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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS DO CABO -

FACHUCA
PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO DO TRABALHO E PREVIDENCIÁRIO
DOCENTE: ANNA CLARA ALMEIDA
DISCENTE: MANOELE BARBOSA DA SILVA

Análise crítica sobre as mudanças trazidas pela Emenda Constitucional n.


103/2019, sobretudo em relação ao RPPS, além de escolher duas das
principais alterações abordadas ao longo das aulas, estabelecendo as
diferenças entre o regime em vigor e o anterior, ao discorrer sobre o
conteúdo presente no texto da Constituição e da legislação.

 Aposentadoria por incapacidade permanente (Art.40, §1º)

EC 103/2019 REDAÇAO ANTERIOR


Art. 40. [...] Art. 40. [...]
§ 1.º O servidor abrangido por regime § 1.º Os servidores abrangidos pelo
próprio de previdência social será regime de previdência de que trata
aposentado: este artigo serão aposentados,
I - por incapacidade permanente para calculados os seus provenos a partir
o trabalho, no cargo em que estiver dos valores fixados na forma dos §§
investido, quando insuscetível de 3.º e 17:
readaptação, hipótese em que será I – por invalidez permanente, sendo
obrigatória a realização da os proventos proporcionais ao tempo
continuidade das condições que de contribuição, exceto se decorrente
ensejara a concessão da de acidente em serviço, moléstia
aposentadoria, na forma de lei do profissional ou doença grave,
respectivo ente federativo; contagiosa ou incurável, na forma da
lei;

A primeira espécie de aposentadoria de que trata a reforma é aquela não


voluntária, cuja causa é a “incapacidade permanente para o trabalho”, antes
chamada “aposentaria por invalidez”.

Envolve a situação do servidor que, após ingressar no cargo, seja acometido


de doença ou vitima de acidente que lhe retira totalmente a condiçao de
permanecer trabalhando. Entende-se como aposentadoria involuntária, porque
não depende da vontade da pessoa.

A alteração atinge servidores da Uniao, de Estados, Distrito Federal e


Municipios com o RPPS, sem exceção.

Não se exige tempo mínimo de serviço publico, ou no cargo, nem tempo


mínimo de contribuição, no âmbito dos RPPS, para a concessão dessa
aposentadoria, diferentemente do que ocorre no RGPS, em que se exige
carência de 12 contribuições mensais, salvo as hipóteses excluídas por lei.

O texto foi alterado para incluir, como requisito para a concessão dessa
aposentadoria, a impossibilidade de reabilitação, com readaptação para outro
cargo.

A readaptação evitaria, assim, aposentadorias “precoces”, pois, se a pessoa,


após a consolidação do tratamento de saúde, não tem mais como exercer o
cargo para o qual prestou concurso, mas mantém condições de exercer outro
cargo publico, compatível com a redução da sua capacidade, permaneceria
trabalhando e contribuindo para o regime.

 Aposentadorias voluntárias no âmbito do RPPS da União (Art.


40,§1.º, III)

EC 103/2019 REDAÇAO ANTERIOR


Art. 40. [...] Art. 40. [...]
§1.º [...] §1.º [...]
III – no âmbito da união, aos 62 III – voluntariamente, desde que
(sessenta e dois) anos de idade, se cumprido tempo mínimo de dez anos
mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) de efetivo exercício no serviço publico
anos de idade, se homem, e, no e cinco anos no cargo efetivo em que
âmbito dos Estados, do Distrito se dará a aposentadoria, observadas
Federal e dos Municípios, na idade as seguintes condições:
mínima estabelecida, mediante a) sessenta anos de idade e trinta e
emenda às respectivas Constituições cinco de contribuição, se homem, e
e Lei orgânicas, observados o tempo cinquenta e cinco anos de idade e
de contribuição e os demais requisitos trinta de contribuição, se mulher;
estabelecidos em lei complementar do b) sessenta e cinco anos de idade, se
respectivo ente federativo. homem, e sessenta anos de idade, se
mulher, com proventos proporcionais
ao tempo de contribuição.

O tópico supra é aquele que, no âmbito do RPPS, talvez tenha gerado maior
debate, por se tratar da alteração da idade mínima para obtenção da
aposentadoria voluntaria no serviço publico federal.

Na verdade, antes da reforma havia duas situações de aposentadoria


voluntaria para o servidor: uma, a aposentadoria por tempo de contribuição,
com idade mínima (alínea a do texto anterior); outra, a aposentadoria apenas
por idade (alínea b).

Para ambas, o servidor teria de cumprir ainda os requisitos de dez anos do


serviço publico e cinco anos de cargo efetivo.

A mudança principal, então, é que passa a existir, para os servidores federais


que ingressam na carreira publica após a reforma, apenas uma modalidade de
aposentadoria voluntaria – executados os casos específicos de professores, de
portadores de deficiência, de atividades de risco e de atividades vinculadas à
segurança publica.

Para a aposentadoria voluntaria, passa a ser necessário atingir a idade de 65


anos ( para o homem) e 62 anos ( para a mulher), alem do cumprimento de um
tempo mínimo de contribuição geral (uma carência, portanto) de 25 anos para
ambos os gêneros, masculino ou feminino, desde que cumprido o tempo
mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço publico e de 5 anos no cargo
efetivo em que for concedida a aposentadoria (art. 10,§ 1º, I, da EC 103, de
2019). Para aqueles servidores federais que já estavam em exercício no cargo
quando da vigência da Emenda 103, foram estabelecidas (novas) regras de
transição, substituindo as que existiam anteriormente (ECs 41 e 47).

Algo que chama a atenção, entretanto, é a menção expressa aos servidores da


União, como diretamente atingidos pela reforma, enquanto os servidores de
Estados, Distrito Federal e Municípios serão atingidos apenas caso uma lei de
iniciativa do respectivo ente da Federação seja aprovada em termos
semelhantes.
De plano, há severos indícios de inconstitucionalidade no tratamento
“diferenciado” entre servidores federais e os demais (estaduais, municipais,
distritais). É que, desde a redação original do art. 40 da CF em 1988, sempre
se assegurou a todo e qualquer servidor os mesmos direitos e obrigações,
independemente de para qual Ente da Federação se dava a prestação de
serviço. Na mesma linha de raciocínio, as Emendas 3, 20, 41, 47, 70 e 88
alteraram tais regras, sempre obedecendo ao critério isonômico de tratamento
a todos os servidores. Urge, para eu não se configure o discrímen sem
qualquer fundamento de razoabilidade, que as mesmas regras sejam aplicadas
a todos os ocupantes de cargos efetivos filiados a Regimes Próprios, o que
talvez ocorra com a aprovação da chamada “PEC paralela”.

Acerca da exigência de dez anos de serviço publico e cinco anos de cargo, só


subsistirão esses requisitos se a lei regulamentadora assim prever, caso
contrario bastara o tempo de contribuição total (mesmo sendo a maior parte em
filiaçao ao RGPS).

Previdência Complementar dos servidores públicos

As mudanças no Regime Previdenciário aplicável aos servidores públicos -


RPPS, embora objeto de anteriores debates, iniciou-se com a Emenda
Constitucional 20/98, tendo como norte assemelha-lo ao Regime Geral.

Na ocasião, por meio da inclusão do § 14 do art. 40, passou-se a permitir que a


União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fixassem valor máximo
para os benefícios de seus servidores titulares de cargo efetivo, o qual deveria
corresponder ao valor máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
Social, desde que instituíssem regime de previdência complementar.

Dito de outra forma, o Texto Constitucional passava a autorizar que os Entes


Federativos limitassem o valor do benefício pago a seus servidores, igualando-
o ao valor pago pelo RGPS, desde que, instituísse regime de previdência
complementar. Enquanto esse regime não fosse instituído, não será possível o
emparelhamento dos valores pagos pelo RPPS e RGPS.

Na redação original do § 15 do art. 40, também oriundo da EC 20/98, caberia à


Lei Complementar Federal dispor sobre as normas gerais para a instituição do
cogitado regime complementar, contudo, houve a alteração posterior do
dispositivo pela Emenda Constitucional 41/2003, repassando o encargo a cada
ente federado, por lei ordinária de iniciativa do respectivo Poder Executivo.

Vale lembrar que, a reverso da filiação obrigatória ao Regime Próprio dos


Servidores Públicos – RPPS, a adesão ao plano de previdência complementar
possui caráter facultativo. Nas palavras de Marisa Ferreira dos Santos, “a
característica principal da previdência complementar é que o regime tem
caráter eminentemente facultativo, ou seja, o ingresso no regime depende de
ato de vontade do interessado.”

Reforçando a facultatividade do instituto, os servidores que ingressaram no


serviço público antes da instituição do regime de previdência complementar só
se submeterão às novas regras se renunciarem ao regime anterior e fizerem
expressa opção pela previdência complementar:

Em outras palavras, somente os servidores públicos efetivos federais que


ingressarem após a publicação do ato de instituição do correspondente regime
de previdência complementar terão aposentadorias e instituirão pensões
limitadas ao teto do RGPS, salvo se algum antigo servidor fizer uma expressa
opção pelo regime complementar.

A Constituição Federal impõe que os planos de previdência complementar


sejam organizados obrigatoriamente na modalidade contribuição definida. Isso
significa que o participante escolherá o quanto pretende contribuir a cada mês
e o valor de seu benefício será determinado em função do montante
acumulado ao longo do período contributivo. As contribuições são alocadas em
uma conta específica, aberta em nome do participante junto à entidade
administradora.

Outra característica da previdência complementar dos servidores públicos é


que esta deverá ser efetivada por entidades fechadas de natureza pública, na
forma prevista pela EC 41/2003. Neste sentido, a Lei n. 12.618/2012 autorizou
a criação dos fundos de pensão dos servidores públicos federais, na forma de
Fundação, e deu-lhes natureza pública, com personalidade jurídica de direito
privado (art. 4º, § 1º).
Os fundos de pensão dos servidores públicos devem ser financiados pelas
contribuições dos patrocinadores, participantes e assistidos, pelos resultados
financeiros de suas aplicações e doações e legados de qualquer natureza.

Participante é o servidor titular de cargo efetivo de qualquer dos três Poderes


da União, o membro do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de
Contas da União, que, por sua livre opção, se vincula ao plano de benefícios.

Por patrocinador, entenda-se o ente público ou entidade da Administração


Indireta que estabelece um plano de benefícios para filiação, oferecido à
totalidade de seus empregados ou servidores. No que tange a contribuição do
patrocinador, assim dispõe o artigo 202, §3º, da Carta Magna:

§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela


União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas,
salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua
contribuição normal poderá exceder a do segurado. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)

Veda-se também que o patrocinador assuma encargos adicionais para o


financiamento dos planos de benefícios, além daqueles previstos nos
respectivos planos de custeio, cabendo ao patrocinador, participantes e
assistidos o custeio da despesa administrativa da entidade de previdência
complementar. Por outro lado, permite-se a cessão de pessoal às entidades de
previdência complementar que patrocinam, desde que ressarcidos os custos
correspondentes.

Para definição da base de cálculo das contribuições do patrocinador e do


participante será considerado apenas a parcela da base de contribuição que
exceder o limite máximo do RGPS.

No que tange à alíquota, a Lei 12.618/2012 possibilita que o servidor federal


participante definida anualmente a alíquota aplicável à sua contribuição. Para o
patrocinador, a norma supra prevê alíquota idêntica à praticada pelo
participante, limitada a 8,5%.

O plano de benefícios da previdência complementar pública deve contemplar o


benefício programado e benefícios não programados. Por benefício
programado entende-se a complementação da aposentadoria do servidor. Por
sua vez, os benefícios não programados, devem assegurar, ao menos,
coberturas para os eventos invalidez e morte, sem prejuízo de outros.

REFERÊNCIAS

PREVCOMPTODOS. Previdência complementar para todos. Disponível em:


https://www.gov.br/previdencia/pt-br/assuntos/previdencia-complementar/mais-
informacoes/arquivos/prevcomptodos.pdf Acesso em 21 Jun 2021

CONTEÚDO JURÍDICO. Aspectos gerais sobre Previdência Complementar


do servidor público. Disponível em:
https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52853/aspectos-gerais-
sobre-previdencia-complementar-do-servidor-publico Acesso em 21 Jun 2021

SUBI, Henrique. Reforma da previdência: guia prático; panorama geral da EC


103/2019, noções gerais e texto comparado. ed. Indaiatuba, São Paulo: Editora
Foco, 2020.

LAZZARI, J.B.; et al. Comentários a reforma da previdência: EC 103, DE


12.11.2019. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020.

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