação indispensável ao processamento
do benefício pleiteado.

No que se refere à prova da atividade especial, cabe tecer breves considerações sobre o
chamado “Adicional do SAT”. Tal espécie de contribuição deve ser recolhida em percentual
proporcional ao grau de nocividade da exposição do empregado aos agentes agressivos,
exclusivamente sobre a remuneração do segurado.

Destarte, não se pode permitir a descaracterização da atividade especial ou a não


concessão do benefício de aposentadoria especial ao segurado pela não contribuição a cargo
do empregador, eis que se presume que ela foi realizada, ao teor do que estabelece o art. 33,
§ 5º, da Lei 8.212/91, perceba-se (grifos nossos):

5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se


presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo
lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável
pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto
nesta Lei.
Ademais, a contribuição existe e está prevista em lei. Basta que haja fiscalização e
cobrança efetiva pela Autarquia Previdenciária!!!

Incabível, portanto, discutir em um processo de concessão de benefício matéria de


custeio. Se houve exposição do segurado aos agentes nocivos, cabe ao INSS propor a ação de
cobrança que entender cabível para sanar a discussão sobre o equilíbrio financeiro e atuarial.

Pelo exposto, tratando-se de atividade especial, a precedência da fonte de custeio e a


necessidade de arrecadação e fiscalização também geram reflexos no preenchimento dos
formulários PPP pelo empregador. Isto ocorre porque, o empregador pode “omitir” a
informação de ambiente insalubre para se eximir de pagar a contribuição específica.
Contudo, não é possível permitir que o segurado seja prejudicado pela “omissão” do
empregador!

Com efeito, é recorrente o preenchimento dos formulários unilateralmente, sem


qualquer critério e visando somente os interesses da empresa. Ademais, muitas vezes, o
empregador se recusa a fornecer o PPP ao segurado. Ressalta-se que há previsão de multa em
tais casos, consoante dispõe o §8º, do art. 68 do Decreto 3.048/99. Veja-se (grifos nossos):

8oA empresa deverá elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico do


trabalhador, contemplando as atividades desenvolvidas durante o período laboral,
documento que a ele deverá ser fornecido, por cópia autêntica, no prazo de trinta dias
da rescisão do seu contrato de trabalho, sob pena de sujeição às sanções previstas na
legislação aplicável.

Neste ponto, importante mencionar que o esmero do segurado em obter o PPP cessa
seu dever de comprovação, cabendo ao INSS FISCALIZAR o empregador, bem como consagrar
o direito do segurado requerente ao melhor entendimento e enquadramento, conforme
obriga a Portaria INSS/DIRBEN Nº 991 DE 28/03/2022:

Art. 294. Constatada divergência de informações entre a CP ou CTPS e os formulários


legalmente previstos para reconhecimento de períodos alegados como especiais, ela
deverá ser esclarecida por meio de ofício à empresa ou exigência ao segurado.

Parágrafo único. Constatada divergência entre o formulário legalmente previsto para


reconhecimento de períodos alegados como especiais e o CNIS, ou entre eles e outros
documentos ou evidências, o INSS deverá analisar a questão no processo
administrativo, com adoção das medidas necessárias.

A Resolução INSS nº 485/2015 também se mostra um meio eficiente de


periciar/inspecionar o ambiente laboral administrativamente no caso de divergência entre o
formulário e o CNIS ou entre outros documentos ou evidências:
Considerando...

c.) o § 7º do art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999, que dispõe sobre a inspeção, se


necessário, no local de trabalho do segurado visando a confirmar as informações
contidas no Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP e Laudo Técnico de Condições
Ambientais do Trabalho - LTCAT, para fins de Aposentadoria Especial;

(...)

Art. 4º A inspeção no ambiente de trabalho terá por finalidade:

V - verificar se as informações contidas no PPP estão em concordância com o LTCAT


utilizado como base para sua fundamentação, com fins à aposentadoria especial;

VI - confirmar se as informações contidas LTCAT estão em concordância com o


ambiente de trabalho inspecionado, com fins à aposentadoria especial; e

Art. 5º A Perícia Médica dará ciência ao segurado, por meio da Carta de Comunicação
ao Segurado de Inspeção no Ambiente de Trabalho (Anexo IV), da data e hora de
realização da inspeção, informando-lhe da possibilidade da participação do
representante do sindicato da categoria e/ou do seu médico assistente.

Cumpridas as devidas diligências pelo INSS, desnecessária será a judicialização da


presente demanda. De todo modo, importante ressaltar que a jurisprudência também consagra
a desnecessidade do segurado esgotar toda e qualquer pendência de responsabilidade de
empregador, sendo que cabe ao próprio INSS o esforço de complementar a prova da atividade
especial do segurado e, quando for o caso, utilizar seu poder fiscalizador:

AGRAVO DE INTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL.


DETERMINAÇÃO AO INSS PARA JUNTADA DE DOCUMENTOS RELATIVOS A
ATIVIDADES ESPECIAL EM EMPRESAS INATIVAS CONTEMPORÂNEAS AO TEMPO EM
QUE O AUTOR ERA SEGURADO EMPREGADO MESMO EM SE TRATANDO DE PERÍODO
ANTERIOR AOS PPP's, NR 09 PPRA e LTCAT. 1. Tem sido utilizado em casos de
empresas extintas a perícia por similaridade, sendo apenas excepcionalmente, quando
aquela se tornar inviável, invertido o ônus da prova. 2. É certo que as empresas têm a
obrigação de entregar ao INSS documentos contendo as condições de trabalho de
seus empregados, ficando elas com uma cópia. 3. No caso em epígrafe, não consta
que esteja inviabilizada a realização de perícia por similitude com empresas
congêneres, pelo que esta deve ser a primeira opção em termos instrutórios. 4. A
despeito, nada impede que o INSS colabora com a juntada de documentos que
estejam em seus arquivos referentes às empresas inativas, sem que isso implique
inversão do ônus da prova, e sim uma atitude em prol da verdade real na busca na
realização da justiça. (TRF4, AG 5001964-32.2016.404.0000, SEXTA TURMA, Relator
(AUXÍLIO OSNI) HERMES S DA CONCEIÇÃO JR, juntado aos autos em 05/05/2016, grifos
acrescidos)
Ocorre que, na prática, tem ocorrido uma verdadeira transferência de
responsabilidades do INSS para o segurado! Ao negar a aposentação e obrigar o segurado a
procurar a empresa, a fim de buscar a sua pretensão no Judiciário, a Autarquia Previdenciária
permanece inerte, contrariando as regras que dispõe a respeito da sua obrigação de
FISCALIZAR E COBRAR das empresas a prestação de informações corretas e o devido
recolhimento das contribuições.

Por outro lado, caso restem frustradas as diligênicias fiscalizatórias, deverá ser
promovida justificação administrativa para sanar eventuais pendências remanescentes. Sobre a
justificação administrativa, tem-se que[1]:

O processamento de JA não será admitido em apenas um caso: para comprovação de


fatos que apenas podem ser confirmados por registro público, tais como data de
nascimento, casamento (embora para a comprovação de união estável seja admitida),
óbito, ou otros, conforme esclarece o art. 574, § 2º, da IN nº 77/2015.

Para todo e qualquer fato, circunstância ou evento, o seu processamento será


admitido desde que haja a mínima comprovação material que estabeleça um liame
causal entre a pessoa e a situação que se pretenda comprovar. Sempre lembrando
que, na práxis administrativa, a Justificação Administrativa é o último recurso de prova.

[...] é possível utilizar esse procedimento para qualquer tipo de fato alegado no
processo administrativo que não possua provas suficientes, exceto nos casos de fatos
confirmados por registros públicos. (sem grifos no original)

Período: ${data_generica} a ${data_generica}

Empresa: ${informacao_generica}

Cargo: Aux. Armazém

Inicialmente, cumpre salientar que, quanto ao primeiro lapso, embora conste a


anotação na carteira de trabalho do Segurado de que este era estivador, vislumbra-se que o
Recorrente não era trabalhador portuário, sobretudo porque suas atividades se davam em
estabelecimento de comércio de cereais, no município de ${informacao_generica} (Cidade
central no estado), conforme anotação em sua carteira de trabalho.

No caso, registre-se que a intenção do empregador na época era enquadrar a atividade


desempenhada pelo segurado com a constante no código 2.5.6 do Decreto 53.831/64.
Além disso, o formulário de PPP desse período consta a informação de que o Segurado
trabalhava no setor de recebimento do arroz, desempenhando as atividades de carga e
descarga de produtos e limpeza do ambiente de trabalho.

Por sua vez, nos demais interregnos, o Recorrente apresenta regular registro em sua
CTPS, constando a informação que desempenhou o ofício de auxiliar de armazém, em
estabelecimento de comércio e indústria de cereais. Outrossim, os formulários de PPPs desses
lapsos também informam que o Segurado trabalha no setor de recebimento do arroz,
desempenhando as atividades de carga e descarga de produtos e limpeza do ambiente de
trabalho.

Nesse aspecto, anexou-se ao requerimento administrativo laudo técnico da empresa,


datado de ${data_generica}, onde constam as seguintes informações a respeito da função
exercida pelo Recorrente:

${informacao_generica}

Consta, ainda, que os empregados que trabalhavam nesse setor estavam expostos aos
agentes nocivos ruído (89,7 dB) e sílica. Perceba-se:

${informacao_generica}

Nesse mesmo sentido é o PPRA emitido pela empresa em ${data_generica}:

${informacao_generica}

Da análise preliminar, devem ser desconsiderados os EPI’s que constam nos


documentos, eis que não comprovado o fornecimento de qualquer equipamento de proteção
pela empresa. É oportuno mencionar que a IN nº 77/2015 exige a comprovação da eliminação
ou neutralização da exposição aos agentes nocivos pelo uso de EPI, não bastando a mera
referência de utilização de equipamentos no formulário PPP para a descaracterização da
atividade especial desenvolvida.

Relativamente ao agente ruído, destaca-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o


ARE 664.335, com repercussão geral reconhecida (Tema 555), reconheceu a ineficácia da
utilização de equipamentos de proteção individual para fins de eliminação do agente nocivo
ruído.
Além disso, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a exigência de que
a exposição seja habitual e permanente somente foi trazida pela Lei 9.032/95, não sendo
aplicável às hipóteses anteriores à sua publicação (REsp 977.400/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, 5ª TURMA, DJ 05/11/2007, p. 371).

De outro norte, embora os laudos em análise tenham sido confeccionados em 1998 e


em 2004, denota-se que não há nenhum óbice para tanto. Nesse sentido é a súmula nº 68 do
Conselho da Justiça Federal:

Súmula nº 68: O laudo pericial não contemporâneo ao período trabalhado é apto à


comprovação da atividade especial do segurado.

No que se refere aos agentes nocivos, vislumbra-se que os formulários registram a


exposição a SÍLICA. Nesse contexto, é indispensável registrar a edição do Decreto 8.123, de
16/10/2013, o qual alterou diversos dispositivos do Decreto 3.048/99, com a seguinte inovação
que merece destaque:

Art. 68. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de
concessão de aposentadoria especial, consta do Anexo IV.

(...)

4o A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição a ser apurada


na forma dos §§ 2º e 3º, de agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em
humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, será suficiente para a
comprovação de efetiva exposição do trabalhador. (Redação dada pelo Decreto nº
8.123, de 2013)

Ocorre que a referida lista de agentes cancerígenos foi recentemente editada pelo
Ministério do Trabalho (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014 -
DOU 08/10/2014), na qual consta que a poeira de sílica cristalina é reconhecidamente
cancerígena!

Ademais, de acordo com parecer técnico da FUNDACENTRO, os equipamentos de


proteção coletiva e individual não são suficientes para elidir a exposição a esses agentes,
conforme consta inclusive na mais recente instrução normativa do INSS, sendo exigida apenas
a análise qualitativa (INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 128/2022):
Art. 297. Para caracterização da atividade especial por exposição ocupacional a
agentes químicos e a poeiras minerais constantes do Anexo IV do RPS, a análise deverá
ser realizada:

I - até 5 de março de 1997, véspera da publicação do Decreto nº 2.172, de 1997, de


forma qualitativa em conformidade com o código 1.0.0 do Quadro Anexo ao Decreto
nº 53.831, de 1964 ou Código 1.0.0 do Anexo I do Decreto nº 83.080, de 1979, por
presunção de exposição;

II - a partir de 6 de março de 1997, em conformidade com o Anexo IV do RBPS,


aprovado pelo Decreto nº 2.172, de 1997, ou do RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048,
de 1999, dependendo do período, devendo ser avaliados conformes os Anexos 11, 12,
13 e 13-A da NR15 do MTE; e

III - a partir de 1º de janeiro de 2004 segundo as metodologias e os procedimentos


adotados pelas NHO-02, NHO-03, NHO-04 e NHO-07 da FUNDACENTRO, sendo
facultado à empresa a sua utilização a partir de 19 de novembro de 2003, data da
publicação do Decreto nº 4.882, de 2003.

Em resumo, no caso em tela, ao se analisar a exposição do Recorrente à POEIRA DE


SÍLICA, descabe a análise da utilização de equipamentos de proteção individual, e o critério
utilizado para caracterização da exposição habitual e permanente ao agente nocivo
cancerígeno merece considerável temperamento.

Em vista disso, a mera ausência de informação de exposição a agentes nocivos no


formulário de PPP não pode afastar a especialidade do labor desenvolvido pelo Segurado,
sobretudo considerando as informações constantes na carteira de trabalho do Segurado, a
descrição das atividades realizadas pelo Recorrente nos PPPs fornecidos e os dois laudos
técnicos apresentados.

Portanto, presente registro TÉCNICO de forma inequívoca que o Recorrente esteve


exposto a poeira de sílica, além do agente físico ruído , é imperioso o reconhecimento do
tempo de serviço especial dos períodos compreendidos entre 25/04/1981 a 24/07/1981,
23/03/1982 a 31/05/1982, 27/02/1984 a 02/06/1984 e de 15/03/1985 a 09/11/1987, conforme
enquadramento no Decreto 53.831/64, item 1.1.6 e 2.5.6.

Período: ${data_generica} a ${data_generica}

Empresa: ${informacao_generica}

Cargo: Aux. Armazém

No período em apreço, o Segurado desempenhou o cargo de auxiliar em armazém em


estabelecimento de comércio e indústria de arroz, conforme anotação regular em sua carteira
de trabalho.
Destarte, foi apresentado PPP informando que o Recorrente desempenhava a atividade
de carga e descarga e armazenagem de cereais (arroz e soja) no setor pavilhão. Consta, ainda,
que estava exposto aos seguintes agentes nocivos:

${informacao_generica}

Não bastasse, foi colacionado ao processo administrativo laudo técnico da empresa $


{informacao_generica}, elaborado em ${data_generica}. No LTCAT em apreço, há o
detalhamento aos níveis de ruído ao qual o Recorrente estava exposto:

${informacao_generica}

Além disso, repise-se que a poeira que o Segurado estava exposto (poeira de sílica),
conforme Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014 - DOU
08/10/2014, é reconhecidamente cancerígena!

Em vista disso, imperativo o reconhecimento do tempo de serviço especial no lapso de $


{data_generica} a ${data_generica}, conforme enquadramento no Decreto 53.831/64, item
1.1.6 e 2.5.6.

Período: ${data_generica} a ${data_generica}

Empresa: ${informacao_generica}

Cargo: Servente de armazém / alimentador linha de produção

No lapso em comento, o Segurado exerceu o cargo de servente de armazém (nível 1),


em estabelecimento de comércio e indústria de cereais, conforme anotação regular em sua
carteira de trabalho. Há o registro do CBO nº 9.71.10:

O formulário de PPP esclarece que no interregno de ${data_generica} a $


{data_generica} o Requerente exerceu o cargo de auxiliar de armazém e no período de $
{data_generica} a ${data_generica} foi alimentador de linha de produção, ambos no setor de
beneficiamento de arroz. Veja-se:

${informacao_generica}
A respeito da última atividade desempenhada, perceba-se também a descrição
constante no LTCAT emitido em 2004 pela empresa:

${informacao_generica}

Nesse sentido, o laudo citado é claro em afirmar que o Recorrente estava exposto a
ruído e sílica:

${informacao_generica}

No ponto, o Segurado remete aos Srs. Julgadores a fundamentação apresentada por


ocasião dos interregnos anteriormente analisados em que o Recorrente laborou nesta mesma
empresa, tendo em vista que exposto aos mesmos agentes nocivos, reafirmando os termos da
Súmula 68 do CJF.

Desse modo, requer o reconhecimento do tempo de serviço especial no lapso de


supramencionado, consoante enquadramento no Decreto 53.831/64, item 1.1.6 e 2.5.6, e
Decretos 2.172/97 e 3.048/99, item 2.0.1.

Períodos: ${data_generica} a ${data_generica} e ${data_generica} a ${data_generica}

Empresa: ${informacao_generica}

Cargo: Auxiliar de operação de processos químicos / Auxiliar industrial

No que tange ao primeiro interregno, há a regular anotação do vínculo empregatício


para o cargo de auxiliar de operação de processo químico, desenvolvido em indústria (CBO nº
74990).

Consta, também, a referência de que o Segurado recebia adicional de periculosidade em


30%. Perceba-se:

${informacao_generica}

Por fim, no último período o Recorrente desenvolveu o ofício de operador industrial II,
conforme registro em sua CTPS.
No formulário de PPP apresentado, o qual abrange os dois lapsos, consta a descrição
das atividades desenvolvidas, bem como a menção de que o Segurado estava exposto aos
agentes nocivos ruído, calor e poeira não fibrogência:

${informacao_generica}

Dessa forma, prudente o reconhecimento da especialidade do labor desempenho nos


lapsos de ${data_generica} a ${data_generica} e ${data_generica} a ${data_generica}, com
fulcro no Decreto 3.048/99, item 2.0.1.

DA REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS POR PARTE DO INSS

Caso os Srs. Conselheiros entendam não ser possível o reconhecimento da atividade


especial, tendo em vista o teor dos PPPs emitidos pelas empresas ${informacao_generica} e $
{informacao_generica}, requer seja procedida a realização de diligências.

Nesse contexto, destaca-se que a resolução INSS/PRES 485 regulamentou a disposição


do § 7º do art. 68 do Decreto 3.048/99, prevendo expressamente a possibilidade de inspeção
na empresa para confirmar as informações do PPP, vale conferir:

c.) o § 7º do art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999, que dispõe sobre a inspeção, se


necessário, no local de trabalho do segurado visando a confirmar as informações
contidas no Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP e Laudo Técnico de Condições
Ambientais do Trabalho - LTCAT, para fins de Aposentadoria Especial;

(...)

Art. 4º A inspeção no ambiente de trabalho terá por finalidade:

V - verificar se as informações contidas no PPP estão em concordância com o LTCAT


utilizado como base para sua fundamentação, com fins à aposentadoria especial;

VI - confirmar se as informações contidas LTCAT estão em concordância com o


ambiente de trabalho inspecionado, com fins à aposentadoria especial; [...]

Destarte, requer o Recorrente que seja realizada inspeção junto às empresas $


{informacao_generica} e ${informacao_generica}, para a verificação das informações
constantes nos formulários PPPs emitidos.
Além disso, postula que seja procedida à pesquisa externa junto às empresas
supracitadas, para averiguação das atividades especiais realizadas pelo Recorrente e sua
respectiva intensidade.

Saliente-se que o pedido subsidiário do Segurado encontra amparo na Instrução


Normativa nº 77/2015:

Art. 556. A fase instrutória do processo administrativo previdenciário constitui-se pela


reunião dos elementos necessários ao reconhecimento do direito ou serviço pleiteado,
cabendo solicitação de documentação adicional apenas quando as informações não
estiverem disponíveis em base de dados próprias ou de outros órgãos públicos.

Parágrafo único. Quando os documentos apresentados não forem suficientes e,


esgotadas as possibilidades de obtenção pelo requerente, o INSS, respeitadas as
especificidades de cada procedimento, poderá:

I - emitir ofício a empresas ou órgãos;

II - processar JA; e

III - realizar pesquisa externa.

DO DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL

Por fim, a tabela a seguir demonstra, de forma objetiva, que o Recorrente implementou
os requisitos indispensáveis a concessão de aposentadoria especial:

Admissão Rescisão Empregador Cargo Tempo de contribuiçã

03 meses. Atividade con


${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} Estivador nociva com base no Dec
53.831/64, itens 1.1.6 e

02 meses e 09 dias. Ativ


Aux. considerada nociva com
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica}
Armazém Decreto 53.831/64, iten
2.5.6.

03 meses e 06 dias. Ativ


Aux. considerada nociva com
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica}
Armazém Decreto 53.831/64, item
2.5.6.

${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} Aux. 02 anos, 07 meses e 25


Armazém Atividade considera noc
no Decreto 53.831/64, i
2.5.6.

04 anos, 04 meses e 04
Aux. Atividade considerada n
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica}
Armazém base Decreto 53.831/64
e 2.5.6.

16 dias. Atividade consi


Aux.
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} com base no Decreto 53
Armazém
item 1.1.6 e 2.5.6.

Servente de 08 anos, 03 meses e 10


Armazém / Atividade considerada n
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} alimentador base no Decreto 53.831
linha de 1.1.6 e 2.5.6; Decretos
produção 3.048/99, item 2.0.1.

Aux. de 10 anos, 05 meses e 16


${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} operação de Atividade considera noc
proc. químico no Decreto 3.048/99, ite

01 ano e 05 meses e 01
${data_generica} ${data_generica} ${informacao_generica} Aux. industrial Atividade considera noc
no Decreto 3.048/99, ite

TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL 27 anos, 11 meses e 0

CARÊNCIA 368 contribuições

DA REAFIRMAÇÃO DA DER PARA DATA POSTERIOR AO REQUERIMENTO


ADMINISTRATIVO EM CASO DE NECESSIDADE

Na remota eventualidade de não serem reconhecidos todos os períodos postulados,


desde já requer seja reafirmada a DER para o momento em que o Segurado adquirir direito a
aposentadoria por tempo de contribuição, concedendo-se o benefício a partir da data da
aquisição do direito, nos termos do art. 577 da IN 128/2022, bem como, cumpridos todos os
requisitos exigidos em lei, o segurado adquiriu o direito à benesse, tornando-se imperiosa a sua
concessão, devendo o INSS CONCEDER O MELHOR BENEFÍCIO A QUE FIZER JUS, conforme
comando do mesmo dispositivo:

Art. 577. Por ocasião da decisão, em se tratando de requerimento de benefício, deverá


o INSS:
I - reconhecer o benefício mais vantajoso, se houver provas no processo administrativo
da aquisição de direito a mais de um benefício, mediante a apresentação dos
demonstrativos financeiros de cada um deles; e

II - verificar se, não satisfeito os requisitos para o reconhecimento do direito na data de


entrada do requerimento do benefício, se estes foram implementados em momento
posterior, antes da decisão do INSS, caso em que o requerimento poderá ser
reafirmado para a data em que satisfizer os requisitos, exigindo-se, para tanto, a
concordância formal do interessado, admitida a sua manifestação de vontade por meio
eletrônico.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DO § 8º DO ARTIGO 57 DA LEI 8.213/91

Embora exista previsão legal no sentido que exija o afastamento do segurado da


atividade que o levou à jubilação, nos termos dos artigos 57, § 8ª, e 46 da Lei 8.213/91,
vislumbra-se a existência de decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região no sentido da
inconstitucionalidade do referido dispositivo, reconhecida no Incidente de Arguição de
Inconstitucionalidade nº 5001401-77.2012.404.0000, de relatoria do Juiz Federal Ricardo
Teixeira do Valle Pereira, julgado em 24/05/2012. Perceba-se o teor do referido julgado:

PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. ARGUIÇÃO DE INCONSTUCIONALIDADE. § 8º DO


ARTIGO 57 DA LEI Nº 8.213/91. APOSENTADORIA ESPECIAL. VEDAÇÃO DE PERCEPÇÃO
POR TRABALHADOR QUE CONTINUA NA ATIVA, DESEMPENHANDO ATIVIDADE EM
CONDIÇÕES ESPECIAIS.

[...] 2. O § 8º do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 veda a percepção de aposentadoria


especial por parte do trabalhador que continuar exercendo atividade especial. [...]

Reconhecimento da inconstitucionalidade do § 8º do artigo 57 da Lei nº 8.213/91.

ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 5001401-77.2012.404.0000/TRF

Logo, reconhecida a inconstitucionalidade do § 8º do art. 57 da LBPS pela Corte Especial


do TRF4, que determina o afastamento do trabalho após a concessão de aposentadoria
especial, resta assegurada ao beneficiário a possibilidade de continuar exercendo atividades
laborais sujeitas a condições nocivas após a implementação da benesse.

Outrossim, registre-se que esse julgado passou a ser PRECEDENTE VINCULANTE com o
advento com Código de Processo Civil de 2015, conforme dicção do artigo 927. Destarte,
inaplicável o disposto no artigo 57, § 8º, da Lei 8.213/91.

A respeito do tema Fredie Didier Jr. assim leciona:


Ao falar em efeito vinculante do precedente, deve-se ter em mente que, em certas
situações, a norma jurídica geral (tese jurídica, ratio decidendi) estabelecida na
fundamentação de determinadas decisões judiciais tem o condão de vincular decisões
posteriores [...]

No Brasil, há precedentes com força vinculante – é dizer, em que a ratio decidendi


contida a fundamentação de um julgada tem força vinculante. Estão eles enumerados
no art. 927, CPC.

Para adequada compreensão desse dispositivo, é necessário observar que o efeito


vinculante do precedente abrange os demais efeitos, sendo o mais intenso de todos
eles. Por isso, o precedente que tem efeito vinculante por determinação legal deve ter
reconhecida sua aptidão para produzir efeitos persuasivos, obstativos, autorizantes
etc.[2]

Ademais, nos termos do art. 15 do códex referido, as disposições do CPC serão aplicadas
supletiva e subsidiariamente nos processos administrativos.

Desta forma, verifica-se que os precedentes judiciais deverão ser fielmente observados
pelos tribunais administrativos, sobretudo porque a interpretação sistemática do ordenamento
jurídico pátrio não deixa qualquer dúvida a respeito da ilegalidade/inconstitucionalidade da
inserção de norma que tenha por objetivo deixar de observar os precedentes
supramencionados.

Trata-se de regra que deve ser interpretada extensivamente para concluir-se que é
omissa a decisão que se furte em considerar qualquer um dos precedentes obrigatórios nos
termos do art. 927 do CPC.[3]

Nesse diapasão, oportuno salientar o teor do entendimento do Conselho de Recursos


do Seguro Social:

A consubstancialização da dignidade humana no Direito Previdenciário sinaliza o


reconhecimento de que todo segurado possui - o direito de ser incluído na condição
de verdadeiro cidadão. Isto posta é inconcebível a cidadania sem a extensão de forma
plena do benefício de aposentadoria especial a todos os segurados do regime geral de
previdência social (RGPS) que laboram em locais considerados nocivos à sua saúde ou à
sua integridade física ou mental. Logo, sonegar direitos é diminuir o homem, o que
significa restringir a sua verdadeira condição de postular uma vida satisfatória em
toda a sua integralidade. Além disso, o Estado possui o importante papel de, ao
positivar as normas jurídicas, estimular o bem-estar da população e o desenvolvimento
social e humano. Fundamentação Legal: A Jurisprudência dos Tribunais Superiores é
unânime ao fixar seu entendimento no sentido de que a conversão em comum do
tempo de serviço prestado em condições especiais, para fins de concessão de
aposentadoria, ocorre nos moldes previstos à época em que exercida a atividade
especial, sendo que, no período anterior à vigência da Lei nº 9.032/95, a comprovação
da efetiva exposição a agentes nocivos era inexigível, uma vez que o reconhecimento
do tempo de serviço especial se dava apenas em face do enquadramento na categoria
profissional do trabalhador. E a conversão do tempo de serviço especial em comum
está limitada ao labor exercido até 28-05-1998, a teor do art. 28 da Lei n.º 9.711 /98
(Precedentes das Quinta e Sexta Turmas do STJ (Processo nº 44232.262830/2014-84 /
APS Campinas Carlos Gomes / NB 46/166.336.549-8 / Recorrente: Paulo José Amorim -
Procurador Recorrente: Ronaldo da Silva / Recorrido: INSS / Rel. Roberval Alves
Portela)

No mais, exatamente por ser obrigatória a observância dos precedentes vinculantes, os


julgadores, independentemente de provocação, deverão conhecê-los de ofício, sob pena de
omissão e denegação de justiça.

ISSO POSTO, requer:

a) O recebimento e o provimento do presente recurso;

b) A produção de todos os demais meios de prova admitidos, como


documental, pesquisa externa e realização de Justificação Administrativa;

c) O reconhecimento do tempo de serviço especial desenvolvido nos períodos


contributivos de ${data_generica} a ${data_generica}, ${data_generica} a $
{data_generica}, ${data_generica} a ${data_generica}, ${data_generica} a $
{data_generica};

d) A concessão do benefício de APOSENTADORIA ESPECIAL, a partir da data do


agendamento do requerimento administrativo (${data_generica});

e) Caso não seja apurado tempo de serviço especial do benefício até a DER,
requer o cômputo dos períodos posteriores, e a concessão de aposentadoria especial,
com a DER para a data em que o segurado preencheu os requisitos do benefício, com
fulcro no art. 577 da Instrução Normativa INSS/PRES nº 128/2022;

f) Seja reconhecido o direito do segurado continuar laborando, conforme


precedente vinculante citado (Arguição de Inconstitucionalidade nº 5001401-
77.2012.404.0000/TRF4);

g) Subsidiariamente, a conversão do tempo de serviço especial em comum dos


períodos em que o Segurado desenvolveu atividades consideradas especiais,
conforme autoriza o art. 269 da IN 128/2022 INSS/PRES, e posterior concessão do
benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, a partir da data do
agendamento do requerimento administrativo (${data_generica}).
h) Em caso de necessidade de dilação probatória, requer:

h.1) seja realizada justificação administrativa para comprovação das


atividades especiais desenvolvidas;

h.2) seja realizada inspeção/pesquisa externa junto às empresas $


{informacao_generica}. e ${informacao_generica} para a verificação das
informações constantes nos formulários PPPs emitidos e averiguação das
atividades especiais realizadas pelo Recorrente na época.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Santo André/SP, 30 de outubro de 2023.

[1] MAUSS, A.; TRICHES, A.S. Processo administrativo previdenciário. 3. ed. rev. atual. e
ampl. Caxias do Sul: Plenum, 2015. p. 269.

[2] Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito
probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da
tutela. Salvador: Jus Podivm, 2015. v. 2. p. 455.

[3] Ibid. p. 456.

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