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RELATÓRIO
VOTO
Conforme dispõe o art. 475, II, CPC/73 (atual art. 496, I, CPC/15), a
remessa necessária é condição de eficácia da sentença proferida contra a União, os
Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de
direito público.
Ademais, a Lei 12.016/09, que cuida do processamento das ações de
mandado de segurança, prevê, em seu art. 14, § 1º, que a sentença concessiva de
segurança está, obrigatoriamente, sujeita ao duplo grau de jurisdição, de modo que sua
confirmação pelo Tribunal funciona como requisito de eficácia e trânsito em julgado.
No caso presente, verifico que a sentença concedeu a segurança pleiteada
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pelo impetrante, motivo pelo qual deve ser reexaminada a sentença proferida, na forma
dos dispositivos mencionados.
Pois bem. Conhecida a remessa, passo ao reexame da sentença.
Por meio do mandado de segurança impetrado perante o Juízo da Comarca
de Viçosa, buscou-se a nomeação de candidato aprovado para além do número de vagas
previsto em edital, sob o fundamento de que o ente público teria convocado,
precariamente, profissionais para exercer as mesmas funções, contrariando, pois, a
observância da ordem de classificação do concurso.
Os autos revelam que o impetrante se submeteu a concurso público para o
cargo de motorista (CNH-D/NFI-07), havendo obtido a 6ª (sexta) colocação, quando
foram ofertadas 03 (três) vagas, conforme o Edital n. 001/2012.
Na inicial, narrou-se que, apesar da aprovação do impetrante e sua
respectiva colocação na reserva em 6º (sexto) lugar, o Município de Viçosa teria
contratado, precariamente, motoristas para desempenhar as mesmas funções. Diante
disso, argumentou-se que haveria a necessidade de preenchimento de vagas ainda
existentes, que deveriam ser supridas pelos candidatos classificados no cadastro de
reserva.
Dessa forma, sob a ótica da impetração, a contratação precária faria exsurgir
o direito subjetivo à nomeação para o cargo de motorista.
Sendo esse o quadro existente nos autos, vê-se que a matéria de fundo diz
respeito ao suposto direito subjetivo do impetrante à nomeação, consideradas as
contratações realizadas pelo Município de Viçosa, em detrimento da convocação dos
candidatos que compunham o cadastro de reserva.
Em matéria de preterição, a jurisprudência passou por evolução substancial,
passando a admitir, em alguns casos, a existência de efetivo direito à nomeação.
Todavia, no caso de candidato aprovado para além do número de vagas
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previsto em edital, há precedente vinculante, firmado recentemente no âmbito do RE
837311/PI, julgado sob o regime da repercussão geral, em que o Plenário do Supremo
Tribunal Federal, por maioria, nos termos do voto do Min. Rel. Luiz Fux, sedimentou o
entendimento de que, via de regra, o candidato aprovado fora do número de vagas
previsto em edital possui mera expectativa de direito à nomeação. Essa regra somente
será afastada em situações excepcionais, conforme proclamado na ementa do referido
precedente, assim redigida:
[...] os cargos públicos são, em regra, criados por lei (art. 48, X, da
CF), que definirá um número determinado (a criação é feita com
número certo), uma denominação própria e uma remuneração
correspondente. (MARILENA, Fernanda. Direito Administrativo. 10ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 662)