Você está na página 1de 13

Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas

Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro


Reexame Necessário n.º 0000102-29.2014.8.02.0057
2ª Câmara Cível
Relator:Des. Klever Rêgo Loureiro
Parte 1: Marcelo da Silva Lins
Advogada: Danielli Manzini de Carvalho (OAB: 10923/AL)
Parte 2: Município de Viçosa
Advogado: Allan Carlisson Silva de Holanda Padilha (OAB: 8627/AL)

REMESSA NECESSÁRIA. CONCURSO PÚBLICO.


MANDADO DE SEGURANÇA. CANDIDATO
APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS.
ALEGADA CONTRATAÇÃO PRECÁRIA DE
MOTORISTAS. CONTRATAÇÃO QUE SE SUBMETE A
REGIME JURÍDICO DIVERSO E QUE NÃO ENSEJA
PRETERIÇÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
CARGOS EFETIVOS DISPONÍVEIS. INEXISTÊNCIA DE
DIREITO À NOMEAÇÃO E POSSE. REMESSA
CONHECIDA E SENTENÇA REFORMADA. DECISÃO
UNÂNIME.

CONCLUSÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame


Necessário da sentença proferida no Mandado de Segurança processado sob n.
0000102-29.2014.8.02.0057, em que figuram, como impetrante, Marcelo da Silva Lins
e, como impetrado, o Município de Viçosa, ambos devidamente qualificados nos autos.
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça de Alagoas, à unanimidade de votos, em CONHECER do Reexame
Necessário para, no mérito, REFORMAR A SENTENÇA reexaminanda, nos termos
do voto do relator.
Participaram do julgamento os Desembargadores constantes na certidão
retro.
Maceió/AL, 31 de outubro de 2018.
DES. KLEVER RÊGO LOUREIRO
Relator
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro

Reexame Necessário n.º 0000102-29.2014.8.02.0057


2ª Câmara Cível
Relator:Des. Klever Rêgo Loureiro
Parte 1: Marcelo da Silva Lins
Advogada: Danielli Manzini de Carvalho (OAB: 10923/AL)
Parte 2: Município de Viçosa
Advogado: Allan Carlisson Silva de Holanda Padilha (OAB: 8627/AL)

RELATÓRIO

Trata-se de reexame necessário da sentença proferida pelo Juízo da Vara do


Único Ofício da Comarca de Viçosa, no âmbito do mandado de segurança de n.
0000102-29.2014.8.02.0057, impetrado por Marcelo da Silva Lins.
Na exordial, a parte impetrante afirmou ter sido aprovada no concurso público
regido pelo Edital 001/2012, havendo obtido a 6ª (sexta) colocação para o cargo de
motorista (CNH-D/NFI-07), para o qual foram ofertadas 03 (três) vagas.
Argumentou que, apesar de compor a reserva de candidatos aprovados, o
município impetrado procedeu à contratação precária de profissionais para exercer as
mesmas funções, razão pela qual teria ocorrido preterição.
Houve concessão de liminar, conforme decisão de fls. 75/78.
O Município de Viçosa se manifestou nas fls. 94/101, oportunidade em que
expôs inexistir vaga a ser preenchida, pugnando, portanto, pela não concessão da
segurança pleiteada.
O Ministério Público ofertou parecer (fls. 116/121), opinando pela concessão
da segurança, por considerar que foram realizadas contratações pelo impetrado, em
detrimento da nomeação do candidato impetrante, o que ensejaria a preterição e, por
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
consequência, a convolação da expectativa de direito em direito subjetivo à nomeação.
O feito foi sentenciado nas fls. 122/126, por ter vislumbrado, o Juízo a quo,
que a ocupação de cargos por pessoas contratadas precariamente, quando já existiam
profissionais habilitados para o desempenho das funções, configurou abuso de
finalidade perpetrado pelo Município de Viçosa e, consequentemente, a preterição em
desfavor do impetrante. A segurança, então, foi concedida para determinar a nomeação
e posse do candidato aprovado.
Decorrido o prazo para interposição sem manifestação das partes, conforme fl.
133, os autos foram remetidos a esta Corte, para o processamento da remessa
necessária.
Ouvida, a Procuradoria-Geral da Justiça, em parecer de fls. 144/145, opinou
pela confirmação da sentença.
É o relatório, no essencial.
Passo a proferir meu voto.

VOTO

Conforme dispõe o art. 475, II, CPC/73 (atual art. 496, I, CPC/15), a
remessa necessária é condição de eficácia da sentença proferida contra a União, os
Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de
direito público.
Ademais, a Lei 12.016/09, que cuida do processamento das ações de
mandado de segurança, prevê, em seu art. 14, § 1º, que a sentença concessiva de
segurança está, obrigatoriamente, sujeita ao duplo grau de jurisdição, de modo que sua
confirmação pelo Tribunal funciona como requisito de eficácia e trânsito em julgado.
No caso presente, verifico que a sentença concedeu a segurança pleiteada
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
pelo impetrante, motivo pelo qual deve ser reexaminada a sentença proferida, na forma
dos dispositivos mencionados.
Pois bem. Conhecida a remessa, passo ao reexame da sentença.
Por meio do mandado de segurança impetrado perante o Juízo da Comarca
de Viçosa, buscou-se a nomeação de candidato aprovado para além do número de vagas
previsto em edital, sob o fundamento de que o ente público teria convocado,
precariamente, profissionais para exercer as mesmas funções, contrariando, pois, a
observância da ordem de classificação do concurso.
Os autos revelam que o impetrante se submeteu a concurso público para o
cargo de motorista (CNH-D/NFI-07), havendo obtido a 6ª (sexta) colocação, quando
foram ofertadas 03 (três) vagas, conforme o Edital n. 001/2012.
Na inicial, narrou-se que, apesar da aprovação do impetrante e sua
respectiva colocação na reserva em 6º (sexto) lugar, o Município de Viçosa teria
contratado, precariamente, motoristas para desempenhar as mesmas funções. Diante
disso, argumentou-se que haveria a necessidade de preenchimento de vagas ainda
existentes, que deveriam ser supridas pelos candidatos classificados no cadastro de
reserva.
Dessa forma, sob a ótica da impetração, a contratação precária faria exsurgir
o direito subjetivo à nomeação para o cargo de motorista.
Sendo esse o quadro existente nos autos, vê-se que a matéria de fundo diz
respeito ao suposto direito subjetivo do impetrante à nomeação, consideradas as
contratações realizadas pelo Município de Viçosa, em detrimento da convocação dos
candidatos que compunham o cadastro de reserva.
Em matéria de preterição, a jurisprudência passou por evolução substancial,
passando a admitir, em alguns casos, a existência de efetivo direito à nomeação.
Todavia, no caso de candidato aprovado para além do número de vagas
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
previsto em edital, há precedente vinculante, firmado recentemente no âmbito do RE
837311/PI, julgado sob o regime da repercussão geral, em que o Plenário do Supremo
Tribunal Federal, por maioria, nos termos do voto do Min. Rel. Luiz Fux, sedimentou o
entendimento de que, via de regra, o candidato aprovado fora do número de vagas
previsto em edital possui mera expectativa de direito à nomeação. Essa regra somente
será afastada em situações excepcionais, conforme proclamado na ementa do referido
precedente, assim redigida:

[...] 1. O postulado do concurso público traduz-se na necessidade


essencial de o Estado conferir efetividade a diversos princípios
constitucionais, corolários do merit system, dentre eles o de que todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza
(CRFB/88, art. 5º, caput).
2. O edital do concurso com número específico de vagas, uma vez
publicado, faz exsurgir um dever de nomeação para a própria
Administração e um direito à nomeação titularizado pelo candidato
aprovado dentro desse número de vagas. Precedente do Plenário: RE
598.099 - RG, Relator Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe
03-10-2011.
3. O Estado Democrático de Direito republicano impõe à
Administração Pública que exerça sua discricionariedade
entrincheirada não, apenas, pela sua avaliação unilateral a respeito da
conveniência e oportunidade de um ato, mas, sobretudo, pelos
direitos fundamentais e demais normas constitucionais em um
ambiente de perene diálogo com a sociedade.
4. O Poder Judiciário não deve atuar como “Administrador
Positivo”, de modo a aniquilar o espaço decisório de titularidade
do administrador para decidir sobre o que é melhor para a
Administração: se a convocação dos últimos colocados de
concurso público na validade ou a dos primeiros aprovados em
um novo concurso. Essa escolha é legítima e, ressalvadas as
hipóteses de abuso, não encontra obstáculo em qualquer preceito
constitucional.
5. Consectariamente, é cediço que a Administração Pública possui
discricionariedade para, observadas as normas constitucionais, prover
as vagas da maneira que melhor convier para o interesse da
coletividade, como verbi gratia, ocorre quando, em função de razões
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
orçamentárias, os cargos vagos só possam ser providos em um
futuro distante, ou, até mesmo, que sejam extintos, na hipótese de
restar caracterizado que não mais serão necessários.
6. A publicação de novo edital de concurso público ou o
surgimento de novas vagas durante a validade de outro
anteriormente realizado não caracteriza, por si só, a necessidade
de provimento imediato dos cargos. É que, a despeito da vacância
dos cargos e da publicação do novo edital durante a validade do
concurso, podem surgir circunstâncias e legítimas razões de interesse
público que justifiquem a inocorrência da nomeação no curto prazo,
de modo a obstaculizar eventual pretensão de reconhecimento do
direito subjetivo à nomeação dos aprovados em colocação além do
número de vagas. Nesse contexto, a Administração Pública detém a
prerrogativa de realizar a escolha entre a prorrogação de um concurso
público que esteja na validade ou a realização de novo certame.
7. A tese objetiva assentada em sede desta repercussão geral é a
de que o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo
concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade do
certame anterior, não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no
edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e
imotivada por parte da administração, caracterizadas por
comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de
revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de
forma cabal pelo candidato. Assim, a discricionariedade da
Administração quanto à convocação de aprovados em concurso
público fica reduzida ao patamar zero (Ermessensreduzierung auf
Null), fazendo exsurgir o direito subjetivo à nomeação, verbi gratia,
nas seguintes hipóteses excepcionais:
i) Quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do
edital (RE 598.099);
ii) Quando houver preterição na nomeação por não observância da
ordem de classificação (Súmula 15 do STF);
iii) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso
durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de
candidatos aprovados fora das vagas de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima. [...]". (STF -
RE 837311, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, Julgado em
09.12.2015, REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO, DJe-072,
Publicado em 18.04.2016)
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
Nítido, portanto, que não há direito automático à nomeação para o candidato
aprovado fora do número de vagas do edital com o simples surgimento de novas vagas
ou abertura de novo concurso. É necessário, de acordo com o precedente do STF, que
ocorra simultaneamente a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por
parte da Administração.
Indo mais além, vê-se uma tendência do Supremo Tribunal Federal em
considerar que deverá ocorrer a nomeação do candidato aprovado fora das vagas
quando, dentro da validade do concurso público, surgirem novas vagas e,
inequivocamente, o Estado necessitar realizar o seu provimento.
No caso concreto, contudo, havendo a Administração Pública provido as
vagas existentes durante o prazo de validade do concurso público, descabe a alegação de
preterição, sob o fundamento de patente necessidade de pessoal devido às contratações
motoristas.
Ademais, é de se observar que as contratações apontadas pelo impetrante
são realizadas de forma diversa da que se adota para o provimento de cargos efetivos, já
que realizadas a título precário, mesmo que não tenha havido renovação ano após ano.
Imperioso observar, também, que não restou comprovado, pelo impetrante, o caráter
permanente de tais contratações.
Assim, o único elemento que poderia, em concreto, comprovar eventual
preterição, seria a existência de cargos efetivos disponíveis, o que, porém, não restou
demonstrado, sendo necessário concluir pela ausência de vaga para ser ocupada com a
nomeação do candidato, que, pela própria forma de ingresso na Administração Pública
pretendida, não poderia ocupar cargo de forma precária.
De outra parte, ainda que se admitisse a tese do impetrante, no sentido de
que a contratação de motoristas gerou direito subjetivo à nomeação, com fundamento na
necessidade de motoristas efetivos, ressalto que:
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro

[...] os cargos públicos são, em regra, criados por lei (art. 48, X, da
CF), que definirá um número determinado (a criação é feita com
número certo), uma denominação própria e uma remuneração
correspondente. (MARILENA, Fernanda. Direito Administrativo. 10ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 662)

Partindo dessa premissa, o impetrante, do que consta dos autos, não


demonstrou a existência de cargos efetivos vagos sem o devido preenchimento, não
podendo o Poder Judiciário, dessa forma, imiscuir-se no quantum de criação do cargo
público.
Sendo assim, as contratações de motoristas, conforme alegou o impetrante,
não são hábeis a demonstrar que existem cargos efetivos vagos.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO
EFETIVO. SERVIDORES TEMPORÁRIOS. ART. 37, IX, DA
CF/88. NECESSIDADES TRANSITÓRIAS DA
ADMINISTRAÇÃO. PRORROGAÇÃO ILEGAL DO CONTRATO.
IMUTABILIDADE DA NATUREZA PRECÁRIA. PRETERIÇÃO
NÃO CARACTERIZADA. 1. A admissão de temporários, fundada
no art. 37, IX, da Constituição Federal, atende necessidades
transitórias da Administração e não concorre com a nomeação de
efetivos, estes recrutados mediante concurso público (Art. 37, II e III
da CF), para suprir necessidades permanentes do serviço. São
institutos diversos, com fundamentos fáticos e jurídicos que não se
confundem. 2. A simples existência de temporários nos quadros
estatais, independentemente do número, não pode ser tida, só por
si, como caracterizadora da preterição dos candidatos aprovados
para provimento de cargos efetivos. Precedentes. 3. A prorrogação
dos contratos temporários para além dos limites temporais legalmente
fixados, embora ilegal, não modifica sua natureza transitória, para
transformá-los em vínculos efetivos. 4. Agravo interno a que se nega
provimento.
(AgInt no RMS 52.113/ES, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/03/2017, DJe 28/03/2017 – Sem
grifos no original)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO
APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS. ALEGAÇÃO DE
CONTRATAÇÃO PRECÁRIA DE SERVIDORES NA VIGÊNCIA
DO CERTAME. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
PRETERIÇÃO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO
DEMONSTRADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. A questão em debate cinge-se à existência do
direito à nomeação de candidato que logrou aprovação ou não em
concurso público, ainda que fora do número de vagas previstas no
Edital, ao argumento de estar sendo preterido em virtude da
existência de contratações precárias. 2. Conforme assentado pela
Corte de origem, o Recorrente não foi aprovado dentro do
número de vagas previstas no edital do concurso, e não
demonstrou a existência de cargos efetivos vagos sem o devido
preenchimento. Assim, embora aponte a existência de preterição,
insurgindo-se contra a contratação temporária de Professores,
essa circunstância, por si só, não demonstra a existência do
direito almejado. 3. Para configurar o direito líquido e certo da parte
autora seria necessária a demonstração inequívoca da existência
de cargos efetivos vagos, restando cabalmente demonstrado que
as contratações precárias visaram não a suprir uma situação
emergencial e, sim, o provimento precário de cargo efetivo,
circunstância que não restou evidenciada de plano. 4. Agravo
Regimental a que se nega provimento.
(AgRg no RMS 49.659/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/05/2016, DJe
02/06/2016 - Grifei)

Por derradeiro, necessário observar a lição do autorizado magistério de Hely


Lopes Meirelles acerca da distinção entre discricionariedade e arbítrio da Administração
Pública:

“Convém esclarecer que poder discricionário não se confunde com


poder arbitrário. Discricionariedade e arbítrio são atitudes
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
inteiramente diversas. Discricionariedade é liberdade de ação
administrativa, dentro dos limites permitidos em lei; arbítrio é ação
contrária ou excedente da lei. Ato discricionário, quando autorizado é
legal e válido; ato arbitrário é sempre ilegítimo e inválido. [...]
O ato discricionário praticado por autoridade incompetente, ou
realizado por forma diversa da prescrita em lei, ou informado de
finalidade estranha ao interesse púbico, é ilegítimo e nulo. Em tal
circunstância, deixaria de ser ato discricionário para ser ato arbitrário
- ilegal, portanto [...]." (Direito Administrativo Brasileiro. 41ª ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2104. p. 134)

Portanto, o querer discricionário não se confunde com a vontade arbitrária.


Incumbe, assim, à Administração Pública, no âmbito de seu espaço de
discricionariedade, avaliar, de forma racional e eficiente, a conveniência e oportunidade
de novas convocações durante a validade do certame.
Daí que, se a vaga destinada ao concurso público é de caráter permanente,
somente criada por lei, a contratação de motoristas não pode ser considerada como
arbitrária e imotivada, uma vez que, até que se prove o contrário, visa suprir a vacância
proveniente de diferentes situações funcionais – aposentadorias, demissões,
exonerações e falecimentos – até a investidura dos futuros concursados.
Nesse tipo de situação, não há como conceber o direito subjetivo à
nomeação, pois o preenchimento de possíveis novas vagas depende de vários fatores,
inclusive da análise de questões orçamentárias.
Sobre esse aspecto, o Supremo Tribunal Federal:

[...] A Administração Pública possui discricionariedade para,


observadas as normas constitucionais, prover as vagas da maneira
que melhor convier para o interesse da coletividade. É possível, por
exemplo, que, por razões orçamentárias, os cargos vagos sejam
providos em um futuro distante, ou, até mesmo, que sejam extintos,
na hipótese de restar caracterizado que não mais serão necessários.
Assim, a vacância de cargos ou a abertura de concurso público não
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
têm o condão de, por si sós, vincular a Administração a nomear os
aprovados fora das vagas do edital. A Administração Pública detém a
prerrogativa de realizar a escolha entre a prorrogação de um concurso
público que esteja na validade ou a realização de novo certame. (STF
- RE 837311, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, Julgado em
09.12.2015, REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO, DJe-072,
Publicado em 18.04.2016)

Necessário ver, portanto, que inexistem provas nos autos de que as


contratações realizadas pela Administração Pública configuram preterição dos
candidatos aprovados fora das vagas de forma arbitrária e imotivada, de modo a não
suprir uma necessidade transitória da Administração.
De tal modo, embora o impetrante tenha apontado a existência de
preterição, insurgindo-se contra a contratação de motoristas, essa circunstância, por si
só, não sustenta a alegação veiculada. Entendo, pois, que o quadro exposto na
impetração não se amolda em nenhuma das hipóteses excepcionais que gerariam o
direito subjetivo à nomeação.
A cerca do tema, esta eg. Corte:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA


QUE DETERMINOU A NOMEAÇÃO DE CANDIDATO
APROVADO EM CONCURSO DE PROFESSOR DE HISTÓRIA
FORA DO NÚMERO DE VAGAS DIANTE DA CONTRATAÇÃO
DE PROFESSORES MONITORES. ALEGAÇÃO RECURSAL NO
SENTIDO DE QUE HÁ VEDAÇÃO LEGAL A TAL
PROVIMENTO. PROIBIÇÃO NÃO APLICÁVEL À NOMEAÇÃO
EM VIRTUDE DE APROVAÇÃO EM CONCURSO. APLICAÇÃO
DO ENTENDIMENTO FIXADO NO RE 837.311/PI
(REPERCUSSÃO GERAL). AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
ACERCA DA EXISTÊNCIA DE VAGAS CRIADAS POR LEI.
AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO
REFORMADA.
(TJ-AL, Agravo de Instrumento n. 0802287-76.2017.8.02.0000, Rel.
Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento, 2ª Câmara Cível, Julgamento
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
em 22/03/2018 – Grifei)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. DECISÃO DE PRIMEIRO
GRAU QUE NEGOU A LIMINAR EM QUE SE BUSCAVA A
NOMEAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. ALEGAÇÃO DE
PRETERIÇÃO. CANDIDATO APROVADO FORA DO NÚMERO
DE VAGAS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
CONTRATAÇÃO PRECÁRIA. CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA DE MONITORES COM REGIME JURÍDICO
DIVERSO E QUE PORTANTO NÃO SE ENQUADRA COMO
PRETERIÇÃO. APLICAÇÃO DO PRECEDENTE DO STF
COM REPERCUSSÃO GERAL. RE 837311. AGRAVO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. DECISÃO DE PRIMEIRO
GRAU MANTIDA.
(TJ-AL, Agravo de Instrumento n. 0801378-68.2016.8.02.0000, Rel.
Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento, 2ª Câmara Cível, Julgamento
em 17/11/2016 – Sem grifos no original)

REEXAME NECESSÁRIO. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA


APROVADA FORA DO NÚMERO DE VAGAS. EXISTÊNCIA DE
SERVIDORES PRECÁRIOS EXCERCENDO O MESMO CARGO.
CONTRATOS TEMPORÁRIOS RENOVADOS. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE CARGOS EFETIVOS DISPONÍVEIS.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO À NOMEAÇÃO E POSSE.
REMESSA CONHECIDA E SENTENÇA REFORMADA. 1. As
contratações temporárias se procedem de forma diversa do que seria
adotado para o provimento efetivo de cargos, já que realizadas a
título precário e por prazo determinado, ainda que tenha havido
renovação ano após ano, não podendo ser ocupadas de forma
permanente como no caso de aprovação em concurso público; 2.
Não se reconhece o direito à nomeação, ante a não configuração das
hipóteses admitidas para deferimento da medida. Isto porque os
vínculos precários constituem uma situação peculiar, de modo que as
vagas eventualmente ocupadas não coincidem com as ofertadas
no edital do certame; 3. Remessa conhecida. Sentença reformada.
(TJ-AL, Reexame Necessário n. 0000734-26.2012.8.02.0057, Rel.
Des. Alcides Gusmão da Silva, 3ª Câmara Cível, Julgamento em
03/08/2017, DJe 07/08/2017 - Grifei)

Diante do exposto, voto em CONHECER da remessa necessária para, no


Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas
Gabinete Des. Klever Rêgo Loureiro
mérito, REFORMAR A SENTENÇA de 1º grau, denegando a segurança pleiteada.
É como voto.
Maceió, 31 de outubro de 2018.

DES. KLEVER RÊGO LOUREIRO


Relator

Você também pode gostar