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EXMO.

SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA


DE POMPÉU /MG:

Processo nº 0017384-77.2013.8.13.0520

BANCO PANAMERICANO S/A, sociedade anônima com sede na Av.


Paulista, nº 1.374, 12º andar, Bela Vista, São Paulo, SP, CEP 01310-100, inscrita
no CNPJ/MF sob o nº 059285411/0001-13, nos autos do processo em epígrafe, que
lhe move LUIZ GONZAGA DE FREITAS NETO, vem perante V. Exa., por seus
advogados abaixo assinados (doc. 1), apresentar a sua CONTESTAÇÃO, o que faz
mediante os fundamentos de fato e de direito que se seguem:

BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

1. Em sua inicial, a parte autora alega que ficou desempregado e que por
isso entrou em contato com a parte ré para recebimento do seguro adquirido por
meio do contrato de financiamento. O corre que o banco se negou ao pagamento da
cobertura do seguro. Requer que o réu seja condenado a pagar o valor de R$920,00
(novecentos e vinte reais e oitenta e quatro centavos)

CONTRATAÇÃO REALIZADA
DA REALDIADE DOS FATOS

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2. Douto julgador, em análise interna do banco, verificou-se que não
consta nenhuma comunicação de ocorrência à Segurada, bem como nenhum
Processo de Sinistro aberto ou negativa registrada na Seguradora. O banco só
tomou conhecimento dos atos narrados com a presente ação judicial.

3. Cumpre informar, Excelência, que em caso de Sinistro, o beneficiário


deve entrar em contato o mais rápido possível com a seguradora, preencher o
formulário de aviso de sinistro e apresentar a documentação necessária definida
nas Condições Gerais da Apólice do Seguro, cláusula 17.1. Vejamos:

“17.1. Na ocorrência do Sinistro, compete aos Beneficiários, tão logo


tomem conhecimento, apresentar à Seguradora os seguintes
documentos:
a) formulário próprio de Aviso de Sinistro, devidamente preenchido;
b) cópia autenticada da certidão de óbito do Segurado;
c) cópia autenticada da carteira de identidade e CPF do Segurado; e
d) cópia autenticada dos documentos dos Beneficiários:
d.1) cônjuge: cópia autenticada da certidão de casamento atualizada, da
carteira de identidade e
do CPF;
d.2) companheira: cópia autenticada da carteira de identidade, CPF e
documento que comprove
a união estável na data do evento ou contrato de convivência de
escritura pública de
declaração de união estável (cópia autenticada);
d.3) filhos: cópia autenticada da certidão de nascimento; e
d.4) pais e outros: cópia autenticada da carteira de identidade e CPF.
e) cópia autenticada do boletim de ocorrência policial, quando for o
caso;
f) cópia autenticada da carteira nacional de habilitação, em caso de
acidente com veículo

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dirigido pelo Segurado;
g) cópia autenticada do laudo de necropsia se houver; e
h) cópia autenticada do laudo de exame toxicológico ou a respeito do
teor alcoólico no sangue
do Segurado, se for o caso.”

4. Com efeito, não há nos autos nenhum documento que comprove que
houve a comunicação do sinistro, bem como o preenchimento do formulário. Assim,
deve-se entender que a parte autora não faz juz a cobertura do seguro.

5. Pertence ao autor o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu


direito, nos termos do art. 333, I, do Código de Processo Civil. Devendo esta
demonstrar que realmente foi lesado.

6. Vejamos o que nos ensina a jurisprudência sobre a verossimilhança:

“A verossimilhança não está apenas nas palavras do autor, mas


em conteúdo probatório ainda que quantidade reduzida,
qualitativamente convincente, de molde a impressionar de fato o
espírito do julgador (...)”. (1ª Turma Recursal – Proc. nº
71000116988 – Caxias do Sul/RS – 0609.00 – Rel.Juiz José
Conrado de Souza Júnior).

7. Pelo exposto acima, portanto, não restam dúvidas de que o pedido da


parte autora se mostra sem qualquer fundamento, posto que não há o que se falar
em pagamento do valor de R$ 920,00 (novecentos e vinte reais).

8. Cumpre destacar, ainda, que os contratos de seguro estão disponíveis


no site do banco Panamericano, como forma de manter a transparência na relação
contratual, bem como maneira de esclarecer quaisquer dúvidas, demonstrando ser

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uma opção do consumidor aderir ao mesmo, não havendo que se falar em imposição
desta contratação.

DA INEXISTÊNCIA DO DANO MORAL

9. Sob tais argumentos, não há que se falar em conduta ilícita perpetrada


pelo banco réu, nem sequer cabe qualquer indenização moral.

10. Dentro desse cenário, deve-se ter em mente, para que o dano moral seja
indenizável, faz-se necessária a comprovação do ato ilícito praticado pelo suposto
ofensor, a demonstração do dano efetivamente suportado pela vítima e o nexo de
causalidade entre ambos.

11. Sob tais argumentos, não há que se falar no dever de indenizar


preconizado no Art. 186 do Código Civil, notadamente porque ausente o primeiro de
seus requisitos, a saber, a prática de ato ilícito.

12. E dizemos isso com base na renovada doutrina e jurisprudência que


não mais tolera a assertiva da desnecessidade da comprovação do dano moral:

“(...) Para se ressarci r e sses danos, deve ríamos te r ao menos a


de cê ncia ou a caute la de e xigir a prova da e fe tiva dor do
be ne ficiário, de socultando-a. Hipocritame nte descartamos essa
e xigê ncia, precisamente porque, quando real a dor, repugna ao
que sofre pe lo que é insubstituíve l substituí-lo pe lo encorpamento
de sua conta bancári a. daí te rmos també m, na nossa sociedade
cínica, construído uma nova fo rma de responsabilidade objetiva –
a responsabilidade por danos mo rais à base de s tandards de
moralidade abstrata, já que a moralidade concreta já nem
consegue se faze r ouvir, de tão de bilitada que está. o anonimato
do culpado ou se u rosto cole tivo e a adesão à sociedade do risco
de svinculou o proble ma moral da culpa por dano s morais,

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desnaturando-a.” J.J. Calmon de Passos, O Imor al nas
Indenizações por Dano Moral, Jus Nav ig andi nº57, 04.02.2002.

13. Em meio a essa situação, não vislumbramos quais os danos morais que
eventualmente poderia ter suportado a parte autora, pois em momento algum agiu,
o réu, com o intuito de causar ofensa à sua honra, imagem ou dignidade pessoal.

14. Nesse mesmo norte, nos ensina o Ilustre Desembargador Sergio

Cavalcanti Filho em seu livro “Programa de Responsabilidade Civil:

“Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade

exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de

fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no

trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não

são intensas e duradouras a ponto de romper o equilíbrio psicológico do

indivíduo.

Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral,

ensejando ações judiciais em busca de indenização pelos mais triviais

aborrecimentos”

15. Ainda sobre a caracterização do dano moral, ensina SÉRGIO


CAVALIERI FILHO:

“O dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma
satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Nessa linha de princípio, só deve
ser reputado dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico
do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem

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estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem
parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os
amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim
não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações
judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos” (in
‘Programa de Responsabilidade Civil’, 5ª edição, 2ª tiragem, Malheiros
Editores, 2003, p. 98).

16. Ainda nesse diapasão seguem as palavras de MARIA CELINA BODIN DE


MORAES:

“(...) não será toda e qualquer situação de sofrimento, tristeza, transtorno ou


aborrecimento que ensejará a reparação, mas apenas aquelas situações graves
o suficiente para afetar a dignidade humana em seus diversos substratos
materiais, já identificados, quais sejam, a igualdade, a integridade psicofísica,
a liberdade e a solidariedade familiar ou social, no plano extrapatrimonial em
sentido estrito” (in ‘Danos à Pessoa Humana. Uma leitura civil-constitucional
dos danos morais’, Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 189).

17. Espera-se que, data vênia, prestigie-se o aludido entendimento


jurisprudencial, em notório comprometimento com a busca da Justiça e
independentemente de injunções externas daqueles que vêem em meras celeumas
corriqueiras da vida cotidiana, danos morais de monta extraordinária, não se
compadecendo tal fato com os princípios de direito.

REQUERIMENTO FINAL

18. Por todo o exposto, requer que se digne esse MM. Juízo em julgar
totalmente improcedente a demanda.

19. Protestando pela produção de todas as provas em direito admitidas, o


réu informa que recebe toda e qualquer intimação na pessoa do advogado

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FELICIANO LYRA MOURA, inscrito na OAB/PE sob o nº 21.714, com endereço
profissional constante do timbre.

Nestes termos,
P. deferimento.
Do Recife (PE) para Pompéu (MG), 05 de novembro de 2013.

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