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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DO TRABALHO DA VARA

TRABALHO DE EMBU DAS ARTES – SP.

Processo nº.: 1000861.47.2023.5.02.0271


Audiência Inicial dia 17.10.23 – às 08h00

MARCELA LUCIA DOS SANTOS-ME (1ª RECLAMADA),


devidamente qualificada, por seu advogado, nos autos da reclamação trabalhista que lhe move
GABRIELA DAS DORES GOMES DA SILVA, em curso perante essa Egrégia Vara e respectiva
Secretaria, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, oferecer sua

CONTESTAÇÃO

consubstanciada nos substratos fáticos e jurídicos que passa a


expor em articulado:

SÍNTESE DA INICIAL

Alega a reclamante que foi admitida pela 1ª reclamada em


20.11.21, porém, somente foi registrada em 01.12.2022, para exercer a função de auxiliar de
limpeza. Quanto a sua dispensa, a mesma pleiteia a rescisão indireta do contrato de trabalho sem
apontar o seu último dia de labor. Como sua última remuneração, aponta o valor de R$ 1.912,31.

Em síntese, pleiteia a reclamante o reconhecimento do vínculo


empregatício referente ao período de 20.11.21 até 30.11.21 e declaração de rescisão indireta, com
e o recebimento das seguintes verbas: (I) verbas rescisórias (saldo de salário, 13º salário
proporcional, multa de 40% sobre o FGTS e, férias proporcionais); (II) Intervalo intrajornada; (III)
Multas descritas nos artigos 467 e 477, ambos da CLT; (IV) adicional de insalubridade; (V)
indenização por danos morais e; (VI) condenação das demais reclamadas na forma subsidiária
sobre as verbas pleiteadas.

Por fim, requer os benefícios da justiça gratuita e a condenação


das reclamadas ao pagamento de honorários de sucumbência e, atribuiu à causa o valor de R$
52.900,00.
II – MÉRITO

1- DA AUSÊNCIA DO RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO – Período de


20.11.21 até 30.11.21.

Pleiteia a reclamante seja reconhecido o vínculo empregatício


entre o período de 20.11.21 até 30.11.21, bem como o recebimento das verbas correspondentes.

Inicialmente cumpre esclarecer que o período de labor prestado


pela reclamante foi de 01.12.21 até 31.07.22, ocasião que a obreira não mais compareceu ao
serviço para trabalhar ou ao menos deu qualquer satisfação, quanto a sua ausência.

Em que pese o ônus probatório ser da obreira, nos termos do


artigo 818, I, da CLT, a reclamada apresenta os documentos os quais comprovam o efetivo tempo
de labor da reclamante, qual seja, do dia 01.12.21 até 31.07.22.

Trecho extraído do contrato de experiência:

Holerite referente a 01.12.21 a 31.12.21


Trecho do extrato analítico do FGTS:

Estranhamente, aponta a reclamante um período inexistente


(20.11.21 até 30.11.21), com o fito de ver seu vínculo de emprego reconhecido, o que não merece
prosperar, por ausência de prova, devendo ser julgado improcedente o reconhecimento do
vinculo do período pleiteado e, por consequente as verbas pleiteadas.

2- DA RESCISÃO INDIRETA E DAS VERBAS RESCISÓRIAS.

Pertinente ao pleito de rescisão indireta e o recebimento das


verbas rescisórias, no mesmo sentido, também não merece prosperar.

Isso porque, a reclamante alega que a reclamada jamais efetuou


qualquer depósito em sua conta vinculada a título do FGTS, não houve recolhimento do INSS e
recorrente atraso nos salários.

Tais alegações caem por terra, em razão dos documentos


colacionados pela reclamada (comprovantes de recolhimentos do FGTS, INSS e dos salários).

a) Recolhimento do FGTS

Ao contrário do alegado pela obreira, a reclamada efetuou


regularmente os depósitos do FGTS em sua conta vinculada, conforme comprovantes anexos.
Ademais, nota-se, que a reclamante sequer apresentou seu extrato analítico para demonstração
da sua alegação, ônus que lhe competia, nos termos do artigo 818, I, da CLT.
Omite a reclamante que inclusive sacou seu FGTS, conforme
consta em seu extrato analítico, ora juntado, mesmo o ônus probatório sendo da reclamante.
Portanto, cai por terra a alegação obreira que a reclamada
jamais realizou depósito em sua conta vinculada a título de FGTS.

b) Recolhimento do INSS

No mesmo sentido, não prospera a alegação obreira ao ver


reconhecida sua rescisão indireta, que a reclamada nunca realizou recolhimento da verba
destinada ao INSS.

Nota-se Exa, que a reclamante não apresenta qualquer


documento da sua alegação, sequer o print do “Meu INSS”.

Porém, em que pese o ônus probatório ser da obreira, a


reclamada apresenta em Juízo os comprovantes de recolhimentos do INSS.

Como exemplo, abaixo colacionado um dos comprovantes de


recolhimento:
Portanto, diante dos comprovantes de recolhimento do INSS, cai
por terra a alegação obreira que a reclamada jamais realizou os devidos recolhimentos.

Contudo, verifica-se que a reclamante sequer apresentou


qualquer documento que desse sustentação a sua tese. Veja, Exa., que a obreira não apresentou
seu extrato analítico do FGTS, muito menos sua CTPS, ônus que lhe competia nos termos do
artigo 818, I, da CLT.

Em razão disso, requer a reclamada seja reconhecido o


rompimento do vínculo de emprego havido entre as partes por culpa da obreira, em razão do
abandono de emprego e, consequentemente julgado improcedente os pleitos dele decorrentes,
em especial, aviso prévio e multa de 40% sobre o FGTS, por medida de direito e justiça.

3- DO SALDO DE SALÁRIO – JULHO/22

Pleiteia a reclamante verba já recebida.

Sobre esse tema, não carece muita explicação, eis que a


reclamada comprova o devido pagamento, conforme comprovante colacionado aos autos e
abaixo colacionado no valor de R$ 1.976,76:
Portanto, Exa., com o devido respeito, deverá a obreira ser
advertida sobre pleitear verba devidamente recebida.

Pelas razões expostas, roga a reclamada seja julgado


improcedente o pedido de saldo de salário referente ao mês de julho/22, por medida de direito e
justiça.

4 – DO INTERVALO INTRAJORNADA

Pleiteia a reclamante o recebimento do valor de R$ 1.312,30,


mais reflexos, correspondente a 30 minutos diários a título de intervalo.

Argumenta a reclamante que sempre gozava de 30 minutos de


intervalo para refeição e descanso, o que não merece prosperar.

Isso porque, a reclamante laborou no período noturno, bem


como com uma equipe de 10 colaboradoras por turno, justamente, para divisão das tarefas.

Ora Exa., não é crível acreditar que a obreira não usufruía de 01


hora para refeição e descanso, mesmo porque a mesma tinha total autonomia para fazer sua
pausa no melhor horário que lhe conviesse, eis que a obreira não laborava só, ainda mais que no
período noturno o fluxo de pessoas é bem reduzido.

Ademais, a regra contida no artigo 818 da Consolidação das Leis


do Trabalho, bem como a contida no artigo 373, I, do Código de Processo Civil, quanto ao ônus da
prova, sem dúvida, merece breve análise. Resta inquestionável que cabe a Reclamante o ônus da
prova do fato constitutivo de seu direito, fato esse capaz de produzir o direito pleiteado.

Ainda nessa linha de raciocínio, pedimos “vênia” para colacionar


jurisprudência dos nossos Tribunais, cujo entendimento vem ao socorro da Reclamada e da tese
ora esposada, senão vejamos:

18023535 – ÔNUS PROBATÓRIO – A análise da prova


apresentada demonstra que o reclamante não se desincumbiu
de seu ônus de comprovar o termo inicial do contrato de
trabalho, bem como a ausência de intervalo intrajornada, ao
deixar de apresentar prova robusta que pudesse infirmar os
documentos colacionados. Recurso improvido. (TRT 23ª R. –
RO 02061.2003.021.23.00-8 – Cuiabá – Rel. Juiz João Carlos –
DJMT 08.02.2006 – p. 46)

“10025459 – INTERVALO INTRAJORNADA – ÔNUS DA


PROVA – À falta de prova do fato constitutivo do direito
vindicado, pagamento da indenização prevista no art. 71, § 4º,
da CLT, por falta de fruição do intervalo intrajornada, prevalece o
horário intervalar constante na prova documental (contrato de
trabalho). (TRT 24ª R. – RO 921/2005-003-24-00-3 – Rel. Juiz
Ricardo Geraldo Monteiro Zandona – DOMS
15.09.2006).
Ora Excelência, cabe a Reclamante fazer a prova robusta das
suas alegações, não podendo subsistir a sua pretensão, com base em inversão do ônus da prova,
até porque, o pleito é totalmente impertinente.

Destarte, é de clareza solar que o pedido da Reclamante quanto


às horas extras, bem como os seus reflexos, deverão ser julgados totalmente improcedentes, pela
total ausência de motivos fáticos ou jurídicos a embasar.

Além disso, deve-se frisar que tal intervalo sempre foi


respeitado, nos moldes já ditos alhures e mesmo que assim não ocorresse, admitindo-se apenas
para seguir argumentando, não se pode falar em pagamento de horas extras, pois não estaria
caracterizado o excesso na jornada efetivamente trabalhada, tratando-se de mera infração
administrativa.

NATUREZA INDENIZATÓRIA

Em que pese comprovado que a reclamante sempre cumpriu o


horário normal para descanso e refeição, apenas por argumento, de maneira a preservar os
direitos da Reclamada, não há que se falar em pagamento de horas extras, muito menos nulidade
do artigo legal da CLT.

O que se admite é que na ausência de intervalo o que seria


devido é apenas o período suprimido enriquecido de adicional de 50%, de modo indenizado, a teor
do § 4º do artigo 71 da Consolidação das Leis do Trabalho:

§ 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo


intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados
urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza
indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de
50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da
hora normal de trabalho.

Esta remuneração, portanto, é na verdade uma indenização que


se destina a compensar o empregado pelas horas de descanso e refeição que lhe foram
suprimidas.

Desta forma, se algum direito for devido a Reclamante quanto às


horas destinadas ao descanso e refeição trabalhadas, o que não se espera, esse direito
corresponde exclusivamente a diferença de horas com adicional de 50% enquanto pena pela
supressão havida e jamais como horas extras conforme pleiteado.

Portanto, deve o pleito ser julgado improcedente o pedido.

APENAS O ADICIONAL

Em que pese comprovado que a reclamante não faz jus ao


recebimento de horas extras intervalares, de maneira a preservar os direitos da Reclamada, não
há que se falar em pagamento de horas extras mais o adicional de 50%.
O que se admite é que na ausência de intervalo o que seria
devido é apenas o adicional de 50% vez que, em tese, o tempo trabalhado no intervalo
correspondente à intrajornada já teria sido remunerado como hora normal.

Conforme se verifica do § 4º do artigo 71 da Consolidação das


Leis do Trabalho a remuneração devida ao Reclamante caracterizada pela intrajornada, para
descanso e refeição, não tem natureza salarial e, por conseguinte não se caracteriza como horas
extras. Conforme vasta jurisprudência nesse sentido, quanto muito, se caracterizaria em
indenização ou multa que deve ser concedida ao empregado.

18023276 – INTERVALO INTRAJORNADA – SUPRESSÃO –


NATUREZA INDENIZATÓRIA – A natureza jurídica da parcela
devida pela supressão do intervalo intrajornada é
indenizatória, visto que referido intervalo não é computado
na jornada de trabalho, de maneira que tal indenização não
tem natureza salarial, porquanto não constitui
contraprestação a sobrelabor porventura prestado. Recurso
ordinário obreiro a que se dá parcial provimento. (TRT 23ª R.
– RO 01932.2004.036.23.00-6 – Cuiabá – Rel. Juiz Roberto
Benatar – DJMT 23.01.2006 – p. 27)

Esta remuneração, portanto, é na verdade uma indenização que


se destina a compensar o empregado pelas horas de descanso e refeição que lhe foram
suprimidas.

Desta forma, se algum direito for devido a Reclamante quanto


às horas destinadas ao descanso e refeição trabalhadas, o que não se espera, esse direito
corresponde exclusivamente ao adicional de 50% enquanto pena pela supressão havida e jamais
como horas extras conforme pleiteado.

DOS REFLEXOS

Impugna ainda, a pretensão do reclamante quanto aos reflexos


das horas extras nas demais verbas do contrato, pois a sorte do acessório segue a do principal,
devendo de igual maneira ser julgado improcedente.

Por cautela, esclarece que os reflexos das horas extras em


DSR’s e destes, nas demais verbas do contrato ocasiona o “bis in idem”, vedado em nosso
ordenamento jurídico, requerendo seja aplicada a recente Orientação Jurisprudencial nº 394 da
SBDI-I do C. TST, publicadas no D.O.E. de 09, 10 e 11 de junho de 2010, conforme abaixo
transcrita:

394. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR.


INTEGRAÇÃO DAS HORAS EXTRAS. NÃO REPERCUSSÃO
NO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO TERCEIRO
SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E DOS DEPÓSITOS DO FGTS.
A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em
razão da integração das horas extras habitualmente
prestadas, não repercute no cálculo das férias, da
gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS, sob pena
de caracterização de “bis in idem”.

5 – DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Estranhamente pleiteia a reclamante o recebimento do adicional


de insalubridade.

Colocamos o termo “estranhamente”, pois a reclamante


sempre recebeu o referido adicional em grau máximo, conforme comprovantes anexos aos
autos.
Portanto, Exa., beira a má fé o referido pedido, devendo ser
julgado improcedente, por medida de direito e justiça.

6 - DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Pleiteia a reclamante indenização por danos morais, sob o vago


argumento que a reclamada não cumpriu com as suas obrigações contratuais, pertinente ao
registro em sua CTPS, o que conforme restou demonstrado, a 1ª reclamada não cometeu
qualquer irregularidade que ofendesse o moral da obreira. Portanto, sem razão a reclamante.

Nota-se Exa., que a reclamante sequer colecionou a sua CTPS


aos autos, o que dificultou inclusive a elaboração da defesa.

Ademais, vale informar que a reclamada proporciona um


ambiente saudável, urbano e de constante aperfeiçoamento aos seus colaboradores, inclusive
com amplo diálogo e compreensão por parte de seus superiores hierárquicos. Não é e nunca foi
cultura da empresa a opressão, constrangimento ou descumprimento de normas técnicas ou
legais trabalhistas.

Data-vênia, não se pode, diante da motivação lançada na


exordial, como descrito alhures, sequer pensar na hipótese da existência de dano moral ou
qualquer outro análogo, devendo, de plano, ser afastado o pedido, pois ledo engano do Autor ou
mera conveniência, que busca indenização nos termos em que nossa lei pátria não contempla.
Por cautela, impugna integralmente as alegações, esclarecendo
que sempre respeitou a legislação impugnando ainda qualquer alegação pertinente a
descumprimento contratual.

Vale ressaltar, que a reclamante sequer comprovou que houve


abalo psíquico e emocional em razão do suposto descumprimento contratual.

Certo ainda, caso de fato se houvesse qualquer descumprimento


contratual, a legislação já prevê punições.

O novel artigo 223-C da CLT, especifica os direitos


extrapatrimoniais suscetíveis a reparação por danos morais, quais sejam, honra, imagem,
intimidade, liberdade de ação, autoestima, saúde, lazer, integridade física, sendo incluídas pela
medida provisória nº 808/2017 a etnia, idade, nacionalidade, gênero e orientação sexual, e dentro
do contexto aqui discutido, nada se assemelha a previsão legal taxativa, ou seja, qualquer
indenização deferida violará o preceito constitucional e infraconstitucional com a ampliação dos
bens juridicamente protegidos, abarcando suposto sofrimento psicológico decorrente de suposta
grito, resumindo, banalizando o instituto da indenização por danos morais.

Quanto aos fatos, se faz necessário ressaltar que a reclamante


nas suas alegações e causa de pedir, em nada contribuiu para se valorar como o dano descrito
como prejuízo irreparável.

Aliás, o artigo 223-G do mesmo diploma elenca todos os


requisitos necessários para o deferimento, não existindo um, não há o que se falar em
responsabilidade.

Ao contrário do que afirma a Autora, não há nos autos qualquer


prova ou demonstração dos danos, aos quais pretende a Requerente a decantada indenização.

Dessa forma, na ausência da prova do alegado, não pode gerar


obrigação à outra parte, sob pena de se caracterizar o enriquecimento sem causa.

8- DA RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE AS RECLAMADAS (MARCELA LÚCIA DOS SANTOS –ME E


ORGANIZAÇÃO MÃOS AMIGAS)

Em 20.11.2021 a 1ª reclamada foi contratada pela 2ª reclamada


para prestar serviço de limpeza hospitalar, para atuação nas seguintes unidades hospitalares no
município de Embu das Artes/SP, quais sejam: a) Hospital Leito Irmã Anette e Central de
Regulação de Leitos; b) Pronto Socorro Central e Maternidade Municipal Alice Campos Machado;
c) UPA Zilda Arns – Santo Eduardo e; d) Pronto Atendimento do Vazame, conforme contrato
formalizado entre as partes, o qual segue anexo.
Em 28.07.2022 a autora recebeu um e-mail enviado pelo
Departamento Juridico da ré com um ofício anexo ao mesmo sob o nº 039/2022 – OSMA-SEDE
datado em 27.07.2022, informando a rescisão contratual imediata, conforme documentos
comprobatórios anexo e abaixo parcialmente transcrito:
Em razão do rompimento do contrato de prestação de
serviço feito pela Organização Mãos Amigas, conforme documento anexo, o que ocorreu do dia
para noite, a 1ª reclamada ficou desamparada financeiramente e, mesmo assim não deixou de
quitar os salários da obreira, ocasião que não se justificou o pleito de rescisão indireta do contrato
de trabalho.

8- DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DA JUSTIÇA GRATUITA

Nos termos da Lei nº 13.467/17, que modificou a legislação


processual trabalhista, trouxe nova disciplina a respeito dos honorários advocatícios e a
assistência judiciária gratuita.

Os novos §§ 3º e 4º do artigo 790 da CLT preveem que o


benefício da justiça gratuita será concedido à parte que receber salário igual ou inferior a 40% do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, o que equivale a R$
2.258,32, cabendo ainda à parte comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das
custas do processo.

Quanto aos honorários de sucumbência, a previsão do artigo


791-A é de que são devidos aos advogados que atuarem no processo honorários fixados entre o
mínimo de 5% e o máximo de 15% sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do
proveito econômico obtido ou sobre o valor atualizado da causa. Em caso de sucumbência parcial,
serão arbitrados honorários de sucumbência recíproca.

Em se tratando de dispositivos que dispõem sobre matéria


processual, estes produzem efeitos imediatos, ou seja, podem ser aplicados nos processos em
andamento e não somente naqueles que se iniciarem a partir da vigência da nova Lei.

Nesse sentido disciplina o CPC em seus artigos 14, parte final,


e 1.046:

“Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável


imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob
a vigência da norma revogada.”.

Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições


se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando
revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
(grifos da Reclamada)

No caso dos honorários de sucumbência o marco temporal a ser


utilizado é a sentença, conforme jurisprudência pacífica no STJ:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MARCO TEMPORAL PARA A
APLICAÇÃO DO CPC/2015. PROLAÇÃO DA SENTENÇA.
PRECEDENTE. IMPUGNAÇÃO DO VALOR FIXADO A TÍTULO
DE VERBA HONORÁRIA. MAJORAÇÃO. ÓBICE DA SÚMULA
7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O recorrente alega que não
há falar em direito adquirido a fim de conclamar incida o Novo
Código de Processo Civil apenas às demandas ajuizadas após a
sua entrada em vigor (conforme decidido pelo Tribunal a quo),
porquanto, consoante estabelecido no artigo 14 do NCPC, o
novel diploma normativo processual incidirá imediatamente aos
processos em curso. 2. A jurisprudência desta Corte tem
entendido que o marco temporal que deve ser utilizado para
determinar o regramento jurídico aplicável para fixar os
honorários advocatícios é a data da prolação da sentença,
que, no caso, foi na vigência do Código de Processo Civil de
1973. Precedente: REsp 1636.124/AL, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe
27/04/2017 (AgInt no REsp 1657177 / PE AGRAVO INTERNO
NO RECURSO ESPECIAL 2017/0045286-7. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES (1141). 2A. TURMA. DJe 23/08/2017.
(grifos da Reclamada)

No mesmo sentido é a Súmula nº 509 do STF: "A Lei nº 4.632,


de 18.5.65, que alterou o art. 64 do Código de Processo Civil, aplica-se aos processos em
andamento, nas instâncias ordinárias".

Dessa forma, requer a Reclamada a aplicação imediata das


alterações trazidas pela denominada Lei da Reforma Trabalhista no que diz respeito à justiça
gratuita e aos honorários de sucumbência.

E no presente caso o Reclamante apesar de receber salário


inferior a R$ 2.258,32, não comprovou insuficiência de recursos para o pagamento das custas do
processo.

Já quanto aos honorários, requer a Reclamada que, havendo


sucumbência obreira, o Reclamante seja condenado a pagar em favor dos patronos da Reclamada
honorários de 15% sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou sobre o valor atualizado da causa.
Caso esse D. Juízo entenda pela não aplicação imediata das
alterações feitas pela Reforma Trabalhista, há de se observar que, antes da vigência da Reforma,
no Processo do Trabalho, em virtude do jus postulandi, os honorários advocatícios e a assistência
judiciária somente eram devidos quando atendidas todas as exigências previstas no artigo 14 da
Lei nº 5.584/70, quais sejam, a miserabilidade do trabalhador, assistência judiciária por sindicato
representativo da categoria profissional do demandante e a sucumbência.

Portanto, ausentes, no caso, os requisitos legalmente exigidos


para o deferimento dos pedidos formulados, sendo certo que eventual condenação em verba
honorária contrariaria os entendimentos contidos nas Súmulas nº 219 e 329 do C. Tribunal
Superior do Trabalho, bem como o descrito na Orientação Jurisprudencial nº 305 da SDI do C.
TST.

Do acima exposto, constata-se que de qualquer ângulo que se


analise a pretensão do reclamante chega-se a conclusão que esta não pode ser acolhida, por
ausência de embasamento, tanto fático quanto jurídico.

Em atenção ao princípio da eventualidade, esclarece ainda a


reclamada que mesmo que houvesse condenação no pagamento de honorários, o que não
acredita, esta jamais poderia alcançar o montante pretendido, devendo ser considerada por esse
D. Juízo a limitação máxima de 10% (dez por cento).

No que tange à assistência judiciária, o inciso LXXIV do artigo 5º


da Constituição Federal, dispõe ser necessária a comprovação da inexistência de recursos, não
deve ser aceita a simples declaração de pobreza.

Assim, não tendo provado a Reclamante preencher os


requisitos do artigo 14 da Lei nº 5.584/70, nem tendo restado comprovado seu alegado estado de
miserabilidade, não devem ser deferidos por esse D. Juízo o pedido de honorários advocatícios e
assistência judiciária gratuita em favor da Reclamante.

COMPENSAÇÃO

Na hipótese de condenação em qualquer dos itens postulados,


a Reclamada, desde já, requer a compensação de todos os valores que tenham sido antecipados
ou pagos a mais do que o devido a reclamante, com base no art. 767 da CLT

DOS JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA

De se ressaltar a Súmula nº 381 do C. TST, a qual deverá ser


observada na eventualidade de sobrevir alguma condenação, o que não se admite:

“Súmula nº 381 - CORREÇÃO MONETÁRIA. SALÁRIO. ART.


459 DA CLT. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 124
da SDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005
O pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subseqüente
ao vencido não está sujeito à correção monetária. Se essa data
limite for ultrapassada, incidirá o índice da correção monetária do
mês subseqüente ao da prestação dos serviços, a partir do dia
1º. (ex-OJ nº 124 - Inserida em 20.04.1998)”

Assim, a atualização de eventuais créditos da reclamante,


deverá observar a data do vencimento da obrigação. Com efeito, para atualização dos créditos,
devemos levar em consideração as épocas próprias, haja vista ser facultado às empresas o
pagamento dos salários até o quinto dia útil do mês subsequente.

Nos termos da Legislação vigente (artigo 459, parágrafo único da


CLT), os índices de atualização monetária devem ser aplicados sempre no mês seguinte ao da
prestação do labor, ocasião em que se torna exigível o pagamento e não no próprio mês, é o que
requer a reclamada.

DOS DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS

Os descontos previdenciários e fiscais decorrem de imperativo


legal, sendo correto afirmar que os preceitos de ordem pública suplantam os interesses dos
particulares. Com efeito, não se pode afastar a aplicação dos artigos 46, da Lei 8.541/92 e os
artigos 43, 44, ambos da Lei nº 8.212/91 e artigo 195, II da Constituição Federal.

Dessa maneira, o pleito da reclamante contraria a legislação


pertinente ao recolhimento previdenciário previsto nos artigos 43 e 44, da Lei nº 8.212/91, com a
nova redação dada pela Lei nº 8.620/93, donde se depreende, claramente, ser obrigatório o
desconto do aludido recolhimento de eventual crédito da reclamante.

No que pertine ao imposto de renda, a transferência da


responsabilidade viola os artigos 46 da Lei nº 8.541/92, 45 do Código Tributário Nacional, 12 da
Lei nº 7.713/88. Como se sabe, a retenção do imposto de renda na fonte decorre do aludido artigo
46 da Lei nº 8.541 de 23.11.92, que consagra o regime de caixa, evidenciado, inclusive, a Súmula
nº 368, do Tribunal Superior do Trabalho.

O artigo 45 do CTN, por sua vez, estabelece que a lei pode


atribuir à fonte pagadora da renda a condição de responsável pela retenção e pagamento do
imposto, que é o que faz a Lei nº 8.541/92. Com a edição da Lei nº 7.713/88, desde 01.01.89,
restou consagrado o chamado “regime de caixa”, o qual determina que a renda é considerada
recebida quando paga, não se observando o regime de competência.

Assim, o cálculo deve ser feito tomando-se todo o rendimento


porventura recebido e aplicando-se a tabela do mês de pagamento, sob pena, justamente, de
violação de toda a ordem e legislação tributária atinentes ao Imposto de Renda.

O desconto do imposto de renda, nos termos do aludido artigo


46 da Lei nº 8.541/92, incide sobre os rendimentos do trabalho assalariado pagos em cumprimento
da decisão judicial. Logo, o fato gerador surge no ato do pagamento ou, como explicita a Lei, “no
momento em que, por qualquer forma, o rendimento se torne disponível para o beneficiário”.
Deflui daí a iterativa e atual jurisprudência da Seção do TST,
cristalizada na Súmula nº 368, a saber:

Súmula nº 368 - TST - Res. 129/2005 - DJ 20, 22 e 25.04.2005 -


Conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 32, 141 e 228
da SDI-1
Descontos Previdenciários e Fiscais - Competência -
Responsabilidade pelo Pagamento - Forma de Cálculo
I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o
recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça
do Trabalho, quanto à execução das contribuições
previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em
pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo
homologado, que integrem o salário-de-contribuição. (ex-OJ nº
141 - Inserida em 27.11.1998) (Alterado) - Res. 138/2005, DJ 23,
24 e 25.11.2005
II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das
contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do
empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em
relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação,
referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos
da Lei nº 8.541/1992, art. 46 e Provimento da CGJT nº 01/1996.
(ex-OJ nº 32 - Inserida em 14.03.1994 e OJ nº 228 - Inserida em
20.06.2001)
III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de
apuração encontra-se disciplinado no art. 276, § 4º, do Decreto n
º 3.048/99 que regulamentou a Lei nº 8.212/91 e determina que
a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas,
seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas
no art. 198, observado o limite máximo do salário de
contribuição. (ex-OJ nº 32 - Inserida em 14.03.1994 e OJ 228 -
Inserida em 20.06.2001)

Portanto, por cautela, requer a reclamada sejam autorizados por


este MM. Juízo os descontos fiscais e previdenciários em eventual crédito devido ao reclamante, o
que não se admite em nenhuma hipótese.

DA INAPLICABILIDADE DO ÍNDICE IPCA-E

Importante ressaltar que a Reforma Trabalhista (Lei nº


13.467/2017), vigente desde 11 de novembro de 2017, determina expressamente que a
atualização dos créditos decorrentes de condenação judicial será feita pela Taxa Referencial (TR).
Com efeito, a nova lei acrescentou o § 7º ao artigo 879, da CLT, assim dispondo:

“§ 7o A atualização dos créditos decorrentes de condenação


judicial será feita pela Taxa Referencial (TR), divulgada pelo
Banco Central do Brasil, conforme a Lei no 8.177, de 1o de
março de 1991.”
Portanto, diante dos novos termos da CLT, tornando lei o uso da
TR e não do IPCA-E, não há mais o que se discutir sobre o tema, sob pena de violação ao
inciso II do artigo 5º da CF.

E não se diga que o recente julgamento proferido pelo STF, na


Reclamação nº 22.012, ajuizada pela FEDERAÇÃO NACIONAL DOS BANCOS (FENABAN) em
face do TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, alteraria este entendimento.

Os Ministros, em seus votos, não analisaram a questão sob a


ótica da Reforma Trabalhista, mas a partir de uma matéria anteriormente decidida, qual seja, a
aplicação da TR para a atualização de precatórios.

Diante do exposto, entende a Reclamada mesmo após o


julgamento proferido pelo STF, na Reclamação nº 22.012, deve ser determinada a aplicação da
TR como fator remunerador dos débitos trabalhistas oriundos do presente feito, o que de logo
requer, uma vez que referida decisão não se pronunciou sobre os efeitos da Reforma Trabalhista
sobre a matéria e não pode se sobrepor à previsão legal.

DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS

A Reclamante requer a expedição de ofícios aos órgãos que


indica, porém tal pleito é totalmente descabido, eis que nenhuma irregularidade foi cometida pela
Reclamada, inexistindo, tampouco, infrações de ordem administrativa.

Acrescente-se que é plenamente assegurado à parte


interessada, independentemente do pagamento de taxas, "o direito de petição aos Poderes
Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder" (artigo 5º, XXXIV, da
CF/88). Assim sendo, cabe ao Reclamante peticionar aos órgãos por ele elencados na inicial, se
assim entender pertinente, não sendo razoável acionar a máquina jurisdicional, já por demais
congestionada, com pedidos dessa natureza.

Nesse sentido, é a jurisprudência:

“Quanto à expedição de ofícios, a prática vem revelando que a


medida é inútil, à falta de resultados práticos, e que na verdade é
provocada por requerimento padrão, de praxe, lançado
indistintamente em quase todas as petições iniciais, como o
claro – e já inútil – propósito de amedrontar a parte contrária. De
tanto que se vulgarizou, dada a falta de critérios, vem servindo
apenas como fator de descrédito para a Justiça do Trabalho. E
de mais a mais, a autora pode também comunicar diretamente o
que quiser a quem bem entender”.

Além do mais, inexiste dispositivo legal que autorize a Justiça


do Trabalho a expedir ofícios com finalidade punitiva, valendo notar que não se vislumbra nos
artigos 652 e/ou 653 da CLT qualquer alínea que atribua referida competência às Varas do
Trabalho.

DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Por todo o exposto requer se digne Vossa Excelência no mérito,


julgar a presente ação TOTALMENTE IMPROCEDENTE, condenando a reclamante ao
pagamento de custas processuais, honorários advocatícios e demais cominações de estilo.

Pretende provar o alegado por todos os meios de prova em


direito admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal da reclamante, que desde já se requer
sob pena de confissão a teor do disposto na súmula nº 74 do C. TST, oitiva de testemunhas,
juntada de novos documentos, realização de perícias e todas as demais que se fizerem
necessárias, não prescindindo de nenhuma por mais especialíssima que seja.

A Reclamada impugna os documentos juntados à peça exordial,


haja vista que são unilaterais e aleatórios, não restando assim valor probante a favorecê-lo, pois
não trazem qualquer utilidade para o esclarecimento do litígio.

Quanto a eventual juntada de documentos, invoca a Reclamada


o contido no artigo 396 e seguintes, do Código de Processo Civil, onde a obrigatoriedade somente
se dá através de intimação específica e ainda após a parte que a pretende ter procedida à
necessária justificação da prova.

A juntada de documentos somente se faz necessária mediante


pedido justificado perante o Juízo da causa e intimação específica para fazê-lo.

Por fim, o patrono abaixo assinado declara, nos termos do art.


830 da Consolidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei nº 11.925, de 17 de abril
de 2009, que as cópias ora acostadas com esta peça defensiva são autênticas e conferem com os
documentos originais.

Termos em que,
P. Deferimento.

São Paulo, 09 de outubro de 2023.

ERICO BRUNINI SILVA


OAB/SP 293.357

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