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AUTOS: 0006371-58.2018.8.16.

0056
RECLAMANTE: ROSELENE PASCHUETTO
RECLAMADOS: TELEFÔNICA BRASIL S.A.

PROJETO DE SENTENÇA

I. RELATÓRIO
Dispensado nos termos do artigo 38 da Lei 9.099/95.

II. FUNDAMENTAÇÃO
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor
Aplica-se, in casu, o contido no Código de Defesa do Consumidor, haja
vista que se trata de relação de consumo. Deve-se considerar que o CDC traz normas de
ordem pública e interesse social (artigo 1º), em atenção ao mandamento constitucional
exposto no artigo 5º, XXXII, CF, direito fundamental do cidadão. Por tal razão, a
incidência da legislação consumerista pode ser analisada de ofício e a qualquer tempo
pelo Magistrado.
Analisando detidamente os autos, conclui-se que as partes qualificam-se
como consumidor e fornecedor, formando uma relação de consumo.
A parte reclamante é destinatária final e usuária do serviço prestado pelo
reclamado, amoldando-se, por certo, ao conceito de consumidor exposto no artigo 2º do
mesmo diploma legal. Sendo assim, reconheço a relação de consumo entre as partes.
Julgamento antecipado
Inicialmente, cabe ressaltar que o presente feito comporta julgamento
antecipado, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil de 2015, porquanto
as provas trazidas aos autos são suficientes para o julgamento da lide. Ademais, o
magistrado como destinatário da prova, tem o dever de indeferir as diligências inúteis
ou protelatórias (art. 370, parágrafo único, do CPC), garantindo, assim a razoável
duração do processo (arts. 5°, LXXVIII, da CF e 4° e 6° do CPC).

PRELIMINARES
Da necessidade de suspensão do processo determinada pelo STJ (Resp
1525134/RS E Resp 1525174/RS)
Quanto ao Resp 1525134/RS verifico que a sua afetação foi revogada.
Ainda, quanto ao Resp 1525174/RS verifico que se trata de matéria diversa dos
presentes autos.
Portanto, afasto a preliminar aventada.
MÉRITO
Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito cumulada com
indenização por danos morais e pedido de tutela de urgência de ROSELENE
PASCHUETTO em face de TELEFÔNICA BRASIL S.A.
O ponto controvertido nos autos reside nas supostas cobranças indevidas nas
faturas telefônicas da autora.
A reclamante alega que apesar de ter contratado um plano junto a ré no
valor de R$76,99, vem sendo cobrada indevidamente no valor de R$199,93.
Considerando a inversão do ônus da prova já decretada nesses autos, é dever
da ré proceder com a comprovação da contratação, bem como em quais termos essa se
deu.
Entretanto, a ré não juntou qualquer prova nesse sentido, apesar de ter sido
intimada especificamente para tal ato (seq.46.1). Deveria a ré ter instruído o processo
com a gravação telefônica da contratação a fim de comprovar os termos da contratação.
São práticas comerciais abusivas todas as condutas tendentes a ampliar a
vulnerabilidade do consumidor. O comportamento do fornecedor tanto na esfera
contratual quanto à margam dela, abusam da boa-fé e da situação de inferioridade
econômica/técnica do consumidor.
Ao cobrar valor a mais e não comprovar os termos da contratação, o
reclamado age em desconformidade com os padrões mercadológicos de boa conduta e
demonstra uma tentativa de agravar o desequilíbrio da relação jurídica com o
consumidor, impondo sua superioridade e vontade, que se traduz na eliminação do
direito do consumidor.
A preocupação central do código de defesa do consumidor é a de
proporcionar o equilíbrio da relação de consumo, a partir do reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor, estabelecendo uma série de normas protéticas que
buscam equilibrar a relação de consumo.
Uma das mais importantes finalidades do código de defesa do consumidor é
a prevalência da boa-fé objetiva, a fim de evitar que o fornecedor abuse de sua
preponderância técnica, jurídica e econômica, importando ao consumidor condições
injustas de contratação. É “um conjunto de padrões éticos de comportamento, aferíveis
objetivamente, que devem ser seguidos pelas partes contratante (...)”. (GARCIA,
Leonardo de Medeiros. Direito do consumidor: código comentado e jurisprudência, op.
Cit., p. 46.). Consubstancia, portanto, no dever de lealmente e confiança que precisa ser
buscado em todas as fases da relação comercial, principalmente analisando a
vulnerabilidade do consumidor.
A parte fornecedora, em nenhum momento buscou demonstrar suas
alegações por meio de prova, não contribuindo para a estabilidade da relação de
consumo em comento. Ficou demonstrado o desinteresse do reclamado em atender as
necessidades do reclamante, configurando a quebra dos princípios de boa-fé e lealdade
que devem nortear essas relações.

Dessa forma, considero que a ré não se desincumbiu com o seu ônus


probatório e as alegações da autora devem prosperar.
Portanto, o pedido para que seja cobrado o valor contratado no valor de
R$76,99 deve prosperar.

Do dano moral
De acordo com o ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira, o dano moral
é: “qualquer sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária e abrange
todo o atentado à sua segurança e tranquilidade, ao seu amor-próprio estético, à
integridade de sua inteligência, à suas afeições, etc...” (Responsabilidade Civil. 8ª ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 54).
Nas palavras de Sergio Cavalieri Filho: “só deve ser reputado como dano
moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições,
angústias e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto,
além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre
os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a
ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo”.
Já no escólio de Yussef Said Cahali, dano moral é “tudo aquilo que molesta
gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à
sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado” (Dano moral,
2ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1998, p. 20).
Portanto, verifica-se que o dano moral tem origem numa lesão que atinge a
essência do ser humano, capaz de lhe causar sofrimento, humilhação, vexame, angústia,
dor (inclusive física) e, portanto, torna-se de difícil valoração pecuniária.
Os simples transtornos e aborrecimentos da vida social, embora
desagradáveis, não têm relevância suficiente, por si sós, para caracterizarem um dano
moral. Deve-se avaliar, no caso concreto, a extensão do fato e suas consequências para a
pessoa, para que se possa verificar a ocorrência efetiva de um dano moral.
Nesse Sentido o Superior Tribunal de Justiça: “É certo que o mero dissabor
não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que
exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no
espírito de quem ela se dirige.” (Recurso Especial n.º 215.666/RJ, j. 21.06.01, Min.
Relator Cesar Asfor Rocha, 4ª Turma.)
Dessa forma, entendo que as cobranças indevidas, somadas as constantes
falhas na prestação dos serviços, que, inclusive, foram objeto de apontamento pela
própria ré no e-mail destacado na sequência nº 61.1, são capazes de gerar dano moral.
Frente aos elementos citados, justa é a fixação do valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), que considero suficiente para amenizar o prejuízo, constituindo um
lenitivo aos fatos e, também, o valor não é tão pequeno que não alcance os fins de
prevenção e repressão.

III. DISPOSITIVO

Por todo o exposto e pelo que consta nos autos, com fulcro nos artigos 5º e
6º da Lei 9.099/95, bem como no art. 487, I do CPC, no mérito, JULGO
PROCEDENTE o pedido para:

1. Declarar que o valor correto a ser cobrados pelo pacote de serviços


contratados é de R$76,99 (setenta e seis reais e noventa e nove centavos)
e, ainda, que tal valor deverá ficar vigente por até 12 meses a partir da
contratação;
2. Condenar a reclamada ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) à
título de indenização por danos morais pela inscrição indevida, corrigido
monetariamente pelo INPC a contar a partir da presente data e
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação (Enunciado
das Turmas Recursais Nº12.13 A e B).
3. Fica desde já autorizado o levantamento pela parte ré dos valores
depositados pela autora.

Sem custas nem honorários nesta fase (artigo 55 da Lei 9.099/95).

Nos termos do artigo 40 da Lei 9.099/95, submeta-se a decisão à apreciação


da juíza togada para homologação.

Cambé, datado e assinado digitalmente.

Gregory Tonin Maldonado

Juiz Leigo

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