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ESTADO DE RONDÔNIA

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Tribunal Pleno / Gabinete Des. Roosevelt Queiroz

Processo: 0803415-42.2018.8.22.0000 - MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)

Relator: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

Data distribuição: 06/12/2018 16:30:21

Data julgamento: 17/02/2020

Polo Ativo: LOUBIVAR DE CASTRO ARAUJO e outros

Advogado do(a) IMPETRANTE: ALLAN PEREIRA GUIMARAES - RO1046-A

Polo Passivo: GOVERNADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA

RELATÓRIO

Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por Loubivar de Castro
Araújo contra ato do Governador do Estado de Rondônia por exonerá-lo do cargo de delegado de polícia
civil a partir de 18/09/2018.

O impetrante informa que foi condenado pelo crime de homicídio pelo Tribunal do Júri e, em
consequência, perdeu o cargo público que exercia na época dos fatos, inclusive sua remuneração.

Em decorrência dos fatos, o Governador do Estado de Rondônia publicou um decreto com a


perda do cargo público após a sentença condenatória, porém, tal ato é ilegal porque houve irregularidade
no processo administrativo.

Afirma que houve erro no processo administrativo que culminou na sua demissão, pois não foi
respeitado o devido processo legal, mormente, o do contraditório e da ampla defesa. Diz que teve a saúde
bastante debilitada durante o curso do processo disciplinar e que antes mesmo disso já era portador de
transtorno depressivo, fazendo uso de diversos medicamentos. Entretanto, mesmo a par disso, a Comissão
de Sindicância entendeu que o impetrante estaria apto a responder o PAD, além de desconsiderar que o
mesmo estava preso, no mesmo prédio em que muitos criminosos que ajudou a capturar, e que isto
prejudicava ainda mais seu estado emocional.

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Diante disso, pretende a liminar para cassar ou anular sua exoneração, restabelecendo seu cargo e
seu salário e, no mérito, requer a anulação do processo desde o interrogatório ou, alternativamente, que
seja devolvido o prazo recursal no processo disciplinar.

Indeferida a liminar às fls. 1015/1018, opôs o impetrante embargos de declaração (fls.


1027/1032), o qual foi julgado não provido (fls. 1090/1095).

O Estado de Rondônia prestou informações às fls. 1062/1064, manifestando-se a Procuradoria –


Geral do Estado às fls. 1066/1073, defendendo a ausência de direito líquido e certo a ser comprovado com
prova pré-constituída, bem como negando que houvesse qualquer tipo de cerceamento de defesa, visto
que o impetrante participou de todas as fases do processo administrativo.

Parecer n. 9252/PJ-2019, da 4ª Procuradoria de Justiça, opinando pela denegação da segurança


(fls. 1105/1109).

É o breve relatório.

VOTO

DESEMBARGADOR ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

A questão não comporta maiores digressões, cabendo avaliar se presentes os elementos


necessários para a concessão da ordem em mandado de segurança, qual seja, a demonstração inequívoca,
mediante prova pré-constituída, do direito líquido e certo invocado e de que a suposta autoridade coatora
praticou qualquer ato eivado de ilegalidade ou abusividade.

Consoante específica o art. 5º, LXIX, da Constituição Federal, mandado de segurança é a ação
civil de rito especial, pela qual qualquer pessoa pode provocar o controle jurisdicional quando sofrer lesão
ou ameaça de lesão a direito líquido e certo não amparado por habeas corpus, nem por habeas data, em
decorrência de ato de autoridade, praticado com ilegalidade ou abuso de poder.

Sendo assim, além dos pressupostos processuais e das condições da ação exigíveis em qualquer

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procedimento, constitui pressuposto específico do mandado de segurança a liquidez e a certeza do direito.
Hodiernamente, pacificou-se o entendimento de que a liquidez e certeza do direito referem-se aos fatos e
não à complexidade do direito.

Além disso, exige-se prova pré-constituída – uma vez que a via estreita do mandamus não admite dilação
probatória – da lesão ou ameaça de lesão ao comprovado direito líquido e certo do impetrante.

O sentido da liquidez e certeza do direito defendido é processual e não material, mesmo porque,
embora entendendo-se que o autor tenha direito à ação, onde se requer segurança, a sentença poderá
afirmar que o direito não exista. Direito líquido e certo é o que pode ser reconhecido apenas pela
apreciação do modelo jurídico próprio com o fato nele adequado, sem necessidade de se socorrer de
provas, ou quando muito, somente da documentação induvidosa, onde se resume e se esgota toda a
indagação probatória do fato. Se a questão depender de outras provas, as vias ordinárias são o caminho
específico. (Santos, Ernane Fidélis. Manual de Direito Processual, 3ed., Saraiva, 1994, p. 169).

Acerca dos requisitos do mandado de segurança, elucida ALEXANDRE DE MORAES:

Podemos assim apontar os quatro requisitos identificadores do mandado de segurança: ato comissivo ou
omissivo de autoridade praticado pelo Poder Público ou por particular decorrente de delegação do Poder
Público; ilegalidade ou abuso de poder; lesão ou ameaça de lesão; caráter subsidiário: proteção ao direito
líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data. (Direito Constitucional, 24ª Ed, p. 154).

Na dicção de Hely Lopes Meirelles:

[…] o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em
norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua
existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu exercício depender de
situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por
outros meios judiciais. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26.ed., São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 37)

A questão central limita-se a perquirir se o servidor público estadual, preso preventivamente,


pode ter a remuneração suspensa enquanto estiver com a liberdade cerceada e, portanto, impedido de
exercer as atribuições do cargo.

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Em primeiro lugar, é preciso assentar que o ato de suspensão da remuneração tem por
fundamento o art. 26 da Lei 68/92 – o qual regula hipótese específica de prisão preventiva do servidor,
confira-se a redação da regra:

Art. 26 - Preso preventivamente, denunciado por crime comum, denunciado por crime funcional
ou condenado por crime inafiançável, em processo no qual não haja pronúncia, o servidor fica afastado do
exercício de seu cargo até decisão final transitada em julgado.

Parágrafo único - No caso de condenação, não sendo esta de natureza que determine a demissão
do servidor, continua o afastamento até o cumprimento total da pena, observado o disposto no artigo 273
deste Estatuto.

Se bem observado, o art. 26, o qual rege a hipótese de prisão preventiva do servidor, em nenhum
momento assenta que o afastamento será “sem prejuízo à remuneração”, tal como consignado em diversas
passagens do Estatuto dos Servidores Públicos Civis. Logo, considero que o legislador intencionalmente
não pretendeu autorizar ao servidor preso preventivamente o recebimento da sua remuneração, porquanto,
neste caso, não há contraprestação laboral.

Dessa forma, tenho que há norma legal a amparar o ato da Administração que suspendeu o
pagamento da remuneração. Logo, não há falar em ofensa ao princípio da legalidade.

Quanto a alegada ofensa aos princípios constitucionais da presunção da inocência e da


irredutibilidade dos vencimentos, algumas considerações hão de ser feitas.

Em primeiro, dada a relatividade dos direitos fundamentais, sabe-se nenhum direito é absoluto e
até mesmo aqueles de envergadura constitucional podem ser infirmados por outros de igual valor, desde
que mediante fundamentação adequada, observando-se o princípio da proporcionalidade.

In casu, em que pese o recorrente defender violação aos princípios da presunção da inocência e
da irredutibilidade salarial, tenho que, neste caso, esses postulados devem ceder espaço ao princípio da
moralidade administrativa, também de caráter constitucional (CF/88, art. 37, caput).

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Isso porque admitir que o servidor receba sua remuneração, mesmo estando preso
preventivamente, isto é, impedido de desenvolver suas funções laborais, inegavelmente constitui violação
ao princípio da moralidade administrativa e da vedação do enriquecimento ilícito, em especial em se
tratando de prisão preventiva, cujo estatuto processual penal não estabelece prazo máximo.

Aliás, não é demais consignar que antes do ajuizamento deste writ (06/12/18), o recorrente foi
condenado por homicídio à pena de 14 (quatorze) anos de reclusão (sentença em 21/09/18) por haver
cometido homicídio contra seu colega de profissão, crime de grande repercussão social, sendo, inclusive,
decretada a perda do cargo de delegado de polícia.

Todas essas circunstâncias, se somadas, justificam ainda mais a predominância do princípio da


moralidade sobre os postulados da presunção de inocência e da irredutibilidade salarial, na medida em
que o veredicto dos jurados, de regra, é soberano (CF/88, art. 5º, XXXVIII), sendo a apelação criminal
contra a decisão do júri considerado recurso de fundamentação vinculada, isto é, o seu êxito depende do
enquadramento em hipóteses bastante limitadas na legislação processual.

Nessa linha, sem olvidar da inegável relevância dos princípios constitucionais da presunção de
inocência e irredutibilidade salarial, tenho que, neste caso, há de prevalecer o princípio da moralidade
administrativa, a sugerir a impossibilidade de recebimento de remuneração sem a contraprestação laboral.

Nesse sentido, há precedente do STJ:

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. PRISÃO PREVENTIVA. SUSPENSÃO DO


PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO AO AGENTE PÚBLICO. LEGALIDADE. NÃO
CONHECIMENTO.

[...]

2. No serviço público, assim como, de resto, nas relações empregatícias reguladas pela
Consolidação das Leis do Trabalho, a remuneração/salário é a própria contraprestação pelo
serviço/trabalho.

3. Em sendo assim, não prestado o serviço pelo agente público, a conseqüência legal é a
perda da remuneração do dia em que esteve ausente, salvo se houver motivo justificado.

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4. E, por induvidoso, a ausência do agente público no serviço devido ao cumprimento de
prisão preventiva não constitui motivação idônea a autorizar a manutenção do pagamento da
remuneração. Com efeito, não há falar, em hipóteses tais, em força maior. Isso porque, em boa
verdade, é o próprio agente público que, mediante sua conduta tida por criminosa, deflagra o óbice
ao cumprimento de sua parte na relação que mantém com a Administração Pública. Por outras
palavras, não há falar em imprevisibilidade e inevitabilidade, afastando, por isso mesmo, um dos
elementos essenciais ao reconhecimento da alegada força maior.

[...]

7. Recurso não conhecido. (REsp 413.398/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,


SEXTA TURMA, julgado em 04/06/2002, DJ 19/12/2002, p. 484).

Inclusive, já posicionei-me de igual modo em voto – vista na Apelação n.


0005599-21.2015.8.22.0001 e em Complementação de Julgamento na Apelação n.
0005566-16.2015.8.22.0001.

Naquelas ocasiões destaquei que o ato de suspensão da remuneração tem por fundamento o art.
26 da Lei 68/92 – o qual regula hipótese específica de prisão preventiva do servidor – e não o art. 191 do
mesmo diploma – este destinado a regular a suspensão preventiva do servidor no âmbito do PAD, e por
ato da Administração, quando sua permanência em serviço possa prejudicar a apuração dos fatos, de
modo que na hipótese de prisão preventiva do servidor, em nenhum momento assenta que o afastamento
será “sem prejuízo à remuneração”. Logo, considero que o legislador intencionalmente não pretendeu
autorizar ao servidor preso preventivamente o recebimento da sua remuneração, porquanto, neste caso,
não há contraprestação laboral.

Aqui, além do mais, como já consignado, antes do ajuizamento deste writ o recorrente foi
condenado por homicídio à pena de 14 (quatorze) anos de reclusão por homicídio contra seu colega de
profissão, crime de grande repercussão social, e com decretação de perda do cargo de delegado de polícia.

Por fim, rememoro, ainda, o estudo realizado por mim quanto ao precedente do STF (RE
482006/MG, julgado pelo Tribunal Pleno do STF, sob a sistemática da Repercussão Geral) que
aparentemente autorizaria a percepção de remuneração por presos preventivos. Ao aprofundar no estudo
deste último, observei que o caso discutido se referia à redução da remuneração de servidores meramente
processados criminalmente e não presos preventivamente, tal como a hipótese ora em apreciação.

Por oportuno, colaciono a ementa do RE 482006/MG:

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ART. 2º DA LEI ESTADUAL 2.364/61 DO ESTADO DE MINAS GERAIS, QUE DEU NOVA
REDAÇÃO À LEI ESTADUAL 869/52, AUTORIZANDO A REDUÇÃO DE VENCIMENTOS DE
SERVIDORES PÚBLICOS PROCESSADOS CRIMINALMENTE. DISPOSITIVO
NÃO-RECEPCIONADO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. RECURSO
IMPROVIDO. I - A redução de vencimentos de servidores públicos processados criminalmente
colide com o disposto nos arts. 5º, LVII, e 37, XV, da Constituição, que abrigam, respectivamente,
os princípios da presunção de inocência e da irredutibilidade de vencimentos. II - Norma estadual
não-recepcionada pela atual Carta Magna, sendo irrelevante a previsão que nela se contém de devolução
dos valores descontados em caso de absolvição. III - Impossibilidade de pronunciamento desta Corte
sobre a retenção da Gratificação de Estímulo à Produção Individual - GEPI, cuja natureza não foi
discutida pelo tribunal a quo, visto implicar vedado exame de normas infraconstitucionais em sede de RE.
IV - Recurso extraordinário conhecido em parte e, na parte conhecida, improvido. (RE 482006,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/11/2007, DJe-162
DIVULG 13-12-2007 PUBLIC 14-12-2007 DJ 14-12-2007 PP-00050 EMENT VOL-02303-03 PP-00473
RTJ VOL-00204-01 PP-00402)

Ali - Apelação nº 0005599-21.2015.8.22.0001 – salientei as seguintes considerações, as quais


transcrevo, e que demonstram a correção desta linha de raciocínio:

O distinguish do caso em apreciação com o paradigma há de ser feito porque, a contraprestação


laboral por parte do servidor constitui ponto central para definição da tese jurídica ora lançada, qual seja,
a inexistência de contraprestação laboral justifica a suspensão da remuneração pois, do contrário, haveria
violação ao princípio da moralidade administrativa. Por outro lado, o caso julgado pela Suprema Corte
não considerou essa vertente fática, restringindo-se em analisar se a mera deflagração da ação penal
contra o servidor (com o recebimento da denúncia) poderia, ou não, justificar a redução da remuneração,
sem adentrar no aspecto da prisão preventiva e da ausência de contraprestação laboral.

Ora, a prisão preventiva é compatível com o ordenamento constitucional e, sendo medida de


cunho excepcional, somente é aplicada quando evidente a sua necessidade, para garantia da ordem
pública, ordem econômica, conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal
(CPP, art. 312).

Assim, se a prisão preventiva foi necessária em algum momento do processo-crime e, por


consequência disso, o autor deixou de exercer suas funções, a causa que motivou a prisão cautelar deve
ser imputada ao próprio preso, e não à Administração, na medida em que esta somente deu cumprimento
à legislação estadual ao determinar a suspensão da remuneração do servidor preso preventivamente.

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Em suma, consideradas todas essas premissas, chego a conclusão de ser justa e legal a suspensão
da remuneração do servidor, notadamente em razão da ausência de contraprestação laboral pois, do
contrário, a meu sentir, haveria franca violação ao princípio da moralidade administrativa.

Esse, aliás, foi o entendimento adotado pela 1ª Câmara Especial no julgamento da APL
0005566-16.2015.8.22.0001, julgado conforme a técnica do art. 942 do CPC. Na ocasião, além desta
relatoria, votaram a favor da possibilidade de suspensão da remuneração do servidor preso
preventivamente os desembargadores Gilberto Barbosa, Oudivanil de Marins e Renato Mimessi, vencido
o relator, Des. Eurico Montenegro.

Nesse mesmo sentido, é a posição da 2ª Câmara Especial:

Apelação. Servidor preso preventivamente. Prisão. Sentença de pronúncia. Reafirmação.


Remuneração. Recebimento. Contraprestação. Ausência. Conduta ilícita. Danos materiais e morais
indevidos.

O exercício das funções do cargo é que justifica a retribuição ao servidor, salvo quando presentes
as exceções previstas em lei, tais como férias, licenças e afastamentos e faltas justificadas. Logo, é lícita a
ação do Estado de suspender o pagamento do servidor preso em decorrência de prisão determinada
em sentença de pronúncia, já que, nesse caso, o servidor deixa de trabalhar por motivo
injustificado, decorrente de ato ilícito por ele próprio praticado.

Se os fatos apontados pelo servidor como causa de pedir os danos materiais e morais decorrem de
atos ilícitos por ele mesmo praticados, seus pedidos devem ser julgados improcedentes.

APL 0005564-46.2015.8.22.0001, 2ª Câmara Especial, Rel. Des. Renato Mimessi, julgamento:


26/09/2017.

Quanto a alegação de ofensa ao devido processo legal, por desrespeito principalmente aos
princípios da ampla defesa e contraditório, não é aceitável pois independente das condições de saúde
apresentada pelo impetrante, o mesmo foi representado por advogado constituído, o qual apresentou
defesa técnica, requereu provas e todas os demais atos aptos a dar ampla defesa ao impetrante.

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De igual modo, não se vislumbra a ocorrência de suspeição que contaminasse o procedimento,
pois o servidor Thiago Araújo Laiola, ao declara-se suspeito para compor a comissão processante por
motivos de foro íntimo, foi substituído por outro membro, sem prejuízo para o deslinde processual.

Assim, sendo a ação mandamental, a qual exige a demonstração inequívoca, mediante prova
pré-constituída, do direito líquido e certo invocado e bem como que a suposta autoridade coatora tenha
praticado qualquer ato eivado de ilegalidade ou abusividade, não existindo tal ilegalidade e abusividade,
não há se falar em direito líquido e certo também. Este é o posicionamento desta Corte:

APELAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. POSSE. IMPEDIDA.


TÉCNICO EM ORTOPEDIA. CARGA HORÁRIA SUPERIOR A 60H. PRINCÍPIOS DA
EFETIVIDADE E RAZOABILIDADE. PRECEDENTES. STJ. ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE.
NÃO VERIFICADA. INEXISTENTE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO IMPROVIDO.

A ação mandamental tem como um de seus requisitos a prova pré-constituída, por


conseguinte, é via imprópria para reconhecimento da pretensão, se há necessidade de dilação
probatória. Ademais, para a concessão do pleito, há se demonstrar a abusividade ou ilegalidade do
ato administrativo e a liquidez e certeza do direito do autor.

Apesar da Constituição Federal não estabelecer limites explícitos a carga horária para a
cumulação de cargo público, em nome do princípio da efetividade combinado com razoabilidade, permite
concluir que a jornada de trabalho não deva ser excessiva, tendo o STJ estabelecido como limite
proporcional a carga horária de 60 horas para os profissionais da área de saúde.

APELAÇÃO CÍVEL, Processo nº 7037547-36.2018.822.0001, Tribunal de Justiça do Estado de


Rondônia, 2ª Câmara Especial, Relator(a) do Acórdão: Des. Roosevelt Queiroz Costa, Data de
julgamento: 22/10/2019

APELAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. CENTRO DE FORMAÇÃO DE


CONDUTORES. LICENÇA CASSADA. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO FALSO. PAD.
PRESCRIÇÃO. INEXISTENTE. TEORIA DO FATO CONSUMADO. MODIFICAÇÃO DE SANÇÃO
ADMINISTRATIVA. INAPLICÁVEL. ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE. NÃO DEMONSTRAÇÃO.
RECURSO IMPROVIDO

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A ação mandamental tem como um de seus requisitos a prova pré-constituída, por conseguinte, é
via imprópria para reconhecimento da pretensão, se há necessidade de dilação probatória.

Havendo correspondente sanção penal à conduta administrativa examinada, o prazo de prescrição


aplicável será aquele constante no tipo penal.

Inaplicável a teoria do fato consumado quando tratar-se de conduta não consolidada, que a exame
em submetida a processo administrativo, por constituir-se em ato gravíssimo. De igual modo, não é
possível ao Poder Judiciário a reforma de decisão administrativa, quando a mesma fundamenta-se em
normas e regras previstas juridicamente e não apresentarem qualquer tipo de abusividade ou ilegalidade.

Não sendo possível a verificação de plano da abusividade ou ilegalidade perpetrada pela


suposta autoridade coatora, não se demonstram presentes os elementos essenciais à ação
mandamental, sendo a via ordinária a mais acertada para discutir o direito pleiteado, para a qual
se recomenda o impetrante.

APELAÇÃO CÍVEL, Processo nº 7054353-83.2017.822.0001, Tribunal de Justiça do Estado de


Rondônia, 2ª Câmara Especial, Relator(a) do Acórdão: Des. Roosevelt Queiroz Costa, Data de
julgamento: 17/09/2019

Em face do exposto, nos termos aduzidos, DENEGO A SEGURANÇA por inexistir direito
líquido e certo, nos termos do art.14, caput, da Lei 12.016/2009 c/c art. 487,I, do CPC/15.

É como voto.

EMENTA

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Mandado de Segurança. Retorno ao cargo público. Recebimento de remuneração. Servidor
preso. Demissão. Delegado de polícia. Homicídio de colega. Processo Administrativo. Irregular.
Ilegalidade e abusividade. Não verificada. Inexistente direito líquido e certo. Segurança denegada.

A ação mandamental tem como um de seus requisitos a prova pré-constituída, devendo ainda ser
demonstrada a abusividade ou ilegalidade do ato administrativo e a liquidez e certeza do direito do autor.

O legislador não pretendeu autorizar ao servidor preso preventivamente o recebimento da sua


remuneração, porquanto, neste caso, não há contraprestação laboral. Ademais, tendo havido a condenação
do servidor por crime de homicídio, não há se falar em presunção de inocência.

A alegada ofensa ao princípio do devido processo legal, em razão das condições de saúde do
impetrante, não podem ser acatadas quando o mesmo foi representado por advogado constituído e o
mesmo compareceu a todos os atos do processo administrativo, inclusive manifestando-se nos autos por
provas e apresentando defesa técnica.

De igual modo, a alegada suspeição de membro da comissão processante, cai por terra, quando o
referido membro requer ele mesmo sua substituição e esta é atendida pela Administração.

Na espécie, tratou-se do rumoroso caos do delegado de polícia (impetrante) que assassinou seu
colega, crime de repercussão social exsurgindo o processo administrativo e penal que seguiram os
trâmites legais, impondo, por consequência, a negação da pretensão autoral.

Não sendo possível a verificação de plano da abusividade ou ilegalidade perpetrada pela suposta
autoridade coatora, não se demonstra presente os elementos essenciais a ação mandamental.

ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Magistrados da Tribunal Pleno do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentose das notas taquigráficas, em, SEGURANÇA DENEGADA NOS
TERMOS DO VOTO DO RELATOR, À UNANIMIDADE.

Porto Velho, 17 de Fevereiro de 2020

Desembargador(a) ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

RELATOR

Assinado eletronicamente por: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA - 04/03/2020 09:44:07 Num. 8199063 - Pág. 12
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