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DOUTO JUÍZO DA _ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS DE DEFESA DO

CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR – BA

XXXXXXXXXXXXX, brasileira, portadora do CPF de nº XXXXXXXX e do RG nº


XXXXXXXXXXXXX, residente e domiciliada na XXXXXXXXXXXXXXXX, XXXXXX, com
endereço eletrônico xxxxxxxxxxx, representada por sua advogada, vem, a presença de
Vossa Excelência, propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO


DE TUTELA ANTECIPADA

em face de XXXXXXXXXX, pessoa jurídica de direito privado, sociedade de economia


mista, inscrita no CNPJ sob o n. XXXXXXXXXXXXX, com endereço para citação na
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, pelo que se passa a expor:

I. DA SÍNTESE FÁTICA E JURÍDICA DO PLEITO

Nobre Julgador, o dano no presente processo decorre da demora injustificada


na realização do pagamento de alvará físico para a parte Autora, que permanece, na
presente data, durante 6 (seis) dias aguardando a transferência dos valores para enviar
para sua cliente, deixando a advogada em uma situação extremamente desconfortável,
além de atrasar o recebimento de seus próprios honorários, verba de natureza alimentar.

Destaco que, no momento do ajuizamento desta ação, os valores ainda


não foram depositados, podendo o atraso ser muito maior do que o aqui relatado.

No dia 02/03/2021 a parte Autora se dirigiu até a agência do xxxx localizada


na Tancredo Neves, a fim de sacar um alvará físico depositado na 5ª VSJE do consumidor,
referente ao processo de n. xxx.
O montante total do alvará representa o valor de R$3.548,35 (três mil,
quinhentos e quarenta e oito reais e trinta e cinco centavos).

No dia 02/03/2021, quando solicitou o saque do alvará, conforme documento


anexo, a Requerente foi informada que o prazo para depósito do valor em sua conta seria
de três dias úteis. De imediato, repassou a informação para a cliente, que também
passou a aguardar ansiosamente o depósito do valor (anexo).

Ao ligar para a Central do xxxxx, ora Réu, a Autora foi informada de que não
seria possível transmitir qualquer informação sobre o status do alvará via telefone, apenas
presencialmente na agência, mesmo diante de um lockdown decretado na cidade.

Ante de todo o exposto, Excelência, resta nítido que a não realização do


referido pagamento de forma imediata, dentro do prazo estipulado de três dias, constitui
falha na prestação dos serviços, nos termos do art. 14 do CDC e nítido desrespeito aos
direitos da consumidora.

O alvará constitui ordem judicial e, portanto, deve ser cumprido de


imediato, sob pena de enfraquecimento da ordem jurídica prática. Vejamos, nas
palavras do juiz de direito Fernando Mello Xavier, do 10º Juizado Especial Cível de
Goiânia:

O art. 3º, I, da Constituição Federal, estabelece ser objetivo fundamental da


República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Disso dizer que não se trata a Justiça de uma mera abstração da norma
máxima. É objetivo a ser alcançado realmente no contexto histórico atual pela República.
Isso dará ao intérprete, tanto das regras constitucionais quanto das infraconstitucionais,
alternativas de resolução de problemas não só a partir dos princípios regulares da Justiça,
conforme nos ensina o Ilustre desembargador e professor Rizzato Nunes.

Afirma, ainda ele, que em função da complexidade das relações nascentes,


tornou-se necessário, então, que se estabeleçam normas para que, atendendo-as, os
indivíduos e a própria sociedade pudessem caminhar rumo àquilo a que se haviam
proposto: busca de harmonia e paz social.

Em assim sendo, tal harmonia e paz social residem no ato de contrapesar a


balança da Justiça, restabelecendo seu status quo de equilíbrio, ou seja, para o dano
causado deve corresponder exatamente “o peso” antagônico do ressarcimento, ou ainda
mais, quando se objetiva uma sanção de caráter educativo, não só repreendendo o
ser causador do dano, mas também o orientando à não reincidência de tal conduta
danosa.

Por isso, reivindicar “o peso” da Justiça!

II. DAS RAZÕES PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR


INAUDITA ALTERA PARS

Resta claro, após os fatos narrados, que a Requerente vem sofrendo grande
dano diante da conduta da Requerida, uma vez que mesmo diante de decisão judicial e
prazo fornecido pelo próprio banco, até o presente momento não foi depositado o alvará
físico sacado em 02/03/2021.

Configurando-se flagrante a ilicitude cometida pela Requerida, faz-se


necessária a concessão de medida liminar para que seja determinada a imediata
transferência do valor referenciado no saque do alvará físico, evitando que a instituição
financeira continue atrasando o seu depósito, o que prejudica diretamente a parte Autora e
sua credibilidade com a cliente.
Nessa senda, é de fácil constatação a presença patente do fumus boni iuris e
do periculum in mora.

O fumus boni iuris e o periculum in mora são requisitos indispensáveis para


concessão de medida liminar. O periculum in mora é um risco que corre o processo
principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte. Já o fumus boni iuris consiste
na plausibilidade do direito substancial invocado.

O periculum in mora resta evidente presente no caso, visto que aguardar até
uma decisão judicial de mérito pode levar meses, até mesmo anos diante do cenário
pandêmico em que nos encontramos e trata-se de verba alimentar, visto que parte do
montante representa honorários pelo trabalho desempenhado pela parte Autora.

O fumus boni iuris por sua vez também resta evidente no presente caso,
tendo em vista que a parte Autora trouxe todas as provas que estavam ao seu alcance,
como documento fornecido pelo próprio banco, filmagem do extrato da conta indicada no
documento e conversa com a sua cliente.

Portanto, diante do exposto, requer seja determinada a imediata


transferência dos valores, sob pena de multa diária de R$400,00 (quatrocentos reais),
como forma de obrigar a Ré a respeitar o direito do consumidor e sobretudo a dignidade da
pessoa humana, vez que a Autora está sendo prejudicada por uma conduta ilícita e de má-
fé da parte contrária.

III. DO VALOR DO DANO MORAL - DO CUNHO EDUCATIVO E


REPRESSOR - DA FRUSTRAÇÃO DE EXPECTATIVA
LEGÍTIMA

Reconhecida a falha na prestação dos serviços da empresa Acionada, faz-se


justo que a Acionante seja moralmente indenizada.

Conforme já explanado, é ilícita a conduta da instituição financeira que atrasa


injustificadamente o pagamento de alvará judicial, podendo, com isso, gerar dano moral à
parte responsável por intermediar o seu recebimento.
No presente caso, o dano não se deu apenas pelo atraso no
recebimento de valores que representam verba alimentar para a patrona, mas também
se deu pelo constrangimento enfrentado por esta, que precisou justificar para a sua
cliente o injustificável, o erro administrativo cometido pela Ré que culminou em um
atraso de tantos dias para a transferência dos valores do alvará sacado.

Vejamos, de logo, entendimento já perfilhado por tribunal pátrio, in verbis:

CIVIL E CDC. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


CARACTERIZADO ATRASO INJUSTIFICADO NO PAGAMENTO
DE ALVARÁ JUDICIAL. DANO MORAL CONFIGURADO. 1. A
CF/88 protege os direitos da personalidade, como valores inerentes
aos seres humanos, impondo a todos o dever de não provocar
injustas ofensas a outrem. Contudo, maculada a honra, surge o
dever de indenizar. 2. Ocorre dano moral quando configurado dano
inerente à personalidade que exorbite de transtornos e
aborrecimentos decorrentes do cotidiano, pois presente o prejuízo
à esfera íntima, à honra ou à imagem. 3. É ilícita a conduta da
Instituição Financeira que atrasa injustificadamente o pagamento
de alvará judicial, podendo, com isso, gerar dano moral à parte
responsável por intermediar o seu recebimento. (...)

(TJ-AP - RI: 00102902020178030002 AP, Relator: JOSÉ LUCIANO


DE ASSIS, Data de Julgamento: 05/06/2019, Turma recursal)

Destaco, ainda, a conduta reiterada do Réu, conforme notícia colacionada


nesta oportunidade.

Na fixação do quantum indenizatório, devem ser consideradas, de acordo


com os elementos dos autos, a gravidade da conduta, as condições do ofensor e ofendido,
a extensão do dano, o caráter pedagógico da medida, a vedação ao enriquecimento ilícito e
critérios de razoabilidade e proporcionalidade.

Observe-se que o instituto do dano moral possui dúplice função:


compensatória e educativa/preventiva. Dessa forma, pretende-se com a fixação do
quantum indenizatório a definição de um valor proporcional e razoável, de forma a garantir
que todas as funções sejam observadas. Assim, é impensável a fixação de indenização por
dano moral que não observe o intuito de compensar o indivíduo pela lesão sofrida e
prevenir nova prática da ofensa.
Isto posto, requer a condenação da Ré em valor exemplar, não inferior a
R$12.000,00 (doze mil reais), a fim de reparar a Autora pelos danos vivenciados, além
de educar a empresa, para que esta sinta efetivamente as consequências de suas
práticas e deixe de reiterá-las.

IV. DOS PEDIDOS

Desta forma, requer a Autora:

a) A citação da parte Acionada para, querendo, comparecer à audiência designada, e,


querendo, transigir ou contestar a presente, sob pena de revelia e confissão;

b) Requer seja determinada LIMINARMENTE a imediata transferência dos valores


aqui tratados, atinentes ao alvará físico sacado pela parte Autora, sob pena de
multa diária no importe de R$400,00 (quatrocentos reais), como forma de obrigar
a Ré a respeitar o direito do consumidor e sobretudo a dignidade da pessoa
humana, vez que a Autora está sendo prejudicada por uma conduta ilícita e de má-fé
da parte contrária.

c) Que seja compelida a Acionada a reparar a Autora pelos danos morais sofridos em
valor não inferior ao montante de R$12.000,00 (doze mil reais), diante da situação
vexaminosa vivenciada em face de sua cliente, pela demora no recebimento de
verba alimentar, pela falha na prestação dos serviços do banco, além da falta
de opções para que a consumidora pudesse resolver a situação via telefone, visto
que desviou seu tempo produtivo em ligações infrutíferas, sem sucesso, sendo
caracterizada tal sanção como forma educativa, para que não volte a cometê-la,
devendo ser considerada a capacidade econômica da Acionada; sem embargos
de juros e demais cominações legais desde o evento danoso até a data do efetivo
pagamento, tudo na forma da lei;

d) Requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidas;

Dá-se a causa o valor de R$12.000,00 (doze mil reais).


Nestes termos, requer deferimento.

Salvador, Bahia

XX de XXXXX de 2023

Vivian Padilha

OAB/BA nº 58.518

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