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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

2ª Câmara Cível

Apelação Cível - Nº 0818452-17.2020.8.12.0001 - Campo Grande


Relator(a) – Exmo(a). Sr(a). Des. Fernando Mauro Moreira Marinho
Apelante : Banco Bradesco S.A.
Advogado : Nelson Wilians Fratoni Rodrigues (OAB: 128341/SP)
Apelado : Cláudio Lino
Advogado : Tiago Dias Lessonier (OAB: 15993/MS)
Advogado : Vinícius Rosi (OAB: 16567/MS)

EMENTA - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – NEGATIVAÇÃO
INDEVIDA – DANO MORAL IN RE IPSA - VALOR DA INDENIZAÇÃO MORAL
– MANTIDO – RECURSO DESPROVIDO
1. A negativação indevida do nome do consumidor nos órgãos de
restrição ao crédito configura dano moral in re ipsa, que prescinde de prova da sua
ocorrência.
2. Tratando-se de dano moral é in re ipsa, o quantum indenizatório
deve ser fixado em quantia que se mostra razoável e que atenda a natureza satisfatório-
pedagógica da indenização. Indenização mantida em R$ 10.000,00, diante das
particularidades dos autos e eis que de acordo com o posicionamento deste Colegiado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM, em sessão permanente e


virtual, os(as) magistrados(as) do(a) 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul, na conformidade da ata de julgamentos, a seguinte decisão: Por
unanimidade, negaram provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.

Campo Grande, 29 de março de 2021

Des. Fernando Mauro Moreira Marinho


Relator(a) do processo
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
R E L A T Ó R I O
O(A) Sr(a). Des. Fernando Mauro Moreira Marinho.

Trata-se de procedimento recursal de Apelação Cível interposto pelo


Banco Bradesco S.A. Contra sentença prolatada pela MM Juíza da 4ª Vara Cível da
Comarca de Campo Grande nos autos da Ação Declaratória de Inexistência de Débito
c/c Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais que lhe move Cláudio Lino.
Em síntese, alega que:
I – o autor nunca entrou em contato a fim de solucionar os fatos
administrativamente, sendo que "esta empresa declara que foi surpreendida com os
fatos narrados na inicial e não agiu minimamente com culpa ou dolo, pois tomou as
medidas que lhe são totalmente autorizadas pelo Código de Defesa do Consumidor
diante de um inadimplemento", sendo que a "persistência da anotação, ainda que fosse
indevida, não pode ser causa de dano moral puro"
II – não há provas nos autos de que o autor tenha sofrido abalo
extrapatrimonial, sendo que os fatos alegados não passam de mero aborrecimento;
III – o valor da indenização moral é excessivo, devendo ser
reduzido, sob pena de locupletamento ilícito.
Contrarrazões pelo desprovimento do recurso.
Sem oposição ao julgamento virtual.
É o relatório.

V O T O
O(A) Sr(a). Des. Fernando Mauro Moreira Marinho. (Relator(a))

Trata-se de procedimento recursal de Apelação Cível interposto pelo


Banco Bradesco S.A. Contra sentença prolatada pela MM Juíza da 4ª Vara Cível da
Comarca de Campo Grande nos autos da Ação Declaratória de Inexistência de Débito
c/c Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais que lhe move Cláudio Lino.
Insurge-se a apelante contra a sua condenação ao pagamento de
indenização moral ao autos, sob o fundamento de ausência de comprovação da
ocorrência de abalo extrapatrimonial.
Ocorre que a sentença reconheceu que a negativação do nome do
autor foi ilícita, diante da ausência de débito a justificar a sua ocorrência, consoante se
vê:

A parte requerida não trouxe aos autos qualquer prova que


evidenciasse a validade de sua cobrança, ou qualquer documento que
corroborasse com suas alegações no sentido de que a parte requerente
havia contraído as dívidas em comento.
Neste sentido, analisado o conjunto probatório acostado, o que se
verifica é que a ré inscreveu a parte requerente junto ao cadastro de
inadimplentes por dívidas que jamais existiram.
Reconhecida a inexistência do débito, o apontamento do nome do
autor nos órgãos de restrição ao crédito foi ilícito, sendo consolidado o entendimento
de que a inclusão ou a manutenção equivocada de nome em cadastro de inadimplentes
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
configura dano moral in re ipsa, ou seja, os danos causados são presumidos e
independem de comprovação
Nesse sentido, de nossa relatoria:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA
DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR - NEGATIVAÇÃO INDEVIDA
DO NOME DO CONSUMIDOR NOS ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO
CRÉDITO – DANO MORAL IN RE IPSA - VALOR DA INDENIZAÇÃO
MANTIDO - RAZOABILIDADE - RECURSO DESPROVIDO. 1. A
negativação indevida do nome do consumidor nos órgãos de restrição ao
crédito configura dano moral in re ipsa, que prescinde de prova da sua
ocorrência. 2. O quantum indenizatório deve ser fixado tendo em vista as
características do caso concreto, dentre as quais se destaca a situação
financeira das partes e o valor do apontamento discutido nos autos. A
indenização fixada em R$ 8.000,00 (oito mil reais), é razoável e atende a
natureza satisfatório-pedagógica da indenização e está em consonância
com os patamares desta Câmara para casos similares.
(TJMS. Apelação Cível n. 0828326-60.2019.8.12.0001, Campo Grande,
2ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Fernando Mauro Moreira Marinho,
j: 23/03/2021, p: 25/03/2021)

Quanto ao valor da indenização moral, prevalece a teoria da natureza


satisfatório-pedagógica da indenização que vem ressaltada na percuciente lição de Caio
Mário, citado por Sérgio Cavalieri Filho:
“Como tenho sustentado em minhas Instituições de Direito Civil
(v. II, n.176), na reparação por dano moral estão conjugados dois
motivos, ou duas concausas: I - punição ao infrator por haver ofendido
um bem jurídico da vítima, posto que imaterial; II – pôr nas mãos do
ofendido uma soma que não é o pretium doloris, porém o meio de lhe
oferecer oportunidade de conseguir uma satisfação de qualquer espécie,
seja de ordem intelectual ou moral, seja mesmo de cunho material, o que
pode ser obtido 'no fato' de saber que esta soma em dinheiro pode
amenizar a amargura da ofensa e de qualquer maneira o desejo da
vingança” (in: Programa de Responsabilidade Civil. 5ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2004, p.108/109).
Para se fixar o valor indenizatório ajustável à hipótese fática concreta,
deve-se sempre ponderar o ideal da reparação integral e da devolução das partes ao
status quo ante. Este princípio encontra amparo legal no art. 947 do Código Civil e no
art. 6º, inciso VI do Código de Defesa do Consumidor. No entanto, não sendo possível
a restitutio in integrum em razão da impossibilidade material desta reposição,
transforma-se a obrigação de reparar em uma obrigação de compensar, haja vista que a
finalidade da indenização consiste, justamente, em ressarcir a parte lesada.
A quantificação do valor da reparação deve atender determinados
vetores que dizem respeito à pessoa do ofendido e do ofensor, partindo-se da medida do
padrão sócio-cultural médio da vítima, avaliando-se a extensão da lesão ao direito, a
intensidade do sofrimento, a duração do constrangimento desde a ocorrência do fato, as
condições econômicas do ofendido e as do devedor, e a suportabilidade do encargo.
Deve-se relevar, ainda, a gravidade do dano e o caráter pedagógico-punitivo da medida.
Todavia, a real dimensão externa da ingerência do ato lesivo no
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
âmbito psicológico da vítima é que deflagrará o quantum indenizatório devido. Para
tanto, temos de sopesar que nesta esfera eminentemente subjetiva, há interferência
direta do meio social dos sujeitos, das especificidades do objeto, o lugar, o tempo e a
forma, e, finalmente, os efeitos jurídico-econômicos.
Aplicando-se os parâmetros supra ao caso concreto e consentâneo
com às finalidades punitiva e compensatória da indenização, considerando que o valor
dos apontamentos restritivos indevidos foram de R$ 12.893,40 e R$ 5.140,38,
inseridos, respectivamente, em 18.02.2020 e 23.02.2020, bem como a capacidade
financeira dos envolvidos (beneficiário da gratuidade da Justiça contra uma das maiores
instituições financeiras), entendo por justo e razoável o valor da indenização fixada
pelo juízo singular em R$ 10.000,00 (dez mil reais), a qual mostra-se suficiente para
indenizar o autor pelo abalo sofrido sem implicar em enriquecimento sem causa, nem
ônus excessivo ao devedor, além de comportar carga punitivo-pedagógica suficiente
para elidir novas ocorrências da espécie.
Ex positis, nego provimento ao recurso.
Com fulcro no §11 do art. 85, do CPC, majoro os honorários
advocatícios de sucumbência para 17% sobre o valor da condenação, considerando a
importância da causa e o tempo de tramitação do recurso.

D E C I S Ã O
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO


RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR

Presidência do(a) Exmo(a). Sr(a). Des. Vilson Bertelli

Relator(a), o(a) Exmo(a). Sr(a). Des. Fernando Mauro Moreira


Marinho

Tomaram parte no julgamento os(as) Exmos(as). Srs(as). Des.


Fernando Mauro Moreira Marinho, Des. Marco André Nogueira Hanson e Des.
Eduardo Machado Rocha.

Campo Grande, 29 de março de 2021.

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