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Direitos reais casos práticos- posse

A. A 10 de Setembro de 2017, ANASTÁCIO, proprietário e possuidor de um computador portátil da marca


“Moshiba”, modelo Corsário, com o número de série 123456MC, celebrou com BAUDOLINO um
contrato de comodato tendo por objeto o referido computador, entregando-lho de imediato.
No dia 20 de setembro de 2017, CASTORINA, namorada de BAUDOLINO completou 20 anos de idade.
Como se tinha esquecido da data, BAUDOLINO decidiu doar-lhe o referido computador, como presente
de aniversário, entregando-lho de imediato. CASTORINA ignorava que o computador pertencia a
ANASTÁCIO.
A 20 de Abril de 2020, ANASTÁCIO contactou BAUDOLINO, pedindo-lhe que lhe devolvesse o
computador, tendo então sido informado por BAUDOLINO que não o podia devolver, pois doara-o a
CASTORINA.
A 30 de Maio de 2020 ANASTÁCIO encontrou CASTORINA num banco de jardim público em Barcelos,
com o computador a seu lado. Furioso, ANASTÁCIO pegou no computador e levou-o consigo, sem nada
dizer, não tendo CASTORINA tido tempo para esboçar qualquer reação.
1. Indique, justificando devidamente as suas respostas: quem adquiriu posse sobre o referido
computador, quando a adquiriu, qual a forma de aquisição dessa posse e quais as respetivas
características.
 1º ver se alguém se tornou possuidor naquele momento e se age de forma correta. Se exerce poderes
empíricos.
 Se alguém tem uma coisa em seu poder, mas não atua como proprietário não é possuidor é o detentor.
 no caso de ser detentor só precisamos de dizer que é um detentor, não existe forma nem
características.
 1º paragrafo
 Contrato de comodato é um empréstimo de uma coisa. O código civil prevê duas formas de
empréstimo de uma coisa: o comodato e o mútuo.
Quais são as diferenças fundamentais entre ambos? Ou como é que sabemos sobre qual regime é que
estamos a usar o empréstimo?
 O mútuo é um contrato que tem por objeto coisas fungíveis, o mutuário não se obriga a restituir as
mesmas coisas que lhe foram entregues, obriga-se a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade, a maioria dos casos o muto tem por objeto dinheiro e o mutuário obriga-se a restituir
uma quantia igual em dinheiro. Mas pode não ser assim, podem ser outras coisas desde que no
contexto do contrato essas coisas sejam tratadas como fungíveis, isto é, estejam identificadas
quanto ao género, quantidade e qualidade.
 No comodato, o objeto são sempre coisas certas e determinadas, ou seja, coisas não fungíveis e
por isso o comodatário, ao contrário do mutuário obriga-se a restituir não outra coisa igual ou da
mesma quantidade, mas a própria coisa que lhe foi emprestada.
Neste caso não dizia que era um empréstimo, mas mencionava logo que era um comodato e como
consequência daquele contrato, B ficava obrigado a restituir ao A aquele computador.

 A posse no início do paragrafo pertence ao A, e no final do mesmo continua a pertencer a A. Porque na


consequência do contrato, B tem o computador em seu poder, mas vai agir como se o computador
fosse do A, não vai atuar como se fosse dono.  neste caso B é assumido como um simples detentor.
 2º paragrafo
 Do ponto de vista da posse aconteceu o que? Quando o B decidiu oferecer o computador a C, passou
agir como se fosse dono, passando a ter a posse. Tornou-se possuidor no dia 20 se setembro de 2017.
 Qual é a forma ou o modo de aquisição da posse?  é uma posse originária (não tem a colaboração do
anterior proprietário, ou seja, do A); há uma inversão do título da posse, na modalidade de oposição
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implícita, ele praticou um ato que por si só nos leva a assumir que ele passou agir como animus
possidendi, ou seja, como se fosse dele.
 Características da posse de B  (seguir a ordem do código)
 Não titulada; só é titulada quando se funda num modo legitimo de adquirir direitos reais, desde
que não padeça de vícios de forma.
Neste caso houve algum negócio jurídico que estivesse na base daquela aquisição de B?  não!
Há ali um negócio jurídico celebrado 3 dias antes, mas o comodato, não é abstratamente
idóneo para a aquisição de direitos reais, ou seja, não é um modo legitimo de adquirir a
propriedade.
 Má-fé  sabe que ao passar agir como possuidor está a lesar o direito do A. Como a posse é
não titulada também se podia presumir que era de má-fé (art.º 1260 nº2)
 Pacifica  não houver qualquer tipo de meio de coação;
 Oculta A sabe que B tem o computador, mas não sabe que ele está a atuar como se fosse
dele. Neste caso é realizado sempre a quem está atrás e não quem recebe ou vai receber.
 No dia 20 de setembro de 2017, quando decide doar o computador a C, B torna-se possuidor por
inversão do título da posse, por oposição implícita.
 (o B adquiriu a propriedade do computador quando adquiriu a posse? Não! Apenas se tonou possuidor)
– não era necessário mencionar nesta parte
 C passou a ser possuidora, qual é que foi o modo de aquisição?  através da aquisição derivada por
tradição material, porque é o próprio computador que foi entregue e não um símbolo representativo.
 Características da posse de C
 Titulada é preciso (art.º 1259) que se fundamente num modo legitimo de adquirir DR, esse
modo legitimo não pode sofrer de vícios de forma, mas pode padecer de vícios de substância.
Existe algum título? Existe! O título de doação, qual é a forma para existir um contrato de
doação? (art.º 1247) coisas móveis, não está sujeita a nenhumas formalidades se a doação for
acompanhada de a entrega da coisa. Se não for acompanhado já teria de ser realizado por
escrito.
Muitas vezes as declarações são tácitas, mas existe expressões que tem valor de declaração e
assume o contrato.
A doação não é valida, porque B não era proprietário do computador e dessa forma não tinha
capacidade para o doar, uma vez que se caracterizava na doação de um alheio e dessa forma é
nulo. No entanto o vicio que provoca esta nulidade, não tem haver com a forma, mas sim
porque o dono não tem legitimidade para o fazer.
Para que a posse seja titulada basta que o título não padeça de nenhum vicio de forma, o que
se aplica neste caso.
 Boa-fé  sendo titulada presume-se de boa-fé, no caso diz expressamente que C não sabia que
o computador não pertencia ao B. não tinha consciência que estava a violar o direito de outra
pessoa;
 Pacifica  não existiu nenhum tipo de coação;
 Publica e oculta esta característica é relativa, dessa forma pode ser publica para um e oculta
para outro. Aqui acontece isso. É publica para com o B, mas oculta perante o A.
 No final deste paragrafo o possuidor é C.
 3º paragrafo
 Do ponto de vista da posse acontece o que? A C continua a ser possuidora, mas este facto tem algumas
consequências, que consequências são essas?  a posse tornou-se publica para A, isto leva a várias
consequências como:
 Começa a contar o prazo para a perda da posse do A;
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 Começa a contar o prazo para usucapião;
 Começa a contar o prazo, se ainda ouvir lugar a isso para pedir uma ação de restituição da
posse (1297)
 4º paragrafo
 A ainda tinha a posse, mas poderia reagir desta forma? Não!
 Ele ainda não tinha perdido a posse forma, só em abril desse ano é que se começou a contar os prazos
(1267), mas será que possuidor pode usar a sua própria força para requerer a posse nestas situações?
 só pode realizar isso de forma excecional, o que neste caso não acontece pois não preenche os
pressupostos dos art.º 316 e 317.
 No entanto, A recupera a posse efetiva, através da aquisição originária (não tem a concordância do
anterior possuidor). Qual é o modo de aquisição? Esbulho
 Características da posse:
 Não titulada  o esbulho não é um modo legitimo de adquirir;
 Boa-fé a pessoa estava a recuperar aquilo que era seu, mesmo que o modo não seja legitimo,
pode ser considerado de boa-fé, uma vez que não estava a lesar o direito de ninguém, mas sim
a posse de alguém;
 Pacifica  não foi adquirida com violência, não ouve nenhum tipo de ameaça;
 Publica o interessado era a C
 Neste momento a posse encontra-se com A.
2. Poderá CASTORINA instaurar algum procedimento judicial contra ANASTÁCIO? Se sim, qual e até
quando? Justifique.
 Ação de restituição  ela não é proprietária, mas é possuidora e deixa de ser considerada possuidora,
no caso de ter ciso realizado contra a sua vontade (que foi o caso) dispõe de um ano a contar da perda
da posse ou se o esbulho for violento, o prazo só começa a contar quando acabar essa violência.
 Até quando é que o poderia fazer? 1 ano a contar de 30 de maio de 2020, já não tinha muito tempo.
Em caso de não propor ação nesse prazo deixa de ter a posse e não poderia recuperar a posse.
 Se o esbulho for violento, além da ação de restituição poderíamos fazer referência ao procedimento
cautelar especificado de restituição da posse, mas só é permitido se a posse for violenta.
3. Admitindo que o procedimento referido na resposta anterior será julgado procedente a 25 de agosto
de 2021, poderá CASTORINA vir a adquirir a propriedade do computador? Se sim, como e quando?
Justifique.
 Se for julgada procedente ação de restituição, restituir ao possuidor que foi esbulhado, o que é que
acontece? Sendo restituída a posse, o esbulhado vai assumir que nunca foi esbulhado e que nunca
perdeu a posse.
 Se conseguir recuperar a posse em 25 de agosto, vai ser assumido como se nunca a tivesse perdido
 1299 e 1300  qual é o prazo da usucapião de coisas moveis não sujeitas a registo? Como é o caso do
computador.  sendo a posse titulada e de boa-fé seria de 2 anos, mas o prazo do art.º 1299 conta-se
a partir do momento em que a posse se torna publica e pacifica (1300) 20 abril de 2020.
 Poderia adquirir a propriedade quando estivessem completados os 3 anos, ou seja, a 20 abril de 2023,
mas como se trata de uma coisa móvel não sujeita a registo pode ter interesse através do nº2 do art.º
1300 que permite a aquisição da usucapião se a posse for publica e pacifica em relação ao possuidor
anterior, é preciso que o possuidor atual tenha uma posse com características de boa-fé e titulada, a
usucapião pode ser dada passados 4 anos desde o início da posse. Contava desde 2017 os 4 anos, e
invocava por usucapião.
 Passaram quase 3 anos desde que a posse é publica, podemos escolher entre os 2 artigos e ver qual é
que favorece.
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Poderia A realizar alguma coisa para recuperar o computador?  ação de reivindicação de posse, poderia
até 20 de setembro de 2021

B. ALARICO era proprietário e possuidor de um raro exemplar da primeira edição do livro “Tratado
Jurídico das Pessoas Honradas, escripto segundo a legislação vigente à morte d' el-rei D. João VI”,
editado em 1851. A 12 de Março de 2018, ALARICO vendeu o referido livro à BIBLIOTECA da Fundação
Amigos do Livro. Como a administração da BIBLIOTECA tinha acordado, porém, emprestar de imediato
o livro, por 30 dias, a CASIMIRO - famoso alfarrabista da cidade do Porto, para que este o pudesse
exibir numa exposição de livros antigos em Barcelos -, deu instruções a ALARICO para o entregar a
CASIMIRO, o que aquele fez nesse mesmo dia.
Durante a referida exposição, DÁRIO, convencido que o livro pertencia a CASIMIRO, propôs comprar-
lho por € 50.000,00. A 2 de Abril de 2018, CASIMIRO aceitou a proposta, tendo entregue nesse mesmo
dia o livro a DÁRIO.
DÁRIO mantém, até hoje, o livro na sua casa, à vista de todos quantos o visitam, com exceção de um
pequeno período, durante o ano de 2020, em que DÁRIO entregou o livro na oficina de restauro de
antiguidades de ESMERALDO, para que este aplicasse um repelente de térmitas no livro, no que DÁRIO
despendeu € 250,00.
A 20 de Janeiro de 2021, depois de muita insistência por parte da administração da BIBLIOTECA,
CASIMIRO, que emigrara, entretanto, para a Argentina, informou aquela administração do negócio que
celebrara com DÁRIO, pelo que apenas nesta data a BIBLIOTECA teve conhecimento do que sucedera
ao livro.
1. Sabendo que nenhum dos intervenientes usou, até hoje, qualquer meio de tutela possessória,
analise as diversas situações mencionadas no texto e refira, justificando devidamente as suas
respostas: quem adquiriu posse sobre o referido livro, qual a forma de aquisição dessa posse e
respetivas características.
 1º paragrafo
 A era proprietária de um livro e vendeu à B o livro, mas não o entregou pois acordou com B que iria
entregar a C de acordo com um contrato de empréstimo que B tinha feito com C.
 Aconteceu alguma coisa em relação à posse?  houve mudança do possuidor, que passou a ser a B, no
dia 12 de março de 2018
 É uma aquisição derivada, ocorre com a colaboração do anterior possuidor, dentro da mesma qual é o
modo? Título possessório bilateral, há um negócio destinado à transferência da propriedade, mas por
acordo das partes a coisa vai permanecer em poder do vendedor, ou seja, o anterior possuidor.
 No entanto o A, antigo possuidor nesse dia também vai deixar de ser possuidor e passa a ser um
simples detentor.
 Características da posse de B
 Titulada  tem um contrato válido;
 Boa-fé;
 Pacifica;
 Publica. (aquisição derivada, em regra é sempre publica pelo menos para o anterior possuidor)
 Quando A entrega o livro ao C o que acontece com a posse?  o C passa a ser o novo detentor, mas
em termos da posse ela pertence ao B.
 2º + 3º paragrafo
 C tem o comodato, mas alguém lhe fez uma proposta e ele aceitou e vendeu o livro;
 Que relevância é que aquilo tem em termos da posse? O C num primeiro momento quando decide
vender o livro deixa de ser detentor para se considerar proprietário por inversão do título da posse,
essa inversão é por oposição implícita
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 Características da posse de C
 Não titulada;
 Má-fé;
 Pacifica;
 Oculta, em reação à biblioteca;
 Mais tarde, C transfere a posse ao D, qual é o modo de aquisição? Aquisição derivada, tem ajuda do
anterior possuidor. Qual é o modo? tradição material, existe a entrega da coisa no dia 2 abril de 2018
 Quais são as características da posse de D
 Titulada;
 Boa-fé;
 Pacifica;
 Publica em relação ao C, mas oculta em relação ao B.
 No final temos o possuidor efetivo o D e a B como a possuidora em termos jurídicos pois não sabe que
já não detém a posse e dessa forma os prazos não se começam a contar.
 4º paragrafo
 Tem alguma relevância do ponto de vista da posse? Não!
 Não temos capacidade de perceber se a biblioteca conseguia ter acesso, ou não ao livro;
 5º paragrafo
 O que aconteceu de forma revelante na posse em 20 de janeiro de 2021? A posse de D tornou-se
publica para a biblioteca.
 Atualmente considera-se D o possuidor embora B também se considere possuidora pois ainda não
passou mais de um ano desde o conhecimento.
2. Poderá a BIBLIOTECA exigir hoje (5 de maio de 2021) a DÁRIO a entrega do livro? Justifique a sua
resposta.
 O possuidor que foi privado da sua posse contra a sua vontade pode fazer o que? Intentar uma ação de
restituição. A ação de restituição tem pressupostos processuais específicos, nomeadamente no que
respeita à legitimidade passiva. O possuidor que seja privado da sua posse contra a sua vontade pode
interpor ação contra quem?
 Contra o esbulhador, neste caso foi o C, no entanto ele já não tem a posse, portanto não faz
sentido colocar contra ele;
 Contra os herdeiros do esbulhador, se tiverem substituído o C na posse;
 Contra terceiros que tenham adquirido a posse, mas apenas se esses terceiros tiverem
conhecimento do esbulho.
 D tem uma posse de boa-fé, quando possuiu desconhecia que tinha havido uma usurpação da posse
por parte do C.
 Seria possível interpor uma ação de restituição da posse contra D? não! Ele não tem legitimidade
passiva, dessa forma não podia fazer uma ação de restituição, ainda que estivesse dentro do prazo para
a realizar, o D não tem legitimidade.
 A restituição da posse é o único meio de tentar restituir a posse? Não! Não início quando A vendeu o
livro à biblioteca a mesma adquiriu a posse e a propriedade do livro, o que atualmente ainda continua
a ser. Como é que o proprietário pode defender o seu direito? Através de uma ação de reivindicação
(tem como objetivo recuperar a posse de algo que é da minha propriedade).
 Ação de reivindicação pode ser colocada contra o D? pode! Já não interessa se está de boa-fé ou de má
—fé, os direitos reais gozam de eficácia absoluta ou erma omnes sendo superiores à posse.
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Conclusão: a B não pode colocar uma ação de restituição da posse, porque D não tem legitimidade passiva
(art.º 1231), mas pode colocar uma ação de reivindicação, uma vez que além de possuidora era ainda
proprietária do livro.
Estaria ainda a tempo de interpor ação de reivindicação? Sim, pois não esta sujeita a nenhum prazo. No
entanto, a coisa não se pode extinguir ou a criação e um direito real incompatível, ou seja, sem prejuízo de
existir a usucapião.
Quando é que o D tinha a possibilidade de se considerar o possuidor através da usucapião? Art.º 1299 e
1300. 3 anos a contar do momento em que a posse se tornou publica, ou 4 anos desde o início da posse se
for oculta.
3. Independentemente da sua resposta à questão anterior, caso DÁRIO tenha de devolver o livro à
BIBLIOTECA, que direito ou direitos poderá invocar perante aquela? Justifique.
 O D pode exigir alguma coisa à biblioteca? Sim!
 Em 2020 D entregou o livro a uma oficina de restauro, para evitar a sua detioração, sendo que gastou
nisso 250 euros.  benfeitoria necessária, são sempre reembolsadas independentemente de o
possuidor estar de boa-fé ou de má-fé. (art.º 1273)
 Se D tivesse devolvido o livro teria direito ao reembolso desses 250 euros
 Mas, além disso poderia exigir mais a B através do art.º 1301. Como foi comprado a um comerciante
que vende coisas do mesmo género B é obrigado a restituir o preço que C pagou pelo objeto.  se não
fosse do mesmo género já não teria de ser reembolsado. O 1301 é realizado para segurança dos
comerciantes.
 D comprou a C, que é um alfa revista (alguém que se dedica à venda de livros usados)
 Sem prejuízo do proprietário depois exigir o regresso a quem originou esta situação toda
 Tem de pagar os 50 000 euros + os 250 (art.º 1273 e 1301)

C. ANTÓNIO, viúvo, emigrante na Suécia, era proprietário e possuidor de um prédio urbano destinado a
habitação sita em Braga, que apenas utilizava nas suas raras deslocações a Portugal. Em setembro de
1997, BARNABÉ, filho único de ANTÓNIO, que nascera na Suécia e ali sempre vivera com o pai, foi
admitido na Universidade do Minho, tendo passado a viver no referido prédio em Braga, com o
consentimento de ANTÓNIO.
A 12 de Setembro de 2001, BARNABÉ, sem o conhecimento do pai, arrendou o prédio à sua amiga
CAROLINA, entregando-lhe consequentemente as chaves. CAROLINA passou a viver no prédio desde
então, pagando pontualmente a BARNABÉ a renda que com ele acordara.
A 24 de Dezembro de 2002, BARNABÉ, sempre sem conhecimento do pai, pretendendo iniciar uma
longa viagem à volta do mundo, vendeu o prédio a CAROLINA, por documento particular simples,
recebendo logo a totalidade do preço.
A 13 de Agosto de 2002, ANTÓNIO veio a Portugal de férias pela primeira vez desde 1997, só então
constatando que a fechadura do prédio fora mudada e que nele se encontrava a viver CAROLINA, com
quem falou, tendo-lhe esta mostrado o contrato de compra e venda que celebrara com BARNABÉ.
CAROLINA, que continuava a viver no prédio, faleceu a 31 de Julho de 2017, sucedendo-lhe como único
herdeiro o seu cônjuge, DIONÍSIO.
1. Indique, fundamentadamente, quem adquiriu posse sobre o prédio, qual o modo e a data dessa
aquisição, bem como as respetivas características.

 1º paragrafo
 O possuidor é o A, embora não vivesse lá de forma permanente;
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 B foi para lá viver, com o consentimento do pai, portanto é um simples detentor.
 2º paragrafo
 O B ao decidir arrendar o prédio, passou agir como possuidor, passa agir como usufrutuário do prédio.
 Essa posse é originaria por inversão do título da posse
 Características da posse de B:
 Não titulada;
 Má-fé;
 Pacifica;
 Oculta, em relação ao pai (o pai continua a ser considerado possuidor, uma vez que na posse
oculta não começa logo a contar os prazos)
 E a C, vai viver como arrendatária  alguma doutrina considera que o arrendatário também é um
possuidor. no entanto, o arrendatário embora tenha acesso aos meios de defesa da posse, tem acesso
porque a lei expressamente lhe concede esse acesso, mas não é considerado possuidor é apenas um
detentor.
 12 de setembro de 2021 o B é o possuidor efetivo, A também é o possuidor e C é simples detentora.
 3º paragrafo
 C tornou-se possuidora ou não? Não sequencia deste contrato é natural que ela passe agir como se o
prédio fosse dela, deste modo constituiu a posse. Qual foi o modo de aquisição? Aquisição derivada
por traditio brevi manu, porque à uma cedência realizada pelo anterior posterior e houve uma
transmissão da posse para alguém que já era detentor.
 Características da posse de C
 Não titulada existe um título, que é um contrato de compra e venda sendo que não é válido,
pois padece de um vício de forma (não foi realizado por escritura publica)  o facto de ser uma
venda de uma coisa alheia não influencia pois é irrelevante para ser titulada ou não
 Má-fé  pois não é titulada, a C sabia que estava a lesar o direito de outra pessoa? Não, até
porque ele pagava as rendas a B. no entanto, existe uma presunção de má-fé através do facto
da posse não ser titulada e haver a obrigatoriedade de ser sujeito a registro
 Publica para B e oculta para com A  o anterior possuidor tem de ser capaz de ter
conhecimento da posse, como A vivia no estrangeiro não tinha a capacidade de saber.
 Pacifica
 4º paragrafo
 O que aconteceu com a posse me 13 de agosto de 2002? A posse de C tornou-se publica para A,
começou se a contar o prazo para a perda da posse de A e para a usucapião de C.
 O A deixou de ser considerado possuidor um ano depois 12 de agosto de 2003 (1267 nº2)
 5º paragrafo
 A partir de 2017 com a morte de C, a posse passou para D nos termos do art.º 1255
 Aquisição derivada sui genris pois os possuidores sucedem na posse independentemente da aquisição
material na data da morte, ou seja, D passou a ser possuidor do prédio no dia31 de julho de 2017,
independentemente de estar lá a viver ou não.
 Características da posse de D (são as mesmas que C tinha)  tem sempre as mesmas características
que o autor da sucessão
 O possuidor hoje é o D

2. Imagine que foi hoje (5-5- 2021) contactado por ANTÓNIO, que pretende saber se pode exigir a
DIONÍSIO que lhe entregue o prédio. Responda-lhe fundamentadamente.
Direitos reais casos práticos- posse
 Não pode realizar uma ação de restituição, uma vez que o D não tem legitimidade passiva. Mas
também porque o prazo esgotou em agosto de 2013.
 A ainda é o proprietário do prédio? Pode exigir através de uma ação de reivindicação?
 Quando é que C ou D, adquiriram a posse por usucapião? É uma coisa imóvel, não existe registo de
nenhum direito, que deveria ter feito.
 Prazo usamos qual? 1294, 1295 ou 1296?  como não há registo do direito nem da mera posse,
usamos o 1296
 15 anos boa-fé
 20 anos má-fé
 Começam a contar a partir de 13 de agosto de 2002  completam-se quando? Se a posse fosse de
boa-fé seria em agosto de 2017, se fosse de má-fé (que é o caso pois presume-se de má-fé) o prazo
estaria completo em agosto de 2022
 A ainda pode, mas corre o risco de D dizer que ainda que a posse fosse não titulada, podia provar que a
sua posse era de boa-fé e dessa forma já poderia dizer que não podia uma vez que estava invocado a
usucapião.
 No caso de morte dá-se sucessão e os prazos são juntos.

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