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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0001714-91.2015.5.10.0801
Relator: DORIVAL BORGES DE SOUZA NETO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 28/03/2016


Valor da causa: R$ 1.000.000,00

Partes:
RECORRENTE: VIA S.A.
ADVOGADO: RODRIGO SEIZO TAKANO
RECORRIDO: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO ESTADO TOCANTINS
ADVOGADO: MURILO BRAZ VIEIRA
ADVOGADO: ELISANDRA JUCARA CARMELIN
TERCEIRO INTERESSADO: MPT10 - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 10ª
REGIÃO
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO

PROCESSO nº 0001714-91.2015.5.10.0801 (RECURSO ORDINÁRIO (1009))

RELATOR : DESEMBARGADOR DORIVAL BORGES


RECORRENTE : VIA VAREJO S/A
ADVOGADO : RODRIGO SEIZO TAKANO - OAB: SP0162343
RECORRIDO : SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO ESTADO TOCANTINS
ADVOGADO : MURILO BRAZ VIEIRA - OAB: TO0004863-B
ADVOGADA : ELISANDRA JUCARA CARMELIN - OAB: TO0003412

EMENTA
EMENTA: 1. AÇÃO DE CUMPRIMENTO. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. AMPLITUDE. ROL DE SUBSTITUÍDOS.
EXIGÊNCIA SOTERRADA PELAS DECISÕES DO EXCELSO
STF. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que o art. 8º, III, da
Constituição Federal outorga legitimidade aos sindicatos para atuarem na
defesa de direitos individuais dos empregados da categoria, legitimação
esta que alcança os interesses que ostentam natureza de direitos
individuais homogêneos, assim definidos aqueles que possuem origem
comum (CDC, art. 81, parágrafo único, III). Logo, as pretensões que
decorrem da conduta do empregador envolvendo a coletividade de
trabalhadores em situação lesiva semelhante - como o não pagamento de
salários e décimos terceiros salários, não recolhimento das contribuições
previdenciárias e das parcelas do FGTS, não aplicação de norma coletiva,
etc. -, possuem inegável origem comum. Esta situação caracteriza os
direitos vindicados como individuais homogêneos, justificando a
legitimação extraordinária do sindicato. Precedentes desta Turma e do
TST. 2. VIA VAREJO. DESRESPEITO ÀS NORMAS COLETIVAS
QUE ASSEGURAM SALÁRIO FIXO AOS COMISSONADOS.
DANOS QUE SE ESPRAIAM PARA ALÉM DO QUADRO
FUNCIONAL DA EMPRESA. "DUMPING" SOCIAL. DANO
MORAL COLETIVO. CONFIGURAÇÃO. Termo próprio da área
comercial, o dumping define-se como a prática comercial consistente na
venda de produtos, mercadorias ou serviços a preços extraordinariamente
baixo, por um determinado período de tempo, visando prejudicar ou
eliminar os concorrentes para, a partir do domínio do mercado, impor
preços mais altos. Transposto para a seara do trabalho, caracteriza-se pela
exploração da mão de obra, reduzindo-se o preço das mercadorias e
serviços, não pela diminuição dos custos da matéria-prima ou dos
métodos de produção, mas pela precarização dos salários e do valor social
do trabalho, em fragrante prejuízo aos trabalhadores da empresa e de suas
famílias. De igual modo, ao descumprir as convenções coletivas, o
empresário aufere vantagem indevida em detrimento das demais empresas
concorrentes na sua área de atuação, as quais respondem pelos vários
encargos trabalhistas, previdenciários e fiscais sobre a parte fixa da folha
de pagamentos. Assim delineado, ressai inequívoco o dano à classe
trabalhadora e à sociedade em geral, configurando-se o dano moral
coletivo. 3. DANO MORAL. REPARAÇÃO. FIXAÇÃO DO VALOR

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coletivo. 3. DANO MORAL. REPARAÇÃO. FIXAÇÃO DO VALOR


COMPENSATÓRIO. Em se tratando de dano moral, a mensuração do
dano é complexa, porquanto o ato lesivo recai sobre bens imateriais como
a liberdade, a igualdade, a sociabilidade e direitos intimamente
relacionados à dignidade da pessoa humana. Assim, cabe ao julgador,
utilizando-se da razoabilidade, considerar parâmetros como a gravidade
do dano causado pelo empregador, pelos seus prepostos ou pelas suas
normas e diretrizes e a intensidade do sofrimento infligido ao lesado, bem
como a capacidade econômica de ambos, para que se estabeleça um
parâmetro razoável à reparação, de modo que esta efetivamente sirva de
compensação ao lesado e de desestímulo ao agente causador do dano. A
par destes parâmetros, razoável o montante arbitrado pelo juízo
monocrático para efeitos compensatórios.

RELATÓRIO

A Exma. Juíza Suzidarly Ribeiro Teixeira Fernandes, da MMª. 1ª Vara do


Trabalho de Palmas - TO, por intermédio da sentença do ID953e033, complementada pela decisão sob o
ID nº1f951b6, proferida em embargos declaratórios, julgou parcialmente procedentes os pedidos
apresentados na Ação Coletiva de Cumprimento cumulada com Dano Moral Coletivo movida pelo
SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO ESTADO TOCANTINS contra VIA VAREJO S
/A.

A ré interpõe o recurso ordinário sob o IDc129efc.

Os comprovantes dos recolhimentos do depósito recursal e das custas


processuais estão nos ID9702ee1.

Contrarrazões pelo autor no ID913baa1.

Dispensada a manifestação do Ministério Público do Trabalho, na forma


regimental (art. 102).

VOTO

ADMISSIBILIDADE

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Atendidos os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade,


conheço do recurso ordinário.

NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NULIDADE.

A recorrente alega nulidade por negativa de prestação jurisdicional por


não ter o juízo de origem analisado questões suscitadas nos embargos declaratórios, pertinentes à
alegação de julgamento com afronta direta e literal ao artigo 460 do CPC; existência de julgamento extra
e ultra pedido e não indicação da natureza de cada uma das verbas da condenação, afrontando assim o
artigo 832 da CLT.

Examinada a petição dos embargos declaratórios em confronto com a


petição inicial, não se vislumbram os vícios alegados, pois a decisão está fundamentada. Se erro há no
julgamento, a correção se faz mediante o manejo do recurso adequado. Outrossim, as questões ali
suscitadas seriam devolvidas a reexame pelo Tribunal, pois, obviamente, a reclamada iria recorrer. Neste
diapasão, eventual negativa de prestação jurisdicional não acarreta a nulidade requerida, pois, devolvida a
matéria ao Regional, não há prejuízo à parte.

Rejeito a preliminar.

SENTENÇA EXTRA E ULTRA PEDIDO

Diz a recorrente que a condenação ao pagamento de indenização por


danos morais individuais para cada trabalhador no importe de R$300,00, por mês laborado, limitada à
duração de 5 anos do contrato está além do pedido, haja vista que o autor requereu o pagamento de danos
morais coletivos no importe de R$500.000,00 para serem distribuídos aos empregados ou,
alternativamente, ao pagamento de R$5.000,00, por empregado.

A pretensão não prospera, primeiro, porque há pedido duplo de


indenização, por danos coletivos e por danos individuais; segundo, porque quem pode o mais pode o

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menos. Se o pedido era de R$5.000,00, por empregado, não há qualquer violação à lei no deferimento de
valor inferior ao pedido, até porque aquele patamar foi "sugerido" na peça de ingresso, não vinculando o
magistrado. Note-se que o pedido de R$5.0000,00 não está restrito a cinco anos como definiu o juízo, ou
seja, sem o valor e o limite imposto, a condenação, dependendo da interpretação, em muito superaria o
valor alegado no recurso.

Por fim, não vislumbro qualquer violação ao artigo 460 do CPC/1973,


derivada das condenações impostas à recorrente, diante das diferentes naturezas indenizatórias de cada
uma.

Rejeito a preliminar.

MÉRITO

ROL DE SUBSTITUÍDOS. NÃO APRESENTAÇÃO. CONSEQUÊNCIAS.


ILEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO AUTOR. INOCORRÊNCIA.

A recorrente recorre da decisão que julgou desnecessária a juntada aos


autos do rol individualizado dos substituídos pelo sindicato autor ou autorização assemblear dos
substituídos em relação à representação processual.

A Constituição Federal, no caput do art. 8º, previu a liberdade de


associação profissional ou sindical, estipulando, no inciso III, in verbis: "ao sindicato cabe a defesa dos
direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas".

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Para alguns, o que a Constituição assegura é a legitimação da associação


para defesa judicial dos direitos e interesses individuais da categoria, não se cogitando dos interesses e
direitos individuais dos integrantes da categoria, mas de direitos ou interesses de grupos, com maior ou
menor abrangência, totalizando a categoria integralmente ou parte dela.

E quais são esses direitos e interesses? São aqueles que, embora


resultantes de lesões individuais, coincidem com direitos e interesses transindividuais, porque concernem
a todos os membros de uma comunidade de trabalhadores. Tais interesses e direitos tanto podem ser
judicialmente defendidos pelo lesado individual - visto que não se discute a sua legitimidade - como pelo
sindicato ou associação, dado o caráter transindividual dos direitos e interesses em jogo, que não atingem
apenas 'X' ou 'Y', mas todos. A partir daí não pode mais a empresa fiar-se no princípio dispositivo da
ação para perpetrar lesões. O sindicato ou a associação poderá propor a ação categorial em benefício de
todos, mesmo daqueles que não querem litigar, temerosos da despedida ou da futura discriminação.

Para outros, a substituição processual do sindicato ou associação é ampla,


não havendo limitações ao ajuizamento de ação pelo órgão representativo, ainda que o direito pleiteado
seja meramente individual. Foi nesse sentido que se firmou a interpretação do Excelso STF,conforme a
ementa a seguir transcrita:

"EMENTA. PROCESSO CIVIL. SINDICATO. ART. 8º, III DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL. LEGITIMIDADE. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. DEFESA DE
DIREITOS E INTERESSES COLETIVOS OU INDIVIDUAIS. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. O artigo 8º, III da Constituição Federal estabelece a
legitimidade extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses
coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam. Essa legitimidade
extraordinária é ampla, abrangendo a liquidação e a execução dos créditos reconhecidos
aos trabalhadores. Por se tratar de típica hipótese de substituição processual, é
desnecessária qualquer autorização dos substituídos. Recurso conhecido e provido." (RE
193.503/SP Ac. Tribunal Pleno - Relator Ministro Joaquim Barbosa, publicado no DJ
24.8.2007).

Este entendimento se mantém,conforme demonstram os julgados da Corte


Constitucional:

"EMENTAS. 1. LEGITIMAÇÃO PARA A CAUSA. Ativa. Caracterização. Sindicato.


Interesse dos membros da categoria. Substituição processual. Art. 8º, III, da Constituição
da República. Recurso extraordinário inadmissível. Agravo regimental improvido. O
artigo 8º, III, da Constituição da República, confere legitimidade extraordinária aos
sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos
integrantes da categoria que representam. 2. RECURSO. Agravo regimental.
Reconhecimento de repercussão geral. Temas distintos. Erro material. Decisão de
prejudicialidade do agravo e retorno dos autos à origem, para os fins do art. 543-B do

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CPC. Correção, de ofício, para torná-la sem efeito. Corrige-se, de ofício, decisão que
contém erro material." (RE 213974 AgR / RS - RIO GRANDE DO SUL; AG.REG.NO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO; Relator(a): Min. CEZAR PELUSO; Julgamento: 02
/02/2010; Órgão Julgador: Segunda Turma; Publicação DJe PUBLIC 26-02-2010).

"SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL - ARTIGO 8º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL - PRECEDENTES DO PLENÁRIO. O Tribunal, no julgamento dos
Recursos Extraordinários nº 214.830, 214.668, 213.111, 211.874, 211.303, 211.152 e
210.029 concluiu pela legitimidade ativa do sindicato, ante o caráter linear da previsão
do artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal, para defender em juízo direitos e
interesses coletivos e individuais dos integrantes da categoria que representam."(RE
217566 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL, AG.REG. NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Julgamento: 08/02/2011,
Órgão Julgador: Primeira Turma, Publicação, DJe-042 DIVULG 02-03-2011 PUBLIC
03-03-2011)

A par deste entendimento, o TST, por intermédio de seu Tribunal Pleno e


pela SDI-1, definiu que a substituição processual assegurada ao sindicato pelo artigo 8º, III, da
Constituição se refere à defesa de direitos ou interesses coletivos e individuais homogêneos.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. LEGITIMIDADE


ATIVA. SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. FORNECIMENTO DE
LAUDO TÉCNICO SOBRE CONDIÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO. A
decisão do Regional de reconhecer a legitimidade do sindicato para postular, como
substituto processual, o fornecimento do Laudo Técnico de Condições Ambientais do
Trabalho pela empresa reclamada está em consonância com a jurisprudência desta Corte,
após pronunciamento do STF a respeito do art. 8º, III, da CF, por se tratar de ação que
visa a tutela de direitos e interesses individuais homogêneos, provenientes de causa
comum, que atinge o universo dos trabalhadores substituídos. Agravo de instrumento
conhecido e não provido." ( AIRR - 94540-03.2008.5.04.0332 , Relatora Ministra: Dora
Maria da Costa, Data de Julgamento: 12/05/2010, 8ª Turma, Data de Publicação: 14/05
/2010)

"EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. DECISÃO EMBARGADA


PUBLICADA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.496/2007. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. LEGITIMIDADE. DIREITOS INDIVIDUAIS HETEROGÊNEOS.
PROMOÇÕES POR MERECIMENTO E ANTIGUIDADE. O e. Supremo Tribunal
Federal, ao julgar o processo AGREG-RE-239.477, 2ª T., Rel. Ministro Gilmar Mendes,
DJ 03/11/2010, decidiu pelo reconhecimento da legitimidade ativa ampla do Sindicato
para a -defesa dos interesses individuais da categoria representada-, pautando seu
entendimento no fundamento de que -A jurisprudência desta Corte é pacífica quanto à
ampla legitimidade da entidade sindical para atuar na defesa de todos e quaisquer direitos
subjetivos individuais e coletivos dos integrantes da categoria por eles representada-.
Assim, diante das reiteradas decisões da e. Corte Suprema, tem o Sindicato legitimidade
ativa para pleitear, em juízo, todos e quaisquer direitos dos integrantes da categoria que
representa. Recurso de embargos conhecido e provido.- (E-RR-189700-
51.2004.5.04.0411, Relator Ministro: Horácio Raymundo de Senna Pires, DJ de 09/09
/2011)

Nesta linha de entendimento encontra-se a sentença, não merecendo,


portanto, qualquer reparo. Não há, pois, que se falar em ilegitimidade ativa do Sindicato autor.

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Não vislumbro violações aos artigos 195, § 2º, da CLT, 6º, do CPC e,
tampouco, ao artigo 8, III, da Constituição Federal.

Registre-se que os arestos jurisprudenciais juntados pela recorrente


remontam há mais de 10 anos, estando superados pela jurisprudência atual.

Nego provimento.

CONVENÇÃO COLETIVA. CUMPRIMENTO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.

O juízo originário julgou procedente o pedido do autor e, com base nas


normas coletivas, condenou a ré ao pagamento de salário fixo a todos os seus empregados.

Insatisfeita, a reclamada recorre da decisão alegando equívoco na


interpretação das cláusulas convencionais, que deve ser restritiva e não ampliativa. Defende a tese de que
a previsão de pagamento de salário fixo aos comissionados nada mais é do que a garantia do salário
mínimo, nos comandos das convenções de 2011/2012 e 2012/2013, ou o piso da categoria, nas
convenções de 2013/2014 e 2014/2015, caso o empregado não alcance tal valor a título de comissões.
Alega o cumprimento das convenções, pois seus funcionários jamais receberam valores inferiores ao
salário mínimo.

A sentença recorrida está assim fundamentada:

"A Convenção Coletiva de Trabalho da categoria, em sua cláusula décima primeira,


assegura o recebimento de salário fixo, além das comissões a que fizer jus o empregado.
Como se observa dos contracheques juntados aos autos, a requerida não paga o salário
fixo aos seus empregados comissionistas (IDs 1036bc1, 29b1039, 500c868, 2d3dd03,
3878932, 25a59a1, 2c920dd, 5033fcc, a8306f2, e3d476d, 4d32809, c44b07d, dbe5f16,
845a251, d029aac e 0c2a3ca).

Não existe controvérsia jurisprudencial acerca da aplicação da cláusula normativa em


questão, tendo o demandante colacionado inúmeros julgados, deste e de outros Juízos
trabalhistas, nos quais houve condenação da ré, sendo oportuno destacar que referidas
decisões foram confirmadas em grau de recurso (IDs 0245ffa, a7f409f, 5ae2896,
6d036b6, 99e1917, 9f78594 e cf2f89c).

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Sobre a matéria, podem ser citados os seguintes precedentes jurisprudenciais de nosso


Egrégio TRT da 10ª Região: Primeira Turma, RO 0001930-86.2014.5.10.0801,Relator:
Desembargador Dorival Borges, acórdão publicado em 18/02/2015; Segunda Turma, RO
0000456-80.2014.5.10.0802, Relatora: Desembargadora Elke Doris Just, acórdão
publicado em 12/02/2015; Terceira Turma, RO 0001893-90.2013.5.10.0802, Relator:
Desembargador Ribamar Lima Júnior, acórdão publicado em 03/11/2014.

Destarte, acolho o pedido do autor, e condeno a reclamada a cumprir a citada norma


coletiva, pagando o salário fixo previsto nas Convenções Coletivas de Trabalho da
categoria, bem como reflexos em férias mais 1/3, gratificações natalinas e FGTS, aos
seus empregados e ex-empregados comissionistas que prestam ou prestaram serviço no
Estado do Tocantins.

Por oportuno, ratifico a decisão de ID 4a42487, determinando que a requerida mantenha


o pagamento do salário fixo a seus atuais empregados, sob pena de pagar multa no valor
de R$1.000,00 por mês de descumprimento e por cada empregado atingido (CPC, artigo
461, §4), multa que será revertida ao trabalhador prejudicado, sem prejuízo do salário
fixo a que este fizer jus.

Defiro, ainda, o pleito de pagamento de reflexos do salário fixo em aviso prévio e


indenização de 40% do FGTS para os empregados que, havendo rompimento contratual,
comprovadamente façam jus a essas verbas ou já as tenham recebido.

Diante da comprovação de desrespeito à norma coletiva, defiro o pleito de pagamento da


penalidade prevista na cláusula 38ª da CCT 2014/2015, pela ausência de quitação do
salário fixo devido aos comissionistas, no importe de R$ 150,00 para cada trabalhador
prejudicado no período de vigência da norma (de 01/11/2014 a 31/10/2015).

A obrigação da requerida, conforme postulado na exordial, abrange o cumprimento das


CCTs juntadas aos autos (2011/2015), quanto ao pagamento do salário fixo aos
comissionistas, bem como dos diplomas futuramente celebrados e que tragam a mesma
norma, vedando-se a alteração contratual lesiva ao empregado quanto ao cálculo das
comissões devidas."

A questão trazida a julgamento já foi apreciada pela Egrégia 1ª Turma nos


autos do PJE nº 0001930-86.2014.5.10.0801-ROPS, sob a relatoria deste magistrado, cujo acórdão foi
publicado no DJE em 18/02/2015.

A Cláusula 11ª da CCT/2011/2012 preceitua:

"CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA - DOS COMISSIONADOS

"Aos vendedores, balconistas, demonstradores e comissionados em geral é assegurado


um salário fixo na importância equivalente a 01 (um) salário mínimo vigente em cada
mês, (+) mais comissão a ser negociada entre as partes, anotada na CTPS.

Parágrafo Primeiro - Fica assegurado aos empregados que percebem salário fixo (+) mais
comissões, que o somatório destas parcelas não será inferior a R$680,00 (seiscentos e
oitenta reais)."

Parágrafo Segundo - (...)."

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Tal redação repetiu-se na CCT 2012/2013 e na CCT 2013/2014


atualizando o salário mínimo para R$740,00 e R$792,00.

Por derradeiro, a CCT 2014/2015:

"CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA - DOS COMISSIONADOS

"Aos vendedores, balconistas, demonstradores e comissionados em geral é assegurado


um salário fixo na importância equivalente ao piso mínimo convencionado na Cláusula
3ª no valor de R$820 (oitocentos e vinte reais), vigente em cada mês, (+) mais comissão
a ser negociada entre as partes, anotada na CTPS.

Parágrafo Primeiro - Fica assegurado aos empregados que percebem salário fixo (+) mais
comissões, que o somatório destas parcelas não será inferior a R$870,00 (oitocentos e
setenta reais)."

Parágrafo Segundo - (...)."

O salário mínimo estabelecido para 2014 era R$724,00 e, em 2015,


R$788,00.

A redação da cláusula na CCT 2014/2015 elimina qualquer dúvida quanto


à real intenção dos acordantes, ao estabelecer valores distintos entre o salário base previsto na Cláusula
Terceira, R$820,00, e o salário fixo dos comissionistas, em R$870,00. Esta distinção está presente em
todas as convenções juntadas aos autos.

Não prospera a interpretação restritiva de que a cláusula estaria


assegurando um valor mínimo aos comissionistas, diante da clareza do sinal matemático (+) e da
expressão "mais", a definir sentido de adição e não apenas de superação, isto é, ao salário fixo devem ser
acrescidas as comissões.

Em outras palavras, não se trata da garantia assegurada aos comissionistas


puros de que trata o inciso VII do artigo 7º da Carta Magna: "garantia de salário, nunca inferior ao
mínimo, para os que percebem remuneração variável".

A hipótese dos autos atrai a aplicação do Princípio da norma mais


favorável, pois, induvidosamente as normas coletivas trouxeram aos trabalhadores no comércio no
Estado do Tocantins um plus à norma constitucional.

A sentença recorrida está em conformidade com a linha de entendimento


deste Regional a respeito da matéria, conforme bem demonstra o recorrido em suas contrarrazões:

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Número do processo: 0001714-91.2015.5.10.0801 ID. 7bbf76f - Pág. 9
Número do documento: 16032817023381900000001005995
Fls.: 11

"DIFERENÇAS SALARIAIS. SALÁRIO FIXO E SALÁRIOVARIÁVEL. NÃO-


OBSERVÂNCIA AO COMANDO NORMATIVO. CONSEQUÊNCIAS. Havendo
disposição expressa em CCT, no sentido de assegurar ao empregado o pagamento de
salário fixo acrescido de salário variável, impõe-se a condenação da reclamada ao
pagamento de diferenças salariais quando incontroverso o pagamento, tão somente, de
comissões, sob pena de violação ao que dispõe o artigo 7º, XXVI, da CF/88. Recurso
conhecido e desprovido."(TRT 10ª. 1ª Turma. Rel. DES. GRIJALBO FERNANDES
COUTINHO. RO Pje 0001995-81.2014.5.10.0801. DEJT 27/05/2015).

"TOCANTINS. TRABALHADORES NO COMÉRCIO. SALÁRIO FIXO. PREVISÃO


EM CCT. Havendo previsão em norma coletiva da categoria dos trabalhadores no
comércio do Tocantins que garante ao vendedor o pagamento de salário fixo,
independentemente da parte variável, tem direito a reclamante ao valor respectivo. (TRT
10ª. 2ª Turma. Rel. Des. Elke Doris Just. RO 0000037-94.2013.5.10.0801 PJe. DEJT 17
/02/2014).

"1. VENDEDOR. REMUNERAÇÃO. PARTE FIXA ASSEGURADA EM


CONVENÇÃO COLETIVA. VALOR. PRINCÍPIOS DA NORMA MAIS
FAVORÁVEL E DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA - RECURSO DE AMBAS AS
PARTES. Muito embora a legislação trabalhista preveja a figura do comissionista puro,
se a convenção coletiva assegura ao trabalhador o percebimento também da parte fixa da
remuneração, deverá prevalecer esta última, à luz do princípio da norma mais favorável.
Outrossim, havendo evolução do direito à parte fixa, a partir da CCT 2013/2014,
ampliado para garantir o piso salarial da categoria, este deverá ser observado, em face do
princípio da condição mais benéfica. Recurso da reclamada desprovido e recurso do
reclamante provido no particular para obreiro para declarar que o salário fixo a ser pago,
na vigência da CCT 2013/2014, é aquele correspondente ao piso salarial da categoria. 2.
(...)(TRT 10ª. 3ª Turma. Rel. Des. Ricardo Alencar Machado. RO Pje 0001585-
23.2014.5.10.0801. DEJT 14/11/2014).

Assim, a questão como disposta não merece maiores ponderações,


conquanto extremamente exauridas nas razões de decidir acima transcritas.

Nesse contexto, com esses esclarecimentos, mantenho a sentença


recorrida.

Nego provimento.

DANOS MORAIS INDIVIDUAIS E COLETIVOS.

A recorrente insurge-se contra a condenação ao pagamento de


indenização por danos morais afirmando a inexistência de conduta reiterada, pois entende não ser devido
salário fixo aos empregados contratados como comissionistas puros; alega a ausência de comprovação do
dano, em especial de que o salário fixo seja quantia significativa da renda de tais comissionados,

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Número do documento: 16032817023381900000001005995
Fls.: 12

podendo caracterizar, no máximo, prejuízo de natureza material, mas não ofensas à moral ou à dignidade
dos trabalhadores. Requer a reforma da condenação.

A Exma. Juíza sentenciante assentou sua decisão no "proposital e


reiterado descumprimento da norma coletiva pelo empregador", que impôs e impõe "ao empregado
injusto sofrimento e angústia, diante da privação de significativa parte de sua fonte de subsistência."

Acerca da necessidade probatória, em regra, é necessário comprovar a


conduta, o dano e no nexo causal. Porém, excepcionalmente, em determinadas circunstâncias, o dano
moral é presumido (in re ipsa), prescindindo de prova, o que significa dizer que a dor moral se prova por
si mesma, impondo-se a prova do fato causador do dano.

Não prospera a tese de que o não pagamento do salário fixo aos


empregados é incapaz de causar danos morais e sim, no máximo, danos materiais.

Simples análise das remunerações dos comissionistas puros demonstra


que o salário fixo é parte significativa, sim, da remuneração dos comissionista puros.

Inequivocamente os empregados contratados sob esta forma de


remuneração, isto é, sem o pagamento de parcela fixa, sofrem inúmeros danos psicológicos e físicos, tais
como ansiedade, estresse, depressão, etc., decorrentes da incerteza de qual será a renda obtida para o
sustento da família e para os compromissos relacionados a toda subsistência.

No caso, o dano moral advém do ato ilícito da reclamada que ao longo de


mais de 4 anos, tempo de vigência das Convenções 2011/2015, sonegou reiteradamente o benefício a
toda à coletividade de seus empregados, embasada em interpretação própria e deturpada da norma
coletiva.

Neste contexto, o ato ilícito - o desrespeito às normas coletivas -, está


comprovado, assim como sua capacidade de causar danos morais aos empregados, impondo-se o dever
de reparação.

Recurso desprovido.

VALOR DA INDENIZAÇÃO INDIVIDUAL

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Quanto à questão aqui manifestada, este foi o meu posicionamento


defendido:

A recorrente busca, com amparo na tese do julgamento extra pedido, a


redução do valor das indenizações individuais para R$5.000,00 para cada trabalhador, conforme pedido
do Sindicato, porquanto da forma definida pelo juízo implicará, ao longo de 5 anos, no importe de
R$18.000,00 para cada beneficiado.

A tese do julgamento extra pedido já foi rejeitada no tópico próprio.

O juízo fixou o valor da indenização - "no importe de R$300,00 por mês


laborado (ou fração superior a 15 dias), limitada à duração de 05 anos de contrato".

Ao contrário do alegado pela recorrente, o pedido foi assim apresentado:

"a) indenização por Danos Morais Coletivos que será revertido aos substituídos no
valor sugerido de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) e pagos proporcionalmente aos
trabalhadores comissionados, OU;

Conforme entender o Juízo e de forma alternativa, que a condenação de pagamento de


indenização por danos morais seja arbitrada no valor sugerido de R$ 5.000,00 reais para
cada trabalhador comissionado substituído que laborou e está laborando na Reclamada,
valendo a sentença como título judicial para a execução individual."

Como se vê, não houve deferimento do pedido principal, de


R$500.000,00, que seriam rateados entre os trabalhadores comissionados; tampouco do pedido
alternativo (sugerido) de R$5.000,00 por trabalhador, optando a Juíza sentenciante pela razoabilidade e
ponderação para estabelecer os valores individuais de R$300,00, por cada mês de violação aos direitos
até o limite de 5 anos, critérios bastante favoráveis à recorrente, diga-se de passagem. Registre-se que
nem todos os comissionistas serão indenizados pelos 5 anos, ou seja, as indenizações serão inferiores aos
alegados R$18.000,00, individuais.

Assim posta a decisão recorrida, entendo que a fixação da indenização


atende aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, razão pela qual a mantenho.

Recurso desprovido.

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Entretanto, quanto ao tema, prevaleceu a divergência apresentada


pela Exma. Desembargadora Flávia Simões Falcão, tendo este Relator restado vencido, conforme
fundamentos a seguir transcritos:

"Divergência Parcial

Peço vênia ao Relator para apresentar divergência parcial vez que entendo
que assiste razão à Recorrente.

O Autor pediu a condenação da Ré no pagamento de indenização por


danos morais Coletivos no importe de R$ 500.000,00, os quais deveriam
ser pagos proporcionalmente aos empregados, ou, R$ 5.000,00 para cada
um deles. Além disso, requereu a condenação no pagamento de
indenização de R$ 500.000,00, pela prática de dumping social.

Em que pese os termos do pedido, o Juízo deferiu indenização por danos


morais a cada trabalhador no importe de R$ 300,00 por mês trabalhado,
até o limite de cinco anos. Na prática, salvo engano, considerado o
empregado que tenha laborado os cinco anos, tem-se que esse receberia o
total de R$ 18.000,00, o que extrapola, em muito, o limite fixado na
exordial. Assim, concordo com a afirmação do relator de sentido de que
"quem pode o mais pode o menos", no entanto, no caso, estar-se-ia
deferindo muito mais do que o pedido e não menos, visto que o valor
unitário da indenização fixado em R$ 300,00, o seu deferimento no tempo
acaba por majorá-lo, pela soma dos meses.

Por outro lado, fixou o Juízo indenização por danos coletivos (dumping
social), no importe de R$ 1.000.000,00, ou seja, o dobro do que requerido
pelo Autor. Também aqui, data vênia, considero não haver pedido duplo,
na medida em que, em relação ao dano moral, o pedido foi alternativo,
tendo o Juízo optado por uma das formas indicadas pelo Autor. Assim, se
somados os dois valores há evidente condenação superior àquele
vindicada na inicial.

Pelo exposto, sugiro que a preliminar seja rejeitada e no mérito, seja o


recurso provido para adequar os termos da condenação aos limites do
pedido formulado nas alíneas g. - Danos morais seja arbitrada no valor
sugerido de R$ 5.000,00 reais para cada trabalhador comissionado
substituído que laborou ou está laborando na Reclamada, valendo a
sentença como título judicial para a execução individual e h - Pagar
indenização pela prática identificada de dumping social que será revertida
ao FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador, no valor sugerido de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais)."

Assim, o recurso provido para adequar os termos da condenação aos


limites do pedido formulado nas alíneas g. - Danos morais seja arbitrada no valor sugerido de R$
5.000,00 reais para cada trabalhador comissionado substituído que laborou ou está laborando na
Reclamada, valendo a sentença como título judicial para a execução individual e h - Pagar

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indenização pela prática identificada de dumping social que será revertida ao FAT - Fundo de
Amparo ao Trabalhador, no valor sugerido de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

DANO EXTRAPATRIMONIAL. DUMPING SOCIAL. CARACTERIZAÇÃO

Condenado ao pagamento de indenização reparatória dos danos morais


coletivos, por "dumping social", a ré insurge-se contra a decisão alegando a inexistência nos autos de
prova robusta da existência do ilícito e do dano moral à coletividade, não havendo prova de sua conduta
dolosa ou culpa grave a ensejar tal condenação. Requer a reforma da sentença.

Peço vênia para transcrever os doutos fundamentos expostos pela Exma.


Juíza Suzidarly Ribeiro Teixeira Fernandes, que muito bem discorre sobre o fenômeno do "dumping"
social:

"O demandante sustentou que a reclamada vem praticando 'dumping' social, diante do
"descumprimento reiterado de normas trabalhistas com o escopo de obter vantagens
econômicas", ao não pagar o salário fixo aos seus empregados. Postulou, por isso, o
pagamento de indenização no valor sugerido de R$500.000,00.

Quanto ao dano metaindividual, oportuna a transcrição de trechos do artigo sobre o


tema, publicado na Revista do Ministério Público do Trabalho, vol. 24, ano XII, setembro
/2002, intitulado "Dano moral coletivo: Fundamentos e características", de autoria de
Xisto Tiago de Medeiros Neto:

"A vida em uma sociedade complexa, abrangente e multifacetada, como a atual, torna
imprescindível o desenvolvimento de um regime de responsabilidade civil que tenha
aptidão para prevenir e reparar, amplamente, as variadas modalidades de danos
decorrentes de condutas antijurídicas, que atingem os campos de interesse patrimonial e
moral dos indivíduos e dos grupos. (...) O alargamento da proteção jurídica aos interesses
da essência moral e aos direitos coletivos (lato sensu) veio a significar destacado passo
no processo de valorização plena dos direitos da pessoa, apresentando-se como resposta
às atuais e imperativas demandas da cidadania" (p. 77/79).

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, X, referiu-se a "pessoas", sem imprimir


qualquer distinção, de modo a conferir-lhes a reparação por danos morais. Do mesmo
modo, a norma infraconstitucional aplicável (Lei 8.078/90, art. 6º, VI) também não fez
distinção entre pessoa física e jurídica. Sendo assim, restou pacificado, na doutrina e
jurisprudência atuais, que a coletividade, ainda que ente despersonalizado, pode ser
sujeito passivo do dano moral, por possui valores que merecem ser tutelados, tais como a
dignidade da pessoa humana, o respeito ao cidadão, a ordem, o meio ambiente sadio e a
paz social.

O dano extrapatrimonial difuso se assenta, exatamente, na agressão a bens e valores


jurídicos que são inerentes a toda a coletividade, de forma indivisível.

Essa espécie de lesão é constatada, ainda, quando há comprovação de irregularidades


cometidas pelo empregador, de forma consciente e reiterada. É que a ausência de

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Número do documento: 16032817023381900000001005995
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pagamento de verbas trabalhistas incontestes afeta não só os trabalhadores envolvidos


(não só os que trabalham, mas também os que serão contratados e os que já trabalharam
para a ré) e traz repercussões negativas a estes obreiros e a todas as outras pessoas que
com eles se relacionam - família, amigos, etc, pois, fere o sentimento coletivo de
valorização da vida, de respeito à dignidade da pessoa humana, de sobreposição da
pessoa humana sobre o capital, de observância das normas coletivas pactuadas
democraticamente pelos entes coletivos e de respeito às decisões judiciais exaradas sobre
o tema. In casu, constato que a conduta da ré representa desapreço com tais valores.

A prática da requerida também configura o que se convencionou denominar de dumping


social. O ilustre doutrinador e desembargador Grijalbo Fernandes Coutinho traz
importante lição sobre o tema, in verbis:

O denominado "dumping social" caracteriza-se pela prática de algumas empresas de


suprimir direitos trabalhistas de seus empregados, de forma reiterada e sucessiva, com
vistas a reduzir os custos de produção e, assim, tornarem-se mais competitivas no
mercado, sendo capazes de oferecer seus produtos com preços mais baixos às custas do
trabalhador, que se vê lesado em seus direitos, muitas vezes os mais básicos.

Desse modo, referidas empresas obtêm vantagens indevidas sobre as concorrentes que
cumprem regularmente as suas obrigações trabalhistas.

Acrescento que trata-se de situação percebida pelos juízes trabalhista em sua lida
cotidiana, pela repetição das reclamações contra as mesmas empresas. (Primeira Turma,
RO 0001849-37.2014.5.10.0802, Relator: Desembargador Grijalbo Fernandes Coutinho,
acórdão publicado em 11/03/2015)

Registro, por pertinentes e adequadas ao caso em exame, as lições do professor e Juiz do


Trabalho, Jorge Luiz Souto Maior, que pondera:

Muitas vezes as lesões não têm uma repercussão econômica muito grande e os lesados,
individualmente, não se sentem estimulados a ingressar com ações em juízo e nem
mesmo os entes coletivos dão a tais lesões a devida importância. Outras vezes, mesmo
tendo repercussão econômica palpável, muitos trabalhadores deixam de ingressar em
juízo com medo de não conseguirem novo emprego, pois impera em nossa realidade a
cultura de que mover ação na Justiça é ato de rebeldia. O agressor da ordem jurídica
trabalhista conta, portanto, com o fato conhecido de que nem todos os trabalhadores lhe
acionam na Justiça (na verdade os que o fazem sequer são a maioria). Conta, ainda, com:
o prazo prescricional de 05 (cinco) anos; a possibilidade de acordo (pelo qual acaba
pagando bem menos do que devia); e a demora processual. Assim, mesmo considerando
os juros trabalhistas de 1% ao mês não capitalizados e a correção monetária, não
cumprir, adequadamente, os direitos trabalhistas, tornou-se entre nós uma espécie de
"bom negócio", como já advertira o ex-Presidente do TST, o saudoso ORLANDO
TEIXEIRA DA COSTA.

As agressões ao Direito do Trabalho acabam atingindo uma grande quantidade de


pessoas, sendo que destas agressões o empregador muitas vezes se vale para obter
vantagem na concorrência econômica com relação a vários outros empregadores. Isto
implica, portanto, dano a outros empregadores não identificados que, inadvertidamente,
cumprem a legislação trabalhista, ou que, de certo modo, se vêm forçados a agir da
mesma forma. Resultado: precarização completa das relações sociais, que se baseiam na
lógica do capitalismo de produção.

Óbvio que esta prática traduz-se como "dumping social", que prejudica a toda a
sociedade e óbvio, igualmente, que o aparato judiciário não será nunca suficiente para
dar vazão às inúmeras demandas em que se busca, meramente, a recomposição da ordem
jurídica na perspectiva individual, o que representa um desestímulo para o acesso à
justiça e um incentivo ao descumprimento da ordem jurídica.

Nunca é demais recordar, que descumprir, deliberada e reincidentemente, a legislação


trabalhista, ou mesmo pôr em risco sua efetividade, representa até mesmo um
descomprometimento histórico com a humanidade, haja vista que a formação do direito
do trabalho está ligada diretamente com o advento dos direitos humanos que foram
consagrados, fora do âmbito da perspectiva meramente liberal do Século XIX, a partir do
final da 2ª guerra mundial, pelo reconhecimento de que a concorrência desregrada entre
as potências econômicas conduziu os países à conflagração.

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(...) É de suma importância compreender que com relação às empresas que habitam o
cotidiano das Varas, valendo-se da prática inescrupulosa de agressões aos direitos dos
trabalhadores, para ampliarem seus lucros, a mera aplicação do direito do trabalho,
recompondo-se a ordem jurídica individual, com pagamento de juros e correção
monetária, por óbvio, não compensa o dano experimentado pela sociedade.

(...) Seu propósito é inibir a repetição do ilícito; anular o lucro obtido pelo réu com a
atitude de agressão ao ordenamento; e fazer crer a todos os demais empregadores,
concorrentes do réu, que o respeito à ordem jurídica não lhes representa um prejuízo
concorrencial. (O Dano Social e sua Reparação - artigo publicado em São Paulo em 13/10
/2007, disponível em: nucleotrabalhistacalvet.com.br, citado pelo Desembargador Mário
Macedo Fernandes Caron, relator nos autos do RO 00789-2013-020-10-00-1, acórdão
publicado em 03/07/2014, g.n.).

Por todo o exposto resta evidente a ocorrência de dano coletivo, de cunho


extrapatrimonial, mostrando-se necessária a imposição de penalidade à reclamada."

Termo próprio da área comercial da economia, o dumping define-se


como uma prática comercial que consiste na venda de produtos, mercadorias ou serviços a preços
extraordinariamente baixos, por um tempo, visando prejudicar ou eliminar os concorrentes para, a partir
do domínio do mercado, impor preços altos.

A partir das definições doutrinárias e da análise sociológica das relações


de trabalho, constatou-se que o fenômeno do "dumping" não estava restrito às relações comerciais e
econômicas em sentido estrito, sendo utilizado também na exploração da mão de obra, reduzindo-se o
preço das mercadorias e serviços, não pela diminuição dos custos da matéria-prima ou dos métodos de
produção, mas pela precarização dos valores do trabalho.

Inequivocamente, ao sonegar o direito ao salário fixo assegurado nas


convenções coletivas, a ré causou prejuízos coletivos aos seus trabalhadores e suas famílias.

De igual modo, ao descumprir as convenções coletivas auferiu vantagem


indevida em detrimento das demais empresas concorrentes na sua área de atuação, as quais responderam
pelos vários encargos trabalhistas, previdenciários e fiscais sobre a parte fixa da folha de pagamentos,
encargos a que a ré se isentou.

Esta conduta, muito provavelmente, permitiu-lhe vantagens na fixação


dos preços de seus produtos, em detrimento da concorrência.

Acrescidas esta conclusões à ótima análise e fundamentação exarada na


sentença recorrida, não prospera a tese recursal de ausência de prova dos danos coletivos.

Recurso desprovido.

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DUMPING SOCIAL. VALOR DA INDENIZAÇÃO.

Acerca do valor da indenização, o juízo originário ponderou que "o valor


postulado pelo autor (R$500.000,00) mostra-se demasiadamente modesto, eis que a indenização deve
punir a empresa, mas também servir de medida pedagógica, para que a demandada se abstenha de atuar
de forma irregular", sendo que "há mais de 03 anos a demandada vem sofrendo condenações na Justiça
do Trabalho da 10ª Região, em discussão sobre a mesma cláusula de convenção coletiva, a exemplo do
que ocorreu nos 0003190-72.2012.5.10.0801 (reclamação trabalhista ajuizada em 07/11/2012)" e "as
inúmeras condenações, em 1º e 2º graus, não foram suficientes para convencer a ré a cumprir as normas
livremente pactuadas pelos entes coletivos." Concluiu que "a relutância da reclamada transmite a mais
evidente e clara mensagem da empresa: vale a pena descumprir a legislação trabalhista (autônoma e/ou
heterônoma)!" e que "é vantajoso pagar o que se deve, apenas quando se é processado, já que ficam sem
reparação inúmeras lesões a direito, de empregados que temem perder o emprego e também daqueles
que não se submetem às agruras de uma demanda judicial. Não fosse assim, não haveria porque manter
comportamento tão renitente." Neste quadro, ao amparo da jurisprudência, asseverou que o valor
indicado a título de indenização na inicial é meramente estimativo, não vinculando o juiz, que, com base
no seu juízo de ponderação, poderá fixar valor em patamar superior ou inferior ao postulado, sem que
isto signifique ofensa aos limites da lide. Com base nestes parâmetros fixou a indenização por danos
extrapatrimoniais coletivo no importe de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

A recorrente questiona a decisão afirmando haver violação ao artigo 944


do Código Civil, pois há excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, desrespeito aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Afirma haver afronta ao artigo 460 do CPC/1973,
pois o pedido é de R$500.000,00. Requer, acaso mantida a indenização, a redução a este valor.

A priori, convém salientar que, nos casos em que se constatam danos


materiais, a reparação do dano sofrido é mensurada pela relação direta do valor do bem lesionado, dos
danos emergentes e dos lucros cessantes, acrescidos dos juros e correção monetária. Daí por que utiliza-
se o verbo "indenizar", que significa "tirar o dano", tornar as coisas ao seu estado anterior.

Em se tratando de dano moral, a mensuração do dano é complexa,


porquanto o ato lesivo recai sobre bens imateriais como a liberdade, a igualdade, a sociabilidade e
direitos intimamente relacionados à dignidade da pessoa humana. Assim, não se pode utilizar o verbo
"indenizar", porquanto o dano em si ganhou repercussões ilimitadas no campo físico e no campo
psíquico; utiliza-se o termo abrangente "reparar" ou mais específico "compensar", posto que se pretende
minorar os efeitos lesivos e estancar o dano em sua fonte, no agente.

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A reparação por dano dano moral tem por escopo a compensação do dano
sofrido pela vítima, de atribuir uma sanção ao agente e de prevenir a reiteração de atos que atinjam bens
essenciais e inerentes ao indivíduo.

Concretizada pela imputação de reparação monetária, a grande


dificuldade para o julgador está em definir parâmetros que levem a uma quantia justa, sem perder de
vista que a moralidade não tem preço, inexistindo valor em espécie capaz de reparar ofensas à dignidade
da pessoa humana. Não é outra a razão pela qual a reparação por danos morais tem suporte na concepção
de que o pagamento não é satisfatório, mas busca minorar os efeitos destrutivos da conduta imprópria do
agente lesante.

Neste mister a legislação infraconstitucional é omissa, pois não define


critérios objetivos para a fixação de um patamar mínimo e máximo na mensuração do dano moral.

A doutrina aponta diretrizes para a fixação do quantum indenizatório,


entre elas: a)a extensão do dano; b) o porte econômico do agente; c) o porte econômico da vítima; d) o
grau de reprovabilidade da conduta; e e) o grau de culpabilidade do agente.

A oscilação inicial da jurisprudência trabalhista, ora arbitrando valores


irrisórios, ora estipulando valores elevados, foi superada, predominando hoje, infelizmente, montantes
que não reparam os danos e, muitas vezes, nem sequer atendem o pressuposto pedagógico da reparação.

Nos países ditos "desenvolvidos", a fixação de altos valores monetários


contribuiu para a efetividade do respeito aos direitos da personalidade do homem, satisfazendo a dupla
função da reparação - atingir o patrimônio do ofensor e demonstrar a este e à sociedade que o desrespeito
a estes direitos será duramente repelido. Contudo, predomina no Judiciário a fixação de valores mais
modestos, com vistas a evitar o "enriquecimento ilícito".

Além de observados os parâmetros que auxiliam a definição da


indenização - extensão do dano, o porte econômico do agente e da vítima, os graus de reprovabilidade da
conduta de culpabilidade do agente, a discricionariedade do julgador deve pautar-se, também, pelos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na fixação dos valores indenizatórios.

Neste mister, não tem aplicação alguma o princípio da vedação do


enriquecimento ilícito, pois a indenização preconizada na Constituição Federal e, em especial, no artigo
927 do Código Civil tem por pressuposto inarredável a caracterização de ato ilícito.

Ora, data venia, não se pode concluir que a reparação fixada em valor
vultoso possa caracterizar enriquecimento ilícito se este somente ocorre quando não há justa causa ou a

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justa causa que o justificava deixou de existir. Nas reparações por danos morais há inequívoca
justificativa para tanto, ou seja, a prática de ato ilícito por terceiro.

Há que se atentar, também, para a fragilidade da adoção da remuneração


do empregado para a fixação dos valores compensatórios, pois, regra geral, é flagrante o descompasso
entre o porte econômico do empregador e do empregado, além da possibilidade de propiciar indenizações
díspares para situações idênticas. Exemplificadamente, se o proprietário de uma empresa pratica a mesma
conduta ilícita com dois empregados, um ocupante da função de auxiliar e outro da função de diretor, o
critério salarial irá implicar indenizações diversas para o mesmo fato. De outro modo, poderá significar
compensação irrisória se não se levar em conta o porte econômico do empregador, o que ocorreria no
litígio entre um operador de telefonia e uma empresa multinacional operadora de telefonia, por exemplo.

A respeito do tema, ensina HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

"O juiz, em cujas mãos o sistema jurídico brasileiro deposita a responsabilidade pela
fixação do valor da reparação do dano moral, deverá fazê-lo de modo impositivo,
levando em conta o binômio "possibilidades do lesante" - "condições do lesado";
cotejado sempre com as particularidades circunstanciais do fato danoso, tudo com o
objetivo de alcançar: a) um "valor adequado ao lesado, pelo vexame, ou pelo
constrangimento experimentado"; b) uma "compensação" razoável e equitativa não para
"apagar os efeitos da lesão, mas para reparar os danos" (...), "sendo certo que não se deve
cogitar de mensuração do sofrimento, ou da prova da dor, exatamente porque esses
sentimentos estão ínsitos no espírito humano'. Dentro desta ótica, não se deve impor uma
indenização que ultrapasse, evidentemente, a capacidade econômica do agente, levando-
o à ruína. Se a função da reparação do dano moral é o restabelecimento do "equilíbrio
nas relações privadas", a meta não seria alcançada, quando a reparação desse consolo
espiritual à vítima fosse à custa da desgraça imposta ao agente. Não se pode, como
preconiza a sabedoria popular "vestir um santo desvestindo outro". Da mesma maneira,
não se pode arbitrar a indenização sem um juízo ético de valoração da gravidade do
dano, a ser feito dentro do quadro circunstancial do fato e, principalmente, das condições
da vítima. O valor da reparação terá de ser "equilibrado", por meio da prudência do juiz.
Não se deve arbitrar uma indenização pífia nem exorbitante diante da expressão ética do
interesse em jogo, tampouco se pode ignorar a situação econômico social de quem vai
receber a reparação, pois jamais se deverá transformar a sanção civil em fonte pura e
simples de enriquecimento sem causa". (in "Dano Moral", 2ª Edição, Editora Juarez de
Oliveira, São Paulo, 1999, páginas 47/48).

Em síntese, o julgador, utilizando-se da razoabilidade, deve considerar


parâmetros como a gravidade do dano causado pelo empregador, pelos seus prepostos ou pelas suas
normas e diretrizes e a intensidade do sofrimento infligido ao lesado, bem como a capacidade econômica
de ambos, para que se estabeleça um parâmetro razoável à indenização, de modo que esta efetivamente
sirva de compensação ao lesado e de desestímulo ao agente causador do dano.

Neste contexto, sem embargo da autonomia do juiz para a fixação do


valor indenizatório, pois o legislador a ele atribuiu esta tarefa ao não fixar qualquer parâmetro às
indenizações, considerado a extensão do dano, a capacidade econômica da ré e, principalmente, a

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ineficácia das indenizações deferidas em inúmeros processos individuais como instrumento de


ajustamento da conduta à legislação protetora do trabalho, mostra-se razoável o valor de R$1.000.000,00,
fixados pelo juízo de origem.

Porém, considerando os parâmetros indenizatórios adotados pela Egrégia


Primeira Turma e o pedido expresso do autor, reduzo a indenização por danos morais coletivos para o
valor de R$500.000,00 (quinhentos mil reais).

Recurso parcialmente provido.

EMBARGOS DECLARATÓRIOS. MULTA.

Por entender protelatórios os embargos declaratórios, o juízo de origem


aplicou multa à ré.

Examinada a petição respectiva, constata-se que os temas ali descritos


poderiam ser discutidos em grau de recurso, porquanto o juízo não poderia reverter aquilo que já fora
julgado.

Ainda que se veja caráter protelatório no manejo dos embargos, o próprio


rigor dos tribunais no exame do que é ou não devolvido impele as partes a se assegurarem de que a
matéria será objeto de reexame. É o que exigem os itens II e III da Súmula 297 do TST.

Assim sendo, afasto a multa aplicada.

Recurso provido, no particular.

OBRIGAÇÕES. TERMO FINAL.

A recorrente requer a reforma da sentença sob o aspecto da


temporalidade, isto é, quanto ao tempo pelo qual essas obrigações e multas serão exigíveis.

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A ré não aponta quais seriam os comandos que se propagam no tempo e,


examinada a sentença, nada se encontra, pois a obrigação mais prolongada estabeleceu o termo final de 5
(cinco) anos, havendo apenas previsão de extensão após 2015 para o caso de as futuras normas coletiva
reprisarem a mesma cláusula que assegura a percepção de salário fixo.

Recurso desprovido.

PREQUESTIONAMENTO

Nos termos da Súmula 397, I, do TST, "diz-se prequestionada a matéria


ou questão quando na decisão impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito". À luz
deste entendimento, todos os dispositivos legais relacionados às matérias discutidas no recurso estão
devidamente prequestionadas, satisfazendo-se, assim, a pretensão da recorrente.

VALOR DA CONDENAÇÃO

Tendo em vista as alterações supra, fixo as custas processuais em


R$10.000,00, calculadas sobre R$500.000,00, valor arbitrado à condenação,

Conclusão do recurso

Em face do exposto, conheço do recurso ordinário, rejeito as preliminares


de nulidade e julgamento extra pedido e, no mérito, dou-lhe parcial provimento para excluir da
condenação o pagamento da multa dos embargos declaratórios e para adequar os termos da condenação
aos limites do pedido formulado nas alíneas G - Danos morais seja arbitrada no valor sugerido de R$
5.000,00 reais para cada trabalhador comissionado substituído que laborou ou está laborando na
Reclamada, valendo a sentença como título judicial para a execução individual e H - Pagar indenização
pela prática identificada de dumping social que será revertida ao FAT - Fundo de Amparo ao
Trabalhador, no valor sugerido de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

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Fixar as custas processuais em R$10.000,00, calculadas sobre


R$500.000,00, valor arbitrado à condenação, pela reclamada, nos termos da fundamentação.

ACÓRDÃO

Por tais fundamentos,

ACORDAMos Desembargadores da Primeira Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da Décima Região, por unanimidade aprovar o relatório, conhecer do recurso
ordinário, rejeitar as preliminares de nulidade e julgamento extra pedido e, no mérito, por maioria, dar-
lhe parcial provimento para excluir da condenação o pagamento da multa dos embargos declaratórios e
para adequar os termos da condenação aos limites do pedido formulado nas alíneas G - Danos morais
seja arbitrada no valor sugerido de R$ 5.000,00 reais para cada trabalhador comissionado substituído que
laborou ou está laborando na Reclamada, valendo a sentença como título judicial para a execução
individual e H - Pagar indenização pela prática identificada de dumping social que será revertida ao FAT
- Fundo de Amparo ao Trabalhador, no valor sugerido de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Resultado obtido com voto de desempate do Desembargador André Damasceno. Vencidos, parcialmente
os Desembargadores Relator e Revisor quanto ao valor da indenização. Fixar as custas processuais em
R$10.000,00, calculadas sobre R$500.000,00, valor arbitrado à condenação, pela reclamada. Tudo nos
termos do voto do Desembargador Relator, que restou parcialmente vencido. Ementa aprovada.

DORIVAL BORGES
Desembargador Relator

DECLARAÇÃO DE VOTO

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