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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUIZA TITULAR DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE LUZIÂNIA – GOIÁS.

1
ROQUE ALVES OLIVEIRA GONÇALVES, brasileiro, solteiro, pedreiro,
inscrito no CPF sob o n° 522.840.345-00, portador da carteira de identidade RG 5008599 DGPC/GO
residente e domiciliado na Rua 23, Quadra 49, Lote 19, Parque Alvorada I, Luziânia/GO, vem, por seu
advogado subscritor, respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO DE CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA, INAUDITA ALTERA PARS

em desfavor de CREDICARD BANCO S/A, FANTASIA, CREDICARD CITI., sociedade


empresária de direito privado, com sede à Avenida Presidente JK, n° 510, AP 1 a 4 Andares, Itaim

1
Bibi, São Paulo - SO, CEP 4543906, inscrita no CNPJ/MF sob n.° 09.163.026/0001-25, pelas razões
fáticas e de direito que passa a expor:

– FORO COMPETENTE

A presente ação discute questões que mostram conexão com “relação de


consumo”; portanto, inicialmente, para justificar a escolha desse foro para apreciá-la e dirimir a
questão apresentada, o Autor invoca o dispositivo constante do código específico dos Direitos do

1
Consumidor (Lei 8.078/90), onde estampa a possibilidade de propositura de ação judicial no domicílio
do Autor (art. 101, I). Além do mais, tem-se que eventuais contratos, ainda que tácitos, de prestação de
serviços públicos ou de consumo, vinculam-se, de uma forma ou de outra, à existência de “relação de
consumo” como no presente caso trazido à baila.

– OS FATOS

1
O Autor, a partir do mês de janeiro de 2014, passou a ser informado por alguns
representantes do comércio em geral, onde buscava crédito e compras a prazo, de que seu nome
estava com restrições cadastrais no SPC.

Antes mesmo de poder efetuar pessoalmente a consulta naquele órgão de proteção


ao crédito, repentinamente foi surpreendido com um aviso verbal do gerente de sua agência bancária,
onde possui conta corrente, solicitando providências para regularização do apontamento cadastral de
seu nome, sob pena de corte de seu crédito e limite de cheque especial vinculado à sua conta.

1
A pesquisa cadastral feita eletronicamente pelo autor, por meio da Associação
Comercial, veio a comprovar o registro de uma pendência e restrição relativa a “suposto” débito,
intitulado “Título Nº 6363753843783004”.

Em posse da pesquisa, o Autor entrou em contato com a empresa Ré e informou


que não devia aquele título, que descobriu ter sido vítima de estelionato em 2012. Portanto ele
desconhecia aquele título e que a empresa também foi uma vítima assim como ele. Mesmo após a
informação a empresa Ré não retirou a restrição imposta nos seu nome.

1
Deste modo, a conduta da Ré em incluir o nome do Autor no Serviço Cadastral de
Proteção ao Crédito foi um ato imprudente, prematuro, e extremamente oneroso para o mesmo, que é
um comerciante, que conta com reputação ilibada, e que depende de seu nome incólume.

O constrangimento foi experimentando pela reprovação de seu crédito em um


fornecedor local, tendo em vista a necessidade de aquisição de mercadorias para o seu comércio.

A presente demanda visa buscar a tutela e proteção do Estado-Juiz, para conter de


imediato o injusto e indevido lançamento do Autor nos bancos de dados de maus pagadores do SPC e
1
SERASA, determinando que de imediato retire a negativação, no prazo improrrogável de 24 horas,
sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais), seja ainda declarada a inexistência do débito
inscrito, bem como sejam reparados os danos morais sofridos.

– A NECESSÁRIA E URGENTE CONCESSÃO DOS EFEITOS


ANTECIPATÓRIOS DA TUTELA JURISDICONAL, inaudita
altera pars
1
Como se verifica dos fatos acima relatados, o caso em questão é de extrema
gravidade e não pode aguardar todo o desenvolver da ação até a sua sentença, razão pela qual se faz
imprescindível que Vossa Excelência determine liminarmente a antecipação dos efeitos da tutela
jurisdicional, para que, no prazo improrrogável de 24 horas, o nome do Autor seja retirado dos bancos
de dados creditícios (SPC e SERASA), sob pena de arcar com multa diária de R$ 1.000,00 (um mil
reais), nos termos do art. 273 do CPC.

Dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil, que:

1
O juiz poderá, a requerimento das partes, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos
da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação. [grifo nosso]

Completam os incisos I, e II, respectivamente:

I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; II – fique


caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do
réu. [grifo nosso]

1
Pois bem, os pressupostos processuais contidos no caput do art. 273 do CPC se
acham presentes, vez que a inclusão do nome do Requerente nos bancos de dados creditícios não
possui o lastro e respaldo legal, tratando-se de abuso de direito da empresa Requerida.

A imagem e o crédito do Requerente já foram maculados pelo perverso e unilateral


ato de inclusão nos bancos de dados creditícios por protesto indevido, manchando a honradez e
seriedade com que o Autor conserva o seu nome perante seus clientes e fornecedores, não havendo
nenhuma mácula ou registro de restrição creditícia em toda sua história.

1
Assim, MM. Magistrada, os requisitos do inciso I do art. 273 do CPC se
apresentam autênticos e reais no caso concreto.

A questão demonstra de forma pública e notória o abuso de direito do pólo passivo,


que insiste em manter o nome do Requerente nos bancos de dados restritivos de crédito,
permanecendo a protelação proposital na busca do lucro fácil, sem contar os constrangimentos que
sofreu com a reprovação de crédito perante o comércio local, o que ratifica a necessidade da concessão

1
da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, condicionada a pena diária de R$ 1.000,00 (um mil
reais) por descumprimento.

A verossimilhança está demonstrada no caso concreto para concessão imediata da


liminar de antecipação dos efeitos da tutela, para que a exclusão do nome do Requerente dos bancos
de dados da SERASA e SPC ocorra de imediato, está inserido no contexto probatório documental em
anexo, fazendo, portanto, jus ao pleito.

1
Presentes os pressupostos da concessão da antecipação liminar da tutela
jurisdicional, como acima visto, o Autor requer desde já que lhe seja provido a ordem de proteção que
merece que o Direito lhe garante.

– O DIREITO E OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS


Verifica-se in casu o abuso de direito e a negligência da Ré perante a Requerente,
vez que, ocasionou um enorme abalo em sua imagem e reputação perante o comércio local e
1
fornecedores, não resta alternativa que não seja ingressar com ação judicial visando a reparação do
dano sofrido, bem como restaurar o status quo ante.

O Código Civil assim determina:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causas dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito;

Art. 927. Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
1
A reparação que obriga o ofensor a pagar e permite ao ofendido receber é princípio
de justiça, com lição pedagógica, punição e compensação.

Todo e qualquer dano causado a alguém ou ao seu patrimônio, deve ser indenizado,
de tal obrigação não se excluindo o mais importante deles, que é o dano moral, que
deve automaticamente ser levado em conta. (V.R. Limongi França, Jurisprudência
da Responsabilidade Civil, Ed. RT, 1988).

1
Como se pode observar, é notória a responsabilidade objetiva da Requerida, uma
vez que, ocorreram falhas na cobrança bancária.

DA CONDENAÇÃO À INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS:

1
A garantia da reparabilidade do dano moral é absolutamente pacífica tanto na
doutrina quanto na jurisprudência. Tamanha é sua importância, que ganhou texto na Carta Magna, no
rol do artigo 5º, incisos V e X, dos direitos e garantias fundamentais faz-se oportuna transcrição:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem.
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra ea imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.

1
Conforme restou comprovado, o Autor nada deve. Razão pela qual, requer
declaração de inexistência de débito e ainda, a reparação do dano causado.

Logo, objetivo maior desta peça exordial, é o restabelecimento do equilíbrio


jurídico desfeito pela lesão, traduzido numa importância em dinheiro, visto não ser possível a
recomposição do status quo ante, uma vez que não se trata apenas da declaração da inexistência de
débito, pois em decorrência da cobrança indevida, o Autor teve seu nome inscrito nos órgãos de
restrição de crédito, não podendo assim contrair qualquer tipo de empréstimo, financiamento ou

1
comprar a prazo com seus fornecedores, em virtude de erro certo e notório da Requerida. Enfim, o
Autor vê-se em uma situação constrangedora e humilhante.

A respeito do assunto, a lição doutrinária de Carlos Alberto Bittar, sendo o que se


extrai da obra “Reparação Civil por Danos Morais”, 2ª ed., São Paulo – RJ, 1994, p. 130:

Na prática, cumpre demonstrar-se que pelo estado da pessoa, ou por desequilíbrio,


em sua situação jurídica, moral, econômica, emocional ou outras, suportou ela
conseqüências negativas, advindas do fato lesivo. A experiência tem mostrado, na
realidade fática, que certos fenômenos atingem a personalidade humana, lesando os
aspectos referidos, de sorte que a questão se reduz, no fundo, a simples prova do fato
1
lesivo. Realmente, não se cogita, em verdade, pela melhor técnica, em prova de dó,
ou aflição ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na alma humana
como reações naturais a agressões do meio social. Dispensam, pois, comprovação,
bastando no caso concreto, a demonstração do resultado lesivo e a conexão com o
fato causador, para responsabilização do agente.
Nesse sentido, como assinalamos alhures, a) são patrimoniais os prejuízos de ordem
econômica causados pela violação de bens materiais ou imateriais de seu acervo; b)
pessoais, os danos relativos ao próprio ente em si, ou em suas manifestações sociais,
como, por exemplo, as lesões ao corpo, ou parte do corpo (componentes físicos), ou
ao psiquismo (componentes intrínsecos da personalidade), como a liberdade, a
imagem, a intimidade; c) morais, os relativos a atributos valorativos, ou virtudes, da
pessoa como ente social, ou seja, integrada à sociedade, vale dizer, dos elementos

1
que a individualizam como ser, de que se destacam a honra, a reputação e as
manifestações do intelecto.
Mas, atingem-se sempre direitos subjetivos ou interesses juridicamente relevantes,
que à sociedade cabe preservar, para que possa alcançar os respectivos fins, e os
seus componentes as metas postas como essenciais, nos planos individuais, familiar
e social.

Por derradeiro, na lição do eminente jurista Caio Mário da Silva Pereira


(Responsabilidade Cível, RJ, 1980, p. 338)

1
[...] na reparação do dano moral estão conjugados dois motivos, ou duas concausas:
I) punição ao infrator pelo fato de haver ofendido um bem jurídico da vítima, posto
que imaterial; II) pôr nas mãos do ofendido uma soma que não é pretium doloris,
porém o meio de lhe oferecer a oportunidade de conseguir uma satisfação de
qualquer espécie, seja de ordem intelectual ou moral, seja mesmo de cunho material
[...].

É certo que o dano moral, por estar presente no campo da subjetividade, atinge a
honra do ser humano enquanto membro de uma sociedade organizada e advém de práticas que atentam
contra a sua personalidade, proporcionando sentimento de dor, vergonha, humilhação etc.
1
Porém, a honra é indicadora da dignidade, seja de pessoa física (honra subjetiva)
ou pessoa jurídica (honra objetiva), que procura viver com honestidade, pautando seu modo de vida
nos ditames da moral e dos bons costumes.

Desta forma, qualquer lesão injusta a valores legalmente protegidos, seja de pessoa
física ou jurídica, deve ser indenizada.

1
Enfim, quando se trata de reparação de dano moral como no caso em tela, nada
obsta a ressaltar o fato de ser este tema pacífico, tanto sob o prisma legal, quanto sob o prisma
doutrinário.

O Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás não foge à regra, e nas suas decisões mais
recentes, assim entendeu:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE PROTESTO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA EXTRA PETITA.
INOCORRÊNCIA. PROTESTO INDEVIDO DE DUPLICATA. PESSOA
1
JURÍDICA. DANO MORAL IN RE IPSA. DESNECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DOS PREJUÍZOS EXPERIMENTADOS. 1. Não há falar
em julgamento extra petita quanto o Juiz decide a lide nos limites em que foi
proposta; 2. O protesto indevido de título de crédito contra pessoa jurídica constitui
ato ilícito, gerando o dever de indenizar nos termos dos artigos 186 e 927 do Código
Civil, independentemente da comprovação dos prejuízos experimentados, por
configurar dano moral in re ipsa. Apelo conhecido e desprovido. Sentença
mantida. [TJGO. 3ª Câmara Cível. 391953-75.2009.8.09.0051 - APELACAO
CIVEL. Relator: Desembargador Floriano Gomes. J: 11/10/2011. DJ 934, de
03/11/2011]. [grifo nosso].

1
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
C/C DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. PRIMEIRO APELO.
PREMATURO. SEGUNDO APELO. PROTESTO INDEVIDO. DIREITO A
REPARAÇÃO DO DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. MINORAÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. DESARRAZOADO. SENTENÇA
MANTIDA. 1- A interposição do recurso de apelação antes do julgamento dos
embargos de declaração, sem o posterior aditamento, importa na sua
intempestividade, por prematuro. 2- O protesto indevido caracteriza ato ilícito e,
consequentemente, gera o dever de indenizar. 3- Os danos morais, decorrentes de
protesto indevido, prescindem de comprovação, haja vista que o prejuízo é
presumido, independentemente de se tratar de pessoa jurídica, nos termos da
Súmula 227 do STJ. Precedentes do STJ. 4- Não há critérios determinados e fixos
para a quantificação do dano moral, de modo que, sendo proporcional e razoável o
1
valor determinado pelo magistrado singular, deve ser mantido o 'quantum'
indenizatório. Primeiro apelo não conhecido. Segundo apelo conhecido e
desprovido. [TJGO. 3ª Câmara Cível. 173224-23.2009.8.09.0006 - APELACAO
CIVEL. Relator: Desembargador: Rogério Arédio Ferreira. J: 06/09/2011. DJ 916 de
04/10/2011]. [grifo nosso].

Por conseguinte, mera relação de causa e efeito seria falar-se em pacificidade


jurisprudencial. Faz-se patente, a fartura de decisões brilhantes em consonância com o pedido do
autor, proferidas pelos mais ilustres julgadores em esfera nacional.
1
DO VALOR DA CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO PELOS
DANOS MORAIS

A lei não estabelece ou fixa um parâmetro previamente definido para se apurar o


valor em indenizações por dano moral. Justo por isso, as balizas têm sido traçadas e desenhadas, caso
a caso, por nossas Cortes de Justiça, em especial, pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão responsável
pela missão de uniformizar a aplicação do direito infraconstitucional.

1
O STJ recomenda que as indenizações sejam arbitradas segundo padrões de
proporcionalidade, conceito no qual se insere a idéia de adequação entre meio e fim; necessidade-
exigibilidade da medida e razoabilidade (justeza). Objetiva-se, assim, preconizando o caráter
pedagógico e reparatório, evitar que a apuração do quantum indenizatório se converta em medida
abusiva e exagerada.

Por isso, a jurisprudência tem atuado mais num sentido de restrição de excessos do
que, propriamente, em prévia definição de parâmetros compensatórios a serem seguidos pela instância

1
inferior. Contudo, por sua importância como linha de razoabilidade indenizatória, merecem menção os
seguintes julgados da aludida Corte Superior:

- Inscrição indevida em cadastro restritivo, protesto incabível, devolução indevida


de cheques e situações assemelhadas – 50 salários mínimos (REsp 471159/RO, Rel.
Min. Aldir Passarinho)

1
- Manutenção do nome de consumidor em cadastro de inadimplentes após a
quitação do débito – 15 salários mínimos (REsp 480622/RJ, Rel. Min. Aldir
Passarinho)

- Inscrição indevida no SERASA – 50 salários mínimos (REsp 418942/SC, Rel.


Min. Ruy Rosado de Aguiar)(grifo nosso)

1
Nota-se, portanto, que a casuística do STJ revela que a Corte tem fixado como
parâmetros razoáveis para compensação por abalo moral, indenizações que, na sua maioria, raramente
ultrapassam os 50 salários mínimos, importe reputado como justo e adequado.

Conforme atual doutrina sobre o tema, Carlos Alberto Bittar acentua:

A indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que represente


advertência ao lesante e à sociedade de que não se aceita o comportamento
assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em
importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de
modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a
1
resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser
quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades do
patrimônio do lesante. [in Reparação Civil por Danos Morais, Editora Revista dos
Tribunais, 1993, p. 220). [grifo nosso].

Em suma, a reparação do dano moral deve ter em vista possibilitar ao lesado uma
satisfação compensatória e, de outro lado, exercer função de desestímulo pedagógico a novas práticas
lesivas, de modo a "inibir comportamentos anti-sociais do lesante, ou de qualquer outro membro da
sociedade", traduzindo-se em "montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que
1
não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo" (in Novo Código Civil Comentado, São
Paulo, Saraiva, 2002, p. 841 e 842).

Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência:

[...] O valor da indenização do dano moral deve ser arbitrado pelo juiz de maneira a
servir, por um lado, de lenitivo para o abalo creditício sofrido pela pessoa lesada,
sem importar a ela enriquecimento sem causa ou estímulo ao prejuízo suportado; e,
por outro, deve desempenhar uma função pedagógica e uma séria reprimenda ao
ofensor, a fim de evitar a recidiva [...] [TJSC, 2ª Câmara de Direito Civil, AC n.

1
2001.010072-0, de Criciúma, Relator: Desembargador Luiz Carlos Freyeslebem, J:
14/10/2004].

Diante da doutrina e jurisprudência trazidas à baila, o Autor espera que a


indenização pelo dano moral experimentado, seja realmente eficaz e produza os efeitos desejados pelo
legislador, através de fixação do quantum debeatur em patamar exemplar, o que certamente levará este
Juízo a efetivar o que a legislação pátria realmente almeja: Justiça e Paz Social!

1
II.IV DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE – ART. 330,
I, CPC

O julgamento antecipado da lide é uma decisão conforme o estado do processo e se


dá por circunstâncias que autorizam o proferimento de uma sentença antecipada (questão de mérito
somente de direito ou que não se precise produzir provas em audiência, ou; ocorrência de revelia).

1
No caso em tela, existe prova inequívoca de ameaça ao direito do Requerente, e
não se limita a apenas um fumus boni juris, mas sim, uma prova do direito ameaçado e também prova
conforme Boletim Ocorrência.

Por fim, presentes as condições que ensejam o julgamento antecipado da causa, é


dever do juiz, e não mera faculdade, assim proceder. Nesse sentido, assim ecoa a jurisprudência do E.
TJGO:

1
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. PROTESTO DE TÍTULO DECORRENTE DE DÍVIDA
QUITADA. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA
REQUERIDA/APELANTE QUE EMITIU NOTA FISCAL/FATURA.
EMISSÃO DE DUPLICATA SEM CAUSA POR TERCEIRA LIGADA À
FIRMA RECORRENTE. IDENTIDADE DE SÓCIA PROPRIETÁRIA EM
AMBAS AS EMPRESAS. ATO ILÍCITO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR.
DANO MORAL CARACTERIZADO. 1 - Tratando-se de matéria de direito e
de fato, em que o destinatário da prova é o juiz, impõe-se respaldar o
julgamento antecipado da lide, ante a consideração de que as provas coligidas
aos autos na origem são suficientes para embasar o seu livre convencimento,
não restando configurado o alegado cerceamento do direito de defesa. 2 - Com
1
efeito, é fato incontroverso nos autos que houve uma relação comercial envolvendo
a ré/apelante e a requerente/recorrida, tendo a primeira emitido uma nota
fiscal/fatura, cujo débito foi regularmente quitado pela parte autora junto à
empresa requerida antes do vencimento, sendo que o consequente e indevido
título emitido (duplicata mercantil) foi irresponsavelmente levado a protesto
por uma terceira empresa ligada à firma recorrente, já que, de fato, ambas possuem
uma mesma sócia e, provavelmente, constituem um mesmo conglomerado
econômico, ressalvando-se que o contrário não restou demonstrado, não havendo
como ser afastada tal ilação no caso dos autos, diante do dano causado e do vínculo
existente entre as partes, já que a ré/apelante era a única e direta responsável pela
nota fiscal/fatura em questão. 3 - Daí é que, de alguma forma, a
requerida/recorrente, agindo com dolo e/ou culpa, deixou “vazar” os respectivos
dados referentes à aludida nota fiscal/fatura quitada pela autora/apelada, o que
1
ensejou a emissão indevida da duplicata mercantil que foi descontada e apresentada
para protesto por falta de pagamento. 4 - Portanto, ficou sobejamente provado o
dano moral sofrido pela autora, diante do protesto indevido de título já pago, assim
como o nexo causal existente entre tal duplicada e a conduta temerária da apelante, a
qual deve ser responsabilizada pelo ato ilícito, com a sua consequente condenação
em indenizar a autora pelos danos causados, a partir da patente verificação da ação
ou omissão voluntária, e ainda, negligência ou imprudência, por parte da apelante na
condução dos seus próprios negócios comerciais, nos termos do art. 186, do Código
Civil Brasileiro. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA SINGULAR
MANTIDA IRRETOCADA.

1
Diante o exposto, requer o julgamento antecipado da lide com fundamento no
inciso I, do art. 330 do CPC, por tratar-se de matéria eminentemente de direito.

– OS PEDIDOS
Firme no direito que lhe assiste e amparado pelos fatos e fundamentos jurídicos ora
trazidos, o Autor requer a Vossa Excelência que:

1
a) Sejam liminarmente concedidos os efeitos da antecipação da tutela inaudita altera
pars para determinar, via ofício, o imediato cancelamento e desnegativação da inscrição do nome do
Autor dos bancos de dados creditícios do SPC e da SERASA, até o julgamento definitivo da lide, sob
pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais);

b) Seja recebida a presente peça no rito sumaríssimo, com o julgamento antecipado da


lide com fulcro no art. 330, I, do CPC;;

1
c) Seja citada a Ré através dos correios (art. 221, I, do CPC) para exercer o
contraditório e ampla defesa, no prazo legal; bem como sejam produzidas todas as provas admitidas
em Direito, por meio de depoimento pessoal das partes, inclusive prova testemunhal, pericial e outras
admitidas, caso Vossa Excelência não entenda possível o julgamento antecipado da lide;

d) Que ao final, seja julgada totalmente procedente a presente ação, para:

d.1) condenar a Requerida ao pagamento de indenização por danos morais a serem


arbitrados por Vossa Excelência;
1
d.2) determinar que a SERASA e o SPC eliminem por completo qualquer registro
histórico de protesto da restrição ora impugnada, para que tal marca não conste nos
bancos de dados das referidas instituições, e com isso não prejudique o Credit
Score do Autor.

Dá-se à causa o valor de R$ 28.000.00 (vinte e oito mil reais).

1
Termos em que pede e aguarda deferimento.

Luziânia-GO, 19 de maio de 2014.

MARCOS ANTÔNIO SOUZA VIEIRA BRUNO FAGNER DE MORAIS GÓIS


OABGO 35.516 OABGO 38.717
1

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