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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 5003269-10.2016.8.13.0245


em 27/04/2021 02:22:56 por TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS
Documento assinado por:

- MAURICIO LOUREDO FROIS

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ID do documento: 3268721459
Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

<CABBCAADDAABCCBCABBCDBAACACADBBADCAAADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA
DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - NEGATIVAÇÃO
INDEVIDA - DANO MORAL "IN RE IPSA" – EXISTÊNCIA DE
OUTRAS INSCRIÇÕES PRETÉRITAS - INDENIZAÇÃO INDEVIDA –
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA "REFORMATIO IN PEJUS" - A inscrição
em cadastro de devedores por cobrança indevida configura ato ilícito
apto a ensejar a condenação ao pagamento de indenização por danos
morais. – No entanto, como é cediço, a existência de outras inscrições
não impugnadas afasta a reparação pecuniária, conforme entendimento
consagrado pelo STJ na Súmula 385. - Em conformidade com o princípio
da “non reformatio in pejus”, o que é submetido ao Tribunal pelo efeito
devolutivo não pode ser modificado a ponto de prejudicar a parte
apelante.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.21.013970-5/001 - COMARCA DE SANTA LUZIA - APELANTE(S): LUIS FERNANDO
BARBOSA FARIA - APELADO(A)(S): BRADESCO SA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DESA. SHIRLEY FENZI BERTÃO


RELATORA.

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Número Verificador: 100002101397050012021333530


Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

DESA. SHIRLEY FENZI BERTÃO (RELATORA)

VOTO

Trata-se de apelação interposta por LUÍS FERNANDO


BARBOSA contra a sentença (doc. 63), proferida pelo MM. Juiz de
Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Santa Luzia/MG que, nos
autos da ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização
por danos morais, ajuizada em face de BANCO BRADESCO S/A,
resolveu a lide nos seguintes termos:
“Ao exposto, com fundamento no artigo 487, I, do
Código de Processo Civil, julgo parcialmente
procedente o pedido para:
a) Declarar nula e, portanto, indevida a cobrança
discutida na presente, confirmando a liminar deferida.
b) Condenar a ré a pagar ao autor, a título de danos
morais, a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
valor esse devidamente corrigido a partir desta data
até o efetivo pagamento, com base na Tabela da
Corregedoria Geral de Justiça, acrescidos de juros de
mora de 1% (um por cento) ao mês, nos termos do
artigo 406 do Código Civil.
Condeno a ré ao pagamento das custas processuais
e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre
o valor da condenação, o que faço embasada no
artigo 85, § 2º, do Novo Código de Processo Civil.”

Aduz, a apelante, em suas razões recursais (doc. 67), em


síntese, que o valor arbitrado a título de indenização por danos morais
encontra-se aquém do necessário para compensar os dissabores que
lhe foram infligidos. Assim, requer a majoração da quantia fixada.
Ausente o preparo por litigar, o recorrente, amparado pelos
benefícios da gratuidade de justiça.
Contrarrazões pelo apelado (doc. 80), pugnando pelo
desprovimento do recurso.
É o relatório.

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Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do


recurso.
Depreende-se, da análise dos autos, que a autora, LUÍS
FERNANDO BARBOSA, ajuizou a presente ação alegando que seu
nome fora indevidamente incluído nos cadastros de órgãos restritivos
de crédito por BANCO BRADESCO S/A.
Assevera que a requerida não lhe apresentou o que estava
sendo cobrado, bem como não lhe informou a origem do débito.
Assim, requereu a declaração da inexistência do débito e a
exclusão de seu nome dos cadastros restritivos de crédito. Ademais,
pugnou pela condenação do requerido ao pagamento de indenização
por danos morais.
O magistrado de primeiro grau entendeu por bem julgar
procedentes os pedidos iniciais para declarar inexistente o débito
impugnado na exordial, bem como condenar o réu ao pagamento de
indenização por danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais).
Inconformada, o autor aviou recurso de apelação, alegando, em
suas razões recursais, em síntese, que o valor arbitrado a título de
indenização por danos morais encontra-se aquém do necessário para
compensar os dissabores que lhe foram infligidos. Assim, requereu a
majoração da quantia fixada.
Pois bem.
Quanto ao dano extrapatrimonial, tem-se que a responsabilidade
do agente causador do dano moral opera-se por força do simples fato
da violação. Assim, verificado o evento danoso, surge a necessidade
da reparação, não havendo que se cogitar da prova do prejuízo se
presentes os pressupostos legais para que haja a responsabilidade
civil.
Já afirmava RUDOLF VON IHERING a respeito do dano moral:

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Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

“O ofendido ou vítima deve receber não pelas perdas


materiais, senão, também, pelas restrições
ocasionadas em seu bem-estar ou em suas
conveniências, pelas incomodidades, pelas agitações,
pelos vexames” (in Dano Moral e sua Reparação, de
Augusto Zenun, 2ª ed., Forense, p. 132).

Com efeito, a simples negativação injusta do nome de alguém


no cadastro de devedores é, por si, suficiente para gerar dano moral
reparável, independentemente de comprovação específica do mesmo,
visto que o dano em tais casos é presumido.
No entanto, como é cediço, a existência de outras inscrições
afasta a reparação pecuniária, conforme entendimento consagrado
pelo STJ, Súmula 385:

"Da anotação irregular em cadastro de proteção ao


crédito, não cabe indenização por dano moral quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento"

Neste sentido, os documentos de ordem 08 e 76 indicam que


além do débito discutido nos presentes autos, o autor possui outras
inscrições negativas relativas a títulos diversos.
Veja-se, assim, que, existindo outra restrição creditícia,
preexistente e concomitante, mesmo se a requerida não houvesse
inscrito o débito discutido na inicial, ainda sim o nome do autor estaria
negativado, restando afastado, pois, o dever de indenizar.
Coadunando com esse entendimento, colaciono as seguintes
jurisprudências:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE


INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS - RELAÇÃO JURÍDICA NÃO

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Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

COMPROVADA - INCLUSÃO INDEVIDA NOS


ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO -
ANOTAÇÕES PREEXISTENTES - DANO MORAL
INEXISTENTE. É ônus do fornecedor comprovar a
regularidade da dívida que deu origem à inscrição nos
cadastros de proteção ao crédito, sendo insuficiente a
juntada de documento unilateral. - O Superior Tribunal
de Justiça reconhece a inexistência de danos morais
quando da verificação de dívidas preexistentes no
nome do consumidor, entendimento este
consubstanciado na Súmula 385 do STJ. (TJMG -
Apelação Cível 1.0261.18.010576-7/001, Relator(a):
Des.(a) Jaqueline Calábria Albuquerque , 10ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 04/02/2020,
publicação da súmula em 14/02/2020)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO -
INSCRIÇÃO PREEXISTENTE - SÚMULA 385 DO
STJ - APLICAÇÃO AOS CASOS ENVOLVENDO O
CREDOR - PRECEDENTE DO STJ - RESP.
1.386.424/MG - DISCUSSÃO DA OUTRA
INSCRIÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVA -
INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL.
- Havendo inscrição anterior em nome do devedor,
inexistem danos morais a serem indenizados,
porquanto uma inscrição a mais em seu prontuário
não aumenta seu descrédito perante terceiros, bem
como não lhe ofende a honra que já está
comprometida, conforme entendimento sedimentado
na súmula 385 do STJ.
- Logo, deixando o suposto devedor de comprovar o
questionamento da outra inscrição, é indevida a
indenização por danos morais. (TJMG - Apelação
Cível 1.0000.19.153444-5/001, Relator(a): Des.(a)
Roberto Apolinário de Castro (JD Convocado) , 10ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/01/2020,
publicação da súmula em 04/02/2020)

Vale ressaltar ainda que, muito embora o autor/apelante tenha


apresentado documento indicando o ajuizamento de ação contra os
supostos credores que promoveram as anotações restritivas
preexistentes (docs. 19/22), não comprovou que tais inscrições tenham
sido reconhecidas, por sentença, como indevidas.

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Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

Pelo contrário, em consulta ao andamento processual da


demanda nº 5000203-22.2016.8.13.0245 verifica-se o desfecho ali
imprimido foi desfavorável ao autor.
Assim, entendo indevida a condenação do réu à compensação
por danos morais, não havendo que se falar, por conseguinte, na
majoração do valor arbitrado pelo magistrado de primeiro grau.
Todavia, em observância ao princípio da non reformatio in pejus,
mantenho a condenação ao pagamento de indenização por danos
morais.
Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO para
manter inalterada a r. sentença combatida.
Como consectário, condeno o apelante ao pagamento das
custas recursais, bem como dos honorários advocatícios, ora
majorados de 10% para 12% sobre o valor da condenação, nos termos
do art. 85, §11º do CPC.
Suspendo a exigibilidade de tais verbas, por litigar o autor sob o
pálio da justiça gratuita.

<>

DES. ADRIANO DE MESQUITA CARNEIRO - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. FABIANO RUBINGER DE QUEIROZ - De acordo com o(a)


Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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Apelação Cível Nº 1.0000.21.013970-5/001

Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001.


Signatário: Desembargadora SHIRLEY FENZI BERTAO, Certificado:
6CF39E43416B602ED449C55B5D4BBC23, Belo Horizonte, 17 de março de 2021 às 12:26:15.
Julgamento concluído em: 17 de março de 2021.
Verificação da autenticidade deste documento disponível em http://www.tjmg.jus.br - nº verificador:
100002101397050012021333530

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