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R IHGB

a. 168
n. 437
out./dez.
2007
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
DIRETORIA — (2006-2007)
Presidente: Arno Wehling
o
1 Vice-Presidente: João Hermes Pereira de Araújo
o
2 Vice-Presidente: Victorino Coutinho Chermont de Miranda
o
3 Vice-Presidente: Victorino Coutinho Chermont de Miranda
o
1 Secretária: Cybelle Moreira de Ipanema
o
2 Secretário: Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira Belchior
Tesoureiro: Fernando Tasso Fragoso Pires
Orador: José Arthur Rios

CONSELHO FISCAL
Membros efetivos: Maria Cecília Ribas Carneiro, José Pedro Pinto Esposel e Jonas de Morais Correia
Neto
Membros suplentes: Joaquim Victorino Portella Ferreira Alves e Pedro Carlos da Silva Telles

COMISSÕES PERMANENTES
Admissão de sócios: José Arthur Rios, Alberto Venancio Filho, Carlos Wehrs, Francisco Luiz
Teixeira Vinhosa e João Hermes Pereira de Araújo
Ciências Sociais: Lêda Boechat Rodrigues, Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão, Helio
Jaguaribe de Mattos, Cândido Antônio Mendes de Almeida e Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Estatuto: Affonso Arinos de Mello Franco, Alberto Venancio Filho, Victorino Coutinho Chermont
de Miranda e Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira Belchior
Geografia: Max Justo Guedes, Lucinda Coutinho de Mello Coelho, Jonas de Morais Correia Neto,
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e Miridan Britto Falci
História: João Hermes Pereira de Araújo, Maria Cecília Ribas Carneiro, Eduardo Silva, Pe.
Fernando Bastos de Ávila e Guilherme de Andréa Frota
Patrimônio: Affonso Celso Villela de Carvalho, Claudio Moreira Bento, Joaquim Victorino
Portella Ferreira Alves, Victorino Coutinho Chermont de Miranda e Fernando Tasso Fragoso Pires

CONSELHO CONSULTIVO
Membros nomeados: Augusto Carlos da Silva Telles, Luiz de Castro Souza, Lêda Boechat
Rodrigues, Frieda Wolff, Evaristo de Moraes Filho, Max Justo Guedes e Hélio Leoncio Martins
CEPHAS (Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas) – Secretário: Arivaldo Silveira Fontes
Editor do Noticiário: Victorino Coutinho Chermont de Miranda

DIRETORIAS ADJUNTAS
Arquivo: Carlos Wehrs
Biblioteca: Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha
Museu: Vera Lucia Bottrel Tostes
Secretaria Adjunta: Arivaldo Silveira Fontes
Coordenadoria de Cursos: Maria de Lourdes Viana Lyra
Patrimônio: Guilherme de Andréa Frota
Projetos Especiais: Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão
Informática e Disseminação da Informação: Esther Caldas Bertoletti
Relações Externas: João Maurício Ottoni Wanderley de Araújo Pinho
Iconografia: Pedro Karp Vasquez
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
E
GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos.
Et possint serâ posteritate frui.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168, n. 437, pp. 9-510, out./dez. 2007.


Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ano 168, n. 436, 2007
Indexada por/Indexed by
Historical Abstract: America, History and Life - Ulrich’s International Periodicals Directory -
Handbook of Latin American Studies (HLAS) - Sumários Correntes Brasileiros

Comissão da Revista - Editores


Miridan Britto Falci (Diretora) - Esther Bertoletti - Maria de Lourdes Viana Lyra - Mary Lucy Murray
Del Priore
Conselho Editorial Conselho Consultivo
Arno Wehling (Presidente) Amado Cervo José Marques
Antonio Manuel Dias Farinha Aniello Angelo Avella Junia Ferreira Furtado
Carlos Wehrs Antony Russel-Wood Leslie Bethell
Eduardo Silva Antonio Manuel Botelho Márcia Elisa de Campos
Elysio de Oliveira Belchior Hespanha Graf
Humberto Carlos Baquero Moreno Braz Augusto Aquino Brancato Marcus Joaquim Maciel de
Carlos Humberto Pederneiras Carvalho
João Hermes Pereira de Araújo
Corrêa Maria Beatriz Nizza da Silva
José Murilo de Carvalho
Claude Lévi-Strauss Maria Luiza Marcílio
Vasco Mari
Edivaldo Machado Boaventura Nestor Goulart Reis Filho
Fernando Camargo Stuart Schwartz
Geraldo Mártires Coelho Victor Tau Anzouategui
José Octávio de Arruda Mello

Correspondência:
Rev. IHGB - Av. Augusto Severo, 8-10º andar - Glória - CEP: 20021-040 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Fone/fax. (21) 2509-5107 / 2252-4430 / 2224-7338
e-mail: ihgbpresidencia@globo.com home page: www.ihgb.org.br
© Copright by IHGB
Tiragem: 700 exemplares
Impresso no Brasil - Printed in Brazil

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. - Ano 1-4 (jan./dez.,1839)-.


Rio de Janeiro: o Instituto, 1839-
v. : il. ; 23 cm
Trimestral
Título varia ligeiramente
ISSN 0101-4366
N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional
N. 427: Inventário analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia
e Oceania integrante do acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro /
coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley
N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26
de maio de 2006.

1. Brasil - História. 2. História. 3. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro -


Discursos, ensaios, conferências. I. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Ficha catalográfica preparada pela bibliotecária Célia da Costa
SUMÁRIO
Apresentação 9
Miridan Britto Knox Falci

I—INÉDITOS
Imagens de Euclides da Cunha entre o público e privado 11
Icléia Thiesen
A Construção de uma lei: O Diretório dos Índios 29
Mauro Cezar Coelho
À sombra das chancelarias: a preparação do Congresso
Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940) 49
Lucia Maria Paschoal Guimarães
Emílio Joaquim da Silva Maia. Um intelectual no Império do Brasil. 67
Lúcia Garcia
A etnografia como um campo de saber na fundação do Instituto
Histórico e Geográfico do Brasil 155
Kaori Kodama

II—DISCURSOS
Discurso de recepção à sócia Lilia Moritz Schwarcz 183
Alberto da Costa e Silva
Discurso de posse 187
Lilia Moritz Schwarcz
Discurso de recepção ao sócio Pe. José Carlos Brandi Aleixo 223
Affonso Arinos de Mello Franco
Discurso de posse 233
Pe. José Carlos Brandi Aleixo
Discurso de recepção ao sócio Jean Pierre Blay 247
Prof. Guilherme de Andréa Frota
Discurso de posse 251
Jean Pierre Blay
III—COMUNICAÇÕES
A Princesa Leopoldina de Bragança e Boubon de Ducal de
Sax-Coburg 275
Carlos Wehrs
O nome do Brasil: usos do passado e política da língua 291
Paulo Knauss
A Jangada: Júlio Verne e a Amazônia 305
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Abolicionismo e visões de liberdade 319
Cláudia Regina Andrade dos Santos

IV—DOCUMENTOS
Exposição do Pe. Antonio Vaz Pereira acerca da degradação do 335
Índios do Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro.
Queixas contra os Padres José dos Reis e Manoel de Andrade
da Companhia de Jesus. 1757
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - Arq. 1,3,8 p. 188 a 191v.
Marcia Amantino

V—NOTICIÁRIO
a — Atos do Presidente (Editais e Portaria) 347
b — Museu 357
c — Arquivo 357

VI—ATAS DAS SESSÕES DO INSTITUTO


1 — Assembléias Gerais, Ordinárias e Extraordinárias 367
2 — Sessão Magna Aniversária, 21/10/2007
a— Ata 377
b— Relatório 379
c— Elogio aos sócios falecidos 385
3 — Reuniões da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas 393
VII—PUBLICAÇÕES RECEBIDAS 439

VIII—ESTATÍSTICAS 443

IX—CADASTRO SOCIAL
a — Por classe 445
b — Por ordem alfabética 477
c — Relação de presidentes e endereços de Institutos Históricos 492

X—MOVIMENTAÇÃO NO QUADRO SOCIAL


a — Eleitos 495
b — Falecidos 495
c — Propostas e Pareceres 496

XI—VAGAS NO QUADRO SOCIAL 505


.....................
APRESENTAÇÃO

A última do ano de 2007 apresenta o formato típico que idealizamos, há 8


anos, quando chegamos, por convite do Sr. Presidente do IHGB, à direção da
mesma a saber: a seção de inéditos, nesse caso abordando estudos variados
sobre a História do Brasil, a de discursos e conferências, a de documentos iné-
ditos, a que agasalha as comunicações. Não fizemos, neste número, por espa-
ço, a seção de resenhas.

A última revista do ano comporta, ainda, toda a vida administrativa do


IHGB: editais e portarias do Senhor Presidente, pareceres sobre a admissão
de sócios, o quadro com o endereço dos membros do Instituto, os títulos de li-
vros e revistas recebidos em nossa biblioteca, as atividades do Museu e do
Arquivo. É uma revista onde a equipe de funcionários do IHGB colabora com
suas informações e levantamentos.

A seção de Inéditos desta revista 437, dedica-se a trabalhos especiais so-


bre Euclides da Cunha de Icléia Thiesen, O Diretório dos índios de Mauro
Cezar, o Congresso Luso-Brasileiro de História de 1940 de Lucia Paschoal
Guimarães, o estudo sobre Emílio Joaquim da Silva Maia de Lucia Garcia e
finalmente a reflexão sobre etnografia como campo de saber na fundação do
IHGB de Kaori Kodama.

Apresenta na seção Discursos e Conferência os discursos de posses e as


saudações aos sócios que recentemente nos chegaram, a saber, Lilia Moritz
Schwarcz, pe. José Carlos Aleixo e Jean Pierre Blay, saudados respectiva-
mente por Alberto da Costa e Silva, Affonso Arinos de Mello Franco e Gui-
lherme Andréa Frota.

Incorpora como Comunicações cinco interessantes trabalhos: o Palácio


Leopoldina e a biografia da Princesa Leopoldina, trabalhos respectivamente
de Dom Carlos Tasso Saxe-Coburgo e Carlos Wehrs, o estudo sobre o nome
do Brasil de Paulo Knauss, o trabalho de Ronaldo Rogério de Freitas Mou-
rão sobre Julio Verne e a Amazônia e finalmente o estudo de Claudia Regina
Andrade dos Santos sobre Abolicionismo e visões de liberdade.
Apresentamos como Documento a contribuição de Márcia Amantino so-
bre a Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índi-
os do Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro 1757.

Temos assim onze longos trabalhos dos quais somente quatro foram rea-
lizados por nossos sócios cumprindo a observação da CAPES de que a Revis-
ta não deverá ser endógena.

A segunda parte da Revista, como dissemos acima, mostra a vida dessa


Instituição secular.

Atividades diversas, como as palestras na CEPHAS (Comissão de Estu-


dos e Pesquisas Históricas) todas as quartas-feiras, com convidados externos,
cursos, visitas de alunos da rede do Rio às nossas dependências, empréstimos
de obras raras para exposições diversas, movimento do quadro social.

Distanciados das atividades especialmente acadêmicas como são os Pro-


gramas de História, nosso Instituto e conseqüentemente nossa Revista, cum-
pre nossa missão e objetivos: apresenta ao público geral, historiadores,
sociólogos e cientistas políticos, as contribuições mais recentes da produção
dentro dessas áreas e possibilita aos acadêmicos, em geral, o conhecimento da
nossa INSTITUIÇÃO.

Miridan Britto Falci


Sócia titular – Diretora da Revista
I—INÉDITOS
IMAGENS DE EUCLIDES DA CUNHA ENTRE
O PÚBLICO E O PRIVADO
Icléia Thiesen1

Uma parte de mim é multidão


Outra parte estranheza e solidão.

Raimundo Fagner e Ferreira Gullar

Resumo: Em 2002 comemorou-se o centenário


de Os Sertões, obra que traz o emblema do Abstract: The centennial of Os Sertões was
reconhecimento público, sempre aberta a novas celebrated in the year of 2002; this work carries
leituras e interpretações, comentários e with itself the stamp of public recognition, as it
traduções. Na oportunidade, importa também is always open to new readings and
iluminar a perspectiva familiar, suas interpretations, comments and translations. At
impressões e contribuições para a construção this celebration, it is also important to highlight
da identidade euclidiana nos quadros da the familiar perspective, its impression and
memória social. Para além do conhecimento contributions to building up the Euclidian
elaborado sobre o escritor, engenheiro, homem identity in the social memory framework. Far
público, alçado à condição de mito da beyond the knowledge drawn up on the writer,
nacionalidade, ao longo do tempo, a vida an engineer, a public personality, raised to the
privada parece apagar-se ou obscurecer-se no condition of nationality myth, throughout time
silêncio, em favor da obra criada e sempre private life seems to fade away or remain
redescoberta. Quem é Euclides da Cunha para obscure in silence, to the benefict of the work
seus descendentes? Quais os limites entre o created and always rediscovered. Who is
homem e o mito? Em que medida a família Euclides da Cunha to his descendents? What
contribui para o processo de reelaboração do are the limits between the man and the myth?
imaginário construído sobre o homem morto e How much did the family contribute to the
sua memória privada? O passado pode ser process of redrafting the imaginary built upon
reencontrado? Este artigo tem por objetivo the dead man and his private memory? Can the
analisar o longo trabalho de um membro da past be found again? This article aims at
família, guardião da memória desse analysing the long task of a family member,
personagem marcado pela tragédia que o custodian of the memory of this character
arrancou da vida, perpetuado pela obra maior branded by the tragedy which stole life away
que revelou e desvelou aspectos da vida from him, perpetuated by the masterpiece which
nacional até então apagados pela história revealed and brought to light aspects of the
oficial. national life hitherto effaced by official history.

Palavras-chave: Euclides da Cunha; Key words: Euclides da Cunha; Centennial of


Centenário de Os Sertões; Memória e Os Sertões; Memory and History.
História.

1 Professora Associada da UNIRIO, Departamento de História.

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Icléia Thiesen

Introdução

O Centenário de Os Sertões, ocorrido em 2002, suscitou a reflexão


sobre o homem Euclides da Cunha, aspecto ainda pouco estudado na pesquisa
acadêmica. O gosto pelo tema decorreu de uma viagem a São José do Rio
Pardo, durante a Semana Euclidiana de 2002, quando pude perceber os
aspectos míticos presentes no fenômeno do euclidianismo e o silêncio sobre o
autor objeto das comemorações, como ser humano portador de uma história
de vida eivada de vicissitudes.
Muitas questões surgiram a partir dessa viagem, que trouxe a
oportunidade de conhecer não apenas intelectuais que estudam esse
fenômeno, mas o próprio fenômeno em movimento. Entre os vários
acontecimentos ocorridos na cidade, naquela ocasião, mobilizando toda a
localidade em função das festas que anualmente se repetem, há mais de
noventa anos, vi de perto a ponte, a herma, a cabana, a estela e outros lugares
de memória permanentemente ritualizados nas comemorações euclidianas.
Numa demonstração de acolhimento incondicional ao outro, recebi minha
marca de batismo – uma placa comemorativa do Centenário de Euclides da
Cunha, tornando-me, desde então, uma virtual euclidianista, embora
principiante, tateante nos primeiros passos.
Conheci o Centro de Estudos Euclides da Cunha, o arquivo histórico, a
exposição contendo as várias edições de Os Sertões, inclusive as edições
príncipes e muito mais. Não há quem saia da cidade que o acolheu durante
três anos sem ser tocado pelas ressonâncias afetivas e pela aura de
sentimentos dúbios que envolvem a vida e a obra desse personagem da
história e da literatura brasileira. O desejo de estudar o assunto logo foi
despertado. Por onde começar? Decidi abordar as imagens construídas sobre
o escritor, que se situam entre o público e o privado, através da análise da
correspondência ativa do escritor. Entrevista realizada com um membro da
família permitiu caracterizar seu papel de guardião da memória familiar:
trata-se de Joel Bicalho Tostes, figura bastante conhecida dos euclidianistas,
que vem dedicando mais de 50 anos de sua vida à busca de informações de e
sobre Euclides da Cunha, tentando ainda fazer a sucessão do papel que hoje
desempenha com a indicação de sua filha, para os dias em que não mais

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Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

estiver entre nós. O entrevistado teme, no entanto, que isso não venha a se
realizar, no futuro, considerando a vida bastante atribulada dos familiares.
Feito o contato telefônico, tive a sorte de poder encontrá-lo quatro dias
depois no Rio de Janeiro, num ambiente bastante acolhedor, em casa de sua
irmã, situada na Praia Vermelha, na localidade conhecida dos cariocas como
Caminho do Bem-te-vi2. Em nossa primeira conversa telefônica, Joel
procurou saber de quais aspectos trataríamos, mostrou-se satisfeito com o
tema que eu me propus a estudar e, desde logo, tratou de dar-me muitas
informações, que seriam posteriormente repetidas no momento da
entrevista3. No dia proposto, com sua costumeira delicadeza, esperou-me no
ponto marcado e, ainda no passeio a caminho da casa de sua irmã, sem que eu
pudesse pegar o gravador, iniciou sua fala, como que adivinhando o que eu
iria perguntar. Minhas primeiras questões – refletidas num roteiro preliminar
– dirigiam-se a ele mesmo, sua vida, sua formação e o primeiro contato com a
vida e a obra de Euclides da Cunha.
Enquanto falava por si mesmo eu lamentava não estar anotando, nem
gravando, mas logo fui tranqüilizada por ele, que se propunha a repetir tudo
uma hora depois, quando terminamos nosso passeio entre os micos, gatos e
pássaros do lugar. Iniciamos então nossa primeira entrevista4, que durou duas
horas, às vezes docemente interrompida por suas duas netas, filhas de Denise,
que não se continham em beijos e abraços ofertados ao avô, como se
soubessem que logo ele estaria de volta a Friburgo, onde reside, voltando a
ficar longe delas.
Joel, nascido no dia de Natal e por essa razão chamado pelos familiares
e pelos mais íntimos de Noel, é um entusiasta quando se trata de Euclides da
Cunha, sua vida e sua obra. Formado em administração e advogado frustrado,
para minha surpresa tomou conhecimento de que se casara com a neta de

2 Local também conhecido como Pista Cláudio Coutinho.


3 Em vários momentos de nossas conversas Joel mostrou-se frustrado porque, se-
gundo dizia, “com algumas exceções, poucos se detiveram em estudar e divulgar
as características do Euclides-homem, seu comportamento como chefe de famí-
lia, sua personalidade afetiva”.
4 A primeira entrevista foi realizada no dia 5 de outubro de 2002. Em virtude das
dúvidas surgidas após a transcrição das fitas, foi realizada uma segunda entrevis-
ta, no dia 11 de novembro, no mesmo local.

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Icléia Thiesen

Euclides5, após dois anos de casamento, quando a surpreendeu recortando


uma matéria sobre Euclides da Cunha publicada em um jornal. Disse-me que
não caiu porque já estava sentado. Nesse dia que marcou definitivamente sua
memória e sua vida ainda não havia lido Os Sertões, obra que teve em mãos
ainda menino, mas não conseguiu ler na juventude por ser muito chata, como
avaliou naqueles tempos. Explica que, na realidade, não estava preparado
para essa leitura que, posteriormente, repetiu-se inúmeras vezes.
A entrevista, em quase sua totalidade, foi conduzida por ele, marcada
pela vontade de desfazer os equívocos que afetam a imagem do homem,
interessado em desconstruir mitos que o envolvem e de continuar a trabalhar
ininterruptamente para absolvê-lo como vítima culpada da própria morte,
conforme declarou. Uma segunda morte, segundo disse, aquela que atinge o
imaginário em torno da vida privada de um homem público, mito da
nacionalidade. Onde situar as fronteiras entre o público e o privado? Como
dar conta dessa tarefa hercúlea, se considerarmos a complexidade das
variáveis que aí se encontram em jogo? Pesquisadora experiente nas questões
da História Oral, vi-me repentinamente envolvida pela missão da família,
deixando-me conduzir, até certo ponto, pelo discurso do entrevistado. Aceitei
a tarefa de analisar o longo e árduo trabalho de um membro da família,
guardião da memória desse personagem marcado pela tragédia que o
arrancou da vida, perpetuado pela obra maior – Os Sertões – que revelou e
desvelou tipos e aspectos da vida nacional até então apagados pela história
oficial. Compreendi a importância de ouvir um representante legítimo da
família, sempre disposto a fornecer informações a tantos quantos o procuram
e a buscar aqueles que divulgam informações sobre a trajetória de vida e a
obra do escritor, fora ou dentro dos parâmetros considerados aceitáveis pela
família Cunha. A história oral, como metodologia da pesquisa, pode
contribuir para trazer à tona narrativas temáticas, construídas pelos atores
envolvidos na pesquisa: entrevistados e entrevistadores.
No ano em que se comemorava o centenário de Os Sertões, obra que
traz o emblema do reconhecimento público, sempre aberta a novas leituras e
interpretações, comentários e traduções, é importante iluminar a perspectiva
familiar, suas impressões e contribuições para a construção da identidade
euclidiana nos quadros da memória social. Para além do conhecimento
5 Trata-se de Eliethe da Cunha Tostes, filha de Manuel Afonso, nascido em São
José do Rio Pardo e o único filho de Euclides da Cunha que deixou descendência.
Joel e Eliethe (falecida em 1989) tiveram duas filhas e quatro netos.

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Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

elaborado sobre o escritor, engenheiro, jornalista, poeta e homem público,


alçado à condição de emblema da terra brasilis, ao longo do tempo, a vida
privada parece apagar-se ou obscurecer-se no silêncio, em favor da obra
criada e sempre redescoberta. Quem é Euclides da Cunha para seus
descendentes? Quais os limites entre o homem e o mito? Em que medida a
família contribui para o processo de reelaboração do imaginário construído
sobre o homem morto e sua memória privada? O passado pode ser
reencontrado? Que imagens foram transmitidas aos descendentes sobre o
homem? Trata-se, na realidade, de reconstituir a memória da memória,
situada nos limites tênues do público e do privado, em zonas de luz e sombra.
Entendi que Joel ou Noel tomou para si a tarefa difícil de comprovar,
não com suposições ou impressões, conforme repetiu várias vezes durante a
entrevista, mas com documentos, que Euclides foi atraído por Ana e
Dilermando de Assis, com a intermediação de seu próprio filho Solon, para
ser em seguida assassinado, deixando-os livres para sempre de sua presença.
Hipótese difícil de ser entendida e aceita, mas que constitui o ponto nodal
que, segundo ele, retiraria a opacidade que ainda hoje marca a biografia de
Euclides da Cunha. E não apenas isso. A família quer exorcizar esse fantasma
que paira na memória social como um certo passado que não quer passar ou,
dito de outra maneira, como uma memória dividida pelas diversas versões
veiculadas na mídia, marcada pela tragédia e pela dor, com a agravante de que
a vítima – de acordo com membros da família Assis – tornara-se merecedora
da própria sorte, em função de fatos cujas alegações são negadas pelo lado
dos Cunha, com base em evidências e documentos, muitos dos quais
coincidem na disputa pela razão, pois foram elaborados pela família Assis.
Quais as estratégias construídas e as direções traçadas por Joel, porta-voz da
família Cunha, no sentido de desvendar esse passado?

Memórias em disputa e zonas cinzentas

Ao estudar e analisar informações coletadas sobre diferentes aspectos


da vida privada de Euclides da Cunha, imbricadas na sua trajetória de homem
público, vi-me cercada por dilemas éticos e metodológicos, superados pela
decisão de limitar-me à proposta primeira de analisar o papel de um guardião
da memória familiar, bem como de divulgá-lo no meio acadêmico, no
momento em que uma comunidade de estudiosos de muitas terras se reunia

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Icléia Thiesen

para comemorar o Centenário de sua obra mais celebrada. Vejamos o relato


de Joel sobre o assunto.
A família Cunha manteve-se em silêncio durante quase 80 anos – de
1909 a 1987, ou seja, do assassinato do escritor à publicação de Anna de
Assis: história de um trágico amor, escrita por Judith Ribeiro de Assis e
Jefferson de Andrade. As razões do silêncio, segundo Joel, se devem ao fato
de que os familiares não tinham uma certa visão para discutir certas coisas e
nunca vieram a público, quando da publicação da Tragédia da Piedade, no
início da década de 1950. O livro do Dilermando transitou, passou, etc.
Quando saiu o Anna de Assis foi um impacto na família, que você nem pode
imaginar.
Joel não pertencia à família quando foram publicados os livros de
Dilermando, pois casou-se com Eliethe – neta de Euclides – em 1954, tendo
iniciado suas pesquisas ao final da década de 1950, a pedido da família, mais
especificamente os filhos de Manuel Afonso6 que, quando vivo, dizia existir
um patrimônio literário a ser resgatado. Joel começou sua busca pelo
processo do inventário, à época sob a guarda do Arquivo Nacional. O
funcionário que o atendeu trouxe primeiramente o processo-crime de
Euclides da Cunha. O do inventário, segundo relatou, estava emprestado ao
Dr. Eliézer Rosa. Em contato com o juiz, obteve as primeiras informações de
seu interesse. Após a devolução do processo de inventário ao Arquivo
Nacional, pelo magistrado, três dias depois, pôde consultá-lo à vontade e foi
quando soube que “Euclides vendeu a propriedade integral do livro Os
Sertões, em 1904, à Livraria Francisco Alves, (...) exceto a tradução em
língua italiana.”
Em 1987, quando da publicação do livro Anna de Assis, nosso
entrevistado – já então iniciado nos estudos sobre a vida e a obra de Euclides
há mais de 30 anos e, especialmente, no que sobre ele era publicado – viu de
perto os efeitos das diferentes visões sobre os fatos que envolveram a
6 Manuel Afonso é o quarto filho do escritor, tendo sucedido Eudóxia (nascida em
1891, viveu poucos dias, vitimada pela varíola), Solon (1892-1916), Euclides da
Cunha Filho (1894-1916). Nasceu em São José do Rio Pardo, em 31.1.1901, ten-
do sido o único filho de Euclides da Cunha a deixar descendentes, a saber: Nor-
ma da Cunha Póvoa (falecida em 1989), Eliethe da Cunha Tostes (esposa de Joel,
falecida em 1989), Maria Auxiliadora e Euclides da Cunha Neto (falecido em
1975). Morreu jovem, em 1932. Em 1906 nasceu Mauro, tendo vivido apenas
sete dias.

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Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

trajetória de vida de Euclides da Cunha e saiu em busca de subsídios já


documentados para reconstituir e corrigir os fatos nele relatados. Romper o
silêncio de 40 anos foi então uma decisão familiar:
ficamos num dilema. Se a família continuasse persistindo no silêncio,
todos os milhares e milhares de leitores desse livro [Anna de Assis] iam
raciocinar e teriam toda a razão: bom, se a família, se os descendentes de
Euclides da Cunha não contestaram esse negócio, então é verdade. (...).
Sua missão é resumida por ele mesmo: “estou numa luta ferrenha
para provar exatamente isso – que aquele acontecimento de 15 de agosto de
1909 não aconteceu da maneira que foi relatado, de jeito nenhum.
Dedica-se, de maneira obstinada, a preservar a obra de Euclides da
Cunha, tendo formado um arquivo sobre a vida e a obra do escritor, arquivo
que hoje está dividido entre São José do Rio Pardo e Cantagalo. Tem, ainda,
como objetivo permanente avaliar e, se for o caso, intervir sempre que
constata o que denomina “erros cometidos contra a imagem e a memória do
homem Euclides. Joel afirma que mataram o Euclides da Cunha e agora
queriam matá-lo moralmente.” Além de documentar-se tanto quanto
possível, começou então a dar entrevistas – foi ao Programa de Jô Soares –,
respondeu e escreveu inúmeras cartas, entrou com diversos processos na
justiça, redigiu Águas de Amargura: o drama de Euclides da Cunha e Anna7,
juntamente com Adelino Brandão, publicado em 1990 pela Rio Fundo
Editora, e até hoje Joel empenha-se, sem cessar, em buscar elementos que
possam vir a esclarecer cada um dos pontos obscuros da biografia de
Euclides.
Tem um profundo arrependimento que o atormenta, associado a
dilemas de natureza ética. Quando compulsou, nos idos dos anos de 1970, o
processo-crime de Euclides da Cunha Filho, ocorrido em 1916, ficou tão
chocado com o que leu, segundo disse, que não teve a idéia de tirar cópias do
processo, mais tarde desaparecido do Arquivo Nacional e até hoje não

7 Este livro, que se propõe a responder o que os autores chamam de insultos, calúnias e difa-
mações, contidos no livro Anna de Assis: história de um trágico amor, reúne fragmentos
romanceados de cartas, à guisa de diário, fotos, transcrição de trechos de documentos e de
recortes de jornais, partes dos depoimentos de Ana, Dilermando e seu irmão Dinorah de
Assis, extraídos do processo-crime, intercalados com comentários e argumentos defenden-
do a imagem de Euclides da Cunha.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007 17


Icléia Thiesen

encontrado. Segundo relatou, naquela época ainda não tinha domínio sobre o
assunto.
Eu abri [o processo]. Então, quando comecei a folhear, levei um
choque, pelos documentos que estavam apensados nesse processo do
Euclides da Cunha Filho, pelas cartas, etc, que estavam ali e não tive
coragem de chegar perto da Eliethe e contar o que eu vi. Porque,
afinal de contas, é a família dela, são os parentes dela que estavam ali
envolvidos, era um tio - porque o Quidinho era tio dela, filho do
Euclides8. Tinha a avó, a Ana, se a Eliethe é neta do Euclides da
Cunha, ela também é neta da Ana da Cunha, hoje Ana de Assis. Então,
eu senti uma emoção quando li aquilo. E me arrependo até hoje de
não ter tirado cópia desse processo. Porque toda essa história triste,
dolorosa, veja bem, é triste para a família Assis, e é triste para a
família Cunha. Isso já estava sepultado, enterrado, o Brasil todo não
lembrava mais nada disso. Oitenta anos depois uma descendente dos
Assis, do Dilermando com a Ana de Assis, levanta essa sepultura outra
vez, expondo, também por inépcia, a mãe Ana, o pai dela, o
Dilermando.
Como pode ser observado, o longo silêncio quebrado após a
publicação da referida obra constituiu, para a família Cunha, uma ofensa à
memória desse personagem, até então guardada e preservada pelo
esquecimento. O caráter seletivo da memória fica aqui evidenciado.
As razões do arrependimento, como se sabe, estão ligadas à
impossibilidade, até agora, de comprovar a “hipótese da armadilha” em que
Euclides teria caído, naquele 15 de agosto de 1909. Documentos constantes
do referido processo – desaparecido há mais de 40 anos no Arquivo Nacional
– poderiam, segundo Joel, elucidar o caso. O acontecimento trágico voltou a
ser mencionado inúmeras vezes durante a entrevista, uma forte recorrência,
por ser um ponto de honra da memória familiar, que afeta a imagem pública
do escritor, constituindo um desafio permanente e doloroso para a família
Cunha. O público e o privado tornam-se, nesse aspecto, indiscerníveis.
Durante toda a entrevista Joel assinalou e “corrigiu” os aspectos divulgados
sobre a vida e a obra de Euclides que considera equivocados, tendo ainda

8 Euclides da Cunha Filho morre em 1916, sete anos após a morte de seu pai, ao
tentar vingá-lo. É abatido por Dilermando de Assis no Cartório da 1ª Vara de
Órfãos. In: Tostes, J.B.; Brandão, A. Águas de Amargura, p.163.

18 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007


Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

mencionado as ações que empreendeu no sentido de preservar a obra do


escritor.9
Considera “mitos” ou “gestos quixotescos” certas passagens, como o
discurso que Euclides teria feito aos bois, em cima da porteira, aos três anos
de idade, na Fazenda São Joaquim. A meu pedido Joel enviou-me,
posteriormente, cópia da página do livro escrito por Aurênio Pereira
Carneiro, intitulado História de São Fidélis, onde de fato se lê que Euclides
da Cunha voltara de São Paulo, em janeiro de 1889, à referida Fazenda,
“andou pelo pomar e pelos cafezais, onde outrora caçava passarinhos, com
Candinho e Trajano, acariciou a velha pitangueira (de onde fazia discursos
aos bois)...“ (Carneiro, p. 42).
Joel nega também o fato de o escritor e engenheiro ter-se colocado sob
a ponte por ele reconstruída em São José do Rio Pardo, no teste de carga, para
sacrificar a própria vida, caso ela desabasse. Joel relatou que fez pesquisas
exaustivas nos jornais da época – que documentaram amplamente a
inauguração da ponte – e não encontrou qualquer registro sobre o assunto.
Afirmou, com veemência, que “a família Cunha não endossa essas narrativas,
por não corresponderem aos fatos e às normas do bom – senso.”
Relatou minuciosamente suas pesquisas em jornais, arquivos e
bibliotecas, que resultaram em contribuições ao conhecimento sobre a obra
do escritor. Descobriu um pseudônimo de Euclides – José D’Ávila – até então
desconhecido da família e do público, familiarizados apenas com os outros
dois: Proudhon e DX. Em conseqüência dessa descoberta, mais de trinta
crônicas inéditas tornaram-se conhecidas e foram incorporadas ao legado do
escritor.
Inúmeras estratégias de reconstrução da memória euclidiana foram
traçadas, entre as quais identificamos (1) a formação de um arquivo de
memória com documentos relacionados à vida e à obra de Euclides da Cunha,
o que até hoje demanda longas horas de pesquisa ininterrupta em diversos
arquivos e bibliotecas; (2) a publicação do livro Águas de Amargura,
juntamente com Adelino Brandão, com o objetivo de desfazer equívocos e
imprimir a versão da família Cunha aos acontecimentos de 1909 e os que a ele

9 Deixo de mencionar essas correções, enumeradas ao longo da entrevista, por es-


tarem exaustivamente descritas em Águas de Amargura e, especialmente, por ul-
trapassarem os limites do tema deste trabalho.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007 19


Icléia Thiesen

se seguiram; (3) a manutenção de site na Internet10, contendo documentos


considerados de interesse público; (4) a elaboração de correspondência ativa,
inclusive mails enviados a jornais, editores, escritores e pesquisadores
interessados e envolvidos com o assunto, esclarecendo fatos, enaltecendo
iniciativas e pedindo retificações, quando necessário; (5) inúmeras ações na
justiça impetradas para defender a imagem do escritor e zelar pela
manutenção da sua obra, hoje de domínio público; (6) envio de documentos a
pesquisadores e estudiosos da vida e da obra do escritor, a cada vez que faz
uma descoberta, mesmo que incipiente, por temer que, na sua falta, percam-se
informações importantes para elucidar esse passado; (7) a preparação de um
sucessor – no caso sua filha – para o papel de guardião da memória familiar,
que ele até hoje desempenha.
Uma de suas maiores lutas, tantas vezes mencionada na entrevista, é a
busca do processo-crime de Euclides da Cunha Filho, que já dura mais de
quarenta anos. A persistência na busca deve-se à idéia de que esse documento
traz a chave do enigma. Trata-se, na realidade, de memórias em disputa,
atravessadas por tensões e conflitos, um trabalho permanente de
enquadramento da memória pública e privada do escritor e, ainda, de um
processo de “negociação” para conciliar memória coletiva e memórias
individuais, conforme assinalado por Michael Pollak, em seu conhecido texto
Memória, Esquecimento, Silêncio, ao referir-se à tragédia do Holocausto
(Pollak: 1989).
O que se encontra em jogo é o sentido da identidade individual de um
grande personagem da história literária, cuja memória pública é guardada em
monumentos, museus, bibliotecas, instituições que, por definição, têm por
objetivo a memória cultural. Essa memória do homem parece desaparecer e
“assumir a forma de um mito que, por não poder se ancorar na realidade (...)
do momento, alimenta-se de referências culturais, literárias ou religiosas.”
(Namer, 1987).
Aqui vemos o papel desse guardião da memória familiar, tentando
controlar as feridas, as tensões e as contradições entre a imagem oficial
construída no passado já longínquo e sua própria leitura desse passado. Em
seu relato, Joel ordena e reconstrói os acontecimentos que balizaram a
existência de Euclides da Cunha.

10 Ver http://www.euclidesdacunha.com.br

20 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007


Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

Retratos de Euclides da Cunha entre o público e o privado

Se é difícil delimitar as fronteiras entre o público e o privado, quando


se trata de analisar a trajetória de homens comuns, é fácil imaginar as
barreiras que se impõem ao pesquisador interessado em compreender e
analisar aspectos de natureza subjetiva sobre o homem Euclides da Cunha,
em seus papéis desempenhados e vividos como pai e chefe de família. Sua
biografia, nesse sentido, pode ser analisada não apenas através do
depoimento de Joel, mas da sua correspondência, pois como lembrado por
nosso entrevistado, jamais Euclides poderia imaginar que suas cartas viessem
a ser um dia publicadas. Mas foram. E nelas podemos ver diferentes traços de
sua personalidade ali refletidos, tais como o cultivo da amizade, fato
inegável, dado o carinho com que se dirige aos amigos, muitas vezes
chamando-os pelo diminutivo, bem como a freqüência com que a eles
escreve, contradizendo imagens de um caráter de homem pouco afetivo e
tímido.
Sua vida profissional fez com que se mantivesse, durante longos
períodos, afastado dos amigos e da família, mas a prática de missivista
produziu um legado, uma memória e, por que não dizer, um tesouro para as
gerações que o sucederam. Em seus momentos solitários valeu-se dessa
forma de comunicação, cujo veículo sobreviveu à noite dos tempos, graças à
reunião desse acervo pelo Grêmio Euclides da Cunha, fundado no Rio de
Janeiro após a sua morte, formado com a doação das cartas pelos amigos que
um dia as receberam11.
Em suas cartas é possível identificar sua saúde frágil, pelas doenças
contraídas em inspeções realizadas em áreas distantes e insalubres do Brasil
de então, como no interior de São Paulo e na Amazônia, nas quais se jogava
de corpo inteiro e, segundo relatado por Joel, sem maiores cuidados consigo
mesmo. Como um pioneiro bandeirante percorria léguas em lombo de burro,
para chegar ao seu destino. Contraiu várias doenças durante a vida: malária,

11 Devemos à Walnice Galvão e a Oswaldo Galotti a Correspondência de Euclides


da Cunha, reunida em livro publicado em 1997, pela EDUSP, obra fundamental
para a compreensão do relato de Joel e a visão de mundo de Euclides por ele mes-
mo.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007 21


Icléia Thiesen

impaludismo (após viagem a Lorena, mencionado em carta a João Luís, de


19.11.1895), influenza. Antes disso, de acordo com cartas enviadas a
Porchat, um grande amigo, nos anos de 1892 e 1893, queixou-se de
pneumonia, reumatismo, nevralgia, além do que chamou de “moléstias
imaginárias”, em carta de 6 de maio de 1893. Ao final desse mesmo ano, em
11 de dezembro dirige-se ao pai mostrando sua preocupação e incerteza
quanto ao futuro, pois
Sinto-me abater dia a dia, minado pela doença pertinaz (peço-vos não
dizer isso a Saninha) sinto-me cada vez mais fraco e com o
pressentimento cada vez maior de um tristíssimo fim.
Euclides vivia um dilema: a mulher Saninha e o filhinho, como se
referia a Solon, estavam sob os cuidados do pai de Euclides enquanto o
marido, no Rio de Janeiro, sentia-se abatido pela doença, preocupado com
carta recebida da mulher pedindo que ele fosse buscá-la, pois ela também
estava doente e temia morrer. Euclides explica ao pai que compreende
Saninha:
Eu sei que ela deve sofrer muito na dolorosa situação em que está, na
iminência constante de uma viuvez que a pode assaltar quando menos
a esperar, mas o que hei de fazer? Não posso sair daqui. Não posso
abandonar a minha posição. Não posso desonrar-me pela deserção –
não posso, não devo e não quero.
Algumas linhas adiante nosso personagem completa o cenário
assustador:
Como contrapeso a tudo isso aparece-me agora uma tosse insistente e
rebelde e progredindo espantosamente. Os médicos dizem que eu devo
ter muito cuidado, que os sintomas são maus, etc.
Escrever e escrever para os amigos e deles receber notícias é o que
considera relevante em sua vida atribulada, com exigências e imposições:
posso dizer-te que só compreendo que existo quando um ou outro
quarto de hora feliz, como esse por exemplo em que te escrevo, me faz
tornar à feição verdadeiramente atraente da vida. (carta a Porchat,
de 20 de agosto de 1892).
Seis dias depois volta a escrever ao mesmo amigo para comentar a
morte de Deodoro, falando dos “remorsos” que sentiu por haver conspirado
um dia contra o ditador. Na mesma carta faz um desabafo:

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Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

Passo agora uma existência soberanamente monótona, uma vida


marcada a relógio, mecânica e automática, como de uma máquina,
oscilando indefinidamente, sem variantes, de casa para a Escola e da
Escola para casa – com escalas pela rua do Ouvidor, aonde apanho
um golpe de ar da existência comum, o qual porém pouca impressão
me faz.
E, a seguir, completa:
Acredito porém que isto durará pouco, não dou para a vida
sedentária, tenho alguma coisa de árabe – já vivo a idealizar uma vida
mais movimentada, numa comissão qualquer arriscada, aí por esses
sertões desertos e vastos de nossa terra, distraindo-me na convivência
simples e feliz dos bugres.
Em grande parte de sua correspondência, Euclides mostra a
preocupação com a vida dos filhos e da mulher, bem como a importância dada
à família como instituição. De forma sempre carinhosa dá notícias do
desenvolvimento dos “filhinhos” e dos cuidados com que os cerca. São
inúmeros os trechos de cartas em que se podem ver menções à preocupação
com a educação e a saúde da prole. Numa época de epidemias e dificuldades
materiais, com as quais sempre se deparou, declara ao amigo Porchat:
vou para a fazenda do velho, porque embora tenha aí a atração
poderosa dos amigos acredito que o filhinho passará melhor na roça –
e eu não tenho remédio senão sacrificar tudo à vida de uma criança
que é afinal a síntese de tudo o que aspiro (carta de 29.12.1893).
Aceitou, como se sabe, vários desafios em sua vida de engenheiro, não
apenas como forma de sobrevivência, mas pelo horror à vida sedentária e à
rotina da cidade. Sua vida vivida intensamente talvez explique o desabafo
feito aos amigos:
Sou incorrigível, meu caro João Luís: não sei quando acabarei de
iniciar e destruir carreiras. Já estou cansado entretanto dessa tarefa
de Sísifo: os trinta anos aí vêm, perto, ameaçadores, trinta anos de
agitação nervosa que já são quase velhice. É preciso parar (carta de
8.12.1895).
De fato, incorrigível. No ano seguinte, em carta ao amigo Dr. Brandão,
diz-se “obrigado, talvez a encetar nova vida de peregrinação”, quando já
tinha decidido permanecer em São Paulo e concorrer a uma cadeira na Escola
de Engenharia, mas a “Saninha acha-se extremamente debilitada”,
precisando mudar de ares por recomendação dos médicos, “antes da entrada

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007 23


Icléia Thiesen

do inverno.” Na mesma carta resume sua “preocupação presente – o


bem-estar da família.”
O sucesso na carreira de escritor e engenheiro é sempre compartilhado
com o pai. Uma espécie de tributo que ele atribui àquele que lhe deu régua e
compasso. Ao ser eleito para a Academia Brasileira de Letras, em carta de 22
de setembro de 1903, apressa-se em comunicar ao pai:
Tive eleitores como Rio Branco e Machado de Assis. Mas não tenho
vaidades: tudo isso me revela a boa linha reta que o sr. me ensinou
desde pequeno. Hei de continuar nela.
A correspondência ativa de Euclides, especialmente aquela dirigida
aos amigos, mostra o temperamento de um homem educado segundo os ideais
da sua época – “eu sou eu e minhas circunstâncias”, conforme dizia Ortega Y
Gasset – servindo ao seu país em inúmeras missões, proclamando os valores
da honra e da retidão de caráter. São intermináveis os escritos do homem, de
próprio punho. Em uma carta ao pai, datada de 14.2.1906, dá sinais de
turbulência no lar e na família e dita o velho lema que segue: “Não basta que
sejamos honestos; é também preciso que pareçamos ser honestos.”

Considerações finais
Muitas são as questões que perpassam o processo de pesquisa, que
utiliza a história oral como metodologia, começando pela própria aceitação
do método, além dos aspectos éticos e conceituais. Para além de toda a
polêmica, das restrições e dos preconceitos que ainda hoje se levantam contra
a história oral, entendemos que a aceitação de alguns pressupostos poderia
minimizar as limitações apontadas por muitos pesquisadores em relação a
essa metodologia, entre os quais a importância de ouvir sujeitos como
portadores de discursos singulares, cujas memórias refletem experiências
compartilhadas de vida e trabalho, levando-se em conta as múltiplas formas
com que cada qual lida com esse gênero específico de discurso, sem as
exigências da “verdade histórica” sempre relativa e relativizada.
Nesse aspecto, versões do passado, sob o filtro do olhar individual, são
colhidas em entrevistas que constituem cada uma de per si a própria
expressão da diferença. Além disso, é imperioso vencer os preconceitos
enraizados no fazer científico, que desvalorizam os documentos orais, sob o
pretexto de não responderem à neutralidade e à objetividade da ciência. Nesse

24 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007


Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

sentido, nosso interesse pode estar voltado para a história oral não apenas
como uma fonte de informação factual, mas também para os caminhos
reveladores, por meio dos quais essa informação factual transforma-se em
memórias e em história contada. Isto porque, como afirma Alessandro
Portelli, “as histórias, com seus erros, mentiras e lendas, são também fatos
históricos e precisam ser analisados como tais” (1998, p. 11).
Em termos conceituais trata-se, ainda, de entender a memória não
como reservatório de dados a serem resgatados, mas como um processo de
reconstrução individual, ainda que socialmente elaborada. Como sujeitos
ativos da história, pesquisadores e narradores são a razão de ser da história
oral. Valorizar o discurso do outro é também buscar novos elos e outros nexos
entre o passado e o presente, sendo certo que lembrar o passado é crucial para
nosso sentido de identidade como sujeitos individuais e coletivos.
A narrativa de Joel sobre o perfil do homem Euclides ou, como prefere
dizer, de Euclides-homem, realça seu empenho em cultivar a amizade, os
cuidados com a educação dos filhos e a manutenção da família, além da forma
honrosa com que se dirigia ao pai, seu maior conselheiro e a quem evitou
contrariar, sempre que possível. Assegura que nosso herói jamais foi tímido,
como dizem alguns, mas sim discreto e retraído. A fragilidade da saúde se
devia ao trabalho desenvolvido pelos rincões do Brasil, sob as condições as
mais adversas, que Euclides aceitava e, muitas vezes, buscava, não apenas
pela necessidade de suprir a família com recursos, mas pelo alegado dever
para com a pátria e sua vocação nômade.
Ressalta sua admiração pelo homem, mais do que pelo legado que o
mundo herdou. Para seus descendentes Euclides foi antes de tudo pai
extremado, filho amoroso e marido dedicado, a sua maneira. O que o
euclidianismo pode fazer por Euclides da Cunha? Respondeu-me sem pensar:
“manter a integridade da obra, que caiu em domínio público, competência do
Estado, que não cumpre esse papel.”
Qualquer que tenha sido a verdade dos fatos que culminaram com a
chamada Tragédia da Piedade, é provável que o mundo jamais venha a
conhecê-la, e a seus desdobramentos, tal como de fato se passaram,
considerando que os personagens desse enredo levaram consigo as
informações que poderiam contribuir para a versão da armadilha, alegada
pela família Cunha, contrária à da legítima defesa, segundo a família Assis.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007 25


Icléia Thiesen

No entanto, se é verdade – como assinalado por Henri Bergson, na obra de


Gilles Deleuze (1987, p.118) – que há uma memória cósmica, constituída de
uma reserva infinita de acontecimentos evanescentes, virtuais, informes, esse
passado que retorna poderá um dia trazer o novo, aquilo que nosso
entrevistado considera a redenção da família Cunha, da imagem e da memória
desse personagem. Os descendentes de Euclides trabalham incessantemente
no sentido de restaurar a imagem do homem, denegrida por atores e
descendentes da família Assis, que o acusam de ações que o equiparam a um
monstro que mata crianças, tortura e submete a mulher, segundo a avaliação
de Joel, representando a família Cunha.
O aprofundamento do estudo da trajetória desse entrevistado, como
trabalho de história oral, talvez possa contribuir para o enriquecimento da
história de vida do escritor, elucidando zonas de sombra que ainda marcam a
memória dos personagens envolvidos no enredo, atravessada pelas versões
dos Assis e dos Cunha.
Mas, ainda que surjam fatos novos, possivelmente não haverá
garantias e salvaguardas no sentido de encerrar a polêmica, pois a memória
coletiva não é jamais uma memória unívoca e o trabalho da memória é uma
obra múltipla, divergente e muitas vezes antagônica (Candau: 1996, p. 64).
Uma memória que retorna de diferentes formas, invadindo as fronteiras do
quadro temporal. A História, filha do tempo, poderá ser reescrita a partir de
novos documentos, evidências e argumentos que, na perspectiva da família
Cunha, venham a restaurar a imagem do homem, em torno dos papéis vividos
como pai, marido e homem público, recompostos nas dobras do tempo.

Referências Bibliográficas

Brandão, Adelino. Euclides da Cunha: bibliografia comentada


(1884-2001). Jundiaí, SP, Literarti, 2001.
Brandão, Adelino. Paraíso perdido: Euclides da Cunha, vida e obra.
São Paulo: ibrasa, 1996.
Candau, Joël. Anthropologie de la mémoire. Paris: PUF, 1996.
Carneiro, A P. História de São Fidélis. Biblioteca de Estudos
Fluminenses, p.42.

26 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):11-27, out./dez. 2007


Imagens de Euclides da Cunha entre o público e o privado

Deleuze, G. El bergsonismo. Madrid: Ediciones Cátedra, 1987.


Galvão, Walnice Nogueira; Galotti, Oswaldo. Correspondência de
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Namer, Gérard. Mémoire et Société. Paris: Méridien, 1987.
Pollak, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos
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Pollak, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio
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Portelli, Alessandro. Ciência do indivíduo, Folha de S. Paulo, Mais,
7.6.1998, p.11.
Tostes, Joel Bicalho; Brandão, Adelino. Águas de Amargura: o drama
de Euclides da Cunha e Anna. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1990.

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................
A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

A CONSTRUÇÃO DE UMA LEI:


O DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS1

Mauro Cezar Coelho2

Resumo: O Diretório dos Índios figura entre


Abstract: The Directory of the Indians is one of
os mais importantes instrumentos jurídicos
the most important legal instruments of the
do período colonial. Instituído em 1757 e
colonial period. Instituted in 1757 the Directory
voltado para a regulação da liberdade
of the Indians introduced the regulation of the
concedida às populações indígenas dois anos
granted freedom the aboriginal populations two
antes, ele introduz uma importante inflexão
years before and also introduces an important
na política indigenista. Freqüentemente visto
inflection in the indigenes politics. Frequently
como parte das Reformas Pombalinas, pouco
seen as part of the Pombal Marquis Reforms, few
se evidencia a importância das injunções
studies called attentions to the importance of the
coloniais na sua formulação. O objetivo deste
colonial injunctions in Directory of the Indians
artigo é, justamente, chamar a atenção para o
formularization. The objective of this article is to
caráter colonial dessa lei: foi a resistência
emphasize the law colonial character: it was the
colonial aos termos da liberdade proposta
colonial resistance to the terms of the Indian
pela Metrópole que promoveu a produção de
freedom proposal by Portuguese Metropolis that
um instrumento jurídico voltado para a
promoted the production of a legal instrument
regulação da liberdade indígena.
directed toward the regulation of the aboriginal
freedom.

Palavras-chave: Diretório dos Índios,


Word-key: Directory of the Indians, Indigenes
Política Indigenista, Legislação, Período
Politics, Legislation, Colonial Period, Indigenes
Colonial, História Indígena, História da
History, Amazon History.
Amazônia.

O Diretório dos Índios3 figura entre os mais importantes instrumentos


jurídicos do período colonial. Instituído em 1757 e voltado para a regulação

1 O presente texto é parte da reflexão realizada no âmbito da tese de doutorado de-


fendida sob a orientação da Professora Doutora Mary Del Priore, conforme
COELHO, Mauro Cezar. Do Sertão para o Mar – um estudo sobre a experiência
portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório dos Índios
(1751-1798). Tese (Doutorado em História). 2006. Universidade de São Paulo, São
Paulo.
2 Professor Adjunto da Faculdade de História, da Universidade Federal do Pará.
3 DIRECTORIO que se deve observar nas Povoaçoens dos Índios do Pará, e Mara-
nhão em quanto Sua Magestade não mandar o contrário. In: MOREIRA NETO,
Carlos de Araújo. Índios na Amazônia, de maioria à minoria (1750-1850). Petrópo-
lis: Vozes, 1988, p. 166-205.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007 29


Mauro Cezar Coelho

da liberdade concedida às populações indígenas dois anos antes, ele introduz


uma importante inflexão na política indigenista: estabelece um plano de
civilização dos índios, pautado em princípios laicos, como o trabalho, o
aprendizado da língua portuguesa, a participação política e a miscigenação.
Completando-se 250 anos de sua formulação, vale refletir sobre o seu
significado histórico.
Evidentemente, não é somente a efeméride o que justifica a reflexão.
Desde que o conhecimento histórico, no Brasil, viveu a emergência de dois
novos campos de estudo – História Indígena e História do Indigenismo4 – a
produção historiográfica relativa às populações indígenas alterou-se: aportes
e perspectivas têm sido redimensionados com vistas à consideração das
populações indígenas como agentes históricos plenos. Da mesma forma, as
discussões envolvendo o significado do processo de colonização
avolumam-se há cerca de quarenta de anos, tornando mais complexas as
interpretações sobre o passado colonial. Ambas as inflexões convidam o
retorno à documentação, com vistas ao dimensionamento daquela lei e das
interpretações a ela atribuídas.
O Diretório dos Índios tem sido percebido como parte de uma política
indigenista composta, principalmente, por três instrumentos: a Lei de
Liberdades, de 6 de junho de 1755; a Lei de 7 de junho, do mesmo ano; e a Lei
do Diretório dos Índios, de 1757. A primeira lei concedia liberdade aos
índios, tornando ilegal qualquer iniciativa com vistas a sua escravização. A
segunda dava fim à autoridade temporal que os missionários gozavam em
relação às populações indígenas e que os fazia administradores das aldeias e
beneficiários de seus dividendos –, mas os mantinha como autoridades
religiosas, nas mesmas aldeias que antes comandavam. Depostos os
missionários, a lei estabelecia que as populações indígenas fossem
administradas pelas próprias chefias – os Principais. A terceira lei regulava a
liberdade e dispunha sobre a administração temporal e religiosa das
populações indígenas em termos muito distantes do estabelecido pelas duas
leis que lhe antecederam.
A seguir, ocupar-me-ei do processo de construção da lei do Diretório
dos Índios. Meu objetivo é evidenciar o caráter singular da legislação,
4 CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: (org.). His-
tória dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal
de Cultura; fapesp, 1992. p. 9-24.

30 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007


A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

especialmente em relação ao que se convencionou chamar de Reformas


Pombalinas. Fazendo uso de fontes pouco estudadas, pretendo deixar claro o
quanto o texto da lei é devedor das injunções coloniais.
>>><<<
Em carta enviada ao ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, em
fins de 1755, o bispo D. Miguel de Bulhões, governador interino da Capitania
do Grão-Pará, expunha sua preocupação em relação às duas leis que
concretizavam a intenção metropolitana de libertar os índios e incorporá-los à
sociedade colonial, e suspendiam a autoridade missionária. Na carta,
argumentava que a libertação dos índios poderia acarretar o desmantelamento
da já precária economia da colônia. Libertá-los, sem qualquer instrumento
que os obrigassem ao trabalho, despovoaria os engenhos e as lavouras e
provocaria, ao final, a revolta dos colonos.5
D. Miguel não se limitou a apontar os perigos que a publicação de
ambas as leis provocaria na colônia e sugeriu medidas que pudessem
evitá-los. Inicialmente, alertou para o fato de que a suspensão da autoridade
temporal dos missionários e a manutenção de sua autoridade religiosa traria
um enorme risco: mantidos nas aldeias, poderiam insuflar os índios contra a
Metrópole e provocar uma debandada de tal ordem que deixaria o Estado do
Grão-Pará e Maranhão sem trabalhadores. Diante do perigo, defendia que
fossem substituídos por párocos – ou seja, advogava que os padres seculares,
submetidos a sua autoridade, assumissem o controle da vida religiosa nas
povoações de índios, em lugar dos missionários, em relação aos quais não
exercia quase nenhum poder. Em segundo lugar, chamava, atenção para o
perigo de as aldeias serem governadas pelos Principais, pois sozinhos os
índios estariam sujeitos não somente à influência danosa de missionários
resistentes, mas isentos da supervisão necessária dos brancos, sem a qual se
eximiriam dos trabalhos que lhes eram destinados. Assim, propunha a
introdução de administradores temporais, responsáveis pelo incentivo ao
trabalho, os quais seriam remunerados por uma parcela da produção dos
índios.6

5 D. Miguel de Bulhôes [Carta a Sebastião José de Carvalho e Melo, em


16/12/1755]. Arquivo Histórico Ultramarino, caixa 39, documento 3693. Doravan-
te, a sigla AHU indicará tratar-se do mesmo arquivo e a seqüência de números cor-
responderá à caixa e ao documento, respectivamente.
6 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 16/12/1755]. AHU, 39, 3693.

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Mauro Cezar Coelho

A carta de D. Miguel de Bulhões sugere que a Lei de Liberdades não


pressupunha nenhuma outra lei complementar regulando o seu conteúdo. Ela
encaminha a hipótese de as injunções coloniais serem demandantes de um
instrumento limitador da liberdade concedida. Vejamos.
As preocupações de D. Miguel parecem ter contagiado a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado. Irmão de Carvalho e Mello, Furtado era a
autoridade máxima do Grão-Pará e o principal responsável pela
implementação da política metropolitana. Quando do recebimento das leis de
1755, encontrava-se nos sertões do Rio Negro – razão pela qual D. Miguel o
substituíra.
Desde a sua chegada à colônia, em 1751, Mendonça Furtado percebera
e reportara aos interlocutores em Portugal a resistência dos colonos à
qualquer iniciativa relacionada ao fim da escravidão dos índios. Assim,
concordou com as considerações de D. Miguel e só dois anos depois publicou
as leis recebidas em 1755, acompanhadas de um instrumento regulador da
liberdade concedida aos índios. Essa inflexão na política indigenista decorreu
da apreensão dos dois administradores da colônia quanto à possível reação
dos colonos, suscitada tanto pela experiência adquirida na administração da
Capitania quanto pela memória histórica de então, a qual computava pelo
menos duas grandes sublevações resultantes de tentativas de regular o acesso
à mão-de-obra indígena.
A análise da construção desse instrumento pretende evidenciar o
quanto ele correspondeu à pressão exercida pelos colonos e, portanto, o seu
caráter eminentemente colonial – o fato de a metrópole incorporá-lo serve de
argumento adicional ao que apresento, pois indica o quanto a relação entre a
metrópole e a colônia esteve permeada de conflitos, os quais nem sempre
resultaram em fragorosa derrota e total subserviência dos interesses
americanos diante dos anseios europeus.
Já em agosto de 1751, logo no princípio de sua administração,
Mendonça Furtado recomendava ao Padre Antonio Machado – responsável
pela edificação de uma aldeia no rio Mearim, a qual já estava prevista nas
Instruções recebidas em Lisboa7 – que os índios fossem incentivados a

7 “Instruções régias, públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado,


capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão”, em 31/5/1751, § 19-22. In:
MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazônia na Era Pombalina: correspondên-

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A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

produzir o seu próprio sustento. Insistia, também, que se deixasse claro para
os índios ser intenção de Sua Majestade – ao promover aldeamentos e sugerir
que trabalhassem – garantir a sua liberdade e equipará-los aos seus demais
vassalos. Ordenava, ainda, o ensino da língua portuguesa, de modo a
prescindirem de intermediários no contato com o monarca.8
O padre Antonio Machado reportou, posteriormente, que após
contatar os índios Gamela procedeu da seguinte maneira: tendo sido recebido
festivamente pelos índios, com bolos, batatas e amendoins e os presenteado
com facas, espelhos e anzóis, ordenou aos soldados sob seu comando que
jogassem suas armas no rio e pediu aos índios que fizessem o mesmo – no que
foi atendido; depois, passou cartas de vassalagem aos Principais.9
Insinuam-se nas recomendações de Mendonça Furtado três
preocupações presentes na política indigenista formulada pela metrópole:
primeiramente, o estabelecimento das populações indígenas em unidades
populacionais fixas, de forma a proteger o território colonial, através da
ocupação efetiva; em seguida, a sua incorporação ao modelo de civilização
europeu, pautado no trabalho – especialmente o agrícola – percebido não
mais, somente, como instrumento de exploração de riquezas, mas como
mecanismo de desenvolvimento de valores ocidentais, especialmente a idéia
da poupança e do enriquecimento; por fim, a introdução e o fortalecimento da
autoridade metropolitana, através do ensino da língua portuguesa.
Importa reter, por ora, o quanto essa primeira intervenção de
Mendonça Furtado, voltada para o estabelecimento de núcleos populacionais
e elaboração de estratégias de civilização, está informada pelas projeções
metropolitanas – consubstanciadas nas “Instruções” secretas recebidas em
Portugal. Em respeito a elas, ordenava a introdução das práticas que entendia
serem necessárias para a sua consecução, especialmente as que resultariam na
cia inédita do governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Rio de Janeiro: IHGB, 1963. 3 v., v. 1, p.
31. Doravante, a obra será referenciada pela sigla MCM-IHGB, acompanhada da
indicação do volume e da página.
8 Francisco X. de M. Furtado [Instrução passada ao Padre Antonio Machado, em
14/8/1751]. AHU, 33, 3080.
9 Antonio Machado, padre [Carta escrita em 1751]. Arquivo Público do Pará, códice
279, documento 017 – doravante o arquivo em questão será identificado pela sigla
APEP e a seqüência de números corresponderá ao códice e ao documento, respecti-
vamente.

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Mauro Cezar Coelho

transformação do ameríndio em um novo elemento: o colono. Nesse sentido,


dois meses depois, Mendonça Furtado, criticando os regimentos formulados
pelos seus antecessores, ampliava as expectativas da metrópole ao defender
que a transformação dos índios em vassalos deveria incluir a obrigação em
pagar tributos.10
Foi por essa época que o capitão-general formulou, pela primeira vez,
a elaboração de um instrumento que regulasse a administração das
populações indígenas aldeadas, em oposição ao Regimento das Missões,
então em vigor. Esse período marca o início de uma reflexão que propunha
políticas que não compunham as “Instruções”. Reflexão nascida do contexto
colonial e por ele alimentada.
Após reclamar, junto ao vice-provincial da Companhia de Jesus que os
missionários não ensinavam a língua portuguesa aos índios, nem os
formavam artífices, de modo a serem úteis à colônia,11 e denunciar ao irmão
que aquele regimento se constituía em entrave à consecução da liberdade
pretendida,12 sugeriu a criação de um instrumento, contemplando os
seguintes pontos: equiparação dos índios aos demais vassalos do rei,
habilitando-os a todas honrarias civis; concessão de privilégios aos
Principais; submissão dos administradores da colônia à autoridade do
governador; e, finalmente, a supressão da autoridade temporal dos
missionários.13
Mendonça Furtado colocou parte deles em prática, no mês seguinte, ao
elaborar as instruções passadas a João Batista de Oliveira, para estabelecer a
Vila de São José de Macapá. Nelas, pela primeira vez, reagia às pretensões
dos colonos:
Por ser preciso e conveniente aos serviços de S. Maj. que na nova
povoação e fortaleza do Macapá haja uma pessoa que não só
contenha aqueles novos moradores em paz, mas que também os
persuada ao trabalho e cultura das terras, não deixando precipitar
esta gente no abominável vício da preguiça, nem no outro igualmente

10 Francisco X. de M. Furtado [Carta de 25/10/1751]. MCM-IHGB, v. 1, p. 55-57.


11 Idem [Carta ao vice-provincial da Companhia de Jesus, em 18/11/1751]. AHU, 32,
3063.
12 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 21/11/1751]. MCM-IHGB, v. 1, p. 67-70.
13 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 21/11/1751]. MCM-IHGB, v. 1, p. 79-82.

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A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

pernicioso que é o do desprezo do trabalho manual, o qual tem sido


muita parte de se reduzirem estas terras à penúria e miséria em que se
acham.14
Esse trecho introduz um aspecto que esteve permanentemente em
pauta, nas confabulações sobre os caminhos para o desenvolvimento da
colônia, nas quais Mendonça Furtado esteve envolvido: uma transformação
na forma como o trabalho era apreendido pelos colonos. As instruções que
recebia de Lisboa – especialmente as transmitidas por seu irmão – já
apontavam para a necessidade de se modificar um dos pilares da cultura
portuguesa do período: o caráter desonroso do trabalho manual. Mendonça
Furtado reproduzia, em uma política de colonização, a crítica já consolidada
em Portugal sobre uma das causas da defasagem lusa em relação às demais
monarquias européias – a resistência ao trabalho e a expectativa em se viver
de renda.15 Enquanto que lá, os críticos pretendiam atingir a nobreza e o clero,
vistos como aqueles que semeavam o vício da ociosidade, na colônia
Mendonça Furtado atribuía o mesmo vício aos colonos, os quais se
recusavam a trabalhar na cultura de suas terras, exigindo que os índios o
fizessem em seu lugar.
A instrução proibia expressamente o acesso aos índios para o trabalho
nas lavouras – exceção feita, exclusivamente, quanto à concessão de
pescadores e caçadores, enquanto os colonos não adquirissem a destreza
necessária para realizar aquelas atividades por conta própria. Estipulava,

14 Idem [Instrução que levou o Capitão-mor João Batista de Oliveira quando foi esta-
belecer a nova Vila de São José de Macapá, em 18/12/1751]. MCM-IHGB, v. 1, p.
115.
15 Sobre essa questão ver FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina:
política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1993 e SILVA, Ana
Cristina Nogueira da. & HESPANHA, António Manuel. A identidade portuguesa.
In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal – O Antigo Regime. v. 4. Lisboa]:
Estampa, 1993, p. 19-37 e, sobretudo, as obra de Banha de Andrade: ANDRADE,
Antonio Alberto Banha de. Vernei e a filosofia portuguesa no 2º centenário do apa-
recimento do Verdadeiro Método de Estudar. Braga: Livraria Cruz, 1946 e
ANDRADE, Antonio Alberto Banha de. Vernei e a cultura do seu tempo. Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1966.

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Mauro Cezar Coelho

ainda, que os índios que quisessem se estabelecer ali, recebessem o mesmo


tratamento dos colonos.16
Pouco depois, retomando as discussões iniciadas com a expedição
comandada pelo Padre Antonio Machado, Mendonça Furtado entrara em
contato com o vice-provincial da Companhia de Jesus. Em carta, o notificava
que aquela vila não seria administrada por qualquer missionário, em função
de sua localização estratégica próxima da fronteira da colônia. O
vice-provincial, ao que parece, não se convencera, pois recebera uma carta do
capitão-general, na qual alertava que o Regimento das Missões – a base por
sobre a qual o missionário argumentava a impropriedade da medida – não
anulava o poder absoluto dos reis.17
O procedimento adotado por Mendonça Furtado nesse episódio dá
conta de como o universo colonial o fez alterar as disposições metropolitanas,
sustentando-se nelas. O parágrafo 22 das “Instruções régias, públicas e
secretas ...” estipulava que os estabelecimentos fundados nas fronteiras do
território colonial deveriam ser entregues à Companhia de Jesus, com o
cuidado de restringir, tanto quanto possível, seu poder temporal.18 Mendonça
Furtado classificou os novos estabelecimentos como áreas fronteiriças, e
aboliu a autoridade temporal dos missionários.19
Na semana seguinte, em função da reunião que tivera com colonos
proeminentes, residentes em Belém, retornara ao argumento acerca da
impropriedade da escravidão indígena, expondo as vantagens que a
introdução de escravos africanos representava. Os colonos, no entanto,
afirmaram não possuir os cabedais necessários à aquisição de escravos
africanos, ponderaram que os missionários realizavam descimentos em

16 Francisco X. de M. Furtado [Instrução que levou o capitão-mor João Batista de Oli-


veira quando foi estabelecer a nova Vila de São José de Macapá, em 18/12/1751].
MCM-IHGB, v. 1, p. 115-116.
17 Idem [Carta ao vice-provincial da Companhia de Jesus, em 27/12/1751]. AHU, 33,
3080; idem [Carta ao vice-provincial da Companhia de Jesus, em 13/1/1752]. AHU,
33, 3088. Dias depois, Mendonça Furtado insistia na mesma posição, junto a um in-
terlocutor não identificado [Carta de 20/1/1752]. MCM-IHGB, v. 1, p. 195.
18 “Instruções régias, públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão”, em 31/5/1751, § 22.
MCM-IHGB, v. 1, p. 33.
19 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, em
20/1/1752]. MCM-IHGB, p. 190-195.

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A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

benefício próprio, de modo que os seus estabelecimentos estavam repletos de


índios, e reclamaram o direito de fazer o mesmo, conseguindo índios para
trabalharem em suas fazendas. Mendonça Furtado então, articulando pela
primeira vez a postura que conformará o Diretório dos Índios, propôs ao
Conselho Ultramarino atender os colonos.
Em carta a Diogo de Mendonça Corte Real sugeriu que os descimentos
fossem autorizados, mas que as populações arregimentadas fossem
estabelecidas em vilas, nas quais os missionários não tivessem qualquer
jurisdição. Com relação à distribuição dos índios, arrogava para si a
autoridade para concedê-los e condicionava o acesso a eles ao pagamento de
salários20 – ambas as sugestões foram incorporadas, posteriormente, à lei do
Diretório, evidenciando, assim, o seu caráter colonial. Assim, Mendonça
Furtado buscava articular o interesse dos colonos às prescrições
metropolitanas quanto ao destino das populações indígenas e ao mesmo
tempo diminuir a resistência em relação ao novo papel que se delineava para
elas.
O ano de 1752 acrescentou um ponto novo às suas reflexões sobre a
relação da metrópole com as populações indígenas e os colonos. Em outubro
daquele ano, passava duas cartas-patente, que nomeavam Ignácio Coelho e
Luís de Miranda Principais de suas aldeias. A carta exaltava a colaboração
das futuras chefias indígenas para com Sua Majestade, relacionado-as ao fato
de que ambos eram filhos de antigos aliados, os quais serviram ao mesmo
Senhor com lealdade e obediência.21
Através daquele documento, Mendonça Furtado reconhecia a ambos
como as únicas autoridades ameríndias, em meio aos índios aldeados em suas
respectivas aldeias. Ao que parece, pretendeu fortalecer uma política de
assimilação semelhante à espanhola, em que as lideranças indígenas eram
integradas às estruturas de poder.22

20 Idem [Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, em 28/1/1752]. MCM-IHGB, p.


216-217.
21 Idem [Carta Patente, passada em 6/10/1752; Carta Patente, passada em 6/10/1752].
AHU, 38, 3525.
22 Sobre essa questão ver BRUNKE, José de la Puente. “Los vasallos se desentrañan
por su rey”: notas sobre quejas de curacas em el Peru del siglo XVII. Anuário de
Estúdios Americanos, Sevilla, LV-2, p. 459-473, Julio.diciembre/1998.

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Mauro Cezar Coelho

A preocupação com a inserção das populações indígenas em


parâmetros distintos dos que vinham sendo praticados e, acima de tudo, com a
cooptação das suas lideranças esteve presente nas instruções passadas a
Francisco Portilho de Melo, o apresador de índios, depois travestido em
administrador de povoação. Nelas, Mendonça Furtado ordenava que Portilho
de Melo garantisse aos índios descidos as intenções de Sua Majestade: “Para
se fazerem capazes, assim das honras que o mesmo Senhor for servido
fazer-lhes, como de comerciarem, e serem homens livres” – para tanto, Sua
Majestade ordenava que os seus filhos aprendessem a ler e escrever.23
A apreensão metropolitana com a introdução da língua portuguesa,
extensiva a todas as populações indígenas, ganhou um valor adicional em
relação aos Principais e a seus filhos. Mendonça Furtado sugeria que os
procedimentos de ensino deveriam ser utilizados de modo a fortalecer a
posição dessas chefias nos aldeamentos. Como evidenciam as petições de
Ignácio Coelho e Luís de Miranda, as iniciativas em proporcionar-lhes uma
posição de destaque encontrava eco entre os ameríndios. Não por outra razão,
elas foram incorporadas ao Diretório dos Índios.
As considerações vindas da colônia, relativas à resistência que os
colonos impunham à pretensão metropolitana de pôr fim à escravidão
indígena, assim como as denúncias do comportamento missionário,
suscitaram uma reavaliação da posição inicial do ministro de D. José. Em
maio de 1753, através de carta a seu irmão, Sebastião José de Carvalho e
Melo sugeria alternativas para a resolução dos problemas reportados por
Mendonça Furtado. Afirmava que a liberdade dos índios era garantida pelos
direitos Natural e Divino. Reconhecia, no entanto, que, apesar disso, três
fatores colocavam-na em risco: o perigo que a sua concretização representava
para a economia do Estado; a resistência missionária; e a possibilidade de
sublevações, tais como as que ocorreram, sempre que a liberdade indígena foi
objeto de discussão.24
O trabalho de Mendonça Furtado, nos anos anteriores, não passou
desapercebido. Carvalho e Melo o tomara como objeto de uma longa
reflexão, da qual resultara um plano com vistas a serenar os ânimos e
23 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Francisco Portilho de Melo, em 24/4/1753].
MCM-IHGB, v. 1, p. 356-357.
24 Sebastião J. C. Melo [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em 15/5/1753].
MCM-IHGB, v. 1, p. 387-393.

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A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

prepará-los para a promulgação da liberdade dos índios. A metrópole


reconhecia que seus projetos não poderiam ser colocados em prática sem a
concordância da colônia, de forma que o plano pretendia alcançar a anuência
dos colonos. Ele continha seis pontos fundamentados em quatro
pressupostos: fortalecimento do poder metropolitano; respeito às leis e
determinações reais; exposição das intenções missionárias; e, finalmente, o
convencimento dos colonos.
O primeiro ponto resultava da consideração de que as revoltas e
levantes coloniais, ocorridos no passado, tiveram origem na falta de tropas
que obrigassem à obediência às ordens reais e no fato de que muitas dessas
ordens não eram cumpridas, em função da falta de colaboradores capazes.
Assim, o ministro notificava o envio de tropas e oficiais e recomendava o
recurso à experiência de D. Miguel de Bulhões.25
O segundo ponto alertava para o papel fundamental de tais oficiais e
ministros, assim como do próprio interlocutor, no desenvolvimento de
atividades que minassem a resistência dos colonos. Carvalho e Melo
afirmava que, nesse sentido, Sua Majestade esperava o máximo respeito às
leis.26 Submissão às leis e às determinações reais se constituiu, assim, em
estratégia pedagógica, com o objetivo de incutir na colônia o respeito à
autoridade do monarca e a consolidação do poder metropolitano.
Ora, torna-se claro que as autoridades em Lisboa entenderam as
notícias, enviadas por Mendonça Furtado, como um alerta sobre a resistência
dos colonos. A estratégia adotada não pressupunha, como se poderia pensar, a
subordinação compulsória dos interesses coloniais às projeções
metropolitanas. A metrópole procurou subverter e subordinar aqueles
interesses; os mecanismos adotados, porém, evidenciam uma dinâmica
relação de forças – desigual, mas nem por isso irrelevante.
Os dois outros pontos estão relacionados à tentativa de convencer os
colonos de que a libertação dos índios era a melhor alternativa; para tanto,
Carvalho e Melo recomendava ao irmão que trabalhasse em duas frentes: a
primeira (o terceiro ponto do plano) sugeria que Mendonça Furtado
responsabilizasse os missionários pela miséria da colônia – eles deveriam ser
vistos como os inimigos do Estado, que não almejavam nem a liberdade dos
25 Idem, ibidem, p. 388-389.
26 Idem, ibidem, p. 389.

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Mauro Cezar Coelho

índios, nem a felicidade dos colonos; a segunda (o quarto ponto)


recomendava que Mendonça Furtado recorresse, secretamente, a pessoas de
reconhecida autoridade, detentoras do respeito público, para que elas
convencessem aos colonos mais influentes o quanto eles estavam enganados
ao acreditarem que a riqueza proviria da escravidão indígena.27
Com relação a este quarto ponto, o ministro ponderou que o recurso a
exemplos do passado seria suficiente para evidenciar o quanto a escravização
do indígena se constituía em equívoco. Fazia referências, especialmente, ao
caso do Império Romano que florescera a partir da conquista de territórios, os
quais teriam sido integrados, conformando um único corpo político. Caso os
colonos não ficassem convencidos, os dois últimos pontos do plano
pretendiam-se definitivos.
O quinto garantia que a concessão de liberdade disponibilizaria muito
mais índios do que a escravidão o fazia; o exemplo europeu demonstrava que
a integração dos conquistados ao universo do conquistador beneficiaria a
todos. Carvalho e Melo argumentou que os europeus foram tão bárbaros
quanto os indígenas, exceção feita à prática da antropofagia.28 A sinalização é
clara: a libertação não pressupunha o fim do acesso aos índios, mas sua
regulamentação. A referência à função civilizadora e ordenadora do Império
Romano pretendia indicar uma nova relação entre a colônia e a metrópole, no
que tangia ao lugar das populações indígenas: não mais a mão-de-obra ao
alcance de colonos e missionários, mas o meio pelo qual a metrópole
recuperava a sua condição de autoridade, em uma área periférica do império.
O sexto ponto é elucidativo sobre esse último aspecto. O ministro
considerava que, após se esgotarem todos os meios de convencimento, os
colonos concordariam, finalmente, com os benefícios da libertação dos
índios. Mendonça Furtado deveria, então, persuadir os colonos mais
influentes que solicitassem à Sua Majestade o seguinte: 1º) a abolição da
escravidão indígena; 2º) a estipulação de salários para o trabalho dos índios;
3º) autorização para realizar descimentos; 4º) a repartição dos índios descidos
entre os colonos e os serviços do Estado; 5º) a regulação do tempo de serviço
dos índios por nove anos, em que seriam cristianizados, educados na língua

27 Idem, ibidem, p. 388-389.


28 Sebastião J. C. Melo [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em 15/5/1753].
MCM-IHGB, v. 1, p. 391.

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A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

portuguesa e treinados em um ofício; 6º) a proibição de qualquer forma de


escravização dos índios, recomendando aos colonos o mesmo tratamento que
os artífices e mestres mecânicos europeus dispensavam aos seus aprendizes;
7º) a permissão para que todos os índios que andam dispersos pelo Estado
empreguem-se pelo salário que conseguirem.29
Tendo o rei concedido tudo o que pediram, Mendonça Furtado
fundaria vilas, submetidas ao Estado e administradas pelos nobres da colônia.
Uma vez que a escravidão estaria banida de tais vilas, para elas convergiriam
todos os índios, os quais deveriam ser tratados como os colonos trazidos das
Ilhas Atlânticas – recebendo terras e ferramentas para o trabalho agrícola.30
Esse documento é de suma importância para a compreensão das forças
que se confrontaram, de forma a conformar o conteúdo da liberdade
dispensada aos indígenas. Primeiramente, ele esclarece alguns pontos das
chamadas Reformas Pombalinas na Amazônia, em especial, no tocante à
relação estabelecida com os religiosos. A partir do momento em que
Mendonça Furtado sinalizou a resistência dos missionários aos projetos
metropolitanos, ele e seu irmão não se furtaram a atribuir-lhes e à Companhia
de Jesus, particularmente, toda a sorte de vícios que explicariam a situação
precária da colônia. O documento deixa isso evidente, ao demonstrar como
Carvalho e Melo sugeriu que Mendonça Furtado se aproveitasse de um
histórico de conflitos com o objetivo de angariar apoio para as reformas.
Em segundo lugar, ele permite o aprofundamento do ponto que venho
defendendo, qual seja o de que o Diretório dos Índios é resultado de um
contexto de conflitos, abarcando os diversos agentes do universo colonial, à
medida que expõe a tentativa da metrópole em cooptar aliados. O documento
deixa claro que as denúncias da oposição à concessão da liberdade indígena
suscitaram uma resposta metropolitana, concedendo demandas dos colonos,
especialmente o acesso à mão-de-obra indígena.
Em terceiro lugar, o documento é importante, porque muitas das
questões que posteriormente fariam parte do Diretório dos Índios já se
encontram formuladas ali: a regulação do trabalho indígena, através do
salário; a distribuição dos trabalhadores indígenas por colonos e
administração pública; a obrigatoriedade do ensino da língua portuguesa; a
29 Idem, ibidem, p. 391-392.
30 Idem, ibidem, p. 393-393.

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Mauro Cezar Coelho

concentração dos índios em vilas, administradas por um representante do


Estado; e, finalmente, o incentivo à produção agrícola. Mas, quatro anos
ainda se passariam, antes que o Diretório dos Índios fosse introduzido. Até lá,
as questões apontadas nesse documento seriam debatidas e aprofundadas.
D. Miguel de Bulhões deu início a esse debate em novembro do
mesmo ano de 1753. Manifestou, então, sua satisfação pelo fato de a Vila de
Cametá estar isenta da ação missionária. Sugeriu que o mesmo se fizesse em
todas as demais povoações, antecipando um dos pontos presentes no
Diretório: a transformação das aldeias missionárias em vilas, administradas
por representantes de Sua Majestade, nas quais os párocos – nomeados pelo
bispo – seriam os responsáveis pela educação religiosa.31
Mendonça Furtado, por sua vez, insistiu junto à metrópole da
necessidade de distinguir alguns índios, concedendo-lhes privilégios, de
forma a evidenciar o interesse de Sua Majestade em tratá-los como vassalos.
Dias depois da carta de D. Miguel, solicitava ao Conselho Ultramarino e ao
Rei a ida à Lisboa dos índios Ignácio Coelho, Luís de Miranda e Francisco de
Souza Menezes, para que fossem recebidos pelo Rei e apresentassem suas
demandas. Considerava que, assim, os índios perceberiam a importância
dispensada aos vassalos índios – o que pressupunha ser uma contribuição
valiosa em um momento em que os missionários espalhavam, junto às
populações aldeadas, idéias contrárias ao Rei e à administração colonial.32
No início de dezembro, Francisco Portilho de Melo recebeu uma nova
carta. Dessa vez, ela definia as ações a serem executadas na administração
dos índios da Aldeia de Sant’Ana de Macapá, a qual lhe tinha sido entregue.33
As discussões havidas até aquele momento, dois anos e meio após a chegada
de Mendonça Furtado à colônia, começavam a transformar-se em políticas
que consubstanciavam as projeções metropolitanas e as demandas coloniais.
O documento determinava a edificação de uma igreja. O pároco
responsável por ela deveria receber dois índios a seu serviço – um caçador e
31 D. Miguel de Bulhôes [Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, em 21/11/1753].
AHU, 35, 3310.
32 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Sua Majestade, em 26/11/1753]. Documento
74. Annaes da Biblioteca e Archivo Público do Pará, Belém, tomo II, p. 106-107,
1968. Doravante, a obra aqui citada será referenciada pela sigla abapep.
33 Idem [Instrução que levou Francisco Portilho e Melo para administrar os índios na
Aldeia de Santa Ana de Macapá, em 2/12/1753]. MCM-IHGB, v. 2, p. 454.

42 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007


A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

um pescador, os quais seriam pagos pelo trabalho realizado – e não deveria


exceder as suas atribuições religiosas. A restrição do papel dos religiosos
significava uma enorme inflexão no processo de civilização das populações
aldeadas: a catequese deixava de ser o instrumento fundamental de inserção
dos índios no mundo ocidental, para se conformar em um elemento
constituinte da educação proposta.
Com relação a esta última, o documento introduzia novas estratégias
de civilização – o trabalho, o exemplo e o convencimento: os índios deveriam
ser compelidos ao trabalho, de forma que dele retirassem o próprio sustento;
haviam de perceber, também, que o trabalho era estimado pelos portugueses;
e deveriam ser exortados, continuamente, sobre os benefícios que lhe eram
subjacentes, tais como a garantia da subsistência e a possibilidade de
enriquecimento. Ele tornava obrigatória uma medida sugerida na
correspondência de Mendonça Furtado, D. Miguel e a metrópole: a
submissão das concessões de índios à autorização do governador.34
Em fevereiro do ano seguinte, Mendonça Furtado defendeu junto ao
irmão uma das sugestões apresentadas por D. Miguel. Insistiu que as fazendas
e aldeias missionárias deveriam ser transformadas em vilas, seus escravos
libertados e tornados trabalhadores livres, entregues a um administrador
leigo.35 Na semana seguinte, notificou sua transferência para o Rio Negro, de
modo a dar fim à evasão de índios das aldeias missionárias, e a convencer os
colonos de que o objetivo de Sua Majestade não era privá-los do recurso aos
índios – consolidando a disposição em atender à demanda colonial. Em maio,
quando da construção de uma guarda no rio Madeira, próxima a Aldeia de
Trocano, recomendara que o trabalho dos índios empregados no
estabelecimento deveria ser remunerado.36 Em agosto de 1755, ainda sem
saber que a Lei de Liberdade dos Índios já havia sido assinada por Sua
Majestade, D. Miguel voltara à carga, sugerindo a distribuição de índios aos
moradores.37

34 Idem, ibidem, p. 454.


35 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 18/2/1754]. MCM-IHGB, v. 2, p. 498-505.
36 Idem [Instrução que levou o tenente D. Antonio de Castro e Menezes, que foi esta-
belecer a guarda na Aldeia de Trocano, rio Madeira, em 27/5/1754]. MCM-IHGB,
v. 2, p. 540-542.
37 D. Miguel de Bulhôes [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 2/8/1755]. AHU, 38, 3561.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007 43


Mauro Cezar Coelho

Retorno, aqui, finalmente, aos fatos situados no início deste artigo.


Naquele mesmo mês de agosto de 1755, Sebastião José de Carvalho e Melo
comunicava ao irmão a concretização de dois dos pontos das “Instruções”
passadas em 1751. Em várias cartas,38 ele noticiava o envio da Lei de
Liberdades, datada de 6/6/1755, e da Lei de 7/6/1755: a primeira abolia a
escravidão indígena e a segunda o poder temporal dos missionários. As cartas
traziam, ainda, a notícia da aprovação da criação da Companhia de Comércio,
a qual, segundo uma delas, poderia ser divulgada imediatamente, enquanto
que a publicação das duas outras leis – que haviam sido formuladas em
segredo, na Corte – deveria fosse conveniente.
Em relação a elas, Carvalho e Melo ponderava que suas considerações
de maio de 1753 já teriam surtido o efeito necessário. Em caso de
necessidade, autorizava o uso da força para coibir qualquer tentativa de
insurreição, no entanto, acreditava que os colonos seriam convencidos dos
benefícios da lei. Seu maior argumento, nesse sentido, era a convicção de que
a lei beneficiava, antes que os colonos, aos índios, e que, portanto, a
apreensão corrente de que eles abandonariam as terras e fazendas, privando a
colônia de trabalhadores, não se concretizaria, uma vez que se lhe davam
fazendas para se sustentarem e se lhes assegurava o comércio dos frutos dela
para enriquecerem.39 Aos que afirmavam que os índios não trabalhariam de
moto próprio, porque muito propensos à preguiça e a viver na inação,
carentes daquela nobre e virtuosa ambição que faz aplicar os homens ao
trabalho, sugeria a persuasão, através do estímulo aos laboriosos e da coerção
aos resistentes. 40
Mendonça Furtado concordou, prontamente, com a protelação da
divulgação das duas leis referentes aos índios, mas insistiu que fossem
obrigados a servir nas fazendas onde se encontravam, mesmo depois de

38 Sebastião J. C. Melo [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em 4/8/1755].


MCM-IHGB, v. 2, p. 784-788; idem [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em
4/8/1755]. MCM-IHGB, v. 2, p. 789-791; idem [Carta a Francisco X. de M. Furtado,
em 4/8/1755]. MCM-IHGB, v. 2, p. 792-795; idem [Carta a Francisco X. de M. Fur-
tado, em 4/8/1755]. MCM-IHGB, v. 2, p. 796-797.
39 Sebastião J. C. Melo [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em 4/8/1755].
MCM-IHGB, v. 2, p. 794.
40 Idem [Carta a Francisco X. de M. Furtado, em 4/8/1755]. MCM-IHGB, v. 2, p. 794.

44 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007


A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

promulgá-las.41 Argumentava, tal como D. Miguel fizera dias antes de


Carvalho Melo enviar as cartas notificando a assinatura das leis por Sua
Majestade, ser esse um meio de possibilitar aos colonos a formação do
pecúlio necessário para a aquisição de escravos africanos. Acima de tudo,
insistia em garantir-lhes a oferta de trabalhadores e sugeria um cronograma
para a divulgação da lei de liberdades.
Em primeiro lugar projetava a publicação da lei que instituía as
côngruas para os missionários, em troca de suas fazendas, as quais seriam
distribuídas, na Corte, àqueles que quisessem se estabelecer na colônia e,
nela, aos homens honrados e em dificuldades. A seguir, cogitava publicação
da lei que priva os regulares da administração temporal dos índios, sem
qualquer menção à lei de liberdades. Mendonça Furtado afirmava que essa
medida e a anterior tirariam da cabeça dos colonos qualquer suspeita de que
se pretendia prejudicá-los, como afirmavam os missionários: cientes de que a
metrópole trabalhava no sentido de ampliar suas riquezas, os colonos
consolidariam sua confiança nas leis. Planejava a publicação da lei de
liberdades após alguns meses ou um ano. Esse tempo, considerava o
capitão-general, seria necessário para que os colonos fossem convencidos das
boas intenções da Coroa, diante da não concretização das ameaças sugeridas
pelos missionários. Nele, também, a Companhia de Comércio introduziria
um número suficiente de escravos africanos, confirmando as intenções reais
em não deixar faltar trabalhadores.42
Mendonça Furtado mantinha-se firme, portanto, na defesa de medidas
que amortecessem a resistência dos colonos à libertação dos índios. Não
partilhava da certeza do irmão de que todos se renderiam aos benefícios da
lei. Acreditava que uns e outros a entenderiam de forma distinta – os índios
como o fim de sua relação com os colonos e esses como a pá de cal em sua já
precária condição econômica. Insistia, então, em medidas que contornassem
ambos os problemas.
A transformação da Aldeia do Trocano em Vila de Borba, a Nova, lhe
rendeu a oportunidade de introduzir medidas ensaiadas anteriormente. As
instruções que passara ao tenente Diogo Antonio de Castro pontuavam:
41 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/11/1755].
MCM-IHGB, v.2, p. 823-824.
42 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/11/1755].
MCM-IHGB, v. 2, p. 822-823.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007 45


Mauro Cezar Coelho

garantia e incentivo à paz e amizade entre índios e brancos; incentivo ao


trabalho, tanto de brancos como de índios, garantindo aos primeiros que o
trabalho agrícola não acarretaria desonra e distribuindo os segundos pelos
colonos que não se recusassem ao trabalho manual; incentivo aos casamentos
mistos, de forma a evitar que os homens brancos, casados com índias,
escravizassem as suas mulheres; conquista da amizade dos índios,
especialmente das chefias indígenas, garantindo-lhes o acesso a todas honras
e distinções acessíveis aos portugueses; garantia de meios de enriquecimento
e supervisão de suas relações comerciais, de forma a evitar qualquer engano,
promovido pela má-fé dos brancos; introdução do pagamento dos dízimos,
pelos índios, igualando-os aos demais vassalos; introdução de um método de
avaliação da produção indígena, de forma a calcular-se os tributos a serem
pagos por eles; e, finalmente, edificação de prédios públicos, tais como a
igreja, a câmara e a cadeia.43
Meses depois, notificou ao irmão ter integrado a câmara daquela vila,
como vereador, a um dos seus Principais.44 Dessa forma, Mendonça Furtado
ultimava uma reflexão já antiga, àquele momento: a necessidade de integrar
as populações indígenas à sociedade portuguesa. Estendia, então, um
princípio iniciado anos antes, qual seja, o de tornar a metrópole a instância
que reconhecia as autoridades ameríndias aldeadas, através da concessão da
patente de principal: inseria as autoridades indígenas no aparato
administrativo da colônia, consumando, assim, o processo de
desmantelamento das estruturas trazidas pelas populações aldeadas.
A experiência representada pela Vila de Borba, a Nova, foi em tudo
positiva na sua avaliação. Ela confirmava o acerto de suas iniciativas, uma
vez que a arrecadação dos dízimos indicava ser a vila capaz de subsistir, sem
qualquer recurso da Fazenda Real, antes contribuindo para ela. Da mesma
forma, o comportamento do Principal tornado vereador:
O dito Diogo Antônio me dá conta que aquele Principal que eu fiz
vereador se houve com uma ânsia e zêlo nas avaliações a favor da
Fazenda Real qual ele não imaginava, e que tinha servido a S. Maj.
como qualquer branco honrado, do que se vê que não há homem

43 Idem [Instrução passa ao tenente Diogo António de Castro para estabelecer a vila de
Borba, a Nova, antiga Aldeia de Trocano, em 6/1/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p.
895-900.
44 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/10/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p. 942.

46 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007


A Construção de uma lei: O Diretório do Índios

inútil, e que a êstes os tem feito a ignorância e a rusticidade em que os


criam ...45
Esse inquestionável sucesso fez com que Mendonça Furtado sugerisse
ao irmão a transformação das instruções, que passara ao tenente Diogo
Antônio de Castro, em regra seguida em todos os estabelecimentos do
Estado.46 Mais que a gênese do Diretório dos Índios,47 esse episódio situa a
consolidação de uma reflexão iniciada desde a sua chegada à colônia e
partilhada, depois, com D. Miguel de Bulhões.
Ele finaliza um processo, que evidencia o caráter colonial do Diretório
dos Índios. Os episódios de conflito suscitaram a mediação de Mendonça
Furtado e de D. Miguel, posto que ambos ocuparam o governo da colônia.
Eles perceberam a insatisfação em relação a qualquer lei que perpetuasse as
restrições ao acesso à mão-de-obra indígena, tal como acontecia com o
Regimento das Missões. Por isso, protelaram a promulgação das leis enviadas
pela metrópole, enquanto negociavam a introdução de um mecanismo que
garantisse a demanda dos colonos: trabalhadores.
Dois dias depois de ter sugerido ao irmão a consideração do
regulamento passado ao comandante da Vila de Borba, a Nova, solicitara-lhe,
também, que autorizasse sua saída da capitania do Rio Negro, para que, em
Belém do Pará, pudesse organizar a promulgação das duas leis relativas aos
índios, junto com D. Miguel de Bulhões.48 No ano seguinte, já em Belém,
reportava a publicação das leis de Liberdade e do fim do poder temporal dos
missionários, ocorrida em fevereiro.49 Manifestou, então, a resistência dos

45 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/10/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p. 945.


46 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 12/10/1756]. MCM-IHGB, v. 3, p. 943.
47 Alguns autores afirmam ter sido este instrumento a base por sobre a qual o Diretó-
rio dos Índios foi elaborado. Destaco, a seguir, ARNAUD, Expedito. A legislação
sobre os índios do Grão-Pará e Maranhão nos séculos XVII e XVIII. Boletim de
Pesquisa do CEDEAM, Manaus, v. 4, nº. 6, p. 34-72, jan./jun. 1985, p. 60;
RODRIGUES, Isabel Vieira. A política de Francisco X. de M. Furtado no Norte do
Brasil (1751-1759). Oceano, n. 40, 95-110, out./dez. 1999, p. 108.
48 Francisco X. de M. Furtado [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 14/10/1756].
MCM-IHGB, v. 3, p. 992.
49 Idem [Carta a Sua Majestade, em 8/4/1757]. Doc. 155. abapep, Belém, Tomo IV,
p. 182-184, 1968.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007 47


Mauro Cezar Coelho

missionários em deixar as aldeias50 e as medidas que tomou para organizá-las,


sem a presença dos regulares.
Em carta a Sua Majestade, Mendonça Furtado ponderou que a
execução das leis de 6 e 7 de junho de 1755, no que tangia à administração das
povoações, acarretava a entrega do poder temporal às justiças, no caso das
vilas, e aos principais no caso das aldeias. A experiência adquirida na Aldeia
de Mariuá lhe demonstrara que as intenções, contidas nas leis, seriam
frustradas, caso seus dispositivos fossem respeitados e o governo das aldeias
lhes fosse entregue: os índios não possuíam, segundo ele, o conhecimento
necessário para governarem-se, permanecendo em paz, e tampouco a
motivação exigida para trabalharem. Uma vez que a manutenção da paz e
promoção da riqueza teriam sido as únicas motivações daquelas leis,
entendeu que preservaria a intenção real se trabalhasse com o objetivo de
alcançá-las.
Nesse sentido, reportou ter tomado a iniciativa de colocar, em cada
povoação, um diretor que auxiliasse aquelas populações, no processo de
aquisição da autonomia prevista na lei. Reconhecendo a ausência de homens
capazes dessa tarefa, relatou ter se decidido instruí-los, por meio de um
documento que instituísse todas as obrigações e procedimentos a serem
adotados, na administração das povoações.51
Eis aqui, portanto, o substrato do Diretório dos Índios – um
instrumento que, contrariando as leis formuladas em Portugal, fundava uma
regulação da liberdade concedida aos índios: a tutela. Esta seria exercida em
favor do Estado e dos colonos, através da codificação dos mecanismos pelos
quais um e outros induziriam os índios ao desenvolvimento de valores
ocidentais.

50 Idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 9/4/1757]. MCM-IHGB, v. 3, p. 1025-1028;


idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 25/4/1757]. MCM-IHGB, v. 3, p.
1034-1038; Francisco X. de M. Furtado [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 2/5/1757].
MCM-IHGB, v. 3, p. 1039-1040; idem [Carta a Sebastião J. C. Melo, em 4/5/1757].
MCM-IHGB, v. 3, p. 1041-1048; idem [Carta a Thomé Joaquim da Costa Corte
Real, em 26/5/1757]. Doc. 165. abapep, Belém, Tomo V, p. 193-207, 1906; idem
[Carta a Thomé Joaquim da Costa Corte Real, em 20/10/1757]. Doc. 183. abapep,
Belém, Tomo V, p. 256-261, 1906.
51 Idem [Carta a Sua Majestade, em 21/5/1757]. Documento 156. Annaes da Bibliot-
heca e Archivo Público do Pará, Belém, Tomo IV, p. 184-188, 1968.

48 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):29-48, out./dez. 2007


À SOMBRA DAS CHANCELARIAS:
A PREPARAÇÃO DO CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE
HISTÓRIA (LISBOA, 1940)1

Lucia Maria Paschoal Guimarães2

Abstract:
Resumo:
The article examines the Brazilian
O artigo examina o envolvimento brasileiro nas
participation in the Portuguese Centennial
Comemorações Centenárias de Portugal de
Commemorations of 1940, in special, the
1940, em especial, os antecedentes do Congresso
antecedents of the Luso-Brazilian Congress of
Luso-Brasileiro de História, convocado com o
History, which would congregate historians
objetivo de reunir historiadores das duas
of the both edges of the Atlantic to exam
margens do Atlântico para a discussão de temas
common subjects. It demonstrates how
comuns. Demonstra como o governo de Getúlio
Getúlio Vargas government intervened with
Vargas interferiu na programação da jornada
the academic programming of the jouney,
acadêmica, por meio da ação do Itamaraty,
through the Itamaraty action, finishing for
acabando por restringir a presença de
restricting the presence of Brazilian
intelectuais brasileiros no evento.
intellectuals in the event.

Palavras-chave: Comemorações Centenárias de


Key-words: Portuguese Centennial
Portugal – Congresso Luso-Brasileiro de
Commemorations - Luso-Brazilian Congress
História – relações luso-brasileiras – intelectuais
of History – Luso-Brazilian Relationship –
e poder – diplomacia cultural
power and inteslectuals – cultural diplomacy

1 Este artigo é tributário da investigação “Perspectivas de construção de um passado


comum: o Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)”, apoiada com
bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq (2005-2008).

2 Sócia Honorária do IHGB. Doutora em História Social pela Universidade de São


Paulo. Professora Titular do Departamento de História da Universidade Estado do
Rio de Janeiro. Pesquisadora do CNPq, do Programa PROCIÊNCIA da UERJ e do
PRONEX FAPERJ/CNPq “Dimensões da cidadania nos oitocentos”, coordenado
por José Murilo de Carvalho.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):49-66, out./dez. 2007 49


Lucia Maria Paschoal Guimarães

Ao anunciar as solenidades que se realizariam em 1940, para celebrar a


passagem do oitavo e do terceiro centenários, respectivamente, da fundação
do Reino (1139) e da Restauração (1640), Antonio de Oliveira Salazar fez o
seguinte pronunciamento:
(...) Ao Brasil é devida referência especial, (...) havemos de pedir ao
Brasil que venha a Portugal no momento em que festejaremos os nossos
oitocentos anos de idade ajudar-nos a fazer as honras da Casa; que erga o
seu padrão de História ao lado do nosso; que não seja apenas nosso
hóspede de honra, mas como da família ... (os grifos são nossos)3. Getúlio
Vargas respondeu-lhe no mesmo diapasão:
(...) o Brasil, carinhosamente convidado, comparecerá, e timbra em
fazer não como visitante cortês; mas como membro da família que,
embora politicamente separado, permanece fiel ao seu espírito e leal à sua
amizade4. De fato. A antiga colônia associou-se às Comemorações
Centenárias na qualidade de nação irmã, participando da Exposição do
Mundo Português e do Congresso Luso-Brasileiro de História. Do ponto
de vista simbólico, sua inserção naquelas celebrações servia de antídoto
aos críticos que desqualificavam a atuação de Portugal no ultramar5.
As Comemorações Centenárias estavam direcionadas para o
desenvolvimento da chamada política do espírito, idealizada por Antônio
Ferro e posta em execução pelo Secretariado de Propaganda Nacional6.
Buscavam elevar o ânimo do povo português, valorizando-o não apenas
como grupo étnico, mas também pela cultura, força de produção, capacidade
civilizadora e unidade independente no conjunto das nações. Não é demais
lembrar que a política do espírito se assentava sobre três pilares: o uso da
cultura como símbolo da nacionalidade e meio de propaganda, de modo a
3 Antonio de Oliveira Salazar “Independência de Portugal – Nota oficiosa da Presi-
dência do Conselho”. Revista dos Centenários, Lisboa, 1: 3, janeiro de 1939.
4 Getúlio Vargas. “Discurso”, pronunciado em 17 de junho de 1939, no Real Gabine-
te Português de Leitura. A Ação dos portugueses do Brasil na Exposição do Mundo
Português (...). Rio de Janeiro:[s.n], 1940.

5 Fernando Catroga, “Ritualizações da história”. Op. cit., p. 241.


6 Luís Reis Torgal., História e ideologia. Coimbra: Livraria Minerva, 1989, p. 194.
(Coleção Minerva – História nº 3). Ver, também, Yves Leonard, Salazarismo e Fas-
cismo. Tradução de Catarina Horta Salgueiro. Lisboa: Editorial Inquérito, 1998, p.
95-96.

50 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):49-66, out./dez. 2007


engrandecer a obra de governo de Salazar; a tentativa de conciliar a velha
tradição e os valores lusitanos com o advento da modernidade, identificada
com a instauração do Estado Novo; e o estabelecimento de uma cultura
nacional e popular baseada nos ideais forjados pelo regime salazarista7.
O esforço realizado para apresentar Portugal como um país
culturalmente rico e próspero não se restringiu à propaganda interna. A
concepção das celebrações de 1940 procurava glorificar o presente à luz de
uma deliberada
(...) interpretação diacrônica do destino de Portugal, por meio da (...)
exaltação direta do que mais importava recordar: os Descobrimentos, (...) a
fundação e a refundação da Nação (...) simbolizadas como momentos
matriciais e preparatórios da construção do Império8.
O plano geral das festividades apoiava-se em três tipos de registros:
em ilustrações suntuosas – organizadas no feitio de uma mostra monumental,
a Exposição do Mundo Português; nas imagens em movimento, por meio do
Cortejo do Mundo Português; e, finalmente, expressava-se sob a forma de
texto com a realização do Congresso do Mundo Português, no qual deveriam
ser estudadas (...) as origens, atividades, instituições, desenvolvimento e
expansão de Portugal e do Império9. O último evento constituía, portanto, um
complemento dos dois primeiros e se subdividia em oito jornadas

7 Ver, Fernando Rosas, O Estado Novo nos anos trinta: 1928-1938. Lisboa: Editorial
Estampa, 1986. _____, “Salazar e o Salazarismo: Um caso de longevidade”. In: Sa-
lazar e o Salazarismo. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1989.

8 Fernando Catroga, “Ritualizações da história”. ______, Luís R. Torgal e José Ama-


do Mendes, História da História em Portugal – Da historiografia à memória histó-
rica. Lisboa: Temas e Debates, 1998, p. 268-269.

9 Júlio Dantas, “Crônica”. Anais das Bibliotecas e Arquivos, Lisboa, vol. XIV, 1939,
p.7.
Lucia Maria Paschoal Guimarães

científicas10, incluindo o Congresso Luso-Brasileiro de História, que será


alvo deste artigo.
A convocação do Congresso Luso-Brasileiro de História foi
encaminhada ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 19 de
setembro de 1938, pelo presidente da Comissão Nacional das Comemorações
Centenárias, o escritor, diplomata, político e vice-presidente da Academia
das Ciências de Lisboa, o dr. Júlio Dantas. Na mesma data, documento
semelhante foi despachado para Academia Brasileira de Letras (ABL):
A Comissão (...), previu a realização em Lisboa, (...), de um
Congresso do Mundo Português, em que se fará a síntese histórica
das atividades nacionais desde a Fundação até aos nossos dias, e de
um Congresso Luso – Brasileiro de História, no qual serão
estudados, (...), os mais importantes problemas que interessam à
história de Portugal e do Brasil durante os três séculos que vivemos
em comum. (...) Seria extremamente agradável à Comissão conhecer
a douta opinião de V. Exa. e do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, (...), acerca da oportunidade e vantagens de semelhante
Congresso, e, ao mesmo tempo, assegurar-se da preciosa
colaboração dessa coletividade, (...), na organização do Congresso
Luso – Brasileiro de História, e na elaboração do respectivo
programa, (...) Os encargos do Congresso Luso – Brasileiro de
História serão exclusivamente suportados pelo Governo Português,
que dotou a respectiva Comissão com as verbas necessárias para
todas as despesas, incluindo viagens de congressistas, que por nós
forem convidados e que serão nossos hóspedes, pagamento de
trabalhos aos relatores, etc. (os grifos são nossos)11.
Como se pode notar, havia acentuado interesse na inserção de
estudiosos brasileiros na reunião científica, pois o convite deixava claro que o
governo português arcaria com custos de viagem e de estadia dos

10 Além do Congresso Luso-Brasileiro de História, foram programadas as seguintes


jornadas acadêmicas: Congresso Pré e Proto-Histórico; II Congresso de Portugal
Medieval; Congresso de Ciências da População; Congresso de História da Ativida-
de Científica Portuguesa; Congresso de História das Navegações e Descobrimentos
Portugueses; Congresso de História Moderna e Contemporânea e Congresso de
História da Monarquia Dualista.
11 Júlio Dantas, Carta dirigida ao presidente do IHGB, Lisboa, 19 de setembro de
1938. IHGB, Arquivo do IHGB, Lata 569, pasta 34.

52 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):49-66, out./dez. 2007


À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

congressistas. Isto nos leva a inferir que o Estado salazarista tencionava


intensificar ainda mais sua política de relações culturais com a antiga colônia,
tomando como base a existência de um patrimônio comum, em que a história
representava um dos principais esteios, ao lado do idioma e da literatura 12.
Com efeito, iniciou-se uma ativa troca de correspondências entre a Comissão
Nacional dos Centenários, o Instituto Histórico, a Academia Brasileira de
Letras e a Academia Portuguesa da História.
É bem verdade que o Instituto Histórico e a agremiação congênere de
Lisboa já vinham dialogando há algum tempo. Refundada por Salazar em
maio de 1936, seus Estatutos reservavam dez vagas para historiadores
brasileiros no quadro titular13. A Academia Portuguesa da História procurou
aproximar-se do Instituto, valendo-se da teia de relações pessoais, que
envolvia intelectuais dos dois países, desde as primeiras décadas do século
XX14. Tanto assim que todas aquelas vagas seriam ocupadas por sócios do
IHGB15. A propósito das festividades do Ano Áureo, as duas entidades
fizeram uma série de planos de trabalho conjunto – publicações coletivas,

12 Sobre a noção de relações culturais internacionais, inspiramo-nos nas seguintes


obras: Louis Dollot, Les relations culturelles internationalles. Paris: PUF, 1964.
Ver, também, Philip Combs, The fourth dimension of foreign policy: educational
and cultural affaires, apud Edgard Telles Ribeiro, Diplomacia Cultural: seu papel
na política externa brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 1989.
13 A Academia Portuguesa de História foi recriada em 19 de maio de 1936, pelo De-
creto-lei nº 26611. Sua origem remonta à antiga Academia Real de História Portu-
guesa, estabelecida em Lisboa, por decreto de D. João V, de 8 de dezembro de 1720,
com a divisa Restituet omnia. Ver, Isabel Ferreira da MOTA, A Academia Real de
História. Os intelectuais, o poder cultural e o poder monárquico no século XVIII.
Coimbra: Edições Minerva, 2003.

14 Lucia Maria P. Guimarães. “Echoes of the ‘politics of the spirit’ at the Brazilian
Historical and Geographical Institute”. E-Journal of Portuguese History, 4 (2):3,
winter, 2006.
15 Idem. Titulares brasileiros em 1937: Conde de Afonso Celso, Max Fleiüss, Afonso
d’Escragnole Taunay, Arthur Guimarães de Araújo Jorge, Francisco José de Olivei-
ra Vianna, Gustavo Barroso, Afrânio Peixoto, Manuel Cícero Peregrino da Silva,
Pedro Calmon e Rodolfo Garcia. Cf. Boletim da Academia Portuguesa de História,
Lisboa: APH, 10 e 20 anos, 1937-1938.

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Lucia Maria Paschoal Guimarães

visitas recíprocas e missões exploratórias de pesquisa16, cujo objetivo, em


última análise, reforçava o convite dirigido por Júlio Dantas.
No Rio de Janeiro, as direções do Instituto e da Academia Brasileira de
Letras também resolveram somar esforços e formar um comitê misto para
consolidar suas sugestões aos organizadores do Congresso17. Sabe-se que o
grupo integrado por Basílio de Magalhães, Max Fleiuss, Alfredo Valadão,
Afrânio Peixoto, Pedro Calmon, Canabarro Reichardt e Emilio de Sousa
Doca formulou um conjunto de temas para estudo e os encaminhou ao setor
responsável pelo planejamento da reunião científica, dirigido pelo historiador
Carlos Malheiro Dias e o dr. Queiroz Veloso da Academia das Ciências18.
Em janeiro de 1939, Júlio Dantas lançou a Revista dos Centenários,
um mensário destinado a circular por tempo limitado, até dezembro de 1940,
de modo a dar publicidade ao projeto das celebrações. Logo no primeiro
número, além de uma Carta Aberta aos Portugueses de 1940, assinada por
Antonio Ferro, o diretor do Secretariado Nacional de Propaganda, apareceria
um artigo de Afrânio Peixoto em que justificava a presença brasileira
naqueles fastos19. Tempos depois, a publicação divulgou o calendário oficial
das festas nacionais, que se estenderiam de 5 de maio até 9 de novembro de
1940, com os respectivos locais de realização, agrupadas em torno dos
grandes três eixos comemorativos: a Exposição do Mundo Português, o
Cortejo do Mundo Português e o Congresso do Mundo Português. De
acordo com o calendário, a abertura do Congresso Luso-Brasileiro fora
marcada para 28 de outubro, nas instalações da Academia das Ciências de
Lisboa.
Afora as sessões de estudo, dentre outras atividades, previa-se uma
romaria dos congressistas ao túmulo de Pedro Álvares Cabral em Santarém,

16 Ver, entre outros, Ofícios de Afonso Dornelas, Secretário geral da Academia Portu-
guesa da História sobre a colaboração acadêmica relativa aos Centenários. Arquivo
do IHGB. Lata 344. Pasta 50.
17 Manoel Cícero. “Ofício dirigido por (...) ao presidente da Comissão dos Centenári-
os, em 1 de dezembro de 1938”. Congresso Luso-Brasileiro. Arquivo do IHGB, lata
569, pasta 34.
18 Julio Dantas. “Oficio dirigido por (...) ao presidente do IHGB, em 21 de dezembro
de 1938”. Congresso Luso-Brasileiro. Arquivo do IHGB, lata 569, pasta 34.
19 Afrânio Peixoto. “Nossa foi a restauração.” Revista dos Centenários. Lisboa, 1:
13-14, janeiro de 1939.

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

assim como uma homenagem a ser prestada à memória do padre Antonio


Vieira, na igreja de São Roque20.
A programação acadêmica do Congresso do Mundo Português veio a
público em julho de 1939. Os conteúdos programáticos, distribuídos pelas
reuniões científicas que compunham aquele grande evento, vinham
acompanhados de uma nota introdutória de Júlio Dantas, explicando os
objetivos e as matérias a serem abordados. No caso da jornada de história
luso-brasileira, fixara-se o recorte temporal a ser privilegiado para o período
compreendido entre 1500 e 1822, com a recomendação de que as
comunicações deveriam atentar para os: (...) problemas que respeitam ao
descobrimento, colonização e organização da Nação brasileira (...),
período cuja história é patrimônio comum dos dois povos irmãos,
procurando tanto quanto possível, dentro de um espírito rigorosamente
objetivo, o esclarecimento e a unidade de interpretação de determinados
fatos21.

QUADRO Nº 1
CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA: PLANO INICIAL DO
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1ª SEÇÃO 2ª SEÇÃO
DO DESCOBRIMENTO À OCUPAÇÃO DA COSTA O CICLO DO OURO E DOS DIAMANTES

1. As grandes bandeiras e seus objetivos. A


1. Descobrimento. As primeiras notícias e a
intervenção do estado e dos governos locais na
exploração da costa. Necessidades de defesa.
organização das bandeiras.
2. A descoberta das minas de ouro. Providências
2. O plano de d. João III: ensaios e desilusões.
régias sobre a exploração mineira;
A lição da experiência: o governo geral.
conseqüências mediatas e imediatas.
3. A política externa de Portugal para a defesa da
3. A cultura da cana e o recurso à mão de obra
integridade do Brasil. Colônia do Sacramento;
escrava.
tratado de 1750; tratado de Santo Ildefonso.

20 “Programa Calendário das Festas Nacionais de 1940”. Revista dos Centenários.


Lisboa, 4: 8-17, maio de 1939.
21 Revista dos Centenários. Lisboa, 6:13, julho de 1939.

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4. Fatores econômicos da penetração: as 4. A expulsão dos jesuítas e a nova política


“descidas”; a exploração pecuária; a indígena. As companhias pombalinas e a
mineração. Primeiras bandeiras. economia brasileira.
5. Os jesuítas e a conversão dos índios. Política 5. A corte no Rio de Janeiro. Reino Unido de
indígena do estado e reações dos colonos. Portugal e Brasil. Separação do Brasil.
6. Saída dos franceses e dos holandeses 6. Bibliografia
7. Bibliografia

O encontro se estruturava em torno de duas seções de trabalho, cujos


conteúdos programáticos se complementavam numa seqüência cronológica.
As ementas apresentadas para exame, bastante simplificadas por sinal,
contemplavam a história da América portuguesa, enfatizando aspectos da
ocupação e defesa do território, da atuação dos jesuítas e da economia
colonial. Junto à relação de temas foram anexadas indicações para inscrição
de congressistas e regras para o envio e publicação de comunicações. Os
textos completos deveriam ser remetidos à Comissão Nacional dos
Centenários até 31 de dezembro de 1939. Além dessas providências
acadêmicas, a Comissão expediu ofícios ao reitor da Universidade do Distrito
Federal, e aos presidentes do IHGB e da ABL, respectivamente, Afrânio
Peixoto, José Carlos de Macedo Soares e Antonio Austregésilo Rodrigues
Lima22, convocando-os para presidir as reuniões acadêmicas23.

Entretanto, para desapontamento de Júlio Dantas, os três


dirigentes, sempre corteses e sensíveis aos seus apelos, não lhe responderam.
Passados seis meses, em tom magoado, Dantas registrou a desatenção.
Dirigiu-se ao representante brasileiro em Lisboa, o embaixador Araújo Jorge,
a quem solicitava “a extrema fineza de se dignar obter a aquiescência
daquelas três altas individualidades”24. Ora, tão inusitado quanto o silêncio
dos letrados parecia o pedido de intermediação endereçado ao embaixador,
pois o presidente da Comissão dos Centenários sempre se entendera
22 Substituído em 1940 por Celso Vieira.
23 Júlio Dantas. Ofício de (...) dirigido ao presidente do IHGB, datado de Lisboa, 30 de
junho de 1939. Congresso Luso-Brasileiro de História. Arquivo do IHGB, Rio de
Janeiro. Lata 569, pasta 34.
24 _______. Ofício de (...), dirigido ao embaixador Araújo Jorge, datado de Lisboa, 5
de abril de 1940. Arquivo Histórico do Itamaraty. Comemorações e Celebrações.
CI/SN/641.7 (88). Lata 664. Documento 9884.

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

diretamente com as instituições brasileiras. A par disso, curiosamente, o tema


das Comemorações desapareceu da pauta do Instituto Histórico. O assunto
deixou de freqüentar as sessões ordinárias e a correspondência com Lisboa
cessou. A euforia inicial converteu-se em marasmo...
As altas esferas do poder no Rio de Janeiro também davam sinais de
mudança. Por aquela mesma ocasião, Getúlio Vargas assinara o Decreto-lei
nº 1410, que concedia a abertura de crédito especial ao Ministério das
Relações Exteriores, no valor de três mil contos de réis, para atender a todas
as despesas relacionadas com a representação brasileira nas Comemorações
Centenárias (o grifo é nosso)25. Donde se pode concluir que, no âmbito do
Congresso Luso-Brasileiro, dispensava-se o pagamento dos custos de
viagem e estadia dos participantes, oferecido pelos organizadores na primeira
correspondência enviada ao IHGB e à ABL.
Logo em seguida, Vargas instituiu a Comissão Brasileira dos
Centenários Portugueses e instalou-a no Palácio do Catete, sob as suas vistas
e debaixo das ordens do general Francisco José Pinto, chefe da Casa Militar
da Presidência da República26. Meses mais tarde, em 5 setembro, baixou o
Decreto-lei nº 1565, que regulamentava a nomeação de delegados do Brasil a
congressos, conferências e reuniões internacionais e dava outras
providências27. O dispositivo fixava que as convocações dos governos
estrangeiros para eventos dessa natureza só poderiam ser endereçadas ao
ministério das Relações Exteriores; tornava ainda obrigatório encaminhar à
chancelaria os convites pessoais recebidos por autoridades, funcionários e
outros interessados, para emitir parecer a respeito, cabendo as designações ao
presidente da República, mesmo que a viagem não acarretasse ônus para o
Tesouro Nacional.

25 Brasil. Decreto-lei nº 1410, de 11 de julho de 1939. Coleção das Leis da República


dos Estados Unidos do Brasil de 1939, volume IV, julho-setembro de 1940.
http://www.camara.gov.br/internet/InfDoc/novoconteudo/legislacao/republica/Lei
s1939vVI.550p/pdf01.pdf. Acessado em 10/12/2006.
26 A Comissão era formada pelos seguintes membros: Gustavo Barroso (Representa-
ção Histórica); Oswaldo Orico (Representação Cultural); Ernesto Jorge Street (Re-
presentação dos Stands – Comércio, Indústria e Serviços); Armando Navarro da
Costa (Representação Artística); Geysa Boscoli (Representação do departamento
Nacional do Cinema); e João Maria de Almeida (Secretário e Tesoureiro).
27 Idem.

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Lucia Maria Paschoal Guimarães

É inquestionável que o caráter disciplinador dos atos baixados por


Vargas buscava dar unidade à representação brasileira. Mas, ao mesmo
tempo, deixava claro que atividades culturais ou científicas só poderiam
ocorrer sob a tutela da ordem política28. Em última análise, as medidas
cerceavam a autonomia das corporações acadêmicas. Melhor dizendo,
afastavam-nas do centro decisório, transformando-as em meras coadjuvantes
do Itamaraty e da Comissão Brasileira dos Centenários Portugueses, que daí
em diante passariam a incumbir-se, oficialmente, de todos os assuntos que se
referissem ao conjunto das efemérides portuguesas.
No caso específico do Congresso, as deliberações indicavam a
intenção do governo brasileiro de opinar na organização do evento. A
ingerência, em princípio, afetava a escolha dos congressistas, inclusive os
convidados para cumprir funções de destaque. Explica-se, assim, o silêncio
dos três eruditos convocados para presidirem as sessões científicas, bem
como o apelo de Júlio Dantas dirigido ao embaixador Araújo Jorge.
Mas havia também um outro aspecto que deve ser considerado: as
redes de sociabilidades que envolviam homens de letras e artistas dos dois
lados do Atlântico, desde as primeiras décadas do século XX. Júlio Dantas e
Afrânio Peixoto, por exemplo, integravam uma dessas redes.
Compartilharam diversas experiências editoriais e projetos, como o da revista
Atlântida (1915-1921), voltada para o estabelecimento de uma comunidade
luso-brasileira29. Não por acaso, o ensaísta, membro da Academia Brasileira
de Letras e do IHGB, figurou como colaborador no primeiro número da
Revista dos Centenários, conforme já se disse. Sabe-se, por outro lado, que
Afrânio andava em litígio com Vargas. Portanto, o respeitoso pedido de
intermediação ao embaixador Araújo Jorge pode ser entendido como uma
estratégia de Dantas, para se esquivar da vigilância da cancelaria brasileira e,
quem sabe, assegurar a presença do amigo nas festividades de Lisboa.
A documentação do Itamaraty, todavia, não oferece qualquer indício
que ajude a explicar a repentina mudança de rumos nos preparativos do

28 Ver a esse respeito Maria Helena R. Capelatto. Multidões em cena: a propaganda


política no varguismo e no peronismo. Campinas (SP): Papirus, 1998, p. 100-103.
29 Lucia Maria P. Guimarães. “Relações luso-brasileiras: encontros e desencontros”.
Anais do Simpósio Regional da ANPUH. Niterói: UFF, 2006. Disponível em

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

Congresso. A chave para a solução desse mistério está no Arquivo


Histórico-Diplomático do Ministério dos Estrangeiros de Portugal30. Nos
papéis das Comemorações Centenárias há um documento cuja leitura é
fundamental para se compreender as motivações que levaram Vargas a
expedir aquelas medidas restritivas. Trata-se de um ofício do presidente da
Comissão Nacional dos Centenários, datado de 21 de março de 1939,
encaminhado ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros:
(...) O Congresso Luso-Brasileiro de História, cuja inauguração (...)
está prevista para 12 de outubro, data que pode mudar-se, mas que foi
afixada de acordo com o sr. Afrânio Peixoto, presidente da Comissão
nomeada pela Academia Brasileira para se ocupar da sua colaboração
neste Congresso (...). Esclarece-se que os congressos previstos são
organizados, no que respeita a Portugal, não pelos Ministérios dos
Negócios Estrangeiros ou da Educação Nacional, mas por uma
Comissão Executiva nomeada pelo governo pelo decreto-lei nº
29.087(...), que já se pôs em contato com a Academia Brasileira de
Letras e o Instituto Histórico, e que procurará a colaboração de todas
as corporações e individualidades brasileiras especializadas no estudo
de história para a elaboração do respectivo programa. É óbvio que o
governo brasileiro poderá exercer, quando entenda e como entenda, a
sua ação orientadora (...). Permito-me, entretanto, sugerir a nomeação
pelo Governo Federal de uma comissão oficial de historiadores e
eruditos brasileiros que, sem prejuízo das Academias e outras
coletividades representativas do Brasil mental, assegure a unidade da
colaboração brasileira no Congresso que mais a interessa, que é a da
história, na parte em que essa história constitui patrimônio comum das
duas nações de língua portuguesa (...) (os grifos são nossos)31.
O documento não esconde a contrariedade do presidente da Comissão
dos Centenários, diante das tentativas das autoridades brasileiras de
30 Ver, Arquivo Histórico do Itamaraty. Rio de Janeiro. Comemorações e Celebra-
ções, Portugal. Tomo I, Festas Centenárias. 641.7 (88) Lata 664 – 9884. Ver Arqui-
vo Histórico-Diplomático do Ministério dos Estrangeiros, Lisboa. Arquivo Históri-
co Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Maços 955, 956 e 957,
anos de 1939 e 1940.

31 Julio Dantas. Ofício nº 792, dirigido por (...) ao Secretário-geral do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, datado de Lisboa, 21 de março de 1939. Arquivo Histórico
Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Maço 955, nº 392, ano de
1939.

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Lucia Maria Paschoal Guimarães

interceder na montagem do Congresso. Por sinal, essa disposição externou-se


mais cedo do que supúnhamos, confirmando a reflexão de Maria Helena
Capelatto de que para o varguismo, a cultura é um fator de unidade nacional e
de harmonia social, visto que é percebida como suporte da política, cabendo
ao Estado intervir nos assuntos que lhe são inerentes 32.
Fica patente que os altos escalões do Itamaraty já vinham atuando
junto aos seus pares do Paço das Necessidades, para promover alterações no
programa do evento. A começar pela alteração da data de abertura, proposta
justamente por Afrânio Peixoto. É bem provável que houvessem surgido
outras indicações para a pauta de estudos, pois o presidente da Comissão fez
questão de frisar, mais uma vez, que a contribuição brasileira deveria se ater à
história do período colonial. De qualquer forma, percebe-se a resistência de
Julio Dantas a tais investidas. Cioso da autonomia que lhe fora concedida por
Salazar, ele insistia no propósito de contar com a colaboração das instituições
acadêmicas e, por tabela, podemos acrescentar, do seu círculo de amigos do
lado de cá do Atlântico. Isto nos leva a deduzir que os decretos assinados por
Vargas em julho e setembro de 1939 tinham endereço certo, ou seja,
buscavam neutralizar as possíveis relutâncias de Dantas e assumir o controle
da organização do evento. Num ponto ele já demonstrava haver cedido: na
agenda oficial, divulgada em julho, a data de início do Congresso aparecia
trocada de 12 para 28 de outubro.
A queda-de-braço do autor da Ceia dos Cardeais com o governo do
Rio de Janeiro, por certo, encerrou outros lances, que permanecem envoltos
nas sombras das chancelarias. Na correspondência do embaixador Martinho
Nobre de Melo dirigida a Salazar, constam dois telegramas confidenciais,
com recados para Júlio Dantas: o primeiro, de 28 de abril de 1940, manifesta
o desagrado do governo brasileiro diante de um convite feito a José Lins do
Rego, qualificado como romancista da esquerda, e menciona uma sugestão,
atribuída a Osvaldo Aranha, para que no seu lugar fossem convocados
intelectuais católicos da nova geração33. O segundo esclarece, afinal, a
situação de Afrânio Peixoto:

32 Revista dos Centenários. Lisboa, 5:28, maio de 1939.


33 Martinho Nobre de Mello. Telegrama confidencial dirigido por (...) ao presidente
do Conselho Antonio de Oliveira Salazar, datado do Rio de Janeiro, 27/4/1940.
Arquivo Histórico-Diplomático MNE. Centenários. Processo 52, 114, 1940. 3º

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

(...) Tenho o dever de informar o seguinte: conversando acerca


personalidades brasileiras que irão participar nossas comemorações
ministro Osvaldo Aranha (...) informou-me intencionalmente que
presidente Vargas sabe de fonte segura que professor Afrânio sempre
adotou em Portugal atitude profundamente hostil governo sua pátria
como propalou graves falsidades ofensivas honra pessoal daquele
presidente. (...)34.
Mas a resistência de Dantas não era minada apenas pelas informações
de coxia do embaixador Martinho Nobre de Melo. Havia altos interesses em
jogo e Paço das Necessidades não demonstrava a menor disposição de
confrontar o Itamaraty por causa da indicação de congressistas ou de
querelas acadêmicas. Neste sentido é importante salientar os esforços
empreendidos por Salazar para obter recursos junto aos portugueses
estabelecidos no Brasil, com o intuito de levar a cabo o ambicioso programa
das festas. A demanda exigia intensas negociações, conforme se lê na nota
dirigida a Salazar, em 27 de janeiro de 1939, pelo embaixador Nobre de
Melo:
(...) Em verdade, estando vedada, por lei, a abertura de subscrições
públicas, mormente em benefício de entidades estrangeiras, salvo
autorização expressa das autoridades competentes, foi preciso intervir
junto ao ministério da Justiça a fim de ser permitida a subscrição da
colônia portuguesa35. Convém assinalar que o embaixador ainda
enfrentaria outros obstáculos legais na alçada do Ministério da
Fazenda. A exportação do dinheiro arrecadado só se efetuaria
mediante uma permissão extraordinária do titular daquela pasta,
obviamente referendada por Getúlio Vargas.
A autorização, por conseguinte, tornava-se vital para os planos de
Lisboa. Estimava-se que as contribuições dos membros da colônia
alcançassem uma soma de dinheiro suficiente para financiar, dentre outras
Piso. A1, Maço 956.

34 _______. Telegrama confidencial dirigido por (...) ao presidente do Conselho


Antonio de Oliveira Salazar, datado do Rio de Janeiro, 29/4/1940. Arquivo Históri-
co- Diplomático MNE. Centenários. Processo 52, 114, 1940. 3º Piso. A1, Maço
956.

35 ___. Ofício dirigido por (...) ao presidente do Conselho Antonio de Oliveira Sala-
zar, datado do Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1939. Arquivo Histórico Diplomático
MNE. Maço 955, nº 394, ano de 1939.

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iniciativas, a compra e o restauro do Palácio dos Condes de Almada, a ser


doado ao Estado, com o nome de Palácio da Independência, destinado a servir
de sede para a “Mocidade Portuguesa”, devendo abrigar também o Museu da
Restauração e a Sociedade Histórica da Independência de Portugal36. Deste
modo, por detrás dos reposteiros, entre um recado e outro passado ao
embaixador português pelo chanceler Osvaldo Aranha, as transações se
efetivavam, de forma a satisfazer os interesses dos dois governos37.
Apesar das sucessivas investidas para assumir o controle da
preparação do Congresso, as fontes evidenciam que o Palácio do Catete
acabaria por priorizar a participação brasileira na Exposição do Mundo
Português. O vai-e-vem dos ofícios e telegramas assim o atestam38. Aliás,
sem entrar no mérito da problemática relativa à Segunda Grande Guerra que
já estava em curso, para fins de política internacional, a Exposição servia de
vitrine para o Brasil na Europa. E Vargas aproveitou a oportunidade,
empenhando-se para projetar uma imagem positiva não apenas de si39, mas
também da nação que administrava: jovem, moderna e civilizada, com
amplos potenciais de riqueza40. Este perfil, sem dúvida, correspondia às

36 Para efetivar a transação e preparar o imóvel para ser inaugurado nos Centenários, o
governo português adiantou a importância de 5.000 contos, que esperava reaver por
meio das subscrições abertas junto à colônia no Brasil. Ver, Revista dos Centenári-
os. Lisboa, 6:25, junho de 1939.

37 Por conta das comemorações, outro pleito de Lisboa seria atendido: o Conselho de
Imigração e Colonização aprovou um texto pelo qual se consideravam os portugue-
ses excluídos de qualquer restrição numérica, quanto à sua entrada no Brasil. A notí-
cia foi recebida com grande entusiasmo nas margens do Tejo. Cf. Revista dos Cen-
tenários. Lisboa,

38 A expressão é de Fernando Catroga.


39 O aposto aparece seguido ao nome de Getúlio Vargas, acima de uma imagem do
busto presidente em alto relevo, superposta na fachada principal do Pavilhão Brasi-
leiro, na Exposição Histórica do Mundo Português.
40 Getúlio Vargas, de fato, preocupava-se com a montagem dos stands brasileiros na
Exposição. Entre outros registros no seu Diário, lê-se que em dia 31 de janeiro de
1940 recebeu para despacho e instruções especiais o diretor do Museu Histórico Na-
cional, o Dr. Gustavo Barroso, um dos delegados ao evento. Cf. Getúlio Vargas,
Diário. Apresentação de Celina Vargas do Amaral Peixoto; edição de Leda Soares.
São Paulo: Siciliano; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas 2000, p. 241.

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

expectativas de Salazar, uma vez que representava uma espécie de prova


póstuma das virtudes colonizadoras de Portugal41. Seja como for, no fundo,
para os propósitos dos dois governantes, a Exposição se afigurava bem mais
conveniente do que uma reunião de historiadores.
Não cabe neste artigo fazer uma descrição circunstanciada dos
preparativos com vistas à inserção do Brasil na Exposição, assunto que já foi
estudado por Luciene Lehmkuhl e Omar Ribeiro Thomas42. Entretanto, vale a
pena dedicar umas rápidas linhas a respeito, à medida que na documentação
levantada observa-se que a mostra mereceu tratamento diferenciado do
Congresso, sobretudo nos papéis da Comissão presidida pelo general
Francisco José Pinto.
O esforço empreendido com a montagem da Exposição, dividida entre
dois espaços – o primeiro relativo ao período colonial e o segundo ao país
independente – demandou a nomeação de um delegado permanente, Augusto
de Lima Júnior, com residência fixa em Lisboa por mais de um ano.
Acrescente-se a isso as questões inerentes ao transporte do material e demais
providências, num contexto internacional tão adverso, marcado pelo avanço
das tropas alemães na Europa43. O álbum Pavilhão do Brasil na Exposição do
Mundo Português, preparado por Gustavo Barroso, oferece uma visão
panorâmica da grandiosidade das edificações erguida para a ocasião, da sua
decoração luxuosa e do farto material ali apresentado. Da parte interior dos
prédios, além de inúmeras imagens de Getúlio Vargas, a primeira delas logo
na entrada do pavilhão, acompanhada da inscrição “o fundador do Estado
Novo no Brasil”, podem ser vistas as fotografias dos stands com produtos,
serviços e estatísticas; da sala de leitura e respectiva biblioteca; do diorama da
41 A expressão é de Fernando Catroga. Cf. ______.“Ritualizações da história”. Op.
cit., p. 268-269.
42 Ver Luciene Lehmkuhl. Entre a tradição e a modernidade: O Café e a imagem do
Brasil na Exposição do Mundo Português. Tese de doutorado apresentada ao Pro-
grama de Pós-Graduação de História. Florianópolis: UFSC, 2002. Ver, também,
Omar Ribeiro Thomaz. Ecos do Atlântico Sul: representações sobre o terceiro im-
pério português. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Fapesp, 2002.

43 No Relatório da Embaixada Especial Extraordinária lê-se que a viagem de regresso


ao Brasil, iniciada em 21 de julho de 1940, no vapor português “Angola”, transcor-
reu (...) calma, mas pouco confortável, por vir o navio com excesso de passageiros,
muitos dos quais refugiados de guerra. Ver, Relatório da Embaixada Especial do
Brasil às Comemorações dos Centenários de Portugal. Op. cit. p. 29.

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cidade do Rio de Janeiro; do espaço destinado à projeção de documentários e


filmes educativos; das galerias com quadros e obras de arte. Na parte externa,
entre outras tomadas da fachada do prédio principal, há o registro de uma
esplanada, coberta por toldos e com mesinhas à moda dos cafés europeus,
preparada pelo Departamento Nacional do Café e destinada à degustação da
bebida, local que se tornou ponto de reunião dos visitantes44.
Para a inauguração dessa exibição monumental e representar o
presidente Getúlio Vargas nas solenidades de abertura das Comemorações
Centenárias, partiu do Rio de Janeiro, no vapor italiano Oceania, em 9 de
maio de 1940, uma embaixada extraordinária, encabeçada pelo próprio
general Francisco José Pinto, composta de militares, diplomatas, burocratas,
Isto sem falar no comandante Augusto do Amaral Peixoto Jr. e da senhora
Alzira Vargas do Amaral Peixoto, respectivamente genro e filha de Getúlio
Vargas, que já estavam na Europa e deveriam integrar-se ao grupo45.
Recebida com pompa e circunstância por Antonio de Oliveira Salazar,
presidente do Conselho de Ministros, e pelo chefe de Estado, o marechal
Oscar Carmona, a embaixada permaneceu em Portugal por cerca de dois
meses.
Diante de tão formidável mobilização, torna-se ainda mais notório que
as atenções com o Congresso Luso Brasileiro de História acabariam
relegadas a um plano secundário. Tanto assim, que somente em 3 de outubro
de 1940, ocorreu ao general Francisco José Pinto encaminhar ao Ministério
das Relações Exteriores o pedido da nomeação dos representantes oficiais à
jornada científica, nos termos do mencionado Decreto-lei nº 1565. No
documento, solicitava-se urgência alegando que os delegados deveriam
44 Ver, Comissão Brasileira dos Centenários de Portugal. Pavilhão do Brasil na Expo-
sição Histórica do Mundo Português. Lisboa: Neogravura, Ltda. Fevereiro de 1941.
45 Além do general Francisco José Pinto, embaixador extraordinário e plenipotenciá-
rio, a delegação era formada pelos seguintes membros: os diplomatas Edmundo da
Luz Pinto, Caio de Melo Franco e o escritor Olegário Mariano; os militares Tristão
de Alencar Araripe, Francisco Afonso de Carvalho, Rodolfo Fróes da Fonseca e Au-
gusto do Amaral Peixoto Júnior; além dos secretários J. E. de Sousa Freitas, José Jú-
lio Galliez, do assistente militar Euclides Feury e do adido Hugo de Macedo. A es-
ses nomes agregaram-se os de Osvaldo Orico, Gustavo Barroso, Guy de Holanda,
Nair de Carvalho e outros funcionários do Ministério da Educação, do Departamen-
to Nacional de Imprensa e Propaganda e do Departamento Nacional do Café. Rela-
tório da Embaixada Especial do Brasil às Comemorações dos Centenários de Por-
tugal. Arquivo Histórico do Itamaraty. Rio de Janeiro. Maço 641.7 (88).

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À sombra das chancelarias:
a preparação do Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940)

embarcar para Portugal ainda naquele mês, de modo a chegarem a tempo para
o início dos trabalhos, naquela altura, já adiados para 11 de novembro de
1940.
As designações por certo passaram pelo crivo das autoridades
competentes. Afrânio Peixoto, sintomaticamente, não figurava na relação
endereçada à chancelaria. Das notabilidades convidadas por Júlio Dantas
foram mantidos os presidentes do Instituto Histórico e da Academia
Brasileira de Letras, respectivamente, José Carlos de Macedo Soares e Celso
Vieira. A esses nomes seguiam-se os de Pedro Calmon (diretor da Faculdade
de Direito, sócio do IHGB e da Academia Portuguesa da História); de Emilio
Souza Docca (militar e sócio do IHGB); de Didio Iratim Afonso da Costa
(militar e diretor do Arquivo da Marinha e historiador militar); de Gustavo
Barroso (diretor do Museu Histórico, membro do ABL e do IHGB); de
Oswaldo Orico (membro da ABL e diretor do Departamento) e de Eugênio de
Castro (militar, sócio do IHGB e autor de trabalhos sobre historia da
navegação), sendo que os três últimos já estavam em Lisboa, por força da
Exposição. O rol não incluía o professor Guy de Holanda, que lá também se
encontrava, assessorando Gustavo Barroso.
O ato da designação, no entanto, só veio a ser expedido em 23 de
outubro, às vésperas do Congresso. O Itamaraty ainda tentou corrigir o
imbróglio, acenando com uma possível presença de Oswaldo Aranha na
solenidade de abertura46, o que levou os dirigentes de Lisboa a protelarem,
mais uma vez, o início do evento. Porém, como já era de se esperar, o ministro
não saiu do Brasil, nem tampouco os recém-nomeados. A desculpa desta feita
recaiu sobre a anormalidade da situação internacional.
O Congresso Luso-Brasileiro de História foi inaugurado, finalmente,
em 19 de novembro de 1940. A representação brasileira restringia-se a apenas
quatro membros, para tristeza de Júlio Dantas, que idealizara uma jornada
monumental, contando com a presença de uma plêiade de renomados
intelectuais, inclusive seus velhos companheiros do lado de cá do Atlântico.
Desapontado, ele não perdoou as artimanhas do Itamaraty. Deu-lhes o troco,
por assim dizer. No seu discurso de saudação aos congressistas, fez questão
46 Cf. Martinho Nobre de Mello. Telegrama dirigido por (...) ao presidente do Conse-
lho Antonio de Oliveira Salazar, datado do Rio de Janeiro, 3/10/1940. Arquivo His-
tórico-Diplomático MNE. Centenários. Processo 52, 114, 1940.

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Lucia Maria Paschoal Guimarães

de salientar a data do ato de designação dos delegados brasileiros. Em


seguida, em vez de se reportar à mensagem oficial encaminhada pela
chancelaria do Rio de Janeiro, leu um enigmático telegrama que lhe fora
enviado por Afrânio Peixoto: “Não posso ir a Portugal; não posso estar no
Santuário; mas, meu amigo, – até logo47.”

47 Ver Osvaldo Orico. À sombra dos Jerônimos. Diário de uma viagem ao Portugal de
oito séculos. Lisboa: Imprensa Portugal-Brasil, 1940, p. 180.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

EMÍLIO JOAQUIM DA SILVA MAIA. UM INTELECTUAL NO


IMPÉRIO DO BRASIL.
Lúcia Garcia1

É este um nome que não ouvistes repetir nem nas lutas ardentes dos comícios
públicos, nem nos certames arrebatados da imprensa política; (...) Foi o de um
cidadão que não se encontrava no parlamento (...) nenhum mais que ele tivera no
berço e na infância diante dos olhos o exemplo do ardor e do interesse pelas
questões políticas, [...]
Joaquim Manoel de Macedo sobre
Emílio Joaquim da Silva Maia. 1859.

Resumo:
Este trabalho recupera a trajetória intelectual de Emílio Joaquim da Silva Maia, sócio fundador do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Os Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil, de autoria de Silva Maia, encontrados no arquivo
histórico do IHGB, ainda inéditos, são analisados em seu conjunto e inseridos no contexto de
consolidação do Estado Imperial.
Tal esforço de investigação justifica-se pelo fato de que Emílio Joaquim da Silva Maia havia sido
abordado pela historiografia, até então, somente por sua contribuição às Ciências Naturais,
conservando-se inédita sua produção historiográfica.
O texto original deste estudo foi apresentado na forma de dissertação de Mestrado, em setembro de
2003, ao Programa de Pós-Graduação em História Política da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. A Banca Examinadora composta pela Profa. Dra. Lília Schwarcz, Profa. Dra. Lúcia Maria
Paschoal Guimarães e Profa. Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves (orientadora), aprovou o
referido trabalho com distinção e louvor, indicando-o para publicação.

Palavras-chave:
Silva Maia, Emílio Joaquim da Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Brasil – História

*
1 Lúcia Maria Cruz Garcia é doutoranda em História Política do Programa de Pós-Graduação
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em História Política pela mesma Uni-
versidade. Assessora da Secretaria Municipal das Culturas e pesquisadora da Comissão D.
João VI, encarregada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para as comemorações do bicentená-
rio da chegada de d. João e da família real portuguesa à cidade (2006 - ). Professora Substituta
do Departamento de História da UERJ (2005). Coordenadora de Editoração da Fundação Bi-
blioteca Nacional (2004-2005). Responsável por diversos projetos de publicação de obras e
manuscritos raros. Dentre outras investigações, colaborou na pesquisa que deu origem ao li-
vro “A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis – do Terremoto de Lisboa a Independência do
Brasil”, de autoria de Lília Moritz Schwarcz, com Paulo César de Azevedo e Angela Mar-
ques da Costa (São Paulo: Companhia das Letras, 2002). Em co-autoria com Lília Moritz
Schwarcz produziu o livro Registros escravos: documentos oitocentistas na Biblioteca Naci-
onal (Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2006).

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 67


Lúcia Garcia

Construir através de registros esparsos, de pistas que encontrava aqui e


ali, a trajetória de vida e o pensamento de um homem que vivera no século
XIX e cuja obra intelectual foi, sem dúvida alguma, expressiva, constituiu-se
uma tarefa instigante, um desafio que acabava por conferir a este trabalho um
caráter investigativo sem fim.
O véu da História teimou em deixar encobertas a vida e a obra desse
ilustre “desconhecido”, de nome Emílio Joaquim da Silva Maia. Salvo
alguns poucos elogios históricos e excetuando os trabalhos de José Lacerda
de Araújo Feio e de Lorelai Brilhante Kury2, não se conhece qualquer outra
investigação sobre a trajetória intelectual de Emílio Maia ou acerca de seus
vários estudos sobre História, Medicina e Ciências Naturais.
No ano de 2001 encontrei no Arquivo do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, uma referência a dezoito documentos manuscritos,
sem indicação de local ou data, com o título “Estudos históricos sobre
Portugal e Brasil”. Eram originais com cerca de dez a quarenta páginas, cada,
tratando de amplas questões ligadas às relações políticas entre Portugal e
Brasil. Tais documentos ocupavam-se desde os tempos das “novas
descobertas dos Portugueses”, nas palavras do autor, até os feitos e sucessos
do dia 10 de fevereiro de 1821 na Bahia. Nos estudos, destacando a relação da
antiga metrópole com a América Portuguesa, a análise do período joanino
ganhou destaque, dedicando o autor treze dos seus dezoito “Estudos
Históricos”.
Investigando a respeito da autoria, constatei que haviam sido escritos
em meados da década de 50 do século XIX, por Emílio Joaquim da Silva
Maia, médico e intelectual baiano, nascido em 1808 e falecido no Rio de
Janeiro em 1859.
Silva Maia foi membro de uma elite intelectual que, no interior de
instituições científicas e culturais oitocentistas, contribui para o
desenvolvimento da ciência e das atividades culturais no Brasil imperial.

2 FEIO, José Lacerda de Araújo. O Museu Nacional e o Dr. Emílio Joaquim da Sil-
va Maia. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, Museu Nacional, 1960, e Lorelai
Brilhante Kury. “Ciência e Nação: Romantismo e história natural na obra de E. J.
da Silva Maia”. In: História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, 1998,
v. 2, p. 267-91.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Para essa análise, foram seguidos determinados referenciais


teórico-metodológicos relacionados à nova História Política.
As discussões de René Rémond3 acerca da nova História Política
foram de grande valia. Rémond sustenta que há uma dimensão do político nos
fenômenos sociais, posto que é em torno do político que os campos
sócio-econômico-cultural e das idéias se reúnem. Com base em suas
assertivas, conclui-se que tal campo possui fronteiras flexíveis e com limites
pouco definidos. Contudo, é certo afirmar que o político estará sempre
vinculado seja ao social, ao cultural ou ao econômico.
Um outro conceito usado foi o de Cultura Política, sustentado por
Serge Bernstein4. A Cultura Política é uma noção complexa, que pode ser
entendida como um conjunto de idéias, referências, crenças e valores que
entrelaçam o grupo social sob pressupostos políticos. Está, portanto, inscrita
no quadro das normas e dos valores que determinam a representação que uma
sociedade faz de si mesma e de sua História.
Compreendendo o político a partir de seu vínculo com o social e com o
cultural, e utilizando como método a análise de discurso no exame da
produção intelectual de Silva Maia, foram identificados nesses textos os
elementos que constituíram a Cultura Política de meados do século XIX no
Brasil, formada por práticas e discursos específicos.
Outras contribuições fizeram-se importantes, como a análise do
historiador Carlo Ginzburg5 em torno do modelo epistemológico surgido por
volta do final do século XIX, pautado em um método interpretativo centrado
sobre as pistas, os indícios e pormenores. Tal paradigma, denominado
indiciário, norteia a análise deste estudo na medida em que, ao compor a
trajetória de Emílio Joaquim da Silva Maia, os argumentos foram sustentados
sobre indícios e pistas encontrados em registros esparsos.

3 REMOND, René. “Introduction”. In: S. Bernstein & P. Milza (dir.). Axes e Mét-
hodes de l’Histoire Politique. Paris: PUF, 1998. p. XI-XVIII.
4 BERNSTEIN, Serge. “A Cultura Política”. In: Jean Pierre Rioux & Jean François
Sirinelli. Para uma História Cultural. Lisboa: Estampa, 1998. p. 349-363.
5 GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais. Morfologia e História. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 1989.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 69


Lúcia Garcia

A fim de melhor examinar o discurso implícito foi usado conceito de


linguagem de J.G.A. Pocock6. Para o autor, a linguagem é entendida como
contexto; é composta de inúmeros artifícios retóricos, de afetos e de um
vocabulário político específico, que lhe conferem uma identidade própria e a
produção de um discurso peculiar. Um outro aspecto relevante, diz respeito à
criação e difusão de linguagens que, segundo Pocock, condicionam-se à
autoridade das elites intelectuais.
No trabalho de descoberta das “linguagens latentes”, foram
identificados conceitos marcadamente presentes nos textos de Silva Maia e,
entre eles, os mais importantes são, sem dúvida, Nação, Civilidade e
História.
A respeito do conceito de nação, recorri à contribuição de José Murilo
de Carvalho7, que analisou as variações sofridas pela imagem da nação
brasileira ao longo do tempo.
Em relação à concepção de História, trabalhei com a perspectiva de
que a década de 1850 é caracterizada pela historiografia como o momento em
que o romantismo e o ecletismo espiritualista se tornam hegemônicos.
Para civilidade e civilização, utilizei-me do trabalho de Lucien Febvre,
procurando apreender como tais conceitos eram entendidos à época, uma vez
que as elites intelectuais, há muito, já faziam da Europa a “mestra da
civilização do Novo Mundo”.8
A fim de respaldar a análise da trajetória e do saber produzidos por um
intelectual, não pude prescindir da abordagem de Jean-François Sirinelli9
acerca da apropriação da figura do intelectual, enquanto objeto da nova
História Política. Em seu estudo, Sirinelli reabilita o intelectual como objeto
de análise do historiador, explicando as razões pelas quais estes atores
políticos foram, por tanto tempo, caracterizados como subobjeto da História.
6 POCOCK, .J. G. A. Linguagens do Ideário Político. São Paulo: EDUSP, 2003
7 CARVALHO, José Murilo de. “Brasil: Nações Imaginadas”. Pontos e Bordados.
Escritos de História e Política. Minas Gerais: Editora UFMG, 1998. p. 233-268.
8 FEBVRE, L.. “Civilisation: évolution d’un mot et d’un groupe d’idées”. In: Pour
une Histoire à part entière. Paris: Jean Touzot, 1962, p. 483.
9 SIRINELLI, Jean-François. “Os Intelectuais”. In: René Rémond. Por uma Histó-
ria Política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ Fundação Getúlio Vargas, 1996. p.
231-269.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Os Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil, de autoria de Silva


Maia, encontrados no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ainda
inéditos, são analisados em seu conjunto e inseridos no contexto de
consolidação do Estado Imperial. Portanto, presume-se que os mesmos
possam ser identificados com o projeto de construção de uma “História
Pátria”, como o próprio autor afirma em seu primeiro estudo. Resta entender a
razão de seu ineditismo e a relevância de seu conteúdo.
A memória que se construiu no próprio Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro em torno de Silva Maia evidencia apenas a face do
cientista, avesso à política, o que só contribuiu para que permanecesse inédita
sua produção historiográfica. Este foi o silêncio que mais se fez sentir. Que,
ao fim e ao cabo, ele possa ter adquirido voz.

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Lúcia Garcia

EMÍLIO JOAQUIM DA SILVA MAIA: APONTAMENTOS BIOGRÁFICOS

1.1 Da infância na Bahia à formação européia


Se o nome Brasil [...] recorda tudo quanto a natureza tem de mais belo e fecundo; se
[...] os brasileiros receberam por herança uma das mais belas porções da terra; se
[...] é impossível falar deste abençoado solo, sem nos lembrarmos que o ouro e os
diamantes saem do seu seio, ao mesmo tempo que todas as culturas aí prosperam,
muito nos devemos ufanar de termos nascido em um tal país!
Emílio Joaquim da Silva Maia. 1808-1859
E que país esse, senhores, para uma nova civilização e para novo assento das
Ciências! Que terra para um grande e vasto Império [...] qual outra região se lhe
pode igualar? Riquíssimo nos três Reinos da Natureza, com o andar dos tempos
nenhum outro país poderá correr parelhas com a Nova Lusitânia.

José Bonifácio de Andrada e Silva. 1763-1838

Emílio Joaquim da Silva Maia nasceu na Bahia a 8 de agosto de 1808,


filho do negociante Joaquim José da Silva Maia e de D. Joaquina Rosa da
Costa10. Viveu seus primeiros dezesseis anos na Bahia, onde testemunhou o
cenário que começava a se desenhar na América Portuguesa a partir da vinda
da Corte de Portugal para o Brasil. Frente à necessidade de criação de uma
sociedade ilustrada, inúmeras ações foram sendo implementadas como a
abertura, em 1811, da Biblioteca Pública da Bahia, na cidade de Salvador.
Iniciativa de particulares que a concebiam como uma instituição para
promover a instrução do povo, a fundação da biblioteca não deixava de ser
uma manifestação das pragmáticas luzes portuguesas11.
Seu pai, Joaquim José da Silva Maia, nascido em 1776, natural da
cidade do Porto, estabelecera-se na cidade da Bahia como negociante
matriculado, exercendo ainda a função de Capitão de Milícias e Vereador da
Câmara. Em 1823 retirou-se da Bahia juntamente com a divisão portuguesa
quando a província abraçou a causa da independência. Em sua terra natal,
retomou as atividades comerciais e redigiu, entre 1826 e 1828, o periódico O

10 SILVA, Inocêncio Francisco da.. Dicionário Bibliográfico Português. Lisboa:


Imprensa Nacional, 1870, t.2 e p. 227 t. 9. p. 171.
11 MORAES, Rubens Borba de. Livros e Bibliotecas no Brasil Colonial. Rio de Ja-
neiro: Livros Técnicos e Científicos: São Paulo: SCCT, 1979, p. 143-152.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Imparcial12, destinado à defesa e sustentação dos princípios da carta


constitucional então vigente como lei fundamental do país. Em 1828, com o
regresso de D. Miguel a Portugal e a implementação de uma política
absolutista, foi obrigado, devido ao seu posicionamento político, a partir para
Galiza em companhia do exército constitucional. Joaquim José da Silva
Maia, acompanhando o exército, seguiu para a Inglaterra e França. Retornou
ao Brasil, provavelmente, em 1829.13
A explicação acima faz-se necessária para situar o ambiente político
no qual cresceu Emílio Joaquim da Silva Maia, para quem esses episódios
foram marcantes, visto que acompanhou seu pai à Europa nas duas ocasiões.
Em 1823, Emílio Maia chegou a Portugal com seu pai. Preparando-se
para ingressar na Universidade de Coimbra, no curso de Medicina, obteve
apenas o grau de Bacharel em Filosofia. Após uma passagem conturbada por
terras de Galiza – narrada pelos que viveram tal experiência14, o pai do
próprio autor –, Emílio Maia foi para a Inglaterra, em 1828. Nessa ocasião,
engajara-se no corpo de voluntários acadêmicos que tinha apoiado os
movimentos liberais do Porto contra as forças miguelistas. Da Inglaterra
partiu para a França, também na companhia do pai.
Da Bahia para o Porto, do Porto para a Galícia, daí para a Inglaterra e
França, e em seguida para o Rio de Janeiro, Silva Maia trouxe consigo uma
vivência cultural e política significativa, considerando sua idade: 21 anos.
12 Joaquim José da Silva Maia, ao retornar para o Brasil, passou a redigir o periódico
O Brasileiro Imparcial, ao longo dos anos de 1830 e 1831. As doutrinas políticas
defendidas nesse escrito foram menos bem aceitas e entendidas como retrógradas,
geraram manifestações polêmicas que acompanharam Joaquim José até a morte.
Conta Inocêncio Silva (Op. cit. p. 113) que se verificou “desconsiderações execu-
tadas para com seu cadáver por homens inquietos e turbulentos, na ocasião em que
era conduzido à sepultura”. Além de O Imparcial (1826-1828) e O Brasileiro
Imparcial (1830-1831), Joaquim José da Silva Maia publicou o Semanario Cívico
(1821-1823) e A Sentinella Brasiliense (1823). Estes dois últimos jornais apresen-
tavam temáticas ligadas tanto ao constitucionalismo quanto à manutenção dos la-
ços do Brasil com Portugal.
13 SILVA, Inocêncio Francisco da.. Dicionário Bibliográfico Português. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1870, t. 4 p. 112-113.
14 VARGUES, Isabel Nobre & TORGAL, Luís Reis. “Da revolução à contra-revolu-
ção: vintismo, cartismo, absolutismo. O exílio político”. In: TORGAL, Luís Reis
& ROQUE, João Lourenço. O Liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1993.
pp. 74-81.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 73


Lúcia Garcia

Chegou ao Rio de Janeiro em 1829 e aqui permaneceu por alguns


meses antes de retornar à Europa. Na capital francesa obteve o grau de
Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e, em 1833, o diploma de Doutor
em Medicina pela Faculdade de Paris.
Emílio Maia nutria uma tal admiração por seu pai e uma lembrança dos
tempos políticos difíceis na Europa que publicou em 1834 obra póstuma de
Joaquim José da Silva Maia, intitulada Memórias Historicas, Politicas e
Philosophicas da Revolução do Porto em maio de 1828, e dos emigrados
portugueses pela Hespanha, Inglaterra, França e Bélgica 15.
A edição é dedicada ao recém criado Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

Senhores,
Se algumas vezes as Dedicatórias são de tributo e obrigação, eu
cumpro um dever sagrado com a que agora vos faço, em que não cabe
lisonja nem obséquio. Dedicando-vos estas Memórias, escritas por
meu Pai, tenho em vistas duas coisas: acobertá-la com o vosso nome,
porque ela necessita do mais alto apoio e cumprir, como já disse, uma
obrigação contraída desde que me associei aos vossos trabalhos. Bem
sei que um episódio da história moderna de Portugal não tem para o
Instituto Histórico do Brasil aquele interesse, que poderia excitar
outro assunto mais conexo com a nossa particular situação; mas,
acaso é menos interessante para nós uma questão em que se trata da
legitimidade e dos direitos de uma Princesa Brasileira a um Trono,
que legava o Fundador do nosso Império? Não espereis achar na
obra, que vos dedico, grande cópia de luzes, nem a perfeição de uma
história completa, porque ela apenas contém a relação dos

15 Memorias Historicas, Politicas e Philosophicas da Revolução do Porto em maio


de 1828 e dos emigrados portugueses pela Hespanha, Inglaterra, França e Bélgi-
ca. Obra Phostuma de Joaquim José da Silva Maia dada à luz por seu filho o Dr.
Emílio Joaquim da Silva Maia. Rio de Janeiro: Typographia de Laemmert, 1841.
Encontramos um exemplar da obra com dedicatória autógrafa de Emílio Joaquim
da Silva Maia, na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

74 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

acontecimentos havidos em um curto espaço de tempo; todavia, não


são despidos de interesse, quando depois do triunfo da legitimidade e
da Carta, outros sucessos vieram inutilizar tanto sangue derramado e
tantos sacrifícios pessoais.
Com a segurança, pois do vosso apoio vão estas Memórias sair à luz e
não duvido, que seja bem aceita pela honra, que lhe fazeis,
consentindo, que eu estampe na sua frente o nome do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Entretanto permiti Senhores, que eu me lisonjeie desde já da vossa
benevolência, e que me confesse tão agradecido como ufano pela
glória de ser um de vossos sócios.
Rio de Janeiro, 19 de maio de 1841.
Emílio Joaquim da Silva Maia

Em seguida, encontra-se o Prefácio do Editor onde Silva Maia


discorre sobre o conteúdo das Memórias deixadas por seu pai e sobre as
razões que o levaram a editá-las em 1841. Conta que, entre os vários
manuscritos encontrados no espólio, veio às suas mãos, em 1834, as
Memórias Históricas, Políticas e Filosóficas
A obra começada em 1829, foi concluída nesta cidade no fim do
seguinte ano; cheia de interesse pelo que toca aos atos daquele tempo,
parece hoje de pouca monta, quando mais afastados daquela época os
sofrimentos se tem arrefecido com a vitória que alcançaram depois os
Constitucionais Portugueses contra a usurpação, e por isso muita
gente pensará que fui guiado, publicando estas Memórias, por
motivos pessoais e não por amor ao público.

Como veremos no trecho a seguir, além de ter sido testemunha dos


fatos relatados, Silva Maia procura construir a História brasileira a partir da
História lusa, sem se preocupar em apagar a herança portuguesa da qual era
tributário16.

16 Isto se verifica também em relação aos Estudos Históricos sobre Portugal e Bra-
sil, analisados no capítulo 3.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 75


Lúcia Garcia

[...] não ocultarei, que fui levado pela idéia de pagar um tributo à
memória de meu Pai, publicando o seu escrito, tal qual ele compôs, sem a
menor alteração, porque nisso mesmo quis dar uma prova de todo o meu
respeito e amor filial; mas em grande parte tive em vista o interesse da
história moderna de Portugal, tão conexo com a nossa situação política
pelos laços que nos ligam àquele povo nosso progenitor, como também
pela feliz casualidade, de serem regidos os dois Estados (Brasil e
Portugal) por dois filhos do inclito Fundador do nosso Império.
[...] Tenho também outro interesse, que se pode chamar pessoal, e é
que acompanhei a meu Pai em toda essa desgraçada emigração, e
ainda que Brasileiro, fui um dos voluntários Acadêmicos, que com
outros muitos também Brasileiros levamos a Cruz até o Calvário [...]
Não restam dúvidas a respeito do posicionamento político de Emílio
Maia e seu pai em favor dos Constitucionalistas e de D.Pedro I, que lutavam
contra as forças absolutistas personificadas na figura de D. Miguel. Essa
postura fica muito clara no prefácio de Joaquim José às suas Memorias
Historicas, Políticas e Philosophicas da Revolução do Porto, como veremos
a seguir:
Os acontecimentos extraordinários, que nestes últimos anos tem ocorrido
em Portugal são de tal transcendência, que a sua Historia serviu de útil
lição moral para todos os povos. Vê-se os simultâneos combates da
liberdade contra o absolutismo, e do absolutismo contra a liberdade e,
como enfim, uma cavilosa política externa, apoiada pela hipocrisia
religiosa interna, acaba de suplantar a fidelidade, a razão e a justiça,
reduzindo aquele, outrora feliz e hoje desgraçado país, a um teatro de
horrores e misérias! Uma história filosófica destes sucessos seria o
melhor mestre, que instruiria em particular os Portugueses, para se
dirigirem com acerto no presente, reflexionando com atenção sobre o
pretérito! [...]
Deste modo julguei que resultaria ao público algum proveito da
publicação desta obra, pelo menos excitarei penas mais doutas,
fornecendo-lhes material para melhor escreverem este interessante
episódio da História portuguesa e fazer conhecer ao Brasil, qual é a
cavilosa política do absolutismo17 para se pôr em guarda contra seus
ocultos tramas.

17 O grifo consta no original.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 1830.


Joaquim José da Silva Maia

Assim, orientado por suas convicções políticas liberais e certo de que


os acontecimentos da História moderna portuguesa muito teriam a servir ao
Brasil recém-independente e à construção de uma história nacional, Emílio
Joaquim conduziu sua produção intelectual ao longo da primeira metade do
século XIX, junto a diversas instituições científicas brasileiras.
1.2 No retorno aos trópicos, a estruturação da vida familiar
Após quatro anos em terras européias, Emílio Joaquim da Silva Maia
retornou ao Brasil em 14 de março de 1834, durante o período Regencial.
Com apenas vinte e seis anos, chegou ao Rio de Janeiro, onde passaria o resto
de sua vida, interrompida por grave doença em 21 de novembro de 1859, aos
cinqüenta e um anos de idade.
Nesse momento, a conjuntura política brasileira ainda vivenciava a
efervescência da luta entre as diversas facções que se enfrentavam na arena
da política. Além do conflito entre diversos segmentos da elite por um espaço
na condução do Estado e da sempre latente oposição entre proprietários e
despossuídos, subsistia a antiga rivalidade entre brasileiros e portugueses
herdada do Primeiro Reinado. No entanto, diante da fragilidade do governo
regencial e da agitação política e social que ganhava as províncias, com
particular intensidade do Rio Grande do Sul e no Nordeste, aprovava-se, em
12 de agosto de 1834, o Ato Adicional à Constituição, constituindo-se como
um compromisso entre as diversas facções em conflito. Assim, de um lado
conservou-se o poder moderador e a vitaliciedade do Senado para satisfazer
os restauradores; de outro, abolira-se o Conselho de Estado para agradar aos
exaltados. Ampliou-se também o poder das províncias com a criação das
Assembléias Provinciais. Com o objetivo de dar mais agilidade ao poder
central, convertia-se a Regência trina em una, cujo titular seria escolhido
pelos eleitores provinciais em 183518.
Apesar dessa delicada conjuntura política e de seu espírito liberal, ao
chegar ao Rio de Janeiro, Silva Maia dedicou-se inteiramente ao estudo das

18 NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das & MACHADO, Humberto F.. O Império
do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 121-132.

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Lúcia Garcia

Ciências e das Letras e chegou mesmo a afirmar que sua profissão era
estranha a negócios políticos19. Podemos dizer que tal declaração não foi
ingênua, mas intencional, afinal, seu pai fora engajado politicamente e
criticado de modo contundente em virtude das idéias reproduzidas em
periódicos dos quais era editor. Emílio Maia, ao retornar ao Brasil, realizou
de modo consciente, a nosso ver, um “divórcio” com a atividade política que
outrora desempenhara talvez para preservar-se junto às elites e à opinião
pública. Motivo de apenas ter publicado as Memórias ... deixadas por seu pai
em 1841, durante o Segundo Reinado, acalmados os tumultos regenciais.
Esse afastamento de Emílio Maia da política, de um engajamento mais direto,
é uma idéia com a qual corrobora a memória que a seu respeito foi produzida
pelo IHGB e por algumas instituições científicas das quais foi membro.
Mais afeito às Ciências e às Letras, Emílio Joaquim da Silva Maia
casou-se com Anna Rita da Silva Maia, com quem teve seis filhos: Joaquim
Emílio da Silva Maia, Emílio Joaquim da Silva Maia, Antonio Emílio da
Silva Maia, Emília Cândida da Silva Maia, Anna Emília da Silva Maia e
Sebastião Emílio da Silva Maia. Em 1859, na ocasião do falecimento do Dr.
Maia, o primogênito Joaquim Emílio tinha vinte e dois anos de idade e o mais
jovem, Sebastião Emílio, oito.
As informações sobre a vida familiar e sobre os bens contidos no
inventário post mortem do Dr. Emílio Maia20, encontradas no Arquivo
Nacional, foram fundamentais, pois, através delas, pudemos alcançar a
extensão de suas posses, os nomes de seus herdeiros e os valores que
permeavam sua relação familiar. Até então nenhuma outra fonte nos havia
possibilitado conhecer tanto (ainda que tão pouco) sobre sua vida.
Encontramos nos arquivos do IHGB cinco decalques de Boulanger
feitos em junho de 1842, que retratam fisicamente o Dr. Maia, na ocasião com
trinta e quatro anos, sua esposa D. Anna Rita e três de seus filhos, dois
meninos e uma menina, que não aparecem identificados. O casal e seus filhos
estão bem trajados; Emílio Maia porta uma imponente casaca e D. Anna Rita,
de cabelos cuidadosamente cacheados, usa um rico vestido, brincos e colar, à
moda das senhoras da Corte. É interessante ressaltar que a casaca se tornou

19 Prefácio à edição das Memórias Históricas, Políticas e Philosophicas.. (Op. cit).


de seu pai, Joaquim José da Silva Maia.
20 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Localização no. 966, caixa 4083, gal. A.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

um símbolo da elite: servia como elemento para distingui-la da população em


geral, representando a imagem de pessoa letrada, culta e, em alguns casos,
conhecedora da política.21
A partir do testamento, aprendemos também a imagem que fazia de si
próprio: um homem honrado e de firme caráter. Características que seriam
lembradas – acrescidas de tantas outras – por membros da elite intelectual
brasileira no Oitocentos em inúmeros elogios históricos. Essa era a lógica da
rede de sociabilidades da qual Silva Maia e outros cientistas e intelectuais
faziam parte. Nas sessões periódicas realizadas nas instituições de Ciência e
Saber em meados do século XIX, era comum a troca de favores entre
confrades, os discursos plenos de retórica e muitos elogios; gestos que
traziam consigo uma função política muito clara: de manutenção do poder da
elite intelectual – que cercava o Imperador e opinava no processo de
construção da nação – e de construção da História oficial, que exaltava os
grandes feitos dos homens de seu tempo.
O testamento nos informa o local de sua residência: uma espaçosa
chácara na Rua do Bispo, Rio Comprido, que ocupava a antiga Freguesia do
Engenho Velho, valorizada pelas edificações onde residiam famílias de vida
confortável.22
A chácara foi avaliada no inventário por 21:000$000, valor
significativo23 se considerarmos que era um conto de réis mais cara que uma
fazenda de café (incluindo engenhos, senzalas e os escravos) anunciada a 22
de janeiro de 1860 no Correio Mercantil, e que apresentava as seguintes
características:
Sita no Rio Comprido, Rua do Bispo, toda murada de pedra e cal de frente
vinte e três braças e de fundo dezoito, parte da frente com portão e grade
de ferro, com casa assobradada dentro, ocupando esta sessenta e um

21 NEVES, Lúcia Maria Bastos P. Corcundas e Constitucionais: a cultura política


da Independência, 1820-1823. Rio de Janeiro: Revan, 2003. p. 102.
22 GERSON, Brasil. História das ruas do Rio: e da sua liderança na história política
do Brasil. 5ª ed. remodelada e definitiva. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000.
p. 337-340.
23 A avaliação da chácara data de 1859.

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Lúcia Garcia

palmos de frente e cento e doze de fundo, toda sua formação de pedra e


cal[...] 24
A chácara era considerada uma residência nobre, com maior número
de janelas na fachada e certas comodidades. Ainda segundo o inventário, era
bem mobiliada, decorada com livros e quadros de História Natural. A
avaliação total do mobiliário foi de novecentos e doze mil-réis. Entre os itens
listados, encontramos um piano de jacarandá, uma das peças mais
importantes para demonstrar o status social e a respeitabilidade da elite25,
cadeiras de mogno com palha, aparadores com tampo de pedra, um guarda
vestidos e um guarda louças.
A biblioteca de Silva Maia, com suas estantes e diversas obras de
Medicina,foi avaliada por trezentos mil-réis26. Segundo o elogio feito por
Evaristo Nunes Pires27, Dr. Maia estudava incessantemente, e sua grande
biblioteca era rica em livros de Ciências Naturais, História e Literatura,
contendo inclusive obras raras. Como exemplo, Nunes Pires menciona a obra
Discursos Morais e Políticos, de José Joaquim de Souza Nunes28, volume que
teria escapado da fogueira a que a Inquisição em Portugal condenara todos
os mais exemplares dela, e sugere que o IHGB faça uma nova edição da
mesma.
Na relação de bens encontramos também um escravo doméstico de
nome Manoel, pardo, de catorze anos de idade, avaliado em 1:000$000. Este
item em especial aponta para uma incongruência quanto ao posicionamento
político de Silva Maia frente à questão escravista. Como veremos mais
adiante, em seus escritos, ele concorda com José Bonifácio, defendendo o fim
da mão-de-obra escrava.

24 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Inventário Post Mortem de Emílio Joaquim


da Silva Maia. fls. 31.
25 NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das & MACHADO, Humberto F. O Império
do Brasil... p. 327-328.
26 O referido inventário não traz a relação de livros que compunham a biblioteca de
Silva Maia.
27 PIRES, Evaristo Nunes. Esboços históricos e biográficos (Primeira Tentativa).
Rio de Janeiro: Tipografia Cinco de Março, 1874. p. 31.
28 Silva Maia menciona, inclusive, tal livro em seus Estudos Históricos. Ver capítulo
3.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Outras passagens interessantes muito têm a revelar sobre os valores


ético-morais do testador. Dr. Maia pede a mulher e aos filhos que nunca
vendam a casa, sugerindo que um dia, um de seus filhos possa comprar as
partes dos outros, de modo que a chácara passe dos filhos aos netos.
Por outro lado, podemos testemunhar a religiosidade de Silva Maia, ao
recomendar que seu enterro fosse feito conforme a vontade de D. Anna Rita,
porém sem pompa e com toda a simplicidade, no cortejo e no caixão. E mais:
No dia de meu falecimento e nos seguintes se celebrarão no Convento dos
Religiosos de Santo Antonio vinte missas de espórtula de um mil-réis cada
por minh’alma e vinte da mesma espórtula por alma de meus pais.29
Finalmente, Silva Maia roga pela eterna união e harmonia entre os
filhos e acrescenta aos herdeiros:
Lembro-lhes que se não pude deixar-lhes grande fortuna, tenho
consciência de deixar um nome honrado e que alguns serviços fez às
Letras e Ciências do Brasil, sua mui querida Pátria.30

1.3 Elogios históricos: um exercício de exaltação


O nome do nosso consórcio já está escrito na História
Contemporânea do Brasil com letras vivas e brilhantes, que a gratidão nacional não deixará
apagar-se nunca ...

Joaquim Manoel de Macedo, 1859

Nas Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a


presença de Silva Maia faz-se sentir principalmente na forma de “elogios”
compostos por seus confrades, entre os quais se destacou a publicação de um
discurso de Joaquim Manoel de Macedo31, em louvor à sua vida e obra, logo
após seu falecimento.
Macedo foi jornalista, professor, romancista, teatrólogo e
memorialista, nascido em 1820 no Rio de Janeiro. Graduado em Medicina

29 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Inventário Post Mortem de Emílio Joaquim


da Silva Maia. Fls. 5
30 Ibidem. fls. 5.
31 MACEDO, Joaquim Manoel de. “Discurso do Orador do Instituto Histórico o Sr.
Dr. Joaquim Manoel de Macedo”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro. Rio de Janeiro, t. 22 [1859], 1973. p. 704-712.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 81


Lúcia Garcia

pela Faculdade do Rio de Janeiro, no ano da formatura (1844) publicou A


Moreninha, que lhe deu fama instantânea e constituiu uma pequena
revolução literária, inaugurando a voga do romance nacional. Abandonando
a Medicina, em 1849 tornou-se professor de História e Geografia do Imperial
Colégio Pedro II, onde permaneceu até 1870. Muito ligado à Família
Imperial, Macedo lecionou para os filhos da Princesa Isabel e foi também
membro muito ativo do IHGB a partir de 1845 32.
Vale registrar a amizade entre Silva Maia e Joaquim Manoel de
Macedo enquanto colegas de docência no Imperial Colégio Pedro II e sócios
do Instituto Histórico. Partilhavam o mesmo universo intelectual em espaços
perfeitamente inseridos no projeto imperial de construção da memória
nacional e de formação do bom cidadão nos moldes da Europa civilizada.
Joaquim Manoel de Macedo em seu elogio chegou a mencionar o
papel do IHGB como guardião da História (que se construía neste momento)
e de seus vultos:
O Instituto Histórico e Geográfico do Brasil reconhece que pela própria
natureza dos fins que presidiram a sua organização, é um dos seus mais
sérios e imprescritíveis deveres o pagamento desse generoso tributo
devido aos varões ilustres que a morte vai roubando ao país; coligindo e
publicando as biografias de cada um deles, vai recomendando os nomes e
os feitos dos beneméritos ao tribunal da posteridade, que os deve julgar
em última instância, marcando o lugar que lhe compete na galeria da
história [...] 33

Ao recordar o benemérito, Macedo acrescentou que o nome do Dr.


Maia não se ouvia repetir nas lutas ardentes dos comícios públicos, nem nos
certames arrebatados da imprensa política, o que reforça a idéia da isenção
de Maia em relação às agitações políticas da época. Segundo Macedo, sua
esfera de atuação foi mais modesta, porém mais vasta e serena.
Quem o buscava ia à seara do sábio, e tinha a certeza de achar o
constante e desvelado lavrador manejando o arado da Ciência. Este fato
demonstra só por si o natural e invencível amor que o nosso consórcio

32 CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos.


Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. v. 2. p. 97-101.
33 MACEDO, Joaquim Manoel de. Op. cit. p. 706.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

tributava às Letras e às Ciências. 34

Ainda sobre o assunto, Joaquim Manoel de Macedo diz: voltou as


costas ao mundo político, não se deixou arrebatar pelos sonhos das
grandezas sociais; preferiu aos comícios as sociedades literárias, à carreira
administrativa e política o exercício da Medicina.
Macedo, no entanto, indica dois aspectos da trajetória de Silva Maia,
que merecem destaque: o papel desempenhado junto ao ensino da mocidade,
destacando sua importância como educador; e como médico hábil e caridoso,
como o verdadeiro médico católico que junta a aplicação do medicamento
que deve curar o corpo à consolação que chega à alma do enfermo.
Finalmente, destacou a grande consideração que Silva Maia possuía
junto aos literatos e sábios, dizendo que no Brasil quase todas as sociedades
literárias e científicas o contavam como confrade. O IHGB, segundo Macedo,
o tinha como um de seus membros fundadores e um dos seus mais
prestimosos e infatigáveis sócios.
Outro discurso que reforça todas as características citadas foi
proferido em 21 de novembro de 1859, no Cemitério de São Francisco de
Paula, Rio de Janeiro, na ocasião de seu sepultamento, pelo Dr. Luiz Vicente
De Simoni, Secretário-Geral da Academia Imperial de Medicina 35.
Dr. Maia e Dr. De Simoni privaram de uma longa amizade, reforçada
pelos encontros no Imperial Colégio Pedro II, onde lecionavam, e na
Academia Imperial de Medicina, da qual Silva Maia foi membro titular e
depois honorário.
Dr. De Simoni ressaltou os muitos trabalhos científicos deixados por
Silva Maia, lembrando seu alcance social, moral e político, como o que se
refere à amamentação e outro sobre os inconvenientes do corte das matas.

34 Idem. Ibidem. p. 707.


35 “Discurso recitado em 21 de novembro de 1859 no cemitério de São Francisco de
Paula na ocasião de se darem à sepultura os restos mortais do Dr. Emílio Joaquim
da Silva Maia, membro honorário da Academia Imperial de Medicina e professor
de História Natural do Imperial Colégio Pedro II, etc., pelo Dr. Luiz Vicente De Si-
moni, Secretário Geral da dita Academia”. In: Annaes Brasilienses de Medicina.
13o ano, v. 13. 10 de dezembro de 1859, p. 208-210.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 83


Lúcia Garcia

De Simoni afirmou que Dr. Emílio Maia foi um dos médicos mais
conceituados entre o povo desta cidade, um dos acadêmicos mais ativos, um
dos professores catedráticos mais zelosos, e que como tal, fez na carreira da
sua vida social e científica serviços muito notáveis; quer à Humanidade,
quer ao Estado [...] 36.
Evaristo Nunes Pires37 também dedicou um elogio póstumo a Emílio
Joaquim da Silva Maia. Pires o recordou como intelectual, o mérito que
obteve junto às Sociedades Científicas do século XIX e o legado deixado às
Letras no Brasil. Conta ainda que, um ano após formar-se, Silva Maia recebeu
o título de membro da Sociedade de Ciências Naturais da França em sessão
presidida por Geoffrey de Saint Hilaire; bem como, pouco depois, merecera
um brinde de S.M. o rei de Nápoles, como agradecimento pela generosa
oferta de uma pequena, porém importante, coleção ornitológica.
Nunes enumera as instituições literárias e científicas das quais Emílio
Maia foi colaborador e sócio, ressaltando ter sido fundador do Gymnasio
Brasileiro, em 1858, e da Academia Philosophica, associação literária que
funcionou na Corte do Rio de Janeiro durante um quatriênio composta, em
sua maioria, por discípulos do Dr. Maia. Além disso, lembra também de seu
trabalho na elaboração de biografias de figuras ilustres, fato que foi recordado
por Januário da Cunha Barbosa no discurso inaugural do IHGB, ao dizer que
Maia havia coligido elementos para o importante monumento literário da
biografia de brasileiros célebres. Cabe acrescentar que Silva Maia produziu
as biografias do Dr. José Pinto de Azevedo, Dr. Manoel Joaquim Henriques
de Paiva – médico e farmacêutico da Bahia – e de José Bonifácio de Andrada
e Silva, de quem, segundo Evaristo Nunes, era íntimo amigo.
Sobre as honrarias recebidas em vida, Nunes recorda a ocasião em que
Dr. Maia foi condecorado pela Rainha de Portugal com o hábito da Ordem de
Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa, e de quando foi condecorado
pelo Imperador do Brasil com a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Tratavam-se de tradicionais ordens militares intensamente usadas pelos
monarcas como remuneração dos mais variados serviços. Essas distinções
acentuavam a hierarquia entre os nobres numa época de inflação de honras e
de crescentes apelos à igualdade perante a lei.

36 Idem. Ibidem. p. 209


37 PIRES, Evaristo Nunes. Op. cit. p. 28-32.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Foi também Evaristo Nunes quem forneceu a descrição mais detalhada


e sensível sobre a morte de Silva Maia. Conta que, às onze horas da manhã do
dia 21 de novembro de 1859, ouvindo sentado uma leitura a que procedia o
filho que constantemente o acompanhara e, recostando-se à digníssima
esposa que então, sobre o leito, junto dele se achava, súbito exalou o
derradeiro alento. Dormiu, para sempre, o sono do justo 38.
Revelada um pouco da história de vida de Silva Maia e da memória
constituída a seu respeito por meio de elogios históricos escritos no seio de
três instituições científicas, que ajudou a fundar, e pelas quais trabalhou
durante parte de sua vida: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a
Academia Imperial de Medicina e o Imperial Colégio Pedro II, passemos a
nos deter sobre o trabalho intelectual desenvolvido pelo médico no interior
dessas instituições.

38 Idem. Ibidem. p. 32.

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Lúcia Garcia

AS INSTITUIÇÕES CIENTÍFICAS E A PRODUÇÃO


INTELECTUAL DE EMÍLIO JOAQUIM DA SILVA MAIA NO
IMPÉRIO DO BRASIL

2.1 Silva Maia: um típico exemplo de intelectual ilustrado


No século XVIII, a Ilustração desempenhou papel fundamental em um
momento de transição entre a sociedade do Antigo Regime e a Europa
secularizada. Ao contestar os antigos valores sociais e políticos, as idéias
ilustradas estenderam seu império a todos os domínios, substituindo os
princípios da autoridade e da tradição pelo arcabouço moral da razão com o
qual a elite intelectual adquiria consciência de seu lugar no mundo e definia
seu novo papel. Homens pragmáticos, preocupados com a realidade
cotidiana, passaram a distinguir-se como um grupo, cujo critério de ingresso
não era definido em termos de origem social ou institucional, mas puramente
intelectual 39.
Também em Portugal, os Setecentos assistiram, no plano das idéias, a
uma renovação desse tipo. As reformas empreendidas por D. José I,
personificadas no ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de
Pombal, estenderam-se às instituições educacionais, sobretudo no nível do
ensino superior, com o novo estatuto da Universidade de Coimbra (1772).
Assim, atualizada com o espírito do século das Luzes, a Universidade passou
a servir como principal instrumento de homogeneização de valores e padrões
de comportamento dos indivíduos que pertenciam à elite e que se destinavam
a preencher os cargos-chave da administração. Nesse período, ganhou
consistência a percepção da cultura como instrumento de ação do Estado,
característica do absolutismo esclarecido, como indica a criação da Academia
Real de Ciências, fundada em Lisboa em 1779, voltada para a glória e para o
progresso da instrução nacional, das ciências e das artes. No final do século
XVIII e início do Oitocentos, a Academia assumiu um papel decisivo como
instância de consagração para os intelectuais que saíam da Universidade de
Coimbra, inclusive para aqueles nascidos no Brasil.
39 NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. “Intelectuais Brasileiros nos Oitocentos:
a constituição de uma “família” sob a proteção do poder imperial (1821-1838)”. In:
PRADO, Maria Emília (org.). O Estado como Vocação. Rio de Janeiro: Access
Editora, 1999. p. 9-32.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

A regência de D. João, a partir de 1792, colaborou com o espírito


reformista na medida em que D. Rodrigo de Souza Coutinho, Secretário da
Marinha e Ultramar a partir de 1796, preocupou-se em reunir à sua volta um
círculo de intelectuais brasileiros, cuja presença nas funções públicas do
Estado português nos últimos anos do século XVIII tornou-se cada vez mais
evidente. Dentre eles, podemos destacar nomes como José Bonifácio de
Andrada e Silva e Hipólito José da Costa. Esses e outros homens provenientes
de segmentos sociais diferentes estabeleceram um círculo de intelectuais e
inauguraram a prática da discussão permanente de idéias sobre a necessidade
de renovação das instituições políticas, sociais e econômicas do mundo
luso-brasileiro. Esses ilustrados partilhavam valores e atitudes comuns que se
manifestavam por meio das palavras, dos gestos e dos ritos, em resumo, por
meio de uma cultura política específica40.
No seio dessa nova cultura política, eles acreditavam que o meio para
atingir seus objetivos consistia na adoção de medidas de caráter cultural e,
particularmente, pedagógico. No entendimento de Lúcia Bastos Pereira das
Neves, esses intelectuais constituíram uma vanguarda no final dos Setecentos
que veio a ter uma atuação não só no momento da Independência do Brasil,
mas também na época da construção do Império Brasileiro, e passaram a
formar, num sentido amplo, uma família de intelectuais.
No Brasil, com a constituição do novo Império a partir de 1822, a
presença desses intelectuais – entre os quais, Silva Maia – adquiriu uma outra
dimensão, posto que auxiliavam na construção do projeto político a ser
instaurado, através de sua atuação no interior das sociedades científicas e de
saber.
As discussões em torno do projeto político imperial a ser
implementado trouxeram à tona divergências e rivalidades entre os membros
do grupo letrado. De um lado, os que defendiam posturas mais radicais,
reconhecendo D. Pedro como um chefe escolhido pelo povo e subordinado a
seus representantes – era o grupo brasiliense. De outro, a elite coimbrã – da
qual Silva Maia era tributário – que, homogeneizada por um ideal
reformador, identificava-se muito mais com a idéia de um império
luso-brasileiro, simpatizando com um liberalismo moderado que conservava
a figura do rei como representante da nação, como um direito legalmente

40 Id.Ibidem. p. 15.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 87


Lúcia Garcia

herdado através da dinastia. Estes dois grupos, na ausência de um campo


intelectual autônomo, necessitavam da proteção do soberano para manter
suas carreiras que despontavam à sombra da vida da Corte.41
Apesar de politicamente independente, a nação brasileira buscava uma
definição. A civilização se fazia representar por uma elite intelectual que se
formara inicialmente na Universidade de Coimbra e, depois, nas Faculdades
de Direito ou Medicina, de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
Assim, a organização do novo Império tornava indispensável o recurso às
Luzes da elite intelectual.
Como prova desse caráter pragmático da Ilustração Luso-Brasileira, a
produção literária da primeira metade do Oitocentos – incluindo a produção
intelectual do Dr. Maia – voltou-se, em particular, para os conhecimentos que
pudessem promover o progresso sob a forma de memórias e de outras obras
então enquadradas na categoria de “ciências e artes”.
A educação era vista como um instrumento fundamental para difundir
a civilização e o progresso. Assim, a fim de delinear a identidade nacional
brasileira, foi criado em 2 de dezembro de 1837, o Imperial Colégio Pedro II,
que pretendia preparar o aluno para o comércio, a indústria e a administração
pública, além de formar o bom cidadão, capaz de respeitar as leis e instruções,
e de promover o desenvolvimento do país. Refletia, portanto, a consciência
da elite letrada como componente essencial para o progresso e consolidação
da nação. A fundação do Imperial Colégio Pedro II evidenciava ainda a
importância de cuidar, naquele momento, da homogeneização da própria
elite. Seus alunos provinham, em sua maioria, das famílias da aristocracia
rural e dos comerciantes da cidade, que forneciam os quadros da elite política.
Devemos destacar que o próprio neto do imperador Pedro II, anos mais tarde,
foi confiado aos cuidados da instituição42. Como afirmou Lília Schwarcz, o
Colégio Pedro II transformou-se na “glória do nosso ensino”,
constituindo-se, de um lado, uma espécie de “símbolo de civilidade” e, de
outro, de pertencimento a uma elite.43

41 Id.Ibidem.
42 NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das e MACHADO, Humberto. O Império do
Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 260.
43 SCHWARCZ, Lília M. As barbas do Imperador. D. Pedro II, um monarca nos
trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 150-151.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Emílio Joaquim da Silva Maia foi professor de História Natural do


Imperial Colégio Pedro II entre 1838 e 1859, auxiliando, portanto, nesse
projeto de civilizar o país.
O Império do Brasil não poderia também prescindir de um instrumento
capaz de preservar a memória nacional. E, a 21 de outubro de 1838, foi criado
o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, conhecido por seus
idealizadores como o guardião dos documentos necessários para a História e
a Geografia nacionais. O Instituto Histórico pretendia difundir o
conhecimento do país e, dessa forma, contribuir para precisar sua identidade.
Alguns assuntos decisivos para a construção da idéia de nação passaram a ser
discutidos nas sessões do IHGB, tornando-o um importante espaço de
sociabilidade para os setores da elite44.
Conforme afirma Lúcia Maria Paschoal Guimarães45, em sua Relação
dos fundadores do IHGB (ver anexo, quadro 2), figura o nome de Silva Maia,
entre tantos outros intelectuais que viam na “Casa da Memória Nacional” a
possibilidade de escrever a História do Brasil por meio de suas contribuições.
A Academia Imperial de Medicina foi outro privilegiado espaço de
sociabilidade freqüentado por Silva Maia. Em 28 de maio de 1828 foram
lançadas as bases para a criação de uma associação médico-literária,
inspirada no modelo da Academia de Medicina de Paris, denominada
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, com dezessete membros
fundadores e natos. Seu objetivo era ocupar-se de todos os objetos que
pudessem contribuir para o desenvolvimento da arte de curar, além de
elaborar pareceres sobre a higiene pública e assistir às autoridades em relação
ao saneamento e à saúde da população. Por decreto da Regência Imperial de 8
de maio de 1835, a Sociedade transformou-se em Academia Imperial de
Medicina, sendo reconhecida como instância oficial e especializada para a
consulta das autoridades em matéria de saúde pública, em especial nos
assuntos relacionados a epidemias, moléstias de certos países e o

44 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. “Debaixo da imediata proteção imperial: o


Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1838-1889”. Revista do Instituto His-
tórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, t. 156, v. 388, jul./set. 1995. Lilia
M. Schwarcz. As barbas do Imperador ... p. 126-130.
45 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. “O ‘Tribunal da Posteridade’. In: PRADO,
Maria Emília (org.). O Estado como vocação. Rio de Janeiro: Access Editora,
1999. p. 33-57. p. 38.

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Lúcia Garcia

desenvolvimento de vacinas e de remédios novos ou secretos 46. Emílio


Joaquim da Silva Maia foi empossado na Academia Imperial de Medicina a
12 de julho de 1834, um ano após formar-se pela Universidade de Paris,
quando passou a desfrutar da convivência de figuras importantes da época,
como José Francisco Xavier Sigaud, médico francês e editor científico, que
lançou o primeiro periódico médico no Brasil – O Propagador das Ciências
Médicas ou Anais de Medicina, Cirurgia e Farmácia – e o livro Sobre o clima
e as doenças do Brasil na estatística médica do Império (1844), considerado
o mais completo documentário sobre a medicina brasileira antiga; o já
mencionado, Luiz Vicente De Simoni; e Francisco Freire Allemão,
naturalista brasileiro, fundador da Sociedade Vellosiana de Ciências Naturais
e médico da Imperial Câmara47.
Silva Maia, nestas e em outras instituições científicas da primeira
metade do século XIX, atuou de modo pragmático, seja ocupando funções
administrativas no interior das mesmas, seja através de sua produção escrita,
publicada em periódicos da época, tais como os Anais da Academia Imperial
de Medicina e Revista da Sociedade Vellosiana, seja nas publicações de seus
trabalhos científicos, editados pela imprensa do período, a exemplo da
Minerva Brasiliense. Em seus artigos e discursos, versava sobre os mais
variados temas ligados à Medicina, Ciências Naturais e História, exaltando
personagens emblemáticas, grandes vultos e seus feitos; demonstrando uma
clara intenção em traçar uma fisionomia para essa nação. Seu fazer
intelectual, que adaptava as Luzes européias ao pragmatismo no Brasil,
estava comprometido com a gênese da nacionalidade brasileira.
2.2. Um intelectual infatigável
Não eram poucas as habilidades desse médico e intelectual que, tão
logo retornou ao Rio de Janeiro, deu início a uma trajetória junto a
instituições científicas e de saber do Império. Examinando o quadro relativo à
produção intelectual de Emílio Joaquim da Silva Maia (ver anexo, quadro

46 “Academia Imperial de Medicina”. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.) Dicionário do


Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 23-24.
47 Para Sigaud, ver “Academia Imperial de Medicina”. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.)
Dicionário do Brasil Imperial.... p. 23-24. Para Alemão, cf. Francisco Freire Ale-
mão. In: Id. Ibid. p. 290-1.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

1)48, percebemos que deixou contribuições significativas, sobretudo no


campo das Ciências Naturais, Medicina e História.
Ainda que atuando com maior ênfase em algumas sociedades de
Ciência, vejamos a partir de Araújo Feio49os títulos recebidos por Silva Maia
em decorrência de sua atividade intelectual:

1. Bacharel pela Universidade de Coimbra. 1828.


2. Doutor em Medicina – Universidade de Paris. 1833.
3. Professor de Matemática, Lente Catedrático de Zoologia e Médico do
Imperial Colégio Pedro II.
4. Diretor da Seção de Anatomia Comparada e Zoologia do Museu Nacional.
5. Cavalheiro da Ordem de Cristo.
6. Cavalheiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa-Viçosa.
7. Membro Honorário da Academia Imperial de Medicina e da Academia
Filosófica.
8. Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
9. Membro da Sociedade Vellosiana.
10. Membro da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
11. Membro correspondente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa.
12. Membro correspondente da Sociedade de Ciências Naturais da França.
13. Membro da Sociedade dos Antiquários do Norte.
14. Membro do Instituto Literário da Bahia.
15. Membro fundador do Ginásio Brasileiro.
16. Secretário do Museu Nacional.

48 Para a elaboração do referido quadro, tomamos como referência as informações


de José Lacerda de Araújo Feio. O Museu Nacional e o Dr. Emílio Joaquim da Sil-
va Maia. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, Museu Nacional, 1960. p 16-18,
acerca da produção intelectual de Silva Maia.
49 FEIO, José Lacerda de Araújo. Op. cit. p. 16.

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17. Secretário da Sociedade de Medicina.


18. Secretário Perpétuo da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
19. Membro da Câmara Municipal do Rio de Janeiro entre 1841 e 1844.
20. Redator das revistas Minerva Brasiliense, Médica Fluminense e Anais da
Câmara Municipal do Rio de Janeiro50.
A respeito da atuação do Dr. Maia no interior de algumas instituições
na primeira metade do século XIX, podemos destacar, inicialmente, seu papel
enquanto membro fundador da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
Criada em 28 de fevereiro de 1827, tinha como objetivo desenvolver a
agricultura, lavoura e pecuária do país. Onze anos mais tarde, partiu de seus
integrantes a idéia da criação de outra sociedade científica que, desta vez, se
ocupasse com o desenvolvimento dos estudos históricos e geográficos: o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro51.
No âmbito das Ciências Naturais, de 1842 a 1859, Silva Maia foi o
primeiro Diretor da Seção de Anatomia Comparada e Zoologia do Museu
Nacional, criado pelo decreto de 6 de junho de 1816 por D. João VI, com a
denominação de Museu Real. Este Museu era o importante centro da ciência e
da cultura na Corte do Rio de Janeiro, mantendo estreitos vínculos com a
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, o IHGB e as escolas de
Medicina e Militar. Sua proposta era implementar projetos de pesquisa e
ensino nas ciências naturais.
Segundo Araújo Feio52, a denominação de Seção de Anatomia
Comparada e Zoologia criada em 1842 com a reforma do Museu deve ter sido
sugestão do próprio Silva Maia, influenciado por seus estudos de Medicina
na França.
A respeito do significado do Museu Nacional para o Brasil Império,
vejamos os trechos do relatório elaborado por seu Diretor-Geral, Frei
Custódio Alves Serrão, em 1844, sobre a redução de recursos financeiros
imposta pela Coroa:
50 Paralelamente a todas essas atividades, Silva Maia exercia a Medicina, no Largo
do Capim, nº. 79, Rio de Janeiro. Cf. Almanak Laemmert. 1844, p. 211. “Índice de
Médicos e Cirurgiões”.
51 Sobre a função do IHGB como Guardião da Memória Nacional e seu papel na
construção da História Pátria, nos debruçaremos mais adiante.
52 FEIO, José Lacerda de Araújo. Op. cit. p. 6.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

O Museu Nacional é hoje dos mais ricos objetos de História Natural, e


esta asserção se acha corroborada pela comparação dos catálogos de
outros museus, e pela autoridade de príncipes e sábios que o tem
visitado.[...]
Se as bibliotecas são o depósito do mundo intelectual e dos documentos
que encerram a vida da humanidade em todos os seus períodos; os
museus como as bibliotecas resumem o mundo material e seus
exemplares, atestando-lhes as modificações, servem de medalhas da
natureza para revelar a história e revoluções do globo.[...]
A utilidade do nosso Museu ainda não está perfeitamente sentida no seio
da Representação Nacional, nem grande parte de nossos administradores
tem reconhecido a benéfica influência de semelhantes estabelecimentos.
[...]
Se não fora a esperança de que em tempo seriam devidamente apreciados
pelos seus esforços pelo Governo de uma nação ilustrada, e pelo monarca
que desde sua infância tão grande parte tem tomado na cultura das
ciências de certo, o conselho não se teria sujeitado à semelhante redução
(dos recursos), [...] no que diz respeito aos diretores porquanto desde
logo deixou ver [...] e pede permissão para declarar [...]
que julga antes servir gratuitamente [...] do que receber como paga [...]
um honorário menor ainda do que o salário de um jornaleiro.
Museu Nacional, 16 de março de 1844. – Fr. Custódio Alves Serrão
Presidente do Conselho – Emílio Joaquim da Silva Maia, Secretário.53

Segundo Araújo Feio, tamanha foi a decepção de Custódio Serrão, que


acabou por adoecer, assumindo Silva Maia, então secretário, a Direção Geral
do Museu em 1844 até ser substituído em 1847, por Dr. Frederico Leopoldo
César Burlamaqui. Em sua administração, Silva Maia recebeu do Gabinete de
História Natural, que se formara no Maranhão, uma coleção de cento e trinta e
nove produtos zoológicos, a par de tantos outros, que foram incorporados à
Seção de Zoologia. Sobre o material encontrado e estudado, Silva Maia relata
em 185154:

53 FEIO, José Lacerda de Araújo Op. cit. P. 10.


54 Ibdem. P. 11.

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Citando somente a seção zoológica, diremos que foi por esta ocasião que
ela pela primeira vez obteve grande número de raridades e novidades.
Tais foram entre outras muitas, o magnífico exemplar do tamanduá
bandeira (myrmecophaga jubata L.) oferecido por Sua Majestade o Sr. D.
Pedro II; as preciosas peles de macacos brasileiros (brachirus incognitus
nobis) do Alto Amazonas, desconhecido na Europa [...] e as espécies
também do Pará (callithrix amicta epersonata) bastante raras ainda que
descritas por Spix; as importantes e belas peles de pássaros, o útil
guaxaro de Caripi (Steatornis caripensis Humb.), o célebre condor
(vultur gryphus L.), o curioso urubu do Egito (percnopteres
leucocephalius Gm.), e as que vieram dos sertões do Pará, o araçari
mulato (pteroglossus ulocomus Gould) pouco vulgar nas coleções
européias, e o admirável uiramemby (cephalopterus ornatus Geoff), que
em todo o mundo só o Museu de Paris tinha um exemplar em 1834 [...]

Encontramos nesse relato o Emílio Maia cientista que contribuiu ao


longo de dezoito anos para a afirmação de uma Ciência Nacional no Brasil
Império, como Diretor do Museu Nacional. Destacamos que, ao longo da
primeira metade do século XIX, a natureza da ciência no Brasil prendia-se,
sobretudo, à atividade exercida nos gabinetes de trabalho de instituições
como academias e museus. Foi através destas instituições que a ciência
construiu um lugar na sociedade, institucionalizando-se e
profissionalizando-se sem contar com uma política de apoio decisivo do
poder oficial. Paulatinamente, a ciência tornava-se cada vez mais utilitária e
mais voltada para o melhoramento da própria condição humana.
Ainda na seara das ciências naturais, em 1850 Silva Maia foi
incorporado ao quadro de Sócios Efetivos da Sociedade Velosiana de
Ciências Naturais, criada com o objetivo de inventariar os objetos
pertencentes à História Natural no Brasil, além de averiguar e interpretar as
palavras indígenas com que foram designados55. A denominação Velosiana
foi uma homenagem ao naturalista Frei José Mariano da Conceição Veloso
(1741-1811), autor da obra Flora Fluminensis, resultado de investigações
científicas realizadas pela Província do Rio de Janeiro durante oito anos, a
pedido do vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza, mas somente publicada

55 Cf. para esses dados Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no


Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz –
(http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br).

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

entre 1825 e 1827. Em meados do Oitocentos, quando as Ciências Naturais


no Brasil começaram a conquistar notoriedade, Veloso passou a ser
reconhecido como um dos mais importantes naturalistas brasileiros do século
XVIII embora, no final do século XIX, sua obra tenha sofrido críticas de
Ladislau Neto, diretor do Museu Nacional entre 1876 e 1893, que apontou
imprecisões nas gravuras, nas nomeações das espécies e desatualização das
nomenclaturas. O nome da Sociedade seria questionado na época por alguns
membros da elite imperial que não consideravam Frei José Mariano da
Conceição Veloso digno desse prestígio56.
Em 1851, lotado na Seção de Zoologia da referida Sociedade, coube a
Dr. Maia, juntamente com Guilherme Schüch de Capanema e Ignácio José
Malta, escrever a história das tentativas feitas no Brasil para a criação de
estabelecimentos científicos de História Natural. Propunham-se ainda
sistematizar a história da natureza do país e de suas próprias contribuições
científicas a essa história.
A dedicação de Silva Maia às sociedades científicas refletiu-se nos
diversos trabalhos e discursos publicados. A título de exemplo, no âmbito dos
estudos de Zoologia, temos a “Memória sobre os beija-flores, onde se referem
os usos e hábitos de muitas espécies brasileiras, observados e escritos”57. Esse
trabalho, publicado no periódico Minerva Brasiliense e ainda no Jornal da
Sociedade Velosiana, demonstrava o interesse específico de Silva Maia por
essa espécie de pássaro. Na seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional
encontramos ainda o Catálogo de uma coleção de beija-flores, de sua autoria,
o que reforça o interesse pelo tema. Costumava-se dizer que escolheu morar
na Rua do Bispo, região menos urbanizada da cidade, para observar melhor
os pássaros58.

56 LOPES, Maria Margareth. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as


ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997.
57 Cf. Emílio Joaquim da Silva Maia. “Memória sobre os beija flores onde se refere
os usos e hábitos de muitas espécies brasileiras”. In: Trabalhos da Sociedade Vel-
losiana. Relatório dos trabalhos da Sociedade Vellosiana no ano de 1850. Rio de
Janeiro. Bibliotheca Guanabarense.
58 KURY, Lorelai. “Ciência e Nação: Romantismo e História Natural na obra de E.
J. da Silva Maia” In: História, Ciência , Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 2,
jul.-out.1998. p. 274.

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Lúcia Garcia

A atuação de Silva Maia na Academia Imperial de Medicina e seu


empenho nas pesquisas de temas relacionados à saúde pública podem ser
avaliados a partir de um estudo especialmente curioso publicado na Revista
Médica Fluminense: Ensaio sobre os perigos à que estão sujeitos os meninos,
quando não são amamentados por suas próprias mães59. O estudo foi
apresentado como tese inaugural quando Silva Maia recebeu o grau de
Doutor em Medicina pela Universidade de Paris em 1833. Revisado,
ampliado e publicado naquela Revista em 1834, constitui-se em uma crítica
contundente a uma prática verificada desde o remoto período colonial e
constatada ainda nos tempos em que o Brasil já era politicamente
independente. A crítica remontava a outros autores, em especial a Rousseau,
que, no clássico Emílio, condenava a prática das amas-de-leite, cujos maus
hábitos poderiam influenciar a índole do futuro cidadão em sociedade. Nas
palavras de Silva Maia:
... apesar da experiência quotidiana nos provar a veracidade desta
proposição, apesar dela ter sido muitas vezes enunciada e defendida pelo
profundo Loche, o eloqüente J. J. Rousseau, o rígido D’Alembert [...] e
outros grande filósofos, contudo ela não tem recebido toda a aplicação de
que era sucetível 60.
Nos principais periódicos brasileiros, em especial antes de 1850, eram
comuns anúncios de senhores alugando escravas que tinham perdido as suas
crias, oferecendo o seu leite para os filhos das “mães de família”. Além de
muitas mucamas que deixavam de alimentar seus próprios bebês para
dedicar-se aos filhos dos senhores, almejando uma eventual alforria como
prêmio. A partir de meados do século XIX, o discurso médico-sanitarista
começou a valorizar o aleitamento materno como forma de prevenir doenças
e transmitir os valores culturais da mãe. As teorias raciais, disseminadas pelos
jornais e outros impressos, criticavam a amamentação “mercenária” porque
viciaria a criança ao introjetar hábitos e costumes africanos.

59 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Ensaio sobre os perigos a que estão sujeitos os
meninos quando não são amamentados por suas próprias mães. Apresentado na
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, na sessão de 18 de junho de 1834. Rio de
Janeiro: Impresso na Tipografia de R. Ogier, 1834.
60 Id. ibid. p. 8. Silva Maia era um admirador de Rousseau, devendo-se lembrar que
todos os seus filhos e filhas possuíam o nome de Emílio/Emília. Não sendo este
nome comum à época, à guisa de hipótese, poderíamos sugerir ser uma homena-
gem à obra Emílio, desse autor.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Essa crítica remontava a séculos anteriores, porém, ao longo do


Oitocentos, o discurso ganhou força diante do avanço nos estudos da Ciência
e da Medicina e, também, em face da necessidade de civilizar a nação. Assim,
era inadmissível que na sociedade imperial ainda se fizesse uso das
“amas-de-leite”, cuja existência se encontrava arraigada no seio da sociedade
e da cultura do século XIX.
Para o douto Silva Maia, era antinatural, desumano e pernicioso ao
Brasil que as mães deixassem de amamentar seus filhos. Afirmava que
crianças amamentadas pelas próprias mães eram mais robustas e
apresentavam mortandade menor porque as amas-de-leite eram em geral
negras africanas, brutas e infectadas de moléstias que traziam de seu país.
Segundo ele, esse bárbaro costume era decisivo na despopulação dos
Estados visto que, em face da constituição física das amas-de-leite, era
comum a proliferação de doenças que levavam bebês à morte, vítimas de
indigestão, inflamações no estômago e vermes intestinais. Era preciso, por
conseguinte, que as mães se conscientizassem de que o círculo dos deveres
maternos não terminava com o parto e que o leite materno seria aquele mais
conveniente para as crianças, por ter sido preparado pela natureza com as
qualidades necessárias.
Os infortúnios gerados pelas amas-de-leite eram incalculáveis
segundo o médico, uma vez que eram causados, inicialmente, pela ignorância
das amas e citava o caso de uma criança atacada por uma gastroenterite aguda
porque sua ama o alimentava exageradamente com papa de banana.
Para o médico, outros perigos estavam ainda associados à constituição
física dessas mulheres:
[...] o leite de uma outra mulher deve sempre possuir qualidades
diferentes e muitas vezes diametralmente opostas às da mãe, pois, a
diferença de alimentos, a diferença algumas vezes do ar que respiram e
seus hábitos particulares [...] devem muito influir sobre esta secreção.
Haveria ainda um fator de ordem moral determinante, como explicava
Dr. Maia:
[...] um menino que desde tenra idade vai aprendendo tudo por imitação,
se tiver a desgraça de ter uma ama de péssimos costumes e de paixões
fortes [...] pouco a pouco irá adquirindo os maus costumes desta mulher
mercenária [...]

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Lúcia Garcia

Ainda na seara das reflexões médicas, encontramos nos Anais de


Medicina Brasiliense publicados em 1845, um discurso do Dr. Maia
apontando para o uso pernicioso da prática homeopática por pessoas
ignorantes no Brasil no século XIX 61. Segundo o médico, que estudara
Homeopatia em Paris, em 1833, era necessário chamar a atenção do Estado
sobre os imensos males acarretados à sociedade pelo exercício da Medicina
por indivíduos sem formação médica e que se apoiavam na prática
homeopática para cometerem verdadeiras atrocidades para com aqueles
doentes que lhes recorriam esperançosos. Diz Silva Maia:
[...] milhares de fatos já são conhecidos por onde claramente se vê, não só
que os intitulados homeopatas dão em doses alopáticas venenos de
primeira ordem, mas também que dão licenças para curar (com
escândalo das leis do país) a pessoas inteiramente leigas no estudo do
Homem 62.
Para validar seus argumentos citava um exemplo do que ocorreu com
Francisco de Santa Escolástica:
[...] natural desta Corte, tendo sido afetado há anos das febres de
Macacú, apesar de ficar então restabelecido, ficou sujeito a ter todos os
anos durante o verão pequenos acessos de febres intermitentes. No fim do
ano passado (1845) como de costume foi assaltado das febres e em lugar
de recorrer aos meios já empregados, consultou um dos emissários da
homeopatia (naturalmente algum sapateiro ou pintor com licença de
curar). Este dá-lhe a 1a dose, à cuja aplicação sobrevem-lhe fortes dores
de cabeça [...] e um mal estar muito incômodo por todo o corpo; já estava
resolvido a não querer mais saber de tal homeopatia, quando a sua má
sina faz-lhe de novo aparecer em sua casa o tal embusteiro: o pobre
enfermo descreve-lhe o estado desgraçado em que se achava [...] o
homeopata replica que isto era nada [...] e que com a 2a dose logo sentiria
alívios [...]; o infeliz dá ouvidos a estas enganadoras palavras, toma a 2a
dose do remédio (certamente um enérgico veneno); morre 24 horas
depois no meio das maiores aflições.63

61 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. “Discurso do Sr. Dr. Maia” In: Anais de Medici-
na Brasiliense. Jornal da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro redi-
gido pelo Dr. Francisco de Paula Candido. 1o ano, nº. 1. Rio de Janeiro: Tipogra-
fia Imparcial de Paula Brito, 1845. p. 461-467.
62 Ibdem. p. 463.
63 Ibdem. p. 464-5.

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Com este e outros exemplos mostrava os desvarios que se cometia com
o mau uso da Homeopatia no Brasil, lembrando a responsabilidade da
Academia Imperial de Medicina junto às autoridades para que tal prática
fosse extinta a fim de evitar outras mortes.
Em seus discursos e demais trabalhos, para além de temas científicos,
Dr. Maia também exaltava os talentos e os gênios da Terra de Santa Cruz,
como no Elogio Histórico ao ilustre José Bonifácio de Andrada e Silva64, lido
na sessão pública da Academia Imperial de Medicina, a 30 de junho de 1858.
A análise desse discurso evidencia a admiração que nutria por José
Bonifácio (1763-1838), cujo pensamento marcou o cenário político do século
XIX, sendo uma figura de referência no mundo luso-brasileiro. A partir de tal
discurso, verificamos algumas aproximações entre a trajetória do autor e a do
homenageado: herdeiros das Luzes, ambos tiveram formação européia assim
como partilharam o interesse comum pelas Ciências Naturais, vindo
pertencer a inúmeras Sociedades Científicas no Brasil e no exterior. Além
disso, deixaram um amplo legado de discursos e estudos político-científicos.
A iniciativa de Silva Maia em proferir tal discurso insere-se
perfeitamente em um projeto maior de construção da História Pátria, da nação
e de seus heróis, em que ambos foram, em escalas distintas, articuladores e
protagonistas. Por outro lado, essa lógica do elogio era característica das
instituições científicas e de saber no século XIX, locais privilegiados para a
construção das redes de sociabilidade.
Nesse Elogio Histórico, Silva Maia analisou um trabalho apresentado
por José Bonifácio à Constituinte, qual seja, a representação sobre a
escravidão. Tal estudo, segundo Maia, deveria ser consultado por todos os

64 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Elogio Histórico ao ilustre José Bonifácio de


Andrada e Silva lido na sessão pública da Academia Imperial de Medicina a 30 de
junho de 1858. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de F. P. de Brito, 1858.
Lúcia Garcia

nossos estadistas pelas idéias ótimas que contém a este respeito65. A crítica
andradina dizia respeito à irracionalidade dos métodos do trabalho escravo,
idéia que – pelo menos no papel – era defendida por Silva Maia. É digno de
nota o fato de que o discurso de Silva Maia a respeito da escravidão, nesse
elogio a José Bonifácio, apresentava alguns paradoxos com relação à sua
prática cotidiana e, até mesmo, em relação ao seu discurso médico-sanitarista.
Lembremos que Silva Maia manteve até sua morte um escravo doméstico em
idade produtiva, o que nos faz pensar que esta valorização da liberdade
individual como impulso ao progresso defendida inicialmente por Bonifácio
e reconhecida por Silva Maia possuía limites. Por outro lado, outra
ambigüidade pode ser verificada em seu trabalho médico em defesa do
aleitamento materno, quando demonstrou preconceito ao referir-se às amas
de leite como negras mercenárias, brutas e infectadas de moléstias: escravas
de vida mercenária.
Já que os elogios no Império nada mais eram do que troca de favores,
cabia ao autor enaltecer as ações e o pensamento do homenageado, mesmo
que para isso fosse necessário revelar suas próprias incongruências.
Através da análise do Elogio histórico, verificamos ainda que José
Bonifácio publicara, em 1815, um estudo acerca da necessidade do plantio de
novos bosques em Portugal66. Esse trabalho refletia-se na preocupação
explicitada por Silva Maia, vinte anos mais tarde, no Brasil, num texto sobre
os malefícios causados pelo corte das matas. Coincidência ou não, o fato foi
que, em 1835, Silva Maia publicou Males que tem produzido no Brasil o
corte das matas e os meios de os remediar67. No estudo, Emílio Joaquim
65 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Op. cit. p. 27. A representação de autoria de José
Bonifácio, mencionada por Silva Maia, intitula-se Representação à Assembléia
Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, sobre a Escravatura. Rio de
Janeiro: Reimpresso da Typographia de J.E.S. Cabral, 1840. Tal documento pode
ser consultado na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional do Rio de Janei-
ro.
66 SILVA, José Bonifácio de Andrada e. Memória sobre a necessidade e utilidade do
plantio de novos bosques em Portugal, particularmente de pinhais nos areais de
Beira Mar; seu método de sementeira, costeamento e administração. Lisboa: Na
Typographia da Academia Real das Ciências, 1815.
67 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Discurso sobre os males que tem produzido no
Brasil o corte das matas e sobre os meios de os remediar. Lido na sessão pública da
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, em 30 de junho de 1835. Rio de Janeiro:
Tipografia Fluminense de Brito e Cia. 1835.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

afirma que a insalubridade que grassava sobre o Império era reflexo da ação
destruidora do homem e um modo eficiente de remediar esse mal seria
conscientizar a população sobre a importância vital da natureza, de sua
preservação e de uma exploração racional.
Transitando entre a Medicina, as Ciências Naturais e Humanas,
encontrava-se Silva Maia. A diversidade de temas por ele tratados revela uma
postura inquieta diante da ordem de coisas estabelecida na primeira metade
do século XIX. Era preciso sanear o país, cuidar de sua natureza, civilizar a
população a partir dos moldes europeus, construir uma memória sobre os
grandes homens e registrar para as gerações futuras, a contribuição dos
mesmos para o engrandecimento da nação. Aliás, esse era um conceito que
ainda estava por adquirir contornos mais definidos. Era preciso moldar a
personalidade do Estado-nação no Brasil e, para tanto, as instituições
científicas, em especial o Imperial Colégio Pedro II e o IHGB, teriam um
papel fundamental.
Tratamos até agora da inserção de Silva Maia em algumas destas
instituições, entendendo-o como um ator político desse processo, herdeiro da
tradição ilustrada que, com seu pragmatismo, contribuía através da ação
intelectual para promover o progresso e o desenvolvimento do país.
Contudo, não analisamos ainda seu legado historiográfico, bem como
sua atuação como membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. A seguir, tentaremos entender seu projeto de nação e,
principalmente, por que a memória produzida a seu respeito obliterou a
produção de seus Estudos Históricos. Silva Maia é sempre lembrado por sua
atuação como Diretor do Museu Nacional, como professor do Imperial
Colégio Pedro II, enfim, como estudioso da Natureza. Qual seria a razão do
silêncio em torno de sua produção historiográfica? Por que seus Estudos
Históricos permaneceram inéditos? É justamente esta lacuna que esperamos
preencher, analisando o modo como compreendeu a História de Portugal e do
Brasil.

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Lúcia Garcia

UMA VERSÃO INÉDITA DA HISTÓRIA DE PORTUGAL E BRASIL:


OS ESTUDOS HISTÓRICOS DE SILVA MAIA

As Nações formam-se, prosperam e acabam à semelhança de qualquer ser orgânico;


assim como o ente vivo, nasce perfeito ou defeituoso, torna-se vigoroso ou fraco,
morre lenta ou rapidamente conforme muitas e variadas circunstâncias [...] do
mesmo modo os Estados começam, crescem, brilham e desaparecem segundo as
forças disponíveis[...]

Emílio Joaquim da Silva Maia. 1808-1859

3.1 O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a construção da


memória nacional
A 21 de outubro de 1838 era criado o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, concebido como o guardião dos documentos necessários para a
História e a Geografia nacionais.
Conforme afirma Lúcia Guimarães68 o IHGB, como passou a ser
conhecido, tinha como meta dotar o país recém-independente de um passado
adequado às pretensões da monarquia instaurada. Tratava-se, portanto, da
sustentação de um projeto político cuja consecução só seria viável graças a
uma militância intelectual homogênea marcada pela fidelidade ao regime.
Ao todo, vinte e sete personalidades reuniram-se para fundar o IHGB.
Provenientes de segmentos abastados em sua maioria, haviam concluído
cursos de nível superior na Europa e quinze deles desenvolviam atividades
junto à política. Nesse caso, Silva Maia era uma exceção.
Januário da Cunha Barbosa e Raimundo José da Cunha Matos foram
os principais proponentes da idéia de criação do Instituto e costumavam
destacar o caráter pedagógico do IHGB, capaz de “ministrar grandes auxílios
à administração pública e ao esclarecimento de todos os brasileiros”. Para
tanto, o Instituto devia, em conformidade com seu primeiro estatuto, reunir,
classificar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a história e a
geografia do Império do Brasil. Por outro lado, também era um de seus

68 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. “O ‘Tribunal da Posteridade’. In: Maria


Emília Prado (org.). O Estado como vocação. Rio de Janeiro: Access Editora,
1999. p. 33-57. p. 35.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

objetivos principais reunir na Corte os documentos espalhados pelas


Províncias, com o estímulo à criação de institutos históricos regionais.
Tratava-se de um projeto ambicioso sem dúvida e, a fim de divulgar os
resultados das ações e pesquisas dos sócios, bem como promover o
intercâmbio de informações com instituições congêneres, foi criada em 1839
a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicação
trimestral composta por documentos históricos, atividades da instituição e
trabalhos dos associados. A publicação trazia um rigor documental até então
desconhecido e, como afirma Lilia Schwarcz69, salta aos olhos a quantidade
de artigos sobre história colonial. Segundo a autora, essa tendência estaria
vinculada à concepção de história difundida no local que, interessada em
buscar eventos conformadores de uma identidade nacional, encontrava em
momentos remotos da história do país seus episódios ideais.
Nas sessões periódicas do Instituto discutiam-se assuntos decisivos
para a definição de um perfil para a nação. Foi nessas sessões que se
denunciou a falta de um compêndio para o ensino da história pátria, afinal, se
era fim precípuo do IHGB preservar a memória nacional, era preciso
construir uma história oficial que se dedicasse à exaltação e glória da pátria.
Nesse sentido, em 1840, foi lançado o concurso “Como se deve
escrever a História do Brasil”. O prêmio coube ao naturalista alemão Karl
Philipp Von Martius, cuja tese se centrava na especificidade da trajetória
desse país tropical composto por três raças mescladas e formadoras70.
Na concepção do Instituto, escrever História se constituiria num ato de
garimpagem. O ato de selecionar os fatos e de pesquisar documentos como
quem busca preciosidades estaria vinculado ao interesse maior de construir
uma história oficial que traçasse um perfil para a nação e conformasse uma
memória nacional. Assim sendo, temas ligados à história colonial eram muito
bem vindos; como o estudo do “descobrimento”, entendido como marco de
origem; ou ainda a análise da emancipação política de 1822, que sempre era
acompanhada de sentimento patriótico. A Independência, no dizer de Lília

69 SCHWARCZ, Lília Moritz. O Espetáculo das Raças. Cientistas, Instituições e


Questão racial no Brasil. 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.
113
70 Id. Ibid. p. 112.

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Lúcia Garcia

Schwarcz, era entendida quase como “um segundo descobrimento”71 sendo


assim, fundamental para o estabelecimento de uma cronologia histórica e
para a conformação de uma identidade nacional. A partir dessa lógica e,
consoante o trecho abaixo, temas contemporâneos não eram bem quistos:
O plano mais acertado é aquele seguido pelo sistema de décadas,
narrando os factos acontecidos dentro de períodos certos... Parece
justo que a história termine aqui, por que escrever a história
contemporânea nenhum historiador nacional o deve fazer para não se
expor a juízos temerários e a outros inconvenientes. Arquivem-se os
documentos e o tempo virá (RIHGB, 1882:159).
A tônica estaria centrada em temas “fundadores” da nação, de origem
mais remota, que pudessem trazer à luz um passado de glórias e heróis. Havia,
portanto, um certo descrédito em relação a episódios considerados
“recentes”. Conforme assegura Lúcia Guimarães72, ao que tudo indica,
nossos acadêmicos, consoante a sabedoria popular, acreditavam que “a
prudência é o olho de todas as virtudes” e assim optaram por deixar que a
poeira baixasse e os ânimos serenassem. Enquanto isso, o IHGB esforçava-se
em coligir testemunhos: biografias de brasileiros ilustres, cópias autênticas
de documentos, extratos de notas pesquisadas em secretarias, cartórios civis,
eclesiásticos e arquivos; notícias de costumes indígenas, lendas, catequese e
civilização; descrição do comércio interno e externo das províncias, seus
principais produtos, etc.
Além de coligir, cabia ao Instituto Histórico a função de recordar e
esta foi orientada pelas condições originais em que os integrantes do IHGB,
sobretudo o grupo dos políticos, dialogaram com as circunstâncias históricas.
Segundo Lúcia Guimarães73, era no plano da ação política que se
tomavam as decisões sobre a conveniência de tornar públicos certos
documentos. Arquivar fontes cuja veiculação prejudicava a imagem de
determinados sócios. Censurar obras que apresentassem versões

71 Id. Ibid. p. 114.


72 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. “Debaixo da imediata proteção de Sua Ma-
jestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889)”. In:
RIHGB, Rio de Janeiro, ano 156, n. 388, p. 459-613, jul./set. 1995. p. 515.
73 Id. Ibid. p. 516

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

incompatíveis com o projeto político em curso. Instituir a arca do sigilo.


Assim, no dizer da autora74:
A construção da Memória do Império foi um longo e seletivo
empreendimento, onde se procurou pinçar, no “vertiginoso
repertório” do passado, os esclarecimentos que pudessem auxiliar na
definição do presente. A nortear a organização do “estoque” das
lembranças, estava a necessidade de levar adiante o projeto político
iniciado em 1822. [...] Mas qual seria esse passado, cujos elementos
seriam capazes de tornar menos incerto aquele presente tão
convulso? Certamente não havia de ser o passado imediato.
Entendido aqui como o espaço de tempo que se estende do período que
antecedeu a independência até a fundação do Instituto Histórico.
[...] À luz destas evidências, rememorar os acontecimentos históricos
recentes implicaria em trazer à tona uma série de contradições,
dúvidas e até mesmo rivalidades pessoais, que em nada poderiam
contribuir para o fortalecimento das debilitadas instituições
monárquicas. Frente a este contexto crítico, que outra alternativa
restaria à “Casa da Memória Nacional”, senão relegar a um
saudável esquecimento, deixando dormitar nos arquivos, todos os
vestígios ou testemunhos que pudessem comprometer o difícil e
complexo “processo de enraizamento e legitimação da Coroa? ”
Um exemplo dessa lógica, apontado por Lúcia Guimarães em seu
exemplar estudo a respeito da “Casa da Memória Nacional”, diz respeito ao
veto da divulgação de um conjunto de cartas autógrafas de Silvestre Pinheiro
Ferreira, acompanhadas de documentos importantes sobre a gravidade da
situação política na Corte do Rio de Janeiro nos dias que antecederam o
retorno de D. João VI a Lisboa, antevéspera da emancipação do Império.
Diante dessas circunstâncias, não foi por mera casualidade que a
correspondência do conhecido estadista português sobre os acontecimentos
relativos ao conturbado período 1821-1822 só veio à luz na Revista do IHGB
em 1888, data em que o tribunal da posteridade já o havia absolvido75...
Com base nesses argumentos, conseguimos compreender as razões do
ineditismo dos Estudos históricos sobre Portugal e Brasil. Se analisarmos o

74 Id. Ibid. pp. 517-18.


75 Id. Ibid. p. 519.

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Lúcia Garcia

quadro da produção intelectual de Emílio Joaquim da Silva Maia (ver anexo,


quadro 1), veremos que a quase totalidade de seus estudos históricos versam
sobre temas que seriam considerados “recentes” pela Comissão de História
do IHGB e, portanto, não era conveniente divulgá-los, pois estariam
comprometendo a edificação da Memória do Império.
3.2. Os Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil e sua condenação
pelo Tribunal da História
A História também foi alvo das reflexões do Dr. Maia. Seus escritos
históricos ainda inéditos situam-se no contexto de construção de uma
identidade nacional e de uma História Pátria que glorificasse a nação. Na
série de dezoito documentos manuscritos encontrados no arquivo do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, intitulados Estudos Históricos sobre
Portugal e Brasil, Silva Maia discorre de modo crítico sobre os principais
acontecimentos que pontuaram a vida política e cultural de Portugal e Brasil,
desde os feitos lusitanos do século XV até a Revolução Liberal do Porto em
1820 e seus desdobramentos nos trópicos. É evidente a intenção do autor de
escrever a História do Brasil a partir da História Lusa, afinal, não rejeitava a
herança portuguesa, ao contrário, fazia questão de rememorá-la, daí a razão
pela qual seu trabalho historiográfico tenha sido ignorado por tanto tempo.
É chegada a hora de revelar, através de uma análise abrangente, o
conteúdo dos Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil, contribuindo para
uma melhor compreensão do perfil intelectual e historiográfico de Silva
Maia76.
Servindo de introdução, como afirma Dr. Emílio, temos o Estudo
Primeiro, intitulado Reflexões filosóficas sobre o andamento das sociedades
civis, progresso humanitário, grande fim do Evangelho.
É recorrente nesse primeiro estudo a correlação entre Civilização e
Natureza. Entre outros exemplos, diz que os chefes políticos têm tanta
necessidade de inteligência, retidão e vigilância, como o ser orgânico de ar,
umidade e nutrição.

76 É importante destacar aqui que consideramos os Estudos Históricos sobre Portugal e


Brasil de Silva Maia não como fonte, mas como versão.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Discorre longamente sobre o progresso humano e defende,


respaldando-se em Cuvier, que cada passo dado pela espécie humana no
sentido da civilização está diretamente relacionado ao desenvolvimento
científico. Para reforçar sua assertiva, recorre freqüentemente a Aristóteles,
Plínio, Archimedes, Newton, Líneo, Galileu, Montaigne, Chateaubriand,
Bacon e Lavoisier, entre outros.
Analisando esse primeiro estudo e, novamente ressaltando o quanto
nossa investigação vale-se do paradigma indiciário citado por Carlo
Ginzburg, uma pista fez-se importante. Trata-se de 18 manuscritos de autoria
de Silva Maia, copiados por Pinto Bueno em 1864. Por dedução, calculava-se
que esses estudos haviam sido escritos na primeira metade do século XIX, já
que não eram datados. Porém, foi possível constatar que o Estudo Primeiro
foi escrito em 1855, quatro anos antes da morte do autor, pois Emílio Maia
justifica que, se o Brasil ainda não havia alcançado desenvolvimento
semelhante aos Estados Unidos, devia ao fato de ter se tornado independente
há apenas 33 anos.
Outro aspecto importante é o forte sentimento cristão do autor. Diz ele
que o Cristianismo foi um poderoso agente reformador e a grande mola que
impulsionou os homens para o progresso. Segundo o médico, a doutrina cristã
moralizou a Europa, libertou as letras e artes da total ruína com a criação
dos primeiros grandes centros de instrução e, ainda, tirou a América das
profundas trevas em que jazia oculta do resto do mundo. O Cristianismo para
Silva Maia era a mais santa, liberal e filantrópica das doutrinas, capaz de
combater os vícios do homem.
Sendo este o estudo introdutório, Emílio Maia esclarece sobre o
conteúdo dos seguintes, informando as razões que o levaram a realizá-los,
seus critérios de pesquisa e, finalmente, os motivos que dificultaram a
publicação dos mesmos, nos idos de 1855.
Sua intenção era derramar alguma luz sobre fatos da história pátria.
Nas palavras do médico, só deste modo pode-se descortinar a verdade
histórica tantas vezes ofuscada e alguma idéia possuir-se da ascendente
marcha do espírito brasileiro, no começo, cheia de inedonhos empecilhos.
Nesse trecho, dois conceitos fundamentais o enquadram como homem
de seu tempo e irão nortear a versão que, na ocasião, Silva Maia compunha da
História. Declara a importância que conferia à verdade histórica, bem

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característica da historiografia paradigmática produzida no século XIX; por


outro lado, ao referir-se à marcha do espírito brasileiro, sugere justamente a
formação do espírito nacional, a construção da nacionalidade brasileira.
Os fortes laços com a memória do pai também são lembrados, quando
Emílio Maia deixa claro que os acontecimentos de fevereiro de 1821 na
Bahia, testemunhados por ambos, foram os motivadores da escrita de tais
estudos. Na verdade, na busca dos antecedentes, das causas que provocaram a
agitação baiana, julgou necessário desenvolver inúmeras investigações, tanto
a respeito da história portuguesa, desde o século XV até as duas primeiras
décadas do século XIX no Brasil, quando acompanhava com os próprios
olhos, a marcha da civilização brasileira.
Destacando a relevância de seu trabalho historiográfico, Silva Maia
lembra que alguns acontecimentos do Brasil seriam tratados pela primeira
vez, outros seriam mais bem esclarecidos e notícias pouco conhecidas de
brasileiros ilustres seriam reveladas.
Sobre os critérios de pesquisa e fontes, esclarece que examinou todos
os livros, jornais e documentos que poderiam orientá-lo, revirou manuscritos
deixados por seu pai e encontrados na Europa e no Brasil. Fiel ao seu tempo,
faz questão de esclarecer que recorreu às fontes mais fiéis, primando pela
imparcialidade.
Eclipsados pelo Tribunal da História, os Estudos Históricos sobre
Portugal e Brasil permaneceram inéditos. Silva Maia, no entanto, esclarece
sobre o interesse em publicar o trabalho:

Se o contínuo exercício de penosas e diferentes profissões e desgostos


de diversos gêneros o tivessem permitido mais tempo, teríamos dado
publicidade a copiosa colheita por nós efetuada em localidades e
épocas diversas sobre fatos brasileiros: n’este propósito temos
trabalhado com constância pouco vulgar, ora isoladamente ora

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

fortemente coadjuvado por amigos prestimosos, cujos nomes, como


manda a gratidão serão patentes na ocasião própria 77.
Concluindo o Estudo Primeiro, Silva Maia reforça a idéia de
construção da história pátria quando afirma ser fiel às fontes por ter como
único ponto de mira o bem da ciência e da verdade e que, desde muitos anos
furtando horas a outros estudos e ocupando-se com a vida dos antepassados,
algum cimento desejava carrear para o grande edifício, ainda por construir,
da história pátria.
O Estudo Segundo intitula-se Serviços do Infante D.
Henrique. Novas descobertas dos Portugueses, a eles compete a palma da
originalidade das navegações transatlânticas. Glória e opulência dos
reinados de D. João II e D. Manoel: viagens de Portugal à Índia tanto por
terra como por mar.
Nesse documento refere-se a Portugal como progenitor dos brasileiros
e discorre sobre a primazia portuguesa nas navegações ao longo do século
XV, analisando o importante papel exercido pelo Infante D. Henrique e a
Escola de Sagres no processo de expansão luso-atlântica:
[...] principiamos nosso estudos, com algum vagar o período histórico
em que a gente portuguesa, guiada pelo bravo e virtuoso Infante D.
Henrique extremado cultor das letras e cujos brilhantes passos à risca
seguia, mais dilatou o espaçoso teatro da atividade humana por meio
de variadas e estupendas descobertas. 78
Para ele, a exposição dos feitos lusitanos no século XV seria de
interesse para os brasileiros, pois compreenderiam o papel desempenhado
pelos portugueses na expansão do novo mundo, no desenvolvimento
comercial, na difusão da religião Cristã. Enumerando diversos
empreendimentos lusitanos, nessa abertura da marcha para a civilização
moderna, Maia cita a descoberta pelos navegantes portugueses da Ilha da

77 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo Primeiro. Reflexões filosóficas sobre o


andamento das sociedades civis, progresso humanitário, grande fim do Evange-
lho. IHGB. Manuscrito.
78 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo Segundo. Serviços do Infante D. Henrique. Novas
descobertas dos Portugueses, a eles compete a palma da originalidade das navegações
transatlânticas. Glória e opulência dos reinados de D. João II e D. Manoel: viagens de Portugal à
Índia tanto por terra como por mar. IHGB. Manuscrito.

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Madeira, da primeira Ilha dos Açores, da Ilha de São Miguel, das Ilhas do
arquipélago de Cabo Verde, entre outras.
Numa crítica à historiografia da época, afirma que a tese de terem sido
os portugueses os primeiros a lançarem-se na expansão marítima estava
sendo negada por escritores alemães, franceses e outros que queriam
reivindicar a primazia dos empreendimentos marítimos baseando-se em
falsas informações colhidas de antigos manuscritos deixados por
estrangeiros, deturpando datas e nomes. Maia conclui informando que as
pesquisas do Visconde de Santarém afirmavam que nação alguma poderia
disputar com portugueses a prioridade das navegações.
Procedendo a novas críticas, Silva Maia ataca Varnhagen e sua
História Geral do Brasil.
É convicção nossa, que muito se afasta do caminho da justa razão, e
do estreito dever que, como o laborioso Varnhagen na sua história
geral do Brasil, tendo de escrever sobre o desenvolvimento da
civilização brasileira, ao falar da inesperada vista do Monte Pascoal,
não se ocupar mais ou menos longamente das inúmeras pesquisas
náuticas e arriscadíssimas viagens, anteriormente efetuadas pelos
Portugueses, sem as quais não se realizaria então este maravilhoso
aparecimento.79
Varnhagen, ao descrever o “achamento” do Brasil, não se preocupou
em detalhar a evolução dos instrumentos náuticos e os estudos realizados
pelos navegantes para a execução da empreitada. Apenas descreveu sua
interpretação dos fatos.
Da existência de uma grande terra na extensão que lhe coubera em
partilha em Tordesilhas, só teve Portugal conhecimento seis anos
depois do Tratado, em 1500. Prosseguindo no empenho de encontrar
a Índia, dobrando a extrema meridional da África, viu resolvido esse
problema com a chegada de Vasco da Gama a Calicut, em 1598; com
a qual se comprovou a possibilidade de cortar o Egito, pelos mares da
Índia, o comércio da especiaria, dando-lhe outro rumo. A fim de
assegurar este comércio em favor de Portugal, por meio do
estabelecimento de algumas feitorias, partiu da Foz do Tejo, aos 9 de
março de 1500, uma esquadra de treze embarcações , armadas

79 Id. ibid.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

algumas por negociantes particulares, mas todas sujeitas à


capitania–mor de Pedro Álvares Cabral [...]
Nas instruções escritas que recebeu [...] foi-lhe recomendado que na
altura de Guiné, se afastasse quando pudesse da África, para evitar
suas morosas e doentias calmas. Obediente a essas instruções, que
haviam sido redigidas pelas insinuações do Gama, Cabral se foi
amarando da África, e naturalmente ajudado a levar pelas correntes
oceânicas [...], quando se achava com mais de quarenta dias de
viagem, aos 22 de abril, avistou a oeste terra desconhecida. O que
desta se apresentou primeiro distintamente aos olhos curiosos da
gente dessa armada, agora constante só de doze embarcações por se
haver desgarrado dias antes uma delas, foi um alto monte, que em
atenção à festa da Páscoa que se acabava de solenizar a bordo, foi
chamado Pascoal; nome que ainda conserva esse monte muito
conhecido dos mareantes, que o consideram entre as melhores balizas
para a conhecença dessa parte do litoral.80
Apesar da crítica, Silva Maia, assim como Varnhagen, exaltava em
seus escritos Portugal, sua gente e seus feitos. Outra aproximação entre os
dois intelectuais reside no fato de que ambos acreditavam na casualidade do
descobrimento da Terra de Vera Cruz. Na passagem acima, extraída da
História Geral do Brasil, o Visconde de Porto Seguro atribui às calmarias o
desvio da rota de Cabral e o encontro do novo território. Esta versão também
é partilhada por Silva Maia, como podemos conferir abaixo:
Não partilhando nós a opinião dos que pensam ser ela de caso
pensado, diremos como o grande João de Barros, o Almirante Cabral
descobriu a terra de Vera Cruz, porque fugindo das calmarias de
Guiné se empregou no Oceano. 81
No terceiro estudo, Silva Maia dá seqüência à história dos portugueses
cujas ações marcaram os século XV e XVI: intitula-se Os famosos Affonso
d’Albuquerque, D. João de Castro, D. Luiz d’Athayde e outros invictos
capitães. Resultado dos feitos portugueses nos séculos XV e XVI. Começo de
sua decadência, etc.

80 VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil: antes de sua se-
paração e independência de Portugal. São Paulo: Melhoramentos, 1975. 1o volu-
me, p. 67-8.
81 Id. Ibid.

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Lúcia Garcia

Seguindo a linha do anterior, inicialmente rememora a importância do


segundo Vice-Rei da Índia, D. Affonso d’Albuquerque, que estendeu o
domínio português em território asiático conquistando Goa, a costa de
Malabar, o porto de Málaca, Ormuz, rico mercado do Golfo Pérsico,
firmando a influência portuguesa no Porto de Ceilão. Exaltando o Vice-Rei,
assegura ter sido o seu governo o mais humano e filosófico de toda a Índia
Portuguesa; promoveu casamentos entre as duas raças diversas e puniu com
rigor os soldados portugueses por maus-tratos aplicados aos indígenas.
Segundo Silva Maia, se seu governo não tivesse sido tão curto, Portugal não
teria perdido tão precocemente o extenso Império Índico.
O autor, então, passa a tratar do papel desempenhado por D. João de
Castro, 4o Vice-Rei da Índia, e menciona o desprezo de Portugal pelo Brasil
nos anos subseqüentes ao descobrimento das terras, tamanho era o fascínio
pelo Oriente. Segundo Maia, apenas em 1532 Portugal começou a
desenvolver ações para tirar proveito de seu “achado”, estabelecendo o
sistema de capitanias hereditárias.
A exemplo da narrativa elogiosa estabelecida em torno de D. Affonso
d’Albuquerque, D. João de Castro e, finalmente, de D. Luiz d’Attayde,
também Vice-Rei da Índia, Silva Maia enaltece, ainda com mais ênfase, os
feitos portugueses do século XVI, reforçando o papel desempenhado no
processo de colonização do Brasil, África e Ásia como detentor de um vasto
Império ultramarino.
Finalmente, Silva Maia alega que – por motivos na verdade
desconhecidos – o Império Ultramarino Português começa a enfraquecer-se
tendo em vista a decadência da Índia Portuguesa.
O Estudo Quarto trata dos seguintes assuntos: Glória
Literária Portuguesa. Portugueses professores em países estrangeiros.
Decadência portuguesa. Revolução de 1640. D. Affonso VI e D. João V.
É clara a intenção de Silva Maia, nesse estudo, de destacar o
desenvolvimento das Ciências e das Letras em Portugal nos séculos XV e
XVI. Inicialmente enumera, estabelecendo um critério pessoal de valor, os
mais célebres escritores portugueses para, em seguida, listar alguns nomes
relevantes nas Ciências e, mais adiante, eruditos lusitanos que exerceram o
magistério em conceituadas Universidades européias.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Nessa seleção figuram Fernão Lopes, Gomes Eanes, Francisco Sá e


Miranda, Desembargador Antonio Ferreira, Luís de Camões, João de Barros,
Diogo do Couto, Damião de Góis, Jerônimo Osório, Fernão Álvares do
Oriente. No campo das Ciências, Silva Maia destaca os trabalhos de Garcia
Horta, André de Resende, Francisco de Morais, Frei Heitor Pinto, Frei
Amador Arraes, D. Francisco de Melo, André d’Avelar e Pedro Nunes.
Para reforçar o valor que conferia a esse legado intelectual, Silva Maia
recorre às palavras do poeta brasileiro Manoel Ignácio da Silva Alvarenga,
contidas em um inédito que guardava entre livros e documentos de sua
propriedade82:
As tintas se apagam, os mármores se consomem, os bronzes se
derretem, as pirâmides se arruínam e só vivem os escritos, aqueles
bons escritos, que com os atrativos da maravilhosa eloqüência são o
amor dos povos, as delícias das nações [...]83
É interessante ressaltar, conforme apontou Silva Maia, o trabalho de
algumas senhoras portuguesas que realizaram obras de merecimento no
Portugal quinhentista, a saber, Paula Vicente, filha de Gil Vicente e Publia
Hortênsia. Em face do conservadorismo da época, Dr. Maia conta que esta
última, formada em Humanidades e Filosofia na Universidade de Coimbra,
escreveu muitas poesias e trabalhos teológicos chegando a vestir-se de

82 O fato de Silva Maia possuir um inédito, e fazer questão de explicitar tal aspecto,
aponta para uma característica sua e da maior parte dos intelectuais do século XIX,
de colecionar documentos e originais, no intuito de garantir a erudição necessária
para sua permanência nos círculos freqüentados pela elite culta e ilustrada. Por ou-
tro lado, Silva Maia, como sabemos, pertencia a instituições científicas e de saber
que, em meados do século XIX, quando se conformava uma identidade para a na-
ção, pretendiam coligir todos os registros que pudessem contribuir para a forma-
ção da memória nacional. Prova disto é que, consultando as Revistas do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, percebemos uma série de doações de fontes pri-
márias feitas por Emílio Joaquim da Silva Maia para o IHGB. Entre essas doações,
destacamos uma Memória sobre a Capitania de Minas Gerais (1848), o manuscrito
intitulado “Conceitos joco-sérios em cartas”, por Simão Pereira de Sá, e diversos
manuscritos de Manoel Joaquim Henriques de Paiva, preso nas primeiras décadas
do século XIX, por seu papel colaboracionista junto às invasões francesas a Portu-
gal, doados em 1854.
83 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo quarto. Glória Literária Portuguesa.
Portugueses em países estrangeiros. Decadência portuguesa. Revolução de 1640.
D. Affonso VI e D. João V. IHGB. Manuscrito.

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Lúcia Garcia

homem para defender suas conclusões em Évora e Elvas, quando contava


com apenas dezessete anos.
Silva Maia enumera também alguns estudiosos lusitanos que foram
ministrar seus cursos em renomadas Universidades no estrangeiro. Entre eles
D. Pedro Fernandes Sardinha, Ayres Barbosa e Frei Agostinho da Trindade.
A sua convicção sobre a importância da produção escrita no Portugal
quinhentista é tão forte que afirma, surpreso: “lembra-nos ter encontrado em
Paris, quando lá estivemos de 1830 a 1834, homens da maior ilustração, que
ignorando a extensão da literatura portuguesa, confessavam-nos que dela só
conheciam o doutíssimo Camões!”
Tamanho é o ufanismo de Emílio Maia em seus escritos que, cego em
suas certezas, esqueceu que a França no século XVI também dispunha de
escritores célebres como Montaigne e Rabelais.
A cada momento que avançamos na análise dos escritos de Maia,
torna-se ainda mais clara a idéia de que foram eclipsados pelo “Tribunal da
História”. Naqueles idos de 1850, pouco importava às elites políticas
brasileiras rememorar os feitos de D. Affonso d’Albuquerque, a literatura de
Francisco de Sá e Miranda ou a poesia Camoniana. Era importante sim, no
auge do movimento romântico no Brasil, exaltar as características tropicais
brasileiras, tornar o elemento indígena um símbolo nacional, difundir a
poesia de Gonçalves Dias, a literatura de José de Alencar, a pintura de Vítor
Meireles. Ainda que Silva Maia fosse artífice da construção da memória
nacional que se forjava parece que, aos olhos da elite intelectual, ele se
desviava deste esforço de criação de uma imagem oficial para o Brasil ao
dedicar tantas linhas aos já tão conhecidos personagens e feitos portugueses.
Retomando o Estudo Quarto, Silva Maia confere à introdução da arte
tipográfica em terras lusitanas no fim do século XV um dos principais
estímulos às Letras portuguesas.
Finalmente, discorre sobre a Revolução de 1640, analisando o governo
de D. João V e sua Corte faustosa, reconhecendo que na passagem do século
XVII para o XVIII, as Letras e as Artes portuguesas encontravam-se
decadentes e o Estado português tinha seus cofres públicos enfraquecidos
com as altas somas gastas na construção do Convento de Mafra, ainda que, no

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

dizer de Silva Maia, nessa época Portugal estivesse nadando no ouro do


Brasil.
O Estudo Quinto intitula-se Importantes serviços do Marquês
de Pombal, sua energia com o governo inglês. Os ilustres brasileiros D. José
Francisco Leal e o Barão de Goyana. Discursos Políticos – Morais, livro
raríssimo e notável de escritor brasileiro. Júbilos da América, outra
publicação brasileira conhecida. Nele, Silva Maia dá seqüência à análise da
História Portuguesa no século XVIII e inicia o texto caracterizando Sebastião
José de Carvalho e Mello, Marquês de Pombal, como um homem
extraordinário, comparando sua bem sucedida atuação como ministro de D.
José I com o período de trevas característico do governo de D. João V. Sobre
o Marquês de Pombal, afirma nas primeiras linhas de seu estudo:
O Ministro Sebastião José de Carvalho e Mello operando radical
mudança na marcha dos negócios públicos, indica não só o termo dos
sofrimentos nacionais, mas também o pronto restabelecimento da
desditosa pátria e reais avanços na carreira do progresso.84
No seu entender, o período pombalino ofereceu a solução para a
inércia que assolava Portugal. Como iniciativas importantes destaca a
expulsão dos jesuítas, o desenvolvimento da indústria nacional, a completa
reforma da Universidade de Coimbra, o novo plano para a instrução pública e
o progresso das Letras. Além disso, é importante lembrar o posicionamento
de Pombal junto à Inglaterra, proibindo a exportação do ouro português que
os ingleses realizavam em larga escala.
Outro aspecto relativo ao período pombalino destacado por Silva Maia
foi a atuação do Ministro quando do terremoto que assolou Lisboa em 1755 e
as medidas decisivas para a reconstrução da cidade. Todas as realizações até
aqui apontadas caracterizam a Ilustração e o pragmatismo das reformas
empreendidas por Pombal no governo de D. José I.
A repercussão das medidas pombalinas no Brasil também são alvo dos
comentários do Dr. Maia. Diz ele que a nascente civilização brasileira
desfrutou de algumas vantagens com o governo do Marquês de Pombal. Um
primeiro reflexo foi a ordem expedida pelo Ministro que invalidava a

84 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo quinto. Importantes serviços do Mar-


quês de Pombal, sua energia com o governo inglês. Os ilustres brasileiros D. José
Francisco Leal e o Barão de Goyana. IHGB. Manuscrito.

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Lúcia Garcia

restrição de navegação em frotas na Colônia, medida que provocou a


intensificação do comércio colonial, permitindo que os negociantes fizessem
partir suas embarcações quando julgassem conveniente.
No entender de Emílio Maia, outra medida eficiente foi a lei que
proibia aos habitantes do Brasil o envio de seus filhos para os Conventos da
Europa sem consentimento régio – era freqüente a entrada de freiras
brasileiras nos claustros portugueses.
Para o autor, porém, o maior benefício verificado no Brasil foi o
estímulo à produção de trabalhos histórico-literários. Pombal foi o estadista
que mais estimulou o gênio dos brasileiros, sendo grande o número dos que
foram convidados para cargos militares e de magistratura. À guisa de
ilustração cita José Basílio da Gama e Ignácio José de Alvarenga. O primeiro
recebeu o auxílio necessário para a publicação do poema Uraguay; o segundo
recebeu de Pombal cargo na Magistratura e também o posto de Coronel de um
regimento de milícias no interior de Minas Gerais.
Ainda versando sobre os homens de letras tributários do espírito
ilustrado português, Silva Maia conta então um fato, segundo ele inédito,
sobre Joaquim Feliciano de Souza Nunes, nascido no Rio de Janeiro e morto
em 1808. Joaquim Feliciano, no ano de 1754, escreveu no Brasil uma obra
extensa, dedicada ao Marquês de Pombal, intitulada Discursos
Político-Morais na qual expunha várias doutrinas de conteúdo revelador.
Não havendo então imprensa no Brasil, o autor viajou para Portugal no
intuito de publicar a obra. Chegando a Lisboa, não tardou em mandar
imprimir o primeiro volume de seu estudo e, ao contrário do que era costume,
não submeteu o conteúdo ao homenageado, fazendo-o apenas depois de
impressa a obra. Conta Silva Maia que o Marquês de Pombal recusou a oferta
e ainda repreendeu severamente Feliciano Nunes. Diz o Marquês :
V. Mce. precisava ir já para a cadeia, atrevendo-se a trazer ao prelo
uma composição d’esta natureza sem antes me ter consultado, mas em
atenção a não se achar ela ainda divulgada e a ter se lembrado de mim
no frontispício, limito-me a fazê-la queimar ordenando-lhe que
quanto antes volte para o Brasil. 85
Conforme a vontade de Pombal, realizou-se um auto de fé quando
foram queimados os volumes impressos e o manuscrito original. Porém,
85 Id. Ibid.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

segundo Maia, salvaram-se três exemplares que já haviam partido para o


Brasil com destino a três amigos do autor. Silva Maia recebeu, quase cem
anos mais tarde, das mãos de Francisco das Chagas Ribeiro, um desses
volumes raros que passou a ocupar sua biblioteca.
O tomo dos Discursos Políticos –Morais, desde que achou-se em
nosso poder, considerado como presente mui apreciável, e objeto de
raro valor, foi sempre guardado com extremoso desvelo e nimea
cautela: possuir livro que ninguém tenha, poder ler a vontade obra
que sofreu as torturas do fogo, era para nós grande honra,
causava-nos insano prazer. Por diversas vezes lembramo-nos de
reimprimi-lo como exigia a literatura pátria e o nosso gosto às letras,
mas até agora não nos tem sido possível faze-lo, variadíssimas
ocupações diárias nunca nos facilitaram ocasião própria, por isso
para maior segurança e amparo do que julgamos verdadeira
preciosidade, o vimos entregar ao Excelso e Mui Ilustrado Protector
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Conforme assegurou Maia, o exemplar do livro foi oferecido ao
Imperador D. Pedro II, Augusto Protetor das Letras Brasileiras e
freqüentador assíduo do IHGB, criado sob seu mecenato. O gesto revela a
integração de Silva Maia na cultura política da época, afinal, como membro
da elite, versado nas Letras e Ciências, era importante manter-se sob a
proteção imperial.
O exemplar oferecido ao Imperador encontra-se hoje na Seção de
Obras Raras da Biblioteca Nacional, que possui dois exemplares da obra. Um
que pertencera à Real Bibliotheca e outro que pertencera à Coleção Thereza
Cristina. Este último pertencera inicialmente a Francisco das Chagas Ribeiro,
amigo de Joaquim Feliciano de Souza Nunes, que o ofereceu ao Dr. Maia e,
que por sua vez, o ofertou ao Imperador. Mesmo sem folha de rosto, esse
exemplar86 leva na guarda uma dedicatória do médico a D. Pedro II , que diz:
Senhor Emílio Joaquim da Silva Maia obteve em 1845 esta
obra-prima Discursos políticos morais por dádiva de Francisco

86 NUNES, Feliciano Joaquim de Souza (1734-1808). Discursos político-moraes,


comprovados com vasta erudição das divinas e humanas letras, a fim de desterrar
do mundo os vícios mais inveterados, introduzidos e dissimulados...Lisboa: Na
Officina de Miguel Menescal da Costa, 1758. Coleção Thereza Christina. Biblio-
teca Nacional. Seção de Obras Raras.

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Lúcia Garcia

Chagas Ribeiro que a considera de extraordinário valor. Não lhe


consta a existência de nenhum outro exemplar.
Hoje com todo o respeito e acatamento ao Muito Alto e Poderoso
Senhor D. Pedro II por fortuna da nação e glória da Pátria, o
brasileiro de mais profundo saber. Em 18 de junho de 1857 na
Província do Rio de Janeiro.
Silva Maia ainda enumera os capítulos que compunham a obra de
Joaquim Feliciano. São eles: 1o Riqueza excessiva é pobreza consumada; 2o
A riqueza não confere nobreza aos homens; 3o Na diferença das ações está a
distinção entre os homens; 4o O estado conjugal é o mais útil; 5o O melhor e
maior dote, da esposa é a honestidade; 6o Os pais devem dar aos filhos os
bens que se não podem perder nem dissipar; 7o As mulheres tem a mesma
aptidão e capacidade de entendimento e discurso que nos homens existe; 8o A
superioridade entre irmãos está na capacidade e não nos anos; 9o O amigo
verdadeiro é o maior tesouro da vida. Entendendo tal estudo como possuidor
de virtudes e justos preceitos morais, defende sua reimpressão.
Na medida em que se avança na leitura dos estudos de Emílio Maia,
torna-se mais evidente sua intenção em registrar fatos memoráveis da
História luso-brasileira, mas também a recorrência da descrição de alguns
episódios vivenciados pelo médico nos círculos de sociabilidade que
freqüentava. Nesse sentido defende com riqueza de detalhes sua versão dos
fatos, seu papel como testemunha da História, impedindo que os
acontecimentos por ele vivenciados (alguns deles de importância relativa)
sejam encobertos pela névoa do esquecimento. Muitos desses relatos
apresentam aspectos pitorescos ou são narrados pelo médico através de um
discurso retórico, permeados por citações e elogios.
Baseando-se nesses critérios, alguns relatos desta natureza estão sendo
narrados aqui seja pelo conteúdo intrínseco, seja por revelarem o discurso e a
metodologia utilizada por Maia na escrita de seus estudos sobre Portugal e
Brasil. Afinal, é no exercício da lembrança e do esquecimento, quando é
possível selecionar em uma gama de acontecimentos apenas alguns fatos para
rememorar deixando tantos outros adormecidos, que se faz a História, neste
caso, escrita através da pena de um intelectual brasileiro nos Oitocentos.
O estudo sexto intitula-se Vinda da família real portuguesa para o
Brasil, vantagens desta grandiosa resolução. Opinião de D. Luiz da Cunha e

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

de outros pensadores nacionais e estrangeiros acerca da residência da Corte


portuguesa na América. Judicioso vaticínio de um escritor inglês sobre o
Brasil, sua grandeza e importância.
A partir desse momento, Silva Maia narra os fatos a partir de fontes
primárias, mas também com base em suas próprias observações e no relato de
seus circunstantes, tendo em vista que nascera em 1808, ano da chegada da
família real portuguesa ao Brasil.
Silva Maia dedica boa parte de seus estudos ao período joanino por
julgar importante para o Brasil a passagem da família real, tendo em vista que
a dinastia de Bragança foi preservada dos ataques franceses, além de permitir
que na Colônia fossem tomadas inúmeras medidas relevantes de caráter
político-econômico.
Tratando da transferência da família real para o Brasil, Dr. Emílio
Maia faz questão de lembrar que tal resolução havia sido sugerida
anteriormente tanto por estadistas quanto em notas diplomáticas de ingleses e
do Conselheiro Silvestre Pinheiro Ferreira, Ministro Português em Berlim.
Silva Maia cita D. Luiz da Cunha, embaixador em Paris, que mais de
cinqüenta anos antes havia escrito sobre as vantagens de transferir a sede da
metrópole para a Colônia portuguesa na América. Tal estudo teria sido
publicado no impresso Investigador Português de Londres. Contudo, na
opinião do médico, tal aspecto nada faz desmerecer a importância do ato,
pois sem a firme vontade do Imperante a saída não se teria efetuado.
Mais adiante, porém, pautando-se nos desígnios da verdade histórica,
informa que, quando principiou a desconfiança quanto à invasão francesa, a
primeira idéia de D. João foi enviar o primogênito para o Brasil e permanecer
na Europa. Segundo Maia, a idéia encontra-se expressa na carta de D. João
aos brasileiros datada de 2 de outubro de 1807.
O estudo sétimo leva o título de Embarque, séqüito e viagem
da família real portuguesa. Arribada à Bahia. Estado do Brasil, no tempo de
Colônia. Desembarque no Rio de Janeiro. Primeiro Ministério Português
que funcionou no Brasil.
Após analisar o significado da transferência da família real para o
Brasil, Silva Maia trata dos fatos que marcaram a viagem, fazendo uma
descrição minuciosa desde a saída do porto de Lisboa até a chegada na Bahia,

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Lúcia Garcia

em janeiro de 1808 e posteriormente ao Rio de Janeiro, em março do mesmo


ano.
Inicialmente, enumera todos os que compuseram o séquito que
acompanhou a família real portuguesa e fornece detalhes pitorescos do
embarque apressado, ainda que a viagem tivesse sido planejada com alguma
antecedência. Conta que havia uma enorme confusão à bordo de quase todos
os navios; bagagens achavam-se em algumas embarcações, enquanto seus
donos em outras, membros de uma mesma família dividiram-se em dois ou
três navios diferentes... sobre a situação em que se encontrava Lisboa, às
vésperas da partida, informa:
Nos três dias 27, 28 e 29 de novembro de 1807, a desgraça, a
desordem e o espanto existiam por toda a parte em Lisboa, quer em
terra quer no mar: palácios se despiam com a maior rapidez para
ficarem depois entregues ao desamparo e à ruína; muitas casas
fechavam-se com seus ornatos e mobília pela súbita ausência dos
moradores; ricos móveis e carros de elevado custo embarcavam sem
as devidas cautelas ou tiveram de ser abandonados nas praias; as
ruas, praças e cais achavam-se entulhadas de povo de todas as
classes, estupefacto e pesaroso, navios com poucos marinheiros e mal
aparelhados, sem despacho nem revista, sem lastro ou com peso
superior às suas forças preparavam-se para sair e de vez em quando
largavam suas amarras.87
Após narrar a viagem, Silva Maia trata da chegada do Príncipe
Regente à Bahia e das medidas adotadas, entre elas a promulgação da carta de
28 de janeiro de 1808 que franqueava os portos brasileiros às nações amigas,
pondo fim ao monopólio comercial. Também narra as festividades que
marcaram a recepção de D. João e da família real portuguesa quando
aportaram na Bahia. É interessante destacar que, segundo Maia, todos estes
detalhes em sua análise só eram possíveis graças à descrição que seu pai
tantas vezes fez a respeito do acontecimento por ele presenciado quando
contava com trinta e dois anos de idade.

87 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo sétimo. Embarque, séqüito e viagem da


família real portuguesa. Arribada à Bahia. Estado do Brasil, o tempo de Colônia.
Desembarque no Rio de Janeiro. Primeiro Ministério Português que funcionou no
Brasil. IHGB. Manuscrito.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Com o mesmo entusiasmo Silva Maia descreve o desembarque de D.


João no Rio de Janeiro, em 8 de março de 1808 e as festividades que
sucederam. Sobre esse episódio, acrescenta:
Estabelecida na gentil e jovem Guanabara a sede da monarquia, os
nobres desejos de D. Luiz da Cunha acham-se preenchidos; o mundo
recebe mais esta importante lição e a casa de Bragança fica incólume
e firme. Desde esta época o Brasil com rapidez largando as infantis e
sombrias vestes de colônia principia a trajar com mais gosto, e a ir
avante com alegria e força em via franca do progresso. 88
Silva Maia afirma que três dias após a chegada do Regente,
estabeleceu-se o novo ministério formado por D. Rodrigo de Souza Coutinho,
D. Fernando José de Portugal, D. João Rodrigues de Sá Menezes.
Prossegue a análise do período joanino no estudo oitavo
intitulado O Brasil recebe benefícios consideráveis. Progresso material no
Rio de Janeiro, alteração física de sua atmosfera, estabelecimento de
tribunais e outras muitas criações úteis. O documento, assim como os
demais, foi produzido no Rio de Janeiro entre 1855 e 1859 e, de conteúdo
mais denso, fornece elementos importantes para um panorama histórico do
período, sendo, portanto, merecedor aqui de maior destaque.
Silva Maia registrou uma versão rica em detalhes dos fatos históricos
relativos a um período da história brasileira que só recentemente vem sendo
estudado sem os vícios de uma historiografia tradicional, que mais se
preocupava com os atributos físicos e a personalidade de D. João VI do que
com a compreensão de sua trajetória enquanto estadista, à luz de seu contexto
histórico.
No manuscrito oitavo, Silva Maia inicia a análise dos benefícios
decorrentes da vinda da família real ao Brasil, afirmando que, depois de
concluídas as extensas festividades e acomodadas as numerosas pessoas
recém-chegadas, o Rio de Janeiro apresenta sinais de progresso material
procurando com pressa afastar-se da mortificante vida colonial. Desde
então, diz Silva Maia em uma alusão à Independência política de 1822, os
filhos da terra e estrangeiros amigos do Brasil, suas vistas lançando sobre o
futuro, estremeceram de alegria, ao refletirem sobre a velocidade com que se
aproximava o dia da completa regeneração da filha de Cabral.

88 Id. Ibid.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 121


Lúcia Garcia

O aspecto físico da Capital da América Portuguesa tornou-se outro.


Em curto espaço de tempo empreenderam-se obras consideráveis; abriram-se
estradas e ruas, surgiram numerosas construções, executaram-se
desmoronamentos e grandes aterros. Alterada a constituição física do
território, a cidade ficou mais enxuta, cômoda e sadia e, segundo o médico,
logo diminuíram as incidências de inchações elefantíacas, febres
intermitentes, enfermidades do fígado, da pele e outras endemias.
É curioso notar as considerações sobre as alterações climáticas
verificadas no Rio de Janeiro. Diz que pouco depois da chegada do príncipe
regente começa-se a observar na atmosfera da cidade uma alteração física
importante. Isto porque, até então, a população que andava pelas 60.000
almas esteve freqüentemente sujeita a meteoros elétricos. A esse respeito,
esclarece Silva Maia, que, sobretudo no verão, notava-se constantemente ao
meio-dia em ponto mudanças atmosféricas; depois de insólito calor e do
clarão de relâmpagos, apareciam trovões prolongados; às vezes
acompanhados de chuva e ventanias. A população, acostumada há longos
anos com tal fenômeno, raramente saía à rua neste horário (...).
Silva Maia afirma que, a partir de 1812, esses fenômenos meteóricos
começaram a escassear em virtude das muitas mudanças pelas quais passou o
solo, das extensas derrubadas de árvores, do desaparecimento de extensos
pântanos e dos cortes praticados nas montanhas circunvizinhas.
Após apontar para as transformações geoclimáticas, analisa as
instituições político-culturais implantadas para melhor andamento dos
negócios públicos – à semelhança de Lisboa – e as “criações úteis”
verificadas após a instalação da Corte no Rio de Janeiro.
Destaca a criação da cadeira de Ciência Econômica, a ser estabelecida
no Rio de Janeiro, por decreto datado da Bahia em 23 de fevereiro de 1808, da
qual seria o primeiro professor o baiano José da Silva Lisboa (mais tarde,
Visconde de Cairu)89. Aponta ainda para a criação do Conselho Supremo
Militar, por decreto firmado no Rio de Janeiro em 1o de abril de 1808, bem

89 Em verdade, trata-se da criação da aula de Economia Política, que, no entanto, fi-


cou somente no papel. Assim, a monarquia acabou por instalar Silva Lisboa na
Impressão Régia, onde ocupou os cargos de membro da Junta Diretora e de Censor
Régio. Cf. Antonio Penalves Rocha. A economia política na sociedade escravista.
São Paulo, Hucitec, 1996. p. 36-37.

122 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

como o Arquivo Militar que nascia conforme o decreto de 7 de abril de 1808,


com o louvável fim de sistematicamente reunir e guardar mapas e cartas,
sobretudo das costas e interior do Brasil.
Sobre a Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens,
tribunal superior criado pelo alvará de 22 de abril de 1808, Silva Maia
salienta a importância de Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro, autor
das Memórias Históricas do Rio de Janeiro, enquanto procurador da
Instituição. Atenta também para a criação da Casa de Suplicação, Chancelaria
Mor do Reino, Intendência da Polícia, Fábrica de Pólvora, Academia Real
dos Guardas-Marinhas e Erário Régio, este com as mesmas prerrogativas,
jurisdição e autoridade do de Lisboa.
Outro destaque é o Banco do Brasil, importante medida financeira
criada através da carta régia de 12 de outubro de 1808, momento em que se
instalava a máquina burocrática do governo joanino.
Após o aparelhamento do Estado a nível político-econômico, o
príncipe regente D. João, amparado por seu Ministério, implementa uma série
de iniciativas visando ao desenvolvimento cultural e científico da Colônia,
que se tornava, então, sede do governo metropolitano.
Nesse sentido, a Impressão Régia criada em 1808 foi poderoso agente
do progresso humano, tendo em vista o avanço da imprensa brasileira.
Contudo, apesar de reconhecer o significado da Impressão Régia, Silva Maia
lança mão de outras informações, hoje conhecidas pela historiografia, a
respeito da História da Tipografia no Brasil.
O autor julga ser de domínio público a existência da imprensa no Rio
de Janeiro em 1747 e, para tanto, recorre ao Desembargador Antonio Ribeiro
dos Santos que, em uma memória sobre as origens da tipografia em Portugal
assegura que em meados do século XVIII Antonio da Fonseca instalou uma
oficina tipográfica no Rio de Janeiro. Esta oficina teve curta duração em
virtude da ordem de extinção dada pela Coroa. Consta que nela foi impressa,
em 1747, a Relação da entrada que fez o Bispo D. Frei Antonio do Desterro
Malheiros, escrita por Luiz Antonio Rosado da Cunha.
A consideração feita por Maia – autorizado por indagações
particulares – em afirmar que a oficina de Antonio da Fonseca não foi a
primeira a se instalar no Brasil, só nos faz reconhecer como verdadeira a tese

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Lúcia Garcia

de que seus estudos devem ser entendidos como versão, numa tentativa de se
criar uma História oficial repleta de feitos prodigiosos.
Silva Maia conta que, a partir de um folheto encontrado por ele na
antiga Biblioteca Imperial e Pública da Corte (atual Biblioteca Nacional) que
trazia no frontispício Recife 1647, officina situada no Largo do Machado,
comprovou a existência de uma oficina tipográfica em Pernambuco no século
XVII, período da dominação holandesa. Segundo o médico, a tradução do
título desse curioso escrito era Bolsa de dinheiro brasileira, obra que indica
como foi utilizado o dinheiro dos acionistas da Companhia das Índias
Ocidentais. O folheto teria sido comprado em Amsterdã por preço alto,
juntamente com outros impressos em língua batava que se ocupavam de
assuntos brasileiros, porém apenas um teria sido impresso no Brasil.
A fim de reforçar sua assertiva, afirma que a obra intitulada Biografias
de alguns poetas pernambucanos, de autoria de Antonio Joaquim de Melo,
conta que em 1706 (ou pouco antes) abriu-se pela primeira vez na cidade do
Recife uma pequena tipografia que começou por imprimir letras de câmbio e
breves orações devotas.
Uma outra criação destacada é a instalação da Real Bibliotheca no Rio
de Janeiro logo após a vinda da família real para o Rio de Janeiro. Contudo, é
preciso desfazer um equívoco cometido pelo autor que assegura que as
Bibliotecas da Coroa e do Infantado partiram de Portugal juntamente com a
esquadra que transportava o Príncipe Regente e a Real Família em novembro
de 1807. De fato, a Real Bibliotheca era composta pelas coleções
pertencentes à Coroa e ao Infantado, contudo, com base em pesquisa
realizada por Lilia Moritz Schwarcz90, ela não partiu juntamente com a Corte
em 1807. Veio sim, a expressiva Livraria do Conde da Barca, Antonio de
Araújo e Azevedo.
A Real Bibliotheca, como comprovam os documentos encontrados no
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, chegou ao Rio de Janeiro aos poucos.
Foram necessárias três viagens: a primeira leva de caixotes chegou em
princípios de 1810; a segunda, em março de 1811, acompanhada do
bibliotecário Luís Joaquim dos Santos Marrocos; a última leva, em setembro

90 SCHWARCZ, Lilia Moritz, AZEVEDO, Paulo César de e COSTA, Angela Mar-


ques da. A longa viagem da biblioteca dos reis – do terremoto de Lisboa à Indepen-
dência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

de 1811. Deve-se reconhecer, no entanto, que Silva Maia acerta ao destacar a


importância da instalação da Livraria Real no contexto da organização do
aparelho de Estado, visto que os livros traziam consigo a erudição que se
pretendia ilustrar e a Real Bibliotheca, neste sentido, legitimava o poder real.
O Real Teatro São João, edificado na Praça do Rocio (atual Praça
Tiradentes) e inaugurado em 12 de outubro de 1813, também foi considerado
iniciativa importante. Nele representavam-se comédias e tragédias, além de
peças líricas, servindo ainda de palco para representações que reforçassem o
poder do Príncipe.
A Academia de Belas-Artes foi outra prestigiosa criação do período
joanino, estabelecida por decreto de 12 de agosto de 1816. Acompanhada
pela Missão Artística Francesa, esteve organizada sob a direção de Lebreton,
ex-Secretário da Academia de Belas-Artes do Instituto da França. Na
Academia, Jean Baptiste Debret foi Professor de Pintura Histórica,
Grandjean de Montigny circunscreveu suas ações à Arquitetura, Nicolas
Antoine Taunay dedicou-se à pintura de paisagens, entre outros artistas.
O Museu Nacional também foi alvo da lembrança de Silva Maia.
Segundo o médico e cientista, o Museu foi criado por decreto de 6 de junho de
1818, comprando-se para este fim, por trinta e dois contos de réis, um grande
prédio situado no Campo de Santana. Transformou-se o Museu Nacional em
um grande depósito de riquezas naturais especialmente destinado, conforme
o decreto de criação, para propagar os conhecimentos e estudos das Ciências
Naturais no Reino do Brasil, que encerra em si milhares de objetos dignos de
observação e exame, e que podem ser empregados em benefício do comércio,
da indústria e das artes. Silva Maia acrescenta que, em 1819, o Museu
encontrava-se completamente organizado e, ainda que seu fim fosse conter
somente objetos de História Natural, tornou-se desde início depósito de tudo
que ia aparecendo de raro e curioso. A seu favor estava o Aviso de 13 de
março de 1819 que permitia a livre entrada na alfândega dos produtos que lhe
fossem remetidos. Maia lembra ainda que a instituição recebeu de D. João VI
– além do incentivo à criação – algumas valiosas ofertas, como as coleções de
produtos naturais, modelos de diversos gêneros e antiguidades romanas e
gregas.
Ainda no campo do desenvolvimento científico, Silva Maia destacou a
criação da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica estabelecida por decreto de

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5 de novembro de 1808 no Hospital Militar da Corte. A arte de curar passa a


merecer maior atenção. O Laboratório Químico e Farmacêutico criado pela
ordem régia de 25 de janeiro de 1812 também foi objeto de análise. No
Laboratório, que pertencera ao Conde da Barca e que se achava instalado em
sua própria casa em frente ao Passeio Público, realizaram-se análises
químicas em muitas substâncias, quase sempre com o auxílio do próprio
Antonio de Araújo e Azevedo. Silva Maia acrescenta que o estudo da
Química teve grande desenvolvimento no Rio de Janeiro com a chegada do
príncipe regente, sobretudo em 1809 quando o químico Dr. Gardner, médico
inglês da Escola de Edimburgo, desenvolveu o estudo da Química em um
bom Laboratório que lhe pertencia, existente em uma das salas do Seminário
de São Joaquim (posteriormente Colégio Pedro II). Nesse curso, que tantas
vezes contou com a presença da família real, praticou-se pela primeira vez no
Brasil a análise da água, a preparação de gás para iluminação, o fabrico do
gelo por meio da máquina pneumática e outras curiosas e instrutivas
experiências.
Outra iniciativa foi a criação do curso de Agricultura e Botânica, sendo
chamado para regência Frei Leandro do Sacramento. Natural de Pernambuco,
frade Carmelita e botânico experiente, fazia suas preleções ora no Passeio
Público, ora no Jardim Botânico, cuja administração esteve por algum tempo
também a seu cargo.
Digno de menção é também o Instituto Vacínico, estabelecido por
Decreto-lei de 4 de abril de 1811. A vacina contra varíola, segundo esclarece,
tinha sido implantada no Brasil por iniciativa de alguns particulares quatro
anos antes da vinda do Príncipe Regente, segundo deduziu a partir da
memória de Antonio de Almeida intitulada Memória cronológica da
vacinação em Portugal. Silva Maia acrescenta que o Marechal Felisberto
Caldeira Brandt Pontes, então rico fazendeiro na Bahia, congregado a alguns
negociantes e convencidos todos da importância da vacina, mandaram por
iniciativa própria um estudioso e oito escravos de menor idade a Lisboa com a
incumbência de trazerem a vacina para o Brasil. A vacina chegou em bom
estado à Bahia em 30 de dezembro de 1804, passando de braço para braço;
pouco depois, um cirurgião militar vacinando a indígenas e a escravos negros
a trouxe para o Rio de Janeiro.
Emílio Joaquim da Silva Maia considera que o governo estabelecido
no Rio de Janeiro desenvolveu outras ações de interesse para a América

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Portuguesa, como o alvará de 1o de abril de 1808, que permitiu o livre


estabelecimento de toda e qualquer indústria, revogando o interdito até então
em vigor, e fazendo nascer empregos, lojas e fábricas de algodão, chapéus,
vidros, louças, sabão, etc. Diz Silva Maia que essa medida, aliada à outra de
igual importância – a abertura dos portos brasileiros às nações estrangeiras –
não poderia deixar de produzir bons resultados. Nesse sentido: vencidos os
principais obstáculos que se opunham ao progresso da Terra de Santa Cruz,
esta, dotada de valiosos e inesgotáveis recursos, começa a tomar brilhante e
esperançoso aspecto.
Para estímulo e proteção dos fazendeiros, o governo prometeu-lhes
prêmios, medalhas e isenções de direitos na exportação de alguns gêneros,
como se vê pela resolução de 27 de julho de 1809 e Alvará de 7 de julho de
1810. Estas medidas fizeram aparecer novas fazendas e propiciaram o melhor
aproveitamento de terras.
Um outro aspecto também apontado por Silva Maia em seu estudo, foi
o acréscimo da população do Rio de Janeiro com a chegada da extensa
comitiva e das muitas famílias que acompanharam a Corte Portuguesa. Como
lembra, o ponha-se na rua foi uma das resoluções adotadas na ocasião para
acomodação da Corte.
Emílio Maia acrescenta que algumas resoluções foram tomadas em
favor dos indígenas, ordenando-se a catequese e aldeamento de diversas
tribos errantes, medidas acompanhadas pelo decreto de 25 de fevereiro de
1819 que libertava os índios de alguns encargos a que estavam sujeitos.
Também por conta do Estado, vieram inúmeros casais de colonos e,
isentos da tropa de linha e das milícias, receberam instrumentos de lavoura,
distribuindo-se pelas províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, São
Paulo e Minas Gerais. Além disto, anúncios públicos e agentes diplomáticos
eram utilizados para convocar estrangeiros a estabelecer-se no Brasil em
troca de oferta de terras e demais recursos para produção agrícola.
Com o aumento da população, com portugueses e índios
domesticados, estrangeiros voluntários engajados, surgem novas localidades,
erguem-se vilas, outras se transformam em cidades, gerando a necessidade de
um grande número de escolas de instrução primária e secundária.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 127


Lúcia Garcia

O que Silva Maia esclareceu ao analisar os resultados da transferência


da Corte para o Brasil foi o inteligente gesto político empreendido por D.
João, que golpeara a hegemonia napoleônica e garantira a integridade do
território ultramarino português.
Reconhecendo a importância das inúmeras medidas implementadas
para o progresso da Colônia, Silva Maia conclui, utilizando-se do artifício da
retórica, que tais medidas não beneficiaram apenas o Rio de Janeiro:
O sagrado fogo do progresso uma vez ateado, custa muito abrandar; o
benéfico incêndio docemente espalhando-se por todo o território
fluminense, não perde tempo em estender-se pelo vasto Brasil; em
breve aparece nos pontos mais longínquos, fulgentes sinais de sua
existência. Já por ordem do governo central, já por decisões tomadas
nas próprias localidades, rendosos estabelecimentos, úteis
instituições e proveitosas obras vão umas após outras vindo à luz do
dia em cada província, algumas inclusive, entram em verdadeira
fermentação, auxiliando o povo com prazer e eficácia [...]91
No estudo nono, que leva o título O Brasil principia a ser explorado
com eficácia e gosto; naturalistas brasileiros o percorrem e o estudam desde
1780 até 1820, Silva Maia aponta para o desenvolvimento científico
verificado no Brasil em meados do século XIX, quando era possível
reconhecer e classificar inúmeras espécies da flora e da fauna. Segundo o
médico, isto só foi possível graças às expedições realizadas por naturalistas
estrangeiros em território brasileiro desde fins do século XVIII.
Nesse estudo que mereceu um maior número de páginas, foi analisada
a expedição científica empreendida por Alexandre Rodrigues Ferreira ao
Brasil em 1783; a viagem botânica de Frei José Mariano da Conceição
Velloso realizada no mesmo ano; os estudos sobre a flora pernambucana
desenvolvidos a partir de 1797 pelo Dr. Manoel Arruda da Câmara; as
investigações mineralógicas na Província de São Paulo realizadas pelo
Conselheiro Martim Francisco Ribeiro a partir de 1805; os estudos do reino
inorgânico feitos em Minas Gerais por José Joaquim Vieira do Couto em fins

91 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo oitavo. O Brasil recebe benefícios consi-
deráveis. Progresso material no Rio de Janeiro; alteração física de sua atmosfera;
estabelecimento de tribunais e outras muitas criações úteis. Outros importantes
melhoramentos nas províncias da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Pau-
lo, Santa Catarina e Goiás. IHGB. Manuscrito.

128 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

do século XVIII; a expedição de Balthazar da Silva Lisboa à Serra dos Órgãos


em 1786; e as análises químicas realizadas por Manoel Joaquim Henriques de
Paiva e José Caetano de Barros. Para além desses estudiosos luso-brasileiros
em expedição no Brasil, Silva Maia citava ainda outros importantes
naturalistas europeus como John Mawe, Geoffroy de Saint Hilaire, Auguste
de Saint Hilaire, Barão de Eschwege, Emmanuel Pohl, Von Spix e Von
Martius. Sobre o trabalho destes e de outros naturalistas mencionados diz o,
também botânico, Silva Maia:
Tais são os zelosos e intrépidos investigadores das cousas brasileiras
que aproveitando-se da feliz era nova para o Brasil aberta,
apressaram-se em visitá-lo para de perto observarem as
multiplicadas e variadas maravilhas do seu abençoado solo.
Importantes serviços prestaram eles a nós e à Ciência; deste modo a
terra de Cabral ficou pelas nações estranhas mais bem conhecidas;
assim grande desenvolvimento teve a história natural, vendo em larga
escala aumentar-se os fatos, que a enobrecem e a tornam em nossos
dias estudo útil e indispensável a todo o mundo. 92
O estudo décimo recebe o título Da vida e feitos de Paulo Fernandes
Vianna referem-se outros benefícios provindos do Brasil enquanto teve em
seu seio a sede da monarquia. Nesse trabalho, temos mais uma evidência de
que a seleção dos temas a serem contemplados obedecia apenas a um critério
subjetivo de Maia que se baseava, na maior parte das vezes, em seu gosto
pessoal. Ainda que pretendesse forjar uma versão da História de Portugal e do
Brasil imbuído do espírito da construção da memória nacional, o autor,
seguindo uma metodologia muito particular, debruçava-se sobre alguns
temas com maior ou menor riqueza de detalhes na proporção de seus
interesses pessoais.
Na verdade, não há ingenuidade alguma em seus escritos. Ao exaltar
os vultos da história pátria, ao privilegiar alguns acontecimentos em
detrimento de outros, o médico promove a si próprio enquanto cientista e
intelectual, que explicita seu orgulho nacional, enaltece o imperador D. Pedro
II, reconhece os atos benfazejos de seus antepassados e elogia aqueles que
detêm poderes políticos semelhantes ou superiores aos seus. Essa era a
estratégia utilizada para garantir sua permanência nas esferas de poder,
92 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo nono. O Brasil principia a ser explorado
com eficácia e gosto; naturalistas brasileiros o percorrem e o estudam desde 1780
até 1820. IHGB. Manuscrito.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 129


Lúcia Garcia

freqüentadas por ele e por outros representantes da elite política-cultural


Oitocentista.
Este estudo décimo traça uma biografia de Paulo Fernandes Vianna,
Chefe da Intendência de Polícia do Rio de Janeiro. Durante os dez anos que
antecederam a chegada da família real ao Brasil, Paulo Fernandes ocupara o
cargo de Ouvidor do crime, conseguindo manter a segurança e o bem estar
público para benefício da população do Rio de Janeiro. Em função de seus
bons serviços, o regente decidiu nomeá-lo Intendente da Polícia tão logo se
estabeleceu na cidade. Coube ao Intendente, além de garantir a ordem
pública, civilizar a nova sede da metrópole, tentando amenizar todos os traços
que pudessem associar o Rio de Janeiro à condição de colônia. Era sua função
garantir a higiene pública, sanear o espaço urbano, embelezar a cidade. Entre
algumas providências importantes adotadas pelo intendente, Silva Maia
destaca um episódio inédito em que Paulo Fernandes Viana dissolveu entre
1811 e 1812, uma loja maçônica de fins altamente revolucionários situada na
freguesia de São Gonçalo, em Niterói, denominada Emancipação. Instruído
pelo Regente, Paulo Fernandes tratou de tomar as providências necessárias
para a extinção daquela congregação que ameaçava a instituição monárquica,
mandando queimar todos os livros e papéis de maneira a não restar vestígio
algum de sua existência.
Outro benefício citado foi a iniciativa de trazer chineses para o Rio de
Janeiro, introduzindo aqui a manipulação do chá. Os chineses foram
instalados no Jardim Botânico a fim de ensinar tal indústria. Contudo,
segundo relata o médico, foram pouco a pouco desviados de suas funções
iniciais e passaram a servir de criados, sobretudo como cozinheiros de alguns
fidalgos, possuidores de grandes propriedades.
Silva Maia também confere a Paulo Fernandes Viana a
responsabilidade nos avanços das obras públicas verificadas no Rio de
Janeiro no início do século XIX. Graças ao intendente foram realizados
extensos aterros, desmoronamentos, drenagem de rios, construção e reparos
de pontes, criação de estradas. Além disso, foi considerável a melhoria do
aspecto urbano devido ao calçamento de ruas, à melhoria na iluminação, à
regularidade na limpeza de ruas e praças, eliminando os charcos no antigo
Largo do Rocio.

130 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Como estudioso de Botânica, Silva Maia não poderia deixar de


lembrar que Fernandes Viana também foi o responsável pela plantação em
larga escala de algumas árvores exóticas no Rio de Janeiro como mangueiras,
árvores do pão, cravos da Índia, caneleiras, etc, que contribuíram para a
diversidade da flora brasileira.
No estudo décimo primeiro, Silva Maia trata das Causas
provocadoras da grande revolução portuguesa de 1820. Má política adotada
pelo novo governo do Rio de Janeiro, ocultas influências palacianas. A Corte
Portuguesa na América não se afasta do comportamento que ela seguia na
Europa: abusos em todos os ramos da administração brasileira. Opinião de
Augusto de Saint Hilaire acerca dos Ministros de D. João VI.
Inicia analisando o rápido desenvolvimento verificado durante a
estada da família real. Neste período, segundo Maia, houve um crescimento
da população, da indústria, do comércio e da civilização. De fato, o autor
entende o ano de 1808 como um momento de ruptura, um marco no
desenvolvimento da sede metropolitana. Afirma, porém, que a
imparcialidade do historiador nos obriga agora a referir com as cores
próprias a má direção dos negócios públicos durante a residência da Corte
portuguesa no Brasil.
Emílio Maia assegura que os impressos, manuscritos e as testemunhas
oculares ainda vivas por ele consultadas, apresentavam um painel crítico,
tendo em vista que provavam o quanto a Corte portuguesa conservou os
costumes, princípios e tendências aplicados na Europa. Entenda-se: o luxo
excessivo, as regalias palacianas, as festas religiosas cheias de pompa, a
ampla distribuição de títulos, medalhas e condecorações, medidas que
desfalcavam os cofres públicos.
Por outro lado, alega que os ministros de D. João VI, além da má
administração da renda pública, eram temerosos em relação ao avanço das
idéias liberais francesas, não desejando, por conseguinte, modificar a antiga
política adotada. Para citar apenas alguns exemplos, Silva Maia conta que
foram criadas tipografias nas duas principais cidades do Brasil – Rio de
Janeiro e Salvador – mas os escritos eram submetidos a uma rigorosa censura.
Do mesmo modo, os ministros convidavam estrangeiros a se estabelecer no
Brasil, mas mobilizavam espiões assalariados para que evitassem a
disseminação dos princípios liberais partilhados por esses estrangeiros. Por

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 131


Lúcia Garcia

fim, para reforçar suas assertivas, recorre a Auguste de Saint Hilaire que
defendia a mesma opinião. Desse modo, diz Saint Hilaire:
Nem todos os Ministros que governaram na América com D. João VI
foram privados de talentos, mas nenhum deles tinha bastante
conhecimento do Brasil, para dar remédio às feridas provenientes do
sistema colonial e para reunir as suas diversas partes inteiramente
divididas, e lhes dar um centro comum de ação e de vida. 93
No estudo décimo segundo, Silva Maia trata das seguintes matérias: O
Brasil encontra compensações aos erros do governo. Grandes sofrimentos
dos dois reinos, Portugal e Algarves, seus males agravavam-se
consideravelmente; eles vêem-se assolados pela guerra e atormentados por
muitas arbitrariedades e enormes abusos. O Brasil todavia recebe dois
grandes benefícios pelo tratado de 1810.
Dr. Maia inicia constatando que, embora evidente que a política
administrativa em terras brasileiras fosse a mesma adotada em Portugal,
durante a permanência da Corte no Brasil o povo brasileiro cheio de
contentamento e alegria pela estada em seu seio da família real, não se
achava na posição de reparar em não ter havido mudança de política. A
população sentia-se em condições mais dignas, com os benefícios
provenientes do progresso material, com o saneamento das ruas e demais
melhorias no espaço urbano. Por outro lado, a abertura dos portos foi medida
importante que colocou por terra o monopólio comercial, apagando um traço
importante nas relações de exploração colonial mantidas entre Portugal e
Brasil. Essas medidas tinham um papel compensatório e encobriam os efeitos
da má administração da renda pública aos olhos da população.
Se o Brasil ainda encontrava compensações aos erros do governo
joanino, Portugal e Algarves eram governados por uma regência que, por sua
vez, não possuía poderes executivos, que cabiam ao imperante, àquele tempo
habitando o Rio de Janeiro. Seu território foi invadido por três vezes pelos
exércitos franceses, o que levou os dois reinos portugueses à beira do abismo.

93 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo décimo primeiro. Causas provocadoras


da grande revolução portuguesa de 1820. Má política adotada pelo novo governo
do Rio de Janeiro, ocultas influências palacianas. A Corte Portuguesa na América
não se afasta do comportamento que ela seguia na Europa: abusos em todos os ra-
mos da administração brasileira. Opinião de Augusto de Saint Hilaire acerca dos
Ministros de D. João VI. IHGB. Manuscrito.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

A indústria e o comércio portugueses achavam-se aniquilados; os cofres


públicos na maior penúria; a liberdade individual e o direito de propriedade
encontravam-se sem garantias. Todos esse males decorrentes da guerra com
as tropas francesas deveriam ser contornados findo o combate. A situação, no
entanto, não foi revertida, e os negócios públicos no Reino de Portugal e
Algarves continuaram da mesma forma.
O estudo décimo terceiro, dando continuidade às questões
anteriormente colocadas, trata dos seguintes temas: Portugal e Algarves
procurando alívio ao seu padecer, são flagelados por diversos partidos
políticos; as lojas maçônicas mostram-se numerosas, enviando elas um
agente secreto ao Rei no Rio de Janeiro. Curioso fato do fanatismo político
português.
Silva Maia inicia informando que o quadro por ele esboçado em
análises anteriores apenas demonstra o estado crítico da monarquia nos anos
que antecederam o retorno de D. João VI a Portugal. O povo português
encontrava-se desgostoso com a crise do Estado e os intelectuais deste tempo,
não havendo liberdade de imprensa, viam-se impedidos de lançarem suas
idéias, sendo obrigados a escrever em Londres, nos jornais Correio
Braziliense, Investigador Português, O Campeão Português, entre outros. A
partir de 1818, o estado geral de insatisfação intensificou-se. O governo
inglês passou a insistir na volta do rei para Portugal e as lojas maçônicas
portuguesas começaram a se ocupar dos negócios políticos. Tornando-se
mais numerosas desde que o horizonte político português viu-se obscurecido,
as lojas maçônicas pretendiam buscar soluções para acalmar a crise e seus
membros reuniam-se com bastante regularidade apesar das severas leis em
vigor que proibiam essas instituições secretas.
Silva Maia relata a missão secreta de um padre maçom, de nome
Roquete, que veio ao Brasil para expor a D. João VI o estado de coisas de
Portugal e o quanto povo, clero e nobreza clamavam pela volta do soberano.
A Corte do Rio de Janeiro, porém, não tolerava as sociedades secretas,
especialmente a maçonaria e, desse modo, a missão do padre Roquete ao
Brasil não logrou êxito. Assim, se as ações maçônicas não ofereciam
resultados imediatos, a proliferação das idéias liberais, no dizer de Maia, foi o
principal recurso utilizado pela nação portuguesa para pressionar a volta da
Corte a fim de frear a crise econômica e política instalada.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 133


Lúcia Garcia

No estudo décimo quarto, Silva Maia dedicou-se à análise da Índole e


caráter de D. João VI; citam-se fatos que bem provam a sua bondade,
clemência e retidão de espírito; apontam-se úteis medidas por ele
lembradas; patenteia-se a sua anormal posição, apresentando-se de
passagem o principal motivo dos desastres da infausta noite de 21 de abril de
1821 no Rio de Janeiro.
No ensaio analisa a figura de D. João VI como possuidor de um
semblante risonho e simpático, índole branda, temperamento afável, caráter
tímido e frouxo. Segundo o médico, D. João VI era dotado de grande
inteligência, porém recebeu educação literária limitada. A respeito de sua
conduta, afirma que algumas vezes mostrava-se ambicioso e déspota; outras,
generoso e liberal e, regra geral, adotava uma má postura política. Apesar
dessas características, Emílio Maia afirma ser D. João o rei a quem tributa
maior afeição, tendo em vista os benefícios materiais que fez ao Brasil. A
exemplo de estudos anteriores, Silva Maia irá lembrar de outras ações
importantes desenvolvidas por D. João para o bem do Brasil.
Após enumerar alguns outros exemplos da ação joanina, passa a
refletir sobre os desastres da infausta noite de 21 de abril de 1821 no Rio de
Janeiro. Para o médico, tal episódio deveu-se à ação do partido exaltado
português que se opôs à vontade do rei, coagindo-o a deixar o Brasil. Diz:
Para ninguém deve ser hoje duvidoso que o principal fim da revolução
portuguesa era a volta do Rei para a antiga sede da Monarquia;
alguns constitucionais exaltados do Rio de Janeiro ao fato da vontade
do Imperante em permanecer na América como ele próprio o dizia
sem rebuço aos amigos, e receando com todo o fundamento ser o
oculto desígnio da reunião dos eleitores na praça do Comércio, dar
ocasião ao pronunciamento dos Brasileiros contrariando a saída do
Rei, por meios arbitrários e violentos lançaram mão da força armada
para dissolver esta reunião, cujo resultado final lhes poderia ser mui
nocivo: deste modo [...] o Rei não pode pretextar este forte motivo
para deixar de sair do Rio de Janeiro, saída na ocasião
imperiosamente exigida pelos portugueses da Europa. 94

94 MAIA, Emílio Joaquim da Silva. Estudo décimo quarto. Índole e caráter


de D. João VI; citam-se fatos que bem provam a sua bondade, clemência e
retidão de espírito; apontam-se úteis medidas por ele lembradas; patente-
ia-se a sua anormal posição, apresentando-se de passagem o principal

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

O Estudo Décimo Quinto intitula-se Causas próximas da revolução


portuguesa. Breve notícia do ilustrado brasileiro Hipólito José da Costa
Pereira. Perseguição de muitos portugueses. Aclamação do Sistema
Constitucional.
Silva Maia atribuiu à marcha irregular dos negócios públicos e aos
abusos administrativos, a revolução portuguesa que proclamou o governo
monárquico constitucional. Acrescenta que muitos intelectuais defendiam a
reforma radical do sistema político, entre eles José Hipólito da Costa Pereira,
a quem ofereceu algumas linhas deste trabalho, debruçando-se sobre seus
dados biográficos e sua trajetória junto à propaganda literária.
No Estudo Décimo Sexto, Emílio Joaquim analisa os seguintes
aspectos: Reflexões históricas. Recebimento no Brasil da Constituição
Portuguesa. Conduta do governo fluminense por esta ocasião. Rivalidade
entre Portugueses e Brasileiros.
Desse trabalho, talvez a mais importante colocação de Silva Maia
esteja em suas considerações iniciais intituladas reflexões históricas onde
defende que durante três séculos o Brasil não possuiu existência própria,
fazendo parte do patrimônio de outro povo. Essa assertiva leva-o a defender
que, deste tempo, não se conheceu livro algum que merecesse o nome de
História do Brasil e, por sua vez, até aquele momento ainda não se havia
escrito nada de completo sobre a sua civilização. Ao suscitar tais reflexões,
evidencia claramente sua intenção em contribuir para tal empreitada na
medida em que seus Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil constituem
um grande esforço em coligir memórias, documentos e fatos que possam dar
forma a esta História do Brasil que então era construída pelos homens de seu
tempo.
Retomando os eventos que sucederam à Revolução do Porto, ainda
nesse estudo Silva Maia afirma que a notícia da revolução na América
causara entusiasmo, reforçando a vontade de se romper com o jugo colonial.
Aliás, o autor atribui à relação metrópole x colônia a dita rivalidade entre
portugueses e brasileiros.

motivo dos desastres da infausta noite de 21 de abril de 1821 no Rio de Janeiro.


IHGB. Manuscrito.

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Lúcia Garcia

Nos Estudos Décimo Sétimo e Décimo Oitavo, sendo esse último o


ponto final de sua obra (neste lê-se fim da obra), Silva Maia recupera os
antecedentes e a eclosão da revolução constitucional da Bahia em fevereiro
de 1821. É interessante notar que Emílio Maia faz uma abordagem inicial,
deixando claro que tais acontecimentos são por ele lembrados com riqueza de
detalhes pelo fato de tê-los presenciado quando tinha treze anos de idade.
Narra que naquele dia 10 de fevereiro de 1821 ia, na companhia de seu pai, ao
Paço do Senado quando testemunhou a revolução na qual seu pai esteve
envolvido ativamente. Desse modo, na condição de ator político tentou
nesses estudos ponderar sobre o verdadeiro significado do pronunciamento
constitucional da Bahia, naqueles anos que antecederam a Independência do
Brasil. Para o autor, tornava-se necessário ao Brasil, quando este principiava
a figurar no catálogo das nações, conhecer o passado de sua infância para
bem dirigir-se nos tempos modernos. Nesse caso, na visão de Silva Maia,
diferente de vários membros da elite intelectual de meados do século XIX,
não era preciso renegar a tradição e a herança portuguesa, ao contrário, ela
fazia parte da infância de nossa terra, sendo fundamental para sua
constituição enquanto nação.
Após traçar um amplo panorama do conteúdo inédito dos Estudos
Históricos sobre Portugal e Brasil onde tantos temas foram alvo da análise
crítica de Silva Maia, podemos verificar que seu esforço de levantar do
silêncio do passado gerações extintas e as fazer viver diante de nós esteve
perfeitamente coadunado com aquele despendido em meados do século XIX,
para se construir uma identidade para a nação. De acordo com algumas das
colocações do médico e intelectual, observamos sua clara intenção em
contribuir para a escrita da História do Brasil. Porém, o que Silva Maia não
contava era que seus estudos seriam condenados pelo Tribunal da História.
De todo modo, é importante aqui registrar a originalidade desta
documentação que, além de oferecer um manancial de informações para
pesquisas futuras, não apenas revela muito do passado de portugueses e
brasileiros, mas – produzida em um contexto específico – contribui de modo
decisivo para a recuperação da trajetória deste intelectual que, assim como
sua produção historiográfica, merece ser resgatada do esquecimento.

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo maior desse trabalho, qual seja, a


recuperação da trajetória intelectual de Emílio Joaquim da Silva Maia,
pretendi analisar inúmeros aspectos de sua vida e produção intelectual que
pudessem dar conta das hipóteses anteriormente formuladas.
O esforço de investigação justificou-se pelo fato de que a personagem
havia sido abordada pela historiografia, até então, somente por sua
contribuição às Ciências Naturais. Até a memória que se construiu no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em torno de Silva Maia, como foi
possível verificar, evidenciou apenas a face do cientista avesso à política, o
que só contribuiu para que permanecesse inédita sua produção
historiográfica.
Assim, para reconstituir o percurso trilhado por este intelectual ao
longo de seus 51 anos de existência, alguns critérios de análise foram
adotados.
Começamos pelos apontamentos biográficos relativos à personagem,
sua relação com a figura paterna e formação intelectual. Para tanto, a infância
de Silva Maia vivenciada na Bahia, bem como sua fase européia, foram
estudadas, do mesmo modo que foi analisado seu retorno ao Brasil e a
estruturação de sua vida familiar. Para recuperar esta trajetória, inúmeras
fontes foram importantes, a exemplo dos elogios históricos plenos da retórica
dos intelectuais dos Oitocentos, que ofereceram elementos importantes para a
recuperação da esfera privada vivenciada por Maia, bem como
caracterizaram a rede de sociabilidades partilhada pelo médico.
A seguir, Silva Maia passou a ser estudado a partir de sua atuação na
esfera pública. Entendido como intelectual que bebera nas fontes da
Ilustração, haja vista a abrangência de seus estudos que muitas vezes parecem
querer dar conta de um saber enciclopédico, Silva Maia é analisado a partir de
sua atuação no interior de importantes instituições científico-literárias do
Brasil Oitocentista, destacando-se seu papel na criação de uma cultura
política que lançava as bases para a consolidação do Estado imperial, através
dos conceitos de progresso e civilização.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 137


Lúcia Garcia

Compreendendo-o como intelectual infatigável, foi privilegiada a


análise da produção científica de Silva Maia e, portanto, contemplados
estudos de sua autoria que ora debruçavam-se sobre questões relativas à
Medicina, ora sobre a classificação da fauna ou a preservação da natureza
tropical.
Passou-se então a registrar, de modo mais abrangente, o ineditismo dos
Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil de Silva Maia. Tomou-se por
princípio a análise do papel desempenhado pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro desde seus primórdios, sem prescindir do fato
inequívoco de que Emílio Maia foi um de seus idealizadores.
A partir daí, compreendendo a função do IHGB no cenário político
que então se desenhava, tomou-se a produção historiográfica de Silva Maia
como parte integrante do projeto de fundação da História Nacional, tal como
foi concebida primordialmente.
Talvez nesse ponto resida o aspecto mais original da análise de sua
obra, quando se verifica que para Silva Maia o marco fundador da história
pátria – ou seja, a Independência do Brasil – tem sua origem nos sucessos da
Revolução Constitucional da Bahia de 10 de fevereiro de 1821. Foi esse fato,
cuja presença acompanhou Silva Maia pelos lugares onde o destino o
conduziu, que serviu de ponto final para sua narrativa, que visava a dar luz à
história pátria.
Com base no que foi acima exposto, pode-se considerar que se trata de
um membro da elite intelectual Oitocentista, cujas ações contribuíram de
modo importante para o desenvolvimento da ciência e da cultura no Brasil
Imperial, apesar de seus estudos históricos permanecerem inéditos.
Por outro lado, tais Estudos Históricos, ao enquadrarem-se no
contexto de consolidação do Estado Imperial, identificam-se com o projeto
de fundação de uma História nacional concebido pelo IHGB, porém, com o
olhar diferenciado de Silva Maia, dão a Portugal um lugar preponderante na
formação da essência que iria moldar a nação brasileira.
Sobre o ineditismo destas fontes, foram obliteradas durante este largo
espaço de tempo não por apresentarem conteúdo desprezível, mas por terem
sido condenadas pelo Tribunal da História, prática corrente levada a cabo
pelos membros mais atuantes do IHGB momentos após sua fundação: a de

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Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

censurar obras que apresentassem versões incompatíveis com o projeto


político em curso.
Como foi analisado, investigando a produção intelectual de Emílio
Joaquim da Silva Maia, percebe-se que a quase totalidade de seus estudos
históricos versa sobre temas que seriam considerados “recentes” pela
Comissão de História do IHGB e, portanto, não conveniente divulgá-los visto
que estariam comprometendo a edificação da Memória do Império. Além
disso, cabe destacar a simpatia de Silva Maia por Portugal que, nesse
contexto, para uma maioria expressiva de intelectuais, devia ser substituído
por raízes buscadas na própria América, mas idealizadas na Europa, a mestra
da civilização.
Finalmente, compreende-se a razão pela qual os Estudos históricos
sobre Portugal e Brasil e, por conseguinte o trabalho de Silva Maia no campo
da História, foram preteridos do “estoque de lembranças” do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, Casa da Memória que, de modo
estratégico, assim como Emílio Joaquim da Silva Maia, selecionava o que
recordar.

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Lúcia Garcia

FONTES
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro:
- Fontes Manuscritas:
Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil
1) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Primeiro (servindo de introdução). Reflexões Filosóficas sobre o andamento das
sociedades civis, progresso humanitário, grande fim do Evangelho. S.L. S.D.
2) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Segundo. Serviços do Infante D. Henrique; novas descobertas dos portugueses; glória
e opulência dos Reinados de D. João II e D. Manuel. Viagens de Portugal à Índia
tanto por terra como por mar. S.L. S.D.
3) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Terceiro. Os Famosos Affonso d’Albuquerque, D. João de Castro, D. Luiz de Athaíde
e outros invictos capitães; resultado dos feitos portugueses nos séculos XV e XVI.
Começo de sua decadência, etc. S.L.S.D.
4) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Quarto. Glória Literária portuguesa. Portugueses professores em países estrangeiros.
Decadência portuguesa. Revolução de 1640. D. Afonso VI e D. João V. S.L.S.D.
5) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Quinto. Serviços do Marquês de Pombal. Os ilustres Brasileiros Dr. José Francisco
Leal e o Barão de Goyana. “Discursos Político-Morais” e “Júbilo da América”.
S.L.S.D.
6) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Sexto. Vinda a Família Real Portuguesa para o Brasil. Vantagens desta grandiosa
resolução. Opinião de D. Luiz da Cunha e de outros pensadores nacionais e
estrangeiros acerca da residência da Corte Portuguesa na América. Judicioso
vaticínio de um escritor inglês sobre o Brasil sua grandeza e importância. S.L.S.D.
7) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Sétimo. Embarque, séquito e viagem da família real portuguesa. Arribada à Bahia.
Estado do Brasil no tempo de colônia. Desembarque no Rio de Janeiro. Primeiro
Ministério Português que funcionou no Brasil. S.L.S.D.
8) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Oitavo. O Brasil recebe benefícios consideráveis. Progresso material no Rio de
Janeiro; alteração física de sua atmosfera; estabelecimento de tribunais e outras
muitas criações úteis. Outros importantes melhoramentos nas províncias da Bahia,
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina e Goiás. S.L.S.D.

140 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

9) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Nono. O Brasil principia a ser explorado com gosto e eficiência. Naturalistas
brasileiros desde 1780 a 1820. S.L.S.D.
10) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo. Vida e feitos de Paulo Fernandes Viana. S.L.S.D.
11) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo primeiro. Causas provocadoras da Revolução Portuguesa de 1820. Má
política adotada pelo novo governo no Rio de Janeiro. Abusos em todos os ramos da
administração brasileira. Opinião de Auguste de Saint-Hilaire acerca dos ministros
de D.João VI. S.L.S.D.
12) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Segundo. O Brasil encontra compensação aos erros do governo. Grandes
sofrimentos dos dois Reinos Portugal e Algarves. O Brasil recebe dois grandes
benefícios pelo Tratado de 1810. S.L.S.D.
13) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Terceiro. Lojas Maçônicas. Um agente secreto no Rio de Janeiro. Curioso
fato do fanatismo político português. S.L.S.D.
14) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Quarto. Índole e caráter de D. João VI. Motivo dos desastres na noite de 21 de
abril de 1821. S.L.S.D.
15) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Quinto. Causas próprias da Revolução Portuguesa. Hipólito José da Costa
Pereira. Perseguição de muitos portugueses. Aclamação do sistema constitucional.
S.L.S.D.
16) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Sexto. Reflexões históricas. Recebimento no Brasil da notícia da
Constituição Portuguesa. Conduta do governo fluminense por esta ocasião.
Rivalidade entre portugueses e brasileiros. S.L.S.D.
17) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Sétimo. O Conde de Palma. Lojas maçônicas da Bahia. Conde de Palmela e o
Marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes. Bela ação do Capitão de Artilharia
Boaventura Ferraz e do Capitão do Estado Maior Ignácio Gabriel Monteiro de
Barros. Preparatórios da resolução baiana do dia 10 de fevereiro e quais seus
propugnadores. S.L.S.D.
18) Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. Estudos Históricos sobre Portugal e Brasil. Estudo
Décimo Oitavo. Relação dos sucessos efetuados na Bahia no dia 10 de fevereiro de
1821. S.L.S.D. Dl. 345.17

Outros manuscritos de autoria do Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia


que se encontram no Arquivo Histórico do IHGB:

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Lúcia Garcia

1) Quadro Sinóptico do Reino Animal onde se adota o método natural de Cuvier com as
preciosas modificações conforme o estado atual da Ciência, organizados para
facilitar o estudo da Zoologia no internato e externato do Colégio Pedro II. 1858.
IHGB 735.23
2) Resumo das apostilas do Prof. de Zoologia Filosófica do Colégio Pedro II Dr. Emílio
Joaquim da Silva Maia. Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1906. 31 p. Lata 489 doc. 9
3) Parecer do Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia sobre manuscrito do Dr. Manuel
Joaquim Henriques de Paiva, farmacêutico, falecido na Bahia (matéria médica,
química, botânica). S/d. Lata 341 pasta 19.
4) Notícia acerca da obra “Discursos políticos morais” escrita em 1758 pelo fluminense
Joaquim Feliciano de Souza Nunes e queimada em Lisboa por ordem do Marquês de
Pombal. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1857. Lata 7 doc. 24.
5) História da Revolução efetuada na Bahia no dia 10 de fevereiro de 1821, pelo Dr.
Emílio Joaquim da Silva Maia. 1852. Lata 26 doc. 11
6) Elogio Histórico a José Bonifácio de Andrada e Silva pelo Dr. Emílio Joaquim da
Silva Maia.

Menção ao Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia nas Revistas do


IHGB:
1) Nelson Costa. Centenário da Morte de Emílio Maia. RIHGB: 246:321-326,1960.
2) Emílio Joaquim da Silva Maia pede dispensa de membro da Comissão de História.
RIHGB:1:49,1839.p.45-46.
3) Emílio Joaquim da Silva Maia. Reeleito Secretário Suplente em 17 de dezembro de
1843. RIHGB: 5:508,1843. p.542.
4) Emílio Joaquim da Silva Maia. Membro da Comissão de Geografia. 1844. RIHGB.
6:502, 1844.
5) Emílio Joaquim da Silva Maia. Memória sobre a Capitania de Minas Gerais. Doação
de Manuscrito. RIHGB:11:289,1848.
a
6) Emílio Joaquim da Silva Maia. Eleito membro da 2 Comissão de História. 1854.
RIHGB:17:73, 1854.
7) Emílio Joaquim da Silva Maia. Doação de diversos manuscritos de Manoel Joaquim
Henriques de Paiva por... RIHGB:17:84,1854.
a
8) Emílio Joaquim da Silva Maia. Eleito membro da 2 Comissão de História,1855.
RIHGB:18:451,454,1855.
9) Emílio Joaquim da Silva Maia. Eleito membro da Comissão de Estatutos e Redação da
Revista , 1855. RIHGB: 18:451,454,1855.
10) Emílio Joaquim da Silva Maia. Eleito membro da Comissão de Estatutos e Redação da
Revista , 1856. RIHGB:19:85,1856 Supl. 86.

142 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

a
11) Emílio Joaquim da Silva Maia. Eleito membro da 2 Comissão de História. 1857.
RIHGB:20:35,1857.

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro:


Fontes Manuscritas:
1) Pareceres de autoria de Emílio Joaquim da Silva Maia enquanto censor do
Conservatório Dramático do Rio de Janeiro. BN/ Divisão de Manuscritos.
2) Emílio Joaquim da Silva Maia. Catálogo de huma colleção de Beija-Flores disposta e
classificada segundo o methodo de Lesson (...) Rio de Janeiro, 1845.

Fontes Impressas:
1) Emílio Joaquim da Silva Maia. Discurso sobre as Sociedades Científicas e de
Beneficência que tem sido estabelecidas na América. Recitado na Sociedade Literária
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia Imparcial de Brito, 1836. BN/SOR
69,2,11 n.4 . Ex-Líbris Col. Thereza Cristina.
2) Emílio Joaquim da Silva Maia. Discurso sobre os males que tem produzido no Brasil o
corte das matas e sobre os meios de os remediar; lido na sessão pública da Sociedade
de Medicina do Rio de Janeiro em 30 de junho de 1835. Rio de Janeiro: Tipografia
Fluminense de Brito e Cia. 1835. Ex-líbris da coleção Thereza Cristina. BN/SOR
69,2,11 n.2
3) Emílio Joaquim da Silva Maia. Ensaio sobre os perigos a que estão sujeitos os
meninos quando não amamentados por suas próprias mães. Apresentado na
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro na seção de 18 de junho de 1834. Rio de
Janeiro: Impresso na Tipografia de R. Ogier, 1834. Ex-líbris da coleção Thereza
Cristina. BN/SOR 69,2,11 n.1
4) Emílio Joaquim da Silva Maia. Memória sobre o tabaco: lida nas sessões da
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro de 6 e 18 de dezembro de 1834. Rio de
Janeiro: Tipografia Imperial de Seignot Plancher, 1835. Ex-líbris da coleção Thereza
Cristina. BN/SOR 69,2,11 n.3
5) Emílio Joaquim da Silva Maia. Elogio histórico ao ilustre José Bonifácio de Andrada
e Silva. Rio de Janeiro: Tipografia Imparcial F.de P. Brito, 1838. Ex-líbris da coleção
Thereza Cristina. BN/SOR 69,2,11 n.5

Demais Fontes Impressas:


1) Emílio Joaquim da Silva Maia. “Memória sobre os beija-flores, onde se referem os
usos e hábitos de muitas espécies brasileiras, observados e escritos”. In: Minerva
Brasiliense. Jornal de Ciências, Letras e Artes publicado por uma Associação de
o
Literatos. No.1.Rio de Janeiro: Tipografia de J. e S. Cabral. 1 de novembro de 1843.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 143


Lúcia Garcia

2) Discurso do orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Dr. Joaquim Manuel


de Macedo sobre o Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia. 1859. Revista Trimensal do
IHGB (1859):Rio de Janeiro, 1973. p.701-713.
3) Discurso do Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia em sessão da Academia Imperial de
Medicina em 1845. Anais de Medicina Brasiliense, Jornal da Academia Imperial de
o
Medicina do Rio de Janeiro. 1 ano, no. 1. Rio de Janeiro: Tipografia Imparcial de F.
de Paula Brito, 1845. p. 461 – 467.
4) Discurso recitado pelo Dr. Luiz Vicente de Simoni em 21 de novembro de 1859, no
Cemitério de São Francisco de Paula, na ocasião do sepultamento do Dr Emílio
o
Joaquim da Silva Maia. Anais Brasilienses de Medicina. 13 ano. Vol.13. 10 de
dezembro de 1859. p. 208-210.

Arquivo Nacional
1) Inventário post mortem de Emílio Joaquim da Silva Maia
12) Emílio Joaquim da Silva Maia. “Conceitos joco-sérios em cartas” por Simão Pereira
95
de Sá, manuscrito doado por...RIHGB:20:116,1857.
13) Emílio Joaquim da Silva Maia. “História da legislação portuguesa”, manuscrito doado
por...RIHGB 20:116,1857.
14) Emílio Joaquim da Silva Maia. “Relação dos fatos mais notáveis acontecidos na Corte
do Reino e Portugal, desde que o Sr. Rei D. José I, de saudosa memória, foi atacado da
última enfermidade até a morte do Marquês de Pombal”, manuscrito doado
por...RIHGB:20:2116,1857.

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95 Esta prática do Dr. Silva Maia em doar documentos históricos às instituições como o
IHGB, nos remete à missão do Instituto Histórico de coletar documentos sobre a
História Pátria, a fim de salvaguardar a memória nacional.

144 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


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Lúcia Garcia

Quadro 1: O legado intelectual de Emílio Joaquim da Silva Maia.

1.Ensaio sobre os perigos a que estão sujeitos os meninos quando não são
amamentados por suas próprias mães. (1833)
2. Memória sobre o tabaco, onde se mostram a história, usos e todas as
aplicações médicas desta utilíssima planta. (1835)
3.Relatório da comissão especial sobre a epidemia de febre catarral que
grassou nos primeiros meses de 1836. (1836)
4.Parecer sobre a memória do Dr. Francisco José de Araújo Oliveira
relativamente à paralisia.s/d
MEDICINA 5.Parecer sobre a obra de Kirckof sobre a cólera morbus.
6.Higiene pública – arrasamento do Morro do Castelo.
7.Matéria Médica Brasileira.
8.Utilidade e necessidade do uso da Ginástica. (1839-1840)
9.Elephantiase dos gregos, em resposta a uns artigos do Sr. Simoni,
acerca da experiência feita no infeliz Machado com mordedura de cobra
cascavel.
10.Discurso do Sr. Dr. Maia na Academia Imperial de Medicina acerca
do uso pernicioso da prática homeopática no Brasil (1845).
1.Elogio histórico do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva.
(1846)
2.Elogio Histórico do Dr. José Pinto de Azevedo.
3.Oração recitada na presença de SS. MM. o Imperador e a Imperatriz em
12-12-1842, na sessão de distribuição de prêmios do Colégio Pedro
LITERATURA
II.(1842)
4.Discurso – sessão do Instituto Histórico comemorativa ao infausto
passamento do Príncipe D. Afonso, primogênito de SS.MM. II. (1847
5.Exposição dos sucessos políticos de 1821 na Província da Bahia.
Memória lida no IHGB em 6-8 e 10-2-1852.

150 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

1. Discurso sobre os males que tem produzido no Brasil o corte das matas e
sobre os meios de os remediar.
2.Discurso sobre as Sociedades Científicas e de Beneficência que tem sido
estabelecidas na América. (1836)
3. Estatutos da Sociedade Vellosiana com Freire Allemão e G.S. Capanema.
4. Museu Nacional (1848)
5. Quadros sinópticos do Reino Animal onde se adota o método natural de
Cuvier, com as precisas modificações, conforme o atual estado da Ciência
para facilitar o estudo da Zoologia no Colégio Pedro II. (1858)
6. Memória sobre os beija-flores, onde se refere aos usos e hábitos de muitas
espécies brasileiras. (1851)
CIÊNCIAS 7. Notícias Zoológicas: I – Grande desproporção entre indivíduos da mesma
NATURAIS espécie de ave e II – Cobra coral engolindo outra.
8. Memória sobre os usos e costumes de alguns beija-flores brasileiros.
9. Trabalho sobre a ponta do osso de um peixe encontrada no costado de um
navio.
10. Espécie nova e curiosa de um pássaro brasileiro – Tamnophilus
aquaticus.
12. Esboço histórico do Museu Nacional.
13. Duas novas espécies de beija-flores – Trochilus vandelii e Ornismya
ludovicii.
14. Algumas idéias sobre a Geografia Zoológica.
15. Duas espécies novas de beija-flores: Ornismya theresiae e januariae.
1. Reflexões Filosóficas sobre o andamento das sociedades civis,
progresso humanitário, grande fim do Evangelho.
2. Serviços do Infante D. Henrique; novas descobertas dos portugueses;
glória e opulência dos Reinados de D. João II e D. Manuel. Viagens de
Portugal à Índia tanto por terra como por mar.
3. Os famosos Affonso d’Albuquerque, D. João de Castro, D. Luiz Athaíde e
outros invictos capitães; resultado dos feitos portugueses nos séculos XV e
ESTUDOS XVI. Começo de sua decadência.
HISTÓRICOS 4. Glória Literária Portuguesa. Portugueses professores em países
SOBRE estrangeiros. Decadência portuguesa. Revolução de 1640. D. Afonso VI e D.
PORTUGAL E João V.
BRASIL 5. Serviços do Marquês de Pombal. Os ilustres brasileiros Dr. José
Francisco Leal e o Barão de Goyana.“Discursos Político- Morais” e
“Júbilo da América”.
6. Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil. Vantagens desta
grandiosa resolução. Opinião de D. Luiz da Cunha e de outros pensadores
nacionais e estrangeiros acerca da residência da Corte Portuguesa na
América. Judicioso vaticínio de um escritor inglês sobre o Brasil sua
grandeza e importância.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 151


Lúcia Garcia

7. Embarque, séqüito e viagem da família real portuguesa. Arribada à


Bahia. Estado do Brasil no tempo de colônia. Desembarque no Rio de
Janeiro. Primeiro Ministério Português que funcionou no Brasil.
8. O Brasil recebe benefícios consideráveis. Progresso material no Rio de
Janeiro; alteração física de sua atmosfera; estabelecimento de tribunais e
outras muitas criações úteis. Outros importantes melhoramentos nas
províncias da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Santa
Catarina e Goiás.
9. O Brasil principia a ser explorado com gosto e eficiência. Naturalistas
brasileiros desde 1790.
10. Vida e feitos de Paulo Fernandes Viana.
11. Causas provocadoras da Revolução Portuguesa de 1820. Má política
adotada pelo novo governo no Rio de Janeiro. Abusos e todos os ramos da
administração brasileira. Opinião de Auguste de Saint Hilaire acerca dos
ministros de D. João VI.
ESTUDOS 12. O Brasil encontra compensação aos erros do governo. Grandes
sofrimentos dos dois Reinos Portugal e Algarves. O Brasil recebe dois
HISTÓRICOS
grandes benefícios pelo Tratado e 1810.
SOBRE
PORTUGAL E 13. Lojas maçônicas. Um agente secreto no Rio de Janeiro. Curioso fato do
BRASIL fanatismo político português.
14. Índole e caráter de D. João VI. Motivo dos desastre na noite de 21 de
abril de 1821.
15. Causas próprias da Revolução Portuguesa. Hipólito José da Costa
Pereira. Perseguição de muitos portugueses. Aclamação do sistema
Constitucional.
16. Reflexões históricas a respeito da Constituição Portuguesa.
Conduta do governo fluminense por esta ocasião. Rivalidade entre
portugueses e brasileiros.
17. O Conde de Palma. Lojas maçônicas na Bahia. Conde de Palmela e o
Marechal Felisberto Caldeira Brandt Pontes. Bela ação do Capitão de
Artilharia Boaventura Ferraz e do Capitão do Estado Maior Ignácio
Gabriel Monteiro de Barros. Preparatórios da resolução baiana do dia 10
de fevereiro e quais seus propugnadores.
18. Relação dos sucessos efetuados na Bahia no dia 10 de fevereiro de
1821.

152 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007


Emílio Joaquim da Silva Maia. um intelectual no Império do Brasil.

Quadro 2: Exemplo da rede de sociabilidade que se estabelecia no


seio do IHGB na primeira metade do século XIX:

IHGB – Relação dos Fundadores96

Alexandre M. de Mariz Sarmento Joaquim Caetano da Silva


Antonio Alves da Silva Pinto Joaquim Francisco Viana
Aureliano de Oliveira Coutinho José Antonio da Silva Maia
Bento da Silva Lisboa José Antonio Lisboa
Caetano Maria Lopes da Gama José Clemente Pereira
Cândido José de Araújo Viana José Feliciano Fernandes Pinheiro
Conrado Jacob Niemayer José Lino de Moura
Emílio Joaquim da Silva Maia José Marcelino da Rocha Cabral
Francisco C. da Silva Torres e Alvim José Silvestre Rebelo
Francisco Ge de Acaiaba Montezuma Pedro de Alcântara Bellegarde
Inácio Alves Pinto de Almeida Raimundo José da Cunha Mattos
Januário da Cunha Barbosa Rodrigo de Souza Silva Pontes
João Fernandes Tavares Tomé Maria da Fonseca

96 Ib. idem. P. 38

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):67-153, out./dez. 2007 153


A ETNOGRAFIA COMO UM NOVO CAMPO DE SABER NA
FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
BRASILEIRO

Kaori Kodama1

RESUMO: Abstract:
Pretende-se discutir neste artigo o surgimento da This article is meant to discuss the creation of
seção de etnografia dentro do Instituto Histórico the Ethnography’s section in the Institute of
e Geográfico do Brasil, em fins da década de History and Geography of Brazil in the late
1840, seção que nasceria acoplada à arqueologia, 1840’s. Ethnography was grouped together
buscando satisfazer ao interesse da instituição de with Archaeology in this new section whose
criar subsídios para seu projeto de uma escrita da purpose in the Institute was to assist the
História do Brasil. Abordaremos o surgimento project of writing the History of Brazil. We
do campo de “estudos etnográficos” bem como a have come to grips with the emergency of the
transformação do índio em novo objeto de field of ethnographical studies, as well as with
conhecimento no Instituto, através das suas the transformation of the Indian in a new
relações com diversos conhecimentos que em subject of knowledge by considering other
momentos anteriores eram referentes aos índios, fields of knowledge referred to the Indian
como a História Natural e o conhecimento sobre before, like Natural History and the
o espaço. Ao lado da importância do projeto cognizance of space. The creation of this field
literário indianista, apresenta-se a criação deste of study is a result not only from the
campo de estudos no IHGB como um dos passos importance of the literary movement of the
da cientificização do conhecimento histórico em Indianism in Brazil, but also from a step in the
curso durante meados do século XIX. process of “scientifization” on historical
studies on the mid-nineteenth century.
Palavras-chave: Etnografia; Indianismo; Keywords: Ethnography; Indianism;
Historiografia do Brasil Império. Historiography of Brazil-Empire.

1 Pesquisadora Visitante da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (Vínculo atual); Douto-


ra (2005) e Mestre (1999) em História Social da Cultura pela Pontifícia Universida-
de Católica do Rio de Janeiro; Bacharel e Licenciada (1996) em História pela Uni-
versidade Federal Fluminense.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 155


Kaori Kodama

Em 1836, Domingos José Gonçalves de Magalhães, com Manuel de


Araújo Porto Alegre e Francisco Sales Torres Homem, fundavam em Paris a
Revista Nictheroy e apresentavam aos leitores brasileiros um periódico que
buscava tratar dos temas relativos às “Ciências, a Literatura nacional e as
Artes”. Na revista, saía a epígrafe “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil”, que já
dava o tom do intuito de revelar trabalhos de brasileiros naqueles campos.
Buscava-se ali firmar o terreno da produção das letras nacionais ao mesmo
tempo em que elas eram definidas.
Almejando preencher esse objetivo, seria publicado no primeiro
número da revista o “Discurso sobre a História da Literatura no Brasil”, de
Gonçalves de Magalhães, texto que se tornaria o marco a partir do qual se
fundava o movimento romântico na literatura brasileira. No “Discurso”,
tratava-se, no processo de definição da literatura brasileira, de manifestar a
demarcação do que era “indígena” daquilo que era “estrangeiro”, a partir da
redefinição que se manifestava na questão imposta por Magalhães: “Pode o
Brasil inspirar a imaginação dos poetas, e ter uma poesia própria? Os seus
indígenas cultivaram porventura a poesia?”
Gonçalves de Magalhães não deixaria dúvidas quanto à sugestão
implicada na resposta: “Por alguns escritos antigos sabemos que algumas
tribos indígenas se avantajavam pelo talento da música e da poesia, entre
todas os Tamoios, que no Rio de Janeiro habitavam, eram os mais
talentosos.” Essa assertiva, que já deixava entrever a presença das idéias
românticas que se vulgarizavam no espaço europeu, continha uma
justaposição de imagens sobre a natureza e sobre os índios que viriam a
confluir na recriação dos sentidos de ‘brasileiro’ – e que, nas palavras de
Antonio Candido, fundiria “medíocre, mas fecundamente, para uso nosso, o
complexo Schlegel-Staël-Humboldt-Chateaubriand-Denis”2. Para que o
Brasil – que passava a ser uma realidade nacional – pudesse inspirar uma
poesia genuína, ele já teria seu registro como uma realidade natural e
continental, que agora deveria ser pensada como fonte da inspiração,
fornecendo uma poesia própria e particular, tal como era aquela mesma
natureza. Prova ainda de que a natureza do Brasil poderia ser esta fonte de
inspiração para a poesia era que seus primitivos habitantes – os indígenas –
teriam sido os primeiros poetas desta parte do mundo. As considerações de

2 CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira, vol. 2, 7ª ed., Belo Hori-


zonte/Rio de Janeiro: Itatiaia Editora, 1993, p. 14.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

Gonçalves de Magalhães ressaltavam as de outros, como Ferdinand Denis,


Almeida Garrett e Januário da Cunha Barbosa, que visavam à formação de
uma literatura nacional e autônoma. O que nos interessa, no entanto, aqui é
que este programa de formação das letras nacionais, que Magalhães também
ajudava a criar, gerava igualmente uma atitude nova em relação ao índio,
passando-se a encará-lo como “elemento básico da sensibilidade patriótica”.3
Note-se que Magalhães tratava de incorporar uma nova atribuição a
uma velha palavra: “indígena”. Agora, sob o prisma da busca de uma
fundação mítica para a nacionalidade, o sentido para “indígena”, entendido
como habitantes-primitivos-do-país (nativos), se salientava principalmente
por significar o oposto ao “estrangeiro”. Este uso da palavra indígena
imprimia sobre ela dois registros: de um lado, reforçava uma legitimação
através da idéia de tradição e da insistência no elo temporal, uma vez que a
poesia já era cultivada entre aqueles, desde antes da vinda dos portugueses.
De outro lado, sublinhava-lhe um forte sentido espacial, reportando a palavra
“indígena” à natureza local, como um recorte dentro do continente
americano.
Nos anos de 1840, Joaquim Norberto retomaria ainda o mesmo mote
de Gonçalves de Magalhães, ao falar dos tempos anteriores à conquista, ao
encontrar a poesia já entre os selvagens que “elevavam-se acima dos povos
americanos pela sua imaginação ardente e poética”. Justificaria Norberto esta
imaginação poética dos indígenas brasileiros pelo papel decisivo que exercia
a natureza local: “As encantadoras cenas que em quadros portentosos oferece
a natureza por todos os sítios de nossa pátria os inspirava, e de povos rudes e
bárbaros os faziam povos poetas”4. Da mesma forma como havia feito
Magalhães, ele elegia os mesmos elementos que evocavam os emblemas e as
origens míticas da nacionalidade brasileira, como que igualmente serenando
o ideal de um grupo e a identidade de uma geração. O que se encontrava
naquela frase de Norberto, sabe-se, era o próprio indianismo: a forma que

3 Idem, ibidem, p. 19.


4 SILVA, Joaquim Norberto Sousa História da literatura e outros ensaios (org. e
notas de Roberto Acízelo de Souza), Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacio-
nal/Zé Mario Editor, 2002, p. 281.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 157


Kaori Kodama

assumiria a busca da expressão literária brasileira ao longo de cinco décadas


do século dezenove.5
Mas ali estava também a expressão de um complexo refazer das
imagens sobre o índio, que ganharia outras significações, para além daquelas
que a experiência da administração colonial havia criado nos séculos
anteriores. À medida que a geração romântica tomava para si a tarefa de
construção de um campo literário e intelectual autonomizado da antiga
Metrópole, ia-se moldando uma imagem do índio por uma lente nova. Às
imagens todas que construíram o índio no mundo colonial – do índio como o
inimigo e gentio e do índio como “negro da terra”6; do índio como população
a ser assimilada e do índio como uma alegoria da América –, incorporava-se
agora uma outra: a do índio como uma forma de expressar as particularidades
do Brasil, ligada às origens do que viria a ser a “nação brasileira”. E era nessa
construção, de uma origem mítica, que os índios acabariam por penetrar no
âmbito do conhecimento histórico produzido por esta mesma geração.
Neste sentido, procuraremos retomar a produção deste conhecimento
histórico sobre o índio a partir dos trabalhos do Instituto Histórico e
Geográfico do Brasil (IHGB), instituição que se encarregaria da organização
dos documentos para uma História do Brasil. O interesse pelo passado
indígena levaria os sócios da instituição a criar uma seção de Arqueologia e
Etnografia indígena, onde seriam depositados os trabalhos referentes aos
índios, formando o conjunto de temáticas que compunha a etnografia do
IHGB. Campo cuja especificidade emergia na medida em que se desenvolvia
a produção de conhecimento histórico da instituição, a etnografia dissolvia
em seu interior inúmeras imagens sobrepostas, incluindo aquelas criadas pelo
indianismo.
A existência de um lugar para os estudos etnográficos dentro da
instituição deixaria entrever uma relação ainda mais recôndita da história
com o mito. Com efeito, o momento de busca de construção das histórias

5 Sobre uma periodização para o indianismo, v. a proposta de TREECE, David “Vic-


tims, allies, rebels: towards a new History of Nineteenth-Century Indianism in Bra-
zil”, Extract from Portuguese Studies, vol. 1, Liverpool, Modern Humanities Rese-
arch Association, 1985-86: 57.
6 V. MONTEIRO, John Negros da terra – índios e bandeirantes nas origens de São
Paulo, 3ª reimp., São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

nacionais era também o de afirmação da própria idéia das origens7, cuja


expressão dentro do processo em que se via fundar o Império do Brasil dava
lugar às imagens do indígena e da natureza renovadamente elaboradas.
Inserido em um plano mais geral, este momento replicava o da “reabilitação
do mito” que ocorria entre Europa e América, onde a glorificação de heróis e
deuses através da literatura na descoberta de um tempo primitivo pleno
possibilitava a equivalência de todos os povos em suas grandezas, abrindo
espaço para uma nova comunhão entre os concidadãos8. Questão cara aos
formadores da nova geração posterior à Independência, a legitimação
oferecida às novas nações por uma universalização de suas glórias no passado
através do mito unificaria os diferentes discursos sobre os primitivos
habitantes do território do Império em seu aporte à construção da História
pátria.
Tecia-se na constituição da literatura nacional toda a urgência de um
tempo histórico a ser vivificado, cujo fundamento de equivalência ao modelo
das antigas nações estava nos elementos vistos como primordiais: a paisagem
brasileira e, dentro dela, o índio. A costura entre a natureza e o índio que se
elaborava nesta constituição nacional, tal como afirmara Antonio Candido,
fazia-se no mesmo movimento em que a paisagem brasileira se tornava o
palco da manifestação de um verdadeiro “pré-romantismo franco-brasileiro”.
Ocorrida entre 1820 e 1830, a instalação nas paragens naturais das matas e
florestas na Tijuca dos membros da comissão artística francesa ainda na corte
de d. João VI (Candido, 1993, vol 1:262) ajudaria a fixar tais paisagens como
inspiradoras de um novo sentir. Sentir esse que se sobreporia ao sentimento
nacional. Ainda, segundo Isabel Lustosa, a consagração de uma imagem de
grandeza do país através da paisagem natural seria verificada na inauguração
da imprensa no Brasil, no início da década de 1820. Constata a autora que em
um jornal efêmero denominado Brasil, o país seria apresentado como um
gigante índio, cujo corpo que se estirava “do Orelana ao Prata”, se levantava
para defender, como um “galhardo mancebo” que não gostava de discursos,
os caminhos a serem seguidos na sua emancipação. O período da
Independência, como indica o trabalho de Lustosa, era um momento

7 Para uma problematização da questão no romantismo brasileiro, v. entre outros,


SUSSEKIND, Flora “O escritor como genealogista”, em: PIZARRO, Ana. Améri-
ca Latina: palavra, literatura e cultura. vol. 2, Campinas, unicamp, 1994.
8 Cf. STAROBINSKI, Jean, As máscaras da civilização, São Paulo: Companhia das
Letras, 2001, p. 257.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 159


Kaori Kodama

privilegiado para verificar como a palavra ‘brasileiro’, que assumia novos


sentidos desde então. Ele fazia precipitar as alusões aos elementos da
paisagem e do indígena do Brasil, que se verificavam não só na imprensa,
como também nas representações festivas e nos nomes assumidos pelos que
aderiam à causa da Independência. Não seria demais lembrar o nome do
jornal de José Bonifácio, neste período iniciante da imprensa, denominado
Tamoyo.9
A etnografia do Instituto Histórico necessariamente toma como ponto
de partida esta criação de um discurso sobre a paisagem. Tem-se assim a
importância da idéia de localidade, e buscaremos desenvolvê-la a partir do
que denominamos “aprendizado da paisagem”. Acreditamos que é a partir de
um processo, onde se engendrava o conhecimento das particularidades locais
da natureza, que se tornou possível demarcar os quadros de compreensão do
nosso objeto – os discursos de meados do século dezenove do IHGB sobre os
índios do Brasil.
A paisagem natural passaria a servir como um suporte para que se
definisse para a elite letrada o conjunto de coisas nomeáveis como nacionais.
Ao mesmo tempo que se elegia a natureza do Brasil e seus representantes
diretos – os índios – como emblemas nacionais, passava-se também a
conhecer esta mesma natureza como um aprendizado material e científico
daqueles elementos mesmos desta paisagem natural evocada, implicando este
processo em uma via de mão-dupla. É dentro deste processo que se abria a
possibilidade de transformação do índio em um objeto de conhecimento
específico: objeto que se via reportado à história e à geografia do país. O
aprendizado da paisagem se traduzia assim em uma operação que criava para
parte dos homens letrados do Império do Brasil uma imagem da nação, ao
mesmo tempo em que ia formando através dela uma tradição.
Ainda, poderíamos novamente lembrar a referência ao “indígena”
feita por Gonçalves de Magalhães em seu “Discurso”. Nela, como
destacamos, sobressai uma dupla abordagem sobre o primitivo habitante do
território do Império: como elemento que servia para simbolizar a nova
“comunidade” nacional por uma referência que já se obtinha no espaço,
através do vínculo de sua imagem com este mesmo território; e como

9 V. LUSTOSA, Isabel, Insultos impressos, São Paulo: Companhia das Letras, 2000,
p. 50.

160 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007


A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

elemento que passava a oferecer o sentimento de comunhão no tempo, a partir


da reabilitação mitológica operada naquele momento. Espaço e tempo,
geografia e história, constituem assim as duas portas de entrada por onde os
estudos sobre os índios viriam a ganhar legitimação dentro do Instituto.
Espaço e o aprendizado da paisagem
Uma primeira abordagem que poderíamos tomar para olhar a
etnografia indígena criada no IHGB é pelo conhecimento geográfico. Com
efeito, o conhecimento do espaço tornava-se uma das pontas de lança que
estruturavam o saber do próprio Estado, uma vez que na feitura das
corografias, dos mapas cartográficos e de dicionários topográficos, não só era
delineado o próprio território, como também, de alguma maneira, era possível
detectar quais eram as partes ainda não assimiladas pelo governo imperial.
Juntamente com os debates sobre o que seria nacional na poesia e na
literatura conduzida pelos homens de letras, a inquirição pela definição dos
limites do território nacional emergia como questão freqüentemente discutida
no IHGB. Em 1837, um dos sócios fundadores da instituição, o marechal
Raimundo José da Cunha Matos, ressentia-se da falta de conhecimentos
precisos sobre as fronteiras do Império dizendo:
nem todas as suas fronteiras externas se acham conhecidas e
demarcadas: e até mesmo se ignoram os contornos de algumas
Províncias internas, que não existem habitados, nem foram
reconhecidos por homens que determinassem as suas situações
astronômicas.10
Por detrás da necessidade de buscar os dados geográficos do Império,
estaria o projeto de constituição de um espaço territorial que se queria
contínuo, uma unidade, cuja legitimação estaria inscrita na Natureza. Neste
sentido, as diversas corografias: escritas que faziam a descrição das regiões,
incluindo a apresentação de sua natureza física – suas serras, montanhas, rios,
vales – e a inscrição dos elementos naturais e humanos presentes neste espaço
eram primordiais para a configuração mental e discursiva dos letrados
brasileiros sobre a unidade territorial do Império. Um exemplo eloqüente da
procura por bem conhecer as regiões que compunham o ainda desconhecido

10 MATOS, José Raimundo da Cunha, “Memoria histórica sobre a população, emi-


gração e colonisação, que convem ao Imperio do Brasil”. O Auxiliador da Industria
Nacional, ano 5o., n.1, 1837, 344

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 161


Kaori Kodama

Império do Brasil estava na reedição, em 1833, da Corographia Brasílica, de


Manoel Aires do Casal. Obra única que se conhece deste padre português –
que segundo Capistrano de Abreu, para realizá-la, além das viagens a
algumas das localidades que descreveu, investigou os documentos
disponíveis na Biblioteca Pública da Corte e no Arquivo Militar11 –, foi
editada pela Imprensa régia em 1817 e pode ser vista como o resultado de um
esforço de conhecimento pela monarquia portuguesa do que era então o
Reino do Brasil.
Outras obras ainda expressavam esta busca por compor em um todo a
imagem do território, como a edição do Diccionario e do Atlas do diccionario
geographico, histórico e descriptivo do Brazil, de Milliet de Saint-Adolfe, de
1845. O Diccionario Topographico do Império do Brasil, de José Saturnino
da Costa Pereira12, cuja primeira edição era de 1834, procurava realizar o
levantamento de todas as localidades que se conheciam, e dizia conter
as Descripções de todas as Províncias em geral, e particularmente de
cada huma de suas Cidades, Villas, Freguezias, Arraiaes, e Aldeias,
bem como os Rios, Serras, Lagos, Portos, Bahias, Enseadas, etc. Com
muitas Demarcações de Latitudes e Longitudes dos lugares, tiradas
das mais acreditadas observações; finalmente a noticia das Nações
Indígenas, assim domesticadas, como selvagens, habitantes no
território Brasileiro.13
Destaque-se aí a inserção das “nações” indígenas na representação
deste todo territorial conhecido, entre vilas, cidades e acidentes geográficos.
Dando a elas os nomes conhecidos, indicando se eram “selvagens” ou
“domesticadas”, as nações representavam exatamente os lugares por elas
preenchidos na topografia do Império. As descrições de tais nações,
entretanto, vinham sob a forma tradicional de conhecimento etnográfico
11 Cf. ABREU, Capistrano. “A Geografia do Brasil”, em: ____. Ensaios e estudos, 2a.
série. Rio de Janeiro/Brasília: Civilização Brasileira/MEC, 1976, p. 22.
12 O autor, nascido na província do Rio Grande do Sul e irmão do publicista Hipólito
da Costa, foi presidente da província do Mato Grosso, e se empenhou em fazer co-
nhecer os dados relativos ao território do Império, principalmente após ser eleito
membro da Comissão de Estatística, em 1827. Suas remessas de produtos naturais e
de artefatos de indígenas do Mato Grosso, os quais seriam incorporados ao acervo
do Real Museu da Corte, podem assim ser compreendidas como parte daquele mes-
mo esforço de conhecimento geográfico e da História Natural do país.
13 PEREIRA, José Saturnino da Costa, Diccionario Topographico do Império do Bra-
sil, Typ. De P. Gueffier, 1834.

162 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007


A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

existente nos relatos de viajantes ou nos relatórios administrativos, traçando


hábitos, índole e uma menção ao seu estado de civilização. No Dicionário,
encontraríamos vários verbetes curtos, como por exemplo sobre os Gamelas:
“Nome dado a uma Nação Indigena, na Provincia do Maranhão. Habita uma
porção meridional da mesma Provincia, vivendo de caça e pesca.” Os Parecis,
por sua vez, seriam descritos como “Nação Indígena da Provincia do Mato
Grosso. Habita nos campos do mesmo nome; hoje quase domesticada”. Na
profusão de nomes de inúmeras “nações” que registrava, destacava o autor
em sua Introdução uma certa configuração geral dos índios do território do
Império, a despeito da constatação de algumas variedades entre elas,
resultantes das índoles particulares e dos efeitos da localidade, além da
“maior ou menor distancia em que se achão do estado natural”. Ainda que
notasse estas características peculiares, o autor procurava salientar os
aspectos que deveriam retratar os índios do Brasil como um todo. Sobre a
imagem geral dos índios eram ressaltados elementos que se revestiam da
longa tradição dos relatos de viagens, tais como a robustez, a saúde e a
longevidade:
Em geral porem os Indigenas do Brasil são corpulentos, robustos,
sadios, e de vida prolongada, em ambos os sexos; não sendo raro
encontrarem-se selvagens nonagenarios, quando tem escapado da
sorte da guerra, ou dos desastres a que sua vida errante os expoem
continuamente.14
Acrescentava ainda que “à reserva de mui poucas Nações os Indios são
geralmente cobardes, e raramente atacam à força descoberta”, mas que no
entanto encontravam-se algumas nações verdadeiramente corajosas nas
margens do Tocantins. Destacava outros aspectos gerais, como as
indumentárias, as bebidas, a crença em um Criador Supremo, o culto aos
mortos, a presença de caciques em sua organização política. Dizia também
que não constatou a poligamia, e concluía as considerações sobre os índios
dizendo: “Taes são os costumes que em geral se podem atribuir a todas as
hordas de selvagens no Brasil: o mais é particular a cada uma delas”.
A presença dos verbetes como Ximbuias, Aimbores ou Guaicurus, ao
lado de Joaseiro e Xingu no Dicionário nos interessa como primeira
sinalização para a compreensão dos índios como elementos vinculados ao
conhecimento do espaço territorial do Império: onde não havia o

14 Idem, ibid., p. XIV.

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Kaori Kodama

mapeamento bem elaborado, punha-se em seu lugar a descrição dos


habitantes selvagens do território. Neste traçar do conhecimento do território,
do qual o Dicionário seria uma expressão, curiosamente era nele imposto um
lugar de compreensão dos índios, adequando-os no processo que buscava a
definição geográfica necessária à própria identidade geopolítica do Império.
A importância dada a este trabalho de Costa Pereira pode-se medir
pela decisão do governo imperial de distribuí-lo por todas as províncias do
Império, em 1838.15 Não só o fato memorado no relatório aos parlamentares
por si é significativo, como um outro elemento chama-nos a atenção: já se
previa uma correção do seu conteúdo, bem como a reimpressão de uma
segunda edição, ponto que não deixa dúvidas sobre a necessidade de se
mapear em precisão e em escala mínima todo o território.
Em 1839, quase que como uma resposta às considerações esboçadas
por Cunha Matos em 1837, era publicada no Instituto Histórico a memória do
visconde de São Leopoldo, “Quais são os limites naturaes, pactados e
necessários ao Império do Brasil?”, onde ficaria claro como se cruzavam a
geografia e a história como formas de conhecimento sobre a questão da
configuração territorial do Império.
Os debates sobre o território no IHGB, entretanto, agregaram em seu
discurso o conhecimento prévio das regiões através das descrições, que
compunham a paisagem local. Como continuidade com a perspectiva que
conforma o tema indígena dentro do conhecimento do espaço, encontramos
as coleções do Museu da Corte.
Após a transmigração da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o
estabelecimento das instituições ligadas aos saberes da natureza e da
geografia auxiliou na ampliação das referências sobre o território português
na América, estreitando o maior conhecimento sobre seus contornos com a
produção de conhecimentos aplicados. A criação do Real Horto Botânico
15 No relatório anual do ministro dos Negócios do Império, Francisco de Paula de
Almeida e Albuquerque, informava-se que o governo havia comprado 180 exem-
plares do Diccionario Topographico do Brasil e que “tem contribuido com quanto
está da sua parte para que o autor obtenha os esclarecimentos necessarios á correc-
ção, e maior desenvolvimento daquella Obra, na segunda edição que della fizer”.
Relatório apresentado à Assembleia Legislativa na sessão ordinária de 1839, pelo
Ministro e Secretário de Estado Interino dos Negócios do Império, Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1839, p. 14.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

(1808), do Museu Real (1818) ou ainda da Academia Real Militar (1810),


cumpria este papel da institucionalização dos campos ligados ao
conhecimento da natureza.16 O funcionamento do Museu pode ser tomado
como um espaço em que se disponibilizaria – ainda que para um público
restrito – o conhecimento da natureza do Brasil e, dentro dela, os indígenas.
As descrições e classificações das produções naturais deveriam
incorporar ainda os dados sobre a população local em seus usos e costumes e
em uma estatística populacional. A população era compreendida como
integrante daquela paisagem natural no que a caracterizava e no que a
modificava, por sua ação sobre a mesma natureza.
O Museu, em um processo de ordenamento e decodificação dos
elementos naturais das localidades, trataria de expressar de acordo com as
classificações da História Natural aquela natureza para os visitantes e
estudiosos. Os produtos ali expostos seriam assim a reapresentação ordenada
da configuração natural dos objetos de um lugar dentro de um quadro
abrangente, de modo que serviriam como um forma de apreender a localidade
para aqueles que não realizavam a viagem fisicamente.
No estoque do Museu, e entre os produtos naturais que recebiam uma
determinada ordem e classificação, incluíam-se os artefatos indígenas, como
que também inscritos dentro dessa mesma natureza local. Jean Baptiste
Debret, por exemplo, utilizaria os objetos existentes no Museu como modelo
para a pintura de suas pranchas sobre os costumes indígenas. Entretanto, é de
se notar que, se os objetos indígenas coletados teriam sua direta remissão à
Natureza, sendo tais objetos ligados aos assuntos da História Natural, eles
pertenciam à seção de Numismática, Artes Liberais, Arqueologia e costumes
das nações antigas e modernas do Museu (Faria, 1949), deixando então
entrever que os índios estavam vinculados às curiosidades etnográficas e
arqueológicas. Segundo Ladislau Netto, que fora diretor do Museu em 1870,
a relação dos objetos da seção de Numismática e Artes liberais dos povos
antigos e modernos incluía em 1838, 464 medalhas antigas, 30 da Idade
Média, 160 modernas e 442 moedas diversas. Havia também quadros,

16 Sobre a fundação destas e outras instituições de ciências no período, como a Escola


anatômica, cirúrgica e médica do Rio de Janeiro ou a Fábrica de Pólvora de Soroca-
ba, ver DANTES, M. A., Espaços da ciência no Brasil, 1800-1930, Rio de Janeiro,
2001, e FIGUEIRÔA, S. As ciências geológicas no Brasil: uma história social e
institucional, 1875-1934. São Paulo, 1997.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 165


Kaori Kodama

instrumentos de física e química e modelos de máquinas industriais. Das


antiguidades, o Museu possuía as “egipcíacas”: 5 múmias, 3 múmias de
animais, 53 ídolos, 3 ânforas, 8 canopos, 3 vasos, duas lâmpadas sepulcrais, 2
quadros e mais alguns outros objetos. As antiguidades européias contavam
com somente um vaso longo bardo. Das mexicanas, 2 modelos representando
a pedra dos sacrifícios e o calendário, e mais dois ídolos. Da “Africa inculta”,
possuíam uma pequena bandeira com figuras e alegorias do poder, um trono,
três cetros, alguns ábacos, sandálias, barretes tecidos, diferentes armadilhas
para caça, e alguns objetos “relativos ao trajar e passatempo dos negros da
Costa d´Africa”. Da Ásia, possuíam 6 ídolos hindus. Havia ainda alguns
objetos da Nova Zelândia e Ilhas Sandwich. Dos índios do Brasil, o Museu
possuía então vestimentas, carapuças, cetros de penas, “enfeites de formas as
mais variadas”, armas de caça, de pesca e de guerra, e mais de duzentos
artefatos diferentes “peculiares a muitas tribus dos aborigenes do Brazil”.17
Pela ordenação das seções do Museu, era possível entender de que
modo seria organizado o conhecimento sobre os índios do Brasil. O modelo
presente na configuração da seção de Numismática e Costumes das Nações
Antigas e Modernas seguia o de um conhecimento colecionista e
universalizante, ligado ao saber antiquário. A forma colecionista com que os
objetos indígenas eram acolhidos junto aos vasos egípcios, múmias,
máquinas modernas, medalhas medievais e ídolos das Ilhas Sandwich,
demonstra o comprometimento deste modelo de conhecimento com uma
história universal, como visto por Pomian para as coleções de monumentos
históricos do século XVIII.18
A esta perspectiva dos povos indígenas do Brasil encontrada ainda nos
Museus, que incluía a ênfase no conhecimento universal e espacializado dos
povos do mundo, se sobreporia uma outra, ao longo do desenvolvimento da
idéia de nação. A nova perspectiva, que coincidia com o momento de criação
do Instituto Histórico, particularizava o estudo sobre os índios do Brasil,
salientando sua importância para a compreensão de uma história nacional.

17 LADISLAU NETTO, Antonio, Investigações historicas e scientíficas sobre o Mu-


seu Imperial e Nacional do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Instituto Philomatico,
1870.
18 Ver, sobretudo, a questão da inclusão das coleções de medalhas medievais em PO-
MIAN, Krzyztof. Collectionneurs, amateurs et curieux, Paris: Gallimard, 1987, p.
272-291.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

É a partir de um novo modelo de história que passava a se impor, que a


temática indígena ganhava também novos sentidos. Desde a fundação do
IHGB, o conhecimento sobre os índios do Brasil tornava-se importante não
só porque estes eram parte do que consistia a compreensão da natureza do
país – o que aportava sem dúvida na legitimação territorial, e no papel da
geografia do Instituto – como também porque eles eram agora apresentados
como parte da história deste território.
Ao se incluir o estudo dos indígenas para dentro da História do Brasil,
seria possível lançar luzes sobre um tempo remoto, onde esta terra estaria
fixada de par com as antigas civilizações do mundo. Apresentava-se a partir
de então uma dupla inserção do índio como objeto de investigação: como
elemento da paisagem natural brasileira – o que o recorta no espaço – e como
parte da história dos povos antigos – o que o recorta no tempo.
Tempo e o passado remoto do Brasil
Na segunda sessão do Instituto Histórico, realizada em 15 de
dezembro de 1838, os consócios debatiam a proposição do cônego Januário
da Cunha Barbosa de determinar quais teriam sido “as verdadeiras épocas da
história do Brasil”. Deste debate resultara a “Dissertação acerca do sistema de
escrever a História Antiga e Moderna do Império do Brasil”, de Raimundo
José da Cunha Matos.19 Da reunião resultara como conclusão que as épocas
da história do Brasil que se achariam mais conformes aos “diversos escritores
antigos e modernos” deveriam ser três: a primeira, concernente aos
“aborígenes ou autóctones”; a segunda, que deveria tratar da era dos
descobrimentos pelos portugueses e da administração colonial, e a terceira,
que deveria abranger todos os acontecimentos nacionais a partir da
independência20. Nessa dissertação, pela primeira vez entrava em uso a
palavra etnografia dentro do Instituto Histórico, que ali aparecia como área de
conhecimento – junto à arqueologia – ligada à primeira época da história do
Brasil, relativa aos indígenas, primitivos habitantes do que viria a ser o

19 Januário da Cunha Barbosa na sexta sessão do Instituto, em 2 de março de 1839, lê


o comunicado do falecimento do marechal. Revista do Instituto Histórico e Geo-
gráfico Brasileiro, tomo 1, p.49, 1908 (3a. ed.).
20 MATOS, Raimundo José da Cunha. “Dissertação acerca do sistema de escrever a
história antiga e moderna do Brasil”. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, t. 26 1863, p.129.

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território do Império. Descrevia da seguinte maneira as problemáticas


referentes ao estudo desta primeira época:
A primeira época que apresento é a dos aborígenes ou autóctones, em
a qual infelizmente andaremos quase às apalpadelas, por falta de
monumentos bíblicos ou lapidares que sirvam ao menos para dar uma
certa cor de probabilidade às nossas conjecturas. Esta parte da
história do Brasil existe enterrada debaixo de montanhas de fábulas,
porque cada tribo ao mesmo tempo que apresenta origens as mais
extravagantes, não sabem dar razão clara das suas emigrações, e a
atual residência; e para cada uma delas um século dos nossos, é a
eternidade. A historia dos nossos aborígenes não tem sido estudada, e
ninguém pode afirmar autenticamente que os índios do território do
Brasil são da mesma raça dos peruvianos, dos chilenos, ou dos
habitantes de Nova Granada. Ao norte do Amazonas existem tribos
que fizeram e ainda fazem uso dos quipos na contagem por meio de
nós à moda dos mais antigos chineses, e dos naturais do México, e do
Peru; está reconhecido que aqueles índios também fizeram uso de
ferro e aço, e que provavelmente foi com esses instrumentos ou com os
de cobre encalcado que eles abriram certas figuras em diversos
rochedos contíguos aos rios Orenoco, Atapabo, Negro e Cassiquera.
Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio em a sua interessante viagem
pela capitania do Rio Negro, dá noticia da existência de uma tribo da
margem do Rio Izano em que se conservam alguns nomes próprios do
povo hebraico, o que a ser certo, levar-nos-há a grande questão da
vinda dos fenícios às terras do novo mundo.21
Segundo José Honório Rodrigues, Cunha Matos seria quem pela
primeira vez abriria dentro do Instituto, o debate sobre a divisão das épocas
na História do Brasil. A procura de se estabelecer uma periodização da
história do Brasil parecia responder a uma busca de um lugar na história
universal, uma vez que cada época deveria preencher um significado dentro
de um esquema mais geral da história, e que no caso da História do Brasil
deveria mostrar, repetindo as palavras de Cunha Matos, a “marcha sucessora
da civilização da Terra de Santa Cruz”.22

21 Idem, ibidem, p. 129.


22 Sobre este sentido da periodização, cf. RODRIGUES, José Honório. Teoria da his-
tória do Brasil, 5ª. Ed., São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

No artigo intitulado “Épocas brasileiras”, retocado pelo autor pouco


tempo antes de morrer (1839), Cunha Matos corroboraria o sentido de
universalidade da história, ao procurar estabelecer em um curso os fatos que
vieram a abordar o território do Brasil. Retomando uma frase de um artigo em
tradução francesa da Revista Britânica de 1838, diria que “não há povo algum
sobre a terra que deixe de saber ou de indagar a história da sua existência”, e
que fossem “os selvagens da Nova Holanda, e os índios botucadus (sic); os
negros caçanges das bordas do Congo, e os jalofos das margens do Senegal;
os esquimós das terras árticas, e os patagões do sul da América”, todos teriam
suas tradições, “se não tão sérias como as mui confusas dos indus, e dos
chinas, ao menos, quantas bastam para apontarem quais foram os lugares
donde os seus antepassados vieram; quando se estabeleceram nos países em
que eles presentemente se acham.”23 Desta forma, é a própria existência das
tradições dos povos, na busca por suas origens, que daria legitimidade às
histórias particulares de cada povo ou nação. É neste sentido que se abria um
espaço para uma história do Brasil configurada à história geral, ao mesmo
tempo em que se incorporaria à primeira época brasileira o conhecimento
sobre os habitantes das terras americanas no momento anterior à conquista e à
colonização portuguesa, entendendo-se este conhecimento como referente
aos usos e costumes, às teorias sobre as migrações dos povos, e a tudo aquilo
que poderia caber na definição ainda elástica de “etnografia”.
Entretanto, a relação entre o conhecimento sobre os “aborígenes” e
uma “primeira época” brasileira – momento ainda não sondado – implica para
nós certas considerações sobre a relação prevista entre a etnografia e a
história nos termos propostos no Instituto. No caso do Brasil, segundo Cunha
Matos, os estudos sobre os índios ainda andavam “às apalpadelas”, por falta
de “monumentos bíblicos e lapidares” que comprovassem a existência de
uma alta civilização nas terras brasileiras, como no caso dos monumentos
mexicanos. Esta ausência de monumentos somente poderia ser substituída
por escritos feitos por cronistas e religiosos quando começara a conquista,
embora estes nem sempre atentassem para um estudo sistemático acerca dos
povos indígenas, seja pela sua condição de colonizadores e de inimigos das
tribos a que se referiam, seja por interesses particulares que impediriam tal
conhecimento, como seria o caso dos jesuítas. Mesmo que tais escritos
fossem parciais, seria preciso retomá-los para o estabelecimento de um
23 MATOS, Raimundo José da Cunha, “Épocas brasileiras ou sumário dos aconteci-
mentos mais notáveis do Império do Brasil”, in: RIHGB, vol. 302, 1974, p. 218.

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“exame da história de uma raça, que ainda se achava mui distante da aurora da
civilização”. O caminho através do qual o marechal acreditava consistir
primordialmente o estudo sobre os índios brasileiros era o do estudo de suas
línguas:
A sciencia da linguistica que agora começa a cultivar-se, é a que ha de
mostrar-nos a origem das tribus e nações; nem esperemos que os
homens que não possuem monumentos de seculos mais ou menos
remotos, nos digam se se reputam autochthones, ou se vieram de
terras longinquas estabelecer-se nos lugares em que ora se acham.24
A partir das filiações, “das linguas mãis e irmãs”, é que se poderia
estabelecer “a historia da origem, separação e emigração das diversas tribus
encontradas em o littoral e nos sertões aquem dos Andes, e nos valles do
Amazonas”.25 O estudo das línguas, assim, deveria claramente auxiliar na
explicação das origens dos índios brasileiros, a partir de suas relações com
outros povos antigos.
Um dos pressupostos presentes na arqueologia do Instituto era o de
encontrar os elos perdidos, que vinculassem a história da povoação do
continente à história de povos mencionados pela Bíblia. Teorias citadas por
Cunha Matos, como a que diz que migrações teriam sido feitas por povos
vindos da Ásia a partir do estreito de Bering, já eram difundidas no século
XVIII26, e a própria sistematização geológica realizada por Cuvier, no início
do século XIX, que propunha a compreensão das idades dos fósseis através
do estudo do conjunto estratigráfico, não supunha a contradição com a teoria
diluviana e de dispersão dos povos.27
Assim, se a etnografia pertencia ao estudo da primeira época da
história do Brasil, deve-se considerar que, por ela se ligar às origens da
povoação do continente americano em um passado sem registros escritos, ela
se vincularia aos estudos de natureza não-textual, arqueológicos. O que
significa dizer que, para além dos registros existentes sobre os indígenas, de
escritores dos tempos coloniais e de viajantes, era necessário buscar as fontes

24 Idem, ibidem, p. 133.


25 Ibid.
26 Ibid., p. 257.
27 SCHNAPP, Alain. La conquête du passé. Aux origines de l’archéologie. Paris: Éditions
Carré, 1993, p. 350.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

de outra natureza para sondar este passado recuado. A história desta primeira
época deveria assim se pautar na antigüidade do continente americano, cujas
evidências deixadas por antigas civilizações de outras partes da América
sinalizavam para a necessidade de investigar o próprio passado remoto das
terras brasileiras.
Na referência aos estudos da “história da natureza” para a investigação
do passado indígena, torna-se significativa a menção feita a Alexander Von
Humboldt. Suas Vues des Cordillères et monumens des peuples indigènes de
l’Amérique podem nos servir de modelo para retomar a questão da
importância dos dados materiais, como testemunhas diretas de um passado
americano e brasileiro, e que apareceriam então como uma reivindicação não
apenas do marechal, mas dos outros consócios do Instituto Histórico.28
Os vestígios da antigüidade da América pareciam também estar
espalhados pelo território do Brasil. Contava o marechal que ouvira relatos de
se haver “encontrado no sertão da província de Pernambuco a ruína de uma
obra que parecia fortificação, alguma cousa semelhante às que existem nas
chapadas do Ohio dos Estados Unidos da América”. Acrescentava que
Humboldt e os naturalistas portugueses davam notícia de figuras esculpidas
em vários rochedos ao norte do Amazonas pelos índios antecessores, remotos
daqueles que agora ali habitavam, e indagava-se a respeito da origem de
outros vestígios antigos, como “as figuras existentes a pouca distancia da
estrada velha da aldeia do Carretão para a vila do Pilar da província de Goiás,
em a porção da serra chamada Morro das Figuras”. As marcas destes
mistérios impeliam à busca de inseri-las em algum lugar do passado distante,
mas ainda reconhecível, ou então a desmistificá-las. Já se configurava em
lenda a passagem do apóstolo São Tomé nos sertões do Brasil, que teria
deixado gravada sua mensagem nas pedras da Serra das Letras, e “a quem

28 As Vues des Cordillères apresentam as pranchas dos antigos monumentos mexica-


nos, que ao lado das descrições que as acompanham, nos chamam a atenção pelo
elemento insubstituível de seu conhecimento dado pela visão, em sua representa-
ção pictórica que inclui a própria paisagem.Diz Humboldt na Introdução das Vues
des Cordillères: “A la représentation des monumens qui intéressent l’étude philo-
sophique de l’homme son jointes les vues pittoresques de différens sites, les plus
remarquables du nouveau continent.” Ver HUMBOLDT, A. von Vues des cordill-
ères, et monumens des peuples indigènes de l’Amérique, Paris: F. Schoell, 1810.
[Document électronique], disponível em:
http://visualiseur.bnf.fr/Visualiseur?Destination=Gallica&O=NUMM-61301

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 171


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dedicaram uma capela que aí existe, e recebe o nome de S. Tomé das Letras”.
Certo ou não de que as tais letras não seriam talvez mais do que “dendrites
formados na grez”, o importante era esclarecer tais incógnitas, insistia o
marechal.
A forma de abordar o estudo sobre os índios sugerida nos
apontamentos de Cunha Matos era sobretudo a busca por uma “origem” dos
povos do continente americano. A questão das origens, no entanto, possuía
uma longa discussão. Um relato sobre os índios Guaicuru, feito por um
comandante do Presídio de Coimbra em 1795, e publicado n´O Patriota,
buscava descrevê-los aventando a possível origem tártara ou númida
daqueles homens.29
A associação entre a origem dos indígenas americanos e a de outros
povos antigos era bastante presente ainda durante a primeira metade do
século XIX. As conjecturas de Cunha Matos e do autor da “História dos
índios cavaleiros” trazem uma perspectiva que já remontava séculos sobre a
ascendência judaica, cartaginesa, tártara, e ainda de outros povos, dos
indígenas americanos. Sérgio Buarque de Holanda já havia notado a presença
de idéias sobre a ascendência israelita dos ameríndios presentes no Tratado
Único y Singular Del Origen de los Índios, de Diogo Andrés Rocha, autor de
fins do século XVII, e também no Diálogo das Grandezas do Brasil.30 A
teoria das migrações seria majoritariamente presente entre os debatedores
sobre a origem dos povos americanos no Instituto Histórico por volta da
década de 1840. E as idéias de um autor como Lapeyrère, sobre o não
universalismo do dilúvio31, que traçariam posteriormente as teorias
“poligenistas” sobre os povos americanos, permaneceriam bem distantes da
maior parte das interpretações encontradas durante o 2º Reinado no Brasil.
No contexto europeu, seria somente no século XVIII que se abriria o
espaço filosófico e metodológico para uma ampliação da investigação sobre a
origem dos povos indígenas, para além da tradição bíblica, inquirindo o

29 V. “História dos índios cavaleiros ou da nação guaicuru”, O Patriota, 1814. O texto


escrito em 1795 foi ainda posteriormente impresso no primeiro tomo da Revista do
IHGB.
30 HOLANDA, Sergio Buarque de. Visão do paraíso, 6ª. Ed., São Paulo: Brasiliense,
1994, p. 297.
31 ROSSI, Paolo. Os sinais do tempo, São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp.
171-5.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

problema da temporalidade. Antoine de Jussieu propunha, em 1723, que se


estudassem os objetos de sílex encontrados na Europa – as controversas
“pierres de foudre” discutidas no século XVI – a partir da comparação com os
usos de pedras semelhantes pelos “selvagens” do Canadá e dos Caraíbas,
insistindo assim no aporte metodológico da comparação etnográfica para a
arqueologia.32 Lafitau, em Moeurs des sauvages amériquains comparées aux
moeurs des premiers temps (1724), compararia os indígenas da América aos
povos antigos, tratando de explicitar os pontos que aproximariam os
primeiros de um passado conhecido – os iroqueses aos egípcios, por exemplo
–, compreendendo-os como vestígios de um tempo remoto.33 Representante
de um humanismo característico daquele século, a obra de Lafitau fornecia,
sem romper com a tradição bíblica, uma inserção daqueles povos ditos
selvagens dentro de uma perspectiva da história filosófica, transformando-os
então em povos “primitivos”. Desta forma, o passado dos homens, não de
todo relatado pela Bíblia, tornava-se passível de uma análise e de ser
“vislumbrado” pelos modernos, uma vez que os selvagens contemporâneos
aos europeus poderiam ser entendidos agora como “vestígios” daquele
mundo antigo, tornando-se as testemunhas diretas daquele passado. A
perspectiva do jesuíta Lafitau punha em relevo o método comparativo, cujo
pressuposto era o de que haveria uma mesma natureza humana capaz de fazer
conhecer aqueles homens americanos.34
Os marcos do tempo cronológico das sociedades “primitivas” estariam
vinculados à discussão da antigüidade do homem, que ganhariam
desenvolvimento a partir dos campos da arqueologia e da geologia
emergentes no século XIX. Segundo Alain Schnapp, o organizador do
primeiro museu que estabeleceria as sucessões das três idades tecnológicas –
da pedra, do bronze e do ferro –, Christian Jürgensen Thomsen, em 1819,
32 SCHNAPP, Alan. Op. cit., p.323.
33 Michel de Certeau analisou o frontispício da obra de Lafitau, onde se vê a alusão à
Criação na imagem de Adão e Eva em um quadro, e vários objetos da Antiguidade
expostos no chão, relíquias pertencentes ao universo antiquário. Nos termos de
Certeau, “Lafitau regarde ces pièces – antiques ou sauvages – comme les fragments
de la ‘vision’ dont les Temps lui cache l’integralité mais don restent quelques ‘ves-
tiges’ épars et précieux.” CERTEAU, M. de. “Histoire et Anthropologie chez Lafi-
tau.” In: BLANCKAERT, Claude (org.). Naissance de l´Ethnologie? Paris: Les
Éditions du CERF, 1985, p. 63-89, p. 67.
34 V. DUCHET, Michelle Le partage des savoirs. Paris: Éditions La Découverte,
1985, p. 31.

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Kaori Kodama

seria também aquele que poria em prática para a arqueologia o método de


comparação, tanto tipológica como tecnológica, entre os objetos
arqueológicos e os etnográficos. Thomsen destacaria a necessidade de tal
estudo comparado pelas semelhanças que apresentariam os povos antigos da
Europa do Norte com os selvagens norte-americanos.35 A referência aos
americanos como vestígios de um outro tempo, como “testemunhas diretas do
passado”,36 abriria o espaço para o questionamento sobre os marcos do tempo
cronológico das sociedades americanas de antes da conquista. O impulso para
a investigação de um passado remoto americano estaria vinculado assim ao
problema de um passado recuado das origens do homem, cujo suporte para o
conhecimento passaria a se alojar, sobretudo, na história da natureza.
Mas se a investigação histórica das sociedades e a do passado
arqueológico, uma e outra, em suas naturezas, levavam a encaminhamentos
metodológicos e epistemológicos nitidamente distintos, no salão do Instituto
Histórico, o trato da matéria da História do Brasil parecia requerer
necessariamente uma continuidade entre as duas. E tal conjunção da história
nacional com a pré-história não seria característica específica da construção
historiográfica do Instituto. Manoel Salgado Guimarães procurou tratar desta
problemática, a partir da presença de uma certa tradição antiquária na
concepção de história do Instituto, presença que a vincularia a outras
instituições européias, como o Institut Historique de Paris e a Sociedade dos
Antiquários do Norte, instituições com a quais o IHGB manteve contatos
importantes.37

35 Tal postura de Thomsen levaria, segundo o autor, a lançar as bases para um estudo
da pré-história independente dos textos antigos. As palavras de Thomsen seriam: Il
me paraît évident qu’à une haute période toute l’Europe du Nord était peuplée par
des races très semblables et primitives. Qu’elles correspondent aux sauvages
nord-américains me semble à divers égards certain. Ils étaient portés à la guerre,
vivaient dans les forêts, ne possédaint pas de métal ou feu. Cf. SCHNAPP, Alain,
op. cit., 364-5.
36 Pensa-se na idéia de testemunhas diretas do passado estabelecidas pela tradição an-
tiquária, que se punha em contraponto à história clássica e à exegese dos textos anti-
gos. Momigliano, “L’histoire ancienne et l’Antiquaire”, in: MOMIGLIANO,
Arnaldo. Problèmes d’historiographie ancienne et moderne, Paris: Gallimard,
1983.
37 GUIMARÃES, Manoel Salgado. “Reinventando a tradição: sobre Antiquariado e
Escrita da História”, in: Humanas, Porto Alegre, v. 23, n.1/2, p.111-143, 2000.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

Em meio às inquirições sobre o passado, podemos perceber


paralelamente a configuração de um “lugar” para os índios, que emergia em
conjunto com as descrições da natureza do país, nas tentativas de escrita de
uma história do Brasil por “brasileiros”. Mas também, era nos anos iniciais do
Instituto, quando começavam essas tentativas de formular uma História
Pátria, que ficavam evidentes as dificuldades em ajustar o modelo de escrita
histórica de tipo “moderno”, e o lugar do índio, formulado enquanto
“passado”.
Seria na década de 1840 que a etnografia se tornaria um tema próprio
no IHGB. A Comissão de Arqueologia e Etnografia Indígena foi proposta por
Manoel de Araújo Porto Alegre, Manoel Ferreira Lagos e Joaquim Norberto
de Souza Silva, na 177a sessão da instituição.38 Na sessão seguinte, em um
parecer de 16 de setembro de 1847, era aprovada a criação desta nova seção
que teria sua primeira comissão formada por Francisco Freire Alemão, José
Joaquim Machado de Oliveira e Joaquim Caetano da Silva.
Como indício de que esta comissão já estaria em atividade desde então,
tem-se uma proposta de Freire Alemão escrita em outubro de 1847, na qual
solicitava aos presidentes de província informações sobre as tribos indígenas
que existiam nas diversas regiões do Império.39 Aproveitando o ensejo de
Freire Alemão, em 1849, o consócio Francisco Adolfo Varnhagen enviava
uma carta de Madrid, onde lembraria que nove anos antes, havia lido ao

38 Cf. a discussão da Comissão de Redação e Estatutos, que está na Revista Trimensal


do Instituto, 1847, Kraus Reprint, 1973, e também cf. Heloísa Bertol Domingues,
que em sua tese chamava a atenção para a criação da Comissão de Arqueologia e
Etnografia antes de sua oficialização nos Novos Estatutos do Instituto, em 1851.
DOMINGUES, H. Bertol. Ciência: um Caso de Política. As relações entre as
Ciências Naturais e a Agricultura no Brasil-Império. Tese de Doutorado. Departa-
mento de História da FFLCH-USP, São Paulo, 1995.
39 Proposta de Freire Allemão de 14 de Outubro de 1847, “Quais eram as tribos indí-
genas que habitavam a respectiva Província no tempo em que o país foi conquista-
do. Que extensão de terreno ocupavam. Quais foram extintos; quais emigraram e
para onde; e enfim quais existem ainda e em que estado”. Juntamente a esta propos-
ta, os presidentes das províncias também deveriam responder a uma segunda:
“Qual a parte da Província que era já nesses tempos desprovida de matas, quais são
os campos nativos, e qual o terreno coberto de florestas virgens; onde estas tem sido
destruídas, e onde se conservam e quais as madeiras preciosas de que mais abunda-
vam, e enfim que qualidade de animais as povoavam?”.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):155-181, out./dez. 2007 175


Kaori Kodama

mesmo Instituto suas considerações a respeito da necessidade dos estudos das


línguas indígenas.
Varnhagen, ao mesmo tempo em que reforçava a importância da coleta
de informações etnográficas obtidas dos presidentes de província, já inquiria
sobre um aspecto que, segundo ele, estaria pouco destacado na proposta de
Freire Alemão: o da necessidade de estabelecer uma sistematicidade da coleta
das informações que pudesse atentar para as particularidades de cada grupo
indígena. É justamente a busca daquelas particularidades que deveria ser o
objetivo de um estudo tido como etnográfico, para Varnhagen. De outro
modo, ocorreria a repetição de uma prática tão antiga quanto o próprio
registro de viagens:
Cansam-se uns e outros a escrever os usos, costumes, indústria e
armas que são quase gerais a todas as raças aquém dos Andes e da
Patagonia, e passam em claro os caracteres que poderiam concorrer
à divisão das mesmas raças.40
Ora, o ponto para o qual Varnhagen chamava a atenção era a
necessidade de criar um método de caracterização e distinção dos indígenas
da América entre si, particularizando-os em relação aos outros povos do
mundo. Esta idéia abre caminhos para pensarmos que a necessidade de um
estudo etnográfico deveria ser o de imprimir a especificidade de um povo,
idéia que concorria para a formação da nação e da nacionalidade,
preocupação que norteava a todo instante as atividades dos consócios do
Instituto. O que Varnhagen punha como questão, e que se tratava de um
aspecto até então pouco frisado no Instituto, era o da busca de um método
capaz de possibilitar a comparação e a distinção entre as tribos indígenas.
Devido a esta falta de um método mais preciso é que, na opinião de
Varnhagen, ocorreriam discrepâncias, mesmo em autores de renome, como
no caso de Hervas, que dava como distintas 51 tribos indígenas que não
teriam ligações com os ramos tupi e guarani. Assim é que, por exemplo,
tinha-se como uma tribo particular a denominada Tapuia, quando o termo tem
o sentido de tribo inimiga em guarani e tupi. O termo tapuia, pois, não se
referia a nenhum grupo em particular.

40 VARNHAGEN, F. A. de “Ethnografia indígena”, In: Revista do Instituto Histórico


e Geográfico Brasileiro, 1858, p. 389.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

A carta pedia que se anexasse à solicitação de Freire Alemão um


pequeno questionário com algumas palavras em português, que deveriam ter
seus correspondentes na língua indígena especificada. Varnhagen defendia
que através de uma coleta precisa das línguas seria possível esclarecer e
distinguir melhor as “raças” indígenas, indicando que o caminho para o
estudo da etnografia deveria ser através do estudo filológico:
Cada vez me convenço mais de que para o estudo das raças indígenas
nada nos pode ser de mais socorro do que o conhecimento das suas
línguas. Por isso mesmo não me poupo a trabalho para juntar todo
impresso e manuscripto que vou encontrando a tal respeito, e nunca
pensei que só acerca da America do sul se tivessem outrora publicado
tão importantes obras.
Nesta passagem, o autor sublinhava que o estudo etnográfico deveria
ser feito através do estudo das línguas, tal como havia também preconizado
Cunha Matos anos antes. A afirmação de ambos, na valorização dos estudos
das línguas refletia o impulso dado pela “nova” filologia do século XVIII,
cuja matriz pode ser localizada em Schlegel. Os estudos sobre os povos
não-pertencentes ao mundo greco-romano cresciam principalmente com a
descoberta do sânscrito e com a decodificação dos hieroglifos da pedra
Rosetta, e reafirmaram para os estudos “etnológicos” nascentes na primeira
metade do século XIX a crença de que a linguagem seria a chave para revelar
a história da humanidade.41
Mas outro elemento de fundo metodológico pode ser observado. Ao
mesmo tempo em que Varnhagen propunha o estudo das línguas indígenas
por uma comparação de suas palavras, o que a princípio atentaria para a
especificidade de cada grupo, tem-se que a própria exigência de um critério
de coleta como expunha – que não deveria “fiar-se muito dos conhecimentos
filologicos dos informantes”, pois estes não eram necessariamente
especialistas – ditava uma separação bastante demarcada entre o “trabalho de
campo” e os estudiosos de gabinete. A estes últimos era dado estudar as
distinções lingüísticas das tribos, não por uma relevância delas em si mesmas,
mas pela importância de revelar através delas suas ascendências. As
distinções das línguas ainda revelariam aspectos mais gerais de cada uma
daquelas tribos, medidas em uma escala civilizacional, que previa o ponto
41 BRAVO, Michael “Ethnological encounters”. In: JARDINE, N., SECORD, J. A.
& SPARY, E. C. (eds.) Cultures of Natural History. Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press, 1996, p. 339.

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Kaori Kodama

mais alto e os mais baixos. É neste sentido que Varnhagen pretendia que a
coleta dos vocabulários fosse a princípio a mais restrita, contemplando
apenas os “objetos frisantes”, que não pudessem dar lugar a equívocos,
retirando inclusive aspectos que seriam úteis “para avaliar o grau de barbárie
dos povos”.42 Na verdade, aqui Varnhagen não extrapola a prática mais geral
da etnologia que seguiria correntemente até a segunda metade do século
dezenove. A etnologia buscava, por um lado, o acúmulo da rede de
informações a respeito dos povos nativos, a partir de informantes
conscienciosos. Por outro, ela estabelecia uma diferenciação e hierarquização
do trabalho efetuado por tais informantes e do dos pesquisadores, fossem
estes antropólogos ou naturalistas.43 Aquela separação e hierarquização iriam
indicar ainda uma concepção mais geral da pesquisa etnológica realizada
então: a orientação por uma perspectiva de trabalho onde a participação do
observador poderia ser controlada nos termos de uma pura objetividade
descritiva, e cujas informações serviriam para um intuito classificador.
Assim, as especificidades de cada povo estudado não deveriam indicar mais
do que o seu lugar dentro de uma escala geral cuja direção e ponto mais alto
eram dados pela civilização européia.
O que nos parece de suma importância frisar é que, ao insistir em um
método, Varnhagen expunha a necessidade de legitimar a etnografia por um
procedimento científico colocado em proximidade ao conhecimento
histórico. Porém, o que é resguardado como convicção expressa no
historiador, e que se repercutiria no direcionamento na divisão das seções do
Instituto, é que a etnografia – o conhecimento dos povos sem história – não
deveria se confundir com o próprio domínio da história. Dizia, portanto,
Varnhagen:
Convém que todos estejamos persuadidos que o nosso passado, o
actual império mesmo, interessará tanto mais outras nações
civilisadas e instruídas, quanto mais longe podermos fazer remontar
não as fontes da nossa história, mas os mythos de seus tempos
heróicos, mas as inspirações de sua poesia.44

42 VARNHAGEN, F. A. de, op. cit, 392.


43 Ver a discussão em SINDER,Valter, Configurações da narrativa: verdade, litera-
tura e etnografia. Tese de Doutorado, Dep. Letras, PUC-Rio, 1992.
44 Grifo meu, VARNHAGEN, op. cit., p. 393.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

A partir desta afirmação pode-se ter uma clara idéia do lugar que para
Varnhagen deveria ocupar os estudos sobre os índios dentro do Instituto. Os
assuntos da “etnografia”, embora precisassem de um método tanto mais
próximo da filologia, deveriam ser separados dos estudos históricos, no que
diz respeito ao seu estatuto, pois eles importavam para as matérias de
natureza hierarquicamente distintas: os estudos de um passado indígena
interessavam aos mitos e fábulas; pertencendo já a história ao discurso mais
estritamente científico.
Neste seu esforço de distinção e ao mesmo tempo de hierarquização,
Varnhagen não deixava de se posicionar e construir sua própria identidade
como historiador. E tal atitude seria repetida em outras ocasiões, como
quando ele buscara tratar da história de Diogo Álvares, o Caramuru,
afastando-o do emaranhado mítico e buscando esclarecer seu devido lugar na
história dos fatos. Nesta maneira de Varnhagen afirmar-se como historiador,
atribuindo a si a tarefa de distinguir as lendas da verdade dos fatos históricos,
estava incutida a forma própria com que no século dezenove concebeu o
campo disciplinar da história45.
A criação de um espaço oficialmente definido para o estudo dos
assuntos indígenas dentro do Instituto tendeu assim a pôr em maior relevância
a distinção, e ao mesmo tempo a relação, entre aquele campo de estudos e a
história. A seção de etnografia e arqueologia oficializada no IHGB em 1851
refletiria o próprio movimento de criação de um espaço discursivo sobre os
índios e o passado remoto, no contexto da busca de uma história de cunho
“nacional”.
Mas se a seção de etnografia implicava uma relação importante que
se procurava delinear entre os índios brasileiros e a História Pátria, os
textos que tratavam do objeto indígena no Instituto não deixavam de criar
por si outras falas. Um exemplo intrigante é o retrato de Cunhambebe
retirado da obra de André Thevet, e impresso em 1850, na sua Revista
Trimensal. Dizia a legenda que justificava aquela estampa:

45 Janaína Amado analisou a monografia sobre Diogo Álvares, de Varnhagen, texto


onde o historiador procuraria expor esta mesma distinção acerca de um assunto que
pautava tanto entre os “contos maravilhosos”, como na História: o personagem mí-
tico e histórico nacional, o Caramuru. V. AMADO, Janaína, “Diogo Álvares, o Ca-
ramuru e a fundação mítica do Brasil”, in: Estudos Históricos, 25(1), 2000.

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Kaori Kodama

Não é por sentimentos de admiração por um chefe bárbaro da raça


que havia invadido este território antes que a eles chegassem, com a
civilização e cristianismo, nossos pais, nem para render culto a um
brutal e vingativo sacerdote da antropofagia americana, que nos
propusemos a fazer aparecer em todo o seu relevo o chefe índio de
cujo retrato tomado por Thevet (quando aqui esteve no Rio em 1557
com Villegagnon) damos na estampa um fac-simile, tão exato quanto
possível: – é por amor da verdade histórica: é para que admirem os
que admirar quiserem (não nós) essa cabecilha, que por anos foi o
terror e o senhor despótico de todo o território e da costa e mar que
corre desta Bahia até Santos. – Filósofos admiradores da selvageria!
Vede-vos nesse espelho, dizei se vos lisonjeareis de ser governados
por um homem fera, que se gabava, por proeza, de ter tragado um sem
número de seus semelhantes avaliado em 10 mil por Thevet, que lhe
chama le plus redacté diable de todo o país.
Há sim na guerra um ponto de contato entre a civilização e a
barbaria; mas o homem civilizado reconhece na mesma guerra um
recurso último, a última ratio regum, proveniente ainda da
insuficiência do direito humano, e o bárbaro guerreia e faz mal só por
obedecer a instintos brutais, que ele mesmo não sabe explicar, nem
definir.
Por agora porém não façamos juízos preventivos acerca desse gentio
que ocuparam um papel importante na nossa história, quando ela se
escreva.46
Assinava-se logo abaixo a estas considerações: A Redação, no que nos
parece ser um texto de autoria do próprio Varnhagen. Ficamos assim a
imaginar qual não teria sido o incômodo do redator, ao se fazer imprimir
aquele rosto de um Cunhambebe antropófago ressurgido do século XVI, e
cujo significado era todo justificado nas últimas considerações: retratar um
personagem que faria parte da “nossa história, quando ela se escreva”,
frisando que, mesmo que a imagem pudesse causar a admiração em alguns,
tal sentimento não era partilhado por aquela mesma Redação do Instituto,
como se deixava claro: “não nós”...

46 “Cunhambebe”, In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, t.13,


1850.

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A etnografia como um novo campo de saber na fundação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Brasil

Talvez o texto que acompanha aquela imagem sintetize bem o


problema enfrentado pela etnografia criada dentro do Instituto Histórico. Ela
possuía a finalidade de formar uma imagem do índio brasileiro, a partir de
uma referência que ao mesmo tempo justificava a existência daquele campo
de estudo: a possibilidade de se discursar sobre o elemento que passava a ser
visto como parte da gênese nacional. Era assim a construção de uma gênese
que, no entanto, apartava uma realidade mais complexa, afinal, o que estava
em jogo era a negatividade imputada a uma realidade quase não-dita no
Instituto: a escravidão e o elemento negro da população. Ao mesmo tempo
em que a constituição de um saber sobre o índio para os letrados se
alimentava da afirmação da autonomia nacional, tal campo ainda surgia como
um reduto de outros debates contraditórios, como expressava o incômodo
presente na legenda do retrato de Cunhambebe. Pois o que se expunha de
forma indireta neste incômodo era a dificuldade de moldar a própria idéia de
nação neste novo Império, cujo território ainda incluía diversas outras
“nações” indígenas e africanas.

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Kaori Kodama

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II—DISCURSOS

RECEPÇÃO Á SÓCIA LILIA MORITZ SCHWARCZ

Alberto da Costa e Silva1

Faz doze anos. Num almoço no Palácio do Itamaraty, em Brasília,


sentaram-me ao lado de uma jovem pequenina e de aparência irrequieta, que
tinha um rosto feliz. Procurei-lhe o nome no cartão à sua frente e deixei
calado em mim, mais que surpresa, o espanto: seria aquela mocinha a mesma
Lília Moritz Schwarcz de quem havia lido dois livros agudíssimos, Retrato
em branco e negro e O espetáculo das raças? Com o segundo, em alguns
momentos da leitura, eu polemizara silenciosamente ¾ e esse era o sinal
claro de que o incorporara à minha estante interior. Gosto dos livros com que
brigo.
Creio que lhe devolvi a surpresa, quando lhe disse que era seu
leitor e queria bem a seus livros. Foi esse o início de uma conversa que se
alongou por todo o almoço e continua até hoje e da qual saio sempre da
admiração para o pasmo. Canso-me só de imaginar como aquela menina
frágil, que aparece de calça jeans, mocassins e camisa branca de mangas
arregaçadas numa foto na orelha de um de seus livros, e que continua a sorrir
na jovem avó em que ultimamente se voltou, conseguia e consegue o feito de
elevar à terceira ou quarta potência os seus dias e, neles, as suas horas, e
dar-se tanto, sem desfalecimento, ao que vive, ao que ensina e ao que escreve.
Eu me atreveria a contar em triplo os seus anos, se cada um deles, a lecionar
na Universidade, a escrever livros e artigos de jornal, a organizar obras
coletivas, a montar simpósios e conferências, a distribuir idéias por onde
passa, não fosse a reafirmação do seu entusiasmo de menina e moça. Pois é
com entusiasmo que, antropóloga e historiadora, estuda, investiga, pesa,
analisa, argumenta, contesta, conta e formula.
Veja-se esse belíssimo livro que é As barbas do Imperador. Felizes,
passamos, atentos, as suas páginas, sem nos decidir sobre o que louvar mais,
se a amplitude e o rigor da pesquisa, o brilho e o ineditismo das idéias ou a

1 Sócio honorário do IHGB

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Alberto da Costa e Silva

fluidez de uma prosa que, sendo clara e precisa, revela a alegria apaixonada
da escrita. Tudo parece simples e nascer nas páginas sem esforço. Mas o
volume e a riqueza das notas ¾ que mais parecem os nós e o intricado dos
fios no avesso de um bordado ¾ não permitem que nos iludamos. Para
refazer os ambientes físico e mental do Segundo Reinado, cercar de paisagem
e pôr vida e cor nos sucessivos retratos de D. Pedro II e o que deles
permaneceu, entre verdade e mito, na memória coletiva, Lília Moritz
Schwarcz leu tudo que sobre o assunto estava ao seu alcance e, não satisfeita,
parece dizer-nos que, se mais houvesse, mais leria. E mais veria, pois viu o
que havia por ver, comparando os retratos a óleo com os textos dos
contemporâneos e com as fotografias, e estas com as caricaturas, e as
caricaturas com as intrigas da Corte, os boatos de rua e os versos de cordel,
sem que lhe escapassem ao olhar as imagens do Imperador nas porcelanas,
nos cristais, nos camafeus, nos leques e nas alfaias.
Mais complexo ainda é o travejamento que sustenta A longa viagem da
biblioteca dos reis, que tem por companhia O livro dos livros da Real
Biblioteca. O primeiro, Lília Moritz Schwarcz produziu com Paulo César de
Azevedo e Ângela Marques da Costa; o segundo, com Paulo César de
Azevedo; e, em ambos, e também em As barbas do Imperador ¾ no qual três
dos dezenove capítulos foram escritos em co-autoria ¾, contou com a
colaboração de um grupo de jovens pesquisadores. Na verdade, Lília Moritz
Schwarcz não sussurra ao nosso ouvido o seu segredo: diz-nos em volta alta
que trabalha e sabe trabalhar em equipe, com a consciência de que as
parcerias, mais do que somam, multiplicam. No entanto, nada nesses livros
revela o esforço de muitas mãos. Neles, há unidade não só de concepção e
propósito, mas também de estilo, porque a idéia condutora, a orientação de
pesquisa e a redação final são dela.
Lília Moritz Schwarcz não esconde tampouco o seu gosto pelo visual,
pela imagem. Detém-se, encantada, diante de cada objeto e lhe busca a razão
e a história, do mesmo modo que ambiciona ler melhor o passado pelo que
dele ficou num desenho, numa aquarela, numa fotografia, numa gravura,
numa escultura, num quadro. Ver para entender ¾ seria a epígrafe mais
própria ao seu último livro, Registros escravos: Repertório das fontes
oitocentistas pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, organizado em
colaboração com Lúcia Garcia. Nele faz-se um inventário descritivo e crítico
das fontes sobre os escravos no Brasil existentes na nossa maior biblioteca,

184 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):183-186, out./dez. 2007


Discurso de recepção á sócia Lilia Moritz Schwarcz

com destaque para a iconografia. Fico a sonhar que seja esse apenas o início
de um trabalho maior, no qual se recolha a grande quantidade de imagens,
desenhadas, pintadas e impressas, produzidas em nosso país ou tendo ele na
lembrança, sobre os africanos e seus primeiros descendentes crioulos. Essa
riqueza iconográfica, que nos ajuda até mesmo a reconstituir as paisagens
humanas das várias Áfricas de onde vieram os negros para o Brasil, contrasta
com a penúria de relatos autobiográficos de escravos e ex-escravos e, em
certa medida, a compensa. Tenho a nossa situação por inversa da
prevalecente nos Estados Unidos, onde são parcas as imagens de escravos
que continuavam a vestir-se e a comportar-se como africanos, mas são quase
incontáveis os testemunhos e os livros de memória dos que sofreram a
escravidão, complementados pelos numerosos diários de senhores de
escravos, nos quais se descreve, muitas vezes com minúcia, o dia-a-dia
daqueles de quem se tinham por donos.
Quero crer que o século XIX de Lília Moritz Schwarcz
começa em 1755, com o terremoto de Lisboa, e imagino que termine com a
morte de Machado de Assis. Por esses demorados anos, ela passeia com o
desembaraço de quem, na rua, está em casa. Sabe como se passam a ferro as
casacas e se apertam os espartilhos; identifica os pregões matutinos; conhece
os autores dos sueltos e dos pasquins; e estenderia a mão para o tabuleiro da
vendedora de laranjas, se não soubesse, inconformada, ser impossível retirar
a fruta, redonda e palpável, de uma gravura colorida ou da página de um livro.
Todos sofremos a angústia de Proust: por mais bela e perfeita, a recordação
não substitui o tempo perdido. Mas o historiador conhece um impasse ainda
maior: o de tentar refazer o tempo dos outros, um passado que não foi
pessoalmente o seu. É nessa tarefa impossível que reside, contudo, o fascínio
do ofício.
Não lhe basta evocar o passado. Cabe-lhe desenhá-lo com
palavras e encher os espaços vazios com simulações de volumes, cores e
movimento, de modo a desatar a imaginação do leitor e conceder-lhe uma
impressão de intimidade com um tempo que se foi e do qual nossos sentidos
só conhecem algumas sobras. O que lhe pedem é imite a vida. E que empreste
a essa imitação ordem, coerência e rumo, a partir do fragmentário, do
incompleto, do contraditório e do escasso. E isso fez com maestria e
encantamento Lília Moritz Schwarcz, e não só em As barbas do Imperador e
A longa viagem da biblioteca dos reis, mas também em O espetáculo das
raças, ao descrever e analisar criticamente as confluências e os desencontros

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):183-186, out./dez. 2007 185


Alberto da Costa e Silva

de idéias dos que, ao longo de quase um século, procuraram estudar o povo


brasileiro. Quase nos sentimos a participar das sucessivas polêmicas e das
crises de frustração e desalento, não sem correr o perigo de ler,
anacronicamente, com os olhos de hoje textos que só podemos compreender,
e mesmo aceitar que tenham sido escritos por quem o foram, pondo os óculos
com as lentes defeituosas do que se tinha como ciência ontem ou anteontem.
Tanto em O espetáculo das raças quanto em seu livro sobre D. Pedro
II, Lília Moritz Schwarcz dedica amplo espaço a este Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro e ao papel que desempenhou como foro dessas idéias e
discussões. Creio que, ao escrever essas páginas, Lília Moritz Schwarcz
sequer suspeitava de que alguma tarde entraria, entre aplausos, neste recinto,
mais com o jeito de menina irrequieta e sorridente do que o de uma autora
consagrada, em quem admiramos a sapiência e a imaginação, a originalidade
de vistas e de idéias, o belo estilo, o bom julgamento e a doação ao trabalho.

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DISCURSO DE POSSE - LILIA MORITZ SCHWARCZ

SOBRE MODELOS, AJUSTES E TRADIÇÕES. O SOL DO BRASIL E


OS TRÓPICOS DIFÍCEIS NAS TELAS DE ARTISTAS DA “COLÔNIA
LEBRETON”

Lilia Moritz Schwarcz

Introdução: camadas sob camadas


Disse uma vez o historiador da arte M. Baxandall,1 que a tarefa do
historiador é sempre melancólica. Apesar de correr atrás de documentos e da
melhor interpretação dos mesmos, é preciso que se contente com aquilo que
eles teimosamente insistem em dizer – e que nem sempre combina com o que
gostaríamos de ajuizar. Por isso, também, corremos sempre atrás de “pistas
ou sinais”, na versão famosa do historiador italiano Carlo Ginzburg, que
mostrou como o fazer da história é muitas vezes uma tarefa indiciária.2 Mas é
possível dizer mais: o historiador trabalha sobre camadas e adiciona às que
encontra outras, por vezes novas. Estamos sempre dialogando e negociando
interpretações e o conhecimento se faz a partir desse jogo tenso que implica
resignificar, repensar, reelaborar. É por isso que entrar nessa casa como sócia
correspondente é motivo de muita honra e também de reflexão.
Afinal, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi desde o
Império um local consagrado à produção de pesquisas e de interpretações
sobre esse país; cientes que estamos como o exercício da memória leva a
lembrar muito, mas também esquecer bastante ou muito mais. Sobretudo no
contexto do Segundo Reinado, quando a contribuição do IHGB seria
fundamental, pensar em história implicava imaginar uma nação – por suposto
diferente da ex-metrópole –, mas uma determinada nação, que se pretendia a
um só tempo original e tradicional. Tradicional, pois aqui tínhamos, bem
instalada uma monarquia de origem Bourbon e Habsburgo; original uma vez
que essa seria uma monarquia tropical: exótica em suas frutas, cores e gentes.
1 Baxandall, Michael. Padrões de intenção. São Paulo, Companhia das Letras,
2006.
2 Ginzburg, Carlo. Mitos, emblemas e sinais. Morfologia e história. São Paulo,
Companhia das Letras, 1989.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):187-222, out./dez. 2007 187


Lilia Moritz Schwarcz

E a instituição cumpriria um papel bastante oficial, promovendo a


imagem centralizada da monarquia, difundindo um indigenismo de fundo
romântico, animando o estudo e a coleta de documentação e auxiliando na
verificação de que a História do Brasil passava, mesmo, pela história da corte
e de sua realeza. A realização de uma historiografia pátria era assim um
exercício de elaboração, coleta e construção; no sentido de que se criavam
imagens de nacionalidade, assim como se partia de uma determinada
perspectiva; um ponto de vista acerca da história do Brasil. Os partícipes
dessa instituição eram, assim, a um só tempo, criadores e criaturas dessa
história que ajudavam a elaborar. Estou pensando aqui, nos termos de
Benedict Andersen, que mostrou como nações são imaginadas, e na maneira
como instituições desse tipo assumem um papel fundamental na elaboração
desses modelos de mitologia nacional.3
Mas num país periférico como o nosso sempre se deu um debate tenso
entre o modelo (muitas vezes de fora) e a cópia (produzida aqui dentro). Ou
melhor, cópia sempre implicou releitura e as leituras levaram notadamente a
esforços de interpretação e, quando não, de verdadeiras traduções. Foi assim
que entre nós a própria monarquia foi relida e resignificada, na mesma
medida em que as teorias não tinham vida fácil por aqui e deveriam ser
sempre reacondicionadas. Quem copia cria e tratasse de analisar não a
imitação, mas o processo criativo que implica sempre inovação.4
Com efeito, parecia difícil dar conta de teorias de fora, como o
liberalismo e a ilustração, tendo os trópicos e, ainda mais, a escravidão a
marcar limites difíceis. A escravidão, espalhada como estava por todo o país,
não se constituía num impedimento, mas numa condicionante problemática
para qualquer interpretação, que implicava reler os modelos da filosofia
política européia nesse contexto em particular.

3 Anderson, Benedict. Imagined Communities. London/ New York, Verso, 1991. No


livro O espetáculo das raças (São Paulo, Companhia das Letras, 1993) e no livro As
barbas do Imperador (São Paulo, Companhia das Letras, 1989) tive oportunidade
de analisar com mais vagar o papel do IHGB na construção desse modelo de histo-
riografia nacional.
4 Para um bom e instigante apanhado dessa perspectiva ver, entre outros, Schwarz,
Roberto. Nacional por subtração em Que horas são? (São Paulo, Companhia das
Letras, .....)

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

O tema que selecionei retoma essa temática, problematizando um


‘evento’ que de certa maneira ganhou estatuto oficial, ou foi incluído em
nossa historiografia, a partir de um ensaio apresentado no Instituto e
publicado nas páginas da sua revista.5 Refiro-me ao ensaio de Afonso de
Taunay em 1912,6 quando o autor que foi o primeiro a introduzir a idéia de
“Missão”, para o grupo de franceses que entrou no Brasil em 1816, tendo
como chefe Joaquim Lebreton e integrantes Nicolas-Antoine Taunay,
Jean-Baptiste Debret e Grandjean de Montigny entre outros. Afonso Taunay
retomava, ele mesmo, uma longa bibliografia que se debatia sobre o tema (a
começar pelo próprio relato de Debret em Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, de 1835) e conferia intencionalidade e realidade a um grupo que era na
época mais conhecido como uma “colônia francesa” e não como agentes
franceses da coroa portuguesa.7
Por outro lado, em 1915 Araújo Viana profere e publica duas
conferências no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e as intitula: “Das
artes plásticas no Brasil em geral e na cidade do Rio de Janeiro em particular.”
Vale a pena anotar que, na primeira conferência, o autor refere-se aos pintores
como “ilustres artistas franceses”. No entanto, nas demais, menciona a
expressão “missão francesa”; primeiro em letras minúsculas e depois
maiúsculas.8 Mas, nesse momento, Afonso d’Escragnolle Taunay já havia
publicado A missão artística de 1816, na edição da Revista do IHGB de 1912
e, de certa maneira, consagrada a Expressão que se colou ao evento tal qual
realidade.
Foi em 1980 que Donato Mello Junior descobriu duas cartas escritas
por Nicolas Taunay, – e as publicou na Revista do IHGB – que, de alguma
maneira, contradizem algumas das afirmações mais peremptórias de seu
bisneto; 141 anos depois do evento. Como vimos no início deste livro, nessas

5 Uso aqui o conceito de evento, da maneira como o antropólogo norte-americano,


Marshal Sahlins, o fez. Trata-se de um fato culturalmente significado. Vide Ilhas
de história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 1998.
6 Taunay, Afonso d’Escragnolle Taunay. A missão artística de 1816, Rio de Janei-
ro, Revista do IHGB, 1912.
7 Debret, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. 2 vol.
São Paulo: Martins, Ed. da Edusp, 1972. vol 3.p. 106.
8 Viana, Araújo. “Das artes plásticas no Brasil em geral e na cidade do Rio de Janei-
ro em particular.” Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de
Janeiro, Tomo 78 (1915), parte II. Rio de Janeiro, 1916, p. 546-7.

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Lilia Moritz Schwarcz

missivas, o artista, já com 60 anos feitos, oferece, ao príncipe e à princesa de


Portugal, humildemente, seus serviços como professor das princesas e dos
príncipes d. Miguel e d. Pedro, e também na condição de conservador das
coleções de arte da Corte Real.9 Já tivemos ocasião de ler a carta endereçada a
d. João. Na outra, naquela que recebe Carlota Joaquina, Taunay inclusive
vangloria-se de suas relações pessoais com a realeza portuguesa e por isso
pede para ser contratado como pintor da família real; cargo que – apesar de
muito estimado e desejado na França – parecia não existir, oficialmente, em
Portugal e muito menos no Brasil.
Tudo parecia indicar que, se a iniciativa do convite não partiu do
benfeitor real, nem muito menos das idéias iluministas do Conde da Barca,
quem sabe tenhamos que nos voltar para a boa e velha égide das esferas e
relações pessoais: talvez a própria “missão francesa” tenha se convidado para
a festa que pretendia participar.10
Como se vê o IHGB, enquanto palco para a realização e debate de
pesquisas, consolidou, mas também ajudou a “desconfiar” de versões
hegemônicas. O que se pretende rever, pois, é a idéia de uma “Missão
Francesa” – como um projeto intencionalmente intentado pela monarquia – e
a partir de então questionar a idéia de que “importávamos” uma arte como
quem macaqueia a última moda. A escravidão não combinava com a fatura
neoclássica dos pintores franceses que chegavam ao Brasil trazendo o modelo
que implicava buscar virtudes na antiguidade clássica, e a “colônia Lebreton”
teria, ela também, um destino melancólico.
Como se vê, apresento aqui um trabalho de camadas, conforme
comentava anteriormente, uma vez que ele só pode ser realizado a partir de

9 Mello Junior, Donato. Nicolau Antonio Taunay, precursor da Missão, Artística


Francesa de 1816. Duas cartas sua inéditas colocam-no na origem remota da Mis-
são. Rio de Janeiro, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n 327,
abril/ junho de 1980.
10 Ver também excelente trabalho de Cipiniuk, Alberto. “L’origine de l’academie des
Beaux-Arts de Rio de Janeiro”. Paris, Thèse presentée pour l’obtension du grade de
Docteur em Philosophie et Lettres, Université Libré de Bruxelles, 1989-90. Nesse
trabalho, o autor demonstra como o grupo evidentemente havia se convidado e não
recebido uma oferta oficial. Também Elaine Dias, em sua tese “Félix-Emile Tau-
nay: cidade e natureza no Brasil”. Campinas, Unicamp, 2005, defende interpreta-
ção semelhante, além de ampliar a discussão.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

outras pesquisas e da inquietação que as mesmas trouxeram, no sentido de


demandar novas pesquisas, novos documentos e novas interpretações.
Mas esse é também um trabalho em processo11 e, ainda mais de equipe.
É preciso deixar atestada a honra que sinto em ser recebida nessa Instituição,
com a famosa e conhecida generosidade de Alberto da Costa e Silva. Com sua
erudição me eduquei e aprendi a sonhar com a idéia de um dia historiar. Com
seu conhecimento entendi como a África era tão próxima e tão distante. Com
a elegância de sua escrita entendi como o historiador deve muito à literatura e
tem nela uma ambição. Com sua humanidade entendi que nosso ofício deve
muito à utopia. Mas foi a partir da sua generosidade – novamente – que
entendi, de fato, o que é trabalhar em equipe.
Por mais que esse trabalho, sobre Nicolas-Antoine Taunay e a colônia
de artistas franceses que chega ao Brasil em 1816, já me tome oito longos
anos – período que fez de mim uma espécie de amiga íntima desavisada de
Nicolas – o contato e a troca de idéias que venho estabelecendo com o Alberto
da Costa e Silva, que coordena a Comissão para a Comemoração dos 200
anos da Chegada de d. João e da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro,
com a colaboração da Secretaria Municipal das Culturas – na pessoa do
secretário Ricardo Macieira – e da Secretaria Municipal do Patrimônio
Cultural – com a colaboração do secretário André Zambelli —, foi
fundamental para que o que era um projeto, um sonho até, virasse realidade.12
O diálogo que criei com Alberto da Costa e Silva foi como fermento de bolo e
fez a massa crescer. O historiador é assim modelo para qualquer historiador
humanista, uma grande inspiração para toda a minha geração e mais do que
isso personifica a idéia de que a prática histórica se faz com o debate.
O que apresento, portanto, é uma investigação em processo, mas
também uma homenagem ao trabalho conjunto e uma alusão a essa
Instituição que sempre animou pesquisas e revelou como a historiografia

11 Encontra-se no prelo livro sobre o tema (O sol do Brasil. São Paulo, Companhia
das Letras, 2008). Também em 2008 deverão ser realizadas duas exposições acer-
ca da obra de Nicolas-Antoine Taunay: uma no Museu de Belas-Artes do Rio de
Janeiro (entre maio e junho) e outra na Pinacoteca do Estado de São Paulo (entre
julho e agosto).
12 Fazem parte da equipe, também, Lúcia Garcia (minha colega, colaboradora e
co-autora há mais de sete anos) e Paola Hehl. Incluem-se ainda na Comissão Ágata
Messina e Paulo Bastos.

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brasileira é feita desse contraste tenso entre um modelo comum (que nos une
de certa maneira ao concerto das nações), mas uma realidade que por
definição é sempre particular. Penso aqui em diálogo, mais uma vez, o que
implica não só a idéia da harmonia, mas antes a constatação da ambivalência
e de muita tensão.
O tema que selecionei é, pois, um tributo ao trabalho conjunto, mas
também ao trabalho feita a partir de pistas e camadas. É nas camadas deixadas
pelos historiadores do IHGB que me movimento, para repensar minhas
próprias pegadas. O assunto é também ‘melancólico’, e levará a perceber que
o destino dos integrantes dessa “colônia francesa” não foi tão glorioso ou
pautado por objetivos grandiloqüentes; ao contrário, mostrou-se frágil; como
são pragmáticas, muitas vezes, as decisões do dia-a-dia. Por fim, o assunto
permite retomar uma reflexão constante de nossa historiografia que sempre
teve que se haver com o debate que se estabelece entre modelos de “fora” e
modelos de “dentro” e ainda mais quando se sabe que o “fora” pode ser dentro
e o “dentro” é também fora.13
Em questão está a idéia da tradução e do ajuste e a noção de que a
memória seleciona e altera. Como veremos, nossos artistas estavam diante de
um difícil exercício de adaptação. Esses eram trópicos difíceis quando não
improváveis.
Uma bela coincidência
De um lado, imagine-se uma série de artistas formados na Academia
de Arte Francesa, no mais estrito estilo neoclássico, vinculados às lides do
Estado napoleônico e inesperadamente desempregados. De outro, uma Corte
européia estacionada nos trópicos desde 1808; transmigrada por conta da
eminência da invasão dos exércitos de Junot a Lisboa; distante, portanto, da
metrópole e carente de uma representação oficial. Foi, dessa maneira, e a
partir da conjunção de duas situações aparentemente distintas que se
conformou aquela, que é conhecida no Brasil como a Missão Artística
Francesa de 1816. A coincidência de interesses fez com que a bibliografia
colocasse na iniciativa palaciana a intenção do projeto como se fosse uma

13 Referência, entre outros, ao diálogo estabelecido entre Maria Sylvia de Carvalho


Franco “Dominação pessoal” in Homens Livres na Ordem escravocrata. São Pau-
lo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1975. Roberto Schwarz, “As idéias fora do lu-
gar” in Ao vencedor as batatas. São Paulo, Duas Cidades, 1977.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

estratégia de Estado. No entanto, uma série de cartas deixadas pelo artista


francês Nicolas-Antoine Taunay, pedindo para que fosse progenitor das
princesas, revelou como a “Missão” foi antes um acordo pessoal. Melhor
pensar, portanto, em uma “colônia francesa”, como foi naquele contexto
denominado tal grupo que aportou no Brasil em inícios do XIX.
Vale a pena, também, refletir sobre as ciladas que o contexto histórico
apresentava. Estamos diante de um grupo de pintores, escultores, gravadores
e arquitetos acostumados a produzir uma arte grandiosa, ao gosto do
Imperador Napoleão, que havia transformado a antiga e tradicional estrutura
da Academia Francesa de Artes num instrumento para a veiculação de sua
própria imagem. Por outro lado, o príncipe regente d. João recebia em sua
colônia os artistas do ex-inimigo; daquele que, em última instância, havia
forçado a transferência provisória da sede do Império para o Brasil. Por fim,
não há como esquecer que os laços entre Portugal e a França haviam sido
apenas reatados recentemente e que a chegada de imigrantes franceses era
objeto para restrições de toda ordem.
Mas se o grupo não aportou exatamente como grupo, Joaquim
Lebreton, o líder dos imigrados e ex-membro do Instituto de França, trataria
de dar feitio mais unificado ao evento. Na mão desse antigo curador do
Louvre, – destituído de seu posto, e também do Instituto de França, por não
concordar com a devolução das peças retiradas de seus países de origem
durante a guerra napoleônica –, e já em terras brasileiras, a “missão” tentaria
virar, de fato, uma missão.
Da parte da Corte portuguesa a idéia foi aprovada pelo afrancesado
conde da Barca – Antônio Araújo de Azevedo – o qual, formado pela
ilustração francesa, apoiou o projeto de criar uma Academia de Belas-Artes
no Brasil, organizada com artistas de bastante reputação no ambiente francês.
Com efeito, transmigrada a corte era preciso dotá-la de uma nova história, de
uma outra memória, e, nessa sociedade majoritariamente iletrada, nada
melhor do que ter à disposição uma nova iconografia para criar uma
representação oficial. E assim se faria: ao invés de uma corte imigrada;
temerosa e bastante isolada diante da política européia, surgiriam imagens
inaugurais de um império nos trópicos; agraciado por alegorias clássicas, à
moda francesa, e que viriam legitimar sua permanência. Aí estava uma
realeza tão tradicional como as demais, – apenas provisoriamente aportada

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):187-222, out./dez. 2007 193


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em sua colônia exótica – e que, passado o furacão chamado Napoleão,


voltava a se erguer.
E para tanto nada melhor do que contratar artistas acostumados a lidar
com as vicissitudes do Estado; justamente um grupo de pintores e escultores
isolados politicamente, por conta da queda de Napoleão. Assim, se na França
produziam grandes telas de atos heróicos consagrados a Napoleão, se
recriavam cenas de batalha ou cuidavam do cerimonial, dos monumentos, das
festas e dos uniformes, já no Brasil fariam algo semelhante. Além do mais,
após os acordos do Congresso de Viena em 1815, d. João abriria finalmente
os portos brasileiros também para os franceses, que começariam a entrar, a
partir de 1816, não só na metrópole, como na colônia americana. É certo que
esses artistas viajantes estavam habituados a consagrar a glória do
ex-inimigo. No entanto, estavam acostumados, também, com o poder e suas
guinadas, e bem que seriam úteis na tarefa de elevação dessa corte. Esses
artistas traziam na valise uma arte neoclássica; cujo modelo implicava buscar
na Antigüidade os rastros das glórias perdidas e modelos de virtude.
Conheciam, por fim, a rigidez da estrutura acadêmica francesa, imbatível na
sua tentativa de dar rigor e centralizar as artes. Nada como pensar estar
chegando em “território virgem”, pronto para a elevação.
A colônia francesa no Brasil
E foi, assim, em 1815, e logo após a assinatura do tratado de paz entre
França e Portugal, que o Marquês de Marialva, encarregado de negócios de
Portugal na França e depois o cavaleiro Brito, passaram a negociar com
diversos artistas reconhecidos em seu meio e que, em conseqüência da queda
de Napoleão e preocupados com as represálias políticas, andavam desejosos
de emigrar.
Mas se a historiografia sempre apostou na idéia dessa
“Missão Artística” oficialmente contratada, uma série de elementos nos leva
a desconfiar dessa versão que, de alguma maneira, toma a conseqüência como
causa. Em primeiro lugar, uma série de cartas deixadas por Nicolas-Antoine
Taunay – pintor de paisagem e de motivos históricos napoleônicos e talvez o
artista mais renomado, no momento em que o grupo chega ao Brasil – e
publicadas, como vimos, pela revista do IHGB14 – parece comprovar que a

14 Mello Junior, Donato. Nicolau Antonio Taunay, precursor da Missão, Artística


Francesa de 1816. Duas cartas sua inéditas colocam-no na origem remota da Mis-

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

colônia francesa não era tão coesa como procurava se apresentar. Não se sabe
ao certo a data de tais missivas, mas o que, sim, se sabe é que Nicolas oferece
seus serviços como progenitor dos filhos de d. João e de d. Carlota e ainda tem
tempo de brincar com seus sessenta anos feitos e sua idade (60 anos), dizendo
que não oferecia qualquer perigo às princesas.
“Senhor,
Dois amores tomaram conta de todas as faculdades de minha alma.
Um, me leva a desejar ser o testemunho feliz dos atos diários de sua
Augusta e Divina Presença. Outro, me deixa escravo da Pintura e
me mantém atado ao meu cavalete, onde o meu nobre trabalho me
deixa digno da sua honrosa proteção. Vossa Majestade, cujos
talentos e sabedoria souberam conciliar os interesses de
importância muito maior, pode na sua bondade realizar todos os
desejos de meu coração ao me permitir dedicar-me ao seu serviço e
àquele de sua augusta família, seja na qualidade de professor de
desenho dos príncipes ou das princesas, a quem os meus cabelos
brancos me permitem chegar perto; seja ao me dar o cargo de
conservador dos seus quadros, estátuas etc., etc., etc. Com a idade
de 60 anos, pai de uma família numerosa, achei-me no meu país,
vítima de uma revolução cuja agitação crescente eliminou a minha
modesta fortuna.
Assustado sobretudo pela última invasão de Paris, todas as minhas
esperanças se dirigem ao asilo que Vossa Majestade escolheu para si
mesma na sabedoria de suas concepções (...) Taunay, Peintre,
membre de l’ Institut Royal de France.” 15
A simpatia e a subserviência presentes no estilo da carta, assim como a
tentativa de jogar tudo para a esfera pessoal, quem sabe possam ajudar a
iluminar um pouco os impasses da situação que, como vimos, andava
bastante tensa. Taunay, em primeiro lugar, apresentava-se como pintor, e é
sob essa condição que pedia a proteção de d. João. Não há como saber se a
carta é anterior à vinda do pintor, ou se, ao contrário, foi entregue
pessoalmente – e em mãos — já no Rio de Janeiro, quando Nicolas procurava

são. Rio de Janeiro, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n 327,


abril/ junho de 1980.
15 Mello Junior, Donato. “Nicolau Antonio Taunay e a Missão Artística Francesa de
1816”. In: RIHGB, v. 327, 1980, p. 10.

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garantir seu emprego. O fato é que nelas, o velho artista avaliava não existir
qualquer perigo em seu possível emprego ou em sua antiga filiação política.
Um “passado irreprovável”; eis a expressão utilizada por Nicolas, que
procurava jogar seu pedido para a ordem da intimidade e desvincular-se de
qualquer laço com a política francesa, a qual, com certeza, desagradaria ao
monarca português.
Isolado na França, por conta de sua proximidade com as lides de
Napoleão, Taunay traçava, ainda, um paralelo com a situação vivenciada pelo
príncipe de Portugal: também uma espécie de exilado em seu domínio
americano. D. João, que residia há oito anos no Rio de Janeiro, já se habituara
aos trópicos e a viver longe da guerra européia. Experimentava uma situação
transitória, negada pela estadia que se prolongava; muito mais do que
esperariam – e gostariam – seus súditos da metrópole. Já estamos em 1816, e
o príncipe, auxiliado por seus ministros de Estado, recriara na colônia,
elevada à condição de Reino Unido em 1815, as grandes estruturas da
metrópole.
É preciso pensar, assim, na incompatibilidade entre o que a
correspondência de Taunay deixa transparecer e o que parte da nossa
historiografia nacional legou. Se nos fiarmos na carta enviada por Nicolas ao
regente português, parece que o artista teria vindo sozinho e por iniciativa
própria; no máximo acompanhado de sua família. Além do mais, e ao que
tudo indica, pagou do próprio bolso para viajar até o Brasil. Tal versão em
nada combina com o episódio largamente divulgado em nossos compêndios
de história, que descrevem as virtudes e a proeminência do governo de d.
João, que teria expressamente encomendado uma “Missão artística” em
1816; responsável pela entrada de um grupo de artistas franceses, que
aportava com o objetivo de fundar uma Academia de Artes no Brasil. Aí
estariam pintores, escultores, gravadores, arquitetos e entre eles se incluiria
Nicolas Taunay; ex-pensionista da Academia Francesa em Roma, assíduo
freqüentador dos Salons, membro do Instituto de França e um dos pintores
oficiais do Império durante o apogeu do período napoleônico.
Não se quer dizer que os artistas não tenham chegado juntos. Também
não há como negar que o grupo foi amparado pelo príncipe no momento em
que aportou no Rio de Janeiro, em 1816. Mas temos elementos para
desconfiar das concepções que dão à “Missão” um objetivo direto, que por
certo não tinha, mas trataria de alcançar.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

Por outro lado, há que se perguntar por que d. João contrataria pintores
franceses para representar o Brasil; justamente artistas outrora acostumados a
trabalhar com seu ex-inimigo: Napoleão Bonaparte. Afinal, na assim
chamada “missão” estavam Lebreton (o líder do grupo e também ex-diretor
do Louvre e do Instituto de França, recentemente deposto), Debret (primo de
David – o pintor oficial do Império – e seu colega de ateliê), Grandjean de
Montigny (arquiteto do irmão mais novo de Napoleão), entre outros.16 O
grupo era, portanto, bastante “armado” e afinado com uma posição política
que, apesar dessas alturas não meter mais medo em ninguém, bem que
poderia desagradar o regente.
Outra dúvida óbvia: por que não contratar pintores italianos, ingleses,
holandeses ou até mesmo portugueses – igualmente à disposição? Se os
franceses eram os mais estimados nesse mercado das artes, alguns pintores
portugueses poderiam ter aportado junto com a corte assim como fizeram
músicos e artistas de teatro da metrópole. E ainda, por que o regente gastaria
sua verba com autores pouco habituados aos trópicos? Taunay, por exemplo,
sempre lamentou sua dificuldade em lidar com o novo ambiente. Dizia não
entender a escravidão (apesar dele próprio ter adquirido três escravos);
insistia que não conseguia captar a luz do país – o sol do Brasil –; ou mesmo
que o céu do Rio de Janeiro era impossível de retratar. Enfim, Nicolas
“reclamava do Brasil”.
Ao que tudo indica o grupo se autoconvidou; ou melhor essa foi uma
iniciativa dos artistas franceses, apoiada pela corte portuguesa residente em
Paris e que só se tornaria oficial quando, efetivamente, chegou ao Brasil.
Afinal, a situação dos participantes do grupo não era das mais fáceis:
Lebreton perdera o emprego no Louvre e no Instituto, onde ocupava o
importante cargo de presidente da classe de Literatura e membro da classe de
Belas-Artes; Debret vira seu primo ser exilado na Bélgica, perdera seu cargo
no ateliê de David e vira seu único filho falecer; Montigny fora demitido de
sua posição como arquiteto na corte da Westfália, onde reinava o histriônico
irmão mais novo de Napoleão e se Taunay não fora afastado de seu posto no
Institut de France, sofria com a situação – vira seus clientes sumir clientes,
consumira seu patrimônio e temia ser demitido de seu lugar na Instituição,
onde era vice-presidente da classe de Belas-Artes.

16 Ver, Taunay, Afonso. Op.cit.

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Com tantas ‘pistas’ e mais a evidência de uma série de cartas


encontradas no Arquivo da Torre do Tombo – trocadas entre o Cavaleiro
Brito e Lebretron –17 fica bastante claro como a iniciativa partiu dos franceses
que, animados com os relatos de Humboldt – publicados em 18111 no seu
Ensaio Político sobre o Reinado da Nova Espanha – acerca da criação de
uma Academia no México, tencionavam imitar as sugestões do grande
naturalistas;18 o qual, ademais, era colega de Lebreton no Instituto de França.
Enfim, motivações não faltavam e essa seria mais uma das versões do famoso
provérbio: “fazer a América”.
Cenários frágeis
O governo francês recém-instalado no Brasil, e até mesmo
Jean-Baptiste Maler, o representante da França residente no Rio de Janeiro,
se não podiam se opor à vinda, não vira com bons olhos essa emigração de
artistas, organizada – ademais – pelo embaixador de Portugal. Chegou-se até
a pensar num exílio disfarçado, mas negou-se tal intenção, mesmo porque
nenhum dos artistas era visado pela polícia ou estava ameaçado pelas leis de
segurança da monarquia restaurada.
E não eram poucas as nações latino-americanas – o México e os
Estados-Unidos, por exemplo – que começavam a conformar acervos
oficiais, com o intuito de criar iconografias de Estado. No entanto, os
primeiros momentos da Academia Brasileira seriam mesmo de desamparo.
Araújo faleceria logo após a chegada do grupo e sem seu principal mecenas a
indiferença e a hostilidade recairiam sobre os integrantes franceses, além da
hostilidade dos artistas nacionais e portugueses. Nesse meio tempo não
faltariam desavenças, mas os artistas, recém-chegados em 26 de março de
1816 – tendo saído em janeiro de Havre no navio americano Calphe – vinham
para ficar; ao menos por algum tempo.

17 Ofício n, 21, 3 de outubro de 1815, Arquivo Nacional Torre do Tombo. Vide, tam-
bém, Dias, Elaine. Op.cit: 28 e Dias, Elaine. “Correspondências entre Joachim Le
Breton e a corte portuguesa na Europa. O nascimento da missão artística de 1816”.
In Anais do Museu Paulista. História e cultura material volume 14, número 2, São
Paulo, Universidade de São Paulo, jul.-dez. 2006 e Ofício, no. 30, 9 de dezembro de
1815, ANTT. In Dias, Elaine: 31-2.
18 Humboldt, Alexandre de. Essai politique sur lê royame de La Nouvelle-Espagne.
Paris, Chez F. Schoell, 1811: 1818-9.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

E oportunidades existiam; por mais que fossem distintas daquelas


imaginadas a princípio pelos artistas franceses. Com o falecimento da rainha
d. Maria em 1816 e a futura aclamação do novo soberano, o príncipe d. João,
em 1818, dois atos capitais na vida de uma nação monárquica, os artistas logo
perceberiam qual seria sua verdadeira função: construir cenários rápidos e dar
grandiosidade a essa corte imigrada. Tendo Joaquim Lebreton (secretário
perpétuo da classe de Belas Artes do Instituto Real da França) como líder e os
artistas Nicolas Antoine Taunay (pintor do mesmo Instituto), Auguste M.
Taunay (escultor), Jean Baptiste Debret (pintor de história e decoração),
Grandjean Montigny (arquiteto), Simão Pradier (gravador) e outros
participantes, o grupo francês era anunciado a partir do perfil profissional e
“civilizado” de seus membros.
O grupo trazia consigo 54 quadros de pintores ingleses e franceses,
destinados a dar início a uma pinacoteca local, mas com gosto francês.19 É
certo que a maioria das telas não passavam de reproduções de obras
renascentistas, nos moldes dos acervos da época; porém, a idéia era suprir a
colônia americana, considerada “carente de boa arte”. Com os componentes
chegavam, pois, os desejos de montar um aparato laico com relação às artes e
a intenção de se impor uma “nova cultura artística”, mais afinada com as
vogas francesas: no lugar da arte barroca e religiosa entraria essa parafernália
de profissionais, coadunados, ajustados a um modelo estatal de produção
artística e com o mecenato da Corte.
E o decreto sairia em 12 de agosto de 1816, destacando os amplos
objetivos da “Missão”, que pretendia, entre outros, expandir a “educação
artística”: “Atendendo ao bem comum que provém aos meus fiéis vassalos de
se estabelecer no Brasil uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em que
se promova e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos
homens destinados não só aos empregos públicos de administração do
Estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria e
comércio de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos povos,
mormente neste continente cuja extensão não tendo ainda o devido e
correspondente número de braços indispensáveis ao tamanho e
aproveitamento do terreno, precisa de grandes socorros da estatística para
aproveitar os produtos, cujo valor e preciosidade podem vir a formar do
Brasil o mais rico e opulento dos Reinos conhecidos; fazendo-se, portanto,

19 Taunay, Afonso. Op.cit.

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necessário aos habitantes o estudo das belas-artes com aplicação e referência


aos ofícios mecânicos, cuja prática, perfeição e utilidade depende dos
conhecimentos teóricos daquelas artes e de efusivas luzes das ciências
naturais, físicas e exatas ...” 20
A missão tinha, portanto, objetivos mais amplos e não por acaso o
primeiro nome cunhado foi “Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios”,
mostrando como sua inserção se daria em diversas áreas, não só nas artes, mas
nos ofícios também. Afinal, esse era o modelo de Humboldt, que tão bem se
aplicaria no Brasil, onde parecia faltar de tudo. Por isso mesmo, a chegada de
profissionais especializados em diferentes matérias seria saudada na
imprensa: aí estavam técnicos em construção naval e de veículos, técnicos em
curtume ..., atendendo a outros interesses do Estado e formando homens
destinados aos empregos públicos, mas também às áreas de agricultura,
mineralogia, indústria e comércio. Como dizia o decreto, o fim último era “a
civilização dos povos maiormente nesse continente”.
Apesar dos percalços, entre 1816 e 1826 o grupo de artistas franceses
foi ganhando espaço e definição. Os propósitos e promessas primeiros não
foram, por certo, cumpridos, mas no plano pictórico a “colônia Lebreton”
seria a grande responsável por uma transformação bastante radical, que aos
poucos relegou o barroco a um segundo plano, e permitiu que o
neoclassicismo passasse a imperar, ao menos na corte do Rio de Janeiro, não
só nas artes como na arquitetura. Tratava-se de expandir o modelo criado pela
Academia Francesa de Arte que, remontando à antigüidade, pretendia fazer
uma arte voltada para a virtude e a exaltação moral do Estado. Era também
uma arte laica, por oposição ao modelo religioso e sacro que até então
imperava. Ou seja, faltava na tradição pictórica ibérica pinturas de paisagem
ou de gênero. Vigorava uma arte religiosa e conectada com a importância do
catolicismo e da Igreja naquele país. Por isso mesmo, a não ser pela produção
legada pelos viajantes, pouco se conhecia do cotidiano da colônia, uma vez
que a produção artística esteve umbilicalmente ligada à religiosa.
Não se quer dizer que inexistissem no Brasil artistas e aprendizes –
muito pelo contrário –, mas o certo é que não havia até então um ensino
sistemático. A iniciação dos artistas mais se aproximava da relação de

20 Brasil. Coleção das leis do Brasil. 1816-17. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1890, p.77. AN

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

mestre-aprendiz, e pequenos artífices, sem formação clássica, formal ou


acadêmica, dedicavam-se à pintura, ao desenho, à escultura e à arquitetura.
Na verdade, desde o século XVIII tornara-se mais comum a permanência
desses aprendizes junto aos poucos artistas portugueses e italianos que
chegavam ao Brasil, trazendo o estilo barroco, que acabou por se afirmar.
Não por acaso, os maiores redutos se concentravam no Rio de Janeiro, em
Ouro Preto e Salvador, difundindo-se aos poucos para Recife, Olinda e
Diamantina. Acresce-se a isso o fato dessa arte colonial responder em boa
parte a demandas prévias, sendo os trabalhos encomendados, em sua maioria,
por autoridades eclesiásticas ou civis, e excepcionalmente por particulares.
Mas há um detalhe significativo: via de regra só trabalhavam nesses ofícios
indivíduos de baixa extração social, em geral mestiços e negros, de pouca
formação, o que dava a esses nossos artistas não só uma formação, como uma
coloração distinta dos demais.
Com ou sem especificidades, na falta de escolas, e como autodidatas,
esses artistas nacionais controlaram os códigos da produção de sua época, de
forma suficiente para as demandas locais, mas não plena se pensarmos nas
novas exigências que aportavam junto com a corte em 1808.21 Dominava o
barroco, um barroco tardio que se prolongou nas formas e contornos e ficara
imune à nova voga acadêmica e neoclássica, que fazia furor na Europa
grandiosa de Napoleão. Também estavam pouco habituados a retratar e dar
grandiosidade ao Estado e a seus dirigentes; tarefa a que se dedicava a colônia
de artistas napoleônicos com destreza e primor.
Mas há ainda outro fato particular a lembrar: também Portugal carecia
de pintores renomados. Isto é, lá existiam Academias, mas não de artistas
pictóricos e tanto na colônia como na metrópole a produção desse gênero foi
considerada de menor importância, ou até mesmo atividade desonrosa. Na
própria metrópole não havia estrutura de ensino artístico, para além das
escolas estabelecidas em mosteiros e das “aulas régias”, e toda a arte

21 Ver Bittencourt, José Neves. “Território largo e profundo. Os acervos dos museus
do Rio de Janeiro como representação do Estado Imperial”. Niterói, Instituto de
Ciências Humanas e Filosofia, Universidade, Federal Fluminense, 1997, tese de
doutorado. E Bittencourt, José Neves. “Da Europa possível ao Brasil aceitável. A
construção do imaginário nacional na conjuntura e formação do Estado Imperial:
1808-1850”. Niterói. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Curso de pós-gra-
duação em História, Universidade Federal Fluminense, 1988, dissertação de mes-
trado, 1988: 33-36.

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concentrava-se no palácio do rei ou nas igrejas. Para piorar, essas poucas


iniciativas se encontravam em decadência no início do XIX. O “Curso de
Risco”, estabelecido por Johann Ludwig no mosteiro de Mafra na primeira
metade do XVIII, a essas alturas havia desaparecido, e as aulas régias – de
desenho, arquitetura civil, de escultura e gravura – introduzidas na segunda
metade do mesmo século, tendiam a seguir pelo mesmo caminho.22
E é assim que se explica, por um lado, a aceitação dos artistas franceses
à disposição e acostumados com o estilo neoclássico; essa arte de combate,
que se põe a serviço da Revolução e (depois) do Império e trabalha em nome
da criação de sua memória oficial. Era como se o poder não tivesse pátria e
estivesse pronto a ser retratado nas telas neoclássicas, sempre ufanistas e
grandiosas. Os novos artistas viriam, portanto, para fazer barulho e gerar
ruptura, inaugurando uma arte estatal, patriótica, e preocupada em vincular os
feitos dos monarcas aos ganhos do passado clássico idealizado. Alocados
diretamente a serviço do Estado, tais artistas não tinham pruridos em mostrar
seu engajamento e paixão políticas e conheciam (e admiravam bastante) o
modelo da Academia que começava a ser reorganizada também na França sob
a forma de um Instituto que dava guarida a uma série de classes. A idéia era
formar um grupo sólido e único em suas bases, e, como na França, impor
padrões, modelos, gêneros e gostos.
Não por acaso, o primeiro nome cunhado foi “Escola Real das
Ciências, Artes e Ofícios”, revelando as intenções originais do grupo. A
Antigüidade era a grande fonte de inspiração e os modelos dos antigos
personagens saíam dos livros e tratados para ganhar novos deslocamentos
diante dessa realidade inesperada, que apresentava um rei e sua Corte fora do
lugar.
E esse modelo se encaixaria, ao menos teoricamente, de forma perfeita
nos planos da monarquia portuguesa, a qual, junto com a preocupação da
criação de uma memória real, selecionou um convencionalismo temático e
uma certa contenção acadêmica. Essa arte neoclássica, com seu apelo ao
classicismo e à mitologia, traria tradição e “continuidade” diante dessa
situação política, no mínimo, inusitada. Longe de qualquer traço mais
popular, esses artistas plasmariam uma Europa possível incrustada no meio
dos trópicos. Uma Arcádia improvável.

22 Neves, op.cit:119.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

Mas se a tarefa primeira era propagar pela colônia uma determinada


cultura das belas-artes, que provocaria mudanças a partir da introdução do
modelo neoclássico francês, desavenças internas e a pouca efetivação da
Academia levaram a mudanças nos plano. O grupo dos portugueses acabaria
por assumir a direção da Escola e minaria a esperança dos artistas franceses.23
Além do mais, diante da inexistência de um mercado de artes, o grupo teria
que se filiar exclusivamente à Família Real, colando-se à agenda de datas e
fatos que a monarquia mandava comemorar. Depois das cerimônias de luto
consagradas a d. Maria viriam os rituais de gala, substituindo os ornatos
fúnebres por arcos triunfais e iluminações, por ocasião da aclamação de d.
João VI e da vinda da futura Imperatriz Leopoldina, que chegava para se casar
com o príncipe d. Pedro.
No entanto, e apesar dos obstáculos, alguns artistas da “Missão” se
mantiveram fiéis à idéia inicial, que previa a criação de uma miniatura da
Academia Francesa nas Américas. Tratariam, assim, de repetir os passos de
sua matriz européia em dois grandes sentidos. Em primeiro lugar, e assim
como ocorrera na França napoleônica, membros da “Missão” seriam
responsáveis por uma série de obras urbanísticas e grandes monumentos,
inspirados nos rígidos preceitos neoclássicos. Além do mais, interfeririam no
urbanismo da corte, criando uma espécie de “espaço da festa”, onde se
exibiam comemorações públicas associadas ao Estado. E apesar da
instituição ter sido oficialmente fundada apenas em 1826, os franceses,
nesses quesitos, teriam sucesso. De um lado, ali estava o modelo neoclássico
francês napoleônico, com seus exemplos da Antigüidade misturados à
civilização ocidental. De outro lado, impunha-se a singularidade desta
colônia, marcada pela escravidão que se espalhava por todo território.
Não obstante, a essas alturas o fracasso formal da “Missão” não era
segredo. O modelo que se pretendia era inatingível, e a saída era imaginar
uma civilização possível, decalcada da realidade e desenhada no papel e
lápis. Para piorar, em tempos de domínio inglês, uma missão francesa

23 Há uma farta bibliografia sobre a entrada de Henrique José na direção do grupo e a


atuação dos artistas portugueses que consideravam os franceses como intrusos. No
meu livro novo (2008) desenvolverei com vagar a querela que também pode ser
encontrada nas obras de Taunay, Escragnolle. A missão artística de 1816. Rio de
Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1956, Lima, Oliveira. D. João VI no
Brasil. 1909. Rio de Janeiro, Topbooks, 2007, Morales de Los Rios. O ensino ar-
tístico. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1942, entre outros.

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composta por simpatizantes de Bonaparte não seria recebida com bons olhos,
apesar do perfil moderado de seus membros. E se o primeiro acolhimento
pareceu caloroso, o tempo faria esfriar as reações e jogaria os mestres no
ostracismo; situação que ficaria ainda mais conturbada com a volta de d. João
VI a Portugal, que levou consigo uma parte da Corte, em 1821. O primeiro a
retornar seria o gravador Pradier em 1818 – alegando falta de material e de
condições para exercer sua prática –, seguido de Nicolas Taunay em 1821 e
finalmente de Debret em 1831. Só Montigny e Auguste ficariam nos trópicos
e por aqui morreriam.
Nicolas Antoine Taunay: o David das pequenas obras ou natureza
combina com nacionalidade
Vale a pena, porém, entender essa “tradução” dos artistas
napoleônicos, em solo americano, a partir da trajetória de um pintor em
particular. Voltemos assim ao ano de 1815, momento em que Nicolas
Antoine Taunay, artista da academia francesa redige uma petição ao príncipe
d. João, separando-se, nesse contexto, do grupo de artistas franceses, ao qual
estaria, no futuro próximo, bem vinculado.
Como vimos, a correspondência trocada entre o pintor e a
realeza portuguesa não pára por aí 24. Taunay escreve ainda uma vez a d. João
e o mesmo tom, de respeito e súplica, é repetido na carta endereçada à
princesa Carlota Joaquina. Aí está a demonstração de humildade e
cumplicidade de um artista até então vinculado às lides napoleônicas da
Academia francesa – momentaneamente transformada em Instituto – e que
nesse momento nega ou omite a existência de qualquer missão artística
francesa.
Não obstante, diferente do que deixam transparecer as duas
cartas, Taunay não viria sozinho. Se, ao que tudo indica pagou do próprio
bolso para chegar até o Brasil, o fato é que, no final das contas, acompanharia
o grupo de artistas franceses que, tendo chegado ao Brasil em 1816, tinha
como projeto criar uma iconografia oficial – a um só tempo européia na
civilização e tropical em sua natureza – e conformar uma Academia
brasileira. Como vimos, composta majoritariamente de artistas associados ao
Império de Napoleão, a missão era constituída de uma série de artistas e
24 Mello Junior, Donato. “Nicolau Antonio Taunay e a Missão Artística Francesa de
1816” . In: RIHGB, v. 327, 1980, p. 14.

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difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

profissionais e entre eles estava Nicolas Taunay; ex-pensionista da Academia


Francesa em Roma, assíduo freqüentador dos Salons, vice-presidente da
classe o Instituto de França e um dos pintores oficiais durante o apogeu do
período napoleônico.
Mas é preciso entender por que esse fiel colaborador “do ex-inimigo
francês”, – talvez o mais conhecido dos artistas franceses que chegou ao Rio
–, conceberia a idéia de mudar-se para o Brasil; colônia tranqüila, por certo,
mas estranha em suas gentes e costumes. Para tanto, nada como recuar na
história até chegarmos ao mesmo momento de estabelecimento da missão ao
Brasil.
Tendo nascido em Paris em 10 de fevereiro de 1755, Taunay foi desde
jovem preparado para a carreira de pintor na França, estudando em Roma de
1784 a 1787. O pintor era oriundo de uma antiga família de Poitou, que se
convertera ao Calvinismo no século XVI, fora para o exílio e, após a
revogação do Edito de Nantes, regressara ao solo pátrio. Talvez venha daí – e
dos ares da própria época – o culto que Taunay destinou desde cedo à pátria
francesa.
Seu pai, Pedro Antonio Henrique Taunay (1728-1787), foi
químico e pintor da manufatura real de porcelanas de Sèvres. Por conta de sua
habilidade como artista, por seu empenho na condição de inventor de
diversos esmaltes, matizes e cores, Luiz XV concedera-lhe o qualificativo de
“pensionista do Rei”.25 O pai era assim renomado artífice, conhecido por
elaborar e preparar cores, guardando ciosamente o segredo das fórmulas.
Talvez tenha vindo desse hábito de lidar, o interesse de Taunay pela pintura e,
sobretudo, pelo colorido. A família era, também, ilustrada, possuindo uma
“livraria” em sua casa, com uma média de 30 livros, e freqüentando
ambientes artísticos e musicais. Nicolas era, pois, um letrado, formado no
ambiente francês.
O jovem Taunay também foi incentivado a percorrer os arredores de
Paris que, nesse contexto, era uma cidade animada por artistas, trupes, e lojas
que ofereciam de tudo um pouco. Revelando pendor para a arte, já aos 13
anos de idade freqüentava o ateliê de Lepicié – artista bastante conhecido na
época, mas medíocre na técnica –, passando pouco tempo depois a estudar
com Brenet; pintor de história, que lhe introduzira na técnica do desenho. Seu
25 Teria descoberto vários pigmentos entre eles os três carmins.

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passo seguinte foi tornar-se discípulo de Francisco Casanova, reconhecido


pintor de batalhas e que na época ganhava rios de dinheiro com as
encomendas que recebia. Tendo perdido o mestre, que se retirara de Paris
para Viena e depois para a Rússia, passou a dedicar-se ao estudo isolado da
natureza e à análise de paisagistas célebres. Estudou os arredores de Paris e
depois partiu para uma longa excursão pela Sabóia e Suíça. Apaixonado pela
natureza, fazia longas perambulações por florestas, onde observava rochas,
árvores e rios.
Em 1777 se apresentava, pela primeira vez, ao público parisiense, em
uma mostra ao ar livre, conhecida como “Exposição da Mocidade”. Segundo
a crítica da época aí estava o “alvorecer do talento de um novo Berghem”.26
Em 1779 concorreu pela segunda vez à “Exposição da Mocidade”, obtendo
novo reconhecimento da crítica. Em 1782 reapareceu no “Salon de la
Correspondance”; já tinha então uma certa reputação; freqüentava o ambiente
artístico local; era amigo próximo de Fragonard – que teria sido seu primeiro
cliente – e de Hubert Robert. Foi inclusive Fragonard quem apresentou
Taunay ao conde d’Angeviller; ministro das Belas-Artes, Superintendente
dos Edifícios Reais e de Belas-Artes e que gozava de grande ascendência
dentro do mundo das artes. Seguindo o conselho do conde, Taunay se
candidatou então à Academia, que funcionava como uma espécie de
porto-seguro para os artistas que dela faziam parte.
Em 31 de julho de 1784 foi aceito agreé junto à Academia
Real de Belas-Artes, por conta de um quadro, inspirado em assunto de
Ariosto. O título era o mais modesto na hierarquia da Academia, mas lhe
franqueava a entrada nos salons oficiais bienais. O importante é que a partir
de então começou a contar com as benesses da estrutura acadêmica. No
mesmo ano de 1784 falecia um pensionista da Academia de França em Roma
– João Gustavo Taraval – e foi de d’Angevilliers a idéia de ocupar a vaga –
sem concurso prévio – com a indicação de Taunay. Na verdade, o conde fez
mais: pediu para que Vien (então diretor da escola de Roma) convidasse o
artista, dando a impressão de que a idéia fora do próprio diretor. Como se vê,
a estrutura e as regras existiam para serem burladas e nosso Taunay entrava
em Roma sem ter que passar pelos exames comuns aos demais candidatos;

26 P. 5 “Documentos sobre a vida de Nicolau Antonio Taunay (1755-1830) um dos


fundadores da Escola Nacional de Belas-Artes. Breve notícia biográfica acerca de
Nicolau Antoine Taunay.

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difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

era na condição de protegido que merecia sua posição. Taunay parte para a
Itália, onde permaneceria por três anos, até o fim de 1787.
Chegando em Roma, Taunay logo se depara com o sucesso e a
influência que David exercia naquele momento. A partir de então tem início a
sua relação um tanto ambivalente com o artista: sem se submeter à tirania do
pintor – que impôs a volta à Antigüidade, a cópia das obras de Rafael e a
supremacia das telas históricas – Taunay não passaria impune à voga
neoclássica ditada por David e seu grupo. De toda maneira, aproveitou a
estada em Roma para visitar monumentos e galerias, observando e copiando,
conforme as regras da Escola que agora freqüentava. Também enviava a cada
ano uma pintura de sua autoria, mas segundo registros da escola, não passara
dos “segundos prêmios”. Por essas e por outras é que o diretor pressionava o
conde, dizendo que talvez fosse hora do “Sr. Taunay partir”. Dizia mais; que
só os pintores de história tinham direito a permanecer quatro anos, e que esse
não era o caso de Taunay.
Em 1787, ainda na Itália, expôs pela primeira vez no Salon
Oficial, concorrendo mais tarde nas exposições de 1789, 1791, 1793. Os
numerosos quadros apresentados lhe garantiram a reputação de consumado
paisagista das pequenas telas; sua grande especialidade. A crítica lhe era na
maior parte favorável, no entanto, diante da nova orientação – que David e
sua escola começavam impor –, ninguém parecia prestar atenção ao que não
fosse grego ou romano.27 Começava então o triunfo absoluto dos davidianos;
triunfo esse que a Revolução consagraria. Além do mais, para infelicidade de
nosso pintor, nesse contexto, a paisagem e a pintura de gênero (praticadas por
Taunay) eram tidas como inferiores, sobretudo quando comparadas às
mitológicas ou históricas. Mas o fato é que Taunay manifestava apreciar as
cores da Itália; cores que exportaria para todas as suas telas.
E se Nicolas Taunay relutou em acompanhar cegamente a nova
tendência, não podia deixar de dar-lhe alguma atenção, para não incorrer no
desagrado dos apaixonados pela pintura de David ou contar com perseguição
interna.28 Mas a Academia vivia uma situação de desmantelo e a conturbação
que antecedeu à Revolução chegava perto da escola de Roma, também.

27 Para um balanço da crítica vide Taunay, 1956: p. 102-105.


28 Campofiorito, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Prefácio
Carlos Roberto Maciel Levy. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.

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Por sua vez, depois de ter viajado pela Itália – por Nápoles, Sicília,
Florença, Piza, Siena, Bolonha – o pintor voltava a Paris para encontrar o
irmão e a noiva, que, por ser proveniente de uma família abastada, garantiria
mais segurança para esse artista que até no contrato de casamento assinava
“pintor do rei e de sua Academia”.
E, mesmo apresentando um certo ecletismo de estilos e gêneros,
Taunay começava a ganhar renome na capital francesa e no mundo das artes.
No salão de 1789, por exemplo, apesar dos jornais se dedicarem mais ao feito
político da queda da Bastilha, existem notas sobre as obras do artista; mais
especialmente acerca dos quadros Henrique IV e Missa Campal.29
Em 1791, as telas de Taunay figuraram na exposição da Academia
Real, que passara a ser denominada de “Central” ao invés de “Real” – e não
contava mais com a direção de d’Angeviller, que, receoso, emigrara para a
Rússia. A discórdia também chegava ao mundo das artes, com a batalha
encetada pelo grupo de David contra a Academia. Mesmo assim, Taunay
concorreu com sete telas, que atendiam aos gêneros em voga, tendo recebido
vários prêmios. Tentava manter-se a meio do caminho; sem acompanhar as
ordens davidianas, fazia concessões e produzia telas mais históricas. Mas tal
guinada não foi suficiente para livrá-lo da má vontade dos contemporâneos,
que o vinculavam a d’Angeviller e ao desacreditado gênero da paisagem.
Apesar de tudo, em 1792, junto com David, Taunay faz parte de uma
comissão de artistas eleitos em 1791, com o fim de distribuir prêmios
concedidos pela Assembléia Nacional. Taunay se mantinha, pois, no meio-fio
e ainda recebia três mil francos como recompensa por seu trabalho: um
grande prêmio para um mero pintor de paisagens que não retratava
atenienses, troianos ou cartagineses.
No entanto, ao mesmo tempo em que começava o período do Terror,
aumentava a “ditadura das artes” de David. Onipotente, passou a perseguir
artistas que não eram de seu círculo, como é o caso de seu ex-amigo Hubert
Robert, a quem fez encarcerar por “atentado de civismo”.
A 10 de agosto de 1793, em pleno período do Terror, dá-se a
inauguração da “Comuna Geral das Artes” e, como sabemos, a própria
estrutura da Academia começava a mudar com os novos rumos da revolução.
Era a arte que se punha à disposição da política e mostrava suas amarras:
29 Bittencourt, op.cit: 1967:30.

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difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

pobres e ingênuos quadros de paisagem. Ainda assim, 627 quadros foram


expostos e Taunay apresentou dez telas. Resolvera dar uma prova de
independência, expondo três quadros sobre assuntos sacros, numa época em
que demonstrações de apreço cristão poderiam custar caro. Mantinha-se,
dessa maneira, fiel aos seus princípios artísticos e teóricos e, a despeito dos
tempos nervosos, não se movera no sentido de esboçar um único tema ao
gosto do davidismo.
As críticas ao certame artístico foram poucas, mesmo porque as artes
não eram mais o assunto do momento. O contexto se radicalizava e Taunay
era considerado um desses “vis satélites do sátrapa Angeviller”. Por conta
disso, Taunay retirou-se de Paris, com a mulher, dois filhos e o irmão.
Comprara a casa onde vivera Jean Jacques Rousseau, em Montmorency, e lá
residiria até 1796, tentando permanecer ao máximo esquecido. Os nomes
mudavam assim como se alterava a antiga ordem das coisas: a antiga
“Comuna das Artes” foi chamada de “Sociedade popular e republicana das
Artes”, e finalmente “Clube revolucionário das Artes”. Termos carregam
poder e a arte da retórica associava-se às artes.
O período do Terror terminava em finais de 1795, mas Taunay, ainda
receoso, deixara de concorrer no Salon desse mesmo ano. Foi ainda em 24 de
outubro de 1795 que a Convenção substituíra as antigas Academias pelo
Institut de France, onde se juntavam, sob o mesmo teto, a Academia de
França, a Academia de Literatura e Belas-Artes, a Academia de Ciências e a
Academia de Pintura e Escultura.
Para participar dessa nova instituição – já nos tempos do Diretório –
foram indicados os nomes de David e de Taunay, entre outros. David voltava
ao poder nas artes e afastavam-se artistas identificados com o Rococó, como
Greuze e Fragonard. A Taunay custara aceitar o convite, a quem parecia
melhor não ter qualquer posição oficial.
Assim, deixava Taunay o seu remanso, em princípios de 1796, indo
habitar novamente em Paris. Reiniciava também suas atividades,
participando do salon de 1796. Ao encerrar o evento distribuiu-se a soma de
100.000 francos, sendo setenta para a pintura histórica e o resto para os

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demais gêneros. Ficava Taunay com um pequeno prêmio, mas os tempos


andavam melhores para os artistas.30
Em 1797 apareceram no Louvre as primeiras conquistas, eufemismo
que designava a chegada de obras-primas italianas capturadas por Bonaparte.
Napoleão aproximava-se das lides das artes e demonstrava seu poder no
mundo saqueando objetos de arte e trazendo telas e antigüidades para os
museus franceses; era assim, por exemplo, que começava o Museu Napoleão
(organizado por Denon) e que depois seria o Museu do Louvre. O salão de
1798 incluía 428 quadros e Taunay, que pela primeira vez se intitulara
“discípulo de Casanova”. Mas a voga não estava definitivamente ao lado de
Taunay. Em 1799 iniciou-se o triunfo de David, que apresenta nesse ano O
rapto das Sabinas. Ali estava a demonstração das qualidades e dos defeitos
desse tipo de obra e poucos se lembraram de destacar o segundo aspecto. Aí
estavam, também, as características que haviam feito de David o chefe de
escola: a pureza de formas, a nitidez dos contornos, as minúcias anatômicas, a
limpeza dos modelos. E era difícil resistir à moda, como faria Taunay, então
chamado de Poussin do cavalete ou La Fountaine da pintura. Os apelidos se
referiam ao paisagismo, ao colorido e às dimensões das telas de Taunay, cuja
crítica consagrara e o vinculara às obras de pequenas dimensões.
Mas Taunay concede de alguma maneira ao davidismo, nesse
momento, uma vez que o Estado só adquiria obras de grandes dimensões e
que versassem sobre temas históricos. Saía dos limites da paisagem e
começava a apresentar-se como pintor histórico; a maior qualificação que um
pintor poderia receber. A crítica lhe censurou a guinada, mas os arranjos da
época pareciam demandar novas faturas.
E o golpe de 9 de novembro de 1799, quando Napoleão controla o
Estado e as artes, só viria a confirmar tal tendência. Napoleão se converteria
no grande (e quase único) mecenas e traria um maior número de obras
italianas para o Louvre, que haveria de ficar ligado à sua imagem. A situação
não era má para Taunay, sobretudo por conta das relações estreitas que
construíra com Josefina, para quem pintara dois painéis destinados a
ornamentar uma das salas principais da residência.

30 Para um ótimo apanhado das obras de Taunay, ver o catálogo elaborado por Clau-
dine Lebrun Jouve. Nicolas-Antoine Taunay. Paris, Arthena, 2003.

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

E no Salão de 1801 Taunay se vincula mais diretamente às lides do


Estado ao expor três quadros históricos: “O General Bonaparte recebendo
prisioneiros no campo de batalha após uma das suas vitórias na Itália;
Passagem dos Alpes pelo general Bonaparte; Ataque do forte de Bard.” Ao
primeiro quadro Taunay deu dimensões que não estava acostumado – 2,57 m
de largura por 1,61 m de altura – e obteve uma grande medalha e o prêmio de
animação instituído pelo governo, além de ter tomado parte no concurso para
a execução da representação da Batalha de Nazareth, encomendada pelo
governo francês. A tela Bonaparte recebendo os prisioneiros recebeu o
terceiro prêmio e dividiu a crítica e o Estado.
Também em 1802 o governo do Primeiro Cônsul abriu concurso para a
representação heróica da coluna francesa na Síria. A condição era que o
quadro tivesse 25 pés de comprimento e a recompensa seria de 12 mil francos.
E Taunay mais uma vez esteve entre um dos quatro finalistas. As telas eram
tão monumentais como deveria ser a imagem do Estado e Taunay se
acomodava à nova situação. Ainda em 1802 participou de importante missão
oficial: entre as obras conquistadas à Itália estava o célebre quadro de Rafael,
– A virgem de Foligno, que se encontrava muito deteriorado –, e Taunay fez
parte da comissão que acompanhou os trabalhos sobre a tela e assegurou sua
conservação. Também nesse ano Taunay recebeu encomendas para produzir
desenhos aplicados à porcelana de Sévres: os temas eram militares e pastoris,
mas sempre vinculados ao enaltecimento do Estado. Como se vê, a
associação de Taunay – seja em comissões, prêmios, obras e até decorações –
era crescente.
Em 1804 começa o Império; guinada política recebida com grande
alegria pela colônia de artistas de Napoleão, na qual se incluía Taunay. Para
nosso artista o prêmio veio sob a forma de uma medalha de ouro; recompensa
dada aos artistas que haviam se destacado na exposição. E as encomendas
oficiais não paravam. Foram várias as demandas do Estado, que pedia
grandes quadros sobre assuntos militares, telas essas que eram expostas com
muitas outras, nos Salons.
E Taunay galgava, cada vez mais, os degraus que o vinculavam ao
Estado napoleônico. É certo que não era o pintor oficial, assim como não
detinha a posição de liderança de David, mas fazia parte da esfera mais íntima
que circundava o Imperador e a Imperatriz. Em 1807 figurou na lista
apresentada a Napoleão I para a escolha do Diretor da Academia da França

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em Roma. Em 1813 foi eleito vice-presidente da Classe de Belas-Artes do


Instituto de França e em 1814, presidente. Nesse meio tempo, a disputa entre
Lebreton – secretário perpétuo da classe de Belas-Artes – e David se acirrava,
e Taunay por mais que quisesse ostentar uma certa neutralidade, pendia para
o lado de Lebreton, que procurava afastar David das decisões no Instituto.
Em 1806 abre-se novo salão, momento que consagra o poder de
Napoleão que esmaga a Prússia e decreta o Bloqueio Continental. No entanto,
o ano de 1807 seria de penúria. O Instituto estava inclusive em péssima
situação, malgrado os sinais de estima que Napoleão dedicava à arte;
sobretudo aquela que engrandecesse a imagem de seu Estado. Apesar de
citado como um dos artistas notáveis no Quadro geral do estudo de Ciências,
letras e artes a partir de 1789, a produção histórica de Taunay, apresentada
em 1808, passava por severas críticas. O centro do salão era mesmo A
sagração de David – a grande pintura do Império –, e a obra de Nicolas
aparecia eclipsada diante da imensa tela. Mesmo assim, Napoleão soube
apreciar as obras a ele dedicadas e comprou o quadro de Taunay.
Os dias do Império chegavam, porém, ao final, assim como a situação
financeira de Taunay se deteriorava, por conta de alguns problemas com a
herança de sua esposa. Mesmo assim Taunay comparece no Salão de 1810
com telas oficiais, que lhe valem novas encomendas do Estado. Dessa vez o
pedido referia-se a algum episódio heróico da campanha da Espanha e
também às batalhas na Itália: ambas as telas deveriam figurar no salão de
1812. Napoleão tentava, como vimos, compensar os sacrifícios e dissabores
com telas grandiosas e heróicas.
É nesse ambiente que abre a exposição de 1812. A campanha na
Rússia não ia bem e entre 1813 e 1814 a situação só se deteriorou com a
invasão da França. Mas como artista Taunay não tinha do que se queixar:
vendia tudo o que produzia e conseguira economizar algum pecúlio. Em 1813
foi vice-presidente da classe no Instituto de França e viu, com desgosto, a
queda de Napoleão. É por isso mesmo, e em função das ligações com o estafe
napoleônico, que a abdicação de Napoleão influiu grandemente nas decisões
pessoais de Taunay. Ainda assim, o artista participa do Salão de 1814,
inaugurado por Luiz XVIII, em primeiro de novembro, com doze telas.
A sucessão de eventos e a derrocada de Napoleão parecem ter se
constituído em fatores suficientes para Taunay aceitar o convite e integrar a

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Discurso de posse: sobre modelos, ajustes e tradições. o sol do Brasil e os Trópicos
difíceis nas telas de artistas da “Colônia Lebreton”

Missão que viria ao Brasil; espécie de lenitivo a acalmar os desgostos. Já


tinha sessenta anos e a viagem a América era muito mais radical do que a
estada em Roma e arredores. Mas a viagem era, também no seu caso,
remédio.
O seu motivo imediato foi, porém, outro. No dia 1º de outubro de 1814,
quando se realizou a sessão solene do Instituto de França, o nome de Taunay
não constava da lista dos recomendados ao “Prêmio de Roma”. O momento
político era outro e os artistas vinculados ao antigo Estado começavam a fazer
parte de um “segundo escalão” no mundo das artes. De nada adiantaram os
gritos do filho de Taunay – Charles Auguste – que se postou diante dos
duques de Angoulême e Wellington, reclamando que fosse concedida ao pai a
Legião de Honra. Ao contrário, o ato custou ao filho a eliminação dos quadros
do exército e a prisão. Com efeito, o conjunto dos fatos revelava não só uma
guinada na política na Instituição, como um certo afastamento do núcleo
central; situação essa a que Taunay estava até então pouco habituado.
A imigração revelou-se, assim, a Taunay como uma medida passageira
a contornar seus problemas públicos e pessoais. A América representava,
nesse sentido, um local isolado, apartado da guerra e cuja natureza inspirava a
atenção de Taunay. O artista pede, assim, afastamento do Instituto de França,
por cinco anos (dado esse que indica a situação provisória que a viagem
abria), e em meados de dezembro parte com toda a família – a esposa e seus
cinco filhos – e uma criada para a desconhecida colônia dos portugueses. Na
ata da sessão do Instituto de França, de 23 de dezembro de 1815, lê-se: “Le
sécretaire perpétuel lit une lettre par laquelle Mr. Taunay announce à M. le
Président qu’il entrependra na grand voyage at qu’il enverra à la classe des
travaux qu’um beau pays lui inspirera.”31 Era a natureza do Brasil que
cumpria o papel de texto e pretexto para a saída de Taunay, que deixava clara
a sua intenção de voltar. Por outro lado, no convite vinha embutido o “desafio
da viagem”, que correspondia ao ideal de qualquer paisagista e admirador da
natureza; empírica ou mesmo idealizada.
Enfim nos trópicos: Taunay e a “missão”
Chega ao Brasil, juntamente com seus compatriotas, em 26 de março
de 1816. Por sinal, na sessão de 23 de dezembro, Lebreton que ainda não fora

31 Taunay, 1956:158.

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destituído do Instituto também, pede para viajar, junto com Taunay.32


Revelando oficialmente um plano que já intentava desde setembro, quando
da Restauração dos Bourbon. Ao que parece, a dianteira pode ter sido de
Taunay, mas a liderança seria de Lebreton, que procuraria manter seu lugar
mais elevado na hierarquia no Instituto.
Indicado na condição de pintor de paisagem é alojado em uma casa na
corte, e em 12 de agosto de 1816 contratado pelo prazo de seis anos, com um
vencimento de oitocentos mil-réis: cinco mil francos pelo câmbio da época.
Era um salário modesto, mas confortável, prevendo os custos de vida no Rio
de Janeiro, e que lhe permitia ao menos imaginar uma estada provisória,
longe, momentaneamente da política francesa.
Encantado com a paisagem local adquire um terreno na Tijuca,
próximo de uma cascata, e ali aguardou a fundação da Academia, junto com
seu irmão. Nesse meio tempo, retratou o príncipe d. João, além de ter feito
muitos retratos por encomenda. Aí estava uma forma alentada de
sobrevivência: elaborar retratos para essa elite emigrada e que mal se refazia
na colônia americana, agora sede do Império. Além do mais, ocupava seu
tempo fixando a vegetação brasileira, sua verdadeira missão particular aqui
no Brasil.
Era de lá – da Tijuca – que ele conseguia representar a “sua natureza” e
tentava imaginá-la e traduzi-la. Seu céu, com o tempo, foi ficando mais azul,
mas era sempre um céu temperado, influenciado pelos mestres franceses e
italianos da paisagem. Seus personagens brancos remetiam a uma nobreza
européia e surgiam como vez ainda mais brancos; quase reluzentes por conta
da técnica de miniaturista utilizada por Taunay. Por oposição, os escravos
surgiam como detalhes desavisados; quase camuflados nas cenas, apenas
contratados pelas roupas brancas ou vermelhas que usavam. São quase
pontos, manchas ou borrões; constatação paradoxal para um artista que se
consagrou pela técnica da miniatura e sua destreza como tal. Há outro
contraste forte: enquanto os brancos se divertem, os escravos trabalham o
tempo todo: os pretos carregam, plantam, levam o gado; já os brancos se

32 A recuperação da sessão pública realizada num sábado, a 23 de dezembro de 1815,


foi retirada do livro que apresenta todas as sessões do Instituto de 1811 a 1815.
Procès-verbaux de l’académie des beaux-arts. Publiés sous la direction de
Jean-Michel Leniaud. Tome Premier (1811-15). Paris, École des Chartes,
2001:395.

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sentam, passeiam ou se acomodam para ver a paisagem. Tudo sem tensão ou


ambivalência; ao contrário a paisagem acalma e naturaliza.
Como se vê, Taunay não apenas documentava, mas também
interpretava com suas lentes para corrigir miopia e (também) dificuldades
culturais. As florestas tropicais viravam temperadas e espécies desconhecidas
apareciam nas florestas domesticadas de Nicolas. Além do mais, o artista, que
era um grande especialista na representação de animais, insistia em colocar
cachorros e vacas pastando nas cenas mais inesperadas: nas praias, por sob as
ondas, ou em terrenos íngremes e sem vegetação. Os marinheiros de Taunay
também são italianos e estranhos à natureza local. A influência da Itália é tão
evidente que o Rio de Janeiro vira uma vila romana, com as vacas sempre
presentes, alguns escravos e uma vegetação em tudo estranha. O fato é que
esses são trópicos amenos, tranqüilos, sem sinal de violência e essa mais se
parece com uma Arcádia tropical. Tudo parecia apontar para um
“mal-entendido” expresso nas telas: a América nunca foi tão européia como
nos quadros de Taunay sobre o Brasil.
No entanto, se Taunay permanecia na corte portuguesa, mantinha sua
cabeça na França. Basta analisar a carta de 27 de outubro de 1817, em que
Taunay já se lamenta de sua sorte na colônia americana: “J’ai enfin reçu des
nouvelles de France et mon inquiétude est passés (...) Ma situation est la
même qu’elle était lors de ma dernière lettre, j’ai autant d’espoirs que ce
pays peut em presenter. J’éprouve beaucoup d’ennuys que quelques petits
profits font supporter, beaucoup de chagrin provenant de la division de ma
famille et de celle de tous les français ....”
Taunay, que temia os riscos da repressão na época da Restauração,
estava ainda cheio de esperanças diante desse país novo, a despeito de não
abrir mão das novidades francesas. Mas lamentava, mais à frente na carta, a
falta de oportunidades e a pouca cultura do local. Por sinal, na missiva o
pintor se queixava do “retardo cultural do Brasil, que estaria ainda submetido
ao domínio religioso e longe da influência do espírito das Luzes”. Por fim, o
artista termina dizendo que havia deixado um pequeno pecúlio, com o
objetivo de pagar seu bilhete de retorno à pátria, o que demonstra como o que

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mobilizava Taunay, nesse momento, não era sua licença de seis anos, mas a
possibilidade de voltar a Paris.33
Mesmo longe, enviou um quadro para participar do salão de 1819.
Nele o motivo bíblico – A pregação de São João Batista – era idealizado em
meio à paisagem brasileira. O tema era clássico, mas a decoração trazia a
novidade dos trópicos. A crítica não foi, porém, das mais favoráveis dessa
vez. Taunay, que, ao que tudo indica se vira e forçado a abandonar o quadro
por falta de cores – artigo que escasseava e era de má qualidade no Rio de
Janeiro –, foi considerado “pouco tropical” pela crítica favorável à voga
romântica nesse contexto; e por demais exótico pelos colegas do Instituto
que, justamente temiam o papel dos românticos como Delacroix. A tela lhe
valeu, porém, a Legião de Honra, ofertada pelo próprio Luiz XVIII. Aí estava
um ticket de volta para a pátria francesa. Por sinal, Nicolas não perdia o
contato com a França e com o Instituto para quem ofertou, em 10 de maio de
1818, três quadros sobre o Rio de Janeiro. Nas telas, o Brasil figurava por
meio de sua vegetação ou até no motivo bíblico. Mas se apresentava artificial.
Era a ambivalência de Taunay que aqui não se considerava um artista
brasileiro, como Debret, que assumia uma espécie de posto não oficial de
pintor da corte, e na França, por mais que quisesse, não era entendido como
tal. Nicolas andava mesmo entre dois mundos, sem pertencer de fato a
nenhum.
Diferente de outros artistas do grupo — como, por exemplo, Jean
Baptista Debret –, Taunay não parecia interessado em documentar a Corte
brasileira. Se esse tivesse sido seu objetivo, sua atividade poderia ser
considerada como um grande e retumbante fracasso. Bem que o viajante
Jacques Arago tentou alertar Taunay acerca da falta de clientes para as suas
telas de paisagem: “Eu perguntei muitas vezes ao pintor M. Taunay por que
ele fazia nos seus quadros um dia mais risonho que o outro, e por que ele
colocava o tabaco sobre o nariz: vinte retratos de uma proximidade marcante
foram recusados por essa razão”.34 Taunay parecia mais interessado, pois, nas
suas próprias idiossincrasias e em ajustar suas lentes, adaptando a formação
que tinha, como pintor neoclássico, à realidade que, de fato, encontrou.

33 Carta datada de 27 de outubro de 1817 e encontrada no Arquivo da Escola de Be-


las-Artes (RJ). O material foi coletado por Claudine Lebrun-Jouve em Paris, 1987.
34 Arago, Jaques. Promenade autour du monde. Paris, s.e., v.1, p. 86.

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Mas os problemas por aqui aumentavam, inclusive os de ordem. Em


carta datada de 30 de agosto de 1819 Taunay comentava sobre seus
dissabores na área: “... Vous vous doutés bien mon très cher digne ami que je
désire les vendre pour réaliser des capitaux nécessaires à la réédification de
ma petitte fortune dons hereusement les derniers débris ont été employés à
l’acquisition d’une caffeterie presqu’abandonnée et dont la restauration me
donne déjà um produit valant au moins le tiers du petit capital qui y a été
consacré (...) Mais malhereusement il faut des Nègres et pour avoir des
Nègres il faut de l’argent et voilà pourquoi je vous envoie les vingt tableaux
qui composent les deux commissions ...” Como se vê, Taunay, que se
considerava “um amant de l’égalité”, havia se rendido aos costumes locais: já
tinha três “Nègres” e desejaria adquirir mais um para obter um bom
rendimento em sua plantação. A propriedade da Cascatinha da Tijuca era
descrita como tendo 422.000 m² e a queda d’água uns 70 a 90 metros de
altura: a natureza ajudava, mas a técnica não. O artista termina sua carta se
definindo como um “fugitif”; um fugitivo da Restauração, um exilado em
terras do Novo Mundo.35
Nicolas também fixaria a natureza brasileira em uma série de mais de
trinta telas, quando procurou diminuir (e quase esconder a escravidão) e
elevar a natureza, que fazia as vezes da nação. No entanto, uma série de
fatores levava Taunay de volta à França – o final de sua licença, a falta de
condições para pintar, o isolamento, a intriga dos pintores portugueses e seu
contato constante com o Instituto – mas a maior decepção estava por vir. Com
a morte de Lebreton, em 9 de junho de 1819, o cargo de diretor deveria ser
reservado a Taunay – que tinha renome, prestígio e idade para tal. No entanto,
o Visconde de S. Lourenço achou por bem substituí-lo por Henrique José da
Silva, pintor português pouco conhecido, para além dos ambientes mais
domésticos.
A nomeação gerava uma crise evidente entre os artistas da Missão e os
demais colegas da Academia; crise essa que não fica evidente no decreto de 3
de novembro de 1820, aonde Taunay consta como um dos contratados da
Academia e Escola Real, na função de lente de pintura de paisagem e
recebendo o ordenado de 800 mil-réis. O artista não permaneceria, porém
muito mais no Brasil. Passados os primeiros arroubos motivados pela

35 Carta datada de 30 de agosto de 1819 e encontrada no Arquivo da Escola de Be-


las-Artes (RJ). O material foi coletado por Claudine Lebrun Jouve, Paris, 1987.

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contemplação da natureza, Taunay começava a dar-se conta da situação. O


ambiente das artes permanecia isolado, quase inerte diante das novas
investigações estéticas e entregue, sobretudo, às disputas e preocupações
mais locais.
No começo de 1821, Taunay retorna à França, o que parecia ser seu
antigo sonho, ainda mais acalentado diante das dificuldades que os artistas
franceses encontravam nesse momento, de impor padrões e modelos à
Academia brasileira. O fato é que com a morte do Conde da Barca, em junho
de 1817, nada do que fora projetado acabou sendo executado. Com efeito, o
marasmo em que caíram os artistas franceses levou Taunay a passar quase
cinco anos no Brasil, usando seu tempo livre para fixar vários trechos da
paisagem fluminense: foram 35 paisagens em torno do Brasil.
E a volta a Paris não lhe pareceu tão estranha: nessa época acabava sua
licença no Instituto e o pintor retoma sua atividade principal, expondo com
freqüência nos salões. Trabalhador compulsório recomeçou então, aos 65
anos, a mesma rotina. Ainda no Brasil, concorrera ao Salon de 1819; seu
nome reapareceu nos certames de 1822, 1824, 1827 e 1831, sendo essa última
uma exposição póstuma.
O Brasil comparecia, sobretudo, nas obras apresentadas na exposição
de 1822. No entanto, em vez da curiosidade geral, sucedeu a Taunay o mesmo
que ocorrera a Frans Post: ninguém compreendia o colorido das “vistas da
América”, talvez nebulosas demais e pouco vivas para o gosto dos clientes
franceses. A época estava mais para o romantismo de Géricault e Delacroix e
do lado de Taunay sobrava um grande “mal-entendido” entre culturas tão
distintas. As cores eram estranhas, as pessoas diferentes, os tons mais vivos.
Era como se também na pintura se desse esse choque entre culturas, expresso
em outras áreas do conhecimento. Sobretudo a escravidão parecia difícil de
retratar no modelo acadêmico, adepto da glorificação e da elevação da
paisagem. Essas eram as ambivalências encontradas no Brasil: a edenização
da paisagem surgia contraposta à violência da escravidão e da sociedade.
Não é o caso de retomar a vida de Taunay em Paris. Basta dizer que em
1824 morria seu único irmão e em 5 de janeiro de 1828 perecia afogado nas
águas do Guaporé, Adriano Amado Taunay, seu filho mais novo, que ainda
não completara 25 anos de idade. O ano de 1830 veio encontrar Nicolau
Antônio Taunay combalido na saúde, mas não longe dos pincéis. Tinha no

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seu ateliê numerosos quadros, uns acabados e outros por acabar, quando, em
princípio de março viu-se obrigado a recolher-se ao leito; vindo a falecer em
20 de março, à rua Vaugirard, nº 35.36
Faleceria com os pincéis na mão e mantendo coerência com os
princípios do neoclassicismo que sempre praticou. Charles Blanc, crítico de
arte e admirador da obra de Taunay, o teria chamado, em um discurso
póstumo, de “David dos pequenos quadros”. Elogio de época, o apelido
demonstra mais: os vínculos com um modelo que aliou a pintura pictórica
com a representação do próprio Estado; seja no Brasil, seja na pátria francesa.
Sobre o mal-entendido: modelos e cópias
A produção de Taunay é imensa, uma vez que o artista pintou por mais
de sessenta anos. Não é exagero supor que tenha legado mais de setecentos
quadros. Segundo levantamento de Afonso Taunay37, a distribuição das obras
conhecidas – 576 – seria a seguinte: paisagens e cenas brasileiras – 35;
quadros napoleônicos e revolucionários – 50; quadros históricos – 35;
quadros sobre assuntos literários – 22; cenas bíblicas – 44; cenas mitológicas
– 17; cenas antigas – 12; cenas orientais – 8; cenas militares – 41; cenas
italianas – 37; cenas feirais – 41; cenas campestres e pastoris – 45; quadros
anedóticos – 71; vistas da Itália – 29; Vistas da França e da Suíça – 30;
marinhas – 25; retratos – 22; diversos – 12. Isso sem contar os desenhos e
guaches também produzidos pelo pintor.
Durante sua permanência no Rio, realizou vários quadros, — temas
anedóticos, bíblicos, mitológicos, históricos, retratos infantis, além de muitas
paisagens e vários quadros que lhe foram encomendados por particulares. Em
função da variedade de assuntos tratados, Taunay pode ser definido tanto
como paisagista, quanto como pintor de história, de batalhas e de gênero. No
entanto, e a despeito desse perfil versátil, Taunay ficou lembrado, sobretudo,
como um pintor de paisagem e de história. Nele, a grandiosidade da
Revolução Francesa combinou com a pujança da natureza americana; única
maneira de conciliar tais valores com a realidade que aqui encontrou, quando
desembarcou junto com a Missão. O neoclassicismo se introduzia no Brasil e,
na falta de material, técnicos e profissionais acabava por resignificar tudo: os
auxiliares eram escravos, mármores e granitos eram substituídos por
36 Após sua morte, sua mulher retornaria ao Brasil, onde já se encontravam os filhos.
37 Taunay, op.cit. 197.

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materiais menos nobres; as tintas precisavam ser substituídas e a exaltação


das virtudes tão próprias ao estilo agora se voltavam para essa corte
expatriada. Era a “forma difícil”, como diz o crítico Rodrigo Naves, que se
revelava diante da novidade dos trópicos.38
É possível, portanto, recuperar impasses formais e temáticos da
famosa Missão Francesa a partir da obra desse personagem emblemático:
Nicolas Taunay. Nesse caso, as virtudes exaltadas do academicismo francês
tiveram que se combinar com a grandiosidade dos trópicos. Uma mata bem
valia uma catedral; um riacho correspondia (mesmo que alterado em seu
tamanho e localização) às exaltações dos monumentos franceses.
A paisagem captada por Taunay é, assim, uma grande representação,
uma vez que ela é, sobretudo, “ausência e presença”. Ausência de um cânone
assente em modelos produzidos alhures; presença na realidade que descortina
ao fazer da natureza, paisagem. Ausência do debate que trava com outras
paisagens neoclássicas – que constituem uma espécie de subentendido;
presença ao transformar a representação numa realidade sobre a nação. Com
Taunay a paisagem brasileira vira elemento histórico; tal qual a exaltação que
se acostumara a realizar a Napoleão.
O que traziam de novidade os temas inesperados da natureza
brasileira e a paisagem exótica? Como adaptar a nova paisagem às
composições clássicas? Como incluir os velhos padrões e modelos, mas,
ainda assim, descrever a vegetação? Parece estar aí o grande desafio dessa
geração que pode bem ser problematizada a partir das telas de Taunay. Esse
artista que relê, resignifica e assim refunda uma paisagem feita de tantas e
inesperadas negociações.
Estamos falando, assim, de um “mal-entendido”, ou melhor,
de um choque de culturas expresso nas telas. Com Taunay a noção de
“natureza verdadeira”, a tradição idealizada e pastoril dialoga com a nova
realidade da luz tropical, das telas e personagens diminutos, ainda mais
diminutos quando se tratam de escravos; quase uma impossibilidade na tela
neoclássica. Por outro lado, parecia constrangedor apenas transpor a
suntuosidade das telas napoleônicas para o ambiente acanhado da corte de d.
João.

38 Naves, Rodrigo. A forma difícil. Ensaios sobre arte brasileira. São Paulo, Ática,
1996.

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Além do mais, se o século XIX preparou toda uma fatura para se


pensar na paisagem, a transposição imediata para os trópicos portugueses
americanos era difícil. Era, sobretudo, complicado, apenas encontrar na
cultura do campo a autenticidade nacional. Se de um lado a vegetação era
grandiosa e bem cabia nos moldes do gênero da paisagem; já o trabalho, era
função dos escravos, assim como a política deveria permanecer nas mãos da
população livre. Com efeito, a escravidão aparecia como limite a qualquer
cópia fácil nesse sentido. Por isso, a vegetação é maior que os homens que
surgem diminutos, quase que como detalhes. No seu lugar está o pitoresco da
natureza, o exótico da região. Todo o entorno é inflacionado de forma a
reduzir o papel e o lugar da escravidão que é quase uma cena muda e com
certeza passiva. Longe dos camponeses ideais encontramos os trópicos
exóticos – quase nus – com seus negros diminutos, quase inexistentes de tão
reduzidos e perdidos em meio à uma natureza grandiosa.
O fato é que, para além de tantos revezes de ordem política, a
“tradução” do modelo acadêmico napoleônico não era imediata, sobretudo
diante da realidade escravocrata encontrada no Brasil. A saída foi descolar os
trópicos e ora esquecer a escravidão, ora dar a ela um caráter quase virtuoso.
No seu caso, a realidade insistia em não combinar com a sua visão até
certo ponto romântica e classicista da natureza brasileira. Na Tijuca,
reconstruíra suas paisagens dos arredores de Paris, ou até sua Arcádia
italiana. Afinal, como o ilustrado Taunay achava, mesmo, a educação se dava
pelo apresso e inspiração da paisagem.
Mas os trópicos e a escravidão escapavam da representação e não se
deixavam capturar. Eram trópicos estranhos; uma Arcádia improvável. O
etnólogo Claude Lévi-Strauss, em seu livros, Tristes trópicos, um misto de
romance com relato testemunhal, mostrou como mesmo saindo de casa, nem
todos viagens.39 Os cheiros são diferentes, as cores e até a condição social e
pessoal muda no meio da travessia. Taunay talvez não foi um grande viajante,
nesse sentido. Tentou tudo acomodar o que encontrou ao que previamente
conhecia ou imaginava. Por isso a estada no Brasil significava um esforço de
tradução e de releitura. O modelo não era facilmente aplicável e exigia
criatividade, quando não mudança de estruturas, muito arraigadas em sua
formação acadêmica. Esses eram sim “Tristes trópicos”, frase que

39 Lévi-Strauss, Claude. Tristes trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

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Lilia Moritz Schwarcz

Lévi-Strauss pronunciou mais de um século depois e que Taunay bem poderia


ter cunhado. Seus trópicos eram, porém, e, sobretudo, difíceis;40 quase
improváveis.

40 Paralelo com a frase do belo livro de Naves, Rodrigo. A forma difícil, Ática, 1996.

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RECEPÇÃO AO SÓCIO
Pe. JOSÉ CARLOS BRANDI ALEIXO

Affonso Arinos de Mello Franco

Devo reconhecer, a bem da verdade, a existência de alguns motivos


para justificar a alta deferência, com que me distingui o padre José Carlos
Brandi Aleixo, de recebê-lo neste Instituto Histórico. Mas são títulos que não
incluem qualquer mérito especial da minha parte.
Primeiro, o de havermos nascido ambos na então ainda bastante jovem
capital do nosso Estado de Minas Gerais. Não se havia, naqueles idos,
passado muito tempo desde que os nossos pais pelejavam cordial e
ardorosamente, um contra o outro, no foro criminal de Belo Horizonte: o
meu, Afonso Arinos, na qualidade de promotor, e o dele, Pedro Aleixo,
penalista eminente, como advogado de defesa. Alguns lustros mais tarde,
voltariam ambos a lutar, desta feita na mesma barricada, nas tribunas políticas
e parlamentares, em defesa das liberdades públicas e da democracia.
Por essa época, Arinos me narrou ter sido padrinho da mais bela noiva
por ele até então vista, Heloísa, irmã do nosso recipiendário, que tanto viria a
trabalhar mais tarde, no Rio de Janeiro, em prol da Arte Moderna e das
Belas-Artes em geral, nesta cidade e no Brasil.
Não posso ainda, por óbvias razões de recolhimento familiar e pessoal,
deixar sem menção o belo estudo que José Carlos Aleixo dedicou ao
diplomata e estadista brasileiro que foi Afrânio de Melo Franco, nem o fato de
haver convidado Affonso Arinos, filho de Afrânio, para recepcioná-lo na
Academia Mineira de Letras, distinção honrosa que o falecimento de Afonso
impediu fossem concretizadas.
Após a licenciatura em Filosofia pela Faculdade Pontifícia de Nova
Friburgo, e em Letras Clássicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, José Carlos Aleixo obedeceu ao chamado da sua profunda fé
católica, licenciando-se em Teologia na Pontifícia Universidade de Comillas,
em Santander, na Espanha. Já aí se definiam, com clareza, as tendências do

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Affonso Arinos de Mello Franco

seu espírito, a do religioso e a do professor. Coerente com elas, o padre


Aleixo ingressaria na Companhia de Jesus, a ordem benemérita a que o Brasil
deve o cerne da sua formação educativa. A qual, sempre atualizada com o que
vai pelo mundo, propõe, agora, à Santa Sé iniciar um projeto de
evangelização através da internet.
Mas havia, ainda, outra vocação, hereditária está, a que, uma vez
ordenado, José Carlos Aleixo deveria dedicar-se: a da política, não no
exercício direto, porém, certamente, na história e na doutrina. Com tal
convicção, ele completou o mestrado e o doutorado em Ciência Política na
Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos. Pois a
política – tão abastarda e desmoralizada no Brasil dos nossos dias, tão
necessitada, entre nós, de uma revisão profunda, radical, em sua pátria
corrompida e corruptora –, quando encarada como dever ético da cidadania,
como doação de si mesmo em prol do bem comum da sociedade, constitui um
dos mais altos destinos a que o ser humano se pode dedicar. A essa visão
regeneradora da política se dedicou sempre o professor José Carlos Aleixo.
E como atender às duas vocações tão elevadas que o atraíam
simultaneamente, as de cuidar da alma e do corpo de uma sociedade tão
necessitada do espírito de doação? A pedagogia, tradição da Companhia de
Jesus desde os primórdios da sua existência em nosso país, aparecia logo
como a orientação mais adequada, e foi o caminho trilhado pelo padre Aleixo,
ao tornar-se professor de Ciência Política na Universidade de Brasília, em
1969, no auge da escuridão política que se abatera sobre nosso país. O Ato
Institucional nº 5, ao excluir de apreciação judicial as medidas tomadas com
base nos seus dispositivos, negava também ao Brasil, em conseqüência, a
condição de Estados de direito.
Na Universidade, o professor José Carlos Aleixo dirigiu a Faculdade
de Estudos Sociais Aplicados, foi chefe dos departamentos de Política e de
Relações Internacionais, ministrou cursos de Introdução à Ciência Política e
Teoria Política (já que a prática política, tal como reconhecida nas
democracias liberais, se ausentara do Brasil naquela época sombria).
Ensinou, ainda, Relações Internacionais, Política Latino-Americana, Política
Externa Brasileira e Organizações Internacionais. Foi o iniciador do Curso de
Especialização em América Latina. E sua erudição crescente nessas matérias,
que se amplia até hoje, seu conhecimento geral e profundo do ambiente
internacional onde o Brasil é chamado a atuar em primeira instância, pela

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Discurso de recepção ao sócio Pe. José Carlos Brandi Aleixo

vizinhança e pela história, levou-o a lecionar, por dez anos, no Instituto Rio
Branco – estabelecimento de ensino responsável, no Ministério das Relações
Exteriores, por formar gerações de diplomatas que representam uma elite
incontestável do funcionalismo público brasileiro.
Na docência, o padre Aleixo também se cingiu à obediência estrita ao
carisma de sua ordem, quando, pela urgência apostólica de empenhar-se no
campo educativo, muitos jesuítas se tornam estáveis nas universidades e nos
colégios, não obstante a vocação à mobilidade missionária.
Como diplomata de carreira, devo recordar o estudo publicado por
José Carlos Aleixo na Revista Brasileira de Estudos Políticos, consolidando
trabalhos anteriores, sobre os “Fundamentos e linhas gerais da política
externa do Brasil”, no qual o autor assim estabelece as linhas mestras da nossa
política externa: “A chancelaria brasileira procura evitar os extremos de
fórmulas gerais e acabadas, e os casuísmos inconsistentes. Afirma a possível
compatibilização dos interesses das nações. Dentro dos princípios gerais,
busca acordos concretos, viáveis e mutuamente benéficos para as partes.
Advoga o respeito pleno à individualidade dos parceiros e a compreensão de
suas realidades específicas. Nega, na análise de problemas alheios, qualquer
pretensão de juiz ou mestre. Rejeita a visão política internacional como um
jogo de poder. Não preconiza formas abstratas de equilíbrio, constituição de
blocos, confrontações ou reducionismo ideológicos”. Dessa forma, o
professor Aleixo salienta a perspectiva moral que tem fundamentado, ao
longo da história, a concepção, o planejamento e a implementação da política
externa posta em prática pelo Brasil – postura não habitual na luta pelo poder
político, econômico e militar habitualmente travada no mundo. Mas, também
com conhecimento de causa, posso apontar o exemplo mais completo de
visão ética da política internacional que pude testemunhar em minha longa
trajetória profissional: o da diplomacia da Santa Sé, que não promove e
protege os interesses de um Estado, e sim os da humanidade como um todo;
nem apenas a comunidade católica no mundo, porém os direitos humanos em
geral.
Cumpre salientar, aqui, certa afinidade entre a vocação laica dos
diplomatas e aquela, religiosa, da Companhia de Jesus. Como diplomatas,
devemos estar sempre prontos a servir onde nossa presença seja necessária
para expor e defender os interesses do país que nos envia, assim como a
universalidade dos jesuítas os torna disponíveis a serem mandados a qualquer

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Affonso Arinos de Mello Franco

parte do mundo onde sua atividade resulte na maior glória de Deus, no serviço
mais completo do próximo, no bem comum mais universal. Um apóstolo
como Francisco Xavier foi missionário do papa no oriente, mas acumulava
com essa missão a de embaixador do rei de Portugal. Deixo a terceiros a
ousadia de concluírem que os diplomatas são os jesuítas do serviço público.
Mas uns e outros, por definição, devem propugnar e trabalhar pela paz que
Jesus legou à humanidade como o seu maior dom.
José Carlos Aleixo, no curso de profícua atividade como historiador,
tem-se detido particularmente no tema da integração continental, partindo do
Congresso Anfictiônico do Panamá, reunido em 1826. Ao Congresso
compareceram representantes da Colômbia, México, Peru e América Central.
A Grã-Colômbia, naquele tempo, incluía as atuais repúblicas da Colômbia,
Panamá, Venezuela e Equador, e a América Central englobava Costa Rica, El
Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua de hoje. O Brasil dele não
chegou a participar, embora haja designado um representante, e o mesmo se
passou com os Estados Unidos.
Eram compreensíveis as desconfianças que opunham, na ocasião,
Simón Bolívar ao Império encabeçado por D. Pedro I, filho da rainha
espanhola Carlota Joaquina, contra cujo pai, o monarca absolutista Fernando
VII, se levantara em armas o Libertador. Em carta de 1825 para Santander, na
Colômbia, citada por Aleixo em sua Visão e atuação internacional de Simón
Bolívar, este afirma ter sabido que “os espanhóis se haviam posto de acordo
com aquele príncipe (D. Pedro) para ligar seus interesses sob os auspícios da
legitimidade”. Bolívar temia os vínculos monárquicos familiares da Santa
Aliança com o imperador do Brasil. Mas, nos últimos anos de vida, tal atitude
se havia modificado. Em 1827, ele ponderou a Sucre, então presidente da
Bolívia: “Aconselho-lhe que, por todos os meios decorosos, trate de obter e
conservar boa harmonia com o governo brasileiro. A política o exige, e o
exigem os interesses, da Bolívia em particular, e da América em geral. Nada
nos importa sua forma de governo, o que nos importa é sua amizade e esta
será mais estável quanto mais concentrado seja seu sistema.”
Pouco antes da morte, em 1830, Simón Bolívar diria ao ministro
brasileiro em Bogotá: “A missão de que vindes encarregado por parte de Sua
Majestade o imperador do Brasil, junto ao governo da Colômbia, me enche de
satisfação, porque ela será um vínculo de amizade entre ambas as nações. O
Império do Brasil, recentemente criado por seu ilustre monarca, é uma das

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Discurso de recepção ao sócio Pe. José Carlos Brandi Aleixo

garantias mais poderosas que têm recebido as repúblicas da América, no


curso de sua independência. Dando vosso soberano o famoso exemplo de
submeter-se espontaneamente à Constituição mais liberal, fez-se credor do
aplauso e da admiração do mundo.”
Por outro lado, já que estamos cuidando de opiniões do Libertador
aplicáveis ao presente, cumpre não esquecer aquela que se adapta como uma
luva à nossa conjuntura atual: “La corrupción de los pueblos nace de la
indulgência de los tribunales y de la impunidad de los delitos. Mirad, que sin
fuerza hay virtud; y sin virtud perece la Republica.”
Foi para mim, dessa forma, um privilégio haver representado o Brasil
na Venezuela em 1983, ano do bicentenário de Simón Bolívar, assim como o
fizera, anteriormente, na Bolívia. Devemos meditar, a fundo, os conselhos de
Bolívar a Sucre, quando, escrevendo de Caracas a La Paz, preconizava boa
harmonia, autodeterminação e não-intervenção, sobretudo nas relações
interamericanas, e internacionais em geral. Vivemos uma fase de transição
delicada e fluida no continente, em que se questionam as posturas da
Venezuela e da Bolívia. Não se pode subestimar a importância da integração
política, econômica e social desses dois países na América do Sul. O peso
geopolítico e econômico de ambos importará sempre mais do que quem
estiver, eventualmente, à testa dos governos respectivos. O que não justifica,
porém, aceitar ações prejudiciais aos nossos interesses, ou assumir posturas
solidárias não correspondidas. Nem se devem olvidas a cláusula democrática,
vigente e determinante para os interessados em associar-se ao MERCOSUL,
e a Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos. Ou, por
outro lado, desconhecer que os atuais dirigentes da Bolívia e da Venezuela,
representantes fiéis, étnica, social e psicologicamente, dos povos por eles
governados, foram eleitos, em pleitos legítmos, por maiorias incontestáveis.
Entre nós, para um estudioso da política internacional como o
professor José Carlos Aleixo, torna-se quase natural a atenção concedida ao
movimento de união continental, que ele abordou sob vários aspectos. A
partir de 1970, através do amplo ensaio sobre A integração latino-americana,
vem o padre Aleixo dedicando atenção e esforços contínuos ao tema, com
trabalhos variados sobre O conflito de El Salvador – Honduras e a integração
centro-americana; O Brasil e o Congresso Anfictônico do Panamá; Visão
global da realidade mundial e sua influência na América Latina:

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Affonso Arinos de Mello Franco

contribuições da doutrina social da igreja; Mediações e bons ofícios:


considerações sobre sua natureza e presença na história da América Latina.
Nesse processo de integração, que, uma vez completado,
implementaria o sonho de Bolívar, se tinha em mente o exemplo da Europa,
onde ao ideal da zona de livre comércio sucedera o da formação de um
mercado comum, iniciado, em 1957, com o Tratado de Roma. Este criou a
Comunidade Européia (sucedendo a Comunidade Européia do Carvão e do
Aço, estabelecida no Luxemburgo, em 1951, pelo Tratado de Paris, sob
inspiração do ministro francês Robert Schuman), e seria complementado,
mediante a evolução da Comunidade para a atual União Européia, pelo
Tratado de Maastricht, em 1992, quando se estabeleceu, de fato, um mercado
comum. Agora, que se prepara a conclusão de um tratado constitucional
europeu, me é grato recordar ter-me cabido o privilégio de estar servindo,
respectivamente, em postos diplomáticos na Itália e na Holanda, quando
aqueles dois países sediaram, com o intervalo de trinta e cinco anos
decorridos entre 1957 e 1992, o início das etapas através das quais progrediu
a construção política, econômica, financeira e social da Europa unida.
A União Européia, todavia, parece estar chegando a uma fronteira
delimitada pela lógica. Porque não se pode buscá-la através dos mecanismos
da economia capitalista de mercado, baseados na competição
econômico-financeira, em lugar da solidariedade necessária à consecução do
bem comum, preconizada pela doutrina social da Igreja Católica. A desejável
democracia representativa se confronta, no caso, com as oligarquias
corporativas. Sem insistirmos na necessária opção evangélica entre Deus e
Mamon, basta lembrar a incompatibilidade moral existente entre o bem-estar
social e a solidariedade, por um lado, e os adoradores do bezerro de ouro do
mercado, pelo outro. É uma contradição incontrolável.
A Europa atual gira em torno de dois eixos: o mercado interno único e
a mesma moeda. O poder político europeu se encontra em mãos das forças
privadas da economia e das finanças internacionais. Não se menciona mais
política unitária, porém coordenação de políticas nacionais, com estados e
países buscando seus próprios interesses, sem projeto que aponte uma direção
comum. E, na carência de uma política externa da União, tampouco pode
haver política defensiva, sepultada desde que a França vetou a Comunidade
Européia de Defesa, em 1954, para evitar o rearmamento alemão. Tampouco
existe soberania plena em nações onde se aquartelam tropas estrangeiras.

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Discurso de recepção ao sócio Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Dentre os órgãos dirigentes da União Européia, o Conselho de Ministros


representa os interesses divergentes dos estados-membros. A Comissão
Européia é designada pelo Conselho. Assim, a união política e social da
Europa só se tornará real por via dos seus povos, representados no Parlamento
Europeu, vigente desde 1979 e eleito por sufrágio universal. O mesmo, aliás,
poderíamos esperar do Parlatino na América do Sul.
Em 2001, a Europa alcançou a união monetária com o euro. Mas a
ortodoxia financeira liberal, simbolizada pela independência do Banco
Central Europeu e pela disciplina imposta pelo pacto de estabilidade
orçamentária da União, tem sido contestada, sobretudo pela França, desde
quando o presidente François Mitterrand se referia ao euro e ao Banco
Central como instrumentos sem alma. Seu ministro das Finanças dizia não ao
comando dos tecnocratas, apoiando o dos democratas. O atual presidente
francês, Nicolas Sarkozy, já critica a União por substituir a vontade política
pela competência técnica.
Dessa forma, a Europa, que se crê unida, é objeto de observação atenta
para a América do Sul, onde aspiramos a um continente solidário política e
economicamente, com o respeito devido à sua diversidade cultural. A
parceria entre o Brasil e a União Européia, concretizada durante a atual
presidência portuguesa desta última, aponta rumos para a integração,
historicamente natural e desejável, entre a Europa e a América do Sul. Pois,
ao nos considerar seus aliados estratégicos, a União Européia elevou o
patamar do diálogo político com o Brasil, colocando-nos no mesmo nível dos
Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia, Índia e China.
Em nenhuma das conferências continentais efetuadas entre 1826 e
1889 as nações da América se fizeram representar em sua totalidade. Isto
passou-se, na prática, em Washington, com a inauguração, naquele último
ano, da 1ª Conferência Internacional dos Estados Americanos, em
conseqüência da qual se criaria em 1980, na capital dos Estados Unidos, a
União Internacional das Repúblicas Americanas, sede da organização
nascente, mais tarde denominada União Pan-Americana.
Mas o que ocorreu, a partir de então, foi a inevitável hegemonia dos
Estados Unidos no contexto da aproximação entre as três Américas. O sonho
bolivariano de juntar os países de origem ibérica só começou a se concretizar
institucionalmente em 1960, com a assinatura, em Montividéu, do tratado que

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Affonso Arinos de Mello Franco

criou a ALALC, Associação Latino-Americana de Livre Comércio.


Firmou-se depois, ainda em Montividéu, um segundo tratado, dando origem,
em 1981, à Associação Latino-Americana de Integração, a ALADI. Tal como
sucedera, na Europa, entre a Alemanha e a França, a união da América do Sul
dependia de um entendimento entre seus componentes mais relevantes
política e economicamente, mas também rivais históricos, o Brasil e a
Argentina. Agora, só uma comunidade continental fortalecida teria condições
de confrontar os interesses econômicos e políticos da América do Norte e da
Europa, visando aprofundar o processo de desenvolvimento integrado e
harmonioso da América do Sul, sem esperar qualquer compreensão ou
retribuição desinteressada de terceiros. Daí a importância essencial, nesse
processo, do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o
Brasil e a Argentina, firmado, em 1988, pelos presidentes José Sarney e Raul
Alfonsis. No ano anterior, fora assinado, em Lima, o Tratado de
Institucionalização do Parlamento Latino-Americano.
É de 1991 o Tratado de Assunção, que constituiu o Mercado Comum
do Sul, MERCOSSUL. Este buscou inicialmente, como objetivo declarado, a
livre circulação dos fatores de produção – pessoas, serviços e capitais –,
exigindo, em conseqüência, a adoção de políticas comuns, coordenação e
harmonização de legislações fiscais, trabalhistas, comerciais e outras,
necessárias ao estabelecimento da igualdade nas práticas do comércio.
Mas sabe-se que o processo para a criação de um mercado comum é
gradual; demanda tempo de adequação para ser efetivamente implementado.
Com o desenvolvimento das etapas de integração, se conclui que o protocolo
de Assunção é um acordo-macro, sem criar, propriamente, o Mercado
Comum do Sul. Não foi implementado o compromisso de constituir uma
genuína união aduaneira, com tarifa externa comum e comércio livre dentro
do bloco. As normas a serem cumpridas pelo grupo estão crivadas de
exceções. Sequer se trata, ainda, de uma zona de livre-comércio, pois as
mercadorias não podem circular livremente, continuando a submeter-se aos
controles alfandegários e sanitários habituais.
Ainda em Montevidéu, foi assinado, em 2004, o Protocolo de Acordo
de Livre-Comércio entre o MERCOSSUL e a Comunidade Andina de
Nações. Esse instrumento jurídico prevê o aprimoramento da zona de
livre-comércio, para aprofundar a integração política, econômica, social e
institucional da América do Sul, considerando, sobretudo, o caráter de

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Discurso de recepção ao sócio Pe. José Carlos Brandi Aleixo

complementaridade das cadeias produtivas, e o aumento da competitividade


da produção do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia e Venezuela. O acordo entre MERCOSSUL e
Comunidade Andina prioriza, também, a integração física, energética e de
comunicações, estimula as políticas de desenvolvimento rural e alimentar,
fomenta a cooperação tecnológica, científica e cultural, preconizando a
colaboração crescente entre empresas e sociedade civil na dinâmica da
aproximação regional.
Nesta época de violência e insegurança generalizada no Brasil e no
mundo, cresce a importância dos esforços de quem peleja pela concórdia,
pelo entendimento entre os homens, pela aproximação dos estados, pela
integração regional como um pioneiro passo para a paz mundial. Entre eles,
se encontra o professor José Carlos Aleixo. É longa e variada a relação das
suas atividades acadêmicas e profissionais; recebeu numerosas
condecorações e distinções; publicou mais de cento e cinqüenta trabalhos, em
dezesseis países; escreveu livros, capítulos e opúsculos; proferiu
conferências; participou de seminários. Como norma prescrita aos
companheiros de Jesus, que não cessava sua peregrinação e pregação pelos
caminhos da Galiléia e da Judéia, as Constituições da Companhia tampouco
indicam que os jesuítas devam deter-se em determinado ponto, pois para eles,
em teoria, a permanência neste ou naquele lugar será sempre temporária.
Cumpre-lhes estar em movimento constante, sem se prender a tarefa que exija
durabilidade e estabilidade. Foi isto que levou o jesuíta José Carlos Aleixo a
professar, no Brasil, em Santa Maria, São Leopoldo, Brasília, São Paulo, Rio
de Janeiro, Goiânia, Viçosa, Belo Horizonte, Cuiabá, e, no exterior, em
Quito, Rosário, Santiago, Bruges, Lille, Genebra, Buenos Aires, Braga,
México, Belgrado, Mérida, San José, Jujuy, Milão, Salerno, Cairo, Madri,
Lisboa, Punta Arenas, Bogotá, Lima, Pequim, Hong-Kong, Bucareste,
Sevilha, Panamá, Caracas, Tunis. Ele participa, ainda, de várias associações
relativas às suas especialidades, aqui e lá fora.
Tal como o fizemos no tocante à sua extensa produção acerca da
América Latina, nos limitaremos ao âmbito continental ao enumerarmos
missões políticas, econômicas e culturais exercidas por José Carlos Aleixo:
foi membro do grupo de professores universitários covidados pelo
Departamento de Assuntos Culturais da Organização dos Estados
Americanos para visitar centros de estudos latino-americanos nos Estados
Unidos; do grupo de especialistas que preparou, no Comitê de Ação do

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Affonso Arinos de Mello Franco

Sistema Econômico Latino-Americano, sediado em Caracas, um Curso de


Relações Internacionais para o Governo da Nicarágua; e do Foro de
Especialistas convidado pela Organização dos Estados Americanos a fim de
elaborar, em Washington, documento contendo sugestões para atividades
culturais, por ocasião das comemorações do Centenário do Sistema
Interamericano; observador junto à 14ª e à 24ª Assembléias-Gerais da
Organização dos Estados Americanos, realizadas, respectivamente, em
Brasília e Belém; observador daquela Organização em eleições efetuadas na
Guatemala, República Dominicana e Nicarágua; integrante da comitiva
oficial da Presidência da República na 10ª Conferência Iberoamericana,
reunida no Panamá; observador junto à Assembléia dos Governadores do
Banco Interamericano de Desenvolvimento, efetuada em Fortaleza.
Como se vê, embora muito resumido, trata-se de currículo difícil de ser
superado, e que honra o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro com o
ingresso deste seu novo sócio. Por outro lado, fundada há cento e sessenta e
nove anos, mediante proposta de um militar e de um religioso, o marechal
Raimundo José da Cunha Matos e o cônego Januário da Cunha Barbosa, a
nossa instituição benemérita traz, inscritas em sua existência, a vocação do
soldado, de dedicar-se por inteiro à defesa e ao culto da pátria, e a do
sacerdote, de fazê-lo no contexto dos mais altos atributos morais. O padre e
professor José Carlos Brandi Aleixo reúne, somadas, as qualidades do
cidadão virtuoso e as do patriota, do religioso devotado à fraternidade
humana entre os filhos de um mesmo Pai, e do homem dedicado ao
conhecimento e ao ensino dos valores da nacionalidade. Ele simboliza dessa
forma, em sua pessoa e na sua vida, tudo aquilo que o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro espera e deseja, como destino, para o nosso povo e o
nosso país. Digno sucessor de clérigos ilustres que aqui se esmeraram no
estudo, na divulgação e no ensino da História do Brasil, o padre Aleixo
encontrará entre nós, como na Companhia de Jesus, na Universidade de
Brasília e no Itamarati, mais uma casa que também é sua.

(discurso de recepção em 1.8.2007)

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DISCURSO DE POSSE - Pe. JOSÉ CARLOS BRANDI ALEIXO

Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Inicialmente agradeço aos ilustres membros do Instituto Histórico e


Geográfico Brasileiro e particularmente ao seu talentoso Presidente Arno
Wheling a insigne honra de poder ingressar neste renomado e vetusto
sodalício. Expresso, outrossim, meu maior reconhecimento ao prezado
Embaixador Afonso Arinos de Melo Franco pelas palavras generosas com
que nele me acolheu. Se nos idos de 1990 a Providência chamou a si seu
saudoso pai, também eminente membro desta Casa, como muitos de seus
ancestrais, antes que me recebesse na Academia Mineira de Letras,
concedeu-me ela que seu filho o fizesse hoje, com o mesmo afeto, brilho e
inteligência. Nos dois eventos, a efeméride por mim escolhida, primeiro de
agosto, é uma homenagem a meu querido pai que nela veio ao mundo, na
histórica Mariana, a primeira a ser vila, cidade, capital, bispado e arcebispado
nas Minas Gerais. Por feliz coincidência 1º de agosto é, outrossim, a festa do
Santo onomástico do orador que me precedeu.
Em 22 de novembro de 1906, em consonância com prévia deliberação
do Congresso Nacional, o Presidente do Brasil, Afonso Pena, sancionou o
Decreto nº 1561, onde se lê:
Art. 4°. Fica criada uma legação na República de Cuba, servida por um
Ministro residente, que será igualmente acreditado nas Repúblicas da
Nicarágua, Honduras, EI Salvador, Costa Rica e Panamá.
Art. 5°. O Ministro do Brasil no México será igualmente acreditado
junto ao Governo da Guatemala.
O Decreto leva também a assinatura do Barão do Rio Branco.
Em 13 de dezembro seguinte foi nomeado para as altas funções do
artigo 4º o ilustre diplomata Antônio Vicente da Fontoura Xavier, até então
Cônsul do Brasil em Nova lorque. Em 16 de janeiro de 1908, foi ele
incumbido de representar o Brasil igualmente junto ao Governo da
Guatemala.

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Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Em 19 de dezembro de 1906, o Chanceler Rio Branco escreveu ao


Embaixador do Brasil em Washington, Joaquim Nabuco:
Confirmo o seguinte telegrama que tive a honra de expedir a V.
Excelência no dia 14 do mês corrente: Queira comunicar às legações
respectivas [em Washington] que o Congresso criou legação com um
Ministro acreditado [junto aos governos de] Costa Rica, Nicarágua, El
Salvador, Honduras, Panamá e Cuba, sendo nomeado Fontoura Xavier para
essa legação. Espero [que as] Repúblicas da América Central vejam nestes
atos uma prova de nosso desejo de estreitar com elas relações de amizade.
Embora o Decreto criasse uma legação em Cuba, o Governo desta
“pérola do Caribe” foi o último dos sete, antes mencionados, a receber as
cartas credenciais do Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário
Antônio Vicente da Fontoura Xavier. Isto só ocorreu em 12 de outubro de
19101, algum tempo após o término de uma intervenção dos Estados Unidos
neste país. Anteriormente ele as apresentou, na seguinte ordem cronológica,
aos Presidentes de: Panamá, Amador Guerrero, aos 22 de maio de 1907;
Nicarágua, José Santos Zelaya López, aos 12 de junho de 1907; Costa Rica,
Alfredo González Viquez, aos 21 de junho de 1907; EI Salvador, Fernando
Figueroa, aos 14 de setembro de 1907; Honduras, Manuel Bonilla, aos 30 de
setembro de 1907; e Guatemala, Manuel Estrada Cabrera, em 12 de janeiro de
1909.
Em 29 de dezembro de 1905, Eduardo Poirier tornou-se Enviado
Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da Guatemala.2 Pelo Decreto nº
57, de 24 de maio de 1907, o Presidente do Panamá, Amador Guerrero, criou
legação no Brasil e designou, pelo Decreto nº 13, de março de 1908, ao Dr.
Belisário Porras para chefiá-la. Apresentou ele suas credenciais ao Presidente
Afonso Pena, aos 6 de maio de 1908.3 No dia 18 de janeiro de 1910, o Sr.
Manuel Márquez Sterling y Loret de Mola entregou suas credenciais, como

1 “El Ministro de Brasil.” La Lucha, Havana, 13-10-1910; “La recepción de ayer”


– Diario de la Mañana, Havana, 13-10-1910.
2 CAMPOS, Raul Adalberto de. Relações diplomáticas do Brasil de 1808 a 1912.
Rio de Janeiro. Jornal do Commercio, 1913, p. 180. El Guatemalteco, Guatema-
la, 24-4-1906, nº 12, tomo LIX, p. 171
3 CAMPOS, Raul Adalberto de. Op cit. p. 193; Diário Oficial. Rio de Janeiro,
7-5-1908 p. 3097-8.

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Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário de Cuba, ao Presidente


Nilo Peçanha.4
II – Antecedentes
Estes auspiciosos acontecimentos foram precedidos por vários outros,
dos quais seleciono brevemente alguns.
1) Do Século XVI ao XVIII. União Ibérica (1580-1640) e Tratado de
Madri de 1750
Entre 1580 e 1640, o Brasil e todos estes países estiveram sob os
mesmos monarcas, por motivo da União Ibérica. Felipe II da Espanha foi
Felipe I de Portugal.
Em 1750, firmou-se entre Portugal e Espanha o Tratado de Madri.
Integrava a delegação lusitana Alexandre de Gusmão, nascido na cidade
paulista de Santos, ex-aluno, como mais tarde o futuro São Galvão, do
Colégio jesuíta de Belém, na Bahia. A ele deve-se muito do texto e
particularmente o artigo XXI que assim reza:
Sendo a guerra a principal ocasião dos abusos e motivo de se
alterarem as regras mais bem concertadas, querem suas Majestades
Fidelíssima e Católica, que se (o que Deus não permita) se chegasse a
romper entre as duas Coroas, se mantenham em paz os Vassalos de
ambas, estabelecidos em toda a América Meridional, vivendo uns e
outros como se não houvera tal guerra entre os Soberanos, sem
fazer-se a menor hostilidade, nem por si sós, nem juntos com seus
Aliados. E os promotores e cabos de qualquer invasão, por leve que
seja, serão castigados com pena de morte irremissível, e qualquer
presa que fizerem, será restituída de boa-fé e inteiramente. E assim
mesmo, nenhuma das duas nações permitirá o cômodo de seus portos,
e menos o trânsito pelos seus territórios da América Meridional, aos
inimigos da outra, quando intentem aproveitar-se deles para
hostilizá-Ia... A dita continuação de perpétua paz e boa vizinhança
não terá lugar somente nas terras e ilhas da América Meridional. 5

4 CAMPOS, Raul Adalberto de. Op cit. p. 156; Diário Oficial. Rio de Janeiro,
19-01-1910, p. 491
5 Coleção de Tratados, Convenções, Contratos e Atos públicos celebrados entre a
Coroa de Portugal e as mais potências desde 1640 até ao presente. Lisboa –
Imprensa nacional. 1856. 8 volumes – 4º vol. p. 35 e 37. Ver também: CORTESÃO,

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):233-246, out./dez. 2007 235


Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Cabe ressaltar que a expressão “América Meridional” abarcava


territórios desde o México à Patagônia e que as palavras “boa vizinhança”
aparecem, nele, mais de 180 anos antes de seu emprego pelo Presidente
Franklin Delano Roosevelt (Good Neighbourhood). Em justíssima
homenagem a este ilustre santista, Itamaraty deu seu nome à Fundação que
promove investigações e publicações de obras relacionadas com a política
externa do país. É a FUNAG. Alguns internacionalistas brasileiros
consideram Alexandre de Gusmão como avô da nossa diplomacia. O Tratado
de Madri, para o Professor Rodrigo Octavio, é a Carta política6 da América
Latina, por seu espírito de justiça e conciliação.
2) Século XIX. O Tratado de Silvestre Pinheiro Ferreira. Congresso
Anfictiônico do Panamá de 1826, convocado por Simón Bolívar. Apoio da
América Central à presença do Brasil
Antes da nossa emancipação, Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846),
Ministro de Negócios Estrangeiros e da Guerra de Dom João VI, no período
do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, elaborou um projeto do
“Tratado da Confederação e Mútua Garantia da Independência dos Estados
que nele se mencionam, a saber, pelo momento, Estados Unidos da América
Setentrional, Espanha, Portugal, Grécia, Estados hispano-americanos e
Haiti”.7 No texto divulgado graças às investigações do renomado diplomático
e escritor venezuelano, Simón Planas-Suáres, se diz:
Jaime. O tratado de Madri. Brasília, Senado Federal. Edição Fac-similar – 2001,
Tomo II p. 372.
6 OCTÁVIO, Rodrigo. Alexandre de Gusmão et le sentiment americain dans la
politique internationale. Deux conferences données dans les universités de Paris et
de Rome en avril 1930. Paris, Recueil Sirey – 1930 p. 10.
7 PLANAS-SUARES, Simón. Notas Históricas y Diplomáticas. El reconocimiento
de la Independencia Hispanoamericana y el Proyecto de Confederación de la
Independencia de las Naciones, del Estadista Portugués Silvestre Pinheiro Ferreira.
Buenos Aires. Imprenta López, 1961. Edição Refundida. O projeto do Tratado se
encontra nas páginas 180-185. É citado como fonte original o Arquivo do Ministério
dos Negócios Estrangeiros de Portugal. “Registro de ofícios para a Legação de
Portugal em Filadélfia”, p. 65, Livro 2º. Silvestre Pinheiro Ferreira é também autor
da importante obra Manual do cidadão em um governo representativo, publicada,

236 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):233-246, out./dez. 2007


Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

... é indispensável que à denominada Santa Aliança dos Príncipes


Agressores se oponha a Sagrada Confederação dos Povos Agredidos.
O objeto principal deste congresso será ajustar, entre os Estados da
Confederação uma Aliança Defensiva e a garantia do sistema
constitucional de cada um deles, no caso de serem atacados por
qualquer potência que tente obrigá-los, pela força das armas, a
sujeitar-se à ordem de pessoas que não sejam de sua livre eleição, ou a
governar-se por leis que não estejam de acordo com seus interesses8
Por outro lado, a América Central manifestou pleno apoio ao convite
feito pela Colômbia ao Brasil para participar do Congresso Anfictiônico do
Panamá, venturosa iniciativa do insigne Libertador Simón Bolívar, através da
Circular de Lima de 7 de dezembro de 1824. Em outubro de 1825, o Ministro
das Relações da América Central se posicionou positivamente em relação à
presença do Brasil e Haiti nesse histórico conclave.9 Semelhantemente, já no
istmo do Panamá, os delegados Monsenhor Antonio Larrazabal e Pedro
Molina, em ofício de 1º de maio de 1826, ao cidadão Secretário do Estado e
do Despacho das Relações de seu país escreveram:
Nada devemos ocultar de quanto nos parece que o Governo deve ter
presente para o acerto nas resoluções indicadas e neste conceito
manifestamos que nos parece conveniente a admissão dos
plenipotenciários brasilienses, porque o Congresso seria visto na
Europa com tanto mais respeito e consideração, quanto maior seja o
número das nações que representa; e mais tendo o apoio da
Grã-Bretanha. Além disso, deve-se ter em consideração não causar
desaire a Colômbia, que por seus convites à Grã-Bretanha e ao Brasil
se encontra de certa maneira comprometida.10
Cabe assinalar que o Imperador Pedro I, por Decreto de 25 de janeiro
de 1826, nomeou ao Conselheiro Theodoro José Biancardi Plenipotenciário

em Paris, em 1834, em três tomos, e em edição facsímile, em Brasília, pelo Senado


Federal, em 1999.
8 Idem. Ibidem.
9 CUEVAS CANCINO, Francisco. Del Congreso de Panamá a la Conferencia de
Caracas. Caracas, 1955, p. 92.
10 RODRIGUEZ CERNA, José. Centroamérica en el Congreso de Bolívar.
Contribución documental inédita para la historia de primera asamblea americana.
Guatemala, C.A. 1938, p. 116.

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Pe. José Carlos Brandi Aleixo

do Brasil junto ao Congresso Anfictiônico do Panamá, “por gozar das


necessárias qualidades de luzes, dexteridade e patriotismo”.11
Por motivos alheios a sua vontade, Biancardi, como vários delegados
nomeados em outros países, não conseguiu fazer a viagem.12 Contudo, por
caminhos inesperados, Brasil veio a adquirir, graças à iniciativa do diplomata
Homero Vitteri La Fronte e à clarividência de Luis Camilo de Oliveira Neto,
em 1941, os únicos originais conhecidos das dez Atas desse transcendental
Congresso. Em novembro de 1941, o Chanceler Osvaldo Aranha, em viagem
oficial, forneceu cópias fotostáticas das Atas, em Santiago, à Faculdade de
Direito e à Chancelaria do Chile.13 No sesquicentenário do Congresso o
Presidente Ernesto Geisel manifestou a deliberação do Brasil de depositar as
Atas no monumento que para tal fim o Governo do Panamá erigiria. Em 18 de
novembro de 2000, durante a X Reunião da Cúpula Ibero-Americana, o
Presidente Fernando Henrique Cardoso entregou à Presidenta Mireya
Moscoso as Atas que podem ser visitadas pelo público, em belo salão do
edifício da Chancelaria.

11 Coleção das Leis do Império do Brasil de 1826. Parte primeira. Rio de Janeiro,
Tipografia Nacional, 1880, p. 6 e 7.
12 CALMON, Pedro. História do Brasil, Rio de Janeiro, José Olympio, 1971, 3ª ed.
vol. V. O Império e a ordem Liberal, p. 1987-9. O autor, particularmente na nota nº
12, cita numerosos trabalhos relevantes sobre o tema; FERREIRA REIS, Arthur
Cezar. “Primeiras Manifestações Panamericanistas do Brasil”. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, vol. 215: 168-182, abr. jun. 1952;
ALEIXO, José Carlos Brandi. Brasil y el Congreso Anfictiónico de Panamá de
1826. São Paulo. Parlamento Latino Americano. 2001, p. 23-24; 45, nota 43.
13 ESCUDERO GUZMAN, Julio. “Las Actas extraviadas del Congreso de Panamá de
1826". Anales de la Facultad de Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad de
Chile, vol. X (nos 37 a 40, en-dic. de 1944, p. 65-67); ”El Canciller Aranha y el Dr.
Calmón fueron recibidos en Fac. de Derecho". El Diario Ilustrado. Santiago de
Chile, 19-11-1941, p. 11.

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Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

3) Século XX
Nos começos deste século, o Brasil se encontrava em um período
particularmente feliz de sua história. A encantadora cidade do Rio de Janeiro
estava saneada, graças ao serviço competente do singular médico Osvaldo
Cruz (1872-1917).14 A República, proclamada em 1889, consolidava-se.
Suas fronteiras estavam já estabelecidas ou em processo de rápida definição
devido, particularmente, ao prodigioso labor do Chanceler Barão do Rio
Branco. Favorável à nomeação de Cardeais do Brasil e da América de Língua
Castelhana, suas gestões contribuíram para que, em 1905, o arcebispo do Rio
de Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850,
Pesqueira – 1930, Rio de Janeiro), recebesse a púrpura.
Neste contexto aconteceram no Rio de Janeiro dois históricos eventos:
de 6 a 16 de agosto de 1905, o Terceiro Congresso Científico
Latino-Americano (precedido pelos de Buenos Aires em 1898 e de
Montevidéu em 1901);15 e, de 23 de julho a 27 de agosto de 1906, a Terceira
Conferência Internacional Americana. Sobretudo neste último encontro
houve notável presença de Cuba, Panamá e dos cinco países da América
Central.
Nas Delegações dos países visitantes havia vários nomes de pessoas
que já eram ou seriam em breve famosas. São exemplos: o grande poeta da
Nicarágua Rubén Darío; o ex-Presidente da Costa Rica Ascensión Esquivel;

14 “Uma capital renovada pela arte urbanística e pelos serviços de saúde pública
hospedava, nesse momento [1906], aos representantes estrangeiros, antes temerosos
da febre amarela e da varíola, que faziam do Rio de Janeiro um espantalho. A
política externa e a política interna se ajustavam agora e uma vivia do prestígio da
outra”. LINS, Alvaro. Rio Branco. Biografia. São Paulo, Alfa-Omega, 1996, p. 338.
15 BUENO, Clodoaldo. Política Externa da primeira República. Os anos do apogeu
de 1902 a 1918. São Paulo. Paz e Terra, cap. VIII. Falando por si mesmo, p. 347-52.

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Pe. José Carlos Brandi Aleixo

os poetas de Honduras Froylán Turcios16 y Juan Ramón Molina17; o Dr. José


Domingo de Obaldía, futuro Presidente da República do Panamá; o escritor
Román Mayorga Rivas de EI Salvador; os renomados Antonio Batres
Jaúregui e Luis Toledo Herrarte da Guatemala.
Compunham a Delegação do Brasil personalidades como Joaquim
Nabuco, Joaquim de Assis Brasil, José P. da Graça Aranha e Antônio da
Fontoura Xavier. Os dois primeiros foram eleitos respectivamente Presidente
e Secretário-Geral do Conclave.
III – A personalidade de Antônio Vicente da Fontoura Xavier.
“Grato no protocolo como no Olimpo” – Rubén Darío
Certamente foi enorme a importância do Chanceler Barão do Rio
Branco no estabelecimento de nossas relações diplomáticas com os países em
estudo. Muito momentosa foi a atuação do Embaixador Joaquim Nabuco que,
na Presidência da terceira Conferência Internacional Americana e na chefia
de nossa Missão Diplomática, em Washington, entabulou numerosos
contactos com diplomatas da América Central, Cuba e Panamá, e criou
vínculos de amizade com muitos deles.18
16 Registrou ele suas impressões em “Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor”. Diario del
Salvador. San Salvador, ano XVII, nº 3169, 18-12-1906 p. 1. Apud Carlos
Cañas-Dinarte: 100 años de Relaciones Diplomáticas entre Brasil y Centroamérica.
La Tercera Conferencia Panamericana. Rio de Janeiro, jul-ago de 1906, San
Salvador, Centro de Estudios Brasileños, s.d. p. 15 nota 14.
17 Salutación a los poetas brasileros. Para Fábio Luz y Elisio de Carvalho...
“¡Unamos nuestras liras y nuestros corazones, que ha llegado el crepúsculo de las
anunciaciones, para que baje el ángel de la celeste paz!” Juan Ramón Molina: Sus
mejores páginas. Tegucigalpa, Guayamuras, 2003, p. 75.
18 A mero título de exemplos vale mencionar os nomes de Rubén Darío e Gonçalo
Quevedo. Houve entre Joaquim Nabuco e Rubén Darío grande amizade. Na obra de
cada um deles há grande presença do outro. Foram companheiros na viagem no
navio “Thames”, de Lisboa ao Rio de Janeiro, com escalas em São Vicente (Cabo
Verde), Recife e Salvador, em julho de 1906. Sobre Nabuco Darío escreveu
primorosa conferência publicada em: O Paiz, Rio de Janeiro, 16-6-1912 p. 4; no
opúsculo Conferência de Rubén Darío sobre Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro,
Embaixada da Nicarágua, 1970, Introdução e Notas do Embaixador Justino Sansón
Balladares; no opúsculo Presença do Brasil na obra de Rubén Darío, Brasília,

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Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Mas tendo em conta a natural limitação de tempo vou concentrar-me,


brevemente que seja, na pessoa extraordinária a quem o Governo do Brasil
confiou a nobre missão de ser primeiro representante junto às autoridades de
sete países. Falo de Antônio Vicente da Fontoura Xavier. Nasceu ele em
Cachoeira do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, aos 7 de junho de 1856,
filho de Gaspar Xavier da Silva e Clarinda Fontoura Xavier. De 1870 a 1874
fez seus estudos secundários no Rio de Janeiro. Interrompendo seu Curso de
Direito, em São Paulo, ingressou na vida diplomática. Foi cônsul em
Baltimore, Porto, Genebra, Buenos Aires e Nova lorque. Foi Ministro em
Cuba, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, EI Salvador, Honduras, Guatemala,
Espanha, México, Grã-Bretanha e Portugal, onde faleceu em 1922 como
primeiro Embaixador do Brasil em Lisboa. Publicou muitos artigos em
periódicos como Gazeta de Notícias, Jornal do Commercio, Diário do Rio de
Janeiro, Revista Ilustrada, A Semana, A Federação, Fígaro, Revista
Americana, etc.
Em 1884, lançou a primeira de cinco edições do livro de poesias
Opalas, considerado sua principal obra. É patrono de uma cadeira da
“Academia de Letras do Rio Grande do Sul”. Em 1965, o Governo deste
Estado deu seu nome a um novo município. Em artigo sobre ele diz o poeta
nicaragüense Rubén Darío:
Conheci-o no Rio de Janeiro na... Conferência Panamericana. Estava
nesse meio intelectual brasileiro que com justiça orgulhava, perante
os estrangeiros, o nobre embaixador Nabuco. No âmbito oficial foi
dos meus amigos mais íntimos...
Afável, garboso, cerimonioso como quase todos os seus compatriotas
cultos, o poeta granjeou de imediato a minha simpatia...
No diplomata sempre transparecia o poeta. Seu verbo é cálido, fácil,
insinuante... Sua musa, que aprendeu a cantar “onde canta o sabiá”,
se expressa hoje com igual maestria em português e em inglês. Esta é

Embaixada da Nicarágua, organização do Embaixador Ernesto Gutierrez, 1985, p.


43-52. O nome do diplomata cubano Gonçalo Quesada aparece, várias vezes, em
Joaquim Nabuco. Diários. Vol. 2, 1889-1910. Rio de Janeiro. Bem-Te-Vi, 2005
(ver p. 362, 368, 375, 385, 430).

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Pe. José Carlos Brandi Aleixo

uma notável particularidade, pois o domínio do verso é o indício


máximo da posse de um idioma.19
O mesmo Rubén Darío que enalteceu também as ousadias
aeronáuticas de Santos Dumont e de Augusto Severo, nome do logradouro
onde se encontra o IHGB, comentando em artigo a destinação de Graça
Aranha a Cuba e às repúblicas da América Central, observou “onde o Brasil já
teve um enviado tão eficaz, brilhante e merecedor de todas as simpatias.
Refiro-me a A. da Fontoura Xavier, grato no Protocolo e no Olimpo”.20
No mesmo artigo sobre Fontoura Xavier escreveu Darío:
Desde Dante, desde Quevedo – e quantos mais e antes – são muitos os
poetas que foram diplomatas. Atualmente a lista seria extensíssima,
distinguindo-se sobretudo a Inglaterra, a Espanha e, escutem bem,
senhores, o prático país dos Estados Unidos. O assunto merece ser
tratado mais amplamente. Hoje limito-me, exclusivamente, ao
diplomata e poeta que representa dignamente o Brasil nas Repúblicas
da América Central: Fontoura Xavier...
Opalas é um livro de elegância, harmonia e que mostra a inutilidade e
a inconsistência das modas literárias. Escrito em grande parte antes
da aparição das moderníssimas correntes estéticas, que com tanto
acerto estudou em seu país Elísio de Carvalho, lê-se hoje com o
mesmo prazer que quando apareceu pela primeira vez. É que a forma
e a maneira valem pelo que encerram do poder criador do poeta, pelo
que vem de dentro, do fundo da alma. No verdadeiro poeta prevalece a

19 DARÍO, Rubén. Fontoura Xavier. In: Algo de Rubén Darío sobre Brasil. Rio de
Janeiro. Embaixada da Nicarágua, 1960, p. 23-6. Organização do Embaixador
Justino Sansón Balladares. O texto em português encontra-se em: 1) Presença do
Brasil na obra de Rubén Darío. Brasília, Embaixada de Nicarágua, 1985, p. 25-30.
Organização do Embaixador Ernesto Gutierrez. 2) FONTOURA XAVIER, Antônio
da. Opalas. Rio de Janeiro, Gráfica Sauer, 1928, 4ª ed. p. 199-209. 3) Semblanzas II,
850.
20 DARÍO, Rubén. Graça Aranha. Artigo escrito em Paris, em outubro de 1911. La
Nación, Buenos Aires, 27-10-1911 p. 6. Dispersos de Rubén Darío. Recogidos de
Periódicos de Buenos Aires. Edición, compilación y notas de Pedro Luis Barcia.
Universidad Nacional de La Plata, 1977, p. 245. Graça Aranha recebeu, antes de
viajar a Cuba, destinação diferente.

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Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

vontade de eternidade. Por isso, é que Luciano de Samosata, Píndaro,


o Arcipreste de Hita, Villon, Heine e tantos outros no plano superior
da arte, serão sempre contemporâneos.
Aproveite, meu amigo Fontoura, a terra da América Central e faça mui
bons tratados e mui bons versos".21
No conjunto das amplas relações entre Rubén Darío e Fontoura Xavier
ocupa lugar de relevo a graciosa “Balada de la bella niña del Brasil”, em que o
vate nicaragüense enalteceu Ana Margarida, filha de seu amigo.22
O Encarregado de negócios da República Dominicana em Cuba, o
poeta Osvaldo Basil, narrando o último dia de Darío em Havana, antes de
embarcar, em 8 de novembro de 1910, para a França, Havre, no navio alemão
Ipiranga contou:
Él [Rubén Darío] sabe que el poeta y Ministro Fontoura Xavier, no le
abandonaría porque era hombre de rasgos nobles y era además su
amigo y admirador de antiguo... pule admirablemente una breve carta
para Fontoura Xavier... Dicta una admirable semblanza sobre
Fontoura Xavier a Carrasquilla [Eduardo Carrasquilla Mallarino,
Cónsul de Panamá en La Habana]... A las nueve de la mañana lo
encontré en El Fígaro, esperando nervioso, intranquilo, la llegada de
Carrasquilla, portador de la carta de Fontoura Xavier... aparece, por
fin, el cordial y talentoso Carrasquilla vencedor en toda línea.
Fontoura le remetía al poeta quinientos dólares y una esquela

21 DARÍO, Rubén. Fontoura Xavier. In: Algo de Rubén Darío sobre Brasil. Op. cit. p.
23 e 33.
22 DARÍO, Rubén. Balada de la bella niña del Brasil. In: 1) Elegâncias, Paris,
diciembre de 1911. Acompanham a poesia uma dedicatória de Rubén Darío a Anna
Margarida e uma fotografia dela (ver: ELLlSON, Fred P. “Rubén Darío and Brazil”,
In: HISPANIA, 1964, vol. XLVII, nº 1, p.28 e 35); 2) Revista Americana, Rio de
Janeiro. VIII, abr.mai.jun.1912, p. 641-2; 3) Obras Completas. Buenos Aires.
Anaconda, 1952, p. 201; 4) Algo de Rubén Darío sobre Brasil – Rio de Janeiro,
Embaixada da Nicarágua, 1960 p. 47-48. Org. do Emb. Justino Sanson Balladares;
5) Em português, em: Presença do Brasil na obra de Rubén Dario, Brasília,
Embaixada de Nicarágua, 1985 p. 12-13. Org. do Embaixador Ernesto Gutierrez.

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Pe. José Carlos Brandi Aleixo

lamentando no ser más extenso en la dádiva que tanto honor le


proporcionaba."23
Outro exemplo da presença operosa de Fontoura Xavier no istmo é o
de seus fortes vínculos com o renomado poeta e militante político José Santos
Chocano (1874-1934) que, nascido em Lima, desempenhou cargos públicos
na Guatemala e no México. Rubén Darío prefaciou sua famosa obra Alma
América. Inicialmente encontrou o nome de Fontoura Xavier numa poesia do
vate nicaragüense. Depois escreveu o ilustre peruano em um prólogo à obra
Opalas de Fontoura Xavier: “Andando eu e o tempo, em terras da América
Central, viria minha destra estreitar a do nobre companheiro.”
Neste mesmo prólogo comenta Santos Chocano:
“La representación diplomática de su gran patria en las repúblicas
ístmicas, trajo a Fontoura Xavier a mi conocimiento personal: su
figura breve y nerviosa, sus ojos imperativos que confirman cuanto
dicen sus labios, hacenlo un tipo recalcitrante de intelectual latino
que a poco de platicar se anima y pone en su mano de amigo un calor
de sinceridad que se le sale del corazón. Espíritu mundano en el bueno
sentido floretea con múltiples idiomas y se muestra acorazado con una
sólida cultura tomada de todas partes: habla de cifras y de letras; y en
el sabor de sus paliques, mezcla la fuerza de una ~ educación práctica
y la gracia de una idiosincrasia artística que acusan al hombre de sus
tiempos, flexible y complicado como una tabla pitagórica en que la
verdad aparece bella.”24
Para o melhor conhecimento da operosa e competente atuação
profissional de Fontoura Xavier é de fundamental importância a leitura da

23 AUGIER, Angel. Cuba en Darío y Darío en Cuba. La Habana, Editora Letras


Cubanas, 1989, p. 241-3.
24 SANTOS CHOCANO, José. Prólogo para a tradução castelhana de Opalas de
Fontoura Xavier. O mesmo Santos Chocano é o autor da tradução. Ópalos. Paris.
Livraria da Viuda de Ch. Bouret, 1914. Este prólogo se encontra também em: Nota
final da quarta edição em português de Opalas, de Fontoura Xavier. Rio de Janeiro,
SABER, 1928 p. 211-217; e Revista Americana. Rio de Janeiro, V, jan.-fev.-mai.
1911, p. 341-45. Em carta de 1° de dezembro de 1910, de Guatemala, a Rubén Darío
escreve Santos Chocano: “Sé por Fontoura Xavier tu dirección” (GHIRALDO,
Alberto. EI Archivo de Rubén Darío. Buenos Aires. Editorial Losada. p. 236).

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Discurso de posse: Pe. José Carlos Brandi Aleixo

correspondência entre ele e o nosso Ministério das Relações Exteriores que se


encontra nos valiosos arquivos do Itamarati, existentes na cidade
maravilhosa. Lá se encontram, por exemplo, os discursos pronunciados por
ele e pelos presidentes anfitriões nas cerimônias de apresentação de
credenciais. Há também numerosos recortes de jornais com pertinentes textos
sobre o Brasil.
IV – Considerações finais
A partir do estabelecimento de nossas relações diplomáticas cresceu o
conhecimento mútuo de nossos povos. Neste sentido foram extraordinárias as
contribuições da Revista Americana (1909-1919) e, na década de 1940, do
periódico A Manhã, que publicaram vários trabalhos de centro-americanos,
cubanos e panamenhos, assim como sobre eles e seus países.
Há muitas outras formas de presença do Brasil na região. Na
ex-capital, na galeria de próceres americanos do Itamarati estão bustos de
Miguel Larreinaga (Nicarágua, 1772-1847), Juan Rafael Mora (Costa Rica,
1814-1860), José Cecílio del Valle (Honduras, 1777-1834), José Maria
Delgado (El Salvador, 1768-1833), Pedro Molina (Guatemala, 1777-1850),
Justo Arosemena (Panamá, 1817-1896) e José Martí (Cuba, 1867-1895).
No espaço da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
dedicado a grandes nomes da Ciência e da Cultura estão os medalhões de
Rubén Darío (Nicarágua, 1867-1916) e de Enrique Gómez Carrillo
(Guatemala, 1873-1927).
Na cidade de São José da Costa Rica encontram-se: o busto de
Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes, 1746-1792) em importante praça,
e o busto de Rui Barbosa (1849-1923) no edifício da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, doado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em novembro de 2006 Tegucigalpa emitiu dois selos comemorativos
do nosso centenário. Um com as bandeiras do Brasil e Honduras e outro com
a imagem de Barão do Rio Branco. Semelhantemente Guatemala imprimiu
selo com figuras culturais de nossos países.
Em 1965, em preparação das comemorações do cinqüentenário da
morte de Rubén Darío (5-7-1916), admiradores seus no Brasil
providenciaram quatorze medalhões de bronze e as placas respectivas, do
genial poeta, oferecidas a quatorze departamentos nicaragüenses, como uma
prova a mais da amizade entre os dois povos irmãos.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):233-246, out./dez. 2007 245


Pe. José Carlos Brandi Aleixo

Em novembro do ano passado, em viagem organizada pelo


Departamento Cultural do Itamarati, pronunciei, em cada um dos seis países
continentais aqui em tela, conferências sobre o centenário de nossas relações
diplomáticas. Em todos senti grande apreço pelo Brasil e o cordial desejo de
estreitar seus vínculos conosco.
Assinalou Mário Gibson Barbosa, em 1971, na primeira visita de um
Chanceler do Brasil aos países da América Central, com muita pertinência:
Mais que ninguém nesse continente, Rubén Darío expressou a perfeita
aliança entre os extremos de que está conformada a alma americana,
entre a exacerbação do sensível e a tradição da inteligência latina...
foi um poeta do Continente, foi o poeta do mundo latino-americano,
aberto a todas as latitudes de nossas terras, capaz de cantar, com
igual verdade, o céu brasileiro, a pampa argentina e as terras do
México. Por isso não será estranha, já que os poetas são os grandes
antecipadores da história, sua constante presença em todos os
projetos de coesão continental, nesses esforços para criar a
necessária solidariedade latino-americana. Como queria Darío,
abominamos a boca que prediz desgraças eternas; abominamos os
olhos que vêem só zodíacos funestos; abominamos as mãos que
apedrejam as ruínas ilustres, ou que a tocha empunham ou a adaga
suicida.25
O Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e Fontoura Xavier abriram
com chave de ouro a história de nossas relações diplomáticas com os países
estudados hoje. Durante os primeiros cem anos elas floresceram e
frutificaram. Cabe a nós dar continuidade a esta bela tradição e proporcionar
aos futuros historiadores, do segundo centenário, novos e belos exemplos de
amizade e colaboração em consonância com o parágrafo único do artigo IV
de nossa constituição: “A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina
visando à formação de uma comunidade Latino-Americana de nações.”

...

25 “Gibson segue mesma linha política com a Nicarágua”. Correio da Manhã,


20-7-1971 p. 3; ALEIXO, José Carlos Brandi. O Brasil e a América Central.
Brasília, Câmara dos Deputados 1984, p. 30.

246 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):233-246, out./dez. 2007


RECEPÇÃO AO SÓCIO
JEAN PIERRE BLAY

Prof. Guilherme de Andréa Frota

Prosseguir em francês certeza tenho de que não causaria desagrado a


esta seleta audiência mas porque o faria, se o meu francês é pior do que o
português do nosso novo sócio?
De fato, o Prof. Blay há muitos anos freqüenta o meio acadêmico
brasileiro e é bem conhecido entre nós. Mesmo assim, é com emoção que
desejo apresentar o seu envolvimento com a história e assuntos do Brasil
devassando esquecidos episódios, fazendo aflorar novos valores e
personagens, solidificando o entrelaçamento de suas culturas.
Dedicado à História Social, o Prof. Blay é Doutor em História pela
Universidade de Paris I Pantheon Sorbonne, exercendo cátedra na
Universidade de Paris X-Nanterre, Vice Diretor responsável pela avaliação
da formação e do ensino, nesta mesma Universidade, e pesquisador
permanente do Institut dus Hontes Ètudes d’Amerique Latine (Paris III).
Longa trajetória percorreu para atingir estas distintas posições. Depois
de um vestibular nas áreas de filosofia e letras, formou-se em História e
GEOGRAFIA NA Universidade da Picardia. E nesta mesma Universidade
obteve mestrado em História Social, com a monografia intitulada:
“Ociosidade aristocrática, ociosidade burquesa, a imagem fornecida pela
leitura de Marcel Proust”. E proseguiu os estudos visando o Diploma de
Estudos Aprofundados (DEA), conseguido em 1984 com a monografia
“Chantilly – 1834-1914 – o desenvolvimento urbano e o mundo das corridas
de cavalos”, tese ampliada e orientada pela professora Adeline Dauneard e
defendida em 1991 perante banca na Universidade Paris I –
Pantheon-Sorbonne, obtendo o grau de Doutor em História Contemporânea.
Lecionou em Creil na Escola Victor Hugo e na Escola Paul Eduard. E, desde
1999, passou a reger cadeira na Universidade de Paris X – Nanterre.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):247-249, out./dez. 2007 247


Prof. Guilherme de Andréa Frota

Antiga cooperação entre a professora Doumard e a presidente da


Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, Maria Cecília Westphalem,
inclinou-o para o estudo da burquesia brasileira, tema de pos-doutoramento.
Obrigou-se, então, a encontrar tempo para envolver-se com velhos papeis e
novas poeiras no Arquivo Público Mineiro, entrre 1988 e 1989, estudando a
burquesia e as elites mineiras no século XX. Mas a vida da aristocracia e o
mundo das corridas de cavalos o fascinavam; seus estudos sobre este tema
granjearam-lhe a Bolja Lavoisier, concedida pelo Ministério das Relações
Exteriores, França, de 1991 a 1992. cumpriu várias missões no Brasil
encarregado pelo Institut du Hantes Études d’Amerique Latine em
colaboração com o Projeto CAPES. Pesquisou mas arquivos desse Instituto,
no do Jockey Clube Brasileiro, no Arquivo Nacional e no Arquivo do
Exército. Em 1994 foi nomeado pesquisador associado ao IHEAL. Em
cooperação com o nosso Presidente organizou a tranferência da coleção de
revistas do IHGB para IHEAL, 1999. A ligação entre a reforma urbana e a
arquitetura dedicada ao esporte inspirou um projeto de história comparada
(França-Brasil) premiado na comemoração dos 20 anos dos acordos CAPES
– COFECUB em 1999.
Naturalmente, que estas atividades de pesquisa geraram publicação
que se espalhou em vários países. Desejo destacar: “A indústria do cavalo no
Brasil e a influência do modelo francês (1868-1932)” na Revista do Jockey
Club Brasileiro, nº 1000, em 28.11.1991; “A indústria do cavalo, na França e
no Brasil, no século XIX – estudo comparativo em História econômica e
social” publicado nos Anais da XIIª reunião da Sociedade Brasileira de
Pesquisa Histórica, 1993. Mas o nosso novo sócio aborda, também, outros
assuntos quando estuda “A Missão Militar Francesa e sua influência
intelectual e tecnológica na formação das elites militares brasileiras
(1949-1940)” na Revista do IHGNB, 1995; “Espaços urbanos e identidades
culturais, o exemplo do Clube de Regatas do Flamengo (1895-1922)” nos
Anais da XXª Reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, 2001.
Seu livro “Les Princês et les Jockeys” (2006) foi premiado no Salão do Livro
de História (2006-2007) pela Academia Francesa de Letras. O primeiro tomo,
com 256 páginas, aborda: La ville du cheval souverain e o tomo II, com 374
páginas trata da Vie sportive et sociabilité urbaine”. Projeta, ainda, novas
publicações, conseqüência de suas pesquisas nas Maison Cootier e Hermes
enfocando Alberto Santos Dumont o qual, em suma, era apaixonado pelo

248 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):247-249, out./dez. 2007


Discurso de recepção ao sócio Jean Pierre Blay

esporte aéreo. Encontra-se, ainda, finalizando um estudo sobre “a arte de ser e


de parecer na Belle Epoque”.
Desde 1993, participa, como sócio-correspondente, do Colégio
Brasileiro de Genealogia e, nesta entidade encontrou dados sobre o tenente
Luciano de Mello Vieira aviador que morreu durante a Iª Guerra Mundial no
hospital de Chantilly [não existe dados conhecidos sobre este aviador].
O Prof. Jean Pierre Blay tem participado de diversos seminários e
proferido conferências sobre os temas de suas pesquisas e interesses, quer no
Brasil quer na França, tendo já ocupado a tribuna do IHGB, do IGHMB,
Museu Paulista, Pontifícias Universidades Católicas do Rio de Janeiro e São
Paulo, Escola de Equitação do Exército, Universidade Federal do Paraná, sua
congênere em Pernambuco e outros importantes outros acadêmicos. E muito
agradável e instrutivo foi aos aspirantes da Escola Naval ouvi-lo em 1994
sobre “A participação das marinhas de guerra no desembarque na
Normandia”, à qual estive presente e muito aprendi.
Ainda, organizou o Simpósio de Questões Urbanas e Políticas
Públicas no 19º Congresso Americanistas em Quito, Equador, de 7 a 11 de
julho de 1997.
Trata-se, pois, de um pesquisador incansável que consegue permear a
vida e história de dois mundos, ministrar aulas e conferências, participar de
bancas e exames, enfrentar as dificuldades dos arquivos.
Prof. Jean Pierre Blay o IHGB necessita de seu entusiasmo e
juventude, de seus estudos e pesquisas esperando, com ansiedade, suas
colaborações e atuante presença.
Seja, pois, benvindo!

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):247-249, out./dez. 2007 249


.....

250 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):249-251, out./dez. 2007


ESPAÇOS URBANOS, PRÁTICAS FÍSICAS E SOCIEDADE
ESPORTIVA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO NO SÉCULO
XX

Jean-Pierre Blay

O recurso à história permite a identificação de gêneses e a


compreensão da evolução de fenômenos, cuja durabilidade, em determinadas
instituições e grupos sociais, ou então o lugar deles na memória coletiva,
dá-lhes uma dimensão histórica perceptível. A história do Rio de Janeiro
procede desses princípios e ela nos permite operar reaproximações entre a era
“haussmanianna”1, inaugurada pelo prefeito Pereira Passos em 1903, e a
formação de culturas e de práticas esportivas que modificam a percepção da
territorialidade. Aliás, a questão que se coloca na análise das práticas físicas e
do espaço urbano gira em torno da significação do processo de
territorialidade e de reterritorialização, independentes ou não das reformas
urbanas, e de ligá-los com o processo de sociabilidade.
O surgimento do esporte, na sociedade urbana do Rio de Janeiro,
permite a mensuração da capacidade de penetração de práticas culturais
marcadas pelo modelo europeu e, de um outro lado, a faculdade de
apropriação, de rejeito ou de criatividade dessa mesma sociedade.
Na origem das atividades físicas, há os banhos de mar que são
introduzidos no Rio de Janeiro, no início do século XIX. Eles são
recomendados por seus efeitos terapêuticos, pelos negociantes ingleses. Este
hábito é também veiculado nas instituições escolares, com a adoção do
“Regulamento da instrução primária de 1885” que preconizava a adição da
prática da ginástica e de longas caminhadas à beira-mar, a fim de fortalecer os
pulmões2.

1 Designa toda atividade em torno de um urbanismo que participa a desodorização do


espaço público, pela construção de avenidas, redes de esgoto, parques e
jardins.....Vindo do Barão Haussmann, prefeito de Paris e reformador da capital
francesa no segundo Império (1852-1870.)
2 Claudia Guedes, “Escola de educação fisica e esportes da USP”, in Atlas do esporte
no Brasil, dir. Lamartine da Costa, 2004.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007 251


Jean-Pierre Blay

Esses fenômenos culturais associam o esporte à vida cotidiana e à


praia. A praia, entendida como espaço natural e público, vira, no início do
século XX, uma opção para a prática lúdica e competitiva, por meio dos
quais, indivíduos inventam relações baseadas em valores e códigos
(vestuários notadamente) expressos nas atas de fundações dos clubes. A
convergência de ações motoras desenvolvidas durante as práticas físicas ao ar
livre parece obrigar o praticante a aprender a (necessária) distância entre o
parceiro ou o adversário, a dominar sua agressividade nas relações afetivas e
sociais3. O comportamento dos esportistas transforma a praia num lugar
polissêmico de acolhida, de lazeres e de afrontamento, que participa
altamente do processo civilizador do esporte. A dinâmica da prática esportiva
acompanha os dispositivos de sociabilidade e de urbanidade que servem
depois para identificar a constituição dos modos de coerência urbana4. Aqui,
a história da prática esportiva serve a entender a fragmentação cultural do
espaço urbano.
O clube: uma sociabilidade urbana e uma representação social
Os clubes esportivos e as instituições recreativas constituíam a base do
desenvolvimento do esporte em geral, e um dos fatores que melhor revela as
diferenças sócioculturais. As instituições esportistas se adequam aos hábitos
da burguesia comercial e industrial, no século XIX, antes de se abrirem
progressivamente às camadas da classa média no século seguinte.
A popularização das modalidades esportivas, nos grandes centros
urbanos reforça a posição dos clubes pioneiros que se beneficiam com a
freqüência de uma gente privilegiada exposta na coluna social dos jornais
nacionais e, além disso, preocupada com o nível de excelência do seu time. O
placar condiciona a visibilidade e a representação social do sócio.
No Rio de Janeiro, três modalidades esportivas vão se suceder neste
processo de irrigação das atividades físicas impulsionadas pelos clubes da
elite: a corrida de cavalos, o remo e o futebol.

3 C. Guertz, A interpretação das culturas, Rio de Janeiro, 1989.


4 Relação espaço público/espaço privado, circulação de pedestres e distribuição de
mercadorias...etc

252 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007


Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

Em 1911, contamos 4 hipódromos na cidade e 216 clubes esportivos


no estado. Mas quando as ligas5 e as federações aparecem, com o objetivo de
harmonizar as competições e impor seus regulamentos (entre 1909 e 1912), a
taxa de afiliação exigida provoca a marginalização da maioria dos clubes e
sublinha assim a precariedade das associações de recrutamento popular, em
que alguns de seus jogadores investem na praia para continuar a praticar uma
“pelada.”6 Nestas condições, os clubes viram um lugar de influência social e
política, de pessoas e de famílias da burguesia urbana. Eles servem a uma
ostentação de uma política pública, de um estatuto social pelo qual os sócios
elaboram um jogo de convenção para organizar as condições da amizade e, às
vezes, às estratégias matrimoniais7.
O desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro modifica o
recrutamento social dos clubes ao mesmo tempo em que mantém o hábito
criado. No Jockey Club e no Automóvel Club, entre 1868 e 1905, os
aderentes vêm do meio dos fazendeiros, negociantes de café, homens
políticos, artistas... Depois, encontram-se os indivíduos saídos de profissões
liberais, engenheiros, financistas europeus e até da América do Norte8. Da
agregação voluntária de praticantes e de torcedores reunidos para aproveitar
um espetáculo esportista, passamos à fundação de clubes cuja organização
financeira e estruturas administrativas incitam os pais ou os sócios mais
idosos a assumir a gestão e conferir um aspecto formal à sociabilidade.
Os gentlemen tropicais, entre paixão do cavalo e nostalgia da Europa
Se a data de fundação das instituições esportivas fornece uma
referência de um movimento geral, as corridas de cavalos são as primeiras
práticas competitivas organizadas e regulamentadas segundo as normas
internacionais que ocorreram, na capital, na época imperial. Em 1868, o
Jockey Clube Fluminense concentra as elites dirigentes do país que se
preocupam, como nas potências européias, com o desenvolvimento da

5 A Liga Metropolitana de Futebol é fundada em 8 de junho de 1905.


6 L.A. de Miranda Pereira, Footballmania, uma história do futebol no Rio de Janei-
ro (1902-1938), Editora Nova Fronteira, R.J. 2000.
7 J. Needell, Belle époque tropical, sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na
virada do século, Companhia das Letras, 1993.
8 J.P. Blay, “Tradição aristocrática e representação social nas instituições hípicas
na França e no Brasil no século XIX”, Revista do Jockey Club Brasileiro, ano XIX,
n° 1025, maio de 1992.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007 253


Jean-Pierre Blay

criação nacional. Estas sociedades, ainda hipomóveis, se preocupam em


garantir fileiras eqüinas necessárias aos transportes, à agricultura e ao
exército. Esta é a razão pela qual a competição eqüestre envolve uma
dimensão nacional como a vigilância do território, a exploração agropecuária
e até a representação da pátria nas corridas internacionais. O sucesso da
Argentina, nesse campo, constitui uma motivação suplementar.
A moda das corridas é lançada na alta sociedade9 que se compromete,
com muita dedicação, a criar um puro-sangue nacional e renovar as raças
brasileiras (Alter, Mangalarga Marchador, Campolina, Crioulo...) para
sustentar o esforço de exploração econômica do país. Os investidores da
indústria do cavalo interrogam-se sobre o tipo de cavalo a produzir e como
impor tal ou tal raça nas utilizações comerciais e militares10. A multiplicação
dos clubes hípicos na cidade do Rio de Janeiro é motivada pelos interesses
divergentes com relação à raça a promover, de acordo com a necessidade da
nação.
Nos últimos anos do império já existiam quatro associações hípicas no
Rio de Janeiro que defendiam, cada uma, um tipo de cavalo e de corrida. O
Derby Fluminense (1884-1885), o Hipódromo Nacional (1889-1900), o Turf
Club (1889-1895) e o Derby Club (1885-1932) conseguiram um lugar para
organizar meetings regulares. Às vezes, a importância da superfície e a
localização viravam motivos para a especulação imobiliária que modificava a
reterritorialização urbana. Assim, o clube de corridas de Vila Isabel, situado
no Jardim Zoológico, teve uma existência curta em razão do projeto de
urbanização dirigido pela companhia de arquitetura do Barão Viana de
Drumond, responsável pelo saneamento deste bairro.

9 O Conde d’Eu, esposo da Princesa Isabel e sobrinho do Duque d’Aumale (dono do


castelo e do hipódromo de Chantilly), trouxe toda a tradição eqüestre da família de
Orléans ao redor dos Bragance, ajudando na instalação de coudelarias no Rio
Grande do Sul e incitando a prática do protecionismo, em matéria de importação de
cavalos, em relação à Inglaterra e à Argentina e, ao contrário, de favorecer a cria-
ção francesa.
10 O Decreto n°1414 do 21 de fevereiro de 1891 tenta uma unificação do Stud Book,
mas o texto, recusado por todas sociedades de corridas, não é aplicado. A unifica-
ção (forçada) ocorre em 1918 quando o presidente do Jockey-Club Brasileiro, Lin-
neu de Paula Machado, sócio da comissão central do criadores de puro- sangue,
impõe essa raça como sendo a única autorizada para correr (Decreto n°13038 de 29
de maio de 1918).

254 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007


Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

Se o recrutamento do turfista progride cada vez mais nas camadas da


classe média e da classe operária, os verdadeiros sportsmen, geralmente
proprietários de estábulos de corridas, reúnem o militar, o banqueiro, o
advogado e o industrial. O jogo social, expresso no esporte hípico,
estabelece-se sobre mecanismos estruturais de concorrências e de dominação
que ordenam a sociabilidade esportiva. Nesta luta pelo reconhecimento social
de uma prática elitista é importante a integração das normas européias ao
nível da qualidade de cavalo e ao decorum do espaço esportivo, o que explica
o desaparecimento rápido de algumas instituições.
O Derby Fluminense, o Hipódromo Nacional, o Turf Club e o Derby
Club são estimulados pela mesma ambição: organizar meetings em função de
uma raça específica e, por outro lado, ensinar a equitação11. É, aliás, este
esporte de divertimento que sobrevive, nestas instituições fragilizadas, em
razão de uma dependência excessiva em relação aos criadores paulistas e
gaúchos. Por uma estratégia econômica, os jockeys profissionais preferem
participar das corridas de puro-sangue. A renúncia destes às demais corridas
provoca dificuldades financeiras em alguns clubes, que são incapazes de
completar o orçamento de funcionamento e, menos ainda, de premiar páreos.
Os hipódromos, aos poucos abandonados pelos turfistas por falta de interesse
competitivo, são o alvo da especulação imobiliária e desaparecem sob o
efeito do crescimento urbano.
No senso inverso, Linneu de Paula Machado, presidente do Jockey
Club Fluminense, consegue a deslocalização do hipódromo do largo de São
Francisco Xavier (zona norte) para a lagoa Rodrigo de Freitas, no bairro da
Gávea (zona sul). Este projeto beneficia-se de todos os apoios necessários
porque ele vai ao encontro da política de saneamento da Prefeitura e revela-se
um elemento da propaganda do governo de Getúlio Vargas12.
No espírito de Paula Machado, o novo hipódromo deveria virar uma
referência do turf sul-americano como o de Chantilly em relação à Europa, e
de cujo traçado ele pretendia seguir o modelo. O projeto arquitetônico
permitia acolher tanto o público elegante dos bairros de Botafogo e de
Ipanema quanto os turfistas da extremidade norte. O arquiteto Mário
11 J.P. Blay, “Gentleman tropical e mundo hípico na cidade do Rio de Janeiro
(1868-1932)”, Revista do I.H.G.B., 155 (382) : 54-73, jan./mar.1994.
12 M. Azevedo Ribeiro, Histórico do hipódromo brasileiro (1920-1926), Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, 1944, 167 p.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007 255


Jean-Pierre Blay

Azevedo Ribeiro consultou o conceptor do Copacabana Palace, Joseph Gire,


para organizar espaços de recepção em conformidade com os hábitos de cada
categoria social envolvida com a competição hípica.
Para garantir o espetáculo esportivo, a escolha da pista (gramado ou
areia) gerou uma intensa correspondência entre Paula Machado e Azevedo
Ribeiro, quando o banqueiro estava na França em 1925, com seu amigo, o
Barão de Rothschild. A pista de gramado correspondia à tradição de Chantilly
e de Epsom, que combinavam aspectos técnicos e estéticos dentro de um
teatro de verdura. Os responsáveis pelo turfe brasileiro receberam o coronel
Wilkinson, inspetor geral das pistas do Jockey Club inglês, que confirmou o
uso do gramado, preferível tanto como elemento dramático, como pela saúde
dos cavalos13. No gramado o galope é mais sonoro e puxa o espetáculo hípico,
ao nível de uma luta barulhenta que traz um caráter dramático com o
crescendo perceptível da tribuna quando o páreo, aos poucos, se aproxima da
linha de chegada, sem levantar poeira.
A conquista deste território é um projeto da elite social do Jockey
Club, na remodelação da paisagem urbana. Trata-se da arquitetura do
espetáculo como lugar de representação, não de atores ou de cantores, mas de
personalidades preocupadas com a cenografia da paixão pela corrida de
cavalos e da preservação da posição social. De fato, existe uma festa
mundana no meio de um espetáculo esportivo extremamente popular. Mas o
contraste de um espaço privado e seletivo14, com o espaço coletivo e sem
conforto da arquibancada, demonstra que a festa esportiva é confiscada ao
benefício de um espetáculo mundano que serve a uma classe social confinada
no Jockey Club; aquela que influencia a vida política, que domina o jogo
econômico e consegue construir para si uma imagem valorizante15.
Mas o comprometimento do Jockey Clube com o governo de Vargas
afasta do mundo das corridas um público popular indispensável ao equilíbrio
financeiro de uma atividade econômica que depende das apostas. No entanto,

13 Na América do Sul havia, nos anos vinte, três hipódromos com pista de gramado:
Santiago e Viña del Mar no Chile e Santa Beatriz no Peru. O hipódromo da Gávea é
dotado de uma dupla pista, gramado e areia.
14 A tribuna dos sócios tem vestibulo, sala de restaurante, salão das Rosas, espaço
para apostas... quando a tribuna popular é afastada de todas essas comodidades.
15 É a tese defendida por Jeffrey Needell, que relaciona a criação dos clubes ao dese-
jo de estabelecimento de um convívio social da elite.

256 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007


Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

a concorrência desleal infligida ao Derby Club desemboca em 1931 no


fechamento do seu hipódromo e na liquidação das suas atividades, mesmo as
recreativas. O jornal A Pátria criou, na opinião pública, uma inimizade contra
a diretoria do Jockey Club16 que entra em conta quando tentamos explicar o
sucesso do futebol nos meios populares. É muito simbólico constatar que o
estádio do Maracanã foi construído no lugar do antigo hipódromo do Derby
Club, marcando uma forte identidade dessa modalidade esportiva, na zona
norte, e recompondo o território esportivo a partir de uma cultura liberada de
seu caráter europeu. A alteração do jogo democrático no esporte hípico força
a segmentação social do território urbano. Podemos perceber assim uma zona
sul e uma zona norte onde a ferradura e a chuteira marcam uma fronteira.
Do mar à praia, do remo ao futebol
As primeiras experiências de uma regata reunindo amadores, sem
infra-estruturas institucionais, são realizadas na enseada de Botafogo em
1855. Em 1862 e 1863, demonstrações da marinha de guerra são oferecidas
como espetáculo pela corte de Dom Pedro II. Todavia, parece que a vida
esportiva foi mais precoce em Niterói, onde foram organizadas regatas cujas
regularidades alertaram um cronista de um cotidiano local, Benjamin Motta.
No Rio de Janeiro, no dia 5 de junho de 1898, a União de Regatas
Fluminense patrocinou o primeiro campeonato náutico brasileiro onde o
Presidente da República, Prudente José de Moraes Barros, demonstrou, assim
como seus predecessores, o interesse do governo pelo divertimento
esportista17.
Na última década do século XIX, a juventude carioca está muito
atraída pelo mar, não para arriscar-se no oceano, mas para ficar ao alcance do
olhar do público que se junta, aos domingos, na Praia de Botafogo, para
assistir às regatas de remo. A fundação dos clubes de remo, em volta da Baía
de Guanabara, concretiza essa atração pelo mar numa época onde a Praia do

16 J.P. Blay, op. cit., 1994.


17 Nove corridas de baleeiras de 4 remadores sobre 1 000m, in Lamartine da Costa,
op. cit., 2004.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007 257


Jean-Pierre Blay

Flamengo está cada vez mais freqüentada18. Aliás, testemunhos constatam


uma modificação dos hábitos, no campo da atividade física19.
Para o Hotel Pinheiro e para o estabelecimento de banho High Life
convergem os amadores dos esportes náuticos que vêm se preparar para as
competições e vestir a roupa de remador20. Mas a maioria não tem este
privilégio e utiliza abrigos improvisados, galpões construídos na beira de ruas
ainda não asfaltadas e que servem de vestiário e para armazenar embarcações.
Assim, outros tipos de relações organizam-se entre o mar e a cidade, a partir
desses locais que materializam uma fronteira da progressão urbana. Essa
margem funciona tal como um laboratório de experiências culturais
simbólicas da modernidade da sociedade carioca.
José Agostinho Pereira da Cunha, Nestor Barros, Mário Espínola,
Napoleão de Oliveira e Lúcio Colos formam uma turma bem representativa
da juventude dourada que se reúne sempre de madrugada. Eles trocam de
roupa embaixo do edifício n°22 na Praia do Flamengo, onde foi fundado, no
dia 17 de novembro de 1895, o Clube de Regatas do Flamengo.21
A baleeira de 6 lugares (l’Etincelle22), usada pelos remadores do Clube
de Regatas de Botafogo, constitui um motivo de admiração e de inveja para
esta “equipagem esbelta” que tinha a ambição de imitá-los, em razão do
sucesso daqueles junto às moças. Para isto, ela precisa equipar-se. No Morro
da Viúva, ao lado do bairro de Botafogo, um deck sobre o mar servia para
amarrar os barcos que transportavam lixo. Lá, os jovens remadores do

18 1894, fundação do Clube de Regatas de Botafogo. 1895, Grupo de Regatas Gra-


goatá, Clube de Regatas do Flamengo. Promulgada, em 1893, a Lei n°173 do Esta-
do do Rio de Janeiro regulariza as associações esportivas de Niterói, a partir da
qual observamos essa relação de um clube com um bairro, ou uma praia. Humaitá
Atlético Clube, Fonseca Atlético Clube, Niterói Atlético Clube, Iate Clube Icaraí,
Fluminense de Natação e Regatas, Manufatura Futebol Clube, Clube Hípico Flu-
minense, Icaraí Praia Clube, Niteroiense Futebol Clube...
19 Arquivo do C.R.Flamengo. atas fascículo n°1 (15 de novembro de 1895-31 de de-
zembro de 1916).
20 Hotel Pinheiro, sediado na esquina da rua Buarque de Macedo e da rua 2 de Setem-
bro; o High Life (chamado depois Hotel Central) é situado na rua Barão do Fla-
mengo.
21 Eles escolheram de sempre comemorar a fundação com dois dias de antecedência,
a fim de aproveitar o feriado da Proclamação da República.
22 En français dans le texte !

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Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

Flamengo negociam a locação de seu primeiro barco a um homem chamado


Machado23.
Os itinerários urbanos passam também pela esquina da Leiteria do
Largo do Machado onde eles se encontram de preferência à noite. As
conversas apaixonadas, centradas no remo, atraem outros rapazes da mesma
geração cujos laços de amizade estruturam a esfera esportiva e uma
sociabilidade espontânea. Ao contrário do conformismo praticado no salões
do Jockey Clube Fluminense, preocupado de “l’étiquette” e da reprodução
do hábito social europeu para estruturar a esfera dos lazeres da elite. Os
remadores encarnam, de maneira viril e elegante, essa boêmia carioca. Por
isso, pouco importa discutir os estatutos da instituição, num corredor do
edifício n°22, ou de redigi-los embaixo de um poste de gás. Eles inventam um
clube não só para responder a um projeto esportivo, mas também para atrair a
atenção da mocidade de Botafogo24.
A observação das relações sociais permite desenhar o imaginário
urbano através dos espaços favoráveis aos encontros diurnos e noturnos. A
praça onde os grupos de amigos planejavam a estratégia de divertimento, a
rua que liga a cidade à praia, os galpões e garagens para barcos na frente dos
quais passa e repassa, talvez, a bisavó da “Garota de Ipanema”, aquela que faz
sonhar e para quem os garotos querem ganhar. Assim, o esporte inclui, aos
poucos, a ritualização da conquista feminina e o litoral perde suas funções
marítimas tradicionais com a pressão imobiliária, que acaba de incorporar a
praia e sua população esportiva ao seu horizonte.
O modo de consumação do tempo livre informa sobre as práticas
culturais. O domingo é marcado pela obrigação da missa de manhã e pela
recomendação médica de não se expor ao sol entre 9 e 15 horas, que é
respeitada nos meios privilegiados. O médico de Dom Pedro II, Pereira da
Cunha, recebe uma carta do soberano, em janeiro de 1879, que agradece as
precauções tomadas com crianças imperiais quando estas tomaram banho de
mar25.

23 Arquivo do C.R.F. op. cit., p.2.


24 Ibid. p.5, Augusto Lopes de Silveira (segundo presidente do C.R.F.) escreve que a
Praia do Flamengo estava freqüentada por moças que aprendiam a nadar e recebi-
am cantadas.
25 Arquivo privado da família Pereira da Cunha, Pedro do Rio, Petrópolis (RJ).

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Entre a época imperial e o início do século XX, as representações do


corpo modificam-se com a convergência de práticas mais liberadas por conta
do aumento do fluxo dos banhistas e das competições náuticas. Aos pioneiros
do remo juntam-se as famílias, os amigos e os curiosos. A descrição feita pelo
nadador A. Lopes Silveira mostra que o evento esportivo atrai a vizinhança,
solidária com a performance dos atletas do bairro. Silveira percebe que o
público é composto de uma categoria social bem marcada: os moradores do
n°22, as famílias Laport, Leitão, Cunha, um grupo da Escola Naval, um outro
de nadadores, uns representantes da Escola Politécnica... Todos vêm para
assistir às disputas entre o Flamengo e o Botafogo26.
Na “Belle Époque tropical”, a espontaneidade do encorajamento e o
desinteresse financeiro prevalecem na organização institucional. Cada sócio
participa da compra do material e do conserto. O bairro mobiliza-se aos
poucos, apesar da falta de resultado do C.R.F., rebatizado “clube do bronze”
ou “clube de diletantes”27na imprensa, até abril de 1900, quando ele ganhou
todas as medalhas de ouro de uma regata disputada na baía da Glória.
Essa vontade de existir através de uma entidade esportiva transforma o
cidadão livre em societário proprietário, um acionista capitalizando os
pódios. O artigo 2, parágrafo 1, dos estatutos menciona que um aderente não
pode matricular-se a um clube concorrente na mesma modalidade esportiva;
isso ao inverso do estatuto do Jockey Clube (de qualquer país), cujos modos
de seleção, embora muito rigorosos, não impõem uma tal exclusividade.
Obviamente, essa obrigação de fidelidade influencia as relações apaixonadas
ao Flamengo e provoca o rejeito dos outros clubes representantes de um
espaço urbano particular.
Esse empreendimento na vida do Flamengo28 dá início à fundação do
clube que foi antedatada a fim de beneficiar-se da Proclamação da República,
a 15 de novembro (e não a 17). No espírito festivo dos fundadores trata-se de
comunicar ao bairro o lado convivial da vida esportiva, marcando a presença
deles nos lugares freqüentados pela juventude. A afirmação dos gostos
(vestuário, lugar de encontro, bebida...) sublinha as tendências que vão

26 Arquivo do C.R;F. op. cit. p. 6-7.


27 Ibidem, p. 8.
28 A primeira apelação é “grupo”, por excesso de brasilianismo e não “clube” (28 de
outubro de 1902).

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Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

generalizar-se e caracterizar notavelmente os botequins do Rio de Janeiro


onde, segundo Nelson Rodrigues,"o jogo começou 45 minutos antes do
nada."
O fortalecimento das identidades culturais a partir de um território de
pertença opera-se com o futebol. A seção de futebol do Flamengo, criada pela
cisão dos jogadores do Fluminense Football Club em 1912, obrigou o C.R.F.
a criar uma divisão de esportes terrestes. Roberto Borgeth, o diretor,
registrou num primeiro momento seu time na “Liga Metropolitana de
Esportes Atléticos” antes de fundar com os dirigentes do Botafogo uma
instituição mais adequada à modalidade, a “Liga Metropolitana de Desportes
Terrestres”. A partir dessa data, os clubes, possuindo um time de futebol,
entram também em concorrência para adquirir um campo para treinar e
disputar jogo. Nesse esquema, o Flamengo negocia com a prefeitura o terreno
municipal da praia do Russell (Glória) para treinamentos e, de um outro lado,
com o Fluminense para a locação do estádio de Laranjeiras para competir29.
Importa beneficiar-se de condições de jogo ótimas e, assim, recuperar os
investimentos inéditos uma vez que a seção de futebol havia provocado
problemas de tesouraria que não existiam no tempo do remo.
Em 1905, as atas do clube revelam o pessimismo do presidente,
Francis Walter, a respeito das instituições recreativas. Os livros de
contabilidade e os contos para debitar testemunham operações financeiras e
estratégias para engajar remadores de bom nível e dispor de um material de
boa performance. Rapidamente os resultados do futebol permitem cobrir as
despesas da seção de remos.
Campeão no mar, o Flamengo queria ser também na cidade. Em 1914,
Alberto Couto Souza (presidente) conclui, com o Clube Atlético Guanabara e
com C. Gaffrée, gerente dos bens da família Guinle, a compra do terreno
situado na esquina das ruas Paysandu e Guanabara30.
A identidade do clube virá a ser afetada, como aquela dos torcedores,
constituindo pouco a pouco, com o aumento das modalidades esportivas, uma
diáspora que aumenta esse fenômeno de territorialização para guardar
somente a camisa, símbolo do time, em detrimento do bairro de origem. A
necessidade do dinheiro supera o desejo de reconhecimento. A política da
29 Ibidem, maio de 1912.
30 Ibidem, dezembro de 1914, despesa de 40 : 575 $ 750, p.72.

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diretoria do Flamengo passa, não pela assimilação do clube por empatia, mas
por adesão de novos sócios recrutados por cartas-circulares, onde o clube
pede aos titulares de uma carta para matricular esposa e crianças. As
atividades fisicas beneficiam-se então de um ensino, adaptadas a uma
sociabilidade familiar31. Assim, a prática esportiva passa de uma freqüência
dominical a cotidiana, criando ruptura nos hábitos dos sócios que exigiam um
novo lugar para praticar todos os esportes. Em 1922, nasceu o projeto de sede
social na Gávea, que marca inicialmente a paisagem, e depois ganha uma
dimensão de “lugar de memória”, quando as lembranças transmitidas pelos
sócios fundadores e outros testemunhos do tempos pioneiros desaparecem
das conversas. Na Gávea, uma nova vivência esportiva transforma a cultura
do clube. Aliás, há o clube e há o time; porque se a existência do clube, no
caso do Botafogo e do Vasco de Gama, também se deve ao remo, no
Flamengo o crescimento deve tudo ao futebol.
Efetivamente, o surgimento do futebol não se opera na mesmas
condições em toda a cidade. Assim, no caso do Fluminense Football Club,
trata-se de um projeto pessoal. Oscar Cox e sua turma de amigos fundam o
clube depois daquele existir como time. Eles encontraram a maior dificuldade
para solicitar adversários. A cultura do futebol, tanto em práticas quanto em
representações, era mais visível na comunidade inglesa, de forma que Cox
procurou o Rio Cricket Club, que sediou a primeira partida deste esporte
coletivo em Niterói, a 1º de agosto de 190132. O jogo era ainda confidencial e
os times deveriam resolver, depois de reunir 22 jogadores, o problema do
campo. O Paysandu Cricket Club no Rio serviu para receber o segundo jogo.
A freqüência de encontros motivou a criação do clube, a 21 de julho de 1902,
a fim de dar uma identidade e decidir sobre os símbolos indispensáveis ao
reconhecimento imediato: nome, cor da camisa.
A composição do time de 1902 apóia-se em “dirigentes-jogadores”,
que buscam financiar a locação de um terreno situado no bairro de Botafogo,
na rua Dona Mariana. Finalmente, quatro anos depois, o estádio de
Laranjeiras é o maior do Estado do Rio de Janeiro. Os primeiros encontros
internacionais são programados na presença do presidente da República,
31 Em 1917 era possível praticar: pingue-pongue, patinação, natação, ginástica sue-
ca, escotismo. Uma enfermaria é construída para atender tanto as crianças como os
atletas.
32 O placar foi um empate de 1 a 1. cit. in M. Filho, O negro no futebol brasileiro, Pe-
trópolis, Firmo, 1994.

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no século XX

Epitácio Pessoa, fervoroso “rubro-negro”. Lugar de destaque, a tribuna de


honra acolhe altezas européias, como o rei Albert de Bélgica. Ela funciona
como uma academia que junta a elite intelectual: o ator Mário Lago, o
compositor Cartola (fundador da escola de samba da Mangueira), o pianista
Artur Moreira... Um deslizamento do público elegante, habituado ao
espetáculo hípico, realiza-se na direção do espetáculo futebolístico e dá
continuidade à ilusão da mistura social nas áreas recreativas.
Todavia, os clubes monodisciplinares são uma raridade e constatamos
uma presença quase contígua de duas modalidades esportivas, as mais
praticadas nos clubes cariocas: o remo e o futebol, que obrigam os
administradores a deixar o litoral e instalar-se em volta da lagoa, depois do
saneamento e da inauguração do hipódromo. Essa progressão no interior da
cidade vai ordenar âncoras na vida esportiva e participar da reaproximação
dos praticantes com os cidadãos, dentro de novos espaços urbanos. Assim, a
população aproveita a dupla progressão da urbanização e do esporte.

O Maracanã, do hipódromo do povo à consagração da sociabilidade


esportiva popular na zona norte
O projeto do estádio do Maracanã serve para entender o valor
simbólico que as elites dirigentes da prefeitura e os políticos de nível nacional
queriam dar, através de uma arquitetura inovadora que correspondesse a uma
nação competente nos setores técnicos. Mas, também, esse projeto traduz a
relação estreita e apaixonada do carioca com o futebol, sobre o qual foi
construído na memória coletiva um mito brasileiro. O Maracanã corresponde
ao reconhecimento desse esporte e da sua difusão na sociedade. O futebol
realça a política pública, dentro de um projeto maior, como a organização da
copa do mundo. Mas, antes disso, as realizações eram conduzidas por
interesses privados, tais como o hipódromo da Gávea ou o estádio de
Laranjeiras.
Em 1947, quando aparece a candidatura do Brasil para sediar a Copa
de 1950, a prefeitura do Rio de Janeiro evoca a possível extensão do estádio

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do Vasco da Gama33. Os políticos captam a felicidade expressa pelos


torcedores cariocas, em receber um evento de dimensão internacional, e
procuram um modo de resolver o aumento do público do futebol, numa
metrópole de 2 milhões de habitantes.
O projeto municipal corresponde a um plano mais ambicioso do
governo, baseado em uma cidade olímpica em Jacarepaguá, a fim de
acompanhar uma evolução comparável ao Uruguai e à Argentina.
O terreno do Derby Club, abandonado em 1932 depois de sua absorção
pelo Jockey Clube, é escolhido em razão da sua posição central na cidade e
porque as obras preliminares resolvem o problema dos transbordos do riacho
Maracanã.
O Jornal dos Esportes publicou uma sondagem de opinião realizada
na entrada dos estádios cariocas, a 16 e17 de abril de 194734; 79,2% do
público interrogado e 95% de aderentes a um clube se pronunciam em favor
de um novo estádio; 76,8% da população em geral e 85,2% dos sócios
escolheram o sítio do Maracanã35. Um estudo complementar confirmou a
progressão do futebol como lazer preferido do carioca, atrás somente do
cinema.
Tudo mundo tem uma opinião, até o vereador comunista Iguatemi
Ramos, que aprova essa escolha porque, segundo ele, o futebol é mais que o
divertimento do povo, ele significa uma escola de democracia e fonte de
saúde para a massa.
Roberto da Matta pensa que, no caso da sociedade brasileira,
dominada pelo clientelismo e a hierarquização, o futebol virá a ser o primeiro
“ professor de democracia e de igualdade”, porque ele desenvolve, através da
solidariedade entre os torcedores, um sentimento de coletividade e de
integração36.

33 O prefeito do Distrito Federal, Hildebrando de Góes, escreve à Câmara dos Depu-


tados (16 de maio de 1947) para pedir um orçamento de 45 millhões de Cr$ neces-
sários ao aumento do estádio de São Januário.
34 Botafogo, Flamengo, Vasco da Gama, Madureira e Bonsucesso.
35 Jornal dos Esportes, n° do 19 de agosto de 1947, in G. de Araujo Moura, O Rio
corre para o Maracanã, R.J., fundação Getúlio Vargas, 1998.
36 R. da Matta, Antropologia do óbvio, Revista da Universidade de São Paulo, n° ju-
nho-agosto, 1994.

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A 29 de outubro de 1947, a Câmara dos Deputados aprova o Projeto


n°161 B e, em seguida, ele é assinado pelo general e prefeito da cidade,
Mendes de Morais, em 14 de novembro, na sede social da Confederação
Brasileira do Desporte37.
A primeira pedra é colocada a 20 de janeiro de 1948, dia de São
Sebastião e da comemoração da fundação da cidade, por Mem de Sá. O
discurso do Presidente da República esclarece sobre o papel nobre do esporte
como canalizador de energias, devendo o estádio funcionar como um lugar
de exultação. O esporte é percebido pelas autoridades mais como uma
compensação emocional de uma semana de trabalho que de preparo físico
para as necessidades da nação. Essa análise encontra-se nas crônicas
esportivas da época e, notadamente, nos artigos elogiosos de Mário Filho no
Jornal dos Esportes, que já vê nessa catedral pagã, construída pelos deus do
estádio, uma possibilidade de os cariocas expressarem sentimentos proibidos,
impulsos estrondosos, sem ameaçar a ordem social. Principalmente, o
edificio público e a vocação esportiva canalizavam as emoções e também
ordenavam uma outra circulação intra-urbana. É fundamental entender o
estádio, em 1950, como um urbanismo que integrava a noção de comunicação
entre a zona norte e a zona sul, na época limite geo-urbana, e não como uma
fronteira sóciocultural , presente no fim dos anos oitenta.
Além de resolver o dilema de lugar neutro, o Maracanã virou um
elemento de identificação de uma população ordinariamente dividida pela
dedicação quase religiosa a um estádio de clube. E, contrariamente ao projeto
do hipódromo da Gávea, sua existência não significava o desaparecimento
dos estádios concorrentes dos clubes de futebol.
A inauguração feita em dois atos traduz um certo ecumenismo dos
responsáveis pelo projeto que queriam dar uma dimensão cultural à obra e
conseguir a maior adesão do povo. A 16 de junho de1950, o presidente Dutra
e o prefeito Mendes de Morais evocam um Brasil unido olhando para o
futuro, ou seja, uma nova era para o esporte brasileiro. No dia seguinte, os
cariocas são convidados para assistir a um jogo amistoso entre uma seleção de

37 O projeto arquitetural é apresentado por: Orlando da Silva Azevedo, Pedro Paulo


Battos, Antônio Augusto Dias Carneiro e Rafael Galvão, numa comissão presidida
pelo coronel Herculano Gomes.

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jogadores do Rio e de São Paulo38. Os representantes municipais e a opinião


pública, em geral, esperam que este estádio contribua para o desenvolvimento
do esporte no país e para o reconhecimento das capacidades tecnológicas dos
brasileiros.
No conceito de uma construção suntuária, “espelho da sociedade”,
juntam-se o hipódromo da Gávea e o estádio do Maracanã. Uma associação
instaura-se entre as formas da cidade e a arquitetura de uns edificios que
sublinham as visões civilizadoras e modernizadoras do poder político.
Depois, a dissociação dos territórios urbanos se faz em relação às construções
monumentais. O Teatro Municipal, o hipódromo e o Maracanã tornam-se o
epicentro das atividades e ordenam o funcionamento geral em termo de
circulação e de urbanismo39. No caso do Rio de Janeiro, é interessante
ressaltar como a caracterização da zona norte e da zona sul se opera a partir de
projetos arquitetônicos de vocação esportiva que haviam provocado, depois
da haussmannização, iniciada no Centro com o Teatro Municipal e a Avenida
Central, no início do século XX40, e a tentativa de modernização do resto da
cidade, nos anos cinqüenta. Prática esportiva e urbanização evoluíam
paralelamente. O esporte impulsiona uma nova drenagem humana da cidade
na direção desses lugares, o que faz evoluir a sociabilidade.
O corpo construído na academia, um fundamento da arte de parecer
Fora dos lugares de memória dos esportes que consagram,
principalmente, a atividade competitiva profissional, o esporte foi praticado
com o objetivo de melhoramento da saúde. Ele correspondia a um projeto
individual realizado num espaço privado, ordinariamente chamado de
“academia de ginástica.” Logo nas origens, ela ensina, prioritariamente, a

38 O Jornal dos Sports, de 17 de junho de 1950, testemunha o sucesso popular visto


que cerca de 150.000 pessoas assitiram ao jogo.
39 Esta lógica se encontra também em Paris com l’Opéra Garnier, a Tour Eiffel e o
Stade de France. Esses edifícios serviram tanto à renovação urbana, à dimensão
cultural e ao reequilíbrio sóciocultural centro/periferia (no caso Paris intramuros e
o subúrbio de Saint-Denis). No caso do Maracanã, o sucesso esportivo imediato
não impede as críticas de Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, a respeito do
atraso do saneamento desse bairro (cf. Araújo Moura op. cit., p. 47.)
40 J.P. Blay, L’avenue de l’Opéra, a Avenida Rio Branco: paradigmes de la moderni-
té urbaine à Paris et Rio de Janeiro, CD-ROM, production Ministério da Educa-
ção (Brasília) et Ministère des Affaires Etrangères (Paris). Comemoração dos 20
anos da cooperação CAPES-COFECUB, 1999.

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no século XX

ginástica sueca, e também a dança clássica, a musculação, a halterofilia, a luta


livre, o yoga e a natação41. Surgidas como práticas comerciais a partir de
iniciativas privadas, essas academias difundem técnicas esportivas,
obviamente ecléticas, em razão do nível de instrução e da competência do
promotor42. Entre 1895 e 1914, muitos clubes de remo convergiram para o
futebol, enquanto a freqüência familiar da sede social incita a diretoria a
acompanhar a moda de salas de preparo fisico e a diversificar as práticas
ligadas à forma e aos lazeres. Assim, o Flamengo recebe um forte apelo dos
pais para ensinar os filhos a nadar.
Na década seguinte, o surgimento de lugares de práticas esportivas
corresponde à instalação de estrangeiros, formados nos países de origem.
Enéas Campello, instrutor em educação fisica, deixa o Colégio da Luz, em
Lisboa, para ensinar no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde ele abre, em
1925, um ginásio no n°35 da rua das Marrecas43. O sucesso fenomenal incita
Campello a desenvolver o conceito de produtos derivados, vendendo aos
alunos seus próprios pesos e instrumentos de musculação. No mesmo ano,
Naruma Amorim Corder, nascida no Pará, estuda a dança no Royal Ballet
Academy de Londres. Ao retorno, ela instala no Centro do Rio de Janeiro,
numa sala da igreja anglicana da rua Evaristo da Veiga, uma escola de dança
onde se pratica também ginástica rítmica, ginástica acrobática e sapateado.
Em 1931, Gretta Hillefeld, alemã nascida em Dortmund, ensina a
ginástica corretiva na sua casa de Laranjeiras44. Mas a partir de 1938, com a

41 Os dados estatísticos e as instituições esportivas mencionadas vêm de uma pesqui-


sa chamada “Inventário da infra-estrutura desportiva brasileira”, realizada em
1998 e publicada em 2000 pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte,
órgão do Ministério do Esporte e do Turismo. Esse estudo foi constituído a partir de
informações obtidas em 2.602 municípios. Foram também integradas estatísticas
registradas nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catari-
na. Assim, o resultado final corresponde a 3.653 municípios registrados, ou seja,
66,5% dos municípios brasileiros existentes em 2000. Trata-se de completar uma
precedente pesquisa datada de 1971 (ver infra nota 44) e obter o atlas evolutivo do
esporte no Brasil.
42 O fenômeno ocorre também em São Paulo. Em 7 de dezembro de 1890, um grupo
de 23 pessoas, reunido no Hotel d’Albion, funda o Deutsch Turnerschaft 1890. O
presidente, Max Auerbach, quer promover a ginástica na classe rica e estipula um
preço elevado de 10.000 réis de direitos de inscrição e 2.000 réis de mensalidade.
43 J.M. Capinissu e L.P. da Costa, Academias de ginástica, Ibrasa, São Paulo, 1989.
44 Ibidem, rua Pereira da Silva.

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concorrência eslava, ela é obrigada a aumentar sua rede de salas em direção


Copacabana, onde Ana Balinska, primeira bailarina da Ópera de Varsóvia,
abrira uma academia de dança, vizinha daquela de Emma Vargas, húngara,
instalada na rua Djalma Ulrich. Enfim, os russos Pierre Mickailowski e Anna
Grabinski completam o mercado da ginástica e do balé adaptado à
sociabilidade de um bairro, onde a praia e a dança de salão solicitam plástica e
postura45. A vocação esportiva do bairro de Copacabana se confirma através
da valorização de exercícios corporais e das relações sociais, em
conformidade com o banho de mar46.
A holandesa Hellen Als dá início a esse deslocamento em direção à
zona sul, transferindo sua academia de ginástica feminina da rua Gonçalves
Dias (centro da cidade) para a Praia de Botafogo. A ginátisca aparece como
um preparo à exposição do corpo, e a praia como um campo estruturador de
novas relações sociais baseadas numa linguagem corporal.
Num urbanismo em constante progressão, o público do esporte e do
treinamento fisico é perfeitamente identificado pelos pioneiros desse novo
setor comercial, que acompanham a mobilidade residencial dos amadores de
atividades fisicas, assim como a evolução das tendências esportivas.
Além disso, os esportes de combate progridem nessa sociedade
industrializada como mecanismo de buscar ordem social entre os indivíduos.
O modelo militar, mas também a educação, o esporte e o lazer centram-se, em
primeiro lugar, na higiene e na busca da saúde dos praticantes, a partir da
exploração de atividades que auxiliem o desenvolvimento da força, da
resistência física e, principalmente, da disciplina47.
Em 1927, Carlos Gracie, natural de Belém, cria a primeira academia de
jiu-jítsu no bairro de Flamengo, rua Marquês de Abrantes, seguido, pelo
45 L.P. da Costa, Diagnóstico da educação fisica e desportes no Brasil, Fename,
Brasileira, 1971.
46 J.M. Capinussu e L.P. da Costa, op. cit. (1989).
47 O Decreto-lei n° 3.199, do dia 1º de abril de 1941, estabelece as bases de organiza-
ção dos esportes conforme este princípio de disciplina e (art.3) “com objetivo de
mantê- lo dentro de princípios de estreita moralidade.” E o projeto moralizador do
governo Vargas que pretende controlar a violência e motivar o espírito nacional
pelo esporte. cf. F.M. Mezzadri “a estrutura do esporte nas décadas de 30-40”, in
IV Encontro nacional de história do esporte lazer e educação física, coletânea,
22-26 de outubro de 1996, UFMG, Belo Horizonte.

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no século XX

japonês Geo Amori, que inaugura, em 1930, sua segunda academia de judô (a
primeira foi em São Paulo), na Associação Cristã de Moços, na capital
federal. Em 1936, Agenor “Sinhozinho” Sampaio oferece um modelo mais
brasileiro cujo sucesso é imediato junto à juventude de Ipanema, que
freqüenta, na avenida Vieira Souto, sua sala de Capoeira e pratica o
halterofilismo.
Nos anos quarenta, modela-se a academia atual, onde predomina a
ginástica, em razão de um público inicialmente feminino. A proximidade da
praia e as possibilidades de flerte juvenil não são estrangeiras à necessidade
de imponência física dos jovens que reclamam práticas onde a afirmação da
força seja capaz de traduzir uma certa virilidade. A extensão do número dos
praticantes e os progressos na formação dos professores de educação física
provocam outras evoluções: o recuo dos mestres estrangeiros e a emergência
de um estilo brasileiro baseado mais no estetismo do que na performance
esportiva.
Marcelo Benjamin de Viveiro entra nessa tendência quando abre, em
1946, o Ginásio Força e Saúde, onde propõe um método de reforço corporal
por meio de levantamento de peso, buscando a melhoria plástica e não a
obtenção de recordes de halterofilia48. A revista Força e Saúde difundirá esta
técnica, e os resultados obtidos, depois de treinar leitores totalmente
convertidos ao culturalismo não competitivo. Nísio Dourado, proprietário do
Ginásio Apolo, escolhe um nome para a sua academia totalmente adequado a
este novo público49. Paulo Ernesto Ribeiro e os irmãos Ronaldo e Leônidas
Santana entram no mercado da forma inaugurando o Ginásio de Pesos e
Halteres, em Copacabana50. Mas, na efervescência da demanda social, a
multiplicação dos ginásios traz, a este bairro, a concorrência de Augusto
Cordeiro, que junta a prática do judô ao preparo físico51. Esta
complementação procede de uma reflexão pedagógica instaurada por Enid
Sauer, que leciona aulas de ginástica feminina em várias academias

48 Rua Erasmo Braga 277, Centro.


49 Rua do Rosário 99, Centro (inaugurado em 1948).
50 Rua Santa Clara, 217 (inaugurado em 1947).
51 Rua Barata Ribeiro, 530.

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cariocas52. Quanto à sua colega, Yara Jardim Vaz, ela moderniza o ensino da
ginástica rítmica na sua academia do Leblon53.
Cada vez mais diversificadas em termos de práticas e, pois, abertas à
mistura de sexos e de gerações, esse tipo de instituição aumenta sua rede na
direção dos bairros periféricos (São Cristóvão, Cascadura, Marechal
Hermes...) e nas cidades médias (Niterói, Vitória...).
A presença de especialistas japoneses lança uma verdadeira voga do
judô, permitindo ao Brasil formar seus mestres que, por sua vez, fundam
clubes particulares.Yoshinasa Nagashima ensina desde 1950 na Associação
Atlética Banco do Brasil. Takesshi Ueda funda a Academia de Judô
Ren-Sei-Kan, em 1952. Shunji Hinata abre a Academia Japonesa de Judô na
rua Siqueira Campos, em 1958, e Fumio Miva instala a dele em Niterói, um
ano depois. Se efetivamente o início da década é marcado pelos asiáticos, os
cariocas vêm contestar a superioridade deles a partir de 1954. Georges Mehdi
(de origem francesa) conquista o público de Copacabana, o que obriga
Rudolph Hermany a tentar um espaço em Ipanema54, tendo a concorrência,
em 1956, do Judô Clube Haroldo Brito. Em 1960, Lirton Monassa e
Almerídio de Barros, professores na Escola de Educação Física e Desportes
(na UFRJ), oferecem uma outra modalidade do esporte de luta com o Kobu
Kan da praia de Botafogo, instituíção pioneira na difusão do caratê. Enfim,
William Felippe, formado também em educação fisica na UFRJ, abre em
1963, a Academia Shidokan, na rua Clóvis Beviláqua, na Tijuca.
A partir dos anos setenta, as academias existentes evoluíam
incorporando inovações às atividades físicas básicas. Na dança se enxerta a
aeróbica, na luta, a capoeira, na ginástica, a hidroginástica. Todas as técnicas
de fitness vindas, em sua maioria, dos Estados Unidos, encontram um público
sempre em busca de novidade. Esse crescimento procurou se ajustar às
exigências de uma freguesia bem informada e aos modismos de exercícios
físicos, sobretudo daqueles de conservação plástica localizada (tipo

52 Enid Sauer faz parte da primeira promoção da Escolha Nacional de Educação Fí-
sica e Desportes da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) Ele trabalha também na
Associação dos Servidores Civis, para servir à democratização da E.F.
53 Rua Rita Ludolf (inaugurada em 1949).
54 A falta de lugar adequado obriga os promotores do esporte a investir em edifícios
desativados, como o antigo cinema Paz (praça N.S. da Paz, Ipanema), onde Eilthel
Seixas abre uma academia de ginástica e halterofilia.

270 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007


Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

abdominal), dando, às academias, um sentido operacional de marketing,


distinto, portanto, da tradição de legitimidade e de liderança dos países de
onde se originaram as práticas esportivas.
No fim do século XX, encontram-se, em quase toda parte da cidade,
esses tipos de academias que variam segundo a dimensão do local e do poder
aquisitivo dos freqüentadores55. Eles ponderam em relação à proximidade do
domicílio a fim de conceber um programa em função da praia e dos horários
de trabalho. O ordenamento urbano melhora o laço entre os lugares
confinados do exercício físico e os lugares de lazeres abertos,
democraticamente falando, a todos. Notavelmente a ciclovia que liga a Praia
do Flamengo ao Leblon constitui um complemento à academia e um
deambulatório aos esportivos que, ali, são simples pedestres.
A rede, sem se estender muito, se densificou, dificultando a
delimitação do campo social do esporte, onde a coexistência das práticas e
dos grupos sociais parece superior a uma drástica segmentação. A
sociabilidade nas academias não é uma exclusividade da elite, visto que
existe uma hierarquia entre elas, que depende do recurso financeiro que os
aderentes se dispõem a sacrificar no exercício vaidoso da arte de parecer.
O esporte, quaisquer que sejam os lugares de exercício, favorece, por
um lado, a ligação social, dentro de grupos mais ou menos abertos, e, por
outro lado, serve de expressão de diferenciação social tanto como de
excelência corporal. Mas a praia sendo o ponto de convergência de todos, a
identidade passa mais pelo corpo que pelos signos materiais da diferenciação
social. Então, a mistura das categorias serve à diminuição das tensões e à
ilusão da paz urbana.
Conclusão
A urbanidade e a sociabilidade nascidas das práticas esportivas
revelam fragmentações do espaço urbano com a integração de novos grupos
sociais na vida esportiva. Aliás, as dinâmicas pelas quais se construíam as
abordagems da urbanidade (e seus dispositivos) servem a conhecer a

55 As academias absorvem de 60% a 70% dos profissionais de E.F. que entram no


mercado de trabalho em primeiro emprego, a cada ano. Em 2004, no Brasil, há um
número estimado de 20.000 academias que sustentam 140.000 empregos diretos e
agregam 3,4 milhões de usuários, ou seja, 2% da população do país. Estatística no
www.sindicatodasacademias.org.br

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007 271


Jean-Pierre Blay

constituição dos modos de coerência urbana (localização, transporte). A


urbanidade do fenômeno esportivo, portanto, adquire uma forma diversa em
razão do percurso entre o projeto (coletivo principalmente) e sua realização,
impregnada de mediações culturais (abertura mais ou menos controlada da
sociabilidade).
A relação dos cariocas com os espaços dedicados à prática ou à
contemplação do esporte, de modo espontâneo ou de modo organizado, volta
ao século XIX. É claro que o turfe monopolizou muito cedo o lado
apaixonado deles. No entanto, a vontade da elite dirigente, próxima do
Jockey Clube, de aderir a dispositivos institucionais muito europeus (recurso
exclusivo ao puro-sangue) e à modalidades rigorosas de sociabilidade
(tribunas reservadas) impediu uma adesão popular, ainda mais que o
hipódromo da Gávea domina arquitetonicamente a zona sul. Mas a
urbanização permitiu o saneamento da Lagoa e a instalação de clubes de remo
que regatavam antigamente na enseada de Botafogo. Esses ancoradouros de
vida esportiva favorecem uma mixidade social dos competidores e dos
cidadãos. Além disso, a proximidade entre os clubes e a conivência entre os
pioneiros dos esportes náuticos produzem um efeito de stimulus e de
identificação cultural bastante vivaz e duradouro, em razão do
prolongamento dos bairros sobre o litoral e, principalmente, pelo gosto
pronunciado pelo futebol que supera, pouco a pouco, o remo como
modalidade de referência.
Paralelamente, a fundação dos times de futebol e a organização do
campeonato carioca exacerbam as identificações culturais na medida em que
os lugares de encontro esportivo viram seus símbolos (Laranjeiras, Gávea,
Mourisco, São Januário...)
Enfim, a conquista da praia, notadamente possível pela edificação
suntuária de um Copacabana Palace, amplifica o fenômeno esportivo através
da reprodução da sociabilidade balneária européia, e contribui para a busca
da saúde, depois da forma e, agora mais contemporâneo, da beleza,
construída geralmente na academia de ginástica de níveis diferentes.
No fim de século, a vida esportiva coloca em relação novos espaços
urbanos (ciclovia, parque ecológico, academia de ginástica) projetados para
se aproveitar mais da “cidade maravilhosa”. Desde o uso do esporte pelos
remadores para se valorizar na frente da garotada, essa celebração do corpo

272 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):251-273, out./dez. 2007


Discurso de posse: Jean-Pierre Blay
Espaços urbanos, práticas físicas e sociedade esportiva na cidade do Rio de Janeiro
no século XX

limita-se à arte de parecer, superestimada pela cirurgia estética, e revela uma


sociedade mais esportiva, porém mais narcisista.
Podemos reparar também que quanto mais as cidades são poluídas,
mais as práticas do condicionamento fisico são sofisticadas, provavelmente
para que o progresso dê um retorno favorável às agressões do meio ambiental
degradado. As ligações entre urbanismo e urbanidade, sociabilidade e
preocupação corporal, modernidade e elegância constituem uma história
cultural do corpo. Talvez o elemento revelador dessa historicidade não se
encontre no Rio de Janeiro, mas em Paris com um certo Alberto
Santos-Dumont.

JPB

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Jean-Pierre Blay

.....

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A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

III—COMUNICAÇÕES

A PRINCESA LEOPOLDINA DE BRAGANÇA E BOURBON

E A CASA DUCAL DE SAXE-COBURG1


Carlos Wehrs2

Origens remotas
Se fôssemos procurar as origens da Casa Ducal de Saxe-Coburg,
teríamos de voltar ao século XI, ao Castelo-Tronco, que ficava junto a Halle,
nas margens do rio Saale, afluente do Elba. Não sendo esse o nosso propósito
neste trabalho, e sim o de analisar as ligações matrimoniais desta linhagem a
partir do século XIX, começamos com a morte do Duque de
Saxe-Coburg-Saalfeld, em 1806. Nessa época estavam as finanças desta casa
ducal arruinadas, não apenas pelos desmandos dos últimos reinantes,
Cristiano Ernesto (morto em 1745) e Francisco Josias (falecido em 1764),
que reinaram em comum. O filho deste último, Ernesto Frederico
(1764-1800) e seu sucessor Francisco Frederico Antônio, que reinou de 1800
a 1806, consumiram as economias ducais. Mas não só eles. As freqüentes
pilhagens, praticadas pelas tropas de Napoleão, com seus movimentos de
vai-e-vem por aquelas paragens e as batalhas perdidas de Jena e Auerstädt
naquele fatídico ano de 1806, agravaram a calamitosa situação, que somente
a Batalha de Leipzig, sete anos depois, pôde desfazer. O completo
restabelecimento, entretanto, só aconteceu, pouco a pouco, depois de
realizado o Congresso de Viena. Assim, o quase morganático casamento do
Duque Fernando com a Princesa Antônia de Kohary, se não se justifica, ao
menos se explica.

1 Apresentado na CEPHAS em 15.08.2007


2 Sócio titular

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007 275


Carlos Wehrs

Os Oitocentos
O que em séculos anteriores fora quase apanágio da Casa de
Habsburgo, incrementado sobretudo nos últimos tempos pelo todo-poderoso
Metternich (1773-1859), passou a ser, em grande parte, atributo da Casa
Ducal de Saxe-Coburg que, durante os Oitocentos, soube estar presente
praticamente em todas as famílias reais da Europa. Saxe-Coburg,
eminentemente de religião protestante, passou, todavia, a contar, desde os
esponsais do Duque Fernando de Saxe-Coburg com a Princesa Antônia de
Kohary, com um ramo católico, vindo de encontro às outras dinastias deste
credo, e ampliando consideravelmente possibilidades de casamento com as
famílias católicas nobres daquela época.
Primeiramente, no ramo protestante, queremos lembrar o Príncipe
Eduardo, Duque de Kent, quarto filho do Rei George III da Inglaterra que, em
1818, desposou a Princesa Vitória Maria Luisa de Saxe-Coburg, e desta união
nasceu, em 1819, Vitória, a celebrada Rainha Vitória, que reinou durante 64
anos e chegou a imprimir seu nome a toda uma era, da chamada ‘Idade
Contemporânea’. A Rainha Vitória, por sua vez, contraiu núpcias, em 1840,
com o Príncipe Alberto de Saxe-Coburg-Gotha.
Alguns anos antes o Príncipe George Cristiano Frederico,
terceiro filho do Duque Francisco de Saxe-Coburg, nascido em 1790, fora
eleito Rei dos Belgas pelo Congresso Nacional, em 1831, com o título de Rei
Leopoldo I. Este, como é sabido, teve numerosos descendentes, passando por
Leopoldo II, de cujo irmão Philippe descenderam os reis Alberto I, Leopoldo
III e Balduino I, já em nossos dias.
Também a Rainha Vitória teve numerosa prole, e o sangue dos
Saxe-Coburg espalhou-se em outras casas reinantes da Europa. Assim, seus
filhos Vitória, desposando Frederico III, foi Imperatriz da Alemanha;
Eduardo VII, Rei da Inglaterra, pai de George V e avô do Príncipe de Gales
(que reinou sob o nome de Eduardo VIII de janeiro a dezembro de 1936) e de
seu irmão George VI, que desapareceu em 1952, que foi o pai da atual Rainha
Elizabeth II. A Rainha Vitória foi também mãe da Princesa Alice (que
desposou o Duque de Hessen); do Príncipe Alfredo, que era Duque de
Edinburgh e Duque de Coburg (que casou com Maria da Rússia, filha do Czar
Alexandre II) e, ainda, do Príncipe Leopoldo, Duque de Albany, todos eles
com sangue de Saxe-Coburg nas veias.

276 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007


A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

O mencionado Príncipe Alfredo, falecido em 1900, teve um filho que


morreu cedo, e quatro filhas: Maria, que desposou o Rei Fernando da
Romênia; Vitória Melita tornou-se, pelo casamento, Grã-Duquesa da Rússia;
Beatriz, casou com Afonso XIII, da Espanha, e a Princesa Alexandra
desposou o Príncipe Ernesto de Langenburg.
Até mesmo à Hungria e à Bulgária os Saxe-Coburg estenderam suas
raízes. O ramo católico da dinastia, já o dissemos, foi fundado pelo Príncipe
Fernando, irmão do Rei Leopoldo I, da Bélgica. Fernando casou (para salvar
as abaladas finanças de sua estirpe) com a Princesa de Kohary, de família de
magnatas húngaros, que só muito recentemente – 1815 – havia sido
nobilitada e que se extinguiu em 1826, isto é, onze anos após, com a morte de
seu Príncipe Francisco José de Kohary. Sua única filha, Antônia
(1797-1862), teve dois filhos: o Duque Fernando de Saxe-Coburg-Kohary
(1816-1885) e o Príncipe Augusto Luís Vítor de Saxe-Coburg-Kohary
(1818-1881).
Chegara, então, também, a vez da dinastia de Bragança receber o seu
quinhão, quando D. Maria II (nossa D. Maria da Glória, filha de D. Pedro I e
de D. Leopoldina), tendo enviuvado do Príncipe Augusto de Leuchtenberg,
desposou, no ano seguinte, D. Fernando de Saxe-Coburg-Kohary, que tomou
o título de Rei Fernando II de Portugal. Desse matrimônio resultaram onze
filhos, custando à Rainha a vida o nascimento do último, em 1853. Dos
descendentes foram reis de Portugal D. Pedro V e seu irmão D. Luís I e os
filhos D. Carlos I e neto D. Manuel II, até 1910.
Por sua vez o Príncipe Augusto Luís Vítor de Saxe-Coburg-Kohary
casou com Maria Clementina de Orléans (… 1907), filha do Rei Luís Filipe de
França. Seus filhos: Filipe, Príncipe de Coburg (… 1921), casou com Luísa,
filha do Rei Leopoldo II, da Bélgica; Fernando ou Ferdinando (Maximiliano
Carlos Leopoldo Maria, 1861-1948) foi seu filho caçula, e que esteve no
Brasil em 1879, acompanhando seu irmão Augusto, para estudos de botânica,
mais tarde publicados pelo governo austríaco. Foi eleito pelo povo búlgaro,
em 1887, quando assumiu o trono, na qualidade de czar da Bulgária com o
título de Ferdinando I. Não foi logo reconhecido como tal pelas cortes
européias e a Rússia até o hostilizou. Em 1893 casou com a Princesa Maria
Luísa de Bourbon, filha do Duque Roberto de Parma. Somente em 1896 as
nações da Europa confirmaram a eleição de 1887 da Bulgária,

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007 277


Carlos Wehrs

reconhecendo-o como Czar. Teve de abdicar em 1918 por ter perdido a guerra
ao lado dos Impérios Centrais.
Outro filho de Augusto Luís Vitor e Maria Clementina de Orléans foi
Luis Augusto Maria Eudes, Duque de Saxe-Coburg-Gotha, que desposou D.
Leopoldina de Bragança e Bourbon, do Brasil.
O último grande casamento entre príncipes, realizado em Coburg,
ocorreu no século passado, em 1932: a Princesa Sibila, filha do Duque Carlos
Eduardo, então regente do ducado, contraiu matrimônio com o Príncipe
Gustavo Adolfo, da Suécia, e nasceu-lhes, em 1946, o Príncipe Carlos
Gustavo, depois rei daquele país escandinavo.

278 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007


A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

Os derradeiros sete anos da Princesa


Como se pode aquilatar do exposto, dificilmente haveria na Europa do
Século XIX família nobre mais bem relacionada do que os Saxe-Coburgo.
Quando surgiu a idéia de contratar casamentos para as duas filhas de nossos
imperantes, apareceram naturalmente, de todos os lados, sugestões as mais
diversas, procurando cada qual proteger os seus interesses, conforme se pode
avaliar pela correspondência recebida por D. Pedra II, vinda das diferentes
cortes do Velho Mundo. A escolha não seria fácil, em virtude dos numerosos
aspectos a serem considerados, até que, quase inopinadamente, sem qualquer
compromisso maior, preestabelecido, apenas com discretas indicações e
esperanças de parte a parte, aportaram no Rio de Janeiro aqueles a quem
caberiam as mãos de nossas Sereníssimas Princesas. Tratava-se de candidatos
ambos de elevada estirpe, conduta ilibada, instruídos e finamente educados,
corteses e de aparência bem aceita pelas moças. Uns apoiavam o francês,
outros o alemão, para consorte da herdeira do trono, sem em verdade
encontrarem uma razão forte ou uma explicação plausível para a escolha.
Talvez influíssem as idades de cada um, ou a experiência em assuntos bélicos
(Conde d’Eu) ou, ainda, a desenvoltura no trato pessoal (Duque de Saxe),
mas, de fato, eles tinham origens iguais: em suas veias corria o mesmo
sangue!
O Rei Luís Filipe I, da França, casara com Maria Amélia de Bourbon,
com quem teve oito filhos. O segundo filho deste casal era Luís Carlos Filipe
Rafael de Orléans (Duque de Nemours); desposando Vitória Augusta
Antonieta de Saxe-Coburg-Gotha, tiveram como filho o Conde d’Eu (Luís
Filipe Gaston d’Orléans), que veio a casar com D. lsabel.
Uma das filhas do mesmo Rei Luís Filipe I, Maria
Clementina d’Orléans, casou com o Príncipe Luís Augusto Vitor de
Saxe-Coburg-Gotha (irmão de Vitória Augusta Antonieta de
Saxe-Coburg-Gotha, mãe do Conde d’Eu), cujo filho era o Duque Luís
Augusto, que desposou D. Leopoldina.
Eram, portanto, os dois candidatos, não apenas primos, mas primos
coirmãos, isto é, primos filhos de irmãos. Por coincidência, ambos haviam
nascido no Castelo d’Eu, propriedade dos Orléans, na Normandia.*3
*
3 Houve, evidentemente, surpresa após o desfecho, sobretudo na Europa. Afirma-se
que a rainha da Inglaterra teria dito: “Ce n’est pas cela que je m’attendais"; talvez

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007 279


Carlos Wehrs

A esposa do Conde d’Eu alcançou a idade de 75 anos, ao passo que sua


irmã, Leopoldina, só viveu 23 anos e alguns meses. Após ter tido ela o seu
quarto filho, em fins de 1870, em Viena, ainda debilitada pelo parto recente,
ali contraiu febre tifóide em janeiro de 1871, à qual não resistiu, vindo a
falecer em 7 de fevereiro.*4* Seu corpo foi trasladado para a cidade de
Coburgo em companhia do esposo, da irmã e do cunhado. Até hoje lá
repousa, pouco lembrada pelos seus patrícios. Os livros de história pátria, em
geral, não lhe concedem espaço.
No mesmo ano de sua morte, 1871, nosso Imperador e sua
comitiva estiveram em Coburgo para reverenciar a memória da infeliz
duquesa. Foi em 31 de agosto, e no dia imediato houve missa na cripta, na
igreja de Santo Agostinho. À chegada do trem com os imperiais visitantes,

contasse com um membro dos Coburgos como futuro dirigente da nação brasileira (in
R. IHGB,v 424 p. 111, Carta de 2.7.1866 de visc. do Itaúna a D. Pedro II).
**
4 Em carta datada de 18.6.1866 o visc. de Itaúna, que sua família nas viagens pela
Europa, já comentava que a água em Viena era má, e que eram freqüentes ali os casos
de tifo (R. IHGB n° 424, ps. 107/108, em carta a D.Pedro II).

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A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

eram eles esperados por uma guarda de honra e entre as pessoas gradas
presentes destacavam-se o viúvo com os seus dois filhos mais velhos D.
Pedro Augusto e D. Augusto Leopoldo; o duque reinante Ernesto II e sua
consorte, a Duquesa Alexandrina de Baden; e, também o Príncipe Alfredo,
segundo filho da Rainha Vitória, Duque de Coburgo, velho conhecido dos
nossos monarcas, por ter estado duas vezes no Rio de Janeiro, uma vez antes
de ter-se iniciado e, novamente, depois de encerrada a Questão Christie.
Durante a segunda viagem empreendida à Europa pelos
imperantes brasileiros só compareceu a Coburgo a Imperatriz (12.9.1876),
tendo permanecido em Bad Gastein (Áustria) o Imperador, e de lá seguiram
viagem.
Em 1887, quando em 1° de outubro o Casal Imperial retornou
a Coburgo – o luto há muito passara – foi ele recebido na estação de trem com
banda de música, executando o Hino Nacional Brasileiro. Era já noite, e no
dia seguinte, pela manhã seguiram mais uma vez para a igreja de Santo
Agostinho. Houve missa e logo após colocaram-se coroas de flores sobre a
tumba da Princesa e também sobre a do Príncipe Augusto, seu sogro, falecido
em 1881, que também já ali repousava, mas noutra cripta.
* * *
D. Leopoldina, já no segundo ano de casamento, dava à luz, no Rio de
Janeiro, o seu primogênito D. Pedro Augusto, em 19.3.1866. Dois meses
depois partiam ela e o Duque de Saxe em viagem e só retornaram em
2.9.1867, estando ela grávida no 6° mês, e em 6.12. nascia-lhes D. Augusto
Leopoldo. Em 21.5.1869, veio o terceiro filho, D. José Fernando, e o quarto
filho nasceu-lhes em Viena, em 15.9.1870, Dom Luis Gastão.
Sua irmã Isabel até então não engravidara; era problema conjugal e
nacional, que a mantinha preocupada. Percorrera as estações de águas ditas
‘virtuosas, como Caxambú, em Minas e de Luchon, na Suíça, sem obter o
resultado almejado. Somente após a morte de D. Leopoldina conseguira
engravidar, e em 28.7.1874 dera à luz sua primogênita, mas que não viveu.
No ano seguinte, em 15.10.1875, novamente sob os cuidados do obstetra
francês, prof. Depaul, trazido expressamente ao Brasil, nasceu Pedro, que
sobreviveu, embora com seqüela do parto operatório.

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Carlos Wehrs

Quanto aos descendentes de D. Leopoldina, D. Pedro Augusto cursou,


no Rio de Janeiro, o Colégio D. Pedro II e a Escola de Engenharia. Faleceu,
sem geração, em 1934. D. Augusto Leopoldo seguiu a carreira naval. Quando
em viagem de circunavegação ao globo foi surpreendido pelo fim da
monarquia no Brasil, e o almirante Custódio José de Melo, cumprindo ordens
do Governo Provisório, desembarcou-o em Colombo, no Ceilão. Não
podendo retornar à pátria, passou-se para a marinha austríaca, onde alcançou
a patente de capitão-de-mar-e-guerra. Morreu em 1922. D. José Fernando
faleceu aos 19 anos, de pneumonia, em 13.8.1888, em Viena. Foi sepultado
em Coburgo numa cripta, na igreja de St° Agostinho. E D. Luis Gastão,
falecido em 23.1.1942, foi também inumado em Coburgo.
Recente estada na Alemanha (outubro de 2006) ensejou-nos também
uma visita a Coburgo, a fim de conhecer o local tão caro aos nossos
imperantes. Ali colhemos imagens com que tencionámos ilustrar o presente
trabalho, imagens essas que creio não terem sido ainda mostradas nas poucas
publicações a respeito. Planejada a viagem, tivemos a sorte de comentá-la
com nosso amigo e confrade Fernando de Tasso Fragoso Pires, que nos
forneceu algumas indicações precisas, pois lá já estivera, e que aqui
agradecemos. Chegando ao local e descobrindo pelo mapa a igreja citada,
pedimos na casa paroquial anexa para facilitarem-nos uma visita às tumbas.
Imediatamente bem atendidos, encontramos franco acesso e tudo iluminado.
No sarcófago ao lado do de D. Leopoldina encontram-se os
restos mortais do Duque de Saxe-Coburg-Gotha, D. Augusto, falecido em 14
de setembro de 1907, em Carlsbad, na Boêmia.

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A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

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Carlos Wehrs

LEGENDAS DAS FIGURAS:


1- A igreja paroquial de Santo Agostinho, católica, em estilo
neogótico, terminada de construir em 1860. Nela repousam, no subterrâneo,
15 membros da linhagem católica da Casa Ducal de Saxe-Coburgo, entre eles
D. Leopoldina de Bragança e Bourbon, duquesa de Saxe. Situa-se no sopé da
colina em que está a grande fortaleza (“Veste”), que domina a pequena cidade
de Coburg (Baviera).
2- A capela subterrânea da qual, de cada lado, se encontram as criptas
com os ataúdes; alguns mortos foram inumados no próprio chão e cobertos
por lápides com inscrições, sobre as quais se transita. Chama a atenção, ali,
pela suntuosidade, a cripta dos Kohary, espaçosa, bem iluminada por
candelabros. Encerra os esquifes do czar Ferdinando I, da Bulgária, em
primeiro plano, e os de seus progenitores, logo atrás.
3- No lado oposto, outras criptas, menores, mais singelas, uma delas
contendo dois sarcófagos: o da duquesa Leopoldina, à esquerda, e o da direita
que encerra os restos mortais de seu consorte, o duque Augusto, falecido em
1907, em Carlsbad.
As criptas menores são suficientemente iluminadas e altas, contando
com boa ventilação, proporcionada por pequenas janelas, providas de grades
e telas de arame, que se comunicam com o exterior do templo.
4- O sarcófago de D. Leopoldina é, como o ao lado, em mármore
branco, lavrado, não polido. Sobre ambos os tampos há esculpida uma cruz.
Nas faces laterais, ao centro no da Princesa está seu brasão, bem visíveis as
armas da Casa Ducal de Saxe-Coburg-Gotha, com as cinco coticas em faixa,
atravessadas em banda, e, à direita, as armas da Casa Imperial do Brasil.
Ao centro, no alto da parede está a janelinha de ventilação; À sua
esquerda, em mármore branco, esculpido, um quadro religioso orna a parede,
à cabeceira do ataúde de D. Leopoldina; mostra dois anjos, denotando
sofrimento e velando o sepulcro, apoiados na cruz e escorando lápides com
inscrições. Abrindo-se para cima do sarcófago do lado oposto, há um vitral,
representando os brasões ducais; foi ofertado por Dom Pedro II.
5- Mostramos o brasão descrito; o do lado oposto encontra-se a poucos
centímetros da parede da cripta, só perceptível ao tato e não pôde ser copiado.

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A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

Aos pés do ataúde, uma inscrição gravada no mármore, em alemão


que, traduzida, informa:

1 - Igreja paroquial de Santo Agostinho

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Carlos Wehrs

2 - Capela subterrânea

3 -Criptas

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A Princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon e a Casa Ducal de Saxe-Coburg

4 - Brasão do sargófago, da Princesa Dona Leopoldina

5 - Inscrição em Alemão gravada no ataúde da Princesa Dona Leopoldina em Alemão

LEOPOLDINA PRINCESA DE SAXE-COBURGO-GOTHA DUQUESA DA


SAXÔNIA, NASC. PRINCESA DO BRASIL NASCIDA EM 13 DE JULHO
DE 1847 NO RIO DE JANEIRO FALECIDA EM 7 DE FEVEREIRO DE
1871 EM VIENA.

R.I.P.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 275-289, out./dez. 2007 287


Carlos Wehrs

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

O NOME DO BRASIL: USOS DO PASSADO E POLÍTICA DA


LÍNGUA

Paulo Knauss1

Em 1922, a comissão de lexicografia da Academia Brasileira de Letras


resolveu deliberar sobre a grafia da palavra “Brasil”. A proposta inicial foi
feita por Coelho Neto, o acadêmico brasileiro que figurava entre os autores
mais famosos e vendidos da língua portuguesa daquele período e, que, além
disso, era publicado pela conhecida casa editorial portuguesa dos irmãos
Lello. O parecer conclusivo proposto por Afrânio Peixoto e Silva Ramos,
datado de 14 de dezembro de 1922, foi, finalmente, aprovado na sessão de 18
de janeiro de 1923, fazendo um balanço da massa crítica acumulada sobre a
questão. De modo resumido, a Academia afirmou, então, que o nome do
Brasil deveria ser escrito com S e não com Z. 2 Oficialmente, no Brasil essa
mudança foi consagrada pelo Decreto 20.108 de 15 de junho de 1931.
Essa história de sabor anedótico permite abordar as relações
luso-brasileiras a partir da história da língua, ou, melhor, da ortografia, tendo
o nome do Brasil como estudo de caso. Normalmente, os estudos de história
da língua servem, sobretudo, para desnaturalizar a língua e a comunicação.
Tomando este pressuposto é possível também enfatizar que a língua pertence
ao campo das relações internacionais e ilustra as possibilidades de uma
história cultural das relações internacionais que ultrapasse a história
diplomática tradicional.3 Para tanto, interessa sublinhar que a diplomacia
oficial não é a única instituição das relações internacionais, o que permite
também explorar outras fontes além das diplomáticas. No caso do estudo
sobre a ortografia da língua portuguesa, a Academia Brasileira de Letras e a

1 Professor do Departamento de História da UFF


2 PEIXOTO, Afrânio e RAMOS, Silva. Graphia da palavra “Brasil”. Revista da
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, n. 16, p. 298-303, 1924.
3 Como referência para este debate, veja-se: ROLLAND, Denis (dir.). Histoire
culturel des relations internationales. Paris, Harmattan, 2002.

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Paulo Knauss

Academia de Ciências de Portugal aparecem como as instituições de


referência para abordar as relações luso-brasileiras. Na sua documentação, é
que podemos encontrar a manifestação de seus membros, autores da língua
portuguesa no Brasil e em Portugal, como os sujeitos sociais de destaque do
domínio da expressão na língua portuguesa dos dois lados do oceano
Atlântico, e como agentes das relações entre os dois países por meio do
espaço da língua.
Por outro lado, a história da Academia Brasileira de Letras, criada em
1897, renovou a cena intelectual do Brasil da República proclamada em
1889. Nesse tempo, da virada do século XIX para o XX, o projeto e a
consagração da ABL, como instituição social, inspirada no modelo
acadêmico francês, permitiu afirmar a identidade social dos escritores e
garantir seu reconhecimento público.4 O debate sobre o nome do Brasil
permite também considerar como a ABL caracterizou o universo das palavras
e da língua como campo de construção de representações do passado.
Pouca gente se lembra que nos documentos antigos, Brasil era escrito
com Z. É assim que a primeira Constituição de 1824 nomeava o Império do
Brasil, com Z. Do mesmo modo, a letra Z marcou a afirmação republicana dos
Estados Unidos do Brasil, também com Z.
O fato curioso é que nos dias atuais, diante do olhar sem memória, a
grafia do nome do país com Z caracteriza o tratamento da língua inglesa, o
que dá margem a diversas alusões sobre as relações do Brasil com os EUA e a
ordem do imperialismo. Assim, por exemplo, a letra da canção Querelas do
Brasil, composta por Aldir Blanc e Maurício Tapajós, e gravada por Elis
Regina no início dos anos 80, afirma que “o Brazil (com Z) não conhece o
Brasil (com S)”, e diz ainda que “o Brasil (com S) nunca foi ao Brazil (com
Z)”. A dialética da diferença na letra ganha um tom de denúncia ao afirmar
que “o Brazil (com Z) tá matando o Brasil (com S)”. É assim que o nome do
Brasil representa um quadro das relações internacionais dos nossos tempos.
Não se pode deixar de lembrar, igualmente, que a terra do Brasil, assim
como seu nome, é produto da Expansão Européia, do conhecimento e dos
diversos modos de abordar a novidade do Novo Mundo. Martin
Waldseemüller, o primeiro a usar o nome América, inscreveu na sua
cartografia o nome na região que hoje corresponde ao Brasil, na atual
4 EL FAR, Alessandra. A encenação da imortalidade. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2000.

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

América do Sul. A história fez com que o nome América tenha sido
consagrado para nos referirmos genericamente ao hemisfério ocidental de
três partes. Com o tempo, porém, o nome do hemisfério foi seqüestrado para
designar ao mesmo tempo um único país: os Estados Unidos da América –
originando uma confusão incômoda na hora de definir a gente e os ideais
americanos como continentais ou nacionais.
Por sua vez, a construção do domínio colonial português nas terras do
Novo Mundo procurou sempre afirmar uma toponímia de marca religiosa que
não sobreviveu ao tempo. É assim que a América portuguesa foi chamada de
terra de Santa Cruz, traduzindo um uso político da toponímia, em geral,
associado pela historiografia desde Jaime Cortesão, com a política de sigilo
ibérica. Apesar das intenções portuguesas, o interesse na exploração colonial
terminou caracterizando a toponímia da terra do novo continente pelos seus
produtos coloniais, dando evidência às riquezas do Novo Mundo. O Brasil,
antes de ser só Brasil, foi, assim, também, Terra dos Papagaios e Terra do
Pau-brasil, identificando as práticas de nomear a terra de navegantes e
cartógrafos envolvidos com o comércio colonial e a defesa da liberdade dos
mares, colaborando para derrubar, ao longo do século XVI, a pretensão
ibérica exclusivista expressa no tratado de Tordesilhas de 1494. Foi assim
que os franceses se destacaram no processo de nomear a terra do Brasil.
Pode-se concluir, portanto, que o nome da terra, naquela altura, foi envolvido
na disputa colonial e na rivalidade entre os estados europeus colonizadores. 5
O nome do Brasil, então, historicamente foi um fato das relações
internacionais, muito antes da querela ortográfica da primeira metade do
século XX.
No mesmo ano do Descobrimento da América aparece, na cidade
espanhola de Salamanca, a primeira Gramática da Língua Castelhana, de
Antonio de Nebrija (1441-1522). Trata-se da segunda gramática de língua
vulgar da Europa, depois do italiano. Consta, em 1493, do prólogo de
Antonio de Nebrija: “Siempre la lengua fué compañera del império”.6 Desse
modo, o autor castelhano repetia de outro modo um argumento anterior de

5 KNAUSS DE MENDONÇA, Paulo. Rio de Janeiro da pacificação: franceses


e portugueses na disputa colonial. Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio
de Janeiro – Secretaria Municipal de Cultura, 1991.
6 Prólogo a la gramática de la lengua castellana.
http://www.ensayistas.org/antologia/XV/nebrija/. 12 de janeiro de 2007.

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Lorenzo de Valla, em Elegâncias da Língua Latina, de 1471. Mas enquanto


Valla usava o argumento para defender o uso do latim na Itália do seu tempo,
Nebrija vai procurar valorizar a língua castelhana para promover o Estado
hispânico no mundo. Interessa é sublinhar o vínculo entre política e língua.
Os estudiosos da história da língua portuguesa sublinham o fato de que
esta mesma motivação se encontrava na obra de Fernão de Oliveira,
Gramática da linguagem portuguesa, de 1536, e depois nos Diálogos em
louvor de nossa língua e na Gramátca da Língua Portuguesa, de João de
Barros, ambas de 1540, e na Defesa da Língua Portuguesa de Pero
Magalhães Gândavo, de 1574 e nas suas Regras que ensinam a ortografia da
língua portuguesa. No caso de Portugal, não só a afirmação de seu império
colonial se colocava por meio do controle e da promoção da língua
portuguesa, mas também a necessidade de distinção diante de Espanha. 7
A França inovou com a criação da Academia Francesa, no tempo do
Cardeal Richelieu a partir de projeto de Nicolas Faret, com a missão de fixar a
língua francesa. Mas a sua história traduz o princípio de que a política da
língua acompanhou a política de unificação do reino e que caracteriza os
vínculos entre língua e poder na Europa desde a época Moderna.8
O colonialismo europeu vai deixar um legado lingüístico aos países
das Américas, que afirmaram sua independência política no início do século
XIX. Os Estados nacionais americanos – como Angel Rama afirmou, em seu
livro clássico, A cidade das letras – enfrentaram o dilema de se constituírem
como corpo político autônomo que recusava a autoridade metropolitana, mas
sem conseguir se desvincular de um patrimônio lingüístico herdado.9 No caso
do Brasil, a situação política ímpar de ter se constituído um corpo social
monárquico que se reunia em torno de um ramo da família real portuguesa
permitiu que, do ponto de vista hegemônico, a leitura da história e da
independência nacional se fizesse sem rejeitar por inteiro os laços com

7 BUESCU, Maria Leonor Carvalhão. Gramáticos portugueses do século XVI.


Lisboa, ICP, 1978.; e LABORINHO, Ana Paula. Da descoberta dos povos ao
encontro das línguas: o português como língua internediária a Oriente.
http://www.humanismolatino.online.pt/v1/pdf/C003-010.pdf. 12 de janeiro de
2007.
8 MERLIN-KAJMAN, Hélène. La langue est-elle fasciste? Langue, pouvoir,
enseignement. Paris, Seuil, 2003.
9 RAMA, Angel. Cidade das letras. São Paulo, Brasiliense, 1985.

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

Portugal, mesmo com a ruptura da subordinação política. Em 1889, com a


proclamação da República e a afirmação de um novo regime político em
substituição à monarquia, as referências do panorama cultural também se
alteraram. O modelo republicano e presidencialista se identificava com o
mundo americano de modo mais profundo e traduzia a vontade de se afastar
do modelo dos regimes monárquicos de tradição européia. A família imperial
dirigiu-se para o exílio em Portugal, onde a monarquia ainda era o regime
vigente.

DOS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO


A proclamação da República em 1910, em Portugal, vai tornar a
aproximar o mundo institucional da política do Brasil e de Portugal. Em
trabalho recente, Maria José Ferreira dos Santos apresenta um quadro geral
das relações entre Brasil e Portugal, entre 1889 e 1922, e demonstra como as
relações luso-brasileiras não podem ser tratadas como lineares.10 A partir da
independência do Brasil ocorre um declínio progressivo das relações
políticas e comerciais entre Portugal e Brasil. A mudança de regime político,
em 1889, representou um período difícil das relações entre os dois países, e
chegou a levar à ruptura das relações entre os dois Estados em 1894. A
proclamação da República representa um corte definitivo com a união
familiar que subsistia sob o regime monárquico português e brasileiro. Nesse
sentido, o processo de reconhecimento do novo regime por parte de Portugal
não foi simples – mesmo depois de Quintino Bocaiúva, o novo ministro das
relações exteriores brasileiro, ter anunciado por parte da República do Brasil
o respeito e a continuidade de todos os tratados do regime anterior. Mas foi no
Portugal monárquico que a família imperial encontrou seu primeiro exílio.
Pouco tempo depois, com a morte da imperatriz Teresa Cristina, o próprio
imperador decidiu deixar Portugal para facilitar a relação entre os dois países.

De fato, o relacionamento entre os dois Estados se complica é com a


aprovação da lei de naturalização ampla, assinada pelo presidente da
República Deodoro da Fonseca, em 14 de dezembro de 1889, quase um mês

10 FERREIRA DOS SANTOS, Maria José. Du ‘prolongement’ à la normalisation


republicaine: Brésil-Portugal, 1889-1922; tese de doutorado em História Con-
temporânea – orientador : Denis Rolland. Strasbourg, França, Université de
Strasbourg 3 – Robert Schumann, 2006. 2v.

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Paulo Knauss

depois da proclamação da República no Brasil. Esta lei, segundo Ferreira dos


Santos, ao permitir amplo acesso à cidadania brasileira, representou um
ameaça aos interesses portugueses, ao representar um perigo para a
continuidade das remessas que os emigrantes portugueses faziam para
Portugal, que atingiam grandes somas anuais e animavam a economia
lusitana. Esta lei, na verdade, era produto de um processo de discussão
anterior que se inicia na década de 1870 no Senado do Império. Sua
aprovação coloca no centro das relações luso-brasileiras a questão da
imigração.
Contudo, é preciso acrescentar a essa discussão o fato de que esta lei
representava o reconhecimento de que o novo regime proclamava uma
cidadania não sustentada em uma homogeneidade de padrão étnico –
desvalorizando, especificamente, o papel da língua. Tal como colocada, a lei
não colocava como problema o domínio da língua nacional.
Na seqüência dos acontecimentos, esse processo se combina com a
fase xenófoba do governo nacionalista de Floriano Peixoto de bases radicais,
ou jacobinas, como ficaram conhecidos seus grupos de apoio popular. A
Revolta da Armada de 1893 foi um fato marcante na história das relações
entre Portugal e Brasil, no fim do século XIX. O representante diplomático
português se afirmou como o porta-voz da comunidade internacional no Rio
de Janeiro, durante o período do conflito. E foi Portugal que acabou
oferecendo exílio às lideranças dos rebeldes, que, no porto de Buenos Aires,
fugiram do barco em que deviam ser embarcados para Portugal. Esse fato
condicionou a decisão do governo brasileiro de romper relações com
Portugal. O caráter involuntário da fuga era reconhecido na nota de ruptura
das relações diplomáticas, mas não evitou a decisão da ruptura, segundo
Maria José Ferreira dos Santos. Por outro lado, os EUA enviaram apoio
militar de um navio de guerra, colaborando com o governo brasileiro
estabelecido. A diferença de atuação de Portugal e dos EUA, diante dos
acontecimentos da Revolta da Armada, acirrou ainda mais a posição
pró-americana do novo regime político brasileiro, o que representou, naquela
altura, um afastamento da Europa e especialmente de Portugal.
A mudança de regime político em Portugal apresentou um novo
quadro. Em 1908, dom Carlos e o príncipe herdeiro são assassinados. Nesse
momento, organizava-se uma viagem oficial do rei português ao Brasil, que
não chegou a se realizar. As perturbações políticas que se seguiram na época

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

levaram à proclamação da República portuguesa em 1910. Às vésperas da


queda da monarquia lusitana, Hermes da Fonseca fazia uma visita oficial a
Portugal como presidente brasileiro eleito. O Brasil jogou um papel
importante no reconhecimento do novo regime em Portugal, segundo Ferreira
dos Santos. Mesmo tendo hesitado, diante da preocupação com a questão da
imigração que envolvia, sobretudo, Itália e Espanha, o país mobilizou países
das Américas para reconhecer o novo governo. Ao ver que vários países
preparavam seu processo de reconhecimento, anunciou em primeiro lugar,
pouco antes da Argentina, sua decisão oficial.
A proclamação do regime republicano em Portugal dividiu a colônia
portuguesa no Brasil. Assim, o governo lusitano organizou-se para mobilizar
as colônias de portugueses no Brasil, promovendo laços de identidade e a
manutenção de vínculos com Portugal. Inúmeras foram as iniciativas de
governo para aproximar a comunidade portuguesa no Brasil do novo
governo, criando, por exemplo, novas instituições de representação da
cultura portuguesa no Brasil, a Câmara de Comércio e promovendo
assistência social. Nos meios intelectuais emergiu a idéia de uma
aproximação luso-brasileira. Ganhou espaço também, nessa época, o projeto
de confederação luso-brasileira na Academia de Ciências de Lisboa,
inicialmente proposto em 1908. A proposta foi sistematizada por Zophino
Consiglieri Pedroso, presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa,
enfatizando vários itens referentes à colaboração comercial e diplomática, e
deixando em plano secundário a aproximação intelectual, científica, literária
e artística, sem destacar o papel da língua. Após a morte de Pedroso, em 1910,
o projeto segue sendo representado por Alberto de Oliveira, que colaborava
com o Jornal do Commercio, do Rio. Em 1915, se cria a revista Atlântida,
co-dirigida pelos escritores Paulo Barreto (João do Rio) e o português João de
Barros. Na revista, apresenta-se a proposta de uma confederação
luso-brasileira, proposta por Bettencourt Rodrigues, caracterizada por uma
política atlântica (Rio-Luanda- Lisboa) e elemento de estabilização
internacional, segundo Maria José Ferreira dos Santos.
O nacionalismo, por sua vez, dividiu as opiniões no Brasil. No início
da República, o jacobinismo representou claramente o partido antilusitano,
defendendo o brasileiramento, o que reforçava a defesa do americanismo em
termos de política externa. Nos anos da década de 1910, as manifestações
antilusitanas reaparecem no contexto das disputas do movimento operário.
No contexto da Primeira Guerra Mundial, o nacionalismo serviu como

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motivo de intensa mobilização social. Em 1917, surge a Liga de Defesa


Nacional, tendo como principal bandeira pública a defesa do serviço militar
obrigatório e depois o grupo antilusitano Propaganda Nativista (1919), a
revista Brazilea (1917-1918), o semanário Gil Blas (dirigido por Alcibíades
Delamare). Em 1920 cria-se a Ação Social Nacionalista, com o sentido de
reunir todos os grupos nacionalistas.
Nessa época, porém, no campo da diplomacia, se constrói um discurso
da fraternidade luso-brasileira que se expressa em diversas iniciativas sob
patrocínio oficial. Depois da criação das embaixadas no Rio em 1913 e de
Lisboa em 1914, o discurso da fraternidade se afirma em torno da visita do
presidente de Portugal durante as comemorações do centenário da
independência do Brasil, em 1922, e da organização da viagem aérea de
Sacadura Cabral e Gago Coutinho de travessia atlântica no mesmo ano.
Retomava-se, assim, um discurso intelectual antigo que remetia a Sylvio
Romero, Oliveira Lima, das tradições históricas comuns. Ao lado disso,
Jackson de Figueiredo vai representar, ainda, o partido que defende a união
por meio do catolicismo. Escritores conhecidos apóiam o projeto de
confederação luso-brasileira. Em 1923, a cátedra de estudos brasileiros na
Faculdade de Letras de Lisboa é ocupada por Oliveira Lima, historiador e
diplomata brasileiro e crítico da política pan-americana assumida pela
diplomacia brasileira.
Mas o discurso de tom panlusitanista enfrentou em 1920, porém, o
debate em torno da pesca no Brasil, a partir de uma lei do governo Epitácio
Pessoa, que proibia o exercício da atividade a estrangeiros, o que atingia,
sobretudo, a colônia portuguesa. Novamente, a língua não foi valorizada na
política brasileira para os estrangeiros. É o controle da atividade econômica e
dos recursos naturais que surge como central na orientação de Estado.

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

REFORMAS ORTOGRÁFICAS
Mas é no contexto da afirmação republicana em Portugal que se
desenvolveu a reforma ortográfica da língua portuguesa. Alexandre Miranda
de Almeida caracteriza como a Academia Brasileira aprovou um projeto
polêmico de reforma ortográfica, em 1907, que não conseguiu se impor nem
mesmo nos meios acadêmicos.11 O controle ortográfico da língua
colocava-se como resposta ao reconhecimento da mestiçagem do povo e do
impacto da imigração, bem como à evidência do analfabetismo e do domínio
da oralidade no país e suas conseqüências sobre o domínio da expressão. A
promoção do projeto definiu os termos do debate dominado pelo tom
nacionalista brasileiro. Opuseram-se os defensores de um padrão fonético da
ortografia e os defensores de um padrão etimológico, representados,
respectivamente, por Medeiros e Albuquerque e Salvador de Mendonça,
entre outros. A complexidade da questão levou alguns a tomar uma posição
deliberadamente ambígua, como José Veríssimo, ao defender um critério
diferente diante de algumas situações. Silvio Romero defendia uma solução
arbitrária, ao propor a obra de Alexandre Herculano como referência geral.
De todo modo, o debate opunha “a voz do povo” à história das palavras, tal
como caracteriza Alexandre Miranda de Almeida. Assim, a primeira vertente
implicava assumir os particularismos brasileiros, enquanto a segunda
significava preservar uma herança anterior portuguesa e latina. Observe-se
que a primeira vertente tinha o inconveniente de não resolver o problema dos
regionalismos brasileiros, enquanto a segunda assumia os laços com
Portugal.
Segundo pesquisa de Alessandra El Far, o projeto de reforma
ortográfica brasileira de 1907, constituído de 12 regras, visava facilitar e fixar
a língua escrita no Brasil.12 Sua proposta, contudo, decorreu, em grande
medida, da confusão reinante no país em termos de ortografia. A questão era
fundamental no momento em que o ofício de escrever se definia como
profissional e não mais como diletante.

11 ALMEIDA, Alexandre Miranda de. O domínio gramatical de Portugal na Pri-


meira República(1900-1911): A arte de pensar versus a arte de escrever; tese de
mestrado em História Social – orientador: Manoel Luiz Salgado Guimarães. Rio
de Janeiro, UFRJ-PPGHIS, 2005.
12 EL FAR, Al. Op. cit.

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Paulo Knauss

Na época, chegou-se mesmo a falar em ‘anarquia ortográfica’. Em


1902, o recolhimento da 1ª edição de Os Sertões, de Euclides da Cunha, pela
quantidade de ‘erros’ chamou a atenção com grande repercussão. Mas foi a
publicação, no mesmo ano, de A Réplica, de Rui Barbosa, que dominou os
debates sobre uso da língua no Brasil. O texto questionava o projeto de
Código Civil elaborado por Clóvis Beviláqua, por encomenda de Epitácio
Pessoa, então ministro da Justiça do governo do presidente Campos Sales. A
peça jurídica era uma obra ímpar e moderna para seu tempo. Rui Barbosa não
questionou tecnicamente o texto jurídico, preferindo a polêmica sobre a
qualidade do texto, denunciando o mau uso da ortografia da língua
portuguesa. Desse modo, Rui Barbosa transformou um fato jurídico num fato
lingüístico que entrou para a história e marcou sua biografia. A divergência
traduzia os dois partidos da língua no Brasil. Clóvis Beviláqua era pensador
da escola do Recife e, claramente, adepto do modo fonético da escrita,
enquanto Rui Barbosa marcou posição contra o ‘dialeto brasileiro’.
Segundo a pesquisa de Alexandre Miranda de Almeida, o debate
provocado por Rui Barbosa tomou conta das páginas dos jornais. Medeiros e
Albuquerque e José Veríssimo tomaram partido contra Rui Barbosa. Cândido
de Figueiredo escrevia apoiando o senador baiano. Esse debate definiu os
dois partidos da ortografia no Brasil, ao mesmo tempo que levantou a
necessidade de uma ordem ortográfica.
De todo modo, em 1911, em Portugal, a partir da Academia de
Ciências de Lisboa uma reforma ortográfica que se define pelo padrão
etimológico se afirma e ganha reconhecimento no Brasil, ainda que algumas
posições críticas tenham se levantado. A reforma lusitana foi comandada,
entre outros, pelo dicionarista Cândido de Figueiredo, que mantinha contato
regular com o meio letrado brasileiro por meio de coluna no Jornal do
Commercio.
Interessa, ainda, sublinhar que a afirmação republicana no Brasil não
veio acompanhada de uma política da língua, enquanto em Portugal, a
República foi o ambiente que afirmou a renovação da ortografia, demarcando
uma nova época da língua portuguesa.

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

USOS DO PASSADO
Nas páginas da edição recolhida em 1902 de Os Sertões, diferentes
soluções ortográficas eram adotadas para a mesma palavra ao longo da obra.
O nome do Brasil, por exemplo, ora era escrito com S, ora com Z. Isto no
mesmo livro.
Essa duplicidade de fórmula traduzia a oposição dos dois partidos,
pois o Z respeitava a lógica fonética da palavra, enquanto o S intervocálico
respeitava a origem latina da palavra. Mas na mesma obra, a caráter aleatório
da escrita do nome do Brasil revelava um domínio inconsistente do
vernáculo.
A dificuldade do uso do nome do Brasil se tornava ainda maior uma
vez que o principal dicionário usado na época, no início do século XX em
suas primeiras edições, não continha o verbete brasileiro. Essa ausência do
dicionário de Cândido Figueiredo, cuja primeira edição remonta a 1899,
impressiona ainda mais, ao se considerar que o dicionarista português
desenvolveu vínculos fortes com Brasil ao escrever regularmente para o
Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro. Por meio de sua coluna, o
intelectual lusitano felicitou a iniciativa de 1907 da Academia Brasileira de
promover uma reforma ortográfica, ainda que tenha discordado ao final do
projeto aprovado.
Nas edições de época do dicionário, Cândido Figueiredo “Brasil” é
definido como “[...] uma planta leguminosa de onde se retira o pau-brasil”,
sem constar o país. “Brasil”, como nome próprio, vai aparecer apenas
caracterizar algo do Brasil, como no caso: “[...] o português que residiu no
Brasil e que regressou trazendo mais ou menos haveres”. No dicionário
aparece ainda o uso do termo “brasileirismo”, apontado como “expressão
própria dos Brasileiros”. A relcão entre língua e nação é anotada, porém, no
verbete “Português”: “Habitante de Portugal. Língua falada pelos
portugueses”. Contudo, é o próprio Cândido Figueiredo que anota em uma
passagem de seu livro Ortografia Nacional, de 1908, que: “O Brasil é a única
nação civilizada no mundo que não sabe escrever o próprio nome...”. 13
Medeiros e Albuquerque, mesmo sendo representante de outro partido
ortográfico, também deixou anotação semelhante em seus escritos: “O

13 Apud. ALMEIDA, A. M. de. Op. cit.

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problema é urgente... que até a palavra Brasil que figura em moedas, selos,
notas do Tesouro e documentos oficiais ora com s, ora com z, podendo dizer
que o Brasil é a única nação civilizada que não sabe escrever o próprio
nome.”14 Afonso Celso, em artigo publicado no Jornal do Commercio, em 21
de novembro de 1922, defendeu uma tomada de posição do poder público
sobre o tema. Apresenta como os documentos oficiais do Estado sempre
trataram o nome do país com Z. A exceção, foi a Casa da Moeda, submetida
ao Ministério da Fazenda, que adotou desde 1820 em notas e bilhetes a grafia
com S e foi acompanhada por norma do Ministério da Marinha. A própria
Academia Brasileira sempre se tratou com Z. Afonso Celso chamava a
atenção para o fato de que o problema atingia vários outros lugares do Brasil
como Manaus, Curitiba, Niterói, que eram cidades cuja grafia do nome
variava. Nesse sentido, o escritor concluía defendendo uma decisão por parte
do Poder Legislativo. 15
A questão do S ou do Z foi tratada, ainda, num texto inacabado do
Visconde de Taunay, publicado pela Academia Brasileira de Letras em
1910.16 O trabalho do famoso romancista brasileiro do fim do século XIX
procura traçar as marcas do debate no século XIX no âmbito do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro – a instituição acadêmica central do tempo
do Império do Brasil. O texto tem por base um outro trabalho de Joaquim
Caetano da Silva, apresentado em sessão do IHGB de 1863 e publicado na
revista do instituto em 1866. O tema foi tratado também já no primeiro
número da revista, em 1839, por José Silvestre Rebello, em que consta a
informação de que o vocábulo teria sido usado pela primeira vez em
documento oficial do governo português como o nome da terra da América
portuguesa no Alvará de 1530 de Martim Afonso de Souza. Mas esses
estudos não evitaram que o próprio IHGB não sofresse do dilema do nome do
Brasil, pois na sua origem se denominava brasileiro com S, para depois
assumir o Z. De todo modo, na ausência de dicionários antigos portugueses, o
Visconde de Taunay se apóia na referência de dicionários franceses, em que
se identificam três diferentes radicais. Além disso, faz referências à

14 Idem.
15 CELSO, Affonso. A graphia do nome da pátria. Revista da Academia Brasileira de
Letras. Rio de Janeiro, n. 10, p. 304-308, 1924.
16 O vocábulo Brazil deve ser escrito com s ou z? (parecer do Visconde de Taunay).
Revista da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, n. 2, p. 301-310, 1910.

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O nome do brasil: Usos do passado e política da língua

etimologia oriental da palavra a partir do texto de Joaquim Caetano da Silva.


Ao final a pergunta se mantém em aberto pelo caráter inconcluso do texto,
ainda que o método afirmado seja o método histórico.
A comissão de Lexicografia da Academia Brasileira de Letras, no
parecer de 1923, se apoiou em trabalho de João Ribeiro em que anota em tom
de cobrança: “Não é possível que um povo ignore a maneira de escrever o seu
próprio nome.” No texto indicava-se que a menção mais remota ao termo está
em texto de Chrétien de Troyes, do século XII – em que consta: bresil –
evidentemente não para se referir à terra, ainda não conhecida por europeus,
mas à madeira. Ficava apontado, ainda, no texto de João Ribeiro, que a
madeira para tintura teria sido transmitida ao Ocidente por meio de italianos,
e que teriam sido os franceses que, desde o início da época dos
descobrimentos, exploraram essa riqueza natural dessas partes do Novo
Mundo, tendo sido também os seus divulgadores e não os portugueses. O fato
histórico aqui é menos relevante para a análise. Importa sublinhar que este
argumento de fundo histórico permitiu que João Ribeiro afirmasse que
“Brasil, conseguintemente, é nosso nome e o nosso primeiro galicismo”.
Tendo este argumento como base, é possível ainda ao autor afirmar que
“Brasil é nome francês na forma e na fase histórica em que o recebemos”.
Defende-se, assim, que a palavra veio do francês e que os franceses foram os
primeiros a usá-la. A conclusão do parecer é que a grafia de Brasil seria com
S, sendo “a única que se justifica, segundo nossa tradição etimológica”.17
A tomada de posição da comissão é original, pois ao assumir o
argumento de João Ribeiro, defende a palavra de um defensor do modo
brasileiro de falar e do partido fonético da ortografia, ainda que ele mesmo
tenha se mostrado flexível, diante da proposta de reforma ortográfica de
1907. Contudo, ao optar pelo argumento do galicismo, a leitura histórica da
palavra não recaía na defesa do caráter lusitano da língua, contornando a
oposição antilusitana.
O fato é que a reforma ortográfica de 1911, estabelecida em Portugal,
fixou uma mudança que ultrapassava as fronteiras nacionais portuguesas e
teve efeitos do outro lado do Atlântico que certamente não estiveram na
perspectiva dos reformadores da ortografia. Seus efeitos foram tão extensivos

17 Todas as citações constam de: PEIXOTO, Afrânio e RAMOS, Silva. Graphia do


“Brasil”. Revista da Academia Brasileira de Letras, n. 16, p. 298-303, 1924.

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Paulo Knauss

que terminaram por definir o nome do Brasil, no quadro das relações


luso-brasileiras em período da história nacional. Mas a Academia evitou
resolver o problema, apoiando-se apenas na reforma portuguesa, e preferiu
apoiar a tese do galicismo, multiplicando as origens e o legado europeu no
Brasil.
Há uma operação historiográfica que pode ser caracterizada em torno
do nome do Brasil. A polêmica descrita caracteriza como a Academia
Brasileira de Letras se afirmou como o lugar social da fabricação da história,
tendo o método filológico e etimológico como prática. Há um uso do passado
que lembra a operação historiográfica do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, no século XIX, pela prática de proposição de comissões
específicas, dedicadas à produção de pareceres que serviam de base para
tomada de posições coletivas. Os tipos sociais envolvidos na polêmica do
nome do Brasil se distinguem, porém, por serem, sobretudo, homens de letras
no tempo da profissionalização do ofício. Pode-se sugerir, assim, um
deslocamento da cultura histórica no Brasil no tempo em que o nome do país
foi posto em discussão. Nesse ambiente de usos do passado, a leitura da
história afirma um projeto de inserção do Brasil no quadro das relações
internacionais a partir da história da língua e mais especificamente da
ortografia.

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

A JANGADA: JÚLIO VERNE E A AMAZÔNIA

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão1

O que poderia justificar que sete anos depois da publicação do


Chancellor2 (1874) Júlio Verne tenha retornado às águas amazonenses?
Neste primeiro romance, numa jangada onstruída com partes do navio
Chancellor, onze homens e mulheres visitaram as águas do rio Amazonas, em
total miséria. No completo desespero de náufragos, sem água para beber,
preparavam-se para sacrificar um dos sobreviventes a fim de servir de
alimento para os demais, quando um dos náufragos caiu no mar. Ao
mergulhar bebeu alguns goles de água, descobrindo que se tratava de água
doce. Os náufragos são recolhidos ao alcançarem a Ilha de Marajó.
O romance La jangada – huit cents lieues sur l’Amazone (A
jangada, oitocentas léguas pelo Amazonas, 1881)3 é o primeiro de três
romances de Júlio Verne consagrados exclusivamente ao curso de rios4. Ao
contrário do que ocorreu no Chancellor, a trajetória da jangada se dá no
sentido oposto: a embarcação construída numa pequena aldeia desce o
Amazonas.
A jangada é o relato de uma viagem realizada pela família de um
próspero fazendeiro que habitava Iquito até Belém. O romance tem um duplo
objetivo. O primeiro – anunciado para todos os membros da família –, era o
casamento de Minha, a filha de João Garral, com um colega de estudos do

1 Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.


2 Publicado sob a forma de folhetim no Le Temps, 17 dez. 1874; editado por Hetzel em
24 jan. 1875 e reeditado pela LGF, “Le Livre de Poche” nº 2058, 1968.
3 Publicado sob a forma de folhetim no Magasin d’Education et de Récreation, 1er
janv. – 1er déc. 1881; editado por Hetzel,1881 e reeditado pela LGF, “Le Livre de
Poche” nº 2058, 1968.
4 Os outros dois romances são: Le Superbe Orénoque (1898) e Le Pilote du Danube
(1908).

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

irmão dela; o segundo era a solução de um problema jurídico de natureza


criminal.
Na realidade, o pai João tinha as suas razões secretas: mesmo
correndo o risco de uma execução, desejava obter a revisão de uma sentença
que o tinha condenado injustamente à morte pelo roubo de diamantes, 26 anos
antes. Na época em que foi acusado, Garral trabalhava nas minas imperiais do
Brasil em Vila Rica (hoje Ouro Preto), sob o nome verdadeiro João da Costa.
Depois de haver conseguido escapar à perseguição das autoridades
brasileiras, atravessou as fronteiras peruanas. Foi morar em Iquito, onde fez
fortuna graças à sua capacidade empreendedora. De onde partiu para
recuperar a sua inocência, depois de mais de um quarto de século.
Uma vez que o objetivo anunciado era um projeto familiar, Garral
imaginou um meio de transporte que o permitisse deslocar-se com toda a
família. Com esta finalidade decidiu pela construção de uma enorme jangada,
na verdade, uma gigantesca aldeia flutuante, capaz de conduzir todos os
membros de sua fazenda pelo rio abaixo até Belém.

A escolha da Amazônia
A razão pela qual o escritor Jules Verne – o criador do romance
geográfico – retornou à Amazônia está, sem dúvida, associada a seu interesse
de estudar, sob o ponto de vista geográfico, todas as regiões do globo
terrestre, em especial aquelas que, por serem pouco exploradas, possuíam um
belo aspecto misterioso capaz de atrair não só a sua admiração, mas
principalmente a dos seus leitores. Aliás, seu interesse pelas viagens
exploratórias estava associado a sua devoção pela natureza, em particular
características exóticas que envolviam a floresta amazônica, assim como a
liberdade que dominava a vida nessas regiões longe da civilização.
O longo período de sete anos, que decorreu entre os romances Le
Chancellor (1874) e La jangada – huit cents lieues sur l’Amazone (1881),
deve estar associado ao seu grande interesse em concluir a sua pesquisa sobre
Amazônia, o grande personagem do romance La jangada, onde o drama e a
desaventura do brasileiro João da Costa que, com 22 anos na cidade de Vila
Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais, foi acusado de furto, foi o motivo ou
recurso pedagógico usado por Verne para tornar mais atraente o seu romance,

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

cujo objetivo principal era descrever e questionar alguns problemas


geográficos relativos à Floresta Amazônica.
Com efeito, as referências ao rio Amazonas e à floresta são sempre de
admiração. Depois salientar os seguintes aspectos:
“O maior rio do mundo!5 – disse Benito no dia seguinte a Manoel
Valdez”.
Enfin le plus admirable et le plus vaste système hydrographique qui
soit au monde !
Concluiu:
Às belezas desse rio sem rival, que rega o mais belo país do globo,
mantendo-se quase constantemente alguns graus abaixo da linha
equatorial, convém acrescentar uma qualidade que nem o Nilo, nem o
Mississipi, nem o Livingstone, antigo Congo-Zaire-Loulaba,
possuem. É que, aparte o que possam dizer os viajantes evidentemente
mal informados, o Amazonas corre através de toda uma parte salubre
da América meridional. Sua bacia é constantemente varrida por
ventos generosos do oeste. Não é um vale encaixado em altas
montanhas que contém o seu curso, e sim uma grande planície que
mede trezentos e cinqüenta léguas de norte a sul, intumescida apenas
por algumas colinas e percorrida livremente pelas correntes
atmosféricas.
O professor Agassiz protesta, com razão, contra a pretensa
insalubridade do clima de um país, sem dúvida, destinado a tornar-se
o centro mais ativo de produção comercial. Segundo ele, “sente-se
todo o tempo uma brisa leve e agradável que produz evaporação,
graças à qual a temperatura cai e o solo não é indefinidamente
aquecido. A constância dessa brisa refrescante torna o clima do rio
das Amazonas agradável e até mesmo um dos mais deliciosos”.6

5 Verne, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 54. A afirmação de
Benito, verdadeira na época em que as novas descobertas não haviam sido feitas, não
pode ser considerada exata hoje em dia. O Nilo e o Mississipi-Missouri, segundo os
últimos levantamentos, parecem ter um curso superior ao do Amazonas, em extensão.
6 Verne, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 57 e 58.

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Os viajantes, as fontes bibliográficas de Jules Verne


Aliás, toda essa visão sobre esse imenso território que despertou o
interesse dos viajantes estrangeiros que desde o século XVI estiveram
explorado e relacionado à riqueza da região:
No século XVI, Orellana, tenente de um dos irmãos Pizarro, desceu o
rio Negro, desembocou no grande rio em 1540, aventurou-se sem guia
através dessas regiões e, após dezoito meses de navegação, da qual
fez um maravilhoso relato, atingiu a sua foz.
Em 1636 e 1637, o português Pedro Texeira subiu o Amazonas até o
Napo, com uma flotilha de quarenta e sete pirogas.
Em 1743, La Condamine, depois de medir o arco do meridiano ao
Equador, separou-se dos companheiros, Bougnuer e Godin dês
Odonais, seguiu pelo Chincipé, descendo-o até a confluência com o
Maranon, atingiu a desembocadura do Napo em 31 de julho, a tempo
de observar a emersão do primeiro satélite de Júpiter – o que permitiu
a esse “Humboldt do século XVIII” estabelecer a longitude e a
latitude exata desse ponto –, visitou os povoados das duas margens e,
em 6 de setembro, chegou diante do forte do Pará. A longa viagem
teve resultados consideráveis: não só o curso do Amazonas foi
estabelecido de forma científica, mas também parecia quase certo que
ele se comunicava com o Orenoco.
Cinqüenta e cinco anos depois, Humboldt e Bonpland completaram o
precioso trabalho de La Condamine levantando o mapa do Maranon
até o rio Napo.
É claro, depois dessa época, não mais cessaram as visitas ao próprio
Amazonas e a todos os seus principais afluentes.
Em 1827, Lister-Maw; em 1834 e 1835, o inglês Smyth; em 1844, o
tenente francês que comandava o Boulonnaise; o brasileiro Valdez em
1840; o francês Paul Marcoy de 1848 a 1860; o por demais fantasioso
pintor Briard em 1859; o professor Agassiz de 1865 a 1866; em 1867,
o engenheiro brasileiro Franz Keller-Linzenger; e, finalmente, em
1879, o doutor Crevaux; todos eles exploraram o curso do rio,
subiram por vários de seus afluentes e verificaram a navegabilidade
dos principais tributários.
Contudo, o fato mais considerável, honra seja feita ao governo
brasileiro, foi o seguinte:

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

No dia 31 de julho de 1857, depois de inúmeras contestações de


fronteira entre a França e o Brasil sobre o limite da Guiana, o curso
do Amazonas, declarado livre, foi aberto a todas as bandeiras e, para
pôr a prática no nível da teoria, o Brasil assinou um tratado com os
países limítrofes para a exploração de todas as vias fluviais da bacia
do Amazonas.
Então, as linhas de barcos a vapor, confortavelmente instalados, em
correspondência direta com Liverpool, passaram a servir o rio, da foz
até Manaus; outros subiam até Iquitos; outros, enfim, pelo Tapajós,
pelo Madeira, pelo rio Negro e pelo Purus, penetravam até o interior
do Peru e da Bolívia.
É fácil imaginar o avanço que terá, um dia, o comércio em toda essa
imensa e rica bacia, sem rival no mundo.7
O próprio Júlio Verne relacionou os nomes destes exploradores e
cientistas que estiveram na Amazônia; através das suas obras. Verne
construiu a base científica do seu romance.
Na realidade “dezenas e dezenas de aventureiros que exploraram e
reviraram a região do ponta a ponta” como muito bem definiu Michel
Riaudel, que concluiu, enquanto esperava ser ‘beneficiado nessas viagens,
que o Brasil ambicionava controlar melhor um território subpovoado
enquanto as potências financiadoras esperavam tirar vantagens políticas,
econômicas ou comerciais”8. É fácil verificar em Verne9 a visão do mundo
dominante na época em que foi escrito o livro.
Hoje a riqueza da Amazônia é ambicionada pelos norte-americanos
que a desejam internacionalizar.

Racismo científico
As afirmações de racismo são hoje totalmente inaceitáveis, mas no
século XIX o mundo intelectual foi influenciado por um escritor e aristocrata
francês Joseph Arthur, Conde de Gobineau (1816-1882), um dos fundadores
7 Verne, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 58 a 60.
8 RIAUDEL, Michel. Posfácio in A Jangada, Planeta, 2003, São Paulo, p. 354-370.
9 VERNE, Jules. La Jangada, édition avec les illustrations de l’époque de l’auteur, Jean
de Bonnot, 1979, p. 42-43.

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

das teorias racistas. Sua obra mais (tristemente) célebre é o ensaio Essai sur
l’inégalité des races humaines (1853-1855), no qual, além de descrever as
diferentes raças humanas, anunciava o perigo da miscigenação. Aliás, esse
ensaio imaginava a existência de “raças puras” no futuro. Mesmo atribuindo a
cada uma das raças uma característica própria, Gobineau colocou a “raça”
germânica, em particular a escandinávia, acima das outras. As teorias
gobineaunianas, ao mesmo tempo racistas e profundamente
antidemocráticas, foram adotadas e defendidas pelos nazistas, que
desenvolveram um ódio particular aos judeus. A maior parte das doutrinas
racistas que surgiram no fim do século XIX e início do século XX teve como
base a obra de Gobineau.
Na realidade, Júlio Verne, ao defender a expansão colonizadora que
levaria a ciência e tecnologia ao mundo, adotou uma posição moderadamente
racista, embora fosse um antiescravagista sistemático em toda sua obra.
Talvez na sua crença nas promessas trazidas pelo conhecimento científico
fizesse acreditar na importância do expansionismo ocidental como uma
continuidade do processo surgido no período das luzes, durante o qual se
acumularam enormes informações biográficas, botânicas, geológicas e
culturais. Esse é o motivo pelo qual o romance prima pela consolidação e
expansão da fase imperialista eurocentrista, segundo a qual cabia o homem
branco em geral a expansão e o domínio do mundo, em virtude da sua
superioridade sobre os não brancos ou selvagens.
Na realidade, caberia ao europeu levar e difundir a sua civilização pelo
planeta na maior parte habitado por selvagens. Nesta época, os índios e os
negros eram apresentados em geral como seres subservientes que aceitavam
docilmente o domínio dos brancos.
Nesta época na Inglaterra, o escritor inglês W. P. Andrew, em sua obra
Our scientific frontier (1880), defendia a idéia de “uma cruzada tecnológica
britânica”, cuja meta seria expandir entre os selvagens o grande poder e/ou
processo civilizatório inglês. O branco europeu constituiria o agente
civilizador globalizador. Como quase todos os intelectuais, dessa visão
compartilhava indiretamente também Júlio Verne quando afirmava:
A guerra, como se sabe, foi durante muito tempo o mais seguro e
rápido veículo de civilização.
Com efeito, essa visão ideológica – a inferioridade do negro e do índio
– foi adotada como uma verdade científica e permaneceu aceita pela maioria

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

dos homens de ciência, haja vista a própria defesa do escravagismo


temperado pelo astrônomo francês Emmanuel Liais, na época diretor do
Imperial Observatório do Rio de Janeiro (hoje Observatório Nacional):
Quand les noirs seront libres, quand ils auront perdu la valeur qui les
protége, incontestablement plus d’un, avec leur esprit paresseux et
imprévoyant, mourra de misère lorsque la maladie ou la vieillesse
viendra l’atteindre. Cela n’arrive pus aujourd’hui.

Si donc l’abolition de l’esclavage dos noirs était à désirer, ce n’était


pas tant pour les nègres eux-mêmes que pour les blancs. Dans un pays
où existe le principe de l’esclavage d’une race incontestablement
inférieure, le travail n’est pas honoré comme il devrait l’être; il est, au
contraire, méprisé. Or, sous l’influence de ce préjugé répandu
seulement, il est vrai, chez les classes peu instruites, les blancs
prennent des habitudes de paresse; c’est là un des obstacles à
l’établissement de la colonisation européenne. Le colon s’habitue vite
aux préjugés déjà existants dans la contrée, et il refuse bientôt de
travailler à côté de l’esclave nègre, dont la race, quoique supérieure à
celle de l’Indien, est cependant inférieure en intelligence à la nôtre, du
moins pour la majeure partie des nombreuses variétés noires. D’un
autre côté, dès qu’il s’agit de développer les établissements, le
manque de bras libres pour le travail agricole nécessite la possession
de capitaux considérables pour l’achat d’esclaves, et c’est un obstacle
à l’extension des entreprises d’organisation de grandes cultures, les
seules qui puissent procurer des avantages sérieux. 10

Embora acreditasse na inferioridade do negro, ao contrário dos seus


contemporâneos, Liais observou que não existia diferença intelectual os
mulatos e os brancos:

10 Liais, Emmanuel, L’espace celeste ou description de l’univers, Deuxième Édition,


Garnier Frères, Libraires-Éditeurs, Paris, [1881], pág. 215.

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Je viens de parler de l’infériorité intellectuelle de la race noire. C’est


une question d’anthropologie très-curieuse que celle de la
démonstration de cette infériorité, dont j’ai eu mille occasions de
m’assurer, du moins pour les nègres du sud-ouest de l’Afrique,
lesquels forment la souche de la majorité des esclaves du Brésil. Leur
caractère tient de celui de l’enfant de notre race; il est utile de les
diriger et de les conduire. Mais sons l’influence du contact de la race
blanche, et surtout par l’effet du mélange, il se forme une race de noirs
créoles un peu moins foncée et beaucoup plus intelligente que celle
des nègres d’Afrique. Il est assez remarquable de voir le mélange des
deux races noire et indienne donner des individus plus perfectibles,
plus aptes à recevoir l’influence civilisatrice que l’une et l’autre des
deux, souches pures de mélange. Parmi les Africains eux-mèmes, il y a
des tribus très-anciennement mèlées à la famille sémitique. Celles-ci,
avec une plus grande régularité de la face, sont en même temps douées
d’une intelligence beaucoup plus notable que les autres. Pour la
plupart des mulàtres, il n’y a pas de différence intellectuelle à signaler
entre eux et la race caucasique.11

Aceitando as idéias da época, Verne adotou uma visão darwiniana,


através da qual justificava o desaparecimento de todos os povos
não-europeus, como sugeriu no texto:
É a lei do progresso. Os índios desaparecerão. Diante da raça
anglo-saxã, australianos e tasmanianos desapareceram. Diante dos
conquistadores do Extremo Oeste extinguiram-se os índios da
América do Norte. Algum dia, provavelmente, os árabes serão
dizimados diante da colonização francesa. 12

11 Liais, Emmanuel, L’espace celeste ou description de l’univers, Deuxième Édition,


Garnier Frères, Libraires-Éditeurs, Paris, [1881], pág. 216.
12 VERNE, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 60.

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

Verne viu o progresso de uma maneira positivista, segundo a qual a


questão racial era vista em termo de pureza. Era uma visão eurocêntrica, que
aceitava como sendo um processo normal a aniquilação dos índios da
Amazônia, assim como não aceitava a idéia de que os mestiços conseguissem
sobreviver.

L’enchantement des yeux! – megabiodiversidade


Ao lado desta visão preconceituosa encontramos as mais belas e por
que não dizer poéticas descrições sobre a natureza amazônica:
Não havia nada mais maravilhoso do que essa parte da margem
direita do Amazonas. Ali, numa pitoresca confusão, cresciam tantas
árvores diferentes que, num quarto de légua quadrada, seria possível
contar até cem variedades dessas maravilhas vegetais. Além do mais,
um silvícola perceberia facilmente que nunca um lenhador passeara
por ali com seu machado ou sua acha. Mesmo depois de muitos
séculos da derrubada, a ferida ainda seria visível. As novas árvores,
até com cem anos de vida, não teriam esse aspecto dos primeiros dias,
sobretudo porque a singularidade das espécies da liana e de outras
plantas parasitas estaria modificada. Esse é um sintoma curioso que
não deixaria nenhum índio se enganar.
O alegre bando embrenhou-se por entre a alta vegetação, pelo meio
das moitas, por baixo das árvores menores, conversando e rindo. Na
frente, manejando a foice, o negro abria caminho quando um dos
arbustos era muito espesso, pondo em fuga milhares de passarinhos.
Minha tivera razão ao interceder por todo o pequeno mundo alado
que esvoaçava sobre as altas folhagens. Ali havia os mais belos
representantes da ornitologia tropical. Os papagaios verdes e os
periquitos gritadores pareciam ser uma conseqüência natural das
gigantescas espécies. Os colibris, com todas as suas variedades, os
barbas-azuis, os rubis-topázios, os “tesouras”, de rabo longo em
forma de tesoura, pareciam flores soltas que o vento levava de um
galho para outro. Os melros de plumagem alaranjada debruada de
marrom, os papa-figos, dourados nas extremidades das penas, e os

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

“sabiás” pretos como corvos reuniam-se num concerto de trinados


ensurdecedores. O grande bico do tucano destruía os cachos
dourados dos “guiriris”. Os pica-paus, ou picanços do Brasil,
sacudiam suas cabecinhas salpicadas de pontos púrpuras. Um
encantamento para os olhos.13

Esta profunda admiração pela extraordinária megabiodiversidade é


talvez um dos pontos mais objetivos da obra de Verne.

“Il faudrait tout respecter !"- uma lição de ecologia


Diante do entusiasmo de Minha com referência à beleza e à riqueza da
floresta amazônica, ela proíbe o irmão de usar o fuzil como caçador. Neste
trecho do romance, encontramos uma das mais belas conceituações relativas
aos princípios do que seria a ecologia, disciplina científica que teve somente
o grande desenvolvimento na segunda metade do século XX. Era a
extraordinária perspicácia de Verne em antever os princípios do equilíbrio
ecológico, justificando, sem dúvida, a admiração que cerca o trabalho
antecipação do escritor francês:
– Quantas maravilhas! – repetia entusiasmada a jovem.
– Você está em casa, Minha, ou pelo menos foi o que disse – exclamou
Benito –, e olhe só como fala das suas riquezas!
– Pode caçoar, irmãozinho! – respondeu Minha. – Tenho o direito de
elogiar coisas tão bonitas, não é, Manoel? Elas foram feitas pela mão de
Deus e pertencem a todo o mundo!
– Deixe Benito rir à vontade! – disse Manoel. – Ele disfarça, mas tem
suas horas de poeta e admira tanto quanto nós todas essas belezas
naturais! Só que, quando carrega um fuzil embaixo do braço, adeus
poesia!
– Seja poeta, irmão! – respondeu a jovem.

13 VERNE, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 75.

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A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

– Eu sou poeta! – replicou Benito. – Oh, natureza encantadora.


Entretanto, convenhamos que, ao proibir ao irmão o uso do fuzi1 de
caçador, Minha impusera-lhe uma verdadeira privação. A caça não
faltava na floresta e ele teve sérias razões para lamentar alguns bons
tiros.
Nas partes menos arborizadas, onde se abriam grandes clareiras,
apareceram alguns casais de avestruz, da espécie dos “naudus”,
medindo de quatro a cinco pés. Eles andavam acompanhados das
inseparáveis “seriemas”, uma espécie de peru, mas infinitamente
melhor, do ponto de vista comestível, que as grandes voadoras que as
acompanhavam.
– Olha o quanto me custa a maldita promessa! – reclamou Benito, que,
com um gesto da irmã, pôs embaixo do braço o fuzil que instintivamente
levara ao ombro.
– E preciso respeitar as seriemas - respondeu Manoel –, porque são
grandes destruidoras de serpentes.
– Do mesmo modo que devemos respeitar as serpentes – replicou Benito
– porque comem os insetos nocivos, e estes porque vivem dos pulgões,
ainda mais nocivos! Desse jeito, é preciso respeitar tudo!14

A globalização
A intensificação da miscigenação, ao longo do tempo, inicialmente
circunscrita às regiões bem delimitadas, como no caso das povoações
amazônicas, mostrou que as previsões dos seguidores das doutrinas racistas
estavam totalmente equivocadas. Com a globalização, a miscigenação não se
limita a determinadas regiões: ela hoje, além de mais ampla, é também
cultural.

14 VERNE, Júlio. A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo, p. 77.

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

A própria obra de Júlio Verne, em virtude da sua preocupação com a


geografia – não se deve esquecer que Verne foi membro da Société de
Géographie de Paris –, defendeu uma integração, ou melhor, um globalização
cultural e racial (talvez se vivesse atualmente seria contra a globalização
econômica).
No romance A volta ao mundo em oitenta dias (1872), Júlio Verne ao
fazer Fogg15, em sua viagem ao redor do mundo partir de Londres e retornar à
mesma cidade, além de chamar, atenção para a questão do paradoxo dos
circunavegadores, assumiu indiretamente uma posição a favor de Greenwich
como o futuro meridiano zero, como seria adotado, em 1884, em Washington,
EUA. Com relação ao paradoxo, Verne sempre reconheceu ter sido
influenciado pela leitura do conto Três domingos numa semana, de Edgar
Allan Poe; no entanto, esta idéia teve origem no século XVI, durante as
grandes descobertas marítimas.
Todavia, os romances relativos a viagem da Terra a Lua: De la
Terra à la Lune (1864) e Autour de la Lune (1869) constituem a grande
tomada de posição em relação ao futuro.
Apesar das suas considerações de natureza ecológica, em La jangada
(1881), refletirem a idéia predominante da época, este romance constitui um
valioso retrato do que iria ocorrer no século XX na Amazônia.
Nestes quatro romances, como em toda sua obra, Júlio Verne, além de
assumir uma visão globalizante, deu uma dimensão humanística e favorável à
ciência e às suas aplicações tecnológicas jamais conseguidas por outro
divulgador até os dias de hoje.
Num estudo comparativo dos textos de Júlio Verne, sobre sua
preocupação com a exatidão científica a respeito das construções pelo viés do
estudo dos conhecimentos de sua época, mostrar que Verne os ultrapassou
pelo aspecto visionário, o que é comprovado pela evolução dos
conhecimentos que validam várias de suas antecipações quanto ao futuro, em
terrenos tão diferentes como a Terra em suas profundidades, sua vasta
extensão ou seu espaço imediato.

15 Phileas Fogg foi inspirado nas primeiras voltas ao mundo de um certo William Percy
Fogg em 1869-1871, ou George Francis Train em 1870.

316 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 305-317, out./dez. 2007


A jangada: Júlio Verne e a Amazônia

Mas Júlio Verne fazia só ficção científica, pois a dimensão humana


está sempre associada às suas preocupações científicas.

BIBLIOGRAFIA
Dekiss, Jean-Paul. Jules Verne, un humain planétaire, Textuel, Paris.

Freitas Mourão, Ronaldo Rogério. Jules Verne et sa vision globalisante et


humaniste de la science et ses applications, Actes du Colloque
International Jules Verne, Les Machines et la Science, 12 octobre
2005, École Centrale, Nantes, p. 263-270.

Riaudel, Michel. Posfácio in A Jangada, edição Planeta, 2003, São Paulo,


p. 354-370.

Serres, Michel. Jouvences sur Jules Verne, éditions de Minuit, 1974,


Paris.

–. Jules Verne la science et l’homme contemporain, Ed. Le Pommier,


2003, Paris.

Serres, Michel et Dekiss, Jean-Paul. Entretiens, 2002, Paris.

Soriano, Marc., Julliard, 1978, Paris.

Verne, Jules. De la Terre à la Lune Hetzel, 1865, Paris.

Verne, Jules. Autour de la Lune. Hetzel, 1870, Paris.

Verne, Jules. Le Tour du monde et quatre-vingts jours, Hetzel, 1872,


Paris.

Verne, Jules. La Jangada, Hetzel, 1881, Paris.

VERNE, Júlio. A Jangada, tradução Maria Alice Araripe de Sampaio


Dória, Editora Planeta, 2003, São Paulo.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 305-317, out./dez. 2007 317


...
ABOLICIONISMO E VISÕES DE LIBERDADE

1
Cláudia Regina Andrade dos Santos

Neste artigo, o tema “abolição e abolicionismo” será tratado a partir de


dois aspectos principais: a visão de liberdade dos escravos e os projetos
sociais de inclusão do liberto na sociedade pós-escravista. Em relação a esse
último aspecto, será abordada a relação entre a monarquia e o abolicionismo.
Nós sabemos que a abolição da escravidão no dia 13 de maio de 1888
não representou alteração significativa na estrutura sócioeconômica do Brasil
e que a inserção do liberto se processou, majoritariamente, ou pela
permanência subordinada na grande propriedade ou pela marginalização.
Para algumas interpretações historiográficas ou sociológicas sobre o período,
as razões para isso se encontrariam em dois fatores: a identificação entre
liberdade e ociosidade operada pelo liberto e a ausência de projetos sociais
relativos à sua inserção no pós-abolição. Essa explicação encontra-se com
muita clareza nas interpretações de certos autores da Escola Sociológica de
São Paulo, por exemplo, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso.
Considera-se aí que a violência é o principal mecanismo de submissão do
escravo às relações de trabalho escravistas. Dessa forma, o cativo sofre um
processo de brutalização que o torna incapaz de reações e de sentimentos
propriamente humanos, por exemplo, o amor pela liberdade. Submetido a um
processo de socialização imperfeita ou incompleta, proibido de constituir ou
de manter vínculos familiares e de amizade, o escravo perde toda noção de
família e toda capacidade de estabelecer vínculos de solidariedade. Toda
reação do escravo à escravidão é, sempre, uma reação “animal” contra uma
situação isolada de violência, não se transformando nunca em ação “política”
contra a instituição escravista. Incapaz de elaborar uma visão de mundo
própria, a partir de certos valores e significados, ou ele reage isoladamente à
escravidão de forma brutal (o suicídio, a fuga, o assassinato de feitores e
senhores) ou incorpora a própria visão de mundo do senhor. Se o senhor
define a liberdade pelo não - trabalho, o mesmo significado irá atribuir-lhe o
escravo alforriado ou emancipado. Dessa forma, a preferência dos senhores

1 Doutora pela SORBONNE. Professora da Universidade Cândido Mendes.

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Cláudia Regina Andrade dos Santos

pelos imigrantes2, e a conseqüente marginalização do liberto, decorreria da


visão de liberdade assim como da ausência de sentimento familiar entre os
ex-escravos.
Dois historiadores dos anos 1980, Hebe de Mattos e Sidney Chalhoub,
colocaram em discussão essa tese segundo a qual a visão de liberdade do
escravo construía-se a partir da negação do trabalho. Em primeiro lugar,
tratava-se para esses autores, de explicitar uma questão fundamental a
respeito da possibilidade de se falar do escravo, já que, de uma forma geral,
não existe, no Brasil, nenhuma documentação produzida pelo próprio
escravo. Para se falar do escravo, historiadores e sociólogos haviam se
servido, até então, das falas dos senhores de escravos, políticos, intelectuais e
viajantes estrangeiros, e nunca de discursos do próprio escravo. Os
processos-crime são uns dos raros registros da fala do escravo e foram
analisados por esses historiadores, no sentido de formular hipóteses sobre a
visão de liberdade do cativo, entre outras questões.
No que diz respeito ao mundo rural, Hebe de Matos3 identificou certos
mecanismos da instituição escravista que permitiam aos escravos
construírem um certo projeto de liberdade relacionado à posse de uma parcela
de terra. Antes da “crise da mão-de-obra”, advinda da proibição do tráfico
atlântico, a entrada constante dos escravos permitia aos senhores acenar com
a possibilidade da alforria associada à posse da terra4. Além disso, parecia
legítimo oferecer ao próprio escravo a exploração de uma pequena roça “nos

2 Esse tipo de explicação se baseia exclusivamente na experiência de regiões onde a


entrada de estrangeiros foi importante na transição do trabalho escravo para o tra-
balho livre, como no caso de São Paulo.
3 Estamos nos baseando principalmente no artigo CASTRO, Hebe Maria Mattos de,
“O Estranho e o Estrangeiro”, in SILVA, Jaime, da (org.), Cativeiro e Liberdade,
Rio de Janeiro, UERJ, 1988.
4 O acesso à terra como mecanismo de controle da população escrava é explicita-
mente proposto no documento produzido pelos fazendeiros de Vassouras organiza-
dos numa comissão destinada a “sugerir medidas para a contenção da violência e,
em especial, de possíveis levantes”, já que ela é formada após a insurreição de es-
cravos liderada por Manoel Congo em 1838. Neste Instruções para a comissão per-
manente nomeada pelos fazendeiros do município de Vassouras, os fazendeiros re-
comendam que os escravos tenham suas roças e se liguem ao solo pelo sentimento
de propriedade. Cf. Martins, Roselene de Cássia Coelho, Colonização e política:
debates em torno do fim da escravidão em Vassouras (1850-1888), Dissertação de
mestrado, orientação Cláudia R. A. dos Santos, 2007, p. 57.

320 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007


Abolicionismo e visões de liberdade

domingos e dias santos” para produção de gêneros que, se comercializados,


podiam servir à formação de um pecúlio propiciador da compra da alforria.
Obviamente, a alforria sempre foi uma exceção e constituiu-se
fundamentalmente como mecanismo de controle e de abrandamento das
tensões numa sociedade que, em muitos casos, era formada majoritariamente
de escravos. Além disso, a posse da terra foi sempre uma posse precária e
sujeita aos interesses do senhor. Mesmo argumentando-se, com razão, que o
acesso à “pequena roça”, tanto pelos escravos quanto pelos libertos, servia,
sobretudo, à manutenção da ordem escravista, é preciso reconhecer que esses
mecanismos serviram para configurar uma certa expectativa em relação à
liberdade. Portanto, se para o liberto o fim da condição escrava associava-se
ao fim do trabalho na grande lavoura, identificada à escravidão, a liberdade,
nem por isso, significava a ociosidade. Para o escravo no mundo rural, a
liberdade significava a posse, mesmo instável, de uma pequena parcela de
terra a partir da qual seria possível um “modo de vida camponês”. Enquanto a
instituição escravista se manteve sem grandes questionamentos e sem que se
cogitasse a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, foi possível
aos senhores acenarem com a expectativa de acesso à terra, em função da
grande disponibilidade de terras incultas e como forma de amenizar a tensão
das relações escravistas.
Para o escravo urbano, como mostrou Sidney Chalhoub em relação à
cidade do Rio de Janeiro, a visão de liberdade se constrói a partir da
experiência do “viver sobre si.”5 A condição do escravo de ganho,
definindo-se pela obrigação de fornecer ao senhor uma certa quantia em
dinheiro obtida através do seu próprio trabalho, se desdobrava, muitas vezes,
numa certa limitação do controle do senhor sobre o escravo. O ideal
perseguido pelo escravo de ganho era o de diminuir ao máximo o domínio do
senhor sobre o seu cotidiano mesmo se, na prática, isso significasse piores
condições de existência, como no caso de residir fora da residência do senhor
ou de responsabilizar-se pela sua própria alimentação. Esse “viver sobre si”,
construído a duras penas sob a condição escrava, erige-se como sinônimo da
própria liberdade para a crescente população de libertos durante a segunda
metade do século XIX. Portanto, se essa liberdade tinha muito pouco a ver
com aquela do trabalhador livre necessária à empresa capitalista, por outro
lado, ela não significava a ociosidade. Nos mais diversos tipos de atividade,
5 CHALHOUB, Sidney, Visões da liberdade, uma história das últimas décadas da
escravidão na corte, São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

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Cláudia Regina Andrade dos Santos

tratava-se de garantir a própria subsistência através dos seus próprios meios e


dispondo de seu próprio tempo. É interessante observar que esse “viver sobre
si” é percebido até mesmo por setores das elites como o ideal dos “nacionais
livres”. Observemos o discurso de Luiz Peixoto de Lacerda Werneck, em
1854, contra o uso de imigrantes na grande lavoura de café, em razão de uma
certa visão de liberdade compartilhada com “homens livres do país”:
“força é confessar, que a grande cultura só poderá ser sustentada
pelos agricultores que possuírem escravos, em número suficiente para
o custeio de suas fazendas, e que os grandes proprietários rurais
devem desesperar, perder mesmo todas as esperanças de formar em
suas plantações um eito de colonos, como eles outrora formavam de
escravos. O préstimo, a vantagem, o auxílio da colonização serão
valiosos para a produção mercantil, mas não pelo sistema da grande
cultura. O colono se estabelecerá no solo que lhe convier e lavrará a
terra pelo seu braço, mas à imitação, segundo os instintos dos
homens livres do país, ele trabalhará para si e sobre si.”(grifo meu)6.
A partir do momento em que se configura a “crise da mão-de-obra”,
principalmente no decorrer da segunda metade do século XIX, acentua-se a
tendência em identificar a visão de liberdade do escravo à ociosidade e à
vagabundagem. De fato, a idéia segundo a qual seria impossível contar com o
liberto na economia pós-escravista afirmou-se, pouco a pouco, como
argumento central nos debates que acompanharam o processo de dissolução
da ordem escravista. Em torno desse argumento, reuniam-se os defensores da
emancipação gradual, os adeptos da imigração como solução para o
“problema da mão-de-obra” e os propagadores da necessidade de medidas
coercitivas no pós-abolição7.
6 Luiz Peixoto de Lacerda Werneck APUDH Martins, Roselene de Cássia Coelho, op.
cit., p. 103.
7 Esse é o argumento central do livro do médico francês Louis Couty, L’esclavage au
Brésil, que serviu no Brasil e na França de instrumento contra as reivindicações
abolicionistas que já em 1883 exigiam abolição imediata e sem indenização. Contra as
afirmações do grande abolicionista francês Victor Schoelcher, que acusava D. Pedro II
de ser o último imperador a reinar sobre um país de escravos, Louis Couty constrói
uma interpretação da escravidão brasileira na qual se encontram certas idéias com um

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Abolicionismo e visões de liberdade

Nos debates políticos em torno da abolição da escravidão, muitos


foram aqueles que opinaram sobre a melhor forma de se acabar com a
escravidão. Intelectuais, políticos, viajantes estrangeiros, conselheiros de
Estado posicionaram-se contra ou a favor da abolição imediata, pró ou contra
a indenização dos proprietários, a favor ou contra a entrada de imigrantes
estrangeiros, etc. Nesses debates, a idéia do “liberto vagabundo” serviu para
que a transição fosse vista sob um único prisma, aquele do futuro da grande
propriedade exportadora. Nos argumentos dos grandes proprietários de
escravos, o Brasil identificava-se à grande lavoura que dependia da
mão-de-obra escrava. Já que o Estado brasileiro dependia das exportações da
grande lavoura, cabia a ele providenciar uma alternativa à escravidão.
Sabendo-se que o liberto não trabalharia nas grandes lavouras, já que para ele,
isso seria a continuidade da escravidão, o Estado deveria ou propiciar a
entrada de estrangeiros (por exemplo, pagando-lhes o transporte), ou adotar
medidas que coagissem o liberto ao trabalho. Identificando-se a recusa do
trabalho na grande lavoura à recusa de todo trabalho, construía-se a
argumentação segundo a qual sem a coerção, o liberto tornar-se-ia,
necessariamente, um problema social, “um caso de polícia”. Resta saber se
essa perspectiva foi a única formulada e defendida dentro desses debates em
torno do fim da escravidão no Brasil.
Além da visão de liberdade do próprio escravo, fruto das condições
brutalizadoras da escravidão, outro fator teria servido, segundo a ótica da
sociologia paulista, à manutenção das estruturas de exploração e à
marginalização do negro. A ausência de projetos sociais visando à inserção
do liberto em outras bases econômicas explicaria a sua posição de
marginalidade na sociedade brasileira do pós-abolição. Segundo essa
interpretação, a abolição foi “um negócio de brancos para brancos”8 e o
abolicionismo um movimento das elites intelectuais brancas que tinham
grande futuro dentro do pensamento social e político brasileiro: “o Brasil não possui
povo”, “a escravidão brasileira é mais amena do que a escravidão americana”, “as
relações raciais são harmônicas”. Quanto à idéia de ausência de povo, ela associa-se,
no pensamento de Louis Couty, à idéia segundo a qual o liberto entregar-se-á
necessariamente à ociosidade no pós-abolição.
8 IANNI, Octávio As metamorfoses do Escravo, São Paulo, Difusão Européia do Livro,
1962, p. 235.

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Cláudia Regina Andrade dos Santos

como única aspiração a emancipação jurídica do escravo. Os abolicionistas


teriam se organizado tendo em vista, exclusivamente, a emancipação jurídica
dos escravos e, após terem atingido esse objetivo, teriam se dispersado,
abandonando os libertos à sua própria sorte.
“No Sudeste, estabeleceu-se uma clara relação entre abolicionismo e
imigracionismo, como resultado do clima de pessimismo racial do fim do
século XIX. Nesse contexto o progresso era entendido como exigindo o
branqueamento do país. De certa forma, o pensamento e a prática
abolicionista revelam o destino do escravo e da população de cor livre após a
abolição [marginalização]. Os abolicionistas viam o escravismo como um
obstáculo à modernização econômica, bem como à promoção da imigração
européia."9
A historiadora Célia Maria de Azevedo, que renovou, na década de
1980, os estudos sobre a abolição e o abolicionismo, rompeu, por um lado,
com a interpretação dos sociólogos paulistas quanto à inexistência de
resistência escrava. Segundo essa autora, a escravidão, através de seus
mecanismos de violência e de brutalização, nunca foi capaz de aniquilar a
resistência escrava, ao contrário, ela foi o principal responsável pela
dissolução da ordem escravista. Por outro lado, mantendo a mesma
interpretação sobre o abolicionismo, ela considerou que o único objetivo dos
abolicionistas era a transformação do escravo em trabalhador livre, sem
nenhuma transformação da estrutura sócioeconômica baseada na grande
propriedade exportadora.
Podemos continuar aceitando essa hipótese segundo a qual não existiu
na segunda metade do século XIX nenhum outro projeto de abolição? Será
que para toda a sociedade brasileira da época, o fim da escravidão
representava a emancipação jurídica do escravo com a continuidade da
grande lavoura exportadora?
Nos anos 1990, Maria Helena Machado, no seu livro O plano e o
pânico, chamou a atenção, por um lado, para os projetos de liberdade dos
próprios escravos e libertos, por outro lado, para a diversidade de projetos
sociais existentes na década da abolição e para os diferentes abolicionismos.

9 Hasenbalg, Carlos Alfredo, Discriminação e desigualdades sociais no Brasil, Rio de


Janeiro, Graal, 1979, p. 153.

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Abolicionismo e visões de liberdade

Uma primeira confirmação dessa pluralidade de projetos nas décadas


da abolição me foi fornecida pelos relatos de viajantes franceses que
percorreram o Brasil na segunda metade do século XIX e também pelos
publicistas que escreveram sobre o Brasil na imprensa francesa da época. Um
olhar atento a essa documentação me fez perceber a existência de um debate
em torno do fim da escravidão no Brasil, no qual a crítica à grande
propriedade ocupava um lugar central. Apesar de todas as diferenças de
posições entre os autores analisados, a crítica ao sistema fundiário brasileiro
aparecia como uma unanimidade. O fim da escravidão deveria ser
acompanhado de reformas visando à expansão da pequena e média
propriedade entre os brasileiros e os estrangeiros. Para a maioria deles, o
desmembramento da grande propriedade era a única possibilidade de se
constituir uma corrente imigratória de europeus para o Brasil, condição
indispensável para a modernização do Império. Alguns não acreditavam
nessa possibilidade, pois eram céticos em relação a qualquer transformação
do sistema fundiário brasileiro. É o caso do geógrafo Elisée Reclus10:
“A história da colonização, tomada no seu conjunto, prova que os
emigrantes da Europa (...) empregados ao lado dos negros nas províncias
tropicais do Brasil, não podem alimentar a esperança de serem tratados como
homens livres pois a posse do solo, essa primeira garantia da liberdade, lhes é
praticamente impossível. Logo depois da descoberta do Brasil, o país inteiro
foi dividido entre nove, depois entre dezoito senhores (...) o sistema fundiário
foi modificado apenas aparentemente, pois o solo permanece nas mãos dos
poderosos proprietários feudais (...) Dessa forma, a posse de um domínio é
impossível, devido a essa situação, não somente aos emigrantes da Europa
mas aos três milhões de brasileiros livres. (...) Existe um número
considereável de sesmarias que recobrem uma superfície imensa e que como

10 Elisée Reclus, geógrafo francês e teórico do anarquismo (1830-1905). Ele foi


perseguido pelas suas idéias republicanas e teve que deixar a França após o golpe de
estado de Napoleão III em 1851. Após uma permanência de vários anos na Nova
Granada, ele voltou a Paris e publicou artigos em diversos periódicos, principalmente
na Revue des Deux Mondes e no Tour du Monde. Foi eleito membro da Sociedade de
Geografia de Paris e teve aí um papel importante. Ele foi condenado e banido da
França após ter participado da Comuna de Paris em 1871. Cf. BITARD, Adolphe,
Dictionnaire de biographie contemporaine, Paris, L. Van Ier, 1880 et LIGOU, Daniel,
Dictionnaire de la franco-maçonnerie, Paris, PUF, 1987.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007 325


Cláudia Regina Andrade dos Santos

nunca foram cultivadas, deveriam retornar ao domínio público para serem


cadastradas e colocadas à venda. O governo reivindicou muitas vezes essas
sesmarias; mas os fazendeiros unidos, em nome dos interesses da grande
cultura, sabem muito bem obstruir qualquer reforma que venha modificar a
formação feudal da sociedade. Enquanto que a nação anglo-americana (...) é
ainda proprietária de 3/4 da superfície da república, mais ou menos 4/5 do
solo do imenso império brasileiro já se encontram nas mãos de particulares e
5 ou 6 mil ricos proprietários de escravos se apropriaram da metade do
Brasil.”11
Certamente, esses estrangeiros vinculavam-se a um debate que se
realizava no Brasil! Certos títulos da imprensa do Rio de Janeiro da segunda
metade do século XIX exprimiram suas posições e as de seus adversários
dentro desse debate. A imprensa abolicionista, principalmente a partir de
1883, enuncia bastante claramente os dois eixos da luta abolicionista:
abolição imediata (sem indenização) e a democracia rural. A democratização
do acesso à terra é vista como a conseqüência lógica do fim da escravidão em
vários textos abolicionistas:
“A propaganda abolicionista (...) compreende duas grandes reformas
sociais:
1) Abolição imediata, instantânea e sem indenização alguma, em
dinheiro ou em prestação de serviços por prazo determinado.
2) A destruição do monopólio territorial, a terminação dos latifúndios;
a eliminação da landocracia ou da aristocracia rural dos exploradores da raça
africana. O primeiro combate reúne no Partido abolicionista todos os
verdadeiros filantropos; (...) todos os que compreendem que a cor negra não é
um estigma (...) O segundo escopo é o de todos os Democratas e de todos os
Financeiros, dignos desses nomes (...) Ora, tudo depende, em nossa pátria, da
organização da Democracia rural; impossível por certo, enquanto a terra
estiver monopolizada em latifúndios de léguas quadradas (...) O trabalho
democrático atual deve ser, pois, duplo: cumpre libertar a terra e restituir a

11 RECLUS, Elisée, Le Brésil et la colonisation..., p. 405. Tradução do autor.

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Abolicionismo e visões de liberdade

Liberdade à raça africana. Em nosso estandarte deve ler-se – Abolição e


Democracia rural.”12
Em torno desse projeto, se organiza uma parte do abolicionismo do
Rio de Janeiro, que engloba uma liderança ampla e atuante na imprensa e nos
eventos abolicionistas, e é responsável pela criação de vários Clubes e
associações.13
Mas essa proposta de democratização do acesso à propriedade não
deve ser compreendida como um enunciado revolucionário, fora de contexto,
fruto de um espírito visionário como o de André Rebouças ou de alguns
poucos abolicionistas. Em 1884, a proposta de concessão de terras para os
libertos estará no centro das discussões em torno do projeto Dantas de Lei do
Sexagenário.14 Em longo discurso no Teatro Polyteama, José do Patrocínio e
João Clapp explicam o apoio dos abolicionistas ao projeto Dantas, justamente
em função da disposição do ministro de conceder terras aos libertos.
Esta é também a razão da aliança que une os abolicionistas aos
fundadores da Sociedade Central de Imigração, como o Visconde de Taunay,
conhecido imigrantista e membro do partido conservador. Esta Sociedade,
que conta entre os seus membros André Rebouças e Ennes de Souza, elabora
um programa no qual se exige do Estado certas medidas, entre elas, a adoção
de um imposto territorial visando à democratização do acesso à terra. Essa
medida propiciaria a formação de uma corrente de imigração européia para o
Brasil e, principalmente, permitiria aos próprios brasileiros o acesso à terra.
Dessa forma, se a abolição não significou uma ruptura significativa
com a ordem escravista, isso não se deve à ausência de projetos de
transformação das estruturas sócioeconômicas visando à inserção dos
libertos. Para diversos setores do movimento abolicionista, entre outros, a

12 REBOUÇAS, André, Abolição imediata e sem indenização, Rio de Janeiro, Typ.


Central E. R. da Costa, 1883.
13 Por exemplo, o Clube Gutemberg e o Club dos Libertos de Niterói.
14 O Gabinete Dantas, do partido Liberal, foi constituído em junho de 1884 e
encaminhou à Câmara um projeto de reforma da escravidão cujos principais pontos –
além da concessão de terras para os libertos - foram: fim do tráfico interno, ampliação
do fundo de emancipação, liberação sem indenização de todos os escravos tendo
completado 60 anos.

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Cláudia Regina Andrade dos Santos

abolição deveria assinalar o rompimento com um certo modelo econômico


baseado na grande propriedade exportadora. E isso não somente para
promover a imigração européia, mas sobretudo para modificar a condição dos
libertos:
“Nesse caso [ criação de um fundo para os libertos para torná-lo
“pequeno lavrador e pequeno proprietário”] estaremos com o governo,
porque o liberto não será mais uma labareda para alimentar as forjas (...) um
perigo contra o qual se levanta a máquina destrutora da colônia militar, mas
um trabalhador contendo um pequeno lavrador e pequeno proprietário.
Libertar para destruir é arruinar duas vezes a nação (...) O país que não
regateia proteger o europeu que nada vem fazer na lavoura, não pode negar-se
a proteger o ex-escravo, que tudo tem feito. Eis os termos do nosso pacto com
o governo. Sabemos que ele não o aceitará (...) Não há pois aliança
possível.”15
Estamos aqui muito longe daquela idéia do liberto vagabundo contra o
qual seria preciso elaborar medidas coercitivas obrigando-o ao trabalho! Em
diversos textos de época, encontramos as objeções aos argumentos
escravistas segundo os quais a visão de liberdade do escravo tornava
imprescindível uma emancipação a mais gradual possível. Na passagem que
se segue, o Conselheiro Beaurepaire-Rohan procura outras explicações para a
suposta aversão do brasileiro ao trabalho:
“Mas, enquanto se discute a conveniência de agenciar braços para a
lavoura enquanto se oscila entre o pensamento de atrair colonos europeus, ou
de importar asiáticos, – onde ficam os brasileiros? – que destino reserva aos
naturais desta terra? – Há, por ventura, falta de gente neste país? – Não, por
certo. (...) E por que não tirar deles toda a vantagem possível?”16
É interessante ressaltar que essa oposição entre dois discursos
antagônicos referentes aos significados da liberdade para o mundo dos
escravos, nós a reencontramos nos debates historiográficos do século XX.
Por um lado, a sociologia paulista que incorpora o argumento segundo o qual

15 José do Patrocínio, Conferência na sessão da Confederação abolicionista do dia


17 de maio de 1885 (após dissolução do ministério Dantas e já sob o governo Sarai-
va).
16 Apud André Rebouças – Abolição Imediata e sem indenização, Rio de Janeiro, Typ.
Central E. R. da Costa, 1883.

328 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007


Abolicionismo e visões de liberdade

a liberdade significa ociosidade, por outro lado, o trabalho de Hebe de Mattos


que repercute a afirmação de André Rebouças do século XIX: “Ser livre e ser
proprietário rural constitui a maior aspiração do escravo dessa terra
miserável.”17
Mesmo sendo impossível negar a existência, no contexto da
abolição, de projetos sociais relativos ao liberto, é preciso admitir que eles
tiveram pouco efeito transformador na sociedade do pós-abolição, além de
terem sido praticamente esquecidos pela historiografia. Se o movimento
abolicionista não se contentou em exigir a emancipação jurídica do escravo, é
preciso se perguntar sobre as razões do fracasso desse movimento ao propor
outras reformas. Uma das explicações para isso estaria na dispersão do
movimento logo após a abolição assim como argumenta Paula Beiguelman
em Pequenos estudos de Ciência Política: “O movimento abolicionista, que
se propunha a transformação estrutural do país, extinguiu-se no dia seguinte
ao seu grande triunfo – a abolição.”18
Diversos textos de época não permitem, no entanto, manter
essa versão sobre o desaparecimento do movimento abolicionista no
pós-abolição. Apesar do clima de conciliação nacional e de festividades em
torno da promulgação da Lei Áurea, é muito nítida, na imprensa da época, a
permanência do embate entre o abolicionismo e o escravismo. Ainda que os
abolicionistas tenham sido os principais responsáveis, no Brasil e no exterior,
pela idéia de que a abolição havia sido realizada consensualmente, “por meio
de flores”, “sem o derramamento de uma única gota de sangue”19, estava
claro, para os dois campos, que o fato de ter sido feita de modo incondicional
e sem indenização encobria uma divergência. Essa era a abolição
reivindicada pelos abolicionistas e não a dos seus adversários. Prova disso, o

17 . André Rebouças, Agricultura nacional, Rio de Janeiro, Lamoureux, 1883, p. 126.


18 Paula Beiguelman, Pequenos estudos de Ciência política, São Paulo, Pioneira, 1969,
p. 115.
19 Expressões utilizadas pelos oradores do “Banquete comemorativo” da abolição a
escravidão no Brasil, realizado no hotel “Aix-les-Bains “, em Paris, no dia 10 julho
1888, organizado pelo ”Comité franco-brésilien". Esse comitê organizou diversas
atividades na França com o objetivo de preparar a participação do Brasil na Exposição
Universal de Paris em 1889 e também visando levar imigrantes europeus para o Brasil.
Souza Dantas era o vice-presidente deste comitê.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007 329


Cláudia Regina Andrade dos Santos

debate que se iniciou logo nos primeiros dias do pós-abolição em torno da


questão da indenização.
Mas os abolicionistas continuaram sua atuação, na imprensa e no
parlamento, não apenas para defender a abolição sem indenização, mas
também para dar continuidade às reformas vistas como conseqüência natural
do fim da escravidão. Vejamos o artigo de José do Patrocínio de 18 de maio
de 1889:
“O abolicionismo teve sempre um programa. Não discutiu
coletivamente a forma de governo; ameaçou o trono, ontem, como o
condenará amanhã, se ele for um obstáculo à ultimação da reforma social,
iniciada em 13 de maio. Não terá a Coroa aliado mais leal, nem mais
dedicado, enquanto se comportar, como até agora, que, ainda malferida pelo
combate à escravidão, se atira à campanha da terra e da autonomia local. Para
que A rua possa compreender a coerência da nossa atitude, é preciso fazer
entrar como um dos seus fatores a oposição já levantada pelo liberalismo e
pelo republicanismo ao tópico da fala do trono relativo à reorganização
territorial. (...) O que eu não quero é escravizar o meu país a uma palavra,
que é a glória na Suíça, mas que é a vergonha no Peru, só para não parecer
contraditório, quando, na realidade, sou coerente perante a Ciência Política
sustentando, em nome do meu amor pela liberdade, a Monarquia que nos
promete a integridade e o progresso pela democracia rural, e opondo-me a
essa república, também combatida pela A rua e de que nos resultará a
landocracia a mais audaciosa e a oligarquia a mais bestial.”20
De fato, os abolicionistas estão na imprensa, logo nas primeiras horas,
para defender a democracia rural. Para isso, eles contam agora com o apoio de
outros setores sem vinculação aparente com o movimento. É o caso do Jornal
dos Economistas que, partidário do desenvolvimento econômico do Brasil
conforme os princípios liberais, defende a reestruturação do sistema
fundiário brasileiro no sentido de propiciar a democratização do acesso à
terra. O resultado esperado é a constituição de um mercado interno a partir da
integração dos ex-escravos e imigrantes como pequenos produtores rurais.
Esse jornal espera do ministério João Alfredo a continuidade das reformas
iniciadas pela abolição e acredita na disposição do ministro em
empreendê-las:

20 Cidade do Rio, 18 de maio de 1889.

330 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007


Abolicionismo e visões de liberdade

“O desejo manifesto de utilizar as terras devolutas, por meio da


imigração, dá a medida do plano organizador que tem em vista o
ministério, extinguindo a escravidão para estabelecer o verdadeiro
regime da liberdade do trabalho e da democracia territorial. O Brasil,
que era até agora nominalmente possuído, de ora em diante vai ter
como proprietários do solo quem os souber beneficiar e cultivar.”21

Finalmente, esse projeto parece efetivamente ter sido encampado pelo


ministério João Alfredo e pela Coroa22, já que segundo a fala do trono de 3 de
maio de 1889, o Imperador pedia que se examinasse com atenção as
propostas de “adoção de um imposto territorial e desapropriação de terras em
torno das estradas de ferro” visando à instalação de libertos e imigrantes.
Imediatamente divulgado na França, esse projeto recebeu amplo apoio
daqueles que, partidários da emigração francesa para o Brasil e da ampliação
das relações França-Brasil, acreditavam na urgência da reforma do sistema
fundiário brasileiro23.
Essa proposta desencadeou uma oposição muito grande, não chegando
a ser levada à votação24. Logo em seguida, João Alfredo tornou-se alvo de
denúncias de corrupção, o que acabou levando à queda do seu ministério.
Segue-se um período extremamente conturbado e ainda pouquíssimo
explorado pela historiografia no que diz respeito a uma análise mais profunda
e menos factual: a nomeação de um novo ministério, a apresentação do
programa de governo e a dissolução da Câmara em função da reação
desfavorável ao projeto; o atentado ao Imperador em julho, unanimemente
tratado pelos contemporâneos, assim como pelos historiadores, como ato sem

21 Jornal dos Economistas, 15 de maio de 1888.


22 Essa parte do texto está no artigo publicado na Revista Nossa História em julho de
2006.
23 É o caso do geógrafo francês Emile Levasseur .
24 Antes mesmo da apresentação do projeto à Câmara, a oposição já era bastante forte.
Ver a fala de Coelho Bastos, chefe de polícia do gabinete Cotegipe, que, em abril de
1889, criticava a proposta de um imposto territorial, acusava a Princesa de querer
impor a reforma agrária e pedia a queda do ministério João Alfredo.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007 331


Cláudia Regina Andrade dos Santos

nenhuma significação política (apesar de ter ocorrido quatro meses antes da


queda do regime); os comícios organizados por Silva Jardim e as violências
entre os republicanos e a guarda negra.
É em meio a esse contexto que se insere também a carta da princesa
Isabel dirigida ao Visconde de Santa Victória, recentemente publicada pela
revista Nossa História, e que revela a intenção da Princesa de apresentar no
dia 20 de novembro, data prevista para a reunião da nova Câmara, com o
apoio dos abolicionistas e de alguns senadores, o projeto de instalação dos
ex-escravos em pequenas propriedades.25 Para isso, ela contava com os
recursos provenientes da venda dos bens do Visconde de Santa Victória.
Examinada isoladamente, essa correspondência poderia ser
compreendida como a expressão de um espírito sonhador e à frente do seu
tempo, revelador de um “lado rebelde da princesa”. Significado inteiramente
diferente possui a carta da princesa quando colocada no contexto da luta do
movimento abolicionista, e de outros setores, pela “democracia rural”. Nesse
caso, é preciso constatar que não somente o movimento abolicionista
continuou existindo no pós-abolição como obteve o apoio da monarquia no
que diz respeito ao projeto de instalação dos libertos em pequenas
propriedades.

25 Para se analisar essa informação sobre o projeto da herdeira do trono brasileiro para o
pós-abolição, seria preciso recuperar um pouco da história dessa carta-documento.
Antes de ser fonte para o historiador, o documento é, ele mesmo, um acontecimento
histórico produzido num determinado contexto. Nesse sentido, seria interessante, por
exemplo, comparar essa carta de Isabel a outras de suas correspondências, saber se
existiu troca de correspondência entre o Visconde de Santa Victória e a Princesa e em
quais outras situações. É inevitável também procurar identificar o papel do Visconde
de Santa Victória nesse contexto e se dedicar a compreender tanto a trajetória desse
que “demonstra amor devotado pelo Brasil” quanto o contexto da doação de “mais de
2/3 da venda de seus bens” ao projeto dedicado à instalação de ex-escravos “em terras
suas próprias”.

332 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007


Abolicionismo e visões de liberdade

A carta da Princesa faz referência direta ao apoio de Nabuco, “além


dos senhores Rebouças, Patrocínio26 e Dantas" que, por sua vez, já haviam
apoiado o projeto de João Alfredo em maio de 1889.
A diferença entre este projeto, ao qual faz alusão a Princesa Isabel, e
aquele apresentado por João Alfredo, parece ser o fato de que a Princesa
dispõe, nesse último contexto, dos recursos necessários para “collocar estes
ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e
na pecuária e dellas tirando seos próprios proventos”.
Dentre as várias possibilidades de investigação delineadas a partir
dessa nova documentação está a possibilidade de se colocar, sobre novas
bases, a hipótese da existência de um projeto de Terceiro Reinado em
articulação com o programa abolicionista de democracia rural.27 Esta carta
contribui também para fortalecer a suspeita de que a República, nesse
contexto, tenha servido à obstrução de um projeto social e político que visava
diminuir as consequências extremamente negativas da escravidão.
Nesse sentido, a ruptura dos proprietários de terra com a monarquia
poderia ser explicada menos pelo ressentimento com a não-indenização do
que pelo temor de que o projeto abolicionista, na sua completude, fosse
encampado pela Coroa28. É nesse sentido que se pode entender a fala do
porta-voz da indenização no pós-abolição, o Barão de Cotegipe, exprimindo
o temor dos proprietários com relação à reforma do sistema de propriedade.

26 Em agosto de 1889, José do Patrocínio já teria rompido com a Coroa em função da


queda de João Alfredo. No entanto, a Princesa parece estar convencida da lealdade de
Patrocínio no caso da apresentação desse projeto. De fato, apesar de republicano,
Patrocínio se mostrou um grande defensor da monarquia no pós-abolição. Como
mostra um artigo de 18 de maio de 1889: “Não terá a Coroa aliado mais leal, nem mais
dedicado, enquanto se comportar, como até agora, que, ainda malferida pelo combate
à escravidão, se atira à campanha da terra (...) sou coerente (...) sustentando (...) a
Monarquia que nos promete a integridade e o progresso pela democracia rural.”
27 Hipótese formulada por Maria Luiza de Carvalho Mesquita na sua monografia Quem
tem medo do terceiro Império ou por que não Isabel? Rio de Janeiro, UCAM, 2005.
28 Essa hipótese foi formulada pela primeira vez pelo brasilianista Richard Graham em
1970, no seu livro Escravidão, reforma e imperialismo, São Paulo: Perspectiva, 1979.

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Cláudia Regina Andrade dos Santos

Pode ser interessante levantar uma última questão sobre o projeto dos
abolicionistas e da Princesa e o seu aspecto aparentemente revolucionário. É
possível imaginar, de fato, que se a reforma do sistema fundiário tivesse sido
realizada nesse contexto, teria gerado ótimas conseqüências no sentido de
produzir uma sociedade pós-escravista menos desigual e uma economia
menos dependente da exportação. Principalmente, ela teria propiciado a
emergência de uma outra interpretação sobre a visão de liberdade dos
ex-escravos, impossibilitando que a população dos libertos e de seus
descendentes fosse vista como “problema social”. Além disso, o teor
revolucionário do projeto nos parece mais nítido quando pensamos na
enorme reação que ele provocou, não só no contexto abolicionista mas
durante todo o século XX, fazendo da luta pela reforma agrária um
“acontecimento de longa duração” da história brasileira. Basta lembrar que
esse projeto está ainda na ordem do dia e para ser realizado a longo prazo!
Esse caráter revolucionário do projeto parece se confirmar quando pensamos
nos adjetivos utilizados pelos seus opositores para designar os abolicionistas
(comunista e anarquista) e também quando levamos em consideração os
argumentos utilizados pelos abolicionistas em prol do projeto de democracia
rural, já que eles são extremamente radicais no que diz respeito às duras
críticas ao sistema fundiário brasileiro e aos detentores do monopólio da
terra.
No entanto, as medidas propostas para reformar esse sistema, no
contexto abolicionista, estavam completamente de acordo com as regras de
um Estado liberal: adoção de um imposto territorial e desapropriação de
terras com indenização. Além disso, cumpre enfatizar que em outras partes do
mundo a reforma agrária nem sempre foi uma bandeira “de esquerda”. Como
exemplo, os Estados Unidos e o Japão que se serviram da reforma agrária
para propiciar um desenvolvimento nos moldes capitalistas.
Mais do que refletir sobre o suposto caráter revolucionário do projeto
abolicionista, seria interessante, portanto, refletir sobre o extremo
conservadorismo das elites brasileiras, que durante mais de um século
resistiram à adoção de uma medida inteiramente de acordo com as regras
liberais, qual seja, um imposto sobre as terras!

334 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 319-334, out./dez. 2007


IV—DOCUMENTOS: ANÁLISES E TRANSCRIÇÕES

Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos


Índios do Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas
contra os Padres José dos Reis e Manoel de Andrade da Companhia
de Jesus. 1757

Márcia Amantino1

Resumo: Abstract
A segunda metade do século XVIII assistiu, The second half of the 18th century has
tanto nas colônias como na metrópole experienced in the colonies as much as in the
Portugal, an increasing of the complaints
portuguesa, a um gradativo aumento das queixas
about the Society of Jesus. Such complaints
sobre o poder da Ordem dos Jesuítas. Estas were based on the ability that inacians had to
queixas se baseavam, entre outras coisas, na get the land and the control the Indian labor.
capacidade que os inacianos possuíam de As a result, they had favorable economic and
obterem terras e controlarem a mão-de-obra political conditions creating a side power
indígena. Como resultado disto, possuíam around the area that led the colons upset. The
condições econômicas e políticas favoráveis, transcripted document is an example of a limit
criando nas localidades um poder paralelo que situation outlined by conflicts among Indians,
colons and Jesuits interests. The last group
desagradava aos colonos. O documento
mentioned had one of the biggest lands in
transcrito é um exemplo de uma situação-limite Macaé.
marcada por conflitos de interesses entre os
indígenas, os colonos e os jesuítas, proprietários
de uma das maiores fazendas na área de Macaé..

Palavras-chave: Índios, Jesuítas, Fazendas. Keywords: Indians, Jesuítas, farms.

O documento transcrito abaixo localiza-se nos arquivos do Instituto


Histórico e Geográfico Brasileiro e pertence ao Fundo “Conselho
Ultramarino”. O códice do livro onde ele se encontra é Arq. 1,3,8. O
manuscrito é composto por quatro páginas que se iniciam na folha 188 e

1 Professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Salgado de


Oliveira – universo.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 335-345, out./dez. 2007 335


Márcia Amantino

terminam na 191v. Trata-se de uma exposição2 escrita em 1757 por Antonio


Vaz Pereira, padre Presbítero do Hábito de São Pedro, queixando-se ao rei
sobre os desmandos dos Jesuítas em algumas regiões da Capitania do Rio de
Janeiro. Contudo, detém-se, com maiores detalhes, nas questões vivenciadas
por ele na região de Macaé. Os temas principais encontrados no manuscrito
envolvem discussões acerca do poder temporal dos Jesuítas sobre os
indígenas, a riqueza da Ordem, os desmandos efetuados por eles, os
maus-tratos dispensados a negros, índios e brancos, pobres ou não e o
desrespeito para com os preceitos religiosos.

***
Desde o século XVI a Companhia de Jesus havia conseguido amealhar
uma considerável fortuna através das doações recebidas, dos imóveis
alugados, das terras arrendadas, das fazendas produtoras de riquezas, da
venda de produtos e da cobrança por serviços prestados.3 Além disso, a ordem
inaciana, ainda no século XVIII, era responsável por parcela considerável da
população indígena. Eram eles que definiam para quem iriam alugar seus
índios aldeados e por quanto. Em muitas regiões eles controlavam quase
todas as terras e a mão-de-obra disponível. 4
Toda esta riqueza e poder geraram inúmeros conflitos ao longo do
período colonial. Por várias vezes, os Jesuítas entraram em disputas com a
população ou com as autoridades locais. Algumas vezes, ganharam as
batalhas, mas em outras acabaram sendo expulsos das regiões. Mas sempre
conseguiam voltar. Pelo menos, até a expulsão definitiva ordenada por
Pombal em 1759. Todavia, cada vez mais pessoas questionavam o poder
temporal da Ordem e sugeriam medidas para diminuí-lo ou eliminá-lo. 5

2 Exposição, no século XVIII, era segundo Bluteau, a “ação de expor ou de explicar


alguma coisa”. Cf. Bluteau, Raphael. Vocabulário português e Latino (1712). Rio de
Janeiro: UERJ, 2000.
3 ASSUNÇÃO, Paulo de. Negócios Jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens
jesuíticos. São Paulo: EDUSP, 2004, p. 37.
4 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: Identidade e cul-
tura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2001. p. 82.
5 MONTEIRO, John Manuel de. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens
de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

336 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 335-345, out./dez. 2007


Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índios do
Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas contra os Padres José dos
Reis e Manoel de Andrade da Companhia de Jesus. 1757

O documento transcrito demonstra estes conflitos em diversos níveis,


mas as reclamações feitas pelo Padre Antonio Vaz Pereira não eram
novidades para a Coroa. A legislação referente aos índios tentava, de
diferentes maneiras, dirimir questões ligadas à liberdade dos mesmos e impor
regras ao relacionamento dos colonos com os indígnas e destes com os
religiosos. Em 6 de junho de 1755 e no dia seguinte, duas Leis foram
promulgadas: a primeira restituía a liberdade aos índios; e a outra, retirava
dos missionários a administração temporal dos aldeamentos. O Diretório
promulgado em maio de 1757 organizou e detalhou estas questões tomando
estes parâmetros como base. 6
A exposição do missionário é datada de 24 de agosto de 1757.
Somente três meses após o estabelecimento do Diretório. Logo, não há como
saber se ele já tinha acesso as suas determinações. De qualquer forma, parte
de sua exposição está baseada nas questões legais. Confirma isto o fato de ele
afirmar que os Jesuítas não acataram as decisões tomadas pela Lei e
permaneceram nas aldeias, administrando as terras e as riquezas que por
direito eram dos índios. Além disso, forçaram os nativos a abrirem mão de
seus direitos nos casos de questionamentos legais. Ele poderia estar se
referindo à Lei de junho de 1765 ou mesmo, quem sabe, ao Diretório, que
confirmou a Lei anterior.
Depois de demonstrar os inconvenientes do poder excessivo dos
inacianos, passou a tratar mais especificamente sobre a situação conflituosa
em Macaé, região onde ele vivia. A história desta localidade está
profundamente ligada ao que ocorria no aldeamento de São Pedro de Cabo
Frio, fundado em 1617.7 Uma das principais justificativas levantadas para a
sua criação foi o fato de que os índios impediriam as constantes invasões de
estrangeiros na área. Esta estratégia deu certo. No mesmo ano, no seguinte e
depois, em 1630, os holandeses tentaram desembarcar na região e foram
expulsos pelos índios aldeados. Não foi coincidência que ainda em 1630 o
Reverendo Padre Francisco Fernandes, Reitor do Colégio dos Jesuítas do Rio
de Janeiro, aproveitando a boa graça em que tinham caído os índios do
aldeamento, peticionasse ao Governador do Rio de Janeiro, o capitão-mor
Martim Correa de Sá, pedindo duas sesmarias para ampliar as terras do

6 ALMEIDA, Rita Heloísa de. O Diretório dos Índios: um projeto de civilização no


Brasil do século XVIII. Brasília: Ed. UNB, 1977, p. 166.
7 Hoje a região onde se localizava o aldeamento pertence a São Pedro da Aldeia.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 335-345, out./dez. 2007 337


Márcia Amantino

aldeamento de São Pedro de Cabo Frio. Tais índios, segundo o documento,


teriam sido essenciais para a expulsão dos holandeses e a manutenção da
região. Todavia, eles precisavam de terras para criar seu gado e como estavam
crescendo em número, necessitavam de mais espaço. A idéia era aldear outros
índios que estavam dispersos e que poderiam auxiliar no controle das terras.
Alegava também que, estando a região ocupada por indígenas catequizados,
não haveria mais as possibilidades de desembarque dos inimigos da Coroa
portuguesa e, conseqüentemente, estariam terminadas as incursões e
contrabandos de madeiras. Os índios que comporiam este novo aldeamento,
segundo o reitor do Colégio, seriam provenientes do Aldeamento de São
Pedro do Cabo Frio e outros vindos da capitania do Espírito Santo. O
governador deu despacho favorável a seus pedidos.8 Assim, neste ano de
1630, os jesuítas se estabeleceram nas terras onde hoje se situa Macaé, com
currais destinados a descanso para o gado que vinha de Campos dos
Goitacazes. Somente no início do século seguinte, os inacianos deram início à
criação de dois engenhos. Um próximo à Lagoa de Imboacica e o outro junto
a Foz do rio Macaé numa terra que foi denominada Fazenda de Macahé ou de
Sant’Anna. Tal fazenda possuía um engenho, um colégio e uma capela sob a
invocação da mesma santa. A Fazenda produzia açúcar, farinha de mandioca
e madeira para construções navais e edificações. Também servia como local
de engorda e descanso para os rebanhos que vinham do Colégio de Campos
dos Goitacazes antes de chegarem à cidade do Rio de Janeiro.
Ainda que a justificativa dos inacianos para a solicitação de terras
tenha sido a necessidade de estabelecer os indígenas, isto não se concretizou.
A Fazenda de Sant’Anna era uma unidade produtiva baseada na mão-de-obra
negra.
Através desta exposição pode-se ter contato com a situação-limite que
havia na área de Macaé entre os interesses dos jesuítas situados na gigantesca
Fazenda de Macaé e o restante da população. Antonio Vaz de Pereira chama
a atenção do Rei de que os indígenas da região estavam dispersos, haviam
retornado ao estado selvagem e que ele os teria novamente catequizado
8 Petição e carta de sesmaria apresentada por Antonio Fagundes, procurador do Re-
verendo Padre Reitor Francisco Fernandes. In: Livro de Tombo do Colégio de Jesus
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1968. p. 290 e ss. Note-se
que desde o ano de 1627 a Capitania da Paraíba do Sul já estava dividida ente os sete
capitães. Gonçalo Correa de Sá, Manuel Correia, Duarte Correia, Miguel da Silva
Riscado, Miguel Ayres Maldonado, Antonio Pinto Pereira e João de Castilho.

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Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índios do
Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas contra os Padres José dos
Reis e Manoel de Andrade da Companhia de Jesus. 1757

graças ao tratamento bondoso e respeitoso com que os tratavam,


diferentemente dos Jesuítas. Citava o padre que muito mais teria feito, se os
Jesuítas não o atrapalhassem.
Os conflitos entre religiosos e colonos na região estavam tão acirrados
que Antonio Vaz Pereira, continuando sua carta, afirmava que o Padre José
dos Reis, feitor da fazenda dos Jesuítas, ou seja, da fazenda de Macaé,
praticava absurdos contra a população da região. Mandava bater naqueles
que não obedeciam às ordens, ateava fogo nas casas, confiscava madeiras sob
o pretexto de que as mesmas haviam sido tiradas das terras da Fazenda e
espancava cruelmente os índios e os negros que trabalhavam sob seus
domínios e, em alguns casos, até mesmo aos escravos de outros senhores, e,
às vezes, homens livres.
Seu relato permite, ainda, a identificação do poder que os Jesuítas
tinham na região. Segundo nosso informante, o Padre José dos Reis havia
formado uma espécie de milícia pessoal que circulava impondo as suas
vontades. Tratava-se de um corpo armado composto por cinqüenta homens
entre indígenas e negros com o título dado pelo próprio jesuíta de “Henriques
e Camarões”. À frente da milícia saía uma caixa de guerra. Este grupo foi
responsável por diversas violências contra os moradores e, em muitos
momentos, o próprio Jesuíta saía no meio de seus homens, gritando palavras
de ordem conta pessoas da localidade.
É bastante sintomático o nome escolhido pelo Jesuíta para a sua
milícia. O religioso fazia uma referência clara ao Terço do Camarão, que foi
resultado de uma aliança feita no século XVII entre os índios Potiguar e os
colonizadores contra os holandeses no Nordeste.9 O Terço dos Henriques,
também chamado de Terço da Gente Preta, formado na mesma época e pelo
mesmo motivo que o anterior, era liderado por Henrique Dias, filho de uma
escrava que se destacou nas guerras de expulsão dos holandeses.10

9 MELLO, José Antonio Gonsalves de. Dom Filipe Camarão: Capitão Mor dos Índi-
os da Costa do Nordeste do Brasil. Recife: Universidade do recife, 1954; NEVES,
Juliana Brainer et al. Tipos sociais na conquista do Sertão das Capitanias do Norte
do Estado do Brasil, séculos XVII e XVIII. In: Mneme – Revista de Humanidades.
V. 5, n. 12, out./nov. 2004.
10 MATTOS, Hebe. Marcas da escravidão: biografia, racialização e memória do ca-
tiveiro na História do Brasil. Tese de professor titular em História do Brasil. Nite-
rói: UFF, 2004.

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Márcia Amantino

Este nome da milícia é um indicativo da composição demográfica de


seus membros, mas também pode ser analisado como uma forma de afronta à
sociedade local, pois a mesma estaria à mercê de negros e indígenas, grupos
considerados como inferiores. Eram eles que batiam e impunham exigências.
A exposição segue relatando outras violências praticadas contra a
população e alega que nem mesmo a Igreja e os dias sagrados eram
respeitados pelo Jesuíta. Seu desrespeito não era somente voltado para as
pessoas que, de alguma forma, o desobedeciam. Era canalizado também para
o que ele, teoricamente, deveria respeitar, ou seja, os dias, as imagens e o
espaço da Igreja. Todos sagrados.
A situação estava tão fora do controle que a população foi se queixar
ao Padre Luiz Alves, Visitador dos Inacianos. Este respondeu ao povo que
José dos Reis “não seria Padre da Companhia se assim o não fizesse; e que
entendessem que eles eram Donatários de Macaé”. Tentaram melhor sorte
com o Padre provincial da Companhia de Jesus, João Honorato. O mesmo
prometeu tomar medidas e retirar o Jesuíta da região. Todavia, nada fez.
Este comportamento dos Jesuítas pode ser mais bem compreendido
quando se nota que além da Fazenda de Macaé eles possuíam também,
somente naquela região, um outro engenho, as terras do Colégio em Campos
dos Goitacazes e a Fazenda dos Campos Novos, em Búzios. Isto sem contar
com o aldeamento de São Pedro de Cabo Frio. Logo, seu poder econômico e
político era realmente gigantescos.
Depois de ter queimado até mesmo a casa do Missionário
Antonio Vaz Pereira e de alguns de seus índios, este resolveu, juntamente
com inúmeros pedidos da população, escrever a exposição ao rei relatando
tudo o que se passava. Esperava que o Rei “com a justiça que costuma,
acudi[sse] a seus pobres vassalos”. Entretanto, o religioso ofereceu também
um motivo a mais para que o rei tomasse uma atitude contra o Jesuíta: De
maneira prática atrela a permanência dos desmandos dos padres Jesuítas ao
atraso, a não conversão dos índios e a impossibilidade da realização de
casamentos dos mesmos com os portugueses, fórmula suscitada por Pombal
para incrementar na Colônia o povoamento, o aumento da produção de
riqueza e a defesa do território. 11

11 O religioso referia-se ao Alvará de Lei de 4 de abril de 1755, que estabelecia que os


vassalos do Reino e da América que se cassassem com índios ou índias não ficariam

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Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índios do
Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas contra os Padres José dos
Reis e Manoel de Andrade da Companhia de Jesus. 1757

Depois de mostrar todos os desmandos dos Jesuítas e o seu


próprio papel ora como vítima, ora como apaziguador e responsável pelo
estabelecimento de grupos de índio em aldeamentos, aproveitou o ensejo para
solicitar “uma ajuda de custo para se continuar a Igreja que o Suplicante está
fazendo no Rio de Macaé para dar com decência o pasto espiritual às ovelhas
novamente convertidas, porque são muito pobres”.
Termina a exposição lembrando ao rei, de maneira sutil, que ele tem
em seu poder uma força muito importante: “os Índios reverentes e humildes”
e que eles “se prostram aos pés de Vossa Majestade agradecidos da grandeza
com que os honra”.
***
Este documento permite a identificação não só de excessos
cometidos pelos Jesuítas, mas também demonstra os conflitos existentes na
região em função do controle sobre terras e riquezas. Remete também à
existência de colonos que viviam próximos à fazenda, arrendatários ou não,
mas que necessitavam manter com os poderosos algum tipo de convivência.
Neste caso analisado esta não foi pacífica e, conseqüentemente, os vassalos
solicitaram ajuda ao Rei. Isto mais uma vez comprova a ligação possível que
havia entre a figura real e seus vassalos e como eles muitas vezes souberam
utilizar esta possibilidade em seu favor.
Como resultado da exposição, no dia 31 de janeiro de 1758,
Thomé Joaquim da Costa Corte Real escreveu uma carta para o Governador
da Capitania, José Antonio Freire de Andrade, ordenando-o em nome do rei
que restituísse os índios das Aldeias de São Lourenço e de São Pedro às suas
casas, identificasse os responsáveis pelas prisões e embarcasse para o reino os
padres José dos Reis e Manoel de Andrade. Quanto às aldeias que tiveram
problemas com os jesuítas, que fossem colocados párocos nas mesmas.
Quanto aos dois jesuítas de maior prestígio citados na exposição, ordena que
os chame à sua presença e lhes repreenda.12

“com infâmia alguma”. Além disso, proibia-se que tais vassalos ou descendentes
fossem tratados por “caboclos”.
12 Carta de Thomé Joaquim Costa Corte Real ao Governador da Capitania do Rio de
Janeiro, José Antonio Freire de Andrade, em 31.1.1758. IHGB, Arq. 1,3,8. p. 186v.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 335-345, out./dez. 2007 341


Márcia Amantino

Este documento também permite identificar estes conflitos entre os


jesuítas e os colonos em uma área que normalmente não é muito estudada
com referência a este tema. Muito se sabe sobre este problema na Região
Norte do país, no Sul e em São Paulo graças aos variados trabalhos já
publicados. Entretanto, sobre o Rio de Janeiro há pouquíssimas obras
analisando os indígenas e menos ainda, os jesuítas e seu poder político e, ou
econômico.
***
Expõem a Vossa Majestade o Padre Antonio Vaz Pereira, Presbítero
do hábito de São Pedro, missionário do gentio novamente convertido, que há
dez anos tem conquistado cento e setenta léguas de costa desta Cidade para o
Norte, e convertido vinte e cinco aldeias, que estão reduzidas a quatro Igrejas,
administradas por sacerdotes, como consta da atestação do Prelado já
remetida. Muito mais tivera feito o Suplicante se o não embaraçaram os
Padres da Companhia com o mau tratamento dos Índios domésticos,
castigando-os rigorosamente, servindo-se deles sem lhes pagarem, e com isto
assombram aos dos Sertões para não quererem todos vir viver entre os
brancos. Com o novo Alvará de Leis de nobreza que Vossa Majestade foi
servido expedir a favor dos Índios se embraveceram os ditos Padres, que
tendo as Justiças a seu favor, degradaram desta Praça e Colônia dois Índios
da Aldeia de São Lourenço e um de São Pedro, prenderam mais sete de São
Lourenço na cadeia desta Cidade, donde não saíram sem assinar termo de não
usarem da nova Lei de Vossa Majestade. O mesmo fizeram ao Sargento-Mor
Índio da aldeia de São Barnabé. O Padre José dos Reis da mesma companhia
ouvindo as Leis de Vossa Majestade que nesta praça se publicaram a som de
caixas, se houve tão absoluto, que mandou pegar em quatro índios que se
achavam vizinhos da aldeia de Macaé, novamente convertida, e os açoitou
tão rigorosamente, que aqui se vieram queixar a esta Cidade, dizendo o dito
Padre que tal Lei não podia isentar os índios do seu cativeiro. Indo os oficiais
da Câmara de Cabo Frio a demarcar as terras do uso público nas passagens
dos Rios, segundo as Leis antigas e novíssimas de Vossa Majestade, saiu o
Padre Manoel de Andrade da mesma Companhia, e Feitor da fazenda dos
Campos Novos e os descompôs; e porque os ditos Camaristas se vieram
queixar a Relação desta Cidade, os fizeram prender na Cadeia pública, donde
não saíram sem assinar termo de se não queixarem dos ditos Padres, nem
darem conta das suas insolências a Vossa majestade. Isentaram-se os Índios
do jugo dos ditos Padres, mas como os Padres Provinciais não saíram das

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Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índios do
Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas contra os Padres José dos
Reis e Manoel de Andrade da Companhia de Jesus. 1757

aldeias, dizendo que o não podem fazer sem ordem de Vossa Majestade,
também não largaram as terras dos Índios antes as estão desfrutando, e como
senhores cobrando os foros dos moradores a quem tem arrendado.
Se não valera ao Suplicante a grande prudência do seu Reverendo
Prelado, já estaria em Angola, pela queixa que dele fizeram os ditos Padres
Provinciais com o falso pretexto de que ele interpretara a Lei de Vossa
Majestade a favor dos Índios.
Tem o Suplicante sua residência no Rio de Macaé e na barra dele se
acha o Padre José dos Reis da mesma Companhia, feitor de uma fazenda em
que está fabricando um engenho de açúcar para o seu Colégio em terras dos
Índios, o qual tem obrado contra os moradores e os Índios absurdos seguintes:
Preparou uma caixa de guerra e armou coisa de cinqüenta homens entre
Índios e Pretos, a quem apelidou Henriques e Camarões, com armas de fogo,
chuços e lanças mandou à casa de Manoel Rodrigues pobre serrador e
tomou-lhe o seu tabuado, dizendo confiscava por ter serrado nos Sertões que
pertencem ao seu Colégio, sendo falso. Da mesma sorte mandou buscar
amarrado a Luiz Vieira, pardo forro, para o castigar por outro tanto tabuado
que lhe tomou, e o fizera se o pobre homem lhe não passara arrendamento
para serrar nas terras que estão devolutas. Dando-se ali umas pancadas de
noite em um homem chamado o Bananeira, marchou o dito Padre Reis no
centro dos seus Henriques e Camarões dizendo em vozes altas, matem a quem
acharem. Por causa da seca faltando água na Povoação da Barra e porque os
moradores a iam buscar em canoas pelo rio acima, os impediu o dito Padre,
fazendo-os estalar a sede com o falso pretexto de irem serrar sem sua licença
nos ditos matos. Contra o dito Manoel Rodrigues mandou segunda vez os
seus armados, e lhe tomou por força todo o dinheiro que o dito tinha feito o
seu tabuado, que vendeu nesta Cidade.
Alugando uns bois ao Castelhano Francisco Dias e morrendo dois dos
alugados pelo dito Padre Reis, obrigou não só a que o Castelhano lhe pagasse
os aluguéis, mas também os bois que morreram.
Com o mesmo poder queimou as casas de vivenda de José Francisco,
sitas nas terras de uso público, dizendo ali não queria moradores. O mesmo
fez a João de Oliveira homem pobre carregado de filhos, reduzindo a cinzas
quanto tinha dentro. Sabendo que tinham ferido a um velho chamado
Silvestre Martins, por ser sogro de seu compadre João Martins, marchou o

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 335-345, out./dez. 2007 343


Márcia Amantino

dito Padre no centro dos seus Henriques e Camarões, com escândalo grande
do Povo, dizia vamos a fazer em postas a quem agravou meu compadre.
Assim também pelos seus armados mandou arrancar as plantas de Vicente de
Araújo por aparecer um boi ferido do Colégio, e suspeitaram o feriram os
escravos do dito. Estando o dito Padre revestido para dizer missa em dia de
preceito, soube que ali se achava para o ouvir um Francisco Pereira, homem
branco, o mandou tirar da Igreja com armas e o deitou pela ladeira abaixo
decomposto. Da mesma sorte tirou em outra ocasião debaixo do Altar Mor
ao filho do Capitão-Mor daquela aldeia, e o assustou em um carro
publicamente, e o dito Capitão Mor morreu de paixão. Em véspera do
Espírito Santo desceu o dito Padre a som de uma caixa de guerra no centro dos
seus Henriques e Camarões tocando a degolar contra o povo a favor de seu
compadre Manoel de Mello por ter este dado muita pancada em um Mascate
chamado Antonio Luiz que se opôs à Santa Unção, e haveria muitas mortes se
o Missionário Suplicante se não achasse naquele lugar.
Queixando-se no dia seguinte, que ali chegou o Povo ao Padre Luiz
Alves Visitador da Companhia destas grandes absolutas do Padre, respondeu
que não seria Padre da Companhia se assim o não fizesse; e que entendessem
que eles eram Donatários de Macaé. Queimou também a casa de residência
que ali nas terras da República tinha o Padre Missionário do Gentio com
quanto dentro tinha. Assim também queimou as casas de Francisco da Silva
homem branco, e lhe deu muita pancada o qual se veio queixar a esta Cidade.
Também queimou as casas da Índia Maria, mulher do Capitão, sem lhe valer
pedir a dita a deixasse tirar uma imagem de Santo Cristo que tinha dentro. A
Domingos Rodrigues mandou queimar as casas em que vivia também à
margem do rio, dizendo que ali não queria povoadores. Os Índios que o dito
Padre Reis tem açoitadomuaaderovinciais pública e rigorosamente são:
Maria Velha, mulher do Capitão Mor, seu filho João, Antonia, Adriana,
Francisca, Apolinário e Raphael. Ao Capitão Mor presente Thomé de Souza
mandou pegar de dia publicamente por seus negros e dar-lhe muita pancada.
Os escravos do Colégio, em quem o dito Padre tem dado público
castigos e extraordinários, são os seguintes: Ao Preto Gonçalo mandou dar
cinqüenta açoites em cada canto da povoação daquela fazenda com um
pregão que dizia: Justiça que manda fazer o Reverendo Padre Jose dos Reis
Superior desta fazenda a este homem por falar no seu crédito e logo lhe faria
beber um molho de sal, pimenta e vinagre, tocando a sua caixa de guerra entre
seus Henriques e Camarões. A Ignez, mulher de Paulino, em outro dia santo

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Exposição do Padre Antonio Vaz Pereira acerca da degradação dos Índios do
Aldeamento de São Lourenço e de São Pedro. Queixas contra os Padres José dos
Reis e Manoel de Andrade da Companhia de Jesus. 1757

fez o mesmo com as repetidas cerimônias. A Maria, mulher de Gabriel, e a


Ignez meteu um freio de besta na boca de cada uma por falarem no seu
crédito. A Francisca, mulher de Pedro mandou amarrar despida dentro na
Igreja em dia santo, para que o povo a visse descomposta. A João e a Jacó
mandou meter em canga de bois e os fez puxar em uma zorra como animais
garrochando-os o dito Padre por se ter quebrado a perna a um boi.
Prendeu a um pardo forro chamado Francisco Moniz no seu tronco
para o açoitar e sem dúvida o fizera se lhe não valeram os padrinhos, mas não
escapou de lhe queimar a sua casa com quanto tinha. Toda esta queixa
fizeram os moradores de Macaé ao Padre Provincial da Companhia João
Honorato, o qual prometendo de tirar dali ao Padre e castigá-lo, o não fez,
antes vai continuando nas suas arrogâncias e me pediram os moradores de
Macaé desse de tudo fiel e verdadeira conta a Vossa Majestade para com a
justiça que costuma, acudir a seus pobres vassalos, que em quanto os Padres
da Companhia presidirem naquela Povoação nem poderão os moradores
adiantar a Povoação, nem os Índios novamente convertidos, poderão descer
de seus sertões a se casarem com os Portugueses, único meio para se dilatar a
conquista de Vossa Majestade. Porque não há letrado nesta Cidade que
possa fazer papel pelos Índios a quem os Padres da Companhia não persigam
como de próximo fazem aos Doutores Castilho e Thagarro suspendendo e
condenando em pena pecuniária, pede o Suplicante Missionário Antonio Vaz
Pereira, queira Vossa Majestade dignar-se mandar por decreto seu fazê-lo
Procurador Geral dos Índios do Brasil, assim das aldeias antigas, como das
novamente convertidas, com poder expresso de poder substabelecer esta
procuração em qualquer letrado nas cidades ou vilas em que for necessário
punir ou procurar pelos Índios. Outrossim, pede o Suplicante mande Vossa
Majestade dar uma ajuda de custo para se continuar a Igreja que o Suplicante
está fazendo no Rio de Macaé para dar com decência o pasto espiritual às
ovelhas novamente convertidas, porque são muito pobres. Todos os Índios
reverentes e humildes se prostram aos pés de Vossa Majestade agradecidos da
grandeza com que os honra. Deus prospere a Vossa Majestade as felicidades
temporais e espirituais como todos os vassalos amantes e obedientes lhes
desejamos. Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1757. O mais inútil vassalo.
Missionário Antonio Vaz Pereira.

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V—NOTICIÁRIO

A-ATOS DO PRESIDENTE

EDITAL Nº 01/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
titulares, em virtude do falecimento do sócio Carlos de Meira Mattos.
Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 02/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
titulares, em virtude do falecimento do sócio Roberto Luiz Assumpção de
Araújo.
Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

EDITAL Nº 03/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
titulares, em virtude do falecimento do sócio Mons. Maurílio César de Lima.
Rio de Janeiro, 04 de abril de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 04/07
Ficam convidados os Sócios Eméritos, Titulares e Correspondentes
Brasileiros a se reunirem em Assembléia Geral Ordinária no dia 13 de junho,
em primeira convocação às 12 horas e em segunda convocação às 14 horas,
com o quorum previsto no art. 20 do Estatuto, com a seguinte ordem do dia:
• Prestação de Contas 2006;
• Previsão orçamentária 2007;

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Noticiário

• Assuntos Gerais
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 05/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
titulares, em virtude do falecimento do sócio Aristides Pinto Coelho.
Rio de Janeiro, 3 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 06/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
honorários brasileiros, em virtude do falecimento do sócio Mons. Arlindo
Rubert.
Rio de Janeiro, 4 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 07/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
honorários brasileiros, em virtude do falecimento do sócio Ubiratan Borges
de Macedo.
Rio de Janeiro, 23 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 08/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
honorários brasileiros, em virtude do falecimento do sócio Antônio Jorge
Corrêa.
Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

348 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

EDITAL Nº 09/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação estatutária, declara que ficam abertas para apresentação, nos
prazos abaixo, de propostas de candidatos às seguintes vagas,
observando-se os procedimentos estabelecidos no art. 2o do Estatuto.
a) 1 (uma) vaga de sócio correspondente brasileiro – 30 dias
b) 1 (uma) vaga de sócio correspondente português – 60 dias
Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)
EDITAL Nº 10/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação estatutária, declara que fica aberto por 30 (trinta) dias o prazo
para apresentação de propostas de candidatos a 4 (quatro) vagas de sócios
honorários brasileiros, observando-se os procedimentos estabelecidos no
art. 2o do Estatuto.
Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 11/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação estatutária, declara que fica aberto por 30 (trinta) dias o prazo
para apresentação de propostas de candidatos a 3 (três) vagas de sócios
titulares, observando-se os procedimentos estabelecidos no art. 2o do
Estatuto.
Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

EDITAL Nº 12/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação regimental, declara aberta uma vaga no quadro de sócios
titulares, em virtude do falecimento do sócio Newton Lins Buarque Sucupira.
Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 349


Noticiário

EDITAL Nº 13/07
Ficam convidados os Sócios Eméritos, Titulares e Correspondentes
Brasileiros a se reunirem em Assembléia Geral Extraordinária no dia 17 de
outubro, em primeira convocação às 12 horas e em segunda convocação às
14 horas, com o quorum previsto no § 2o do artigo 20 do Estatuto, com a
seguinte pauta:
Eleição de novos membros do Quadro Social nas categorias:
Sócio Emérito 1 vaga
Sócios Titulares 3 vagas
Sócios Honorários Brasileiros 4 vagas
Sócio Correspondente Brasileiro 1 vaga
Sócio Correspondente Português 1 vaga
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2007.: Ass.: Arno Wehling
(Presidente)
EDITAL Nº 14/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por
determinação estatutária, declara aberta a vaga no quadro de sócios
eméritos em decorrência do falecimento do sócio benemérito Mário Antônio
Barata.
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

EDITAL No 15/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso de
suas atribuições e considerando a eleição para preenchimento dos cargos de
Diretoria, Conselho Fiscal e Comissões Permanentes, para o biênio
2008/2009,
Resolve, ad referendum do Conselho Consultivo:

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Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

1. Fica estabelecido o prazo de 20 dias, a contar desta data,


para a apresentação de chapas na Secretaria do Instituto, encerrando-se às
17 horas do dia 30 de novembro.
2. A eleição ocorrerá no dia 12 de dezembro, às 14 horas em 1a
convocação e às 16 horas em 2a convocação.
3. O processo eleitoral reger-se-á pelo disposto no art. 12 do
Regimento do Instituto e, no que couber, pela Portaria 03/05 de 11 de
novembro de 2005.
Rio de Janeiro, 9 de novembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

EDITAL Nº 16/07
Ficam convidados os Sócios Eméritos, Titulares e Correspondentes
Brasileiros a se reunirem em Assembléia Geral Extraordinária no dia 12 de
dezembro, em primeira convocação às 14 horas e em segunda convocação às
16 horas, com o quorum previsto no § 2o do artigo 20 do Estatuto, com a
seguinte pauta:
Eleição de Diretoria, Conselho Fiscal e Comissões Permanentes,
para o biênio 2008/2009.
Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 351


Noticiário

PORTARIA 01/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de acordo
com o Estatuto e com as atribuições que o mesmo lhe confere,
RESOLVE:
Admitir no quadro de funcionários desta entidade, Thales Rocha
Gonçalves como Auxiliar de Escritório, com os proventos iniciais de R$
400,00 (quatrocentos reais), no horário de 09:00 às 18:00 horas, de segunda
a sexta-feira, sendo reservado o horário de 12:00 às 13:00 horas, para
refeição e descanso.
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

PORTARIA 03/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de acordo
com o Estatuto e com as atribuições que o mesmo lhe confere,
RESOLVE:
Acrescentar à Comissão da Revista – Editores, a sócia honorária
brasileira Mary Lucy Murray Del Priore.
Rio de Janeiro, 13 de Junho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

PORTARIA 04/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar o funcionário Jeferson dos Santos
Teixeira (Gerente administrativo) por sua extrema dedicação, do início do
planejamento às últimas fases do Curso “1808 – A transformação do Brasil:
de Colônia a Reino e Império”, atividade integrante da programação do
Instituto para as comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, em 2008 e desenvolvido no período de 22 de maio a 13
de junho de 2007.
Sua competência, nos setores que lhe são afetos, com destaque para a
agilização da ampliação do espaço aos inscritos no Curso, cabe enfatizar.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos do
funcionário como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

352 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

PORTARIA 05/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar a funcionária Tupiara Machareth
Ávila Dias (Secretária) por sua extrema dedicação, do início do
planejamento às últimas fases do Curso “1808 – A transformação do Brasil:
de Colônia a Reino e Império”, atividade integrante da programação do
Instituto para as comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, em 2008 e desenvolvida no período de 22 de maio a 13
de junho de 2007.
Sua competência, inteira disponibilidade e qualidades de trato em
relação aos conferencistas e alunos/participantes são credenciais a
evidenciar.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos da
funcionária como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

PORTARIA 06/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar o funcionário Anderson Pereira da
Silva (Auxiliar de Escritório), pela competência e dedicação demonstradas
durante a realização do Curso “1808 – A transformação do Brasil: de
Colônia a Reino e Império”, atividade integrante da programação do
Instituto para as comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, em 2008, e desenvolvida no período de 22 de maio a 13
de junho de 2007.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos do
funcionário como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

PORTARIA 07/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar o funcionário Thales Rocha Gonçalves
(Auxiliar de Escritório), pela competência e dedicação demonstradas

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 353


Noticiário

durante a realização do Curso “1808 – A transformação do Brasil: de


Colônia a Reino e Império”, atividade integrante da programação do
Instituto para as comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, em 2008, e desenvolvida no período de 22 de maio a 13
de junho de 2007.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos do
funcionário como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)
PORTARIA 08/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar o funcionário Márcio da Silva (Auxiliar
de Serviços Gerais), pela competência e dedicação demonstradas durante a
realização do Curso “1808 – A transformação do Brasil: de Colônia a Reino
e Império”, atividade integrante da programação do Instituto para as
comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte Portuguesa ao Brasil,
em 2008, e desenvolvida no período de 22 de maio a 13 de junho de 2007.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos do
funcionário como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

PORTARIA 09/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso
das suas atribuições, resolve elogiar o funcionário Givonildo Luiz da Silva
(Auxiliar de Serviços Gerais), pela competência e dedicação demonstradas
durante a realização do Curso “1808 – A transformação do Brasil: de
Colônia a Reino e Império”, atividade integrante da programação do
Instituto para as comemorações do Bicentenário da Chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, em 2008, e desenvolvida no período de 22 de maio a 13
de junho de 2007.
Esta Portaria deverá ser incorporada aos assentamentos do
funcionário como justiça a seu trabalho e estímulo em sua carreira.
Rio de Janeiro, 04 de julho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

354 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

PORTARIA Nº 10/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso de
suas atribuições,
RESOLVE:
Acrescentar à Comissão do Segundo Centenário da Transferência da
Corte Portuguesa para o Brasil, constituída através da Portaria no 21/06 de
16 de agosto de 2006, a sócia honorária brasileira Marilda Corrêa Ciribelli.
Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

PORTARIA Nº 11/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso de
suas atribuições,
RESOLVE:
Nomear para a 2ª vice-presidência do Instituto, em substituição ao
sócio benemérito Mario Antonio Barata, cumulativamente com a 3ª
Vice-Presidência, o sócio titular Victorino Chermont de Miranda.
Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

PORTARIA Nº 12/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso de
suas atribuições,
RESOLVE:
Nomear para compor a Comissão de História do Instituto, em
substituição ao sócio titular Maurílio César de Lima, o sócio titular
Guilherme de Andréa Frota.
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 355


Noticiário

PORTARIA Nº 14/07
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no uso de
suas atribuições,
RESOLVE:
Extinguir, nos termos do Art 1º das Disposições Gerais e Transitórias
do Estatuto, a vaga de sócio benemérito de Mário Antônio Barata, falecido
em 14 de setembro de 2007.
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2007. Ass.: Arno Wehling
(Presidente)

PORTARIA 16/08
O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de acordo
com o Estatuto e com as atribuições que o mesmo lhe confere,
RESOLVE:
Admitir no quadro de funcionários desta entidade, Carlos Eduardo
Silveira dos Santos como Assistente Administrativo, com os proventos
iniciais de R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais), no horário de 09:00 às
18:00 horas, de segunda a sexta-feira, sendo reservado o horário de 13:00 às
14:00 horas, para refeição e descanso.
Rio de Janeiro, 11 de Junho de 2007. Ass.: Arno Wehling (Presidente)

356 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

C-ARQUIVO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
ARQUIVO

Relatório das atividades


Período de outubro de 2006 a setembro de 2007

A – O ARQUIVO DO IHGB, NO DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES,


DESENVOLVE AS SEGUINTES ATIVIDADES DE ROTINA:

- Acompanhamento das reproduções fotográficas (documentos textuais e iconográficos).


- Análise crítica dos documentos manuscritos.
- Arranjo da documentação.
- Confecção do material de acondicionamento da documentação (pastas, envelopes).
- Higienização dos documentos.
- Digitação do material produzido pela equipe técnica (planilhas, relações, inventários).
- Pesquisas para identificação e classificação da documentação.
- Autorização para reprodução fotográfica ou xerográfica de peças do acervo.
- Correspondência interna e externa.
- Levantamento estatístico da documentação consultada.
- Digitalização do acervo iconográfico.

B – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS:
1 – Documentação escrita:
1.1 - Arquivo General Osório – ACP 17
1.1.1 - Série: Documentos oficiais
- Descrição
1.2 - Arquivo Epitácio Pessoa
- Digitação da parte descrita.
- Nº de caixas: 07

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 357


Noticiário

2– Reprodução:
2.1 – Solicitante: Renata Santos
Finalidade: Livro “Uma historia da Gravura no Brasil” (1808 – 1853)
Material solicitado: a) Apólice – 1852
b) Bilhete de Loteria – 1846
2.2 – Solicitante: Revista Pesquisa Fapesp
Material solicitado: 2 páginas do manuscrito “Por uma historia da
vacina no Brasil”, de Joaquim Norberto de Sousa Silva.
Finalidade: Ilustração de reportagem sobre o manuscrito.
2.3 – Solicitante: Revista de Historia da Biblioteca Nacional
Material solicitado: 5 reproduções
2.4 – Solicitante: Priscila Serejo Martins
Material solicitado: 2 reproduções
2.5 – Solicitante: Tereza Malatian
Material solicitado: 1 reprodução
2.6 – Solicitante: Ileana Pradilha
Material solicitado: 2 reproduções para o projeto de restauro da Igreja
Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé.
2.7 – Solicitante: Patrícia Bueno
Material solicitado: Origens históricas da colônia do Sacramento.
2.8 – Solicitante: Artur Vitória Silva
Material solicitado: 2 documentos do Arquivo General Osório.
2.9 – Solicitante: Carlos A. L. Filgueras
Material solicitado: Esboço de uma universidade no Brasil de José
Bonifácio de Andrade Silva
2.10 – Solicitante: TV Globo – Globonews - Projeto 200 anos – Viagem da
Corte Portuguesa ao Brasil.
Material solicitado: Representação feita ao Príncipe Regente D. João
por D. Rodrigo de Sousa Coutinho aconselhado a mudança da
metrópole para os domínios ultramarinos. 1807
3– Trabalhos em andamento:

358 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

1 – Arquivo Epitácio Pessoa


- Digitação da parte descrita: correspondência e demais documentos.
2 – Arquivo General Osório
- Descrição da série – Documentos oficiais.

C – ACERVO - ENRIQUECIMENTO:
Doações:
1 – Eleições presidenciais - 2006 – Propaganda eleitoral
Nº de documentos: 2 impressos
Doador: Victorino Coutinho Chermont de Miranda, vice-presidente do
IHGB.
2 – Autobiografia de Stefan Zweig.
Manuscrito em alemão
Doador: Henrique La Saigne de Botton.
3 –Resumo da biografia de Adalzira Cavalcanti de Albuquerque Bittencourt
Ferreira – publicada na Revista Genealógica Brasileira
Doador: Francisco José Andrade Ramalho
4 – Carta de Azeredo a Pinheiro – s.l,s.d com cópia Xerox.
Carta :Irene Bernardes
5 – a) documentos relacionados a Joaquim Silvério dos Reis, que se
encontram na Seção de Obras Raras e Manuscritos da Biblioteca Pública
Benedito Leite. 1 CD e relação dos referidos documentos (cópia Xerox).
b) Artigo de José Ribeiro do Amaral – Tiradentes – 21 de abril.
Apresentação do artigo por Luis de Melo (cópia Xerox).
c) Artigo de Arnaldo Ferreira. Ironias do Destino. (O Imparcial, São Luis
- MA. 1.9.1957,p.4 – cópia Xerox).
d) Dados biográficos de José Ribeiro do Amaral, Jerônimo de Viveiros e
Arnaldo Ferreira, extraídos da Antologia da Academia Maranhense de
Letras.
Doador: Luis de Melo

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 359


Noticiário

6 – Selo comemorativo do centenário de nascimento de Pedro Aleixo.


Doador: Padre José Carlos Brandi, sócio correspondente brasileiro.
7 – Cartas do chefe do Estado Maior do Exército Augusto Tasso Fragoso a
Getúlio Vargas, presidente da República. Resposta do presidente – 3 docs.
Doador: Fernando Tasso Fragoso Pires, sócio titular do IHGB.
8 – Parte do acervo que pertenceu ao historiador Pedro Calmon Moniz de
Bittencourt.
Doador: Pedro Calmon Filho

Transferência:
1 – Cédula de propaganda eleitoral. Para vereador Newton Guerra.
Encaminhado pela biblioteca do IHGB, Maura Macedo Corrêa e Castro.

Adquiridos por compra:


FARP
- Documentos sonoros: 1 disco de campanha eleitoral
- Documentos textuais:
- Carta de Rodrigo Melo Franco de Andrade a Felix Pacheco.
- ABC de Lacerda. A Historia do Político e Jornalista que nunca se vendeu.
Autor: Cego Aderaldo.
- Banquete em honra de sua excelência, o presidente da República
Portuguesa, Francisco Higino Craveiro Lopes.
- Selo de Campanha Eleitoral – UDN – Eduardo Gomes.

LEILÃO
- Campanha eleitoral (calendário,modelo de cédula eleitoral, cartaz) – 19
docs.
- Cardápios – 3
- Documentos sonoros: 9 discos (campanha eleitoral).
COMODATO

360 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

Comodante: Victorino Coutinho Chermont de Miranda


Encaminhados ao Arquivo : 2 cartas referentes ao então diácono Maurílio
César de Lima.
D – VISITA AO ARQUIVO
1 – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Departamento de Historia
– Cadeira de Arquivística.
- Prof. Jaime Antunes da Silva
- Participação: 26 alunos
E – AUTOMAÇAO DO ARQUIVO:
· Coleção IHGB
· Arquivo General Osório
· Arquivo Victorino Chermont
· Arquivo João Severiano
· Arquivo Fonseca Hermes
· Arquivo Paulo de Frontin
· Arquivo Helio Viana
· Arquivo Wanderley Pinho

- Itens disponibilizados para o usuário: 21.913

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 361


Noticiário

F – MATERIAL RECEBIDO PELO ARQUIVO:


1 – Permanente:
- Estantes de aço com 6 prateleiras .................... 01
- Pastas carta (papel Filifold) ............................ 3.000 pastas
- Arquivos de aço com 4 gavetas ........................ 02

G – METAS PARA 2008


- Arquivo General Osório
Descrição e digitação.
- Arquivo Epitácio Pessoa
Digitação
Descrição da correspondência e da documentação avulsa e encadernada
(continuação).

Rio de janeiro, 13 de novembro de 2007

Lucia Maria Alba da Silva


Chefe do Arquivo

362 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO


ARQUIVO
ICONOGRAFIA

Relatório das atividades


Período de outubro de 2006 a setembro de 2007

A – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS:
a) Digitação de planilhas de descrição
b) Pesquisa
c) Acompanhamento das reproduções fotográficas
d) Registro no livro de entrada do acervo
e) Confecção de envelopes, caixas, pastas para acondicionamento

B – TRATAMENTO ARQUÍVISTICO:
a) Acondicionamento e notação – 290
b) Digitação de planilhas – 41
c) Digitação de peças do arquivo Augusto de Malta – 81

C - REPRODUÇÃO:
a) Supremo Tribunal Federal – Secretaria de Documentação
Material solicitado: Foto de Luís José de Carvalho Melo.

b) Priscila Serejo
Material Solicitado: 7 imagens

c) Arquivo Público Mineiro / SEC / Revista


Material solicitado: Foto do busto de Raimundo José da Cunha Matos.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 363


Noticiário

d) Revista de Historia
Material solicitado: 2 imagens: de Max Fleiuss e do IHGB
Finalidade: Ilustrar artigo da sócia honorária do IHGB, Lucia Maria
Paschoal Guimarães.

e) Daniel Eduardo Sarmento Lopes


Material solicitado: Foto de Frederico Solon Sampaio Ribeiro
Finalidade: Complementação de acervo do 17º Regimento da Cavalaria
Mecanizado.

f) Celso Luís Ribeiro de Sousa – Gerente de Educação Corporativa –


COMLURB
Material solicitado: 5 imagens
Finalidade: Site da COMLURB – Memória da limpeza urbana na cidade
do Rio de Janeiro.

g) Marcelo Eduardo Leite


Material solicitado: 11 imagens
Finalidade: Pesquisa de doutoramento – Fotografia e Sociedade no
Brasil. Um estudo das “cartes de visite” brasileira.

h) Pindorama Filmes
Material solicitado: 6 imagens
Finalidades: Programa educativo “Um pé de quê?” exibido no Canal
Futura.

i) Revista de História
Material solicitado: 19 imagens

j) Wiebke Ibsen
Material Solicitado: 1 imagem

l) Ileana Pradilha
Material solicitado: 5 imagens para o projeto de restauro da Igreja Nossa
Senhora do Carmo da Antiga Sé.

m) Fundação Roberto Marinho


Material solicitado: 12 imagens

364 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


Atos do Presidente (Editais e Portarias) - Museu - Arquivo

Finalidade: Projeto Telecurso

n) Centro Cultural da Saúde – Ministério da Saúde


Material solicitado : Hospício de D. Pedro II

o) Rodrigo Moura Visoni


Material solicitado: Retrato de Augusto Severo de Albuquerque
Maranhão

p) Instituto Cultural D. Isabel I – A Redentora


Material solicitado: Missa campal comemorativa da Abolição da
Escravatura.

D – ACERVO – ENRIQUECIMENTO
Adquirido por compra:
a) Farp
- 24 retratos de diversos fotógrafos.
b) Leilão
- 2 fotos
Comodato
- Candomblé da Bahia (13 pranchas)
- Desenho original de Luís Jardim
Comodante: Victorino Coutinho Chermont de Miranda
Doações
1 – Calendário Histórico Sorocabano
Doador: Adilson César – sócio correspondente do IHGB.
2 – José Américo de Almeida ( 3 fotos)
Doador: Francisco José Andrade Ramalho.
3 – O Imperador Viajante – D. Pedro II redescobre o Brasil – 6 desenhos a
lápis.
Doador: Victorino Coutinho Chermont de Miranda

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007 365


Noticiário

4 – Antônio Vicente da Fontoura Xavier (retrato)


Doador: Padre José Carlos Brandi Aleixo, sócio correspondente do
IHGB

Rio de janeiro, 13 de novembro de 2007

Lucia Maria Alba da Silva


Chefe do Arquivo

366 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):347-366, out./dez. 2007


VI—ATAS DAS SESSÕES DO INSTITUTO

I - ASSEMBLÉIAS GERAIS, ORDINÁRIAS E


EXTRAORDINÁRIAS

SESSÃO ORDINÁRIA DE 11 DE ABRIL DE 2007

Posse do sócio correspondente brasileiro Marco Antonio de Oliveira


Maciel
Às dezessete horas e trinta minutos do dia onze de abril de
dois mil e sete, realizou-se, no Salão Nobre, com grande afluência de sócios e
convidados, entre os quais, acadêmicos da ABL, a posse do sócio
correspondente brasileiro senador Marco Maciel. A sessão foi presidida pelo
prof. Arno Wehling, com secretaria de Cybelle Moreira de Ipanema. Dando
abertura à sessão, o presidente compôs a Mesa com Alberto Venâncio Filho,
consócio, representando a presidência da Academia Brasileira de Letras, alm.
Armando de Senna Bittencourt, também sócio, diretor do Patrimônio
Histórico e Cultural da Marinha, a secretária municipal de Educação, Sonia
Mograbi, o secretário de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro e deputado
federal, Rubem Medina, e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais, Marco Aurélio Baggio. Como de praxe, foram lidas as
Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco, referentes à data. A seguir, o
presidente designou Comissão de sócios para introduzirem o empossando:
Alberto da Costa e Silva, Sérgio Paulo Rouanet e Marcos Azambuja.
Chegando à Mesa, sob aplausos, Marco Maciel ouviu a leitura do Termo de
Posse, pela secretária, e pronunciou o Termo de Compromisso, indicado pelo
presidente. Recebeu, das mãos deste, seu Diploma e apôs sua assinatura no
Livro de Posse. Para a imposição do colar, foi chamada a senhora Ana Maria
Maciel, esposa do empossando. O presidente convocou à tribuna o sócio
correspondente brasileiro Vamireh Chacon, para o Discurso de boas-vindas
que se centrou, principalmente, na formação acadêmica e política do
pernambucano Marco Maciel, seu conterrâneo, egresso da velha Faculdade
de Direito do Recife, ex-de Olinda, fundada juntamente com a de São Paulo,
em onze de agosto de mil oitocentos e vinte e sete. A retidão de caráter e a
prática da política com ética sempre marcou a carreira do novo sócio, detentor
de cargos eletivos no legislativo local e nacional, como executivo de seu

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 367


Atas das sessões do Instituto

estado. Cumpre hoje, mais um mandato de senador, nesse itinerário que


acompanha a vida brasileira, e, no Instituto, é mais um ilustre membro da
longa lista de pernambucanos que têm engrandecido esta Casa. O presidente
agradeceu a Vamireh Chacon e passou a palavra ao empossando para sua
alocução de Posse que versou sobre “O Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e a História Nacional”. Mostra ele que, realmente, no IHGB, em
1838, nasceu a pesquisa no Brasil. Acompanha a vida mais que
sesquicentenária da instituição em seu afã de recolher, metodizar e publicar
documentos que embasam a história do país. Relembrou o seu, também já
provecto, Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e os
vultos que o têm ilustrado como ao Brasileiro. O presidente agradeceu e pediu
à secretária fizesse menção às autoridades presentes e manifestações de
apreço recebidas que foram, inclusive, do presidente da República.
Agradeceu a presença de todos e convidou para recepção no terraço,
oferecida pelo casal Marco Maciel.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Fernando Tasso
Fragoso Pires, Elysio Custódio de Oliveira Belchior, Lucia Maria Paschoal
Guimarães, Melquíades Pinto Paiva, Maria da Conceição Coutinho Beltrão,
Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Esther Caldas Bertoletti, Vamireh
Chacon, Marco Antonio de Oliveira Maciel, Guilherme de Andréa Frota,
Davis Ribeiro de Sena, Armando de Senna Bittencourt, Helio Leoncio de
Albuquerque, Tarcísio Padilha, Arnaldo Niskier, Alberto Venancio Filho,
Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, José Arthur Rios, Sergio Paulo
Rouanet. Marcos Castrioto Azambuja, Antonio Gomes da Costa, Ronaldo
Rogério de Freitas Mourão, Alberto da Costa e Silva, Luiz de Castro Souza e
Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

SESSÃO DE 11 DE ABRIL DE 2007

Posse do sócio correspondente brasileiro Carlos Henrique Cardim


Aos onze dias do mês de abril de 2007, no Gabinete do
presidente Arno Wehling, tomou posse às quatorze horas e trinta minutos, o
sócio correspondente brasileiro Carlos Henrique Cardim. Secretaria de

368 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Cybelle de Ipanema e presença, além de presidente e secretária, do secretário


adjunto, Arivaldo Silveira Fontes e do tesoureiro, Tasso Fragoso Pires. A
posse, nessas circunstâncias, comporta todos os atos das sessões solenes,
abstraindo-se, apenas, o Discurso de Recepção. O presidente pediu que fosse
lido o Termo de Posse pela secretária. A seguir, o Termo de Compromisso
pelo empossando, após o que, declarou-o empossado, passando-lhe o
Diploma e o Livro de Posse para assinatura. Houve, também, imposição do
colar acadêmico. O novo sócio quis proferir palavras que foram de
agradecimento por sua eleição e investidura e de intenção plena em colaborar
nas atividades do Instituto. O embaixador Carlos Henrique Cardim é cientista
social e diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI). Já
serviu em vários países, como Argentina, Paraguai e Estados Unidos, sempre
atuando com aproximação da História. Como presidente do Conselho
Editorial do Senado, tem promovido a reedição de obras esgotadas, a
exemplo da História da civilização brasileira, de Pedro Calmon. O
presidente felicitou o novo sócio, esperando sua colaboração, em especial nas
páginas da Revista.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DE 25 DE ABRIL DE 2007

Posse da sócia honorária brasileira Mary Lucy Murray del Priore


Aos vinte e cinco dias do mês de abril de dois mil e sete,
realizou-se no Salão Nobre a posse da sócia honorária brasileira Mary del
Priore. Sessão aberta às dezessete horas e quinze minutos, pelo prof. Arno
Wehling, presidente da sessão, com secretaria de Cybelle Moreira de
Ipanema. A Mesa foi composta, além de presidente e secretária, por Claudio
Murilo Leal, vice-presidente do Pen Club, alm. Armando de Senna
Bittencourt, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, emb.
Marcos Azambuja, presidente da Casa França–Brasil, Octávio Mello
Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, e o terceiro
vice-presidente do IHGB, Victorino Chermont de Miranda. Foram lidas as
Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco, relativas à data. O presidente
designou Comissão de sócios para introduzirem a empossanda no plenário,
composta de Marilda Corrêa Ciribelli, José Arthur Rios e Esther Caldas
Bertoletti, sendo a nova sócia recebida de pé, sob aplausos, em um plenário

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 369


Atas das sessões do Instituto

bastante concorrido. Achegando-se à Mesa, foi-lhe lido o Termo de Posse,


pela secretária, e, pela sócia, o Termo de Compromisso, estatutário. O
presidente Arno Wehling, escolhido para recebê-la, traçou-lhe o perfil
acadêmico e de pesquisadora, com grande atuação em cursos, congressos e
afins, ao lado de ampla bibliografia voltada aos campos da memória e da
história, das relações e práticas sociais com familiaridade com a
documentação. Participante, igualmente, de obras coletivas, como a dedicada
à Vida Privada no Brasil. Encerrando sua fala, deu a palavra a Mary del
Priore para seu Discurso de Posse, em que enfocou “Em um país sem
memória, história para que?”, no qual discorreu sobre os dois temas, tratando,
em especial, da História Contemporânea do Brasil e o papel dos
historiadores, sendo muito aplaudida. O presidente solicitou à secretária que
registrasse as manifestações recebidas, uma delas, do senador José Sarney.
No encerramento, o prof. Arno reiterou felicitações ao trabalho científico da
nova sócia, muito esperando de sua participação nas atividades da Casa.
Agradecendo a presença de sócios e visitantes, convidou para a recepção, no
terraço, oferecida pela empossada.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Lygia da
Fonseca Fernandes da Cunha, Fernando Tasso Fragoso Pires, Marcos
Guimarães Sanches, Elysio de Oliveira Belchior, Mary del Priore, Maria de
Lourdes Viana Lyra, Helio Leôncio Martins, Armando de Senna Bittencourt,
Victorino Chermont de Miranda, Eduardo Silva, Marilda Corrêa Ciribelli,
Melquíades Pinto Paiva, Lucia Maria Paschoal Guimarães, Guilherme de
Andréa Frota, Max Justo Guedes, Alberto Venâncio Filho, Esther Caldas
Bertoletti, José Murilo de Carvalho, Marcos Castrioto Azambuja, Affonso
Arinos de Mello Franco, Alberto da Costa e Silva, José Arthur Rios, Maria
Cecília Ribas Carneiro, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e Cybelle de
Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DE 9 DE MAIO DE 2007

Posse do sócio correspondente brasileiro Adilson Cezar


Aos nove dias do mês de maio de dois mil e sete, na Sala
Pedro Calmon, realizou-se a posse do sócio correspondente brasileiro
Adilson Cezar. Na ausência do presidente Arno Wehling, sessão presidida

370 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

pelo terceiro vice-presidente, Victorino Coutinho Chermont de Miranda, com


secretaria de Cybelle Moreira de Ipanema. Aberta às dezessete horas e quinze
minutos, o presidente compôs a Mesa com o presidente da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil, cel. Claudio Moreira Bento, o presidente
do Colégio Brasileiro de Genealogia, Carlos Eduardo Barata, e o diretor do
Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, alm. Armando de Senna
Bittencourt. Lidas as Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco,
alusivas à data. Para introduzir o novo sócio no plenário, foi designada
Comissão constituída por Esther Caldas Bertoletti, Miridan Britto Falci e
Elysio de Oliveira Belchior. Como da prática das Sessões de Posse, a
recepção fez-se de pé e com aplausos. Adilson Cezar acercou-se da Mesa,
onde a secretária leu o Termo de Posse, seguido da leitura do Termo de
Compromisso, solicitado pelo presidente, entrega por este, do Diploma,
conferindo-lhe a investidura, e assinatura no Livro de Posse, pelo presidente e
o empossando. A imposição do colar acadêmico foi feita por Maria Dorotéa
Senger Cezar, sua esposa. Com a palavra, para o Discurso de Recepção, em
nome no Instituto, a sócia emérita Cybelle de Ipanema que, da tribuna,
proferiu o elogio acadêmico do novo sócio – representando um estado
brasileiro, não através de sua capital, como geralmente, mas de uma cidade do
interior –, associado a sua intensa atividade, engrandecendo o berço natal,
Sorocaba, através, em primeiro lugar, do Instituto Histórico, Geográfico e
Genealógico, que preside há quese vinte anos. Encerrada sua fala, foi a vez do
empossando que iniciou seu Discurso, na tribuna, agradecendo aos que
estimularam seu antigo desejo de pertencer à Casa, aos sócios que o
concretizaram, e aos familiares, amigos e conterrâneos, alguns presentes.
Passou, em seguida, a falar do plenário, acompanhado de textos e imagens,
usando power–point. O tema, “Esconderijo de sonhos: Araçoiaba e
Ipanema”, ilustrou a cidade, desde o século XVI, com Afonso Sardinha, e a
primeira descoberta e utilização do ferro, no local, até a conquista da
tecnologia nuclear, passando pela Real Fábrica de Ferro de São João do
Ipanema, criada por d. João, em 1811. Começou por Araçoiaba (“coberta de
dia”, “esconderijo do sol”), estendendo-se bastante na Sorocaba da fábrica e
da presença do engenheiro alemão, Frederico Luís Guilherme de Varnhagen,
pai do futuro visconde de Porto Seguro, autor da História do Brasil (1854),
ícone dos historiadores brasileiros, até atingir os modernos tempos. Ao
terminar, com autorização, chamou o alm. Othon Luiz Pinheiro da Silva,
diretor–presidente da Eletronuclear, responsável pelo submarino nuclear
brasileiro, para condecorá-lo. O homenageado agradeceu, destacando o alm.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 371


Atas das sessões do Instituto

Alvaro Alberto, pioneiro da atividade, membro do IHGB, referindo-se a


outros vultos da Marinha e à cidade de Sorocaba. Em seqüência, a sra. Maria
Dorotéa ofereceu flores à profª. Cybelle de Ipanema. Para finalizar, o
presidente Victorino Chermont agradeceu a esta, de cuja fala destacou o fato
de que o novo sócio é vinculado a um Instituto Municipal. Lembrou o
primeiro Colóquio de Institutos Hisntóricos do país, aqui realizado, em 1998,
quando foi lançada e aprovada a idéia da criação do Sistema Nacional de
Institutos Históricos, reunindo essas Casas de Memória, que vivem e lutam
pela preservação da documentação local e nacional. Outros Colóquios e
Seminários já têm sido realizados, estando planejado o próximo, para o ano
de dois mil e oito, pelos cento e setenta anos do Instituto. O interesse é o
fortalecimento dos Institutos desde a base. Agradeceu a presença de todos –
sócios e visitantes –, e convisou para o coquetel no terraço, oferecido pelo
casal Cezar.
Compareceram os seguintes sócios: Victorino Chermont de Miranda,
Arivaldo Silveira Fontes, Fernando Tasso Fragoso, Miridan Britto Falci,
Elysio de Oliveira Belchior, Claudio Moreira Bento, Adilson Cezar, Esther
Caldas Bertoletti, Melquíades Pinto Paiva, alm. Armando de Senna
Bittencourt, Maria Cecília Ribas Carneiro, Ronaldo de Freitas Mourão e
Cybelle Moreira de Ipanema. Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª
secretária)

ATA DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DE 6 DE JUNHO DE 2007

Sessão evocativa do sócio emérito Jorge Calmon Moniz de Bittencourt


Aos seis dias do mês de junho de dois mil e sete, na Sala Pedro
Calmon, realizou-se a sessão in memoriam de Jorge Calmon Moniz de
Bittencourt. Presidência de Arno Wehling e secretaria de Cybelle Moreira de
Ipanema. Com abertura às dezessete horas e vinte minutos, o presidente
compôs a Mesa com os Drs. Jorge Calmon Filho e Pedro Calmon Filho e o
ex-reitor da UERJ e presidente da Sociedade Brasileira de Direito
Internacional, Antônio Celso Alves Pereira. Seguindo o ritual do Instituto,
foram lidas as Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco, alusivas à
data. Imediatamente após, foi dada a palavra à sócia correspondente,
presidente do Instituto Geográfico Histórico da Bahia, Consuelo Pandé de
Sena, que traçou o perfil intelectual e humano do sócio emérito, grande figura

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

da Bahia, Jorge Calmon. Professor, jornalista, membro de várias intituíções


culturais de seu estado e do Brasil, presidente da Academia de Letras da
Bahia, presidente de honra do Instituto Histórico, docente ilustre da
Universidade Federal da Bahia. Começou citando Ariano Suassuna, vulto
proeminente das letras nacionais. Lembrou o sócio falecido a dezoito de
dezembro de dois mil e seis, enfatizando sua personalidade cavalheiresca e de
trato fidalgo, na sociedade baiana. Por muito tempo, diretor do jornal A
Tarde, de Simões Filho, marca da imprensa daquele estado. Para encerrar,
teceu considerações em torno do tema da finitude dos seres. Sua fala
intitulava-se “A Soberana Ausência”, sublinhando a falta de Jorge Calmon no
panorama baiano das letras, cultura, artes e magistério. A seguir, falou pela
família, o filho Jorge Calmon, agradecendo a homenagem e ressaltando os
traços humanos e afetivos do pai, ao lado de suas preocupações com as coisas
do espírito que cultivava na Bahia e em sua vinculação ao Intituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. O professor Arno Wehling agradeceu à confreira sua
saudação e as palavras de Jorge Calmon Filho, e reforçou as ligações do
homenagiado com esta Casa, já como consócio, já por sua proximidade
(irmão mais novo) do presidente Pedro Calmon. Lembrou Jorge Calmon,
eleito, primitivamente sócio correspondente e depois, emérito. Aludiu ao
recinto onde se realizava a sessão, a “Sala Pedro Calmon”, do prédio por este
conquistado, adornada com a placa do centenário do grande presidente.
Aludiu ao Projeto Memória dos Sócios, estimando que sua documentação
aqui pudesse estar, não fossem as instituições que tiveram sua dedicação, no
estado natal. Agradeceu a presença de familiares e amigos do extinto, bem
como de sócios e convidados, e deu por encerrada a sessão.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino
Chermont de Miranda, Consuelo Pondé de Sena, Maria da Conceição de
Moraes Coutinho Beltrão, Esther Caldas Bertoletti, Mario Antônio Barata,
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Elysio de Oliveira Belchior, Arivaldo
Silveira Fontes, Alberto Venâncio Filho, José Arthur Rios e Cybelle Moreira
de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA POSSE DO SÓCIO MARCOS GUIMARÃES SANCHES


Aos sete dias do mês de novembro de dois mil e sete, ás quatorze horas
e trinta minutos, realizou-se, no gabinete do presidente Arno Wehling a posse

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Atas das sessões do Instituto

do sócio honorário brasileiro Marcos Guimarães Sanches. O presidente pediu


para ser feita a leitura do Termo de Posse, pela secretária, e a seguir o Termo
de Compromisso pelo sócio. Passou-lhe o diploma, sob aplausos dos
presentes. A presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, sócia
correspondente Consuelo Pondé de Sena, presente à solenidade, fez a
imposição do colar acadêmico. Em suas palavras de registro e agradecimento,
Marcos Sanches rememorou sua antiga ligação com o Instituto, que frequenta
de longa data e para cuja convivência e futura entrada no Quadro Social foi
estimulado por três sócios: Marcello de Ipanema e Vicente Tapajós, já
falecidos, e o presidente Arno Wehling, conhecimento e amizade de mais de
trinta anos, muito presente em sua formação acadêmica até a pós-graduação.
O prof. Arno felicitou-o e declarou-se certo da colaboração do sócio que já
tem participado de Cursos do Instituto e produção na Revista. Estiveram
presentes, além do presidente e da secretária, D. Carlos Tasso de
Saxe-Coburgo e Bragança, Consuelo Pondé de Sena, Elysio de Oliveira
Belchior, Lygia Cunha, Victorino Chermont de Miranda e a bibliotecária do
IGHB, Maria Augusta Mascarenhas Cardozo.

Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DE 12 DE DEZEMBRO DE 2007

Posse do sócio correspondente estrangeiro Jean Pierre Blay


Aos doze dias do mês de dezembro de dois mil e sete, realizou-se a
Sessão Ordinária da posse do sócio correspondente estrangeiro Jean Pierre
Blay que falou sobre “Espaços urbanos, práticas físicas e sociabilidade
esportiva na Cidade do Rio de Janeiro, no século XX”. Sessão realizada na
Sala Pedro Calmon, presidida pelo prof. Arno Wehling, com secretaria de
Cybelle Moreira de Ipanema. A sessão foi aberta às dezessete horas, com a
leitura das Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco, alusivas à data. O
presidente designou Comissão dos sócios Guilherme de Andréa Frota,
Victorino Chermont de Miranda e Fernando Tasso Fragoso Pires, para
introduzir o novo sócio no plenário. Recebido de pé e sob aplausos, Jean
Pierre Blay acercou-se da Mesa, onde a secretária leu o Termo de Posse. Em
seguida, o empossando leu o Termo de Compromisso, recebeu, das mãos do
presidente o seu Diploma e assinou com este o Livro de Posse. A esposa,
Vanessa Blay fez-lhe a imposição do colar acadêmico. Foi dada a palavra ao

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

sócio efetivo Guilherme de Andréa Frota que, da tribuna, saudou o novo


sócio, em nome do Instituto. Lembou sua formação, pesquisas e trabalhos
publicados. Freqüentador dos arquivos do IHGB que têm embasado sua
produção. Ao término, o presidente agradece e passa a palavra a Jean Pierre
Blay para sua alocução, tema de sua especialidade, com que já se tem
apresentado na CEPHAS e na Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica,
mercê de suas relações com a ex-presidente da SBPH, Cecília Westphalen,
sócia correspondente, no Paraná. No encerramento, o prof. Arno disse de sua
satisfação na incorporação do novo sócio, o que representa, como salientou o
discurso de recepção, congraçamento de duas culturas: a francesa e a
brasileira. O tema com que trabalha é de interesse mais recente, lembrando-se
o Curso, realizado pelo Instituto, em parceria com a UFRJ, a propósito de
futebol e História do Brasil. O presidente recorda, na ligação do Instituto com
o esporte, o sócio benemérito Marcos Carneiro de Mendonça, desportista,
que se notabilizou no estudo do período do marquês de Pombal. O presidente
destaca, ainda, na fala de Jean Pierre Blay, a relação entre as práticas
esportivas e a sociabilidade, universo hoje no campo das Academias de
Ginástica. Agradece a presença de sócios, funcionários e freqüentadores e
convida para o coquetel oferecido pelo casal Blay.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino
Chermont de Miranda, Marilda Corrêa Ciribelli, Fernando Tasso Fragoso
Pires, Guilherme de Andréa Frota, Jean Pierre Blay, Maria da Conceição de
M. C. Beltrão, Esther Caldas Bertoletti, Melquíades Pinto Paiva, Alberto
Venâncio Filho, Elysio de Oliveira Belchior, Lygia da Fonseca Fernandes da
Cunha, Antonio Izaías da Costa Abreu e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª Secretária)

ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DE 12 DE


DEZEMBRO DE 2007

Eleição de Diretoria, Conselho Fiscal e Comissões Permanentes


Aos doze dias do mês de dezembro de dois mil e sete, reuniu-se, em
segunda convocação, a Assembléia Geral Extraordinária para a eleição da
Diretoria, Conselho Fiscal e Comissões Permanentes do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, para o biênio 2008-2009. O presidente Arno Wehling
designou para presidir a sessão o sócio mais antigo presente, Luiz de Castro

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 375


Atas das sessões do Instituto

Souza. Este escolheu para secretário o sócio Eduardo Silva. O presidente da


Assembléia declarou-se feliz em estar à frente da eleição, em se tratando do
presidente Arno Wehling que vem conduzindo o Instituto com acerto.
Chamou para escrutinadoras as sócias Maria da Conceição Beltrão e Esther
Caldas Bertoletti. Foram distribuídas as cédulas com a chapa concorrente,
única que se apresentou no tempo hábil, e, posteriormente, recolhidas na
urna. A apuração evidenciou a presença de 16 (dezesseis) sócios.
Contaram-se 16 (dezesseis) votos e o resultado foi unânime. O presidente
Luiz de Castro Souza proclamou os eleitos, nominando-os individualmente.
Pediu que fosse ouvido o presidente Arno Wehling que agradeceu a
confiança, prometeu continuar na mesma linha de trabalho, levar adiante a
flama do IHGB, contando com a colaboração de todos. Após essa fala, o
presidente Luiz de Castro Souza encerrou a sessão,
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino
Chermont de Miranda, Marilda Corrêa Ciribelli, Maria da Conceição de M.
C. Beltrão, Esther Caldas Bertoletti, Luiz de Castro Souza, Eduardo Silva,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Fernando Tasso Fragoso Pires, Antonio
Gomes da Costa, Elysio de Oliveira Belchior, Vasco Mariz, Lygia da
Fonseca Fernandes da Cunha, Alberto Venâncio Filho, Guilherme de Andréa
Frota e Cybelle Moreira de Ipanema. E, para constar, eu, Eduardo Silva,
secretário ad-hoc, lavrei a presente Ata que vai por mim assinada com o
presidente da Assembléia.
Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2007

Luiz de Castro Souza Eduardo Silva


Presidente Secretário

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

2 — SESSÃO MAGNA ANIVERSÁRIA, 21 DE OUTUBRO DE


2007

A— SESSÃO MAGNA DO DIA 31 DE OUTUBRO DE 2007


169º aniversário do IHGB
Aos trinta e um dias do mês de outubro de dois mil e sete, no Salão
Nobre, realizou-se, com grande freqüência de sócios e convidados, a Sessão
Magna comemorativa dos 169 anos de fundação do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. A sessão foi presidida pelo prof. dr. Arno Wehling,
com secretaria de Cybelle Moreira de Ipanema. Às dezessete horas e dez
minutos, o sr. presidente deu início à sessão, compondo a Mesa com o alm.
Armando de Senna Bittencourt, diretor da Diretoria do Patrimônio Histórico
e Cultural da Marinha, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do
Pará, Guaraciaba Quaresma, o presidente do Pen-Clube do Brasil, Claudio
Murilo Leal, o presidente da Liga da Defesa Nacional, Mauro Pereira de
Lima Câmara, e Carlos Eduardo Barata, presidente do Colégio Brasileiro de
Genealogia. Registrada a presença do presidente do Real Gabinete Português
de Leitura, Antonio Gomes da Costa. A seguir, foi cantado pelos presentes o
Hino Nacional, executado pela Banda do Centro de Instrução e Adestramento
Almirante Sílvio Camargo (CIAASC). Como da tradição, a secretária leu as
Efemérides brasileiras, do barão do Rio Branco alusivas à data. O presidente
proferiu seu Discurso de Abertura, enfatizando o papel dos Institutos
Históricos de “pensar o Brasil”, a partir de quatro vetores: espaço, tempo
identidade nacional e construção do processo histórico. O Relatório da
Primeira Secretaria foi o objeto do item seguinte da pauta, onde se evidenciou
a vitalidade do Instituto, em suas realizações de interesse público durante o
Ano Social de 2006-2007. Sucedeu-se na tribuna o orador, José Arthur Rios,
para o Necrológico dos sócios falecidos que, este ano, somaram dez. A
palavra foi dada à 1ª secretária, para o registro das manifestações recebidas,
muito numerosas, a começar pelos presidente e vice-presidente da República,
ministro da Cultura, governador do estado e outras autoridades, intelectuais,
representantes de entidades acadêmicas e culturais e sócios. O presidente

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Atas das sessões do Instituto

encerrou a sessão, com agradecimento aos presentes, sócios e convidados, e


convite para o coquetel no terraço.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Fernando Tasso
Fragoso Pires, José Arthur Rios, Eduardo Silva, Jonas de Morais Correia
Neto, Mary Del Priore, Miridan Britto Falci, Armando de Senna Bittencourt,
Carlos Wehrs, Elysio de Oliveira Belchior, Marilda Correia Ciribelli,
Melquíades Pinto Paiva, Luiz de Castro Souza, Esther Caldas Bertoletti,
Arivaldo Silveira Fontes, Isabel Lustosa, Antonio Izaias da Costa Abreu,
Vasco Mariz, Pedro Karp Vasquez, Maria de Lourdes Viana Lyra, Hélio
Leoncio Martins, Victorino Chermont de Miranda, Antonio Gomes da Costa,
Ronaldo de Freitas Mourão, Lucia Maria Paschoal Guimarães, José Murilo
de Carvalho, Alberto da Costa e Silva e Cybelle Moreira de Ipanema.

Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

B—RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO ANO SOCIAL 2006-2007


Cybelle Moreira de Ipanema
1ª Secretária

Exmo. Sr.
Prof. Dr. Arno Wehling
DD. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Demais ilustres membros da Mesa
Confrades prezados
Distintos convidados

Mais um ano, mais uma prestação de contas, mais um contabilizar


planos versus realizações da Instituição que caminha para uma alta marca
redonda, inusual em nossos padrões gregários.
Em 169 anos, a unidade na diversidade: a mesma linha de coerência no
“coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a
História e Geografia do Brasil”.
Tal era o preceito do primeiro Estatuto, votado em 1838; tal continua,
ampliadíssima a missão do Instituto, de recolher, preservar e divulgar o que
embasa a formação do país, para conhecimento e uso da comunidade
estudiosa do Rio de Janeiro, do Brasil, do exterior.
Isso pressupõe equipamentos e recursos humanos, providos mediante
organização e infra-estrutura orçamentária, em controle e fiscalização
permanentes.
Documentação disponibilizada, durante todo o ano, compartimentada
em Biblioteca, Hemeroteca, Arquivo, Iconografia e Museu (este, com
funcionamento limitado).
Dos Setores Técnicos, agiliza-se Projeto que coloque a Mapoteca nos
patamares dos outros, retomando planejamento interrompido.
Instituto, centro de pesquisas é a face do atendimento à elaboração de
teses e monografias.
Instituto, centro de documentação é a possibilidade do
desenvolvimento da primeira característica.
Instituto, centro de discussões e debates é o traço da entidade que
congrega pesquisadores em torno de temas que fazem o objeto do IHGB: a

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Atas das sessões do Instituto

História, a Geografia (dos primeiros tempos) e as demais Ciências Sociais,


desde a Arqueologia (que também lembra os momentos fundadores).
Juntem-se todas as vertentes, movimentem-se reuniões, cursos,
conferências, congraçamento – e ele surge inteiro, com seu patrimônio moral
– os sócios – e material, a base física para o pleno desenvolvimento: este
edifício, nominado “Pedro Calmon”, inaugurado em 1972, seqüência de uma
linha, desde que o acomodou o imperador Pedro II, no próprio palácio do
Governo.
Em sucessão de realizações que não cessam:
A Abertura das Atividades Culturais fez-se, em 14 de março deste
ano, com a conferência do dr. Luiz Fernando de Almeida, presidente do
IPHAN, sobre “Trajetória de proteção ao patrimônio histórico e artístico
nacional”.
Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), reunida às
quartas-feiras, de 15 às 17 horas, com temática variada, de abordagens
variadas, de expositores ecléticos, por sua formação e vivência, de sócios a
convidados. Entre 21 de outubro de 2006, Sessão Magna, e a deste ano,
realizaram-se 25 sessões, sob a coordenação e secretaria de Arivaldo Silveira
Fontes.
Mesas redondas – No âmbito da CEPHAS, ocasionalmente, um tema
é ampliado em sua discussão, caso da Revolução de 30, em 8 de julho, em
coordenação do sócio correspondente da Paraíba, José Octávio de Arruda
Mello, e apresentação do sócio Hélio Jaguaribe de Mattos e o convidado
Eduardo Raposo que, a seguir, lançaria seu livro sobre o episódio.
Em 3 de outubro seguinte, Mesa evocativa do então recém-falecido 1°
vice-presidente Newton Lins Buarque Sucupira, falando Alberto Venâncio
Filho, Edivaldo Boaventura, Tarcísio Meirelles Padilha e o presidente Arno
Wehling.
Pelo 2º vice-presidente Mario Barata, outro desfalque a seguir, Mesa
com Augusto Carlos da Silva Telles, Victorino Chermont de Miranda, Maria
de Lourdes Lyra e Arno Wehling.
Programadas as de 7 de novembro próximo, sobre Nélson Werneck
Sodré, e de 21 de novembro, pelos 50 anos do falecimento de Basílio de
Magalhães.
Cursos – A chegada da Corte portuguesa, seu futuro bicentenário,
fomentou e fermentou idéias que vêm explodindo nas esferas pública e
privada, para a comemoração condigna da revolução do Brasil. Da Comissão
criada pela presidência para a marca de 2008, emergiu o Curso, organizado

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

pela sócia Maria de Lourdes Viana Lyra, “1808 – a transformação do Brasil:


de Colônia a Reino e Império”.
De registro remarcável, a procura de interessados, rompendo todas as
barreiras de expectativa: quase 300 assistentes, atendidos com ampliação do
espaço, na ante-sala do Salão Nobre, e telão.
Desdobrado em 16 conferências, de responsabilidade de especialistas,
sócios (nove) ou não, ocupou oito semanas dos meses de maio e junho.
De assunto nunca abordado, outro Curso reuniu Instituto Histórico e
Universidade Federal do Rio de Janeiro: “Esporte e memória na História do
Brasil”, em total de 15 exposições entre 14 de agosto e 4 de outubro.
Teve a coordenação da sócia Mary Del Priore e o professor de
Educação Física, Victor Andrade de Melo.
Realizações conjuntas – Na esteira de 1808, o Instituto integrará
Congresso tripartido, com a Academia Portuguesa da História, em novembro,
em Lisboa, marcando o bicentenário da partida da Corte; o Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, a chegada em janeiro seguinte, e um terceiro
momento, a implantação no Rio de Janeiro, capitaneado pelo IHGB.
O acervo arquivístico e museológico do Instituto figurará em
Exposição alusiva, organizada pelo Museu Histórico Nacional, parceria
costumeira e de resultados.
Um Guia Documental do Instituto, de peças ligadas ao bi, caminha em
sua concretização.
O passamento do sócio emérito, ex-correspondente baiano, Jorge
Calmon Moniz de Bittencourt, ensejou sessão in memoriam, com o Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, em 6 de junho, sendo oradora a sócia
Consuelo Pondé de Sena, presidente do IGHB.
O bicentenário de nascimento do herói da Guerra do Paraguai,
marquês de Tamandaré, almirante Joaquim Marques Lisboa, teve
comemoração conjunta, em 26 e 27 de setembro, com a Diretoria do
Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, à frente, o também sócio alm.
Armando de Senna Bittencourt, e o Serviço de Documentação da Marinha,
com o apoio do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.
Posses de sócios – Sacramentaram suas eleições, por sessões de posse,
os membros do Corpo Social, em várias categorias: Lúcia Maria Paschoal
Guimarães, Marco Maciel, Mary Del Priore, Adilson Cezar, Lília Moritz
Schwarcz e o Pe. José Carlos Brandi Aleixo, S. J., formalizando-as
solenemente, e Douglas Apprato Tenório, no Gabinete do presidente.

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Atas das sessões do Instituto

Com registros no Noticiário e nas paginas da Revista, não cabe aqui, a


pesar nosso, mais do que a simples menção.
Eleição de sócios – Na renovação permanente do Quadro, o Instituto
promoveu, este ano, de titular a emérito, um sócio, e de honorários brasileiros
a titulares, três, e elegeu um correspondente brasileiro, um correspondente
português e quatro honorários brasileiros.
Lançamento de livros – O terraço, “servido pela mais pela bela vista
do Rio de Janeiro”, no dizer do sempre lembrado Pedro Calmon, acolheu o
lançamento dos livros dos sócios: Castro Alves: um parque para o poeta, de
Edivaldo Boaventura, e Visão de um espectador: prefácios e apresentações,
de Enélio Lima Petrovich.
De convidado, Eduardo Raposo, 1930 – seis versões e uma Revolução.
Não por acaso, é o espaço cedido, a título gracioso ou comercial, a
eventos de natureza próxima.
Destaque para a edição fac-similar instrumentada de Os Lusíadas, pelo
prof. Leodegário de Azevedo Filho, com o apoio da Fundação
Brasil-Portugal e o Instituto Português do Livro, no dia 19 de setembro.
Pelo seu significado, de ícone bibliográfico do Instituto, a edição
princeps, que pertenceu a d. Pedro II que o ofereceu, o Camões de 1572,
revestido do aparato crítico-filológico constituiu-se na peça do ano, da
Sessão Magna, repetindo situações anteriores. Está sendo, hoje, distribuído
aos sócios.
Revista – No ano de 2007, lançados os números 433, 434 e 435
correspondentes ao último trimestre de 2006 e aos dois primeiros de 2007:
janeiro a março e abril a junho. Este, oferecido graciosamente aos
convidados, na presente sessão.
Fundada em 1839, é a mais antiga das Américas dedicada à História.
Continua sob a direção da sócia Miridan Britto Falci, com a colaboração da
Comissão da Revita.
Editada sob a chancela da Gráfica do Senado Federal, tem pela última
avaliação da CAPES, o indicador Qualis A-Internacional. Constitui a maior
representação externa do Instituto, divulgando estudos e pesquisas e
documentos em transcrição. O último trimestre acolhe o movimento
administrativo do ano, incluindo as Atas das sessões.
Noticiário – Peça criada para informativo rápido das atividades
cotidianas. Mensal, na condução do terceiro vice-presidente Victorino

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Chermont de Miranda, preparado na Secretaria, circula hoje sob o n° 222, de


setembro de 2007.
Site – O Instituto não poderia ficar ausente da moderna tecnologia,
tendo implantado definitivamente o seu, de divulgação do acervo,
realizações, perfil dos sócios.
Distinção – Por decisão do Comitê de Concertação Permanente, o
IHGB foi distinguido com o Estatuto de Observador Consultivo junto à
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
O Instituto, por outro lado, não descura da divulgação das atividades e
honrarias de que são alvo os sócios, uma contrapartida de sua própria
presença. Leia-se o Noticiário.
Doações – O Museu do Instituto recebeu, por doação de seu falecido
sócio, mons, Maurílio César de Lima, os seguintes objetos de arte: um jarrão
de porcelana japonesa, com pedestal de madeira trabalhada, duas placas de
porcelana Delfit e dois medalhões em bronze.
Outras doações, de natureza documental de Arquivo e Biblioteca se
incorporaram ao acervo. De Fernando Tasso Fragoso, de seu avô, general
Tasso Fragoso, duas cartas ao presidente Getúlio Vargas e resposta deste.
Livros e manuscritos do ex-presidente Pedro Calmon, de tão ativa
presença neste Instituto, que comandou por 18 anos, foram o legado
oferecido por Pedro Calmon Filho, organizado pela sra. Lezir Arcanjo Alves.
A programação Música no Museu contemplou o Instituto com
audições em maio e junho, ampliadas por ter ele aceito outras que não
puderam ser apresentadas em museus oficiais, então, fora de funcionamento.
Ponto de Venda Marcello de Ipanema – A livraria no térreo,
comercializa livros editados pelo Instituto, livros de sócios e dos Institutos de
mesmos objetivos deste. Oportunidade de divulgação de estudos, ao tempo
em que, receita, pela comissão estabelecida.
A diretoria e responsabilidade funcional dos Setores Técnicos
continuam sob as mesmas pessoas:
Biblioteca – sócia Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha e Maura
Corrêa e Castro, respectivamente.
Hemeroteca – mesma Diretora e Célia da Costa.
Arquivo – sócio Carlos Wehrs e Lúcia Maria Alba da Silva.
Iconografia – sócio Pedro Karp Vasques e a mesma funcionária.

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Atas das sessões do Instituto

Museu – sócia Vera Lúcia Bottrel Tostes (temporariamente, sem


funcionário).
Tesouraria – Conduzida, com rigor, dentro dos estritos parâmetros
orçamentários, pelo sócio Fernando Tasso Fragoso Pires.
Secretaria – Com corpo funcional bem reduzido, desincumbe-se, no
relacionamento interno e externo do Instituto e com o Corpo Social, sob a
coordenação de Tupiara Machareth Ávila Dias.
Gerência administrativa – Age nos setores de infra-estrutura da
biface do IHGB – cultural e Edifício “Pedro Calmon”. Afeta a Jeferson dos
Santos Teixeira.
Em curso, Projeto de Prevenção de Incêndio, patrocinado pelo
BNDES, altamente prioritário, perseguido há não pouco tempo, e só agora
implementado, de defesa do prédio e do acervo.

Senhor Presidente
Caros confrades
Convidados

Por fim, esta 1ª Secretaria, de atuação circulante, entre Diretoria,


Corpo Social, Setores Técnicos, Secretaria e Gerência Administrativa, chega
à Sessão Magna trazendo somatório de realizações do Instituto e a
expectativa de novos desafios para o ano vindouro – retrato de sua vitalidade,
em meio a tantos organismos em áreas paralelas e/ou tangentes. Sem o apoio
de cada uma das unidades, pelas cúpulas dirigentes e os responsáveis
operacionais, não lograria desempenhá-lo, pelo que, agradece por dever de
ofício.

Obrigada

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

C—ELOGIOS AOS SÓCIOS FALECIDOS


José Arthur Rios

Ilmo. Sr. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


Professor Arno Wehling
Senhores e Senhoras Membros da Diretoria
Prezados Colegas
Senhoras e Senhores

Incumbe-me, Senhor Presidente, cumprindo mandamento regimental,


fazer a resenha dos Membros do nosso IHGB falecidos no ano corrente.
Nessa pesada e melancólica tarefa, não disponho de maiores recursos
exorcísticos e mesmo ao modesto verbo, ineficiente para exprimir o valor da
perda e nossa tristeza.

ANTÔNIO JORGE CORRÊA. Ingressou no IHGB como sócio


honorário em 1972, no mesmo ano em que atingiu o posto de General do
Exército. Seu principal título foi a dedicação à cultura histórica e sua
preocupação em conjugar atividades culturais do Exército e a atuação de
nossa casa. Nesse sentido patrocinou a realização do Congresso de História
da Independência do Brasil, promovido pelo Instituto quando do
sesquicentenário da Independência.

ARISTIDES PINTO COELHO. Professor universitário, geógrafo,


técnico em Informática, pesquisador, doutor em Ciências pelo Instituto de
Biofísica da antiga Universidade do Brasil e professor visitante da
Universidade da California, ganhou notoriedade, dentro e fora do país, pelos
trabalhos que realizou no Instituto Brasileiro de Estudos Antárticos. Graças
ao apoio que obteve junto à Petrobras e a empresas privadas, expandiu as
atividades desse Instituto fora do Brasil, realizou expedições na Antártida;
promoveu exposições;organizou o I Simpósio Internacional de Geociências
Antárticas; publicou vários livros sobre o continente gelado. Realizava
pesquisas sobre radiações ionizantes quando veio a falecer.

CARLOS DE MEIRA MATTOS. Paulista, da Paulicéia, ingressou


no Exército em 1933, chegando a General de Divisão em 1973. Entrou para o
Instituto em 1987 pela mão, entre outros, de Arthur Cesar Ferreira Reis que
assim o apresentou:

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Atas das sessões do Instituto

“ Carlos Meira Matos é a maior autoridade no campo das idéias


geopolíticas.Seus livros
expressam o grande conhecimento que possui... Representam o que de
melhor já se escreveu, entre nós, no campo dessa especialidade.” Entre essas
obras cumpre destacar:
Brasil, Geopolítica e destino; A Geopolítica e as projeções do Poder;
Geopolítica e Trópico, Geopolítica da Amazônia. Defensor intransigente da
soberania nacional, colaborou intensamente em vários jornais com artigos,
alguns de proporção ensaística. Revolucionário de 64 opôs-se com destemor
à penetração de ideologias exóticas nas Forças Armadas e, tanto na Biblioteca
do Exército, no seu Conselho Diretor,como na Escola Superior de Guerra,
nunca hesitou em corrigir erros e distorsões históricas que visassem diminuir
o papel do Exército na formação do Brasil.
Militar distinto foi membro do Estado Maior na FEB e Comandante da
2. Cia do 3º RI na Italia. Participou intensamente da Escola Superior de
Guerra, onde foi conferencista e professor entre 1975 e 1984. No exterior foi
Vice-diretor do Colégio Interamericano da Defesa, em Washington,DC,
entre 1975 e 1977.
Sabedor de nossa história,conhecedor,por vivência própria, da psique
do homem brasileiro, mereceu que um dos nossos maiores historiadores e
homens públicos o classificasse como “ um dos lúcidos exegetas de nossa
problemática.”

GERALDO DE MENEZES. Bacharel em Direito,licenciado em


Geografia e História, Português e Literatura,escreveu a biografia de Afrânio
Peixoto; poeta, presidiu a União Brasileira de Escritores e a Academia
Carioca de Letras. Colaborou com o capítulo sobre a
criação,organização,administração do Ministério da Viação e Obras
Públicas, na obra Justiça Administrativa do Brasil. Ingressou no nosso
Instituto em maio de 1988, na vaga de Viana Moog. Idealista, dedicado às
entidades em que militava,buscou nas letras, como ele próprio declarou “ uma
forma de solidariedade entre os homens,” um “entendimento acima das
diferenças e fronteiras.”

JORGE CALMON MONIZ DE BITTENCOURT. O “ mestre Jorge”


da Bahia, o “ Dr. Jorge “ da redação de A Tarde, jornal com o qual se
identificou de tal forma que é impossível dissociá-lo dessa verdadeira
instituição do nosso periodismo.
Embora tivesse exercido e, de forma exemplar, vários cargos públicos,
inclusive o de diretor da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, entre 1938 e
1942; ainda que se dedicasse ao magistério,chegando a merecer o título de

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Professor Emérito da Universidade da Bahia, Jorge Calmon, foi, antes e


acima de tudo jornalista. Viveu para
A Tarde, onde ingressou, ainda estudante universitário, em 1938,
como reporter, passando a redator e secretário, redator-chefe em 1949 e
Diretor de 1971 a 1996,seguindo todos os escalões de uma carreira brilhante e
profícua. Presidiu a Radio Cultura da Bahia, em 1955. De 1947 a 1955 foi
eleito e releito deputado estadual, primeiro pela UDN, depois pelo PL. Nessa
qualidade participou dos trabalhos da primeira Constituição do Estado,
contribuindo com o artigo que assegurou ao município de Salvador sua Lei
Orgânica. Sua experiência e posição de destaque lhe valeram integrar, em
1961, o grupo de trabalho para estruturar a Agência Brasileira de Notícias.
Detentor de sem número de prêmios, distinções e condecorações,integrou a
Comissão de Liberdade da Imprensa, da Sociedade Interamericana de
Imprensa..Foi Secretário de Justiça, de 1966 a 1967 e Ministro do Tribunal de
Contas do Estado da Bahia, de 1967 a 1971. Na síntese de um correligionário,
foi “ mestre,amigo,sábio e leal conselheiro.”

MARIO ANTONIO BARATA. Poderia dispensar-me de acrescentar


estas apagadas palavras ao que já foi dito na mesa redonda em nosso Instituto
sobre essa grande figura de pesquisador,de crítico e historiador de arte,
solidário com os grandes problemas humanos de seu tempo e de sua geração.
Não fôra a amizade que nos unia desde os bancos universitários, desde a
Faculdade Nacional de Filosofia, no velho casarão, do Largo do Machado,
ainda hoje de pé,invulnerável à picareta modernosa. Ali nos conhecemos no
Curso de Ciências Sociais,ouvindo mestres franceses forçosamente exilados
durante a II Grande Guerra, ao lado de Leda Boechat, Ivna Duvivier, Paulo de
Salles Guerra, Costa Pinto, Guerreiro Ramos e, tantos outros que depois
abriram espaço no mundo profissional e na cultura brasileira.

Mario Antonio Barata, carioca da zona sul, nasceu em 1920, provinha


de estirpe paraense e contava entre seus antepassados o Alferes português
Francisco José Rodrigues Barata, sertanista e descobridor que se celebrizou
pela verdadeira “ entrada” na bacia amazônica, entre Belém do Pará e o
Suriname holandês; registrando essa expedição em precioso Diário, de
imprescindível leitura na bibliografia da região.

Da familia de educadores, Mario Antonio, recebeu sua vocação de


professor,conferencista, homem de pesquisa e de cátedra. Sua produção
intelectual vai da história da arte à museologia, da técnica à teoria da arte.
Completou sua formação na França, onde se diplomou em Estudos Políticos
pela Universidade de Paris, onde cursou

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Atas das sessões do Instituto

ainda a Escola do Louvre e o Museu do Homem. Na Italia, casou-se.


Sofreu, como toda a nossa geração, as compressões do Estado Novo, o que
hoje alguns chamam República Autoritária. Sofreu mais tarde os efeitos do
Ato Institucional n. 5 de 1968, que confundiu com raro senso de indistinção,
idéia política e atividade subversiva. Beneficiado pela Lei da Anistia,voltou a
ensinar no Mestrado de História, da UFRJ, que só deixou após a
compulsória, em 1990.

Não cessou, no entanto, sua atividade docente, melhor diríamos,


predicante, que passou a se estender pelo campo internacional na Associação
de Cultura Franco- brasileira, no Instituto Cultural Brasil-Alemanha e na
Associação Internacional de Críticos de Arte, em Paris. Essa carreira modelar
foi coroada, na vida acadêmica, pela merecida concessão do título de
Professor Emérito da UFRJ, em maio de 1992. Na ocasião foi saudado pelo
Professor José Luiz Werneck da Silva, que lhe traçou minucioso perfil,
declarando: “A sua memória é a memória de sua geração.” Acrescentamos:
nos seus caminhos e descaminhos, nos seus sofridos equívocos, nas suas
esperanças e desenganos, Mario Antonio é nosso par e companheiro e, assim
ficará em nossa lembrança.

MONSENHOR MAURILIO CESAR DE LIMA. Recorta-se


nitidamente em nossa memória essa figura de historiador, acadêmico,
pesquisador – e, exemplar sacerdote. Historiador da Igreja, e paleógrafo,
único em nosso quadro, enganava-se quem o visse apenas debruçado sobre
in- fólios,decifrando textos misteriosos. Sob a aparente mansidão do
trato,discreção de voz e lhaneza de convívio, escondia-se o “ peregrino do
absoluto,” homem de fé e de doutrina. Doutor em teologia pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma, cidade onde passou 8 anos, aí se ordenou
na Basílica de São João de Latrão. Esse homem de fala mansa logrou
movimentada carreira militar. Foi no Egito, por 8 meses, capelão do batalhão
de Suez da Força de Emergência das Nações Unidas. Percorreu capelanias
militares em vários países da Europa. Foi capelão da 1ª. Divisão do Exército,
o que não o impediu de assumir a Paróquia da Ressurreição, no Rio de
Janeiro, e de frequentar assiduamente as sessões do nosso Instituto, como
representante do Cardeal Dom Eugenio Sales e membro atuante da Casa.
Poliglota, não se eximia de contribuir em nossas sessões com observações, às
vezes, retificações, sempre oportunas, justas, equilibradas. Humanista, no
melhor sentido da palavra, pelos vastos conhecimentos, pela sua forma
mentis pela cultura, foi espírito aberto e conciliador, sem nenhuma ênfase, ou
travo de intolerância.

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

NEWTON LINS BUARQUE SUCUPIRA. Com seu falecimento,


perdemos um dos grandes nomes da educação brasileira, estrela da
Constelação em que brilharam Francisco Venâncio Filho, Anisio Teixeira,
Lourenço Filho e outros que, nos anos 20, tentaram reformular nossa
educação sem perder de vista suas matrizes fundamentais.
A esse homem de perfil discreto e modesto devemos a criação da
Pós-graduação, passo de enorme importância em nosso sistema de ensino
superior. O IHGB dedicou-lhe, há poucas semanas, uma mesa redonda em
que falaram nosso Presidente, Arno Wehling, Alberto Venâncio Filho e
Edivaldo Boaventura.

Natural de Porto Calvo, Alagoas, nascido em 1920, formou-se em


Direito, pela Faculdade do Recife e teria cumprido uma carreira provinciana
se a Providência não o tivesse motivado a mudar-se para o Rio de Janeiro
onde passou a lecionar Filosofia da Educação na Fundação Getulio Vargas e
na UFRJ. Durante 17 anos foi membro do Conselho Federal de Educação (
hoje Conselho Nacional ). Aí, em 1965, lhe coube relatar o processo da
regulamentação da Pós-graduação no país. Representou o Brasil no
Conselho do Bureau Internacional da Educação da UNESCO. De 1970 a
1976, lecionou na UnB e, posteriormente na Universidade Gama Filho.
Coroou sua carreira ao aposentar-se recebendo o título de Professor Emérito
de três universidades.

Ingressou em nosso Instituto em 1972, como sócio honorário,passando


a titular em 1994. Foi 1º. Vice-presidente de 1996 até 2003. Autor de estudos
de história e filosofia da educação, publicou em 1996 seu ensaio sobre O
sentido político da reforma Couto Ferraz do ensino superior de 1854; e, em
2002 um livro de memórias, Engenho Banguê, onde rememora suas origens
de menino de engenho. Em 2002, recebeu o prêmio de ensaio da ABL por seu
livro Tobias Barreto e a Filosofia Alemã..Sobre essa obra que renovou os
estudos sobre o filósofo, alguém escreveu: “ Não é um encômio nem um
libelo contra o mestre sergipano, mas uma rigorosa análise do seu percurso
filosófico e, de modo específico o de sua famosa germanofilia.”Irreverente
em face do mito Tobias, Sucupira, desfez equívocos formados em torno do
homem e da obra realizando pesquisa original nos arquivos da Faculdade de
Direito do Recife. “Equilibrado, consciente e consistente,” assim foi
qualificado o ensaio. Assim vemos seu autor. Sua marca, nos amigos e
familiares não foi puramente intelectual, mas, no plano do espírito, profunda
e duradoura.

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Atas das sessões do Instituto

ROBERTO LUIZ ASSUMPÇÃO DE ARAUJO. É facil falar de


pessoas distantes, mais dificil traçar o retrato do amigo próximo, de trato
diário e familiar.Assim ocorre com Roberto Assumpção.Nascido em 1915,
no Rio de Janeiro, cursou a Faculdade de Direito onde foi aluno de Hermes
Lima e Castro Rebelo. Este último sobretudo foi para ele um “ maitre à
penser “ que o influenciaria por toda a vida, de quem guardou inapagável
lembrança, com a enorme capacidade de devoção que reservava para todos os
seus grandes amigos. Em 1939, por concurso, fez-se técnico de Educação e
ingressou no Ministério de Educação e Cultura. Essas duas atividades,
educação e cultura, deveriam absorvê-lo toda a vida, conjugadas à carreira
diplomática, na qual ingressou, porconcurso, em 1941, como consul de
terceira classe. Daí passou a ocupar os sucessivos postos da carreira sempre
por merecimento, chegando a Embaixador, em 1963. Nessa qualidade foi
designado para a Argelia, a Tchecoslovaquia, o Iraque e a India. Nesta
passou dez anos, de 1972 a 1982.

Na realidade, em todos esses postos, não se conformava com a rotina


burocrática. Desempenhou importante papel de agente cultural,difundindo o
patrimônio artístico e literário brasileiro e trazendo ao Brasil valores
internacionais. Assim foi em Paris, em Milão, em Nova Dehli. Por onde
passou, Assumpção, sempre teve a preocupação maior de apregoar nossa arte,
nossa s letras, nossa melhor intelectualidade. Nesta fez grandes amigos,
Roquete Pinto, Rodrigo Melo Franco, Paulo Carneiro, sem esquecer seus
colegas Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes.

Antes de participar de nosso Instituto, em 1983, enriqueceu nosso


arquivo e biblioteca com obras e documentos de grande valor. Por ocasião do
centenário do Barão do Rio Branco realizou trabalho relevante na edição e
publicação das Obras do grande diplomata. O mesmo fez, quando em Viena,
localizou retratos dos príncipes brasileiros. Ao publicar essa coleção
escreveu magistral estudo. O mesmo fez com a Diplomacia da Regência. Por
tudo isso, mereceu o ingresso no Instituto pela mão de Américo Jacobina
Lacombe, Arthur Cesar Ferreira Reis e José Honório Rodrigues.

Impossível citar todas as missões de que foi incumbido, a


particiapação em Congressos e Conferências. Vale destacar a Conferência da
Paz, em Paris, em 1946, a Conferência Interamericana para a manutenção da
Paz e da Segurança do Continente, reunida no Rio, em1947, a Assembléia
Geral da ONU, em Paris, em 1946, em Nova Ioque,em 1962, a VI e VII
Conferência da UNESCO, em 1951 e 1952, e, em Nova Dehli, em 1956, na
qual atuou como Secretário Geral. Em tudo isso não foi só testemunha.
Fez história.

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Foi visceralmente um diplomata. Revela- o o retrato admirável que lhe


confere Portinari um toque de nobre florentino. No porte, na finesse do trato,
no bom gosto, foi raro exemplar de homem brasleiro e, de uma humanidade
que nos deixa hoje com poucos termos de comparação, elegante no traje e no
estilo de viver, generoso com amigos em dificuldade ( a um cientista ilustre
que perdera o cargo numa organização internacional Roberto remetia
regularmente pequenas quantias – “para que não perdesse o hábito de tomar
seu uisque.”) No fundo, boêmio, prezando sua liberdade de espírito, sempre
pronto a abraçar tudo que viesse a engrandecer a cultura brasileira.

UBIRATAN BORGES DE MACEDO. Sócio honorário do IHGB


desde 2002. Nasceu em São Paulo, em 1937, graduou-se em Filosofia e
Direito pela PUCPR e UFPR, respectivamente.Fez estudos de
pós-graduação lato sensu em Filosofia do Direito e História da Filosofia na
USP e na Universidade Católica de Louvain.Obteve o mestrado em História
da Filosofia pela PUCRJ e, seu doutorado em Filosofia pela UGF. Foi
Superintendente do Ensino Superior no Paraná e Membro do Conselho
Federal de Cultura, e do corpo permanente da Escola Superior de Guerra.
Cursou relações internacionais em Washington. Foi da direção da FIESP e de
várias instituições como o Centro Dom Vital, SBFC, IBF, IFLB,
ABF.Participou das revistas Convivio e Política e Estrategia , em São Paulo,
colaborador da RBF, A Ordem, Presença Filosófica, Nomos e diversas
publicações acadêmicas,bem como do jornal O Estado de São Paulo, além de
várias obras em coautoria.Como autor individual escreveu vários livros sobre
liberalismo e história das idéias no Brasil e, editou, pela EDUSP textos
filosóficos de Clóvis Bevilacqua, Alexandre Correia e Renato Cirell Czema.
Dentre seus principais livros: A Idéia de Liberdade no Século XIX: o caso
brasileiro, Rio de Janeiro, 1998; Metamorfoses da Liberdade, São Paulo,
1978; Liberalismo e Justiça Social, São Paulo, 1995; Liberalismo Moderno,
São Paulo, 1997; A Presença da Moral na CulturaBrasileira,Londrina, 2001;
Democracia e Direitos Humanos, Londrina, 2003. Atualmente pesquisava a
vida de Benjamin Constant, seu pensamento político e sua influência na
formação constitucional do Brasil, sua modernidade. E, no seu magistério nos
PPG- doutorado em Filosofia e Direito na UGF estudava as teorias modernas
da justiça, na perspectiva do pensamento liberal e comunitário pós-Rawls.
Estava interessado na problematização contemporânea da democracia face ao
fundamentalismo e no papel do indivíduo na história.

Senhor Presidente.

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Atas das sessões do Instituto

Permita que, nesta despedida, envoque essas figuras que nos deixaram
suas vozes aparentemente contraditórias. Prefiro lembrá-las numa espécie de
diálogo dos mortos, idéia cara a Luciano como a Fenelon, - braço dado
quando na Eternidade o sacerdote conversa com o cético, o general com o
poeta, o cientista com o filósofo, vozes dissonantes mas uníssonas na
esperança de todos nós, na promessa da ressurreição.

José Arthur Rios


IHGB, Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007.

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

3 — REUNIÕES DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS
ATA DA 22ª SESSÃO DE CEPHAS, REALIZADA NO DIA 25 DE
OUTBRO DE 2006
Aos dezoito dias do mês de outubro de 2006, sob a presidência do 1º
Vice Presidente João Hermes de Araújo e secretariada por Arivaldo Fontes,
reuniu-se pela 22ª vez a Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS). Foi justificada a ausência do Presidente Arno Wehling.
Dispensada a leitura da ata anterior, foi dada a palavra à primeira
comunicadora, Kaori Kodama, sobre o tema, “Etnologia do IHGB
(1840-1860): narrar um novo objeto”. Ela graduou-se em História pela UFF
(1996). Fez o mestrado em 1998 na PUC. A sua comunicação, baseada em
pesquisas realizadas no novo Instituto visava a sua tese de doutorado e fez
com que relembrasse figuras históricas dos primeiros tempos da Instituição. É
citado o trabalho e o papel do cônego Januário Barbosa, as atividades de
Gonçalves de Magalhães, visconde de Araguaia, de Araújo Porto Alegre,
Barão de Santo Ângelo, além de Torres Homem, também cita Capistrano de
Abreu, Cunha Matos, Varnhagem e tantos outros. E conclui que essa
construção de uma gênese, que negava a realidade quase não dita no Instituto:
a escravidão e o elemento negro da população. Houve intervenção do sócio
Aniello Avela sobre o assunto enfocado. Em seguida o presidente cedeu a
palavra ao sócio Aniello Avela que ofereceu o CD “conversas no Porto”. No
plenário se achavam vários amigos de nosso sócio. Dentre eles as professoras
Vera Lúcia de Melo Rodrigues e Maurina d’Alessandro. Foi cedida a palavra
ao sócio Melquíades Pinto Paiva, que em nome do Instituto do Ceará,
ofereceu CDROM daquela Instituição, com transcrição de trabalhos
publicados no Rio do Instituto do Ceará (anos 1887 a 2004). Segui-se a
comunicação do Sócio Davis Ribeiro de Sena com o título “O tenentismo
assegurou a vitória da Revolução de Trinta”, o palestrante referindo-se as
inúmeras revoluções ocorridas na década de 20 e que envolveram tenentes do
exército contra o governo central, encabeçado por Eptácio Pessoa, Artur
Bernardes (sobre tal presidente) e Washington Luis. Houve intervenções dos
sócios Taso Fragoso Pires, Maria Cecília e Melquíades Pinto Paiva. Ele
ofereceu a biblioteca o livro de sua autoria “Luis Carlos Prestes, opção pelo
marxismo” (Recife, 2006). Foi cedida a palavra ao sócio José Mendonça

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Atas das sessões do Instituto

Teles que falou e fez executar em plenário “o novo hino de Goiás”. A sócia
Cybele de Ipanema fez a apresentação do comunicador. Bacharel em direito
(1966) pela Universidade Católica de Goiás, exerceu o magistério secundário
e superior em nossos estabelecimentos goianos. Foi presidente do IHG/GO
por 12 anos consecutivos e também presidente da Academia Goiana de Letras
(por 10 anos). É doutor “Honoris Causa” pela Universidade Católica de
Goiás. Publicou inúmeras obras e artigos diversos. Fez doação a nossa
biblioteca dos livros; 1) “Eu te vejo”, Goiânia, 2005; 2) “Hino oficial de
Goiás” (com texto e CD); 3) “Ser goiano, poesia, 2001; 4) “Dicionário do
escritor goiano”,Goiânia, 2006. Sobre o novo hino, oficializado pela lei
13907 de 21 de setembro de 2001, pelo governo estadual, em substituição ao
antigo hino, nascido com a lei 650 de 30 de julho de 1919. foi composto por
Custódio Fernandes Góes, que era professor do Instituto Nacional de Música,
hoje Escola de Música da UFRJ. O hino foi organizado pelo professor
Antônio Custódio de Abreu. Junto com o sócio correspondente brasileiro
José Mendonça Teles vieram diversas personalidades daquele Estado:
Gilberto Mendonça Teles, Tânia Mendonça (representando a Secretaria de
Cultura de Goiás) a Aidenor Airis, presidente do IHG/GO. Ao final da
palestra houve uma alocução do novo presidente do IHG/GO. Nada mais
havendo a tratar foi a sessão encerrada, lavrando a ata respectiva e todos os
presentes se dirigiram ao 13°, para que fosse servido o tradicional cafezinho.
Presenças: 17 sócios (um do IHGB/PA) e 10 convidados.
Sócios: Cybele de Ipanema, Mario Barata, Aniello Ângelo Avela,
Ondemar Dias, Arivaldo Fontes, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha,
Tasso Fragoso Pires, João Hermes de Araujo, Maria Cecília Ribas Carneiro,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Melquíades Pinto Paiva, Mary Del Priore,
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Davis Ribeiro de Sena, José Mendonça
Teles, Aidenor Aires (pres. Do IHG/GO) e Miranda Neto (do IHG/PA).

ATA DA 23ª SESSÃO CEPHAS, REALIZADA NO DIA 22 DE


NOVEMBRO DE 2006
Aos vinte e dois dias do mês de novembro de 2006, na sala Pedro
Calmon, sob a presidência de Arno Wehling e secretariada por Arivaldo
Fontes, reuniu-se a sessão especial da CEPHAS com a apresentação de
especialistas portugueses. Foi dispensada a leitura da ata anterior.
Convidados pelo presidente da sessão tomaram assento à mesa diretora dos

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

trabalhos, os professores Fernando Cristóvão, Maria Lúcia Garcia Marques,


Maria José Craveiro e Maria Adelina Amorim. O primeiro convidado falou
sobre o tema: “Três Etapas na Literatura de Viagens”. Ele usa o nome literário
de Fernando Cristóvão, em lugar do nome de batismo Fernando Alves
Cristóvão. Nasceu em Setúbal em 1929. É membro do clero da diocese de
Lisboa desde 1953 e é catedrático de Filosofia Românica da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa (desde 1978). Foi diretor do Instituto de
Cultura Brasileira da mesma Universidade (1974-2000). É membro da
Academia de Ciências de Lisboa (desde 1987). Desenvolveu a sua teoria a
partir do século XV e pelos vários ciclos em que aborda o assunto em debate.
Ao concluir sua comunicação houve intervenção do sócio Roberto
Cavalcante de Albuquerque. No plenário da CEPHAS se encontravam várias
autoridades e dentre elas o Cônsul Geral de Portugal, além de sócios do
Instituto e outros convidados especiais. A segunda comunicação com o tema:
“A expressão da viagem na Carta de Pero Vaz de Caminha” foi desenvolvida
pela convidada Maria Lúcia (Borba e Maia) Garcia Marques. É licenciada em
Filosofia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de
Lisboa. Fez o doutorado em lingüística pela Universidade de Lisboa e é
docente da Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Ciências
Humanas. Foi coordenadora da Revista ICALP (ex-Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa). É responsável pela cadeira de análise textual na
Universidade Católica Portuguesa. Publicou 2 livros de poesia: “O livro de
Lia” e “Reversos”. A filósofa lusitana apresentou trabalho meticuloso e
extensivo sobre a carta do escrivão da frota de Cabral. Informando-nos que
existem 1709 palavras diferentes no texto referido e que 52% das palavras são
verbos e substantivos. Houve intervenção do presidente Arno Wehling
ressaltando o trabalho da escritora portuguesa. Seguiu com a palavra a
convidada Maria José Craveiro que abordou o tema “Rilke e Cecília
Meireles: notas de investigação”. Nascida em 1944 a comunicadora tem
como nome de batismo Maria José (Pereira Rainho) Craveiro. É licenciada
em Línguas e Literatura Moderna, variante de Estudos Ingleses e Alemães
(1983-1987) pela Universidade Clássica de Lisboa. Fez o mestrado em
Cultura Alemã pela Faculdade de Letras da mesma Universidade (1992). Fez
apresentação e defesa da tese “Os caminhos de Orfeu a uma leitura de Rainer
Marcia Rilke”. É doutora em língua e cultura alemã pela Universidade
Católica Portuguesa. Sua tese: “Exílio e Escrita. A dimensão histórica,
místico-cósmica na obra de Nelly Sacks” 2001. A literata portuguesa
dissertou sobre o trabalho político de Rilke e de Cecília Meireles. Por fim fala

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Atas das sessões do Instituto

a historiadora Maria Adelina Amorin sobre o tema: “A missionação


franciscana no Grão-Pará e Maranhão”. Ao mesmo tempo discorreu sobre seu
último livro “Os Franciscanos no Grão-Pará e Maranhão: Missão e Cultura na
Primeira Metade de Seiscentos”. Ela é mestre em história e Cultura do Brasil
pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1998); Licenciada em
História (1992) prepara o doutoramento em Letras em História do Brasil pela
Universidade de Lisboa. É sócia efetiva da Sociedade de Geografia de
Lisboa, sócia da SLP – Sociedade de Língua Portuguesa. Sua tese de
mestrado: “missão e cultura dos franciscanos no Estado de Grão-Pará e
Maranhão (séc XVII). Ao serviço de Deus, de Sua Majestade e Bem das
Almas”. Dissertou sobre o trabalho dos franciscanos, em especial na Corte do
Brasil. Lembra a figura do Frei Cristóvão de Lisboa (1624-1635), cuja
nomeação é comunicada à Coroa em abril de 1622. Foi o autor da obra
“História dos Animais e Árvores do Maranhão (c. 1625). Ao final dos
trabalhos o prof. Fernando Cristóvão falou sobre o “Dicionário Temático de
Lusofomia”, por ele coordenado e com mais de 300 colaboradores (Lisboa,
ACLUS/Texto Editores, 2005). A sessão foi suspensa. Lavrada a Ata
correspondente. Todos os presentes se dirigiram ao Terraço onde foi servido
cafezinho e lançado o último livro da Profª. Maria Adelina Amorin
Presenças: 18 sócios e 15 convidados.
Sócios: Arno Wehling, Cybele de Ipanema, Arivaldo Fontes, Lygia da
Fonseca Fernandes da Cunha, Fernando Tasso Fragoso Pires, João Hermes de
Araujo, Melquíades Pinto Paiva, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Davis
Ribeiro de Sena, Armando de Senna Bittencourt, Miridan Britto Knox Falci,
Elysio Custódio de Oliveira Belchior, Guilherme de Andréa Frota, Roberto
Cavalcante de Albuquerque, Carlos Wehrs, Célio de Oliveira Borja,
Victorino Chermont de Miranda, José Murilo de Carvalho.

ATA DA 24ª SESSÃO CEPHAS, REALIZADA NO DIA 29 DE


NOVEMBRO DE 2006
Aos vinte e nove dias do mês de novembro de 2006, sob a
presidência de Arno Wehling e secretariada por Arivaldo Fontes, reuniu-se
pela 24ª vez a Comissão de Estudos e Pesquisas (CEPHAS). Foi lida a Ata da
sessão anterior (22/11). Aprovada. O Sr. Presidente informou que o n° 432,
da Revista do IHGB, correspondente a julho-outubro 20006, já estava sendo
distribuída aos sócios do Instituto. Dentro da pauta estabelecida foi dada a

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

palavra à primeira comunicadora, profª. Tânia Maria Bessone, que abordou o


tema “Dois livreiros no Rio de Janeiro: Paula Brito e Francisco Alves”.
Escolheu dois nomes que sobressaíram na classe. Um era brasileiro, o outro
português. (Francisco de) Paula Brito nasceu nesta capital a 2 de dezembro de
1809. Era filho do carpinteiro Antunes Duarte e D. Maria Joaquina da
Conceição Brito. Foi tipógrafo de profissão. Desde cedo conviveu com
literatos. Redigiu vários periódicos: A mulher do Simplício (1832-1844), A
marmota da Corte (1849-1861). Após a sua morte em 1861, foi publicado
pelos seus amigos, um livro de Poesias (1863). Foi redator do Jornal do
Comércio, do Rio. Outro livreiro, Francisco Alves (de Oliveira) nasceu em 2
de agosto de 1848, na freguesia de Santa Maria Maior do Outeiro, Cabeceiras
de Basto, Portugal. Foi escritor de livros didáticos e alguns raros de literatura,
legando sua fortuna, cerca de cinco mil contos, à ABL, com a obrigação de
distribuir alguns prêmios literários e pedagógicos. Em 1863 chegava ao Rio o
menino que se empregou no varejo de secos e molhados. Em 1872
estabeleceu-se com o comércio de livros novos e usados, na rua de São José.
Seu tio , Nicolau Alves, dono da “Livraria Clássica”, associou-se ao sobrinho
na edição e venda de livros didáticos. Mais tarde Francisco Alves se associou
ao engenheiro Manoel Pacheco Leão (1902). Luis Edmundo era seu desafeto.
Mas, através da intervenção de Rodrigo Otávio fez a doação de seus bens à
ABL. E faleceu no Rio a 29 de junho de 1917. Era brasileiro naturalizado
desde 1883. Com a palavra a sócia Maria da Conceição de M. Coutinho
Beltrão abordou o tema “As ruínas do Convento de São Boaventura de
Macacu e a torre sineira da antiga matriz de Santo Antonio de Sá". Deu
completa visão da área onde os franciscanos se instalaram no século XVII. As
ruínas hoje deverão ser estudadas e reerguidas através de projeto patrocinado
pela Petrobrás. Ela conta para executar o trabalho com a colaboração de
paleontólogos, bolsistas de nível superior em seguida a Profª. Ceça
Guimarães complementou a sua exposição, com a apresentação de
fotografias da área da fazenda onde fica situada a vila de Santo Antonio de Sá.
Várias interrupções de convidados e sócios presentes. O último comunicador
foi o sócio Edivaldo Machado Boaventura que abordou o tema “Parques
Históricos Brasileiros: Castro Alves e Canudos”. Demorou-se na descrição
de dois parques temáticos. Lembrou-se que Cabaceiras, vila próxima de
Curralinho (hoje Castro Alves) é o local onde nasceu o glorioso poeta dos
escravos, Antonio de Castro Alves. Seu pai médico, veio morrer na fazenda
Cabaceiras, do seu sogro. Aí nasceu Secéu. Sua mãe D. Clecia Brasília da
Silva Castro, era filha de um herói da Independência. Nasceu o poeta a 14 de

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Atas das sessões do Instituto

março de 1846. Diz Boaventura que o Parque Histórico Castro Alves é irmão
do Parque de Canudos. Lembra que próximo do estilo grandiloquente de
Euclides da Cunha está o entusiasmo e o calor baiano de Castro Alves. Ao
final da sessão o Prof°. Paulo Cavalcanti ofereceu livro de sua autoria
“Negócios de Trapaças. Caminhos e descaminhos na América Portuguesa
(1700-1750), cujo lançamento será amanhã. Nada mais havendo a tratar, foi
encerrada a sessão, lavrada a Ata respectiva e todos se dirigiram ao terraço,
onde foi servido lanche e lançado o livro do sócio Edivaldo Machado
Boaventura, “Castro Alves, um parque para o poeta”, Empresa Gráfica da
Bahia, Salvador, 2006. Doação de um exemplar do livro para a biblioteca do
Instituto.
Presenças: 15 sócios e 19 convidados.
Sócios: Arno Wehling, Cybele de Ipanema, Arivaldo Fontes, Maria de
Lourdes Viana Lyra, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Melquíades
Pinto Paiva, Davis Ribeiro de Sena, Miridan Britto Knox Falci, Edivaldo
Boaventura, Carlos Wehlrs, Maria Beltrão, Mary Del Priore, Pedro C. da
Silva Telles, Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Maria Cecília Ribas
Carneiro.

ATA DA 25ª SESSÃO CEPHAS, REALIZADA NO DIA 6 DE


DEZEMBRO DE 2006
Aos seis dias do mês de dezembro de 2006, sob a presidência de Arno
Wehling e secretariada por Arivaldo Fontes, reuniu-se pela 25ª vez a
Comissão de Estudos e Pesquisas (CEPHAS). Aberta a sessão, foi lida a Ata
da sessão anterior (29.11.2006). Aprovada. Dentro da pauta estabelecida,
falou a primeira comunicadora, Isabel Lustosa, que dissertou sobre o tema
“D. Pedro I português ou brasileiro? Os dilemas do nosso primeiro
Imperador”. Ela é pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e lançou
há pouco, um livro sobre o tema de sua comunicação. É também doutora em
ciência política, ensaista e autora de livros infantis. Começou por lembrar que
os nove anos de reinado de D. Pedro I foram anos de divisão: entre os
portugueses aqui residentes e os naturais do País, entre os que desejavam um
modelo liberal ou a forma absolutista. O monarca, temperamento impulsivo e
apaixonado, com certo grau de loucura, falta de maturidade e educação, era
esta a figura do primeiro Imperador. A morte de D. João VI trouxe mais
complicadores. Abdicou da coroa portuguesa em favor da filha Maria da

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Glória. Em abril de 1831 cresceu a conspiração contra o Imperador. Este


organizou novo gabinete com figuras impopulares: Paranaguá, Alcântara,
Baependi, Lages, Inhambupe e Aracati. O povo exigiu a volta do gabinete
demitido e D. Pedro não atendeu. Uma comissão foi ao Paço. E ele abdicou da
coroa em nome do filho Pedro. Mais tarde diria que em face da sua decisão,
“entre mim e o Brasil tudo está acabado e para sempre”. Houve intervenção
do Presidente da sessão, aclarando fatos. Com a palavra o convidado Antonio
Cesar Caldas Pinheiro que falou sobre “Institutos de Pesquisas e Estudos
Históricos do Brasil Central”. Foi apresentado pela sócia Ésther Caldas
Bertoletti. Bacharel em direito é o Diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos
Históricos do Brasil Central (IPHBC). Dissertou sobre o Centro de Cultura
Goiana (que viveu até 1996) e sobre os acervos do Museu das Bandeiras (na
cidade de Goiás) e no Arquivo Histórico do Estado de Goiás (em Goiânia). Os
arquivos das paróquias, descuidados, só agora começam a ser organizados.
Intervenção da sócia Esther Bertoletti, elogiando o trabalho executado
naquele Estado. Ofereceu à Biblioteca do Instituto as seguintes publicações:
Memórias Goianas I, II, III, IV, V, VI – Elton UCG-Goiânia, 1999; A
Santíssima Trindade do Barro Preto, de Amin Salomão Jacó, UCG – Goiânia,
2005; Lugares e Pessoas, Goiânia, 2006; Descendência de Luiz Manuel da
Silva Caldas; Pirenópolis, vol I e II, Goiânia, 2002. Com a palavra o terceiro
comunicador, Arivaldo Fontes, que falou sobre o centenário da morte do
Monsenhor Olímpio Campos, transcorrida a 7 de novembro do corrente ano.
Já escreveu sobre as duas figuras extraordinárias da política sergipana,
naquele fatídico ano de 1906. Após o assassinato do poeta, tribuno e
deputado federal Fausto Cardoso, a 4 de agosto, chegou a infeliz hora da
morte do sacerdote, senador e ex Presidente do Estado, Olímpio Sousa
Campos, sacrificado injustamente pelos filhos do tribuno sacrificado
anteriormente. Usou o trabalho publicado pela memorialista e escritora Ana
Maria Fonseca Medina, sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e
autora do livro “A Ponte do Imperador”. Refere-se ela ao destemor do
presidente da província. Ainda como Vigário da Capela da Capital (Aracaju),
reclamou do então presidente, Inglês de Sousa, pela não inclusão do ensino
religioso na grade curricular da recém-criada Escola Normal. E se
comprometia a ensinar em caráter gratuito a disciplina em questão. Só mais
tarde, o Presidente Josino de Menezes o nomearia lente da cadeira de
Instrução Moral e Cívica, na mesma Escola. Falando sobre o lente em
questão, diz o professor Domingos Fonseca, da referida escola, que “ele faz
do magistério um de seus melhores apostolados”. Seu prestígio político era

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Atas das sessões do Instituto

reconhecido pelos seus conterrâneos. A ser divulgada a notícia da


Proclamação da República, é chamado ao Palácio para que, com outros
líderes locais, opine sobre os fatos. O monsenhor nasceu em 1853 no
Engenho Periquito (Itabaianinha) do seu genitor Cel. José Vicente de Sousa,
da família dos Ávila, da Casa da Torre em Abadia. Aos sete anos deixou o
engenho paterno e foi estudar em Itabaianinha. Daí foi para Estância e
Lagarto. Veio o chamado para a vida eclesiástica. Em 1877 recebe as Ordens
Menores. Logo depois as de Diácono e as de Presbítero. Quando soube da
morte de seu opositor, declara, consternado: “Minha terra perde um dos seus
mais dignos homens, por esse preço não valia a reposição”. Concluiu com as
palavras de sua sobrinha bisneta “no fatídico ano de 1906 tombaram no leito
de morte dois homens de valor, com perfis diferentes, nobres de ideais e
valorosos”. E usa a simbologia poética de Freire Ribeiro: “foram abatidos um
condor e um cordeiro”. Fala depois o sócio Enélio Lima Petrovich, presidente
do IHG/RN. Dissertou sobre seu mais recente trabalho, que vai ser lançado
ainda hoje, depois da sessão da CEPHÂS. Fala ainda o sócio Francisco Luiz
Teixeira Vinhosa, atualmente à disposição do MERCOSUL. Ofereceu duas
publicações com trabalhos de sua autoria, há pouco publicados. Terra
d’África, 2006, Edzione Unicopli e Varia Histórica, Jan. junho 2006, Belo
Horizonte. Nada mais havendo a tratar, foi a sessão encerrada, lavrada a Ata
respectiva e todos se dirigiram ao terraço onde foi servido lanche e lançado o
livro “Visão de um espectador, prefácios e apresentações”, de Enélio Lima
Petrovich, Natal, RN, 2006.
Presenças: 16 sócios, um sócio do IHG/MA e 7 convidados.
Sócios: Arno Wehling, Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes,
Francisco Luiz Teixeira Vinhosa, Carlos Wehrs, Enélio Lima Petrovich,
Davis Ribeiro de Sena, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Tasso
Fragoso Pires, Esther Caldas Bertoletti, Vasco Mariz, Ronaldo Rogério de
Freitas Mourão, Mario Barata, Lucia Maria Paschoal Guimarães, João
Hermes de Araújo, Maria de Lourdes Viana Lyra, Josemar Bezerra, do
IHG/MA

ATA DA 26ª SESSÃO CEPHAS, REALIZADA NO DIA 13 DE


DEZEMBRO DE 2006
Aos treze dias do mês de dezembro de 2006, reuniu-se pela 26ª vez a
Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob a presidência de

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Arno Wehling e secretaria de Cybelle de Ipanema, na ausência de Arivaldo


Silveira Fontes. Lida e aprovada a Ata da sessão anterior, passou-se à Ordem
do Dia, com a comunicação de Denise Figueira de Oliveira, “Ciência e arte:
oficinas teatrais no combate a epidemias”. Apresentada por Maria de Lourdes
Lyra, a visitante é graduada pela UFRJ em Ciências Sociais e vem-se
dedicando a campanhas de saúde na Fundação Oswaldo Cruz, em particular
na prevenção e combate de doenças epidêmicas. A operacionalização faz-se
em programações teatrais, envolvendo professores e agentes de saúde. A
oradora é uma das responsáveis pela montagem e execução dos eventos que,
atualmente, têm como maior preocupação a prevenção e o combate à dengue,
particularizando a conscientização da população. A exposição foi
acompanhada da projeção de grande número de transparências, desde a
concepção das atividades, desenvolvimento, análise e discussão de
resultados. Intervenções do presidente e da sócia Maria de Lourdes Lyra. A
comunicação seguinte, do major-brigadeiro Tércio Pacitti, versou sobre
“Origem e desenvolvimento do ITA”. A apresentação do orador ficou a cargo
do sócio Melquíades Pinto Paiva que classificou de oportuna a fala sobre o
ITA, no ano do centenário do feito de Santos Dumont, o vôo do 14-Bis.
Destacou a grande atuação de Tércio Pacitti na consolidação e no prestígio do
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, de que foi
diretor. Este, usando o recurso do data-show, exibiu as fases e a estratégia do
Instituto nas ações governamentais em prol da presença brasileira no campo,
no cenário internacional. Principiou louvando o brigadeiro Casimiro
Montenegro, seu fundador de que acabam de sair duas biografias, ambas
intituladas Montenegro: de Osíris Silva e Fernando Morais. Traçou a
trajetória do ITA, concluindo com dados sobre a política da Embraer e a
expansão do comércio de suas unidades a países do mundo. Fizeram
intervenções Ronaldo Rogério Mourão, Melquíades Pinto Paiva, Pedro da
Silva Telles e Tasso Fragoso. Arno Wehling agradeceu e destacou a
excelência do brigadeiro Pacitti como figura emblemática da cultura
científica brasileira. A sócia Cybelle de Ipanema transmitiu lembrete do sócio
benemérito Luiz de Castro Souza sobre “O poeta Mario Quintana e o Rio de
Janeiro – centenário de nascimento”, tema que será desenvolvido no ano
vindouro. O presidente desejou a todos votos felizes de Natal e Ano Novo. A
sessão encerrou-se às 16 horas e 30 minutos. Compareceram 12 sócios e 7
convidados.

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Atas das sessões do Instituto

ATA DA 1ª SESSÃO DA CEPHAS DE 2007 (21.03.2007)


Aos vinte e um dias do mês de março de 2007 realizou-se a
primeira sessão da CEPHAS, do corrente ano, sob a presidência de Arno
Wehling e secretariada pelo sócio Arivaldo Fontes. Após a abertura da
sessão, o Sr. Presidente convidou o sócio emérito Vasco Mariz para falar
sobre os “Diários de viagens ao Rio de Janeiro (1842 – 1867) de Osvaldo
Brierly”, apresentação de Pedro da Cunha e Menezes, Andrea Jakobsson
Estúdio, Rio, 2006. Os diários de viagens do autor são hoje incorporados à
nossa Biblioteca. Era ele um artista e navegador inglês, amante do mar. Em
1842 chegou à Austrália a bordo do “Wanderer”; após viagem de sete meses
voltou ao Rio anos depois e encheu seu caderno de desenhos de esboços;
ainda esteve mais uma vez no Rio. Em 1851 estranhou a existência de um
navio negreiro recordando a Austrália, onde se recrutavam milhares de
nativos da ilhas do pacífico para trabalhar em regime servil. São excelentes os
textos e as notas do Sr. Pedro da Cunha e Menezes, seu estilo é agradável. Boa
apresentação gráfica e o bom gosto da publicação. Em seguida o sócio Vasco
Mariz ofereceu à nossa Biblioteca um exemplar dos Diários, acima citados.
Em seguida foi concedida a palavra à convidada Ana Paula Torres Megiani,
sob o título “Do mundo para Évora, de Évora para o mundo: os anais e a coleção de
notícias; relatos e objetos do Chantre Manuel Severim de Faria (1600-1650)”. A autora é
Mestra (1995) e Doutora (2001) em História Social pela FFLCH/USP desde 2003, é
professora de História Ibérica no Dep. de História da FFLCH/USP e pesquisadora da
Cátedra Joaquim Cortesão, na mesma faculdade. Autora dos livros: “O jovem Rei
Encantado, São Paulo, HUCITEC, 2003; O Rei Ausente (1581-1619) SP, 2004;
Organizadora de Inês de Castro: a época e a memória, SP, Alameda, no prelo”. A
comunicadora se refere a União das Cortes Ibéricas (1580-1640). Surgiram à época
diversos circuitos e conexões de informações. Deles faziam funcionários e clérigos
letrados. Manoel Severino de Faria (1585-1650), Chantre da Sé de Évora, criou e
centralizou um desses circuitos. Dele faziam parte, como correspondentes, o vice-rei da
Índia Diogo de Castro, Frei Cristóvão de Lisboa irmão do Chantre e frei Vicente de
Salvador, nascido e criado na Bahia. A rede de informantes deu origem a uma espécie de
“gabinete de curiosidades” e uma “livraria”, onde havia panfletos, gravuras, etc. além
disso o eborense compôs os “Anais de História Portuguesa”, a partir de 1610; a terceira
comunicação foi feita pelo sócio honorário Davis Ribeiro de Sena e versou sobre “Luis
Carlos Prestes – opção pelo marxismo”; o autor, especialista em Canudos, já publicou “O
Grande Desafio Brasileiro – guerra civil 1892-1895; exército brasileiro: Ontem, Hoje,
Sempre – 2 volumes “As revoltas tenentistas que abalaram o Brasil” e “Luis Carlos

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Prestes: opção pelo marxismo”, Rio, 2006, versou sobre “A Revolta Comunista de 1935
no Rio de Janeiro. Partindo do movimento tenentista dos anos 1920 o comunicador
dissertou sobre a figura de um dos tenentes, que se tornou figura máxima do movimento
comunista brasileiro. Seu valor sob todos os títulos meritórios esclarece pontos
desconhecidos da vida do revolucionário Prestes.
Doação de Livros: 1) Diários de Viagens ao Rio de Janeiro, 1842-1867, Rio,
2006, pelo convidado Pedro Corrêa do Lago; 2) O Rei Ausente, SP, 2004, pela
convidada Ana Paula Torres Megiani.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a presente sessão e
convidados os presentes a se dirigirem ao 12° andar, onde seria servido um
Porto de honra, por ocasião do lançamento do livro do sócio emérito Augusto
da Silva Telles, “O Vale do Paraíba e a arquitetura do café”
Presença: 12 sócios e 13 convidados
Sócios: Arno Wehling, Tasso Fragoso, Cybelle de Ipanema, Davis
Ribeiro de Sena, Arivaldo Fontes, Miridan Falci, Maria de Lourdes Viana
Lyra, Roberto de Cavalcanti Albuquerque, Vasco Mariz, Ronaldo Rogério de
Freitas Mourão, Jonas Correia Neto, Mary Del Priore.

Ata da 2ª sessão da CEPHAS de 2007 (28.03.2007)


Aos vinte e oito dias do mês de março de 2007, na sala de
CEPHAS, reuniu-se pela segunda vez, a Comissão de Estudos e Pesquisas
(CEPHAS), sob a presidência de Arno Wehling e secretariada por Arivaldo
Fontes. Abertura da sessão, foi lida a 25ª e última ata da sessão de CEPHAS
de 2006, sendo a mesma aprovada. Em seguida foi lida a ata da 1ª sessão deste
ano, sendo também aprovada. Passando a ordem do dia, concedeu o
presidente a palavra à convidada Monike Garcia Ribeiro, que dissertou sobre
“As duas faces do artista Jean Baptiste Debret: o pintor e o desenhista”.
Lembrou ela que, compulsando a revista do IHGB tomou conhecimento de
material pouco divulgado, e oferecido pelo pintor francês ao nosso Instituto,
donde era sócio a muito tempo. A conferencista, conhecida no Instituto por
trabalhos publicados na nossa Revista, é historiadora, museóloga e mestra em
Memória Social. Tem a especialização em questões relativas à história da arte
no Brasil, com ênfase na divulgação da produção iconográfica dos pintores
viajantes que nos visitaram no século XIX. Referiu-se ao fato de que o pintor
estudado esteve no Brasil à época do período joanino. E é hoje uma fonte

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 403


Atas das sessões do Instituto

original importante para a compreensão de nossa história. O pintor revelou a


dupla face do pintor de história (como contratado da Corte portuguesa) e o
desenhista da vida cotidiana, retratando as cenas da nossa sociedade. Sobre
esse respeito é por demais conhecido. Foi aparteada pelos sócios Tasso
Fragoso e Jonas Correia Neto. Em seguida o sócio Melquíades Pinto Paiva
fez referências à sua última passagem pelo Ceará e ofereceu ao Instituto
diploma e livros publicados naquele Estado e que são citadas por ocasião da
doação de livros. Também o sócio Alberto Muniz Bandeira ofereceu um
trabalho à nossa Biblioteca, citado na obra por ele doada à Biblioteca do
Instituto. Em seguida o sócio Jonas Correia Neto falou “Em torno da
Revolução de 64”, em tempo cedido pelo sócio Arivaldo Fontes. Ele que
tomou parte nos acontecimentos daquela época, dissertou
pormenorizadamente sobre os benefícios e desvantagens que se
desenrolaram naquele ano e em anos posteriores. Intervenção dos sócios
Tasso Fragoso, Maria Cecília, Ronaldo de Freitas Mourão e Melquíades
Pinto Paiva. Por ocasião da fala do sócio Jonas Correia Neto foi a presidência
constituída pelo 3° vice-presidente, Victorino Chermont de Miranda.

Doação de Livros: o sócio Melquíades Pinto Paiva fez doação ao Instituto: 1)


diploma de Doutor Honoris Causa, que lhe foi outorgado pelo Reitor da Universidade
Estadual do Ceará; 2) O livro “A seca no Ceará”; 3) “Diários de Viagens”; o sócio
Alberto Muniz Bandeira ofereceu o livro “La formacion del Império Americano”.
Nada mais havendo a tratar, foi suspensa a sessão e todos as presentes
foram convidados a se dirigirem ao 13° andar, onde seria servido um lanche
para todos os presentes.
Presença: 10 sócios, mais um do IHGMA; 5 convidados
Sócios: Arno Wehling, , Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes,
Victorino Chermont de Miranda, Jonas Correia Neto, Tasso Fragoso Pires,
Alberto Moniz Bandeira, Maria Cecília Ribas Carneiro, Ronaldo Rogério de
Freitas Mourão, Melquíades Pinto Paiva e Miranda Neto (do IHGMA)

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

SESSÃO DE 11 DE ABRIL DE 2007

Posse do sócio correspondente brasileiro Carlos Henrique Cardim


Aos onze dias do mês de abril de 2007, no Gabinete do
presidente Arno Wehling, tomou posse às quatorze horas e trinta minutos, o
sócio correspondente brasileiro Carlos Henrique Cardim. Secretaria de
Cybelle de Ipanema e presença, além de presidente e secretária, do secretário
adjunto, Arivaldo Silveira Fontes e do tesoureiro, Tasso Fragoso Pires. A
posse, nessas circunstâncias, comporta todos os atos das sessões solenes,
abstraindo-se, apenas, o Discurso de Recepção. O presidente pediu que fosse
lido o Termo de Posse pela secretária. A seguir, o Termo de Compromisso
pelo empossando, após o que, declarou-o empossado, passando-lhe o
Diploma e o Livro de Posse para assinatura. Houve, também, imposição do
colar acadêmico. O novo sócio quis proferir palavras que foram de
agradecimento por sua eleição e investidura e de intenção plena em colaborar
nas atividades do Instituto. O embaixador Carlos Henrique Cardim é cientista
social e diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI). Já
serviu em vários países, como Argentina, Paraguai e Estados Unidos, sempre
atuando com aproximação da História. Como presidente do Conselho
Editorial do Senado, tem promovido a reedição de obras esgotadas, a
exemplo da História da civilização brasileira, de Pedro Calmon. O
presidente felicitou o novo sócio, esperando sua colaboração, em especial nas
páginas da Revista.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 3ª sessão da CEPHAS de 2007 (18.04.2007)


Aos dezoito dias do mês de abril de dois mil e sete, houve
sessão da CEPHAS, sob a presidência da 1ª secretária, Cybelle de Ipanema e
sob a coordenação de Arivaldo Fontes. Foi justificada a ausência do
presidente Arno Wehling. Aberta a sessão, foi lida a ata da sessão anterior,
que foi aprovada. A presidente pediu um minuto de silêncio pelo
desaparecimento a 4 do corrente mês do sócio titular Monsenhor Maurílio
Cesar de Lima, que era nosso sócio desde 1993. Nascera a 24 de junho de
1919, foi capelão militar. Passado à ordem do dia, foi dada a palavra ao
convidado Andreas Valentin que falou sobre “George Huebner: do Selvagem
ao Moderno, o olhara de um fotógrafo alemão na Amazônia”. O conferencista

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 405


Atas das sessões do Instituto

é doutorando em História Social, pela UFRJ, é mestre em Ciência da Arte,


pela UFF, 2004, é professor substituto na Escola de Belas Artes da UFRJ e
professor da Universidade Estácio de Sá, além de fotógrafo e pesquisador.
Foi aluno do artista plástico Hélio Oiticica. Documentou e pesquisou a
Amazônia durante 15 anos. É membro da Associação Brasileira de
Antropologia. Em 2004 foi vencedor do Prêmio Pierre Verger de Fotografia.
O conferencista dissertou sobre a figura extraordinária do fotógrafo alemão
George Huebner (Dresdem, 1862; Manaus, 1935). Fez os seus estudos no
país natal e aos 23 anos, em 1885 veio para a América do Sul, passando por
Belém e Manaus, chegando até Iquitos, no Peru. Em 1892 voltou à
Alemanha. Publicou trabalhos em revistas populares. Em 1894 viajou para
Manaus. Em 1897 se estabeleceu definitivamente no Brasil. Através do seu
estudo, Photografia Alemã, produziu ao longo de mais de quarenta anos, um
diversificado repertório de imagens de alta qualidade técnica e sofisticados
valores estéticos. Suas fotografias desenvolveram não só a implantação de
modernidade nas cidades de Manaus e Belém, a sociedade da pujante
economia da borracha e a natureza exuberante da floresta amazônica.
Associou-se ao fotógrafo A. Fidanza e fundou o seu estúdio próximo ao
Palácio do governo de Manaus (1899). Em 1910 esteve no Rio com a queda
da borracha, dedicou-se à pesquisa, coleta e plantas de espécies da flora
amazônica. Em 1917 esteve presente à fundação do Instituto Histórico e
Geográfico do Amazonas. Houve intervenção dos convidados Ruas Santos e
Elza Modena. Seguiu com a palavra o 2º conferencista, Alex Varela, que
dissertou sobre o tema: “Naturalista e homem público: a trajetória do
ilustrado José Bonifácio de Andrada e Silva (1780-1823)”. O conferencista é
graduado em História pela PUC-Rio. Mestre e doutor em História das
Ciências pela UNICAMP; pós-doutorando do Museu de Astronomia e
Ciências Afins. Autor do livro: “Juro-lhe pela honra do bom vassalo e bom
português: a análise das Memórias Científicas da ilustrado José Bonifácio de
Andrada e Silva (1780-1819), publicado pela Anablume, 2006. O
conferencista demorou-se no estudo da vida do “Patriarca da Independência”.
Disse que era filho do Coronel Bonifácio José de Andrada e de D. Maria
Bárbara da Silva. Nasceu em Santos (SP), a 13 de junho de 1760 (ou 1763) e
faleceu em Niterói (RJ) em 6 de abril de 1838. Na Universidade de Coimbra
cursou as faculdades de ciências naturais e direito e onde recebeu o grau de
Bacharel, foi logo admitido na Real Academia de Ciências de Lisboa. A sua
trajetória de vida não pode ser de forma cindida: o de estudioso das ciências
naturais e o de homem público. Procura resgatar a atuação do personagem na

406 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

sua fase portuguesa (1780-1819), no projeto reformista político-científico


liderado por D. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro do Ultramar do governo
de D. Maria I. enfatiza sua atuação como intendente geral das Minas e Metais
no Reino. Destaca os projetos científicos e políticos elaborados pelo
personagem para o Reino do Brasil no período de 1819-1823. Transparece a
íntima associação entre ciência e política. Houve intervenção de Mario
Afonso Carneiro, Maria de Lourdes Viana Lyra, Andreas Valentim, Miridan
Falci e Ruas Santos.
Doação de livros: o sócio Melquíades Pinto Paiva ofereceu à nossa
Biblioteca o Livro “Direito: controle e autonomia no espaço público”,
organizado pela Profª. Dra. Maria Anair Pinto Paiva, edição UAPÊ, Rio,
2006.
Nada mais havendo a tratar, foi suspensa a sessão e todos os presentes
se deslocaram para o 13° andar, onde seria servido um lanche para os sócios e
convidados.
Presenças: 11 sócios e 7 convidados.
Sócios: Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes, Tasso Fragoso Pires,
Ondemar Dias, Maria de Lourdes Viana Lyra, Miridam Falci, Elysio
Belchior, Melquíades Pinto Paiva, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
Maria Cecília Ribas Carneiro e Esther Caldas Bertoletti.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 4ª sessão da CEPHAS de 2007 (02.05.2007)


Aos dois dias do mês de maio de dois mil e sete, sob a
presidência de Arno Wehling e secretariada por Arivaldo Fontes, reuniu-se a
4ª sessão da CEPHAS (Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas). Aberta
a sessão, foi lida a ata da sessão anterior. Aprovada. Pela ordem do dia, coube
à Profª. Teresa Cristina de Carvalho Piva, do Colégio Militar do Rio, fazer a
primeira comunicação: “O Brigadeiro Alpoim: um politécnico no cenário
luso-brasileiro no século XVIII”. Graduada em Arquitetura e Urbanismo, em
1978, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Silva e Souza. Fez curso
de especialização no Centro de Estudos de Pessoal do Exército, em 1984;
também cursou docência no ensino superior nas Faculdades Integradas Celso
Lisboa em 1987. Graduada pela Escola de Belas Artes, da UFRJ, licenciatura

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 407


Atas das sessões do Instituto

em Desenho e Plástica, em 1978. Na UFRJ, COPPE, área da História das


Ciências e das Técnicas e Epistemologia, concluiu o mestrado em 2003. Na
Universidade, na área de História das Ciências e Epistemologia, defendeu
tese de doutorado em 2007. Exerce a docência no Centro Universitário Celso
Lisboa, desde 1986, em cursos de graduação em Ciências, Enfermagem
Pedagógica, Biologia e Administração de Empresas. Docente da
UNIGRANRIO em cursos de pós-graduação. É docente do Colégio Militar.
Docente de 1996 a 1999 na FAHUPE, na Escola Técnica Ferreira Viana e no
Colégio Estadual João Alfredo. A oradora agradeceu ao Instituto e
especialmente aos sócios Paulo Pardal (já falecido), Augusto da Silva Telles,
Pedro da Silva Telles e Arivaldo Fontes o incentivo para completar o seu
trabalho sobre o Brigadeiro Alpoim. Demorou-se no estudo da figura de José
Fernandes Pinto Alpoim. Nasceu a 14 de julho de 1700. Fez estudos militares
na Academia de Viana do Minho (hoje Viana do Castelo). Em 1699 foi
autorizada a criação de uma aula de fortificação no Rio. E Alpoim foi
nomeado comandante do Terço de Artilharia. Foi o grande auxiliar do
governador, Conde de Bobadela. Muitas obras são dele ou a ele creditadas.
Algumas delas: 1) Convento dos Barbonos; 2) Convento da Ajuda; 3) Casa
dos Governadores; 4) Quinta do Bispo; 5) Reconstrução do Aqueduto da
Carioca; 6) Igreja do Convento de Santa Teresa, além de obras em Mariana e
Ouro Preto. Morreu em 1765 e foi enterrado no corpo da Igreja de Santa
Tereza. Falou sobre a sua tese de doutorado, doando um exemplar à
Biblioteca do IHGB. Intervenção dos sócios Tasso Fragoso, Cybelle de
Ipanema, Miridan Falci. Em seguida a diretora da RIHGB falou sobre o
último n° recebido (n° 433, out./dez. 2006) e o primeiro deste ano que sairá
em breve. Com a palavra o convidado Ricardo Medeiros Pimenta, que
dissertou sobre o tema: “Retalhos de memórias: trabalho e identidade nas
falas dos operários têxteis do Rio de Janeiro”. O autor é doutorando no
programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO), onde conclui
mestrado em 2006. Graduado em História pela UGF, especialista em História
do Brasil pela Universidade Cândido Mendes. É bolsista da CAPES.
Trabalha com os campos da Sociologia e Antropologia. Na sua dissertação
procura contribuir acerca da História do Trabalho no Brasil, em especial aos
trabalhadores fabris e suas experiências em comum. Questiona sobre lazer e
cultura operária, ao cotidiano. Estuda as companhias América Fabril e Nova
América S. A. Estuda a presença do trabalho infantil, acidentes ocorridos.
Usa a metodologia da história real, entrevistando velhos operários das
mesmas companhias. Intervenção dos sócios Cybelle de Ipanema, Lygia

408 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Cunha, Miridan Falci e da convidada Teresa Cristina. Nada mais havendo a


tratar, foi encerrada a sessão e os presentes foram convidados ao 13º andar
onde seria servido o tradicional cafezinho. Foi lavrada ata da sessão, assinada
pelo Sr, Presidente e pelo Secretário da CEPHAS.
Presenças: 7 sócios e 10 convidados
Sócios: Arno Wehling, Arivaldo Fontes, Miridan Falci, Cybelle de
Ipanema, Tasso Fragoso Pires, Maria da Conceição Beltrão e Lygia da
Fonseca F. da Cunha.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 5ª sessão da CEPHAS de 2007 (16.05.2007)


Aos dezesseis dias do mês de maio de dois mil e sete, sob a
presidência de Cybelle de Ipanema e secretariada por Arivaldo Fontes,
reuniu-se pela 5ª vez, neste ano, a Comissão de Estudos e Pesquisas
Históricas (CEPHAS). Foi lida a ata da sessão anterior, tendo sido a mesma
aprovada. Foi concedida a palavra à Profª. Ciça Guimaraens, que
desenvolveu o tema “A história do projeto do restauro do convento São
Boaventura de Macacu”. A comunicadora, em anterior sessão da CEPHAS
(29.11.2006), junto com a sócia Maria da Conceição Beltrão, falara sobre o
assunto de cuja, com o título “As ruínas do convento de São Boaventura de
Macacu e a torre sineira da antiga matriz de Santo Antonio de Sá”. Em 1512
há a doação de uma sesmaria em favor da Fazenda Macacu. Em 1650 começa
o convento a ser construído, com a doação da área aos franciscanos. Em 1750
é contruída a igreja matriz de Santo Antonio, já havia a vila com 7.000
habitantes e composta de 6 freguesias. Em 1855 grassou a epidemia de
cholera morbus. Em 1860 é construída a ferrovia Niteroi-Cantagalo. Em 1868
a vila, o distrito e a freguesia são destituídos. Houve intervenção dos sócios
Victorino Chermont, Maria de Lourdes Lyra e do convidado Ruas Santos. As
atuais ruínas serão reerguidas, em projeto da Petrobrás. Para a sua realização
será o projeto trabalhado por paleontólogos, bolsistas de nível superior, sob a
orientação da UFRJ. Com a palavra o 3° Vice-Presidente Victorino Chermont
de Miranda, que dissertou sobre o tema “Vicente Chermont de Miranda no
centenário de seu falecimento”. Referiu-se ao sócio correspondente paraense
Chermont de Miranda (1849–1907), cujo centenário de falecimento
transcorreu a 9 do corrente. Apresentando-o como um engenheiro com

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 409


Atas das sessões do Instituto

vocação política e que era, ao mesmo tempo, um político com paixão pela
ciência e um homem de ciência com um temperamento empreendedor,
começou por discorrer sobre a sua atuação na vida pública da capital
paraense, onde fora vereador, deputado provincial e intendente, tendo
fundado, em 1890, o jornal “O Democrata”. Lembrou depois, sua atividade
científica, destacando-lhe a participação nos trabalhos de fundação do Museu
Goeldi , a descoberta de “lipidosinoma marajoense”, o levantamento
cartográfico do rio Capicu e os estudos sobre o solo, a fauna, a flora e os
falares regionais. Dentre estes, destacou “Marajó: estudos sobre o seu solo,
seus animais e suas plantas” (18904), que lhe abriu as portas do IHGB,
“Glossário paraense ou coleção de vocábulos peculiáres à Amazônia” (1895)
e “Nheengatu ou Tupi boreal”, editado postumamente pela Biblioteca
Nacional. Recordou, por fim, haver sido ele o introdutor em 1895, da criação
de búfalos em Marajó, que importara da Itália para sua fazenda Dunas, em
iniciativa pioneira reconhecida pela Comissão Nacional da Pecuária de Leite,
do Ministério da Agricultura, e concluiu lembrando que Arthur Cezar
Ferreira Reis definira Vicente como “uma das maiores figuras da inteligência
criadora paraense”. Houve intervenções dos sócios Tasso Fragoso, Venâncio
Filho, Maria de Lourdes Lyra, Esther Bertoletti e dos convidados Ruas
Santos e Luis Ewbank. A terceira comunicação coube ao convidado
Hariberto Miranda Jordão com o título “O dia 13 de mio e a imprensa”. Ele é
advogado e membro efetivo do Instituto dos Advogados do Brasil. Sobre o
dia 13 de maio lembrou que é o dia natalício de D. joão VI, nascido em 1767 e
que foi coroado rei do Reino Unido de Portugal e Algraves, a 6 de fevereiro
de 1816. também se comemorou naquela data a fundação da Imprensa Régia
em 1908 e por fim a abolição da escravatura. Recorda que o Brasil foi o
último país das Américas a ter imprensa, como foi o último a libertar os
escravos. Sabendo o dia em que apareceu o “A idade de ouro do Brazil” (no
dia 14 de maio de 1811), cujo exemplar conhecido se encontra no IHGB.
Intervenções dos sócios Tasso Fragoso, Venancio Filho, Maria de Lourdes
Lyra, Esther Bertoletti e dos convidados Ruas Santos e Luis Ewbank. Nada
mais a tratar, foi a sessão encerrada e lavrada a respectiva Ata. Todos os
presentes se dirigiram ao 13° andar, onde foi servido o tradicional cafezinho.
Presenças: 11 sócios e 15 visitantes
Sócios: Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes, Tasso Fragoso Pires,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Maria da Conceição Beltrão, Esther Bertoletti,
Maria Cecília Ribas Carneiro, Ondemar Dias, Vasco Mariz, Alberto

410 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Venâncio Filho, Victorino Coutinho Chermont de Miranda.

Ata da 6ª sessão da CEPHAS de 2007 (27.06.2007)


Aos vinte e sete dias do mês de junho de dois mil e sete; na
sala da CEPHAS, reuniu-se a 6ª vez neste ano, a CEPHAS (Comissão de
Estudos e Pesquisas Históricas), sob a presidência da 1ª secretária Cybelle
Moreira de Ipanema e secretariado por Arivaldo Fontes. Foi aberta a sessão.
Não foi lida a ata da sessão anterior, devido ao volume de trabalhos para
aquela tarde. A Presidente pediu um minuto de silêncio pelo falecimento do
sócio titular Aristides Pinto Coelho. A Presidente solicitou à conferencista do
dia para dar início à sua fala sobre “Representações iconográficas do brasão
de armas do Marquês do Herval – general Osório”. Antes fez a apresentação
de seu curriculum vitae. A Professora Regina Elisa de Miranda Lago Bibiani
é Mestre em Memória Social e Documento / UNIRIO, é graduada em
Museologia UNIRIO. Sua atuação se faz estar como Professor Adjunto do
centro de Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No
curso da Pós-graduação atua no campo da Biblioteconomia e da História
Militar (Insígnias militares: Heraldicas, Estandartes, Bandeiras, Medalhas e
Condecoração). No plenário achavam-se vários representantes de
organizações do Exército. Além da Secretaria da Cultura, estavam as
representações do Comando Militar do Leste, do Forte de Copacabana, além
de oficiais e praças do Exército, perfazendo um total de 26 pessoas. Cedido o
tempo para que a conferencista iniciasse o seu trabalho, ela começou a
discursar sobre heráldica e em especial para atenção do general Osório.
Lembrou que dos heróis brasileiros na guerra do Paraguai ela fez estudo
sistemático sobre Osório, sobre visconde de Pelotas, o Barão do Passagem e o
Visconde de Maracaju. No momento falará sobre o general Osório. Somente
primeiro dos demais seria estudado na tarde de hoje.
Lembrou o general Osório, desde a sua elevação a Barão e depois a
Marquês. Esgotado seu tempo foi concedida nova oportunidade à
conferencista. Aproveitou o tempo que foi concedido ao Desembargador
Antonio Isaias da Costa Abreu, que não compareceu ao evento. Apresentaria
o livro de sua autoria “Judiciário Fluminense: período republicano”. Ao
concluir o seu trabalho, a professora Bibiani respondeu a várias intervenções
de sócios e convidados presentes.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 411


Atas das sessões do Instituto

O sócio Melquíades Pinto Paiva ofereceu o livro “Direito: controle e


autonomia no espaço público”, organizado pela professora Maria Arair Pinto
Paiva, sua esposa.
Nada mais levando a tratar, foi encerrada a sessão, cuja pauta foi
escrito pelo sócio Arivaldo Fontes e aprovada pela Presidente da sessão. Os
presentes se dirigiram ao 13º andar, onde foi servido cafezinho.
Presenças: 10 sócios e mais um sócio do IHGPA e 15 convidados
Sócios: Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes, Tasso Fragoso Pires,
Maria Cecília Ribas Carneiro, Jonas Correia Neto, Miridan Britto Falci,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Mario Barata, Maria da Conceição Beltrão,
Melquíades Pinto Paiva, além do sócio do IHGPA, Miranda Neto.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 7ª sessão da CEPHAS de 2007 (04.07.2007)


Aos quatro dias do mês de julho de dois mil e sete, sob a
presidência de Arno Wehling e secretariada por Arivaldo Fontes, reuniu-se
pela 7ª vez, neste ano, a Comissão de Estudos e Pesquisas
Históricas(CEPHAS). Foram lidas e aprovadas as Atas das 2 sessões
anteriores. Foi dada a palavra ao conferencista Carlos Eduardo Barata que
dissertou sobre o tema: “Afinal, quantas pessoas vieram com a Corte de D.
João VI?” No plenário encontravam-se vários representantes do CBG, vez
que o orador falaria sobre assuntos ligados àquela Instituição. Apresentando
estatísticas as mais diversas e citando diferentes autores, não pôde ainda
informar, com segurança, o nome das pessoas que aqui estiveram com o
Príncipe, Dom João VI, no período de sua estada no Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. Foi convidado o segundo conferencista do dia,
Desembargador Antônio Izaias da Costa Abreu, que dissertou sobre o livro,
de sua autoria, “O Judiciário fluminense: período republicano”. O
conferencista foi apresentado pela 1ª secretária do IHGB. O Presidente
solicitou ao plenário um minuto de silêncio pelo falecimento hoje do Profº
Francisco Silva Nobre, Presidente da Federação das Academias de Letras do
Brasil. O Desembargador Izaias começou por falar sobre todas as mudanças e
alterações ocorridas no poder Judiciário, desde a fase colonial. Citou datas,
pessoas e modificações ocorridas ainda no Brasil-colônia. Tanto o primeiro
conferencista, como o segundo, receberam intervenções sobre os assuntos

412 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

explanados. O conferencista Carlos Barata está fazendo a pesquisa necessária


para responder aos quesitos: quantas embarcações vieram para o Brasil.
Estima-se em 15 embarcações e vários navios mercantes. Quais as
embarcações que permaneceram no Brasil. Sabe-se hoje que o navio São
Sebastião ficou em Lisboa. Navios ingleses? Mais de 500 embarcações. Ao
final da sua exposição sofreu intervenção do Sr. Ewbank, Vasco Mariz e
Miridan Falci. A sócia titular Miridan Falci ofereceu à nossa Biblioteca os
livros: 1) O Piauí e a unidade nacional, Fundapi (PI); 2) Revista do Mestrado
de História, vol. 8, Vassouras, RJ, 2006; 3) História Cultural – várias
interpretações, org. por Philomena Gebran, Programa de Mestrado em
História Social da USS, 2006. Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a
sessão, os presentes foram convidados ao 13º andar, para a confraternização e
o tradicional cafezinho. Na sala, mesma, da CEPHAS, foram distribuídos
exemplares do livro do desembargador Antonio Isaias aos sócios presentes.
Presenças: 12 sócios e mais um sócio do IHGPA. 13 visitantes. Total:
25 presenças.
Sócios: Arno Wehling, Cybelle de Ipanema, Tasso Fragoso Pires,
Arivaldo Fontes, Carlos Wehrs, Miridan Britto Falci, Esther Caldas
Bertoletti, Mario Barata, Maria da Conceição Beltrão, Lygia Fernandes da
Cunha, Vasco Mariz, Maria Cecília Ribas Carneiro, além do sócio do
IHGPA, Miranda Neto.
Ass.: Arivaldo Silveira Fontes (Coordenador)

Ata da 8ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas


(CEPHAS) (11.07.2007)
Aos onze dias do mês de julho de dois mil e sete, realizou-se a 8ª
Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob a
presidência de Arno Wehling e secretaria de Cybelle Moreira de Ipanema, na
ausência de Arivaldo Fontes. Aberta a sessão às quinze horas, foi lida a Ata da
sessão anterior, aprovada sem observações. A primeira comunicação coube
ao convidado Nelson Senra, apresentado pela secretária, que falou sobre
“Bulhões Carvalho, o fundador da estatística brasileira”. É Economista,
Mestre em Economia e Diretor em Ciências da Informação, pesquisador do
IBGE, onde idealizou e coordena o Projeto História das Estatísticas
Brasileiras (1822-2002). Iniciou sua exposição, agradecendo ao presidente a
oportunidade de se apresentar no Instituto. Referiu-se ao Seminário, dois dias

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 413


Atas das sessões do Instituto

antes, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dos 70 anos da


criação do CNG, de que participara a secretária do IHGB, Cybelle de
Ipanema, e onde tinha sido lançada, com patrocínio da Petrobrás, a edição
fac-similar dos quatro volumes clássicos de Alberto Ribeiro Lamego, O
homem e o brejo, O homem e a restinga, O homem e a serra e O homem e a
Guanabara que oferece ao IHGB, juntamente com os dois volumes já
publicados da História das Estatísticas Brasileiras, de sua autoria e
coordenação, cujo segundo volume (1880-1936) inclui capítulos redigidos
por Marco Santos, de análise das polêmicas na imprensa, sobre os censos. O
reconhecimento da importância da figura de que trataria levou o IBGE a
declarar 2007 o “Ano Bulhões Carvalho da Estatística Brasileira”. Descreveu
sua participação efetiva nos desempenhos da estatística brasileira. O Censo
de 1890, primeiro da República, em época não propícia, sob a direção de
Timóteo da Costa, fracassou. Adotada a prática de operações censitárias
decenais, o de 1900 também não obteve êxito. A laicização do registro civil,
no bojo da separação da Igreja, do Estado, pela Constituição de 1891, era
atribuição da Diretoria Geral de Estatística, assoberbada por este e o
levantamento da população brasileira. Em 1906 realizou-se, o Censo do
Distrito Federal, comandado por Aureliano Portugal, com assessoria de
Bulhões Carvalho. Eram ambos médicos, sanitaristas e demografistas. No
ano seguinte, assume Bulhões Carvalho (1866-1940) a Diretoria de
Estatística que efetiva, com enorme êxito, o Censo de 1920, do Centenário da
Independência. Bulhões Carvalho, mestre de Teixeira de Freitas, que nos
anos 1930 idealiza o IBGE, inaugurado sob José Carlos de Macedo Soares,
ainda em vida teve o título de “ Fundador da Estatística Geral do Brasil”,
homenagem ampliada em 2007. O presidente agradece, havendo
intervenções. O sócio Roberto Cavalcanti de Albuquerque oferece seu último
livro, Antes tempos depois (José Olímpio, 2007), de pequenos ensaios. A
oradora seguinte foi a sócia honorária Marilda Corrêa Ciribelli cujo tema é “
Nísia Floresta: educação e cultura”, a norte-riograndense, natural de Papari,
que viveu em vários estados brasileiros e em Paris, Roma, Florença, Portugal,
em total de dezesseis anos na Europa, onde morreu (Rouen,1855). Enfrentou
críticas em sua vida pessoal e profissional. O papel pioneiro de Nísia Floresta,
como feminista, tem sido enfocado, preferindo a expositora fixar-se nos
aspectos da educação e da cultura. Criou, no Recife e no Rio de Janeiro,
colégio de meninas, “Augusto”, nome do segundo marido, com propostas
inovadoras, como introdução de línguas vivas, geografia, história, educação
física, em turmas pequenas para melhor qualidade do ensino. Escreveu, além

414 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

de, em português, em italiano e francês. Deixou, entre outros, os livros


Direito da mulher e injustiça dos homens, Opúsculo humanitário e Páginas
de uma vida obscura. Após os debates, falou a sócia honorária Maria de
Lourdes Lyra para registrar, emocionada, a morte de Manuel Correia de
Andrade, de quem foi sua aluna. Advogado, professor, pesquisador. Estudou
a Guerra dos Cabanos, em Alagoas e Pernambuco, em 1830. Escreveu A terra
e o homem no norte. Na Internet, Mário Maestri produziu texto, “A morte de
um mestre”, como houve notas no Jornal do Commercio e no Boletim do
Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. O presidente encerrou a sessão,
convidando para o tradicional cafezinho no terraço.
Presenças: 10 sócios e 5 convidados. Total: 15 presenças.
Sócios: Arno Wehling, Cybelle de Ipanema, Tasso Fragoso Pires,
Esther Caldas Bertoletti, Maria da Conceição Beltrão, Melquíades Pinto
Paiva, Maria de Lourdes Viana Lyra, Marilda Corrêa Ciribelli, Roberto
Cavalcanti de Albuquerque e Ronaldo Rogério de Freitas Mourão.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 9ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas


(CEPHAS) (18.07.2007)
Aos dezoito dias do mês de julho de dois mil e sete, realizou-se na sala
da CEPHAS, do edifício sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
9ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS),
presidida pelo vice-presidente da Instituição Victorino Chermont de Miranda
e secretariada pelo 2º secretário do IHGB, Elysio de Oliveira Belchior, na
ausência dos titulares por motivo de força maior. Aberta a sessão às quinze
horas, foi lida a Ata da sessão anterior, aprovada por unanimidade, com
pequena alteração no título de um dos livros nela citados (Nordeste e não
Norte). O sr presidente da sessão convidou o sócio Almirante Hélio Leôncio
Martins para pronunciar sua comunicação, subordinada ao título “Abrindo
estradas no mar: hidrografia da costa brasileira no século XIX”. Iniciando
sua exposição, o orador salientou que trataria do assunto, não de forma
técnica, mas histórica, constituindo uma apresentação de recente livro de sua
autoria sobre o assunto. Todavia, não se furto de expor, de forma sucinta, as
características e os objetivos das cartas hidrográficas, o que facilitou
compreender as explicações sobre as que se destacaram na evolução do
conhecimento da costa brasileira, exibidas em projeções. No século XIX,

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 415


Atas das sessões do Instituto

ressaltou os trabalhos do almirante francês Roussin e dos brasileiros Vital de


Oliveira e Barão de Tefé. Após os debates, o Presidente concedeu a palavra
ao sócio Carlos Wehrs, para apresentar a comunicação “A Real
Reconciliação”. Ao expô-la, o orador, demonstrou o bom relacionamento
desenvolvido pelas casas reais da Grã-Bretanha e do Brasil para solidificar a
amizade entre os dois Países, abalada depois da “Questão Christie”, que
levou até ao rompimento das relações diplomáticas entre eles, reatadas por
iniciativa da Grã-Bretanha. No âmbito da real política de reconciliação,
destacou o orador a baile de gala oferecido ao príncipe herdeiro do trono
inglês no Cassino Fluminense, quando esteve no Rio de Janeiro, viajando a
bordo do navio Galates. Após os debates, e não havendo quem desejasse
fazer uso da palavra, o presidente da sessão convidou os presentes para um
encontro de confraternização no terraço do edifício e declarou encerrada a
sessão, da qual eu, secretário “adhoc”, lavrei a presente Ata que vai por mim
assinada e pelo sr. Presidente.
Presenças: 11 sócios mais 1 sócio do IHGPA e 9 convidados. Total: 21
presenças.
Sócios: Carlos Wehrs, Hélio Leôncio Martins, Melquíades Pinto
Paiva, Tasso Fragoso Pires, Victorino Chermont de Miranda, Armando de
Sena Bittencourt, Miridan Falci, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Elysio
Belchior, Maria de Lourdes Viana Lyra, Esther Caldas Bertoletti e Miranda
Neto do IHGPA.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA 10ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (8.08.2007)
Aos oito dias do mês de agosto de dois mil e sete, realizou-se na sala da
CEPHAS, do edifício–sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a
10ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob a
presidência do prof. Arno Wehling e secretaria de Cybelle Moreira de
Ipanema, na ausência de Arivaldo Silveira Fontes. A sessão foi aberta com a
leitura da Ata da sessão anterior (vinte e cinco de julho), aprovada. O
primeiro expositor, o convidado Victor Andrade de Mello, doutor em
Educação Física pela Universidade Gama Filho, com pós-doutorado na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Teoria Crítica da Cultura,
apresentou o tema “Cidade “sportiva”: primórdios do esporte no Rio de

416 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Janeiro do século XIX”. Valendo-se de equipamento data-show, discorreu


sobre a implantação e o desenvolvimento dos esportes nesta cidade,
lembrando desde as touradas, do tempo de d. João, com destaque, nos anos
oitocentos e início do século XX, para o turfe e o remo. Mostrou as diferenças
entre ambas as categorias, sublinhando o caráter elitista das competições e
apresentações turfísticas, com entrada paga, e o viés popular do outro esporte,
praticado e participado com disponibilidade diversa. Exibiu muitas imagens
de clubes e instalações, ao lado de equipamentos. Ao final, a pedido do
presidente, falou sobre o próximo Curso, “Esporte e memória na História do
Brasil”, promovido pelo IHGB, em parceria com a UFRJ e coordenado pela
sócia deste Instituto, Mary del Priore, e ele mesmo, professor da
Universidade. Desdobrar-se-á entre quatorze de agosto e quatro de outubro.
A segunda parte da sessão foi dedicada a uma Mesa Redonda, coordenada
pelo sócio correspondente da Paraíba, José Octavio de Arruda Mello e a
participação do sócio titular Helio Jaguaribe e o convidado prof. Eduardo
Raposo. Com grande assistência de sócios e convidados, abordou o tema
“1930 – A Revolução que mudou a História do Brasil”, resultado de um
Seminário desenvolvido em João Pessoa. Inicialmente José Octávio
apresentou e ofereceu várias publicações, chamado a atenção para o livro, de
igual título da Mesa, organizado por estudiosos daquele estado e ele próprio
(edição da Universidade Estadual da Paraíba). Divulgou a instituição de
estudos e pesquisas, Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ),
responsável pela Revista do UNIPÊ, já no ano XI, que distribui. Outras
publicações são: 1964 – no mundo, no Brasil e nordeste, (2004), de sua
autoria, e diversos folhetos. O presidente deu a palavra a Helio Jaguaribe,
cientista político, para sua apreciação sobre a Revolução de 30 e a
personalidade de Getúlio Vargas, de quem baliza tendências diferentes em
1930, de um democrata-social; em 1937, sua vertente fascista, terminando
com preocupação sócio-administrativa. Ao final, falou Eduardo Raposo,
autor do livro que seria lançado às dezessete horas: 1930 – seis versões e uma
Revolução. Teve oportunidade de informar sobre o livro, também com seus
desdobramentos, a partir do nordeste. Finaliza, sintetizando que, 30 produziu
benefícios, distribuídos desigualmente. O prof. Arno agradeceu a
colaboração de todos os envolvidos, a presença de sócios e público em geral e
convidou para a confraternização habitual no terraço, onde haveria o
lançamento anunciado do livro.
Presenças: 13 sócios e 32 convidados. Total: 45 presenças.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 417


Atas das sessões do Instituto

Sócios: Arno Wehling, Marilda Ciribelli, José Octávio de Arruda


Mello, Helio Jaguaribe de Mattos, Elysio de Oliveira Belchior, Carlos Wehrs,
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Vasco Mariz, Esther Caldas Bertoletti,
Miridan Britto Falci, Fernando Tasso Fragoso Pires, Maria de Lourdes Viana
Lyra, e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

Ata da 11ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas


(CEPHAS) (25.07.2007)
Abertura da sessão, às 15 horas. Justificativa da ausência do
Presidente. A presidência é exercida pela 1ª secretária do IHGB, Cybelle
Moreira de Ipanema, com secretaria de Arivaldo Silveira Fontes. Leitura da
ata anterior (16.05.2007). Aprovada. Concedida a palavra à Profª Teresa
Cribelli, orientanda do prof. Anthony Russell-Wood. Apresentou o assunto
de suas pesquisas, “Civilizar e aperfeiçoar: debates e projetos para a
modernização da Nação”. Seu curriculum informa que em 2005 foi Candidata
de Latin American History, na John Hopkins University, com outros cursos
em Universidades americanas, como a do Colorado. Sua comunicação
refere-se a uma análise preliminar de uma seleção de termos de modernização
utilizados por brasileiros do século XIX. As palavras aperfeiçoar e civilizar
revelam o conservadorismo das elites brasileiras no tocante à adoção de
tecnologias modernizadoras. Políticos, cientistas e fazendeiros brasileiros
estavam bem informados acerca de novas tecnologias produzidas nos Estados
Unidos e na Europa. No entanto, na sociedade, muitos temiam os efeitos que
tais inovações poderiam ter sobre a ordem social. Queriam modernizar sem
por em risco suas posições privilegiadas. Como estas atitudes, conforme
revelado por este vocabulário, moldaram o processo de modernização no
Brasil do século XIX? Intervenções do Emb. Vasco Mariz, Profª Marilda
Ciribelli e Profª Esther Caldas Bertoletti. Falou um seguida o sócio titular
Arivaldo Fontes, que recordou a vida de “Moreira Guimarães: historiador e
filósofo”, sergipano ilustre, pouco lembrado em seu estado e fora dele.
A sessão foi encerrada às 17 horas, e convidados os presentes para a
confraternização no terraço.
Presenças: 9 sócios mais 1 sócio do IHGPA e 9 convidados. Total: 19
presenças.

418 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Sócios: Cybelle de Ipanema, Arivaldo Fontes, Elysio Belchior,


Melquíades Pinto Paiva, Esther Caldas Bertoletti, Marilda Ciribeli, Vasco
Mariz, Miridan Falci e Ronaldo Rogério de Freitas Mourão.
Ass.: Arivaldo Silveira Fontes (Secretário da CEPHAS)

ATA DA 12ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (15.08.2007)
Aos quinze dias do mês de agosto de dois mil e sete, realizou-se na sala
da CEPHAS, do edifício–sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 11ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob
a presidência do dr. Victorino Chermont de Miranda e secretaria de Esther
Caldas Bertoletti, na ausência do prof. Arno Wehling e de Arivaldo Silveira
Fontes. A sessão foi aberta com a leitura da Ata da sessão anterior (oito de
agosto), aprovada. O primeiro expositor, a convidada Dora Alcântara,
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do Conselho
Estadual do Tombamento, apresentou o tema “Permanência da estrutura
setecentista nos entornos da Praça XV”. Valendo-se de equipamento
data-show, discorreu sobre um complexo e profundo trabalho de pesquisa
realizado no final dos anos 70 na qualidade de membro do IPHAN e
professora da UFRJ, com bolsistas e funcionários, sobre o traçado urbano e
dos edifícios construídos. Lembrou a importância dos monumentos como
documentos e apresentou os ensaios metodológicos europeus e americanos
que embasaram os estudos do conjunto dos bens tombados. Apresentou
cópias de mapas antigos e inúmeras fotografias antigas e contemporâneas
para comprovar as pesquisas. Mostrou as diversas construções, como o Arco
do Teles, o Mercado de Peixe, a Rua do Comércio, com construções de
meados do século XVIII, com projetos de reconstrução e expansão do início
do século XX. Diversos sócios e convidados fizeram perguntas, respondidas
pela convidada. Na segunda parte da sessão o sócio titular dr. Carlos Wehrs
apresentou recente estudo desenvolvido por ele, após uma viagem à
Alemanha, sobre a Princesa Leopoldina, filha do imperador d. Pedro II e a
imperatriz Teresa Cristina, e a Casa Ducal Saxe-Coburg, no qual revelou
inúmeras curiosidades e fotografias da Igreja onde se encontram os túmulos
de d. Leopoldina e seu esposo príncipe Augusto. Carlos Wehrs prestou, com
essa exposição, homenagem à memória do historiador do Rio de Janeiro, dr.
Paulo Berger falecido há três anos. Dando por encerrada a sessão, o

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 419


Atas das sessões do Instituto

presidente, Victorino Chermont de Miranda registrou a presença do dr.


Carlos Eduardo Barata, presidente do Colégio Brasileiro de Genalogia, e do
dr. Reinaldo Carneiro Leão, vice-presidente do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico Pernambucano, e em seguida convidou os sócios e os
convidados para a confraternização habitual no terraço,
Presenças: 8 sócios e 11 convidados. Total: 19 presenças.
Sócios: Victorino Chermont de Miranda, Carlos Wehrs, Ronaldo
Rogério de Freitas Mourão, Vasco Mariz, Esther Caldas Bertoletti, Ondemar
Ferreira Dias, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha e Mário Antônio
Barata.
Ass.: Esther Caldas Bertoletti (Secretária ad hoc.)

Ata da 13ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas


(CEPHAS) (22.08.2007)
Aos vinte e dois dias do mês de agosto de dois mil e sete, realizou-se na
sala da CEPHAS, do edifício–sede do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, a 12ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS), sob a presidência do prof. Arno Wehling e secretaria de Arivaldo
Silveira Fontes. A sessão foi aberta com a leitura da Ata da sessão anterior
(quinze de agosto). Aprovada. Concedida a palavra ao sócio emérito Cláudio
Moreira Bento, que dissertou sobre o seu último livro “Canguçu – reencontro
com a história: um exemplo de reconstrução de memória comunitária” (Barra
Mansa, RJ, 2007). O livro foi lançado em Canguçu, sua terra natal, pela
Academia Canguçuense de História. Diz que pelo local da cidade, um nó
orográfico da Serra de Tapes, passava o primeiro caminho histórico ligando o
litoral ao interior do Rio Grande do Sul, entre as duas primeiras bases
militares em Rio Grande e Rio Pardo. Suas terras foram as bases do comando
do major Rafael Pinto Bandeira, que pelo caminho Piratini atual, Herval do
Sul atual e rio Jaguarão invadiu o Uruguai, capturava gado, cavalos e vacuns
das espenhoese e arrasem nas fazendas. Canguçu, de 1783-89 foi sede e parte
das terras da Real Feitoria do Sinhô Cánhano de Rincão de Canguçu. Crê que
por questão de segurança foi ele transferido para São Leopoldo atual. Até
1842, quando Caxias assumiu o comando militar da Província, Canguçu
serviu de base de guerrilheiros e dá ................. o capitão Antônio de Sampaio,
patrono da Arma de Infantaria. Lembrou que 10% dos gaúchos mortos em

420 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

combate na Itália eram filhos de Canguçu. Na guerra de 1893-98, a chamada


Revolução de 1893, foram degolados junto com os filhos de Piratini e Bagé,
em Rio Negro, 1893. O assunto precisa ser pesquisado. Coincidência ou não?
Em seguida falou o convidado Carlos Javier Castro Brunneto, sobre
“Iconografia de Cristóvão Colombo no Brasil”. Foi ele apresentado pela profª
Mary Del Priore, cujo título era “A Princesa Isabel no cenário imperial: a Lei
Áurea e o abolicionismo católico”. Houve intervenções da profª Mary Del
Priore que fez a apresentação do novo conferencista. Lembrou a sua ação
como brasilianista e a força que faz para manter-se em dia com a sua missão
de “A Príncesa Isabel no cenário Imperial: a Lei Áurea e o abolicionismo
católico”. Ressaltou o seu papel de brasilianista, o seu trabalho na
Universidade de Juiz de Fora, com a pesquisa da dedicação dos assuntos
brasileiros. Lembrou que o conferencista é pesquisador, e não cessa de
trabalhar em favor da sua missão de professor da Universidade de Laguna,
Tenerife em favor do seu trabalho. E o sócio emérito lembra as suas ligações
com que aquela no Brasil. Além da missão de pesquisador e ligados aos
trabalhos de professor na Universidade, o sócio emérito ressaltou a esfera
dispendido grau cumpriu a seu missão. Lembrou o pesquisador e professor os
trabalhos de Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburg e Bragança à Regente, pouco
depois da Abolição. Em seguida o sócio titular Carlos Wehrs falou da sua
última viagem à Alemanha e a oportunidade de visitar Dom Carlos Tasso de
Saxe-Coburg e Bragança, e em documento inédito, mostrou as .............. da
Casa Ducal do visconde de Itauna a D. Pedro II (2ª parte). Ao final da
exposição o Presidente Arno, afirmou que o prof. da Universidade de Juiz de
Fora, além de brasilianista também um ................. Dando por encerrada a
sessão, o presidente, Arno Wehling convidou os sócios e os convidados para
a confraternização habitual no terraço,
Presenças: 9 sócios e 11 convidados. Total: 20 presenças.
Sócios: Cláudio Moreira Bemto, Elysio Belchior, Marilda Corrêa
Ciribelli, Tasso Fragoso Pires, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Cybelle
de Ipanema, Maria Beltrão, Arno Wehlin e Arivaldo Silveira Fontes.
Ass.: Arivaldo Silveira Fontes (Secretária ad hoc.)

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 421


Atas das sessões do Instituto

Ata 14ª da Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas


(CEPHAS) (29.08.2007)
Aos vinte e nove dias do mês de agosto de dois mil e sete, realizou-se
na sala da CEPHAS, do edifício–sede do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, a 13ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS), sob a presidência do prof. Arno Wehling e secretariada pelo
sócio titular Arivaldo Silveira Fontes. A sessão foi aberta com um minuto de
silêncio, em homenagem ao sócio titular e ex-vice presidente Newton
Sucupira, falecido domingo anterior. Seguiu-se a leitura da Ata da sessão
anterior, de 22 de agosto, sendo aprovada. Concedida a palavra ao convidado,
prof. Ricardo Vieira Martins, este dissertou sobre o tema “A invasão francesa
ao Rio de Janeiro em 1711 e a moderna formação técnica dos capitães da
artilharia no Brasil”. O autor destacou em sua exposição a situação das peças
de artilharia no litoral brasileiro, em especial no Rio de Janeiro do início do
século XVIII, a formação de artilheiros no exército português e o
conhecimento que os invasores franceses tinham da situação militar da
cidade. Encerrada a exposição, a mesma foi objeto de considerações do sócio
titular Gen. Jonas de Morais Correia Neto. Em seguida foi dada a palavra ao
segundo expositor, prof. Cláudio Antonio Santos Monteiro, que falou sobre o
tema de sua tese de doutoramento, “D. Pedro II e a França da Terceira
Republica, 1871-1891”. Na exposição sublinhou a imagem do Imperador do
Brasil na França em dois momentos, o da sua primeira viagem ao país, em
1871 e a do período que se seguiu à queda do Império e analisou a
repercussão, na imprensa parisiense, das exéquias de D. Pedro II, em
dezembro de 1891. Ao final da apresentação houve perguntas por parte da
sócia Maria de Lourdes Viana Lyra e do Presidente Arno Wehling. Encerrada
a reunião, o Presidente agradeceu a presença de todos e convidou para o
lançamento do livro da sócia correspondente Maria Beatriz Nizza da Silva,
sobre “A Gazeta do Rio de Janeiro” no terraço do instituto.
Presenças: sócios e convidados. Total: presenças.
Sócios:
Ass.: Arivaldo Silveira Fontes (Secretário)

422 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

ATA DA 15ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (5.09.2007)
Aos cinco dias do mês de setembro de dois mil e sete, realizou-se na
Sala da CEPHAS, do edifício-sede do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, a 14ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS), presidida pelo prof. Arno Wehling, com secretaria de Cybelle
Moreira de Ipanema, na ausência de Arivaldo Silveira Fontes. A sessão
contou com apenas, uma comunicação, da sócia honorária Lucia Maria
Paschoal Guimarães, sob o título “As relações luso-brasileiras nas primeiras
décadas do século XX” cujo enfoque era o Congresso Luso-Brasileiro de
História, realizado em Lisboa, em mil novecentos e quarenta, a propósito dos
centenários de Portugal – da Fundação da Nacionalidade, por d. Afonso
Henriques, em mil cento e trinta e nove, e da Restauração, em mil seiscentos e
quarenta. A Comissão Nacional das Comemorações Centenárias era
presidida pelo escritor Júlio Dantas, vice-presidente da Academia das
Ciências de Lisboa que enfatizou a presença brasileira, ao convocá-la para o
Congresso Luso-Brasileiro de História, através do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, em primeira correspondência, de setembro de mil
novecentos e trinta e oito. As Comemorações previam a realização de uma
“Exposição do Mundo Português”, monumental, onde se estudariam as
origens, atividades, instituições, desenvolvimento e expansão de Portugal e
do Império. O governante, dr. Antonio de Oliveira Salazar, estava na cúpula,
prestando todo o apoio e infra-estrutura à magna programação. Intensifica-se,
com vistas ao Congresso, a troca de mensagens entre Portugal e Brasil. A essa
altura, (mil novecentos e trinta e seis), havia sido refundada a Academia
Portuguesa da História. O Instituto Histórico e a Academia Brasileira de
Letras somavam esforços para o bom êxito do evento, contando-se, entre
outros, com Basílio de Magalhães, Pedro Calmon e Max Fleiuss. A
expositora enuncia os temas propostos a debate. Da parte do Brasil, não se
poderia prescindir da participação do Ministério das Relações Exteriores,
com empenho do presidente Getúlio Vargas. Figura à frente das providências
era Afrânio Peixoto que, aparentemente, não afinou com as posições
brasileiras. O Congresso foi aberto em novembro de mil novecentos e
quarenta. Nos debates, intervenções de sócios e convidados. O presidente
agradeceu a participação de todos, convidou para a confraternização no
terraço e encerrou a sessão.
Presenças: 8 sócios e 9 convidados. Total: 17 presenças.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 423


Atas das sessões do Instituto

Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino


Chermont de Miranda, Carlos Wehrs, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
Fernando Tasso Fragoso Pires, Maria da Conceição Beltrão, Lucia Maria
Paschoal Guimarães e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA 16ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (5.09.2007)
Aos cinco dias do mês de setembro de dois mil e sete, realizou-se na
Sala da CEPHAS, do edifício-sede do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, a 14ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS), presidida pelo prof. Arno Wehling, com secretaria de Cybelle
Moreira de Ipanema, na ausência de Arivaldo Silveira Fontes. A sessão
contou com apenas, uma comunicação, da sócia honorária Lucia Maria
Paschoal Guimarães, sob o título “As relações luso-brasileiras nas primeiras
décadas do século XX” cujo enfoque era o Congresso Luso-Brasileiro de
História, realizado em Lisboa, em mil novecentos e quarenta, a propósito dos
centenários de Portugal – da Fundação da Nacionalidade, por d. Afonso
Henriques, em mil cento e trinta e nove, e da Restauração, em mil seiscentos e
quarenta. A Comissão Nacional das Comemorações Centenárias era
presidida pelo escritor Júlio Dantas, vice-presidente da Academia das
Ciências de Lisboa que enfatizou a presença brasileira, ao convocá-la para o
Congresso Luso-Brasileiro de História, através do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, em primeira correspondência, de setembro de mil
novecentos e trinta e oito. As Comemorações previam a realização de uma
“Exposição do Mundo Português”, monumental, onde se estudariam as
origens, atividades, instituições, desenvolvimento e expansão de Portugal e
do Império. O governante, dr. Antonio de Oliveira Salazar, estava na cúpula,
prestando todo o apoio e infra-estrutura à magna programação. Intensifica-se,
com vistas ao Congresso, a troca de mensagens entre Portugal e Brasil. A essa
altura, (mil novecentos e trinta e seis), havia sido refundada a Academia
Portuguesa da História. O Instituto Histórico e a Academia Brasileira de
Letras somavam esforços para o bom êxito do evento, contando-se, entre
outros, com Basílio de Magalhães, Pedro Calmon e Max Fleiuss. A
expositora enuncia os temas propostos a debate. Da parte do Brasil, não se
poderia prescindir da participação do Ministério das Relações Exteriores,

424 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

com empenho do presidente Getúlio Vargas. Figura à frente das providências


era Afrânio Peixoto que, aparentemente, não afinou com as posições
brasileiras. O Congresso foi aberto em novembro de mil novecentos e
quarenta. Nos debates, intervenções de sócios e convidados. O presidente
agradeceu a participação de todos, convidou para a confraternização no
terraço e encerrou a sessão.
Presenças: 8 sócios e 9 convidados. Total: 17 presenças.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino
Chermont de Miranda, Carlos Wehrs, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
Fernando Tasso Fragoso Pires, Maria da Conceição Beltrão, Lucia Maria
Paschoal Guimarães e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA 17ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (12.09.2007)
Aos doze dias do mês de setembro de dois mil e sete, realizou-se a 15ª
Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), presidida
pelo prof. Arno Wehling, com secretaria de Cybelle Moreira de Ipanema, na
ausência de Arivaldo Silveira Fontes. Lidas as Atas das sessões anteriores, de
vinte e nove de agosto e cinco de setembro, respectivamente, foram
aprovadas. O primeiro palestrante foi Cláudio Aguiar com “Horto Del Rei de
Olinda: ação joanina em Pernambuco”. É pesquisa que vem desenvolvendo e
de cujos primeiros resultados dá conta. Trata-se do segundo mais antigo
jardim botânico do Brasil, criado por d. João, príncipe regente, em mil
setecentos e noventa e oito, a exemplo do criado no Pará, para estímulo da
plantação de essências de construção para se semearem nas matas reais.
Teriam influenciado o governante os trabalhos do botânico pernambucano
Manuel de Arruda Câmara, que, desde mil setecentos e noventa e quatro, fora
comissionado pela Corte portuguesa para levantar as potencialidades naturais
do nordeste. Seu texto só saiu publicado, pela Impressão Régia, em mil
oitocentos e dez, por ordem de S. A. R.: Discurso sobre a utilidade da
instituição de Jardins Botânicos nas principais províncias do Brasil. Arruda
Câmara era carmelita, formado pelas Universidades de Coimbra e
Montpellier, tendo participado de expedição científica à Paraíba, Ceará e rio
S. Francisco. O orador discorreu sobre o horto (que nasceu com trinta e três

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 425


Atas das sessões do Instituto

mil metros quadrados, hoje reduzido a nove hectares), suas vicissitudos,


propriedade, utilização. Embora criado em mil setecentos e noventa e oito, só
foi instalado em mil oitocentos e onze. Atualmente, pertence ao Banco
Holandês de Pernambuco, havendo movimento popular para sua
revitalização, em favor do lazer da população, e para que retorne às
autoridades olindenses. É tombado pelo Patrimônio. O orador já presidiu
associação que luta por sua preservação. O presidente agradeceu e houve
muitas intervenções de sócios e convidados. A seguir falou a pesquisadora
Franci Machado Darigo a respeito de “Encontrando Conselheiro através d’Os
Sertões”. Explanou sobre o episódio Canudos, Antônio Conselheiro e as
relações com Os Sertões, de Euclides da Cunha, enfatizando sebastianismo,
fanatismo e messianismo. O prof. Arno, ao agradecer, lembrou os cento e dez
anos de Canudos e as comemorações do centenário, aqui realizadas, em
noventa e sete, abordando as três vertentes: social, literária e militar.
Recordou a próxima sessão da CEPHAS, no horário normal, e o lançamento,
às dezessete horas, da edição instrumentada de Os Lusíadas (que pertence a d.
Pedro II, do acervo do IHGB), pelo prof. Leodegário de Azevedo Filho,
presidente da Academia Brasileira de Filologia. Nos dias vinte e seis e vinte e
sete, Seminário Tamandaré, em parceria com a Diretoria de Patrimônio
Histórico e Cultural da Marinha, dirigida por Armando de Senna Bittencourt,
sócio. Encerrando o presidente convidou para a confraternização no terraço.
Presenças: 9 sócios e 13 convidados. Total: 22.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Ronaldo Rogério
de Freitas Mourão, Fernando Tasso Fragoso Pires, Maria de Loures Viana
Lyra, Melquíades de Paiva Pinto, Roberto Cavalcante de Albuquerque,
Vasco Mariz, Marilda Corrêa Ciribelli e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA 18ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (19.09.2007)
Aos dezenove dias do mês de setembro de dois mil e sete, realizou-se
na sala da CEPHAS, do edifício–sede do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, a 18ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS), sob a presidência do Prof. Dr. Arno Wehring, Presidente do
IHGB e secretaria de Esther Caldas Bertoletti, na ausência de Arivaldo
Silveira Fontes. A sessão foi aberta com a leitura da Ata da sessão anterior

426 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

(doze de setembro) aprovada, com correção. A primeira exposição foi da


convidada, Profa. Dra. Maria Adelina de Figueiredo Batista Amorim,
portuguesa que, com o apoio de inúmeras imagens discorreu sobre o tema “A
língua na Missionação Colonial: Pedagogia ou Política?”. Falou sobre a
importância que a missionação colonial desempenhou para o ensino e a
difusão da língua portuguesa nos vários domínios do império, para além do
Brasil. Relembra as inúmeras figuras dos jesuítas e de seus trabalhos de
evangelização demonstrando a preocupação com o ensino da língua
portuguesa que era fator de unidade em cada um dos territórios colonizados.
Apresenta os inúmeros textos escritos em línguas nativas, em um esforço de
diálogo e de comunicação realizados pelos missionários, cujos exemplares
estão espalhados em arquivos e bibliotecas em vários países. Fala dos novos
estudos que estão sendo realizados com esses textos, principalmente de
gramáticas de línguas nativas, publicados desde o século XVII. Discorre
sobre o uso da língua portuguesa nos espaços de missão no Oriente e no
Ocidente e comenta várias cartas dos jesuítas sobre o assunto , relembrando
os inúmeros catecismos em “línguas da terra”. Fala também do manuscritos
existente no IHGB do Dicionário Português e Brasiliano ou da língua Geral
do Brasil e de uma sua recente descoberta na Biblioteca Pública de Évora de
um “Dicionário Português-Concani”, lembrando que certamente muitos
textos ainda estão por ser localizados. Sua apresentação com inúmeras
citações bem demonstra a acuidade das pesquisas realizadas pela
pesquisadora portuguesa e sua importância para a história do Brasil. A
palestrante respondeu às perguntas formuladas. Em seguida, o Presidente
passa a palavra ao segundo expositor, o convidado Prof. Dr. Douglas Apratto
Tenório, sócio correspondente do IHGB em Alagoas, apresentou o tema
“Cinqüentenário de uma tragédia: o impeachment de Muniz Falcão”.
Discorreu sobre um importante episódio ocorrido no Estado de Alagoas há
cinqüenta anos , mais precisamente no dia 13 de setembro de 1957, de um
tumultuado momento da história parlamentar brasileira, que resultou em
mortos e feridos. Com o apoio de jornais , livros e memórias pode reconstituir
a história da crise que se agravou com a posição populista do Governo Muniz
Falcão. Relembrou outros episódios da história política de Alagoas, desde o
início do século XIX e fez uma reconstituição minuciosa do clima existente
na capital alagoana naquele dia, analisando também o panorama político a
nível nacional. Descreve os momentos dramáticos do tiroteio, que resultou
em inúmeros feridos e na morte de um Deputado e como Maceió se
transformou em uma cidade fantasma. Falou sobre o esforço do jornal Gazeta
de Alagoas para rodar 300 exemplares para dar notícias dos acontecimentos à
população da cidade, e encerrou comentando sobre o retorno ao Governo do
Governador Muniz Falcão e sobre a continuidade dos jogos políticos com os
ânimos mais serenos. Foram feitas perguntas que foram respondidas pelo
apresentador do tema. O Presidente deu por encerrada a sessão da Cephas e

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 427


Atas das sessões do Instituto

convidou a todos para a apresentação do Prof. Leodegário....................e para


o lançamento do livro.....................na Sala Pedro Calmon.,
Presenças: sócios e convidados. Total: presenças.
Sócios:
Ass.: Esther Caldas Bertoletti (Secretária ad hoc.)

ATA DA 19ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (03.10.2007)
Aos três dias do mês de outubro de dois mil e sete, realizou-se nesta
sala, a 19ª Sessão da Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS),
do ano, sob a presidência do prof. Arno Wehling, e secretaria da 1ª secretária
Cybelle Moreira de Ipanema, na ausência de Arivaldo Silveira Fontes. Lida e
aprovada a Ata da sessão anterior, o presidente deu início à sessão que se
destinava a homenagear o falecido sócio titular Newton Lins Buarque
Sucupira, ex-primeiro vice-presidente por quatro mandatos. O primeiro
orador foi o sócio Alberto Venâncio Filho que discorreu sobre a vida e a obra
do amigo, natural de Alagoas, com formação acadêmica no Recife, onde
cursou Direito e Filosofia, e posterior presença no Rio de Janeiro. Aqui teve
enorme atuação nos caminhos da educação no Brasil, no Conselho Federal de
Educação e como presidente da Câmara de Ensino Superior do CFE.
Presidente do Bureau Internacional de Educação, da UNESCO. Destacou o
orador as linhas-mestras de sua obra – a Autonomia universitária, a Reforma
universitária e a Pós-graduação –, a par do lançamento de livros marcantes.
Relatou episódios de seu convívio fraterno, de longa duração, como
mencionou obras elogiosas ao homenageado, tal a Ética e educação no
pensamento de Newton Sucupira (1996), com prefácio de Jorge Oscar de
Melo Flores, da Fundação Getúlio Vargas. Encerrou com o pensamento: “A
amizade de um grande homem é uma dádiva dos deuses”. A seguir, falou
Edivaldo Boaventura, vindo da Bahia, que iniciou, saudando a profª Maria
Judith Sucupira, filha, presente. Denominou seu depoimento de “Newton
Sucupira e a Universidade”, sintetizando a ação do homenageado que traçou
rumos, diretrizes e políticas que mudaram a educação. Era, na sua avaliação,
um “scholar”. Além de destacar aquelas facetas ligadas à educação, aborda o
pensamento filosófico de Newton Sucupira, mencionando sua obra de 2001,
Tobias Barreto e a filosofia alemã. Cita Newton Sucupira e os rumos da
educação, dentre as apreciações que mereceu. Apela Edivaldo Boaventura
para que instituições, inclusive o IHGB, lhe publiquem a obra conjunta.
Tarcísio Padilha, o terceiro orador, intitulou o seu, “Depoimento preliminar”,
de amigo e participante de mesmas lides educacionais. Nasceu Newton
Sucupira em 7 de maio de 1920, desaparecendo no último dia 26 de agosto.

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Menciona sua formação, de aluno dos jesuítas, sua vida pessoal, o casamento,
a família. Era um homem de fé, alicerçada no cristianismo. Rememora o
orador sua trajetória na educação no Brasil, encerrando com opiniões sobre
Newton Sucupira, por exemplo, de Paulo Alcântara Gomes, reitor da UFRJ, e
de Cândido Mendes de Almeida que o definiu: “humanista de nosso tempo”.
Conclui que ele forma na galeria dos grandes educadores brasileiros, como
Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Paulo Freire. A fala do presidente Arno
Wehling, como último orador, incidiu sobre a presença de Newton Sucupira
no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, para cuja 1ª vice-presidência o
convidou em sua primeira gestão, levando em conta tratar-se, ele próprio, de
alguém vinculado à Universidade. Discorreu sobre sua participação discreta,
porém objetiva, nas sessões. Comentou publicações de Newton Sucupira,
como o Tobias Barreto, onde se revelou, também, crítico. Corroborando seus
antecessores, definiu ser ele “o Pai da Pós-graduação”. Ao final, resumiu o
homenageado, como homem de ação que marcou sua época: “agiu bem,
pensou bem, fez bem”. Concedeu a palavra ao plenário. Não havendo quem o
fizesse, agradeceu a presença da profª Maria Judith e outros familiares de
Newton Sucupira, dos sócios e freqüentadores e encerrou a sessão.
Presenças: 16 sócios e 16 convidados. Total: 32.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino
Chermont de Miranda, Melquíades de Paiva Pinto, Maria de Loures Viana
Lyra, Edivaldo M. Boaventura, Davis R. Sena, José Arthur Rios, Fernando
Tasso Fragoso Pires, Marilda Corrêa Ciribelli, Elysio de Oliveira Belchior,
Carlos Wehrs, Vasco Mariz, Arivaldo Silveira Fontes, Maria da Conceição
M. C. Beltrão, Esther Caldas Bertoletti e Cybelle Moreira de Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

ATA DA 20ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (10.10.2007)
Aos dez dias do mês de outubro de 2007, realizou-se na Sala da
CEPHAS, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a reunião da
Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob a presidência do
Prof. Arno Wehling e tendo como secretário “ad hoc”, o 2º secretário do
IHGB, Elysio de Oliveira Belchior. Às 15 horas o Sr. Presidente abriu a
reunião e comunicou que se encontrava à disposição dos presentes convites
do desembargador José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, para a solenidade de
inauguração da Exposição Código Melo Matos – 80 anos, a realizar-se no dia
17 de outubro de 2007, às 17 horas, no Salão dos Espelhos do Museu da
Justiça. Em seguida foi concedida a palavra ao sócio honorário brasileiro
prof. Marcos Guimarães Sanches, que pronunciou sua palestra, subordinada

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 429


Atas das sessões do Instituto

ao tema “Nobreza e conveniência no zelo da administração das conquistas”,


abordando significativos aspectos da administração das minas brasileiras nos
séculos XVII/XVIII. Encerrados os debates, o sócio emérito embaixador
Vasco Mariz, discorreu sobre o tema “O Império brasileiro e o Reino de
Nápoles e as Duas Sicilias”, relatando com detalhes o relacionamento que
entre eles se estabeleceu em virtude do casamento do imperador d. Pedro II
com a princesa, e futura imperatriz, d. Teresa Cristina. Finda a exposição, o
orador ofereceu ao IHGB um exemplar do livro de Paolo Scarano, Apporti
politici, economici e sociali, tra il Regno delle Due Sicille ed il Brasile
pertencente à sua biblioteca. Durante os debates, o sr. presidente Arno
Wehling informou que por coincidência recebera carta do sócio
correspondente italiano Anielo Ângelo Avella, comunicando-lhe ter
concluído trabalho biográfico sobre d. Teresa Cristina. Em prosseguimento
da reunião, o sócio honorário Melquiades Pinto Paiva, solicita a palavra pára
breve comunicação, na qual fez o necrológio do Sr. Manuel Eduardo Pinheiro
Campos, membro do Instituto do Ceará onde foi admitido em 1956, e seu
presidente desde 4 de março de 2007 até o falecimento em 20 de setembro pp.
Foi jornalista, empresário e escritor, secretário da Cultura e Desportos do
Ceará, presidente da Academia Cearense de Letras durante 10 anos,
teatrólogo, contista, memorialista, e ensaísta. Para a presidência do Instituto
do Ceará foi eleito o Sr. José Augusto Bezerra. O orador ofereceu à biblioteca
do IHGB o v. 3 da revista Historia Naturalis, publicada pela Universidade
Rural do Estado do Rio de Janeiro. E nada mais havendo a tratar o Sr.
Presidente encerrou a reunião às 16,45 horas, da qual eu, secretário “ad hoc”,
lavrei a presente Ata que vai por mim assinada e pelo sr. Presidente.
Presenças: 13 sócios e 19 convidados. Total: 32.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Leda Boechat
Rodrigues, Marcos Guimarães Sanches, Melquíades de Paiva Pinto, Carlos
Wehrs, Hélio Leôncio Martins, Vasco Mariz, Marilda Corrêa Ciribelli, Jonas
Correia Neto, Fernando Tasso Fragoso Pires, José Arthur Rios, Victorino
Chermont de Miranda e Elysio de Oliveira Belchior.

ATA DA 21ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (17.10.2007)
Aos dezessete dias do mês de outubro de dois mil e sete, realizou-se na
Sala da CEPHAS a 21ª sessão desta Comissão, sob a presidência do
presidente Arno Wehling e secretaria da primeira secretária, Cybelle Moreira
de Ipanema. Sessão destinada a homenagear o sócio benemérito, segundo
vice-presidente desde mil novecentos e noventa e quatro, Mario Antonio
Barata. Lida e aprovada a Ata da sessão anterior, com uma ressalva sobre a

430 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

peça lançada, em Salerno, pelo sócio Anielo Avela. O presidente registra a


presença de d. Ticiana Bonnazola Barata e familiares. Igualmente, do
vice-presidente do Instituto do Pará, Miranda Neto, representando seu
presidente. O primeiro orador inscrito foi Carlos Augusto da Silva Telles que
leu seu depoimento sobre o amigo, ex-colega da Escola de Belas Artes e do
Patrimônio Nacional, dizendo nunca ter esperado faze-lo. Classificou Mario
Barata de “pessoa integra, trabalhador incansável, professor dedicado, amado
e respeitado pelos alunos”. Pesquisador sério com inúmeros trabalhos
publicados e tidos como referência. De suas obras, citou Azulejos do Brasil –
séculos XVII, XVIII e XIX, e Escola Politécnica do Largo de São Francisco,
berço da engenharia brasileira, entre outros. Maria de Lourdes Lyra incidiu
em sua vida de professor e de crítico de arte. Fundou o Instituto Brasileiro de
História da Arte, organizou Seminários. Professor emérito da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Foi jornalista, com atuação em jornais do Rio e
outros estados. Aqui, do da Associação Brasileira de Imprensa, onde era
conselheiro, e do Jornal do Commercio. Orador seguinte, Victorino
Chermont de Miranda, como Mario Barata, de origens paraenses, evocou
numerosos passos do homenageado naquele estado, como a excursão para
que foi convidado, a fim de se determinar o ponto inicial da passagem do
meridiano de Tordesilhas, no rio Pará. Exaltou Manuel Cardoso de Melo
Barata, seu tio-avô, benemérito do Instituto, e Serzedelo Correia.
Interessado, como o orador, em estudos de família. Colaborou em A
Província do Pará, A Folha do Norte e O Liberal. Tentou criar o Museu de
Arte de Belém, biografou Assis Chateanbiand. Claudio Moreira Bento, o
orador seguinte, trouxe recordações inusitadas de Mario Barata, tenente de
artilharia da reserva, tendo sido soldado no Forte de Copacabana. Publicou
matérias de História Militar, na Nação Armada. Coube ao presidente Arno
Wehling encerrar os depoimentos, ligando Mario Barata ao Instituto. Entrou
em 1961 e pertencia à categoria, ainda, de benemérito. Foi segundo
vice-presidente. Coordenador do Congresso do Centenário da República, em
1989, membro do Conselho Consultivo do IHGB. Em nome da família,
agradeceu o irmão, Fernando Emanuel Barata, que ressaltou traços de sua
personalidade. Nascido em 1922, ano da Semana da Arte Moderna, desde
cedo ligado à História, à Arte e à História da Arte. Apreciador da natureza,
dos seres humanos, de seus alunos, da família. Pediu para ser cremado. Suas
cinzas foram espalhadas, em cumprimento pela família, na Floresta da Tijuca,
na Estrada do Açude da Solidão. O professor Arno agradeceu aos oradores,
por suas intervenções, e à presença da viúva, de familiares, sócios e amigos de
Mario Barata. Encerrou a sessão, convidando para a confraternização no
terraço e para a Sessão Magna do Instituto, na vindoura quarta-feira, dia 24.
Presenças: 15 sócios e 21 convidados. Total: 36.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 431


Atas das sessões do Instituto

Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Victorino


Chermont de Miranda, Augusto Carlos da Silva Telles, Maria de Lourdes
Vianna Lyra, Claudio Moreira Beltrão, Melquíades de Paiva Pinto, José
Arthur Rios, João Hermes Pereira de Araújo, Mary Del Priore, Alberto
Venancio Filho, Elysio de Oliveira Belchior, Carlos Wehrs, Arivaldo Silveira
Fontes, Lucia Maria Paschoal e Cybelle Moreira de Ipanema.

ATA DA 22ª SESSÃO DE CEPHAS, REALIZADA NO DIA 25 DE


OUTBRO DE 2006
Aos dezoito dias do mês de outubro de 2006, sob a presidência do 1º
Vice Presidente João Hermes de Araújo e secretariada por Arivaldo Fontes,
reuniu-se pela 22ª vez a Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas
(CEPHAS). Foi justificada a ausência do Presidente Arno Wehling.
Dispensada a leitura da ata anterior, foi dada a palavra à primeira
comunicadora, Kaori Kodama, sobre o tema, “Etnologia do IHGB
(1840-1860): narrar um novo objeto”. Ela graduou-se em História pela UFF
(1996). Fez o mestrado em 1998 na PUC. A sua comunicação, baseada em
pesquisas realizadas no novo Instituto visava a sua tese de doutorado e fez
com que relembrasse figuras históricas dos primeiros tempos da Instituição. É
citado o trabalho e o papel do cônego Januário Barbosa, as atividades de
Gonçalves de Magalhães, visconde de Araguaia, de Araújo Porto Alegre,
Barão de Santo Ângelo, além de Torres Homem, também cita Capistrano de
Abreu, Cunha Matos, Varnhagem e tantos outros. E conclui que essa
construção de uma gênese, que negava a realidade quase não dita no Instituto:
a escravidão e o elemento negro da população. Houve intervenção do sócio
Aniello Avela sobre o assunto enfocado. Em seguida o presidente cedeu a
palavra ao sócio Aniello Avela que ofereceu o CD “conversas no Porto”. No
plenário se achavam vários amigos de nosso sócio. Dentre eles as professoras
Vera Lúcia de Melo Rodrigues e Maurina d’Alessandro. Foi cedida a palavra
ao sócio Melquíades Pinto Paiva, que em nome do Instituto do Ceará,
ofereceu CDROM daquela Instituição, com transcrição de trabalhos
publicados no Rio do Instituto do Ceará (anos 1887 a 2004). Segui-se a
comunicação do Sócio Davis Ribeiro de Sena com o título “O tenentismo
assegurou a vitória da Revolução de Trinta”, o palestrante referindo-se as
inúmeras revoluções ocorridas na década de 20 e que envolveram tenentes do
exército contra o governo central, encabeçado por Eptácio Pessoa, Artur
Bernardes (sobre tal presidente) e Washington Luis. Houve intervenções dos
sócios Taso Fragoso Pires, Maria Cecília e Melquíades Pinto Paiva. Ele
ofereceu a biblioteca o livro de sua autoria “Luis Carlos Prestes, opção pelo
marxismo” (Recife, 2006). Foi cedida a palavra ao sócio José Mendonça
Teles que falou e fez executar em plenário “o novo hino de Goiás”. A sócia
Cybele de Ipanema fez a apresentação do comunicador. Bacharel em direito

432 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

(1966) pela Universidade Católica de Goiás, exerceu o magistério secundário


e superior em nossos estabelecimentos goianos. Foi presidente do IHG/GO
por 12 anos consecutivos e também presidente da Academia Goiana de Letras
(por 10 anos). É doutor “Honoris Causa” pela Universidade Católica de
Goiás. Publicou inúmeras obras e artigos diversos. Fez doação a nossa
biblioteca dos livros; 1) “Eu te vejo”, Goiânia, 2005; 2) “Hino oficial de
Goiás” (com texto e CD); 3) “Ser goiano, poesia, 2001; 4) “Dicionário do
escritor goiano”,Goiânia, 2006. Sobre o novo hino, oficializado pela lei
13907 de 21 de setembro de 2001, pelo governo estadual, em substituição ao
antigo hino, nascido com a lei 650 de 30 de julho de 1919. foi composto por
Custódio Fernandes Góes, que era professor do Instituto Nacional de Música,
hoje Escola de Música da UFRJ. O hino foi organizado pelo professor
Antônio Custódio de Abreu. Junto com o sócio correspondente brasileiro
José Mendonça Teles vieram diversas personalidades daquele Estado:
Gilberto Mendonça Teles, Tânia Mendonça (representando a Secretaria de
Cultura de Goiás) a Aidenor Airis, presidente do IHG/GO. Ao final da
palestra houve uma alocução do novo presidente do IHG/GO. Nada mais
havendo a tratar foi a sessão encerrada, lavrando a ata respectiva e todos os
presentes se dirigiram ao 13°, para que fosse servido o tradicional cafezinho.
Presenças: 17 sócios (um do IHGB/PA) e 10 convidados.
Sócios: Cybele de Ipanema, Mario Barata, Aniello Ângelo Avela,
Ondemar Dias, Arivaldo Fontes, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha,
Tasso Fragoso Pires, João Hermes de Araujo, Maria Cecília Ribas Carneiro,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Melquíades Pinto Paiva, Mary Del Priore,
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Davis Ribeiro de Sena, José Mendonça
Teles, Aidenor Aires (pres. Do IHG/GO) e Miranda Neto (do IHG/PA).

ATA DA 21ª SESSÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (07.11.2007)
Aos sete dias do mês de novembro de dois mil e sete, realizou-se na
Sala Pedro Calmon a sessão de homenagem ao historiador Nelson Werneck
Sodré, integrante do Seminário “Nelson Werneck Sodré, um Projeto de
Brasil”, com várias outras instituições acadêmicas e universitárias. Foi a
sessão também incorporada à programação do III Congresso Fluminense de
História e Geografia, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro,
iniciado no dia, com duração prevista até o dia nove. O presidente Arno deu
início à sessão, secretariada por Cybelle Moreira de Ipanema, compondo a
Mesa com os depoentes convidados para trazerem suas experiências junto ao
homenageado: Luitgarde Cavalcanti Barros, coordenadora, Marly Mota e
Neusa Fernandes. A coordenadora agradeceu a Cybelle de Ipanema,

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 433


Atas das sessões do Instituto

presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, tê-lo


incluído no III Congresso. Nelson Werneck Sodré nasceu em 1911 e faleceu
aos 88 anos. Traça sua trajetória, desde cedo preocupado com os destinos do
país. Jornalista, professor, historiador, com grande produção bibliográfica,
militar de carreira, canalizando sua atuação para o bem público. Perseguido,
preso e exilado, narra a profª Luitgarde episódios de sua altivez e firmeza de
convicções políticas quando dos interrogatórios a que era submetido que
visavam à condenação de teses esquerdistas e o Partido Comunista. A seguir,
falou a ex-aluna e colaboradora direta, Marly Mota, participante da História
Nova, de que saíram dez volumes, elaborados sob a orientação de Nelson
Werneck, por egressos da Faculdade Nacional de Filosofia e outros. Em seu
depoimento, incluiu a oradora apreciação de que o Instituto estava se abrindo,
acolhendo partidários de ideologias de esquerda, o que, adiante, seria
devidamente explicado pelo prof Arno. Considera a expositora a obra de
Nelson Werneck Sodré muito atual. A profª Neusa Fernandes, oradora
seguinte, agradece o convite da coordenadora, para lembrar sua vivência no
antigo ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Depõe sobre as
aulas, encontros e debates, nos anos cinqüenta, nas temáticas de Filosofia,
História, Educação, Sociologia, Política, Cultura. O ISEB funcionava em
prédio da rua das Palmeiras, cinqüenta e cinco, exibido em tranparência, hoje
ocupado pelo Museu do Índio. O Instituto contava com o apoio do presidente
JK, quando de sua criação, pois se associava à idéia do desenvolvimento.
Narra, a seguir, as ações do Movimento de sessenta e quatro que destruiu a
UNE e o ISEB. Por fim, falou o presidente Arno sobre a presença de Nelson
Werneck Sodré, nos quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Seu nome foi lembrado por seu perfil intelectual, independente de posições
político-partidárias. Ingressou ele no Quadro dos Grandes Nomes, eleito em
Assembléia Geral, em uma inovação da Reforma do Estatuto de mil
novecentos e noventa e seis. O presidente lê as Atas na Revista que explicam
todo o processo de incorporação de nomes que se achavam ausentes do
Instituto, o que, para o prof. Arno, fazia menos mal a suas biografias que à do
próprio Instituto. Em seguida, a presidente do IHGRJ, Cybelle de Ipanema,
detalhou a seqüência do III Congresso Fluminense de História e Geografia. O
presidente Arno encerrou a sessão, agradecendo a participação da Mesa e a
presença de sócios e convidados.
Presenças: 7 sócios e 24 convidados. Total: 31.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Maria de Lourdes
Vianna Lyra, Melquíades de Paiva Pinto, Antonio Izaias da Costa Abreu,
Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha e Cybelle Moreira de Ipanema.

434 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

ATA DA 22ª REUNIÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS), (21.11.2007)
Aos vinte e um dias do mês de novembro de 2007 reuniu-se a 22ª sessão da
Comissão de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPHAS), sob a presidência do
Prof. Arno Wehling e tendo como secretário “ad-hoc”, Elysio de Oliveira
Belchior, com o objetivo de homenagear o sócio grande benemérito do IHGB
prof. Basílio de Magalhães, no cinqüentenário de seu falecimento ocorrido
em 14 de dezembro de 1957. Às 15 horas e quinze minutos, o sr. Presidente
abriu a reunião, convidando para ocupar lugar na Mesa os palestrantes.
Jonas de Morais Correia Neto, Cybelle Moreira de Ipanema, Alexandre
Miranda Delgado e Ana Paula Magno Pinto. Com a palavra o sócio Gen.
Jonas de Morais Correia Neto reportando-se à grande obra histórica do
homenageado, abrangendo conferências, teses, e livros, alguns dos quais,
pertencentes à sua biblioteca, trouxera para comentar, salientou o cuidado do
autor na correta descrição dos acontecimentos e das ilações que deles tirava,
destacando a preocupação de Basílio de Magalhães na criteriosa escolha da
bibliografia utilizada em seus trabalhos, o que pode ser constatado em sua
principal obra Expansão geográfica do Brasil Colonial, cujo texto constituía
inicialmente tese apresentada em 1914 no I Congresso de História Nacional,
promovido pelo IHGB, muito aumentado pelo autor para a nova edição.
Basílio de |Magalhães além de ser emérito pesquisador e historiador, também
dedicou-se ao estudo de línguas indígenas, especialmente dos índios bororos.
Em seguida a prof. Cybelle Moreira de Ipanema em sua palestra abordou
diferentes aspectos da vida de Basílio de Magalhães, como político,
professor, historiador e filólogo, destacando sua atuação como sócio do
IHGB, para o qual foi eleito em 27 de agosto de 1914, como sócio
correspondente, e em 1944, por seus relevantes serviços prestados à
Instituição reconhecido como sócio grande benemérito. Durante sua palestra,
a oradora salientou alguns dos principais trabalhos realizados como a revisão
da História da Independência, de autoria de Varnhagen, e da Viagem ao
Brasil, de Spix e Martius, em quatro volumes, traduzidos do alemão e
publicados por iniciativa do IHGB. Não menos importante foi a contribuição
para completar as Efemérides brasileiras, cujo original, oferecido ao IHGB
pelo Ministério das Relações Exteriores, continha lacunas em muitas datas. A
palestrante, finalizando, relevou a atuação pioneira de Basílio de Magalhães,
em 1928, na defesa dos direitos políticos das mulheres. O orador seguinte, Dr.
Alexandre Delgado, tratou da formação intelectual e atuação de Basílio de
Magalhães, a seu ver um dos maiores historiadores brasileiros do século XX,
depois de ser brilhante estudante, que surpreendia seus professores.
Formou-se em direito, na faculdade de São Paulo, onde passou muitos anos
de sua vida, sendo inclusive um dos fundadores da Academia Paulista de
Letras. Dedicando-se à política, integrou-se à campanha civilista de Rui
Barbosa, cuja plataforma de governo leu na Biblioteca Nacional do Rio de

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 435


Atas das sessões do Instituto

Janeiro. Participou da iniciativa do IHGB, coroada de êxito, visando a


transladação para o Brasil dos restos mortais de d. Pedro II e da imperatriz d.
Teresa Cristina. Grande figura humana, durante sua vida política
empenhou-se na defesa dos direitos das crianças deficientes, dos ameríndios
e das mulheres. Finalizando as homenagens prestadas a Basílio de
Magalhães, a Prof. Ana Paula Magno Pinto, dissertando sobre as estratégias
da memória nacional na obra deste historiador, mostrou estas como se
evidenciavam em suas interseções com o conhecimento histórico,
principalmente em suas obras didáticas. Segundo a oradora, Basílio de
Magalhães possui uma produção historicista, de inspiração romântica, em
que a relação personagem-acontecimento-lugar adquire características
especiais em que, em alguns momentos, a Memória se sobrepõe à História.
Terminadas as palestras, o Prof. Arno Wehling agradeceu as contribuições
dos que participaram da homenagem, e indagou se algum representante da
família de Basílio de Magalhães desejava fazer uso da palavra. Ocupando um
lugar à Mesa, o neto de Basílio de Magalhães, Sr. Jorge Alberto Romeiro
Júnior, agradeceu a homenagem, e pelo fato de ter convivido com seu avô,
poderia prestar um depoimento sobre sua vida, passando pelos anos de
formação em São João del Rei, sua estada em São Paulo, onde se diplomou
em Direito e exerceu múltiplas atividades políticas, culturais e docentes, e
finalmente no Rio de Janeiro. Terminado o agradecimento, o Snr. Presidente
Arno Wehling, concedeu a palavra ao sócio Douglas Apratto Tenório, que
após rememorar aspectos da história do Instituto Histórico e Geográfico de
Alagoas, um dos mais antigos do Brasil, apresentou o livro A Casa das
Alagoas, de sua autoria, e solicitou à Sra. Carmen Lucia Dantas, que
participou da edição da obra, fazer uma descrição da mesma. Um exemplar
do livro foi oferecido ao IHGB. E nada mais havendo a tratar, o Sr.
Presidente encerrou a reunião, às 17 horas e 18 minutos, da qual eu,
Secretário “ad-hoc”, lavrei a presente ata.
Presenças: 13 sócios e 17 convidados.
Compareceram os seguintes sócios: Arno Wehling, Alexandre
Miranda Delgado, Helio Leoncio Martins, Carlos Wehrs, Elysio de Oliveira
Belchior, Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Ronaldo Rogério de Freitas
Mourão, Vasco Mariz, Mary Del Priore, Melquíades de Paiva Pinto, Antonio
Izaias da Costa Abreu, Jonas Correia neto e Cybelle Moreira de Ipanema.

ATA DA 23ª REUNIÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS


HISTÓRICAS (CEPHAS) (28.11.2007)
Aos vinte e oito dias do mês de novembro de dois mil e sete,
realizou-se, na sala da CEPHAS, a 23ª sessão desta Comissão, presidida pelo
vice-presidente Victorino Chermont de Miranda e secretariada por Cybelle

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Assembléias Gerais — Sessão Magna — Relatório de Atividades — Elogios aos Sócios
Falecidos— CEPHAS

Moreira de Ipanema. A sessão foi iniciada pela leitura das Atas das sessões de
sete e vinte e um de novembro, ambas aprovadas. O presidente deu a palavra
ao sócio emérito Vasco Mariz, para fazer a apresentação de seu livro e de
Lucien Provençal, La Ravardière e a França Equinocial que seria lançado, às
dezessete horas, no terraço, assunto que diz, não ser muito simpático aos
franceses. Relembra outros livros na linha, como Relações históricas
França-Brasil no período colonial, de vários autores, como ele mesmo, João
Hermes Pereira de Araújo, Luis Paulo Macedo Carvalho e Paulo Knauss, ao
lado do Villegagnon e a França Antártica, com Lucien Provençal, de boa
aceitação (venda deste, de mais de cinco mil exemplares). Quanto aos
franceses no Maranhão, foi tratado, em 1962, por Mario Martins Meireles,
que é interessante, porém remanceado. Havia pouca documentação, porém
suas próprias pesquisas e do co-autor, na França, junto a entidades
protestantes e outras, resultaram válidas. Inclui uma carta de Maria de
Médici, na partida de La Ravardière, exigindo, uma vez fundada a colônia no
Brasil, o retorno de todos os protestantes. Era o período das guerras religiosas
na Europa. Recordou a “noite de São Bartolomeu”, em mil quinhentos e
setenta e dois, com a matança de dois mil protestantes. No início do
empreendimento, governava a França, Henrique IV, protestante, convertido,
o de “Paris vale uma missa”, assassinado por um fanático. O orador
minudencia a expedição ao Maranhão e a fundação da colônia, na ilha,
batizada de São Luís, em homenagem a Luís XIII. Relata as ações de Daniel
de la Touche, senhor de la Ravardière, e companheiros. O governador geral
Gaspar de Souza abandonou Salvador e se estabeleceu em Recife, para
atender à luta no Maranhão – campanha de luso-brasileiros e indígenas.
Chefes: Jerônimo de Albuquerque (o maior), Diogo de Campus Moreno e
Alexandre de Moura. Os franceses se retiraram em mil seiscentos e quinze. O
presidente agradeceu ao orador e passou-lhe o Certificado de Participação na
CEPHAS, prática já rotineira nessa Comissão. A palavra seguinte foi do sócio
honorário brasileiro, Melquíades Pinto Paiva que falou sobre
“Associativismo científico no Brasil Imperial: a Sociedade Palestra
Scientifica”. A primeira fora a Sociedade Velosiana (homenagem a frei José
Mariano da Conceição Veloso), com inspiração de Francisco Freire Alemão,
fundador, nascida no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, reunindo-se
no Museu Nacional. O orador é autor de livro sobre ela. Fazia parte de seus
quadros Guilherme Schuch de Capanema. Não sendo amigos, este aliciava
membros para a criação de outra. A nova Sociedade, com o nome de Palestra
Scientifica, teve curta existência: de junho de mil oitocentos e cinqüenta e
seis a setembro de mil oitocentos e cinqüenta e sete. Havia também ligação
com o IHGB, por vários de seus membros. O imperador deu-lhe apoio
ostensivo. Foram votados Estatutos, sendo seu Quadro formado de ilustres
cientistas, intelectuais, políticos, militares, religiosos. São exibidas
transparências e sumariadas as biografias dos integrantes. Para o orador, a

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):367-438, out./dez. 2007 437


Atas das sessões do Instituto

segunda Sociedade só teve existência para suprimir a antecessora. Oferece à


Biblioteca o livro sobre a Semana do 150º aniversário do Departamento de
Engenharia da Pesca. Recebe o agradecimento e o Certificado do presidente.
O sócio correspondente italiano Nello Avella relatou o espetáculo teatral
promovido na Itália, com sua peça sobre a imperatriz Teresa Cristina, com
grande repercussão, inclusive na Itália: “Um fedele rittrato”. Oferece o
convite e cópia do texto dramático. Traça o perfil da esposa do imperador
Pedro II, dedicada à arqueologia. Nello também se refere ao ato de
homenagem a Agustina Bessa-Luís (Prêmio Camões) e Manuel de Oliveira
(cineasta, 99 anos), organizado por ele. O presidente registra a presença de
Claudio Murilo Leal, presidente do Pen Clube. Encerra a sessão com a
lembrança do lançamento do livro de Vasco Mariz e a confraternização no
terraço.
Presenças: 17 sócios e 10 convidados.
Compareceram os seguintes sócios: Victorino Chermont de Miranda,
Maria de Lourdes Viana Lyra, Melquíades Pinto Paiva, Vasco Mariz,
Marilda Corrêa Ciribelli, Aniello Nelo Avella, Helio Leoncio Martins, Carlos
Wehrs, Elysio de Oliveira Belchior, Miridan Britto Falci, Lygia da Fonseca
Fernandes da Cunha, Antonio Izaias da Costa Abreu, Maria da Conceição de
M. C. Beltrão, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e Cybelle Moreira de
Ipanema.
Ass.: Cybelle Moreira de Ipanema (1ª secretária)

438 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 367-438, out./dez. 2007


VII—PUBLICAÇÕES RECEBIDAS

LIVROS RECEBIDOS

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da fotorreportagem no


Brasil: a fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900. Rio de
Janeiro : Elzevier, 2004. 281 p.
ANDRADE, Olímpio de Souza. História e interpretação de Os Sertões.
Organização e introdução Walnice Nogueira Galvão. Apresentação Alberto
Venâncio Filho. Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Letras, 2002.
xxix,493 p.
ASSIS, Ângelo Adriano Faria de ; SANTANA, Nara Maria Carlos de ;
ALVES, Ronaldo Sávio Paes (Org.). Desvelando do poder : histórias de
dominação. Niterói : Vicio de Leitura, 2007. 342 p.
BENTO, Cláudio Moreira (Org.). 2. Brigada de Cavalaria Mecanizada :
Brigada Charrua. Porto Alegre : Metrópole, 2007. 238 p.
CARNEIRO, Paulo E. Berrêdo. Vers um nouveau humanisme. Paris :
Seghers,1970. 358 p.
COHEN, Alberto A. ; GORBERG, Samuel. Rio de Janeiro : o cotidiano
carioca no início do século XX. Rio de Janeiro : AACohen Ed., 2007. 132 p.
ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840-1900 : uma crônica fotográfica.
Rio de Janeiro : George Ermakoff Casa Editorial, 2006. 258 p.
GOUVÊA, Fernando da Cruz. Visão política de Machado de Assis e outros
ensaios. Recife
: CEPE, 2005. 392 p.
JAGUARIBE, Helio et al. Brasil, 2000 : para um novo pacto social. 2. ed. Rio
de Janeiro : Paz e Terra, 1986. 196 p.
MARCHESINI JUNIOR, Waterloo. Seu Raymundo, o “doutor democracia” :
vida e obras do imortal Raymundo Faoro. Curitiba : GEM/JM Ed., 2004. 392
p.
MARINHO, Francisco Fernandes. Câmara Cascudo em Portugal e o I
Congresso Luso-Brasileiro de Folclore. Natal : F. F. Marinho, 2006. 151 p.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):439:441, out./dez. 2007 439


Publicações recebidas

___ . O Rio Grande do Norte sob o olhar dos bispos de Olinda. Natal : F. F.
Marinho, 2006. 159 p.
A PASTORAL de Santa Rita Durão. Estabelecimento de texto e posfácio de
Ronald Polito. Rio de Janeiro : Fundação Casa de Rui Barbosa, 2007. 48 p.
PLÁCIDO, Delson. Na margem esquerda : entrevista com Moacir Félix. Rio
de Janeiro : Diagrama, 2003. 96 p.
VIANA, Oduvaldo. Herança de ódio. Rio de Janeiro : Edições Casa de Rui
Barbosa, 2007. 577 p.
ABREU, Casimiro de. Correspondência completa. Reunida, organizada e
comentada por Mário Alves de Oliveira. Rio de Janeiro : Academia
Brasileira de Letras, 2007. 271 p.
AMÓS, Nascimento (Org.). Brasil : perspectivas internacionais. Piracicaba :
Ed. UNIMEP, 2002. 355 p.
ANDRADE, José Cardoso de. Vieira Fazenda : registro da festa de São
Roque em Paquetá no ano do centenário da Abertura dos Portos. Rio de
Janeiro : [s.n.], 2007. 36 p.
ASSIS Brasil : um diplomata da República. Rio de Janeiro : Centro de
História e Documentação Diplomática, 2006. 2 v.
AZEVEDO, Francisca L. Nogueira de. Carlota Joaquina na corte do Brasil.
Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2003. 397 p.
___ . Malandros desconsolados : o diário da primeira greve geral no Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro : Relume Dumará, 2005. 227 p.
CABRERA BECERRA, Gabriel. Las nuevas tribus y los indígenas de la
Amazonia : historia de una presencia protestante. Bogotá : G. Cabrera
Becerra, 2007. 223 p.
FRAGA, Myriam (Org.). Calasans Neto. Salvador : Odebrecht, 2007. 384 p.
HAASE FILHO, Pedro (Org.). Lendas gaúchas : 35 histórias com origem no
imaginário popular rio-grandense. Porto Alegre : RBS Publicações, 2007.
196 p.
HENTSCHKE, Jens R. Positivism gaúcho-style : Júlio de Castilhos’s
dictatorship and its impact on state and nation-building in Vargas’s era.
Berlin : VWF, 2004. ix,137 p.
___ . Reconstructing the Brazilian nation : public schooling in the Vargas
era. Baden-Baden : Nomos, 2007. 518 p.

440 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 439:441, out./dez. 2007


Biblioteca — Hemeroteca

HISTÓRIA geral do Rio Grande do Sul. Passo Fundo : Méritos, 2006. 5 v.


HOLLANDA, Daniela Maria Cunha de. A barbárie legitimada : a demolição
da Igreja de São Pedro dos Clérigos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro :
EdUERJ, 2007. 115 p.
MARTINS, Ana Cana Delgado. Governação e arquivos : D. João VI no
Brasil. Lisboa : Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, 2007. 439
p.
REBELLO, Raymundo Fernando Sampaio. A nobreza na história da Ilha de
Paquetá : cavaleiro Fernão Baldez. [S.l. : s.n.], 2007. 11 p.
RESTAURAÇÃO da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da antiga Sé :
caderno de educação. Rio de Janeiro : Comissão para as Comemorações do
Bicentenário da Chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro, 2007. 64 p.
SIMON, Pedro. Cúpula do PMDB boicotou candidatura própria : atuação
parlamentar – 2006. Brasília : Senado Federal, 2007. 850 p.
___ . Dois mundos : em busca de valores e referências. Brasília : Senado
Federal, 2007. 184 p.
TEIXEIRA, Luiz Guilherme Sodré. A Águia de Haia : Rui Barbosa no
imaginário dos chargistas brasileiros. Rio de Janeiro : Edições Casa de Rui
Barbosa, 2007. 94 p.
VARGAS and Brazil : new perspectives. Edited by Jens R. Hentschke. New
York : Palgrave MacMillan, 2006. xiv,306 p.
VEIGA, Pedro da. Campo Mourão : centro de progresso. Maringá, PR :
Bertoni, 1999. 306 p.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):439:441, out./dez. 2007 441


....
VIII—ESTATÍSTICA REFERNTE A PESQUISAS REALIZADAS
NA SALA DE LEITURA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO BRASILEIRO DURANTE O ANO DE 2007

Sala de Leitura

CONSULENTES .......................................................................... 3.242

LIVROS .......................................................................... 4.517

PERIÓDICOS .......................................................................... 1.951

MANUSCRITOS .......................................................................... 3.008

ICONOGRAFIA .......................................................................... 785

MICROFILMAGE
.......................................................................... 02
M

CDs .......................................................................... 279

Museu

VISITAS ............................................................................................. 152

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):443:443, out./dez. 2007 443


.....
IX—CADASTRO SOCIAL

A — POR CLASSES

Presidentes Honorários
End.: Ala Sen. Ruy Carneiro - Gab. 3 - Anexo
1 José Sarney 02-10-1985 II-B - Senado - Federal - Brasília - DF -
70165-900
End.: Jornal Gazeta de Alagoas - Av. Aristeu
2 Fernando Collor de de Andrade, 355 - Farol - Maceió - AL -
13-12-1991
Mello
57051-090 - Fone.: (82) 3218-7700

End.: Instituto Fernando Henrique Cardoso -


3 Fernando Henrique Rua Formosa, 367 - 6º and. - Centro - São
03-10-1999
Cardoso Paulo - SP - 01049-000 - Fone.:(11)
3359-5000

End.: Praça Afonso de Albuquerque - Palácio


4 Jorge Sampaio 24-04-2000
de Belém - 1300 - Lisboa - Portugal

Sócios Eméritos

02 - Beneméritos
End.:Rua Sebastião Lacerda,
31/507-Laranjeiras - Rio de
1 Luiz de Castro Souza 26-06-1963
Janeiro-RJ-22240-110- Fone.:(21)
2557-3425
End.: Rua Sambaíba,
166/104-Leblon-Rio de
2 Max Justo Guedes 15-12-1967 Janeiro-RJ-22450-140-Fone.: (21)
2274-0374

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 445


Cadastro Social

End.: Rua Tonelero,


125/801-Copacabana-Rio de
3 Isa Adonias 04-09-1968 Janeiro-RJ-22030-000-Fone.: (21)
2257-3304

End.: Rua Açu, 703 - Tirol - Natal - RN


- 59020-110 - Fone.: (84) 3222-3050 -
Escritótio:(84)3221-1228 - Casa da
4 Enélio Lima Petrovicha 21-05-1969 Praia:(84)3224-2379 - Casa da irmã (D.
Maria):(84)3206-3851- Cel. Da esposa
D.Myrian:(84)9963-2035
End.: Caixa Postal 85828 - Pati do
5 Augusto Carlos da Silva Alferes - RJ - 26950-000 - Fone.: (24)
19-05-1971
Telles
2485-6690

End.: Rua Gago Coutinho, 66/901 -


6 João Hermes Pereira de Laranjeiras - Rio de Janeiro - RJ -
19-05-1971
Araújo
22221-070 - Fone.: (21) 2558-0100

End.: Rua Senador Vergueiro, 200/409 -


7 Lygia da Fonseca Flamengo - Rio de Janeiro - RJ -
19-05-1971
Fernandes da Cunha
22230-001 - Fone.: (21) 2552-6177

End.: Praia de Botafogo,


8 Affonso Arinos de 130/801-Botafogo-Rio de
19-05-1971
Mello Franco Janeiro-RJ-22250-040 - Fone.: (21)
2552-5922

End.: Av. Celso Garcia, 564 - Palmas -


9 Affonso Celso Villela
11-12-1974 Paulo de Frontin - RJ - 26650-000.
de Carvalho
Fone.: (24) 2471-2566/2468-1340

End.: Av. Princesa Leopoldina,


10 Luís Henrique Dias 214/1003 - Edifício Serza Real - Graça -
15-12-1975
Tavares Salvador - BA - 40150-080 - Fone.: (71)
245-3524

End.: Rua Rui Vaz Pinto, 130/302 -


11 Cybelle Moreira de Jardim Guanabara - Ilha do Governador
15-12-1976
Ipanema - Rio de Janeiro - RJ - 21931-390 -
Fone.: (21) 3393-3927

446 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Av. Dona Libania, 1897/111 - Vila


12 Odilon Nogueira de
15-12-1976 Itapura - Campinas - SP -13015-090 -
Matos
Fone.: (19) 234-5837

End.: Rua Lemos Cunha, 414/402 -


13 Thalita de Oliveira
15-12-1976 Icaraí - Niterói - RJ - 24230-130 - Fone.:
Casadei
(21) 3711-8385

End.: Casa da Palmeira Imperial - R.


Florença, 266 - Jardim das Rosas -
14 Claudio Moreira Bento 13-12-1978
Itatiaia - RJ - 27580-000 - Fone.: (24)
3354-2988

End.: Rua Paul Redfern, 23/C. 01 -


15 Lêda Boechat
17-12-1979 Ipanema - Rio de Janeiro - RJ -
Rodrigues
22410-080 - Fone.: (21) 2239-8233

End.: Rua Argentina, 306 - Nogueira -


16 Lucinda Coutinho de
16-12-1981 Petrópolis - RJ - 25730-120 - Fone.: (24)
Mello Coelho
2221-0777

End.: Av. Atlântica, 2150/1102 - Leme -


17 Vasco Mariz 27-10-1982 Rio de Janeiro - RJ - 22021-001 - Fone.:
(21) 2255-9517

Lar da União
18 Frieda Wolff 02-10-1985 End.: Rua Santa Alexandina, 464/401 -
Rio Comprido - Rio de Janeiro - RJ -
20261-232 - Fone.: (21) 2293-7226

Sócios Titulares
End.: Rua Senador Eusébio,
1 Pedro Jacinto de 30/204-Flamengo-Rio de
11-12-1974
Mallet Joubin Janeiro-RJ-22250-020 - Fone.: (21)
2552-7460
End.: Rua Soares Cabral,
59/603-Laranjeiras-Rio de
2 Arno Wehling 15-12-1976 Janeiro-RJ-22240-070 - Fone.: (21)
2553-5677

End.: Rua Belfort Roxo,


158/302-Copacabana-Rio de
3 Waldir da Cunha 15-12-1976
Janeiro-RJ-22020-010 - Fone.: (21)
2541-5613/9826

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 447


Cadastro Social

End.: Rua Comte. Miguelote Viana,


4 José Pedro Pinto
13-12-1978 141-Icaraí-Niterói-RJ-24220-190 -
Esposel
Fone.: (21) 2711-8663

End.: Rua Domingos Ferreira,


5 Evaristo de Moraes 102/303-Copacabana-Rio de
10-12-1980
Filho Janeiro-RJ-22050-010- Fone.: (21)
2547-5629/2240-8314

End.: Rua Canning, 10/602-Ipanema-Rio


6 Paulo Werneck da Cruz 10-12-1980 de Janeiro-RJ-22081-040- Fone.:(21)
2287-6966

End.: Av. Rui Barbosa,


7 Guilherme de Andréa 16/1802-Flamengo-Rio de
16-12-1981
Frota Janeiro-RJ-22250-020-Fone.: (21)
2551-8717

End.: Rua Barão de Jaguaripe, 297/301 -


8 Evaldo José Cabral de
28-10-1987 Ipanema - Rio de Janeiro-RJ-22421-000-
Mello
Fone.: (21) 2247-2574

End.: Av. Atlântica,


9 Joaquim Victorino 1536/801-Copacabana-Rio de
13-07-1988
Portella Ferreira Alves Janeiro-RJ- 22021-000- Fone.: (21)
2295-2000/2541-3000

End.: Rua Lauro Muller,


10 Maria Cecília Ribas 16/1103-Botafogo-Rio de
13-07-1988
Carneiro Janeiro-RJ-22290-160-Fone.: (21)
2295-2317

End.: Praia de Botafogo,


132/401-Botafogo-Rio de
11 Alberto Venancio Filho 17-08-1988
Janeiro-RJ-22250-040- Fone.: (21)
2551-0159

End.: Rua Viúva Lacerda,


300/601-Humaitá-Rio de
12 Eduardo Silva 17-08-1988
Janeiro-RJ-22261-050 - Fone.: (21)
2539-5845

End.: Trav. do Oriente, 83-Santa


13 José Arthur Rios 29-03-1989 Teresa-Rio de Janeiro-RJ-20240-120-
Fone.: (21) 2252-7709 - 2224-6765

14 Maria da Conceição de End.: Rua Prudente de Morais, 1179 -


Moraes Coutinho 20-09-1989 Cob 01-Ipanema-Rio de Janeiro-RJ -
Beltrão 22420-041- Fone.: (21) 2513-2691

448 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Rua Senador Vergueiro,


154/1203-Flamengo-Rio de Janeiro-RJ -
15 Carlos Wehrs 29-11-1989 22230-001- Fone.: (21) 2551-6916 /
2247-4180 / 2513-1169 (res.) / Cel.:
9985-2712 / Fax-Residencial: 2521-6895

End.: Rua Paissandu,


16 José Fortuna Andréa 94/1001-Flamengo-Rio de
05-09-1990
dos Santos Janeiro-RJ-22210-080 - Fone.: (21)
2557-1418

End.: Est. Caetano Monteiro, 2835-Rua


17 Francisco Luiz
12-12-1990 B, 356-Pendotiba -Niterói-RJ-
Teixeira Vinhosa
24310-030 Fone.: (21) 2617-6818

End.: Av. Oswaldo Cruz, 121/902 -


18 Antônio Gomes da Flamengo - Rio de Janeiro - RJ -
29-04-1992
Costa 22250-060 - Fone.: (21) 2253-5351 -
Fax: (21) 2253-0670

End.: Rua Prof.º Eurico Rabelo,


139-Maracanã-Rio de
19 Jonas de Morais
24-06-1992 Janeiro-RJ-20271-150- Fone.: (21)
Correia Neto
2569-7782 / Casa do filho (Brasília) (61)
3326-3642

End.: Rua das Laranjeiras,


20 Esther Caldas 147/204-Laranjeiras-Rio de
16-12-1992
Bertoletti Janeiro-RJ-22240-000- Fone.: (21)
2557-5604/2557-5625

End.: Rua Eurico Cruz, 47/1101-Jardim


21 Victorino Coutinho
16-12-1992 Botânico-Rio de Janeiro-RJ-22461-200
Chermont de Miranda
Fone/Fax.: (21) 2535-2273

End.: Rua Homem de Melo,


22 Elysio Custódio
347/701-Tijuca-Rio de
Gonçalves de Oliveira 09-06-1993
Janeiro-RJ-20510-180- Fone.: (21)
Belchior
2571-9561/3804-9200/3804-9265 ramal

23 Luiz Felipe de Seixas End.: Wallstrape, 57 - 10179 - Berlin -


09-06-1993
Corrêa Alemanha Fone.: (30) 72628-345/303

End.: Rua Des. Alfredo Russel,


24 Miridan Britto Knox 50/101-Leblon-Rio de Janeiro - RJ -
09-06-1993
Falci 22431-030 Fone.:(21) 2274-0302/2639 -
E.mail: miridanbritto@aol.com

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 449


Cadastro Social

End.: Av. do Exército, 105 - Casa -


25 Ronaldo Rogério de Quinta da Boa Vista - 20910-020 - Rio
08-06-1994
Freitas Mourão de Janeiro - RJ - Fone.: (21) 2580-7154 /
9983-0499

End.: Rua Barão de Oliveira Castro, 22 -


26 Helio Jaguaribe de
14-12-1994 Jardim Botânico - Rio de Janeiro - RJ -
Mattos
22460-280 - Fone.: (21) 2294-5243

End.: Rua Voluntários da Pátria,


27 Pedro Carlos da Silva
14-12-1994 181/201 - Botafogo - Rio de Janeiro - RJ
Telles
- 22270-000 - Fone: (21) 2538-0726

End.: Rua Barão da Torre, 657 - Cob. 2 -


28 Arivaldo Silveira Fontes 18-12-1996 Ipanema - Rio de Janeiro - RJ -
22411-003 - Fone.: (21) 2274-6556

End.: Rua Francisco Otaviano, 23 - Bl. 2


- apt. 301- Copacabana - Rio de Janeiro -
29 Vera Lucia Bottrel
18-12-1996 RJ - 22080-040 - Fone.: (21) 2287-9282
Tostes
(res.) (21) 2220-2328 (museu) /
9633-2630

End.: Rua Raul Pompéia, 53/501 -


30 Hélio Leoncio Martins 13-08-1997 Copacabana - Rio de Janeiro - RJ -
22080-000 - Fone.: (21) 2522-4742

End.: Rua Arthur Araripe, 53/702 -


31 Fernando Tasso Fragoso
28-04-1999 Gávea - Rio de Janeiro - RJ - 22451-020
Pires
- Fone.: (21) 2239-7491

End.: Rua Paula Freitas, 104/405 -


32 Roberto Cavalcanti de Copacabana - 22040-010 - Rio de
15-12-2004
Albuquerque Janeiro - RJ - Fone.: (21) 2235-8742 /
8743 - E.mail: robcal@gbl.com.br

End.: Rua Lopes Trovão,


89/801-Icaraí-Niterói-RJ-24220-070-
33 Marilda Corrêa Ciribelli 07-06-1989
Fone.: (21) 2711-4305 - Email.:
moira@urbi.com.br

End.: Rua Paulo Cesar de Andrade,


70/302 - Laranjeiras - Rio de Janeiro -
RJ - 22221-090 - Fone.: (21) 2264-1725
34 Cândido Antonio
13-08-1997 End. trabalho: Praça XV de Novembro,
Mendes de Almeida
101 - sl. 26 - Centro - Rio de Janeiro -
RJ - 20010-010 - Fone.: (21) 2531-2310
- Fax: 2533-4782

450 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Rua das Acácias, 101/904 - Gávea


- Rio de Janeiro - RJ - 22451-060 -
35 Maria de Lourdes
19-11-2003 Fone.: (21) 2274-3436 - Fax.: (21)
Viana Lyra
2511-1026 -
Email:mllyra@uninet.com.br

Sócios Correspondentes Brasileiros


End.: Rua Frei Evaristo,
1 Walter Fernando Piazza 13-12-1978 172-Centro-Florianópolis-SC-88015-410
- Fone.:(48) 222-3014

End.: Rua Padre Carapuceiro,


2 Fernando da Cruz 399/701-Boa
17-12-1979
Gouvêa Viagem-Recife-PE-51020-280 - Fone.:
(81) 3465-4674

Deptº de Ciências Políticas


End.: Universidade de
4 Vamireh Chacon de Brasília-Brasília-DF-70910-900 - End.:
Albuquerque 14-12-1983 Garvey Park Hotel – SHN Qd 2 Bl J
Nascimento Apto 716 – 70710-300 DF - Tel.(61)
3329-8516 / 3329-8400 / 3327-9064
(fax)

End.: Rua Chapot Presvot,


5 Gabriel Augusto de 214/801-Praia do
02-10-1985
Mello Bittencourt Canto-Vitória-ES-29055-410- Fone.:
(27) 3324-2586 - e-mail:

Departament of Geography
6 Hilgard O'Reilly End.: 4 G E O 1 - University of
29-07-1987
Sternberg California-Berkelrey-California-94720-
USA

End.: Pça. do Rosário,


7 Con. José Geraldo 15-Viçosa-MG-36570-000- Fone.: (31)
29-07-1987
Vidigal de Carvalho 3891-1144 - E.mail:
vidigal@homenet.com.br

End.: SQN 205 - Bloco D, aptº


8 Alberto Martins da
13-07-1988 303-Brasília-DF-70843-040- Fone.: (61)
Silva
347-4385

End.: Av. Princesa Leopoldina,


9 Consuelo Pondé de
29-03-1989 288/301-Graça-Salvador-BA-40150-080
Sena
- Fone.: (71) 336-6205/247-6669

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 451


Cadastro Social

End.: Rua Dr. José Carlos, 99/801 - Ed.


Parque das Mangueiras - Acupe de
10 Edivaldo Machado Brotas - Salvador -BA - 40290-040-
29-09-1989
Boaventura Fone.: (71) 340-8505 e-mail:
edivaldo@atarde.com.br e-mail:
boaventura@edivaldo.pro.br

End.: Rua Padre Anchieta,


11 Altiva Pilatti Balhana 12-12-1990 1025/112-Curitiba-PR-80430-060-Fone.:
(41) 336-1822

End.: Rua Alan Kardec, 181 -


12 Carlos Humberto Agronômica
29-04-1992
Pederneiras Corrêa -Florianópolis-SC-88025-100- Fone.:
(48)3228-2185 / 3228-0824 / 9961-9528

End.: Rua Duarte da Costa,


166-Lapa-São
13 Nachman Falbel 29-04-1992
Paulo-SP-05080-100-Fone.: (11)
3834-6063

End.: Rua Brasiléia, 472-Granja


14 Aziz Nacib Ab'Saber 24-06-1992
Viana-Cotia-SP-06700-000

End.: Rua Prof. Idelfonso Gomes,


15 Helga Iracema Landgraf
02-09-1992 53-Porto Alegre-RS-91900-130 -
Piccolo
Fone.:(51) 3266-7207

End.: Rua Dep. Carvalho Dedo,


16 Luiz Fernando Ribeiro 379/103-Solopedo-Aracajú-SE-49025-0
02-09-1992
Soutelo 70 - Fone.: (79)
231-2318/224-2127/224-2128

End.: Av. Antonio Gil Veloso,


2350/604-Praia da Costa-Vila
17 Sonia Maria Demoner 02-09-1992
Velha-ES-29101-012 - Fone.: (27)
3229-7106

End.: Rua Marquês de Maricá,


18 Leonardo Dantas Silva 16-12-1992 73-Torre-Recife-PE-50711-120- Fone.:
(81) 3227-4910

End.: Av. Senador Ruy Carneiro,


19 José Octávio de Arruda
24-11-1993 425-João Pessoa-PB-58032-100 -
Mello
Fone.:(83) 2247-7926

End.: Rua Pe. João Manuel, 774/142 -


01411-000 - São Paulo-SP- Fone.:(11)
20 Maria Luiza Marcílio 08-06-1994
3082-8550 – Email:
maluiza@uol.com.br

452 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Rua Fialho de Almeida, 26/3º


21 Maria Beatriz Nizza da
14-12-1994 -Lisboa-Portugal-1000 - Fone.: (11)
Silva
3871-3746 / (13) 3354-1069 (Guarujá)

End.: Av. Cons. Rodrigues Alves,


22 Sonia Apparecida de
14-12-1994 966/32-São Paulo-SP-04014-010 -
Siqueira
Fone.: (11) 5579-8281

End.: Av. João Gualberto, 1435 apt.


23 Wilson Martins 14-12-1994 71-Curitiba-PR-80030-001- Fone.: (41)
252-5515

End.: SQS 210-Bl. A-apt.


24 Vicente Salles 28-06-1995 508-Brasília-DF-70273-010 - Fone.: (61)
244-6757

Instituto Geográfico e Histórico da


Bahia
25 Cid José Teixeira
29-11-1995 End.: Rua das Violetas,
Cavalcante
85-Pituba-Salvador-BA-41810-080-
Fone.: (71) 452-1828

26 Luiz Alberto Dias Lima End.: Reilinger Str 19 - 68789 - St.


de Vianna Moniz 18-12-1996 Leon-Rot - Deutschland - Fone.:
Bandeira 0049-62-27880533/534

End.: Quinta de São Fernando - apartado


27 Dom Carlos Tasso de
166 - 8700-906 - Moncarapacho -
Saxe-Coburgo e 16-12-1998
Algarve - Portugal - Fone.:
Bragança
00351-916719161

End.: Praça Jarbas de Lery Santos, Bl.


28 Ricardo Vélez 11/502-30016-390-São Mateus-Juiz de
16-12-1998
Rodríguez Fora-MG Fone:(32)
3232-2878/3212-7994/9979-1839

End.: Rua 89, nº. 333-Setor


29 José Mendonça Teles 28-04-1999 Sul-74093-140-Goiania-GO-Fone.: (62)
3241-3612 / cel.: 8419-8436

PUC do Rio Grande do SulEnd.: Av.


Ipiranga, 6681 - Prédio 3 - 90619-900 -
Porto Alegre - RS - Fone.: (51)
30 Braz Augusto Aquino 3320-3534 / 3320-3500
05-07-2000
Brancato End.: Rua Ten. Cel. Fabrício Pilar, 999 -
apt. 404 - Mont'Serrat - 90450-040 -
Porto Alegre - RS - Fone.: (51)
3331-1479

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 453


Cadastro Social

End.: Rua Pacífico dos Santos, 63/101 -


31 Marcus Joaquim Maciel Paissandu - 52010-030 - Recife - PE -
04-07-2001
de Carvalho Fone.: (81) 325-3557 – Email.:
marcuscarvalho@superig.com.br

End.: SMDB - conj. 26 - casa 8/9 - Lago


32 Synesio Sampaio Goes
04-07-2001 Sul - 71680-260 - Brasília - DF - Fone.:
Filho
(61) 3367-1351

End.: Rua Quatro, 630 - Boa Esperança -


33 Elizabeth Madureira
10-07-2002 78068-724 - Cuiabá - MT - Fone.: (65)
Siqueira
627-6268/6247/935.0784

End.: Rua Marieta Lage, 80 - Farol -


34 Jayme Lustosa de
10-07-2002 57050-130 - Maceió - AL - Fone.: (82)
Altavila
223-5297 - Cel. (82) 99826875

End.: Av. Saturnino de Brito, 1001/502 -


35 Léa Brígida Rocha de
10-07-2002 Praia do Canto - 29055-180 - Vitória -
Alvarenga Rosa
ES - Fone.: (27) 227-9886

End.: Av. 24 de outubro, 627/301 -


36 Luís Alberto Cibils 10-07-2002 90040-150 - Porto Alegre - RS - Fone.:
(51) 3222-8594/3228-2610

End.: Rua Aurora, 28/201 - 58043-270 -


37 Luiz Hugo Guimarães 10-07-2002 João Pessoa - PB - Fone.: (83)
247-2481/8103 - Cel. (83) 93822969

End.: Av. Ivo do Prado, 820/701 -


38 Maria Thetis Nunes 10-07-2002
Centro - 49015-330 - Aracaju - SE

End.: SQ SW 103 - Bl. E - apt. 605 -


39 Marcio Augusto de
27-08-2003 70670-309 - Brasília - DF - Fone.: (61)
Freitas Meira
316-2149/2151

End.: Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 3 -


sala 303 - Partenon - 90619-900 - Porto
40 Arno Alvarez Kern 19-11-2003
Alegre -RS - Fone.: (51) 332-03534 -
E-mail: aakern@pucrs.br

End.: Rua Ramalhete, 550/900 - Serra -


30210-500 - Belo Horizonte - MG-
41 Caio César Boschi 19-11-2003
Fone.: (31) 322-31863 - Email:
caio@pucminas.br

End.: SQS 216 - Bl. A - apt. 406 -


42 Carlos Henrique Cardim 19-11-2003 70295-010 - Brasília - DF - Fone.: (61)
245-8309

454 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Condomínio Vivendas Friburgo -


Módulo I - Casa I - Sobradinho -
43 Corcino Medeiros dos
19-11-2003 73074-013 - Brasília - DF - Fone.: (61)
Santos
485-0250 - E-mail:
corcinoms@bol.com.br

End.: Alameda Gabriel Monteiro da


Silva, 1465 - apt. 81 - Jardim Paulistano
44 José Jobson de Andrade
25-08-2004 - 01441-903 - São Paulo - SP - Fone.:
Arruda
(11) 3088-6365 - Fax: (11)3081-9907 -
E.mail: jarruda@fapesp.br

End.: Av. Ivo do Prado, 160 - Centro -


49010-050 - Aracaju - SE - Fone.: (79)
45 Luiz Antonio Barreto 25-08-2004 3214-5301 / cel.: 9971-1440 - Email.:
institutotobiasbarreto@infonet.com.br -
www.infonet.com.br/lab

End.: Rua Ângelo Sampaio, 860 - Batel -


46 Márcia Elisa de Campos 80250-120 - Curitiba - PR - Fone.: (41)
25-08-2004
Graf 3242-9879 / cel.: 9656-1372 - E.mail:
marciagraf@yahoo.com

End.: QL 6 - Conj. 7 - Casa 20 - Lago


47 Agaciel da Silva Maia 15-12-2004 Sul - 71620-075 - Brasília - DF - Fone.:
(61) 3311-4001 - Fax: (61) 3321-4666

End.: Rua Dr. Manoel Vitorino, 411 -


Coité - 46500-000 - Macaúbas - BA -
48 Ático Frota Vilas-Boas
15-12-2004 Fone.: (77) 3473-1292 - Fax: (77)
da Mota
3473-2005 - E.mail:
atico@macaubasnet.com.br

End.: SQS 314 - Bl. E - apt. 202 -


49 Maria Cecília Londres
15-12-2004 70383-050 - Brasília - DF - Fone.: (61)
Fonseca
245-5192 e (21) 2541-1173

End.: Rua Deputado José Lajes, 395 -


50 Douglas Apratto Ponta Verde - Maceió - AL - 57035-330
28-09-2005
Tenório - Fone.: (82) 3327-9916 - Fax: (82)
3221-0402

End.: Rua Cincinato Braga, 414/42 -


Bela Vista - São Paulo - SP - 01333-010
51 Nestor Goulart Reis - Fone.: (11) 3289-2167 - 3091-4556
28-09-2005
Filho End.: Rua Gaspar Lourenço, 138 - São
Paulo - SP – 04107-001 - Cel.: (11)
9139-3984

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 455


Cadastro Social

End.: Av. Jorge Zamur, 1212 - Parque


Ibiti do Paço - Sorocaba - SP -
52 Adilson Cezar 04-10-2006 18086-050 - Fone.: (15) 3328-4733 /
3228-7041 / cel.: 9107-7655 - Email.:
a.cezar08@terra.com.br

End.: Av. Tamandaré, 331 - apt. 32 -


53 Hildebrando Campo Grande - MS - 79009-790 -
04-10-2006
Campestrini Fone.: (67) 3397-0181 - e-mail:
hcampestrini@uol.com.br

End.: Centro Cultural - Av. L2 N - Q.


601 - B - Brasília - DF - 70830-010 -
54 Pe. José Carlos Brandi
04-10-2006 Fone.: (61) 3224-9974 - Fax.: (61)
Aleixo, S.J.
3426-0400 / 3426-0401 -
e-mail:brandialeixo@ccbnet.org.br

End.: Rua Salvador de Mendonça, 95 -


55 Lilia Katri Moritz
04-10-2006 Jardim Paulistano - São Paulo - SP -
Schwarcz
01450-040 - Fone.: (11) 3031-6614

End.: Senado Federal - Praça dos Três


Poderes - Anexo I - 5º and. - Salas 1 a 6
56 Marco Antônio de
04-10-2006 - Brasília - DF - 70165-900 - Fone.: (61)
Oliveira Maciel
3311-5710/5719 - e.mail:
marco.maciel@senador.gov.br

End.: Rua dos Periquis, 3145 apto 801 –


57 Geraldo Mártires
17-10-2007 66040-320 Belém PA - Tel.: (91)
Coelho
9995-7280

Sócios Correspondentes Estrangeiros


End.: Av. Del Observatório, 192 -
1 Silvio Zavalla 15-04-1958
Tacubaya - México 18

Facultad de Antropologia y Etnologia de


2 Manuel Ballesteros América
09-09-1958
Graibois End.: Ciudad Universitária - Madrid -
Espanha

3 Robin A. Humphreys, End.: St James' Close - Prince Albert


21-05-1969
OBE Road -London NW8 7 LG - Inglaterra

End.: Siclair 3129 - 3º B-Buenos


4 Ernesto Reguera Sierra 29-04-1970
Aires-Argentina

456 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: 191 Lexington


5 Harry Bernstein 17-10-1984 Avenue-Freeport-Nova
York-USA-11520

End.: Urb. Horizonte - Transversal 11 -


6 Guilhermo Morón 25-05-1988 Qta. María Eugenia - Caracas - ZP 1070
- Estado Miranda - Venezuela

Departament of History of California


7 Rollie E. Poppino 02-05-1990
End.: Davis - California - USA - 95616

8 Boris Nikolaievitch End.: Ul. Parachutnaia, 12 Kv. 715 -


12-12-1990
Komissarov 197341-Leningrado-Rússia

9 Bernardino Bravo Lira 02-09-1992 End.: Casilla 13199 - Santiago - Chile

End.: Via Giuseppe Verdi, 2 - 00040 -


10 Aniello (Nello) Angelo Montecompatri - Roma - Itália -
02-09-1992
Avella Fone.:39-06-94789019 - Celular.:
39-3383619857

End.: 74 Thernikhowsky St.


11 Haim Avni 02-09-1992
-Jerusalém-Israel-92585

12 Juan Bautista Rivarola End.: Av. Fernando de la Mora,


02-09-1992
Paoli 1493-Assunção-Paraguai-554202

End.: Edf. Alba-Colombia 440-2º


13 Valentín Abecia
02-09-1992 Piso-La Paz-Bolívia- Fone.:
Baldivieso
372726/372545 - Fax.: 391262

End.: Humahuaca 4037 - 1192 - Buenos


Aires-Argentina - Fone.: 54 1 4862-4871
14 Alícia Elena Vidaurreta 16-12-1992
/ 4863-9823 - E-mail:
avidaurreta@hotmail.com

Center for Brazilian Studies - University


of Oxford
15 Leslie Bethell 16-12-1992 End.: 92 Woodstock Road - OX 27 ND -
Oxford - Inglaterra - Fone.:44 (0) 1865
284463 e 284460

David Rockefeller Center for Latin


American Studies
End.: Harvard University - 61 Kirkland
16 Kenneth R. Maxwell 24-11-1993 Street - Cambridge - MA - 02138 - USA
- Fone.: (617) 496-4780 - Fax.: (617)
496-2802 - E-mail:
kmaxwell@fas.harvard.edu

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 457


Cadastro Social

Yale University
17 Stuart B. Schwartz 24-11-1993 End.: Po Box 208324 - New Haven, CT
06520 - USA - Fone.: 203-4321375 -
Fax.: 203-4327587

End.: 10, Rue Pérignon - 75007 - Paris -


18 Claude Fouquet 08-06-1994
França

End.: Calle Claudio Coello, 123 piso


19 Daniel Restrepo
08-06-1994 4-Madrid-Espanha-28006- Fone.:(341)
Manrique
581-5286/581-1832

End.: Druivenlaan 6
20 Marianne L. Wiesebron 08-06-1994 -Westmalle-Belgica-2390-Fone.:
Fax.:0032-3-311-6175

End.: R. Guarderas,
21 Jorge Salvador Lara 14-12-1994
434-Quito-Equador-Fone.:240-131

Laboratoire D'Anthropologie Sociale


22 Claude Lévi-Strauss 13-08-1997 End.: Collége de France, 52 -Rue du
Cardinal Lemoine-Paris-75005

End.: Box 7934 -University


23 John W. Foster Dulles 13-08-1997 Station-Austin, Texas 78713-Fax.: 001-
512-478-8598

End.: 319 Dalkeith Avenue-Los


Angeles,
24 Ludwig Lauerhass, Jr. 13-08-1997
California-90049-Fone.:001-310-206-68
59

End.: 110 - Vuelta Sabio - Santa Fé -


25 Richard Graham 13-08-1997
Novo México - 87506 - USA

Departament of History
26 Anthony John End.: The Johns Hopkins
16-12-1998 University-Baltimore-Maryland
Russell-Wood
21218-USA- Fone.: 001.410.516-7584 -
Fax.: 001.410.516-7586

Coordennateur des Projets D'Histoires


27 Christophe Wondji 16-12-1998 End.: 1, Rue Miollis-75732-Paris, Cedex
15-France- Fax.: (00331) 45.68.55.95

End.: Von Melle-Park6,


20146-Hamburgo-Alemanha- Fone.:
28 Horst Pietschmann 16-12-1998
(040) 4123-4841/4839- Fax.: (040)
4123-6380

458 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Calle Alberto Samora, 131 -


29 Miguel León-Portilla 05-07-2000 Caioacan - 04000 - México - Fone.:
(0055-21) 509-51-07

End.: 44 Halsey Street #3 - Providence -


30 Thomas Skidmore 05-07-2000 Rhode Island - RI02906 - USA - Fone.:
5212351

End.: Rua Machado de Castro, 147 - 2º


31 Joaquim Antero
04-07-2001 Esq. - 3000 - Coimbra - Portugal - Fone.:
Romero de Magalhães
0021-351-3929571

Academia Salvadoreña de Historia


End.: Calle La Mascota, 525 - Colonia
32 José Enrique Silva 04-07-2001 La Mascota - San Salvador - El Salvador
- Fone.: (503) 2638002 Fax.: (503)
2981039

Academia Puertorriqueña de Historia


33 Luis E. Gonzales Vales 04-07-2001 End.: Apartada - 9021447 - San Juan de
Puerto Rico - 00902-1447 - Fone.:
1-787-7234481

Academia Venezuelana de Historia


End.: Palacio de las Academias - Av.
34 Rafael Fernandes Heres 04-07-2001 Universidad - Bolsa a San Francisco -
Caracas - 1010 - Venezuela - Fone.:
58-2-4839435 / 4844306

Academia Paraguaya de la Historia


35 Roberto Quevedo 04-07-2001 End.: Avda. Artigas y Andrés Barbaro -
Asunción - Paraguai - Fone.:
59-521-202552 / 600568

End.: Calle Pedro Canisio, 1213 - apt.


36 Sergio Martínez Baeza 04-07-2001 161 - Vitacura - Santiago do Chile -
Chile

End.: Vila Val D'Ossola, 25 - 00141 -


37 Carmen Maria Radulet 10-07-2002
Roma - Itália - Fone.: 003906-97194344

38 Marcus Soares de End.: Palacio do Salvador - Largo do


Albergaria de Noronha 10-07-2002 Salvador, 22 - 1100-462 - Lisboa -
da Costa Portugal - Fone.: 351-21-8866282

End.: Heesenstrasse, 16 - 40549 -


39 Rolf Nagel 10-07-2002 Düsseldorf - Alemanha - Fone.:
0023-211-501091

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 459


Cadastro Social

End.: Via Re, 112 - 10146 - Torino -


40 Alberto Gallo 19-11-2003 Itália - Fone.: 0039-011-720800 - e.mail:
albertogallo@alice.it

End.: Rua Luís de Freitas Branco, 26 - 6º


41 Antonio Manuel
19-11-2003 Eº, 1600 - Lisboa - Portugal - Fone.:
Botelho Hespanha
0031-351217594915

End.: Elías Ayala 970 - Asunción -


42 Antonio Salum-Flecha 19-11-2003
Paraguay - Fone.: 595-21-613227

End.: Herent, Tover Bergstraat 5-5, 3020


- Veltem-Beisem - Bélgica - Fone.:
43 Eddy Odiel Gerard Stols 19-11-2003
32.16.48.98.32 - E-mail:
eddy.stols@arts.kuleuven.ac.be

End.: Spessartstr.21 - 14197 - Berlim -


44 Berthold Zilly 25-08-2004 Alemanha - Fone.: 49-30-8224126 -
E.mail: <zilly@zedat.fu-berlin.de>

End.: 111- East Sierra Circle - San


45 Lydia Magalhães Nunes Marcos - Texas - 78666 - USA - Fone.:
25-08-2004
Garner 512-245-3745 - Fax: 512-245-3043 -
E.mail: LG11@txstate.edu

46 Manuela Rosa Coelho End.: Rua Teófilo Braga, 1 - 5º and. -


Mendonça de Matos 15-12-2004 2685-243 - Portela de Sacavém -
Fernandes Portugal - Fone.: 219-43-2249

End.: 51, Rue Felix Cléry - Marvivo - La


47 Lucien Provençal 28-09-2005
seyne-sur-mer, Var - 83.500 - França

Oakland University - Department of


History
48 Mary Karasch 28-09-2005 End.: College of Arts and Sciences -
Rochester - Michigan - 48309-4483 -
USA - Fone.: (248) 370-3510 - E.mail:
karasch@oakland.edu

End.: 1 Rue Benjamin Raspail, 60100 -


49 Jean Pierre Blay 04-10-2006 CREIL - FRANÇA - Fone.: 33
344260653

460 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

Sócios Correspondentes Portugueses


End.: Rua Capitão Renato Batista, 81-3º
Dt.º - Lisboa-Portugal-1000- Fone.:
1 Joaquim Veríssimo (0035119) 524616
16-08-1967
Serrão
End.:Casa dos Pinheiros/Salmeirim lote
3-Santarém-Portugal-2000

2 Fernando End.: Rua David de Souza, 14-2º


11-12-1978
Castelo-Branco -E-Lisboa-Portugal-1000

3 Mário Júlio Brito de End.: Av. Infante Santo,


27-10-1982
Almeida Costa 15-7º-7-Lisboa-Portugal-1300

End.: Av. Gen. Norton de Matos, Lote


4 Martim de Albuquerque 27-10-1982
6-A-10º-E-1495-Lisboa-Portugal

End.: Rua D. Estefânia, 118 - 3º - E -


5 Vitorino Magalhães
02-10-1985 1000 - 158 - Lisboa - Portugal - Fone.:
Godinho
351-1-3141874

Biblioteca Geral da Universidade de


Coimbra
6 Aníbal Pinto de Castro 25-05-1988 End.: Av. Álvaro Anes de Cernache,
30-Cernache-Coimbra-Portugal-3000-
Fone.: 94279

Academia Portuguesa da História


7 Carlos da Costa Gomes End.: Palácio da Rosa - Lago da Rosa, 5
20-09-1989
Bessa -1100-Lisboa-Portugal- Fone.:
00351-21-8820300

8 Pedro Mário Soares End.: Rua de S. Bento, 26


02-05-1990
Martinez -Lisboa-Portugal-1200

Faculdade de Letras da Universidade do


9 Humberto Carlos Porto
02-09-1992
Baquero Moreno End.: Campo
Alegre-Porto-Portugal-4100

End.: Rua Carlos Calisto, 4 - 9º


10 Antônio Manuel Dias
16-12-1992 D.-Lisboa-Portugal-1400- Fone.: (1)
Farinha
301-5653

End.: Av. João XXI, nº 4, 3º Esq.


11 Antônio Pedro de
24-11-1993 -Lisboa-Portugal-1000- Fone.: 351 21
Araújo Pires Vicente
8049104

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 461


Cadastro Social

Academia Portuguesa da História


12 Eugênio Francisco dos End.: Palácio da Rosa - Lago da Rosa, 5
14-12-1994
Santos -1100-Lisboa-Portugal- Fone.:
00351-21-882-0300

Academia Portuguesa da História


13 José Vitorino de Pina End.: Palácio da Rosa - Lago da Rosa, 5
29-11-1995
Martins -1100-Lisboa-Portugal- Fone.:
00351-21-882-0300

Academia Portuguesa da História


14 Justino Mendes de End.: Palácio da Rosa - Lago da Rosa, 5
29-11-1995
Almeida -1100-Lisboa-Portugal- Fone.:
00351-21-882-0300

End.: Estrada de Benfica, 591 - 6º Esq. -


15 José Jorge da Costa 1500-086 - Lisboa - Portugal - Fone.:
13-08-1997
Couto 00351-96-692-16-60- Email:
jcouto@netcabo.pt

Faculdade de Letras
16 José Marques 13-08-1997 End.: Via Panorâmica, s/nº
-Porto-Portugal-150 - Fone.:- Fax.:
00351-2-609-1610

17 Pe. Henrique Pinto End.: Travessa Arrochela, nº. 2,


05-07-2000
Rema O.F.M. 1200-032 - Lisboa - Portugal

End.: Av. Maria Helena Vieira da Silva,


18 Fernando Guedes 25-08-2004 3 - 2º and. 1750-179 - Lisboa - Portugal
- Fone.: 351-21-3801100

Rua José Carlos de Maia, 123 r/c –


19 Miguel Maria Santos
17-10-2007 Parede – 2775-214 Lisboa PT - Tel.:
Corrêa Monteiro
351-21-4571441

Sócios Correspondentes Argentinos


1 José M. Mariluz End.: Santa Fe 2982 (1425)-
1968
Urquijo Argentina-Fone.: 84-6371

End.: Larrea 1045 P. 4º Dto. A (1117)


2 Beatriz Bosch 1968
-Argentina-Fone.: 822-6484

End.: Gral. Paz 255 (5501) -Godoy Cruz


3 Edberto O. Acevedo 1968
- Madza-Argentina- Fone.: 061-223533

462 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Martinez de Rosas 578 (5500) -


4 Pedro S. Martinez 1968
Madza -Argentina-Fone.: 061-245958

End.: (res.) Juncal 770 - 6º Piso - 1085 -


Buenos Aires - Argentina - Tel.:
54-11-4311-8494
5 Victor Tau Anzoátegui 1970 (com.) Instituto de Investigaciones de
Historia del Derecho - Av. de Mayo
1480 - 1º Izq. 1085 - Buenos Aires -
Argentina

End.: Anchorena 1476 (1425)


6 Laurio H. Destefani 1971
-Argentina-Fone.: 84-4951

End.: Av. Quintana 494 (1014)


7 Hector H. Scherrone 1978
-Argentina- Fone.: 804-0278

End.: Callao 1944 P.6º Dto. A (1024)


8 Luíz Santiago Sanz 1978
-Argentina- Fone.: 804-2701

End.: Santa Fe 2982 (1425) -


9 Daisy Ripodas Ardanaz 1982
Argentina-Fone.: 804-6371

End.: Calle Rodríguez Peña nº


1838/1842 - Piso 10º - Dept. B -
10 Eduardo Martiré 1992
C1021ABN - Buenos Aires -Argentina -
Fone.: (5411) 48116976

End.: Callao 1382 (1023)


11 Isidoro Ruiz Moreno 1992
-Argentina-Fone.: 42-7865

End.: Montevideo 1875 (1021)


12 Ezequiel Vallo 1992
-Argentina-Fone.: 815-6991/773-5825

End.: Reconquista 745 1º cuerpo, P. 1º


13 Felix Luna 1993 Dto. C (1003) -Argentina-Fone.:
311-4575

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


14 Natalio Rafael Botana 1996 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


15 Enrique Zuleta Alvarez 1996 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


16 Rodolfo Adelio Raffino 1996 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 463


Cadastro Social

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


17 Nilda Gulielmi 1996 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


18 Olga Fernández Latour
1996 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
de Botas
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Spiro 950


19 Maria Amalia Duarte 1998 (1846)-Adrogué-Argentina-Fone.:
264-5315

End.: Av. V. del Valle 512 (4700)


20 Armando Raul Bazan 1998 -Catamarca-Argentina-Fone.:
0833-22282

End.: Urquiza 1184


21 Miguel A. de Marco 1998 (2000)-Rosario-Argentina-Fone.:
04163257/256256/305866

End.: Catamarca 449 - Resistência -


22 Ernesto J. A. Maeder 1998 (3500)-Chaco-Argentina-Fone.:
0722-24565/583-3972

End.: Ob. Terrero 1532 (1642) -S.


23 Roberto Cortes Conde 1998 Isidoro-Argentina- Fone.:
747-4025/742-2661

End.: Madero 490 (1638) -Vicente


24 Nestor Tomas Auza 1998
Lopez-Argentina-Fone.: 791-6502

25 Cesar A. Garcia End.: Ocampo 2506 P. 8º Dto. 20


1998
Belsunce (1425)-Argentina -Fone.: 801-0870

End.: Bolivia 82 (3500)


26 Ramon Gutierrez 1998 -Chaco-Argentina-Fone.:
0722-29294/826-0959

End.: Esfta. Drummond (5507)-Lujan de


27 Dardo Perez Guilhou 1998 Cuyo-Madza-Argentina- Fone.:
061-249016

End.: Balcarce 139 -1064- Buenos


28 Hernán Asdrúbal Silva 1999 Aires-Argentina- Fone.: 343-4416 y
331-5147 - Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139 -1064- Buenos


29 Carlos A. Mayo 1999 Aires-Argentina- Fone.: 343-4416 y
331-5147 - Fax: (54-14) 331-4633

464 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Balcarce 139 -1064- Buenos


30 José Eduardo de Cara 1999 Aires-Argentina- Fone.: 343-4416 y
331-5147 - Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139 -1064- Buenos


31 Samuel Amaral 1999 Aires-Argentina- Fone.: 343-4416 y
331-5147 - Fax: (54-14) 331-4633

End.: Pasaje Delfino, 352 - 8000 - Bahía


32 Félix Weinberg 1999
Blanca - Argentina

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


2004 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
33 Fernando Barba 331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


34 Carlos Páez de la Tore 2004 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

End.: Balcarce 139-1064-Buenos


35 Marcelo Montserrat 2004 Aires-Argentina-Fone.: 343-4416 y
331-5147-Fax: (54-14) 331-4633

Sócios Correspondentes Espanhois


Real Academia de La História
1 Miguel Batllori Y
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid -España -
Munne S.J.
28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

2 Gonzalo Real Academia de La História


Menendez-Pidal Y 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Goyri 28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


3 Pedro Lain Entralgo 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


4 Fernando Chueca Goitia 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


5 Luis Diez Del Corral Y
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Pedruzo
28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 465


Cadastro Social

Real Academia de La História


6 Juan Perez de Tudela Y
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Bueso
28014 - Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


7 Antonio Dominguez
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Ortiz
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


8 Carlos Seco Serrano 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


9 Gonzalo Anes Y
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Alvares de Castrillon
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


10 Juan Vernet Gines 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


11 José Filgueira Valverde 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


12 Miguel Artola Gallego 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


13 Manuel Fernandez
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Alvarez
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


14 Vicente Palacio Atard 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


15 Eloy Benito Ruano 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


16 Antonio Lopez Gomez 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


17 Joaquin Vallve Bermejo 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

466 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

Real Academia de La História


18 Jose Alcala-Zamora Y
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Queipo de Llano
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


19 Jose Manuel Pita
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Andrade
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


20 Jose Mª Blazquez
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Martinez
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


21 Felipe Ruiz Martin 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


22 Carmen Iglesias Cano 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


23 Miguel Angel Ladero
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Quesada
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


24 Jose Angel Sanchez
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Asiain
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


25 Faustino Menendez
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Pidal de Navascues
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


26 Luis Suarez Fernandez 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


27 Rafael Lapesa Melgar 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


28 Fernando de La Granja
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Santa Maria
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


29 Martín Almagro Gorbea 1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 467


Cadastro Social

Real Academia de La História


30 Alvaro Galmés de
1996 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Fuentes
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


31 Pe. Quintín Aldea
1997 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Vaquero
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


32 Alfonso E. Pérez
1998 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Sánchez
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


33 Manuel Alvar 1999 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Real Academia de La História


34 Luis Miguel Enciso
1999 End.: C.Leon,21 - Madrid - España -
Recio
28014- Fone.:(0034-1)429-6552

Sócios Correspondentes Uruguaios


Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay
1 Ivho Acuña 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


2 Enrique Arocena
1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Oliveira
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


3 Juan José Arteaga 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


4 Luis Victor Anastasía 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


5 Álvaro Mones 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


6 Angel Corrales Elhordoy 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

468 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


7 Eduardo Acosta y Lara 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


8 José E. Etcheverry
1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Stirling
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


9 Marta Canessa de
1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Sanguinetti
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


10 José Joaquín Figueira 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


11 Daniel Hugo Martins 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


12 César Loustau 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


13 Juan Fernández Parés 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


14 Olaf Blixen 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


15 Walter Gulla 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


16 Víctor H. Lamónaca 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


17 Héctor Gros Espiell 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


18 Luis A. Musso Ambrosi 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 469


Cadastro Social

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


19 Juan Carlos Pedemonte 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


20 Ernesto Puiggros 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


21 Carlos Ranguís 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


22 Juan Villegas Mañé S. J. 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-1110

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


23 Luiz A. Musso 1996 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


24 Aníbal Barrios Pintos 2000 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


25 Augusto Soiza Larrosa 2000 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


26 Susana Monreal 2000 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


27 Enrique Mena Segarra 2001 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


28 Fernando Chebataroff 2001 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

470 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 485:485, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


29 Oscar Padrón Favre 2001 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


30 Suzana Rodríguez End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
2001
Varese Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


31 Ernesto Daragnés 2002 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


32 Fernando Mañé Garzón 2002 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


33 Alberto Del Pino 2003 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


34 Beatriz Torrendell 2003 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


35 Carlos Sagrera 2003 End.: Convencion 1366 3.ER.P - Casilla de
Correo 10.999 - Montevideo - Uruguay -
11100

Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay


36 Héctor Patiño Gardone 2006 End.: Convencion 1366 3.ER.P-Casilla de
Correo 10.999-Montevideo-Uruguay-11100

Sócios Honorários Brasileiros


End.: SHIS -QL 06-Conj. 08-Casa 7-Lago
1 Jarbas Gonçalves
29-04-1970 Sul-Brasília-DF-71620-085- Fone.: (61)
Passarinho
248-0820

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 471


Cadastro Social

End.: Rua Visconde de Pirajá, 339/8º and


2 Dom Eugenio de Araujo
19-05-1971 - Ipanema - Rio de Janeiro - RJ -
Sales
22410-003 - Fone.: (21) 2267-1255

End.: Rua Prudente de Morais, 765 - Cob.


02-Ipanema-Rio de
3 Arnaldo Niskier 16-12-1981
Janeiro-RJ-22420-043- Fone.: (21)
2267-7655

End.: Rua Curitiba, 2427/301 - Lourdes -


4 Ibrahim Abi - Ackel 25-05-1983 Belo Horizonte - MG - 30170-122 - Fone.:
(31) 337-1479/337-8454

End.: Rua Dario Pederneiras,


5 Paulo Brossard de Souza 347-Petropolis-Porto
30-09-1987
Pinto Alegre-RS-90630-090 -Fone.: (61)
321-3390/224-0229 (direto)

End.: Rua Líbero Badaró, 293/13º and.


6 Antônio Henrique Cunha Conj. A - Centro - São Paulo - SP -
13-07-1988
Bueno 01009-907 - Fone.: (11) 3105-7121 - Fax.:
(11) 3104-8462

7 Celina Vargas do Amaral End.: Av. Vieira Souto, 324/301 -


17-08-1988
Peixoto Ipanema - Rio de Janeiro - RJ - 22420-000

End.: Av. Alfredo Egídio de Souza


Aranha, 75 - Conj. 51/5º and. - Vila
8 José Ephraim Mindlin 17-08-1988 Cruzeiro - São Paulo - SP -04726-170-
Fone.: (11) 5641-0493 - Fax.: (11)
5641-7203

End.: Rua Square


9 Kátia M. Queirós
21-12-1988 Thiers-Paris-França-75116- Fone.:
Mattoso
(00331) 4553 - 7141

- End.: Praia do Flamengo, 392/2º and. -


Flamengo - Rio de Janeiro - RJ -
10 Marcos Castrioto de
05-09-1990 22210-030 - Fone.: (21) 2551-1613 /
Azambuja
2553-2454 - Fax: (21) 2553-0212 -
E-mail: azambujamarcos@hotmail.com

End.: Rua Pio Correia, 55-Jardim


11 João Maurício Ottoni
Botânico- Rio de
Wanderley de Araújo 29-04-1992
Janeiro-RJ-22461-240-Fone.: (21)
Pinho
2252-7059 - Fax.: (21) 2232-0673

End.: Rua Prof. Picarolo, 115/4º andar B-


12 João de Scantimburgo 24-11-1993 São Paulo-SP-01332-020- Fone.: (11)
2287-4951

472 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Av. Afranio de Melo Franco,


13 Sérgio Paulo Rouanet 24-11-1993 393/203 - Leblon - Rio de Janeiro - RJ -
22430-060 - Fone: (21) 22742875

End.: Rua Carvalho Alvim, 87/204


14 Alexandre Miranda -Tijuca-Rio de
28-06-1995
Delgado Janeiro-RJ-20510-100-Fone.: (21)
2208-6214

End.: Rua Barão de São Borja,


15 Marcos Guimarães 23/101-Méier-Rio de
28-06-1995
Sanches Janeiro-RJ-20720-300- Fone.: (21)
2592-9224

End.: Rua Bambina, 115-Botafogo-Rio de


16 Pe. Fernando Bastos de 29-11-1995 Janeiro-RJ-22251-050- Fone.: (21)
Ávila, S.J. 3527-2903

End.: Rua Senador Vergueiro, 154/1004


17 José Murilo de
29-11-1995 -Flamengo - Rio de Janeiro - RJ -
Carvalho
22230-001

End.: Alameda Joaquim Eugênio de Lima,


18 Antonio Candido de 1196/apt. 5-Jardim Paulista-São -
13-08-1997
Melo e Souza Paulo-SP-01403-002 - Fone.: (11)
887-6194

Instituto Tancredo Neves


19 Antonio Ferreira Paim 13-08-1997 End.: Senado Federal - Anexo I - 26º and.
- Brasília - DF - 70165-900

End.: Av. Brigadeiro Faria Lima,


20 Celso Lafer 13-08-1997 1306/10º and - Centro - São Paulo - SP -
01451-914

End.: Rua Senador Simonsen, 42/401 -


21 Eulalia Maria Lahmeyer
13-08-1997 Jardim Botânico - Rio de Janeiro - RJ -
Lobo
22461-040 - Fone.: (21) 2539-7840

End.: Instituto Fernando Henrique


22 Fernando Henrique Cardoso - Rua Formosa, 367 - 6º and. -
13-08-1997
Cardoso Centro - São Paulo - SP - 01049-000 -
Fone.: (11) 3359-5000

23 José Roberto Teixeira End.: Rua Angatuba, 618 - Pacaembu - SP


13-08-1997
Leite - 01247-000 - Fone.: (11) 873-4095

End.: QL 10 - conj. 1- casa 16 - Lago Sul -


24 Marcos Vinicios
13-08-1997 Brasília - DF - 71630-015 - Fone.: (61)
Rodrigues Vilaça
248-6678 - Fax: (61) 322-7686

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 473


Cadastro Social

End.: Estrada de Itaipu-Alameda 3-Casa


33-Jardim Ubá-Itaipu-Niteroi-24350-370-
25 Roberto DaMatta 13-08-1997
Fone.: (21) 3709-1925-Fax: (21)
2609-5081

End.: Rua Sá Ferreira, 18/704 -


26 Tarcísio Meirelles
13-08-1997 Copacabana - Rio de Janeiro - RJ -
Padilha
22071-100 - Fone.: (21) 2521-1102

End.: IEPES - Rua Barão de Oliveira


Castro, 22 - Jardim Botânico - Rio de
27 Francisco Correa
16-12-1998 Janeiro - RJ - 22460-280 - Fone.: (21)
Weffort
2294-5243 - Fax.: (21) 2259-4943 -
Email.: iepes1@terra.com.br

End.: Rua Cupertino Durão, 148/401 -


28 Luiz Felipe Lampreia 05-07-2000 Leblon - 22441-030 - Rio de Janeiro - RJ -
Fone.: (21) 2529-2993

End.: Rua General Azevedo Pimentel,


29 Fernando Segismundo
04-07-2001 21/201 - Copacabana - 22011-050 - Rio
Esteves
de Janeiro - RJ - Fone.: (21) 2236-1632

End.: Rua das Laranjeiras, 322/401 -


30 Alberto Vasconcellos da Laranjeiras - 22240-002 - Rio de Janeiro -
21-08-2002
Costa e Silva RJ- Fone.: (21) 2265-2002 - Fax.: (21)
2205-9027

End.: Praia de Icaraí, 237/1302 - Bloco B


- 24230-003 - Niterói - RJ - Fone.: (21)
31 Pedro Karp Vasquez 21-08-2002
2714-1700 / cel.: 9609-5214 - E.mail:
bambupkv@nitnet.com.br

End.: Rua Bulhões de Carvalho, 527/801 -


Copacabana - Rio de Janeiro - RJ -
32 Célio de Oliveira Borja 19-11-2003
22081-000 - Fone.: (21) 2247-3287 -
E-mail: cborjaadvogado@openlink.com.br

End.: Rua Alberto de Campos, 107/cob. 2


- Ipanema - 22411-030 - Rio de Janeiro -
33 Armando de Senna RJ - Fone.: (21) 2267-5965 - Fax: (21)
25-08-2004 2523-3379 - E.mail:armbitt@usa.net
Bittencourt
End.: Rua Dom Manuel, 15 - Centro -
20010-090 - RJ

End.: Rua José Vicente, 27/404 - Grajaú -


34 Davis Ribeiro de Sena 15-12-2004 20540-330 - Rio de Janeiro - RJ - Fone.:
(21) 2278-1334

474 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

End.: Rua Ribeiro Guimarães, 220/403 -


35 Ondemar Ferreira Dias
15-12-2004 Vila Isabel - 20511-070 - Rio de Janeiro -
Jr.
RJ - Fone.: (21) 3612-0267 / 2264-9806

End.: Rua Alm. Tamandaré, 38/301 -


Flamengo - Rio de Janeiro - RJ -
36 Lucia Maria Paschoal
28-09-2005 22210-060 - Fone.: (21) 2265-1610 /
Guimarães
2587-7565 / cel.: 9998-6714 - E.mail:
luciamp@uol.com.br

End.: Rua Baronesa de Poconé, 71/701 -


Lagoa - Rio de Janeiro - RJ - 22471-270 -
37 Melquíades Pinto Paiva 28-09-2005 Fone.: (21) 2266-7880/2280-2394 –
E.mail: mappaiva@uol.com.br - Fortaleza
(85) 3224-1385 - Friburgo (22) 2542-1539

End.: Chácara do Ipê - Estr. do Grande


38 Mary Lucy Murray Del Circuito, 35 - Parque do Imbuí -
04-10-2006
Priore Teresópolis - RJ - 25970-480 - Fone.: (21)
2641-9468

End.: Rua Barão do Flamengo, 3 - apto


1101 - Flamengo - RJ - 22220-080 -
39 Antônio Izaias da Costa Fone.: (21) 8890-7513
17-10-2007
Abreu End.: Rua D. Manuel, 29 - 3º Gabinete 17
- 20010-090 - RJ - Fone.: (21) 3133-3614
(Tristão)

End.: Av. Epitácio Pessoa, 3400 - apto


40 Dora Monteiro e Silva
17-10-2007 1108 - Rio de Janeiro - RJ - 22471-001 -
de Alcântara
Fone.: (21) 2539-7994

End.: Rua Fonte da Saudade, 265 - apto


302 - Rio de Janeiro - RJ - 22471-210 -
Fone.: (21) 8890-7513
Fundação Casa de Rui Barbosa
41 Isabel Lustosa 17-10-2007
End.: Rua São Clemente, 134 - Rio de
Janeiro - RJ - 22260-000 - Fone.: (21)
2537-3097 - Email.:
isabellustosa@uol.com.br

End.: Av. Visconde de Albuquerque, 871


42 Pedro Aranha Corrêa do
17-10-2007 - Rio de Janeiro - RJ - 22450-001 - Fone.:
Lago
(21) 2239-4196 / cel.: 8777-4196

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 475


Cadastro Social

Sócios Honorários Estrangeiros


End.: Rua Miguel Fernandes, 229 - Méier
- 20780-060 - Rio de Janeiro - RJ - Fone.:
1 Daisaku Ikeda 25-08-2004
(21) 2501-2336 - Fax: (21) 2241-7393 -
E.mail: ccrj@rio.com.br

Sócios Institucionais Estrangeiros


Diretor do Arquivo Nacional
1 Jaime Antunes da Silva 2004 End.: Praça da República 1, 73 - Centro -
Rio de Janeiro - RJ - 20211-350 - Fone.:
(21) 2179-1313

Pres. da Fundação Biblioteca Nacional


2 Muniz Sodré de Araújo End.: Av. Rio Branco, 219/4º and. -
2005
Cabral Centro - 20040-008 - Rio de Janeiro - RJ
- Fone.: (21) 2220-2057

Pres. do IPHAN
2006 End.: SBN - Quadra 2 - Edf. Central - 6º
3 Luiz Fernando de
and. - 70040-904 - Brasília - DF - Fone.:
Almeida
(61) 3326-7111

476 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

A — POR ORDEM ALFABÉTICA

ABI-ACKEL, Ibrahim – Honorário brasileiro – Pág. 472

ABREU, Antônio Izaias da Costa - Honorário brasileiro – Pág. 475

AB’SABER, Aziz Nacib - Correspondente brasileiro – Pág. 452

ACEVEDO, Edberto O. - Correspondente argentino – Pág. 462

ACUÑA, Ivho - Correspondente uruguaio – Pág. 468

ADONIAS, Isa - Benemérita – Pág. 446

ALBUQUERQUE, Martim de - Correspondente português – Pág. 461

ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de - Titular – Pág. 450

ALCÂNTARA, Dora Monteiro e Silva de - Honorária brasileira – Pág. 475

ALEIXO, José Carlos Brandi - Correspondente brasileiro – Pág. 456

ALMEIDA, Cândido Antonio Mendes de -Titular – Pág. 450

ALMEIDA, Justino Mendes de - Correspondente português – Pág. 462

ALMEIDA, Luiz Fernando de - Institucional – Pág. 476

ALTAVILA, Jayme Lustosa de - Correspondente brasileiro – Pág. 454

ALVAR, Manuel - Correspondente espanhol – Pág. 468

ALVAREZ, D. Manuel Fernandez - Correspondente espanhol – Pág. 466

ALVES, Joaquim Victorino Portella Ferreira - Titular – Pág. 448

AMARAL, Samuel - Correspondente argentino – Pág. 465

AMBROSI, Luis A. Musso - Correspondente uruguaio – Pág. 469

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 477


Cadastro Social

ANASTASÍA, Luis Victor - Correspondente uruguaio – Pág. 468

ANDRADE, D. Jose Manuel Pita - Correspondente espanhol – Pág. 467

ARAÚJO, João Hermes Pereira de - Emérito – Pág. 446

ARRUDA, José Jobson de Andrade - Correspondente brasileiro – Pág. 455

ARTEAGA, Juan José - Correspondente uruguaio – Pág. 468

ASIAIN, D. Jose Angel Sanchez - Correspondente espanhol – Pág. 466

ATARD, D. Vicente Palacio - Correspondente espanhol – Pág. 464

AUZA, Néstor Tomás - Correspondente argentino – Pág. 464

AVELLA, Aniello (Nello) Angelo - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

ÁVILA, Fernando Bastos de, S.J. (Pe.) - Honorário brasileiro – Pág. 473

AVNI, Haim - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

AZAMBUJA, Marcos Castrioto de - Honorário brasileiro – Pág. 472

BAEZA, Sergio Martínez - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

BALDIVIESO, Valentín Abecia - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

BALHANA, Altiva Pilatti - Correspondente brasileira – Pág. 452

BANDEIRA, Luiz Alberto Dias Lima de Vianna Moniz - Correspondente brasileiro – Pág. 453

BARBA, Fernando E. - Correspondente argentino – Pág. 465

BARRETO, Luiz Antonio - Correspondente brasileiro – Pág. 455

BAZÁN, Armando Raúl - Correspondente argentino – Pág. 464

BELCHIOR, Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira - Titular – Pág. 449

BELSUNCE, Cesar A. Garcia- Correspondente argentino – Pág. 464

BELTRÃO, Maria da Conceição de Moraes Coutinho - Titular – Pág. 448

BENTO, Claudio Moreira - Emérito – Pág. 447

478 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

BERMEJO, D. Joaquin Vallve - Correspondente espanhol – Pág. 466

BERNSTEIN, Harry - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

BERTOLETTI, Esther Caldas - Titular – Pág. 449

BESSA, Carlos da Costa Gomes - Correspondente português – Pág. 461

BETHELL, Leslie - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

BITTENCOURT, Armando de Senna - Honorário brasileiro – Pág. 474

BITTENCOURT, Gabriel Augusto de Mello - Correspondente brasileiro – Pág. 451

BLAY, Jean Pierre - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

BLIXEN, Olaf - Correspondente uruguaio – Pág. 469

BOAVENTURA, Edivaldo Machado - Correspondente brasileiro – Pág. 452

BORJA, Célio de Oliveira - Honorário brasileiro – Pág. 474

BOSCH, Beatriz - Correspondente argentina – Pág. 462

BOSCHI, Caio César - Correspondente brasileiro – Pág. 454

BOTANA, Natalio Rafael - Correspondente argentino – Pág. 463

BOTAS, Olga Fernández Latour de - Correspondente argentina – Pág. 464

BRANCATO, Braz Augusto Aquino - Correspondente brasileiro – Pág. 453

BUENO, Antônio Henrique Cunha - Honorário brasileiro – Pág. 472

BUESO, D. Juan Perez de Tudela Y - Correspondente espanhol – Pág. 466

CABRAL, Muniz Sodré de Araújo – Institucional – Pág. 476

CAMPESTRINI, Hildebrando - Correspondente brasileiro – Pág. 456

CANO, Dª Carmen Iglesias - Correspondente espanhola – Pág. 467

CARA, José Eduardo de - Correspondente argentino – Pág. 465

CARDIM, Carlos Henrique - Correspondente brasileiro – Pág. 454

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 479


Cadastro Social

CARDOSO, Fernando Henrique - Honorário brasileiro – Págs. 445 e 473

CARNEIRO, Maria Cecília Ribas - Titular – Pág. 448

CARVALHO, Affonso Celso Villela de - Emérito – Pág. 446

CARVALHO, José Geraldo Vidigal de (Cônego) - Correspondente brasileiro – Pág. 451

CARVALHO, José Murilo de - Honorário brasileiro – Pág. 473

CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de - Correspondente brasileiro – Pág. 454

CASADEI, Thalita de Oliveira - Emérita – Pág. 447

CASTELO-BRANCO, Fernando - Correspondente português – Pág. 461

CASTRILLON, D. Gonzalo Anes Y Alvares de - Correspondente espanhol – Pág. 466

CASTRO, Aníbal Pinto de - Correspondente português – Pág. 461

CAVALCANTE, Cid José Teixeira - Correspondente brasileiro – Pág. 453

CEZAR, Adilson - Correspondente brasileiro – Pág. 456

CHEBATAROFF, Fernando - Correspondente uruguaio – Pág. 470

CIBILS, Luís Alberto - Correspondente brasileiro – Pág. 454

CIRIBELLI, Marilda Corrêa - Titular – Pág. 450

COELHO, Geraldo Mártires - Correspondente Brasileiro – Pág. 456

COELHO, Lucinda Coutinho de Mello - Emérita – Pág. 447

CORRÊA, Carlos Humberto Pederneiras - Correspondente brasileiro – Pág. 452

CORRÊA, Luiz Felipe de Seixas - Titular – Pág. 449

CORREIA NETO, Jonas de Morais - Titular – Pág. 449

CORTÉS CONDE, Roberto - Correspondente argentino – Pág. 464

COSTA, Antônio Gomes da - Titular – Pág. 449

480 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

COSTA, Marcus Soares de Albergaria de Noronha da - Correspondente estrangeiro –


Pág. 459

COSTA, Mário Júlio Brito de Almeida - Correspondente português – Pág. 461

COUTO, José Jorge da Costa - Correspondente português – Pág. 462

CRUZ, Paulo Werneck da - Titular – Pág. 448

CUNHA, Lygia da Fonseca Fernandes da – Emérita – Pág. 446

CUNHA, Waldir da - Titular – Pág. 447

DAMATTA, Roberto - Honorário brasileiro – Pág. 474

DARAGNÉS, Ernesto - Correspondente uruguaio – Pág. 471

DEL PINO, Alberto - Correspondente uruguaio – Pág. 471

DEL PRIORE, Mary Lucy Murray - Honorária brasileira – Pág. 475

DELGADO, Alexandre Miranda - Honorário brasileiro – Pág. 473

DEMONER, Sonia Maria - Correspondente brasileira – Pág. 452

DESTEFANI, Laurio H. - Correspondente argentino – Pág. 463

DIAS JR., Ondemar Ferreira - Honorário brasileiro – Pág. 475

DUARTE, Maria Amalia - Correspondente argentina – Pág. 464

DULLES, John W. Foster - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

ELHORDOY, Angel Corrales - Correspondente uruguaio – Pág. 468

ENTRALGO, Pedro Lain - Correspondente espanhol – Pág. 465

ESPIELL, Héctor Gros - Correspondente uruguaio – Pág. 469

ESPOSEL, José Pedro Pinto - Titular – Pág. 448

ESTEVES, Fernando Segismundo - Honorário brasileiro – Pág. 474

FALBEL, Nachman - Correspondente brasileiro – Pág. 452

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 481


Cadastro Social

FALCI, Miridan Britto Knox - Titular – Pág. 449

FARINHA, Antônio Manuel Dias - Correspondente português – Pág. 461

FAVRE, Oscar Padrón - Correspondente uruguaio – Pág. 471

FERNANDES, Manuela Rosa Coelho Mendonça de Matos - Correspondente estrangeira


– Pág. 460

FERNANDEZ, D. Luis Suarez - Correspondente espanhol – Pág. 467

FIGUEIRA, José Joaquín - Correspondente uruguaio – Pág. 469

FONSECA, Maria Cecília Londres - Correspondente brasileira – Pág. 455

FONTES, Arivaldo Silveira - Titular – Pág. 450

FOUQUET, Claude - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

FRANCO, Affonso Arinos de Mello - Emérito – Pág. 446

FROTA, Guilherme de Andréa - Titular – Pág. 448

FUENTES, Alvaro Galmés de - Correspondente espanhol – Pág. 468

GALLEGO, D. Miguel Artola - Correspondente espanhol – Pág. 466

GALLO, Alberto - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

GARDONE, Héctor Patiño – Correspondente uruguaio – Pág. 471

GARNER, Lydia Magalhães Nunes - Correspondente estrangeira – Pág. 460

GINES, D. Juan Vernet - Correspondente espanhol – Pág. 466

GODINHO, Vitorino Magalhães - Correspondente português – Pág. 461

GOES FILHO, Synesio Sampaio - Correspondente brasileiro – Pág. 454

GOITIA, Fernando Checa - Correspondente espanhol – Pág. 465

GOMEZ, Antonio Lopes - Correspondente espanhol – Pág. 466

GORBEA, Martín Almagro - Correspondente espanhol – Pág. 467

482 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

GOUVÊA, Fernando da Cruz - Correspondente brasileiro – Pág. 451

GOYRI, D. Gonzalo Menendez-Pidal Y - Correspondente espanhol – Pág. 465

GRAF, Márcia Elisa de Campos - Correspondente brasileira – Pág. 455

GRAHAM, Richard - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

GRAIBOIS, Manuel Ballesteros - Correspondente estrangeiro – Pág. 456

GUEDES, Fernando - Correspondente português – Pág. 462

GUEDES, Max Justo - Benemérito – Pág. 445

GUIGLIELMI, Nilda - Correspondente argentina – Pág. 464

GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal - Honorária brasileira – Pág. 475

GUIMARÃES, Luiz Hugo - Correspondente brasileiro – Pág. 454

GULLA, Walter - Correspondente uruguaio – Pág. 469

GUTIÉRREZ, Ramón - Correspondente argentino – Pág. 464

HERES, Rafael Fernandes - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

HESPANHA, Antonio Manuel Botelho - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

HUMPHREYS, Robin A., O.B.E. - Correspondente estrangeiro – Pág. 456

IKEDA, Daisaku - Honorário estrangeiro – Pág. 476

IPANEMA, Cybelle Moreira de - Emérita – Pág. 446

JOUBIN, Pedro Jacinto de Mallet - Titular – Pág. 447

KARASCH, Mary - Correspondente estrangeira – Pág. 460

KERN, Arno Alvarez - Correspondente brasileiro – Pág. 454

KOMISSAROV, Boris Nikolaievitch - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

LAFER, Celso - Honorário brasileiro – Pág. 473

LAGO, Pedro Aranha Corrêa do - Honorário brasileiro – Pág. 475

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 483


Cadastro Social

LAMÓNACA, Victor H. - Correspondente uruguaio – Pág. 469

LAMPREIA, Luiz Felipe - Honorário brasileiro – Pág. 474

LARA, Eduardo Acosta y - Correspondente uruguaio – Pág. 469

LARA, Jorge Salvador - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

LARROSA, Augusto Soiza - Correspondente uruguaio – Pág. 470

LAUERHASS JR, Ludwig - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

LEITE, José Roberto Teixeira - Honorário brasileiro – Pág. 473

LEÓN-PORTILLA, Miguel - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

LÉVI-STRAUSS, Claude - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

LIRA, Bernardino Bravo - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

LLANO, D. Jose Alcala-Zamora Y Queipo de - Correspondente espanhol – Pág. 467

LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer - Honorária brasileira – Pág. 473

LOUSTAU, César - Correspondente uruguaio – Pág. 469

LUNA, Félix - Correspondente argentino – Pág. 463

LUSTOSA, Izabel - Honorária brasileira – Pág. 475

LYRA, Maria de Lourdes Viana - Titular – Pág. 451

MACIEL, Marco Antônio de Oliveira - Correspondente brasileiro – Pág. 456

MAEDER, Ernesto, J. A. - Correspondente argentino – Pág. 464

MAGALHÃES, Joaquim Antero Romero de - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

MAIA, Agaciel da Silva - Correspondente brasileiro – Pág. 455

MAÑÉ GARZÓN, Fernando - Correspondente uruguaio – Pág. 471

MAÑE, S. J. Juan Villegas - Correspondente uruguaio – Pág. 470

MANRIQUE, Daniel Restrepo - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

484 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

MARCÍLIO, Maria Luiza - Correspondente brasileira – Pág. 452

MARCO, Miguel Angel de - Correspondente argentino – Pág. 464

MARILUZ URQUIJO, José M. - Correspondente argentino – Pág. 462

MARIZ, Vasco - Emérito – Pág. 447

MARQUES, José - Correspondente português – Pág. 462

MARTINEZ C., Pedro S. - Correspondente argentino – Pág. 463

MARTINEZ, D. Jose Maria Blazquez - Correspondente espanhol – Pág. 467

MARTINEZ, Pedro Mário Soares - Correspondente português – Pág. 461

MARTINS, Daniel Hugo - Correspondente uruguaio – Pág. 469

MARTINS, Hélio Leoncio - Titular – Pág. 450

MARTINS, José Victorino de Pina - Correspondente português – Pág. 462

MARTINS, Wilson - Correspondente brasileiro – Pág. 453

MARTIRÉ, Eduardo - Correspondente argentino – Pág. 463

MATOS, Odilon Nogueira de - Emérito – Pág. 447

MATTOS, Helio Jaguaribe de - Titular – Pág. 450

MATTOSO, Kátia M. Queirós - Honorária brasileira – Pág. 472

MAXWELL, Kenneth R. - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

MAYO, Carlos A. - Correspondente argentino – Pág. 464

MEIRA, Marcio Augusto de Freitas - Correspondente brasileiro – Pág. 454

MELLO, Evaldo José Cabral de - Titular – Pág. 448

MELLO, Fernando Collor de - Presidente Honorário – Pág. 445

MELLO, José Octávio de Arruda - Correspondente brasileiro – Pág. 452

MELO E SOUZA, Antonio Candido de - Honorário brasileiro – Pág. 473

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 485


Cadastro Social

MENA SEGARRA, Enrique - Correspondente uruguaio – Pág. 470

MINDLIN, José Ephraim - Honorário brasileiro – Pág. 472

MIRANDA, Victorino Coutinho Chermont de - Titular – Pág. 449

MONES, Álvaro - Correspondente uruguaio – Pág. 468

MONREAL, Susana - Correspondente uruguaia – Pág. 470

MONTEIRO, Miguel Maria Santos Corrêa - Correspondente português – Pág. 462

MONTSERRAT, Marcelo - Correspondente argentino – Pág. 465

MORAES FILHO, Evaristo de - Titular – Pág. 448

MORENO, Humberto Carlos Baquero - Correspondente português – Pág. 461

MORÓN, Guillermo - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

MOTA, Ático Frota Vilas-Boas da - Correspondente brasileiro – Pág. 455

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas - Titular – Pág. 450

MUNNE S. J., Miguel Batllori Y - Correspondente espanhol – Pág. 465

MUSSO, Luiz A. - Correspondente uruguaio – Pág. 470

NAGEL, Rolf - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

NASCIMENTO, Vamireh Chacon de Albuquerque - Correspondente brasileiro – Pág. 451

NAVASCUES, D. Faustino Menendez Pidal de - Correspondente espanhol – Pág. 467

NISKIER, Arnaldo - Honorário brasileiro – Pág. 472

NUNES, Maria Thetis - Correspondente brasileira – Pág. 454

OLIVEIRA, Enrique Arocena - Correspondente uruguaio – Pág. 468

ORTIZ, Antonio Dominguez - Correspondente espanhol – Pág. 466

PADILHA, Tarcísio Meirelles - Honorário brasileiro – Pág. 474

PAIM, Antonio Ferreira - Honorário brasileiro – Pág. 473

486 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

PAIVA, Melquíades Pinto - Honorário brasileiro – Pág. 475

PAOLI, Juan Bautista Rivarola - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

PARÉS, Juan Fernández - Correspondente uruguaio – Pág. 469

PASSARINHO, Jarbas Gonçalves - Honorário brasileiro – Pág. 471

PEDEMONTE, Juan Carlos - Correspondente uruguaio – Pág. 470

PEDRUZO, Luiz Diez Del Corral Y - Correspondente espanhol – Pág. 465

PEIXOTO, Celina Vargas do Amaral - Honorária brasileira – Pág. 472

PERÉZ GUILHOU, Dardo - Correspondente argentino – Pág. 464

PETROVICH, Enélio Lima - Emérito – Pág. 446

PIAZZA, Walter Fernando - Correspondente brasileiro – Pág. 451

PICCOLO, Helga Iracema Landgraf - Correspondente brasileira – Pág. 452

PIETSCHMANN, Horst - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

PINHO, João Maurício Ottoni Wanderley de Araújo - Honorário brasileiro – Pág. 472

PINTO, Paulo Brossard de Souza - Honorário brasileiro – Pág. 472

PINTOS, Aníbal Barrios - Correspondente uruguaio – Pág. 470

PIRES, Fernando Tasso Fragoso - Titular – Pág. 450

POPPINO, Rollie E. - Correspondente estrangeiro – Pág. 457

PROVENÇAL, Lucien - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

PUIGGROS, Ernesto - Correspondente uruguaio – Pág. 470

QUESADA, D. Miguel Angel Ladero - Correspondente espanhol – Pág. 467

QUEVEDO, Roberto - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

RADULET, Carmen Maria - Correspondente estrangeira – Pág. 459

RAFFINO, Rodolfo Adelio - Correspondente argentino – Pág. 463

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 487


Cadastro Social

RANGUÍS, Carlos - Correspondente uruguaio – Pág. 470

RECIO, Luis Miguel Enciso - Correspondente espanhol – Pág. 468

REIS FILHO, Nestor Goulart - Correspondente brasileiro – Pág. 455

REMA, Henrique Pinto O. F. M. (Pe) - Correspondente português – Pág. 462

RIOS, José Arthur - Titular – Pág. 448

RÍPODAS ARDANAZ, Daisy - Correspondente argentina – Pág. 463

RODRIGUES, Lêda Boechat - Emérita – Pág. 447

RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez - Correspondente brasileiro – Pág. 453

ROSA, Léa Brígida Rocha de Alvarenga - Correspondente brasileira – Pág. 454

ROUANET, Sérgio Paulo - Honorário brasileiro – Pág. 473

RUANO, D. Eloy Benito - Correspondente espanhol – Pág. 466

RUIZ MORENO, Isidoro - Correspondente argentino – Pág. 463

RUSSELL-WOOD, Anthony John - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

SAGRERA, Carlos - Correspondente uruguaio – Pág. 471

SALES, Eugênio de Araújo (Dom) - Honorário brasileiro – Pág. 472

SALLES, Vicente - Correspondente brasileiro – Pág. 453

SALUM-FLECHA, Antonio - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

SAMPAIO, Jorge - Presidente Honorário – Pág. 445

SANCHES, Marcos Guimarães - Honorário brasileiro – Pág. 473

SÁNCHEZ, Alfonso E. Pérez - Correspondente espanhol – Pág. 468

SANGUINETTI, Marta Canessa de - Correspondente uruguaia – Pág. 469

SANTOS, Corcino Medeiros dos - Correspondente brasileiro – Pág. 455

SANTOS, Eugênio Francisco dos - Correspondente português – Pág. 462

488 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

SANTOS, José Fortuna Andréa dos - Titular – Pág. 449

SANZ, Luís Santiago - Correspondente argentino – Pág. 463

SARNEY, José - Presidente Honorário – Pág. 445

SCANTIMBURGO, João de - Honorário brasileiro – Pág. 472

SCHENONE, Héctor H. - Correspondente argentino – Pág. 463

SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz - Correspondente brasileira – Pág. 456

SCHWARTZ, Stuart B. - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

SENA, Consuelo Pondé de - Correspondente brasileira – Pág. 451

SENA, Davis Ribeiro de - Honorário brasileiro – Pág. 474

SERRANO, D. Carlos Seco - Correspondente espanhol – Pág. 466

SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Correspondente português – Pág. 461

SIERRA, Ernesto Reguera - Correspondente estrangeiro – Pág. 456

SILVA, Alberto Martins da - Correspondente brasileiro – Pág. 451

SILVA, Alberto Vasconcellos da Costa e - Honorário brasileiro – Pág. 474

SILVA, Eduardo - Titular – Pág. 448

SILVA, Hernán Asdrúbal - Correspondente argentino – Pág. 464

SILVA, Jaime Antunes da - Institucional – Pág. 476

SILVA, José Enrique - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

SILVA, Leonardo Dantas - Correspondente brasileiro – Pág. 452

SILVA, Maria Beatriz Nizza da - Correspondente brasileira – Pág. 453

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira - Correspondente brasileira – Pág. 454

SIQUEIRA, Sonia Apparecida de - Correspondente brasileira – Pág. 453

SKIDMORE, Thomas - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 489


Cadastro Social

SOUTELO, Luiz Fernando Ribeiro - Correspondente brasileiro – Pág. 452

SOUZA, Luiz de Castro - Benemérito – Pág. 445

STERNBERG, Hilgard O’Reilly - Correspondente brasileiro – Pág. 451

STIRLING, José E. Etcheverry - Correspondente uruguaio – Pág. 469

STOLS, Eddy Odiel Gerard - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

TAU ANZOATEGUI, Victor - Correspondente argentino – Pág. 463

TAVARES, Luís Henrique Dias - Emérito – Pág. 446

TELES, José Mendonça - Correspondente brasileiro – Pág. 453

TELLES, Augusto Carlos da Silva - Emérito – Pág. 446

TELLES, Pedro Carlos da Silva - Titular – Pág. 450

TENÓRIO, Douglas Apratto - Correspondente brasileiro – Pág. 455

TORRE, Carlos Páez de la - Correspondente argentino – Pág. 465

TORRENDELL, Beatriz - Correspondente uruguaia – Pág. 471

TOSTES, Vera Lucia Bottrel - Titular – Pág. 450

VALES, Luis E. Gonzales - Correspondente estrangeiro – Pág. 459

VALLO, Ezequiel - Correspondente argentino – Pág. 463

VALVERDE, José Filgueira Valverde - Correspondente espanhol – Pág. 466

VAQUERO, Quintín Aldea (Pe.) - Correspondente espanhol – Pág. 468

VARESE, Suzana Rodríguez - Correspondente uruguaia – Pág. 471

VASQUEZ, Pedro Karp - Honorário brasileiro – Pág. 474

VENANCIO FILHO, Alberto - Titular – Pág. 448

VICENTE, Antonio Pedro de Araujo Pires - Correspondente português – Pág. 461

VIDAURRETA, Alícia Elena - Correspondente estrangeira – Pág. 457

490 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

VILAÇA, Marcos Vinicios Rodrigues - Honorário brasileiro – Pág. 473

VINHOSA, Francisco Luiz Teixeira - Titular – Pág. 449

WEFFORT, Francisco Correa - Honorário brasileiro – Pág. 474

WEHLING, Arno - Titular – Pág. 447

WEHRS, Carlos - Titular – Pág. 449

WEINBERG, Félix - Correspondente argentino – Pág. 465

WIESEBRON, Marianne L. - Correspondente estrangeira – Pág. 458

WOLFF, Frieda - Emérita – Pág. 447

WONDJI, Christophe - Correspondente estrangeiro – Pág. 458

ZAVALLA, Sílvio - Correspondente estrangeiro – Pág. 456

ZILLY, Berthold - Correspondente estrangeiro – Pág. 460

ZULETA ÁLVAREZ, Enrique - Correspondente argentino – Pág. 463

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 491


Cadastro Social

C) PRESIDENTES E ENDEREÇOS DOS INSTITUTOS


HISTÓRICOS ESTADUAIS
(sócios correspondentes brasileiros enquanto na direção dos respectivos institutos)

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS


Jayme Lustosa de Altavila
Rua João Pessoa, 382 - 57020-970 - Maceió - AL

INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO AMAZONAS


Edinea Mascarenhas Dias
Rua Bernardo Ramos, 117/131 - Centro - 69005-310 - Manaus - AM

INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA


Consuelo Pondé de Sena
Av. Sete de Setembro, 94/A - 40060-001 - Salvador - BA

INSTITUTO DO CEARÁ
José Augusto Bezerra
Rua Barão do Rio Branco, 1594 - 60025-061 - Fortaleza - CE

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO DISTRITO FEDERAL


Affonso Heliodoro dos Santos
SEP/Sul EQ 703/903 - Conj. C - 70390-039 - Brasília - DF

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO


Leonardo Monjardim
Av. República, 374 - Parque Moscoso - 29020-620 - Vitória - ES

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE GOIÁS


Aidenor Aires
Rua 82, nº. 455 - Centro - 74083-010 - Goiânia - GO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO


Eneida Vieira da Silve Ostria de Canedo
Rua Santa Rita, 230 - Edf. Prof. Antonio Lopes - 2º. and - 65015-430 - São Luiz - MA

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MATO GROSSO


Carlos Gomes de Carvalho
Rua Barão de Melgaço, 3869 - Centro - 78005-500 - Cuiabá - MT

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MATO GROSSO DO SUL


Hildebrando Campestrini
Rua Rui Barbosa, 2624 - 79002-365 - Campo Grande - MS

492 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


Por classes — ordem alfabética
Relação de Presidentes e endereços dos Institutos Históricos Estaduais

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS


Fernando Antonio Xavier Brandão
Rua Guajajaras, 1268 - Sobreloja - 30180-101 - Belo Horizonte - MG

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARÁ


Guaraciaba Quaresma Gama
Rua D’Aveiro, 62 - Cidade Irmã - 66020-610 - Belém - PA

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO


Luiz Hugo Guimarães
Rua Barão do Abiai, 64 - 58013-080 - João Pessoa - PB

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARANÁ


Lauro Grein Filho
Rua José Loureiro, 43 - Centro - 80010-000 - Curitiba - PR

INSTITUTO ARQUEOLÓGICO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PERNAMBUCANO


Nilzardo Carneiro Leão
Rua do Hospício, 130 - Boa Vista - 50060-080 - Recife - PE

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PIAUIENSE


Paulo de Tarso Mello e Freitas
Av. Miguel Rosa, 3300 - Sul-Centro - 64001-490 - Teresina - PI

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO DE JANEIRO


Cybelle Moreira de Ipanema
Av. Augusto Severo, 8/12º. Andar - Glória - 20021-040 - Rio de Janeiro - RJ

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE


Enélio Lima Petrovich
Rua da Conceição, 622 - 59025-270 - Natal - RN

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO SUL


Gervázio Rodrigo Neves
Rua Riachuelo, 1317 - 3o andar. - Centro - 90010-271 - Porto Alegre - RS

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE RONDÔNIA


Yêdda Pinheiro Borzarcov
Rua Portugal, nº. 2298 - Ipase Novo - Pedrinhas - 78900-000 - Porto Velho - RO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO


Nelly Martins Ferreira Candeias
Rua Benjamim Constant, 158 - 01005-000 - São Paulo - SP

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


Carlos Humberto Pederneiras Corrêa
Praça XV de Novembro, s/n - caixa postal D142 - 88010-970 - Florianópolis - SC

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):445:494, out./dez. 2007 493


Cadastro Social

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE


José Ibarê Costa Dantas
Rua Itabaianinha, 41 - 49010-190 - Aracajú - SE

494 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437): 445:494, out./dez. 2007


X—MOVIMENTAÇÃO NO QUADRO SOCIAL

a) Foram eleitos

Correspondente brasileiro:
Geraldo Mártires Coelho
Correspondente português:
Miguel Maria Santos Corrêa Monteiro
Honorários brasileiros:
Antônio Izaias da Costa Abreu
Dora Monteiro e Silva de Alcântara
Isabel Lustosa
Pedro Aranha Corrêa do Lago

b) Foram transferidos

Para sócio emérito


Affonso Arinos de Mello Franco
Para sócio titular
Cândido Antonio Mendes de Almeida
Maria de Lourdes Viana Lyra
Marilda Corrêa Ciribelli

c) Faleceram

Carlos de Meira Mattos, Titular


Roberto Luiz Assumpção de Araújo, Titular
Maurílio César de Lima, Titular
Aristides Pinto Coelho, Titular
Ubiratan Borges de Macedo, Honorário brasileiro
Antônio Jorge Corrêa, Honorário brasileiro
Newton Lins Buarque Sucupira, Titular
Mário Antônio Barata, Benemérito
D. Pedro Gastão Orléans e Bragança, Grande benemérito

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007 495


Movimentação no quadro social

d) Propostas e pareceres

PROPOSTA
Propomos como sócio emérito o sócio titular Affonso Arinos de Mello
Franco, que ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em
1971. Além dos trabalhos publicados e de sua atuação na vida pública, o
embaixador Affonso Arinos de Mello Franco tem participado muito
positivamente das atividades do Instituto, credenciando-se assim ao
reconhecimento da Casa, expresso na ascensão ao quadro de Eméritos. Rio de
Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling, Esther Caldas
Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de Oliveira Belchior,
Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
Victorino Coutinho Chermont de Miranda, Miridan Britto Falci, Edivaldo
Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco Mariz, Maria da
Conceição de M. Coutinho Beltrão, Luiz de Castro Souza, Hélio Leôncio
Martins, Guilherme de Andréa Frota, Vera Bottrel Tostes e Jonas de Morais
Correia Neto.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios é favorável à elevação do Sócio
Titular Affonso Arinos de Mello Franco a Sócio Emérito, uma vez que há
muito ultrapassou a vintena de anos de sua admissão no Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, ao qual vem prestando relevantes serviços. Rio de
Janeiro, 10 de outubro de 2007. Assinam: Carlos Wehrs e Alberto Venâncio
Filho.

PROPOSTA
Para uma das vagas de sócio honorário, propomos o nome do
desembargador Antonio Izaias da Costa Abreu, do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, Coordenador do Grupo de Altos Estudos da
Memória Judiciária. De grande atuação na área da Judicatura, participante de
Congressos, membro de entidades culturais, tem publicado, entre outros,
trabalhos sobre o estado do Rio de Janeiro (Municípios e topônimos
fluminenses, 1994) e o Poder Judiciário, como por exemplo, Palácios e
fóruns do estado do Rio de Janeiro, (2006), e O Judiciário fluminense,

496 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007


Eleitos — Falecidos — Propostas e Pareceres

(2007), lembrando-se também, de a 1976, sua análise A morte de Koeler: a


Tragédia que abalou Petrópolis. Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007.
Assinam: Arno Wehling, Esther Caldas Bertoletti, Douglas Apratto Tenório,
Elysio Custódio de Oliveira Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia da
Fonseca Fernandes da Cunha, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Victorino
Coutinho Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins, Vera Lúcia Bottrel
Tostes, Fernando Tasso Fragoso Pires, Edivaldo Machado Boaventura,
Arivaldo Silveira Fontes, Vasco Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho
Beltrão e Cybelle Moreira de Ipanema.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB aprova a candidatura do
desembargador Antonio Izaias da Costa Abreu para Sócio Honorário desta
Instituição, tendo em vista sua notória atuação na área de sua profissão e de
seus trabalhos sobre História. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007.
Assinam: Carlos Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

PROPOSTA
Propomos para titular o sócio honorário Candido Antonio Mendes de
Almeida, residente nesta cidadã.
Cientista político de fama internacional, doutor honoris causa pela
Universidade de Paris III – Sorbonne Nouvelle, autor de extensa produção
bibliográfica (listada em nosso site), reitor da Universidade Cândido Mendes,
presidente do Fórum de Reitores do Rio de Janeiro e do Instituto do
Pluralismo Cultural, secretário-geral da Academia da Latinidade, membro da
Academia Brasileira de Letras e da Académie des Sciences d’Outremer,
ingressou no Instituto, em 1997, na chamada Eleição dos Grandes Nomes.
Ao longo desse período tem sido dedicado parceiro do Instituto em
iniciativas como o VI Congresso das Academias Iberoamericanas de História
e em seminários como os de Vieira e do marquês do Paraná.
Por tais fatos, e pela significação de sua presença na vida cultural
brasileira, indicam-no os signatários a um lugar no quadro titular desta Casa.
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling, Esther
Caldas Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de Oliveira

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Movimentação no quadro social

Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha,


Miridan Britto Falci, Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho
Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso
Pires, Edivaldo Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco
Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes e
Cybelle Moreira de Ipanema.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios aprova a candidatura do Sócio
Honorário Candido Antonio Mendes de Almeida, desta Instituição, para a
categoria de Titular, tendo em vista sua notável folha de serviços, prestados à
cultura do País. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007. Assinam: Carlos
Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

PARECER DA COMISSÃO DE CIÊNCIAS

PARECER
A comissão de Ciências Sociais, tendo presente a indicação
do sócio honorário Candido Antonio Mendes de Almeida para o Quadro de
Titulares, opina favoravelmente ao seu encaminhamento à Assembléia Geral,
tendo em vista os altos títulos de sua biografia e de sua atuação na vida
cultural, no Brasil e no Exterior.
Sublinha, ainda, por dever de justiça, o apoio que o mesmo tem dado
ao Instituto na realização de seu programa de atividades. Rio de Janeiro, 10 de
outubro de 2007. Assinam: Leda Boechat Rodrigues, Victorino Chermont de
Miranda e Maria da Conceição de M. C. Beltrão.

PROPOSTA
Propomos para sócia honorária brasileira, na forma do art. 6º, inciso I,
do Estatuto, a arquiteta Dora Monteiro e Silva de Alcântara, residente nesta
cidade.
Professora titular, aposentada, de História da Arte I e II da
Universidade Santa Ursula e de Arquitetura Brasileira I e II, da Faculdade de
Arquitetura de Barra do Piraí, desempenhou, ao longo de sua vida

498 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007


Eleitos — Falecidos — Propostas e Pareceres

profissional, entre outras, as funções de técnica do Setor de Pesquisas dos


Museus Castro Maya, coordenadora geral de preservação de bens culturais do
IPHAN e representante do MinC na reunião da UNESCO em Paris (1997).
Integrou também as equipes multidisciplinares do IPHAN para restauração
dos monumentos de Alcântara, MA, e o tombamento do centro histórico de
Petrópolis, RJ.
Apontada como uma das maiores autoridades em azuleijaria no Brasil,
escreveu numerosos livros, textos, comunicações sobre a matéria, no Brasil e
no exterior, destacando-se Azuleijos portugueses em São Luiz do Maranhão,
editado em 1980. Possui também artigo publicado no vol. 420 da RIHGB.
Exerce, atualmente, as funções de representante do Instituto dos
Arquitetos Brasileiros no Conselho Estadual de Tombamento, do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling,
Esther Caldas Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de
Oliveira Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da
Cunha, Miridan Britto Falci, Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho
Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso
Pires, Edivaldo Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco
Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes,
Jonas de Morais Correia Neto e Cybelle Moreira de Ipanema.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB aprova a candidatura da
professora e arquiteta Dora Monteiro e Silva de Alcântara para Sócia
Honorária. Sua biografia justifica plenamente o ingresso nesta Instituição.
Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007. Assinam: Carlos Wehrs e Alberto
Venâncio Filho.
PROPOSTA
Propomos para sócio correspondente brasileiro o historiador paraense
Geraldo Mártires Coelho, doutor em História Cultural e das Mentalidades
pela Universidade Nova de Lisboa, professor concursado da UFPA,
ex-diretor do Arquivo Público do Pará e ex-presidente de seu Instituto
Histórico e Geográfico.
Autor de extensa produção bibliográfica (135 títulos), entre livros,
artigos, comunicações, conferências e palestras, no Brasil e no exterior, é,

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007 499


Movimentação no quadro social

sem favor, um dos maiores nomes da moderna historiografia de seu estado.


Da História política à história cultural, imensa é a variedade dos temas que
tem tratado: o consulado pombalino, o processo da Independência, a
excravidão, a República, o culto à Virgem de Nazaré, o Iluminismo no Pará, o
francesismo novecentista e tantos mais, sem falar-se nos estudos sobre
Vieira, Alexandre Rodrigues Ferreira, Patroni e Carlos Gomes.
O indicado é membro titular do Conselho Nacional de Arquivos –
Conarq e do Conselho Editorial de nossa Revista. Reside em Belém, PA. Rio
de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling, Esther Caldas
Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de Oliveira Belchior,
Luiz de Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Miridan Britto
Falci, Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho Chermont de
Miranda, Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso Pires, Edivaldo
Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco Mariz, Maria da
Conceição de M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes, Jonas de Morais
Correia Neto e Cybelle Moreira de Ipanema.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB aprova a candidatura do
professor universitário Dr. Geraldo Mártires Coelho, a Sócio Correspondente
Barsileiro. Sua atuação docente suas obras publicadas justificam plenamente
sua candidatura ao IHGB. Rio de Janeiro 10 de outubro de 2007.Assinam:
Carlos Wehrs e Alberto Venâncio Filho

PROPOSTA
Propomos a pesquisadora Isabel Lustosa para sócia honorária do
Quadro Social do Instituto. Dedicada, em especial, a estudos de imprensa,
publicou Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na Independência
(2000). Responsável pela organização de Congressos e Seminários, pela
Fundação Casa de Rui Barbosa, onde é funcionária do importante setor de
pesquisa, como “Imprensa, História e Literatura” (2003), com especialistas
nacionais e estangeiros, e “1º Seminário internacional sobre imprensa, humor
e caricatura (2006). Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno
Wehling, Esther Caldas Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio
de Oliveira Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da

500 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007


Eleitos — Falecidos — Propostas e Pareceres

Cunha, Miridan Britto Falci, Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho


Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso
Pires, Edivaldo Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco
Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes e
Jonas de Morais Correia Neto.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB, tendo examinado a
titulação da candidata a Sócia Honorária a pesquisadora Sra. Isabel Lustosa,
ante seus títulos e suas atividades julgamo-la merecedora de ingressar nesta
Casa da Memória Nacional. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007. Assinam:
Carlos Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

PROPOSTA
Propomos a sócia honorária Maria de Lourdes Viana Lyra para
promoção à categoria de sócia titular. Pertence ao Quando Social desde o ano
de 2003 e tem dado contribuição às atividades do Instituto, na seleção de
palestrantes para as reuniões semanais da CEPHAS, na Comissão da Revista
e, este ano, responsável pelo Curso “1808 – A transformação do Brasil: de
Colônia a Reino e Império”, na programação do Instituto para as
comemorações dos Duzentos Anos da Chegada da Corte, o qual atingiu à
cifra de cerca de 300 participantes, com muita repercussão. Rio de Janeiro, 17
de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling, Esther Caldas Bertoletti,
Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de Oliveira Belchior, Luiz de
Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Miridan Britto Falci,
Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho Chermont de Miranda,
Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso Pires, Edivaldo Machado
Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco Mariz, Maria da Conceição de
M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes e Jonas de Morais Correia Neto.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A candidata, já Sócia do IHGB, Sra. Maria de Lourdes Viana Lyra,
merece, por todos os seus títulos, ser transferida à condição de Sócia Titular
da nossa Instituição. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007. Assinam: Carlos
Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007 501


Movimentação no quadro social

PROPOSTA
Para uma das vagas de sócio titular, propomos o nome da sócia
honorária Marilda Corrêa Ciribelli, eleita em 7 de junho de 1989.
Sua participação nos estudos históricos, em ações em entidades
acadêmicas e profissionais, tem se alargado, a par do enriquecimento na
produção bibliográfica, como o Mulheres singulares e plurais, aqui lançado
(2006).
Recomenda-se pelo que pode dar de contribuição aos trabalhos, do
Instituto, recentemente tendo sido incorporada à Comissão dos Duzentos
Anos. Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling,
Esther Caldas Bertoletti, Douglas Apratto Tenório, Elysio Custódio de
Oliveira Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia da Fonseca Fernandes da
Cunha, Miridan Britto Falci, Guilherme de Andréa Frota, Victorino Coutinho
Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins, Fernando Tasso Fragoso
Pires, Edivaldo Machado Boaventura, Arivaldo Silveira Fontes, Vasco
Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão, Vera Bottrel Tostes e
Jonas de Morais Correia Neto.

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB aprova a candidatura da
professora e Sócia Honorária Marilda Corrêa Ciribelli, desde 7 de junho de
1989, para a categoria de Sócia Titular, tendo em vista sua constante
atividade acadêmica docente, no ramo da História. Rio de Janeiro, 10 de
outubro de 2007. Assinam: Carlos Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

PROPOSTA
Propomos para uma das vagas de sócio honorário brasileiro, Pedro
Aranha Corrêa do Lago, nascido no Rio de Janeiro em 1958, bacharel em
Economia, pela UFRJ, e com mestrado pela PUC/RJ, em 1980 e 1983,
respectivamente.
Em anexo, seu currículo, onde se podem destacar as seguintes
atividades e funções exercidas: Representante da casa de leilões de arte
Sotheby’s, em São Paulo; Livreiro-antiquário, proprietário da Livraria

502 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007


Eleitos — Falecidos — Propostas e Pareceres

Corrêa do Lago; Sócio da Editora Capivara, Rio de Janeiro. Como


participantes de entidades culturais, é membro do Conselho da Fundação
Bienal de São Paulo, da Associação Internacional de Bibliografia (AIB).
Foi curador entre outras, das seguintes exposições “L’Empire
Brésilien et sés photographes”, Museu d’Orsay, Paris, 2005: “Frans Post, et lê
Brésil, à la cour de Louis XVI”, Museu do Louvor, 2005/6;
Foi Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, 2003/5.
Principais obras publicadas, dentrre as citadas no currículo:
Iconografia paulistanado século XIX, Metalivros, 1997, 2ª Edição, Capivara,
2003; “Militão Augusto de Azevedo” Capivara, 2001; “Cinc siècles sur
papier” Ed La Martinière, Paris, 2004 – foram editadas traduções para inglês,
português, alemão e espanhol, (2004 a 2006); “Brésil-les premiers
photographes d’ um empire sous lês tropiques” – Ed. Gallimard-2005, Lê
Comte de Clarac et la Forêt Vierge du Brésil – Ed Museu do Louvre, Paris,
2005; “Frans Post (1612-1680), Obra completa – Ed. Capivara, Rio, 2006 –
Em inglês, “Frans Post (1612-1680), Cataloque Raisonné” – Ed. Cinq
Continents, Milão, 2007.
Ao concluirmos essa PROPOSTA, queremos acentuar que as
atividades a que vem se dedicando esse candidato, no campo da cultura, na
pesquisa, colecionamento, estudo, divulgação, de documentos históricos, e
de arte, livros, inclusive os raros, sempre teve nesse Instituto pesquisadores
dedicados, desde os precursores, como Rio Branco, Varnhagen, ou Affonso
Taunay, até os mais recentes como, por exmplo, José Antônio, no Recife,
Mindlin em São Paulo, Ferrez, ou Sousa Leão no Rio, cada um com suas
características mas, certamente todos, importantes para o campo cultural de
nosso país. Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007. Assinam: Arno Wehling,
Augusto Carlos da Silva Telles, Esther Caldas Bertoletti, Douglas Apratto
Tenório, Elysio Custódio de Oliveira Belchior, Luiz de Castro Souza, Lygia
da Fonseca Fernandes da Cunha, Miridan Britto Falci, Guilherme de Andréa
Frota, Victorino Coutinho Chermont de Miranda, Hélio Leôncio Martins,
Fernando Tasso Fragoso Pires, Edivaldo Machado Boaventura, Arivaldo
Silveira Fontes, Vasco Mariz, Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão,
Vera Bottrel Tostes e Jonas de Morais Correia Neto.

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007 503


Movimentação no quadro social

PARECER DA COMISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS


A Comissão de Admissão de Sócios do IHGB aprova, para concorrer a
uma das vagas para Sócio Honorário Brasileiro, o Sr. Pedro Aranha Corrêa do
Lago, uma vez que preenche as condições contidas no Estatuto e no
Regimento da nossa Instituição. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2007.
Assinam: Carlos Wehrs e Alberto Venâncio Filho.

504 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):495:504, out./dez. 2007


XI — VAGAS EXISTENTES NO QUADRO SOCIAL EM 31 DE
DEZEMBRO DE 2007

Eméritos – 1

Titulares – 1

Correspondentes brasileiros – 3

Correspondentes estrangeiros – 1

Honorários brasileiros – 2

Honorário estrangeiros – 19

R IHGB, Rio de Janeiro, a. 168 (437):505:505, out./dez. 2007 505


....
NORMAS
A Revista do IHGB aceitará trabalhos, sob a forma de artigos, resenhas, transcrições de
fontes comentadas, conferências e comunicações com perspectiva histórica ou historiográfica,
que serão encaminhados à apreciação de pelo menos dois pareceristas do Conselho Editorial.
Os trabalhos deverão ser originais mas em casos especiais será aceita a publicação
simultânea em outras revistas estrangeiras ou nacionais. As traduções serão acompanhadas da
autorização do autor.
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correspondência incluindo telefone, fax, e/ou e-mail, etc, acompanhados de um resumo de no
máximo 10 linhas e 3 palavras-chave em português e em inglês. Devem ser apresentados em 2
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ocultos. Programa Word for windows ou compatível. Quaisquer figuras devem ser enviadas em
arquivos separados do texto para serem devidamente editadas embora também constantes das vias
impressas para a localização correta conforme designação do autor. Todos os trabalhos serão
submetidos a dois pareceristas. Havendo pareceres contrários haverá um terceiro para desempate.
A digitação deverá seguir as seguintes especificações:
Fonte: Times New Roman 11, folha A4 e espaço simples.
O parágrafo deverá ter um recuo de 1 cm.
As notas deverão ser colocadas em pé de página. Se contiverem todas as referências
bibliográficas de que o autor se serviu fica dispensada a repetição da bibliografia ao final.
Normatização das notas de rodapé:
- Livro:
SOBRENOME, Nome. Título do livro em itálico. Edição (se não for a primeira). Cidade:
Editora, ano, p ou pp. Ex. : CASTELLO BRANCO, Carlos. Retratos e fatos da história recente.
2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 1996, 206 p.
- Artigos de revistas ou capítulo de livro, ou parte de obra coletiva:
SOBRENOME, Nome. “Título do artigo (entre aspas)” In Título do periódico em itálico,
volume e/ou número do periódico, local de publicação, data de publicação, número(s) da(s)
página(s). Ex.: SOIHET, Rachel. “O drama da conquista na festa: reflexões sobre resistência
indígena e circularidade cultural” In Estudos Históricos, vol. 5, n 9, Rio de Janeiro, 1992, pp.
44-59.
- Outros documentos:
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil – 1995. Rio de Janeiro: IBGE, 1996.
A publicação e comentários sobre documentos inéditos seguirão as normas especificadas
para artigos.
Cabe à Comissão da Revista a decisão referente à oportunidade da publicação das
contribuições recebidas.
ESTA OBRA FOI IMPRESSA
PELA GRÁFICA DO SENADO,
BRASÍLIA/DF,
EM 2008, COM UMA TIRAGEM
DE 700 EXEMPLARES

A Gráfica do Senado limitou-se a executar os serviços de impressão e acabamento desta obra.

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