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CONSELHO FISCAL
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Guimarães (subcoord.)
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Sumários Correntes Brasileiros
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Tiragem: 700 exemplares
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Revisora: Sandra Pássaro
Secretária da Revista: Tupiara Machareth
Trimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450
(2011)
N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional. – N. 427: Inventá-
rio analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia e Oceania integrante do acervo
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro / coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley
– N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26 de maio de 2006.
– N. 436: Curso - 1808 - Transformação do Brasil: de Colônia a Reino e Império.
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SUMÁRIO
SUMMARY
Carta ao Leitor 11
Lucia Maria Paschoal Guimarãe
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Governo representativo e eleições no século XIX 15
Representative Government and Elections in the 19th Century
Miriam Dolhnikoff
A rede de sociabilidades do Barão do Rio Branco 47
e a defesa da soberania territorial brasileira
Baron of Rio Branco´s network of sociability and the defense of
Brazilian territorial sovereignty
Luciene Carris
O Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia de Defesa 91
e a Política Externa Brasileira
The Development of Defense Science and Technology
and the Brazilian Foreign Policy
Luiz Rogério Franco Goldoni
Notes on the “Agudá Jubilee”: the great Brazilian Celebration 121
of the Abolition of Slavery (Brazil and Lagos, West Africa, 1888)
Notas sobre o “Jubileu Agudá”: A grande festa brasileira
da Abolição (Brasil e Lagos, África Ocidental, 1888)
Eduardo Silva
Negócios impressos: o editor Francisco de Paula Brito 149
e a edição de periódicos, teses e livros de medicina
no Brasil Oitocentista
Printed Business: the Editor Francisco de Paula Brito
and the Edition of Periodicals, Theses and Medical Books
in Eighteenth-Century Brazil
Monique de Siqueira Gonçalves
Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
Os refluxos culturais da emigração portuguesa para 177
o Brasil no fim do século XIX e no início do século XX
– um olhar a partir do Folclore
Cultural Reflux of Portuguese Emigration to Brazil in the Late
Nineteenth and Early Twentieth Centuries as Seen from Folklore
Jaime Ricardo Gouveia
Missão Naval Americana: os primeiros 20 anos (1922-1942) 217
American Naval Mission: the First Twenty Years from 1922 to1942
Ricardo Pereira Cabral
Thiago Sarro
O Estado Novo brasileiro como espelho do salazarismo: 249
Autoritarismo e corporativismo na seção “crítica”
da Revista Brasília (1942-1944)
The Brazilian New State as a Mirror of Salazarism:
Authoritarianism and Corporatism in the “Critique”
section of the Brasilia Magazine (1942-1944)
Marcello Felisberto Morais de Assunção
O expansionismo japonês e a experiência 275
dos Koutakussei na Amazônia
Japanese Expansionism and the Experience
of the Koutakusseis in the Amazon
Reiko Muto
Luis E. Aragón
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Alexandre de Gusmão e a demarcação das fronteiras 299
da Amazônia: Os Jesuítas matemáticos e astrônomos Italianos
Alexandre de Gusmão and the demarcation of the Amazon borders:
the mathematical Jesuits and the Italian astronomers
Vasco Mariz
Para o “crédito e reputação do governo”: 315
circuitos de deliberação e a governação por conselhos
superiores na monarquia pluricontinental portuguesa (1640-1688)
To the “Credit and Reputation of Government”: Circuits of Deli-
beration and Governance by Superior Councils in the Portuguese
Pluricontinental Monarchy (1640-1688)
Marcello José Gomes Loureiro
Dentre Gazetas 329
From Among the Gazettes
Cybelle de Ipanema
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Memórias do governador Antônio Manuel de Melo Castro 349
e Mendonça (São Paulo, 1799)
The Memoirs of Governor Antônio Manuel de Melo
Castro e Mendonça (São Paulo, 1799)
Pablo Oller Mont Serrath
V – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
O Rei condenado à morte & outras histórias 393
Adelto Gonçalves
• Normas de publicação 399
Guide for the authors 401
Carta ao Leitor
Boa leitura!
Lucia Maria Paschoal Guimarães
Diretora da Revista
Governo representativo e eleicões no século XIX
15
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
4 – Carvalho, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Tea-
tro das Sombras: a política imperial. 9ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014,
p. 397.
5 – Dolhnikoff, Miriam. Império e governo representativo: uma releitura. Cadernos
do CRH, Salvador: Universidade Federal da Bahia, v. 21, pp. 13-23, 2008.
Fernando Limongi, por sua vez, aponta o impacto real das leis eleito-
rais na dinâmica das eleições. Em primeiro lugar, fraudes e manipulações
no pleito seguiam “de perto as alterações da legislação”.8 Além disso, e
mais crucial, a qualificação de eleitores e votantes era momento estraté-
gico do processo eleitoral, pois definia o corpo de eleitores, fundamental
para a determinação do resultado dos pleitos. E neste ponto houve mu-
danças significativas na promulgação das leis de 1824, 1842 e 1846, que
definiram de formas distintas a qualificação de quem poderia ser votante
e eleitor. Etapa estratégica do processo porque materializa um problema
intrínseco ao governo representativo que é a coordenação da disputa par-
6 – Slemian, Andréa. Sob o império das leis: constituição e unidade nacional na for-
mação do Brasil (1822-1834). SP: Hucitec, 2009, p. 306.
7 – Neves, Lúcia M. Bastos Pereira das. Opinião Pública. João Feres Jr. (org.) – Léxico
da Histórica dos Conceitos Políticos do Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009, p.
189. Ver também, entre outros, Morel, Marco e Barros, Mariana Monteiro de. Pala-
vra, imagem e poder: o surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro:
DP&A Editora, 2003.
8 – Limongi, Fernando. Revisitando as eleições do Segundo Reinado: manipulação,
fraude e violência. Lua Nova, São Paulo, n. 91, pp. 13-51, abr. 2014.
9 – Idem.
10 – Idem.
Por outro lado, o direito de se candidatar não era real para a popula-
ção pobre, ex-escravos ou não. Tal exclusão, no entanto, não se colocava
como uma especificidade brasileira; nos governos representativos do sé-
culo XIX, nascidos das transformações operadas em relação ao Antigo
Regime, a eletividade foi organizada de modo que a uma elite estivesse
reservada a função de dirigir o Estado, cabendo, portanto, a apenas al-
guns setores sociais participar do jogo político. Ainda assim, as novida-
des do projeto liberal eram imensas, na medida em que estabeleciam um
novo tipo de relação entre Estado e sociedade, mudando não só a natureza
desta relação, como ampliando o grau de participação. Isso não signifi-
cava, contudo, sua universalização, uma conquista alcançada apenas no
século XX.
11 – Grahan, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Op. cit. Este
cálculo refere-se a 1872, quando foi feito o primeiro recenseamento nacional. A porcen-
tagem em relação a homens livres com mais de 25 anos diz respeito às outras exigências
constitucionais para votar. Em relação ao total da população livre, os votantes eram em
torno de 10%, uma porcentagem alta para os padrões da época, conforme observaram,
entre outros, José Murilo de Carvalho – Cidadania no Brasil. RJ, Civilização Brasileira,
2001, e Jairo Marconi Nicolau – “As distorções nas representações dos estados na Câmara
dos Deputados brasileira”. RJ, Dados, v. 40, n. 3, 1997.
12 – Sobre a distinção necessária entre fraude e clientelismo e a necessidade de, no que
diz respeito às eleições, considerar o clientelismo sob outra perspectiva ver Posada-
-Cabo, Eduardo. Electoral Juggling: A Comparative History of the Corruption of Suf-
frage in Latin America, 1830-1930. Journal of Latin American Studies. Cambridge:
Cambridge University Press, Vol. 32, nº. 3, Oct., 2000 e Sabato, Hilda. On Political
Citizenship in Nineteenth-Century Latin America. The American Historical Review, Vol.
106, nº. 4 Oct., 2001, entre outros.
13 – A Carta de 1824 estabelecia os critérios de definição de cidadania, mas deixava
para uma lei ordinária regulamentar a organização das eleições. A primeira foi o decreto
promulgado pelo Executivo, no mesmo ano.
bastava apenas ser eleitor. Era necessário também saber ler e escrever e
possuir renda anual, variável conforme a província, entre 400 e 200 mil-
-réis. A inspiração era o código napoleônico de 1808, com a introdução
do princípio hierárquico.16
32 – O projeto original de Paula Souza previa distritos que elegeriam dois deputados. O
grupo de Carneiro Leão foi além, ao propor a fórmula que acabou prevalecendo de distri-
tos que elegiam um deputado.
33 – Quando, em 1848, os senadores liberais tentaram aprovar as incompatibilidades
desvinculadas da aprovação do voto distrital houve ácida discussão entre eles e Carneiro
Leão, que não admitia a adoção da medida sem estar atrelada ao voto distrital. Os liberais
foram obrigados a recuar para recompor a aliança com a parte dos conservadores que
apoiavam o projeto de Paula Souza.
deia, pessoas que não sejam muito conhecidas na república das letras”.37
Ficava clara a concepção de representação conservadora, que privilegiava
a eleição dos mais ilustrados em detrimento das influências locais. O se-
nador conservador Dantas argumentava ser aceitável um sistema que fa-
vorecesse as influências locais se estas fossem ilustradas, o que não era o
caso do Brasil:
às vezes estas influências são homens cuja história está escrita com le-
tras de sangue, são um Cangussu, um Militão Henriques, um Angelim,
etc. São estes que se quer que venham para o seio da representação
nacional com exclusão dos magistrados?38
localidades, Carneiro Leão argumentava que isso não era possível. Uma
vez deputado, a atuação do representante eleito necessariamente estaria
articulada aos demais deputados do seu partido, portanto, ligando-se a in-
teresses gerais. Necessariamente, porque um deputado que se preocupas-
se exclusivamente com os interesses de sua localidade, sem articulação
com os interesses políticos organizados e sem se comprometer com eles,
ficaria isolado na Câmara e, portanto, incapaz de fazer valer sua vontade
como representante. Uma voz isolada, um único voto nada valia. Para
ter influência, o deputado teria de se articular com outros em temas de
interesse geral.43
modo, a Lei dos Círculos não foi obra e imposição de Paraná. Foi gestada
no Legislativo desde 1846, teve origem no modelo liberal de organização
do processo eleitoral e foi resultado da negociação no Senado. No decor-
rer de intenso debate e articulações políticas, foi dirigida pelas lideranças
liberais junto ao grupo de Carneiro Leão, que, para tanto, teve de romper,
neste tema, com parte de seu partido, os chamados emperrados.
O voto distrital foi revogado por lei em 1875, mas o retorno do voto
provincial foi acompanhado da preocupação em manter mecanismos de
representação da minoria. Essa nova lei previa que, ao contrário do que
ocorria antes do voto distrital, os eleitores não votariam em tantos nomes
quantos deputados sua província tinha o direito de eleger. Votariam em
dois terços dos nomes, o que implicaria que ao menos um terço dos votos
fosse conquistado pela oposição. De qualquer forma, já em 1881 o voto
distrital foi novamente adotado, permanecendo até o fim da monarquia.
As incompatibilidades, igualmente aprovadas, foram mantidas pelas leis
posteriores, sendo inclusive ampliada, nas leis de 1875 e 1881, a lista dos
empregados públicos que não poderiam se candidatar.
47
Resumo: Abstract:
No processo de solução do conflito territorial In the process of resolving the territorial conflict
com a Argentina e com a Guiana Francesa, o with Argentina and French Guiana, the Baron of
Barão do Rio Branco promoveu uma alentada Rio Branco conducted a substantial documen-
pesquisa documental nos arquivos europeus. tary research in European archives. The project
O empreendimento envolvia os representantes involved representatives of several diplomatic
de diversas legações diplomáticas no exterior, legations abroad as well as the collaboration of
bem como a colaboração de algumas persona- some Brazilian and European personalities that
lidades brasileiras e europeias que pertenciam belonged to his network of sociability. We ex-
ao seu círculo de sociabilidades. O texto ora amine here the collaboration of two well-known
apresentado investiga a colaboração de dois co- French geographers in the course of such dis-
nhecidos geógrafos franceses, Émile Levasseur putes, namely Emile Levasseur and Élisée Re-
e Élisée Reclus, no desenrolar de tais litígios, clus, who also made some academic contribu-
bem como algumas de suas contribuições aca- tions on Brazil.
dêmicas sobre o Brasil.
Palavras-chave: Fronteiras; intelectuais; terri- Keywords: borders; intellectuals; Brazilian ter-
tório brasileiro. ritory.
Introdução
Figura emblemática da história diplomática brasileira, José Maria
da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, é objeto de inúmeros
estudos e biografias notadamente conhecidas, bem como de homenagens
como a celebração de seu centenário ocorrida em 2012.3 Filho do viscon-
de José Maria da Silva Paranhos e de Teresa de Figueiredo Faria, o Barão
1 – O artigo em questão constitui um dos resultados da pesquisa, desenvolvida durante
o estágio pós-doutoral, realizado no âmbito da FFLCH-USP, entre 2011 e 2013, com
financiamento da Fapesp.
2 – Doutora em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesqui-
sadora no Programa de Pós-Graduação em História Social da Puc-Rio.
3 – Em 2012, comemorou-se o centenário do desaparecimento do Barão do Rio Bran-
co e várias festividades foram promovidas naquele ano. O programa de comemorações
encabeçado pelo Ministério das Relações Exteriores envolveu ainda instituições do porte
da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Ver
PEREIRA, Manoel Gomes (org.). Barão do Rio Branco: 100 anos de memória. Brasília:
Funag, 2012.
4 – As biografias elaboradas por Álvaro Lins, Rio Branco (O Barão do Rio Branco) –
biografia pessoal e história política (1965), e por Luiz Viana Filho, A Vida do Barão do
Rio Branco (1967) são conhecidas. Recentemente, foi publicada a obra de Luís Cláudio
Villafañe G. Santos, O dia em que adiaram o carnaval: política externa e a construção
do Brasil (2010).
5 – Cf. MORAES, Antonio Carlos Robert. “O Barão do Rio Branco e a Geografia”. In:
PEREIRA, Manoel Gomes (org.). Barão do Rio Branco: 100 anos de memória. Brasília:
Funag, 2012, p. 231.
18 – Sobre as exposições universais, ver HEIZER, Alda. Observar o Céu e medir a Ter-
ra: instrumentos científicos e a participação do Império do Brasil na Exposição de Paris
de 1889. 2005. 233 f. Tese de Doutorado em Ciências. São Paulo: Unicamp. Instituto de
Geociências.
Por outro lado, o livro Le Brésil en 1889 fora organizada pelo Barão
de Santana Néri, intelectual natural da região amazônica e radicado em
Paris.20 Tratava-se de um obra heterogênea, que contou com a colabora-
ção de 18 autores, a exemplo de Rio Branco, André Rebouças, Eduardo
Prado, Amaro Cavalcanti, Barão de Tefé, Ferreira de Araújo. Dividida em
25 capítulos, a publicação expunha um retrato de prosperidade e a possi-
bilidade de um destino próspero do país. Em decorrência das trajetórias
de vida e das fidelidades ideológicas de seus autores, a obra caracteriza-se
pelo tom não consensual, diferente da obra organizada por Levasseur.21
27 – MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica, op. cit., p.
68-72.
28 – Sobre Paul Vidal de la Blache ver, MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia:
Pequena história crítica. São Paulo: Annablume, 2003; MOREIRA, Rui. “Vidal de La
Blache: civilização e contigência em Princípios de geografia humana”, In:____. O pen-
samento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias (v. 1). São Paulo: Con-
texto, 2011; Haesbaert, Rogério; Pereira, Sérgio Nunes e Ribeiro, Guilherme
(orgs.), Vidal, vidais: textos de geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Ber-
tand Brasil, 2012. Cf. também GALLOIS, Lucien. Paul Vidal de la Blache (1845-1918)”,
Annales de Géographie, Paris, 1918, t. 27, n. 147, pp. 161-173.
29 – MORAES, Antonio Carlos Robert, “O Barão do Rio Branco e a Geografia”, op. cit.
37 – SGRJ, Ata da sessão do dia 30 de março de 1885. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro,
t. 1, n.1, 1886, p. 60.
38 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 11 de março de
1887, lata 827.
39 – Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, Moreira Pinto se destacou como estudio-
so da história e da geografia do país e como defensor da causa republicana, de tal modo
que seria um dos signatários do Manifesto Republicano de 1870.
40 – SGRJ, Ata da sessão do dia 25 de agosto de 1885, Revista da SGRJ, Rio de Janeiro,
t. 2, n. 2, p. 162, 1886.
41 – Idem.
45 – SGRJ, “O Brasil na Europa”. Revista da SGRJ, Rio de Janeiro, t. 5, n. 1, 1889, p. 51.
46 – IHGB, “Ata da 19a. Sessão ordinária em 25 de outubro de 1889”. Revista do IHGB,
Rio de Janeiro, t. 52, v. 80, 1889, p. 516.
Tão logo retornou a sua terra natal, Levasseur fora novamente solici-
tado. O Barão requisitou a indicação de um “bom geógrafo” para realiza-
ção da redução de algumas cartas antigas na mesma escala.54 Em resposta,
comunicou ao Barão que havia se encontrado com um velho conhecido
seu, o desenhista-cartógrafo da Escola Superior de Guerra, Arthur Le-
jeaux, colaborador na elaboração de alguns mapas.55 Na ocasião, Legeaux
auxiliava Levasseur na revisão dos trabalhos cartográficos e dos cálculos
das posições geográficas do Mapa das Cortes de 1749. Em relação ao
mapa organizado pelo cartógrafo francês Baptiste D’Anville56, Legeaux
não foi capaz de auxiliar ao Barão, pois, segundo sua opinião, tratava-se
de “une recherche non de cartographie, mais de savant”. Por essa razão,
encaminhou a questão ao chefe da seção de cartas da Biblioteca Nacional
de Paris, Gabriel Marcel.57
livro 346.2.3.
53 – World’s Columbian Exposition, Memorial volume. Dedicatory and opening cerimo-
nies of the World’s Columbian Exposition. Historical and descriptive as authorized by Board
of Control, 1893. Disponível em http://archive.org/stream/dedicatoryopenin00worl#page/
n5/mode/2up Acesso em 02 de abril de 2013.
54 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta enviada a Émile Levasseur, 25 de
setembro de 1893, códice 346.2.3.
55 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 10 de novembro
de 1893, lata 827.
56 – Baptiste Bourguignon D’Anville, cartógrafo francês que trabalhou com o embaixa-
dor português dom Luís da Cunha, visando a produção de um mapa que servisse de base
para as negociações do Tratado de Madri. Organizou a Carte de l’Amérique Méridionale
de 1748, que apresentou um esboço de uma nova linha de fronteiras entre as Coroas de
Portugal e de Espanha na América. Tal carta constituiu uma das fontes utilizadas para a
elaboração do Mapa das Cortes. Cf. CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferrei-
ra, Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 31, n. 62, pp. 273-316.
57 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 11 de dezembro
de 1893, lata 827.
58 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 23 de novembro
de 1893, lata 827. A missiva em questão era uma resposta à correspondência enviada pelo
Barão do Rio Branco em 04 de novembro de 1897, Livro 346.2.5.
59 – O almirante francês Amedée Ernest Barthélemy Mouchez foi enviado pelo governo
francês com o objetivo de realizar o levantamento da costa brasileira, publicado posterior-
mente na obra Les Côtes du Brésil em quatro volumes. Além de contribuir ao estudo da
hidrografia marítima, se ateve às observações de caráter geográfico e histórico do litoral.
Sobre sua biografia, ver IBGE, Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 3, n.
2, 1941, p. 404.
60 – AIH, Ofício ao Monsieur Émile Levasseur, Nova York, 04 de novembro de 1893,
livro 346.2.5.
69 – Sobre esse assunto ver, SOBEL, Dava. Longitude: a verdadeira história do gênio
solitário que resolveu o maior problema do século XVIII. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 2008, pp. 24-32. De todo modo, a determinação da longitude no mar foi conquistada
pelo relojeiro inglês John Harrison, por meio da construção de um relógio marítimo que
marcaria a passagem do tempo no mar com precisão absoluta.
70 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 26 de maio de
1894, lata 827.
ao afirmar que o trabalho não seria perdido, pois consistia num importan-
te documento de história e geografia.71
71 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Émile Levasseur, 06 de outubro
de 1894, lata 827.
72 – Sobre este assunto ver PEREIRA, Daniel Mesquita & FILIPE, Eduardo Ferraz.
“Missivas que constroem limites: projeto político e projeto intelectual nas cartas de Ca-
pistrano de Abreu ao Barão do Rio Branco (1886-1903).” Revista Brasileira de História,
São Paulo, v. 28, n. 56, pp. 487-506, 2008.
73 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta ao Capistrano de Abreu, 29 de setem-
bro de 1893, lata 827.
74 – Sobre a trajetória de Elisée Reclus na Colômbia, ver PALACIOS, David. Élisée Re-
clus e a geografia da Colômbia: cartografia de uma interseção, Dissertação de Mestrado,
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: USP. 2010. Ver, também,
DUARTE, Regina Horta. “Natureza e sociedade, evolução e revolução: a geografia liber-
tária de Élisée Reclus” In: Revista Brasileira de História, São Paulo, 2006, v. 26, n. 51,
pp. 11-24.
75 – Sobre as casas editoriais n França, ver MOLLIER, Jean-Yves. “Les mutations de
l'espace éditorial français du XVIIIe au XXe siècle”, op. cit. Ver também BERDOULAY,
Vincent. La formation de l’École Française de Geographie (1870-1914), op. cit., pp. 143-
144. A casa editorial Hachette foi uma das principais livrarias de língua latina na Europa.
Produziu diversas obras, tais como Les Guides Joanne em 1853. Envolvida com o projeto
expansionista comercial francês, em 1860, criou o periódico Le Tour du Monde: Nouveau
Journal des Voyages, sob a direção do jornalista e político Édouard Charton.
Para elaborar a obra, além das inúmeras viagens pelo mundo, minis-
trou em paralelo cursos em diversas universidades, como em Genebra.
Em reconhecimento a sua atividade intelectual, foi consagrado com as
medalhas de ouro da Sociedade de Geografia de Paris, em 1892, e da
Sociedade Geográfica de Londres em 1893. A última viagem de pesquisa
para a obra foi realizada em 1893 ao Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.76
77 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Élisée Reclus, 16 de abril de 1893,
lata 836, maço 02.
78 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Élisée Reclus, 27 de abril de 1893,
lata 836, maço 02.
79 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta do Barão de Rio Branco a Élisée
Reclus, 10 de junho de 1893, lata 836, maço 02.
80 – AIH, Arquivo do Barão do Rio Branco, Carta de Élisée Reclus, 19 de julho de 1893,
lata 836, maço 02. “[...] Que eu não traía a confiança de todos estes senhores colocaram
em mim, ai de mim! É difícil de falar de um país tão grande quanto à sua extensão, tão
grande quanto ao seu futuro” (Tradução livre).
brar que Reclus fora patrocinado pela Editora Hachette, se por um lado,
os seus comentários mantiveram-se sufocados em sua visita pelo país, por
outro lado, a Nouvelle Géographie revela a defesa dos interesses políti-
cos do Governo francês sobre aquela parte do território brasileiro. Aliás,
descrever, mapear e levantar informações sobre o globo, em especial, so-
bre os territórios colonizados estavam presentes na Nouvelle Géographie
Universelle. Reconhece-se que a maior parte de sua vida, Élisée Reclus
viveu exilado, devido ao engajamento político e ao envolvimento na Pri-
meira Internacional e na Comuna de Paris. De todo modo, segundo as
pesquisas realizadas pelos estudiosos Michael Heffernan, Axel Baudouin
e Béatrice Giblin vale a pena aqui relativizar o seu pensamento libertário
em relação às possessões francesas, como no caso da Algéria, bem como
em relação ao território litigioso com a Guiana Francesa, pois evidenciam
a defesa da soberania e dos interesses franceses.96
97 – LA BLACHE, Paul Vidal de, La Riviere Vincent Pinzón: Études sur la cartographie
de la Guyane. Paris: Feliz Alcan Éditeur, 1902. Disponível em http://www.archive.org/
stream/larivirevincent00blacgoog#page/n10/mode/2up Acesso em 25 de abril de 2013.
98 – OTERO, Hérnan. “A imigração francesa na Argentina: uma história aberta”. In:
Considerações finais
A partir do exame da correspondência, verificamos a contribuição
de tais estudiosos no desenrolar do litígio com a Argentina e a defesa
dos interesses franceses na região disputada entre o Brasil e a Guiana
Francesa. Em contrapartida, podemos acrescentar ainda o papel de Rio
Branco no desenvolvimento das investigações científicas de tais geógra-
fos franceses. O exame dessas relações permite compreender os espaços
de sociabilidades do final do século XIX, bem como as articulações cria-
das com autores estrangeiros, identificando aqueles que contribuíram nas
elaborações teóricas, assim como para a fundamentação das pesquisas de
Rio Branco.
FAUSTO, Boris. Fazer a América: a imigração em massa para a América Latina. São
Paulo: Edusp, 2000, pp. 127-152. Segundo Hérnan Otero, os franceses desempenharam
uma importante papel na colonização agrícola nas províncias de Entre Ríos, Santa Fe,
Corrientes, Córdoba, Chaco e Buenos Aires.
99 – COSTA, Wilma P., “Viagens e peregrinações: a trajetória de intelectuais de dois
mundos”. In: BASTOS, E.R; RIDENTI, M. & ROLLAND, D. (Orgs.). Intelectuais: so-
ciedade e política. São Paulo: Cortez, 2003, p. 65.
100 – GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um en-
saio sobre a formação das fronteiras no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
101 – No Arquivo Histórico do Itamaraty, encontra-se um volume especial organizado
pelo Barão do Rio Branco com inúmeras notícias relacionadas à vitória brasileira, extraí-
das de periódicos nacionais e estrangeiros.
105 – CINTRA, Jorge Pimentel, “O Mapa das Cortes: perspectivas cartográficas”. Anais
do Museu paulista, São Paulo, 2009, vol.17, n.2, pp. 63-77. Ver, também, Obras do Barão
do Rio Branco 1: questões de limites República Argentina. Brasília: Fundação Alexandre
de Gusmão, 2012, p. 86.
106 – AIH, Missão Rio Branco em Washington 1893-1895. Relatório que o general
Dionísio Cerqueira dirigiu em 08 de março de 1895 a Rio Branco então encarregado da
missão especial do Brasil, tomo VI, 1ª. Parte, lata 346.3.12.
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107 – MRE, Obras do Barão do Rio Branco IV: questões de limites Guiana Francesa,
segunda memória. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2012.
108 – RICUPERO, Rubens. Rio Branco: o Brasil no mundo. Rio de Janeiro: Contra-
ponto, 2000.
91
Introdução
Quase cem anos após a disputa pela missão de ensino que moder-
nizaria o Exército brasileiro, analisada por especialistas como Frank
McCann (2007), Stanley Hilton (1977), Manuel Domingos Neto (1980;
2001; 2007) e Cristina de Andrada Luna (2011), o reaparelhamento das
Forças Armadas brasileiras, proposto pela Estratégia Nacional de Defesa,
é alvo de cobiça das potências produtoras de material bélico. Ao longo
1 – Parte do presente trabalho é fruto da tese de doutorado do autor (GOLDONI, 2011).
2 – Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares (PPGCM) da Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército (Eceme). E-mail: lgoldoni@hotmail.com
6 – Até o pedido de demissão, o general Bento Manuel Ribeiro Carneiro Monteiro foi
o oficial que ocupou por mais tempo a chefia do Estado-Maior do Exército, por seis anos
e dois meses (19 fev. 1915 a 20 abr. 1921) (ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, 1984).
A contribuição paulista
A USP foi idealizada, inicialmente, por um grupo de intelectuais,
jornalistas e políticos conhecido como “Comunhão Paulista”, cujo líder
era o diretor do jornal O Estado de S. Paulo, Júlio de Mesquita Filho. O
líder da FIESP, ex-Deputado Federal e autor de uma das primeiras obras
sobre a história econômica moderna do Brasil, Roberto Simonsen, foi
outra figura importante na criação da USP. Logo, “os defensores da ideia
de criar uma universidade estadual estavam entre os membros mais pode-
rosos da elite agrícola e industrial do estado” (SCHWARTZMAN, 2001,
cap. 5, p. 21).
13 – Devido ao sucesso, os FUPS continuaram atuando após a Segunda Guerra, rebatiza-
do, entrementes, de Fundos Universitários de Pesquisa (MOTOYAMA, 1985).
Este relato repercutiu mais na Fiesp do que a criação dos fundos para
a pesquisa. Os empresários estavam voltados para resultados imediatos,
não para a exploração de novas tecnologias e produtos; pretendiam, no
máximo, garantir um bom aproveitamento do maquinário importado. Na
primeira metade da década de 1940, mais de 20 centros de aprendizagem
do Senai foram instalados na capital paulista e em Santo André. Em 1943,
os cursos do Senai em São Paulo formaram mais de 2.000 operários-
-aprendizes (Fiesp, 1943, Circular nº 99/43, 21 de junho de 1943). Igual-
mente ao Senai paulista, devido ao esforço de guerra, o Exército formaria
um batalhão de soldados-técnicos entre 1943 e 1945.
mento dos alemães, o melhor que o governo brasileiro devia fazer era continuar poster-
gando seu alinhamento total ao bloco de poder estadunidense”.
16 – Frank McCann (1995, p. 127) explica esse procedimento: “[b]ancos brasileiros
abriam contas especiais em bancos alemães e os importadores alemães, depois de obte-
rem as necessárias permissões de um escritório de controle de importações, depositavam
seus pagamentos em marcos alemães nestas contas, a crédito do vendedor brasileiro. As
contas ou marcos aski (como eram normalmente chamadas) somente poderiam ser utili-
zadas pelos brasileiros para comprar produtos alemães de exportação. Feito o depósito, o
exportador brasileiro conseguiria através do Banco do Brasil vender seus marcos aski a
um importador brasileiro que quisesse comprar produtos alemães. O exportador alemão
seria pago pelo banco alemão que mantinha a conta aski mediante instruções do banco
brasileiro”.
17 – Mesmo com o bloqueio do Atlântico, Vargas, por intermédio de sua “política dual”,
conseguiu “barganhar” com os Estados Unidos a construção da Usina Siderúrgica Na-
cional, antigo sonho dos militares. Para maiores detalhes, ver, por exemplo, os livros
“Autonomia na Dependência: A Política Externa Brasileira de 1935 a 1942” e “Sucessos
e Ilusões: Relações Internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial”,
escritos por Gerson Moura.
Por outro lado, como aponta Motoyama (1985, p. 39), naquela épo-
ca, para os países subdesenvolvidos, o domínio da tecnologia nuclear
representava uma forma de “atingir sua maioridade”. Nesse ponto, o en-
tão capitão-de-mar-e-guerra Álvaro Alberto de Motta e Silva seria um
ferrenho defensor dos interesses brasileiros. Em 1946, na Comissão de
Energia Atômica da ONU, Álvaro Alberto liderou o bloco que rechaçou a
proposta de expropriação absoluta de todas as minas de urânio e tório do
mundo em favor do futuro Órgão Internacional de Controle (MOTOYA-
MA, 1985). Ainda de acordo com Motoyama:
Num dos relatórios da sua missão na ONU, datada de 25 de novembro
de 1947, o representante brasileiro insistia na necessidade de fundar
um conselho de pesquisas e uma comissão de energia atômica: “O
trato dos problemas referentes à energia atômica me leva a sugerir
algumas medidas que se impõem como salvaguarda do nosso futuro
econômico e do nosso prestígio. […] Assim, dentre outras, as seguin-
tes: a) nacionalização de todas as minas de tório e urânio; b) imediata
revisão das concessões dessas minerações enquanto não se põe em
prática o item a; c) obrigatoriedade do tratamento primário dos mi-
nérios, referidos no item a, no Brasil, como medida complementar ao
controle da exportação; […] e) intensificação imediata das atividades
científicas e técnicas e a montagem de centros de cultura e pesquisa
especializada; f) formação e aperfeiçoamento de técnicos nos grandes
centros estrangeiros; g) fundação do Conselho Nacional de Pesquisa,
para fomentar e coordenar as atividades científicas e técnicas, esco-
lher pessoal idôneo e ser imediatamente encaminhado para o estran-
geiro aperfeiçoamento; […] k) a pesquisa será livre, mas satisfeitos
os imperativos do interesse Nacional (MOTTA E SILVA, 1961, pp.
16-17 apud MOTOYAMA, 1985, p. 39).
18 – Em 1956, sob vigilância dos Estados Unidos, a Comissão Nacional de Energia Nu-
clear (CNEN) se desvinculou do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq). A
CNEN, no bojo do programa “Átomos para a Paz”, estabeleceria uma estreita colaboração
com os EUA na execução da política nuclear brasileira para fins pacíficos. Segundo Ribei-
ro de Andrade (2010, p. 140): “O programa Átomos para a Paz levava ao desenvolvimento
de pesquisas orientadas ou controladas pelos Estados Unidos, resultando em dependência
de conhecimento, equipamentos e combustível nuclear, e retardando o desenvolvimento
autônomo do setor nuclear.”
Considerações finais
Em meio às pressões estadunidenses, os militares brasileiros conse-
guiram contrapartidas como a criação do Instituto Militar de Engenharia
(IME), em 1959 [fruto da fusão da EsTE com o Instituto Militar de Tecno-
logia (IMT), fundado pela MMNA em 1949], e do Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA, que teve suas origens na EsTE). A Escola Técnica
do Exército, e logo depois o IME, seriam importantes celeiros de enge-
nheiros nucleares.19 Esses profissionais, formados sob forte influência da
Missão Militar Norte-Americana, atuariam no sistema universitário, nas
instituições de pesquisa, em órgãos regulatórios e normativos e no setor
industrial.
Referências bibliográficas
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Carlos Patrício Freitas; PEREGRINO Fernando. (Org.). As Forças Armadas e
o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Assaré Gráfica e Editora Ltda., 1999.
121
The “great festa” started in the city of Rio de Janeiro, on the very
13th of May 1888, around three o’clock in the afternoon, almost imme-
diately after the signing of the “Golden Law” that abolished slavery in
Brazil. Besides stopping the whole of Rio de Janeiro city, within a few
hours the party spread practically across the whole of Brazil and – a phe-
nomenon yet more revealing – it crossed the Atlantic Ocean to reappear
in African lands, particularly in the British Colony of Lagos, West Africa.
Such was the historical relevance and symbolic power of this cele-
bration in the British Colony of Lagos, that one of the most important
African intellectuals at the time, John Augustus Otonba Payne (1839-
1906), included it among the most significant events of the Yoruba’s
History, being popularly known as the “Jubilee Aguda” – that is, in free
translation, “the great festa of the Brazilian people”.3
The “great festa” in Brazil and its continuation on the other side of
the Atlantic, in Lagos, in current Nigeria, certainly has a great deal to say
about the international context of the abolitionist movement, and also
about the symbolic importance of this struggle both in Brazil as well as
2 – I would like to thank Professor Anthony Pereira, Director of the Brazil Institute at
King´s College London, for his very inspiring comments and support during my visiting
research year at King´s from December 2014 to November 2015, and historian Oliver
Marshall for his extremely helpful tips about archival holdings in London and Oxford, and
insightful dialogue throughout my stay in London. As always Graça Salgado of Universi-
dade Federal Rural do Rio de Janeiro was an indispensable research assistant and perfect
travel companion.
3 – PAYNE, Jonh Augustus Otonba. Table of Principal Events in Yoruba History, with
certain other matters of general interest, compiled principally for use in the Courts within
the British Colony of Lagos, West Africa, by… Lagos, Printed by Andrew M. Thomas,
1893, p.15.
in Africa. For that reason, “Jubilee Aguda” opens an interesting path for
historical studies. In fact, no festa or popular celebration can take place in
a historical vacuum, that is, without a social base that justifies and promo-
tes it. To celebrate in Lagos the abolition of Slavery in Brazil unveils the
existence, in Africa itself, of a critical positioning toward the dominant
status quo, the old slaveholder society, both in the Americas as well as in
the African continent.
The Jubilee Aguda and, as part of it, the addresses delivered at the
“magnificent” pavilion set at Campos Square, at the heart of the “Brazi-
lian quarter” in Lagos, opens then a fresh opportunity of putting the focus
of the research on the abolition as a social movement and not only as a
mere political articulation of the elite. The participation in history of ens-
7 – LAOTAN, A. B. The torch bearers or old Brazilian colony in Lagos. Lagos: The Ife-
Olu Printing Works, 1943, p.8.
laved men and women and their descendants who, besides buying their
freedom long before the Abolition, also bought a ticket back to Africa,
where they begin to be identified and identify themselves as “Brazilians”,
reveals itself to be very important to the international abolitionist move-
ment.
When the Abolition in Brazil took place they lived in Lagos under
the protection of the British Crown. Although the “Brazilians” began to
repatriate around 1840, the numbers only became significant after Lagos
became a British Colony in 1862. According to Governor Moloney, there
were about 1,237 repatriates from Brazil in 1871; 2,732 in 1881; and
3,221 in 1883.8 What did these “Brazilians” think of the slave system
in Brazil? Would have they contributed somehow to its abolition? The
simple organization of such significant celebrations, on the other side of
the Atlantic, certainly deserves more accurate research. The general study
of these communities of “Brazilian” returnees relies on some existing
important contributions, from the pioneer works by Pierre Verger and
Gilberto Freyre, to more recent researches such as those by Mariano Car-
neiro da Cunha and Manuela Carneiro da Cunha, Milton Guran, Costa e
Silva, among many others.9
With the outbreak of the Paraguay War (1865-1870), the country qui-
ckly connected itself to the far South, through telegraphic landlines. And,
after the war, the telegraph landlines headed towards the North, reaching
Belém do Pará in 1886. On the 24th of December 1873 there arrived in
Brazil the first submarine telegraphic cable linking Brazil to Europe. And,
from early 1874, the papers began to publish fresh news from abroad, in
almost real time for those days’ standards, provoking a true revolution in
the culture and way of thinking.12
In 1888, when the final abolition took place, the Brazilian telegra-
ph network put in direct communication the country’s main population
centres, from Belém do Pará, in the North, to Jaguarão and Uruguaiana,
in the far South of the Empire, where it connected with Uruguay and
Argentina’s networks. There were then 10,755 kilometres of lines, with
over 18,400 km of wires, connecting 173 stations.13 In the following year,
1889, around 640 thousand telegrams (official and private) were sent,
containing almost 8 million words.14 The power of the public administra-
tion, the circulation of ideas – everything had changed very quickly. The
impact of this great revolution within the field of communication brought
out profound changes in the ways of perceiving life, time and history.
With the advance of the telegraph lines, the country was integrated – in-
ternally and externally – in a way that until then was unthinkable. The
establishment of the whole electric telegraph worldwide network provi-
ded the technical foundation for the emergence of a truly national and
international abolitionist “campaign” or “movement”.
No one of sound mind could have predicted that the powerful and
multi-secular system would fall without any considerable reaction. Ins-
tead of the expected civil war though there came, with all its drive, the
festa, the “Jubilee Aguda”. No one was capable of foreseeing such a po-
pular reaction, a festa of such proportions, because this had never happe-
ned before. The festa came as a surprise for everyone. How is it possible
to react or promote civil war without international support and with al-
most the whole black population celebrating a historical conquest? After
In Rio de Janeiro the Golden Law was supported in the streets with
unprecedented firmness. The great popular demonstration went on, day
and night, despite the rainy weather, for eight following days. The joy
literally stopped the capital of the Empire. The public service offices sus-
pended work. All essential services collapsed. The loading and unloading
of goods in the harbour stopped; freight trains, post offices, banks, public
and private schools, everything was forced to stop for eight days – from
Sunday, the 13th of May 1888, through to the following Sunday, the 20th
of May.
And that happened not only in Rio de Janeiro, but also in all the pla-
ces reached by the telegraph network, so the celebration was immediate.
It was so in the capital of São Paulo where “great popular enthusiasm”
immediately overtook the city.17 The same happened in Santos, the port
city and notorious abolitionist stronghold, where the “delirium” of the
people was immediate and lasted “from the 13th of May to the end of
the month”. Also in Campinas, when slaves and ex-slaves learned of the
passing of the law, they “went almost crazy”, and immediately organized
processions of thanksgiving, popular balls and, everywhere, memorable
rodas-de-samba and batucadas.18
In Minas Gerais the festa of the black people had also occupied the
streets of the capital, Ouro Preto, on the 13th of May. Similar phenome-
non took place in Pernambuco, where the city of Recife was immediately
taken over by the people in festa and the public services closed. In São
Luis of Maranhão, not only was the news received with “great popular
acclamations”, but also the president Moreira Alves ran off to the palace,
on the very 13th of May, to arrange its immediate validation.19
The process of the circulation of the news was a bit complicated, but
it was worth waiting for and the delay of the news did not dampen the joy
of the festa. The great celebration that overtook Brazil from one extreme
of the country to the other also arrived at the British Colony of Lagos.
And the “Brazilian quarter” cheered until exhaustion from the 27th of
September until at least the 8th of October 1888, with significant public
demonstrations of joy and support.
21 – Cf. “Programme of the Festivities in Honour of the Brazilian Slavery Emancipa-
tion”. Anti-Slavery Papers; Main Correspondence Series (MSS. Brit. Emp. S.18). Bod-
leian Libraries (Oxford).
all the classic and recent literature about Afro-Brazilian religions, from
Nina Rodrigues to J. Lorand Matory and others.22
We can observe, firstly, that slavery in Brazil, for those men, did not
seem simply a “historical stage”, as it might seem to us today, but a con-
crete period of personal life filled with memories and suffering that were
really experienced in the flesh. The end of such a system in Brazil on the
13th of May was, thus, not only a historical, but also a “sacred” event.
We the members of the Brazilian Emancipation Committee residents
in the Colony of Lagos do feel deeply grateful […] for your kind pre-
sence here tonight thereby assisting us in our feeble efforts to comme-
morate in a most befitting manner the total emancipation of Slavery
in the Brazils an event of no ordinary importance that degraded traffic
which for years and years kept our fathers in bondage on foreign sho-
res and where naturally most of us were born the event is indeed to us
a sacred one.26
His curriculum vitae and life history is really quite impressive. Besi-
des being an intellectual of political and strategic thought, Payne was also
an important civil authority as Chief Registrar and Taxing Master of Su-
26 – “Address of the Brazilian Emancipation Committee to His Excellency read by
Lourenco A. Cardoso”. MSS. Brit. Emp. S.18, pp.1-4. Bodleian Libraries (Oxford).
27 – PAYNE, John Otonba. Op. cit., p.1.
28 – On the Church Missionary Society in Nigeria´s history, see: AJAYI, J. F. Ade.
Christian missions in Nigeria (1841-1891); the making of a new élite. Evanston (UK):
Northwestern University Press, 1969.
29 – Cf. HARGREAVES, Alberto. “Discurso Proferido em Sessão Extraordinária para
ser conferido o Título de Sócio Correspondente ao Sr. John A. O. Payne, Viajante Afri-
cano”. Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Ano 1886, Fasciculo III, p.
230 e segs. Also see: FRANÇA, Nara Muniz Improta. Op. cit., pp.10-17.
30 – Letter of John Otonba Payne to Charles Allen, secretary of Anti-Slavery Society.
Lagos, West Africa, 1 October 1880. Bodlein Libraries (Oxford), Anti-Slavery Society
Papers, Main Correspondence Series (MSS. Brit. Emp. S. 18).
tie Payne, or ´the Auntie´ was all in all – wrote a contemporary - She was
the family judge, consoler, sympathizer and helper!”31
With his marriage, Otonba Payne became part of the “Brazilian co-
lony” and, no doubt, began also to get involved with the so-called “Bra-
zilian problems”. This apparently insignificant fact represented a consi-
derable reinforcement for the “Brazilian” community in Lagos, and even
for the Abolition cause in Brazil. In 1886 Payne visited Brazil where he
delivered at least two important abolitionist talks, besides attending seve-
ral meetings in places not specified with slaves, freedmen and free men
of colour.
31 – The Lagos Observer. Lagos, West Africa, May 12, 1888. “In Memorian”, p.3.
32 – Letter of John Otonba Payne to Charles Allen, secretary of the Anti-Slavery Society
In these notes I can not go into much detail about that strange, and
in many aspects unexplained, visit to Brazil. I will discuss this in a more
specific chapter. What matters to us now is only to introduce a broader
framework to understand his address during the festivities at Campos
Square, on that evening of 28th of September 1888.
For Payne, as also for Cardoso, the abolition was a sacred achieve-
ment, a blessing from God.
We desire first and foremost to render our gratitude do God who has
disposed the hearts of the Philanthropist of Great Britain to lay the
foundation of the temple of Liberty by their endeavours to abolish the
foreign slave trade and finally to emancipate Our Countrymen in all
the British Colonies.
The other speaker to step on the pulpit was an even more honourable
guest, His Excellency Captain Cornelius Alfred Moloney (1848–1913),
the governor of the Colony of Lagos. Lagos, since 1861, had been a co-
lony of Great Britain. Under British rule, the city turned into a true re-
fuge for the “returnees” from Brazil and Cuba. Not only did the freemen
want to return to Africa, but the British authorities also wanted to attract
that specialized work force. They were excellent workers and qualified
professionals, men of great moral value and proven technical skills who
dreamt of returning to their motherland. And this was of great interest to
the British colonial authorities. To mention only the members of the Bra-
zilian Emancipation Committee, we can point out master tailors, master
painters, master bricklayers, master masons of great name, such as Láza-
ro Borges da Silva and Prisco Francisco da Costa, who were in charge
(Oxford), Anti-Slavery Society Papers, Main Correspondence Series (MSS. Brit. Emp.
S. 18). Mr. Allen was the secretary of the British and Foreign Anti-Slavery Society from
1879 to 1898.
33 – “Address read by J. A. Otonba Payne, Registrar of the Supreme Court of Lagos
and a Member of the Committee to His Excellency the Governor.” MSS. Brit. Emp. S.18,
pp.1-7. Bodleian Libraries (Oxford).
of the construction of the first Catholic Cathedral of Lagos, the old Holy
Cross Cathedral, built in 1881 and considered one of the architectural lan-
dmarks of the city. Also master carpenters and hallowed cabinetmakers
like Baltazar dos Reis – constructor of the High Altar of the old Holy
Cross Cathedral, of the Catholic Bishop´s Throne, and other works of
similar importance. At the Colonial Exhibition of 1886, in London, he
was awarded the bronze medal for the construction of a delicate and artis-
tically inlaid round table.34
culturists from Brazil and, with their expertise, replicate with free labour
the Brazilian economy in Africa.
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149
Apresentação
Durante o período de atuação de Paula Brito (1831-1861) no en-
tão “jovem” mercado livreiro e tipográfico brasileiro, a Corte imperial
vivenciava um processo de crescente ebulição da atividade intelectual,
seja devido aos acontecimentos de ordem política que se sucederam ao
decreto, de D. João VI (1821), que estabelecia o fim da censura prévia
aos impressos − dentre eles, a independência política do país (1822), a
abdicação de Pedro I (1830), o estabelecimento do governo regencial e
as consequentes revoltas provinciais (1831-1840), o golpe da maioridade
(1840) e a subsequente consolidação do Estado imperial através da figura
do Imperador Pedro II3 −, seja pela construção de um aparato institu-
cional de natureza cultural/científico que começou a ser erigido desde a
transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808, por iniciativa
da Coroa – dentre os quais destacamos a Biblioteca Nacional, o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, a Faculdade de Medicina do Rio de Ja-
neiro e o Jardim Botânico (DANTES, 1988; 2001; DOMINGUES, 2001;
FERREIRA; FONSECA; EDLER, 2001).
9 – O nome da empresa homenageava o imperador Pedro II, com a data de seu aniversá-
rio, e dava destaque, ao mesmo tempo, ao elo existente entre Paula Brito e o Imperador,
que faziam o aniversário no mesmo dia. Não por acaso, Pedro II aceitara figurar como
protetor no negócio recém-criado, dando respaldo político e social a sua existência.
12 – Somente no ano de 1854 foram abertos e julgados quatro processos judiciais contra
Paula Brito com vistas ao pagamento de juros de ações e de dívidas com a compra de
materiais, sendo os autores as empresas Saportas & Cia. Hanquet & Cia. e os acionistas
Bernardino Ribeiro de Souza Guimarães, Francisco José Gonçalves Agra. Levantamento
realizado no Arquivo Nacional.
Como parte da ata dessa reunião que era publicada no Correio Mer-
cantil, eram apresentados os rendimentos anuais angariados em média
pelas oficinas e lojas que compunham a empresa, sendo eles expostos a
seguir para se ter uma noção dos rendimentos alcançados com um negó-
cio desse ramo:
Tabela 2 – Rendimentos da Empresa Tipográfica Dous de Dezembro
Área Lucro
Tipografia 4.500 contos de réis
Litografia e estamparia 700 mil-réis
Encadernação 400 mil-réis
Loja de livros 400 mil-réis
Loja de papéis e objetos de escritório 2.000 contos de réis
Total 8.000 contos de réis
Fonte: Correio Mercantil, 14.07.1856, p. 2.
14 – Catálogo do Leilão. In: Arquivo Nacional – Coleção de Processos Criminais (NA) –
Partes: BRITO, Francisco de Paula (réu) e BELMONT, Joaquim Ferreira da Cruz (autor)
– Execução judicial – 1857-1857 – Nº 1885 – Caixa 1832 – Maço 0.
15 – Andrew Abbott (1998) parte do pressuposto de que as profissões existem em sis-
tema − não devendo ser analisadas como unidades isoladas −, destaca que as profissões
estabelecem interações neste sistema e que estas se traduzem em competições inter e entre
profissões, assim definidas conceitualmente como disputas jurisdicionais. Disputas que se
dão, segundo Abbott, sob as bases objetivas (técnicas) e subjetivas (cultura) que, por sua
vez, interagem entre si. Neste âmbito, as reivindicações jurisdicionais se desenvolveriam
com vistas à obtenção do monopólio profissional.
16 – Foram fundadores da SMRJ: Joaquim Cândido Soares de Meirelles, Luís Vicente
de Simoni, José Francisco Xavier Sigaud, José Martins da Cruz Jobim, João Maurício
Faivre, Jacintho Rodrigues Pereira Reis, Antônio Américo D’Urzedo, Octaviano Maria
da Rosa, Cristóvão José dos Santos, Antônio Martins Pinheiro, Antônio Joaquim da Costa
Sampaio, José Maria Cambuci do Valle, José Augusto Cezar de Menezes, João Alves Car-
neiro, Fidélis Martins Bastos, Joaquim José da Silva e José Mariano da Silva. Seu quadro
de membros honorários ficou constituído inicialmente por José Bonifácio de Andrada
e Silva, Martim Francisco Ribeiro de Andrada, Antonio Ferreira França, Karl Friedrich
Philipp von Martius e Isidore Geoffroy Saint-Hilaire. (Fonte: Sociedade de Medicina do
Rio de Janeiro. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-
1930). Acesso em: 08/04/2015. Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.
br/iah/pt/verbetes/socmedrj.htm).
17 – Tal sociedade deu origem à Academia Imperial de Medicina (1835), posteriormente
denominada Academia Nacional de Medicina (1889).
18 – Não por mero acaso, tanto o Propagador quanto o Semanário eram impressos na
Typographia Imperial de E. Seignot-Plancher, na qual, como já destacamos, Paula Brito
tinha trabalhado.
19 – A elite médica não é formada necessariamente pelos melhores médicos, mas por
aqueles indivíduos que tradicionalmente concentram em suas mãos os diferentes tipos de
poder profissional. Ver sobre o conceito de elite médica no artigo de Weisz. Les transfor-
mations de l’Elite medicale em France. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº 74,
pp. 33-46, sept. 1988.
São 110 títulos na área de medicina (ver Tabela 3), onde constam,
como autores, os nomes de alguns dos mais influentes médicos atuantes
na cidade do Rio de Janeiro e também membros da Academia Imperial de
Medicina como: Roberto Jorge Haddock Lobo, José Pereira Rego (barão
do Lavradio), Luiz Vicente De Simoni, Francisco de Paula Menezes, José
21 – Considerações gerais sobre o sono [...] Antonio Dias Ferras da Luz 1843
22 – A higiene da mulher durante a prenhez Luiz Manoel de Mattos 1843
23 – Dissertação acerca da higiene da mulher durante a pre- José Antonio Mattos e Silva 1843
nhez
24 – Dissertação acerca do estado patológico [...] João Ricardo Norberto Ferreira 1843
25 – Dissertação médico-filosófica sobre as causas do sui- Bernardino José Rodrigues Torres 1843
cídio
26 – Dissertação sobre a varíola natural Manuel Gomes de Oliveira Pinto 1843
27 – Algumas proposições acerca das feridas Manoel Candido Azambuja May 1844
28 – Algumas proposições sobre os diversos ramos de me- Amaro Manuel de Morais 1844
dicina operatória
29 – Dissertação sobre a operação da pupila artificial ou co- João Dias Ferras da Luz 1844
remorfose [sic]
30 – Proposições sobre os diversos ramos da medicina Carolino Francisco de Lima Santos 1844
31 – A prostituição em particular na cidade do Rio de Janeiro Herculano Augusto Lasance Cunha 1845
32 – Memória acerca da ligadura da artéria abdominal [...] Candido Borges Monteiro Filho 1845
33 – Relatório sobre o estado atual do Hospital Militar Domingos Marinho de Azevedo Ame- 1846
ricano
34 – A convalescença – suas variedades e regime Antonio Ovidio Diniz Junqueira 1847
35 – Breves considerações acerca da amenorreia José Augusto de Oliveira 1847
36 – Algumas considerações higiênicas e médico-legais so- Laurindo Marques de Attaide Mon- 1848
bre o casamento e seus casos de nulidade corvo
37 – Cura do tétano traumático pelo tártaro ermético em alta Roberto Jorge Haddock Lobo 1848
dose
38 – Discurso recitado em presença de S. M. o Imperador na Roberto Jorge Haddock Lobo 1848
seção solene aniversária da Academia Imperial de Medicina
do Rio de Janeiro
39 – Algumas proposições sobre a cefalotomia Joaquim Pereira de Araújo 1849
40 – Algumas proposições sobre a vacina Hermogenio Gonçalves dos Santos 1849
41 – Alguns pontos da eripisela Felix José Barbosa 1849
42 – Breves considerações sobre a metrite aguda João Manuel de Oliveira
43 – A peritonite Miguel Joaquim de Andrade 1849
44 – Algumas considerações sobre a caria Honorio José da Cunha Gurgel do 1849
Amaral
45 – Algumas proposições acerca das ascáridas vermicular Maximiano Antonio de Azevedo e Silva 1849
e lombricoide e seus efeitos mórbidos na economia humana
46 – Algumas proposições acerca das feridas penetrantes José Antonio de Andrade 1849
do peito
47 – Breves considerações sobre a peritonite José Maria de Andrade 1849
48 – Breves considerações sobre a fimose Ansoleto Teixeira de Queiroga 1849
49 – Considerações gerais sobre a aplicação do fórceps Claudionor Antonio de Azeredo Cou- 1849
tinho
50 – Considerações gerais sobre a clorose Antonio Angelo Pedroso 1849
51 – Dissertação sobre a hipocondria Geraldo José da Costa Leal 1849
52 – Dissertação sobre a versão pedálica em geral e em par- José Militão da Rocha 1849
ticular nas apresentações do tronco
53 – Ligeiras reflexões acerca de pneumonia aguda do adulto Mariano Antonio Dias 1849
54 – Alguns gêneros de asfixia Gervazio Pinto Candido Goes e Lara 1850
55 – Considerações gerais sobre a pericardite Joaquim Luiz do Bomsucesso 1851
56 – Considerações sobre pericardite João Muniz Costa 1851
57 – Da audição José Maria Chaves 1851
58 – Dissertação sobre o método dos infinitamente pequenos João Ernesto Viriato Medeiros 1851
59 – Dissertação sobre os princípios de estática Miguel Joaquim Pereira de Sá 1851
60 – História e descrição da febre amarela epidêmica que José Pereira do Rego (Barão do La- 1851
grassou no Rio de Janeiro em 1850 (livro) vradio)
61 – Ligeiras observações sobre algumas enfermidades dos Manoel Lourenço da Silva 1851
órgãos anexos ao globo ocular [...]
62 – Qual a sede das febres intermitentes? João Venâncio Alves de Macedo 1851
63 – Qual é a composição química dos ossos humanos? Albino da Silva Maia 1851
64 – Qual a sede das febres intermitentes? [...] João Venancio de Macedo 1851
65 – Considerações sobre a floricultura no Rio de Janeiro s/a 1851
66 – Dissertações sobre os princípios fundamentais do equi- Joaquim Alexandro Manso Sayão 1851
líbrio dos corpos flutuantes mergulhados
67 – Tese sobre três pontos dados pela Faculdade [...] Candido José Cardoso 1851
68 – Das lesões que reclamam o emprego da pupila artificial José Teodoro da Silva Azambuja 1851
(..)
69 – Que movimento pode ter lugar nos óvulos antes e com Manuel Faustino Correia Brandão 1851
o fim de serem fecundados [...]
70 – Causas e natureza do estado mórbido denominado in- Francisco de Gran-Mongol de Azeredo 1852
fecção purulenta [...] Coutinho
71 – Juízo crítico sobre a doutrina médica italiana Francisco de Menezes Dias da Cruz 1852
72 – Qual a marcha da putrefação na água doce e na salgada Francisco Correa Leal 1852
em diversas temperaturas [...]
73 – Da catarata, seus meios curativos em geral [...] Leopoldo Nóbrega 1852
74 – Influência da educação física do homem [...] Antonio Francisco Gomes 1852
75 – Dissertações e proposições sobre três pontos [...] José Antonio de Andrade 1853
76 – Relatório e estatística do Hospício de Pedro Segundo Manoel José Barbosa 1853
77 – Tratar dos casos que indicam extirpação do globo ocular Herculano José de Oliveira Mafra 1853
[...]
78 – Das lesões que reclamam a formação da pupila artificial José Antonio de Andrade 1853
[...]
79 – Discurso recitado no ato de inumação dos restos mor- Luiz Vicente De Simoni 1854
tais do conselheiro de Estado José Clemente Pereira
80 – Fisiologia das paixões e afecções (livro em 3 tomos) Alexandre José de Melo Morais 1854
81 – Como tratar dos caracteres físicos e químicos das prin- Mateus Alves de Andrade 1854
cipais preparações de ferro empregadas em medicina
82 – Dissertação sobre os movimentos dos projectus tanto José Antonio da Fonseca Lelsa 1855
no vácuo como no ar
83 – Do diagnóstico dos tumores na região auxiliar Antonio Ferreira França 1855
84 – Expostos da Santa Casa de Misericórdia Manuel Veloso Paranhos Pederneiras 1855
85 – Hemostasia cirúrgica Diogo Antonio de Carvalho 1855
86 – Qual o melhor tratamento da glicosúria [...] Francisco Augusto Pereira Lima 1855
87 – De que elementos se compõem a estatística médica de Saturnino Soares de Meireles 1855
uma cidade? [...]
88 – Relatório acerca do estado sanitário da Vila de Barcelos Marcello Lobato de Castro 1856
e Moura [...]
89 – Infecção purulenta Luís José Dantas Júnior 1856
90 – Oftalmia blenorrágica Manuel José de Castro Caldas 1856
91 – Qual a melhor maneira de reconhecer-se a pedra da Joaquim Corrêa de Figueiredo 1856
bexiga? [...]
92 – Tratar a amputação em geral [...] José Custódio Nunes 1856
93 – Tratar da ergotina em relação às escolas antigas e mo- Nicanor Gonçalves da Silva 1856
dernas
94 – Proposições de alguns ramos das ciências médicas Eusébio Benjamin de Araújo Gois 1857
95 – Dos aneurismas externos em geral [...] Antonio Ferreira França 1857
96 – Crítica da teoria celular Anastácio Luís do Bonsucesso 1858
97 – Operação do trepano Luciano Xavier de Morais Sarmento 1859
98 – A nova medicina fundada sobre a lei fundamental da Desidério José da Costa Tibau 1859
natureza ou segundo a natureza humana
99 – Da hemoptises [...] Comelio Cipriano Alves 1859
100 – Considerações sobre os agentes anestésicos em rela- Duarte Paranhos Schutel 1861
ção à prática da cirurgia [...]
101 – Dos pólipos nasofaringianos [...] Mateus Alves de Andrade 1861
102 – Diagnóstico diferencial entre a mielite e a meningite Emilio Joaquim da Silva Maia 1862
raquidiana
103 – Da febre amarela [...] Antonio Ramos da Costa 1862
104 – Analogia e diferenças entre a febre amarela e a febre Agostinho da Silva Campos 1864
biliosa dos climas quentes
105 – Cólero morbo Juvencio Alves de Sousa 1864
106 – Da hemorragia uterina durante a prenhez Manuel Joaquim da Rocha Frota 1864
107 – Da audição [...] José Maria Chaves 1864
108 – Da blenorragia Serafim Luiz de Abreu 1864
109 – Da blenorragia Francisco Ribeiro Delfino Montezuma 1864
110 – Memória histórica da Faculdade de Medicina do Rio de Francisco Bonifácio de Abreu, barão 1864
Janeiro, no ano de 1863 [...] da Vila da Barra
* Destacamos, com o negrito, o nome dos médicos que compunham a elite médica da Corte Imperial e que ocupa-
vam cargos de prestígio em instituições do Império do Brasil.
Conclusão
Paula Brito é constantemente destacado pela historiografia (GON-
DIM, 1965; RAMOS JR.; DAECTO; MARTINS FILHO; MARTINS,
2013; GODOI, 2014) como um editor pioneiro no mercado tipográfico
brasileiro, com ênfase para a sua atuação na publicação de livros de lite-
ratura. No entanto, o que intentamos, com este artigo, foi chamar a aten-
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177
Introdução
A emigração portuguesa para o Brasil no fim do século XIX e pri-
meiras décadas do século XX não é, em termos historiográficos, terra
ignota. Não obstante o tema já ter sido objeto de inúmeros trabalhos de
apurada qualidade científica que, no seu tempo, marcaram o campo, ainda
condensa em si uma forte potencialidade analítica e reflexiva.2 Sinal de
que o assunto continua em voga é o artigo recente intitulado “Escravatura
branca”, da autoria de Susana Serpa Silva3.
surtiu? Sobre que regiões? Quem foram os principais fios condutores des-
sa transmissão?
9 – Ver ORTIGÃO, Ramalho. As Farpas. 4.ª ed. Lisboa: Empresa Literária Fluminense,
1925, p. 142.
10 – Ver PEREIRA, Miriam Halpern. A emigração…, cit., pp. 41-50; MARTINS, Ismê-
nia de Lima. Os portugueses e os outros no Rio de Janeiro: relações socioeconômicas dos
lusos com os nacionais e demais imigrantes (1890-1920). Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, 174, n.º461, pp. 81-103, 2013.
13 – Ver SERRÃO, Joel. Conspecto histórico da emigração portuguesa. Análise social,
32, 8, pp. 597-617, 1970; SILVA, Susana Serpa. Escravatura branca…, cit., pp. 76-79.
14 – Veja-se SERRÃO, Joel. A emigração portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1977,
pp. 111-115; PEREIRA, Miriam Halpern. A emigração…, cit., p. 45.
fim da centúria, esse valor chegou aos 93%. Mas esse valor ganha ainda
mais expressividade juntando-lhe outra característica: a fixação ocorreu
apenas em determinadas zonas do Brasil e não por todo o país. De 1870
a 1874, só a cidade do Rio de Janeiro absorveu 75% da emigração total15.
15 – Ver FREITAS, Nuno. Comunidade Piscatória Poveira…, cit., pp. 64-65; RODRI-
GUES, Henrique Fernandes. Alto Minho no século XIX. Contextos Migratórios, sociocul-
turais e familiares. Dissertação de doutoramento. Porto: Faculdade de Letras da Universi-
dade do Porto, 2003, pp. 555-588; 655-656; FERRARIA, Maria José; AMORIM, Paulo. A
emigração para o Brasil através dos livros de registo de passaportes do Governo Civil do
Porto (1880-1890). In: SOUSA, Fernando, et al. (ed.). A emigração…, cit., pp. 209-220;
SANTOS, Joaquim Loureiro dos. A emigração do distrito do Porto para o Brasil no ano de
1947. In: SOUSA, Fernando, et al. (ed.). A emigração…, cit., pp. 221-236.
16 – Ver LIMA, Jacqueline de C. P.; VILAÇA, Márcio L. C. (eds.). João do Rio e o Car-
naval: um olhar para a cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro:
UNIGRANRIO, 2014.
17 – MENEZES, Lená Medeiros de. A presença portuguesa no Rio de Janeiro segundo
os censos de 1872, 1890, 1906 e 1920: dos números às trajetórias de vida. In: SOUSA,
Fernando, et al. (ed.). A emigração…, cit., pp. 103-120. Veja-se, também, MARTINS, Is-
mênia de Lima. Os portugueses e os outros no Rio de Janeiro…, cit., pp. 81-103; SCOTT,
Ana Silvia Volpi. As duas faces da imigração portuguesa para o Brasil (décadas de 1820-
1930). Congresso de história Económica de Zaragoça, 2001, pp. 1-28. http://www.unizar.
es/eueez/cahe/volpiscott.pdf acesso em 31/08/2015.
18 – Ver MAIA, Fernanda P. S. A emigração para o Brasil no discurso parlamentar oi-
tocentista. In: SOUSA, Fernando, et al. (ed.). A emigração…, cit., pp. 51-68; FREITAS,
Nuno. Comunidade Piscatória Poveira…, cit., pp. 66-67; ALVES, Jorge Fernandes. Os
Brasileiros. Emigração e retorno no Porto oitocentista. Porto: [s.n.], 1994; MARTINS,
Ismênia de Lima. Os portugueses e os outros no Rio de Janeiro…, cit., pp. 81-103.
19 – Para uma boa síntese sobre o assunto, veja-se JERÓNIMO, Miguel Bandeira. Ocea-
nos indígenas sem limites. Visão, n.º 30, pp. 30-37, agosto de 2015.
20 – Ver Arquivo Histórico Diocesano de Viseu, Registo de Pastorais e Provisões, 1883-
1899, fl. 84v.-86v.
21 – Ver LOPES, Maria Antónia. Emigração e população…, cit., pp. 394-395; ALVES,
Jorge Fernandes. Os Brasileiros…, cit., pp. 107-161.
alguns retornavam bem na vida. Foram esses casos de sucesso que vinga-
ram no imaginário da emigração. Mas nem todos foram bafejados pelos
ares do sucesso. Muitos dos emigrantes iam para os trabalhos duros nos
cafezais e nos seringais e contraíam dívidas aos patrões que os coloca-
vam numa situação de dependência prolongada, impossibilitando-os de
mudar de local de trabalho e, sujeitando-se, pois, a situações de autêntica
escravatura25.
25 – Isso mesmo reconhecia em 1914 o vice-cônsul de Vitória. Ver SANTOS, Alberto de
Oliveira. Colônias portuguesas em países estrangeiros. Boletim da Sociedade de Geogra-
fia de Lisboa, 33.ª série, n.1, pp. 31-37, 1915.
26 – Ver SÈVES, António de. Leomil. Lisboa: Lusitania Editora, Limitada, 1921, p. 31.
Fig. 9 – Emigrantes portugueses à espera de embarcar rumo ao Brasil, início do séc. XX.
27 – Ver RODRIGUES, Henrique Fernandes. Alto Minho no século XIX…, cit., pp. 843;
852-853; SILVA, Brasilina A. P. da. Cartas de chamada: a emigração para o Brasil no
concelho de Sernancelhe (1900-1920). In: SOUSA, Fernando, et al. (ed.). A emigração…,
cit., pp. 305-309.
Fig. 10 – Emigrantes portugueses à espera de embarcar rumo ao Brasil, início do séc. XX.
fazer as roupas, porque ela está ao par dos feitios das roupas daqui.”30 Um
derradeiro exemplo a apresentar é o de Bernardino José Leite, que escre-
veu a Carolina Rosa Marinho, sua cônjuge, natural de Cerdal, Valença,
dirigindo-lhe as seguintes palavras:
Para embarque qualquer roupa serve […]. Os chapéus finos para todos
três e para o mar umas barretas ou carapuças por causa do ar. Não
tragas a camisa de fraldas […]. Não os deves vestir com roupa grossa
nem muito escura.31
34 – Ver SANTOS, Alberto de Oliveira. Colonias portuguesas…, cit., pp. 31-37.
35 – Ver TINHORÃO, José Ramos. A música popular no romance brasileiro. Vol.1. S.
Paulo: Editora 34 Ltda., 2000.
36 – Ver STOLL, Emile. Preto velho de Salambé, cachimbo na boca, chinelo no pé: a
brincadeira dos pretos do baixo Tapajós (Amazónia Brasileira). In: Rituais: transforma-
ções cosmológicas e sócio-históricas, X Reunião de Antropologia do Mercosur, 10-13
Julho de 2013, Córdoba, Argentina, pp. 1-14; DUARTE, Abelardo. Folclore Negro das
Alagoas. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 1975, p. 346.
37 – Ver PINTO, Filipe Costa. Enciclopédia das festas populares e religiosas de Por-
tugal. Catálogo de festas, feiras e romarias portuguesas. Vol. II. Lulu.com (acesso em
3/9/2015); GUIA, A. Bento da. As vinte freguesias de Moimenta da Beira. 3.ª ed. Moi-
menta da Beira: Câmara Municipal, 2001, p. 53; MEYER, Marlyse. Caminhos do imagi-
nário no Brasil. 2.ª ed. S. Paulo: USP, 2001.
38 – Ver JUNIOR, J. R. dos Santos. A dança dos pretos (Moncorvo), 1930. Ci-
nemateca portuguesa digital http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.
aspx?obraid=8140&type=Video.
bilidade que sofreram noutras regiões. Importa sublinhar que essa adap-
tabilidade, que comportou elementos originais e novos, verificou-se não
só em relação ao estilo como também à letra. Significa isto que a forma
de bailar as “saias” e o verbalizar das modinhas diferem, por vezes muito,
outras nem tanto, entre as várias regiões e, por vezes, dentro dos próprios
limiares regionais.40 Encontramo-las em praticamente todas as regiões de
Portugal.
Fig. 14 – Foto de 1910, Brasil. Pormenor das calças pouco sungadas e curtas.
44 – Ver KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências nas pro-
víncias do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2 vols., 1940 (edição original é de
1845).
45 – Ver ZALUAR, Augusto Emílio. Peregrinação pela província de S. Paulo – 1860-
1861. S. Paulo: Itatiaia Editora, 1975 (edição original é de 1862).
46 – Ver ASSIS, Joaquim M. Machado de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro, Paria: Livra-
ria Garnier, 1899, p. 11.
Fig. 16 – Balho (baile), Portugal, local desconhecido, fins do século XIX – inícios do séc. XX.
47 – Modinha recolhida na Trofa em 1946. Agradeço a Catarina Silva, do Rancho das
Lavradeiras da Trofa, fundado em 1961, e colega no CTR da Federação do Folclore Por-
tuguês, que me cedeu esta recolha.
REFRÃO
Eu hei-de ir ao Brazil
Ainda que não tenha dinheiro
Para as meninas dizerem
Olá senhor brazileiro
Olá, como está?48
Rancho das Lavradeiras da Trofa – Douro Litoral Norte
REFRÃO
Olá, como está?
Você anda de soquinhos
Se tu fores, eu também vou
Para o Brasil
Os dois ambinhos
Olá, como está?
Você anda de chapéu
O meu amor é tão lindo
Como as estrelas do céu
REFRÃO
Eu hei-de ir p’ro Brasil
Embarcado num loureiro
Para ir p’ra esta terra
Com fama de brasileiro
REFRÃO
Olá, como está?
Meu amor como passou?
Se tu fores para o Brasil
Meu amor eu também vou
REFRÃO
Veja-se a mesma moda com as devidas adaptações:
Olá, como está? 49
Rancho Folclórico da Ribeira de Celavisa – Beira Litoral
Olá, como está?
Meu amor é brasileiro
Eu hei-de ir para o Brasil
Com ele ganhar dinheiro
Com ele ganhar dinheiro
Para dar a quem me ama
Olá como está
Você a mim não me engana”
Ó meu pai, ó meu paizinho
Dê-me o saco do dinheiro,
Que quero ir passear
Lá no Rio de Janeiro
Meu amor foi pr’ó Brasil
Foi pr’ó Brasil vai ver café
Inda bem que cá não está
Olalalalalá, olarilolé.
Ó meu amor de três penas
Dá-me uma quero voar,
Eu vou ao Brasil e venho
Ao chegar eu volto a dar.
Olha a barca brasileira50
Olha a barca brasileira
Que do céu caiu ao mar:
Nossa Senhora vai dentro
49 – Recolha cedida pelo amigo Miguel Claro, pertencente ao Rancho Folclórico da Ri-
beira de Celavisa – Arganil, Coimbra.
50 – Moda de cantar de reis ou reisadas. CABRAL, António. Cancioneiro…, cit., p.
59. Além dos bailos, folias ou folguedos no terreiro, ou no contexto das fainas, existiam
também reinações, em forma de brincadeira alegre, que ocorriam em andanças noturnas
e diurnas, por bandos que corriam as ruas, de que são exemplo os festejos de Reis e das
Janeiras.
E s anjinhos a remar
CORO
– Remai, remai, meus anjinhos,
Que eu vos darei um vintém
– Um vintém não chega a nada
Para quem rema tão bem
Quem diremos nós que viva
No botãozinho do peito?
Viva lá o senhor…
Que é um homem de respeito
Que é um homem de respeito
Que viva os anos que ele deseja
Viva também uma rosa
Que recebeu na igreja
Alice51
Rancho Etnográfico de Danças e Cantares da Barra Cheia, Moita – Estre-
madura Sul
E o meu amor foi-se embora
Não nada a ninguém
E q’alquer dia vou eu
Passem todos muito bem
Meu amor não é daqui
Eu daqui também não sou
Meu amor foi pró Brasil
Pró Brasil é que eu vou,
Ó meu amor, meu amor
Gosto de ti a valer
Manda-me a tua direcção
Meu amor quero-te escrever
Ó Alice dá cá um beijo
Ó Alice dá cá, dá cá
51 – Modinha recolhida a Cristina dos Santos, pelo Rancho Etnográfico de Danças e
Cantares da Barra Cheia. Agradeço ao presidente deste grupo, Fernando Miguel, a cedên-
cia desta modinha.
Ó Alice dá cá um beijo
Dá cá um beijo não sejas má
Não sejas má e não sejas louca
Não sejas má e não sejas louca
Ó Alice dá cá um beijo
Dá cá um beijo da tua boca
Queres um beijo não to posso dar
Escusas atimar que não pode ser
Juro que guardo segredo,
Mas eu tenho medo d’ alguém o saber
D’ alguém o saber, mas não sabe nada
Quem me deu um beijo foi minha namorada
D’ alguém o saber mas não sabe nada
Quem me deu um beijo foi minha amada
Tirana52
Associação Etnográfica Os Serranos, Águeda – Beira Litoral, Baixo Vouga
O linho dá muita volta
Até chegar ao tear
Não são tantas como estas, ó Tirana
Que nesta roda vou dar
À volta, Tirana à Volta
À volta Tirana eu vou
Dar vida a quem me deu vida, ó ai
Matá-la a quem me matou
A Tirana quer que eu vá
Com ela para o Brasil
Embarca, Tirana embarca, Tirana
Que eu também lá quero ir
A Tirana quer eu vá
Com ela para Lisboa
Embarca, Tirana embarca, Tirana
Notas conclusivas
A recolha, o estudo e a divulgação que têm vindo a ser feitos pelos
grupos de Folclore de há várias décadas a esta parte permitem efectiva-
mente adensar o fraco conhecimento que hoje existe sobre o refluxo dos
portugueses que emigraram para o Brasil na segunda metade do século
XIX e primeiros decênios do século XX. Pelos verdadeiros grupos de
folclore, bem entendido. Esses, os que se dedicam a um trabalho sério
e rigoroso de pesquisa e salvaguarda desse grande patrimônio que é a
cultura popular num determinado período cronológico, detêm fontes que
urge explorar. Há um longo caminho a percorrer nesse domínio. Este es-
tudo pretendeu demonstrar como algumas dessas fontes permitem focos
nunca antes experimentados sobre o fenômeno emigratório que marcou
culturalmente tanto o país de acolhimento como o de origem.
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217
Introdução
A MNA atuou de forma ininterrupta de 1922 ao primeiro semestre de
1931. Devido às dificuldades financeira por parte do Brasil, foi interrom-
pida, sendo retomada em 1932 e indo até 1942, quando foi novamente
descontinuada devido aos Estados Unidos terem entraram na Segunda
Guerra Mundial. Em 1947, foi retomada seguindo até 1977, quando foi
encerrada.
3 – Podemos citar, entre outros, a utilização do motor a vapor, navios construídos intei-
ramente de aço, telegrafo sem fio, canhões de tubo raiado e carregamento pela culatra.
4 – O fator econômico, ou seja, a falta de recursos para a concretização dos vários pro-
gramas de reaparelhamento e modernização é uma dificuldade até hoje presente. Uma
Marinha de Guerra necessita de um volume de recursos financeiros consideráveis para
se manter atualizada, com investimentos constantes e de longo prazo em pesquisa e no
desenvolvimento de tecnologias.
5 – As causas primárias da revolta estão ligadas a velhas práticas, tais como: castigos
físicos por faltas disciplinares, que, pesar de proibidos, se mantinham; o tratamento dis-
pensado aos marinheiros; os baixos salários; o recrutamento forçado, má alimentação e
condições de alojamento e higiene a bordo. Após negociações para o fim da revolta e com
a entrega dos navios e armas, a Marinha deu início a uma dura repressão aos participantes
e, principalmente, aos seus líderes.
6 – A primeira Fase da Reforma se deu entre 1907 e 1910, quando foram criados órgãos
como o Almirantado, inspetorias (da Marinha, Fazenda e Fiscalização, Portos e Costas),
a Comissão Naval na Europa (sediada em Newcastle), escolas de aprendizes-marinheiros
(em oitos estados) e a reorganização do Estado-Maior da Armada.
após a Primeira Guerra Mundial. MARTINS, Hélio Leôncio. História Naval Brasileira.
Volume V, tomo I B. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1977. pp.
79-87.
10 – A batalha confirmou o que vários analistas já tinham antecipado: devido ao surgi-
mento dos torpedos autopropulsados, seria necessário aumentar a distância de combate,
fazendo com os que os canhões de média potência e tiro rápido perdessem sua eficiência
contra a blindagem reforçada dos couraçados em favor de canhões de grosso calibre. Em
Tsushima, os japoneses engajaram os russos à longa distância e praticamente destruíram
sua esquadra.
11 – O HMS Deadnought, de 160 m de comprimento, deslocando 21 ton., com canhões
de grosso calibre (de 305 mm nas cinco torres cada uma com dois canhões), lançador de
torpedos de 450 mm (5 tubos), casco couraçado em aço (279 mm nas partes mais impor-
tantes) e turbinas a vapor (outra inovação) que lhe permitiam uma velocidade de 21 nós,
provocou uma verdadeira revolução na construção naval. O navio britânico estabeleceu
um novo padrão para o principal navio da linha de batalha, tanto que os navios anteriores a
sua construção ficaram conhecidos como pré-Dreadnought (os ironclads ou couraçados).
No entanto, a aceleração das transformações nos armamentos e na propulsão, por sua vez,
fariam com que esse navio logo se tornasse obsoleto em vista de navios ainda maiores e
A tarefa que a Armada avocou para si era muito difícil, tendo em vis-
ta que o país não possuía uma base industrial robusta e diversificada, nem
a quantidade trabalhadores qualificados suficientes que desse à Marinha
a mão de obra especializada de que necessitava. Tais fatores levaram a
Força Naval a buscar recursos para criar sua própria infraestrutura com a
construção de um novo arsenal de oficinas especializadas e na formação
de sua própria mão de obra.
16 – Almirante Alexandrino Faria de Alencar foi ministro em três períodos, de 1906-
1910, 1913-1918 e de 1922-1926. Um dos seus primeiros atos foi revogar as reformas de
Marques de Leão e retomar o processo de centralização.
mente, oficiais brasileiros foram aos Estados Unidos para adquirir mais
peças e materiais necessários para a construção de aeronaves.23
23 – LINHARES, Antônio Linhares. Aviação Naval Brasileira 1916-1941. 2ª ed. Se-
nai:2001. pp. 5-15.
24 – Constituída pelos cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, contratorpedeiros Piauí,
Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina, um navio-tênder de reparos Belmonte e o
rebocador Laurindo Pita.
25 – MARTINS, Hélio Leôncio. O Brasil na Guerra. In: História Naval Brasileira, vol.
5º, tomo 1 B. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1977. pp. 262-278.
29 – O movimento foi importante no período. Para conhecer um pouco mais o assunto,
sugiro a leitura do artigo de SANTOS FILHO, Pedro Gomes. Os Arquiduques. Revista de
Villegagnon. Nº 2. Ano II. 2007. Disponível no sítio eletrônico: http://www.mar.mil.br/en/
revistaen2007.pdf Acessado em 24/5/2015. pp. 18-22.
30 – LINHARES, Antônio Pereira. Aviação Naval Brasileira. Rio de Janeiro: Senai,
2001. p. 16.
31 – ARAÚJO, Rodrigo Nabuco. Missão Militar Francesa. In: Dicionário Histórico-
-Biográfico Brasileiro. CPDOC. Fundação Getúlio Vargas. Disponível no sítio eletrônico:
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeirarepublica/MISS%C3%83O%20
MILITAR%20FRANCESA.pdf. Acessado em 25/9/2015.
PELEGRINO FILHO, Ary. A influência da Missão Militar Francesa na Eceme. Padece-
me. 2º quadrimestre. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2005. Disponível
no sítio eletrônico: http://servweb.eceme.ensino.eb.br/meiramattos/index.php/RMM/arti-
cle/viewFile/437/384. Acessado em 25/9/2015.
32 – Morgan to Lansing, nº 1452, February 5, 1919, 832.34/140. In: SMITH, Joseph.
American diplomacy and Naval Mission to Brazil, 1917-30. Inter-american economic
affairs. Vol.35. Summer 1981, nº 1. Washington: Inter-american economic affairs Press.
p. 77
33 – Relatório da Escola Naval de Guerra, apresentado pelo contra-almirante Felinto
Perry ao ministro da Marinha, em 1920.
34 – Relatório do Dr. João Pedro da Veiga Miranda, ministro da Marinha, de 1922. Dis-
ponível no sítio eletrônico: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2156/000011.html. Acessado em
4/10/2015. p. 7.
35 – BAER, Werner. A Economia Brasileira. São Paulo: Nobel, 2009. pp.45-54.
36 – Relatório do Dr. João Pedro da Veiga Miranda, ministro da Marinha, ao presidente
da República em 1922. O principal assunto abordado nesse documento foi a contratação
da Missão Naval Americana, os antecedentes e a justificativa para isso, além dos ter-
mos básicos da negociação. Disponível no sítio eletrônico: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/
u2156/000012.html. Acessado em 4/10/2015. Pág. 8.
37 – Idem, p. 11.
38 – Contrato entre os governos dos Estados Unidos da América do Norte e dos Estados
Unidos do Brasil. Contrato da Missão Naval. AB-PR Cx 75 Doc. 290. Artigo I Objeto e
Duração, p. 1.
39 – Idem. pp. 2-4.
son, Frank Dazler, Francis Englert, Stanley Fitch, Clinton Goree, James
L Master, James Osborn, Smiley Regan, James Rafferty, John Shaffer,
Emmet Stover, Jay Wright, Lawrence Zerbe e George Staut.46
Conclusão
A partir das pesquisas no Arquivo da Marinha do Brasil, no Arquivo
Nacional e da leitura da bibliografia especializada, podemos afirmar que
no início do século XX, apesar de ter a Real Marinha Britânica como pa-
radigma, a Marinha do Brasil tinha plena consciência de suas necessida-
des, de sua área emprego/atuação (por. ex., Atlântico Sul e os rios do Pra-
ta, Amazônia) e suas várias limitações. Nesse sentido, as aquisições eram
realizadas visando ao melhor índice possível na relação custo/benefício,
nas condições de financiamento, com poucas expectativas de incorporar
tecnologia ou uma construção com os próprios meios, devido ao baixo
nível de desenvolvimento social e econômico do país e à velocidade do
avanço tecnológico dos armamentos navais. Diante dessas limitações in-
ternas, britânicos e estadunidenses figuravam apenas como fornecedores
de meios navais e serviam de modelos de uma Força Naval moderna.
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Disponível no sítio eletrônico: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2169/000001.html.
Acessado em 14/4/2016
Os relatórios ministeriais de 1821 a 1960 estão disponíveis no sítio eletrônico:
http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial/marinha
Revista Maritma Brazileira – 1881 a 1889 – PR_SOR_03974_008567. Biblio-
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249
Introdução
Francisco Carlos Palomanes Martinho e Antônio Costa Pinto, dois
importantes intérpretes do corporativismo e autoritarismo, na introdução
de um livro relativamente recente sobre o corporativismo no Brasil e em
Portugal (MARTINHO; PINTO, 2007), explicitaram a necessidade de
1 – Este texto é uma ampliação das formulações de um subcapítulo da minha dissertação
de mestrado, ver: ASSUNÇÃO (2014).
2 – Mestre e Doutorando em história pela Universidade Federal de Goiás. Bolsista san-
duíche no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. E-mail: marcellof-
ma@gmail.com.
3 – Um outro empreendimento comparativo foi o livro organizado por SILVA (1991),
fruto do seminário no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, “O feixe e o
prisma”.
Como aponta o estudo de PINTO (2002), não é por mero acaso que
um amplo espectro da elite ministerial do salazarismo fosse formada por
professores universitários de Coimbra (fundamentalmente do direito). A
maioria destes, como é o caso do próprio Salazar e de Marcelo Caetano,
teve a sua formação em Coimbra, que, desde a década de 1920 tornou-se
6 – Esta consagração também se expandia para aqueles que defenderam em suas produ-
ções intelectuais a “Civilização cristã ocidental” e o sentimento “rácico” da lusitanidade,
como é o caso dos brasileiros Afrânio Peixoto, Pedro Calmon e o inglês James Entwistle.
7 – António Ferro (1885-1956) foi um importante intelectual modernista do regime
salazarista, sendo um dos poucos a ocupar cargos importantes e ter vinculações diretas
com a direita radical (entrevistou durante os anos 1920 Mussolini, Primo de Rivera, en-
tre outros). Durante o salazarismo, foi diretor do Secretariado de Propaganda Nacional
e também, posteriormente, do Sistema Nacional de Informação, sendo considerado “o
publicista do regime” (ADINOLFI, 2007: p. 111). Para saber mais sobre sua trajetória
institucional, em suas distintas fases, ver: ADINOLFI (2007); LEAL (1994).
11 – Para o caso brasileiro, ver: VELLOSO (1987); PECAULT (1990); GOMES (2007);
12 – Azevedo de Amaral (1881-1942), intelectual de perspectiva autoritária e corpora-
tiva do período, expressa muito bem essa visão dos intelectuais: “Emergidos da coletivi-
dade como expressões mais lúcidas do que ainda não se tornou perfeitamente consciente
no espírito do povo, os intelectuais são investidos da função de retransmitir às massas
sob forma clara e compreensiva o que nelas é apenas uma ideia indecisa e uma aspiração
mal definida. Assim, a elite cultural do país tornou-se, no Estado Novo, um órgão neces-
sariamente associado ao poder público como centro de elaboração ideológica e núcleo
de irradiação do pensamento nacional que ela sublima e coordena” (Azevedo de Amaral
apud VELLOSO, 1987: p. 18).
13 – Para uma análise da Revista Atlântico, ver: SILVA (2011); SERRANO (2009).
Afirma que a despeito deste artigo ser um trabalho sério até a pri-
meira e segunda parte da sua obra, na terceira, quando procura analisar
as doutrinas do nacional-socialismo e da democracia, “deixa-se por com-
pleto obcecar pelo paroxismo de suas latrias e das suas fobias políticas”
(MONTALEGRE, 1946: p. 938). Piccarolo, segundo a crítica de Mon-
talegre, ao contrário de uma atitude própria de um “homem de ciência”,
teve um comportamento sectário ao tratar de forma elogiosa a democra-
cia e negativizar as doutrinas do nacional-socialismo (MONTALEGRE,
1946: p. 939).
Esse sacrifício não deveria ser feito somente pelo “capital” e “traba-
lho” mas, também, pelos intelectuais que deveriam largar os seus “bar-
roquismos” e “particularismos ideológicos” em prol de um engajamento
ativo em torno da reconstrução da nação no Brasil e em Portugal. Dessa
forma, poderíamos dizer que há um espelhamento em torno de pelo me-
nos quatro temas estruturantes na cultura política da intelligentsia luso-
-brasileira do período: a invocação de um estado forte e centralizado, a
defesa de uma democracia social (por meio da organização corporativa)
em detrimento de uma democracia política, a formação de uma elite enga-
16 – Como fica claro no discurso de Salazar “[...] primeiro agitação permanente, muta-
ções rápidas de cena política, desordem nas ruas e nos espíritos, anarquia e insuficiência
dos serviços, falta de segurança das pessoas e dos bens, descrédito, ruína da economia,
atraso geral, muitas revoluções, nenhuma revolução, depois a Ditadura que estabelece a
paz” (Salazar apud GIL, 1996: pp. 24-25).
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de Estudos Brasileiros, v. III, 1946, pp. 914-919.
275
1. Introdução
Este texto é uma primeira aproximação ao estudo do caso de um
grupo de estudantes japoneses para Amazônia brasileira, na década de
1930.3 Limita-se à revisão bibliográfica sobre o expansionismo japonês
7 – Daimyo(大名): Eram os senhores dos feudos (castelo e suas terras), equivalente aos
barões do império, que detinham a propriedade dos han.
8 – Samurai (侍): Eram os guerreiros/soldados da aristocracia japonesa que serviam os
daimyos, durante o período do Xogunato. De acordo com o código de honra (Bushido –
que significa, o caminho do guerreiro), os samurais deveriam ser leais, resistentes, corajo-
sos e disciplinados. Suas principais características eram a severa disciplina, lealdade e sua
grande habilidade com a espada (katana).
9 – Somente as famílias da aristocracia e dos samurais possuíam sobrenomes de famílias
distintas. Razão por que a maioria das famílias de camponesas que adotaram os sobreno-
mes na Era Meiji possui nomes dos locais de origem, como Sato, Suzuki, Ito, Kagawa,
Yamaguchi, Fukushima etc.
10 – Bakufu(幕府) ou Administração do Xogunato, designa o sistema de governo japo-
Tokugawa inspirava respeito entre os demais. Por isso, o líder era cha-
mado de Xogum (ou Shogun), o maior entre os mais de 250 daimyos.
O imperador, apesar de ser venerado pelo povo como um descendente
direto da deusa Amaterasu, segundo a doutrina xintoísta, era apenas um
ente simbólico, sem poder político ou militar. Além disso, a família impe-
rial vivia encastelada no Mikado de Kyoto como uma presa dos Tokuga-
wa (HALL, 1995; SOMMA 2003).
nês com base na ditadura militar exercida pelo Shogun, na Era dos Tokugawa, conhecido
também como Período Edo.
11 – O grupo Eta era composto de pessoas consideradas impuras que, geralmente, exer-
ciam trabalhos desqualificados socialmente – como matança de animais, venda de carnes,
trato de cadáveres ou de carcaças de animais. Também chamavam de Eta aos descenden-
tes de coreanos que foram trazidos pelos primeiros shoguns e que permaneceram isolados,
exercendo essas atividades consideradas impuras pelo budismo.
17 – O tratado assinado pelos representantes do governo do Império Coreano e do Im-
pério do Japão foi proclamado em 29 de agosto de 1910, iniciando oficialmente o período
de domínio japonês na Coreia.
18 – Também chamada de Shantung, Xantung ou Chantung.
20 – A Comissão Lytton foi um grupo de trabalho estabelecido pela Sociedade de Na-
ções, em 1931, para determinar os motivos e as consequências do ataque do Japão contra
China e a posterior proclamação do estado de Manchukuo.
5. Considerações finais
Diante das evidências de um empreendedorismo de caráter perma-
nente, pode-se constatar que o pequeno grupo, de menos de 500 pessoas,
entre 243 estudantes koutakussei, professores, funcionários e alguns co-
lonos do Projeto Koutaku e dos agregados do Projeto Amaku de Maués
(UYETSUKA, [1954] 2011; APANB 2001; ASSOCIAÇÃO KOUTAKU,
2011), que congregam o grupo Koutaku-kai, representa uma vertente dife-
renciada do fluxo de imigrantes japoneses para o território brasileiro, fato
que amplia a compreensão dos diferentes padrões de imigração existente
no Brasil e de sua contribuição para a formação histórica da Amazônia.
Tudo indica que o processo emigratório dos japoneses está fortemente
relacionado com a geopolítica do império japonês na Era Meiji (1868-
1912). A vinda dos koutakussei para a Amazônia é um caso emblemático
dessa política.
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299
Ii – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
do. Nas negociações, houve muita objetividade das duas coroas e o tema
foi abordado com vontade de acertar. Alexandre de Gusmão, em Lisboa,
assumiu a direção do litígio, adotando atitude completamente diferente
de como era antes tratada a questão. Ele aceitava a entrega da Colônia do
Sacramento em troca de concessões substanciais dos espanhóis. Gusmão
visava sobretudo à posse de territórios imensos ocupados esparsamente
por missões religiosas, bandeirantes e aventureiros nas regiões de Goiás,
Mato Grosso e Amazonas, e suas ambições chegavam até os vales dos
rios Negro, Branco e Japurá, na Amazônia. Um bom estudo do neto do
barão, Miguel do Rio Branco descreve bem os preparativos.6
Gusmão trabalhava entre os mapas e as informações recebidas dos
governadores dessas regiões, das missões carmelitas e de todo e qual-
quer funcionário que lhe pudesse enviar algo de positivo. De Lisboa,
ele bombardeava o embaixador português com sucessivas cartas, mi-
nutas e propostas. Para poder pôr em prática seu plano, Gusmão re-
correu a uma cláusula do Tratado de Utrecht, de 1715, segundo a qual
a coroa da Espanha poderia propor a troca da Colônia do Sacramento
por qualquer composição territorial.
nome veio à tona e tem sido louvado por suas importantes contribuições
para essas expedições na Amazônia.7
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tratado. A Funag publicou em 2006 outra edição em dois volumes, que é muito
útil, de fácil manejo e está disponível.
DARIGO, Francisco Machado. Historiografia em ensaios, edição privada,
Niterói, 2011. O livro contém dois estudos sobre “A Amazônia e o Eldorado” e
“O Homem e o desenvolvimento da Amazônia”.
MENDES, Iran Abreu. A astronomia de Ignácio Szentmartonyi na demarcação
das fronteiras da Amazônia no século XVIII, Anais do IX Seminário Nacional de
História da Matemática. Sociedade Brasileira de História da Matemática.
MENDONÇA, Isabel M. G. Um artista entre dois continentes: Antônio José
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MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazônia na era Pombalina, 3 volumes.
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MENDONÇA, Renato de. Os sete povos ds Missões e o Tratado de Madri. Rio
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MOURA, Carlos Francisco. Astronomia na Amazônia no século XVII. Rio de
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PAIM, Gilberto. A Amazônia de Pombal sob ameaça. Editorial Escrita, Rio de
Janeiro, 2006.
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TOCANTINS, Leandro. Landi, um italiano luso-tropícalizado. In: Revista
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Cultura, Rio de Janeiro.
315
15 – VIEIRA, Antônio. Cartas de Antônio Vieira. Vol. I. São Paulo: Globo, 2008, pp.
332-338.
16 – FRAGOSO, João. “Fidalgos da terra e o Atlântico Sul”. In: SCHWARTZ, Stuart;
MYRUP, Erik Lars (Orgs.). O Brasil no império marítimo português. Bauru: EDUSC,
2009, pp. 75-112; e BICALHO, Fernanda. A Cidade e o Império. Rio de Janeiro: Civili-
zação, 2003.
Ao longo dos anos 1640, por exemplo, por diversas vezes a Câmara
do Rio de Janeiro se debruçou sobre o assunto. A conjuntura era de in-
certeza, de modo que os subsídios foram acordados por prazos distintos,
ou mesmo foram interditados em função de alguma ação desastrosa, do
governador-geral ou do governador da própria cidade. Todavia, se há uma
regularidade a ser assimilada, parece ser a de que o coração dos vassalos
se inclina para a colaboração com o rei se ele distribui mercês, como
privilégios idênticos aos dos moradores do Porto, e títulos, como o título
de cidade “leal”. Ou então, na mesma inclinação se faz, se os tribunais,
especialmente o Conselho Ultramarino neste caso, é capaz de criar condi-
ções favoráveis para que aqueles vassalos pudessem assim comprometer
espontaneamente seus rendimentos. Por exemplo, nesse cenário, cabia ao
Conselho garantir que os governadores não interferissem na finalidade
de aplicação do provisionado; cabia-lhe também verificar junto ao rei a
possibilidade de enviar engenheiros para a fortificação da ilhota da Lage,
antiga demanda dos moradores; cabia-lhe ainda demonstrar que valoriza-
va aquelas ações, propondo prerrogativas para aqueles vassalos, ou indi-
cando nomes para seu governo que fossem reconhecidos e bem aceitos.
17 – Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Rio de Janeiro, Castro e Almeida, Cx. 27,
Doc. 6085.
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18 – VASCONCELOS, Luís Mendes de. “Diálogos sobre o sítio de Lisboa”. In: SÉR-
GIO, Antônio. Antologia dos economistas portugueses (século XVII). Lisboa: Sá da Cos-
ta, 1974, pp. 55-56.
329
dentre Gazetas
From Among the Gazettes
Cybelle de Ipanema1
Resumo: Abstract:
A comunicação aborda a Gazeta do Rio de The communication addresses the Gazeta do
Janeiro, privilegiando: o mês de setembro de Rio de Janeiro, privilege: the month of Septem-
1815. O jornal divulgava notícias da guerra na ber, 1815. The gazette released news about the
Europa, tanto do ponto de vista dos vencedores, war in Europe, both from the point of view of
como do vencido, Napoleão. Igualmente, dos the winners and the loser, in this case Napoleon.
hábitos dos moradores: casas com bom quintal And also news about the habits of the inhabit-
(certamente com árvores frutíferas), casas de ants: houses with spacious backyards with
dois andares, abrigando comércio no térreo e fruit trees, two-floor houses with commerce in
família no andar superior. Desdobramos todas the ground floor and family in the upper floor.
as notícias, sobretudo nos Avisos, da 4a página. Among many other pieces of news, we unfold
De igual modo, Notícias marítimas, partida e maritime news including departure and arrival
chegada de navios, mercadorias transacionadas, of ships, goods traded, auctions, lotteries, sale
leilões, loterias, venda de livros. of books, and highlight especially the Notices
on page 4
Palavras-chave: Gazeta do Rio de Janeiro; se- Keywords: Gazeta do Rio de Janeiro; Septem-
tembro de 1815; Guerras Napoelônicas; anún- ber 1815; Napoleonic wars; notices, urban life.
cios; vida urbana.
Portugal, meu avôzinho, de Davi Nasser (1965), já não bate com mi-
lhões dos do lado de cá do Atlântico, senão metaforicamente. O que não
nos deixa, no entanto, perder os laços, as raízes, louvá-los, tentar reme-
morar algo que lhes devemos, caso deste comparecimento no Seminário
“Presença portuguesa no Rio de Janeiro”.
A Gazeta não era, porém, diária, não houve um número de 200 anos
atrás, 10 de setembro de 1815, razão por que optamos por analisar todo
o mês em causa, o que justificaria, sem espanto (como foi o caso), o tí-
tulo para o pronunciamento: dentre muitas Gazetas, privilegiaram-se as
daquele mês.
Ela foi bastante enfocada por Alfredo do Vale Cabral2 e Rubens Bor-
ba de Moraes,3 em seus aspectos formais, ao lado de exames e interpreta-
ções de seu papel, social ou político, na socieade joanina do século XIX,
por outros autores.4
nou à terra natal e posteriomente veio para a corte. Deteve o posto de bri-
gadeiro ou coronel. Agraciado com ordens honoríficas. Poeta e tradutor,
inclusive de Legendre que dedicou ao príncipe regente.5
9 – NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Napoleão Bonaparte: imaginário e política
em Portugal c. 1808-1810. São Paulo: Alameda, 2008.
O marechal príncipe Blucher não quer ser ingrato “aos bravos bél-
gicos”.
... Adeus, /.../ A lembrança do hospitaleiro gasalhado, que nos destes,
e a memória de vossas virtudes estarão eternamente gravadas nos nos-
sos corações. Proteja o Deus de paz vosso belo país; e afaste dele por
muito tempo as desordens da guerra; sede tão felizes, como mereceis.
– Adeus! (de 21 de julho). (Idem, ibidem, p. 3).
Não era, porém, neste caso, parcial a Gazeta. Não deixava de trans-
crever, por exemplo, esta “Declaração de Bonaparte ao povo francês”, de
23 de junho:
Franceses! Começando a guerra para manter a independência nacio-
nal, descansava na união de todos os esforços, de todas as vontades e
no concurso de todas as autoridades nacionais. /.../ A minha vida polí-
tica expirou, e eu aclamo meu filho debaixo do título de Napoleão II,
imperador dos Franceses /.../ (Gazeta do Rio de Janeiro, nº 71,
06.09.1815, p. 4).
10 – Texto em IPANEMA, Marcello de. Legislação de imprensa. Rio de Janeiro: Graf.
Edit. Aurora, 1949, 2 vol. 1o vol., pp.102-131. Copiado de Coleção da Legislação Por-
tuguesa... pelo desembargador Antônio Delgado da Silva. Lisboa, 1828, pp. 193-198 e
225-238.
Em meio a tão farto material do exterior, uma única vez tem na Ga-
zeta agasalho, com a rubrica “Rio de Janeiro”, ocupando duas e meia
páginas, das quatro da edição, uma “Relação dos despachos que baixaram
da Real Assinatura pelo expediente da Secretaria de Estado dos Negócios
Estrangeiros e da Guerra”.
radia da família, em cima. Exige: “da Rua dos Ourives e Cano (Sete de
Setembro) para a praia”. Curiosa prática que, talvez, não se supunha tão
antiga (200 anos cravados): procurar na Rua do Ouvidor, no tal, a loja de
José Angelliny para os arranjos, que dará “umas boas luvas pela cessão
da chave”.
13 – IPANEMA, Marcello de, IPANEMA, Cybelle de. A tipografia na Bahia, documen-
tos sobre suas origens e o empresário Silva Serva. Rio de Janeiro: Inst. de Comunicação
Ipanema, 1977; 2. ed., EDUFBA, 2010.
Senhoras e senhores,
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de D. João, editor na Independência. Rio de Janeiro: Capivara, 2007.
349
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
10 – ‘Provisão do Conselho Ultramarino sobre o General mandar dar Baixa ao capitão-
-mor da Vila de Cunha José Gomes de Siqueira Mota’. Documentos Interessantes para
a História e Costumes de São Paulo. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo, 1967,
vol. 89, pp. 230-231.
11 – Cf. ‘Para a Câmara da Vila de Cunha registrar a baixa do capitão-mor José Gomes
de Siqueira e Mota’. 22 de setembro de 1801, e ‘Para a Câmara da Vila de Cunha proceder
eleição de capitão-mor’. 20 de julho de 1802. Documentos Interessantes para a História
e Costumes de São Paulo. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo, 1980, vol. 93, pp.
24 e 80.
12 – Cf. ‘Carta do governador e capitão general da capitania de São Paulo, Antônio José
da Franca e Horta, ao príncipe regente [D. João], dando seu parecer favorável a respeito
da readmissão de José Gomes de Siqueira, que tivera baixa de seu posto de capitão-mor da
Vila de Cunha’. 14 de dezembro de 1804. Arquivo Histórico Ultramarino, Administração
Central, Conselho Ultramarino, Brasil – São Paulo (023), cx. 24, doc. 1095.
13 – Cf. ‘Requerimento de José Gomes de Sequeira e Mota [...]’. 13 de fevereiro de
1805, e ‘Carta do governador e capitão-general da capitania de São Paulo, Antônio José
da Franca e Horta’. 26 de abril de 1805. Arquivo Histórico Ultramarino, Administração
Central, Conselho Ultramarino, Brasil – São Paulo – Mendes Gouveia (023-01), cx. 57,
doc. 4303 e 4332.
Comentários paleográficos
O documento manuscrito autógrafo de autoria do governador e capi-
tão-general da capitania de São Paulo Antônio Manuel de Melo Castro e
Mendonça contém, no total, 31 folhas não numeradas, é datado de 1799,
foi escrito na língua portuguesa e é descritivo em forma de cinco memó-
rias.
[fl. 1]
17 – Maria Helena Ochi Flexor. Abreviaturas: manuscritos dos séculos XVI ao XIX. São
Paulo: Editora UNESP, 1990, 2ª edição (1ª edição, 1979).
18 – Arquivo Histórico Ultramarino, Administração Central, Conselho Ultramarino, São
Paulo – Avulsos (023), Cx. 14, Doc. 701.
[fl. 2]
(de quem faz menção o denunciante na sua conta) e tendo o prezo em sua
caza o tempo, que lhe foi precizo para apromptar a conducção d’elle para
a Cidade, não perdeo esta occazião o Capitão Mor, e induzindo o mesmo
soldado por huma parte, e sobornando por outra o Juiz, como sempre
costuma, e eu o farei ver no decurso das outras Memorias, conseguio
querellar-se do mesmo Capitão, e ser pronunciado criminozo com o fin-
gido pretexto de ter feito carcere privado em sua Caza. Este crime ainda
que falsamente imputado, e as deligências, que o mesmo Capitão Mor
exactamente fazia, constituindo-se auxiliador da Justiça, para o prender,
fizerão com que elle se subtrahisse áquella violencia, abandonando o
commando da sua Companhia, e fugindo; tempo em que achando vago o
posto pela inculpavel dezerção do mesmo Capitão, foi com effeito provi-
do n’elle pelo meu An[te]cessor Manuel Correa de Bitencourt, que Sua
Magestade não quis confirmar por haverem incoherencias formaes n’este
procedimento. Mas logo, que o reputado criminozo foi seguro pela mes-
ma Senhora appareceo, proceguio a cauza, e mostrou por huma sentença
obtida na Rellação do Estado que era nullo, falso, irrisorio, e de nenhum
fundamento o crime, que se lhe [fl. 3] arguia, sendo por tanto restituido
á sua caza, e havendo as custas do querellante (ou para melhor dizer) do
mesmo Capitão Mor que era quem figurava no negocio com o nome do
tal soldado Balthazar Rodriguez, acima mencionado.
Este lance d’hum homem Honrado, e que parece vinha por termo
as suas antigas afflicçoens, não foi se não origem de novas disgraças
d’aquella família: por que congraçando-se intimamente o Capitão Mor
com ella, e tendo por isso toda a franqueza, e liberdade na sua Caza, e
nas dos parentes, servio-se d’este pretexto o mais sagrado para faltar á
fé, á decencia, e a amizade desenquietando, e deshonestando á filha do
mesmo Capitão Xavier, que assistia desde criança em Caza de seu Avô
materno Diogo Lucas da Cunha. Perto de trez annos manteve o Capitão
Mor esta [fl. 3vº] illicita, alleivoza, e por todas as Leys attroz communica-
ção, sem que nem o pai da rapariga o soubesse, nem o Avô o suspeitasse,
por viverem na boa fé. D’aqui rezultou conceber a Rapariga, e parir hum
filho, que foi exposto na mesma caza do Capitão Mor, e foi baptizado
com o nome de Joaquim, que depois de alguns mezes o Capitão Mor foi
introduzindo na Caza do Bisavô dito Diogo Lucas, onde rezidia a mesma
Rapariga filha do Capitão Xavier, e Mãe do referido exposto; que ainda
hoje se acha na mesma caza.
Vendo pois o Capitão Mor, que se acabava por este modo toda a
esperança de continuar no pessimo, e injuriozo tracto, em que vivia com
a mesma moça com publica deshonra de seus pais, e mais parentes, pro-
curou estorvar as ajustadas medidas, que tinha tomado seu pai de a levar
para sua companhia. Para este fim hé de suppôr, que a persuadisse a fu-
gir; pois he certo, e provado, que elle deo ordem ao Alferes da Orde-
nança Antonio Maximo, Affilhado da mesma, e assistente na sua caza (o
qual tambem vem referido na queixa) para a accompanhar, quando ella
sahisse, como o mesmo Alferes declarou publicamente na minha Salla
d’Audiencia diante do Capitão Mor; o qual Alferes de facto a accompa-
nhou, para Caza de Balthazar Rodriguez (tambem referido) e que he o
mesmo soldado d’Ordenança, Compadre do Capitão Mor, que induzido
por elle foi parte no pertendido crime de carcere privado, que se imputou
ao Capitão Xavier, como ja disse.
Este soldado já instruido pelo Capitão Mor tanto, que recebeo a ra-
pariga a levou por alguns lugares menos frequentados e lh’a [fl. 4vº] foi
entregar ao Caminho, onde elle a esperava para a conduzir para sua caza.
Foi com effeito para caza do Capitão Mor, e ahi rezidiu fechada em hum
quarto trez dias, sem que a mulher d’elle o presentisse; mas conhecen-
do, que não lhe era possivel conserval-la sempre n’estas circunstancias,
levou-a para caza d’hum parente seu o Goarda Mor Pedro dos Santos
Souza, de cuja caza publicamente a conduzia pelo meio da Vila para a
sua Chácra, quando lhe parecia, e advertindo n’este escandalo o mesmo
Goarda Mor procurou eximir-se de tal hospitalidade, vendo-se então o
Capitão Mor obrigado a conduzil-la finalmente para caza de suas Irmans,
onde se achou, quando á minha ordem foi procurada.
Neste tempo, que a moça tinha fugido, ou (faltando com termos pro-
prios) tinha sido raptada he, que o Capitão Mor a quiz fazer emancipar,
e não querendo o Juiz dos Orphãos admittil-la sem consentimento dos
Pais, elle induzio ao Juiz Ordinario, que com effeito condescendeo com
a sua vontade, e sem compettência, nem Jurisdicção a emancipou. Eis-
-a-qui a emancipação, que elle diz na Conta tinha remettido por via do
meu secretario para eu a fazer executar. Por huma parte a incurialidade
d’este procedimento, e por outra huma justificação de todos estes factos,
que me apprezentou o pai da Rapariga o dito Capitão Xavier, os quaes
mandados examinar achei, que todos erão verdadeiros me obrigou a que
desse a este respeito a mais prompta [fl. 5] providencia, procurando, que o
Capitão Mor resarcisse d’algum modo o credito da Rapariga, mettendo-a
n’hum dos recolhimentos d’esta Cidade, pois d’este modo evitava ella a
indignação de seus Pais, e se acautelava o seu procedimento para o futuro.
Hé certo, que vendo o pouco cazo, que o Capitão Mor fazia das mi-
nhas instancias, querendo sempre illudir-me com disculpas simuladas já
dizendo, que o seu negócio era na justiça, já que não cumpria ordens
vocaes; propondo-se zombar das minhas determinaçoens, que só tinhão
por objecto a conservação da honestidade, e honra das familias, primeiro
movel dos meus disvellos, e dos meus trabalhos; pois queria ver se por
huma vez se acabavão taes dispotismos tão uzuaes, n’esta Capitania, com
effeito o fiz chamar para huma salla interior, e lhe disse bastantemente
irado, que a ordem que lhe havia de dar por [fl. 6] escripto, era para se
lhe despir a farda, e dar-se lhe baixa por indigno do lugar, que occupava:
reprehensão bem merecida á vista de tão criminozo, e insolente procedi-
mento, e que foi dada com mais moderação, do que pedia o cazo; porque
sendo particular, como foi, não tinha equiponderancia com os defeitos
publicos, e notorios, de que estava convencido, e elle mesmo os não ne-
gava nem podia negar.
Logo que tive noticia da sua dezerção mandei entrar a mesma rapa-
riga no Recolhimento de Santa Tereza d’esta Cidade, onde actualmente
existe, assistida por seu pai, visto, que com a fuga do delinquente ficou
frustrada a minha deligência, e offendida a equidade, com que me tinha
comportado, sem usar de meios violentos, como elle quer fingir; pois [fl.
8] que então a querer practical-los não tinha mais do que mandal-lo pren-
der, o que com effeito nem cheguei a intentar. Nem devia esperar que a
Moça tivesse vocação para ir para huma Caza de mulheres seculares, a
onde existindo as outras para se educarem, aquella só hia para se corrigir,
e emendar; e alem disto hé outra vez falço dizer se que a este tão justo, e
santo dezignio se oppoz o Bispo, o qual (não sei se por condescendencia
meramente politica) immediatamente annuio a minha reprezentação.
Tudo isto bem ponderado, creio que fará conhecer a Vossa Excelên-
cia qual he o caracter do denunciante, o que não obstante com mais exac-
ção se manifestará pelo contheudo na 2ª., e 3ª. Memoria, que servirão de
satisfazer, ao que Vossa Excelência n’este artigo me ordena.
hum prejuro á homenagem, que prestou, não se faz digno de ser conserva-
do no ditto emprego; mas sim de ter baixa d’aquelle posto, e occupação,
que tão indignamente exerce, para exemplo dos mais, e conservação do
respeito, e cega obediencia, que se deve ter ás justas, e santas Leys, que
nos regem, aos nossos piedozos Soberanos, que as fazem, e promulgam,
e aos Delegados do seu poder supremo, que as executão.
[fl. 9vº]
[fl. 1]
[fl. 2]
Ouvidor, que então era Miguel Marcellino Vellozo e Gamma, e lhe fallou
para ir prezidir na mesma eleição, appromptando-lhe o dito Jose Gomez
toda a conducção, fazendo-lhe as despezas do transporte, e hospedando-o
na sua Caza, o que acconteceo no anno de 1788.
Com effeito em hum dos pelouros para hum dos Juizes foi nomeado
Ignácio de Loyola Freire, Irmão legitimo de Francisco Nabo Freire, ca-
zado com Francisca Galvoa, cunhada do dito Jose Gomez, homem sem
estabelecimento, nem Caza n’aquella Villa, e que a ella tinha vindo por
occazião d’huns dizimos, que ali remattou; sendo sempre hospede do re-
ferido Jose Gomez, que pertendia o pozto de Capitão Mor, e do qual era
especial Amigo. Foi hum dos Vereadores Jose Lopez dos Santos, cazado
com Anna Jacintha de Sequeira, Irman Legitima do mesmo Gomez; e
outro Vereador Joaquim Gomez de Sequeira; também Irmão Legitimo do
pertendente. As mais pessoas do Senado forão indifferentes; pois como
nunca consta de mais de sinco votos, tendo por sua parte trez, estava ar-
mada a cavilação, segundo queria o pertendente, e annuia o comprado ou-
vidor. Os outros pelouros forão feitos sem mais estudo, pelo que pertence
aos vereadores; mas sempre com alguns Juizes da parcialidade, e facção
do dito Jose Gomez, que esperava ser eleito, quando sahisse a celebrada
Camara; quaze toda composta dos seus parentes, e Amigos. Recolheu-
-se o Ouvidor, e forão-se extrahindo os pelouros para [fl. 3vº] os annos
sem razão, que apezar de ter tudo comprado não pôde conseguir realizar-
-se o seu projecto, ficando esperançado em melhorar de condicção, logo,
que entrasse na governança o Senado, que elle compoz a seu geito, como
assim acconteceo.
menos o acto da eleição fosse curial, commetterão n’ella hum erro cras-
sissimo, e que só elle bastava para ser irrita, e de nenhum valor aquella
nomeação: e veio a ser que não havendo n’aquelle mesmo Senado se não
os trez votos a cima referidos a favor do Capitão Gomez, e achando-se
no mez de sua prezidência na Camara o Juiz Ordinario Antonio Montei-
ro Silva, que não era seu parcial, vinha por tanto [fl. 5] a haver só dois
votos a favor d’elle, para remediar isto, excluindo o Juiz do mez, fizerão
a eleição com o outro Juiz Ignacio de Loyola Freira, Amigo hospede do
pertendente.
Não tardou muito, que novo Capitão Mor quizesse premiar o Juiz
Ignacio de Loyola Freire, seu hospede, pela condescendencia, que teve
em votar na sua eleição, e para isto o quis fazer nomear Capitão das
Suas Ordenanças, como antes lhe tinha promettido, e se acha provado.
Convocou-se a Camara, e não annuindo o Juiz Prezidente Antonio Mon-
teiro Silva, e mais dois Vereadores ás instancias do Capitão Mor, e isto
pelas razoens de não ter estabelecimento n’aquella Vila o tal Loyola, e
de mais a mais ser Juiz, e Prezidente da Camara d’aquelle anno, e por
tanto impossebilitado para Semelhante eleição na conformidade das [fl.
5vº] Ordens de Sua Magestade; mandou ao Juiz, que autuasse aquelles
Officiaes da Camara por se opporem a sua vontade, o que não querendo
fazer o Juiz Prezidente, passou o mesmo Capitão Mor a dar-lhes a voz de
prezos a ordem do meu Antecessor, e unindo-se com o outro Juiz Loyo-
la, que n’aquelle mez não tinha jurisdicção nenhuma, passou a vexar os
mesmos Officiaes da Camara fazendo toda a deligência para os prender,
os quaes não tendo outro remedio (bem que sem culpa) fugirão, e vierão
apprezentar-se n’esta Cidade ao dito meu Antecessor, o qual os fez voltar
a suas Cazas, deichando impunido tão grande insulto feito ás Justiças de
Sua Magestade com total abandonoo, e manifesto desprezo das suas Re-
gias determinaçoens.
[fl. 1]
Memoria 3ª., que tem por objecto responder ao 3º. Artigo do Officio
de 19 de Settembro de 1798, em que Sua Magestade hé servida mandar-
-me informar sobre as pessoas por cuja mediação se projectava remetter
dinheiro para o fim d’obter hum Decreto para ser Capitão Mor da Vila de
Cunha o Sargento Mor Antonio Joze de Macedo: á qual se juntão mais
alguns factos avulsos, que servem de melhor, e mais completamente dar
a conhecer o caracter do seu Competidor, ou Antagonista Jose Gomez de
Sequeira e Motta.
[fl. 2]
tem a furtuna de o serem dos nossos tão Augustos, como piedozos sobe-
ranos. O que accontece com Antonio Joze de Macedo he huma Legitima
consequencia d’esta verdade; pois sendo incontrastavelmente certo, que o
Capitão Mor só á força do dinheiro (como elle mesmo tem ditto), pôde ser
nomeado, e elleito, e confirmado, com manifesta tortura, e expressa vio-
lencia as Reaes ordens de Sua Magestade, e naturalmente se infere pela
simples inspecção das incurialidades que na dita eleição se encontrão;
todo este procedimento por huma parte, e por outra a falta d’equidade,
com que se não attendeo ás reprezentaçoens, e authenticas provas que
produzia em abo- [fl. 2vº] no da justiça lezada, e offendida; e de mais
a mais o passar de Commandante, que tinha sido d’aquelle povo tantos
annos com geral approvação de todos, e completo dezempenho dos seus
deveres, e das ordens, e commissoens, que lhe forão encarregadas, a ser
subalterno d’hum seu inimigo; tudo isto o poz igualmente na percizão de
solicitar ser attendido pelos mesmos iniquos meios com que tinha sido
desprezada a conhecida razão da sua cauza.
Para este fim já eu sabia, que por via de João Vicente, Escrivão De-
putado da Real Junta da recadação da Fazenda d’esta Capitania mandara
fallar a hum Procurador em Lisboa para lhe agenciar a pertenção de sahir
Capitão Mor por hum Decreto, o que tambem comprova a carta do mes-
mo, que apprezentou a Vossa Excelência o referido Jose Gomez; sabia
que forão prezentes á Sua Magestade os motivos da supplica de Macedo,
com os Documentos, que provavão o mesmo que tenho referido na 2ª.
Memoria, o que veio a informar ao meu Antecessor, mas ignoro o que
respondeo a esse respeito, por não achar registro da informação, ainda
que tenho motivos para inferir, que seria esquerda, e simulada, tanto pelo
ditto do mesmo Procurador, que Vossa Excelência me envia, e que ac-
companhava a Carta surpredida, como por ver que effectivamente foi,
contra todas as dispoziçoens do Direito, confirmado aquelle Capitão Mor;
e sabia finalmente, que o Senhor Luiz Pinto de Souza estando encarrega-
do dos negocios do Ultramar tivera hum pleno conhecimento da injustiça
que se tinha practicado com o Macedo, e que promettera, que logo, que
o meu Antecessor se auzentasse para Minas o havia despachar, o que não
fazia já [fl. 3] por que não convinha por hum rasgo de mera politica, que
estando elle ainda na Capitania recebesse, e prezenceasse huma desfeita
em desabono do governo, que acabava de fazer.
proporcional á minha injuria. Mas para que não fique a menor sombra de
duvida a respeito do meu procedimento na promoção do mesmo Anto-
nio Joze de Macedo para Coronel do Regimento, que creei no destricto
da Vila de Cunha, requeiro a Vossa Excelência obrigue aquelle Capitão
Mor a que manifestamente diga, ou vá dizer á sua Prezença, quaes são os
meios, (que por modestia calla) com que quer affectar, que eu fizera a dita
Promoção: requeiro a Vossa Excelência, torno a dizer, mande devassar
d’este crime, que tão alleivozamente se me imputa, com detrimento do
meu credito, e do bem conhecido desinteresse, com que tenho a honra de
imitar aos meus Ascendentes no Real serviço da minha Soberana, e com
especialidade, áquelle virtuozo Tio, e Respeitavel Ministro, que Vossa
Excelência tão benignamente se digna propor-me para modello das mi-
nhas acçoens.
O muito, que tenho para dizer a Vossa Excelência sobre este artigo
em abono da minha innocencia, me obriga a fazer mais huma Memoria;
e por isso mudando de assumpto passo a referir alguns [fl. 4] factos mais,
que acho provados, e que servem de dar a ultima evidencia ao maligno
caracter d’este tão perverso homem.
pela boa arrecadação da Real Fazenda, como tambem farei ver a Vossa
Excelência, quando a occazião m’o permittir, fallando do máo estado, em
que vim achar os interesses da mesma Fazenda. E fazendo-se na caza do
mesmo Francisco Xavier todas as noites hum conciliabulo sobre o meu
procedimento com o Capitão Mor, e sobre as minhas acçoens em geral,
ali mesmo em plena assembléia pelos vogaes [fl. 4vº] d’ella que erão o
dono da Caza, seu Irmão Joaquim Joze dos Santos, o Contador Clemente
Joze, Jeronimo Martins, e outros entre os quaes entrava o mesmo Capitão
Mor, e o Secretario do Governo se deliberou a que se desse conta de mim,
e que n’ella se inserisse, sem vir ao cazo, a carta de João Vicente, para
antecipadamente o porem de má fé; pois lhes constava, que elle queria
participar, ou tinha participado a Vossa Excelência o estado de crise em
que se achavão os negocios da Fazenda d’esta Capitania (o que não sei
se acconteceo) O certo he que havendo em todos os conventiculos hum
Judas, eu pude logo saber, sem-no intentar, o que ali se tractava, e pouco
mais, ou menos, o que se disse, e se escreveo contra mim; do que não fiz
cazo, nem ao menos o dei a entender, certo de que seria ouvido a produzir
as minhas razoens perante Vossa Excelência a quem assevero, que ainda
que Vossa Excelência m’o não advertisse, e o Capitão Mor se achasse
n’esta Capitania, eu o tractaria sempre com a mesma brandura, deixando
ao decurso do tempo, o conhecimento das suas intrigas, e caballas; e a
decizão de Vossa Excelência a justiça da minha cauza, o que já practiquei
a respeito da Carta diffamatoria, de que dei conta a Vossa Excelência.
[fl. 6vº]
Hé por isto, que outra vez lembro a Vossa Excelência o muito, que se
faz necessario, que Sua Magestade mande observar aquelle termo, casti-
[fl. 1]
[fl. 2]
gloria, á que aspirava, por hum caminho, que por escabrozo tinha sido
d’antes pouco trilhado.
emprego não lhe permittião ter todo o cuidado que devia no seu Regimen-
to, e que por tanto quizesse promover a Coronel Aggregado ao dito Regi-
mento o mesmo Tenente Coronel para no seu impedimento fazer as suas
vezes, para o que tinha todos os requizitos, e intelligência; e com effeito
parecendo-me muito razoavel o promovi por Commissão; mas sabendo
pouco depois, que elle intentara este despacho por dinheiro, ainda que ig-
norava se estes bons officios do Secretario forão feitos por essa razão, não
o inclui na proposta de Coronel, como Vossa Excelência pode ver nas que
tem em seu poder só para que no meu tempo se não dicesse, que huma só
promoção foi feita por esta via.
Todos estes factos, e alguns mais, que poderia expor a Vossa Exce-
lência servem de provar a cautella, que tenho com a minha familia não
consentindo que por nenhum principio intervenhão, nem ao menos se en-
carreguem de conduzir hum requerimento, chegando a tal ponto a minha
inteireza n’este particular, que sendo costume n’esta Capitania darem-se
aos secretarios do Governo avultadas sommas pelas Patentes, talvez por
influirem elles nas promoçoens, eu fiz saber que me resentiria infinita-
[fl. 5]
[fl. 1]
Memoria 5ª. em que se expoem alguns factos, que tem sido cauza da
oppozição que me fazem algumas pessoas, com especialidade as que não
podem, como d’antes fazer extorsoens da Real Fazenda.
[fl. 2]
gos d’hum governo heroico. Tambem não ignorava que hum d’aquelles
he o zello da boa arrecadação da Real Fazenda, que necessaria, e infa-
livelmente grangeia tantos antagonistas, quantos são os que se mantem
á custa d’ella. Verdade bem comprovada pelos Procuradores Regio da
Fazenda do Ultramar, e Coroa no anno de 1784 respondendo sobre as
contas, que algumas pessoas d’esta Capitania pozerão na prezença de Sua
Magestade a respeito do Governador e Capitão General Martim Lopez
Lobo de Saldanha. Mas não obstante isso como Vassallo honrado não
devia temer estes escôlhos, que são o matiz que muitas vezes tornão mais
gloriozas aquellas acçoens, que sendo arguidas por injustas, se conven-
cem de acertadas, não sendo possivel haver hum só General, que em tudo
agrade a todos.
nem devia ser contada, se não d’esde o dia do Fiat em Roma, como he
costume, que foi anno, e meio depois da nomeação; ficando Sua Mages-
tade por tanto damnizada em 1:200$000 reis, que de mais lhe adjudicarão
os Deputados da Junta.
[fl. 3]
vindo por tanto Sua Magestade cada anno a lucrar o que se vê da copia
Nº. 2, que no fim de 16 annos fez o total de 16:399$116 reis.
[fl. 4]
Este accontecimento foi outro objecto do meu reparo, e por isso pon-
do da mesma sorte as duvidas, que me occorrião sobre esta rezolução da
Junta, depois de passar mais d’hum anno sem de deliberarem a decidir,
fiz a minha proposta por escripta, e não quizerão reformar a Portaria, fun-
dando-se em que tinhão dado conta a Sua Magestade: o que he falcissimo;
pois a unica parte, que derão, foi, que na conformidade d’aquela Provizão
do Real Erario tinhão passados as Ordens necessarias para os Conegos se-
rem embolçados da quantia, que se lhe devia. Ora isto ditto simplesmen-
te sem alguma reflexão, que fizesse analizar este incurial procedimento,
bem se vê que não havia de fazer maior impressão, deichando portanto de
ser glozada pelo Erario esta despeza; ficando servindo huma determina-
ção fundada na ignorancia, e falta de Luzes dos Deputados d’esta Junta
de principio infallivel para se executar o que huma vez disserão, apezar
de lhes mostrar o mal, que tinhão entendido o espirito d’aquella Provizão.
[fl. 4vº]
He por isto, que estando elles costumados a conferir por huma cha-
mada administração os officios d’esta Capitania aos seus affilhados, eu
não consenti se não, que se dessem por arrematação, como antigamente,
no que lucrou muito a fazenda Real. Da mesma sorte os Amigos, e Pa-
rentes d’alguns Deputados tendo feito hum partido para não lançarem nos
dizimos senão ate certa quantidade, e sabendo isto cooperei para que não
houvessem intelligencias entre os rematantes, fazendo sobir os dizimos
33 mil cruzados mais sobre a remattação do trienio passado. Todas estas
coizas são outros tantos motivos para me serem oppostos os Deputados,
que entrão n’esta relação, e os do seu partido.
Sinto não poder fazer quanto dezejo; mas na falta de forças suprirá
a vontade, que me assiste de cooperar para o augmento, e riqueza não
Referências Bibliográficas
Obra de referência:
FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: manuscritos dos séculos XVI ao
XIX. São Paulo: Editora UNESP, 1990, 2ª edição (1ª edição, 1979).
Fontes:
Manuscritas
Arquivo Histórico Ultramarino, Administração Central, Conselho Ultramarino,
Brasil – São Paulo (023), Cx. 14, Doc. 701; cx. 24, doc. 1095.
Arquivo Histórico Ultramarino, Administração Central, Conselho Ultramarino,
Brasil – São Paulo – Mendes Gouveia (023-01), cx. 57, doc. 4303 e 4332.
Arquivo Histórico Ultramarino, Administração Central, Conselho Ultramarino,
Brasil – Minas Gerais (011), cx. 145, doc. 52.
Arquivo Histórico Ultramarino, Administração Central, Conselho Ultramarino,
Brasil – Códices, códice 424.
Impressas
Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo:
Arquivo do Estado de São Paulo, 1967, vol. 89.
Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo:
Arquivo do Estado de São Paulo, 1980, vol. 93.
MENDONÇA, Antônio Manuel de Melo Castro e. ‘Memória dos objectos, que
de recommendação de Sua Magestade, e por utilidade publica devem promover
os juiz e vereadores da Câmara desta cidade’. 1798. Registo Geral da Câmara
Municipal de S. Paulo (1796-1803). São Paulo: Typographia Piratininga, 1921,
vol. 12, pp. 258-260.
MENDONÇA, Antônio Manuel de Melo Castro e. ‘Memória Econômico Política
da Capitania de S. Paulo’. 1800. Anais do Museu Paulista. São Paulo: Museu
Paulista, 1961, tomo 15, pp. 81-247.
MENDONÇA, Antônio Manuel de Melo Castro e. ‘Memória sobre os objetos mais
interessantes da Capitania de S. Paulo entregue ao Ilustríssimo e Excelentíssimo
Senhor Antonio José da Franca e Horta [...]’. 1802. Anais do Museu Paulista.
São Paulo: Museu Paulista, 1964, tomo 18, pp. 227-268.
393
V – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
I
Não se sabe quando nasceu o conto na forma como o conhecemos
hoje, mas um arremedo do gênero deve ter sido o primeiro relato que
um homem da caverna tentou fazer a um(a) companheiro(a). Basta ver
que até mesmo sociedades ágrafas guardam narrativas míticas, que foram
transmitidas oralmente de geração para geração. Seja como for, apesar de
suas raízes estarem fincadas na história da Humanidade, o conto como
gênero literário é produto nascido no século XIX, quando a imprensa
começou a se expandir.
Entre os textos inéditos, está o conto que abre o livro, uma narrativa
densa que tem como pano de fundo o futebol, curiosamente um tema pou-
co explorado pelos escritores brasileiros, embora essa seja a modalidade
esportiva mais popular no País. É de se recordar que, desde o começo do
século XX, o excepcional romancista Lima Barreto (1881-1922) sem-
pre se opôs ao futebol, não propriamente contra a prática esportiva, mas
da Este lado para cima (poesia, edição de autor, 1993); Halma húmida
(poesia, edição do autor, 1997); Às vésperas do incêndio (contos, edição
do autor, 2000), com o qual conquistou o Prêmio Cidade de Belo Ho-
rizonte; Que fim levou Rick Jones? (contos, 2010); e a novela Azande
(edição de autor, 2004).
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E-mail: revista@ihgb.org.br
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Informações básicas
Circulando regularmente desde 1839, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é uma
das mais longevas publicações especializadas do mundo ocidental. Destina-se a divulgar a produção
do corpo social do Instituto, bem como contribuições de historiadores, geógrafos, antropólogos,
sociólogos, arquitetos, etnólogos, arqueólogos, museólogos e documentalistas de um modo geral.
Possui periodicidade quadrimestral, sendo o último número de cada ano reservado ao registro da vida
acadêmica do IHGB e demais atividades institucionais. A coleção completa da Revista encontra-se
disponível para consulta on line, no endereço: http://www.ihgb.org.br/rihgb.php
A abreviatura de seu título é R. IHGB, que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé e em
referências e legendas bibliográficas.
Fontes de indexação
• Historical Abstract: American, History and Life
• Ulrich's International Periodicals Directory
• Handbook of Latin American Studies (HLAS)
• Sumários Correntes Brasileiros
• Classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da
produção intelectual de seus docentes e alunos/Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível
Superior - QUALIS/Capes - conceito A 1.
Patrocinadores
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• Ministério da Cultura
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