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Súmula Vinculante 33 e a

Aposentadoria Especial do
Servidor Público

Este texto visa apresentar a possibilidade de concessão da aposentadoria


especial ao servidor público por influência da Súmula Vinculante 33, do
Supremo Tribunal Federal – STF, frente às determinações do artigo 40, § 4-C,
da Constituição Federal e a Emenda Constitucional 103/2019, cujo teor
representa a Reforma da Previdência.

O artigo 40, §4º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, que dispunha da
concessão da aposentadoria especial aos servidores públicos que exerciam
atividades que prejudicavam à saúde ou integridade física, sofreu alteração
pela Reforma da Previdência apenas no que diz respeito à organização de
ideias. Agora, o tratamento constitucional para aposentadoria diferenciada aos
servidores públicos que exercem tais atividades com efetiva exposição a
agentes químicos, físicos e biológicos à saúde ou à integridade física é
exposto pelo artigo 40, § 4-C, da Constituição Federal.

Importante mencionar que os servidores públicos titulares de cargos efetivos


são vinculados à Regime Próprio de Previdência Social – RPPS, e em regra,
não podem gozar de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de
benefícios previdenciários. Casos como a aposentadoria especial ora
estipulada, aposentadoria de servidores com deficiência e aposentadoria de
agentes penitenciários, socioeducativos ou alguns policiais, são exceções
constitucionais à imposição normativa geral.

Considerando a antiga redação da Carta Constitucional, e tendo por base as


reiteradas decisões em Mandados de Injunção para concessão da
aposentadoria especial aos servidores públicos em simetria aos trabalhadores
da rede privada, o Plenário do STF aprovou a seguinte Súmula Vinculante nº
33:

“Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral


da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40,
§ 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar
específica”.
A Súmula Vinculante 33, do STF, não abrange os servidores
públicos portadores de deficiência e aqueles que exercem atividades de risco,
pois estes podem pleitear administrativa ou judicialmente a aposentadoria
especial independente do que assegurado por este enunciado. Logo, o efeito
vinculante somente se aplica às aposentadorias especiais dos servidores
públicos que exercem atividades sob condições especiais que prejudiquem à
saúde ou à integridade física.

Súmula vinculante 33 e a aposentadoria especial


A aposentadoria especial é uma modalidade de aposentadoria em que o
trabalhador exposto a algum agente nocivo à sua saúde pode antecipar a
aposentação, desde que provado o efetivo exercício de atividade laboral sob
determinadas condições estabelecidas pela lei.

Esta modalidade de aposentadoria não estava contemplando os servidores


públicos em decorrência de uma negligência do Congresso Nacional que não
editou a legislação pertinente para que as atividades exercidas sob condições
especiais pelos servidores públicos também viabilizasse a concessão da
aposentadoria especial.

Após várias decisões no mesmo sentido em diversas esferas do Poder


Judiciário, foi editada a súmula 33 que serviu para formalizar o entendimento
já amplamente utilizado pelos Tribunais, assim como suprir a ausência de uma
regra legal específica não editada pelos poderes competentes.

Quais servidores possuem direito à Aposentadoria


Especial?
A Constituição Federal estabelece que professores do magistério infantil e dos
ensinos fundamental e médio possuem direito à aposentadoria especial, além
dos servidores portadores de deficiência e aqueles que exercem atividades de
risco.

A Constituição impõe, ainda, a necessidade de edição de Lei Complementar


que tenha por objetivo definir os critérios para a concessão da aposentadoria
especial diretamente em benefício dos servidores públicos. Esta Lei
Complementar também serviria para que fossem determinadas as atividades
de risco exercidas pelos servidores, e aquelas exercidas sob o contexto de
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física desta
categoria de trabalhadores, determinando as devidas diferenciações.

Ocorre que esta Lei Complementar ainda não foi editada, e por isso, há
compreensão de que o Presidente da República está em mora, uma vez que o
STF tenha reconhecido tal autoridade como responsável pelo envio do Projeto
de Lei ao Congresso Nacional com a finalidade de regulamentar o que
disposto pelo então artigo 40, §4-C, da Constituição Federal.
Sobre isso, considerando que os servidores públicos não podem ter limitados
seus direitos à concessão de aposentadoria especial, o STF decidiu que as
regras de aposentadoria especial direcionadas aos trabalhadores em geral
vinculados ao RGPS, previstas no artigo 57, da Lei 8.213/91, deverão ser
aplicadas em benefício dos servidores públicos enquanto o vácuo normativo
da Lei Complementar regulamentando dispositivo constitucional não for
suprido.

Veja o que apresenta o referido artigo:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência
exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15
(quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.

§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei,


consistirá numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do
salário-de-benefício.
A aposentadoria especial aos servidores públicos é um importante benefício
previdenciário porque permite que eles consigam se aposentar com tempo
menor de contribuição, se comparados aos demais agentes da Administração
Pública, e que tenham percepção de prestações mensais maiores, mas para
isso é condição especial que estes servidores exerçam atividades que
prejudiquem sua saúde ou integridade física.

Reforma da Previdência e a súmula vinculante 33


As Súmulas Vinculantes, no geral, são utilizadas para que o Poder Judiciário e
a Administração Pública, de todos os entes federados, respeitem suas
determinações, independente de decisão judicial contrária.

Os servidores públicos, que são vinculados aos Regimes Próprios, têm seus
pedidos de aposentadoria especial analisados com base nas regras dispostas no
Regime Geral, desde que cumpridas todas as exigências legais para tanto.

A partir da Reforma da Previdência (EC 103/2019), os requisitos e as


metodologias de cálculos dos proventos das aposentadorias especiais aos
servidores públicos tiveram especificações próprias, suprindo o vácuo
legislativo até então existente.
Basicamente, o artigo 21, da EC nº 103/2019, impõe como procedimento
obrigatório à concessão de aposentadoria especial aos servidores o mesmo
modelo dos artigos 57 e 58, da Lei nº 8.213/91.

O problema é que essa imposição se aplica somente aos servidores públicos


federais, excluindo os servidores estaduais e municipais das regras de
aposentadoria especial da Reforma.

Logo, percebemos que o teor da Súmula Vinculante 33 deixa de ser aplicado


aos servidores federais, por força da Reforma da Previdência, mas continua
sendo aplicado para manutenção dos servidores estaduais e municipais, até
que estes definem suas regras próprias em legislação local ou aderem às
previsões da mencionada Reforma.

Como ficou a conversão do tempo especial em


comum para os servidores públicos?

Você viu que as regras de aposentadoria do Regime Geral de Previdência


podem ser aplicadas aos servidores públicos, no que couber. Um exemplo
prático dessa diferenciação é a possibilidade de aplicação da Conversão do
Tempo Especial em Tempo Comum para a aposentadoria especial dos
trabalhadores em geral, mas não aos servidores públicos.

A quantidade de anos para composição de atividades especiais, já que o artigo


57 faculta em 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, depende da
atividade especial exercida, por isso indispensável a análise do Decreto
53.831/64 para determinação específica deste tempo de atividade.

Para os trabalhadores em geral, o tempo trabalhado em atividade especial que


prejudique à saúde ou à integridade física poderá ser convertido em tempo
comum a partir da aplicação de índices matemáticos previstos no artigo 70, do
Decreto 3.048/99, os quais variam conforme a atividade especial laborada.

Ainda que o trabalhador não tenha completado 25 anos de atividade especial


exigidos a sua profissão, por exemplo, mas tenha conseguido 20 anos e mais 6
anos em atividade comum, poderá se valer desta conversão para ter direito à
aposentadoria especial.

Por outro lado, os servidores públicos não podem gozar desta mesma
garantia de conversão do tempo especial em tempo comum, isso porque o
STF compreendeu que a Constituição Federal não garante aos servidores,
necessariamente, o direito à conversão com contagem diferenciada entre o
tempo especial e o tempo comum de contribuição, devendo futuro ato
normativo regulamentar sobre tal assunto em proveito da aposentadoria
especial ao servidor público.

Análise da jurisprudência sobre aposentadoria


especial dos servidores públicos
Alguns precedentes representativos observaram, após inúmeras apresentações
de Mandados de Injunção, que a aposentadoria especial ao servidor público
deveria seguir a ideia de integração legislativa por ausência de Lei
Complementar responsável por disciplinar este assunto. Um bom exemplo de
servidor público que conseguiu esta modalidade de aposentadoria sob a
alegação de que exercia atividade com condições de periculosidade e
insalubridade é o investigador da Polícia Civil (MI 795, rel. Min. Cármen
Lúcia, 2009).

O mesmo ocorreu com o servidor público portador de deficiência, que para


concessão da aposentadoria especial teve que apresentar Mandado de Injunção
para que o STF julgasse, conforme orienta o artigo 102, inciso I, alínea “q”, da
Constituição Federal de (MI 4.158, rel. Min. Luiz Fux, 2014).
Tudo isso em decorrência da inexistência de Lei Complementar
regulamentadora exigida pela Lei Maior.

Notas conclusivas
A aposentadoria especial ao servidor público, embora não regulamentada em
Lei Complementar específica, pode se valer das mesmas regras impostas aos
trabalhadores vinculados ao Regime Geral.

Após a publicação da Reforma da Previdência (EC 103/2019), os servidores


públicos federais não mais necessitam observar a Súmula Vinculante 33, do
STF, restando tal dever apenas aos servidores estaduais e municipais.

O conhecimento da legislação vigente, em especial as recentes decisões


judiciais e a Reforma da Previdência são indispensáveis para uma adequada
análise do caso concreto com a finalidade de planejar a concessão da
aposentadoria especial ao servidor público.

Diante da complexidade das regras, a busca de um profissional especializado


na área é indispensável para o sucesso na busca dos direitos e na concessão do
benefício.

Waldemar Ramos

Advogado, consultor e produtor de conteúdo jurídico, especialista em Direito


de Família e Previdenciário.
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