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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE


SALVADOR-BA

IURE SANTOS DE JESUS, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº.


066.816.935-47, residente e domiciliado na Rua Juscelino Kubitschek, bloco 10, 404,
Cajazeiras XI, Salvador-BA, CEP 41330-500, vem, perante Vossa Excelência, por seu
advogado (procuração, comprovante de residência e documentos de identificação
anexos), propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM


OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face do BANCO BMG S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob
o nº. 61.186.680/0001-74, com sede na Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1830, Andar 9
e 10, sala 94/101/102/103/104, Bloco 01, Vila Nova Conceicao, São Paulo-SP, CEP 04543-
900, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.

DOS FATOS

Ao tentar realizar uma transação comercial, a parte autora fora


surpreendida com a recusa em não poder fazê-lo, em virtude da existência de dívida
em seu nome inscrita no SPC, supostamente contraída com empresa acionada (extrato
do SPC anexo). Revoltada, já que preza pela reputação ilibada que possui, a parte
autora procurou esclarecimentos acerca do suposto débito em seu nome.
Em certa ocasião, a parte autora assinou um termo de solicitação de cartão
de crédito, apresentou o seu documento de identificação ao preposto para fins de
obtenção de cópia e tirou uma foto para fins de cadastro.
Ficou acertado, ainda, que a parte autora receberia o cartão de crédito
solicitado em sua residência nos próximos dias.

Ocorre que a parte autora NÃO recebeu nenhum cartão em sua


residência, muito embora tenha sido informada pelo preposto da acionada que a sua
solicitação de cartão de crédito havia sido aprovada.

Se o cartão de crédito solicitado não foi entregue em sua residência,


como é possível a parte autora ter contraído qualquer débito perante a empresa
acionada e ter, ainda, o seu nome inscrito no SPC?

Infelizmente, a acionada omitiu-se na resolução administrativa desta


controvérsia, motivo pelo qual a parte autora encontra-se com o seu nome negativado,
enfrentando inúmeros prejuízos.

Além disso, a inscrição no SPC foi efetuada sem qualquer notificação ou


aviso prévio para a parte autora. Sem dúvidas, a cobrança configura-se indevida, injusta
e descabida, estando em total desconformidade com os preceitos norteadores das
relações jurídicas, principalmente a boa-fé.

Diante do constrangimento sofrido pela parte autora, que foi privada de


realizar uma transação comercial, sendo surpreendida com a negativa baseada em
débito inscrito no SPC, o qual não tinha conhecimento da existência, restam evidentes,
portanto, os transtornos ocasionados à parte autora, em sua esfera material e moral, em
virtude da cobrança indevida sofrida e inscrita em cadastro de proteção ao crédito,
permanecendo seu nome negativado até a presente data.

Um completo absurdo e desrespeito ao consumidor.


Assim sendo, sentindo-se lesada, não restou outra alternativa à parte
autora senão ingressar com a presente demanda, a fim de que o Poder Judiciário
declare a inexistência da dívida negativada, ao tempo em que condene a empresa
acionada a retirar o nome da parte autora dos órgãos de restrição ao crédito, bem como
a indenizar a parte autora em razão dos danos morais incorridos.
DA RESPONSABILIDADE DA RÉ

A respeito da responsabilidade dos fornecedores de serviços, prescreve o


art. 14 do Código de Defesa do Consumidor que o fornecedor de serviços deve
responder pelos danos causados aos seus consumidores, independentemente da
constatação de ter agido com imperícia, imprudência ou negligência, abraçando a
responsabilidade objetiva do fornecedor de serviço, em que responde
independentemente de culpa:

Art. 14: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Tutelando ainda mais o consumidor, o parágrafo 1º e seus incisos do art. 14


prescrevem que o serviço é defeituoso quando não proporciona ao consumidor a
segurança que dele se pode esperar:

“Art. 14, § 1°. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II
- o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época
em que foi fornecido.”
Com efeito, as hipóteses dos aludidos diplomas legais se encaixam
perfeitamente à deletéria prestação de serviço ocorrido, impondo-se a atribuição de
responsabilidade por todos os danos causados.
DOS DANOS MORAIS

Segundo a doutrina, o dano moral configura-se quando ocorre lesão a um


bem que esteja na esfera extrapatrimonial, e a reparação do mesmo tem o objetivo de
possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em
parte, as consequências da lesão.

Tem-se, que diante das circunstâncias evidenciadas anteriormente, é


irrefragável que a parte autora suportou danos morais, pois afetado o seu foro íntimo
diante da atitude abusiva da ré, merecendo amparo e devida reparação.

A respeito do tema, observa-se que o CDC ampara o consumidor que foi


vitimado em sua relação de consumo com a justa reparação dos danos morais e
patrimoniais causados pela má prestação de serviço, como se pode constatar em seu
art. 6º. De igual forma, o Código Civil acolhe de forma expressiva a possibilidade de
reparação dos danos causados a alguém, sobretudo através da redação de seu art. 186:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Mister salientar que essa reparação também consisti na fixação de um


valor capaz de desencorajar o ofensor ao cometimento de novos atentados contra o
patrimônio moral das pessoas, protegendo-se, assim, os demais consumidores.

Portanto, pelo evidente dano moral que provocou, deve o Poder Judiciário
impor à ré a devida e necessária condenação, com arbitramento de indenização
proporcional a extensão do dano, seguindo o entendimento dos Tribunais Superiores. In
casu, a conduta da ré, anteriormente aduzida, casou diversos transtornos à parte autora,
não apenas em seu aspecto material, como moral, de modo que não lhe cabe arcar com o
ônus de um ato ilícito praticado pela acionada.
Este é o entendimento da Jurisprudência pátria:

“CÍVEL. RECURSO INOMINADO. INDENIZATÓRIA. CARTÃO DE


CRÉDITO ADICIONAL. CARTÃO NÃO RECEBIDO PELA
CONSUMIDORA. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA DO NOME DA
CONSUMIDORA JUNTO AOS CADASTROS DE INADIMPLENTES.
RESPONSABILIDADE DO TITULAR DO CARTÃO. ALEGAÇÃO DE
SENTENÇA EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. DEVER DE
INDENIZAR. APLICAÇÃO DO ENUNCIADO 12.15 DA TRU/PR.
QUANTUM FIXADO QUE COMPORTA MAJORAÇÃO PARA SE
ADEQUAR AO CASO CONCRETO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9.099/95.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO DO RÉU
CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO DA AUTORA CONHECIDO E
PROVIDO.” (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0002398-17.2012.8.16.0150/0 -
Santa Helena - Rel.: Manuela Benke - J. 14.09.2015)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. INSCRIÇÃO EM


CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVA
DA CONTRATAÇÃO DO SERVIÇO. ÔNUS PROBATÓRIO DO
FORNECEDOR. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR FIXADO
EM PROPORCIONALIDADE COM A DESÍDIA DA CONDUTA DA
EMPRESA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1.
Tratando-se de negativa absoluta (afirmação de nunca ter contratado), o
ônus da prova recai sobre a parte contrária, pois é materialmente
impossível ao autor provar que nunca contratou com determinada
empresa. 2. Não tendo a recorrente comprovado a contratação dos serviços
pela apelada, limitando-se a juntar documentos unilateralmente
produzidos pela empresa, deixou de desincumbir-se do seu ônus
probatório. 3. O dano moral é aferido in reipsa; prova-se o fato apto a
causar abalo extrapatrimonial e dele se extrai a conclusão de que ocorreu
dano moral. 4. Restando claro que a inscrição do nome da recorrida no
cadastro de proteção ao crédito foi indevida, conclui-se pela inegável
configuração de dano extrapatrimonial. 5. Constatando-se que o valor
fixado a título de indenização revela-se consentâneo com os elementos
constantes nos autos e com os precedentes desta Corte de Justiça, deve ser
a mantida a sentença de piso.” (TJ-BA - APL: 00025629020128050213 BA
0002562-90.2012.8.05.0213, Relator: José Edivaldo Rocha Rotondano, Data
de Julgamento: 18/02/2014, Quinta Câmara Cível, Data de Publicação:
20/02/2014)

Inegavelmente, a inscrição indevida de dívida no SPC delineia um


quadro que está a exigir uma compensação adequada. Não fosse o suficiente, a função
educativa-punitiva da indenização , associada à capacidade econômico-financeira da
parte ré, indicam a necessidade de fixação de um quantum significativo, no valor de R$
15.000,00 (quinze mil reais) para a parte autora, vez que o dano se verificou quando
do exercício de sua atividade principal e por falta da adoção de uma postura mais
cautelosa.

DA INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 385 DO STJ

A negativação indevida discutida no processo em tela É A UNICA


INCLUÍDA NO NOME E CPF DA PARTE AUTORA, afastando de logo qualquer
possibilidade de discussão acerca de aplicabilidade da Súmula 385 do Superior Tribunal
de Justiça, que informa o seguinte: “da anotação irregular em cadastro de proteção ao
crédito, não cabe indenização por dano moral, QUANDO PREEXISTENTE LEGÍTIMA
INSCRIÇÃO, ressalvado o direito ao cancelamento”.

DOS JUROS A PARTIR DO EVENTO DANOSO (SÚMULA 54 DO STJ)


No caso concreto, é cabível a aplicação da Súmula 54 do STJ, que versa
sobre os juros decorrentes de indenização por dano moral.

Com efeito, inexiste a relação jurídica contratual entre as partes. Portanto,


tendo em vista se tratar de responsabilidade extracontratual, os juros moratórios legais
devem fluir desde o ato danoso, ou seja, desde o período no qual a parte autora fora
inserida indevidamente no cadastro de proteção ao crédito.

Observe-se o teor da referida Súmula:

“Súmula 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso


de responsabilidade extracontratual.”

Inclusive, a incidência dos juros legais desde o ato danoso já é matéria


pacificada no Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL NO EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO.DANO MORAL. ATO ILÍCITO. JUROS DE MORA.
TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO.SÚMULA 54/STJ. Segundo o
entendimento majoritário da Segunda Seção, sufragado no
REsp1.132.866/SP (julgado em 23/11/2011), no caso de indenização por
dano moral puro decorrente de ato ilícito os juros moratórios legais fluem
a partir do evento danoso (Súmula 54 do STJ).” (STJ – AgRg no EREsp:
1091056 RS 2014/0113726-3, Relator: Ministra Maria Isabel Gallotti, Data de
Julgamento: 22/10/2014, Segunda Seção, Data de Publicação: 04/11/2014)

Deste modo, a parte autora pugna pela incidência da Súmula 54 do STJ


para regulamentar os juros moratórios que recairão sobre a indenização por danos
morais a ser arbitrada na presente ação.

DA OBRIGAÇÃO DE FAZER
A parte autora pugna que este M. Juízo determine que a ré realize todos
os atos necessários à exclusão do nome da parte autora no SPC e nos demais órgãos de
restrição ao crédito, sob pena de ser-lhe cominada multa diária.
DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O consumidor é a parte hipossuficiente da relação jurídica de consumo,


característica esta que decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de
econômica. O de ordem técnica está relacionado aos meios de produção monopolizados
pelo fornecedor, o segundo aspecto, o econômico, está na maior capacidade econômica
que, via de regra, o fornecedor tem em relação ao consumidor.

Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor, procurando


reequilibrar as relações de consumo, dispõe, em seu art. 6º, inciso VIII, ser direito básico
do consumidor “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências”.

Portanto, requer a parte autora que lhe seja concedido o benefício


garantido por lei da inversão do ônus da prova. De fato, resta demonstrado tratar-se de
relação de consumo. Em razão disso, perfeitamente aplicável a regra do art. 6º, inciso
VIII, do CDC, devendo ser declarada, desde já, a inversão do ônus da prova.

Além disto, acerca das regras de distribuição do ônus da prova, por tratar-
se de declaração de inexistência de negócio jurídico, qual seja a contratação entre as
partes, certo é que deve ocorrer de forma automática a inversão do ônus probatório,
cabendo à acionada a prova quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direto da parte autora, ante a total impossibilidade da parte autora em fazer
prova de fato negativo. Este é o entendimento da Jurisprudência pátria:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE
DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO PROVIDO.O deferimento da inversão
do ônus da prova significa que a distribuição do dever de produzir provas
em juízo, estabelecida, para a generalidade dos casos, pelo art. 333, do
CPC, será invertida, por força da aplicação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/90,
cabendo ao fornecedor ou produtor provar o desacerto das afirmações do
consumidor, em favor do qual seria estabelecida, então, uma espécie de
presunção de veracidade. Nas ações declaratórias negativas, como é o caso
dos autos, não recai sobre o agravado/autor o ônus de provar a inexistência
de relação jurídica entre ele e o banco réu/agravante: seria impossível ao
agravado demonstrar que não celebrou o contrato para a abertura de
conta-corrente, eis que se trata de prova de fato negativo, cuja
impossibilidade de realização faz com que seja comumente chamada de
"prova diabólica". Assim, o ônus da prova já é da parte requerida, não
havendo se falar em inversão.” (Agravo de Instrumento nº
1.0223.08.246489-0/001(1), 17ª Câmara Cível do TJ-MG, Rel. Eduardo
Mariné da Cunha. j. 04.12.2008)

É indene de dúvidas, pois, a necessidade de inversão do ônus da prova.

DOS PEDIDOS

Ex positis, requer a parte autora:

a) A inversão do ônus da prova, como faculta o art. 6º, inciso VIII, da Lei nº.
8.078/90, para facilitar os meios de defesa do consumidor.

b) A citação da ré, na pessoa de seu representante legal, para comparecer à seção de


conciliação e à audiência de instrução e julgamento a serem designadas por esse
M. Juízo, de acordo com os arts. 18 e 19 da Lei nº. 9.099/95, nela oferecendo, se
quiser, Contestação, sob pena de revelia e confissão.
c) Que este M. Juízo julgue TOTALMENTE PROCEDENTE a demanda para:

(i) Declarar a inexigibilidade dos débitos inscritos no SPC pela parte ré


(010085088), tendo em vista que inexistentes.

(ii) Determinar que a ré realize todos os atos necessários à exclusão do nome


da parte autora no SPC e nos demais órgãos de restrição ao crédito, sob
pena de ser-lhe cominada multa diária.

(iii) Condenar a empresa acionada quanto aos danos morais suportados, no


valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), pelo apupo e desrespeito que
tratou o consumidor, bem como pela ansiedade, angústia e estresse que
causou, sem, contudo, esquecer o caráter pedagógico-punitivo para inibir
a repetição deste tipo de situação, determinando-se a correção monetária
competente e os juros de mora nos termos da Súmula 54 do STJ.

Por derradeiro, considerando que, no presente processo, constam


documentos que versam sobre dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade
(extratos de negativação perante os órgãos de restrição de crédito, os quais apontam
débitos sobre os quais a parte autora não reconhece e que maculam a sua
credibilidade perante a sociedade), a parte autora requer, excepcionalmente, a
TRAMITAÇÃO DESTE FEITO SOB O SEGREDO DE JUSTIÇA, à luz do art. 189,
inciso III, do CPC/15.

Para provar o alegado, roga a parte autora por todos os meios de prova em
direito admitidos, em especial pela prova documental e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$ 16.295,77 (dezesseis mil, duzentos e noventa e


cinco reais e setenta e sete centavos).
Pede deferimento.
Salvador-BA, 26 de fevereiro de 2023.

ALBERT GONÇALVES
OAB/BA nº. 68.210

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