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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.19.015961-6/001 Númeração 5000742-


Relator: Des.(a) Valdez Leite Machado
Relator do Acordão: Des.(a) Valdez Leite Machado
Data do Julgamento: 04/07/2019
Data da Publicação: 05/07/2019

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ACIDENTE NA


PISCINA DE CLUBE - AUSÊNCIA DE MANUTENÇÃO - LESÕES FÍSICAS -
DANOS MORAIS CONFIGURADOS - DEVER DE INDENIZAR - FIXAÇÃO
DO 'QUANTUM' - RAZOABILIDADE.

- Verificando-se que houve evidente descumprimento das normas básicas de


segurança pela demandada, que deixou de realizar a manutenção adequada
na piscina, causando acidente que ocasionou lesões físicas ao autor, o dever
de indenizar é medida que se impõe.

- Na fixação da reparação por dano moral, incumbe ao julgador, ponderando


as condições do ofensor, do ofendido, do bem jurídico lesado e aos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade, arbitrar o valor da
indenização que se preste à suficiente recomposição dos prejuízos, sem
importar enriquecimento sem causa da parte.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.19.015961-6/001 - COMARCA DE TIMÓTEO -


APELANTE(S): ALCIDES FERREIRA BASILIO - APELADO(A)(S):
ASSOCIACAO DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE TIMOTEO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. VALDEZ LEITE MACHADO

RELATOR.

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DES. VALDEZ LEITE MACHADO (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a sentença (doc.


ordem 97) proferida pelo MM. Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Timóteo,
nos autos de uma ação de indenização por danos morais c/c obrigação de
fazer manejada por Alcides Ferreira Basílio em face de Associação dos
Aposentados e Pensionistas de Timóteo - AAPT, que julgou parcialmente
procedentes os pedidos iniciais, condenando a requerida a fornecer ao autor
40 (quarenta) sessões de fisioterapia, relativas ao tratamento das sequelas
sofridas em decorrência do acidente narrado nos autos, sob pena de
imposição de multa diária de R$500,00 (quinhentos reais), limitada a R$
50.000,00 (cinquenta mil reais), em caso de descumprimento imotivado.

Consubstanciando seu inconformismo nas razões constantes no doc. de


ordem 97, busca o autor a reforma da sentença, afirmando que o acidente
sofrido por ele nas dependências do clube apelado geraram danos morais
passíveis de indenização.

A apelada, devidamente intimada, apresentou contrarrazões (doc. ordem


99), batendo-se pela manutenção da sentença.

É o relatório em resumo.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Inicialmente, observo que o autor ajuizou a presente ação

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afirmando que é sócio do clube réu, e que em outubro de 2016, ao adentrar


na piscina, sofreu um corte em seu pé esquerdo, atingindo seu calcanhar,
sendo que tal acidente se deu em razão da conduta negligente do réu, que
ao retirar os corrimãos das escadas da piscina deixou alguns pedaços, os
quais foram se enferrujando com o passar do tempo. Assim, busca
indenização pelos danos morais e materiais sofridos.

Os pedidos foram julgados parcialmente procedentes, e a meu ver,


merece reparo a decisão de origem.

Relativamente ao dano moral, não se pode olvidar que a Constituição


Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X, normatizou, de forma expressa, que
são invioláveis a intimidade, a vida privada e a honra e a imagem das
pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.

Trata-se de previsão inserida no Título dos Direitos e Garantias


Fundamentais, ou seja, os bens jurídicos ali referidos são cruciais para o
desenvolvimento do Estado Democrático.

Corolário, os bens jurídicos protegidos no artigo 5º e a reparação por


danos morais não são elementos isolados na Constituição Federal, mas
conectados, por exemplo, com o princípio da dignidade humana, previsto no
artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal e que foi definida assim por Ingo
Wolfgang Sarlet:

"Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade


intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor
do mesmo respeito e consideração por parte do estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais
que assegurem a pessoa tanto contra todo o qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar a promover
sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e
da vida em comunhão com os demais seres humanos." (in "Dignidade da
Pessoa Humana e Direitos

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Fundamentais". Porto Alegre: Livraria do Advogado, 4ª ed. 2006, p. 60).

De qualquer sorte, apenas se deve considerar como dano moral a dor,


vexame, sofrimento ou humilhação que foge à normalidade, situação a ser
verificada conforme a equidade, atentando-se para os próprios fins sociais a
que se dirige a normatização da indenização e as exigências do bem comum
(artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil).

No caso dos autos, o dano moral resta comprovado pelos transtornos e


incômodos causado pelas lesões físicas sofridas pelo autor, que não se
tratou de um simples corte, tendo em vista que foi necessária, inclusive, a
realização de muitas sessões de fisioterapia.

Trata-se, pois, de dano moral 'in re ipsa', porquanto despicienda a


comprovação do prejuízo psicológico, pois evidente o abalo decorrente do
infortúnio narrado, ou seja, o abalo decorre da própria lesão física infligida ao
autor, decorrente da estrutura com falta de manutenção e, por consequência,
sem a devida segurança adequada no estabelecimento da demandada.

A propósito:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS. QUEDA DURANTE EVENTO FESTIVO
PROMOVIDO PELO CLUBE RECREATIVO DEMANDADO. FRATURA DO
BRAÇO ESQUERDO. NECESSIDADE DE REALIZAR CIRURGIA.
ACIDENTE DE CONSUMO. INCOLUMIDADE FÍSICO-PSÍQUICA DO
CONSUMIDOR. FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS. DANO
MORAL 'IN RE IPSA'. Independem de prova os danos morais 'in re ipsa', que
resultam da lesão corporal que exigiu longo período de tratamento para
recuperação. ARBITRAMENTO DO 'QUANTUM' INDENIZATÓRIO.

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EXTENSÃO DOS DANOS FÍSICOS. PRINCÍPIO DA


PROPORCIONALIDADE. LESÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE.
IMPUGNAÇÃO INCONVINCENTE. Montante da indenização mantido, pois
fixado em atenção aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade, bem
assim às peculiaridades do caso concreto. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA. REDEFINIÇÃO. Proferida sentença
condenatória, a verba honorária de sucumbência deve observar o § 3º do art.
20 do CPC. Fixação da verba de patrocínio em 15% sobre o valor da
condenação. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº
70064373897, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 29/06/2016)

No que tange à quantificação do dano moral, há muito se tem dito que tal
estimativa é dotada de dificuldades, o que não afasta o reconhecimento do
direito.

Sobre o arbitramento do dano moral, leciona Arnaldo Rizzardo:

"Ao arbitrar o montante da reparação, o órgão judiciário deverá levar em


conta que a indenização por dano moral visa duplo objetivo. O fulcro do
conceito ressarcitório acha-se deslocado para a convergência de duas
forças: 'caráter punitivo', para que o causador do dano, pelo fato da
condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o 'caráter
ressarcitório' para a vítima, que receberá uma soma que lhe proporcione
prazeres como contrapartida do mal sofrido (...)" (in "Responsabilidade Civil",
Rio de Janeiro, Forense, p. 62).

Parece crível, assim, a necessidade de utilizar o parâmetro da


proporcionalidade, seja sobre o ponto de vista da proibição do excesso ou da
proibição da insuficiência. Logo, não se pode fixar um valor deficiente, em
termos de satisfação da vítima e punitivo para o

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agente causador, bem como não há como ser excessivo de modo a aniquilar
os bens e valores contrários.

No caso concreto, partindo de todos os elementos considerados, entendo


que a importância deve ser fixada em R$10.000,00, montante que,
considerando as particularidades do caso, mostra-se adequado à finalidade
reparatória, não significando, por outro lado, um enriquecimento sem causa,
mas tendo como objetivo e efeito a punição do ofensor, de forma a dissuadi-
lo da prática de nova conduta ilícita.

Diante do exposto, dou provimento ao recurso, julgando totalmente


procedentes os pedidos iniciais, para condenar a ré ao pagamento de
indenização a título de danos morais no importe de R$10.000,00,
devidamente corrigidos pelos índices da CGJ/MG a partir da publicação
deste acórdão e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, contados da
citação.

Condeno a ré ao pagamento das custas e honorários, inclusive recursais,


que fixo em 15% sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, §§1º, 2º e 11
do CPC.

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. CLÁUDIA MAIA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: DERAM PROVIMENTO AO RECURSO.

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