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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA _____VARA DO

TRABALHO DE CARAGUATATUBA

EDUARDO RICCI MARTINS, brasileiro, solteiro, motorista,


nascido aos 29/03/1969, filho de Aracy Ricci Martins, portador da CTPS n. 35.745 – Série 0035-
PR e da Cédula de Identidade RG nº 4.380.898-2 SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o nº
468.223.569-91 e no PIS sob o nº 12442697914, residente e domiciliado na Rua José Herculano,
nº 5.955 - Porto Novo, Caraguatatuba/SP, CEP 11.667-000, por intermédio de seus procuradores
que adiante assinam (instrumento de mandato incluso), com escritório profissional na Rua
Espírito Santo 175, Jardim Primavera - Caraguatatuba, Estado de São Paulo, onde recebem
notificações e intimações, respeitosamente comparecem perante Vossa Excelência, com fulcro
nas disposições da Consolidação das Leis Trabalhista, pelo procedimento ordinário, artigo 840
da CLT e artigo 319 do Código de Processo Civil e demais dispositivos aplicáveis à espécie,
para promover a presente

RECLAMATÓRIA TRABALHISTA
C/C PEDIDO DE LIMINAR

Em face de, IMARUI LESTE DISTRIBUIÇÃO E LOGÍSTICA LTDA, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CGC/MF sob o nº 03.631.028/0002-04, com sede na Rua Ipê n. 405 –
Galpão, CEP 11662-620, Caraguatatuba, Estado de São Paulo e, subsidiariamente, de Ambev
S.A ("Ambev") - Cia de Bebidas das Américas - Ambev Brasil Bebidas Ltda., inscrita no
CNPJ n. 07.526.557/0001-00, estabelecida na Rua Dr. Renato Paes de Barros, 1017, andares 32
e 42, São Paulo/SP, CEP 04530-00, na pessoa de qualquer de seus representantes legais, pelos
fatos e motivos que a seguir expomos:

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

Em que pese à novel e temerária reforma na legislação trabalhista, resta evidente que o
reclamante, com parcos rendimentos, não reúne condições de suportar eventuais custas e despesas
processuais, incluindo eventuais honorários periciais e de sucumbência.
Nesse passo, requer os benefícios da gratuidade da justiça por ser pobre na acepção
jurídica do termo, conforme declaração anexa, nos exatos termos do Artigo 5º, LXXIV, da CF/88, o qual
garante assistência jurídica INTEGRAL E GRATUITA, àqueles que comprovem a insuficiência de
fundos.

Não se olvide que, toda norma que afronte a nossa Carta Magna, deve ser rechaçada de
pronto, não se podendo admitir que a assistência judiciária seja concedida parcialmente, pela metade, ou
que sofra qualquer limitação.

Ainda, tem-se por pré-questionada a matéria aqui ventilada, sobre a inconstitucionalidade


do reforma laboral no tocante ao alcance dos benefícios da justiça gratuita.

2. DA COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

A Comissão de Conciliação Prévia tem como objetivo a obtenção


de um título executivo extrajudicial, como prevê o art. 625-e, parágrafo único da CLT. Ocorre
que tal Comissão não constitui pressuposto processual, tampouco é condição da ação.

Constituindo o comparecimento uma faculdade do obreiro, nos


termos da Súmula nº 02 do TRT, a Reclamante optou pelo não comparecimento à CCP,
preferindo pleitear o que de direito junto à esta E. Corte.

3. DO PÓLO PASSIVO DA PRESENTE AÇÃO

O Reclamante foi contratado pela primeira reclamada para prestar


serviços durante todo o contrato de trabalho para a segunda reclamada, ambas pertencentes ao
mesmo grupo econômico.

E tal assertiva se afirma em razão da necessidade de cumprimento


pela 1ª reclamada das ordens e treinamentos emanados pela 2ª reclamada.

Tais normas e procedimentos são determinados pela DPO -


DISTRIBUTION PROCESS OPTIMISATION da 2ª reclamada, uma espécie de manual
operacional, cujo objetivo é definir os padrões, ferramentas e as atitudes para aumentar os
resultados da unidade.

O DPO atinge tanto os funcionários próprios da AMBEV


quanto os funcionários de seus parceiros, de modo que toda a operação,
independentemente de ser própria ou terceirizada, tenha o mesmo padrão operacional e
funcione da mesma maneira.

Por isso, deve ser reconhecida a solidariedade suscitada.


Neste sentido, reproduzimos o entendimento recente do TRT da 2ª
Região:

GRUPO ECONÔMICO. EMPRESAS COM


ADMINISTRADORES, SÓCIOS, COMUNS. VINCULAÇÃO
DE INTERESSES REVELADORA DE CONCENTRAÇÃO
ECONÔMICA. CONFIGURAÇÃO. SOLIDARIEDADE. Não
há provimento jurisdicional teratológico quando, assimilada a
gestão empresarial compartilhada, no interesse comum, através de
controle exercido, alternadamente, por pessoas físicas e jurídicas,
num âmbito praticamente familiar de atuação coordenada de
diversos segmentos, atrelando-os, firma-se a convicção pelo
enquadramento na regra do parágrafo 2o, do artigo 2o, da CLT,
de cuja interpretação sistemática depreende-se que a vinculação
de interesses empresariais revela a concentração econômica,
justificadora do direcionamento da execução, indistintamente,
àquelas que contem com administradores, sócios comuns. (TRT-2
- RO: 00002037520135020017 SP 00002037520135020017 A28,
Relator: MARIANGELA MURARO, Data de Julgamento:
05/08/2015, 2ª TURMA, Data de Publicação: 21/08/2015)
g.n.

Outrossim, sendo contrário o entendimento de V.Exa., o que se


admite apenas hipoteticamente, requer a decretação da responsabilidade SUBSIDIÁRIA da 2ª
reclamada pelo pagamento das verbas a serem deferidas na presente demanda.

4. DO CONTRATO DE TRABALHO

O reclamante foi admitido pela 1ª reclamada em 03/12/2015 como


motorista de entrega de bebidas na Região Litorânea de São Paulo, percebendo como último
salário o valor de R$ 1.542,50 (um mil quinhentos e quarenta e dois reais e cinquenta centavos),
conforme TRCT anexo.

Foi demitido sem justa causa em 25/01/2017, sem a projeção do


aviso prévio, mas recebendo-o de forma indenizada, bem como apenas parte de suas férias
proporcionais e de suas verbas rescisórias, como bem se verifica do TRCT que vai anexo.

5. DA JORNADA DE TRABALHO E DAS HORAS EXTRAORDINÁRIAS

O reclamante laborava de segunda a sábado, das 7:00 às 22:00


horas, sem intervalo para descanso e refeição, sendo certo que, entre uma entrega ou outra,
parava por cerca de 30 minutos para rapidamente se alimentar, mas logo seguia viagem para
conseguir atingir sua elevada meta diária de entregas imposta pela 2ª reclamada.
Normalmente o reclamante era obrigado a passar o cartão de ponto
como se tivesse encerrado sua jornada de trabalho, porém, continuava a trabalhar.

Diante da jornada supramencionada resta claro que o reclamante se


ativava em sobrejornada diariamente, fazendo jus às verbas abaixo elencadas nos itens a seguir:

5.1. DO INTERVALO INTRAJORNADA

Como exposto adrede, o reclamante não gozava inteiramente de


seu período para descanso e refeição em razão da necessidade do cumprimento de suas metas
diárias, interrompendo sua jornada de trabalho por apenas, e em média, 30 minutos para se
alimentar.

Sobre isso esclarece a OJ nº 307, do TST, que tais horas de


descanso não usufruídas devem ser indenizadas como horas extras:

Súmula 307. Intervalo intrajornada (para repousos e


alimentação). Não concessão ou concessão parcial. Lei nº
8.923/1994. Após a edição da Lei nº 8.923/1994, a não-concessão
ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo para
repouso e alimentação, implica o pagamento total do período
correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% (cinquenta
por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de
trabalho (art. 71 da CLT).

Sendo assim, faz jus o reclamante ao recebimento de 01 (uma) hora


normal de trabalho diário, acrescida de 50% (cinquenta por cento) de seu valor, durante todo o
contrato de trabalho, conforme estabelecido pelo § 4º, do art. 71, da CLT.

Cumpre esclarecer que a alteração da legislação laboral quanto ao


tema não se aplica no caso em tela, uma vez que o período de trabalho é anterior ao início de
vigência da temerária reforma trabalhista.

5.2. DO INTERVALO INTERJORNADA

Conforme esclarecido no item 4, o reclamante diariamente


realizava entregas além do seu horário normal de trabalho e, por isso, também não gozava de seu
direito de ter o intervalo mínimo de descanso de 11 (onze) horas entre uma jornada de trabalho e
outra.

Assim, e considerando que o reclamante laborava diariamente até


as 22 (vinte e duas horas), temos que gozava um intervalo interjornada de apenas 09 (nove)
horas, atraindo para as reclamadas a obrigação de indenizar as horas trabalhadas neste intervalo
como horas extras.

Neste sentido, a jurisprudência:


AUSÊNCIA DE INTERVALO INTERJORNADA. TURNO
DE REVEZAMENTO. HORAS EXTRAS. ART. 66 DA CLT.
A não-observância do intervalo de onze horas entre duas jornadas,
como está previsto no art. 66 da CLT, não constitui mera infração
administrativa, fazendo jus o empregado ao pagamento de horas
extras. Recurso conhecido e não provido.QUITAÇÃO.A aferição
da tese recursal encontra óbice na Súmula 126 do TST. Recurso de
Revista não conhecido. (TST - RR: 328008520045030114 32800-
85.2004.5.03.0114, Relator: José Simpliciano Fontes de F.
Fernandes, Data de Julgamento: 28/11/2007, 2ª Turma,, Data
de Publicação: DJ 14/12/2007.)

Ante o exposto, o reclamante faz jus ao recebimento de outras 02


(duas) horas extras diárias durante todo o contrato de trabalho à título de indenização por ter
trabalhado durante seu descanso interjornada.

5.3. DAS HORAS EXTRAS HABITUAIS

Conforme especificado nos itens acima, o reclamante foi


contratado para trabalhar das 07 às 15 horas, de segunda a sábado; porém trabalhava das 07
(sete) às 22 (vinte e duas) horas, de segunda a sábado.

Desconsiderando-se 01 (uma) hora devida ao descanso


intrajornada, temos que o reclamante laborava 06 (seis) horas diárias além de seu horário normal
de trabalho sem que, no entanto, tenha recebido a devida contraprestação.

Conforme se verifica do TRCT e dos hollerits anexados, as


reclamadas nunca pagaram integralmente as horas extras trabalhadas, razão pela qual devem ser
condenadas no seu pagamento integral, compensando-se o que foi devidamente pago e estiver
efetivamente comprovado nestes autos.

6. DOS REFLEXOS DAS HORAS EXTRAS, DESCANSOS INTRAJORNADA E


INTERJORNADA

Uma vez reconhecidas as horas extras melhor especificadas nos


itens acima, deverão estas refletir sobre os DSR’s, férias com 1/3 constitucional, 13° salário,
FGTS com multa dos 40%, verbas rescisórias e demais concesctários.

7. DOS DESCONTOS INDEVIDOS AO SINDIVAPA

Conforme se verifica dos hollerits anexos, a Reclamada descontava


mensalmente do salário do reclamante o valor de R$ 48,51 (quarenta e oito reais e cinquenta e
um centavos) como contribuição sindical ao SINDIVAPA-(Sindicato das Empresas de
Transporte de Cargas no Vale do Paraíba e Litoral Norte).

Ocorre Excelência, que o referido sindicato é patronal e, por isso, não


representa o reclamante.
Na verdade, os descontos e recolhimentos deveriam ter sido feitos em
favor do S.T.T.R.U.C.A (SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES
RODOVIÁRIOS URBANOS, CARGAS E ANEXOS DO LITORAL), razão pela qual devem os
referidos descontos serem declarados indevidos e ilegais, condenando-se as reclamadas na
obrigação de indenizar o reclamante por todo o período de pagamento.

8. DA DOENÇA LABORAL E DO DIREITO À ESTABILIDADE

Na execução de seu mister, contava com o auxílio de apenas 01


(um) ajudante para carregar e descarregar o caminhão, sendo certo que carregava e descarregava
em média cerca de 500kg diários de carga, o que comprometeu em muito sua saúde.

Em muitos estabelecimentos o reclamante era obrigado a parar o


caminhão há cerca de 300m de distância do local da entrega e levar nos braços toda a mercadoria
até o local de destino.

Esclarece ainda que o autor comumente era submetido as posições


forçadas, gestos repetitivos, posturas inadequadas, EXCESSO no carregamento e levantamento
de peso, sendo certo que as reclamadas em nada contribuíram para o conforto ergonômico e
desempenho sadio de suas atividades laborais, conforme estabelecido pelo item 17.1, da NR17

Devido ao excesso de peso suportado, somado à falta de


equipamento adequado para o labor e a falta de mais ajudantes para a execução dos serviços, o
reclamante desenvolveu uma Hérnia Ventral (CID-10 K43), conforme se verifica dos exames e
atestados médicos em anexo.

Neste contexto, temos que o reclamante sofreu um acidente de


trabalho.

E a Lei 6.367/1976 tratou de conceituar didaticamente o que se


enquadra como acidente de trabalho, a saber:

“Acidente de trabalho é aquele que ocorrer pelo exercício do


trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte, ou a perda ou redução
permanente ou temporária da capacidade para o trabalho”.
g.n.

Como vemos dos inclusos exames e relatórios médicos, a natureza


da lesão que acomete o reclamante é fruto do desempenho de suas funções e, por isso, deve ser
reconhecida como doença laboral.

É o que dispõe o inciso II, do artigo 20, da Lei 8.213/91, in verbis:

"Art. 20. Consideram–se acidente do trabalho, nos termos do


artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

(…)
II- doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o
trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante
da relação mencionada no inciso I”.
g.n.

Assim, e considerando que o acidente ocorreu devido a esforço


físico exagerado, atividades habituais inerentes à função exercida na empresa conforme
laudo médico, o nexo causal fica perfeitamente configurado.

A documentação médica juntada aos autos dá conta de que o


reclamante foi acometido por doença profissional com NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico
Previdenciário) durante o contrato de trabalho; entretanto, a 1ª reclamada nunca o
encaminhou para a Previdência Social, conforme estabelecido pelo artigo 22 da Lei 8.213/91,
demitido-o sem justa causa tão logo informada da existência da referida doença .

Posto isto, e considerando o disposto no art. 118, da Lei nº


8.213/1.991, o reclamante faz jus à sua reintegração na função e estabilidade de 01 (um) ano
após sua alta pela Previdência Social ou indenização pelo período estabilitário, se assim preferir
a reclamada.

9. DEVER DE INDENIZAR – DANOS MORAIS E MATERIAIS

Por força do acidente, o reclamante teve que se submeter a


inúmeros procedimentos médicos, passando por cirurgia na data 04 de abril de 2.017 sem a
garantia de seu emprego e demais benefícios, tais como seguro previdenciário e o convênio
médico que tinha enquanto empregado, por culpa exclusiva das reclamadas.
Conforme relatado, o reclamante teve séria lesão física e sofreu
diversos prejuízos materiais, tendo sido hospitalizado e internado por 28 horas para realizar sua
cirurgia, sendo obrigado a arcar com todas as despesas médicas e medicamentos que não
conseguiu na rede pública, bem como ficou acometido por limitações físicas permanentes,
incapacitado de exercer algumas funções no trabalho e na vida cotidiana.

Trata-se, portanto, de dano inequívoco causado pelas reclamadas


que não cumpriram as regras ergonômicas estabelecidas pela NR-17 e pelo dissídio coletivo da
categoria, gerando o dever de indenizar.

Dos Danos Materiais

O reclamante tem direito de ser ressarcido das despesas que teve


com consultas médicas, cirurgias e medicamentos decorrentes do acidente de trabalho, haja
visto que, enquanto empregado, utilizava-se do convênio médico fornecido pela 1ª reclamada e
não suportava tais despesas, as quais passou a suportar apenas após sua injusta demissão.
Neste diapasão, deve ser integralmente ressarcido dos valores
constantes das notas fiscais anexas, bem como dos honorários advocatícios que despenderá com
este subscritor.

Com o advento do Novo Código Civil, foi incorporado ao Direito


Pátrio a figura da plena reparação do dano.

Está disposto no artigo 402 do Código Civil:

“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as


perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”

Aduz Chiovenda sobre o assunto:

“A atuação da Lei não deve representar uma diminuição


patrimonial para a parte a cujo favor se efetiva; por ser
interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva
em prejuízo de quem rem razão.” (In Chiovenda, Instituições de
Direito Processual Civil, 1ª Ed., p. 285/285).

O Mestre Silvio Rodrigues, também aduz sobre o assunto, no


seguinte sentido:

“Impor ao culpado pelo inadimplemento, o dever de indenizar;


Indenizar significa tornar indene, isto é, reparar o prejuízo
porventura sofrido”. (In Rodrigues, Silvio. Direito Civil, Vol. 2,
23ª edição, São Paulo, Saraiva, 1995, p. 286/287)

Verifica-se que, de acordo com o pensamento dos mestres acima


citados, deve-se livrar o prejudicado, no caso o reclamante, de todo e qualquer dano proveniente
do ato faltoso da reclamada.

No caso em apreço, mesmo que todas as verbas pleiteadas na


presente Reclamação trabalhista sejam deferidas ao autor, haverá a dedução dos honorários
advocatícios, firmados com o seu patrono, os quais, segundo o costume, foram fixados em 30%
sobre o valor da condenação.

A referida dedução prejudicará o obreiro na medida em que não


permitirá a satisfação integral do dano, vez que ele deverá arcar com o ônus do pagamento de
honorários advocatícios, cuja contratação só foi necessária em face da recusa da reclamada na
satisfação voluntária da obrigação.

Conclui-se, portanto, que, ainda que haja condenação na totalidade


das verbas perseguidas, o autor ainda será prejudicado, arcando com os danos decorrentes das
despesas com honorários advocatícios que serão abatidos de seu crédito.

O Novo Código Civil, no artigo 389, prevê não só a reparação por


perdas e danos, mas, também, o pagamento dos honorários advocatícios, e o artigo 404 do
mesmo Diploma Legal, ao tratar das perdas e danos, incorpora as despesas com advogado como
dano a ser suportado pelo devedor.

Neste diapasão, conclui-se que a reparação dos prejuízos deve ser


realizada “in totum”, sendo que a justa reparação deve produzir resultado idêntico ao da
satisfação voluntária.

Considerando que as verbas deferidas serão corroídas pela dedução


da verba honorária, tal dano é evidente e decorre da inadimplência da ré, sendo devida por força
do disposto nos artigos 389, 402 e 404 do Código Civil, a reparação de todos os prejuízos
sofridos pelo autor, inclusive dos 30% sobre o valor da condenação a ser futuramente adimplida
a título de honorários advocatícios.

Salienta-se que não se trata de condenação em verba


honorária, já que esta tem natureza na relação jurídica processual e tem como beneficiário o
profissional de direito, ao passo que a indenização que se persegue tem natureza na relação
jurídica material e tem como beneficiário o próprio reclamante, o qual certamente irá despender
parte de seu crédito no pagamento dos honorários advocatícios.

Está disposto no artigo 186 do Código Civil:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Neste sentido, caminha o entendimento pretoriano, valendo citar o


posicionamento do insigne magistrado Luis Paulo Pasotti Valente, proferido nos autos 2624/02
da 1ª Vara do Trabalho de São Paulo, conforme segue:

“... Considerando-se o disposto no artigo 404 do Código Civil,


impõe-se, para reparação integral do dano sofrido pelo autor e
reconhecido no julgado, que a indenização inclua, além de juros e
correção monetária, também honorários advocatícios. Não se
argumente que tal medida encontra óbice no artigo 791 da
Consolidação das Leis do Trabalho, porquant5o esta norma tem
natureza processual, enquanto o fundamento que ora evocado tem
caráter de direito material. Não importa, pois, a faculdade do jus
postulandi, e tampouco a sucumbência processual funciona como
elemento condicionante da atribuição. Atente-se que o crédito
destina-se ao reclamante, não ao patrono, não se aplicando a
disposição da Lei 8906/94 (artigo 23), que permite sua execução
autônoma. Constitui-se parcela do crédito do autor, na reparação
do dano original e a ele será liberada, em favor do reclamante,
fixando-os, segundo os costumes, em 30% do valor da
condenação.” (grifos nossos)
Face o exposto, é forçoso concluir que, a fim de efetivar a justa e
íntegra reparação, devem as reclamadas serem condenadas ao ressarcimento dos danos materiais
sofridos com a cirurgia realizada e os medicamentos adquiridos, bem como das despesas que o
reclamante terá a título de honorários advocatícios, no patamar de 30% do valor da condenação.

Dos Danos Morais

O dano moral em situações como estas resta inequívoco, já que o


reclamante teve séria seqüela física e estética, impactando em toda sua rotina pelo resto de sua
vida, bem como por ter sido dispensado tão logo informou sua doença à 1ª reclamada.

Trata-se de um ato ilícito praticado pelas reclamadas que


dificultou a condução normal da vida do reclamante, ultrapassando os meros dissabores do dia a
dia, gerando o dever de indenizar.

Pelo laudo e fotos anexados, resta nítido que o reclamante sofreu


graves danos estéticos, além de ter forte impacto em sua produtividade, afetando sua auto-
estima e configurando o dano moral que deve ser indenizado.

É o que podemos verificar na lição de Pontes de Miranda:

“Dano moral é todo sofrimento humano que não é causado por


uma perda pecuniária. Nos danos morais, a esfera ética da pessoa
é que é ofendida; o dano não patrimonial é o que, só atingindo o
devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio” ( TJRJ.
1ª c. – Ap. – Rel. Carlos Alberto Menezes – Direito, j.19/11/91-
RDP185/198

Nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar para


a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao
causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado
completo descaso aos transtornos causados.

Diante do acidente e da conduta da Reclamada, resta inequívoco


direito de ser indenizado, conforme jurisprudência in verbis:

. RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL E MATERIAL DECORRENTE DE
ACIDENTE DO TRABALHO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO
ART. 927 DO  CÓDIGO CIVIL. Em regra o dever de indenizar o
empregado por acidente ou doença do trabalho exige a
comprovação da culpa do empregador, conforme inciso XXVIII do
art. 7º da CF. No entanto, nos casos previstos em lei ou nos casos
em que o risco for inerente à atividade desenvolvida normalmente
pelo empregador a sua responsabilidade será objetiva,
conforme parágrafo único do art. 927 do Código Civil. (TRT-2 -
RECURSO ORDINÁRIO: R00018882620115020361 - SP
00018882620115020361 A28. Publicado por Tribunal Regional
do Trabalho 2ª região, em: 08/08/2014 12ª TURMA Relator:
Juiz Desembargador, MARCELO FREIRE GONÇALVES)

Assim, o reclamante faz jus a indenização pelo acidente de trabalho


sofrido no valor equivalente a 40 (quarenta) vezes o valor de 01 (um) salário mínimo vigente.

10. DA MULTA DO ARTIGO 477, § 8º DA CLT

Ante a ausência de pagamento de todas as verbas rescisórias dentro do


prazo legal, deverão as reclamadas serem condenadas no pagamento da multa prevista no artigo
477, § 8º, da CLT.

Sobre tema, eis um julgado do E. TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – MULTA DO ART. 477, §8º, DA


CLT – REVERSÃO JUDICIAL DA DISPENSA POR JUSTA
CAUSA – A multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT é devida ainda
que as verbas rescisórias sejam deferidas em juízo. Precedentes. Agravo
de Instrumento a que se nega provimento. (TST – AIRR 440-
21.2012.5.15.0070 – Rel. Min. João Pedro Silvestrin – DJe 05.11.2013
– p. 407)
 
 
11. DA MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT

Caso as reclamadas não quitem as verbas incontroversas na audiência


inaugural, requer-se suas condenações no pagamento da multa estabelecida pelo artigo 467, da
CLT.

12. DOS PEDIDOS


Pelo exposto, pleiteia o pagamento das seguintes verbas trabalhistas: 

a) O reconhecimento da solidariedade passiva entre as reclamadas;


b) O reconhecimento do acidente de trabalho com a reversão de sua demissão e sua reintegração
aos quadros da 1ª reclamada e/ou indenização;

Não sendo acolhido ou possível o acolhimento do item b, requer a correção da anotação de sua
demissão para 25/02/2017, considerando-se a projeção do aviso prévio, bem como pagamento
das seguintes verbas trabalhistas:

c) Férias 2016/2017....................................................................................R$ 1.542,50;


d) 1/3 Férias 2016/2017..............................................................................R$ 514,17;
e) 13º Proporcional 2017 (02/12)...............................................................R$ 257,08;
f) Férias Proporcionais 2016/2017 (03/12)...............................................R$ 385,63;
g) 1/3 constitucional de férias proporcionais........................................R$ 128,54;
h) Horas Extras Intrajornada e reflexos nos DSRS (01 H.E diária).............R$ 4.732,67;
i) Horas Extras Interjornada e reflexos nos DSRS (02 H.E. diárias)..........R$ 9.465,34;
j) Horas Extras Habituaise reflexos nos DRSS (06 H.E. diárias)................R$ 28.396,02;
k) Indenização por danos materiais (médicos e honorários), a qual não pode ser mensurada nessa
fase de cognição, eis que depende da efetiva liquidação de sentença;
l) Indenização por danos morais (40 salários mínimos atuais).............R$ 37.880,00;
m)Reflexo H.E. no FGTS mais 40%.........................................................R$ 4.770,53;
n) Multa do artigo 477, § 8º, da CLT..........................................................R$ 1.542,50;
o) Multa do artigo 467 da CLT a qual não pode ser mensurada nessa fase de cognição, eis que
depende da resposta da reclamada;

TOTAL ESTIMADO.....................................................................................R$ 89.614,98

13. DA COMPENSAÇÃO
                                       Desde já requer a compensação dos créditos pagos sob as mesmas
rubricas, desde que efetivamente comprovados pelas reclamadas.

14. DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Requer a notificação das Rés para comparecerem à sessão de


audiência de conciliação, instrução e julgamento que for designada e, querendo, apresentem
defesa, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato, bem como para que, nesta
mesma audiência, pague as verbas que considerar incontroversas, sob as penas do art. 467, da
CLT.

Requer a TOTAL PROCEDÊNCIA da presente ação para


determinar a imediata reintegração do reclamante em suas funções, condenando-se as reclamadas
no pagamento dos itens C, D, E e F do rol de pedidos, ou, não sendo possível, reconhecer a
doença laboral alvitrada, o direito à estabilidade de 01 ano e condenar as reclamadas no
pagamento de todo o rol de pedidos, tudo acrescido de juros e correção monetária conforme se
apurar em liquidação de sentença.

Requer ainda que a ré apresente todos os cartões de ponto do


Reclamante para que seja comprovado o horário de trabalho, nos termos do art. 396 do CPC, sob
pena de serem considerados verdadeiros os fatos alegados nos termos do art. 400 do CPC.

Requer, por derradeiro, a expedição de ofícios ao INSS; CEF e


DRT para a tomada das providências administrativas cabíveis, bem como a extração e envio de
cópias ao Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual para a verificação de
eventual crime contra a administração do trabalho e, em especial, aquele de “retenção dolosa de
salários” previsto no art. 7º, inciso X, da Constituição Federal.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos e que desde já ficam requeridos, especialmente pelo depoimento pessoal do
representante legal da Ré, sob pena de confissão conforme Súmula 74 do Colendo TST, oitiva de
testemunhas e juntada ulterior de documentos.

Atribui à causa o valor de R$ 97.511,65 (noventa e sete mil


quinhentos e onze reais e sessenta e cinco centavos).

Termos em que,
p. deferimento.

Caraguatatuba, 12 de abril de 2018.

ANTHERO MENDES PEREIRA


OAB/SP Nº

LAÉRCIO LUCIO MAGNOLI


OAB/SP Nº

MARCELINO SATO MATSUDA


OAB/SP Nº

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