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Vícios do consentimento
Do erro ou ignorância (CC, art. 138 ao 144)
- Ocorre o erro quando uma pessoa realiza um negócio jurídico sem ter a
noção exata sobre uma coisa, objeto, pessoa ou mesmo sobre a natureza do
próprio negócio jurídico. Essa falsa noção da realidade faz com que a pessoa
realize um negócio jurídico em que há divergência entre a sua vontade real e
vontade declarada do negócio.
> O que ocorre quando o negócio jurídico foi realizado com erro?
b) O negócio pode ser mantido por ser um erro acidental (art. 142, CC) 2;
c) O negócio pode ser mantido e o erro pode ser corrigido para atender a
vontade real do manifestante (art. 144, CC)3.
- Os negócios jurídicos podem ser anulados quando forem realizados com erro,
mas o erro deve ser substancial. Erro substancial é aquele que faz com que a
pessoa realize o negócio jurídico sem ter a noção exata da realidade; pois, se a
pessoa tivesse conhecimento do erro, não teria realizado o negócio jurídico. Os
erros substanciais estão descritos no art. 139 do Código Civil. Além de
substancial, o erro deve ser escusável, ou seja, é aquele erro que qualquer
pessoa de inteligência normal poderia ter cometido. É importante ressaltar que
o enunciado 12 da Jornada de Direito Civil 4 relativizou o erro escusável. Sendo
assim, basta o erro de uma das partes para que o negócio jurídico possa ser
anulado, tendo em vista o princípio da confiança e da boa-fé objetiva dos
contratos.
1
“São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial
que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”.
2
“O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa
cogitada”.
3
“O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de
vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante”.
4
“Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o
princípio da confiança”.
- Erro substancial: é aquele que incide sobre um aspecto relevante, essencial
do negócio jurídico. O erro substancial influencia diretamente no negócio
jurídico, pois se a pessoa tivesse conhecimento do erro não teria realizado o
negócio jurídico. O art. 139 do Código Civil apresenta 6 (seis) espécies de erro
substancial:
- Falso motivo (CC, art. 140) – “O falso motivo só vicia a declaração de vontade
quando expresso como razão determinante”.
Os arts. 142 e 143 do Código Civil trazem três tipos de erros acidentais:
5
“O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa
cogitada”.
Ocorre que, pelas características descritas no contrato, era
perfeitamente possível identificar qual o computador que havia sido
vendido para José. Considerando que o erro incidiu sobre a
indicação do objeto, sendo possível pelo contexto identificá-lo, o
negócio jurídico deve ser mantido.
c) Erro de cálculo (CC, art. 143)6 – o erro de cálculo não anula o
negócio jurídico. Podem ser considerados erros de cálculo a soma
errada do valor das parcelas de um contrato, a divisão errada do
valor total do contrato em números de parcelas, a divergência entre o
valor unitário dos objetos e o valor total do contrato etc.
6
“O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade”.
- Dolo principal (CC, art. 145)7: o dolo principal vivia o negócio jurídico e faz
que ele possa ser anulado. Dolo principal é aquele que foi a causa
determinante da declaração de vontade, ou seja, o dolo influenciou diretamente
na realização do negócio jurídico. Se não fosse o dolo, a pessoa não teria
realizado o negócio. Exemplo: João comprou de José uma franquia de
perfumes. José apresentou várias planilhas de faturamento para João.
Posteriormente, João descobriu que as planilhas apresentadas por José eram
falsas e o faturamento era muito inferior ao apresentado nas planilhas. Se João
conseguir provar que houve o dolo da parte de José, o negócio jurídico
(compra da loja) poderá ser anulado.
- Dolo acidental (CC, art. 146)8: o dolo acidental não vicia o negócio jurídico,
pois o dolo não foi a razão determinante da realização do negócio jurídico. No
dolo acidental, mesmo que a pessoa soubesse do dolo, ela teria realizado o
negócio jurídico só que em outras condições. A consequência do dolo acidental
não é a anulação do negócio jurídico, mas sim a satisfação das perdas e
danos. A pessoa que sofreu o dolo acidental não vai alegá-lo para anular o
negócio jurídico, somente vai alegá-lo para requerer as perdas e danos.
Exemplo: João queria muito comprar o imóvel ao lado da sua casa que
pertencia a José. João economizou o dinheiro e comprou o imóvel por R$
500.000,00 (quinhentos mil reais). José disse e fez constar no contrato que o
imóvel possuía 400 m² (quatrocentos metros quadrados). Posteriormente, João
descobriu que o imóvel possuía apenas 320 m² (trezentos e vinte metros
quadrados). João não pretende anular o negócio jurídico, pois ele teria
realizado o negócio mesmo que soubesse que o imóvel possuía apenas 320 m²
(trezentos e vinte metros quadrados).
- Dolo omissivo ou negativo (CC, art. 147)9: é aquele em que a pessoa de má-
fé se omite, esconde, silencia, oculta algo a respeito de um fato ou de uma
qualidade que a outra parte deveria saber; pois, se a pessoa soubesse, não
teria realizado o negócio jurídico. Exemplo: João vendeu um terreno para José
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“São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”.
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“O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o
negócio seria realizado, embora por outro modo”.
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“Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio
não se teria celebrado”.
e, intencionalmente, omitiu o fato de que o imóvel havia sido embargado
administrativamente pelo IBAMA. João deveria ter dito para José que o imóvel
estava embargado; pois, se José soubesse dos embargos, não teria comprado
o terreno. Ao omitir essa informação, João agiu com dolo negativo ou omissivo.
- Dolo de terceiro (CC, art. 148)10: no dolo de terceiro, uma pessoa que não faz
parte da relação jurídica age de má-fé com a intenção de enganar (ludibriar)
uma pessoa na realização de um negócio jurídico que lhe é prejudicial, mas
que pode aproveitar a outra parte. Exemplo: João estava vendendo uma casa
alagava em períodos de chuva. Quem estava negociando o imóvel para João
era o corretor Pedro. Este, ao vender o imóvel para Maria, garantiu que o
imóvel jamais alagaria. Ao enganar Maria, o corretor Pedro agiu com dolo de
terceiro.
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“Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o
terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”.
Para que o negócio jurídico seja anulado por dolo de terceiro, é
necessário que:
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“O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente
até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o
representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos”.
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“Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou
reclamar indenização”.
direito não vai proteger nenhuma das partes. A má-fé de uma parte vai ser
compensada com a má-fé da outra parte, e nenhuma das partes vai receber a
proteção do direito.
- Coação é a ameaça física ou moral exercida sobre uma pessoa ou bens com
o objetivo de constranger alguém a realizar um negócio jurídico. A coação é um
defeito do negócio jurídico, um vício do consentimento, e está disciplinada do
art. 151 ao art. 155 do Código Civil. A pessoa poderá alegar a coação para
anular o negócio ou requerer perdas e danos.
2. Dano iminente – o temor de dano tem que ser iminente, ou seja, tem
que estar prestes a acontecer e também ser inevitável. O coacto acredita
que, se ele não realizar o negócio jurídico, sofrerá os prejuízos da
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“A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”.
ameaça. A pessoa acredita que não adianta se socorrer a uma
autoridade, pois, ou não dará tempo de evitar o prejuízo ou será ineficaz;
já que, para ele, o dano é inevitável.
3. Dano considerável – o dano tem que ser considerável, tem que ser
grave, importante.
> Não se considera coação e, portanto, não vicia a declaração de vontade (CC,
art. 153)15:
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“No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela”.
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“Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor
reverencial”.
exercer um direito seu, então a ameaça foi justa e lícita, não sendo
suficiente para viciar a declaração da vontade.
- Coação de terceiro: na coação de terceiro, uma pessoa que não faz parte da
relação jurídica age para provocar, no paciente, um fundado temor de dano
iminente e considerável a sua pessoa, com o objetivo de constranger a pessoa
a realizar um negócio jurídico em desacordo com a sua vontade.
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“Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a
parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos”.
2. Perdas e danos – a parte a quem aproveitou a coação
responde solidariamente com o terceiro coator por perdas e
danos.
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“Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela
tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos
que houver causado ao coacto”.
- A pessoa que se encontra em estado de perigo assume uma obrigação
excessivamente onerosa, ou seja, assume uma obrigação desproporcional à
contraprestação. O que se pretende reprimir é que uma pessoa abuse da
situação ao tirar proveito da pessoa que está em estado de perigo e que, em
virtude da fragilidade da pessoa, faça com que ela assuma uma obrigação
muito onerosa.
> Observe que o dano deve ser grave e o perigo deve ter sido a razão
determinante do negócio jurídico. A pessoa somente realizou o negócio jurídico
porque precisava salvar-se ou salvar alguém de sua família. O estado de
perigo retira da pessoa a condição de declarar livremente a sua vontade.
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“Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157”.
- O direito romano já diferenciava a lesão enorme da lesão enormíssima, o que
bem demonstra a raiz antiga do presente instituto. Vale observar que a lesão
enorme seria aquela superior à metade do preço justo e a enormíssima
superior a 2/3 (dois terços) do preço justo.
Obs.: caso o negócio jurídico viciado pela lesão haja sido celebrado sob a
égide do Código Civil de 1916, não é correto defender-se a aplicação retroativa
do Código Civil de 2002. Mais razoável é sustentar-se a sua nulidade por
afronta ao princípio constitucional da função social, valendo acrescentar que
julgado do STJ também chegou à conclusão de nulidade por “ilicitude do
objeto” (REsp 434.687/RJ)19.
- Após a entrada em vigor do Código Civil de 2002, à luz do art. 157, a lesão,
para os negócios civis em geral, foi tratada como causa de anulabilidade do
negócio jurídico, diferentemente do CDC, que, para os negócios de consumo,
considera a lesão causa de nulidade absoluta.
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“EMENTA: CIVIL. COMPRA E VENDA. LESÃO. DESPROPORÇÃO ENTRE O PREÇO E O VALOR DO BEM.
ILICITUDE DO OBJETO. 1. A legislação esporádica e extravagante, diversamente do Código Civil de 1916,
deu abrigo ao instituto da lesão, de modo a permitir não só a recuperação do pagamento a maior, mas
também o rompimento do contrato por via de nulidade pela ilicitude do objeto. Decidindo o Tribunal de
origem dentro desta perspectiva, com a declaração de nulidade do negócio jurídico por ilicitude de seu
objeto, em face do contexto probatório extraído do laudo pericial, a adoção de posicionamento diverso
pelo Superior Tribunal de Justiça encontra obstáculo na súmula 7, bastando, portanto, a afirmativa
daquela instância no sentido da desproporção entre o preço avençado e o vero valor do imóvel. 2.
Recurso especial não conhecido”.
> Premente necessidade – a premente necessidade está
relacionada com a necessidade econômica que a pessoa tem em
realizar o negócio jurídico. Não importa a condição social da
pessoa, mas sim se ela estava em estado de necessidade no
momento em que realizou o negócio jurídico. Caio Mário da Silva
Pereira observa que mesmo um indivíduo milionário pode ser
vítima de lesão.
Vícios sociais
Exemplo: João prestou um serviço para José, o qual pagou com um cheque de
R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para 30 (trinta) dias. Após emitir o cheque,
José com o objetivo de não pagar a dívida que possuía com João (evitar a
penhora do seu patrimônio), doou seu único bem imóvel, um terreno baldio,
para o seu filho de 3 (três) nos de idade. Decorridos os trinta dias, João
depositou o cheque, todavia este foi devolvido sem fundos. João deverá ajuizar
uma ação pauliana ou revocatório com o objetivo de anular a doação que José
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“Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito”.
efetuou para o filho, com a finalidade de que o imóvel retorne para o patrimônio
de José e satisfaça o crédito do credor.
- Ação pauliana ou revocatória: é a ação que tem por pretensão anular os atos
fraudulentos realizados pelos devedor. É uma ação que tem por objetivo anular
os atos de fraude contra credores realizados pelo devedor e fazer com que o
patrimônio do devedor seja recomposto para pagamento de suas dívidas. É
importante ressaltar que apenas o credor quirografário 21 ou o credor cuja
garantia se tornou insuficiente poderão ajuizar a ação pauliana ou revocatória.
Exemplo: o Banco Extrato firmou um contrato de empréstimo com o João no
vaor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). João deu em garantia (alienação
fiduciária) vária máquinas no valor do financiamento. Ocorre que João não
pagou as parcelas do empréstimo e as máquinas oferecidas em garantia hoje
valem apenas R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Sendo assim, a garantia
oferecida por João se tornou insuficiente para garantir o pagamento da dívida.
O Banco Extrato poderá ajuizar ação pauliana no caso de João ter cometido
atos de fraude contra credores.
> Réus da ação pauliana (CC, art. 161) – “A ação, nos casos dos arts. 158 e
159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente22, a pessoa que com ele
celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que
hajam procedido de má-fé”. A ação deverá ser proposta contra todos aqueles
que sofrerão as consequências da anulação do ato fraudulento (AgRg no REsp
111.377-6/SP, STJ)23.
21
Credor quirografário é o credor que não possui uma garantia real ou preferencial. O credor
quirografário não possui um título de preferência, apenas possui como garantia um título que se
originou de uma relação obrigacional, tais como uma nota promissória, uma duplicata, um cheque, um
contrato etc. O credor que possui uma garantia real (uma hipoteca sobre um apartamento) deve
executar a própria garantia para receber seu crédito. Já o credor quirografário, como não possui
garantia real, terá que executar os bens que integram o patrimônio do devedor para receber o seu
crédito.
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Devedor insolvente é aquele que possui mais dívidas do que renda ou patrimônio. Possui mais
passivos do que ativos.
23
“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREENCHIMENTO DA GRU. ERRO
DEDIGITAÇÃO. IRRELEVÂNCIA, NO CASO. PETIÇÃO RECURSAL. PREENCHIMENTODOS REQUISITOS
LEGAIS. AÇÃO PAULIANA. TERCEIROS PREJUDICADOS.LITISCONSORTES PASSIVOS NECESSÁRIOS.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. NULIDADEDO PROCESSO. 1. - A existência de erro na digitação do último
número de referência do processo na GRU, não tem o condão de inviabilizar o conhecimento do
recurso, porquanto, no presente caso, mostrou-se possível a vinculação do processo à respectiva guia de
recolhimento, mormente pela indicação correta do nome do contribuinte. 2. - Ademais, na própria
> Efeitos da ação pauliana (CC, art. 165, caput)24 – após o juiz anular os atos
fraudulentos, os bens tornarão a integrar o patrimônio do devedor. Sendo
assim, o patrimônio do devedor será recomposto para pagamento das dívidas.
Se houver vários credores, o patrimônio do devedor deverá ser partilhado
proporcionalmente entre os credores, na proporção do crédito de cada um.
Todavia, se a fraude contra credores cometida pelo devedor consistiu na
atribuição de alguma garantia preferencial em favor de outra pessoa, o juiz
apenas irá anular essa garantia se ficar comprovada a fraude (CC, art. 165,
parágrafo único)25. Exemplo: João possui uma dívida de cartão de crédito no
valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais). Para não correr o risco de ter seu
terreno penhorado, João constituiu uma hipoteca do terreno em favor de seu
irmão. O juiz, ao verificar que houve fraude contra credores, apenas anulará a
garantia, ou seja, apenas anulará a hipoteca que João constituiu em favor de
seu irmão.
certidão de julgamento do Acórdão recorrido, bem como na certidão de abertura de volume, lançada
pela Secretaria Judiciária do Tribunal de origem, constou como número do processo o mesmo que foi
lançado na guia de recolhimento, fato que, por si só, explica a indução dos recorrentes, ora agravados,
ao erro. 3. - Embora concisa, a petição recursal expôs de maneira satisfatória os fatos discutidos na
causa, demonstrando, com clareza, as razões que levaram os recorrentes, ora agravados, a ter por
malferida a norma processual, de modo a possibilitar a exata compreensão da controvérsia, não
havendo que se falar, portanto, que o Recurso Especial não deveria ter sido conhecido, por ausência de
atendimento dos requisitos formais. 4. - É obrigatória a citação dos terceiros adquirentes, na qualidade
de litisconsortes necessários, na ação pauliana que visa a desconstituir a doação de imóvel realizada
entre pais e filhos com fraude a credores, cuja sentença poderá afetar diretamente o negócio de compra
e venda anteriormente celebrado. 5. - Agravo Regimental improvido”.
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“Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre
que se tenha de efetuar o concurso de credores”.
25
“Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor
ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada”.
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“Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles”.
Exemplo 1: João doou um apartamento, um terreno e um carro para seu
irmão no ano de 2015. No mês de janeiro de 2016, João contraiu várias
dívidas com a Empresa Delta. A Empresa Delta não poderá alegar
fraude contra credores pelos atos cometidos por João em 2015, pois não
ficou caracterizada a anterioridade do crédito, tendo em vista que João
primeiro alienou seu bens e, posteriormente, contraiu a dívida.
Exemplo: Vitor devia R$ 100.00,00 (com mil reais) para Maria Moura.
Para não correr o risco de perder seu único imóvel, um terreno baldio,
Vitor doou seu terreno para seu filho de 10 (dez) anos de idade. Ao
transmitir o seu único bem para não pagar a dívida, João cometeu um
ato de fraude contra credores. Por esse motivo, Maria poderá requerer a
anulação da doação que João fez em favor de seu filho.
27
“Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de
estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família”.
patrimônio e prejudica os credores. O devedor deve receber os créditos
e pagar os seus credores (CC, art. 158, caput)28.
Exemplo: João devia R$ 100.000,00 (cem mil reais) para Maria. Com
objetivo de não pagar Maria, João vendeu seu único imóvel, que valia
R$ 100.000,00 (cem mil reais), para o seu irmão José pela metade do
valor de mercado. Se ficar comprovada a má-fé de José, o negócio
28
“Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus direitos”.
29
“Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for
notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante”.
jurídico deverá ser anulado, pois José deveria saber da insolvência de
João, tanto pelo fato de ser seu irmão quanto pelo fato de o imóvel ter
sido vendido abaixo do valor de mercado.
Exemplo João devia R$ 100.000,00 (cem mil reais) para Maria. Para não
correr o risco de perder seu único imóvel, uma apartamento, João
gravou o imóvel com uma hipoteca em favor de seu irmão, José. João
cometeu um ato de fraude contra credores, pois favoreceu seu irmão em
30
“O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida,
ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores,
aquilo que recebeu.
detrimento do seu credor, por este motivo, a garantia preferencial –
hipoteca – deverá ser anulada.
31
“Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado será válido
se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros”.
Exemplo: Pablo, casado com Maria há 15 (quinze) anos, possui um
relacionamento extraconjugal com Júlia há 8 (oito) anos e encontra-se
com ela periodicamente. Júlia, insatisfeita com o casamento de Pablo e
pretendendo tornar-se sua real esposa, reclama que Pablo está
usufruindo de sua juventude sem dar nada em troca, chegando, até
mesmo, a passar dificuldades financeiras. Pablo, comovido com o apelo
de Júlia, decide doar-lhe um imóvel. Todavia, sabendo que o direito não
permite que um homem casado doe um bem a sua concubina, decide
simular uma compra e venda de imóvel com Júlia para encobrir a
doação. Por se tratar de uma simulação, esse negócio é nulo. Todavia,
se Pablo, hipoteticamente, descobrisse que o seu casamento com Maria
fosse inválido em decorrência de bigamia, o negócio dissimulado com
Júlia poderia ser mantido à luz do princípio da conservação, tornando-
se, pois, válida a doação do imóvel.
> O que se entende por reserva mental (reticência)? O direito romano, segundo
Mário Talamanca, considerava a reserva mental irrelevante. O Código Civil de
1916 nada dispunha sobre o tema. Referência, todavia, é encontrada no § 116
do BGB (código civil alemão), o qual serviu de inspiração para o art. 110 do
Código Civil de 2002. Na reserva mental, o agente emite a declaração de
vontade; resguardando, no seu íntimo, o recôndito propósito de não cumprir o
que manifestou ou atingir um fim diverso do ostensivamente declarado.
Exemplo: Fred, professor de direito civil, decide vender seus livros aos seus
alunos no fim de uma de suas aulas, afirmando que a receita obtida com
32
“Arts. 167 e 168. Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por
uma das partes contra a outra”.
aquela venda será revertida a um orfanato. No entanto Fred, ao anunciar a
proposta negocial, mantém intimamente a ideia de utilizar a receita das vendas
em proveito próprio. Momentos depois do fim das vendas, Fred vai até o
banheiro e manifesta audivelmente consigo mesmo a sua intenção de nada
doar ao orfanato. Marcelo, um dos alunos de Fred, estava no banheiro em uma
das cabines e escuta as intenções de Fred. Por ter adquirido a obra do seu
professor com a finalidade de ajudar o orfanato, Marcelo se indigna e se sente
enganado.
Tendo em vista o caso hipotético, o código civil brasileiro, em seu art. 110, na
linha de pensamento do ministro Moreira Alves, dispõe ser o negócio
inexistente, se a outra parte toma conhecimento da reserva; todavia, corrente
há na doutrina que sustenta, não a inexistência, mas a invalidade do negócio
quando da reserva toma conhecimento a outra parte (Carlos Roberto
Gonçalves), sendo esta vítima de dolo quando se sente enganada e
prejudicada. Entretanto, se outra parte toma conhecimento da reserva e se
dispõe a mantê-la com o objetivo de prejudicar terceiros, ficará caracterizada a
simulação.
33
“EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. TEMPESTIVIDADE. ACÓRDÃO ESTADUAL.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. EMBARGOS DECLARATÓRIOS QUE SUSCITAM MATÉRIA PRECLUSA.
MULTA APLICADA EM 2º GRAU. ACERTO. CONTRATO DE PARCERIA PECUÁRIA. SIMULAÇÃO. "VACA-
PAPEL". POSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO PELA PARTE CONTRATANTE. MATÉRIA DE FATO E CONTRATO.
REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO DEFICIENTE. JUROS MORATÓRIOS. NOVO CÓDIGO
CIVIL. MULTA. REDUÇÃO. SÚMULAS N. 282 E 356-STF E 5 E 7-STJ. INCIDÊNCIA. I. Prazo para o aviamento
do recurso especial interrompido pela oposição de embargos declaratórios, ainda que não conhecidos
estes por debaterem matéria considerada preclusa. II. Não padece de nulidade o acórdão estadual que
enfrenta suficientemente as questões essenciais ao deslinde da controvérsia, apenas que trazendo
conclusões adversas ao interesse da parte insatisfeita. III. Correta a imposição de multa baseada no art.
538, parágrafo único, do CPC, quando se verifica a apresentação de embargos declaratórios
inoportunos. IV. Possível a um dos contratantes buscar a anulação de contrato de parceria pecuária que,
na verdade, representa, na dicção do Tribunal a quo, um mútuo com cláusulas usurárias, comumente
denominado "vaca-papel", interpretação que não tem como ser revista em sede especial, ante os óbices
das Súmulas n. 5 e 7 do STJ. V. A insuficiência do prequestionamento impede a admissibilidade do
recurso especial em toda a sua extensão. VI. Os juros moratórios, à falta de pactuação válida, são
devidos no percentual de 0,5% ao mês até a vigência do atual Código Civil e, a partir de então, na forma
do seu art. 406. VII. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.