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DIREITO CIVIL

Direito Civil Desenhado - Atos Lícitos e Ilícitos II

DIREITO CIVIL DESENHADO – ATOS LÍCITOS E ILÍCITOS II

ABUSO DO DIREITO

Atos que constituem abuso do Direito:

• Supressio ou Surrectio;
• Venire Contra Factum Proprium;
• Tu Quoque;
• Duty to Mitigate the Loss.

Supressio ou Surrectio
São facetas da mesma moeda. Supressio é a perda e surrectio é o ganho de um direito
em virtude do tempo.
Exemplo: uma pessoa fecha um contrato de aluguel, por 36 meses, em uma imobiliária.
No contrato escrito fica especificado que, no dia 10 de cada mês, o inquilino deverá ir até a
imobiliária para pagar o aluguel. Mas o dono da imobiliária faz um acordo verbal com o inqui-
lino, dizendo que ele não precisa se preocupar, pois, no dia 10 de cada mês, um funcionário da
imobiliária irá até a sua casa buscar o dinheiro do aluguel. Tudo corre bem durante os 12 pri-
meiros meses, mas, no décimo terceiro mês, o funcionário não aparece para pegar o dinheiro
do aluguel, pois foi demitido. Diante da ausência do funcionário da imobiliária, o inquilino entra
em contato com o proprietário e diz que o mesmo não apareceu para pegar o valor do aluguel.
O dono da imobiliária então se vale da cláusula do cotrato sobre a obrigatoriedade do inquilino
de ir, todo dia 10, à imobiliária para pagar o aluguel. Dessa forma o proprietário comete ato
ilícito, pois está agindo com excesso.
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E mais, como passou um tempo muito grande sem que o proprietário exigisse que o paga-
mento fosse feito na imobiliária, para ele surgiu a supressio, ou seja, perdeu o direito pelo
decurso do tempo. Já o inquilino ganha o direito de que a imobiliária venha até ele buscar o
aluguel todo mês, que é o surrectio, ou seja, ganhou um direito pelo decurso do tempo.

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Venire Contra Factum Proprium


É o caso em que uma pessoa que tenta se aproveitar da própria torpeza, é “dar uma de
João sem braço” pra tirar vantagem de uma situação.
Exemplo: uma pessoa compra mercadorias de outra e paga com cheque pré-datado para
o dia 10 do próximo mês, de acordo com acordo verbal firmado entre elas. A lei do cheque
estabelece que o cheque é ordem de pagamento à vista. Então a pessoa que recebeu o
cheque pode depositá-lo antes do prazo acordado com sua cliente. Mas no Brasil há o cos-
tume de “segurar o cheque”, o acordo foi feito com base na boa-fé. E se a vendedora depo-
sita o cheque antes, ela está se excedendo, está violando os limites impostos pela boa-fé, ou
pelos bons costumes.
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De acordo com a Súmula n. 370 do STJ, caracteriza dano moral apresentação antecipada
de cheque pré-datado. O cheque pré-datado é costume no Brasil e, em nome da boa-fé, o
credor que recebe cheque pré-datado deve se comprometer a depositá-lo na data acordada.
Portanto, caracteriza dano moral apresentação antecipada de cheque pré-datado. E quem o
faz vai responder objetivamente, pois toda vez que temos responsabilidade do art. 187 pelo
abuso do direito, temos uma responsabilidade objetiva.

Tu Quoque
Segundo a doutrina civilista, essa expressão ficou conhecida quando Júlio César encon-
trou, dentro os traidores do Senado, seu filho adotivo Brutus e soltou aquela célebre frase: “Tu
quoque, Brute, fili mi?”, que significa “Até tu, Brutus, filho meu?” O fenômeno do Tu quoque
é exatamente você não exigir de alguém o que você não queria que fizessem com você. Ou
seja, não podemos exigir o cumprimento de uma obrigação se não fizemos a nossa parte.
Exemplo: e, um contrato de compra e venda, fica acordado que uma mercadoria será
entregue após o pagamento da mesma. Mas o comprador não efetua o pagamento e mesmo
assim exige que a mercadoria seja entregue. Nesse caso é claro que ele não terá direito a
receber a mercadoria, pois não pagou por ela. Então uma pessoa não pode exigir que alguém
satisfaça uma obrigação se ela não fez a sua parte no acordo.

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Duty to Mitigate the Loss


Doutrina norte-americana e que vem sendo muito apropriada no Brasil, é o dever de miti-
gar as próprias perdas.
Exemplo: uma pessoa faz o seguro de seu carro contra furto, roubo, incêndio, dentre
outros. Alguns dias depois, o carro pega fogo em uma pequena parte. A pessoa, então, apaga
o fogo com o extintor, ligar para a seguradora e solicita que o carro seja arrumado. Isso é agir
de boa-fé, pois é direito dela acionar a seguradora.
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Agora, se a pessoa, ao ver que um pequeno incêndio começou, e mesmo assim deixa que
o fogo se alastre propositalmente para que possa se aproveitar da situação e, com o dinheiro
que vai receber da seguradora, consiga comprar um carro novo, pois o seu carro atual está
velho, ela está agindo de má-fé e agravando a situação do devedor (a seguradora) e não a
mitigando. Caso a seguradora consiga comprovar que o segurado agiu de má-fé, ele respon-
derá objetivamente.
De acordo com o art. 188, não constituem atos ilícitos:

I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;


II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo imi-
nente (Estado de Necessidade).

Os atos ilícitos, via de regra, geram responsabilidade civil. Mas ato lícito também pode
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gerar responsabilidade civil. Agora, quando falamos de ato jurídico lícito, esse ato se divide
em dois: Ato Jurídico em Sentido Estrito e Negócio Jurídico.
Ato Jurídico em Sentido Estrito tem previsão do art. 185, que limita-se a dizer que os
atos jurídicos lícitos, que não sejam Negócios Jurídicos, aplicam-se, no que couber, às dis-
posições relacionadas ao título anterior, que é em relação aos negócios jurídicos, que vai do
art. 104 ao 184.
Para descobrirmos quando teremos um ato jurídico em sentido estrito e quando teremos
um negócio jurídico, devemos observar que, tanto em um, quanto no outro, temos a manifes-
tação de vontade. A vontade humana está direcionada para uma determinada situação. Se a
minha vontade humana é praticar o ato e as consequências desse ato estão na lei e não posso
mexer ou manipular, então temos um ato jurídico em sentido estrito.

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Exemplo: reconhecimento de filho. Ou uma pessoa reconhece o filho, ou não reconhece.


Se houver o reconhecimento, então, quem reconheceu, estará vinculado a todas as consequ-
ências da maternidade ou paternidade previstas em lei. A vontade humana está só na prática
do ato: ou pratica ou não pratica.
Já no negócio jurídico, teremos uma situação diferente, porque a vontade humana está
focada na consequência daquele ato, pois, dentre várias consequências, podemos defini-
-las. Se fazemos um ato de negócio jurídico, a minha vontade é a consequência e o ato é só
um meio de se chegar a essa consequência. Então, se assinamos um contrato de compra e
venda, queremos a consequência desse contrato. Portanto, no ato jurídico, a vontade humana
está direcionada para a prática do ato. E no negócio jurídico, a vontade está direcionada para
as consequências do ato.
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O Código Civil estabelece que, em relação ao ato jurídico em sentido estrito, aplica-se, no
que couber, o negócio jurídico. Então, no ato jurídico em sentido estrito, a vontade humana está
direcionada para o ato, as consequências estão na lei e não são alteráveis pelas partes.
No negócio jurídico, as consequências são definidas pelas partes, o ato é só um mero meio.

Ato Fato
Não tem previsão na lei, mas justifica atos praticados quando a vontade humana é despro-
vida de consciência. Trazido por Pontes de Miranda, o ato fato se assemelha ao ato porque
teria vontade humana, mas essa vontade humana é tão desprovida de consciência, que apli-
camos as regras fáticas, de fato jurídico.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Roberta Queiroz.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

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