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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 1ª REGIÃO
76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro
Avenida Gomes Freire, 471, 2º Andar, Centro, RIO DE JANEIRO - RJ - CEP: 20231-014
tel: (21) 23807576  -  e.mail: vt76.rj@trt1.jus.br

 PROCESSO: 0100697-16.2018.5.01.0076
CLASSE: AÇÃO TRABALHISTA - RITO ORDINÁRIO (985)
RECLAMANTE: PAULO ROBERTO RONCATE ALVES
RECLAMADO: MONITORE MATERIAIS DE CONSTRUCAO LTDA - EPP e outros (3)

O Juiz Substituto de Vara do Trabalho em exercício na 76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro,
DELANO DE BARROS GUAICURUS, no processo em epígrafe em que litigam PAULO ROBERTO RONCATE
ALVES, reclamante(s) e MONITORE MATERIAIS DE CONSTRUCAO LTDA - EPP, GAZ WORLD COMERCIO DE
PECAS E AQUECEDORES LTDA, GAS CONTROL INSTALACOES E MANUTENCAO LTDA - EPP e BOTTINO
MATERIAIS DE CONSTRUCAO LTDA reclamada(s), preenchidas as formalidades legais, passa a proferir a
seguinte

SENTENÇA

A parte autora apresentou reclamação trabalhista, com documentos.

Conciliação recusada.

Regularmente notificadas, as reclamadas apresentaram suas defesas sob a forma de contestação


escritas, lidas e juntadas aos autos.

Valor da causa para fins de alçada mantido na forma da inicial.

Sem mais provas, encerrou-se a instrução.

Em razões finais, as partes se reportaram aos elementos dos autos, permanecendo inconciliáveis.

É o RELATÓRIO.

Passo a decidir.

INÉPCIA DA INICIAL

Sendo certo que não se encontra no caso em julgamento a presença de quaisquer das hipóteses
abstratamente previstas no art. 330 do CPC/15. Releva destacar que a peça inicial trabalhista sujeita-se ao
preenchimento dos requisitos previstos no artigo 840 da CLT e não ao artigo 319 do CPC/15.

Nesse sentido, no processo trabalhista impera o princípio da informalidade e o da simplicidade,


bastando que a parte autora descreva brevemente os fatos sobre os quais repousa o dissídio. Ademais,
certo é que a reclamada contestou regularmente a peça inicial, o que evidencia a possibilidade de
compreensão dos seus termos.

Rejeito a preliminar.
FALTA DE INTERESSE

requerimento de expedição de ofícios não é pedido e por isso não está sujeito à s condições da ação
rejeito.

PRESCRIÇÃO TOTAL

Pretende o reclamante a soma de períodos descontínuos de trabalho, motivo pelo qual a prescrição
bienal começa a fluir a partir da extinção do último contrato, entendimento consolidado na Súmula 156 do
TST. Rejeito.

PRESCRIÇÃO PARCIAL

Acolhe-se a prejudicial de prescrição parcial, para declarar extintas as parcelas pleiteadas porventura
vencidas em data anterior ao marco quinquenal, ora fixado, em 18/07/2013.

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

Visando a coibir a tentativa de fraudes de direitos trabalhistas, o legislador estabeleceu que empresas
integrantes de um mesmo agrupamento econômico respondem solidariamente pelos créditos de seus
empregados. Para tanto, editou a regra do artigo 2º, §2º da CLT. Tais agrupamentos se caracterizam pelo
concentração do poder de comando das empresas nas mãos de pessoa comum ou pelo controle de uma
sobre a outra. A finalidade da Lei é impedir o uso do agrupamento econômico apenas como um artifício
para dispersão de bens e direitos trabalhistas, sem revelar uma realidade empresarial.

No caso em julgamento, ante confissão das reclamadas em sua peça de defesa que fazem parte do
mesmo grupo econômico, inclusive apresentando defesa única, convence-se o Juízo no sentido de que as
rés efetivamente agiam em conjunto.

Dessa forma, ante a existência de relação de agrupamento entre as rés, a responsabilidade solidária
destas decorre de lei - artigo 2º, § 2º da CLT. Declara-se a responsabilidade solidária entre as reclamadas,
ante os termos do artigo 2º, §2º da CLT com relação aos créditos trabalhistas reconhecidos ao autor pela
presente decisão.

UNICIDADE CONTRATUAL

Afirma a parte reclamante foi admitido pela 1ª reclamada em 24/11/2010 e dispensado em


30/04/2014, readmitido pela 2ª reclamada em 02/05/2014 e dispensado em 31/08/2015, sendo readmitido
pela 3ª reclamada em 01/09/2015 e dispensado em 01/08/2016. Requereu assim a nulidade das dispensas
e unicidade contratual, em razão das reclamadas fazerem parte do mesmo grupo econômico.

Tendo em vista dos depoimentos colhidos em audiência de que havia prática das reclamadas em
realizar várias contratos de trabalho sucessivos com o mesmo empregado (id. ee5900b), reputo verdadeiro
o fato de o reclamante ter prestado serviços ininterruptamente para o grupo que envolve as reclamadas,
sem solução de continuidade.

Assim, diante da promiscuidade da interligação entre as reclamadas, e dos contratos de trabalho anotados
na CTPS da parte reclamante, caracterizada está a figura do empregador único, nos moldes do item 53 da
exposição de motivos da CLT. Declara-se, pois, a nulidade das dispensas e a unicidade contratual no período
de 24/11/2010 a 01/08/2016.
Desta forma, o vínculo de emprego da parte reclamante, na verdade, durante todo o período, se deu
com o grupo, que era o seu único empregador, não obstante tenha este laborado para as reclamadas,
indistintamente. Assim, ante o reconhecimento da figura do empregador único, quaisquer uma das
empresas envolvidas pode proceder a retificação do contrato na CTPS da parte reclamante, já que o vínculo
de emprego se dá, indistintamente, com ambas as reclamadas.

Assim, declara-se a nulidade dos rompimentos contratuais apostos na CTPS do reclamante, devendo ser
retificada a data de anotação e de dispensa para constar 24/11/2010 à 15/09/2016(observando a projeção
do aviso prévio) e a alteração na função da parte reclamante para técnico de refrigeração a partir de maio de
2011.

Consequentemente, defiro o pagamento solidário das seguintes verbas rescisórias:

- saldo de salário (1 dia);

- aviso prévio (45 dias);

- férias integrais ( 2014/2015) e proporcionais (9/12 avos) acrescidas de 1/3;

- décimo terceiro (5/12 avos de 2013) e proporcional (10/12 avos);

- multa de 40% de FGTS;

- entrega de guias para saque de FGTS;

- entrega de guias para recebimento do benefício de seguro-desemprego, obrigação a qual converto em


indenização no valor das parcelas a que faria jus a parte autora, na forma da legislação inerente à
matéria (com fulcro no com base no art. 461, § 2º do CPC e Súmula 389, II do TST, vez que
ultrapassados os 120 dias para concessão de tal benefício);

Indefiro o pedido de férias integrais de 2012/2013 e 2013/2014 (constam pagamentos nos contracheques
de maio e de dezembro de 2013), uma vez que não comprovou a parte reclamante que embora tenha
assinado os recibos de férias (id. 3901bfb) não gozou delas, ônus do qual não se desincumbriu nos termos
do art. 373, I do CPC e 818, I da CLT.

Indefiro ainda o pagamento de 13º salário dos anos 2014 e 2015, uma vez que não comprovou que embora
constasse em seus contracheques não os recebia, ônus do qual não se desincumbriu nos termos do art.
373, I do CPC e 818, I da CLT.

Devem ser observados os parâmetros já utilizados na vigência do contrato e deduzidos os valores já


pagos sob o mesmo título, principalmente o valor pago conforme, descrito no TRCT (id.15dbe90).

SALÁRIO EXTRA-FOLHA

Pretende a parte reclamante o reconhecimento da natureza salarial de parcela paga de forma extra-
folha e sua integração nas demais parcelas.

Afirma que embora houvesse contracheques, esses não correspondiam a totalidade de seu salário.
Afirmou que recebia exclusivamante por comissão e que em média percebia o salário de R$ 5.000,00

A reclamada apenas nega a concessão de tal parcela.

Ocorre que em depoimento a testemunha convidada pela parte reclamante afirmou que:
"...sempre recebeu puramente por comissão; que nos últimos 5 anos , recebia um contracheque com
valor fixo, porém, esse valor era o limite mínimo de comissões recebidas, ou seja, se recebesse menos
comissões do que esse valor, recebia o valor fixo e se ultrapassasse, recebia o valor fixo mais as comissões
que ultrapassasse; que as comissões não vinham no contracheque; que antes desses 5/4 anos, não se lembra
como era o contracheque (...) que no período imprescrito, as comissões pagas por fora vinham no mesmo
depósito do valor constante do contracheque, ou seja, se o valor do salário ultrapassasse os valores descritos
no contracheque, o depósito do salário era maior do que o valor descrito no contracheque."

A testemunha covidada pela parte reclamada corrobora com o trechos do depoimento acima
transcrito, afirmando que a parte reclamante ganhava comissão.

Diante do acima exposto, os depoimentos colhidos convencem o Juízo de que de fato havia parcela
paga de forma extra-folha, sobre a qual não incidiu tributos, tampouco, serviu como base de cálculo para as
demais parcelas intercorrentes.

Cumpre registrar que a prática de pagamento extra folha deve ser veementemente rechaçada, por ferir
os mais basilares direitos do trabalhador, com consequências danosas até mesmo na concessão de
benefícios previdenciários.

Assim, defiro o pedido e, considerando-se os valores apontados na inicial, limitados pelos


depoimentos testemunhais, reconheço que o reclamante percebia parte de seu salário em contracheque e
outra parte "por fora", recebendo a título de salário extra-folha o valor médio de R$ 2.400,00, o que totaliza o
salário mensal de aproximadamente R$ 5.000,00.

Procede o pedido para condenar as reclamadas pagarem ao reclamante a integração salarial dos
valores quitados por fora no aviso prévio, 13º salário, férias acrescidas de 1/3. FGTS e multa de 40%.

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Afirma a parte reclamante que embora constasse em seu contracheque o adicional de periculosidade,
não recebia, já que todo seu salário era pago desconsiderando os valores contidos no contracheque.
Requereu assim o pagamento do adicional de periculosidade no valor de 30% da remuneração.

De fato, analisando os contracheques anexados aos autos verifica-se que havia descrição de adicional
de periculosidade, o que torna incontroverso ser devido seu recebimento.

No entanto, a testemunha convidada pelo próprio reclamante afirmou que os valores contidos nos
contracheques eram referentes ao mínimo de comissões, caso o empregado não conseguisse receber
comissões maiores. Assim, os valores descritos nos contracheques fazem parte do salário da parte
reclamante.

Dessa forma, indefiro o pagamento integral do adicional de periculosidade, porém, defiro as diferenças
de adicional de periculosidade no percentual de 30% do salário básico do reclamante por todo o período
imprescrito, considerando o valor do salário pago "por fora".

Por habitual, defiro a integração em férias acrescidas de 1/3, trezenos, depósitos de FGTS, aviso prévio
e multa de 40% do FGTS.

O adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de
outros adicionais.

VALE ALIMENTAÇÃO E CAFÉ DA MANHÃ


Afirma a parte reclamante que embora estivesse estabelecido em normas coletivas o recebido de vale
alimentação e de café da manhã, não recebeu durante seu contrato de trabalho nenhum dos dois benefícios.

De fato, as normas coletivas da categoria da parte reclamante trazidas com a inicial estabelecem o
pagamento de vale alimentação

As reclamadas alegam que o sindicato das convenções coletivas anexadas aos autos não as
representa, uma vez que seu objeto social é o de Comércio de Materiais de Construção.

Analisando os contratos sociais e as normas coletivas anexadas aos autos, verifica-se que de fato as
reclamadas não estão representadas pelo Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidrauls e
Sanits do Rio de Janeiro, razão pela qual julgo improcedente os pedidos de vale alimentação e de café da
manhã.

DESCONTOS INDEVIDOS

Afirma a parte reclamante que sempre que necessitasse de um ajudante para a instalação de
refrigeradores tinha desconto de R$ 15,00 em seu salário por dia de ajuda.

Não há nos autos prova de que as reclamadas efetuavam desconto de R$15,00 no salário da parte
reclamante por dia de trabalho de ajudante, ôbus do qual não se desincumbiu nos termos do art. 373,I do
CPC e 818, I da CLT.

Cumpre esclarecer ainda que diverso do alegado, a testemunha convidada pela parte reclamante disse
que:

"...as instalações de refrigeradores eram maiores e por isso necessitavam de ajudantes; que os ajudantes
eram funcionários também da Amoedo e toda vez que era necessário ajudante a comissão paga ao técnico era
menor do que aquela devida quando ele iria sozinho; que sabia que as comissões quando havia ajudante
seriam menores; que isso acontecia com todos os técnicos inclusive o autor ..."

Dessa forma, como em tópico acima foi deferido a integração dos valores recebidos extra folha no
salário da parte reclamante durante o período imprescrito do contrato de trabalho, sem considerar a
diminuição do percentual das comissões quando da necessidade de auxílio em instalações, entendo que os
percentuais de comissões que foram suprimidos pelas reclamadas, já foram compensados com a média
estabelecida pelo salário "por fora", razão pela qual julgo improcedente o pedido de devolução de
descontos.

DIFERENÇAS DE INDENIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL

Afirma a parte reclamante que recebia em torno de R$ 650,00, mas que no final do mês era
descontado esse valor. Afirma ainda que tinha de arcar com combustível extra no valor de R$ 200,00,
requereu assim o pagamento no valor aproximado de R$ 465,00.

No entanto, a parte reclamante não comprovou que o valor pago para suprir os gastos com
combustível era insuficiente e tampouco que havia desconto em seu salário de parte desse valor, ônus do
qual não se desincumbiu nos termos do art. 373, I do CPC e 818, I da CLT.

Por outro lado, a testemunha convidada pela parte reclamante afirmou que: "...tanto o depoente quanto
o autor usavam carros próprios; que a empresa exigia ter carro próprio;que ganhava da empresa o valor de R$
650,00 mensais a título de combustível,o que era suficiente para o depoente; que não sabe o valor que o autor
ganhava de combustível, mas acha que era algo semelhante..."
Diante do acima exposto, e da falta de comprovação do alegado pela parte reclamante, indefiro o
pedido de indenização de gastos com combustível.

HORA EXTRA

Alega a parte reclamante que embora exercesse atividades laborativas fora do estabelecimento do
empregador sempre esteve submetido a fiscalização de seus horários, requereu assim, o pagamento de
horas extraordinárias realizadas ao longo do seu contrato de trabalho.

As reclamadas alegam o enquadramento da parte reclamante na hipótese do art. 62, I da CLT, atraindo
para si o ônus da prova (art. 818, II da CLT c/c art. 373, II do CPC).

A exceção prevista no art. 62 da CLT faz excluir do empregado os direitos previstos no capítulo "Da
Duração do Trabalho" da Consolidação. Para tal, necessário que, além de o trabalhador exercer atividade em
ambiente externo à empresa, haja incompatibilidade com a fixação de horário de trabalho

No caso em exame, as testemunhas afirmaram que o reclamante recebia ligações frequentes das
reclamadas durante a jornada, cobrando-lhe a execução de tarefas, senão, vejamos:

A testemunha Paulo Sérgio Navega de Almeida disse que:

" que encontrava com o autor na prestação de contas pela manhã todos os dias; que havia fixação de
horário para a chegada de manhã, às 8h; que não precisava voltar na empresa no final do dia; que a rota de
visitas do dia era feita pelo supervisor ou assistente; que as visitas vinham com especificações tipo antes ou
após meio-dia; que as atendentes da Amoedo ligavam para o depoente durante o dia quando havia reclamação
de horário de chegada pelo cliente; que poderia ir embora depois da última visita direto para casa; que
reconsidera para dizer que a ordem de visitas era decidida pelo próprio depoente; que no inverno, trabalhava
até em média até as 19h, porém no verão às 16h já estava liberado; que no inverno fazia lanches e nem parava
para almoçar; que no verão tirava 1h de intervalo; que havia ligações dizendo que o cliente estava reclamando
do horário, o que apressava o gozo do intervalo; que o autor estava submetido ao mesmo sistema de
trabalho..."

Luciano Peixoto de Avellar afirmou que:

"...os técnicos precisam passar na empresa todos os dias de manhã, às 8h; que não tem como ter uma
média de OSs por dia, isso porque o trabalho de instalação de ar-condicionado é demorado; que recebiam pela
manhã todas as visitas que tinham de fazer no dia; que quando entregava aos técnicos a relação de visitas do
dia, já tinham a noção de quanto tempo cada instalação duraria; que perguntado se o autor poderia fazer as
visitas na ordem que quisesse, disse que depende, pois havia clientes que havia marcado um horário
especifico que tinha de ser respeitado; que havia ligações da loja para o técnico em casos por exemplo de
cancelamento ou quando o cliente reclamava do horário..."

Tais elementos permitam ao juízo concluir que em verdade, apesar de efetuar labor externo, o
reclamante estava submetido a rígido controle de horário, seja por ter que comparecer à empresa
diuturnamente, seja por ser cobrado por produtividade que lhe dispensa tempo de trabalho apurado ou pelo
menos apurável pela ré. Assim, não está inclusa a parte reclamante na exceção do art. 62, I da CLT, fazendo
jus ao pagamento por eventual labor extraordinário.

Pois bem, nos moldes do entendimento pacificado pela Súmula 338, I do TST, a prova ordinária da
jornada contratualmente estabelecida incumbe ao empregador, por ser detentor dos meios de prova e por
estar adstrito por norma de ordem pública a manter os controles de jornada nos moldes do art. 74, § 2° da
CLT. E a prova do suposto labor extraordinário incumbe à parte que o alegou, ou seja, ao empregado que
pretende demonstrar o fato constitutivo de seu direito, a teor do que dispõe o art. 818, I da CLT e art. 373, I
do CPC.

Sempre que o empregador sonegar os documentos legalmente obrigatórios concernentes ao controle


de jornada, quando os controles estiverem apócrifos ou mesmo quando tais controles não foram
confeccionados, em fraude à lei, há de se aplicar o mesmo princípio da inversão do ônus da prova, não
existindo argumentação plausível para se tratar de forma diferenciada à prevista na Súmula 338, III aquelas
ora mencionadas, mormente diante da redação do item I da mesma Súmula.

No presente caso, a ausência de controle gera a presunção como verídica da jornada da inicial,
limitada aos depoimentos testemunhais. Portanto, reconheço como verdadeira a jornada seguinte jornada:
nos meses de outubro à abril das 08h00 às 16h00, de segunda a sábado, com intervalo de 1 hora. E nos
meses de maio à setembro das 08h00 às 19h00 com intervalo de 30 minutos.

Considerando a jornada acima fixada, defere-se o pedido de horas extras considerando-se como tais as
horas excedentes da oitava diária e da quadragésima quarta semanal, não se computando na apuração do
módulo semanal as horas extras já computadas na apuração pelo módulo diário, a fim de se evitar o
pagamento dobrado.

Não há que se falar em pagamento em 70% em horas excedentes a 2 diárias, uma vez que as normas
coletivas anexadas aos autos não se aplicam a parte reclamante, já que o sindicato que que celebrou a CCT
não representa a atividade econômica das reclamadas.

Procede a integração das horas extras, por habituais, em repousos semanais, décimos terceiros, férias
com 1/3, aviso prévio e FGTS com multa de 40%.

Para o cômputo das horas extras deve-se observar: a evolução salarial do autor; o adicional de 50%; o
divisor de 220; os dias efetivamente trabalhados; a dedução dos valores já pagos a idêntico título e a base
de cálculo na forma da Súmula 264 do C. TST.

INTERVALO INTRAJORNADA

Defere-se, ainda, o pleito de ausência de gozo de intervalo intrajornada nos termos do art. 71, § 4° da
CLT, no valor de 30 minutos diários acrescidos de 50% nos meses de maio à setembro, cuja natureza
reconhece-se como sendo salarial como já pacificado pela Súmula 437 do TST.

Registre-se que não é devido o valor integral do intervalo, tendo em vista que o entendimento
jurisprudencial anterior não era compartilhado por este Magistrado, apesar de me curvar a ele ante à
obediência Judiciária. Todavia, o Poder Legislativo a quem cabe à feitura de Lei, editou nova Lei espelhando
o que já pensava o Magistrado.

De fato, um empregado que teve o intervalo totalmente suprimido tinha indenização no mesmo valor
que um outro que tivesse apenas 10 minutos de uma hora suprimidos.

Assim, deixo de aplicar o entendimento da Súmula 347, I do TST por aplicação do princípio da
Igualdade.

Procede a integração dos intervalos, por habituais, em repousos semanais, décimos terceiros, férias
com 1/3, aviso prévio e FGTS com multa de 40%.

JUSTIÇA GRATUITA
O § 3º art. 790 da CLT passa a definir o teto referencial para fins de concessão da gratuidade judiciária:
"É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância
conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e
instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social"

Por sua vez, o § 4º do mesmo artigo prevê que "O benefício da justiça gratuita será concedido à parte
que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo".

No caso dos autos, a parte reclamante não demonstrou que percebia menos que o limite fixado no § 3º
art. 790 da CLT, durante o contrato de trabalho acima analisado, motivo pelo qual não considero preenchido
o requisito do referido artigo e indefiro o requerimento de Justiça Gratuita.

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

Tendo em vista a prolação de sentença após a vigência da Lei 13.467/2017 (a partir de 11/11/2017),
considerando-se o Tempus Regit Actum, incide no presente caso os ditames do art. 791-A da CLT.

Com efeito, o art. 791-A da CLT introduz uma novidade há muito almejada pelos advogados que atuam
nas lides trabalhistas:

"Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados
entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar
da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa".

O § 3º desse artigo diz que:

"Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a
compensação entre os honorários".

Portanto, a incidência dos honorários levará em conta o valor de cada pretensão deduzida. Por sua vez,
o § 4º impõe a sucumbência, inclusive, ao vencido beneficiário da justiça gratuita:

"Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro
processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência
ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário".

Assim, diante da sucumbência recíproca, condeno a parte reclamante no pagamento da parte


honorária, ora arbitrada em 10% dos valores referentes ao pedido improcedente (ante o proveito econômico
da parte contrária) a ser fixado em liquidação, na forma do caput do art. 791-A da CLT.

E condeno a parte Ré no pagamento da parte honorária, ora arbitrada com base nos parâmetros
fixados no art. 791-A, § 2º da CLT em 10% sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, na forma do
caput do art. 791-A da CLT.

DEDUÇÃO
Defere-se a dedução de todos os valores já pagos a idênticos títulos aos ora deferidos e já
comprovados nos autos, a fim de se evitar o enriquecimento sem causa da parte autora.

DESCONTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições social e fiscal, resultante de condenação


judicial referente a verbas remuneratórias, é do empregador. Contudo, a culpa do empregador pelo
inadimplemento das verbas remuneratórias não exime a responsabilidade do empregado pelos pagamentos
do imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que recaia sobre sua quota-parte.

As irregularidades ora reconhecidas não se configuram em ato ilícito que autorizaria a


responsabilidade da ré em pagamento das quotas da parte autora como indenização.

Em relação aos descontos fiscais, deverá ser observada a Instrução Normativa RFB nº 1127 com
redação alterada pela IN RFB nº 1145, que trata dos procedimentos a serem observados na apuração do
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) incidente sobre os rendimentos recebidos acumuladamente (RRA).

Os juros de mora decorrentes do inadimplemento de obrigação de pagamento em dinheiro não


integram a base de cálculo do imposto de renda, independentemente da natureza jurídica da obrigação
inadimplida, ante o cunho indenizatório conferido pelo art. 404 do Código Civil de 2002 aos juros de mora
(OJ 400 da SDI1 do TST e Súmula 17 do TRT da 1ª Região).

Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art.


276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição
do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas
previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição.

DISPOSITIVO

Face ao exposto, julgo PROCEDENTE EM PARTE os pedidos ora analisados, para condenar as
reclamadas a pagarem, em oito dias, as parcelas acima deferidas, na forma da fundamentação supra que
passa a fazer parte desta r. Decisum.

Custas pela parte reclamada de R$ 800,00 calculadas sobre o valor da condenação provisoriamente
arbitrado em R$ 40.000,00.

Acresçam-se os juros e correção monetária na forma da Lei 8.177/91, sendo esta a partir do mês
subseqüente ao da prestação dos serviços, conforme Súmula 381 do TST.

Transitada em julgado a decisão, deverá o réu comprovar nos autos recolhimento das contribuições
previdenciárias, a incidir sobre todas as parcelas acima deferidas, à exceção daquelas expressamente
previstas no art. 28, par. 9º, da Lei 8212/91, com a redação vigente à época da incidência da contribuição
referida, sob pena de execução nos termos da Lei 10.035/00, na forma da S. 368 do C. TST.

Autorizada a retenção do imposto de renda, na forma da Instrução Normativa RFB nº 1127 com
redação alterada pela IN RFB nº 1145, que trata dos procedimentos a serem observados na apuração do
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) incidente sobre os rendimentos recebidos acumuladamente (RRA).

Cumpra-se em 08 dias.
Intimem-se as partes.

Em 19/11/2019

DELANO DE BARROS GUAICURUS

Juiz do Trabalho

RIO DE JANEIRO, 17 de Outubro de 2019


DELANO DE BARROS GUAICURUS
Juiz do Trabalho Substituto

Assinado eletronicamente por: [DELANO DE BARROS GUAICURUS] - 6f0254e Documento


http://pje.trt1.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam assinado
pelo Shodo

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