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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ...

– RS

- Antecipação de Tutela
- Assistência Judiciária Gratuita

..., vem, respeitosamente, perante V. Exa., ajuizar a presente AÇÃO


DECLARATÓRIA DE NEGATIVA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZATÓRIA
contra RIO GRANDE ENERGIA S/A, inscrita no CNPJ sob o n.º 02.016.439/0001-
38, estabelecida à Rua Mario de Boni, n.º 54, na cidade de Caxias do Sul, CEP
95012-580, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

1. DOS FATOS
O demandante surpreendeu-se ao descobrir que possuía 43 (quarenta e três)
registros de débitos, cadastrados pela empresa RGE - Rio Grande Energia S/A
junto ao SPC – Serviço de Proteção ao Crédito, e que referidos débitos tinham
por origem faturas de energia elétrica não liquidadas, de imóvel que o
demandante sequer tem conhecimento exato da localização, visto que na época
daqueles lançamentos residia com sua família à ..., nesta mesma cidade.

E ainda causa estranheza e até perplexidade o fato de que, além do


demandante jamais ter contratado com a empresa demandada quaisquer
ligações ou troca de titularidade de ponto de energia elétrica na Rua ..., e de
nunca ter sido cobrado pelo considerável débito gerado, referido imóvel não
teve suspenso seu fornecimento de energia, durante sete anos consecutivos de
inadimplência.

E por isso, considerando que o demandante sempre satisfez os pagamentos de


suas contas, não tendo praticado nenhum ato que pudesse originar o referido e
indevido débito, que hoje perfaz R$ 4.207,32 (quatro mil, duzentos e sete reais
e trinta e dois centavos), nem autorizado terceira pessoa a fazê-lo, se vendo
impossibilitado de efetuar qualquer negociação de compra/venda à crédito em
razão da referida restrição cadastral, sem a mínima culpa, traz o fato ao crivo do
Poder Judiciário, aguardando por sua justa solução.

2. DA COBRANÇA INDEVIDA E DE SUA CORRESPONDENTE INDENIZAÇÃO


A empresa demandada, com base nas condições gerais de fornecimento de
energia elétrica e pelos demais regulamentos expedidos pela Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), prevê na cláusula terceira do seu contrato de
adesão como sendo direito do consumidor:
[...]
5. Responder apenas por débitos relativos à fatura de energia elétrica de sua
responsabilidade.
[...]
11. Ser ressarcido, em dobro, por valores cobrados e pagos indevidamente,
salvo hipótese de engano justificável;
E a prova da imensa desídia da demandada em relação ao cumprimento do que
dispõem as cláusulas do seu próprio contrato de prestação de serviços, ao qual
submete os consumidores à adesão, é o fato da ligação da unidade consumidora
ter ocorrido em meados de 2003 e o fornecimento de energia elétrica não ter
sido suspenso após 15 dias da apresentação da fatura seguinte ao primeiro
débito, conforme normas estabelecidas pela própria empresa, se estendendo
até os dias atuais (informações retiradas em atendimento virtual, de um próprio
atendente da empresa demandada).
E por isso, sendo cobrado indevidamente por contrato vicioso, não assinado e
nem mesmo autorizado pelo demandante, deve ocorrer sua justa indenização,
em valor correspondente que lhe está sendo exigido, nos termos do art. 940 do
Código Civil (aquele que pedir mais do que for devido ficará obrigado a pagar ao
devedor o “equivalente do que dele exigir), devidamente corrigido.

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PENA DO


ARTIGO 940 DO CÓDIGO CIVIL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO EM SEDE DE
EMBARGOS DE DEVEDOR. Não tendo o exeqüente denunciado o recebimento
ao equivalente a 184 sacas de arroz, o que ocorreu anos antes do ajuizamento
do feito executivo, e não comprovando ter agido de boa-fé, é de se confirmar a
sentença que determinou a devolução, em dobro, em decorrência da repetição
de indébito pela cobrança indevida. APELO IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº
70018058446, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Ana Maria Nedel Scalzilli, Julgado em 28/03/2007)

E com base na informação retirada do referido atendimento virtual, patrocinado


pela empresa demandada, mesmo que devidos valores por aquela unidade de
consumo, localizada na Rua Diário Serrano, nº 140, apto 101, do Núcleo
Habitacional Santa Bárbara, desta cidade de Cruz Alta, referidos valores
deveriam restar limitados ao tempo de uma fatura vencida, mais quinze dias da
apresentação da última fatura seguinte ao débito (data do corte), devendo ser
tratados, valores anteriores a isto, como cobrança indevida, pela omissão da
demandada em efetuar o corte daquele unidade consumidora.

3. DOS DANOS MORAIS

E também diante do fato acima relatado, mostra-se configurado o dano moral


sofrido pelo demandanter, tipificado junto ao art. 5º, V, da Constituição Federal,
além dos arts. 186 e 927 do Código Civil, e 6º, VI, do Código de Defesa do
Consumidor.

Art. 5º.
V. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem”.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos.

Tendo a demandada inscrito o demandante, sem causa aparente, junto aos


órgãos de restrição ao crédito, praticando um abuso de direito, lesionando,
junto a terceiros, sua imagem e bom nome (prova presumida),
dificultando/atrasando/inviabilizando o parcelamento de negócios, tem a
obrigação de compensá-lo, cabendo ao judiciário o dever de punir aquele ato,
arbitrando a justa indenização por danos morais.

RECURSO ESPECIAL Nº 457.734-MT (2002/0100669-6)


RELATOR MIN. ALDIR PASSARINHO JUNIOR. Data Julgamento: 22/10/2002 – 4º
Turma STJ
EMENTA : AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PROTESTO INDEVIDO.
INSCRIÇÃO NO SERASA. A indevida inscrição em cadastro de inadimplente, bem
como o protesto do título, geram direito à indenização por dano moral,
independentemente da prova objetiva do abalo à honra e à reputação sofrida
pelo autor, que se permite, na hipótese, presumir, gerando direito a
ressarcimento que deve, de outro lado, ser fixado sem excessos, evitando-se
enriquecimento sem causa da parte atingida pelo ato ilícito.
RECURSO ESPECIAL Nº 419.365-MT (2002/0028678-0)
RELATOR MIN. NANCY ANDRIGHI. Data Julgamento: 11/11/2002 – 4ª Turma STJ.
EMENTA: INSCRIÇÃO INDEVIDA NO SPC. DANOS MORAIS. PROVA.
DESNECESSIDADE. INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO. Nos termos da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, nos casos de inscrição indevida
no cadastro de inadimplentes, considera-se presumido o dano moral, não
havendo necessidade da prova do prejuízo, desde que comprovado o evento
danoso.

E assim, reconhecida a existência do dano moral, e o conseqüente direito à


indenização, deve ser arbitrada de forma que compense os danos sofridos, que
podem ser apontados como a súbita surpresa e o constrangimento de ter seu
nome incluído injustamente no serviço de proteção ao crédito.

Ag Rg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 476.632� - SP


RELATOR MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO
Data Julgamento: 06/03/2003 – 3ª Turma STJ
EMENTA : INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. COBRANÇA E REGISTRO INDEVIDOS
NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. JUROS DE MORA. PRECEDENTES. 1.
(...omissis...). 2. A indenização fixada, 50 salários mínimos por cobrança e
inscrição indevidas no cadastro de inadimplentes, não pode ser considerada
absurda, tendo o Tribunal de origem se baseado no princípio da razoabilidade e
proporcionalidade, que norteiam as decisões desta Corte. 3. (...omissis...). 4.
(...omissis...).

RECURSO ESPECIAL Nº 607.957 - MT (2003/0174368-7)


RELATOR MINISTRO FERNANDO GONÇALVES
Data Julgamento: 04/11/2004 – 4ª Turma STJ
EMENTA: DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA. SERASA. INDENIZAÇÃO.
REDUÇÃO. 1. (...omissis...). 2. (...omissis...). 3. Tem admitido o STJ a redução do
quantum indenizatório, quando se mostrar desarrazoado, conforme acontece,
in casu, em que inscrito indevidamente o nome do pretenso devedor em
cadastro de inadimplentes, dado que a Quarta Turma tem fixado a indenização
por danos morais em montante equivalente a cinqüenta salários mínimos,
conforme vários julgados. 4. Recurso especial conhecido em parte e, nesta
extensão, provido, apenas para reduzir a indenização.

4. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Para a concessão de medida liminar, determinando que a demandada efetue a


imediata retirada do nome do autor de inscrições relativas a inadimplementos
contratuais e cadastros que venham a restringir-lhe o crédito, mostram-se
presentes os requisitos do “fumus boni juris” e do “periculum in mora”. O
primeiro caracterizado pela alegação relativa a ilegalidade daquela inscrição e
pela impossibilidade do autor em comprovar o que alegado, diante de sua
hipossuficiência na relação de consumo levada a efeito (não tem como
comprovar a inexistência da contratação – prova negativa que deve ser
produzida pela demandada, que é quem possui condições para tanto), e o
segundo, exsurgindo do limite que deve ser dado ao dano oriundo daquele ato
e narrado nestes autos, evitando seu prolongamento e majoração, decisão esta
que restará deferida, inclusive, observando o entendimento atual de nosso
Tribunal de Justiça.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. ARTIGO 557, § 1º-A DO


CPC. TUTELA ANTECIPADA OBJETIVANDO O CANCELAMENTO DE CADASTRO
NEGATIVO EM NOME DA AUTORA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE.
Não ofensa ao direito do credor. Enquanto perdurar ação na qual será apurada
possível responsabilização civil por cadastro indevido, a existência da própria
dívida e/ou seu montante, deve o nome do consumidor permanecer de fora dos
cadastros de devedores. TUTELA ANTECIPADA. PRESENTES OS REQUISITOS
AUTORIZADORES. MULTA DIÁRIA POR DESCUMPRIMENTO DA DECISÃO.
POSSIBILIDADE. ARTIGO 461, § 4º, DO CPC, OBSERVADA A REDAÇÃO DA LEI
8.952/94. É possível a fixação de multa diária caso descumprida a decisão
judicial, forte no que dispõe o art. 461, § 4º, do CPC, observada a redação da Lei
n.º 8.952/94 que autoriza a estipulação multa nos casos de antecipação de
tutela. AGRAVO PROVIDO, em Decisão Monocrática (Agravo de Instrumento Nº
70011844248, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur
Arnildo Ludwig, Julgado em 30/05/2005)

E em vista disso, calha a sumária e imediata necessidade de que aquelas


informações negativas, contidas em nome do autor junto ao Serviço de
Proteção ao Crédito e/ou em bancos de dados conveniados, sejam canceladas,
com a pronta concessão de antecipação de tutela, determinando à demandada,
juntamente com a carta de citação, que providencie a imediata retirada do
nome do autor de inscrições relativas a inadimplementos contratuais e
cadastros que venham a restringir-lhe o crédito, desde já arbitrando-se multa
diária para o caso de eventual descumprimento.

5. DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

O requerente não possui condições financeiras para arcar com custas judiciais,
honorários advocatícios e demais despesas processuais, sem prejuízo do
sustento próprio e de sua família, devendo ser frisado que a única fonte de
renda do requerente provém do salário da ..., que gira em torno de R$ 1.200,00
(um mil e duzentos reais) mensais líquidos, conforme faz prova o documento
em anexo, não restando outros rendimentos que lhe possam auxiliar na
manutenção própria e de seus familiares.

O entendimento jurisprudencial possui posicionamento favorável, conforme


segue:

TJRS-279591) APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES PARA INFIRMAR A ALEGADA
SITUAÇÃO DE POBREZA.
Não havendo fortes indícios da suficiência de recursos é de prevalecer a
afirmação de necessidade da parte para deferir-se o benefício da Assistência
Judiciária Gratuita. Excluindo-se os abusos e exageros, deve o acesso ao
Judiciário ser facilitado a ponto de não se exigir que o cidadão se obrigue a
diminuir abruptamente a sua qualidade de vida, nem mesmo que se desfaça de
bens para obter a prestação jurisdicional.
(Apelação Cível nº 70011596673, 9ª Câmara Cível do TJRS, Canguçu, Rel. Des.
Marilene Bonzanini Bernardi. j. 01.06.2005, unânime).

Assim, smj, faz jus ao benefício da AJG de que trata a Lei 1060/50, pelo que
junta a declaração específica exigida.

6. DOS PEDIDOS

ISTO POSTO, REQUER a V. Exa., após registrada e autuada a inicial, seja


determinada a citação da demandada, por carta registrada, permitindo-lhe
tomar ciência dos termos ora deduzidos, podendo contestá-los, querendo, na
forma e prazos legais, ficando desde logo admoestado que a ausência de defesa
importará na presunção de aceitabilidade dos fatos ora articulados, que
passarão a ser considerados verdadeiros, sem mais formalidades, aplicando-se-
lhe a pena de revelia.

REQUER também, além da inversão do ônus da prova, fundamentado no fato do


demandante não ter como comprovar que não contratou com a demandada o
serviço que resultou em seu cadastro em órgãos de restrição ao crédito (prova
negativa), a concessão da antecipação de tutela, determinando à demandada,
juntamente com a carta de citação, que providencie a imediata retirada do
nome do demandante de inscrições relativas a inadimplementos contratuais e
cadastros que venham a restringir-lhe o crédito, desde já se arbitrando multa
diária para o caso de eventual descumprimento.

E ao final, declarada a inexistência total ou parcial do débito, requer a


condenação da demandada ao pagamento de indenização por danos morais,
arbitrada em valor não inferior a cinquenta salários mínimos; a condenação da
demandada ao pagamento do valor equivalente ao que restou exigido
indevidamente do demandante, nos termos do item “2” da presente e do
disposto no art. 940 do Código Civil; a transformação da medida liminar em
definitiva; e a condenação da demandada nos ônus sucumbenciais.

Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos na legislação


processual aplicável à espécie, especialmente prova documental.

Valor da Causa: R$ 1.687,51.

Cruz Alta, 11 de outubro de 2010.

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