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JUAREZ FREITAS

SUSTENTABILIDADE

CEI EVLCA RO FE Too

(Dum que recebia a Medalha p. ontes do Wiran a |

da Aealoidã Hvusiloiria de ad o Aurídicas

O Fórum
Um dos maiores juristas brasileiros,
o Prof. Juarez Freitas leciona nas Faculdades
de Direito da PUCRS e da UFRGS. Membro
do Instituto Brasileiro de Altos Estudos de
Direito Público, tendo sido Presidente; e,
atualmente, é membro do Conselho Nato do
Instituto Brasileiro de Direito Administrativo.
Pós-Doutorado na Universidade Estatal
de Milão. Pesquisador Associado na
Universidade de Oxford e Visiting Scholar
na Universidade de Columbia, entre outras
incursões internacionais. Conferencista
sempre requisitado nos mais importantes
Congressos. Recebeu, por este livro, a Medalha
Pontes de Miranda da Academia Brasileira SUSTENTABILIDADE
de Letras Jurídicas, em dezembro de 2011.
Autor de outras obras de grande relevância
DIREITO AO FUTURO
e consagradas, tais como À interpretação
sistemática do direito; O controle dos atos
administrativos e os princípios fundamentais;
Discricionariedade administrativa e o direito
fundamental à boa Administração Pública; e
A substancial inconstitucionalidade da lei injusta.
Membro de Comissão Especial do Conselho
Federal da OAB. Presidente do Conselho
Editorial da revista Interesse Público e membro
do Conselho Editorial de publicações de
prestígio. Entre outras condecorações,
recebeu o Colar do Mérito Geraldo Ataliba
(IBDM), o Colar do Mérito Victor Nunes Leal
(TCMRJ), o Colar do Mérito Miguel Seabra
Fagundes (ATRICON), a Medalha Professor
Santiago Dantas (ANPE), a Medalha do Mérito
Institucional (AMPCON) e a Medalha
Irmão Afonso (PUCRS). Advogado,
Consultor, Parecerista.
JUAREZ FREITAS

SUSTENTABILIDADE
DIREITO AO FUTURO

2º edição

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A Editora Fórum, consciente das questões sociais e
Belo Horizonte
ambientais, utiliza, na impressão deste material, papéis
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MISTO
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fontes rosponsáveis prima utilizada na fabricação do papel deste livro provém
de florestas manejadas de maneira ambientalmente
FSCº C103198 correta, socialmente justa es economicamente viável, 2012
O 2011 Editora Fórum Ltda.
2012 2º edição

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inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.

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Carlos Ayres Britto José Nilo de Castro (in memoriam)
Carlos Mário da Silva Velloso Juarez Freitas
Carlos Pinto Coelho Motta (in memoriam) Lúcia Valle Figueiredo (in memoriam)
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F866s Freitas, Juarez

Sustentabilidade: direito ao futuro / Juarez Freitas. 2. ed. Belo Horizonte:


Fórum, 2012.

347 p.
ISBN 978-85-7700-584-0
1. Direito ambiental. 2. Direito administrativo. 3. Sustentabilidade. 1. Título.

Para os amigos da causa poderosa e fraterna da Susten-


CDD: 341.347,
CDU; 34:504 tabilidade, que sabem não contrapor o ser humano e a

Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de


natureza, assumindo o compromisso jurídico-político e
Normas Técnicas (ABNT):
ético com o desenvolvimento intertemporal que propicia,
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 2. ed, Belo Horizonte: Fórum, 2012. 347 p-
ISBN 978-85-7700-584-0.
para além da mera satisfação das necessidades, o bem-
estar duradouro, em todas as suas dimensões.
AGRADECIMENTOS

Nesta segunda edição, reitero os agradecimentos a


colegas e amigos, por seus estímulos constantes à pesquisa
sobre o novo paradigma da sustentabilidade e pelo imenso
sucesso da acolhida. Pelo espaço, terei de fazer somente agra-
decimentos simbólicos, porém se sintam todos igualmente
lembrados. Importante agradecer à Academia Brasileira de
Letras Jurídicas, que, em belíssima cerimônia, no Rio, em
dezembro de 2011, conferiu a este livro a valiosa Medalha
Pontes de Miranda. Impõe-se agradecer, ainda, ao Instituto
Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público, na pessoa de
meu fraternal colega e amigo Prof. Alexandre Pasqualini, um
dos mentores de nossos memoráveis Congressos Brasileiros
de Direito e Sustentabilidade; à PUCRS, na pessoa do Prof.
Attila Sá D'Oliveira; à UFRGS, na pessoa do Prof. Sérgio José
Porto; a meus colegas do Conselho Nato do IBDA, na pessoa
do Prof. Romeu Bacellar Filho; a meus colegas de projetos de
pesquisa de pós-graduação, bem como a meus alunos, espe-
cialmente os orientandos que pretendem fazer a diferença
valorativa, no intuito de assegurar a eficácia direta e imediata
do direito fundamental ao futuro, para além da mera satisfação
de necessidades materiais. Agradecimentos especialíssimos
para Márcia Bellini Freitas e Thomas Bellini Freitas, por tudo.

O Autor
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO eve ER ae TE RS 15

CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO... ssrinseneespuitia preso tecaeces 23
1.1 A espécie humana corre real perigo ...............eess 23
12 Brasil do baixo carbono aparece no radar... 27
us Desenvolvimento sustentável: paradigma axiológico ........ 31
1.4 Transformações indispensáveis: exemplos iniciais
1.5 Sustentabilidade não é princípio abstrato: vincula
plenamente”... acres sera ape ARENA ita do mca qe dE dE 39
1.6 Conceito de sustentabilidade... 41
es Se o homem insistir em destruir o planeta, antes a
espécie humana será extinta Jc is qosi-coririrseno
Reiidaara na ia pierinentaçã 44
1.8 Relatório Brundtland foi e é importante, mas cumpre
dALTOVOS PASSOS yr ess raede Sopne Eca dA cestos fodas vt ob sen 46
1.9 O conceito de sustentabilidade deve incluir a
multidimensionalidade do bem-estar ...............ses 49

CAPÍTULO 2
O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA
MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE................ 55
2.1 A sustentabilidade é pluridimensional ..............esa 55
2.2 Dimensões da sustentabilidade (social, ética, jurídico-
política, econômica e ambiental)...........
221 Dimensão social da sustentabilidade
2219 Dimensão ética da sustentabilidade .............easeem
22:83 Dimensão ambiental da sustentabilidade... 64
2.2.4 Dimensão econômica da sustentabilidade...........eeees 65
2.2.5 Dimensão jurídico-política da sustentabilidade...
na Dimensões entrelaçadas
24 Sustentabilidade é princípio-síntese que determina a
proteção do direito ao futuro...:.......sosecnbaimamosisconensasaniapasternea 73
CAPÍTULO 3 6.4 Principais falácias adversárias da sustentabilidade .......... 139
CHOQUE DE PARADIGMAS - O NOVO PARADIGMA 6.4.1 Falácia 'cenctica” ig a acertar nene sao os asa Ra Nan 139
DA SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA DA 6.4.2, Falácia ad populum ...
6.4.3 Falácia admisericondiatal. eres. ranetso antas cdbtana ana CobN Nasa boo ram ptadarana 141
INSACIABILIDADE PATOLÓGICA ........u.....essemesecsitormeermammaáeros FA
Escolha inevitável...............
6.44 Ralácia ida rdivisaos is Ma ed ide ANDA end DSR Pr ÃO 141
Sd
Contraste dos paradigmas 6:45] “1 Falácia dafalsa causá (state cesçorzd vip iamasa rise potab costa et raiar 141
8.2
E iecoab
dani Ega
PESO as eisisees sor aansesa ando aa do ba one de EM Spina 6.4.6 Falágia:do acidente sms trainer enetaressnas son pie diga deseo h ecra 142
DS
6.4.7 Falácia do consenso... SE
6.4.8 ' Falácia da desqualificação pessoal.................. 144
CAPÍTULO 4
6.4.9 Falácia da amenca =. -açs velcç estado aa STE g Sa SD aa [OS Pa A 144
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE
6.410 Falácias da autoridade e ad ignorantiam ....... mes 145
MAE PIDIMENSIONAL is Rd t RN AS 87 64.11 | Falácia da petição de princípio...
41 ERINCIDAISLÓDICOS,. Ms SS ante cenia ME ab nara anita 87 64.12 Falácias das muitas questões ............ sueste
4.2: Bloco indissociável. .. 103
6.413 Falácia do uso malicioso de palavra ambígua................... 147
4.3 Desenvolvimento e sustentabilidade:
64.14 Falácia da sequência irresistível.................s me 148
CONSTITUIÇÃO: INÚLTIA o orada dao cuca ator anta Vaca nota pads aa nada 105 6:4.15 Falácia das mãos contaminadas ............... isentos 149
6.5 Armadilhas argumentativas e psicológicas. Ee
CAPÍTULO 5 6.5.1 Armadilha da ancoragem.......... isspeabieanascpneegaudias
pingo jfta diga 150
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR 6.5.2 Armadilha da excessiva confiança... 151
CONSTITUCIONAL re e ie A a 109 6.5.3 | Armadilha do apego ao status quo ..... us isisisiasimarareemans 152
5.1 O desenvolvimento sustentável, não qualquer 6.5.4 Armadilha da proteção das decisões anteriores................ 159
desenvolvimento, é valor supremo................. 109 6:55 Armadilha da confirmação das evidências j
BZ A sustentabilidade é valor supremo, no discurso 6.5.6 - - Armadilha do enquadramento..is..utis sela comsbiiiitacerterdenso 155
GONSTLeLOna, o rmiTa Le pe Mat dista OL De ARO, e AE 111 6.5.7 Armadilha da evocação distorcida ............seeesnessessems 156
Bro O desenvolvimento reconceituado .........mtme 114 6.5.8 Armadilha da cautela excessiva ...... eme ereniiniacsrerecentas 157
5.4 O mercado, por si, não dá conta das legítimas 6.5.9 | Armadilha da percepção de padrões inexistentes............. 157
aspirações imateriais. ta causar foetersana aber cE oh epi Lo e S Ba amad 6.6 Mudanças mentais a favor da sustentabilidade................. 159
5.5 Sustentabilidade é diretriz vinculante 6.7 Conceito de decisões insustentáveis ............ceseseseeeees 160
5.6 Escolha valorativa de assento constitucional... 120 6.8 En LeSUNAO,2..scccarsp abit aqua UR Raça é OA dl ad od Neca senda 161
5.7 Sustentabilidade inclusiva............. tenente 127
5.8 Tudo recomenda ultrapassar reducionismos..................... 129 CAPÍTULO 7 º
5.9 Sustentabilidade veda omissões e ações danosas....... -. 130 SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA O
5.10 A Constituição determina estratégias antecipatórias........ 132 DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA ........ mes
5.11 ED LEBUINO Sasori rs ana ca ISA E SS RSRAS So NGRUR USED IS bs sis a eb A 133 ZA Prioritária educação para a sustentabilidade
Zea. Quatro premissas para uma educação exitosa................... 165
CAPÍTULO 6 no. Pré-compreensões terão de ser trocadas... 168
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS 74 Em TOSUINO LS: cs semrsoteremaasretesdicticasa
ds die r space Rca a fuder ça ria Sora ve 173
E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS..... umas 135
6.1 Sustentabilidade exige lucidez, no processo de tomada CAPÍTULO 8 4 ç
(o ER£O (efa: [SELO a rc fe Ed AD NA RN AR VE 135 SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO
6.2 Noções subjacentes: 1.0 sente jr irado edad dart ee aa 136 DOS VÍCIOS POLÍTICOS aC o RE tuga AD 175
6.3 Conceito defalÃcas dus Ser E e Ea a 138 81 Questão-chaVe Sater ed M rara teca ni des Mapa endo bo Rb id 175
8.2 Quatro principais vícios da política insustentável............ 179 CAPÍTULO 10
8.2.1 Primeiro vício — Patrimonialismo .............reeesereeerenterieees 180 SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E
8.2.2 Segundo vício — Tráfico de influências........... eee 181 NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ............ueeeeteemeeerteos 263
8.2.3 Terceiro vício — Omissivismo ..........eseeeeenatereseneeenertreneaeaa 10.1 Características do Estado Sustentável..................... 263
8.2.4 Quarto vício = MercenarismD:.....s..easceapierezaiaenteecasesetoristsaçamo 10.2 Releitura da responsabilidade................seeseseneasasesesensasensõsas 269
8.3 A política da sustentabilidade 10.21 Responsabilidade preventiva................eesseseeeeseeeseseemensersos 271
10.2.2 Responsabilidade e proporcionalidade.................resemms 272
CAPÍTULO 9 10.2.3 Conceito de responsabilidade do Estado: o nexo causal ..... 276
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO 10.2.3.1 Excludentes do nexo causal do
ADMINISTRATIVO: = an O ES A 195 10.2.3.2 Responsabilidade por ação e omissão 278
9 Mudança de paradigma do Direito Administrativo 10.2.4 Omissão desproporcional, ii. siscteisrspesmiassosvesa sema sadincisençõto 280
92 Da sustentabilidade nas relações administrativas........... 198 10.2.5 Configuração da omissão: três questões ................emesmene 281
9.3 Transições rumo à sustentabilidade... 205 10.3 Reservas à reserva do possível ............sessemeneneereeserense 283
9.3.1 Racionalidade imparcial, eficiente e eficaz..............e 205 10.4 Princípios da prevenção e precaução .............mentseesemes 284
9.3.2 Fundamentação e devida processualização 10.4.1 Princípio da/Prevenção ss ceseraspaparmiitoazasoastoninias plo tensao 285
dasidecisdes: o nro A USD eos ARES SSD Srta 206 10.4.2 Princípio da precaução .... .. 285
9.3.3 Sindicabilidade aprofundada das condutas do 10.4.3 Aplicabilidade dos princípios da prevenção e
agenteiestatal ii gisantast sos imar il pata seo ps renan Cod AESA DID 207 PIEEAUÇÃO jjiscsiseconpeasupiecisa deqedatas 286
ro Aria visa es dada Di ro es iate lin
9.3.4 Resolução administrativa dos conflitos... 208 10.5 Interpretação jurídica à luz do princípio da
9.3.5 Fim do burocratismo paralisante ........... estereo 208 sustentabilidade meia ro rear ns rende ERA Seca 291
9.3.6 “Prevenção e precaução, em lugar da gestão que 10.6 Máximas de concretização da sustentabilidade.................. 296
chegatarde: MM A A a TR TO 209
9:37 Defesa da constitucionalidade de ofício e da regulação CONCEUSÕES isa ftao a Si CM
do Estado Sustentável ha quer psirenasesa rante se by quedas coungaEe 210
9.4 Principais mudanças na hermenêutica das relações de a
REFERENCIAS Ut e O A 313
Ad MINISLAÇãÃO esses rare assist seara aa pimba DS 211
9.5 Sustentabilidade e regulação ..................temeeeeess 217
9.5.1 Regulação: necessidade de novo modelo...........t..t 217
iz Conceito de regulação estatal.
05.9 O agente regulador...................
9.5.4 Características da regulação sustentável............tem 223
9.6 Licitações e contratações sustentáveis: obrigatoriedade
de ponderação dos custos e benefícios, diretos e
MÃODAR SALOS pr a PR PESAR E 8 ANGRA E 233
9.6.1 Incorporação cogente de critérios paramétricos de
sustentabilidade para aferir a proposta mais vantajosa
para a Administração Pública..............eniteresinteseeeemenero
9.6.2 Sustentabilidade e contratação administrativa
9.6.3 A proposta mais vantajosa é aquela que se encontra
alinhada com as políticas públicas sustentáveis ................ 248
9.6.4 Conceito de licitações sustentáveis... 257
9.7 Kumo ao Estado sustentável... .esgeesesto siusacemnenasosioqeestosaiics 258
INTRODUÇÃO

Eis o fio condutor do presente livro, após revisão de boa


parte da mais qualificada produção científica sobre o tema: a
sustentabilidade merece acolhida, antes de mais, como prin-
cípio constitucional que determina promover, a longo prazo,
o desenvolvimento propício ao bem-estar pluridimensional
x (social, econômico, ético, ambiental e jurídico-político), com
reconhecimento da titularidade de direitos fundamentais das
gerações presentes e futuras (para além das teorias clássicas
sobre direitos subjetivos).
"Trata-se de vetor que tem o condão de recalibrar o modo
“de pensar e gerir o destino comum. Sim, as gerações presen-
tes e futuras, sem renúncia admissível, ostentam, segundo o
novo paradigma, o direito fundamental à ambiência limpa,
com mitigações e adaptações imperiosas e, sobremodo, com
medidas antecipatórias de prevenção e precaução, coisa que
só se alcança com base na reviravolta profunda do estilo de
pensar, produzir e consumir.
A sustentabilidade aparece, nessa linha, como dat ético e ju-
Xídico-político de viabilizar o bem-estar no presente, sem prejuízo do
bem-estar futuro, próprio e de terceiros. Não apelo trivial, epidér-
) mico, retórico e de fachada, porém uma diretriz vinculante,
que reforma estruturalmente o jeito de compreender e aplicar
o sistema normativo. Trata-se de perspectiva que refunde,
em larga medida, a tradição jurídica ocidental, acostumada
à noção estreita de direitos subjetivos, ao antropocentrismo
estrito e aos processos sucessórios acanhados.
A sustentabilidade, numa fórmula sintética, consiste
em assegurar, de forma inédita, as condições propícias ao
bem-estar físico e psíquico no presente, sem empobrecer e
inviabilizar o bem-estar no amanhã, razão pela qual implica
16 | JUAREZ FREITAS INTRODUÇÃO | 17
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

o abandono, um a um, dos conceitos insatisfatórios de praxe. da inoperância, que tem permitido a externa-
a precificação
Cessa — ou tende a cessar — O barbarismo irracional dos lização indébita dos custos ambientais; (c) com o foco nas
que apostam no crescimento econômico pelo crescimento, energias renováveis e na economia de baixo carbono; (d) com
nas perdas irreparáveis de biodiversidade e na devastação a “modernidade ambiental”, sem prejuízo das soluções de
da biosfera como método. Resgata-se o equilíbrio ecológico longo prazo; (e) com a adoção de indicadores habilitados a
dinâmico, mediante alocação inteligente dos recursos naturais. aferir a qualidade das políticas públicas e privadas; (f) com
Combatem-se os vícios da política insustentável (examinados o pensamento prospectivo de prevenção e precaução, que
no Capítulo 8) e se descortina, com clarividência, o desenvolvi- amplia sensivelmente o controle de constitucionalidade; e (g)
mento que interessa, sem endosso de qualquer decrescimento com a lógica sistemática retemperada,! que não contempla, em
regressivo. separado ou de modo fragmentário, o ambiental, o econômico,
É certo que não se “descobre” o princípio em tela me- o ético, o jurídico-político e o social.
diante o palmilhar batido das categorias ortodoxas. Requer Pretende-se mostrar, com nitidez, que somente faz sen-
(i) uma acentuada transcendência do vigente modelo calcado tido o desenvolvimento integrado, nos moldes delineados no
no anacrônico patrimonialismo, assim como (ii) a geração de Capítulo 2. Assim, no choque entre paradigmas, realiza-se a
novas memórias, hábeis a gravar a perspectiva ética interge- escolha, nos termos do Capítulo 3, daquele paradigma que,


racional. x adere, com responsabilidade objetiva, ao modelo da multi-
Para os propósitos dessa obra, a insaciabilidade figura dimensionalidade do desenvolvimento, a favor do ambiente
como exato oposto da sustentabilidade, ou seja, é entendida para além do conceito en-
limpo (material e imaterialmente),
como volúpia sem freios, voracidade sem fome, subestimação cartado no Relatório Brundtland (progresso notável), ainda
empobrecida da natureza e da humanidade. Nessa acepção excessivamente centrado em necessidades materiais.
patológica, a insaciabilidade nada tem a ver com a legítima Bem por isso, a sustentabilidade merece ser vista, ao
aspiração da evolução ilimitada, feita de sucessivas adaptações mesmo tempo, como valor e como princípio, pelas razões ex-
e moderadas saciedades. postas no Capítulo 4, na ciência de que a dignidade humana,
Não por acaso, o princípio da sustentabilidade se in- embora precise continuar em pauta, já não se mostra suficiente:
surge, graças ao seu horizonte intertemporal, contra o pensar cumpre proteger, agora, o dinâmico equilíbrio ecológico e o
prepotente característico da plutocracia imediatista, que finge valor intrínseco dos seres vivos capazes de sofrimento, com
desconhecer a natureza como recurso escasso e insiste na falta a vedação de crueldade, explicitamente prescrita no art. 225
de empatia ou na indefensável exclusão hostil do ser humano da Constituição.
do mundo natural ou biológico. Essa obra está perpassada pela ideia-chave de que o cres-
Certo: para a realização da almejada troca de paradigma, e o desenvolvimento não são sinônimos.
cimento econômico
revela-se imprescindível criar “mapas neurais” mais avança- É que, sem incorrer nas falácias e nas armadilhas psicológicas
dos e suscitar as transformações correspondentes nas atitudes, (descritas no Capítulo 6), a sustentabilidade apenas pode ser
acima das relutâncias dos omissivistas e da força inercial dos compreendida como processo contínuo, aberto e integrativo
conceitos antiquados. de, pelo menos, cinco dimensões do desenvolvimento.
Ltnd Sustentabilidade, nesse prisma, representa formidável
compromisso intergeracional: (a) com a equidade; (b) com
1 Vide Juarez Freitas, in A interpretação sistemática do direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
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SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO INTRODUÇÃO | 19

Em sua dimensão social, a sustentabilidade reclama: 225, 3º, 170, VI), que requer nova interpretação jurídica, con-
(a) o incremento da equidade intra e intergeracional; (b) a ducente ao Estado Sustentável, assim como preconizado
gestão aperfeiçoada de processos, que assegure condições nos Capítulos 9 e 10; (b) norma que determina, a partir da
favoráveis ao florescimento virtuoso das potencialidades revisão de titularidades (admitidos os direitos de gerações
humanas, especialmente no atinente à educação de qualidade, futuras), a eficácia intertemporal de todos os direitos funda-
em consonância com as premissas arroladas no Capítulo 7; e mentais (não apenas os de terceira dimensão); (c) critério que
(c) o engajamento na causa do desenvolvimento que perdura e permite afirmar a antijuridicidade das condutas causadoras de
faz a sociedade apta a sobreviver, a longo prazo, com respeito danos intergeracionais, tais como as práticas deploráveis do
ao valor intrínseco dos demais seres vivos. patrimonialismo, entre outros vícios descritos no Capítulo 8.
Em sua dimensão ética, a sustentabilidade admite: (a) Convém grifar: a sustentabilidade não é uma campanha |
a ligação de todos os seres, acima do antropocentrismo es- episódica, pois acarreta uma Agenda permanente, nos termos
trito; (b) o impacto retroalimentador de ações e omissões; descritos no Capítulo 4, que implemente, entre outras provi-
(c) a exigência moral de universalização concreta, tópico- dências, o trabalho em rede sinérgica e cooperativa de todos;
sistemática, do bem-estar duradouro. a nova sistemática de licenciamento ambiental, em processo
Em sua dimensão ambiental, a sustentabilidade faz
com duração razoável; a segurança energética, com o redese-
perceber que: (a) não pode haver qualidade de vida e longe- nho do plexo normativo regulatório, no intuito de incentivar
vidade digna em ambiente degradado; (b) sem prejuízo da seriamente as energias renováveis; a reconstituição jurídico-
“modernização ambiental”, o hiperconsumismo haverá de institucional da matriz de transportes, consoante vocações
ser confrontado, notadamente nos países ricos; (c) no limite,
naturais e prioridades de longo espectro; a obrigatoriedade
de licitações e contratações sustentáveis, com a apuração crite-
não pode sequer perdurar a espécie humana, sem o zeloso
riosa de custos diretos e indiretos (externalidades); a tributação
resguardo da sustentabilidade ambiental, em tempo útil.
corretiva (sem finalidade arrecadatória), a par de incentivos x
Em sua dimensão econômica, a sustentabilidade, como
fiscais destinados a projetos comprovadamente sustentáveis; a
será realçado, faz perceber que: (a) é indispensável lidar ade-
educação de qualidade, inclusive para o consumo; os financia-
quadamente com custos e benefícios, diretos e indiretos, bem
mentos públicos e privados conferidos de maneira prudencial,
como efetuar o pertinente trade-off entre eficiência e equidade sob pena de formação de bolhas creditícias; o saneamento
intra e intergeracional; (b) a economicidade implica o combate
como dever subjetivo público; o planejamento demográfico
ao desperdício lato sensu, bem como o incremento da poupança sem violência; o uso racional das propriedades públicas e pri-
pública, da taxa de investimentos, da responsabilidade fiscal ;Vadas; a aplicação expandida dos princípios da prevenção e
e do limite regulatório do poder (público e privado), tendo da precaução; o enfrentamento das causas da poluição letal e
toda e qualquer propriedade que cumprir função (social, eco- da degradação dos recursos naturais; o controle participativo
nômica e de equilíbrio ecológico); (c) a regulação estatal do do orçamento ecoeficiente e eficaz; a rejeição do fundamen-
mercado precisa acontecer de maneira que a eficiência guarde talismo irracional de mercado; a geração do trabalho formal
comprovada e mensurável subordinação à eficácia. e decente; a fixação de políticas regulatórias consistentes; a
Em sua dimensão jurídico-política, a sustentabilidade, cultura avessa ao extrativismo simplista, com o fomento a
no enfoque aqui adotado, assume as feições de: (a) princípio negócios inclusivos e “verdes” e a mencionada inserção de
constitucional, imediata e diretamente vinculante (CF, arts. melhores indicadores do desenvolvimento.
20 | |SUSTENTABILIDA
UAREZ FREITAS
DE - DIREITO AO FUTURO
INTRODUÇÃO | A

Não custa sublinhar: a sustentabilidade vincula juridi- No Capítulo 3, realiza-se o cotejo dos principais para-
camente, em sentido forte, porque se trata, em nosso sistema, digmas em choque, isto é, situa-se o paradigma da sustenta-
de princípio constitucional, incorporado por norma geral bilidade em contraposição com o enlouquecido comando da
inclusiva (CF, art. 5º, 82º), a demandar a sua eficácia direta e insaciabilidade. Nesse caso, afastado o contórcionismo das
imediata. Em boa hora, o princípio do desenvolvimento sus- falsas conciliações, urge optar pelo novo paradigma, com
tentável foi albergado, de modo expresso, na legislação infra- a saída progressiva do modelo defasado, cuja performance
constitucional (por exemplo, no art. 3º da Lei de Licitações), o tem-se revelado trágica, em função das gigantescas doses de
que só reforça o dever de observância maciça e generalizada. mal-estar individual e coletivo.
Arrolem-se, então, as premissas centrais do livro: (a) a No Capítulo 4, propõe-se a aludida Agenda da Susten-
sustentabilidade apresenta feições multidimensionais, vale tabilidade. Por certo, não se tem a pretensão de divergir de
dizer, é ética, social, econômica, jurídico-política e ambiental: grande parte das propostas agendas em circulação (referidas
qualquer concepção unilateral, excessivamente reducionista, aqui), mas tão só de concentrar o plexo de providências que
afigura-se flagrantemente errada e distorcida; (b) a susten- podem espelhar esse compromisso amigável com o ambiente,
tabilidade vincula juridicamente a liberdade do tomador de empático, solidário e ecologicamente equilibrado. Numa ex-
decisões (públicas e privadas), ao solicitar a tutela simultânea pressão: socialmente homeostático.?
das gerações presentes e futuras; (c) a sustentabilidade não No Capítulo 5, enfoca-se a sustentabilidade como valor.
se coaduna com a crença fetichista e falaciosa no crescimento Não só valor, senão que valor constitucional supremo, isto é,
material como fim em si, pois cobra o uso justo dos recursos o outro lado do desenvolvimento que interessa. Percorre-se,
naturais e o término do domínio desarvorado e perdulário em passos largos, a Constituição, no intuito de prová-lo.
No Capítulo 6, envereda-se para o campo da teoria da
nas relações com a natureza; e (d) a sustentabilidade reclama
íntegra e integrada acepção do desenvolvimento, mormente
decisão. Aqui, o ponto está em como vencer as falácias e as
armadilhas argumentativas. Por exemplo, as falácias do cres-
em face das grandes questões ambientais.
Breves palavras se impõem sobre a estrutura da obra. cimento ilimitado e do caráter supostamente inarredável da
insaciabilidade são convenientemente desmascaradas.
No Capítulo 1, cuida-se de formular o conceito de sus-
No Capítulo 7, preconiza-se, em pinceladas, nada menos
tentabilidade, que absorve e dá passo adiante em relação ao
do que uma nova educação ambiental, com alta qualidade
conceito do festejado Relatório Brundtland, de 1987. É que a
científica, desde a mais tenra idade, rumo à economia “verde”
noção baseada em necessidades tem sido útil, contudo é de-
e ao desenvolvimento durável. Uma educação para o respeito
masiado acanhada.? ao valor intrínseco de todos os seres vivos, que mobilize inte-
No Capítulo 2, pretende-se esclarecer o caráter multi- ligências e vontade. Uma educação para a sustentabilidade do
dimensional da sustentabilidade. Além do tripé consagrado consumo, do trabalho decente e da produção, que assuma o
das dimensões econômica, social e ambiental, propõe-se o horizonte causal de longa duração.
acréscimo oportuno das dimensões jurídico-política e ética.
? Sobre homeostase e a seleção natural, bem como sobre origem biológica dos valores, vide
António R. Damásio, in O livro da consciência; a construção do cérebro consciente. Lisboa:
2 Vide Amartya Sen, in A ideia de justiça. Coimbra: Almedina, 2010, com posição crítica, ao Temas e Debates, 2010, p. 70: “a valorização que atribuímos nas atividades sociais e cul-
realçar que, mais do que necessidades, tem-se de levar em conta valores (p. 343). Retomar- turais do dia-a-dia tem uma ligação direta ou indireta aos processos de regulação da vida,
se-á o tema, adiante. descritos pelo termo homeostase”.
JUAREZ FREITAS
22 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

CAPÍTULO 1
No Capítulo 8, em face da dimensão política inescapável
da sustentabilidade, apontam-se os quatro principais vícios
políticos que esse paradigma terá de dissipar, vale dizer, o
patrimonialismo, O tráfico de influências, o omissivismo in-
constitucional e o mercenarismo.
No Capítulo 9, examina-se, em traços gerais, o tema
fascinante do novo Direito Administrativo, notadamente da
SUSTENTABILIDADE
regulação, sob a forte influência do princípio emergente: o CONCEITO
Direito Administrativo que não se deixa prender à simples
obediência às regras nem às pré-compreensões weberianas,
mas que converte o agente público lato sensu num aplicador da
Constituição de ofício, capaz de oferecer respostas eficientes e Sumário: 1.1 A espécie humana corre real perigo — 1.2 Brasil do baixo carbono
eficazes, num mundo altamente complexo e financeiramente aparece no radar — 1.3 Desenvolvimento sustentável: paradigma axiológico — 1.4
volátil. Transformações indispensáveis: exemplos iniciais — 1.5 Sustentabilidade não é
princípio abstrato: vincula plenamente — 1.6 Conceito de sustentabilidade — 1.7
No Capítulo 10, trata-se da relação umbilical entre sus- Se o homem insistir em destruir o planeta, antes a espécie humana será extinta
tentabilidade e responsabilidade do Estado, assim como, de — 1.8 Relatório Brundtland foi e é importante, mas cumpre dar novos passos
maneira sintética, das diretrizes para uma interpretação juri- - 1.9 O conceito de sustentabilidade deve incluir a multidimensionalidade do
bem-estar
dica sustentável, no intuito de ilustrar o imenso cabedal das
transformações acarretadas pela assunção do novo paradigma.
Após tal jornada, se o livro, em sua segunda edição,
tornar suficientemente vívida a sustentabilidade como prin-
1.1 A espécie humana corre real perigo
cípio constitucional e, ao mesmo tempo, estimular uma ousada Ao que tudo indica, nos próximos milhões de anos, o
reciclagem de categorias e conceitos, terá cumprido inteira- planeta não será extinto. A humanidade é que corre real perigo. A
mente a sua tarefa. gravidade das questões ambientais encontra-se, no presente
estágio, isenta de dúvidas, em pontos fulcrais.*O peso dessa ou
daquela causa, sim, pode ser debatido, mas a crise ambiental é
indesmentível. Negar, nessa altura, os malefícios dos bilhões
de toneladas de gases tóxicos (com os enormes custos asso-
ciados) parece atitude despida de mínima cientificidade.

* Vide Sérgio Henrique Hudson Abranches, in Copenhague: antes e depois. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010, p. 76.
5 Vide William D. Nordhaus, in Economic Aspects of Global Warming in a Post-Copenhagen
Environment. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America
— PNAS, v. 107, n. 26, p. 11726, June 29% 2010: “(...) several policies could limit our
“dangerous interference' with the climate system at modest costs. However, such policies
would require a well-managed world and globally designed environmental policies, with
most countries contributing, with decision makers looking both to sound geosciences and
economic policies”.
CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE — CONCEITO | 25

vd Ra REZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREIT
O AO FUTURO

história, salvo nada mais são do queo subproduto dessa cultura de insaciabilidade
Provavelmente, trata-se da primeira vez na
de simplesmente patrimonialista e senhorial, que salta de desejo em desejo, no
risco'de guerra nuclear,* que à humanida
por obra e des- encalço do nada.
pode inviabilizar a sua permanência na Terra, Nessa linha, o diagnóstico preliminar é seguro: para
larga escala, do seu estilo devo rant e, compulsivo e
graça, em terão
.” avançar a bandeira da sustentabilidade, vários muros mentais
pouco amigável. O alerta está acionado da crença
Este livro contempla os trans torno s ambientais sistêmicos, de cair. Até porque a cultura da insaciabilidade (isto é,
em bloco, isto é, não se concentra exclusivamente
no tema das mu- ingênua no crescimento pelo crescimento quantitativo e do consumo.
danças climáticas, a despeito de sua importância nevrálgica
.º fabricado) é autofágica, como atesta O doloroso perecimento de
s
Quer-se realçar que, a par de suas conhecidas e indissolúvei civilizações.
dimensões (social, ambiental e econômica), a sustentabilidad
e tem Para sair dessa rotina insana, sem mergulhar no deses-
de se
de ser assimilada também na sua dimensão jurídico-política — por se pero ou na apatia, a sociedade do conhecimento terá
tratar de princípio constitucional gerador de novas obrigações,
, ada, de um
tornar uma sociedade do autoconhecimento volt
do e
assim como na sua dimensão ética. É que, para enfrentar os de- lado, à construção articulada do bem-estar universaliza
or uso
safios de tornar o mundo habitável, convém não esquecer,
ao da homeostase social e,'º de outro, para fazer o melh
lado das causas físicas externas, o peso dos males comp orta men- possível da capacidade tipicamente humana de projetar e ex-
tais e jurídico-políticos, tais como o antropocentrismo excessivo
jo a
perimentar os fatos antes que ocorram, o que rende ense
e despótico, a bizarra dificuldade de implementar políticas não tropeçar e a aprender com os erros sem precisar cometê-
“alinhadas ou a carência de poupança para manter taxas de los. )
investimentos estratégicos em processos qualitativos, sem os Somente assim réunirá forças objetivas para fazer frente
quais o desenvolvimento duradouro não passa de miragem. à magnitude das múltiplas crises que interagem entre si. Crise
Tais males resultam de anos e anos, séculos e séculos, sistêmica, que põe, não poucas vezes, uma trava de pess
imismo
do império da vista curta, às voltas com o poder subjugador em vários analistas.2 Trata-se, sem dúvida, de crise supe
rlativa
e prepotente, como se o outro fosse — ou, pior, tivesse que ,
e complexa. Crise do aquecimento global, do ar irrespirável
ser — um reles objeto a ser docilmente ofendido, perniciosa- da desigualdade brutal de renda, da favelização inco
ntida,
mente manipulado e violentado. Quer dizer, os maiores males da tributação regressiva e indireta, da escassez visív el de de-
mocracia participativa, da carência flagrante de qualidade da
dramático da Guerra
é Tem-se em mente a crise dos mísseis de Cuba, em 1962, momento
Fria. ntes
incertezas citar os exemplos dos maias e da ilha de Páscoa como provas contunde
7 Vide o documento Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e 9 Costumam-se
Ministério da Saúde, dos males da destruição da natureza.
para o Brasil. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde — OPAS; Letras,
2008, p- 34: “As mudanças climáticas ameaçam as conquistas e os esforços de
redução das 1% Vide António R. Damásio, in E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das
ambiente mais saudável se sociocult ural, que passa a abranger a busca delibe-
doenças transmissíveis e não-transmissíveis. Ações para construir 2011, p. 44, a propósito da homeosta
milhões de
poderiam reduzir um quarto da carga global de doenças, e evitar cerca de 13 rada do bem-estar.
2007, p. 262: “Our
Vide Daniel Todd Gilbert, in Stumbling on Happiness. New York: Vintage,
es de “adaptação”
mortes prematuras (...) o setor saúde deve tomar medidas e intervençõ 1
serão inevitáveis. e events before they happen
para reduzir ao máximo os impactos via ambiente, que de outra maneira ability to project ourselves forward in time and experienc
podem somente ser to evaluate actions without
(...) Por outro lado, os determinantes das mudanças climáticas globais enables us to leam from mistakes without making them and
superados a longo prazo, com medidas de “mitigação”. Também
nesse caso, o setor saúde
them. If nature has given us a greater gift, no one has named it. (...) But if our great
tasking
they at least allows us to
pode ter um papel importante”. big brains do not allow us to go sure-footedly into our futures,
ção de
Vide José Eli da Veiga, in Economia política da qualidade. Revista de Administra understand what makes us stumble”.
pensar em
Empresas — RAE, São Paulo, v: 50, n. 3, p: 339, jul./set. 2010: “não é possível 2 Vide Martin J. Rees, in Our Final Hour: a Scientists
Waming: How Terror, Error, and
questão
muitas reversões de danos ambientais se não for enfrentada concomitantemente a Environmental Disaster Threaten Humanki nd's Future in this Century on Earth and
comece pela tran-
climática (...). Não há rumo para o desenvolvimento sustentável que não beyond. New York: Basic Books, 2003.
sição energética que permitirá a superação da atual dependência das fontes fósseis”.
cm
TCP F““a

26 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 1 | 27
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO

educação (inclusive ambiental), das doenças facilmente evitá-


outras palavras, é altamente provável que as mudanças não
veis, da falta de paternidade e maternidade conscientes, do
possam ser incrementais ou fáceis, isentas de fases agudas.
stress hídrico” global, da regulação inerte, tardia ou impotente,
do desaparecimento de espécies,! da queimada criminosa, Daí a obrigação adicional de mitigar, ao máximo, o sofrimento e de
da produção de resíduos que cresce em ritmo superior ao da contribuir, com vigor, para que a humanidade, o quanto antes, seja
população e da impressionante imobilidade urbana. salva de si mesma.
Certo, os remédios contra esses males, verdadeira sín-
drome, podem apresentar efeitos colaterais e suscitam acesas
discussões. Toda ação costuma ter efeitos colaterais. Uma China 1.2 Brasil do baixo carbono aparece no radar
verde, por exemplo, como vaticinam colegas,'º enfrentará
Cumpre notar que, felizmente, o Brasil do baixo carbono
obstáculos até se afirmar, embora a decisão pareça ter sido
tomada. Não por acaso, os chineses ocupam a liderança já aparece no radar, a requerer velocidade nas restaurações es-
mundial em energia eólica e começam a tornar economica- truturais, em favor do advento desse “novo valor”“ que é a
mente competitiva a energia solar. Muito provavelmente, sustentabilidade," indutora da marcha, em novas fronteiras,
entretanto, uma consistente resolução mitigatória e adaptativa, para o desenvolvimento que importa (a ser medido com novos
em grande escala, acarretará mudanças de vulto, inclusive de indicadores, em lugar do limitadíssimo PIB, ferramenta sabi-
abertura política. Não há como dissimular ou fingir que não: damente tosca, ainda quando se trate de PIB per capita. De
“O autoritarismo centralizador e rigidamente hierarquizado fato, se crescer a incidência de doenças, o PIB crescerá, porque
não se coaduna com políticas autenticamente sustentáveis. aumentarão os gastos com saúde, o que demonstra a distorção
Como quer que seja, uma coisa parece quase inevitável: gritante do indicador)? A par disso, força sobrepassar a an-
o vício mental do crescimento pelo crescimento, a qualquer
custo, não será vencido sem as dores da síndrome de absti-
siedade patológica pelos chamados bens posicionais, aqueles
nência. A sociedade terá, em dado momento, de querer se avidamente cobiçados, frequentes vezes, somente porque
desintoxicar de prévias compreensões desastrosas e rede- permitem um simples realce de “status”, na comparação com
senhar o sistema em que vive. Confrontar-se-á com aquilo os outros.”
que Paul Gilding denomina problema de design social.” Por
climate change; this is a system design problém. We will therefore need profound shifts in
'º Vide Maude Barlow e Tony Clarke, in Blue Gold: the Battle against Corporate how we behave personally and collectively”.
Theft on the 18 Vide José Eli da Veiga, in Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor. São Paulo: Senac,
World's Water. London: Earthscan, 2002.
“ Vide, por exemplo, Lester Russell Brown, in Plan B 3.0: Mobilizing to Save 2010.
Civilization.
New York: Earth Policy Institute; Norton, 2008, p. 101. 2 Novo valor, que precisa dar conta da pluralidade de valores, às vezes em conflito, como
8 Vide Mike Hulme, por sua abordagem física e cultural, in Why We expõe Dale Jamieson, in Ética & meio ambiente: uma introdução. São Paulo: Senac, 2010:
Disagree about Climate valores prudenciais ou relacionados a interesses presentes ou futuros (p. 241); valores
Change: Understanding Controversy, Inaction and Opportunity. Cambridge:
Cambridge estéticos ou relacionados à beleza e ao sublime (p. 244); valores naturais e independentes
University Press, 2009.
de nossa influência humana (p. 251), o que o leva a reconhecer que a naturalidade não é
Vide Thomas Friedman, in Caliente, plana y abarrotada: por qué el mundo
necesita una construção social. Conflitos podem ocorrer não só entre valores plurais, mas, como assi-
revolución verde. Barcelona: Planeta, 2010, p. 512, com sua aposta de que,
em cinco anos, nala Jamieson, “mesmo quando procuramos aplicar um único valor em diferentes cir-
a China venha a tomar a decisão de se tornar verde.
cunstâncias” (p. 261).
” Vide Paul Gilding, in The Great Disruption: Why the Climate Crisis Will
Bring on the End of ”? No entanto, sabe-se que, quanto mais tardarem as providências nesse sentido, maiores os
Shopping and the Birth of a New World. New York: Bloomsbury, 2011, p.
122: “we must custos e mais oportunidades serão perdidas.
now understand that the type of change we need will require a major evolution
in human z Vide, sobre positional good, Fred Hirsch, in Social Limits to Growth. London: Taylor & Francis
values, politics, and personal expectations. This isnota single technical problem
like fixing e-Library, 2005.
CAPÍTULO 1 | 29
28 | JUAREZ FREITAS SUSTENTABILIDADE - CONCEITO
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

Por razões geopolíticas altamente favoráveis, o Brasil tem tudo em ciclo virtuoso, demanda uma modificação, sem precedentes, das
para se converter numa das lideranças mundiais do desenvolvimento, pré-compreensões e, correspondentemente, do estilo de ser e
de gerir, de sorte a se acolher, com transparência redutora
em todas as dimensões.? Para isso, mais do que de reformas cos-
méticas, carece de inovação robusta na tecnologia de gestão, no de assimetrias, uma perspectiva inovadora de co-criação do
intuito de melhor aproveitar os campos promissores ligados valor,” que é a sustentabilidade.
à economia “verde” (como, por exemplo, na área vital das Nesse prisma, a sustentabilidade não pode ser considerada
energias renováveis).2 Naturalmente, sem o engano de supor um tema efêmero ou de ocasião, mas prova viva da emergência de
que o desenvolvimento sustentável terá de acarretar qualquer uma racionalidade dialógica, interdisciplinar, criativa, antecipatória,
decréscimo recessivo.” Bem ao contrário. Oportunidades medidora de consequências e aberta. O culto tosco e desenfreado
brilhantes estão à frente, desde que adotada a “cultura do do imediatismo, com os seus fetiches tirânicos ou servis, está
desenvolvimento” de baixo carbono, alta inclusão e trabalho dramaticamente em xeque.
decente, em substituição à matriz calçada na economia dos Verdade que lamentavelmente até os fundadores da
combustíveis fósseis e nos vícios da política degradada (exa- sociologia subestimaram as questões ambientais.” Hoje, en-
minados detidamente no Capítulo 8). tretanto, o quadro é muito diferente. A boa notícia é que o
E o que é capital: em face das vultosas transformações realismo crítico e o construcionismo, cada um a seu modo,
ambientais,” o aproveitamento, em tempo útil, das oportunidades, tentam desvendar as causas dos tormentos ambientais. A
noção de crescimento econômico? iníquo e a qualquer custo,
2
tão cara a economistas, juristas, sociólogos e políticos clássicos,
Vide Jonathan Lash, do World Resources Institute, in Desafio é fazer mais com menos
recursos. Valor Econômico, São Paulo, Especial Negócios Sustentáveis, p. 2, 23 dez. 2010:
“O Brasil tem pontos fortes e produz inovações que fazem dele um líder natural global
na busca por soluções nessa área”. Propõe três princípios: a) “Tudo está relacionado com 7 Vide, sobre co-criação de valor e transparência, C. K. Prahalad e Venkat Ramaswamy, in O
alimentos” (perda de habitats, superexploração, poluição, espécies invasoras e mudança futuro da competição: como desenvolver diferenciais inovadores em parceria com os clientes.
climática). Cita a Avaliação Ecossistêmica do Milênio da ONU para corroborar a assertiva; São Paulo: Campus, 2004, p. 34-51. Especificamente sobre transparência, observam, com
b) “Mais com menos para mais” (citando Prahalad); c) “O governo deve estabelecer as acurácia, à p. 47: “Tradicionalmente, os negócios beneficiaram-se da assimetria de infor-
condições”, com “reformas na política tributária, novos marcos regulatórios e incentivos mações entre os consumidores e as empresas. Mas esta assimetria está desaparecendo
inovadores”. com rapidez. As empresas não mais podem pressupor a opacidade dos preços, custos e
Ainda que a expressão seja polêmica e, de fato, possa induzir leituras erradas, vide, para margens de lucro. E à medida que as informações sobre produtos, tecnologias e sistemas
ilustrar as oportunidades da green economy, sobretudo no tema das energias renováveis, o de negócios ficam mais acessíveis, o desenvolvimento de novos níveis de transparência
documento Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty torna-se cada vez mais desejável”.
Eradication — A Synthesis for Policy Makers. Nairobi: UNEP, 2011: “Renewable energy 28 Vide Anthony Giddens, in Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012, p. 123: “Os fundadores
services would be even more competitive if the negative externalities associated with fossil da sociologia — Marx, Durkheim e Weber — prestavam pouca atenção naquilo que hoje
fuel technologies were taken into account”. chamamos de “questões ambientais”. (...) O ambiente natural era considerado dado, sim-
Correta a preocupação com a aceitabilidade social do pacto ecológico de Edgar Morin, plesmente como pano de fundo para os problemas sociais muito mais urgentes e pre-
industrial gerava”. Como acentua, os enfoques, hoje, oscilam
rejeitando o preconceito de que o desenvolvimento sustentável possa ser sinônimo de mentes que o capitalismo
recessão. Vide Edgar Morin e Nicolas Hulot, in. El ano I de la era ecológica: la Tierra que entre os construcionistas (p. 124), que consideram que os problemas ambientais são,
depende del hombre que depende de la Tierra. Barcelona: Paidós, 2008, p. 135. Em França, em parte, criados socialmente, e os adeptos do realismo crítico (p. 125) que pretendem
porém, existe o movimento Décroissance, em sentido diverso. olhar cientificamente “abaixo da superfície das evidências visíveis para revelar as causas
Vide Ignacy Sachs, in À terceira margem: em busca do ecodesenvolvimento. São Paulo: subjacentes” dos problemas ambientais. Vide, a propósito, Philip W. Sutton, in The
Companhia das Letras, 2009, p. 352, a respeito da “cultura do desenvolvimento”: “Por esse Environment: a Sociological Introduction. Cambridge: Polity, 2007, p. 5: “Without socio-
termo entendo um conjunto de noções que facilitam a compreensão da história e preparam logical analysis of long-term social development, we can seriously misunderstand the
a reflexão sobre o futuro de nossas sociedades tanto na ecologia cultural como na ecologia nature of the human nature, as it were”.
natural”. Esclarece, ainda, a sua posição acerca do núcleo central do desenvolvimento in- 2 Vide, para uma visão crítica, Peter A. Victor, in Managing without Growth: Slower by Design,
cludente: “é o trabalho decente, tal como o define a OIT” (p. 346). not Disaster. Cheltenham; Northampton: Edward Elgar, 2008. Vide, ainda, a polêmica
26
Vide, para uma didática cronologia das mudanças, Marcel Bursztyn e Marcelo Persegona,
contribuição de Herman E. Daly e John B. Cobb, in For the Common Good: Redirecting the
in A grande transformação ambiental: uma cronologia da dialética homem-natureza. Rio de Economy toward Community, the Environment, and a Sustainable Future. 24 ed. Boston:
Janeiro: Garamond, 2008. Beacon Press, 1994.
30 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO1 | 3]
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

passou a ser agudamente problematizada e desconstituída De fato, importa que a sustentabilidade não seja entendida
pelos intelectos mais equipados. como um cântico vazio e retórico, tampouco espúria ferramenta
Claro, de nada adianta só nutrir intenções positivas, de propaganda ou de (falsa) reputação, destinada a camuflar
se estas conspirarem, por falta de calculabilidade. sistêmica, produtos nocivos à saúde ou simples palavra sonora usada
contra a atmosfera respirável, supostamente agindo em nome como floreio para discursos conceituosos, amaneirados e
dela. Note-se que, comprovadamente, a eficiência pode, em inócuos.
muitas ocasiões, ser nefasta,” como revela o famoso “paradoxo As grandes questões ambientais do nosso tempo” (a
de Jevons”: a maior eficiência no carvão, por exemplo, costuma saber, o aquecimento global, a poluição letal do ar e das águas,
levar ao aumento do consumo do carvão, ao contrário do que a insegurança alimentar, o exaurimento nítido dos recursos
a ingenuidade postularia.” Daí a importância de se pensar em naturais, o desmatamento criminoso e a degradação dissemi-
termos de eficácia (resultados justos), acima da eficiência (meios nada do solo, só para citar algumas) devem ser entendidas
idôneos). Ou seja, o que importa é a eficácia direta e imediata como questões naturais, sociais e econômicas, simultaneamente,
do princípio constitucional da sustentabilidade, no enfrenta- motivo pelo qual só podem ser equacionadas mediante uma abor-
mento da poluição alastrada (com o seu cortejo de milhões de dagem integrada, objetiva, fortemente empírica e, numa palavra,
doentes e mortos) e da política visceral de omissão e desprezo sistemática.
contumaz aos direitos fundamentais em bloco.
Estes, os direitos fundamentais de todas as dimensões, me-
recem um novo olhar eficacial de longo alcance. Nesse ponto, o 1.3 Desenvolvimento sustentável: paradigma
princípio constitucional da sustentabilidade aparece como axiológico
potencialmente abolicionista de inúmeras falácias e arma-
Sem mais preâmbulo, o princípio do desenvolvimento
dilhas (a serem examinadas no Capítulo 6), embora seja, não
sustentável (ou da sustentabilidade, como se prefere), levado a
raro, conceito perigosamente difundido em sentido demasiado
bom termo, introduz gradativa e plasticamente, na sociedade e
fraco,” para não dizer banal. Confundi-lo com isso, no entanto,
na cultura, um novo paradigma, que precisa reunir os seguintes
como querem alguns dos seus críticos aligeirados, é simplismo
aspectos nucleares:
demais, que sequer merece análise.

3 Vide Anthony Giddens, in Sociologia, op. cit., p. 126-153, ao arrolar didaticamente as


*º Vide o famoso paradoxo de William Stanley Jevons, segundo o qual a melhora da eficiência grandes questões ambientais: a poluição do ar, que suprime milhões de vidas por ano
pode representar o aumento (poluidor) do consumo de um bem. (p. 126); a poluição hídrica, às vezes causada pelo uso exagerado de fertilizantes (p. 129);
* Vide, novamente, William Stanley Jevons, in The coal question: an inquiry concerning the
os resíduos sólidos, com o aumento preocupante de quantidade absoluta na maior parte
dos países (p. 129) e com o crescimento da indústria de reciclagem (p. 130); o esgotamento
progress of the Nation, and the probable exhaustion of our coal-mines. 27º ed. London;
de recursos (p. 131); a degradação do solo, com a queda da produtividade agrícola (p. 132);
Macmillan, 1866.
o desmatamento, com os elevados custos humanos e ambientais (p. 133); a controversa
“2 Vide Jeroen C. J. M. van den Bergh, in Sustainable Development in Ecological Economics. modificação genética dos alimentos (p. 134); o aquecimento global, com o aumento de
In: Giles Atkinson, Simon Dietz e Eric Neumayer (Ed.). Handbook of Sustainable Development. nível do mar e o risco de derretimento das calotas polares (p. 138); a desertificação (p. 140),
Cheltenham; Northampton: Edward Elgar, 2007, p. 65-68: “Sustainability and sustainable especialmente na África subsaariana, oriente médio e o sul asiático (p. 140), a disseminação
development have been defined, interpreted and analysed in various ways (...) Weak de doenças (p. 140), como a malária e a febre amarela; as safras fracas (p. 140); as mudanças
sustainability has been defined using notions like “economic capital” and “natural capital” nos padrões climáticos (p. 140), com maremotos, inundações e furacões e a instabilidade
(Cabeza-Gutés, 1996). (...) Sustainability is usually interpreted as a constraint on economic geopolítica (p. 141).
growth, namely non-decreasing welfare. This is quite a strict criterion, as any temporary * Vide, a propósito, Alan Irwin, in Sociology and the Environment: a Critical Introduction to
decrease in welfare implies an unsustainable development”. Society, Nature and Knowledge. Cambridge: Polity, 2001, p. 161.
32 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 1 | 33
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE - CONCEITO

(a) é determinação ética e jurídico-institucional (oriun- apenas do Direito Ambiental, é chave em qualquer
da, no contexto brasileiro, diretamente da Consti- programa consequente de aplicação constitucional.
tuição, especialmente dos artigos 3º, 170, VI, e 225) de De fato, se é certo que a nossa Carta está em con-
assegurar, às gerações presentes e futuras, o ambiente sonância com os princípios da Carta das Nações
favorável ao bem-estar, monitorado por indicadores Unidas, cumpre, na vida real, exigir, por exemplo,
qualitativos, com a menor subjetividade possível; que os gastos públicos passem a respeitar a eficácia
(b) é determinação ética e jurídico-institucional de res- direta do desenvolvimento durável, de modo a
ponsabilização objetiva do Estado pela prevenção e pela serem efetivamente sopesados os custos e bene-
precaução, de maneira que se chegue antes* dos eventos fícios, diretos e indiretos (externalidades), sociais,
danosos, à semelhança do que sucede nos dispositivos econômicos e ambientais. Não por mera coinci-
antecipatórios biológicos; dência, no rol das diretrizes da Lei nº 12.593, de 2012,
(c) é determinação ética e jurídico-institucional de sin- que instituiu o Plano Plurianual da União, figura a
dicabilidade ampliada das escolhas públicas e privadas, promoção da sustentabilidade. Urge, porém, cobrar
de sorte a afastar cautelarmente vieses e mitos comuns,” a sua cabal observância, por meio dos controles
armadilhas falaciosas e o desalinhamento corri- disponíveis (interno, externo, social e judicial).
queiro das políticas públicas, com vistas à promoção Concebido desse modo, isto é, como determinação ético-
do desenvolvimento material e imaterial; jurídica, o princípio constitucional da sustentabilidade estatui,
(d) é determinação ética e jurídico-institucional de Pe
com eficácia direta e imediata, em primeiro lugar, o reconheci-
responsabilidade pelo desenvolvimento de baixo mento da titularidade dos direitos daqueles que ainda não nasceram.
carbono, compatível com os valores constantes no Em segundo lugar, impõe assumir a ligação de todos os seres, acima

-
preâmbulo da Carta, os quais não se coadunam das coisas, e a inter-relação de tudo.* De fato, uma das lições mais |

tm
com a ânsia mórbida do crescimento econômico, significativas das ciências ambientais é de que todas as coisas '
considerado como fim em si. O que importa é a susten- são interdependentes.” Em terceiro lugar, o princípio determina
tabilidade nortear o desenvolvimento, não o contrário. sopesar os benefícios, os custos diretos e as externalidades, ao lado
Ou seja, uma releitura valorativa “esverdeada” e de | dos custos de oportunidade, antes de cada empreendimento.
cores limpas de todo o ordenamento jurídico, não Somente para ilustrar obrigações decorrentes desse prin-
cípio, interessante referir: o programa de biocombustível pode
& Vide, para conferir ousada defesa de indicadores subjetivos de bem-estar para informar ser positivo, mas apenas à estrita condição de que a matéria-
as políticas públicas, Ed Diener et al, in Well-Being for Public Policy. Oxford; New York:
Oxford University Press, 2009.
prima não seja obtida com o trabalho escravo, nem às custas
* Vide, sobre a dimensão antecipatória em relação a desequilíbrios, por meio de dispositivos
trazidos pela evolução biológica, António R. Damásio, in O livro da consciência: a construção
do cérebro consciente. Lisboa: Temas e Debates, 2010, p. 66. * Vide Annie Leonard, in La historia de las cosas: de cómo nuestra obsesión por las cosas está
” Vide José Eli da Veiga, in Sustentabilidade: a legitimação destruyendo el planeta, nuestras comunidades y nuestra salud: y una visión del cambio.
de um novo valor, “op. cit,
p: 143-146, ao apontar o fetichismo do crescimento do PIB com distribuição de renda, e ao Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2010, propondo visão panorâmica (p. 44), com
salientar que o “PIB é um cadáver insepulto, tão bem embalsamado pelo Sistema de Contas mudança de paradigma, redefinindo o progresso (p. 310), internalizando as externalidades
Nacionais, que há 35 anos resiste ao bombardeio dos melhores cérebros, fornecendo um
(p. 313) e valorizando o tempo acima das coisas (p. 315).
dos maiores exemplos históricos de inércia institucional” (p. 144). Outra “múmia do senso ? Vide G. Tyler Miller Jr, in Ciência ambiental. São Paulo: Cengage Learning, 2006, p. 135:
econômico comum é supor que a desigualdade social seja bem aferida pela distribuição de “Todas as coisas estão relacionadas e são interdependentes”.
renda. (...) Essencialmente porque a renda de um indivíduo ou de uma família é uma das “ Vide, outra vez, G. Tyler Miller Jr. in Ciência ambiental, op. cit., p. 135: “Nunca fazemos uma
mais grosseiras aproximações de sua situação econômica” (p. 145). ação única”. Ou seja, há “efeitos colaterais e, na maioria das vezes, indesejados”.
CAPÍTULO 1 | 35
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO

34 || UAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

maneira
a sustentabilidade Assim, cada ser humano será -chamado, de
da produção global de alimentos. Se o for, com a marcha do
Outro exemplo: a proporcional, a se afastar da cumplicidade
terá sido comprometida irremediavelmente. te responsável
udo não se pode colapso: quem nada fizer será solidariamen
palma pode ser uma cultura promissora, cont outras palavras, a
critério. pela omissão causadora de danos. Por
aceitar o preço da devastação florestal sem a à disposição
Por todos os ângulos, destacadamente nas contratações atmosfera da Terra terá que ser ajudada e coloc
, cabendo reparar os
rar, a sua impressionante força regeneradora
públicas (pela força indutora do Estado), impõe-se ponde os riscos nada
os custos e benefícios, inclusive indiretos. erros individuais e coletivos, em vez de ignorar
motivadamente, na, esquecida
Afinal, o que se afigura o custo menor, isoladamente considerado, subestimáveis de perecimento da espécie huma
da natureza.”
de que depende vitalmente dos rendimentos
pode representar o custo proibitivo, quando os efeitos colaterais e
A irracionalidade conducente à catástrofe nada mais é do que
involuntários (externalidades) forem incorporados à apreciação. cheia de so-
Como acentuado, as gerações presentes e futuras têm o a resultante lógica dos desejos dilapidadores e da ilusão
Impende,
direito fundamental ao ambiente limpo e à vida digna e frutífera fismas do crescimento material ilimitado como solução.
e a falta de educação
(direito oponível ao Estado e nas relações horizontais ou priva
das), pois, combater a iniquidade estrutural
o para que
sem condescendência com a degradação de qualquer tipo. Vida dig- (cognitiva e emocional) para o convívio, sobremod
e livre
na, não apenas material, mas coexistência fecunda e, o mais
se processe outro tipo de desenvolvimento, universalizável
(com os garga los
possível, isenta dos males oriundos das corrupções típicas da dos gargalos da irracionalidade empedernida
logística sofrível e
da má distribuição dos bens e serviços, da
insaciabilidade, que prefere primeiro crescer e, só no futuro
distante, mitigar ou compensar. da tributação perversa).
ta
Por essa razão de fundo, cumpre evitar o peso desmedido Segundo a lógica do novo desenvolvimento, impor
ia, o que
dado ao gozo imediato, em detrimento do futuro. Decerto, a preo- que a eficiência esteja inteiramente subordinada à eficác
supre ssão crescente
cupação com a equidade no presente é ponto destacado, ao supõe maior equidade intertemporal,
poração (sem
das assimetrias injustificáveis e criteriosa incor
permitir o desfrute da vida atual. No entanto, o horizonte do capital
tem de ser elastecido, isto é, tornado de longo prazo. É nítid
o cair nos pontos cegos e reducionistas) da teoria
os” de
que as estratégias sustentáveis são necessariamente aquelas de humano, no atinente especificamente aos seus mérit
de renda
longa duração, não as governadas por impulsos reptilianos ou pela
ressaltar a importância da educação para a melhoria
compulsão da 'obsolescência programada. Os próprios valores
e da qualidade de vida.
biológicos! não se coadunam com qualquer desconto desme-
e, 1.4 Transformações indispensáveis: exemplos iniciais
surado e excessivo do futuro.2 Saber lidar, de conseguint a
com o desconto do futuro é obrigatório para os defensores Propor-se-á, em capítulo específico, uma ampla Agend
er inadi ável
competentes do paradigma da sustentabilidade, no trabalho da Sustentabilidade. Apenas para ilustrar o carát
de erguer uma civilização que não se extermine, ao dilapidar
o patrimônio natural do planeta.“ o capital natural da Terra, mas podemos sustentar
uma que sobreviva do rendimento
biológico fornecido pelo capital natural do planeta” .
l, op. cit., p. 135: “Nossas vidas, estilos de
“4 Vide, ainda, G. Tyler Miller Jr. im Ciência ambienta
4 Vide, sobre valor biológico, António R. Damásio, in O livro da consciência:
a construção do
vida e economias são totalmente depende ntes do Sol e da Terra (...) como espécie, somos
cérebro consciente, op. cit. p. 68-71. dispens áveis”.
Vide, sobre o desconto do futuro, Martin Daly e Margo Wilson, in Carpe Diem:
Adaptation a Theoretical and Empirical Analysis,
4 Vide, por exemplo, Gary S. Becker, in Human Capital:
: University of Chicago Press, 1993.
and Devaluing the Future. The Quarterly Review of Biology, v. 80, p. 55-60, 2005. with Special Reference to Education. 314 ed. Chicago
of Population
ambiental, op. cit., Schultz, in Investing in People: the Economics
43
Vide, entre as diretivas sustentáveis de vida, G. Tyler Miller Jr. in Ciência Vide, ainda, Theodore W.
p- 135: “Não podemos sustentar indefinidamente uma civilização que exaure
e degrada Quality. Berkeley: University of California Press, 1981.
o cn!
36 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 1 | 37
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE - CONCEITO

das transformações, eis exemplos de aplicativos de difícil serão impositivas. É certo, hoje, que a degradação
refutação: ambiental encontra-se significativamente correla-
(a) Os combustíveis fósseis são responsáveis por inú- cionada à baixa performance escolar. Logo, força
meros malefícios em matéria de saúde pública, enfrentá-la, nessa perspectiva, assim como a pobreza
para além dos transtornos ligados à temperatura. multidimensional.“ Imperativo, por todos os moti-
Vai daí que, à luz da sustentabilidade, ainda que
vos (éticos, jurídico-políticos, sociais, econômicos
haja muito petróleo em águas profundas e apesar e ambientais), conferir um tratamento integrado à
das tentações do pré-sal, a era desses combustíveis
degradação das escolas e à performance escolar. As
(largamente dominantes ao longo do Século XX)
dimensões têm de ser tratadas em sincronia. O atraso de
precisa ser, a pouco e pouco, ultrapassada, certo
como é que aqueles países que não investirem em ener- uma delas (no caso, a ambiental) acarreta o atraso das
gias renováveis (a cada passo, mais competitivas) restarão demais dimensões. Na natureza, o inter-relacionamento
literalmente fossilizados e caducos. Por outro lado, se é dado inelutável.
o enxofre, liberado pelo diesel mineral, à diferença (c) Umnovo urbanismo, o das cidades saudáveis,º com o
do diesel vegetal, mata milhares de pessoas por ano, cumprimento enérgico do Estatuto da Cidade” e da
elimine-se tal veneno, o quanto antes. Ainda: se os Lei de Mobilidade Urbana,” é outro exemplo robusto
policloretos, utilizados em sistemas elétricos, são de providência sinérgica e sistêmica cogente, à luz
compostos químicos causadores de vários tipos de da sustentabilidade, seja via regularização fundiária,
câncer, mister abandoná-los, na linha da Convenção seja via arquitetura e construção verdes ou incentivo
de Estocolmo, sem tardar.“ prioritário ao transporte público, seja via urgente
(b) Uma visão multidimensional da sustentabilidade contenção das encostas e remoção das pessoas de
implica o aproveitamento de providências sistêmi-
cas, que levem em conta as evidências empíricas
daquilo que realmente funciona: por exemplo, se escolaridade dos pais, e em particular a da mãe, é, de forma robusta, a mais importante
para determinar o desempenho educacional dos jovens em questão. Um ano adicional de
as melhorias de infraestrutura sabidamente con- escolaridade dos pais leva a um acréscimo de cerca de 0,3 ano de estudo para os filhos”
tribuem para o avanço de aprendizagem,” então (p. 27). Especificamente quanto ao impacto da infraestrutura: “O impacto estimado (pelo
índice sintético/média simples) de passarmos de uma escola próxima à casa do aluno, que
funciona durante o dia, onde os alunos passam mais de quatro horas por dia e que possua
todos os equipamentos desde livros até computadores e vídeo, para uma sem qualquer
46
equipamento, distante, que funciona à noite e uma jornada diária inferior a quatro horas é
Vide Diogo Pupo Nogueira et al. in Acúmulo de policloretos de bifenila na população da equivalente a cerca de 0,9 ano de estudo” (p. 28).
Grande São Paulo, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 21, n. 4, p. 279-290, 1987. saúde
Vide o Índice de Pobreza Multidimensional, que mostra as privações em educação,
4 Vide João Batista Gomes Neto, Eric A. Hanushek e Ralph W. Harbison, in Efficiency- e padrão de vida, lançado pelo PNUD em conjunto com a Oxford Poverty and Human
Enhancing Investments in School Quality. In: Nancy Birdsall Richard H. Sabot. Development Initiative (OPHIN), encartado no Human Development Report 2010.
Opportunity Foregone: Education in Brazil. Washington, DC: Inter-American Development 49
Vide pesquisas do Centro de Estudos, Pesquisas e Documentação em Cidades Saudáveis —
Bank, 1996, p. 385-424, A propósito, Gustavo Ioschpe, in A ignorância custa um mundo: o
valor da educação no desenvolvimento do Brasil. São Paulo: Francis, 2004, p. 181-182,
CEPEDOC, sediado na USP e criado em 2000 a partir do movimento Cidades Saudáveis.
arrola os fatores que têm efeito positivo comprovado sobre educação, a começar pela
so
Vide Lei nº 10.257/2001: “Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desen-
escolaridade dos pais, passando pela infraestrutura e manutenção da escola, entre outros, volvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes
tais como o conhecimento do professor de sua área de ensino, disponibilidade de livros diretrizes gerais: 1 - garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à
didáticos e materiais de apoio, frequência da realização de deveres de casa, assiduidade terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte
e status socioeconômico dos alunos. Vide, a respeito da importância da escolaridade e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; (...)”.
dos pais, Ricardo Paes de Barros et al. in Determinantes do desempenho educacional 5
Vide Lei nº 12.587/2012: “Art. 5º A Política Nacional de Mobilidade Urbana está funda-
no Brasil. Texto para Discussão, n. 834, p. 1-33, out. 2001, em cujas conclusões se lê: “Os mentada nos seguintes princípios: (...) II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas
resultados encontrados revelam que, dos quatro conjuntos de variáveis analisadas, a dimensões socioeconômicas e ambientais; (...)”.
Tg A O O
CAPÍTULO 1 | 39
38 | | SUSTEN
UAREZ FREITAS
TABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO

áreas de risco, devidamente mapeadas. Chuvas de dessas questões difíceis, que envolvem o meio ambiente,
omissão não podem continuar matando, ano após em sentido larquíssimo.*
ano. Cumpre introjetar e fazer respeitar, sem pro- Tais exemplos são, por ora, suficientes para introduzir o
crastinação, o direito fundamental (tutelável judi- próximo tópico, no qual se enfatizará que a sustentabilidade
cialmente) a cidades integradas, amistosas, seguras tem de ser encarnada, eficaz e consistentemente, sob pena de
e fluentes. servir como simples discurso de propaganda.
(d) As insofismáveis mudanças climáticas” não podem
ser ignoradas, nos seus múltiplos impactos sociais
e econômicos, eis que, sempre à luz da sustentabi- 1.5 Sustentabilidade não é princípio abstrato:
lidade, requerem o compromisso mensurável com vincula plenamente
metas rigorosas de redução das emissões dos gases
de efeito estufa (sem gerar guerra ambiental pre- As limitações do atual modelo de crescimento pelo cres-
datória entre os Estados — o que seria uma versão cimento (inconfundível com o desenvolvimento aqui pleiteado)
Zz

pavorosa, no plano interno, da guerra fiscal ou, no são evidentes. O planeta está no limite da exaustão. E bem
plano externo, da guerra cambial). Com efeito, as provável que, em dado momento, haja até severa disruptura,
mudanças climáticas simplesmente têm o condão na qual os modelos neokeynesianos não consigam dar conta,
de minar os esforços de segurança alimentar? e de na velocidade desejada.º Nesse quadro, a sustentabilidade não é
combate à miséria. Como se percebe, o compromisso princípio abstrato ou de observância protelável: vincula plenamente
com a sustentabilidade é mais do que o aproveita- ese mostra inconciliável com o reiterado descumprimento da função
mento das janelas de oportunidade da chamada socioambiental de bens e serviços. Nessa linha de raciocínio, não se
economia “verde”, embora não as exclua. Investe mostra razoável tratá-lo como princípio literário, remoto ou de
numa autêntica mudança de lógica, como demonstra concretização adiável, invocado só por razões de marketing
o exemplo. A lógica cooperativa do tipo “win-win” é que ou de pânico. As suas razões, devidamente calibradas, são
carece de ser firmemente expandida, no enfrentamento filosóficas e biológicas. Razões éticas e constitucionais.

2 Vide o decreto de regulamentação da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), % Vide a definição ampla de meio ambiente de G. Tyler Miller Jr., in Ciência ambiental, op.
de São Paulo, em cumprimento,da Lei nº 13.798/2009, que estabeleceu a meta de reduzir cit., p. 3: “Meio ambiente é tudo o que afeta um organismo vivo (qualquer forma de vida
20% das emissões dos gases de efeito estufa (meta mais rigorosa do que a estatuída pelo única)”.
Protocolo de Quioto, com os seus vários equívocos). Força convir, no caso brasileiro, que o 5 Vide, sobre os limites ecológicos e a necessidade de reformulação da economia, a obra im-
melhor seria haver uma meta federativa, no intuito de evitar guerra entre os Estados, que pactante (ainda que, a seu modo, otimista) de Paul Gilding, in The Great Disruption: Why
podem oferecer metas menos restritivas a empresas, no afã errado de atraí-las. the Climate Crisis Will Bring on the End of Shopping and the Birth of a New World, op.
3 Vide a versão inicial do documento “The future we want”, da Rio+20, o draft zero — ex- cit. Vide, ainda, André Lara Resende, in Os novos limites do possível. Valor Econômico, São
cessivamente tímido —, no qual constou: “88. We reaffirm that climate change is one of the Paulo, 20 jan. 2012.
greatest challenges of our time, and express our deep concern that developing countries are
5 No entanto, já existe tentativa de marketing baseado em valores, que reconhece a im-
particularly vulnerable to and are experiencing increased negative impacts from climate Kotler, Hermawan
portância de maior consciência ambiental. Vide, nessa linha, Philip
change, which is severely undermining food security and efforts to eradicate poverty, and
Kartajaya e Iwan Setiawan, in Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing
also threatens the territorial integrity, viability and the very existence of small isle and
centrado no ser humano. Rio de Janeiro: Campus, 2010, p. 191: “Entre os benefícios, estão
developing states. We welcome the outcome of COP17 at Durban and look forward to the
urgent implementation of all the agreements reached”. redução de custos, melhor reputação e maior motivação dos empregados”.
a Eos
TO |
DADE — CONCEI
SUSTENTABILI

onal bra-
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40 | JUAREZ FRE EITO AO FU
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io à saúde,*
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os , assim dizer, em do qual não podem se subt
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bienta is me nt e do princípio re pt o (c og ni ti vo e volitivo), do Di re it o e OS operador
tos sociais, am re ta 0 l
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imeiro da teoria gera
Assimilado dess le va nt es ob rigações. EM pr os pensadores telige e ap
nt licação.
descendem re e, coibida por sua in
fundamental va r à vi da , em sua diversidad responsáveis
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lugar, à obrigaçã ue ld ad e (n ão apenas contra
forma de cr tecipar, prevenir
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toda e qualquer ri ga çã o de se an e a to- de sustent incípio
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nc ei to pr oposto para O pr
à pr od ei s o co deter-
assegurando à bo
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gação de responde Er
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partilhada e soli
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ir pa ra O co ns umo esclarecido co nc re ti za
da sociedade pela mente inclusivo, durável e
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tanto como à ob rítico))? O trabal
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e o acesso à moradi ho ra s preferencialment vimento
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incípio em o ao bem-estar. o, O desenvol
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Vide, sobre O
consumo e o
P: 37: “O co ns umo é um grande oposição fundamental entre
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a figura do cons
42 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO | 43

Entendida, portanto, com base nesses elementos indis- Sen, por exemplo, trabalha para introduzir indicadores mais
sociáveis, a sustentabilidade, corretamente assimilada, consiste em avançados. Com efeito, no importante relatório da Comissão
assegurar, hoje, O bem-estar material e imaterial, sem inviabilizar Stiglitz-Sen-Fitoussi,* a sustentabilidade desponta como um
o bem-estar, próprio e alheio, no futuro. Desse modo, quando dos fatores a serem considerados na avaliação da performance
colegas, como Anthony Giddens,º opõem (até certo ponto, econômica.
compreensíveis) reservas à expressão desenvolvimento sus- Melhor assim. Sendas se, a passo e passo, os sérios en-
tentável,” vendo-a como oxímoro (contradição em termos), ganos induzidos pelo PIB, que não mede qualidade de vida.
estão a cogitar de acepção demasiadamente convencional do Ter, a propósito, o sexto PIB do mundo pode não representar
desenvolvimento, isto é, aquela que o embaralha com o cres- muita coisa, especialmente se o país deixar a desejar em itens
cimento econômico e se exprime no velho PIB. como renda per capita, probidade nas relações públicas e pri-
Entretanto, o desenvolvimento não precisa ser contraditório vadas, qualidade educacional, respeito à biodiversidade e
com a sustentabilidade. Claro que não, Desde que se converta confiabilidade do ambiente negocial.
num deixar de se envolver (des-envolver) com tudo aquilo que Avança-se (lentamente,é verdade) rumo à avaliação
aprisiona e bloqueia o florescimento integral dos seres vivos. líquida e qualitativa da atividade econômica. Eis o rumo conve-
Dito de outro modo, uma vez reconcebido, o desenvolvimento niente, a despeito das fortes resistências culturais a sobrepujar,
pode-deve ser sustentável, contínuo e duradouro. notadamente daqueles que parecem não querer que aflorem
Afortunadamente, surgem alternativos indicadores mais as verdadeiras prioridades constitucionais ou que se deixam
confiáveis do que o PIB, ao passo que outros são redesenhados. enredar, sem soluções, na chamada tragédia dos bens comuns.
Certo: a seu tempo, o Índice de Desenvolvimento Humano (que Desde logo, impõe-se pôr em realce, como reconhece o
mede renda, longevidade e educação) representou um considerável próprio Anthony Giddens, que a sustentabilidade “implica
progresso, apesar de simples e limitado em sua métrica sin- que, ao lidarmos com problemas ambientais, estamos em
tética.º2 Não faz muito, aliás, foi reformulado.“ Mais: Amartya busca de soluções duradouras, não de jeitinhos a curto prazo.
Temos que pensar a médio e longo prazos e desenvolver estra-
tégias que se estendam por essas escalas temporais. Existe a
9 Vide Anthony Giddens, in A política da mudança climática. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. Para
uma crítica, vide José Eli da Veiga, in Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor, op.
obrigação de considerarmos de que modo as políticas atuais
cit., p. 42-43. Observa: “Neste livro uma de suas afirmações mais chocantes é de que o tenderão afetar a vida dos que ainda não nasceram”.
crescimento econômico nunca cessará, sem sequer mencionar o imenso acúmulo teórico
e empírico da economia ecológica, desde as contribuições de Georgescu-Roegen até as de
Peter Victor, passando pelas de Herman F. Daly. (...) Por mais que os crentes na eternidade
do crescimento econômico mereçam respeito, é incrível que um acadêmico tão renovado foi substituído pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita. No tocante à educação, em
desconheça a profunda fundamentação na economia ecológica, da ideia oposta”. lugar da taxa bruta de matrícula, entrou o número estimado de anos de estudos. Mais; em
: 4 Video Relatório Brundtland: Report of the World Commission on Environment and Development: vez da taxa de analfabetismo, restou introduzida a média de anos de estudo da população
Our Common Future. New York: United Nations, 1987. adulta. Nesses moldes, o Brasil ficou no 73º lugar (0,699).
& Vide, entre outros, os Calvert-Henderson Quality of Life Indicators, com várias dimensões da * Vide o documento Commission on the Measurement of Economic Performance and Social
vida contempladas (education, employment, energy, environment, health, human rights,àincome, Progress: “We are also facing a looming environmental crisis, especially associated with
infr astructure, national security, public safety, re-creation, shelter). - global warming. Market prices are distorted by the fact that there is no charge imposed
63 on carbon emissions; and no account is made of the cost of these emissions in standard
À vista da mudança metodológica, pode-se denominar novo IDH o que consta no docu-
mento da ONU, intitulado A verdadeira riqueza das nações: vias para o desenvolvimento national income accounts. Clearly, measures of economic performance that reflected these
humano, divulgado em Nova Iorque, -em novembro de 2010. A lista é liderada pela environmental costs might look markedly different from standard measures”.
Noruega (0,938) e a pior posição coube ao Zimbábue (0,140). O índice, ora reformulado, & Vide Garrett Hardin, que popularizou o tema, in The Tragedy of the Commons. Science,
segue abarcando os indicadores de educação, de renda e de longevidade (estabelecidos em v. 162, n. 3859, p. 1243-1248, Dec. 131 1968.
1990), mas com alterações nos dois primeiros subíndices. No caso da renda, o PIB per capita 5 Vide Anthony Giddens, in A política da mudança climática, op. cit., p. 88.
GEO el o
CAPÍTULO 1 | As
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO
44 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

Justamente por isso, não se admite a métrica tradicional tomar as necessárias medidas adaptativas. Malthus,º a pro-
pósito, errou na extrapolação alimentar, todavia não pode ser
do desenvolvimento (bruto e, não raro, brutal), consoante o
qual só os povos que atingissem determinado patamar de
considerado falho naquilo que enxergou como dificuldade na
expansão populacional desenfreada. Em menos de 50 anos,
desenvolvimento passariam a se preocupar com questões
ambientais. Tudo errado.
no século XX, o mundo multiplicou por três a sua população.
Tal concepção distorcida e antiquada merece cair em O consumo de energia aumentou várias vezes mais. Natu-
profundo descrédito, dado que se impõe admitir, com real ralmente isso não acontece sem enorme impacto negativo.
senso de urgência, que o planeta pode se tornar simplesmente Negligenciar esse fenômeno pode ser fatal.
inviável para a vida humana, a persistir o ritmo de crescimento A ocupação judiciosa do solo — sem violência e sem que
poluente e o uso desmedido dos recursos naturais. o Estado Constitucional deixe de comparecer — é outro dos
imperativos descendentes da sustentabilidade, ainda que se
estime o crescimento populacional estacionário ou negativo,
1.7 Se o homem insistir em destruir o planeta, antes em vários países, em 2030. É que a média engana e, nos se-
a espécie humana será extinta tores de mais baixa renda, o crescimento demográfico, sem
esclarecimento e sem planejamento voluntário, frequentemente
O crescimento econômico, sem respeito ao direito fundamental opera acima do razoável e de modo dramático.”
ao ambiente limpo e ecologicamente sadio, provoca danos irreparáveis A pouco e pouco, porém, observa-se o despertar da com-
ou de difícil reparação. É chegada a hora de precificar a inércia perante preensão de que as dissipações de energia podem provocar danos
esses males tenebrosos. Com efeito, o homem não pode exercer ambientais irreversíveis ou de difícil reparação, de modo que se revela
o papel de asteroide” destruidor e nada criativo, pois se é ver- essencial rever a relação entre economia e vida, sem qualquer aposta
dade, como dito no início desse capítulo, que o planeta não frívola ou adocicada nos milagres da tecnologia. Esta, sem
corre grande perigo (os irisetos, por exemplo, sobreviveriam dúvida, quando sensata e limpa,” tende a auxiliar muito (as
ao aquecimento global mais intenso),* a humanidade poderá células solares, o etanol, os veículos elétricos ou a hidrogênio,
ser extinta, em função do aumento exagerado da poluição e da
temperatura, fenômenos com inegável componente de culpa
humana, mercê do imediatismo e da falta de solidariedade & Vide Eduardo Giannetti, in Ricardo Amt (Org.). O que os economistas pensam sobre sus-
intergeracional. tentabilidade. São Paulo: Editora 34, 2010, p. 79, a propósito de Malthus: “Ele errou ao
extrapolar a restrição do lado alimentar, mas acertou na ideia de que populações e padrões
O papel eticamente esperado, nesse contexto, é o de de vida não se sustentam indefinidamente”.
salvar a humanidade dela mesma, enquanto é tempo, O que inclui 7 Não se trata de ser otimista ou pessimista, em matéria populacional, mas de adotar posição
que estimule transição demográfica para taxas de fertilidade mais baixas nos países mais
pobres, como observa Jeffrey Sachs, in A riqueza de todos: a construção de uma economia
sustentável em um planeta superpovoado, poluído e pobre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008, p. 199: “Embora a taxa de crescimento da população mundial tenha-caído, qualquer
7 Vide Niles Eldredge, in Pesquisa FAPESP, São Paulo, abril 2008. Suplemento Especial
complacência em relação ao incremento demográfico do planeta seria um equívoco”. Por
- Revolução Genômica, ao sustentar que os seres humanos são equivalentes atuais do isso, pondera, o “mundo deve adotar um conjunto de políticas que, por meio de escolhas
meteoro que matou os dinossauros. Vide, ainda, Edward Osborne Wilson, in La creación: voluntárias, ajude a estabilizar a população do planeta” (p. 200).
salvemos la vida en la tierra. Buenos Aires: Katz, 2006, p. 122: “Pero no cabe dudar que
71 Vide José Eli da Veiga, in Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor, op. cit., p. 38:
somos el gran meteorito de estos tiempos ni de que hemos iniciado el sexto cataclismo de
la historia fanerozoica”. “= “qualquer profunda transformação do que se pode chamar de “modelo dominante de civi-
lização' jamais vai ser obtida sem muita inovação, adaptação e reforma”.
Vide José Eli da Veiga, in Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor, op. cit., p. 35.
|
46 JUAREZ FREITAS
e
SUSTENTABILIDADE = DIREITO AO FUTURO E CAPÍTULO1 7
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO | 4

o plástico verde? e o grafeno” são provas eloquentes disso), deixar nítido que as necessidades atendidas não podem ser
mas não pode tudo. Quadra referir, a propósito, o trabalho aquelas artificiais, fabricadas ou hiperinflacionadas pelo con-
instigante de Nicholas Georgescu-Roegen,”* por sua proposta sumismo em cascata. Como se ponderou, em lugar da tríade
de aplicação à economia da noção de entropia, numa relei- de elementos básicos do conceito do Relatório (ou seja, (1) o
tura da segunda lei da termodinâmica, que tem, no mínimo, | desenvolvimento (2) que atende as necessidades das gera-
o mérito de apontar os vícios do pensamento, segundo o qual ções presentes (3) sem comprometer as gerações futuras),
a economia seria moto perpétuo. O
melhor é adotar uma série mais completa de elementos, nos
Com efeito, seria tolo não perceber a significação es-
moldes aqui preconizados. Com efeito, apesar dos méritos, o
tratégica de (tentar) conciliar tecnologia e modernização conceito do Relatório não se mostra suficiente, nem adianta
ecológica,” contudo com a condição de que não se caia na acrescentar, como fez Robert Solow, que a sustentabilidade
armadilha do otimismo excessivo e panglossiano. determinaria que a nova geração mantivesse o mesmo padrão
de vida da geração atual, assegurando está condição para
a
geração subsequente.”s
1.8 Relatório Brundtland foi e é importante, mas Avanço realmente expressivo consiste em dizer com
cumpre dar novos passos Amartya Sen que, uma vez recaracterizada, “a liberda
de sus-
Adota-se, como se observa, um conceito eminentemente ( tentável poderá soltar-se dos limites que lhe vêm das formu-
valorativo e multidimensional de sustentabilidade, que não se resume lações propostas pelo Comitê Brundtland e por Solow, para
ao suprimento das necessidades. abraçar a preservação e, quando possível, a expansão das
Verdade que o desenvolvimento sustentável, para o liberdades e capacidades substantivas das pessoas dos dias de
Relatório Brundtland, da Comissão Mundial sobre Meio hoje, “sem” com isso, “comprometer a capacidade das futuras
Ambiente e Desenvolvimento, de 1987, no citado documento gerações” para terem uma idêntica ou maior liberdade”7
Nosso futuro comum, seria aquele que satisfizesse as necessi- Acrescente-se: sustentável é a política que insere-todos os
dades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações seres vivos, de algum modo, neste futuro comum, evitand
o apego
futuras de suprir as suas. excessivo a determinado padrão material de vida.” Por outras
Trata-se de progresso histórico, digno de nota. Entre- palavras, considerar a satisfação das necessidades
das gerações
tanto, indispensável aperfeiçoar esse conceito, com o fito de atuais e futuras foi e é relevante, mas diz muito
pouco sobre
o caráter valorativo da sustentabilidade.”

? Sobre o “plástico verde” (polímero verde), convém examinar a experiência da Brasken, * Vide Robert M. Solow, in An almost Practical Step toward
em Triunfo (RS), ainda que não signifique que seja um plástico mais degradável do que Sustainability. Resources Policy,
o v.19,n.3, p. 168, Sept. 1993: “The duty imposed by sustaina
convencional. bility is to bequeathto posterity
. notany particular thing — with the sortofrare exception Ihave
? Sobre o grafeno, recorde-se que receberam o Prêmio Nobel de Física de 2010 Andre mentioned — but rather to
Geim e endow them with whatever it takes to achieve a standard
Konstantin Novoseloy, que descobriram, com o uso de uma of living at least as good as our
fita adesiva normal, esse novo own and to look after their next generation similarly”.
material, muito mais resistente do que o aço, ótimo condutor e altamente flexível.
7 Vide Amartya Sen, in Desenvolvimento como liberdade. São Paulo:
?* Vide Nicholas Georgescu-Roegen, in The Entropy Law and the Economic Process. Cambridge: 2000, p. 343.
Companhia das Letras,
Harvard University Press, 1971. .
Vide Amartya Sen, in Desenvolvimento
como liberdade, op. cit., p. 342, que bem exemplif
Vide, para um panorama da ecological modernization theory, Arthur P. J. Mol e David ica
e

A. com a responsabilidade que temos com o futuro das espécies


ameaçadas com extinção, por
Sonnenfeld, in Ecological Modernisation around the World: an Introduction. apreço
In: Arthur P. a valores, não para reforçar os nossos padrões de vida.
J. Mol e David A. Sonnenfeld. (Ed.). Ecological Modernisation around the World: Perspectives
Vide Amartya Sen, in Desenvolvimento como liberdade,
and Critical Debates. London: Frank Cass, 2000, p. 3-16. op. cit. p. 343: “Podemos ter muitas
razões para os nossos esforços de conservação — nem
todas elas sendo parasitárias dos
| CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO | 49

JUAREZ FREITAS
48 | |
SUSTENTABILIDADE —
DIREITO AO FUTURO

de
to do Convém notar que se o desenvolvimento aparece,
ndo em relação ao concei
A sustentabilidade, evolui priamen- modo expresso, no preâmbulo da Constituição, a sustenta-
assumir as demandas pro constitucional
Relatório Brundtland, faz zo, bilidade surge, por assim dizer, como qualificação
físico e psíquico, a longo pra do art. 225. Ou
te relacionadas ao bem-estar ais e O insuprimível do desenvolvimento, sob o influxo
to às necessidades materi
acima do simples atendimen ustrial, seja, consoante a Carta, O desenvolvimento
que importa é aquele
produzidos, em escala ind lidade, condicionado
faz sem ampliar os riscos que se constitui mutuamente com a sustentabi
pelo próprio ser humano. erimenta notável por ela. Qualquer outro será inconstituciona
l.
Desse modo, o desenvolvimento exp Nessa perspectiva, em lugar do desenvolvimentis
mo
camente consistente: todo e
reconfiguração para se fazer eti r da cego ou, na melhor das hipóteses, míope, O conceito tem
tornar, a longo prazo, negado de enver-
qualquer desenvolvimento que se de dar conta da sustentabilidade como prinçípio
pague elevados tributos, não há outra
dignidade dos seres vivos em geral, ainda que gadura constitucional —-até porque, a rigor,
daí, abandonar
será tido como insustentável. escolha juridicamente aceitável — e, a partir
ceito seja pronun- valor
Mas ainda não é tudo. É preciso que con o viciante modelo do crescimento quantitativo como
mente. Numa expressão: em si. Decididamente, à sustentabilidade é que deve adjeti
var,
ciadamente includente, política e social
sentido lato. Populações ao desenvolvimento,
incorpore a “justiça ambiental”, em condicionar e infundir as suas características
tarde, terão de reagir contra
excluídas ou reprimidas, cedo ou nunca o contrário.
gero, pois, dizer que toda
os tentáculos da repressão. Não é exa
entável. Nessa medida,
repressão ou iniquidade afigura-se insust incluir a
pensar em planejamento estratégico nunca
poderá ser colidente com 1.9 O conceito de sustentabilidade deve
. De fato, é pressuposto multidimensionalidade do bem-estar
a primazia da equidade intergeracional
ipação, na tomada das
da boa governança a mais larga partic Na sociedade de risco mundial, na qual não mais
pode excluir os legiti-
decisões, porém essa participação não podem ser negligenciadas as consequências invol
untárias
sso ao bem-estar, seja
mados futuros, que merecem igual ace (externalidades)º e a dramaticidade das questões ambie
ntais
relações privadas de
nas relações de direito público, seja nas lato sensu (notadamente as causadas por atuação
e omissão
tabilidade insira
consumo. humanas), é irrenunciável que o conceito de susten
aperfeiçoado de
Importante sublinhar que O conceito a multidimensionalidade do bem-estar como opção delibe
rada pelo
r, sob hipótese alguma, à condição isso, não
sustentabilidade não pode ignora reequilíbrio dinâmico a favor da vida. Precisamente por
da, a sua estatura consti- ser sabid amente
jurídico-política do princípio, melhor ain icação
faz sentido, por exemplo, conservar nada que possa
a brasileiro), sem prejuízo da densif onismo
tucional (no sistem dos
destrutivo para a saúde humana, sob pena de preservaci
itações, art. 3º, além autoriza
infraconstitucional (vide a Lei de Lic simplista, tampouco cair naparalisia do pânico, que nada
lmente
exemplos ministrados no Capítulo 5). fazer. E somente o desenvolvimento duradouro e socia
gica”
homeostático,! que faz consciente cada “pegada ecoló
e algumas
nas nossas necessidades de satisfação)
nossos próprios padrões de vida (ou reconheçamos uma risco, Ulrich Beck, in World Risk Society.
» Vide, nesse enfoque, ainda que variável a noção de
sentid o de valore s e para que
delas apelam sobretudo para o nosso nte não
o autor destaca que a “questão do ambie Cambridge: Polity, 1999; especialmente p. 48-90.
nossa responsabilidade fiduciária”. Mais: m com atitude
a de preservaçã o”, mas també no enfoque do livro, construída intencio-
tem apenas a ver com uma atitude passiv ação e ao melhoramento do s Homeostase, além de biológica, pode-deve ser,
ao nosso alcanc e proce der à ampli tudo a cargo de um automatismo autorregulador (supressor
ativa, sendo certo que “está nalmente, pois é erro deixar
ambiente natural em que vivemos” (p. 340).
| M
CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE - CONCEITO [51
JUAREZ FREITAS
50 SUSTENTABILIDADE = DIREITO AQ
FUTURO.

cumprimento alastrado da sustentabilidade como


constantes no conceito aqui
e se mostra fiel aos elementos princípio constitucional, na cena concreta. Afinal,
entos: (1) a sustentabilidade
proposto. Recapitulando tais elem para crises sistêmicas, impõem-se soluções sistêmicas, |
imediatamente aplicável,
é princípio constitucional direta e para estruturais e interdisciplinares,* cooperativas e
mera aptidão
(2) reclama eficácia (resultados justos, não
a eficiência, sempre globais, com o engajamento de todos, não apenas |
produzir efeitos jurídicos), (3) demand | 7
ar O ambiente limpo, dos governos.”
subordinada à eficácia, (4) intenta torn
(5) pressupõe a probidade, nas relações púb
as,
licas e privad A sustentabilidade vincula ética e juridicamente, em
(6) implica prevenção, (7) precaução (8) e soli
dariedade intergera- sentido forte, pois se trata de princípio constitu-
cional, com o reconhecimento pleno dos direitos
das gerações cional implícito, incorporado por norma geral in-
dade solidária do Esta do clusiva (CE, art. 5º, par. 2º), a requerer eficácia direta
presentes e futuras e (9) da responsabili
iar O bem-estar e imediata dos imperativos da responsabilidade parti-
e da sociedade, (10) tudo no sentido de propic
duradouro e multidimensional. lhada pelo ciclo de vida dos produtos e serviços. Tornou-
proposto
Com tais aportes, é que se chegou ao conceito se, ademais, princípio estampado na legislação
: é o princípio
de sustentabilidade, que, vale agora reprisar infraconstitucional (por exemplo, no art. 3º da Lei nº
direta e imediata, a res-
constitucional que determina, com eficácia 8.666, que explicita o princípio do desenvolvimento
retização solidária
ponsabilidade do Estado e da sociedade pela conc sustentável). Algo que reforça o dever imediato de
inclusivo, du-
do desenvolvimento material e imaterial, socialmente sua cabal observância, para além do antropocentris-
ador, ético e eficiente,
rável e equânime, ambientalmente limpo, inov mo hiperbólico e arrogante: sem negar a dignidade
o preventivo e
no intuito de assegurar, preferencialmente de mod humana, mostra-se imperioso entender o princípio
estar.
precavido, no presente e no fututo, o direito ao bem- constitucional da sustentabilidade como diretiva
Ou, numa fórmula sintética: é o princípi o cons titucional que
l, econômico, ambiental, que promove aquele desenvolvimento compatível
determina promover o desenvolvimento socia
ições favo- com a universalização da dignidade dos seres vivos
ético e jurídico-político, no intuito de assegurar as cond
ras. em geral, vedada toda e qualquer prática cruel.
ráveis para o bem-estar das gerações presentes e futu
Nesse prisma, eis, em síntese, os fios condutores do

presente livro: Paul W. Glimcher, in


, é juri- Vide, como possível contribuição inovadora e interdisciplinar,
(1) 7 Asustentabilidade é multidimensional (ou seja
2
omic Analysis. New York: Oxford Universit y Press, 2011. Vide,
Foundations of Neuroecon
ental),
dico-política, ética, social, econômica e ambi
As Possible” Effect in Human
ainda, Joseph W. Kable e Paul W. Glimcher, in An “As Soon
ms. Journal of
ravolta Intertemporal Decision Making: Behavioral Evidence and Neural Mechanis
o que pressupõe, antes de tudo, uma revi Neurophysi ology, v. 103, n. 5, p. 2513-2531, May 1º 2010.
te
hermenêutica habilitada a produzir o descar
Bring on the End
Vide Paul Gilding, in The Great Disruption: Why the Climate Crisis Will

-E
a system problem, so
. of Shopping and the Birth of a New World, op. cit. p. 315: “We have
de pré-compreensões espúrias e unidimensio- we need a system solution. How do we do that? The only force on earth
powerful enough
impe de o in India, the
nais, com a libertação de tudo o que entrepren eur bringing energy to her village
to fix this now is us. The woman
CEO in Davos cleverly using
organic farmer in Australia locking up carbon in the soil, the
ice cores in Antarctica, and the
his power to shift market attitudes, the scientists taking
more. AJ of us, acting
mother in China teaching her children how to shop less and live
as disfunções, independentemente de
da liberdade de escolha) que daria conta de todas collectively”.
autono mia do natural —vide Dale Jamieson. limitado e despótico,
Vide, no sentido da preconizada superação do antropocentrismo
nossa influência. Embora se admita a relativa
p. 256 —, não se pode diminuir o peso da
Ética & meio ambiente: uma introdução, op. cit. elucidativa decisão do STF: “A promoção de briga de galos,
ar prática
além de caracteriz
destino de nossa espécie e, de certo modo, de a à Constituição
ação ou da omissão humana, na definição do criminosa tipificada na legislação ambiental, configura conduta atentatóri
todas as espécies.
CAPÍTULO 1
| 58
52 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE — CONCEITO

(NI) A sustentabilidade não se coaduna com a crença pueril Decididamente, o qualitativismo tem de ocupar
no crescimento material como fim em si, tampouco se o lugar das mensurações quantitativistas de vista
coaduna com o regressivismo de qualquer matiz: im- curta.
porta preservar, com senso crítico, o legado da (V) A sustentabilidade prescreve que o progresso material
biodiversidade, assim como ultrapassar as limi- não pode sonegar o imaterial, nem o curto prazo pode
tações inerciais, por exemplo, no enfrentamento ocorrer às custas do longo prazo, convindo prati-
dos malefícios causados por espécies exóticas car uma educação multidimensional balanceada,
invasoras. nésses moldes, no campo das inteligências e da
(IV) “A sustentabilidade deve estar indissoluvelmente asso- vontade, para desmistificar os vieses de julgamento
ciada ao bem-estar duradouro, especialmente em face (descritos em capítulo próprio), no processo de
do stress climático e das vulnerabilidades sociais tomada de decisão.
correlacionadas. O PIB, como indicador econômi- (VI) A sustentabilidade implica a prática da equidade, na)
co, deve ser lido criticamente. Novos indicadores, relação com as gerações futuras e, ao mesmo tempo, a
atentos às várias dimensões da sustentabilidade, realização da equidade no presente, cumprindo o papel
precisam ocupar, gradativamente, o seu lugar de, em parceria e de maneira coordenada, erradicar
(ou, na pior das hipóteses, servir de contraponto a miséria e as discriminações (inclusive de gênero),
a ele), em face dos desafios gigantescos trazidos promover a segurança e a reeducação alimentar,
pelas mudanças climáticas, relacionadas às falhas universalizar a prevenção e precaução em saúde
de mercado” (a desafiar revisão da teoria das ex- pública, induzir o consumo lúcido (desmistificada
ternalidades) e às crassas injustiças ambientais. a“ética romântica”* do consumismo desastroso”),
regularizar a ocupação segura do solo e garantir o
da República, que veda a submissão de animais a atos de crueldade, cuja natureza acesso a trabalhos decentes.
perversa, à semelhança da “farra do boi (RE nº 153.531/SC), não permite sejam eles qua-
lificados como inocente manifestação cultural, de caráter meramente folclórico. (...) Essa
E
(VII) A sustentabilidade requer, com ousadia crítica, uma
especial tutela, que tem por fundamento legitimador a autoridade da Constituição da “cidadania ecológica” (para evocar a expressão de
República, é motivada pela necessidade de impedir a ocorrência de situações de risco que uma cidadania ativista
ameacem ou que façam periclitar todas as formas de vida, não só a do gênero humano,
Mark Smithº), ou, melhor,
mas, também, a própria vida animal, cuja integridade restaria comprometida, não fora a do bom desenvolvimento, aliado da justiça ambiental
vedação constitucional, por práticas aviltantes, perversas e violentas contra os seres irra-
cionais, como os galos de briga (gallus-gallus)” (ADI nº 1.856/RJ, Pleno. Rel. Min. Celso de (cujas “campanhas demonstram o potencial para
Mello, unânime. Julg. 26. 5.2011. DJe, 14 out. 2011). relacionar as desigualdades sociais e a pobreza
8
Vide, a propósito da relação entre mudanças climáticas e falhas de mercado, Nicholas
H. Stern, in The Stern Review Report on the Economics of Climate Change. London: HM
Treasury, 2006, p. 25: “The climate is a public good: those who fail to pay for it cannot be
excluded from enjoying its benefits and one person's enjoyment of the climate does not é Vide Colin Campbell, in The Romantic Ethic and the Spirit of Modern Consumerism. Oxford:
diminish the capacity of others to enjoy it too. Markets do not automatically provide the Basil Blackwell, 1987.
right type and quantity of public goods, because in the absence of public policy there are
% Vide Anthony Giddens, in Sociologia, op. cit., p. 145-146: “Em uma perspectiva ambiental,
limited or no returns to private investors for doing so: in this case, markets for relevant
a “ética romântica” do consumismo é desastrosa. Constantemente, queremos novos pro-
goods and services (energy, land use, innovation, etc.) do not reflect the consequences of
dutos, e cada vez mais. (...) embora os abastados sejam os principais consumidores do
different consumption and investment choices for the climate. Thus, climate change is an
mundo, o dano ambiental causado pelo consumo crescente mostra seu maior impacto
example of market failure involving externalities and public goods. (...) The basic theory of Pessoas
sobre os pobres. (...) A pobreza também intensifica esses problemas ambientais.
externalities and public goods is the starting point for most economic analyses of climate
'com poucos recursos têm poucas opções além de maximizar os recursos disponíveis”.
change and this Review is no exception. The starting point embodies the basic insights J. Smith, in Ecologism: towards Ecological
& Vide, sobre “cidadania ecológica”, Mark
of Pigou, Meade, Samuelson and Coase (...). But the special features of this particular
externality demand, as we shall see, that the economic analyses go much further”. Citizenship. Buckingham: Open University, 1998.
CAPÍTULO 2
com as questões ambientais, prometendo tornar
o ambientalismo mais do que apenas um movi-
mento de defesa da natureza”, como observou,
com propriedade, Anthony Giddens*”). Um novo
E

movimento cívico, sem linearismo ingênuo, no em-


penho de implementar uma Agenda da Sustenta-
bilidade coerente e justa,” via eficientes, eficazes O QUE SE ENTENDE POR
e equitativas políticas públicas (mais de Estado NATUREZA MULTIDIMENSIONAL
Constitucional do que de governo) e programas de DA SUSTENTABILIDADE
expansão estruturada” das dignidades de todos os
seres vivos. Em resumo, quer-se encorajar, no conflito
entre a sustentabilidade equitativa e a insaciabilidade
patológica, a opção inequívoca pelo novo paradigma. Sumário: 2.1 A sustentabilidade é pluridimensional — 2.2 Dimensões da sus-
Crucial destacar, uma vez mais, que a sustentabilidade tentabilidade (social, ética, jurídico-política, econômica e ambiental) —
2.2.1
é que deve adjetivar, condicionar e infundir as suas características = Dimensão social da sustentabilidade — 2.2.2 Dimensão ética da sustentabilidade
4
E

- 922.3 Dimensão ambiental da sustentabilidade — 2.2.4 Dimensão econômica


ao desenvolvimento, nunca o contrário. Não pode ser ardilosa- - — 2.3
da sustentabilidade — 2.2.5 Dimensão jurídico-política da sustentabilidade
mente esvaziada pelo crescimento econômico descriterioso e - Dimensões entrelaçadas — 2.4 Sustentabilidade é princípio-síntese que deter-
agressivo. Por isso, prefere-se falar em sustentabilidade, em vez de | mina a proteção do direito ao futuro
desenvolvimento sustentável. Para acentuar que a Constituição a

quer que ela prepondere, determine, modele. De fato e de


direito, a sustentabilidade é, em sentido forte, princípio fundamental 2.1 A sustentabilidade é pluridimensional
que gera novas obrigações e determina, antes de mais nada, a
Assentado que o princípio da sustentabilidade molda
E

salvaguarda do direito ao futuro, precisamente o tema a ser (não o contrário), cumpre


e condiciona o desenvolvimento
examinado no capítulo a seguir.
aprofundar: o que se entende por sustentabilidade multidi-
mensional, isto é, o que condiciona o desenvolvimento de
maneira a ensejar o bem-estar das gerações presentes sem
& Vide Anthony Giddens, in Sociologia, op. cit. p. 151. Bem conclui, à p. 152: “As ideias do
prejudicar a produção do bem-estar das gerações futuras?
desenvolvimento sustentável, modernização ecológica e justiça e cidadania ambientais Três pontos se destacam.
têm ajudado a promover algumas mudanças importantes nas relações entre os seres hu- questão
manos e o meio ambiente e a produção de tecnologias ecologicamente sensíveis (...) a
Em primeiro lugar, a sustentabilidade é uma
responsabilidade ambiental emergente pode garantir uma demanda crescente por esses de inteligência sistêmica e de equilíbrio ecológico em sentido
avanços”. Alerta, com razão, à p. 153: “A maioria das questões ambientais envolve riscos
fabricados, pois elas foram geradas pela atividade humana”. amplo. É, cognitiva e axiologicamente, diretiva relacionada
so Vide Julian Agyeman, Robert D. Bullard e Bob Evans (Ed.). Just Sustainabilities: Development
Earthscan, 2001.
ao desenvolvimento material e imaterial (no sentido de não
adstrita à mera satisfação das necessidades básicas). Sem dú-
in an Unequal World. London:
Vide, sobre estruturação, além de reflexão e aproveitamento, Howard Gardner, in Mentes
9
extraordinárias: perfis de quatro pessoas excepcionais e um estudo sobre o extraordinário vida, se encarada exclusivamente como material, desemboca
em cada um de nós. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 152: “estruturar é a capacidade de
construir experiências de um modo positivo, de um modo que nos permita extrair lições naquele trágico e irresponsável crescimento orientado pelo
adequadas e assim, estimulados, seguirmos em frente na vida”.
56 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 2 |
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL, DA SUSTENTABILIDADE

paradigma da insaciabilidade predatória e plutocrática. Em tormentosas dificuldades ambientais e uma noção demasiado antro-
contrapartida, se não for também material, perde-se nas nu- pocêntrica — não raro, cruel — da dignidade, que só tem negado
vens. Logo, deve ser material e imaterial, concomitantemente, o que há mais digno no próprio ser humano: a sua capacidade
à altura do oferecimento científico? de respostas concretas, de medir consequências e de exercitar, com espírito equitativo,
eficientes, eficazes e universalizáveis. o senso prospectivo de longo prazo, de molde a assegurar a
Em segundo lugar, a pluridimensionalidade, criticamente todos, nascidos e ainda não nascidos, humanos e não huma-
reelaborada, conduz à releitura ampliativa da sustentabilidade (para nos, o direito inalienável ao futuro.
além do consagrado tripé social, ambiental e econômico). Em terceiro lugar, uma acepção acanhada da sustentabi-
Com o acréscimo elucidativo de duas dimensões e com o abandono lidade, em versão mono, pouco ou nada serve, já porque não
de compreensões demasiado reducionistas, torna-se factível dá conta do entrelaçamento das dimensões, já porque deixa
alcançar o desenvolvimento que importa! em sintonia com de incorporar a dimensão valorativa ou ética do desenvolvimento
a resiliência dos ecossistemas” e com a equidade intra e in- (imperativo de universalização concreta das práticas condu-
tergeracional. centes ao bem-estar duradouro) e a dimensão jurídico-política
Tarefa de .densificação normativamente prioritária, como (normatividade de princípio constitucional, direta e imedia-
sublinhado no Capítulo precedente, dado que, à vista da tamente incidente), que muda a concepção e a interpretação
crise ambiental (com milhões de refugiados climáticos) e da de todo o Direito (como é o caso emblemático do Direito
poluição desenfreada e fáustica (que, a cada ano, mata mi- Administrativo, que incorporou explicitamente o princípio,
lhões), não somente espécies são afetadas, mas ecossistemas no plano das normas infraconstitucionais).
inteiros.” Em larga escala, forma-se o nexo causal direto entre as Por essas três razões, no presente capítulo, defender-se-á
uma estratégica releitura da sustentabilidade, com o escopo
de produzir o acréscimo das dimensões ética e jurídico-política,
? Vide Simon A. Levin e William C, Clark (Org.). Toward à Science of Sustainability: Report from evitado qualquer unidimensionalismo. Sustentabilidade é mul-
Toward a Science of Sustainability Conference. Cambridge; Princeton: Center for Inter-
national Development; Princeton Environmental Institute. (CID Working Paper n. 196). tidimensional, porque o bem-estar é multidimensional. Para con-
? Vide John Elkington, in Sustentabilidade, canibais com garfo e faca. São Paulo: M, Books do solidá-la, nesses moldes, indispensável cuidar do ambiental,
Brasil, 2012, p. 107-135, sobre a teoria do triple bottom line e para uma nova contabilidade
que dê conta dos pilares econômico, social e ambiental. Observa, a propósito: “a transição
sem ofender o social, o econômico, o ético e o jurídico-político.
para a sustentabilidade necessitará de uma mudança de paradigma pós-1945, com base E assim reciprocamente, haja vista o fenômeno indesmentível
em objetivos de quantidade, para um paradigma do século 21, com base cada vez mais na
qualidade de vida observada” (p. 133).
da interconexão.” Por isso, uma dimensão carece logicamente do
* Vide Edgar Morin e Anne Brigitte Kern, in Terra-pátria. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011, reforço das demais. Todas as dimensões entrelaçadas compõem
p- 83, que propõem “rejeitar o conceito subdesenvolvido do desenvolvimento que fazia
do crescimento tecno-industrial a panaceia de todo desenvolvimento antropossocial, e re- o quadro de cores limpas da sustentabilidade como princípio
nunciar à ideia mitológica de um progresso irresistível que cresce ao infinito”. constitucional e como valor.
& Resiliência entendida como aptidão de um sistema, após stress, retomar a sua posição
normal ou anterior. Vide, a propósito, o relatório do Painel de Alto Nível do Secretário-
Geral das Nações Unidas sobre Sustentabilidade Global, intitulado Povos resilientes, planeta
resiliente: um futuro digno de escolha. Nova Iorque: Nações Unidas, 2012.
está ficando preta”. Adiante, observam, com acerto: “o problema da alteração climática é
96
Vide Gabrielle Walker é Sir David A. King, in O tema quente: como combater o aquecimento uma questão de legado” (p. 57).
global e manter as luzes acesas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 46, a propósito do aque- ” Vide, sobre o bem-estar e a ciência de network, Nicholas A. Christakis e James H. Fowler,
cimento global: “Também está afetando ecossistemas inteiros. Os dois exemplos mais dra- in Connected: the Surprising Power of our Social Networks and how they Shape our Lives.
máticos são os recifes de coral, que estão ficando brancos, e a calota de gelo do Ártico, que New York: Little, Brown, 2009.
58 | JUAREZ FREITAS |
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE

2.2 Dimensões da sustentabilidade (social, ética, lidade, amiga


Nesse ponto, na dimensão social da sustentabi
jurídico-política, econômica e ambiental) direitos fundamentais sociais, que requerem os co
er rogramas relacionados à universalização, com
Por outras palavras, enquanto é tempo, cumpre assimilar
pe o sob pena de o modelo de governança (pú-
a sustentabilidade em sua riqueza poliédrica.* Não pode ser vel.
vítima dos enfoques banalizantes e dos simplismos metodo- O sprivada) ser autofágico e, numa palavra, insustentá
a
lógicos, por mais sedutores e convenientes que aparen Des de idosos, por exemplo, têm de ser RE
à Ra
tra qualquer exclusão ou desamparo. O qe
tem ser,
Nesse contexto, há, sem hierarquia rígida e sem caráter Sea
sua vez, exige a regularização fundiária ejust i
exaustivo, pelo menos, cinco dimensões da sustentabilidade,
da mesma árvore, expostos a seguir.
galhos
ostos, o direito à concessão de uso de em pú
E E ais no Eine à dimensão em tela, verifica-se, por
no eo
Envio, que o mais meritório dos produtos,
2.2.1 Dimensão social da sustentabilidade ão do ambiente, será mani fest amen te insus
ú tap or meio de trabalho indecente, para evocar
Dimensão social, no sentido de que não se admite o
do desenvolvimento excludente e iníquo. De nada serve cogitar
modelo E a ssa da OIT/ À evidência, o meio ambiente
dE a
da sobrevivência enfastiada de poucos, encarcerad A Eabalho não pode prosseguir
os no estilo
oligárquico, relapso e indiferente, que nega a conexão de todos física e psicologicamente, so
a As ASAE, por sua vez, precisam, ao a
os seres vivos, a ligação de tudo” e, desse modo,
a natureza e Pe
imaterial do desenvolvimento. educar para competências e habilidades
ne ae
Logo, não pode haver, sob a égide do novo paradigma, social” produtivo,'“* em vez do desfile de métodos
edi e
espaço para a simplificação mutiladora,'º assim como não
se inúteis e subavaliados. Entretanto, para que
es ps Rs
admite a discriminação negativa (inclusive de gênero). Válida
s são papel, inadiável a tomada de providências
fa
apenas as distinções voltadas a auxiliar os desfavorecidos, me- o qualificado aumento dos investimentos naquito q
diante ações positivas"! e compensações que permitam funciona, dado que as escolas não A
fazer provadamente
;
frente à pobreza medida por padrões confiáveis, que levem
em continuar a ser depósitos de alunos, perdidos no atraso
conta necessariamente a gravidade das questões ambientais.1
2 na repetência e no abandono.”

% Não se descartam outras dimensões mais específic


as, como a estética (em última instância,
um valor), mas as cinco apresentadas parecem, por
ora, suficientes para sublinhar a com- idge: ility inability Centre; : St. Edmund's's College, 2008,
stainabili
Plexidade com que se precisa tratar o tema da sustentabilidade o mimar hou tato into account the environment.
multidimensional. Rr ded ecosystemse increase hunger, exacerbating i risks,
isks, diseases and e taking children
? Vide Albert-Lázló Barabási, in Linked: How Everything is e o ns
Connected to Everything Else poverty cannot ignore t h e 1
and what it Means for Business, Science, and Everyday Life. New o of
out O aehiça : Efforts to ) reduce human na 1
York: Plume, 2003. E PA o
“9 Vide, sobre a complexidade do sistema ecológico global, tems play-in shaping human lives”.
Anthony M. H. i
J. Radaliffe, in Sustainability: a Systems Approach. London: Earthscan Clayton e Nicholas ud Aide oae Perfil do trabalho decente no Brasil. Escritór io da Organiz ação Internac
, 1996, p. 34. : EE
"B Vide Robert H. Socolow e Stephen W. Pacala, in A Plan to Keep . Brasília; Genebra: OIT, 2009.
Carbon in Check. Scientific at o na ge
American, 295(3), p. 57, Sept. 2006: “Fortunately, the goal RA auE Helliwel l e Robert Putnam, in The Social
of decarbonization does not v. 359, n. 1449, p. 1444, 2004: “Our ne RE
conflict with the goal of eliminating the world's most extreme g d Va i | Sciences,
! 444,
poverty.
The extra carbon gm
emissions produced when the world's nations accelerate
the delivery of electricity and Oat s ataid ae subjective well-being through many indepen:
linked to sub)
modem cooking fuel to the earth's poorest people can be compens E À
ated for by, at most, one “ls and in several different forms”.
fifth of a wedge of emissions reductions elsewhere”. ra Ae
oO eia De olho nas metas 2011, lançado em fevereiro e pedi
102
Vide, para análise sob este ângulo, documento prep de 4 a
arado por Flavio Comim ef.al., in cação. a Os números são alarmantes: 3,8 milhões de pessoas
Poverty & Environment Indicators: Prepared for
UND P-UNEP Poverty and Environment fora da escola.
Cpo
60 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 2
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE 61

Consigne-se que, comprovadamente, as sociedades equi- que aqueles que possuem a maior ata gons ciência assumam
tativas, não as mais ricas e assimétricas, são aquelas percebidas como
a tarefa de, sem encolher os ombros, resguardar a integridade
as mais aptas a produzir bem-estar. Em suma, a sustentabilidade,
na sua dimensão social, reclama:
e nobreza de caráter," de sorte a não permitir dano injusto,
(a) o incremento da equidade intra e intergeracional;
por ação ou omissão. Todi iueidude está proibida, por Herta
(b) condições propícias ao florescimento virtuoso das poten- prática jamais universalizável razoavelmente, contrária que
cialidades humanas, com educação de qualidade para é à qualidade intra e intergeracional da vida. Ss
o convívio; e Ao mesmo tempo, sublinhe-se que a dimensão ética
(c) por último, mas não menos importante, o engaja- mostra-se eminentemente racional, pois, nos seres humanos,
mento na causa do desenvolvimento que perdura e faz decorre da preponderância da racionalidade (córtex pré-
a sociedade mais apta a sobreviver, a longo prazo, frontal) sobre a zona límbica dos impulsos tirânicos da insa-
com dignidade e respeito à dignidade dos demais ciabilidade (às voltas com os aludidos bens posicionais) e dos
seres vivos. vícios comportamentais associados. Há, nessa perspectiva, o
dever ético racional de expandir liberdades e dignidades, assim como
de permitir que cada ser humano atue como uma espécie de
2.2.2 Dimensão ética da sustentabilidade
cocriador dos destinos.
Dimensão ética, no sentido de que todos os seres possuem Existe, de fato, o dever ético indeclinável e natural de sus-
uma ligação intersubjetiva e natural, donde segue a empática
tentabilidade ativa, que não instrumentaliza predatoriamente, mas
solidariedade como dever universalizável de deixar o legado
intervém para restaurar o equilíbrio dinâmico. Por outras palavras,
positivo na face da terra, com base na correta compreensão
“existe o dever de ser benéfico para todos os seres, nos limites
darwiniana de seleção natural, acima das limitações dos
formalismos kantianos e rawlsianos. do possível, não apenas deixar de prejudicá-los. Uma atitude
Não se admite, nesse enfoque, qualquer contraposição rígida eticamente sustentável é apenas aquela que consiste em agir
entre sujeito e objeto ou entre sujeito e natureza, tampouco se cai de modo tal que possa ser universalizada a produção do bem-estar
no monismo radical que tenta suprimir as diferenças entre o duradouro, no íntimo e na interação com a natureza Jo
cultural e o natural. O outro, em seu devido apreço, jamais pode Por outras palavras, a atitude ética sustentável dá cabo
ser coisificável, convertido em “commodity”. Cooperação aparece, de dupla tarefa: alcançar bem-estar íntimo e, simultaneamente,
nesse contexto, como magno dever evolutivo, favorável à con- o bem-estar social, na ciência de que, após determinado pata-
tinuidade da vida como sistema ambiental,1% cada vez mais mar de renda, o fim da iniquidade é, sensivelmente, melhor
rico e complexo.!” retorno do que o avantajamento econômico pleonástico, ao
Tal percepção ética habita o íntimo de cada um (embora
débil fagulha em criaturas demasiado instintivas), convindo
"5 Vide Norberto Bobbio, in Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cul-
"8 Vide Samuel Murgel Branco, in Ecossistêmica: uma abordagem integrada dos problemas tura na sociedade contemporânea. São Paulo: Unesp, 1997, p. 29: “Embora eu seja um
meio ambiente. 2. ed. São Paulo: Blucher, 1999, p. 93-94.
do admirador incondicional das grandes descobertas no campo da ciência, admiro com mais
devota reverência a nobreza de uma consciência moral”. ae
107
Vide James Garvey, in The Ethics of Climate Change: Right and Wrong in a Warming World.
19 Vide Dale Jamieson, in Ética & meio ambiente: uma introdução, op. cit., p. 7: “Não há mais
London: Continuum, 2008. mn
dúvida de que a problemática do meio ambiente constitui uma questão moral (...)”.
BITAS CAPÍTULO 2
O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE
'ABILIDADE - DIREITO AO FUTURO | 63

lado da certeza de que, mormente após esse patamar, o cresci- fundamento ético da sociedade, porque — não custa reiterar
mento econômico se converte, no geral das vezes, numa fonte — é muito fácil reconhecer, sem controvérsia séria, que uma
considerável de ansiedade, depressão e doenças similares."º postura insaciável, por mais que seja invejada ou emulada, revela-
Claro, por si, o progresso material bruto não representa, se completamente incapaz de produzir o bem-estar duradouro,
comprovadamente, nenhuma garantia de bem-estar. Não por individual e coletivamente. Em contrapartida, uma relação
acaso, estudos revelam que os ricos não se percebem necessa- exemplar entre ética e economia, por exemplo, serve de
riamente mais felizes.” Daí que se mostra eticamente vital motor para a promoção do bem-estar multidimensional'? e
introduzir uma alocação defensável dos recursos públicos para a correção das falhas estruturais de mercado (tendente à
poupados, agora redirecionados à universalização do bem- entropia, se permanecer solto), assimilado o bem-estar como
estar, em vez de devorados pelo submundo de falsas priori- direito fundamental (oponível a terceiros), a ser tutelado ante-
dades das oligarquias autocentradas. O próprio Estado Consti- cipatoriamente (sempre que necessário), sem provocar dano
tucional, bem observado, só encontra sentido a serviço dos fins injusto. O resto é sofisma e perda de tempo.
éticos fundamentais, diretamente relacionados à sustentabilidade A dimensão ética da sustentabilidade, desse modo, re-
do bem-estar. clama, sem subterfúgios, uma ética universal concretizável, com
Não por outro motivo, pode-se dizer que, para o prin- o pleno reconhecimento da dignidade intrínseca dos seres vivos em
cípio da sustentabilidade, importa é a vontade ética, ou seja, geral, acima dos formalismos abstratos e dos famigerados
coerente, principialista e capaz de produzir bem-estar mate- transcendentalismos vazios.
rial e imaterial ao maior número possível, sem perder de vista Ademais, uma concepção ética consistente da sustenta-
o ideal regulador do bem de todos (CF, art. 3º). Por certo, a bilidade é, por definição, a de longo espectro. Permite perceber o
atitude ética da sustentabilidade nada tem a ver com o mora- encadeamento das condutas, em lugar do mau hábito de se deixar con-
lismo, que jamais se universaliza de modo satisfatório. Nem finar na teia do imediato, típico erro cognitivo dos que não entendem
sucumbe ao relativismo hipócrita, eis que existem consensos “o impacto retroalimentador das ações e das omissões.
éticos indisputáveis. Va Tal ética da sustentabilidade torna plausível, quando
Não se admite escapismo, a propósito: toda corrupção, espargida, o acolhimento de princípios como prevenção e
direta ou indireta; material ou imaterial, resulta eticamente precaução, equidade e solidariedade intergeracional.
reprovável, não universalizável a longo prazo e, nessa medida, Em síntese, a ética da sustentabilidade reconhece (a) a
francamente insustentável. Ou seja, a honestidade de propósitos ligação de todos os seres, acima do antropocentrismo estrito, (b) o
evolutivos é, sim, ingrediente de qualquer filosofia consistente de sus- impacto retroalimentador das ações e das omissões, (c) a exigência
tentabilidade, nas relações públicas e privadas, acompanhada de universalização concreta, tópico-sistemática do bem-estar e (d)
da capacidade de antever os impactos sistêmicos. O engajamento numa causa que, sem negar a dignidade humana,
Todavia, há os que se perdem na busca “metafísica” do proclama e admite a dignidade dos seres vivos em geral.
fundamento ético último. Este é desnecessário para o bom

Nº Vide, em pesquisa a ser aprimorada, Richard G. Wilkinson e Kate Pickett, in The Spirit Level: “É Vide Amartya Sen, in Sobre ética e economia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 105:
Why Equality is Better for Everyone. London: Penguin Books, 2010, p. 5-6. Sobre igualdade “Procurei mostrar que a economia do bem-estar pode ser substancialmente enriquecida
e sustentabilidade, vide p. 217 et seq. atentando-se mais para a ética, e que o estudo da ética também pode beneficiar-se de um
»? Vide Daniel Kahneman e Angus Deaton, in High Income Improves Evaluation of Life but contato mais estreito com a economia. Também demonstrei que pode ser vantajoso até
not Emotional Well-Being. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States mesmo para a economia preditiva e descritiva abrir mais espaço para considerações da
of America — PNAS, v. 107, n. 38, p. 16489-16493, Sept. 21% 2010. economia do bem-estar na determinação do comportamento”.
64 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 2 | 65
SUSTENTABILIDADE —- DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE

22.3 Dimensão ambiental da sustentabilidade à biodiversidade, sob pena de empobrecimento da qualidade


Quer-se aludir, com a dimensão propriamente ambiental geral da vida. Em sentido figurado, não se pode queimar a árvore
da sustentabilidade, ao direito das gerações atuais, sem prejuízo para colher os frutos. Não faz sentido contaminar águas vitais
das futuras, ao ambiente limpo, em todos os aspectos (meio eco-. e se queixar de sede. O ar irrespirável não pode continuar a
logicamente equilibrado, como diz o art. 225 da CF). sufocar e a matar. O saneamento é cogente. O ciclo de vida dos
De fato, certo como é que a degradação ambiental pode, produtos e serviços é responsabilidade a ser compartilhada,
no limite, inviabilizar a vida humana (e inviabilizou civiliza- tempestivamente. A crueldade contra a fauna é violência inad-
ções), incontornável se mostra o seu enfrentamento hábil e missível. A alimentação não pode permanecer contaminada e
tempestivo, com ciência, prudência e tecnologia. Por exemplo, cancerígena. Os gases de efeito-estufa não podem ser emitidos
construções sustentáveis, com o chamado greenbuilding,“ perigosamente e sem critério. A economia de baixo carbono é
têm de ser fortemente incentivadas e exigidas pelas políticas meta inegociável. As florestas não podem deixar de cumprir
públicas. Saber lidar inteligentemente com as inovações, eis as suas funções sistêmicas. O ser humano não pode, enfim, per-
outro ponto nevrálgico." manecer esquecido de sua condição de ser eminentemente natural,
O que não faz o menor sentido é persistir na matriz embora dotado de características singularizantes, que apenas
comportamental da degradação e do poder neurótico sobre a deveriam fazê-lo mais responsável sistemicamente e capaz de
natureza, não somente porque os recursos naturais são finitos, negociar com diferentes pontos temporais."s
mas porque tal despautério faz milhões de vítimas no caminho. Em suma, (a) não pode haver qualidade de vida e longevidade |
É altamente falacioso tentar escapar das responsabilidades digna em ambiente degradado e, que é mais importante, no limite,
pelos desequilíbrios ambientais, atribuindo exclusivamente (b) não pode sequer haver vida humana sem o zeloso resguardo da
a culpa à natureza, mecanismo clássico de fuga pusilânime. sustentabilidade ambiental, em tempo útil, donde segue que (c) |
Com efeito, como dizem David A. King e Gabrielle Walker, é ou se protege a qualidade ambiental ou, simplesmente, não haverá
“verdade que as fontes materiais emitem muito mais dióxido futuro para a nossa espécie.
de carbono do que os humanos, mas também é verdade que
as fontes naturais absorvem muito mais dióxido de carbono.
Falando de modo geral, a natureza está em equilíbrio no que 2.2.4 Dimensão econômica da sustentabilidade
respeita ao carbono. As emissões humanas é que tiraram o
Dimensão econômica da sustentabilidade evoca, aqui, a
mundo desse equilíbrio”.s
pertinente ponderação, o adequado “trade-off” entre eficiência e
Não se admite, no prisma sustentável, qualquer evasão
equidade, isto é, o sopesamento fundamentado, em todos os empreen-
da responsabilidade humana, vedado o retrocesso no atinente
dimentos (públicos e privados), dos benefícios e dos custos diretos
e indiretos (externalidades). A economicidade, assim, não pode
“8 Vide, sobre greenbuilding, André Trigueiro, in Mundo sustentável: abrindo espaço na mídia ser separada da medição de consequências, de longo prazo.
para um planeta em transformação. Rio de Janeiro: Globo, 2005.
us Vide, sobre inovação, especialmente a de ruptura, Clayton M. Christensen, in The Innovator's
Nessa perspectiva, o consumo e a produção precisam ser
Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail. Boston: Harvard Business
School Press, 1997.
“5 Vide Gabrielle Walker e Sir David A. King, in O tema quente: como combater o aquecimento
global e manter as luzes acesas, op. cit. p. 243. Quanto ao aquecimento, esclarecem: “O Nó Vide David Eagleman, in Incógnito: as vidas secretas do cérebro. Rio de Janeiro: Rocco,
problema mais sério (...) é que agora já é quase certamente impossível restringir o aqueci- 2012, p. 133: “A consequência impressionante é que a mente pode negociar com diferentes
mento a 2ºC, Se tivéssemos começado duas décadas atrás, teríamos uma boa chance” (p. 95). pontos temporais dela mesma”.
66 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO o que SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSION
CAPÍTULO 2
AL DA SUS!TENTABILIDADE [67

reestruturados completamente, numa alteração inescapável Jlongo prazo, O sistema competente de incentivos ea eficiência
do estilo de vida.!” A natureza"! não pode ser vista como sim- | norteada pela eficácia. E supõe, além disso, regulação idônea e
ples capital e a regulação estatal se faz impositiva para coibir “enérgica para evitar a formação de bolhas especulativas e os
o desvio comum dos adeptos do fundamentalismo voraz de
mercado, que ignoram a complexidade do mundo natural.“ infames esquemas Ponzi, cujo desfechoé a fatídica explosão.
Portanto, ignorar a relação umbilical entre economia e susten-
A par de tudo isso, numa abordagem econômica sus-
tabilidade significa deixar de ver o princípio numa de suas
tentável, o investimento educacional robusto (com bons gastos,
dimensões vitais.
em vez de mais gastos), amplia a renda, numa equação custo-
Em última análise, a visão econômica da sustentabili-
benefício que pende para externalidades altamente positivas,
dade, especialmente iluminada pelos progressos recentes da
tornando-se prioridade das prioridades. Seguramente, como
economia comportamental, revela-se decisivo para que (a) a
o abandono da pobreza liberta para alçar voos maiores,”
“sustentabilidade lide adequadamente com custos e beneficios, diretos
nada mais sustentável do que investir naquilo que promove
e indiretos, assim como o “trade-off” entre eficiência e equidade intra
a emancipação econômica. Nesse passo, como salientado,
novos indicadores são indispensáveis (superiores ao limitado e intergeracional; (b) a economicidade (princípio encapsulado no art.
e limitante PIB), tendo como mote.inspirador o Report by the 70 da CF) experimente o significado de combate no desperdício “lato
Commission on the Measurement of Economic Performance sensu” e (c) a regulação do mercado aconteça de sorte a permitir que
and Social Progress (Stiglitz, Sen, Fitoussi).!2! a eficiência guarde real subordinação à eficácia.
A sustentabilidade econômica tem a ver, negativamente
falando, com a situação grega, cuja falta de cuidado regu-
latório, transparência e de responsabilidade fiscal mostrou-se
2.2.5 Dimensão jurídico-política da sustentabilidade
emblemática sinalização dos perigos da negação dos pressu- Dimensão jurídico-política ecoa o sentido de que a sus-
postos econômicos do desenvolvimento durável. tentabilidade determina, com eficácia direta e imediata, indepen-
Por todos os ângulos, a sustentabilidade gera uma nova. dentemente de regulamentação, a tutela jurídica do direito ao futuro
economia, com a reformulação de categorias e comportamentos, e, assim, apresenta-se como dever constitucional de proteger a
o surgimento de excepcionais oportunidades, a ultrapassagem liberdade de cada cidadão (titular de cidadania ambiental ou ecoló-
do culto excessivo dos bens posicionais, o planejamento de gica), nesse status, no processo de estipulação intersubjetiva do con-
teúdo intertemporal dos direitos e deveres fundamentais das gerações
W7 Vide Tim Jackson, in Sustainable Consumption and Lifestyle Change. In: Alan Lewis (Ed.).
presentes e futuras, sempre que viável diretamente?
The Cambridge Handbook of Psychology and; Economic Behaviour. Cambridge: Cambridge Não se trata de princípio potencial, para usar a tipologia
University Press, 2008, p. 335-362.
18 Sobre conceitos de natureza, vide Anthony Giddens, in Sociology. 6% ed. Cambridge: Polity,
de Lang.» É princípio vigente, que supõe, antes de mais nada,
2009, Chapter 5, p. 153 et seg. 0 reconhecimento de novas titularidades e a completa revisão das
“2 Vide Edward Osbome Wilson, in La creación: salvemos la vida en la tierra, op. cit,, papi
im Vide Ignacy Sachs, Carlos Lopes e Ladislau Dowbor, que assinalam, com propriedade, que
a “teoria tão popular de que o pobre se acomoda se receber ajuda, é simplesmente des-
mentida pelos fatos: sair da miséria estimula”, in Crises e oportunidades em tempos de “2 Vide Juarez Freitas, in Direito constitucionalà democracia. In: Juarez Freitas e Anderson V.
mudança: Documento de referência para as atividades do núcleo Crises e Oportunidades Teixeira (Org.). Direitoà democracia: ensaios transdisciplinares. São Paulo: Conceito, 2011,
no Fórum Social Mundial Temático — Bahia. p: 19.
21 Vide Joseph E. Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi, in Report by the Commission on "É Vide Winfried Lang, in UN-Principles and International Environmental Law. Max Planck
the Measurement of Economic Performance and Social Progress. Yearbook of United Nations Law, v. 3, p- 157-172, 1999.
68 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 2 | 69
O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

teorias clássicas dos direitos subjetivos: acolhe-se, mercê do novo | (a) o direito à longevidade digna, assegurado mediante po-
paradigma, o direito fundamental de gerações futuras, que líticas públicas intra e intergeracionais de bem-estar
sequer nascituros são. Supõe, ainda, novo limitador estatal, físico e mental, focadas na prevenção e na precaução,
que incorpora q proibição de toda e qualquer crueldade contra os com prioridade à proteção dos mais frágeis e o ofere-
seres vivos, não somente humanos. Supõe nova concepção dos cimento de trátamento e remédios gratuitos para os
bens jurídicos, disponibilidade e funcionalização. Supõe outra carentes, assim como disciplina adequada do sistema
concepção de trabalho, consumo e produção, com a ampliação (público e privado) de saúde (por exemplo, consulta
da tutela do consumidor atual e — convém não estranhar — do médica em tempo razoável e o enfrentamento organi-
consumidor futuro. Supõe redesenhar o Direito Administrati- zado das dependências químicas de vários matizes);
vo da Regulação, que não mais sucumba à omissão causadora (b) o direito à alimentação sem excesso e carências, isto é,
de danos inter e intrageracionais, sob a alegação de risco de balanceada e saudável, com amplo acesso à infor-
captura. Supõe que os deveres de precaução e de prevenção mação sobre os efeitós perniciosos, por exemplo, do
acarretem, quando implementados, a completa reformulação excesso de gorduras, sal e açúcares (cujo consumo
da teoria da responsabilidade civil e penal. Supõe, em síntese, pode ser viciante e gerador de distúrbios mortais
uma nova hermenêutica das relações jurídicas em geral. como a diabete!2);
Esse plexo de mudanças brota, por assim dizer, não de (c) o direito ao ambiente limpo, com vigoroso incentivo
uma vaga “norma intersticial” ,2* como diria Lowe, mas de um as energias renováveis,” e o planejamento estatal
princípio jurídico,” vinculante em sentido forte, endereçado, voltado para o reequilíbrio dinâmico do sistema
direta e imediatamente, à tutela efetiva dos direitos relativos complexo da vida, sem inercismo inconstitucional;
ao bem-estar duradouro das atuais gerações, sem prejuízo do (d) o direito à educação de qualidade, desde cedo, com des-
bem-estar das gerações futuras, incidindo sobre o sistema inteiro, taque para o incentivo harmonioso das inteligências
a exigir destacadamente o resguardo dos seguintes direitos e da vontade (não basta, é claro, a expansão quanti-
fundamentais: tativa de matrículas);
(e) o direito à democracia, preferencialmente direta, com o
emprego intensificado das novas tecnologias e das
1% Vide, sobre o caráter intersticial da sustentabilidade, porém sem reconhecer suficiente força redes sociais;
normativa ao princípio, Vaughan Lowe, in Sustainable Development and Unsustainable
Arguments. In: Alan E. Boyle e David Freestone (Ed.). International Law and Sustainable
(f) o direito à informação livre e de conteúdo qualificado, de
Development: Past Achievements and Future Challenges. Oxford: Oxford University Press, maneira a garantir, sem censura, o acesso universal
1999, p. 19-37.
“8 Vide Klaus Bosselmann, in The Principle of Sustainability: Transforming Law and Governance.
Aldershot: Ashgate, 2008, especialmente por reconhecer que a sustentabilidade reúne
condições típicas como fundamental princípio jurídico. Diz, em convergência com o aqui
reiteradamente preconizado, que não se trata de princípio aplicável apenas ao Direito é Vide Robert H. Lustig, Laura A. Schmidt e Claire D. Brindis, in Public Health: the Toxic
Ambiental: “The thesis of this book is that sustainability has the historical, conceptual Truth about Sugar. Nature — International Weekly Journal of Science, v. 482, n. 7383, p. 27-29,
and ethical quality typical for a fundamental principle of law. Like the ideals of justice Feb. 1% 2012. Vide, ainda, o World Health Statistics 2012. Geneva: WHO, 2012, que revela
and human rights, sustainability can be seen as an ideal for civilization both at national haver cerca de meio bilhão de obesos.
and international level. When accepted as a recognized legal principle, sustainability '*” Apropriadamente, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2012 o Ano Inter-
informs the entire legal system, not just environmental laws or not just at the domestic nacional de Energia Sustentável para Todos, ciente de que cerca de 3 bilhões de pessoas
level” (p. 4). Corretamente, identifica raízes remotas do princípio, muito antes do Relatório ainda vivem às custas de “biomassa tradicional”, como o carvão, com todos os imensos
Brundtland, examinando, especialmente no Capítulo 2, o status legal do princípio. prejuízos associados.
CAPÍTULO 2
O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE 71

à internet, assim como a superação da opacidade na disseminação do conceito de casa saudável e o em-
execução dos orçamentos públicos e a subordinação prego de tecnologias “verdes” para construção e
dos gastos públicos aos ditames da sustentabilidade; reconstrução:
(g) o direito ao processo judicial e administrativo com desfecho A sustentabilidade, como princípio jurídico, altera a visão
tempestivo e a melhor definição cooperativa das com- global do Direito, ao incorporar a condição normativa de um
petências,'* numa postura realmente dialógica e tipo de desenvolvimento, para o qual todos os esforços devem
preferencialmente conciliatória, dadas as limitações convergência obrigatória e vinculante. Deixa de ser um slogan
do método tradicional de comando e controle; para assumir a normatividade, como propõe Nicolas de
(h) o direito à segurança, com o emprego de persuasivas Sadeleer.!!
estratégias de ressocialização dos ímprobos e dos Como se nota, a sustentabilidade é (a) princípio constitu-
demais infratores, mas também de ações preventivas cional, imediata e diretamente vinculante (CE, artigos 225, 3º, 170,
e ostensivas; VI, entre outros), que (b) determina, sem prejuízo das disposições
(i) o direito à renda oriunda do trabalho decente, com esta- internacionais"? a eficácia dos direitos fundamentais de todas as
bilidade monetária, incentivo à poupança e respon- dimensões (não somente os de terceira dimensão) e que (c) faz des-
sabilidade fiscal; proporcional e antijurídica, precisamente em função do seu caráter
() o direito à boa administração pública, com a indeclinável normativo, toda e qualquer omissão causadora de injustos danos
regulação das atividades essenciais e socialmente “ntrageracionais e intergeracionais.'*
relevantes, à vista de que o Estado guarda comprovada
relação com o bem-estar;
(k) o direito à moradia digna e segura, com a regularização 2.3 Dimensões entrelaçadas
fundiária em grande escala (dado que boa parte da
Tais dimensões (ética, jurídico-política, ambiental, social
população vive em áreas clandestinas), remoção das
e econômica) se entrelaçam e se constituem mutuamente, numa
pessoas das áreas de risco, fiscalização periódica que
dialética da sustentabilidade, que não pode, sob pena de irre-
evite o inaceitável desabamento de prédios, cum-
mediável prejuízo, ser rompida. Não se trata, como visto, da
primento da multifuncionalidade (social, ambiental
singela reunião de características esparsas, mas de dimen-
e econômica) das propriedades públicas e privadas
soes intimamente vinculadas,"* componentes essenciais à
(CCv, art. 1228), crédito sem bolha especulativa,
modelagem do desenvolvimento. De fato. Condicionam-no.

“28 Vide, a propósito de licenciamento ambiental, a Lei Complementar nº 140, de 2011, art.
6º. “As ações de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
» Vide Nicolas de Sadeleer, in Environmental Principles: from Political Slogans to Legal Rules.
deverão ser desenvolvidas de modo a atingir os objetivos previstos no art. 3º eva ga-
Oxford: Oxford University Press, 2002.
rantir o desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas as políticas
governamentais”. “º Vide Patricia W, Birnie, Alan E. Boyle e Catherine Redgwell, in International Law and the
"2 Vide, sobre as limitações do enforcement internacional das obrigações ambientais, Philippe Environment. 3“ ed. Oxford: Oxford University Press, 2009.
Sands, in Principles of International Environmental Law. 24 ed. Cambridge: Cambridge '8 Como acentua Klaus Bosselmann, in The Principle of Sustainability: Transforming Law
University Press, 2003, p. 191. and Governance, op. cit., p. 10, a sustentabilidade desafia a própria ideia de justiça: é
0 Vide John F. Helliwell e Haifang Huang, in How's Your Government? International induvidosamente injusto viver às expensas das novas gerações.
Evidence Linking Good Government and Well-Being. British Journal of Political Science, “4 Vide Thomas E. Graedel e Ester van der Voet, in Linkages of Sustainability. Cambridge: MIT
v. 38, p. 595-619, 2008. Press, 2010.
72 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 2 | 73
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE

Moldam-no. Tingem-no. Humanizam-no. Ecologizam-no. admitir a multidimensionalidade material e imaterial, que rein-
Fazem-no duradouro, continuado, sinérgico, estimulante, sere o ser humano na natureza, sem cair em monismo radical,
inclusivo e vinculante.
supressivo da individualidade e da diferença * o
A multidimensionalidade deriva de uma propriedade
Útil aduzir em benefício da plena inteligibilidade desse
natural de difícil refutação: o inter-relacionamento de tudo,
a conexão inevitável de seres e coisas. Assim, a degradação ponto: entendido em sua condição multifacetada, o princípio
ambiental, por exemplo, encontra-se associada à degradação da sustentabilidade suscita uma autêntica transformação do
social e à criminalidade. E vice-versa. A dimensão jurídica estilo de vida, em todos os aspectos, como parte do projeto
influencia a ética, e assim reciprocamente. Noutro modo de maior de religação (mantidas as diferenças) dos seres vivos e
dizer, a sustentabilidade (longe de ser unívoca ou unilateral) só da afirmação da responsabilidade compartilhada.'*
pode ser entendida como princípio multidimensional (de raízes bio- Cumprem-se, nesse Ótica, os compromissos, não apenas
lógicas e evolutivas, com desdobramentos sociais, econômicos, éticos
com a mitigação ou com a adaptação ambiental, porém, antes
e jurídicos), em sentido forte.
de tudo, com a prevenção e com a precaução, no desiderato
Vinculada às noções-chave de empatia, equidade entre
gerações,'* longevidade digna, desenvolvimento limpo! (em de evitar danos previsíveis e, ao mesmo tempo, de. gerar o
termos físicos e éticos), a sustentabilidade reclama uma com- bem-estar sustentável.
preensão integrada da vida, para além do fisicalismo estritamente
material e das exortações românticas.
Situa-se, pois, múltiplos degraus acima do anelo de 2.4 Sustentabilidade é princípio-sintese que
simplesmente viver numa economia de baixo carbono ou de determina a proteção do direito ao futuro
combater o desperdício (o que não é pouco). É uma alteração
evolutiva deliberada, que pode ser favorecida por medidas Sustentabilidade é, por todo o exposto, princípio cons-
heterônomas, mas que depende principalmente de auto- titucional-síntese, não mera norma vaga, pois determina,
persuasão. “numa perspectiva tópico-sistemática, a universalização" con-
Trata-se, em resumo, de princípio'” ético, social, econô- creta e eficaz do respeito às condições multidimensionais da vida de
mico, ambiental e jurídico-político, que determina a descarbo- qualidade, com o pronunciado resguardo do direito ao futuro.
nização dos espíritos e uma completa revisão da normatividade
jurídica. Para implementá-lo de maneira congruente, força
5 Sempre, pois, com o cuidado para que uma suposta ecologia profunda não represente a
rasa negação de nossa racionalidade.
“5 Vide a United Nations Millennium Declaration, IV.21: “We must spare no effort to free all 19 Vide a Lei nº 12.305/2010, art. 30.
of
humanity, and above all our children and grandchildren, from the threat of living on a Ho Vide Tim Jackson, in Prosperity Without Growth?: The Transition to a Sustainable Economy.
planet irredeemably spoilt by human activities, and whose resources would no longer London: Sustainable Development Commission, 2009, p. 99: “In summary, it emerges
be
sufficient for their needs”. that governments must now engage urgently in several interrelated tasks: 1) develop
“6 Vide José Domingos Gonzalez Miguez, Adriano Santhiago de Oliveira, Gustavo and apply a robust macro-economics for sustainability 2) redress the damaging and
Luedemann e Jorge Hargrave, in O Protocolo de Quioto e sua regulamentação no Brasil. unsustainable social logic of consumerism 3) establish and impose meaningful resource
Boletim Regional, Urbano e Ambiental, v. 4, p. 39-45, jul. 2010. and environmental limits on economic activity”.
1” Vide, para contraste, a acepção fraca de sustentabilidade, assim como descrita por Jeroen 1
Bolsa Família é exemplo interessante, nesta linha, ainda que mereça ser aperfeiçoado
=

C. J. M. van den Bergh, in Sustainable Development in Ecological Economics. In: Giles com as contrapartidas pedagogicamente orientadas. Outro exemplo é o programa Luz
Atkinson, Simon.Dietz e Eric Neumayer (Ed.). Handbook of Sustainable Development, op. cit., para Todos, a despeito da lentidão do processo. Como quer que seja, a universalização de
p. 65-68. condições de renda razoável e dos serviços públicos é tarefa impostergável.
74 | JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 2 | 75
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO O QUE SE ENTENDE POR NATUREZA MULTIDIMENSIONAL DA SUSTENTABILIDADE

Requer a garantia de biodiversidade,'2 e cobra, sobre- Apresenta-se como poderoso anteparo crítico contra o
maneira, a compatibilização dos imperativos da eficiência!“ paradigma da insaciabilidade, ainda hegemônico, nos seus
(abarcando pesquisas avançadas e de fronteira), com a eficácia tentáculos corruptos, chicaneiros e dissolutos.
e a equidade intergeracional, extrapolados os limites estreitos Justamente por isso, afigura-se oportuno contrapor os
do antropocentrismo exacerbado. dois modelos de conceber e de gerir da vida. Existe o mo-
Por outras palavras, a sustentabilidade do desenvol- delo sustentável, que faz jus ao reequilíbrio dinâmico. Em
vimento, afastadas as crendices no progresso linear e auto- “contraposição, existe o modelo da insaciabilidade viciada,
mático, não é, como muitos imaginam, um princípio trivial que conspira disfuncionalmente contra a homeostase básica
de continuidade do crescimento econômico cego, a qualquer 'ecultural.!* Importante estabelecer, em seus aspectos mais
custo. Tampouco pode ser vista como relacionada a em- expressivos, o cotejo entre esses paradigmas opostos, exata-
preendimentos dirigidos à estrita e imediatista-satisfação de mente o tema do próximo capítulo.
necessidades materiais, não raro artificialmente fabricadas.
A postura sustentável, sem se autocontradizer, é bioética
(autodeterminada, materialmente justa, não maleficente e
beneficente), ecologicamente responsável e segura! que
jamais acarreta sacrifícios desproporcionais à dignidade da
vida. O que, cumpre notar, é bem mais do que defender áreas
de preservação permanente e reserva legal, apesar da impor-
tância evidente dessas lutas.

“2 Conferência sobre Biodiversidade (COP 17), realizada em Durban (2011), trouxe, ao


menos, o acordo de renovar o Protocolo de Quioto, fixando um roteiro para novo pacto
global sobre o clima mais abrangente, a partir de 2020, além de avançar no Fundo Verde
para o Clima. Por sua vez, a COP 10, realizada em Nagoya (2010), chegou a estabelecer o
Nagoya Protocol on Access to Genetic Resources and the Fair and Equitable Sharing of Benefits
Arising from their Utilization to the Convention on Biological Diversity. Sobre o Brasil, parece
ter razão Thomas Lovejoy, introdutor da expressão biological diversity nos anos 1980: “O
país está em posição de ser a “potência ambiental”. Se considerarmos o que o Brasil fez para
proteger áreas nos 40 anos que estive aqui, é impressionante. Existia apenas uma floresta
nacional. Hoje, 57% da Amazônia está sob algum tipo de proteção, federal ou estadual.
Não é suficiente, mas saindo de zero até mais da metade — e a maior parte nos últimos
10 anos — é algo substancial” (O Brasil pode ser a maior potência ambiental do planeta:
entrevista com Thomas Lovejoy. Veja, 23 nov. 2010).
“8 Vide, a propósito, a Lei nº 9.991/2000, sobre a realização de investimentos em pesquisa e
desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, per-
missionárias e autorizadas do setor de energia elétrica.
14.
Vide, a respeito de uma das possíveis tipologias principiológicas para a bioética, Tom L.
z

Beauchamp e James F. Childress, in Principles of Biomedical Ethics. 4% ed. New York: Oxford
“e Vide António R. Damásio, in O livro da consciência: a construção do cérebro consciente,
University Press, 1994.
op. cit, p. 46-47: “Tanto a homeostase básica, orientada de forma não consciente, como
145
Não por acaso, por exemplo, a Lei nº 12.334/2010 afirma didaticamente, no art. 4º, que “a
a homeostase sociocultural, criada e orientada por mentes conscientes refletivas atuam
segurança de uma barragem influi diretamente na sua sustentabilidade e no alcance de como curadoras do valor biológico. (...) No caso da homeostase sociocultural, esse objetivo
seus potenciais efeitos sociais e ambientais”. expande-se, englobando a procura deliberada do bem-estar”.
CAPÍTULO 3

CHOQUE DE PARADIGMAS
O NOVO PARADIGMA DA
SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA
DA INSACIABILIDADE PATOLÓGICA

Sumário: 3.1 Escolha inevitável — 3.2 Contraste dos paradigmas — 3.3 Em resumo

3.1 Escolha inevitável


É importante reconhecer, vez por todas, que existe um
verdadeiro conflito valorativo que não pode ser minimizado.
Um conflito autêntico de paradigmas em matéria de sobre-
vivência, que não se deixa contornar, a não ser pelo abandono
resoluto de um dos padrões referenciais.
Ainda que alguns tentem, em vão, encontrar soluções
de compromisso superficial, o certo é escolher aquele standard
que permite o desenvolvimento multidimensional, em lugar
daquele que conduz ao colapso, à doença do antropocentrismo
exacerbado, às falhas de mercado e à omissão regulatória
ruinosa.
A sustentabilidade, bem concebida, é prova robusta do
florescimento da consciência, entendida como condição pro-
cessual do ser que, por meio da mente e dos sentidos, reconhe-
ceasi próprio, na natureza, tanto pelo autoconhecimento como
pelo heteroconhecimento.” Por sua vez, a insaciabilidade

17 Sobre o conceito de consciência, para cotejo, vide António R. Damásio, in O livro da cons-
ciência: a construção do cérebro consciente, op. cit., p. 199.
78 JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 3
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO DE PARADIGMAS — O NOVO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA DA INSACIABILIDADE...
| 79
CHOQUE

predatória surge como geradora de sofrimento inútil, de falso (d) A sustentabilidade é empática e intergeracionalmente
progresso e de cumulativos desequilíbrios que encaminham solidária, ao estabelecer alargadas obrigações," tendo em
para a extinção da espécie humana. conta o reconhecimento do valor intrínseco do ambiente
Parece irrefutável, nessa altura dos acontecimentos, que saudável. Por sua vez, a insaciabilidade está voltada
apenas a sustentabilidade modelará um desenvolvimento acei- para a crença tosca de que o antropocentrismo des-
tável, com o enfrentamento hábil das mais candentes questões pótico é dado inextirpável.
do século em curso. (e) A sustentabilidade vibra com as estações, isto é, recebe
as advertências da natureza, com realismo crítico! Ao
contrário, a insaciabilidade está sempre na estação
3.2 Contraste dos paradigmas errada e conspira para que ocorram lesivas mudan-
A questão central desse capítulo é: como realizar o con- ças climáticas, causadas pela danificação irrefreada
- traste seguro entre os paradigmas da sustentabilidade e da da camada de ozônio.
insaciabilidade? Para tentar resolvê-la, eis uma contraposição, (£) A sustentabilidade alcança, com técnicas agroecológicas
deliberadamente vertida em largos traços: avançadas)? a produtividade de longo prazo. Por sua
(a) A sustentabilidade investe no uso precípuo de fontes re- parte, a insaciabilidade nunca serena as motosserras
nováveis! (especialmente, hidreletricidade, biomassa, do extrativismo de mandíbulas afiadas.
hidrogênio, solar e eólica) e no emprego racionalizado dos (g) A sustentabilidade ergue e ampara os menos favorecidos
recursos energéticos. A insaciabilidade tenta perpetuar e redefine os direitos humanos,'* à base das exigências do
o império da poluição e dos combustíveis fósseis,
pouco se importando com danos e custos associados. 150 Vide Klaus Bosselmann, in The Principle of Sustainability: Transforming Law and Governance,
(b) A sustentabilidade é engenhosa na utilização das tecnolo- - op. cit, p. 113: “From a sustainability perspective, rights need to be complemented by
obligations. Merely advocating environmental rights would not alter the anthropocentric
gias limpas e na construção “verde” 1º A insaciabilidade concept of human rights”. Mais adiante, observa, com pertinência: “A better option is
constrói em áreas contaminadas, é demasiado frágil the development of all human rights in a manner which demonstrates that humanity is
an integral part of the biosphere, that nature has an intrinsic value and that humanity
na perspectiva do tempo maior e tenta manter fór- has obligations towards nature. In short, ecological limitations, together with corollary
mulas primárias de produção e de consumo, num obligations, should be part of the rights discourse” (p. 129).
&5t Vide, sobre o realismo crítico, Anthony Giddens, in Sociologia, op. cit., p. 125: “Ao contrário do
conservadorismo sem nexo e atrasado. agnosticismo do construcionismo social em relação à realidade dos problemas ambientais,
os realistas críticos estão preparados para aceitar e debater o conhecimento e as evidências
(c) A sustentabilidade é evolucionista e incentiva as pes- das ciências naturais e ambientais em suas explicações”. Vide, ainda, Riley E. Dunlap et
quisas de biologia evolucionária. A insaciabilidade, por al, (Ed.). Sociological. Theory and the Environment: Classical Foundantions, Contemporary
Insights. Lanham: Rowman & Littlefield, 2002.
cúmulo da arrogância, é fixista e acredita (e quer 1 Vide Miguel Altieri, im Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável.

a8
fazer crer) que o mundo foi criado há pouco tempo 5. ed. Porto Alegre: Ed. UFGRS, 2009, p. 65: “Os princípios básicos de um agroecossis-
tema sustentável são a conservação dos recursos renováveis, a adaptação dos cultivos ao
e para sua satisfação solitária e bárbara. ambiente e a manutenção de um nível moderado, porém sustentável, de produtividade”.
15
Vide Prue Taylor, in Ecological Integrity and Human Rights. In: Laura Westra,
aR

Klaus
Bosselmann e Richard Westra (Ed.). Reconciling Human Existence with Ecological Integrity:
Science, Ethics, Economics and Law. London: Earthscan, 2008, p- 93: “From an ethical
“8 Vide José Goldemberg e Francisco Carlos Paleta (Coord.). Série Energia e Sustentabilidade —
perspective, human rights developed without any moral concern for non-human life. In
Energias Renováveis. São Paulo: Blucher, 2012.
sum, the growing catalogue of 'freedoms from” and the more positive “rights to” existed
“9 Vide, por exemplo, a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), que, in a vacuum, isolated from concern for ecological integrity”. Mas houve avanço, como
entre outros aspectos, considera itens como o uso racional da água, eficiência energética registra: “At present, there are essentially three emerging trends evident in human rights
e
qualidade dos ambientes internos. - law. All are intended to better integrate human rights law and the environment” (p. 94).
80 | JUAREZ FREITAS )
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 3
OQUE DE PARADIGMAS -O NOVO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA DA INSACIABILIDADE...
| 81
ct

bem-estar
** A seu turno, a insaciabilidade usa e deita (k) A sustentabilidade implica regulação de feições socialmente
fora os seres vivos como objetos descartáveis. homeostáticas. A insaciabilidade, por sua vez, alimenta
(h) A sustentabilidade sabe dizer não ao patológico, no campo falhas estruturais de mercado e contágios negativos
dos impulsos e das emoções, operando equidade na saúde, em profusão.
em termos multidimensionais.:5
A insaciabilidade, por (1) A sustentabilidade tem o seu forte na cidadania ativa,
sua vez, está sempre em sofreguidão e propaga falsas que abrange a faceta ecológica.'s A insaciabilidade
carências de todo tipo, sem saber operar de manei- boicota qualquer ativismo constitucional.
ra preponderante no córtex pré-frontal e com fraco (m) A sustentabilidade é valor compartilhável, com bem-estar
controle dos impulsos, “característica marcante da experienciado.!º A insaciabilidade é o culto unidi-
maioria dos criminosos” .:5 recional da sensação pela sensação, a qualquer preço.
(1) A sustentabilidade é também imaterial e valorativa, no (n) A sustentabilidade é arquitetura aberta e biológica, que
sentido de aberta a dimensões sutis do ser, pois, como
modifica o cenário estrutural das grandes cidades. A
bem assinala Amartya Sen, conceber “as pessoas insaciabilidade é caverna que cerceia, cárcere que
somente em termos de necessidades pode nos neurotiza.
proporcionar uma visão um tanto acanhada da (o) A sustentabilidade resguarda o horizonte de longo prazo.
humanidade” .” De sua parte, a insaciabilidade está Ainsaciabilidade está deslocada no tempo, ao sabor
calcada no limitante jogo cego das necessidades. dos ventos do imediatismo.
0) A sustentabilidade é movida pela razão sistemática, que (p) 4 sustentabilidade é prospectiva, preditiva e antecipa-
sopesa custos e benefícios (diretos e indiretos) sociais, tória. A insaciabilidade vive de palpites nebulosos e
econômicos, éticos e ambientais, antes de cada empreen-
bizarras superstições.
dimento. Já a insaciabilidade é movida por decisionis- (q) A sustentabilidade é benigna ao desfazer ilusões cogni-
mos irrefletidos e erráticos, sem medição adequada
tivas. A insaciabilidade utiliza os recursos do neuro-
de consequências e impactos. marketing para ser ardilosa no manejo das falácias
e impedir o consumo consciente.
'* Vide o relatório Ecossistemas e bem-estar humano: estrutura para uma avaliação, World
(r) Asustentabilidade coíbe o omissivismo. A insaciabilidade,
Resources Institute - WRI, 2003. por mais rápida que seja, chega tarde e afoita.
158 Vide Amartya Sen e Bernardo Kliksberg, in As pessoas em primeiro lugar: a ética do desen-
volvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, (s) A sustentabilidade defende a dignidade intrínseca de
2010, p. 90-91: “a equidade na saúde tem muitos aspectos, e é mais bem vista como um todos os seres vivos, com responsabilidade assumida pelo
conceito multidimensional. Ela inclui questões sobre a realização da saúde e a capa-
cidade de realizar a boa saúde, não apenas sobre a distribuição de atendimento da
futuro das espécies. A insaciabilidade perde tempo
saúde. Mas ela também inclui a justiça processual e, portanto, deve associar importância
à não discriminação na entrega do atendimento da saúde. Além disso, um engajamento
em disputas frívolas de território e nos torneios da
adequado com a equidade na saúde também requer que as considerações da saúde sejam racionalidade meramente instrumental.
integradas a questões mais amplas de justiça social e equidade como um todo (...)”.
156
Vide David Eagleman, in Incógnito: as vidas secretas do cérebro, op. cit. p. 195. Propõe,
-assim, a estratégia de “dar aos lobos frontais a prática na repressão nos circuitos de curto
prazo” (p. 196). 'º Vide, sobre cidadania ecológica, Andrew Dobson, in Citizenship and the Environment.
15;
Vide Amartya Sen e Bernardo Kliksberg, in As pessoas em primeiro lugar: a ética do de- Oxford: Oxford University Press, 2003.
x

senvolvimento e os problemas do mundo globalizado, op. cit., p- 65, dando ênfase às


'? Vide, sobre experienced well-being, Daniel Kahneman, in Thinking, Fast and Slow. New York:
“liberdades sustentáveis”.
Farrar, Straus and Giroux, 2011, p. 395. O tema será retomado.
82 | SUSTENTABILI DADEAO FUTURO
- DIREITO CHOQUE DE PARA
DIGMAS-
CAPÍTULO 3
O NOVO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA DA INSACIABILIDADE... | 83

(t) A sustentabilidade é princípio-síntese de natureza vin- base da pirâmide social, ao passo que a insaciabilidade quer
culante. A insaciabilidade é manipulação de regras estar no topo da cadeia alimentar, e mais nada.
legais, de modo a concentrar privilégios espúrios. O ponto é que a sustentabilidade precifica a inércia e in-
(u) A sustentabilidade orienta o consumidor sobre o ciclo de. ternaliza os custos ambientais, ao passo que a insaciabilidade
vida dos produtos e serviços. À insaciabilidade fabrica mira o luxo e se despreocupa com preço justo. A sustentabili-
o consumo irracional e fadado ao desperdício, sem dade opera em rede e se propaga livremente, ao passo que a
logística reversa. insaciabilidade vive nas sombras, na opacidade e fenece.
(v) A sustentabilidade é inclusiva e preserva a biodiversi- A sustentabilidade reclama soluções universalizadas,
dade, para além do interesse próprio. A insaciabilidade sem esquecer da individualização de acordo com necessidades
é cruelmente excludente de tudo aquilo que não e merecimentos, ao passo que a insaciabilidade só cuida de
acarretar vantagem pessoal, no plano imediato. conquistar e de expandir, num processo de extrativismo auto-
(w) A sustentabilidade reinventa o planeta e promove uma fágico. A sustentabilidade cuida da qualidade de vida, sem
reciclagem material e imaterial de monta. A insaciabili- prejuízo da produtividade, ao passo que a insaciabilidade
dade perpetua a noção ilógica do crescimento econô- sacrifica a qualidade, em nome da quantidade.
mico ilimitado e sem escrúpulos, que só faz provocar Vistas as coisas nesses termos, constata-se, sem dificul-
tragédias, devastação e extinção de espécies. dades, que somente a sustentabilidade norteia, condiciona
(x) A sustentabilidade favorece a democracia participativa. | e modela o desenvolvimento que importa. Não o contrário.
Enfim, é a sustentabilidade o paradigma da renovação indis-
A insaciabilidade degrada o homem, pretendendo
pensável de costumes, a opção maior pela dignidade da vida.
vê-lo como senhor da vida e da morte.
(y A sustentabilidade subordina a eficiência à eficácia dos
resultados constitucionalmente justos. A insaciabilidade 3.3 Em resumo
é, paradoxalmente, perdulária e sovina, conforme as
A título de consolidação, conclui-se, nesse breve con-
conveniências.
traste, que existe uma franca e inconciliável oposição entre o
(z) A sustentabilidade enaltece os pontos fortes das inteli-
emergente paradigma (da sustentabilidade) e o paradigma de-
gências multifacetadas e flexíveis. A insaciabilidade é
cadente (da insaciabilidade patológica e compulsiva), oposição
rígida e explora os temores apocalípticos, simples-
que pode ser resumida nos seguintes contrapontos principais:
mente para nada fazer.
(1) | Novo paradigma do desenvolvimento durável,
Por outras palavras, a sustentabilidade é racional (não .
simultaneamente material e imaterial versus o
do tipo instrumental, é claro), até quando conserva e adapta,
simplista!” paradigma do crescimento econômico
ao passo que a insaciabilidade é refratária a qualquer mu-
dança que acarretar a saída do obsoleto domínio sem limites |
do corpo e para o corpo. Mais: a sustentabilidade envolve a “º Entre os chavões simplistas, arrolados criticamente por Jared M. Diamond, figura o de que
o ambiente deveria ser equilibrado de acordo com a economia. Observa, com acerto, in
correta fixação de prioridades, ao passo que a insaciabilidade, Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: Record,
2005, p- 601-602: “Tal citação retrata as preocupações ambientais como um luxo, vê as
por mais que simule, sobrevive do engano e do autoengano. medidas para solucionar problemas ambientais como causadoras de despesas, e considera
A sustentabilidade acontece em todas as esferas, inclusive à deixar os problemas ambientais sem solução como uma forma de economizar dinheiro.
Esse chavão deixa a verdade literalmente de lado. Os danos ambientais custam muito
84 | JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 3
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
cH (OQUE DE E PARADIGMAS - O NOVO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE VERSUS O PARADIGMA DA INSACIABILIDADE... | 85

como fim em si e dos investimentos ambientais poder é sinônimo de dominação e violência e (iii) o
vistos como despesas adiáveis. advento da governança pautada pela racionalidade
(1) Novo paradigma da escolha intertemporal'* de es- intersubjetiva, que rompe com a manipulação ex-
cala longa e capaz de poupança sem avareza (com plícita ou subliminar. É, em outro modo de dizer, o
elevadas taxas de investimento produtivo) versus novo paradigma da transparência em tempo real,'º
o imediatismo e a negação escapista do futuro. da racionalização máxima dos procedimentos (pú-
(1) Novo paradigma da inovação e das energias re: blicos e privados) e do uso inovador da tecnologia
nováveis versus a mantença obscurantista da des- da informação em rede (sem cair na “webcracia””),
truição imotivada. de molde a conferir chances inéditas à democracia
(IV) Novo paradigma da titularidade dos direitos participativa. É o paradigma da motivação, isto
presentes e futuros versus o patrimonialismo pa- é, da explicitação dos fundamentos de fato e de
rasitário e concentracionista, acompanhado dos
direito, na tomada das decisões, em contraposição
vícios do omissivismo, do tráfico de influências e
à discricionariedade sem controle. É o paradigma
“do mercenarismo (examinados, com-detença, no dos “novos” princípios constitucionais, tais como
Capítulo 8). prevenção, precaução, eficiência, eficácia e justiça
(V) Novo paradigma da compreensão sistemática intergeracional. É o paradigma da superação do
do Direito versus a concepção do Direito unilate- Direito de tipo predominantemente repressivo,
ralmente voltado, na realidade, para garantir, de com a resolução dos conflitos, em tempo útil.
modo inconsequente, a dominação subjugadora. Novo paradigma do consumo consciente! e frugal
Com efeito, o novo paradigma é, juridicamente,
(VI)
versus o hiperconsumismo!“ compulsivoe incapaz
o da proporcionalidade como vedação de excesso de realizar trade-offs no tempo.
e de omissão, conjugado à noção de causalidade
(VII) Novo paradigma da transparência, dos selos eco-
intertemporal longa. É o paradigma valorativo e lógicos confiáveis e da qualidade na produção e
biológico do desenvolvimento cognitivo e volitivo, no consumo! versus os ardis do mercado e das
que contribui para (i) o fim do burocratismo (com sintomáticas pirâmides de Ponzi.
os seus rituais carcomidos e o seu gosto pelo
segredo), (ii) o fim da cultura segundo a qual o
1? Vide o art. 48-A da LRF.
'8 Ainda há expressivo trabalho de esclarecimento a fazer, rumo ao consumo sustentável e à
afirmação do novo paradigma. Segundo a pesquisa “O consumidor brasileiro e a susten-
dinheiro tanto a curto quanto a longo prazo; limpar ou evitar esses danos nos ajudam à tabilidade: atitudes e comportamentos frente ao consumo consciente, percepções e expec-
poupar dinheiro a longo prazo, assim como frequentemente ocorre a curto prazo. Sabemos tativas sobre a RSE”, efetuada pelos institutos Akatu e Ethos, cerca de 5% da população
que é mais barato e preferível evitar ficar doente do que tentar curar a doença depois que brasileira apresenta padrões sustentáveis de consumo (consumidores conscientes). Há
ela se desenvolveu. O mesmo se aplica à saúde do meio ambiente”. muitos consumidores indiferentes (37%). O termo sustentabilidade é solenemente desco-
16
Vide, sobre a faculdade de escolha intertemporal, Eduardo Giannettí in O valor do amanhã:
-

nhecido por 56% dos consumidores.


ensaio sobre a natureza dos juros. 2. ed. São Paulo; Companhia das Letras, 2012, p. 82:
“4 Vide, por entender que o consumismo não é, numa perspectiva evolucionária, um dado
“a faculdade de agir no presente tendo em vista o futuro”. Alerta, com acerto, para dois inevitável, Geoffrey Miller, in Spent: sex, evolution, and consumer behavior. New York:
tipos de excesso, a saber, a miopia temporal, que é a “atribuição de um valor demasiado Viking, 2009.
grande ou intenso ao que está mais próximo” (p. 105) e a hipermetropia temporal, ou seja,
!S Vide Fátima Portilho, in Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. 2. ed. São Paulo:
“atribuição de um valor excessivo ao amanhã, em prejuízo das demandas e interesses
correntes” (p. 105).
Cortez, 2010, p. 35, querendo ir além da dicotomia clássica que vê o consumo como alie-
nação ou como liberdade de escolha.
86 | ESUSTENTABILIDADE
AREZ FREITAS
- DIREITO AO FUTURO

(VIII) Novo paradigma da prevenção e da precaução, CAPÍTULO 4


em caráter preferencial, versus a aparição tardia
do Estado, tíbio e desprovido do senso de tempo
— útil,
(IX) Novo paradigma da visão evolucionista (darwi-
niana) versus as cegueiras fixistas e negadoras
da ancestralidade comum e de nossa irrefutável NOVA AGENDA DA
pertença à “árvore da vida”. SUSTENTABILIDADE
(X) Novo paradigma de inclusão social duradoura
versus o falso e hiperbólico paternalismo que não MULTIDIMENSIONAL
emancipa e dissemina assimetrias sociais.
Em última análise, o novo paradigma axiológico da sus-
tentabilidade, pelo qual se opta manifestamente, reúne todas as
Sumário:
u picos —— 4.2 &.2 Bloco indissociável - 4.3 Desenvolvimento
44.1 Principais tópicos
condições para, tentativamente, vencer a insaciabilidade pan- e sustentabilidade: constituiç ão mútua
tanosa. Não se confunda, no entanto, a saída da insaciabilidade
com qualquer mediocridade de aspirações.
A sustentabilidade, corretamente vivenciada, não traz 4.1 Principais tópicos
qualquer prejuízo aos potenciais de expansão futura das cons-
ciências. Na realidade, somente o novo paradigma provoca
No intuito da cabal afirmação do novo paradigma, me-
uma transformação relevante e positiva, no modo de cognição rece ser implementada uma revigorante Agenda da Sua
da vida como sistema,'%* mediante
bilidade, com o advento primordial das medidas que seguem:
a construção de Agenda
(a) Adoção de novo estilo de trabalho dos operadores do
predisposta a dar jeito aos complexos desafios ambientais
Direito como rede, no enfrentamento das ilicitudes
(poluição atmosférica, efeito estufa e mudanças climáticas,'”
ambientais, assim como as queimadas proibidas'º
desmatamento e desertificação, degradação marinha, alaga-
mento e contaminação radioativa, etc.),'* mas também aos e o desmatamento sem critério (estima-se que
imensos desafios sistêmicos, relacionados à ética, à política e mais da metade das emissões brasileiras de gases
à economia.
Z
E o momento, pois, de enunciar, em seus principais
ip “[As] queimadas, sobretudo nas atividades agroindustriais ou agrícolas ig
tópicos, uma proposta de Agenda da Sustentabilidade Multi- empresariais, são incompatíveis com os objetivos de proteção do meio am a
e o É
dimensional, precisamente o tema do capítulo subsequente. cidos na Constituição Federal e nas normas ambientais infraconstitucionais. o o
e
mudanças climáticas, qualquer exceção a essa proibição geral, além de o a e
E pi o I e
samente em Jei federal, deve ser interpretada restritivamente pelo
a 4 :É a
(STJ. REsp nº 1.000.731/RO, 2º Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. Julg.
166 Vide, sobre o conceito de sistema, Juarez Freitas, 2009). Ainda: “[a] palha da cana-de-açúcar está sujeita ao regime do ne e E Pa en
in A interpretação sistemática do direito.
5. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, especialmente os capítulos 1 a do Código Florestal, razão pela qual sua queimada somente é admiti a me es endia
3.
'7 Vide Dieter Helm e Cameron Hepburn (Ed.). The Economics and autorização dos órgãos ambientais competentes, nos termos do parágrafo pe End
Politics of Climate Change.
New York: Oxford University Press, 2009, especialmente a Parte exigências ane da
1, p. 9-124. artigo e do disposto no Decreto 2.661/98, sem prejuízo de outras
'8 Vide, sobre os principais problemas ambientais citados, Liheu Belico dos legais inerentes à tutela ambiental, bem como da responsabilidade civil por pg Ae
Reis, Eliane A, : 7
Amaral Fadigas e Cláudio Elias Carvalho, in Energia, recursos naturais de qualquer natureza causados ao meio ambiente e a terceiros (STJ. EREsp n
e a prática do desen-
volvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005, p- 27-29. Seção. Rel. Min. Teori Albino Zavascki. Julg. 29.9.2010. DJe, 13 out. 2010).
88| JUAREZ FREITAS !
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 4
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL 89

de efeito estufa tenha a ver diretamente com quei- os Estados, o DF e os Municípios, de maneira a
madas — facilmente monitoráveis'” — e com os garantir a sustentabilidade, em processo efetivo e com
desmatamentos).” De outra parte, se é certo que duração razoável, a partir do olhar federativo sobre as
a elevação da temperatura pode beneficiar deter- competências e do reequacionamento maduro das
minadas culturas, outras serão seriamente preju- responsabilidades comuns, em lugar do império
dicadas. Em matéria de grãos, a região nordestina do medo paralisante e da falta de exercício regular
provavelmente será a mais castigada: o deserto das competências supletivas. Também se apresenta
tenderá a tomar conta. Migrações agrícolas podem prioritário o investimento maciço na capacitação
ocorrer. Entre outras providências de escala, novas técnica para a avaliação de impacto das obras e dos
variedades de grãos precisam ser introduzidas, empreendimentos, sem cair nas armadilhas dos
mais resistentes à seca. Quer dizer, providências grandes números.”
coordenadas, sistêmicas e antecipatórias, sem o (c) Inovação precípua em segurança energética, com
isolamento histórico dos órgãos ambientais, não 6 redesenho do plexo normativo e regulatório, apto
podem tardar, em termos de adaptação. Contudo, a conferir prioridade às inovações científicas e
não devem tardar igualmente as providências sistê- tecnológicas de ponta,”* sobremodo em energias
micas de mitigação, para diminuir, por exemplo, a renováveis (sem embarcar, sem o devido sopesa-
insolação, com o emprego sinérgico de culturas que mento, na aventura de adicionais investimentos
produzam sombra. Ainda: se é muito provável que na perigosa energia nuclear),'* com destaque
as mudanças climáticas aumentarão a intensidade para a energia solar (incrivelmente desperdi-
dos ventos, especialmente no nordeste, os ricos çada), as plantas ou “fazendas” eólicas!” e os
potenciais eólicos da região precisam ser aprovei- biocombustíveis, longe de descurar dos impactos
tados de modo condizente. Tudo a reclamar uma sociais. De fato, a pesquisa a respeito das fontes
atuação concatenada, que elimine, vez por todas, limpas e seguras de energia — inclusive com ino-
a lamentável ameaça de guerra ambiental entre os vação aberta!” — tem de contribuir à abolição do
reguladores. inescusável emprego de trabalho escravo e para
(b) Implantação de nova sistemática de licenciamento
ambiental,” com efetiva cooperação entre a União,
que tem de observar prazo útil, como todo processo administrativo (EC nº 45). Quer dizer:
não pode andar com velocidade errada, mas razoável. Vide, apropósito de licenciamento e
da cooperação federativa para o desenvolvimento sustentável, a Lei Complementar nº 140,
O Vide, no caso brasileiro, o trabalho do Instituto de 2011. ;
Nacional de Pesquisas Espaciais, que
monitora as queimadas com satélites, avalia e prevê os
riscos associados, em termos de 13 Vide, sobre externalidades como problemas que são, em sua maioria, large numbers
emissões. cases, William J. Baumol e Wallace E. Oates, in The Theory of Environmental Policy. 2"º ed.
171
Vide Márcio Pochmann, in Desenvolvimento sustentável Cambridge: Cambridge University Press, 1988, p. 10.
na transição da sociedade urbano-
industrial. In: João Paulo dos Reis Velloso (Coord.). Brasil, 4 Vide o art. 13 da Lei nº 6.938/81.
novas oportunidades: economia
verde, pré-sal, carro elétrico, Copa e Olimpíadas. Rio de Janeiro:
]. Olympio, 2010, p. 170: “8 Vide, com argumentos fortes contra novas usinas nucleares, José Goldemberg, in Potencial
“(..) no Brasil,as emissões de dióxido de carbono possuem natureza distinta
da verificad
a hidroelétrico não está esgotado. Folha de S.Paulo, 22 jam. 2011.
nos países desenvolvidos, Até o presente momento, quase 4/5
das emissões de dióxido 1% Vide o Atlas do potencial eólico brasileiro. Brasília: CRESESB, 2001. No campo internacional,
de carbono provêm de queimadas e das mudanças no uso da terra
e das florestas, o que vide, por exemplo, o Atlantic Wind Connection (AWC), projeto financiado por Google, Good
permite controle relativamente mais fácil do observado
nos países desenvolvidos”. Energies e Marubeni Corporation.
172
Licenciamento ambiental é processo complexo e vinculado (licença
prévia, de instalação e W Vide Henry William Chesbrough, in Open Innovation: the New Imperative for Creating and
de operação) e de caráter não precário (CF, art. 225, 81º, IV; Lei nº 6.938,
arts. 9º, IV, e 10), Profiting from Technology. Boston: Harvard Business School Press, 2003, p. 43.
CAPÍTULO 4 | 91
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

evitar o sacrifício indevido de áreas destinadas à dar prioridade aos serviços de transporte público
produção de alimentos. Por igual, as pesquisas de coletivo sobre o transporte individual motorizado.
biologia evolucionária precisam ser estimuladas,
Ao lado disso, urge incentivar os investimentos, de
sem titubeio. Em suma, quer-se o aumento acelerado
grande monta, no campo da logística. Anova matriz
dos investimentos em segurança energética, tecnologias .
de transportes é, seguramente, requisito essencial
“verdes” e de participação das energias renováveis na
para a sustentabilidade, sem os custos altíssimos
construção da autonomia. É, sem margem de erro,.
dos gargalos para o escoamento da produção, que
estratégico marchar, em que pese o pré-sal, para a
impedem a formação de preços internacionalmente
superação definitiva da dependência dos combus-
competitivos. A calhar, indispensável cumprir à
tíveis fósseis.
Redesenho jurídico-institucional da matriz de trans- risca os princípios da Política Nacional de Mobi-
lidade Urbana, entre os quais o desenvolvimento
portes, com substancial incremento da participação dos.
modais hidroviário e ferroviário, bem como o ofereci- sustentável das cidades, com a justa distribuição
mento de alternativas viáveis ao automóvel, nos»
dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos dife-
grandes centros urbanos. Tradução: melhorias a) rentes modos e serviços, bem como a estipulação
expressivas do transporte público, serviço essencial de padrões de emissão de poluentes para locais e
e contínuo, com a adoção, por exemplo, de veícu- horários determinados e constante monitoramento
los leves sobre trilhos. Está certo Nicholas Stern, das emissões dos gases de efeito local e de efeito
ao salientar que o “planejamento das cidades e o estufa dos modos de transporte motorizado.!s!
papel do transporte público terão efeito podero- (e) Obrigatoriedade de licitações sustentáveis, em
so. O transporte não raro é muito destrutivo, por todas as esferas federativas, isto é, cumpre partir,
força, por exemplo, de veículos que levam uma sem hesitações inconstitucionais, para a implemen-
única pessoa e a engarrafamentos crescentes, mas tação imediata e federativa das contratações sustentáveis
políticas sensatas podem estimular o voluntário (tema a ser tratado no Capítulo 9), com a adoção
melhor uso da infraestrutura existente, e o bom de critérios objetivos, impessoais e fundamentados
design físico e tecnológico pode fazer os sistemas de sustentabilidade para avaliar e classificar as pro-
de infraestrutura funcionarem com muito mais postas, em todos-os-certames brasileiros. Sim, em
eficiência” .7* Nessa linha, um eficaz e eficiente pro- todos os certames. A obrigatoriedade decorre da
grama de mobilidade urbana requer, antes de mais aplicação direta do princípio em tela, tese facilitada
nada, o sério compromisso com o acesso facilitado enormemente após a explicitação do princípio,'
a transporte público de qualidade, observada a incorporado ao art. 3º da Lei de Licitações.
Lei de Mobilidade Urbana,” no ponto crítico de

de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público


8 Vide Nicholas H. Stem, in O caminho para um mundo mais sustentável. Rio de Janeiro: coletivo sobre o transporte individual motorizado”.
Elsevier, 2010, p. 47.
1 Vide a Lei nº 12.587/2012, art. 5º.
“2 Vide a Lei de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587, de 3.1.2012): “Art.
6º A Política Nacional de 8! Vide a Lei nº 12.587/2012, art. 23.
Mobilidade Urbana é orientada pelas seguintes diretrizes: (...) II - prioridade
dos modos 182 Com a alteração trazida pela Lei nº 12.349/2010.
JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 4 | 93
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

(f) Ensaio de tributação pigouviana corretiva e transitória a ponto de orientar,'” por exemplo, sobre a dieta
(sem finalidade arrecadatória)'º sobre a poluição,'* ag” equilibrada, com o aconselhamento para evitar
lado da adoção de incentivos fiscais a projetos. a obesidade. Medidas que evitariam milhares de
sustentáveis (nas várias dimensões entrelaçadas), mortes e assegurariam o direito à alimentação ade-
com o induzimento, por exemplo, à reciclagem ou. quada. Portanto, um grande programa de educação
à formação de reservas particulares de preservação para a sustentabilidade deve ser implementado,
“ambiental. Sem prejuízo de medidas paralelas,15" com o emprego de todas as tecnologias e linguagens
pode-se afirihar, desde logo, que a transição para o disponíveis. Abordagens quantitativistas precisam
chamado desenvolvimento de baixo carbono recla- ceder espaço para o diálogo estimulante e para a
ma celeremente uma tributação menos dependente maciça capacitação de professores (o assunto será
da técnica regressiva, mais indutora de consumo retomado no Capítulo 7).
consciente e fora da rendição acrítica à noção de poluição (h) Cobrança de que os financiamentos públicos! e pri-
ótima. vados incorporem a variável ambiental e, mais do que
(8) Cumprimento do dever constitucional de oferecer isso, o exame acurado de custos diretos e indiretos, para
educação" de qualidade, dirigida para a sustentabili- além da observância dos chamados Princípios do
dade multidimensional (adotada a responsabilidade Equador,'º sem esquecer da redução estrutural dos
pelo ciclo de vida dos produtos — da obtenção de custos excessivos do capital. Para efeitos da estabi-
matérias-primas até a destinação final ambiental- lidade financeira, crucial, ainda, que os reguladores
mente adequada, como determina a Lei de Resíduos evitem cenários de inadimplência, associados à
Sólidos), aplicável ao estilo de vida, sobretudo concessão de crédito irresponsável.
por
intermédio do esclarecimento científico. sobre os (1) Exigência sistemática de combate à degradação
imensos benefícios de atitude amigável com a vida, habitacional, com a aplicação tempestiva das leis de
regularização fundiária e o cumprimento inadiável
'8 O caráter transitório tem a ver com o reconhecimento
de que, por exemplo, a tributação
sobre o tabaco não tem sido suficiente para corrigir as
externalidades negativas e os altos 1 Vide, a propósito da alimentação, Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein, in Nudge: Improving
custos externos associados. De qualquer sorte, importan
te examinar a contribuição de Decisions about Health, Wealth, and Happiness. New Haven: Yale University Press, 2008.
Arthur C. Pigou, in The Economics of Welfare. 44 ed. London; Macmill
an and Co., 1932. 18 Vide o documento Financiamentos públicos e mudança do clima: análise das estratégias e
Vide a Lei nº 6.938/81, art. 3º, II: “(...) poluição é a degrada
ção da qualidade ambiental práticas de bancos públicos e fundos constitucionais brasileiros na gestão da mudança
resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)
prejudiquem a saúde, a segu- do clima. Rio de Janeiro: FGV/EAESP (GVces); PNUMA, 2011: “soluções para adaptação
rança e o bem-estar da população; b) criem condiçõe
s adversas às atividades sociais e e vulnerabilidade à mudança do clima são oportunidades até o momento pouco explo-
econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d)
afetem as condições estéticas ou sani- radas pelas instituições. As iniciativas promovidas pelas instituições financeiras públicas
tárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacord
o com os padrões mapeadas neste estudo estão, em sua maioria, associadas à mitigação dos desafios
ambientais estabelecidos”.
climáticos. Foram encontradas poucas experiências de apoio à adaptação e às vulnera-
Vide, a propósito de medidas paralelas e para uma reflexão
crítica sobre o comércio de bilidades que o Brasil apresenta frente aos impactos da mudança do clima” (p: 8). Entre
emissões (cap-and-trade), Tamra Gilbertson e Oscar
Reyes, in El mercado de emisiones: cómo as sugestões, mencione-se o “investimento na construção de sistemas de monitoramento
funciona y por qué fracasa. Uppsala; Barcelona: Dag Hammars
kjóôld Foundation; Carbon de impacto das atividades (financiamentos e investimentos) como ferramenta eficaz
Trade Watch, 2009. para aferir o impaçto em termos de contribuição para uma economia de baixo carbono e
Vide, sobre educação ambiental e o respeito ao outro,
e

Alessandra Galli, in Educação ambiental oferecer bases adequadas tanto para o planejamento estratégico quanto para o processo
como instrumento para o desenvolvimento sustentável.
Curitiba: Juruá, 2008, p. 21. Vide, ainda, decisório em geral” (p. 56).
a Lei nº 6.938/81, art. 2º, que estabelece que
a Política Nacional do Meio Ambiente tem Vide The Equator Principles: a Financial Industry Benchmark for Determining, Assessing
s

de atender, entre outros, o princípio da educação


ambiental, inclusive a educação da co- and Managing Social and Environmental Risk in Project Financing. Equator Principles,
munidade, objetivando capacitá-la para particip
ação ativa na defesa do meio ambiente. June 2006.
94 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 4
| 95
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

do dever de remoção das pessoas das áreas de risco 2008, do IBGE, mais de 40% dos municípios não
(sem-o costumeiro inercismo inconstitucional, que tinham serviço de esgotamento sanitário por rede
faz vítimas rotineiramente), oferecendo alternativas coletora, sendo que somente 28,5% dos municípios
habitacionais saudáveis, mercê da aplicabilidade com esgotamento desse tipo faziam tratamento do
direta e imediata do direito fundamental à moradia. esgoto coletado.'! O quadro não se alterou muito
Oargumento contrário, baseado em custos, é frágil
de lá para cá. Os números dispensam comentários.
demais, particularmente quando se reconhece que (k) Planejamento demográfico"? sem violência, com forte
as limitações orçamentárias derivam da falta de
incentivo à maternidade e à paternidade conscientes,
poupança pública direcionada ao cumprimento notadamente nas zonas pobres, com base na ar-
precípuo das finalidades constitucionais do Estado. gumentação calçada em sustentabilidade multi-
Nesse ângulo, importa nutrir reservas à reserva do dimensional, que estimula a justa preocupação
possível. Quanto às áreas urbanas,!º força tratá-las
com a qualidade de vida dos descendentes. Não
como ecossistemas, que não comportam sobrecarga. se deve esquecer que, no caso brasileiro, o bônus
A ocupação racional e a interiorização dos centros
demográfico tem prazo para encerrar, em 2025, não
urbanos, sem querer ingenuamente devolver a. podendo ser desperdiçado.
população à atividade rural, afiguram-se medidas
(1 Uso racional das propriedades públicas e privadas, o
estruturais de sustentabilidade, no intuito de evitar
que implica, nas áreas rurais,!'º entre outros requi-
a formação de megalópoles poluídas, destituídas
sitos, a prática induzida de rotação das culturas
de mobilidade e de moradias suficientes. (agricultura limpa, tecnologicamente avançada e
() Saneamento ambiental visto como dever incon- isenta de toxicidade), com respeito à saúde e à pre-
tornável, donde segue a exigência, via Ministério
servação essencial da biodiversidade. Como salienta
Público (com a sua reconhecida legitimação ativa
para intentar ações civis públicas na matéria),
de melhorias significativas em termos de saneamento
ambiental, com a concomitante redefinição estatal 191
Vide PNSB 2008, do IBGE, publicado em 2010. Um dado merece especial atenção, de
regulatória e a viabilização de retemperadas par- passagem: 34,7% dos municípios mencibnaram áreas de risco que demandam drenagem
especial.
cerias público-privadas. Vale dizer, o saneamento Vide Dam W. O'Neill, Rob Dietz e Nigel Jones (Ed.). Enough is enough: Ideas for a
ambiental (abastecimento de água potável, tra- Sustainable Economy in a World of Finite Resources: the Report of the Steady State
Economy Conference. Arlington; Leeds: Center for the Advancement of the Steady
tamento de resíduos, etc.) precisa ser visto como State Economy; Economic Justice for All, 2010, p. 56: “The first step toward achieving
prioridade estratégica e, mais do que isso, como a sustainable population is to overcome the population taboo and re-open the public
discourse on optimal size. People need to engage in an honest discussion that questions
direito fundamental. Segundo estarrecedora Pes- both overconsumption and overpopulation. The hope is that this discussion, in tum, will
quisa Nacional do. Saneamento Básico - PNSB lead to the development of compassionate and proactive population policies that don't
rely on top-down regulation — policies that stabilise population and ensure enough
resources are available for everyone”.
193
Vide a Lei nº 8.629/93, art. 9º: “A função social é cumprida quando a propriedade rural
“º Vide Daniel Joseph Hogan, Eduardo Marandola Jr. e Ricardo Ojima, in População
e ambiente; atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes
desafios à sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010, p. 77, com impressionante estimativa
requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; TI - utilização adequada dos recursos
da ON U sobre a população vivendo em aglomerações maiores do que
750 mil habitantes: naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; (...) 82º Considera-se adequada a
Estima-se que, em 2025, serão mais de 4,5 bilhões de pessoas, a metade
da população utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a
mundial”.
vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade”.
JUAREZ FREITAS
E
96 SUSTENTABIL) IDADE - DIREITO AO CAPÍTULO 4 | 97
FUTURO NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

John Reganold,'“ a “agricultura convencional pode


De fato, como prova a experiência brasileira recente,
erodir e degradar o solo. (...) as técnicas agrícolas
pode-se fazer isso com baixo custo.'s Mas não
orgânicas (...) podem eliminar ou reduzir a neces-
só. Outro exemplo de aplicação direta e imediata
sidade de produtos químicos. Alternar grãos com
do princípio da prevenção: se o tóxico tolueno é
legumes, por exemplo, adicionar uma terceira
ou um solvente que causa dependência química nos
quarta cultura ao sistema de rotação, deixando
mais trabalhadores, deve ser imediatamente substituído
resíduos vegetais após as colheitas (...)”, é uma por produto isento de toxicidade. Não há como
das
soluções plausíveis. Convém, ademais, ter presente sofismar: a prevenção obriga.'” O tema-chave da
o prescrito no art. 1228 do Código Civil, segundo o prevenção será retomado no Capítulo 10. E
qual o direito de propriedade deve ser exercido em Combate frontal e imediato à poluição atmosférica, de
consonância com as suas finalidades econômicas, sorte, por exemplo, a evitar os malefícios inde-
sociais e de modo que seja preservado o equilíbrio fensáveis-da falta de monitoramento do ar, bem
ecológico. como abandonar a emissão de diesel mineral, em
(m) Aplicação expandida dos princípios da prevenção! e da patamares liberadores do mortal enxofre e, ainda,
precaução, de maneira, por exemplo, a fazer com que controlar a emissão do metano e outros gases,
se torne mais vantajoso manter a florestassem pé
com com recurso às técnicas de proibição ou tributação
o oferecimento de alternativas ao desmatamento. inibitória. Ainda para ilustrar: revela-se inadiável o
Com acerto, Anthony Giddens defende que a “ne- banimento dos produtos nacionais ou importados,
cessidade de reduzir o desmatamento, e fazê-lo
que se mostrarem desalinhados com o referido
depressa, talvez seja uma área em que uma am- Protocolo de Montreal, acerca das substâncias que
pla cooperação internacional possa funcionar” empobrecem a camada de ozônio. e
.:7
(o) Controle participativo do orçamento ecoeficiente
e eficaz, isto é, o escrutínio social da fixação e do
'4 Vide John P. Reganold, in A próxima revolução agrícola
n. 101, p. 79, out. 2010. . Scientific American Brasil, ano 8, cumprimento das metas públicas de execução orçamen-
195
Vide, para outros exemplos de aplicação do princípi
o da prevenção, Philippe Sands, in
tária, de modo. a que os gastos sejam submetidos
Principles of International Environmental Law, op. cit, p. 247: “The preventive principl
requires action to be taken at an early stage and, if e ao princípio da sustentabilidade, condicionada
possible, before damage has actually
occurred”. Adiante, exemplifica, mostrando que
o princípio visa evitar: “the extinction
toda e qualquer publicidade oficial a estimular o
of species of flora and fauna; the spread of occupational
contamination of workers; the introduction and spread
disease, including radioactive cumprimento dessas metas, em vez de ser peça
of pests and diseases; pollution
of the seas by oil, radivactive waste, hazardous waste
and substances, from land-based
inútil ou -eleitoreira. Mais: toda e qualquer con-
sources, or from any source; river pollution;
hostile environmental modification; adverse effects
radioactive pollution of the
atmosphere; cepção e execução do orçamento público deve estar
of activities that prevent the migration
of species;
air pollution; modification of the ozone layer; degrada
tion of the natural
permeada de considerações sobre os múltiplos
environment; all pollution; significant adverse environ
mental impacts; transboundary
impacts generally; dangerous anthropogenic interfer
ence with the climate system; loss of
fisheries and other biodiversity, including as a result
of the release of genetically modified cotidiana atrapalham, mas o problema fundamental é a dificuldade de levar as pessoas a
organisms; and damage to health and the environment
from chemicals and persistent admitirem que os riscos são reais e prementes”.
organic pollutants” (p. 248-249).
"6 Vide, sobre a gestão de florestas públicas para a produçã "8 Vide Sergio Margulis e Carolina Dubeux, in Economia da mudança do clima no Brasil.
o sustentável, a Lei nº 11.284/2006. Boletim Regional, Urbano e Ambiental, v. 4, p. 9, jul. 2010. É
'” Vide Anthony Giddens, in À política da mudança climática
, op. cit, p. 274. Aduz: “os governos *» Vide, a propósito, a experiência da Amanco Brasil, nessa linha, ao mudar a ão ee
terão de recorrer a toda gama de estratégias, tentando, ao mesmo
tempo, fomentar uma
consciência mais generalizada da necessidade de sivo plástico que serve para unir tubos e conexões, nos termos relatados no Guia Exame de
ação. Os hábitos e rotinas da vida Sustentabilidade 2010, p. 132.
98 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO | 99
AO FUTURO NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

impactos, com a correspondente sindicabilidade Ainda: importa combinar, desde logo, eficiência e
aprofundada, em vez do formalismo de praxe. Por
equidade em larga escala, numa revigorada ciência
exemplo: adequadamente concebidas, as usinas
hidrelétricas, mormente “fios d'água”, devem econômica “socioambiental”, assumido que o
ser crescimento sem critério mata. é
consideradas, prima facie, prioritárias em relaç
ão às. (q) Acelerar o acesso ao trabalho formal, com a redução
térmicas de carvão.” E excluem novas usina
s nu- consistente dos encargos trabalhistas sem nexo
cleares. Segundo a mesma lógica, a energia solar
e a eólica”! merecem tratamento orçament e incentivo à regularização de empresas. Claro
ário de
primazia, observadas todas as variáveis. que há setores informais que podem, de imediato,
(p) Reavaliação dos modelos neoclássicos de otimi até aumentar o crescimento econômico, porém se
smo in-
gênuo, alicerçados no fundamentalismo mostram altamente lesivos à sobrevivência, por
irracional
de mercado, que, sozinho, não dá conta das exemplo, da seguridade social. Por todas as razões,
iniqui-
dades e aposta em poluição ótima.“ De maneira o acesso formal ao trabalho decente é componente
pertinente, observa Charles C. Mueller que “o para- essencial'dessa Agenda.
digma neoclássico de poluição ótima só é viável (r) Reconstrução do Direito Administrativo e do Di-
se
a industrialização e o progresso econômico se reito Público em geral, de molde a conferir o acento
res-
tringirem” e depende “da hipótese de manutenção. devido à fixação de políticas intertemporais de re-
do status quo entre grupo de nações, em combinaç gulação do Estado Sustentável, em vez das políticas
ão
com uma fé ilimitada na substituibilidade entre discricionárias desse ou daquele governo (quase
fatores e no desenvolvimento tecnológico” 23 Ou sempre tendentes ao circuito de prazo curto e àfalta
seja, o desenvolvimento que interessa ao paradigm
a de vocação de justiça intergeracional), com o cuida:
da sustentabilidade, nos moldes aqui sugeridos, do de redobrar as aludidas políticas antecipatórias,
precisa estar ciente de que o excessivo otimismo
de maneira que o Direito chegue antes, não tarde,
tecnológico costuma ser enganoso. Certamente,
inovações não tecnológicas são imprescindíveis. como sói ocorrer.” Por exemplo, desde já, precisam
24 ser adotadas políticas que favoreçam o chamado
envelhecimento ativo, nos termos da OMS, haja
% É certo que já existem térmicas movidas a biomass
CPFL Energia, em Pirassununga (SP),
a. Vide, para ilustrar, a experiência da vista o crescimento expressivo do contingente
com a Usina Baldin.
” Vide Al Gore, in Nuestra elección: un Plan para resolve
r la crisis climática. Barcelona: Gedisa, de idosos (mais de 20 milhões).* De passagem,
2010, p. 80, a respeito do baixo
custo da energia eólica.
“2 Vide PNUD. Relatório do Desenvolviment
o Humano 2005, p. 36: “(...) distribuição
dimento global assemel do ren-
ha-se a um copo de champanhe (...). No topo, onde
larga, os 20% mais ricos da população detêm três a taça é mais
quartos do rendimento mundial. No 2 Vide José Eli da Veiga (Org.). Economia socioambiental. São Paulo: Senac, 2009.
fundo, onde o copo é mais estreito, os 40% mais
pobres detêm 5% do rendimento mundial
e os 20% mais pobres detêm apenas 1,5%”. 2% Vide IPEA — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasil; o estado de uma nação: mer-
203
Vide Charles C. Mueller, in Economia e meio-a cado de trabalho, emprego e informalidade. Rio de Janeiro: IPEA, 2006. É
mbiente na perspectiva do mundo indus-
trializado: uma avaliação da economia ambient *7 Vide, sobre os princípios da prevenção e da precaução, com as devidas apa Dr
al neoclássica. Estudo Econômicos, v. 26,n.
p. 261-304, maio/ago. 1996. 2, Freitas, in Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa Adminis ração F E .
» Vide Fernando Almeida, in Os desafios da sustenta 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. Sobre a transformação dos paradigmas hermenêuticos,
bilidade: uma ruptura urgente. 5. ed. Rio de vide Juarez Freitas, in A interpretação sistemática do direito, o cit. ;
Janeiro: Elsevier, 2007, p. 168: “a inovação tecnoló
gica, por si só, não é capaz de assegurar
sustentabilidade. É preciso que seja acompanhada “8 A tendência estatística é a crescente incorporação de milhões de idosos, que precisam pre
de inovações não-tecnológicas”.
ferencialmente de centros dignos de convivência, em vez de depósitos asilares.
100 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO.
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL 101

cumpre refletir: por que o Direito, habitualmente


estaduais, nos termos do art. 26, |, da CF. Não existe
chega tarde? Sumariamente, mencionem-se as
se. terceira hipótese.
guintes principais razões: (i) a falta de racionalidade
| (s) Erguimento de cultura avessa ao extrativismo puro e
antecipatória dos operadores do Direito e/ou
do simples, com o fito de propiciar o desenvolvimento,
jurisdicionados; (ii) o excesso de cultu
ra vinga por assim dizer, resiliente. Daí a importância, por
que age, por definição, a posteriori, ao pass
o que exemplo, de tratamento produtivo dos resíduos?!
o paradigma da sustentabilidade é preferen
cial e da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de
mente voltado a resolver os problemas futu
ra vida dos produtos. Igualmente imperioso inten-
evitando-os, sempre que possível, na raiz;
(iii) 4 sificar a universalização inclusiva digital? assim
fatia de percepção, legislativa e interpretativa,
da como o fomento da cultura em rede, mormente
árvore da vida”, ao passo que o novo paradigm
a à vista do fenômeno indesmentível de que a
ao reconhecer a conexão dialética de todos os
seres economia, sob certo aspecto, encontra-se em
vivos e a não contraposição demasiado rígid
a do marcha de desmaterialização dos produtos. Nesse
humano e do natural, favorece uma responsabili-
contexto, urge intensificar a ascensão dos inclusivos
dade intertemporal do Estado e da sociedade:
(iv) negócios “verdes”. Por exemplo, com 'incentivos à
O excesso de exploração parasitária damorosida
de química renovável, às renovadoras soluções para
processual, da litigância de má-fé e
dos ardis de a construção civil “esverdeada”,?º assim como ao
protelação, ao passo que o novo paradigm
a impõe emprego de embalagens recicláveis?! e manufatura
a duração razoável de todos os processo
s. Nessa reversa.
linha, o novo Direito Administrativo deve cuida
r da
regulação sustentável (tema enfatizado no Capí
tulo
9) e de absorver as publicizações constitucion
al- no Vide a Lei nº 9.433/97, que consagra esta opção constitucional, ao reconhecer expressament
e
mente incontornáveis. Por exemplo, as água a água como bem de domínio público.
s são a Vide a Lei nº 12.305/2010, art. 25.
bens públicos.” Logo, mister passar a cump
rir a 212 Vide a experiência do Comitê para Democratização da Informática (CDI), “pioneiro no
diretriz da Lei nº 9.433/97, art. 2º, 1, segu movimento de inclusão digital na América Latina e um dos principais empreendimentos
ndo a qual
se impõe assegurar à atual e às futuras gera sociais no mundo, com uma abordagem socioeducativa diferenciada e um modelo único
ções a de gestão, visando à sustentabilidade do projeto”.
necessária disponibilidade hídrica, em padrões 213 Vide, a propósito, a Sustainable Buildings and Climate Initiative (SBCI). No Brasil, vide
de o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o qual anuncia que, pela adoção de
qualidade adequados, com utilização racional e práticas sustentáveis de conservação e uso racional no setor da construção civil, viável
integrada, incluindo o transporte aquaviário, reduzir entre 30% e 40% do consumo de energia e de água. Vide Téchne — A Revista do
com Engenheiro Civil, São Paulo, n« 162, set. 2010, com textos que servem de referência para a
vistas ao desenvolvimento sustentável. Qual
quer construção sustentável.
Visão privatista, nesse ponto, deve ser encarada 24 Em linha com os princípios da lei que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Lei nº 12.305/2010), ao consagrar expressamente, no art. 6º, os princípios da prevenção,
como manifestamente inconstitucional: as da precaução e do desenvolvimento sustentável, numa visão sistêmica que contempla
a
águas
são federais, nos termos do art. 20, ecoeficiência, a cooperação entre as diferentes esferas públicas, a responsabilidade compar-
III, da e ou tilhada e a proporcionalidade. Ademais, deixa claro que é um dos seus objetivos estimular
padrões sustentáveis de consumo e produção de bens e serviços, assim como incentivar
a indústria da reciclagem (art. 7º). No art. 30, parágrafo único, dispõe que a responsabili-
e AE O e dade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo compatibilizar
29 Vide Vladimir Passos de Freitas E
Ati Curi: Jara 2007 í
( oord.). Águas: E DnERaçe ; interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e
aspectos jurídicos e ambientais. 3. ed. rev. mercadológica com os de gestão ambiental, assim como incentivar a utilização
de insumos
de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade e, ainda, propiciar
T02" | UAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO
| 103
FUTURO f VAL
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONA]
7)

() Inserção de novos indicadores que icação confiájá vel p ara


deem conta, sem ificaçã
Estabelecer sistema de certif
métrica demasiado simples, da sust
dimensional. Força ir além do Pró
entabilidade mulhe estimular boas práticas em setores vitais.
prio IDH, emborz (2) Enfrentar, com vigor, a improbidade Ed ai
áblica Êe P pri-
represente um notável progresso, E |
no confronto com ; i os recu rsos
ada), que suga Os p recios
as limitações iniludíveis do PIB. |
útil
Também se mostra io ad para o cumprimento pe
aperfeiçoar a “pegada ecológica “4
que, apesar dos conhecidos
”, estimativa sustentabilidade, que incluem — como visto
defeitos me |
costuma ser razoavelmente indi gicos ineliminável dimensão ética.
cati vatodoló
da insus-
tentabilidade global.2s Em síntese,
i
indicadores fidedignos de bem-es mporta adotar |
tar pluridimen-
sional, sobremodo em sintonia 4.2 Bloco indissociável
com as proposições.
da citada Comissão Stiglitz-Sen-Fi
(u) toussj
“é , : |
Trabalhar pelo cumprimento de ieti od ilustrar os possíveis componentes de nossa Ager
.

metas internacionais
E

da legíti m |
e ações coordenadas, em linh
a com as prioridades uentanillidade. Cada uma delasé p peça vitalpesa
OSustentabi nie
da Rio +20, na certezade que as soluções ambientais o lta paradigmática em curso, mormente
viravo
não se restringem ao âmbito
do Estado-nação, uma desafiad
Vez que a poluição não respeita fron tt
teiras. i cional.
(v) Mapear os focos de injustiça climát
ambiental, no sentido E. em dúvida, ; o fenômeno das mudanças
de se adotarem políticas públicas com
máximo ren- i i lemen-

dimento, empiricamente planej mn

adas 7
anteo /

aBorda E

ara the Stern


Ste E
VIEW. . Cambri dge:
Revie
8 ); vide a experiênc B y ix 1 Thee Economic 17 1 e C) Cha: nge:
7 s 0; f C limate
8 com a resina biodegradável PLA, alcançadF a pelase 27 + olas
V ide Nichol H. St e
Stern,
ge University Press, 2007, p . XVE
fermentação do amido de milho. Cambrid
iversi A “The costs of sta bilising the climate are
25 Vide, sobre pegada ecológica, e dangerous and more costly q . Co nfira-se,
Mathis Wackernagel e William significant but o A The E ofiamdes and Politics of Climate Change,
Fooiprint: Reducing Human Impact E. Rees, in Our Ecological
1996, p. 9. Vide, ainda, a rede WWF-Braon the Earth. Gabriola Island: New Society Publishers, ainda, Dieter Helm e
sil. Sobre a pegada ecológica, op. cit.
in Sustentabilidade: a legitimação vide José Eli da Veiga, on on € limat eChang e: Disp on vel em:
de'um novo valor, op. cit., p. 136, ba Vid Relator: E do IPCC — Inte reovernam enta
goverm mem Panel
onde refere alguns senões ide O elatório

2
desse indicador, especialmente no
tocante ao “modo
de avaliar a biocapacidade das áreas <http://www.ipcee,ch>. Ea ! latório subrê
Ocupadas pela agropecuária. Ela 219 No ponto, ainda que frágil em qo as das suas premissas, merece registro
não tem como referência o potencial o Rela limática
no que seria o rendimento sustentá produtivo baseado nco Mundial, ão assinalar que a mudança

a
vel dos solos. Ao contrário, o desenvolvimento mundial de 2010, dol c de
a capacidade produtiva constatada”. tem como referência , nte para os países em desenvolvimento,
Por isso, não é razoável que se é ameaça para todos os países, especia osm
ecológicas com biocapacidades compare pegadas E Done acima das temperaturas
locais. O certo é compará-las à biocapa hneráveis: “Até mesmo um aquecimento pré-industriai
sentido, a pegada não é um indicado cidade global. Neste srimentará — poderia resultar em
r de sustentabilidade de um país RR imo que provavelmente o fund reduções
indicador de sua contribuição à ou região. É um deste Asiático. A maioria dos países
insusten E
footprint-network.org>; e <www.footprint tabilidade global. Disponível em: <http://wrww. E do PIB de 4% a 5% par a a eo Su financeiras e técnicas
Africa em
standards.org>. uol imento carece de suficientes capacid para gerenciar
*º Vide o Report by the Commission Es mis décadas os sistemas energéticos
on the Measurement of Economic
Performance and So- eliadco cada vez maior”. Nas do
cial Progress, que reconhece o caráter pa do deverão ser transformados próximas. se lobais caiam de 50% a 80%.
multidimensional do bem-estar: para que as a
Well-being means a multidimensional “To define what E imnáticos Extremos pára
definition has to be used. Based mundo forçar a infraestrutura para suportar
search and a number of concrete on academic re- : novos e da ais eqpanistemas já
initiatives developed around Deve-se as a três bilhões de pessoas sem ameaçar entres:
has identified the following key dimensi the world, the Commission aim eotaside apoios Festrte
principle, these dimensions should be on that should be taken into account. At least in alimentar mai iso aumentar a produtividade e
a eficiência ER ível de longo:prazo
considered simultaneously: 1. Material sados será ES ma e larga
' dards (income, consumption and
wealth); ií. Health; iii. Education;
living stan- hídricos. Ed gestão integrada e um planejamento
including work v. Political iv. Personal activities a E crescentes demanda flex s naturais de alimentos,
s sobre os recurso
, O! V m: do
conserva ao ao mu mesmo
Ss. p
tempo
VIÇ
e serviços sist
do eco ssistema
Envi onment (pre: ); viii. Insecurity, of an economic as well Pas bioener gla, energia hidroelétrica
a physical nature” (p. 14-15). à biodiversidade e mantendo estogui
toques de carbono no so Jo e florestas.
104 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 4 | 105
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

energias renováveis, multimodalidade racional nos trans- Com efeito, na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente
portes, controle do desmatamento? e, de resto, tudo aquilo e Desenvolvimento, de 1992, materializou-se a noção correta
que se insere numa poderosa transformação do estilo de de que “a proteção ambiental constituirá parte integrante do
consumo e de produção, com a observância da função sus-
rocesso de desenvolvimento e não pode ser considerada iso-
tentável das propriedades.?: E mente deste” (Princípio 4). Mais adiante, entre os Objetivos
No entanto, a Agenda da Sustentabilidade é desafio que do Milênio, figurou o propósito de integrar os princípios do j
ultrapassa - e muito - a questão do aquecimento global, pois desenvolvimento sustentável nas políticas e nos programas
seria inadiável por outras razões ainda mais críticas. Tem
a nacionais. Em 2012, essa linha filosófica aparece em vários
ver, mais propriamente, com uma opção filosófica pelo modo documentos.
de viver capaz de produzir o bem-estar, a longo prazo. Não se pode subestimar ou negar o acerto de tais pres-
Por outras palavras, a Agenda da Sustentabilidade crições, que andam na via acertada. Mas tudo isso é pouco.
assimila e transcende aquilo que consta-no citado Relatório Muito pouco. O que releva, em termos de Agenda, é aprofundar
Brundtland, em que pese a sua já louvada importância a percepção de que o desenvolvimento e a sustentabilidade
histó-
rica? Ou seja, é mais do que querer aquele desenvolvimento não são categorias necessariamente colidentes, no plano nor-
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer mativo eno campo empírico. Esta, a sustentabilidade, modela
à
capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias aquele. Condiciona-o. Redefine-o.
necessidades. Supõe passo adiante (em relação ao conceit
o.
limitado de necessidades), especialmente pelos argumentos
veiculados no Capítulo 1. 43 Desenvolvimento e sustentabilidade:
A Agenda da Sustentabilidade Multidimensional é mais constituição mútua
rica, fecunda-e desafiadora do que simplesmente suprir
as Convém remarcar: o desenvolvimento e a sustentabilidade
necessidades materiais. É ousar o extraordinário
e assegurar, não apenas são compatíveis, mas se constituem mutuamente. Por
com eticidade intertemporal, a marcha positiva das atuais
e futuras esse motivo, acolhida uma lógica distinta da dominante,?
gerações, garantindo a múxima qualidade possível, material
e ima- devem ser incrementados, nos moldes propostos pela Agenda,
terial, à vida de todos os seres, hoje e amanhã.
aqueles empreendimentos vinculados à economia de baixo
carbono, com os estímulos competentes à implantação con-
creta do novo paradigma.
20 Vide Ronaldo Seroa da Mota, in Aspectos regulató
Boletim Regional
rios das mudanças climáticas no Brasil.
, Urbano e Ambiental, v. 4, P. 35, jul. 2010: “Metas naciona
Nesse prisma, sem deixar de reconhecer o caráter enig-
is concentradas
no controle do desmatamento podem oferecer
ao país uma significativa vantagem com- mático da expressão desenvolvimento sustentável, destaca,
parativa, pois a redução do desmatamento é,
sem dúvida, menos restritiva ao crescimento
econômico que as restrições ao consumo de energia,
inclusive no processo industrial”.
*! Vide, de modo explícito, o Código Civil, art. 1.228,
81º: “O direito de propriedade deve * Vide os Objetivos do Milênio, da ONU, entre os quais o nº 7, “Qualidade de vida e res-
ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que peito ao meio ambiente”, inclusive com a melhora significativa nas vidas de milhões de
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, habitantes de bairros degradados. E)
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e
o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas”. ** Vide João Carlos Ferraz, in Grandes e pequenas empresas competitivas e modernas. e
222
Vide, outra'vez, o Relatório Brundtland, da Comissã João Paulo dos Reis Velloso (Coord.). Brasil, novas oportunidades: economia verde, pré-sal,
o Mundial sobre Meio Ambiente e De- carro elétrico, Copa e Olimpíadas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2010, p. 113: Este país
senvolvimento (CMMAD). Nosso futuro comum: a
relatório da Comissão Mundial sobre Meio avançará enquanto não contarmos com uma indústria financeira que esteja financiando o
Ambiente e Desenv olvimento, op. cit.
longo prazo”.
106 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 4 | 107
NOVA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE MULTIDIMENSIONAL

com pertinência, José Eli da Veiga que há “forte visão con-


vergente de que as sociedades industriais estão entra íritos, acompanhada do redesenho do quadro con-
ndo em dos E s no lab jurídicas e econômicas.” Naturalmente,
nova fase de sua evolução. E que essa transição será ceitual O nd das propostas pressupõem o olhar
tão signi- livre em
ficativa quanto aquela que tirou as sociedades
europeias da Ro o velho indicador do PIB?! e desembaraçado da
ordem social agrária e levou-as à ordem social O anca nte errônea de que o consumo energético seria
industrial” 2s
Cumpre, desse modo, acelerar essa transição no
e inten- i
roporciona lao crescimento.2?
sificar deliberadamente a convergência efetivad À
ora do direito. E Pois bem. Estabelecida a Agenda, é chegado o momento
fundamental?* ao ambiente limpo e saudável
, com a plena xaminar a sustentabilidade como valor constitucional.
vinculação da discricionariedade administrativa
À sustentabilidade, E a Constituição nada mais é (ou deveria ser) do que
tecido o inter-relacionamento dos princípios
da prevenção o institucional de produção jurídico-política de o
e da precaução,2! com o reforço da responsa
bilidade ante- tase social. Precisamente, é o enfoque adotado no capítulo a
cipatória,2º da participação?” democrática diret
a, da equidade seguir.
intergeracional (com a redução das desigual
dades nocivas ao
bem-estar geral), do usuário-pagador (com o
reconhecimento
dos custos — diretos e indiretos — de todas
as fruições), do
poluidor-pagador (com o cuidado de não
ser uma licença
para poluir, mediante pagamento), da cooperaç
ão (no fundo,
de bases biológicas), do não-poluidor-recompe
nsa (com os
incentivos sugeridos), da proporcionalidad
e (com a proibiçã
o
de excessos e inoperâncias) e da boa administ
ração pública
(com a eficiência e a eficácia).
Tudo para erguer o novo padrão do desenvol
vimento
resiliente, que requer, por assim dizer uma “des
carbonização”

2 Vide José Eli da Veiga, in Desenvolvime


nto sustentável: o desafio do século
Janeiro: Garamond, 2008, p. 208. XXL. 3. ed. Rio de

“2º Vide Pietro Perlingieri, in Perfis do direito


civil: introdução ao direito civil constitucional
3. ed. Rio de janeiro: Renovar, 1997, p. . 20 Vide, sobre a inércia das teorias econômicas consolidadas, José Eli da Veiga, in Susten-
171, ao perceber que o ambiente equilibrado
vincula com o fortalecimento da pessoa. se li
tabilidade: lor, op. cit., p. 148.
itimaçã de um novo valor,
a legitimação
2? Vide STJ: RESp nº 972.902/RS, 2º Turma. 23: Vide Robert Costanza et al., in Beyond GDP: the Need for New ia of a
Rel. Min. Eliana Calmon: Julg. 25.8.2009.
set, 2009; e RESp nº 1.060.753/SP, 2º Turma, DJe, 14 i i
he Pardee Papers, Boston University, n. 4, 4, p. 8, Jan. 2009: “Because GE measures y
Rel. Min. Eliana Calmon. Julg. 1º.12.2009.
14 dez. 2009. DJe, E eras adans related to the production of goods and services, it 6 base on a
“8 Vide, sobre antecipação, Catherine Larrêre incomplete picture of the system within which the human economy operates”. A raro
e Gérard Raphaél Larrêre, in Du bon usage de
nature; pour une philosophie de Venvironneme la 2a Inclusive porque é perfeitamente possível o crescimento o e a E
nt. Paris: Aubier, 1997, E
2 Vide, sobreparticipação, LaurentComélia u, necessariamente
i haver crescimento
SSCi do consumo de energia. Sobre o j s
Nathalie Holece Jean-Pierre Piéchau din Repêres e nr o
pour "Agenda 21 local: approche territoriale du développemen É ldcinissrs im Energia: o que São Paulo pode fazer pelo Brasil. O
t durable, Paris: Association “(...) é possive a rapidam nie e
4D, 2002, p. 23: “Le développement durabl
e est indissociable du développement
Paulo, p. A2, ç 15 nov. 2010: (6 ível fazer o PIB crescer mais
démocratie locale participative et d'une approche citoyen d'une de energia,i como está á ocorrendo em muit tos países.
à Não se trata
rata de
un rôle important à la médiation et à Vaccês ne. Cette approche fait jouer DE détoj rivar do utilização de energia, mas de racionalizar o seu uso”. Cita o Pe
à Vinformation. Le développement durable FR
privilégie une approche ascendante, bottom- E sliioriiano “onde o consumo de eletricidade é quase 50% menor do que nos
up, ce qui doit permettre de lui donner
dimension concrête et d'assurer la réussite des une Unidos cómo um todo. No Brasil, até agora, apenas geladeiras de baixa eficiência
projets dont il est porteur”.
proibidas”.
CAPÍTULO 5

SUSTENTABILIDADE COMO
VALOR CONSTITUCIONAL

Sumário: 5.1 O desenvolvimento sustentável, não qualquer desenvolvimento,


é valor supremo — 5.2 A sustentabilidade é valor supremo, no discurso cons-
* titucional — 5.3 O desenvolvimento reconceituado — 5.4 O mercado, por si,
não dá conta das legítimas aspirações imateriais — 5.5 Sustentabilidade é
diretriz vinculante — 5.6 Escolha valorativa de assento constitucional —5.7 Sus-
tentabilidade inclusiva — 5.8 Tudo recomenda ultrapassar reducionismos — 5.9
Sustentabilidade veda omissões e ações danosas —5.10 A Constituição determina
estratégias antecipatórias — 5.11 Em resumo

5.1 O desenvolvimento sustentável, não qualquer


desenvolvimento, é valor supremo
Sustentabilidade, no sistema brasileiro, é, entre valores, um
valor de estatura constitucional. Mais: é “valor supremo”, acolhida
£

a leitura da Carta endereçada à produção da homeostase biológica e


social de longa duração.
Fácil justificar: no preâmbulo da Constituição” o de-
senvolvimento aparece como um dos “valores supremos”.

23 Vide, sobre valores constitucionais, o preâmbulo da Carta, a saber: “Nós, representantes do


povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liber-
dade, a segurança, o bem-estar, O desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das con-
trovérsias”. Não se ignora a discussão sobre incomensurabilidade, mas refoge do presente
trabalho.
110 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5 | 111
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

Qual desenvolvimento? Não pode ser aquele da visão antro- incorpora o


Ademais, o conceito do desenvolvimento
pocêntrica soberba”! e degradante da natureza2: nem o da
tido da sustentabilidade por força da incidência de outros
insensibilidade característica das relações parasitárias e pre-
a sitivos constitucionais, tais como, para ilustrar, o art.
datórias. É o desenvolvimento sustentável ou, como se prefere,
O parágrafo primeiro (planejamento do desenvolvimento
a sustentabilidade que surge como um dos valores
supremos, - ilibrado), o art. 192 (o sistema financeiro tem de promover
Bem observadas as coisas, a carga axiológica impregna Ee volvimento que serve aos interesses da coletividade),
o
desenvolvimento, desde o início. Do art. 3º, II,
da CF, emerge”
Ee 0 (vinculado ao pleno desenvolvimento da pessoa),
o desenvolvimento, moldado pela sustentabilidad científico e tecnológico, com o
e (não o E Ss 218 (desenvolvimento
contrário), como um dos objetivos fundamentais da Repúb
lica, E rmplícito de observar Os ecológicos limites)” eo Cita
incompatível com qualquer modelo inconsequent (segundo o qual será incentivado o sda cultura
e de pro-
gresso material ilimitado que, às vezes, e a autonomia tecno o
por sua disparatada e socioeconômico, o bem-estar
injustiça ambiental e social, ostenta tudo, Em sinergia com esses dispositivos, consta, no art. 170,
menos densidade
ética mínima. VI, da Carta, a consagração expressa da defesa do ambiente,
:
O ponto é que, quando a Constituição fala em desen como princípio de regência da atividade econômica, a que
vol-
vimento como valor supremo e como objetivo o tratamento diferenciado, conforme o impacto ambiental dos
fundamental,
quer necessariamente adjetivá-lo como sustentáve serviços:
l, intertem-
porale durável. Melhor do que isso: pretende que o sie constitucionalmente exi-
a sustenta-
bilidade fixe os pressupostos (sociais, econô
micos, ambientais, gido, é aquele que se deixa tingir pelas cores éticas dad
jurídico-políticos e éticos) de conformação do dese sociais e econômicas). Qualquer acepção unilateral ou unidi-
nvolvimento
constitucionalmente aceitável. recional resulta em manifesto desacordo com as linhas mestras
Por sua abrangência, a sustentabilidade remete da Lei Maior.
à rea-
lização, em bloco, dos objetivos fundamen
tais da República.
Nessa medida, o valor da sustentabilidad
e recomenda, como
critério de avaliação das políticas públicas e priva 5.2 A sustentabilidade é valor supremo, no discurso
das, a re-
dução das desigualdades sociais e regionais, constitucional
a proteção da
dignidade humana e dos seres vivos em geral,
assim como a Pelos motivos expostos, o desenvolvimento, entendido
intervenção reguladora contra Tegressivismos como um dos valores constitucionais supremos, somente se
desequilibra-
dores do sistema ecológico, por mais arraigados
que estejam
nos cérebros oligárquicos dominantes.
É Ósi i
| de Tim ri
Jackson, ini Prosperity j
Without rowth?: Thee Transition to a
Growt
: ça E cit. p. 107: “A key motivation for redefining pg basis of
ng dr ies is to make room for much-needed growth in poorer
2* Vide Laura Pérez Bustamante, in Los E ions. Butama mes expand
as these eeconomies cia urg
there will ill also also be an urgent need to ensure that
derechos de la sustentabilidad; desarollo,
ambiente. Buenos Aires: Colihue, 2007, P- 275; consumo y E o mentio sustainable and remains within ecological limits. International policy
contra a soberba humana e a favor da is a bis fee lr
mudança de valores (p. 264) will be required to establish a global technology
2» Vide Edward ici
fficiency, i
carbon reduction, and i
the protection of “ca“carbon sin s' (e.g.
Osbomne Wilson, in La creación
: salvemos la vida en la tierra, op.
ao acentuar que a degradação da biodiv cit., p. 114, od very dn dessas countries. This could be funded ne Gun daç
ersidade ocorre por múltiplos fatores, i i
from developing coun tries, or ! throug) vt
pela atividade humana agravados ble by i
importers) on imports
. Resume: perda do habitat (habitat loss), espécies invasoras
species), contaminação (pollution), superp (invasive E el ren transfers. Example/precedent: Global Re
opulação humana (human over population) the
ração excessiva (overharvesting). e explo- Clean Development Mechanism; Development Aid targets; funding provisions of
Biodiversity Convention”.
JUAREZ FREITAS
1 12 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO | 113
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

esclarece, interna e externamente, se conjugado à sustenta.


i ara o curto prazo não se coaduna com o
bilidade multidimensional. Afigura-se irretorquível a asser. exclu E so da Ena ao O axioma da insacia-
tiva, ou de difícil refutação, mormente quando se comple
ta q a Ê ue associa o bem-estar ao consumo crescente, não
quadro com a alusão ao art. 225 da CF, de
acordo com o qual E or sentido,” pelo menos a partir de certo ponto.
todos têm direito ao ambiente equilibrado
como bem de uso E. DO amónio não funciona, a despeito do prestígio da
comum do povo, impondo-se ao Poder Público
e à coletivi- E E benefícios do consumo ilimitado. Ro
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para tes
as presentes e De sorte que, com distintas cargas semânticas, a susten-
futuras gerações.
Como resulta cristalino, da sinapse tabilidade (a) é princípio ético-jurídico, direta e imediatamente
dos comandos cons-
titucionais, o'valor da sustentabilidade, com a vinculante (do qual são inferíveis regras), que desta o
sua pluridimen- oferecimento de condições suficientes para o bem-estar as
sionalidade valorativa,>” inspira a completa
ultrapassagem atuais e futuras gerações, (b) é valor constitucional supremo
do modelo tradicional de desenvolvimento
(medido pelo (critério axiológico de avaliação de políticas e Ro E o
enganador PIB), de ordem a não restringi-lo
à esfera medío- é objetivo fundamental da República (norte integrativo de toda
cre, limitada e limitante, do crescimento material iníquo e 4 ne
desordenado. Tampouco pode ser o modelo interpretação e aplicação do Direito).
voltado para o Nessa vertente multifacetada, a ascensão valorativa da
hiperconsumismo patológico, que faz as classes
médias dos sustentabilidade catalisa a transformação de estilo do pensamento
países desenvolvidos adotarem padrão de
vida que simples- * ético e jurídico-político, no intuito de fazê-lo fonte do desenvolvi-
mente não consegue ser generalizado para
as classes médias mento durável? resiliente e socialmente justo. Numa expressão:
dos países emergentes.
Dito de outra maneira, do entrelaçamento desenvolvimento sistematicamente sustentável,*º com a e
tópico-siste- ciência?” a serviço da eficácia, numa perspectiva Eos ada a
mático de dispositivos constitucionais, notada
mente dos arts, hermenêutica das relações jurídicas, preferencialmente ado-
3º, 170, VI, e 225, avulta o critério da sustentabilida
de
(valor tando soluções em conformidade com a natureza.
desdobrado em princípio), que intenta o desenvo
lvimento con-
tinuado e durável, socialmente redutor de iniquidades,
voltado para
presentes e futuras gerações, sem endossar o de desenvolvimento econômico e social não resultaram de uma ao Sesi
crescimento econômico
irracional, aético, cruel e mefistofélico. inercial, mas de opção política orientada para formar uma sociedade apta a a
inâmico nesse processo”. ;
Sem dúvida, não é todo crescimento 240 Dom estimular o Aee sobre a superação da ótica da Economia voltada caRca
que econômico
se “metamorfoseia em desenvolvimento”, prazo Herman E. Daly e John B. Cobb, im E is ad Ei a ai Rom :
para lembrar and Community, the Environment, and a Sustainable - E ps nai
a'feliz expressão de Celso Furtado. A econom 1989. Vide, ainda, Herman E. Daly, in Ecological Economics and Sustaina p E
ia voltada : : Edward Elgar, 2007, p. 24, sobretudo ao mostrar que um
= pa Ração die insustentável tem sido o ne da insaciabilidade,
segundo o qual as pessoas seriam mais felizes se Fon As mais. E
*” Vide, sobre valores ambientais, Ricardo Luis “ Ao se cogitar de desenvolvimento durável, convém não fine que de mb q o
Lorenzetti, in Teoria geral do direito ambiental. devem durar para que o a aa pr or isso, p y
São Paulo: Revista dos Tribun ais, 2010, p- 32: “O paradigma ambien
nição valorativa cada vez mais potente”, tal importa uma defi- m parcimônia, a expressão desenvolvimen 5 7
*8 Vide, sobre valor e princípio, Juarez Eça ua aa Scotto, al Cristina de Moura Carvalho e Leandro Belinaso ce
Freitas, in À interpretação sistemática do
especialmente o Capítulo 1. direito, op. cit., in Desenvolvimento sustentável. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 91: a busca e o
f tabilidade socioambiental estaria muito limitada se vislumbrada a partir, somen ie
*» Vide Celso Furtado, in Os desafios da nova
geração. Revista de Economia Política, v. 24, n. racionalidade tecnológica e de uma globalização focada simplesmente no sa q a
Pp. 484, out./dez. 2004: “(...) quando o projeto 4,
social prioriza a efetiva melhoria das con- 2“ Vide, sobre eficiência que não necessariamente conduz à sustentabilidade, aa ; E
dições de vida dessa população, o crescimento se metamorfoseia em desenv
Ora, essa metamorfose não se dá olvimento. e Edward Barbier, in Blueprint for a Sustainable Economy. Eeadoo Harthecan, Ps E
espontaneamente. Ela é fruto da
realização de um projeto,
expres
são de uma vontade política. As estruturas 2% Vide, sobre engenharia é soluções inspiradas na natureza, Janine E Benyus, in Biomimicry:
dos países que lideram o processo
Innovation Inspired by Nature. New York: Harper Perennial, 2002.
114 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 5 | 115
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

Advoga, com acerto, Ignacy Sachs que o “desenvol. olíticas macroeconômicas e administrativas, outrora imunes ao
vimento pretende habilitar cada ser humano a manifestar E trole paramétrico, no tocante aos custos sociais, ambien-
potencialidades, talentos e imaginação, na procura da. tais? e econômicos, diretos e indiretos (externalidades). Esse
da sim-
autorrealização e da felicidade, mediante empreendimentos
controle tem de sair do mundo virtual ou potencial
individuais e coletivos, numa combinação de trabalho autô- ples promessa. Não basta ser letra da lei ou da Constituição.
nomo e heterônomo e de tempo dedicado a atividades não Concretamente, as políticas precisam ser escrutinadas, de maneira
objetivos funda-
produtivas”. sustentável, em consonância com os princípios e
Tal descrição possui a vantagem de incorporar elementos mentais da Carta, não consoante os clientelismos antifuncionais,
como o acesso a ativos fundamentais, tais como habitação e imediatistas e sem nexo.
tempo livre. Mas ainda é pouco. Segundo otexto constitu-
cional, “a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvi-
mento, a igualdade e a justiça” são valores supremos. Logo, 5.4 O mercado, por si, não dá conta das legítimas
o desenvolvimento só faz sentido exatamente quando auxilia. aspirações imateriais
a concretização de todos os valores de uma “sociedade fra-
Todo o afirmado conduz a assimilar uma lição valiosa
terna”, no presente e no futuro. Nesse passo, reafirma-se quea
das crises sistêmicas recentes: o mercado, por si só, não con-
sustentabilidade apenas se elucida em contato objetivo com os demais
segue lidar com aspirações imateriais e com as externalidades
valores e os qualifica, por assim dizer, material e imaterialmente.
negativas e, via de consequência, solicita a mais vigilante
regulação” pluralista, interdisciplinar e independente das
pressões espúrias dos plutocratas e dos manipuladores.
5.30 desenvolvimento reconceituado
Tampouco se mostra razoável insistir na postura de
Crucial incorporar nota de pronunciado destaque ao singela restrição, que não sabe tratar do tema do desconto do
componente imaterial ou valorativo. Daí nasce o desenvol- futuro ou, o que dá no mesmo, do processo fatigante e contra- .
vimento como florescimento das condições, internas e externas, producente do alarmismo inflamado e meramente gerador
viabilizadoras do círculo coexistencial benéfico de consciências que de pânico.
recuperam a filosofia da unidade dialética da vida, em termos físicos, Naturalmente, os alarmes podem ser extremamente
psíquicos e, em derradeira instância, éticos e imateriais. úteis, como, por exemplo, ao mostrar que, consoante os mo-
Nesses moldes, não há exagero em afirmar que a inter-. delos climáticos disponíveis, as secas na Amazônia tendem
pretação da Constituição requer novo referencial axiológico
e normativo,” que estimule a sindicabilidade aprofundada das
% Vide, apesar de sua crença algo exagerada no mercado, para exemplificar anecessidade de
sopesar os custos ambientais da energia, Stephan Schmidheiny, in Changing course: a global
business perspective on development and the environment. Cambridge: MIT Press, 1992,
especialmente o Capítulo 4.
*s Vide Ignacy Sachs, in A terceira margem: em busca do ecodesenvolvimento
, op. cit., p. 35. *» Não se trata, porém, de aderir a críticas fáceis demais à economia e ao livre mercado, como
“6 Vide Ignacy Sachs, in A terceira margem: em busca do ecodesenvolvimento
, op. cit. p. 35. parece ter sido o caso de John Gray, in False Dawn: the Delusions of Global Capitalism.
Sachs define a inclusão justa Por oposição ao padrão de cresciment
o perverso (p. 38). New York: New Press, 1998.
*” Foge dos objetivos, nesse momento, examinar as noções de
norma deontológica-e norma 2º Vide, apenas para ilustrar, sobre regulação e seus princípios, Carol Harlow e Richard
axiológica, assim como formuladas por Robert Alexy, in Teoría de
los derechos fundamentales. Rawlings, in Law and Administration. 3º ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009,
Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales,
2002, p. 142. p.252.
jié | ESUSTENTABILIDADE
'AREZ FREITAS
- DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5 | 117
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

a ficar perigosamente comuns, em decorrência da emissão


ue lidar com esses custos requer plena ciência de que as
desmedida dos gases do efeito estufa. >!
Mas o que se quer sublinhar é que os alarmes?» precisam À rernalidades negativas introduzem espantoso poder destru-
ser consistentes, sólidos e racionais. E ainda: a troca de paradigma tivo: o fundamentalismo de mercado é lesivo, por definição,
axiológico implica lidar, inteligentementee de modo vertebrado, com . ao valor constitucional da sustentabilidade.
os mencionados trade-offs de eficiência e equidade, incorporando os.
custos externos da poluição e superando o antropocentrismo
como:
medida de todas as coisas. 5.5 Sustentabilidade é diretriz vinculante
Como sublinhado, a visão exacerbadamente antropocêntrica O que se infere de tudo isso é o dever, introduzido por
e instrumentalista trai uma percepção valorativa pobre e limitada norma geral inclusiva (CE art. 5º, 82º), de adotar a diretriz axiológica
,
Não explica a proibição constitucional da crueldade (CF, art. da sustentabilidade e, mais do que isso, o princípio que determina,
225),
Tampouco reconhece o valor intrínseco de cada ser natural intra e intergeracionalmente, o respeito ao bem-estar
ou, individual
o que deveria ser incontroverso, os limites do crescimento le transindividual, com o fito de promover a preservação ou a res-
econômico.: Inadmissível celebrar o pacto fáustico Hauração do ambiente limpo, não mais sufocado pela ideologia
com o
desvalor do sucesso que cobra o preço de abdicar do futuro
. tosca e agtica do crescimento a qualquer custo. Nesse contexto,
Seguramente, a proposta de releitura da Carta, sob
a mais do que de eficiência, o que se carece é de sinergia e de eficácia
ótica da sustentabilidade, desfaz o mito do funda
mentalismo direta e imediata do direito ao futuro. |
de mercado, que pôs o mundo, na expressão de Stiglitz,
em — Consigne-se que, a pouco e pouco, esse tipo de preocu-
“queda livre”, em face do triunfo sombrio da ganância
e da pação com o desenvolvimento começa a deitar raízes em nossa
irresponsabilidade” sobre a prudência.
jurisprudência. Verdade que, em função de reacionarismos
Mais especificamente, quando ocorrem custos am-
bientais, como
falaciosos, inescondível o longo itinerário a percorrer, na afir-
observam Paul Krugman e Robin Wells,
custo social marginal de um bem ou atividade excede o
“o mação do valor da sustentabilidade.
custo O certo, porém, é que apenas a sustentabilidade, entendida
marginal da indústria em produzir esse bem” .7 Donde
segue =como valor e como princípio constitucional, garante a dignidade dos
seres vivos (para além do antropocentrismo exacerbado) e a prepon-
21 Vide Simon L. Lewis et al. in The 2010 Amazon
Drought. Science, v. 331, n. 6017, p. 554, Feb, derância da responsabilidade antecipatória, via expansão dos hori-
4% 2011.
*2 Vide, por seu caráter provocativo é a sua aposta em zontes espaciais e temporais das políticas regulatórias. Determina,
nova civilização, Elvin Lazlo, in The
Chaos Point: the World at the Crossroads. Charlottesville:
Hampton Roads, 2006.
23 Vide a discussão acumulada a partir do trabalho
de Donella H, Meadows et al. in The Limits
to Growth: a Report for the Club of Rome's Project on the Predica em alguns casos, contudo, as atividades econômicas geram benefícios externos. Custos e
ment of Mankind, New
York: Universe Books, 1972. benefícios externos são conhecidos como externalidades, sendo os custos externos deno-
*+ Vide, sobre o pacto fáustico e os desafios do aquecim minados externalidades negativas e os benefícios externos denominados externalidades
ento global, George Monbiot, in Heat:
How to Stop the Planet Burning. London: Allen Lane, positivas” (p. 409). Escrevem, a propósito, sobre as vantagens do imposto sobre Enmiadõra.
2006.
* Vide Joseph E. Stiglitz, ao descrever a ganância vencend é Vide Fernando Almeida, in Experiências empresariais em sustêntabilidade; avanços, dificul-
o a prudência, in O mundo em queda
livre: os Estados Unidos, o mercado livre e o naufrág dades e motivações de gestores e empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 19: “Para
io da economia mundial. São Paúlo:
Companhia das Letras, 2010, p. 225. alcançar a sustentabilidade até o conceito de felicidade precisa ser repensado. O bem-estar
*s Vide, sobre o caso da Grécia, o relato impactante humano não demanda necessariamente altos níveis de consumo”.
de Michael Lewis, in Bumerangue: uma
viagem pela economi a do novo terceiro mundo. Rio de Janeiro: Sextante * Vide Manfred A. Max-Neef, in Human Scalé Development: Conception, Application and
, 2011, especial- Further Reflections. With contributions from Antonio Elizalde and Martin Hopenhayn.
mente p. 57-93.
2? Vide Paul Krugman e Robin Wells, in Introduç New York: The Apex Press, 1991, p:58. :
ão à economia. Rio de Janeiro: Elsevier;
Campus, 2007, p. 408. E, adiante: “Os custos da 0 Vide STF. ADI nº 3.540-MC/DF, Pleno. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 1º.9.2005. DJ, 3 fev.
poluição são um exemplo de custo externo;
2006.
| 119
118 | SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

de fato e de direito, a preponderância da mirada prospectiva (nos tudo, de valores, isto é, de dentro para fora. Tem razão Dale
moldes a serem enfatizados no Capítulo 10) e a considerável Jamieson: “A fim de encararmos as nossas responsabilidades,
expansão das liberdades substantivas, na linha de Amartya devemos pensar claramente nos valores que estão em jogo,
Sen," embora mais propriamente deva gerar uma expansão porque o mundo do futuro será aquele que construirmos. O
intersubjetiva das dignidades, em contraste com a desenfreada exame final não será uma prova no fim do semestre, mas como
busca dos bens posicionais e das rendas poluídas por privi- escolhemos viver”8 : Ra
légios — para esse efeito, adotado o conceito pejorativo de Felizmente, boa parcela da população brasileira” emite
rent seekinge sinais de que entende o desenvolvimento não mais como
Bem por isso, todas as providências aqui sugeridas excentricidade ou marketing oportunista. Ao que tudo indica,
devem ser, antes de mais nada, o resultado de profunda rea- a causa da sustentabilidade encontra circunstâncias inéditas
valiação dos (des)valores disseminados, tendo em vista a para difundir o novo paradigma constitucional, por mais que
gravidade sem precedentes da situação global,*º causada pelo a hegemonia da insaciabilidade pretenda dizer o contrário.
modelo dominante, que, a exemplo da má alimentação, quer. As condições estão dadas. A luz da Constituição, o novo
se passar como inevitável. desenvolvimento, moldado pela sustentabilidade como valor
No cenário interno, importa decididamente implementar e como princípio, mostra-se perfeitamente racional, plausível
a preconizada Agenda da Sustentabilidade como poderosa e cogente. Lógico: quanto mais forem proteladas as medidas obri-
transformação do estilo de vida. Transformação, acima de outórias de mitigação e de adaptação, mais graves serão as perdas
perfeitamente evitáveis. Vale dizer, quanto mais proteladas as
8 Vide Amartya Sen, para quem o desenvolvimento é visto'como “eliminaçã
medidas de sustentabilidade, mais dispendiosas serão e maior
de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas
o de privações
de exercer ponde-
a probabilidade de que cheguem fora do prazo hábil.
radamente suas condições de agente”, in Desenvolvimento como liberdade,
op. cit. p. 10. Catastrofismos à parte?” (conquanto não possam ser
Defende, pois, o desenvolvimento como “expansão das liberdades
reais que as pessoas
desfrutam” (p. 17), consideradas as razões avaliatórias e de eficácia (p. 18). Fala minimizados os ganhos de pensar, preventiva e precavida-
de liber-
dades (“distintas mas inter-relacionadas”, P. 25) como liberdades
políticas, facilidades
econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e segurança
mente, sobre catástrofes), todas as medidas sugeridas afigu-
protetora
(p. 55) Considera as liberdades “os fins primordiais do desenvolvimento”
e os seus “meios ram-se axiologicamente defensáveis e perfeitamente factíveis,
principais” (p. 25). Aqui, ao se acentuar a necessária expansão das dignidades (engloband
as liberdades), quer-se realçar uma dimensão imaterial no desenvolv
o desde que o omissivismo não as impeça. SR
imento como tônica
irrenunciável. Como quer que seja, o enfoque está de acordo com Amartya Sen,
quando Acolhida essa premissa, a perda da biodiversidade, por
destaca: “O crescimento econômico não pode ser insensatamente considerad
si mesmo” (p. 29) e, ainda, ao quando ele realça as liberdades substantiv
o um fim em exemplo, não prosseguirá no presente ritmo delirante, uma vez
as (p. 32) e a
qualidade de vida (p.39). que será considerada inconstitucionalidade manifesta. A falta de
Não se endossam, por inteiro, as análises extremadas sobre rent-seeking; contudo,
o sentido pejorativo, vide James M. Buchanan, in Rent-Seeking and Profit
sobre água potável, a seu turno, não continuará absurdamente
Seeking. In:
James M. Buchanan, Robert D. Tollison é Gordon Tullock (Ed.). Toward a Theory of the indigna: o saneamento e a racionalização do uso dos recursos
Rent-Seeking Society. College Station: Texas A & M University, 1980, p. 47: “The
term rent-
seeking is designed to describe behavior in institutional settings where individual
efforts to
maximize value generate social waste rather than social surplus”.
26:
Vide William D. Nordhaus, in A Question of Balance: Weighing the Options %5 Vide Dale Jamieson, in Ética & meio ambiente: uma introdução, op. cit., p. 278.
m

on Global
Warming Policies. New Haven: Yale University Press, 2008, p. 2: “(...)
there can be little 2% Vide a pesquisa “O que os brasileiros pensam do meio ambiente e do desenvolvimento
scientific doubt that the world has embarked on a major series of geophysical changes sustentável”, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com pune instituições:
that
are unprecedented in the past few thousand years”. 2 Vide, para problematizar, Jean-Pierre Dupuy, in Pour un catastrophisme éclairé: quand
264
Vide, sobre os ares de inevitabilidade que assumem determinadas questões, Himpossible est certain. Paris: Seuil, 2002. ; E
Eric Schlosser,
in Fast Food Nation: the Dark Side of the All-American Meal. New York: HarperColl 2 Vide Clarissa Ferreira Macedo D'Isep, in Á gua juridicamente sustentável. São Paulo: Revista
ins,
2002, p. 7. dos Tribunais, 2010, p. 59: “vida tutelada pelo sistema jurídico não se limita à existência
120 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5 | 121
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

hídricos se impõem, afastadas as indefinições (escapistas) De fato, interna e externamente, é erro grave insistir que
de titularidades.” A moradia em zonas seguras será vista
como direito insofismável, por força direta da Constit sustentabilidade seja um custo extra a ser evitado ou adiado,
uição, E é, na realidade, uma considerável vantagem Ga
Enfim, a preponderar esse modo de ver a Carta,
evoluir-se-á Ea o advento dos benefícios da economia do baixo carbono
para a condescendência zero em relação à
insustentabilida- a overnança geradora de bom desenvolvimento.
de, entendida como verdadeira inconstitucion
alidade, cujos Ee aa cabe invocar a discricionariedade administrativa ou a
efeitos não podem deixar de ser coibidos pela
jurisprudência, reserva do possível para adiá-la. Configura-se, ainda, Ra
tergiversação ou sinuosidade diversionista a tese e qe a
5.6 Escolha valorativa de assento cons sustentabilidade seria algo inacessível sem prévia coor Ne
titucional ção internacional ou tarefa perdida de legião de especialistas
O ambiente sustentável e duradouramente limp opiniosos e birrentos. Ao revés. Núcleos atuantes superam
o é, portanto,
uma escolha valorativa de assento constitu os separatismos cartesianos e têm sido mais do E
cional. Desse modo,
cumpre realizar a Agenda da Sustentabilidade, de impactar positivamente as políticas públicas, den a
no descrita
Capítulo 4, como desdobramento dessa es
escolha valorativa, fora do velho Estado-nação, promovendo Res
de sorte que as fantasias protelatórias (ind mudanças de filosofia comportamental. A ponto de, RR
ividuais e grupais),
incautas e estouvadas sejam definitivamente de irradiação, causarem melhoras sensíveis na qualida e a
varridas.
Mas não só. O Brasil precisa, se quiser verd cadeia global de fornecedores, na disseminação de a
adeiramente
exercer positiva liderança mundial em maté biodegradáveis e na introdução de produtos e processos am
ria de sustenta-
bilidade, dispor-se a protagonismo mais bientalmente rentáveis, em grandes e pequenos projetos.
acentuado na cena
internacional, operando como ator firme Dito de outro modo, são, interna e externamente, im-
e exemplar. Tome-se
como exemplo a Conferência das Partes e
das Nações Unidas perativas as transparentes,” mensuráveis, monitoráveis
sobre Mudança Climática (Cop-16), realizad “holísticas”?”! (na acepção de pluridimensionais, não no sen-
a em Cancún. Ao
lado de estabelecer a operação de Fund tido totalitário) medidas tópico-sistemáticas de mitigação,
o Verde, tentou-se,
modestamente, incorporar a meta de manute adaptação, prevenção e precaução. Medidas que se mac
nção da elevação
da temperatura global a 2ºC, com previsõe por inteiro, dos pressupostos ArEaICOs e desconcerta as o
s de revisão entre
2013 e 2015. Todavia, medidas bem mais ousa secular paradigma da insaciabilidade patológica, que só tem
das poderiam ter
sido sugeridas. Ampliar, Pois, o protagon gerado uma indiferença disfuncional por parte de intérpretes
ismo internacional,
revela-se tarefa imprescindível. defasados da Constituição.

física (o que garante o acesso gratuito à % Sobre transparência, vide, para melhor análise, a experiência da gua a
água ), e sim uma vida qualificada, qual
vida digna. Por vida digna entende-se a seja a bauxita
i da Mina
í de Juruti i (Pará),
À com uma Agenda Positiva,
) u inclui açõ
que pise
proteção à incolumidade física, psíquica e
econômica e ambiental da pessoa humana. social, i
destinadas ic
a beneficiar i
a comunidade loca le a tentativa de diálogo transparente.
Pp a
(...) Isso reflete no ordenamento jurídico,
forma a assegurar que essa qualificação de tanto, como reconheceu prudentemen te Franklin
ê Feder, presidente da Alcoa,
— vida digna — se comunique-à água,
garantidora da vida e tome igualmente qualif como Exame de Sustentabilidade 2010, p. 128, ainda é cedo para dizer que se trata de nei Ep
icada”. Reitere-se, nos termos assinalados
capítulo precedente, que
a água, em nosso sistema constitucion no * Nada a ver com a concepção “holística”, criticada por Karl E Popper, E a a
os efeitos, bem público, por maiores resist al, passou a ser, para todos
ências que tal conceito possa enfrentar. j and its
Society j Enemies.i New York: ; Harper an d Row, , 1963, v. 2. O holismo, às vezes, RR e
9 Em boa hora, a ONU, em julho de
2010, aprovou resoluç ão que declara
i
de vista indivi
o individual. ão, éé preciso
Então, iso i ir da par: te para N o todo e do todo para) a Eparte. a Aos
potável e ao saneamento básico um direi o acesso à água afirmar, aqui,i a unidade
i ialéti
dialética da vida,i quer -se se dedeixar claro que a reinserção
einse sauud,
to de todo ser h umano. Tragicamente,
bilhões de pessoas não desfrutam do serviç cerca de 2,6 do om na natureza não pode ser sinal de aniquilamento ou de diluição romântica e
o essencial de saneamento-básico.
desprovida de lucidez.
"EH
122 REZ FREIT;
| JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 5
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL 123

Importa reconhecer, com todos os consectários, que q estabeleceu, entre as diretrizes gerais da política urbana, “a
valor constitucional da sustentabilidade endereça à ultra- garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o
passagem ousada de relutâncias pusilânimes?”? e reclama direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à
precificação da inércia inconstitucional. Urge, pois, com ênfase infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos,
e destemor, sobreaviso e tino, acolher como descendente da ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”.
axiologia constitucional, o valor da sustentabilidade, trans- Para corroborar a tendência no plano normativo,
missível a longo prazo? e antes que seja tarde.
registre-se a Lei nº 9.433/97, art. 2º, II, que, entre os objetivos
Certo, em matéria normativa, verificam-se progressos
da Política Nacional de Recursos Hídricos, fez constar “a uti-
significativos. Fora de dúvida razoável, no atinente às normas,
lização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo
contemplado o rol dos diplomas legais brasileiros, sopram
o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
ventos favoráveis ao novo paradigma. -
sustentável”. Por sua vez, a Lei nº 11.145/2007, art. 48, II,
O diploma seminal é a Lei nº 6.938/81, que estabeleceu
prescreve que a União, no estabelecimento de sua política de
a Política Nacional do Meio Ambiente, com a consagração da
saneamento, observará, entre outras diretrizes, a “aplicação
“manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio
dos recursos financeiros por ela administrados de modo a
ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
promover O desenvolvimento sustentável, a eficiência e a
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”
.7s
eficácia”. Ainda: evoque-se a Lei nº 9.985/2000, arts. 2º, II, XI,
A partir da Carta de 1988, notáveis progressos norma-
XII (sobre extrativismo sustentável), 5º, VI (“assegurem, nos
tivos sucederam. Por exemplo, a Lei nº 10.257/2001, art. 2º, IL
casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de
conservação”), 7º, Il e 82º, art. 14, VI, art. 17 (“com ênfase em
? Vide Paul Krugman, sobre a necessidade de coragem e superação do pensamento métodos para exploração sustentável de florestas nativas”).
mesquinho, in Who Cooked the-Planei? — Opinion. The New York Times, New York, July
25% 2010: “Did reasonable concerns about the economic impact of climate legislation Por sua vez, a Lei nº 12.188/2010 encarta, no art. 3º, o princípio
block action? No. It has always been funny, in a gallows humor sort of way, to watch do “desenvolvimento rural sustentável”.
conservatives who laud the limitless power and flexibility of markets turn around and
insist that the economy would collapse if we were to put a price on carbon. All serious Sempre para ilustrar, figurem-se: a Lei nº 8.666/93, com
estimates suggest that we could phase in limits on greenhouse gas emissions with at most
a small impact on the economy's growth rate. So it wasn't the science, the scientists, or
a mencionada alteração que incluiu, no art. 3º, o princípio
the economics that killed action on climate change. What was it? The answer is, the usual do desenvolvimento sustentável; a Lei nº 9.790/99, art. 3º, VI;
suspects: greed and cowardice”. j
273 Vide, nessa linha, A Carta da Terra (2000), princípio 4: “Assegurar a generosidade e a beleza
a Lei nº 11.959/2009, arts. 1º, 1, 3º e 7º; a Lei nº 12.305/2010,
da Terra para as atuais e às futuras gerações. a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada com destaque para os arts. 3º (“gestão integrada de resíduos
geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras. b. Transmitir às futuras
gerações valores, tradições e instituições que apoiem a prosperidade das comunidades sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de soluções
humanas e ecológicas da Terra a longo prazo”. : para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões
274
Vide a Lei nº 6.938/81, art. 2º, I. No art. 3º, 1, define-se o meio ambiente como “o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle
abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Como fonte de inspiração, vide a Convenção
social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”), 6º,
de Estocolmo (Declaração de Estocolmo sobre o ambiente humano. Estocolmo, jun. 1972), que
proclama o meio ambiente como “essencial para o bem-estar e para o gozo dos direitos IV, e 30, parágrafo único, 1, e a Leinº 12.187/2009, instituidora
fundamentais, até mesmo o direito à própria vida”, assim como expressa, no Princípio 1,
que o “homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de con- da Política Nacional sobre Mudança do Clima, que acrescentou
dições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar pistas à decifração do valor e do princípio constitucional da
uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melho-
rar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras”. sustentabilidade, ao assumir o desenvolvimento sustentável,
124 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5
SUSTENTAI BILIDADE COMO VALOR CONSTITUCI | 125
ONAL

ao lado dos princípios da precaução,” da prevenção, da partj-


cipação e das responsabilidades comuns. Nessa ótica, cumpre ler todos os comandos normativos
Mais recentemente, finha direta com o valor da sustentabilidade, sem uni-
cite-se o diploma que dispõe sobre a Política Nacional
Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012, art.
de | E o e de modo sincronizado,” isto é, em harmonia
5º), fundamen. o a regulação macroprudencial de longo prazo,?”* com
tada no princípio do desenvolvimento suste
ntável, a cobrar a ção impositiva da pobreza?” e com (c) a redução
efici
ência, eficácia e efetividade na prestação
dos serviços de Riva das desigualdades, que não redundem justificáveis
trans porte urbano.
para os menos favorecidos. A a
O ponto fulcral que sobressai do exame
dos diplomas Mais: quando se diz que o próprio sistema eomeuiueiona
ilustrativamente citados, é que não se pode
falar em ausência tem de ser sustentável, quer-se salientar que os pn
de regras para densificar o valor e o princ
ípio constitucional de hoje não podem desfalcar ou fazer inviável a prestação E
da sustentabilidade. O que falta é introjetar
o valor, no tecido benefícios amanhã. Não raro, o beneficiário, em aa É
cultural. Por outras palavras, no intuito
de compatibilizar o longevidade, será o mesmo que, atirando-se ao gozo do imê
desenvolvimento econômico-social
com a proteção atenta do diato, compromete os benefícios de longo prazo. y
sistema ambiental, força rumar, de modo
resoluto, para uma Aliás, historicamente, apelar para o próprio benefício
economia sustentável, mais do que verde
,”* que demanda (interesse próprio) tem sido insuficiente. Parece que só aque-
investimentos na redução crescente das
desigualdades sociais les que assumem a sustentabilidade como valor maior é que
e regionais, mantidos os cuidados quan
to aos custos diretos se mostram responsavelmente afinados com a rede causal de
e indiretos, inclusive da inação.
ão intertemporal.
DO oro pa o risco eventual de má metafísica do
” Vide, sobre o princípio da precaução,
O direito fundamental à bon Administraçã
Juarez Freitas, in Discricionariedade
administrativa e
legislador e de suas imperfeições técnicas óbvias, os poe
o Pública, op. cit. No campo da legisl
exemplo, a Lei de Biossegurança
(Lei nº 11.105/2005). Vide, ainda para
ação, vide, por normativos citados apresentam-se, mais ou menos, em con
9.605/98, art. 54, com alusão expressa à ilustrar, a Lei nº
precaução: “Causar poluição de qualquer
natureza
formidade com o valor da sustentabilidade, sobretudo se bem
em núveis tais que resultem ou possa
voquem a mortandade de animais
m resultar em danos à saúde human
ou a destruição significativa da flora:
a, ou que pro- tados.
Pena — reclusão,
de um a quatro anos, e multa”.
Vide, também para exemplificar
, a Lei nº 11,428/2006 (Pro-
DO via outras normas precisam ser adicionadas, com
teção do Bioma Mata Atlântica), art.
são, além da Mata Atlântica, os da
6%. A propósito, os biomas continentais
Amazônia, do Cerrado, da Caatinga,
brasileiros ressonância social que as dotem de maior efetividade. Ou
do Pantanal e do
Pampa.
seja, têm de ser adicionadas se cumpridas — normas que,
*6 Vide, sobre o tema da economia “verde
Economy: Pathways to Sustainable
”, em escala planetária, o relatório Toward
s a Green por exemplo, induzam precificar as externalidades negativas
Development and Poverty Eradication
Policy Makers, op. cit. com as seguintes - A Synthesis for
conclusões: “a) Investing just 2% of global e os custos ambientais, porque o novo paradigma da sus-
into ten key sectors can kick-start GDP
à transition towards a low-carbon,
resource-efficient tentabilidade impõe, alternativamente às velhas técnicas de
green economy values and invests in natural
capital; d) A green economy can
to poverty alleviation; e) In a transition contribute
= Vide Ricardo Luis Lorenzetti, in Teoria da decisão judicial: fundamentos de
to à green economy, new jobs will be gi
which over time exceed the losses created,
in “brown economy” jobs; £) Priori Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 372, a propósito do paradigma ambiental: “é ; E:
investment and spending in areas that tizing government
stimulate the Breening of economic sector rente da unilateralidade que caracterizou o pensamento Geidental, que tem como foco,
the critical path; g) The scale of financ s is on
ing required for a green economy transi normalmente, a análise de uma questão, prescindindo do contexto”.
substantial, but an order of magnitude tion is
smaller than annual global investment; ?* Vide, sobre regulação, Craig Bennett, in Muito além da tinta verde. Guia Exame de Suple
move towards a green economy is h) The
happening on a scale and ata speed habilidade 2010, São Paulo, p. 110, nov. 2010: “As estruturas regulatórias de longo a
i) It is expected to generate as much growt never seen before;
h and employment — or more — compa devem ser criadas para corrigir problemas de mercado e mudar os termos do consumo de
to the current business as usual Scenar red
io, and it outperforms economic Projec energia e dos recursos naturais”. Rei
the medium and long term, while Yieldi tions in
ng significantly more environmental 28 Vide er Sachs, in The End of Poverty: Economic Possibilities for our Time. New York:
benefits”, and social
Penguin Press, 2005.
126 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5 | 127
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

comando e controle, compreender melhor a dinâmi


ca dos custos
co
Arcio com os princípios de prevenção e de precaução *
ambientais, sociais e econômicos, diretos e indiretos
2 “e à sensata reconsideração dos custos relativos, sem
Como argumenta Pérsio Arida, “ganhos defini pre Dorado quanto à precisão. Exige entender, como
tivos,
sustentáveis, vêm da fixação de um preço para a emiss
ão de DO O Nicolas Stern, que “a energia que faz baixo uso
gases poluentes ou de um acordo como o que se tentou
em E
DO ncia,pode
bono ser um poderoso propulsor: é duradoura
Quioto. (...) Se você colocar um preço no consu
mo excessivo, é dinâmica em seu aprendizado e nas FpeRir
a frugalidade ocorrerá de forma sistemática” 21 Em paralelo,
indispensável aperfeiçoar a disciplina dos incentivos Ee globais; e tem verdadeiro valor social econômico”.
fiscais e
das subvenções econômicas.? Como sugere
Sérgio Besserman
Vianna, “à medida que crescentemente os custos
ambientais 5.7 Sustentabilidade inclusiva
hoje ignorados passem a ser internalizados no merca
do global,
ou seja, que a contabilidade das empresas e dos A par disso, a sustentabilidade, como valor comsiitucionm
países reco-
nheça o valor da utilização sustentável dos bens
serviços que inclusiva e tolerante, salvo com aqueles que põem em perigo ie e
a natureza do planeta nos oferta, haverá grand
es alterações diável o equilíbrio da vida. A multifacetada susten E ili Vi
na estrutura dos preços relativos, modificando radic
almente a acordo semântico exposto no Capítulo 2, demanda cap inte
própria gama de produtos utilizados no processo “mclusiva insuprimível e justa preocupação com os menos E E
econômico E
e desejados pelos consumidores23 ” os” mais frágeis (tais como crianças e idosos), pos E q
Nesse diapasão, grife-se que a sustentabilidade, representa guinada, sem precedentes, no pensamen
como
valor constitucional, direciona para o reexame nômi jurídico.
conveniente,
prevenido e precavido, dos custos externos presen
tes e futuros ss ponto: Ignacy Sachs fez bem ao incorporar a sl
dos recursos próprios e planetários. Designadam tidimensionalidade includente do RS apa ia E
ente em
ambiental, territorial, econômico e político, especia meni e ao
*º Certo progresso, nesse ponto específico, já se salientar “o duplo imperativo ético GiERpeiSa (ap pe
encontra na Lei nº 12.462, de 2011, art. 4º,
ao dispor sobre licitações públicas, no sentido de
que a busca da maior vantagem para a com a geração atual e diacrônica com as gerações futuras.
administração contemple “custos e benefícios, diretos e indiretos, de
social ou ambiental,
natureza econômica,
inclusive os relativos à manutenção,
ao desfazimento de bens é resi-
duos, ao índice de depreciação econômica
e a outros fatores de igual relevân
cia”.
* Vide Pérsio Arida, in: Ricardo Arnt (Org.). O que Ison Gouveia, in Princípi
ia, in ão: da origem
Princípio da precaução ri ética à sua
os economistas pensam sobre sustentabilidade, 5 Vi e
op. cit., p. 244. a E
É aplicaçã nua In: e Costa Ribeiro (Org.). Rumo ao pensamento crítico socioambiental.
* No caso de incentivos às inovações tecnoló ã Paulo: : Ann ablume, 2010, p . 35-55.
São E
gicas, vide a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005,
especialmente o art. 17). 286 Vide Nicholas H. Stem, in O caminho para um mundo mais sustentável, op. cit. p. er a
*» Vide Sérgio Besserman Vianna, in Darwin e a “Os dois maiores problemas de nosso tempo — superar a ga as É em
consciência no século XXI. In: Maria Isabel sis
Landim e Cristiano Rangel Moreira (Org:). Charles i
lvimento imática
e combater a mudança climá à
i estão intrinsecam!
Darwin: em um futuro não tão distante.
São Paulo: Instituto Sangari, 2009, p. 46. E IncapaSidade de lidar com um deles minará os esforços para lidar com o outro” (p o
*4 Vide Planeta Vivo — Relatório 2010: biodiversidade Ra Vide Fernando Almeida, in Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura Ea E
, biocap
WWF Internacional, 2010, p. 94. A propósito, merece acidade e desenvolvimento. Gland: instrumento de manutenção da p
edatório éé um perverso ins
:“(...) O processo predatório o;
“Os governos podem contabilizar os serviços de menção o ponto em que se afirma:
ecossistemas em análises de custo/bene- Danado do solo Ea escassez da água, dois importantes Ru pa pe pps
fício que orientem políticas fundiárias e permiss E
mas e, consequentemente, para a pro dução de alimentos, afetam par armen' eEA
ões para desenvolvimento do território.
Devemos começar com a medição do valor econômico da biodiversidade e ne Ega
dos serviços 28 Vide K acy Sachs, in Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. E
dos ecossistemas pelos govemos. (...) As
tomando melhores decisões sobre investi
empresas podem agir de maneira semelh
ante G ond, 2008, p. 39: “O desenvolvimento includente requer, acima de tudo, aa
mentos sustentáveis no longo prazo. Precis
amos O xattidio dos direitos civis, cívicos e políticos. (...) Políticas sociais Rad E
chegar a uma situação em que os produtos
incluam o custo de fatores externos — como financiadas pela redistribuição de renda deveriam ir mais longe. (...) o Ra A F
uso da água, armazenamento de carbono e recuperação o
seus preços”.
de ecossistemas degradados — em pulação também deveria ter iguais oportunidades de acesso a serviços públicos,
educação, proteção à saúde e moradia”.
128 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 5 | 129
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL

nos compele à trabalhar com escalas múltiplas de tempo e de


espaço, o que desarruma a caixa de ferramentas
ugerde”
v / das energias renováveis e, sobretudo, para deixar
:
do economista tido que existem falsos desenvolvimentismos que só ser-
convencional”.*º
Reitere-se que a sustentabilidade multidimensional guarda E
ve para atrasar a interiorização da tábua de valores consti-
simetria com a multidimensionalidade
fucionais.
do desenvolvimento,
condicionando-a, a ponto de fazer abandonar a orientação valorativa
do pensamento jurídico clássico, que mostrou não saber lidar com
a 5.8 Tudo recomenda ultrapassar reducionismos
noção de sistema aberto de princípios e direitos fundamentais.
Para
acolher a nova postura, mentes terão de mudar, A sustentabilidade não combina com simplismos econômicos
dispostas a
produzir reformas comportamentais de peso, com alteraç e jurídicos: é abolicionista de velhos e carcomidos hábitos mentais
ão de
processos” e o acréscimo de normas efetivamente cumpri reducionistas. Recomenda sobrepassar grosseiras simplificações
das,
A sustentabilidade, nesse prisma, é o exato
oposto da econômicas e jurídicas, que insistem no crescimento bruto e
insaciabilidade indiferente à sorte do outro, pois no antropocentrismo hipertrofiado que conspiram contra a
reafirma, em
sentido forte, a humana inserção na natureza”!
e a solidarie- própria dignidade. O ser humano, acolhida anova leitura da
dade consistente e intergeracional. Ou seja, o desenvo
lvimento, Carta, sai da zona de vício secular do solipsismo e passa a ser
na ótica esposada, passa a ser efeito da sustentabilidade e,
em certo digno cocriador do destino da vida. E
sentido, meio e fim.? A noção de que os fins justificam
os meios Claramente, a sustentabilidade não se coaduna com o
revela-se completamente insustentável, como
será enfatizado marasmo dogmático e simplificador das'velhas titularidades,
no Capítulo 8.
nem das águas paradas e turvas. Como assevera Charles (
De mais a mais, o deslocamento da ênfase instru
mental Mueller, “a incorporação, pela economia do meio ambiente,
(unidimensional) para a multidimensionalidade
do desen- da distinção entre capital natural de estoque e a do fundo de
volvimento revela-se auspicioso para o fomento do trabalh
o serviços ambientais básicos forçaria as visões sobre a susten-
tabilidade a se confrontarem com aspectos fundamentais da
289 Vide Ignacy Sachs, in Desenvolvimento: includen
Afirma que o desenvolvimento é “um
te, sustentável, sustentado, op. cit. p. 15.
conceito multidimensional: os seus objetivos são
inter-relação entre o sistema econômico e o meio ambiente.
sempre sociais e éticos (solidariedade sincrônica).
biental explícit
Ele contém uma condicionalidade am- O emprego de hipóteses simplificadoras extremas se tornaria
a (solidariedade diacrônica com as gerações futuras)
nômico tem um valor apenas instrumental” (p. 71). ; o crescimento eco-
Vide, a propósito, por suas críticas à
mais difícil; uma estrutura conceitual explicitando esses dois
economia neoclássica, Herman E. Daly e John B. Cobb,
the Economy toward Community, the Environment,
in For the Common Good: Redirecting componentes do capital natural acabaria revelando o absurdo
and a Sustainable Future, 2" ed,, op. cit.
290
Vide, para examinar possível mudança vantajos a nos processos, o projeto End-to-End, ou de algumas das simplificações comumente feitas” .=º
Sustentabilidade de Ponta a Ponta, do Walmart,
iniciativa voltada a incentivar a oferta de
produtos e processos mais sustentáveis, com parceiro
Nesse contexto, categorias anacrônicas e monocromá-
s que respondem por boa parte dos
produtos que figuram nas gôndolas da rede, ticas, geradoras de intransponíveis desequilíbrios antifuncio-
21 Vide, sobre psicologia ambiental e a inclusão
Universidade da
humana na natureza, P. Wesley Schultz, da
Califórnia, no capítulo sugestivamente intitulado Inclusio
nais, devem ser simplesmente descartadas.
the Psychology of Human-Nature Relations. In: Peter n with Nature:
Schmuck e P. Wesley Schultz (Ed).
Psychology of Sustainable Development. Boston: Kluwer
Academic, 2002, p. 61. De um modo
geral, as pessoas opõem rigidamente as construções à
natureza e se alienam de si mesmas
como naturais, multidimensionalmente falando.
*?* Vide, entre outros, Thomas Friedman, in Caliente, plana
y abarrotada: por qué el mundo ne- /?» Vide Charles C, Mueller, in O debate dos economistas sobre a sn ea
cesita una revolución verde, Op. cit., p. 75, acerca
da sustentabilidade como meio e como | liação sob a ótica da análise do processo produtivo de Georgescu-Roegen.
fim, resultado e prática. Estudos
| micos, v. 35,n. 4, p. 687-713, out./dez. 2005.
NA
130 | JUAREZ FREITAS ,
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTUL
ÍTULOO 5 | 131
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL,

5.9 Sustentabilidade veda omissões e ações danosas


'entais (“quem contamina deve arcar com os custos da
Por acréscimo, na proposta releitura axiológica do
desen. “A inação”)”” jamais poderá servir como licença para
volvimento, vital conjugar a sustentabilidade com
a apreensão rica e qontade» Força, além disso, fazer respeitar o prin-
balanceada da proporcionalidade, que veda simultanea
mente excessos e o O oia segundo o qual devem
e omissões. Veda demasias de toda ordem, inclu
sive de inação. E = re que possível, premiadas e reconhecidas, a título
Como acentua Nicholas H. Stern, numa coraj mio, as condutas sustentáveis.
osa auto-
crítica em relação ao famoso Relatório
que leva o seu nome, E Mas não é tudo. Impende jamais ignorar-os a
não se deve subestimar o fato de que
o “custo da ação é muito nados malefícios da inércia”” desproporcional, SE
menor do que o da inação. (...) O mundo contribui para atender às demandas humanas, . a o E
de baixo carbono de
que precisamos e que podemos criar será prejudicar, ainda mais, a FEnos Cras E voltas EE dana
muito mais atraente
do que o atual. Não só o crescimento
será sustentado, como toneladas de gases do efeito estufa, os RAS a
também mais limpo, mais seguro, mais calm da E es ErRNpRE que absorve
o e mais biodi-
verso” 24 iação i me Ri
De fato, imperioso evitar o omissivismo,
mediante a DO osso correto é, à luz da axiologia constitucional,
proteção eficiente e eficaz do ambiente estabelecer criteriosamente, em cada caso, à melhor equação sd
(bem de uso comum
do povo), liberto do dominialismo reduc benefício, em termos intertemporais. Do contrário, por exemp é
ionista, que gera
relaç ão reificadora (coisificante) com a natur para evitar o apagão energético, erradamente poderá ser ati
eza. Daí segue
que, sem claudicar, as decisões regul
atórias prudentes, na seara vada uma fonte mais poluente de energia já instalada, apenas
da sustentabilidade, são as que evitam porque se deixou de admitir, por preconceito ilegítimo, a -
desproporções para mais |
ou para
menos, demonstrando uma consciência impr construção, em tempo útil, de usina hidrelétrica.
egnada pela
inovadoras matriz axiológica do equilíbrio dinâ Em síntese, o senso apurado.de sustentabilidade veda, como
mico, em lugar do
corporativismo patológicos desproporcionais, todas as paralisias causadoras de as Ear
Ainda: uma vez assimilada a sustentabili inadiável uma aproximação sucessiva e cumulativa lo ce
dade em com-
binação com a proporcionalidade, o princípi nário de autonomia energética, com investimentos continuos
o do poluidor-
pagador, segundo o qual o poluidor deve
arcar com os custos
27 Vide Declaração do Rio (1992), Princípio 16; CF, art. e 83º; Lei nº as
O, 1
çãoo eai
TI: “A

i ição,
içã ao poluidor
i e ao predador, da obrig ção
brigação de recuperar e Eira
4 Vide Nicholas Stern, in O caminh Dados - nto da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
o para um mundo mais sustentável, op.
“Olhando para trás, acredito que os pressu cit., p. 11. Reconhece: econômicos”. E A
postos do Relatório Stern nos levaram a subes-
timar Os custos da inação. (...) Novos indício 2% Vide Ana Maria Moreira Marchesan, Annelise Monteiro Steigléder e Sílvia e
s e provas mostram que o relatório foi excessi
vamente cauteloso em relação ao aumen - 7
irei ambiental.
Direito ã Paulo: ê Verbo Juri ídico, y 2010,
6. ed. São 20] RR não
p. 59: “O princípio
to das emissões, à deterioração da capaci
absorção do planeta e ao ritmo e à gravidade dade de içã mediante
a tolerar a poluição i um preço, n em se limita a compensar os danos pipipeer )
dos impactos da mudança climática” (p. 99). pelo lançamen
5 Vide, sobre inovação, Daniel C. Esty i
mas evitar o dano ao ambiente.í Nesta linha, z o pagamento ç E ja PJ
e Andrew S. Winston, in O verde que pn
empresas inteligentes usam a estratégia ambien vale ouro: como i
ã alforriai condutas inconsequentes,
não de modo a ensejar o descarte de resí
tal para inovar, criar valor e construir uma ientai A cobrança só po de ser efetuada
ões e das normas ambientais. efe que tete:
sobre o que
vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campu
s, 2008. Vide, ainda, Noah Walley e Bradle lei, F pena de se admitir o direito a poluir. Caso contrário, o nome do princípio seria
Whitehead, in It's not easy being green. y Dera
Harvard Business Review, v. 72,n.3, p. E of
Jun. 1994, segundo os quais a atitude verde 46-52, May/ agador-poluidor”.
é um catalisador de constante inovação e novas
oportunidades. E o sobre as possíveis razões da inércia, Simon Zadek, in The Civil Corporation: the New
*6 Vide Joel Bakan, in The Corporation: the Pathol Economy of Corporate Citizenship. London: Earthscan, 2001, p. 21 ne a a
ogical Pursuit of Profit and Power. New York:
Free Press, 2004. k % Vide Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança Climática, ao definir, é
1º, os gases de efeito estufa.
ARSo
122 | E /AREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
NULOE
SUSTENTABILIDADE COMO VALOR CONSTITUCIONAL
| 133

(públicos e privados) nas energias renováveis (sol, potenciais ilustrar: o desenvolvimento durável significa, por exemplo,
eólicos, biocombustíveis devidamente certificados) e na ge- não admitir que o pré-sal (com os riscos da grave “doença
ração de milhões de “trabalhos verdes”.
holandesa”) seja desviante do caminho energético sustentado
Quer dizer, resulta frontalmente danosa todae qualquer omissão e sustentável.
desproporcional. Omissão que se aninha, emblematicamente, na Por todos os motivos, em nosso sistema constitucional,
demora injustificável para o licenciamento ambiental, por o desenvolvimento sustentável não pode ser posto entre
fatores alheios à qualidade do projeto, em razão de estranhas parênteses ou desfigurado como ociosa retórica quimérica. De
disputas ou bizarros conflitos de competência. Omissão que fato, reconhecida a natureza como recurso escasso? e aceito o
se flagra em programas sociais sem monitoramento de resul- bem-estar intra e intergeracional como prioridade máxima, a
tados. Omissão, em suma, que se mostra na tímida demo- sustentabilidade passa a ser, na prática, foco da transformação
cratização”! da riqueza e no déficit de acesso efetivo aos maiúscula de nossa cultura.”
direitos fundamentais de todas as dimensões. Sustentabilidade é valor e é princípio-síntese vinculante e
mudancista, gerador de novos direitos subjetivos públicos das ge-
rações presentes e futuras. Assimilado dessa maneira, com o
5.10 A Constituição determina estratégias devido engajamento, encontra-se fadado a alterar literalmente
antecipatórias “anossa paisagem jurídico-institucional.
qr E

Sustentabilidade, como valor constitucional, orienta, acima


de tudo, para'a prevenção e para a precaução: o melhor modo de
5.11 Em resumo
conservar é intervir, com o emprego prudencial das estratégias Z

antecipatórias. E mais do que tempo de rejeitar hábitos e costumes


Sim, a sustentabilidade, como valor e como princípio, inconstitucionais, bem como de rever modelos frenéticos e
determina prevenção? e precaução (com a “inversão do ônus tresvariados de desenvolvimento, chumbados à materialidade
da prova, transferindo para o empreendedor da atividade excludente e às concepções monocromáticas do curto prazo.
potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do Sustentabilidade, convém recapitular, é um valor su-
empreendimento”),ºº de molde a produzir, antecipatoriamente, premo, que se desdobra no princípio constitucional que determina,
o desenvolvimento “ecologicamente equilibrado”. Para
a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.
Vide, sobre sustentabilidade e democratização da riqueza, os estudos publicados em:
“8 Como reconhece Luciano Coutinho, in: Ricardo Amt (Org.). O que os economistas pensam
Trent Schroyer e Tom Golodik (Ed.). Creating a Sustainable World: Past Experience/Future
sobre sustentabilidade, op. cit. p. 96, em relação ao pré-sal, “é necessário desenvolver tec-
Struggle. New York: Apex Press, 2006, especialmente p. 213-290.
nologia para evitar a emissão de carbono represado nos reservatórios”. Ainda: útil debater
*» Vide, a propósito de instrumentos preventivos, Vladimir Passos de Freitas, in Direito admi- o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, em linha com o Processo de
nistrativo e meio ambiente. 4, ed. rev. atual. Curitiba: Juruá, 2010, sobremodo o Capítulo
6, Marrakech, com o conceito de produção mais limpa.
que versa sobre educação, informação, auditoria, impacto ambiental e outras formas
de é Vide Edmar Bacha, in: Ricardo Arnt (Org.). O que os economistas pensam sobre sustentabilidade,
prevenção.
op. cit., p. 93: “a natureza não aparentava ser um recurso escasso. (...) Então, nos damos
“8 Vide STJ. REsp nº 972.902/RS, 2º Turma. Rel. Min. Eliana Calmon. Julg. 25.8.2009.
DJe, 14 conta de que esse bem, a natureza, é escasso, (...) o nosso problema é a natureza ser um
set. 2009. bem sem dono e, portanto, como não tem dono, continua sendo usada como se de graça
*4 Nos termos da CF, art. 225, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, fosse, ou seja, excessivamente”,
bem de uso comum do povo. A propósito, vide José Afonso da Silva, in Comentário contextual 7 Vide, para reflexão, a proposta de reavaliação da situação humana e dos valores básicos,
à Constituição. 7. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 852: “O meio ambiente é, assim,
Thomas Berry, in The Dream of the Earth. San Francisco: Sierra Club Books, 1988, p: 124,
134 | JUAREZ FREITAS y
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

com eficácia direta e imediata, a res ponsab


ilidade do Estado e da CAPÍTULO 6
sociedade pela concretização solidári a do desenvolvimento m 4 teria
e imaterial, socialmente inclusivo, À urdvel
e equânime, ambiental.
mente limpo, inovador, ético e E ente,
no intuito de assegurar
preferencialmente de modo preventi vo
e precavido, no presente e nã
futuro, o direito ao bem-estar.
Enfim, passou da
E ens e
SUSTENTABILIDADE
O moE val
ade
or constitucion
od
com todos os consectários. No al
entanto, a preconizada e cruc
ial COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS
alteração de hábitos e costumes
(n ão mais exclusivamente vol- ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS
tados para gozos efêmeros ou alí Vio
s temporários), requer q
superlativo cuidado para não cai
r em armadilhas e falácias,
exatamente o tema do capítulo se
guinte.
o de tomada da decisão
Sumário: 6.1 Sustentabilidade exige lucidez, no process
Concei to de falácias = 6.4 Principais falácias
* 6.2 Noções subjacentes — 6.3 ad
ca” — 6.4.2 Falácia
adversárias da sustentabilidade — 6.4.1 Falácia “genéti — 6.4.5 Falácia
Falácia da divisão
populum - 6.4.3 Falácia ad misericordiam —6.4.4
e — 6.4.7 Falácia do consenso — 6.4.8
da falsa causa — 6.4.6 Ealácia do acident
da ameaça = 6.4.10 Falá-
Falácia da desqualificação pessoal — 6.4.9 Falácia io
Falácia da petição de princíp
cias da autoridade e ad ignorantiam — 6.4.11
Falácia do uso malicioso de
* 6.412 Falácias das muitas questões — 6.413
ível — 6.4.15 Falácia das
palavra ambígua — 6.4.14 Falácia da sequência irresist
Armadi lhas argume ntativ as e psicológicas — 6.5.1
mãos contaminadas — 6.5
va confiança — 6.5.3
Armadilha da ancoragem — 6.5.2 Armadilha da excessi
lha da proteçã o das decisões
Armadilha do apego ao status quo — 6.5.4 Armadi
mação das evidênc ias — 6.5.6 Armadilha
anteriores — 6.5.5 Armadilha da confir
Armadi lha da evocaç ão distorc ida — 6.5.8 Armadilha
do enquadramento — 6.5.7
padrõe s inexist entes —
da cautela excessiva — 6.5.9 Armadilha da percepção de
dade — 6.7 Concei to de decisõe s
6.6 Mudanças mentais a favor da sustentabili
insustentáveis — 6.8 Em resumo

6.1 Sustentabilidade exige lucidez, no processo de


tomada da decisão
de esta-
Sustentabilidade, como valor e como princípio
não cair em
tura constitucional, exige lucidez ativa, isto é,
a
RA SA
SD O falácias e armadilhas argumentativas, no processo de tomad
nça de
%8 Vide, z sobre a temática ço do re = A
speito à natureza como si é da decisão e na avaliação de riscos. Apenas a muda
W. Taylor, in Re
e
paradigma, liberta de enganos e fraudes, com o consequent
é nat
sistema de , int erdependência,
Driver
; Do Pspect
pect for Nature: a Theory of Environm Paul
ental Ethics. Princeton: Princeton
136 | JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 6 | 137
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

abandono da insaciabilidade patológica, é que se anuncia, num |


=" nocivo como o gosto pelas afirmações peremptórias, que
crescendo, capaz de garantir o primado, não propriamente das Em desqualificar, estigmatizar e, no limite, banir os que
regras ou rules,*º mas do bloco de princípios e direitos funda:
mentais, na condição de diretrizes vinculantes do resiliente”
pens am de modo diverso.
E
Em segundo lugar, o discernimento intertemporal éuma
desenvolvimento. nota característica do processo de decisão E sbiaaãS ca
“Para que se evitem os erros lógicos arrolados no presente E E
perspectiva, assume-se a vida como dinâmico dia
capítulo, mostra-se de todo conveniente promover uma abor-
cas, no qual se encontram, de algum modo, conecta os to e
dagem sintética sobre o processo de tomada da decisão,*º com
os seres vivos entre si. A boa tomada de decisão surpreen e, |

o desiderato de alertar para os desvios patrocinados pelas


em profundidade, o cerne dessa atuação intersubjetiva E
armadilhas e falácias argumentativas, e
que afastam do leito intérprete. Abandona a velha e desidiosa exegese sie
da sustentabilidade multidimensional.
regras, tendo em mente extrair as melhores consequências das
decisões. Não significa manipular as regras arbitrariamente,
6.2 Noções subjacentes nem desconsiderá-las, mas decidir com base no paradigra que
não se rende à suposta autonomia exacerbada do objeto, nem
Desde já, consignem-se as principais noções subjacentes, simula fazê-lo. Tal consciência afigura-se crítica para combater
Em primeiro lugar, considera-se ingênua e falaciosa a . os reducionismos desarrazoados, conducentes à en
pretensão da única resposta correta, embora exista
m soluções rígida entre sujeito e objeto, que obscurecem a importância a
logicamente inaceitáveis. Quer dizer, o ceticismo em
excesso é qualidade substancial das determinantes pré-compreensões.
Com efeito, a fala da vida se ergue e experimenta o seu
*º Não se ignora o artigo de Finn E. Kydland e Edward C. significado na interação contínua, razão pela qualnão deve ser
Prescott, Rules Rather than Dis-
cretion: The Inconsistency of Optimal Plans. The Journal
of Political Economy, v. 85, n. 3, tratada como mero objeto de análise, pois brota de construção
p. 473-492, Jun. 1977, no qual pregam que “policymakers should
discretion” (p. 487), em função dos riscos de uma política demasia
rules rather than have
do ativa e atenta ao
que não opera a régua e compasso.
curto prazo, com efeitos nefastos intertemporais a longo
prazo. Aqui, o tema será trata-
do com ênfase para os princípios e direitos fundamentais, em função
A decisão sustentável acontece em complexo processo
tópico-sistemático, na teoria jurídica, além de não
de posicionamento
se acolher o passivismo recomendado, de combinação dialética entre o micro e o macro, sem se con-
em linha com o que sustenta criticamente boa parte da academia
tos recentes da
, sobretudo após os efei-
intervenção para evitar a quebra sistêmica. Seja como
verter em simples objetivação. Ponto crucial: espera-se que
a postura decisória sustentável corteo nó górdio das falácias
for, o artigo citado
realiza observações interessantes para o tratamento
da inconsistência intertemporal, na
tomada de decisão.
9 Sobre Teoria da Decisão, vide, entre outros,
:
relacionadas aos normativismos estritos e das influências po-
Daniel Kahneman e Amos Tversky
Choices, Values, and Frames. Cambridge: Cambridge University Press, 2000; David
E,
(Ed.).
larizadoras nocivas, e suscite o firme descarte daquelas abor-
Bell, Howard Raiffa e Amos Tversky (Ed.). Decision
and Prescriptive Interactions. Cambridge: Cambrid
Making: Descriptive, Normative,
ge University Press, 1988; David
dagens inabilitadas à hierarquização axiológica adequada.
O. Sears, Leonie Huddy e Robert Jervis (Ed.). Oxford Handbook
of Political Psychology. Hierarquizar princípios, regras e valores constitucionais,
Oxford: Oxford University Presó, 2003; Jonathan Baron, in
Thinking and deciding. 34 ed,
Cambridge: Cambridge University Press, 2003; Paul K. Moser (Ed.).
Rationality in Action:
de modo a cumprir, a curto e longo prazos, os objetivos fun-
Contemporary Approaches. Cambridge: Cambridge Universit do Estado Sustentável, eis, a tônica da melhor
in Rules, Reasons, and Norms: Selected Essays.
y Press, 1990; Philip Pettit, damentais
L. Keeney e Howard
Oxford: Oxford University Press, 2002; Ralph
Raiffa, im Decisions with Multiple Objectives: Preferen
ces and Value
decisão possível. Nessa abordagem, admite-se a plausibilidade
Tradeoffs, Cambridge: Cambridge University Press, 1993; Stephen
Buede, in Decision Synthesis: the Principles and Practice of Decision
R. Watson e Dennis M. de, tentativamente, viabilizar a decisão que produza o desen-
Cambridge University Press, 1987; Terry Connolly, Hal R. Arkes
Analysis. Cambridge:
e Kenneth R. Hammond volvimento que importa, sem a incidência desviante dos erros
Cambridge University Press, 2000. Cambridge: lógicos conhecidos como falácias.
'
138 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO 5 CAPÍTULO 6 | 139
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS
ÁCI E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

Assentadas tais noções preliminares, é o


momento de 4 Principais falácias adversárias da sustentabilidade
conceituar as falácias. 6.
Ao expor as falácias seguintes, apontar-se-á, em breves
E has, à especificidade de cada uma, relativamente à susten-
linhas,
6.3 Conceito de falácias
tabilidade. Ei-las:
Falácias são erros lógicos, conscientes
ou inconsci
entes,
enganadores e/ou autoenganadores, que
servem para ludibriar e
formar pré-compreensões equivocadas,
conducentes a preconceitos
6.4.1 Falácia “genética”
legítimos, estereótipos e más decisões.
Falácia “genética” é aquela do argumento que Ene
Algumas falácias são fáceis de identificar.
apesar de extremamente comum, a falá
Por exemplo, trair conclusões indevidas sobre alguma coisa, apa
econômico ilimitado, como se observou
cia do crescimento E lidade ou propriedades de sua fonte original.” Claro
tatação irrefutável de que, entre
, não resiste à cons- E ão se deve descartar o exame importantíssimo das ori-
outros obstácul
os fáticos, são E 2 rutos comestíveis somente nascem em certas arvores.
exauríveis os recursos naturais. Como
observou agudamente RE iado das origens da vida é essencial para uma concepção
Jared Diamond, qualquer povo “pode
cair na armadilha de ida da sustentabilidade. Contudo, daí não podem E
sobre explorar recursos ambientais”, pelo
equívoco de supor conclusões extrapolativas inadmissíveis, emo certa e
que os recu rsos seriam inesgotáveis.1
Por sua vez, uma das falácias mais pern de julgar que alguém de passado poluidor ie E e E
iciosas e “eco- esse motivo, irremediável e perpetuamente po e ABR
cidas” cons iste em imaginar que o maior consum
o será sempre específico da sustentabilidade, releva notar qu aa
sinônimo de maior bem-estar, o
que colide, às abertas, com a
impossib ilidade física de satisfazer impulsos corp cometimento dessa falácia a argumentação Pe as a q e
orais, inde- e ita E
finidamente. Ou seja, embaralha necessidades coisas deveriam ser conservadas e mantidas,
específicas e sa di
limitadas do corpo com o potencial ilim
itado da consciência. esquecendo, por exemplo, que há pragas e Ena
Ora, atribuir ao corpo qualidade que que devastam as nativas. Significaria, ainda pa ae E,
não lhe pertence é raiz
de erros e desequilíbrios ecológicos atro não cuidar dos recursos genéticos de forma id en ns
zes. Almeja, essa falá-
cia, fixar aquilo que não pode ser estável Pior: seria negar a comprovada seleção natural a a is
e, paradoxalmente,
aceitar a ideia disparatada de apetites
jamais saciáveis, até que: ficar preso ao passado, com a crença da superiorida
a obesidade mórbida, em sentido figu
rado ou real, liquide o
corpo da criatura. Rede e
a:“(...)) Eis the
313 Vide Robert Audi (Ed.): The Cambridge Dictionary
[ o Par] ]
Exemplos iniciais dados, com o i inappropriate conclusion about the goo ss and
intuito de evitar erros
na aplicação do novo paradigma da sust prop
Ea ae roi die E dneaá or badness of some property of the origin of tha|
entabilidade, convém
utilizar, com proveito expositivo, o map
eamento da quilo que a Ósi ê foram dados, em termos de maiores ;
ijores cuidados com os recursos
se convencionou denominar de info o O Prpaiodena o: art. 9:“The Parties shall encourage a and Ra
rmal fallac3y ú e Leneti arising from the utilization of ipi Ep sai a ç . o ao
: : é
i i iversity and. the sustainable use of i s componer Rc
E o a a and the Fair and Equitable ese ari "
* Vide Jared M. Diamond, in Colaps
o: como as sociedades e Roda their Utilization to the Convention on Biological Diversity. CO.
scolhem o fracasso PR
op. Cit.,
p. 25. ou o sucesso, Biological Diversity, Montreal, 2011).
312
Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge dia e contribuição sobre seleção natural, plenamente confirmada, e Sn Eniac
Dictionary of Philosophy. 2r ed. Cambridge: )
bridge University Press, 1999, p.
431 et seg.
Cam- Origin of Species: : by Means S of Natural Selection, or the Preservation
The he Or
in the eruigéle for Life. 6º ed. London: John Murray, 1876.
140 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 6 141
sus: TENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS
A E AS ARMADILHAS ARG JUMENTATIVAS

do selvagem, numa negativa fron


tal de toda evolução.
se pode, por exemplo, em nome Não:
do apego ao suposto Origi. 6 4.3 Falácia ad misericordiam
nalismo primitivo, permitir que trib oplada à anterior, encontra-se a falácia da aa
os indígenas cometam q
infanticídio, prática que se reve Ec E consiste em apelar a sentimentos de comp É
la francamente insustentável
para os atuais padrões de eticidade e juri a onclusão erradae insustentável.” Natural men
dicidade.
pode ser extremamente na
fe,0 ape
pe o
do :
cimo
or exemplo, considera a insignificância ou a Re
6.4.2 Falácia ad populum :
Du à delito) porém se revela expediente falacioso
Falácia ad populum é a que con Es Estar a esconder precariedade ou ausênci a de
siste em apelar a senti.
mentos populares para substitui O as ciais. Exemplo dessa falácia está em, mediante
r ou suprir a falta de consis-
tência na argume ntação. Um dos mai apelo as mentos supostamente nobres, fazer vistas grossas
E.
históricos encontra-se na asc s trágicos exemplos.
ensão do nazismo que manipu
lou
a pesadas infraç des ambientais.

6.4.4 Falácia da divisão


Cumpre advertir contra tal falácia, que as sua
habitualidade no tipo de argumentação?” que E
argumento contra os objetivos
fundamentais da República, csrões ambientais. Trata-se de, a partir da Ropriedanas
à
Ao lado disso, urge notar que E
a irrenunciável defesa do “bem ifi específic
de todos” (CF, art. 3º) nem sem
pre coincide com a preponde- e a alo Eng Eca equação entre o e
rância dos sentimentos transitór
ios e confusos de populações “a Ea (todo), numa divisão que faz, por exempl o,
assimetricamente inform
adas. Não se trata de eli
de combater a falácia que tom tismo, mas E. oa mais restrição dos que poluem proporcio-
a as emoções coletivas como DO tem é Só uma visão socialmente homeostática dos
substitutivas do dever de fundamentação das dec
É falaciosamente insustent isões. ; Eco Ea dá conta de superar essa falácia comum,
ável, por exemplo, deixar
tomar medidas de
preservação das futuras geraçõ de E de pensamento autenticamente sistemático, isto e,
de maiorias manipuladas, es em função e ospido das toxinas da unidimensionalidade.
escravas do benefício ime
do anseio de afluência rápida. diato ou
Mais: para retomar a situação
citada, não se pode admitir à
inércia na remoção digna das
famílias que vivem em área 6.4.5 Falácia da falsa causa
de risco, especialmente dos
A falácia da deficiente compreensão process de pero
de causalidade (abrangendo a fallacy of false cause)*º p

et esd a CD %7 Vide Robert a didi i (Ed.).


à The i
The Cambridge 7
Dicict tionary of Philosophy, Cit, p. 432. : aaa
op. . ci O
pi Cambridge Dictionary of Philosophy, ne p. 432:
“6 Vide Robert Audi (Ed.). The 318 e eo a property of the whole to a property of its Re “(...)
Cambridge Dictionary of Philosophy : sa E
to popular sentiments:to supp , op. cit, p- 431: “(...) appeal ofarguing
ort a conclusion”, di (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosop Yy, Op.
sendo tal apelo aos sentimen
tos exacer- He; ra ut
cobertura à falta de evidência. substitute” (p. 432), vale dizer,
para dar Eerror of arguin;
e ni a ecause two events are correlated with one another,
they vary together, the one is cause of the other”.
142 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
| 143
à
su STENTABILIDADE
E] -cs a COMO VENCER AS FALÁCIAS s E AS j ARMADILHAS ARGUMI! q
3JUMENTATIVAS.

corriqueiramente encontrável em matéria de formação dg


liame causal, para efeitos de responsabilidade
ambiental. Em ” E 4.7 Falácia do consenso
q .

primeiro lugar, sabe-se que a correlação não


Ns

se confunde com Perigosa também é a falácia que conde


causa. O que se deve buscar, em suporte, não raro, a uma ara
termos de causalidade
; é Ca "ao conse nso para dar a
correlação forte ou significativa. aciona 21 Como se sabe, ainda que muitos
pens
Em segundo lugar, aconceps

É
ção acanhada de causa e efeito é típico da solução é a mais indicada, nem Re E
erro daqueles que não
sabem, por exemplo, o que é 1) por 1 sso, necessariamente a melhor
, sobretudo o no
causalidade reversa. Ademais,
como ensina a biologia, a vida = intertem porais. Trata-se, pois, de argume nto fraco e não raro,
é uma teia retroalimentadora. +
de causas e consequências. Ao idor da revisão científica de dogmas e doutrinas
se inserir numa determinada. 3 pi
rede causal, pequena movimenta itaçã or
en rca E se com o argumento da aceitação comum.
k 322 P

ção pode causar danos ou 1

benefícios imensos. Em terceiro


lugar, o inercismo inconsti- “ muito tempo, por exemp lo, o geocentrismo foi consensual
tucional argumenta com base
+ »
im tepi
física e, hoje, causa espanto que assim O cria-
aido. ra
em falsas causas, ou de suposta
falta do liame causal, para fugi
r das obrigatórias providências qcio nismo fixista já foi consenso até que-o evolucionismí li
de adaptação e mitigação. Do
articulado, Verifica-se que a fa- E Dar
até como
a
lácia em tela tem servido para já receitaram o cigarro, em Do á
atribuir falsas causas aos danos
ambientais e, ainda, como esc
apismo dos que não aceitam a voltada pa a
omissão como causa real de eve O a emo
ntos danosos. violência, é, até certo
E Ea consenso, sem coação ou
o sei itória, todavia mostra-se indispensável oferecer
6.4.6 Falácia do acidente es 5 E e Adicionais a favor da conveniência da manu-
E E tondanao ao menos toda vez que ele for ad
A falácia da negligência de qua ça
se argumenta a partir de uma
lificações ocorre quando findo. Pode ter parecido — ou ainda parecer —
tegra acidental para o geral, num dado contexto, que o crescimento econômico Eee
ou vice-versa. Uma das suas facetas, concernen
tes ao tema seria o melhor a fazer, no pós-guerra, sem aa ER a
da sustentabilidade, encont ds
ra-se na generalização apr
essada, ambientais com as gerações futuras, RL
que con siste em argumentar a partir de
caso particular rumo à
regra geral,” inaceitável topica científicos
mente. A generalização apres- E a Eu ei asp da mac
sada faz com que não se dê o da , no sem
tratamento adequado ao caso sobre o caráter mu
A nana sustentabi lidade,
ao sistema. O ponto assume par e
ticular relevo ao se lidar com riticidade continua, graças à qual n
normas gerais, por exemplo, ie Com efeito, às vezes, O Ea Res
de Direito Ambiental e Admi- E leão
nistrativo, pois não se devem neg
ligenciar as qualificações do é do que a resultante da submissão genuflex
caso, sob pena de aberrações lóg
icas e valorativas.
2! Vide € Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary
, of Philosophy,
cd it., p.p 432: “(...)
op.cit., ap
(..) appeals
* Vide Robert Audi (Ed.). The : the rn consent of mankind to support a condado et E
Cambridge Dictionary of Philosophy
where someone is arguing , op. cit., p- 432: “(...) occurs ; bre “argumentos de aceitação comum”, no Di ga imp id
from a general rule to a parti
todos têm direito à liberdade cular case, or vice versa”. Exem po Etna :Z har, 1997, p. 23: “Argumentar que uma vez que algo O aê
de expressão, mas é falacioso plo:
direito de gritar “fogo” num teatr dizer que todos possuem o entãoA éEee Me
verdade. Eucietad | éum argumento claramente inválido (...) mas é mais ap
o lotado, sem que fogo haja. snsott
em casos especiais .
JUAREZ FREITAS | 145
7
144 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

dominação obscurantista de pessoa ou grupo. Acessar dados | qTraduz-se no apelo irracional e alarmista às ameaças catas-
supervenientes, fazer a reflexão crítica permanente e desafiar fróficas ou ao pânico para distorcer a eleição das premissas,
os consensos, eis a tarefa da racionalidade sustentável, que "ou seja, para, mediante constrangimento ou intimidação, ob-
não se acomoda ao mundo das explicações perfunctórias e “ter conclusão indevida.”* O apelo ao medo costuma aparecer
fáceis demais.
mos discursos que defendem tal ou qual decisão, sob pena
k de catástrofe. Por exemplo, diz-se que faltarão recursos para
alimentar a população se determinada decisão protetiva do
6.4.8 Falácia da desqualificação pessoal
ambiente for tomada. Na maior parte das vezes, a ameaça é
Uma das falácias mais lamentáveis e de incidência rei- escandalosamente falsa, mas prejudica os defensores racionais
terada é a do argumento que tenta convencer, desqualificando da medida. Daí a necessidade de se investir em habilitação
o adversário, mediante o ataque injusto de ordem pessoal, científica e cognitiva para resistir a argumentações desse tipo,
para impedir que a audiência perceba a debilidade das, que beiram a chantagem. Não raro, tal falácia surge para
próprias razões. Certo, não é inerentemente falacioso, contudo forçar que preponderem aspectos econômicos imediatistas,
se converte numa falácia sempre que se utilizar de traço sob a ameaça sem lastro de que, a não ser assim, nefastos e
pessoal do pretérito, próximo ou longínquo, para apontar, incontroláveis efeitos adviriam. Note-se: o argumento não
sem outras provas, uma falha demonizante no presente. é, em si, falacioso, porque o exame das consequências é ele-
Toda argumentação que deixa de ser imparcial faz-se discri-. mento inerente de todo juízo de prudência, todavia mostra-se
minatória negativa e tende a incorrer, de algum modo, protesca tática sofística, quando a ameaça e a imposição do
nessa
falácia. Precisamente em função disso, uma das razões para medo servem para burlar o ônus de oferecer genuínas razões.
se defender a imparcialidade como princípio associado à
sustentabilidade radica em impedir que as preferências ou
as hostilidades subjetivas determinem as decisões. Na defesa 6.4.10 Falácias da autoridade e ad ignorantiam
do novo paradigma, convém afastar as desqualificações Outra falácia deletéria é a do argumento de autori-
pessoais, ainda que se deva fazer-a descrição exata, o
mais dade” (ou autoritário, para ser mais preciso), segundo o
isenta possível, dos inúmeros malefícios pessoais trazidos
“qual, com base no conhecimento, na trajetória ou na titulação,
pela insaciabilidade patológica. pretende-se fugir do peso da prova. Claro que não se invalida
a força argumentativa da autoridade legítima e dotada de
credibilidade (por exemplo, no caso de perito ou de jurista
6.4.9 Falácia da ameaça
Nociva, igualmente, é a falácia argumentativa do medo
“4 Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy, op. cit., p. 433: Ho) appeals
ou da ameaça, diversamente do sadio dispositivo de alerta. toa threat or to fear in order to support a conclusion”. Convém notar que, às vezes, o
medo está distorcido ou desbalanceado, por razões históricas. Por exemplo, o frio é muito
visto como sinônimo de doença e morte (o que não deixa de ser verdade e tem sido evolu-
tivamente útil pensar assim), mas isso não deveria fazer com que não houvesse suficiente
preocupação com o aquecimento global, ameaça tão ou mais séria. Sobre o tema, vide a
“º Trata-se do argumento que lança ataque pessoal injusto, isto é,
quando o ataque não é observação de Tim Flannery, in Os senhores do clima: como o homem está alterando as con-
merecido ou é empregado para distrair a audiência. Vide Robert Audi
(Ed.). The Cambridge dições climáticas e o que isso significa para o futuro do planeta. Rio de Janeiro: Record,
Dictionary of Philosophy, op. cit., p. 433. Não é argumento inerentemente 2007, p. 217.
falacioso, mas pode
induzir em erto decisório.
*» Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy, op. cit., p. 433.
146 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 6
| 147
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

de notória especialização e de altos predicados morais). Oy E araue são insaciáveis, tudo por aversão a mudanças (não
seja, pode ser argumento sadio, sob certas condições. Torna-se. à: E s incrementais), no campo das pré-compreensões. Não
falacioso quando assume o lugar do dever de fundamentação E
E: sed o direito de pensar que poderiam ser saciados de neces-
suficiente. des básicas, pois preferem sucumbir ao desejo de tolices
Ao lado dessa falácia, merecendo tratamento conjunto gi
tem-se a falácia ad ignorantiam, que consiste em apelar à. E E visto, se o desenvolvimento sustentável é aquele
ignorância como prova: se uma asserção não puder ser reco oduz o bem-estar presente sem comprometer a possi-
e “que pr
nhecida como comprovadamente falsa, então erradamente, * bilidade de que as gerações futuras encontrem o bem-estar
afirma-se como verdadeira, ou o contrários Exemplo: a faláci | * multidimensional (para além do Relatório Brundtland), de
a
de intentar fazer crer que, por não haver uma teoria unifi * mada serve a noção convencional de crescimento pelo cresci-
cada
das causas do efeito estufa, seria impossível a posição mini- mento, que tenta se manter à base de uma petição de princípio
mamente sólida sobre o papel das causas antrópicas. A aber- b “grosseira: o crescimento econômico seria O caminho, porque
tura mental para a autonomia de pensamento parece ser q o o caminho seria o crescimento econômico. Essa ilogicidade
mais poderoso antídoto contra esse grave vício na construção tem de ser abandonada, sobremodo porque é uma das falácias
dos silogismos. mais deletérias da cultura contemporânea.

6.4.11 Falácia da petição de princípio * 64.12 Falácias das muitas questões 3


Essa falácia também precisa ser evitada, com todo Outra falácia consiste em formular muitas questões,
empenho, no campo das decisões em prol da sustentabili- “de sorte a forçar que o interlocutor aceite pressuposições
dade, porque a petição de princípio” consiste em defender rigorosamente infundadas.” Erro que aparece, de maneira
o argumento de modo circular (nada a ver com o círculo constante, nos processos administrativos e judiciais, ao inda-
hermenêutico salutar), sempre para fugir da carga da prova, gar, por exemplo, se o órgão ambiental aceita que a lei x é
definindo bizarramente o acerto de uma tese, pelo fato de que constitucional. O órgão diz que sim, mas a lei “x , por hipó-
ela supostamente estaria certa. Para ilustrar, ocorre quando tese, já foi revogada ou não se aplica à espécie. Justamente
alguém diz que determinado bem de uso comum do povo é por isso, na avaliação dos impactos ambientais, indispensável
particular, porque a sua natureza seria de bem particular, sem tomar cuidado para formular as perguntas certas, sob pena
maiores justificações. No tocante aos recursos hídricos (bens da aceitação de questões falsas, formuladas intencionalmente
públicos, segundo a Constituição), verifica-se amiúde tal fa- para confundir.
lácia, praticada por aqueles que impugnam a natureza publi-
cista. Dizem que é privada, porque é privada, desde sempre.
Outro exemplo: há os que dizem, em clara petição de 6.4.13 Falácia do uso malicioso de palavra ambígua
princípio, que os seres humanos são insaciáveis, porque a Útil referir essa falácia,” que se traduz no uso malicio-
natureza os fez insaciáveis. Isto é, pensam que são insaciáveis, so de palavra ambígua, de maneira a poder interpretá-la ora

*s Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy, Op.


cit., p. 434. *8 Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy, op. cit., p. 434.
*” Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy,
op. cit. p. 434. “2 Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge Dictionary of Philosophy, op. cit. p. 434.
148 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 6 | 149
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

de um jeito, ora de outro, aproveitando-se da ineliminável


polissemia dos vocábulos e da indeterminaç t às vezes, podem até soar razoáveis, mas se revelam altamente
ão dos conceitos,
Assim, quando o constituinte usa a expr alaciosos quando o exagero visa i a supriri uma formulaçação
essão “bem de Uso
comum do povo”, relacionado ao “mei
o ambiente”, não quer
E ficiente ou a produzir o temor injustificado das conse-
significar um bem particular, ainda que u

cias, aproximando-se da falácia do medo ou da ameaça.


sa ncias,
L ”

possível a especia-
lizaç ão do bem.
No entanto, o argumento falacioso E“Na seara ambiental, essa falácia aparece, por exemplo, quando
dm
toma a ex
pressão “bem de uso comum do povo” diz que, se se adotar um monitoramento ambiental mais
em sentido impróprio
e distorcido , às vezes para desmoralizá-lo ou
E oroso da poluição atmosférica, nenhum ER
Pio e
j

amputar-lhe a
credibilidade. | Po seria possível ou milhares de empregos seriam perdidos.
Outro elucidativo exemplo dessa falácia no
encontra-se na Tudo sem prova válida.
manipulação do sentido da expressão
“interesse público”:
pode haver leviandade, nas motivaçõ
es administ rativas, ao
asseverarem que tais ou quais razões de
interesse público terão 6.4.15 Falácia das mãos contaminadas)”
sido decisivas. A simples alusão, sem
prova ou consistente
motivação, torna a motivação insu
fici no mínimo, sus- ente ou, Com a ressalva expressa de que o rel não é pa
peita.*º A mera alegação de conveniência cumpre, por fim, mencionar a falácia das “mãos a e que
ou de oportunidade
mostra-se inaceitável. É preciso fundam ar
entá-la, com rigor. O tenta justificar ações indefensáveis, sob o
grave é que, seguidamente, aê
utiliza-se a expressã
o ora para alguém precisa fazer O trabalho odioso. Na argu
designar o interesse público autêntico
(“bem de todos”), ora jurídica, tem servido para tentar justificar poluições co P E
para designar o mero interesse do apar
ato estatal, que é par- tamente evitáveis. E preciso reconhecer que, às e
ticularista e, não raro, colide, flag
rantemente, com o interesse combater o fator de degradação, forçoso ir ao seu territó E
geral! e, desse modo, com a sust
entabilidade.
mas se torna explícito engodo toda vez que puESe RR
texto para justificar o moralmente injustificável. Ram É
6.4.14 Falácia da sequência irre falácia pode acontecer no manejo DPR gd an a Ea
sistível
desproporcional da “economia de males”, um dos ma
Essa falácia consiste'2 em argumenta
r contra ação ou. tagiosos vícios de argumentação.
inação sob o fundamento de que seria
o primeiro passo de se-
quência difícil de resistir ou de aceitar.
Argumentos desse tipo,
6.5 Armadilhas argumentativas e psicológicas
*º O Poder Judiciário brasileiro começ
a a acolher essa perspectiva, com vigor
exemplo, vide o julgamento do MS nº crescente, Por
9.944 (1º Seção. Rel. Min. Teori Albino Tais falácias, sumariamente arroladas, sãoCER
Julg. 25.5.2005. DJ, 13 jun. 2005), Zavascki.
no qual o STJ entendeu que, nada
de liberdade de escolha da conveniênc obstante a margem lesivas e contrárias às decisões sustentáveis. Ao lado ed
ia e oportunidade da Administração,
adequada motivação do ato que nega,
mera invocação da cláusula do intere
limita ou afeta direitos ou interesses, sem
exige-se
admitir a
reconhecer — para nelas não cair — determinadas armadi as
sse público.
* Vide Robert Audi (Ed.). The Cambridge
Dictionary
|
of Philosophy, op. cit., p. 435. Ainda que
argumentativas, de raízes eminentemente psicológicas.
passagem, cumpre mencionar também de
a falácia da amphiboly, ou seja, o uso de sentenças
sintaticamente ambíguas (p. 435), que
deriva
falácia assaz comum em técnicas de propa da lista de falácias de Aristóteles, Trata-se
de
ganda enganosa.
*2 Trata-se da falácia the slippery *8 Vide Simon Blackburn, in Dicionário Oxford de filosofia, op. Cit, p: e o aa
slope argument. Vide Robert Audi
Dictionary of Philosophy, op. cit., p. (Ed.). The Cambridge
435. E , te, como observa Dale ê Jamieson,
i in Etica & meio ambiente;
in e
o, Op.
E 5 e “os problemas do meio ambiente derivam de falhas morais de algum tip
150 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 6 | 151
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE —- COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

De fato, entrelaçadas às falácias, encontram-se arma- . fenômeno faz com que a mente outorgue desproporcional peso
dilhas que precisam ser conhecidas por todo aquele que almeja. vorimeira informação que recebe.:º O que importa destacar,
decidir de maneira sustentável, uma vez que, como mostram E ue frequentemente as âncoras são nocivas, pois
as pesquisas de campo, impedem a tomada das melhoreg>» a E raciocínio e influenciam negativamente as decisões,
decisões. O do-as desproporcionais e inviáveis a longo prazo.
Tem-se de conferir atenção, entre outras, às seguintes ”" Constata-se a tendência a se apegar à primeira linha de
armadilhas, didaticamente referidas por Ralph L. Keeney e o
investigação, algo que gera a falta aguda de
seus colegas: a armadilha da ancoragem (the achoring trap), ênc
novos conceitos e abordagens, assim como a nefasta ten
a armadilha do status quo (the status quo trap), a armadilha
de de se aferrar às decisões tomadas de modo provisório, com
proteger decisões anteriores (the sunk-cost trap), a armadilha requer plena noção
rarefeita cognição. A Pee
do enquadramento (the framing trap), a armadilha da confiança ômeno para evitá-lo.
excessiva (the overconfidence trap), a armadilha da evocação
E Ei, a coisa é consolidar o princípio da susten-
distorcida (the recallability trap) e a armadilha da precaução
excessiva (the prudence trap).
tabilidade, fixá-lo na própria consciência, outra - se aerea
levar pelo fixismo no campo das ideias e se enredar e ân
Todas são armadilhas que costumam aparecer no pro-
coras de pré-compreensões erradas, conducentes ao colapso.
cesso de interpretação e de aplicação do princípio consti-
tucional da sustentabilidade, donde segue a relevância de Por exemplo, alguém pode ficar ancorado à noção de que a
desvendar esses mecanismos deformadores das decisões. humanidade não corre perigo de extinção, por estar preso ao
mito de que sempre é possível escapar dos perigos. Ou seja,
a armadilha faz com que não se consiga (ou queira) o
o perigo real. Outro exemplo: um país fixa um cg e
6.5.1 Armadilha da ancoragem
siadamente alto de renda per capita, somente a partir lo qua
A primeira é a armadilha da ancoragem, demasiado começará a se preocupar com o ambiente. Fa a audi
comum em todas as questões da sustentabilidade, sempre
disso, perderá os trilhos do desenvolvimento limpo e das im
à espreita. A armadilha da ancoragem ocorre por apego ex-|
gias renováveis. É algo tão errado como alguém ficar ancorado
cessivo àx primeira ideia sobre determinado assunto. da
Esse à fantasia de que, para conquistar O bem-estar, precisa de
quantia financeira elevada, somente a partir do acúmulo a
335 Vide, sobre armadilhas psicológicas, John S. Hammond, Ralph
L. Keeney e Howard Raiffa, qual começaria a ser generoso, empático e solidário.
in Smart Choices: a Practical Guide to Making Better Life Decisions
. New York: Broadway
Books, 2002, Capítulo 10. Ao prescreverem como tomar decisões,
no Capítulo 11, numa
abordagem fiel ao sistematic thinking, propõem enunciar corretam
ente o problema de-
6.5.2 Armadilha da excessiva confiança
cisório, clarificar os reais objetivos, desenvolver uma série
de alternativas criativas,
entender as consequências das decisões, fazer apropria
das negociações entre objetivos
A segunda armadilha psicológica é a da excessiva con-
conflitantes, lidar sensivelmente com incertezas, tomar
em consideração a atitude em face
do risco e planejar decisões interligadas (p. 215), sugestões
válidas, na maior parte das
vezes, para o intérprete do princípio da sustentabilidade.
fiança. Nunca é boa a confiança que nasce da falha de cognição. Tal
armadilha guarda íntima vinculação com a da ancoragem e
*s Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit. p. 185-213.
*” Prefere-se evitar a tradução literal, dado o caráter peculiar
que o termo prudência possui
na área jurídica.
8 Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Raiffa, in Smart Choices: a Practical 39 Vide John S. Hammond,
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit.,
p. 187. Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 187.
152 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 6 | 153
ÁCIAS E E AS AS ARMADILHAS ARGUMENENTATIVAS
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS

merece ser evitada com idêntico rigor. Há,


por exemplo, os e ser uma escolha fundamentada, não ea
que confiam excessivamente na tecnologia
para enfrentar os omodação mental ou pela dificuldade psicológica de
prob lemas do aquecimento global e, em face aP om
disso, fogem de! aos novos tempos. Como recomendam Keeney
alterações estruturais no estilo de vida.
Por certo, a confiançaé E E. força relembrar os objetivos e, acrescente-se, ja-
um traço indispensável ao equilíbrio dinâ
mico e à cooperação, o E o status quo seria necessariamente “a” única
porém o seu excesso conduz à imprud
ência e à ausência fatal E o em dos escravistas refratários à abolição. Mister,
do senso de antecipação. Nada é pior
do que a concretização do a e lhias não exagerar inercialmente o status quo,
pesadelo que, por astúcia ou delírio,
tiver sido comprado como um a d dê ver as imensas vantagens, por exemplo,
"sonho.
EE o nie para a economia sustentável. E
E rço ditado pelo apego ao status
6.5.3 Armadilha do apego ao stat e: da aan Ens A e, por causa do
us quo am eai por prejudicar, em última instância, a própria
Outra armadilha Psicológica,
que quotidianamente Ecs estabilizadora do sistema.
conspira contra a sustentabilidade,
reside no apego ao status
quo. Os que nela caem passam a
querer perpetuar a poluição |
melhor alternativa. 6.5.4 Armadilha da proteção das decisões anteriores
É a armadilha da zona de conforto
, na qual se deixam apri- A próxima armadilha a evitar consiste justamente no
sionar, por exemplo, os economist
as que rezam estritamente ômeno psicológico de se tender à proteção das dec E
pela cartilha do PIB. O velho par
adigma da insaciabilidade ante jores, o que leva a que muitas escolhas sejam efetua as
alimenta-se dessa artimanha. Mais
: quanto maior o número O rslesmente para “justificar” as escolhas passadas, ainda que
de alternativas — que a ciência
consegue expandir, a cada a is se afigurem válidas" ou razoáveis. Nutre-se da séria
momento —, maior paradoxalmente
manutenção anacrônica do status a tendência de será E fculdade de perceber que o passado, embora ins ne
quo. Exemplo eloquente do existe mais. De fato, o apego E ao ia pá Pa a
- fenômeno está no experimento des
envolvido por Jack Knetsch, ' RD
que deu presentes distintos a dois com que alguém permaneça chum
&rupos e verificou que, de ação insustentável, esperando o mil e praga
embora podendo realizar a troca
livremente, a maioria esma- SEARA gi apa
gadora decidiu manter o Presen empatado”, quando a inteligência só
te inicial.2 Assim, o apego m E
ao status quo distorce a própria mar linha fosse desfeita, pois tudo indica per
gem de liberdade. Lógico áti é a dificuldad e de aceitar os prejuízos. |
que, em países instáveis e de 8overn
ança precária, adotar uma Ea AE ená TO criam-se maiores prejuízos na defesa
postura estabilizadora afigura-se,
até certo ponto, justificado.

“o Vide John S. Hammond, Ralph hn S. :: Hammond, ifa,


Ralph L. jd Keeney e ) Howard Raiffa, ices: a Praéaétical
inà Smart Choices:
L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
34 17), y.
Guide to Making Better Life Decis e Making Better Li fe Decisions, Gi Gil, Sa à a
ions, op. cit, p: 201-202. E
2 i
*º Vide John S. Hammond, Ralph s más decisões, em função de an sta , do
ga
L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decis É o E a Sm in Processo decisório: para cursos de mi Dip Aa
ions, op. cit, p: 189: “In fact, most decision makers
display a strong bias toward alter MBAs. ads
Rio rei É Campis > 2004, y p. 137: “há uma grande força lutando
natives that Perpetuate the current situation”. o
*2 Vide JackL. Knetsch, in The : lé tatus quo”. qe as A
Endowment Effect and Evide
Curves. The American nce of Nonreversible Indiffer e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practica
Economic Review, v. 79,n. ence 345
ER Do ame Ê 7
Bat L. Keeney
3, p. 1277-1284, Dec. 1989.
Ras to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 192.
154 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS
CAPÍTULO 6
| 155

dos erros pretéritos ou em curso, pelo receio orgulhoso de julgador tende a ver apenas aquilo que quer ver e se empenha
admitir falhas estratégicas. Em determinadas situações, quiçá em corroborar uma ideia já escolhida, não apenas afetando a
por insegurança, déficit de autoestima ou pelo exclusivismo coleta de evidências, mas sobretudo a interpretação.” Aqui,
do interesse próprio,“ alguém segue uma trilha sabidamente como observam Ralph L. Keeney e colegas, atuam duas forças
insustentável, percebe o erro, mas resolve manter aquela psicológicas: uma é a tendência de decidir o que queremos
marcha, apenas para não ter que confessar o equívoco a seus
fazer antes de fixar o porquê, e a outra, a de haver mais
parceiros de trajeto ou a si mesmo, quando o razoável seria” engajamento naquilo que gostamos.” Tais forças parecem
retomar o ponto anterior ao desvio. j evidentes. E são. No entanto, fazem errar diariamente, desde
; Para o paradigma da sustentabilidade, o apego às de- que não se esteja com a mente treinada no autocontraditório.
cisões passadas é armadilha das mais problemáticas, especia Existe um experimento que comprova essa necessidade de
l.
mente quando se lida com maus precedentes cristalizado vigilância, de modo agudo. É o estudo de Charles Lord, Lee
s
Admitir os erros sistêmicos e a necessidade de mudar Ross e Mark Lepper sobre polarização: grupos com po-
de
posição é condição para a retificação de rota. Algo sição formada (contra e a favor) sobre certo assunto, ao exa-
que não
pode ser visto como ceder às pressões, fraqueza de formaç minar argumentos favoráveis e contrários, leem os mesmos
ão
ou tibieza, mas sinal de inteligência ao realizar o contín documentos fornecidos de maneira a apenas confirmar as
uo
aperfeiçoamento autocrítico, no processo decisório. próprias convicções. Ou seja, ambos os grupos somente veem
A título de exemplo, o apego excessivo à indústria dos o que querem ver. E o truque psicológico, inconsciente no geral
fósseis pode ser um erro desse tipo, por parte de muitos das vezes, de apenas compreender o que se quer compreender. ,
que Como sublinhado, em matéria de sustentabilidade, imperativo
preferem permanecer inertes, sem uma reorientação
, ao menos resguardar a imparcialidade na formação dos juízos, no sen-
gradativa e complementar, dos investimentos para
as energias tido de realizar o sopesamento devido, com a abertura de
renováveis.
espírito às novas evidências.
Outro caso emblemático é o uso de técnicas flagrante-
mente equivocadas na construção de prédios, pelo temor
de
admitir o erro histórico, quando o racional seria imedi 6.5.6 Armadilha do enquadramento
atamente
substituí-las por alternativas compatíveis com o cliina tropica
l, Merece menção a perigosíssima armadilha do enqua-
Enfim, anatureza é mutável, de modo que todo
fixismo é erro dramento.*º Tal armadilha guarda relação com a falácia das '
cognitivo, com graves repercussões multidimensionais.

7 Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
6.5.5 Armadilha da confirmação das evidências %
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 194-195.
Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 195.
Outra cilada psicológica inibitória da tomada de decisões “> Vide Charles G. Lord, Lee Ross e Mark R. Lepper, in Biased Assimilation and Attitude
sustentáveis é a da confirmação das evidências,
Polarization: the Effects of Prior Theories on Subsequently Considered Evidence, Journal
isto é, o of Personality and Social Psychology, v. 37, n. 11, p. 2098-2109, Nov. 1979. Sobre o tema, vide
também Cass R. Sunstein, in A verdade sobre os boatos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p.
50: “a mediana pré-deliberação é o melhor indicador da direção do desvio. Quando os
membros do grupo estão inicialmente dispostos a correr riscos, desviam-se para um maior
6 E fita M. PA e Keith P. Sentis, in Estimating Social and Nonsoci
entusiasmo para correr riscos. Onde os membros estão inicialmente inclinados à cautela,
ounchons al Utility se tornam mais cautelosos depois de conversar”.
uçá tia
from Ordinal Data. European
pean Ji Journal ofof Social
Socia Psychology, v. 15, n. 4, p. 389-399,
0 Vide a contribuição notável de Amos Tversky e Daniel Kahneman, in The Framing of
Decisions and the Psychology of Choice. Science, v. 211, n. 4481, p. 453-458, Jan 30% 1981.
156 | ESUSTENTABILIDADE
'AREZ FREITAS
- DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS CAPÍTULO 6 | 157
E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

muitas questões. Aqui, trata-se de condicionar a decisão em memórias é exemplo cabal disso. Exagera probabilidades,
função do modo errôneo pelo qual.o problema é apresentado. fixa suposições sem a menor comprovação. A evocação, que
inicialmente. Com efeito, pode-se apresentar a mesma questão implica associação de ideias, pode
ser — como mostra Ivan
com diversos enquadramentos e, em razão Izquierdo — provavelmente a atividade principal do sistema
disso, chegar a
resoluções distintas. Tome-se, outra vez, nervoso.” Vai daí que se tem de estar prevenido, pois pode
Keeney e colegas, 31
salientando que se pode formular a questão enfati ser altamente enganadora, na tarefa de relembrar dispositivos
zando ga-
nhos ou perdas e, a partir daí, o resultado ou fatos. A evocação distorcida costuma ser uma inimiga da
variará conforme a
ênfase, mantida a pergunta de fundo. Sugerem, sustentabilidade, porque não permite a correta recuperação
com acerto,
que sejam abraçados pontos de referência diferentes, de dados e impede as estratégias de longo prazo, pautadas
a par
da reflexão atenta sobre o modo pelo qual houver pela aprendizagem com os erros do passado.
sido es-
truturado o problema. De fato, o automatismo
— típico
do paradigma da insaciabilidade patológica —
leva a aceitar
O enquadramento inicial da questão, de maneira 6.5.8 Armadilha da cautela excessiva
acrítica,
esquecido de que inescapavelmente as distorções Próxima armadilha psicológica de obrigatória menção
cognitivas
ocorrem e é preciso repor os problemas sociais, é a da cautelá excessiva e paralisante, que não se confunde
econômicos,
ambientais, éticos e jurídico-políticos de maneiras com a necessária prudência (chave para a precaução e a pre-
diferentes,
apesar da eventual sobrecarga dos processos Venção). Aparece, por exemplo, na metodologia que adota o
decisórios.
“pior cenário (worst case analysis) isto é, que projeta custos
econômicos e sociais muitíssimo mais elevados do que são
6.5.7 Armadilha da evocação distorcida na realidade. O excesso de cautela pode redundar numa das
Outra armadilha psicológica, próxima da
piores das decisões, a de nada fazer. Exemplo veemente em
anterior é a da matéria ambiental: o excesso de precaução, em que pese a
evocação distorcida,** que prefere concentrar-se
em eventos magnitude do princípio, pode fazer retardar, em excesso, a
dramáticos ou sulcados pelas emoções do agente.
Não deve liberação de obra vital para o suprimento de energias reno-
ser subestimada a maneira deturpada pela qual são
evocados váveis. De fato, o excesso de cautela, supostamente em nome
os fatos, a acarretar uma distorção decisória ou avaliativa. da sustentabilidade, pode ser tão nocivo como a falta dela.
A memória, que não se encontra disciplinada
pelo hábito
da pesquisa empírica, desorienta. O fenômeno
das falsas
6.5.9 Armadilha da percepção de padrões
Vide, ainda, Amos Tversky e Daniel Kahneman, in
Judgmentunder Uncertainty: Heuristics
inexistentes
and Biases. Science, v. 185, n. 4157, p. 1128, Sep.
27h 1974: “The illusory correlation effect
was extremely resistant to contradictory data. It persisted even when
the correlation
Grave, igualmente, é a cilada ou armadilha de perce-
between symptom and diagnosis was actually negativ
detecting relationships that
e, and it prevented the judges from ber padrões onde eles não existem. Trata-se de armadilha
were in fact present”.
* Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard
Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 199.
*2 Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard * Como mostra Ivan Izquierdo, in Tempo de viver. São Leopoldo: Unisinos, 2002, p. 59.
Raiffa, in Smart Choices: a Practical Diz
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. mais: “Todos nós, de fato, precisamos aprender, precisamos pensar e precisamos
200. esquecer.
Há um tempo para cada coisa” (p. 61).
* Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard
Raiffa, in Smart Choices: a Practical * Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit. p. 200 et seg. Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 206.
JUAREZ FREITAS
1 58 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 6 | 159
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS ARGUMENTATIVAS

consoante a qual são estabelecidos padrões para fenômenos que


Nessa medida, esposar uma crescente consciência
escapam do nexo de continuidade com eventos anteriores3%
É a busca de certezas à força, algo que guarda relação coma Hesses truques, enganos e ilusões é antídoto preciso, capaz
falácia das falsas causas. Não se descarta a hipótese de, de transcender condicionamentos e “vieses”, que dificultam
por
meio desse estratagema, o observador pretender
reduzir q a tomada da decisão intersubjetiva, a favor da amplificação
espaço de contingência e risco,” porém indispensável não
da qualidade de vida, concretamente universalizável.
sucumbir à tentação de se amarrar a mastros falsos.
N a esfera
Tudo considerado, imprescindível entender melhor
decisória sustentável, convém assumir a probabilidade mo funcionam as nossas mentes, para aprimorá-las, na con-
de
cenários variados. Claro que a previsibilidade relativa cretização do princípio da sustentabilidade multidimensional.
pode
ser interessante, com a condição de que não implique. posi-
cionamentos baseados em padrões que não existem
ou não
deveriam persistir. 6.6 Mudanças mentais a favor da sustentabilidade
Pois bem. Não é difícil perceber que tais armadilhas
psicológicas, assim como as citadas falácias informais, Para tanto, o passo significativo está em admitir que há
são mais de uma inteligência, como mostra convincentemente
indutoras de macro e microdecisões equivocadas e
nada
razoáveis, por exemplo, no tocante ao consumismo, que Howard Gardner. A propósito, Gardner acerta ao propor
oscila
entre extremos simplistas, sem equilíbrio.' Promov um acordo semântico sobre mudanças mentais como situações
em leituras
desatinadas da realidade e inimigas da decisão sustentável, nas quais indivíduos ou grupos abandonam o modo pelo qual
ao explorarem ilusões, tais como a de que produtos acima têm costumeiramente pensado sobre tema de importância e
da
média possam compensar características pessoais abaixo passam a concebê-lo de nova maneira.'? Pode-se agregar que
da
média. Desconsideram os efeitos colaterais de cada essa mudança somente acontece pela acolhida de novas pré-
decisão.
Obliteram e não permitem ver que cada decisão individu compreensões sistêmicas.
al
afeta a vida como sistema. Eclipsam os objetivos essencia Para decidir de maneira sustentável, parece imprescin-
is,
trabalhando com efeitos imediatos, em vez das conseguên- dível fixar os fatores de mudança (levers)'º e compreender os
cias satisfatórias, com longa duração. Perturbam
o escrutínio fatores de resistência. 7
multidimensional da discricionariedade e dos custos diretos
e indiretos. Dificultam o sopesamento conducente ao Entre os fatores de mudança, o primeiro é o uso argu-
exame mentativo da razão ou a abordagem racional.'* Qualquer mu-
da melhor alternativa possível, em contexto de
excessos. dança pode ser favorecida pelo exercício da persuasão racional
Empurram o mundo para a inércia e para a ilusão cognitiv
a. (congruente e consistente), que não incorrer nas falácias e
armadilhas apontadas.
6 Vide John S. Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa,
in Smart Choices: a Practical
Guide to Making Better Life Decisions, op. cit., p. 207-208.
*2 Vide, para introdução sobre o tema do risco, John Adams,
in Risk. London: Routledge, 2001.
*8 Geoffrey Miller, in Darwin vai às compras: sexo, evolução
e consumo. Rio de Janeiro: Best * Vide Howard Gardner, in Changing Minds: the Art and Science of Changing our Own and
Business, 2012, p. 30, critica uma relação de puro amor
ou de puro ódio ao consumismo, other People's Minds, Boston: Harvard Business School Press, 2004.
“sem estabelecer distinção ou equilíbrio”. Propõe ir
além da conhecida e defasada hie- * Vide Howard Gardner, in Changing Minds: the Art and Science of Changing our Own and
rarquia das necessidades de Abraham Maslow (p. 37-41).
Detecta o viés antibiológico da other People's Minds, op. cit., p. 2.
maioria dos pesquisadores (p. 44).
*9 Vide Geoffrey Miller, in Darwin vai às compras: *% Vide Howard Gardner, in Changing Minds: the Art and Science of Changing our Own and
sexo, evolução e consumo, op. cit,, p. 119.
“%o Vide Robert H. Frank, in Luxury Fever: Why Money Fails other People's Minds, op. cit., p. 14.
to Satisfy in an Era of Excess. New ** Vide Howard Gardner, in Changing Minds: the Art and Science of Changing our Own and
York: Free Press, 1999.
other People's Minds, op. cit., p. 15.
160 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE = DIREITO AO FUTURO Á CAPÍTULO 6
SUSTENTABILIDADE - COMO VENCER AS FALÁCIAS E AS ARMADILHAS
ARGUMENTATIVAS | 161

Certamente, entretanto, as men


tes também mud
por incidência de fatores não cogn +
aquelas que deixam, por imaturidade ou medo infundado,
itivos, que nunca devil
ser neg
ligenciados, ao se levar adiante a caus o mpreender as escolhas existenciais conducentes à conti-
a da suste x ynuidade experiencial do bem-estar.”
bilidade. A chamada ressonância
na audiência denota al
valioso componente afetivo. Com PP” ceSe decidir
decidir éé esco
escolher entre
e várias
árias opçõ e aplicar
opções ki energiai
preender tais fatores
| comunto, apresenta-se útil para operar com
| as
várias ind = vifurcação, não se podem descurar dos horizontes volitivos
ligências de modo propício ao bem-es
tar autêntico, int q
intergeracionalmente. 4 e cognitivos da sustentabilidade, de maneira a, sem inércia,
) da o : E A venir e antecipar os impactos sistematicamente produzidos
Já as decisões que se baseiam no paradigma da insa-
| E nossas escolhas.
ciabilidade são inconsistentes,
pois não consideram na devida 4

conta, por falta de antevisão caut


elar, os efeitos intertem orai
que, cedo ou tarde, retroagem sobr
e quem toma a desta l 6.8 Em resumo
Também são inconsistentes, porque
sacrificam (por falta de
compreensão balanceada) o longo Resulta, do exposto neste capítulo, que:
prazo no altar do curÃ
prazo ou O curto prazo no culto meta (a) para serem vencidas as falácias e as armadilhas
físico do longo prazo
Erros simétricos. Afinal, quem só cuid " psicológicas que dificultam o devido reequilíbrio
a das gerações futuras,
descurE ando das atuais , dinâmico da vida na Terra, importa ter presente, em
; Prepara legado negativo
gerações futuras. ! todo processo decisório, que deve haver contínuo e
R e
deliberado processo de mudanças mentais, no sentido da
introjeção lógica da sustentabilidade;
6.7 Conceito de decisões insust (b) a defesa do paradigma da sustentabilidade não deve
entáveis
Nessa perspectiva, são decisões supor que a passividade diante do status quo seja a
insustentáveis (a) melhor tática, pois precisa encontrar, em cada caso,
aquelas que não realizam o sopesamen
to pertinente e satisfa- uma solução proativa conducente à homeostase
tório entr e eficiência e equidade, macula
das pelos vícios (nem
sempre pueris) das' falácias e armadi social;
lhas argumentativas e (c) deve ser respeitada a intersubjetividade digna, que
psicológicas, (b) aquelas que, na crença em alte
rnativa uní- implica superação do confronto exacerbado entre
Voca, não reconhecem alternativas mel
hores, a partir da
experiência autocrítica e do alarga sujeito e objeto, no processo da decisão intertempo-
mento das informações e ralmente válida;
de E Ng e E
* EPVide
| Howard Gardner, y in oChang apta inds:
in Minds
i : the Art and Scieni ce of Changing i our Own and
** Sobre o tema da felicidade x trat
ado de modo sério, vide Richard
a pn Lavard, i i
: E Lionel Robbins Memorial Lectures *? Vide, sobre importante distinção que será retomada adiante, Daniel Kahneman, in
hn+» eo , 2002/2008, p. a Nes
Don - Brown, in Huma ; n Universals.
als. Ni New York: : MeGra Thinking, Fast and Slow, op. cit., p. 387-388: “There is a clear contrast between the effects of
5 Me w-Hill,
Hil, 1991:
Jective happiness. In: ; Daniel Kahn income on experienced well-being and on life satisfaction. Higher income brings with it
Enbde o Well-Being: the Foundations eman Ed D Di é
of Hedonic Psychology. New higher satisfaction, well beyond the point at which it ceases to have any positive effect on
Be Foundation, 1999; e, ainda, dai experience. The general conclusion is as clear for well-being as it was for colonoscopies:
Martin E. B: Seligman, in Authe
New Positive Psychology to Reali ntie Happiness: Doing the
Press, 2D0D. . E people's evaluations of their lives and their actual experience may be related, but they are
y 8Y to Realize your Potential for Lasting Fulfillment. New York: Free also different. Life satisfaction is not a flawed measure of their experienced well-being, as
Tthought some years ago. It is something else entirely”.
JUAREZ FREITAS
162 SUSTENTABILIDA DE AO FUTURO
- DIREITO

(d) todos têm o dever de justificar a liberdade decisória CAPÍTULO 7


com autonomia ou transcendência em face das
refes
ridas falácias e armadilhas, que toldam o exercício
crítico da discrição; ;
(e) ao decidir, cumpre observar hermeneutica
mente |
todos os ângulos e tempos, como eficaz antídoto
contra os desvios, evitando-se que o suposto
ótimo SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA
decisório imediato impeça o resguardo das gerações.
seguintes; "| O DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA
(f) o primado da sustentabilidade, como valor
e como.
principio-síntese, só se instaura quando vencidas
as
falácias informais e as armadilhas psicológicas que Sumário: 7.1 Prioritária educação para a sustentabilidade — 7.2 Quatro premissas
para uma educação exitosa — 7.3 Pré-compreensões terão de ser trocadas — 7.4
não raro, inibem a tomada da melhor decisão.
ms . ”
f
Em resumo
Trata-se, em síntese, de entender que o paradigma da
sustentabilidade implica cabal superação da insaciabil
idade como.
falácia-mor. A sustentabilidade combate, 7.1 Prioritária educação para a sustentabilidade
por assim dizer, 4
mau desenvolvimento cognitivo e volitivo, aquel
e que gerao. Neste capítulo, intenta-se enfatizar que a sustentabilida- |
colapso e, de outro lado, trata de estimular
e produzir o bom de demanda abordagens inovadoras do direito fundamental
desenvolvimento, que preserva e intensifica as potenciali
dades “àeducação, que (i) permitam, na aprendizagem formal e
da vida.
3 informal, aproximações sucessivas de concepções universa-
Tudo isso reivindica outra forma de fazer, querer
e pen- “lizáveis de maior empatia e responsabilidade solidária
sar. Nova forma integrada de ser. Uma
nova educação, eis o pelo ciclo completo dos produtos e serviços; (ii) produzam
tema central do capítulo seguinte.
expressivas transformações na relação com o ambiente, de
molde a desmanchar, progressivamente, o paradigma da in-
saciabilidade patológica e (iii) estimulem o ser humano, não
para a socialização presa à irrefletida manutenção do status

** Vide, para realçar o tema da empatia, Jeremy Rifkin, in The Empathic Civilization: the Race
to Global Consciousness in a World in Crisis. Cambridge: Polity Press, 2010, p. 428. Vide,
“ainda, Frans de Waal, in A era da empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 19: “Muitos animais sobrevivem cooperando |
e compartilhando os recursos, e não aniquilando-se uns aos outros ou conservando tudo |
para si mesmos. (...) O que necessitamos é de uma completa reformulação dos nossos
pressupostos sobre a natureza humana. Muitos economistas e políticos assumem como
modelo da sociedade humana a luta permanente que julgam existir na natureza, o que
não passa de uma projeção. Como os mágicos, primeiro eles jogam seus preconceitos ideo-
lógicos dentro da cartola da natureza, para então tirá-los de lá pelas orelhas, mostrando
que a natureza corresponde ao que eles pensam. Já caímos nesse truque por um tempo
longo demais”.
*P Vide a Lei nº 12.305/2010, art. 6º, VII.
164 | AREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA O DESENVOL
CAPITULO? | 165
VIMENTO QUE IMPORTA

quo, mas para rejeitar toda e qualquer postura nociva ao equi. ea coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
líbrio dinâmico da vida. ) habilidades, atitudes e competências voltadas para a conser-
Com pertinência, André Lara Resende assinala que “ci. vação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essen-
vilização e educação estão cada vez mais ligadas à redução cial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art. 19).
da agressão ambiental. Mas educação e civilização não têm
Nesse contexto, perceber que as graves falhas educacionais
correlação necessária com riqueza material — esse éum ponto
* encontram-se, de modo objetivo, associadas ao quantitativis-
fundamental”.%
mo dos enfoques corriqueiros, suscita progresso significativo,
A par disso, não é ocioso lembrar que a educação pro-
porque abre os olhos, por exemplo, para o papel estratégico
posta não se confunde com a reprodução cultural”! embora
da qualidade dos professores”: (recrutamento e formação
inegável a ocorrência do fenômeno. Tampouco se ignora que
permanente em rede).
referir a educação como prioridade virou clichê, com a força
Por outras palavras, o mais importante é acentuar que,
empobrecida e empoeirada dos lugares comuns. No entanto,
a educação será, sim, uma verdadeira prioridade se não for ao longo da vida, a educação, na escola e em todos os lugares, pre-
vítima de enfoque exclusivamente material e imediatista, cisa servir a outro tipo de desenvolvimento,» justamente aquele que
isto é, se não estiver endereçada ora ao mero incremento da resulta de a sociedade ter encontrado o bem-estar no presente sem
produtividade (em que pese a sua importância), ora ao “eno- fazê-lo às custas do bem-estar das gerações futuras.
brecimento da classe patrícia”? (a despeito dos eventuais
ganhos da vida contemplativa).
Deveras, reconhecer a obrigação de garantir uma for-
7.2 Quatro premissas para uma educação exitosa
mação qualificada contínua, amigável e geradora de bem-estar Em matéria de políticas educacionais, portanto, o funda-
duradouro, é muito mais do que pedir ao Poder Judiciário mental é processar o reequacionamento valorativo do desen-
que determine a matrícula de criança em escola ou que sejam volvimento, conjugando-o a incentivos aptos a promover uma
cumpridas as metas da expansão quantitativa. alteração dos estilos de produção e de consumo.
O que se exige, intra e intergeracionalmente, é uma edu- Nada contra os que lutam pelo incremento da renda
cação sustentável de qualidade ou, para dizer nos termos da per capita ou os que tentam mostrar uma conexão empírica
Lei nº 9.795/99, “os processos por meio dos quais o indivíduo entre educação de qualidade e maiores chances de sucesso
no mercado de trabalho.”* Todavia, mostra-se insuficiente
t
%0 Vide André Lara Resende, in: Ricardo Arnt (Org.). O que os economistas pensam sobre sus- *
tentabilidade, op. cit., p. 39. Está certo, ainda, ao ver que desenvolvimento sustentável “2 Vide Eric A. Hanushek, in The Economics of School Quality. German Economic
só é Review, 6(3),
um oxímoro (contradição em termos), quando desenvolvimento e crescimento p. 269-286, Aug. 2005.
material
são identificados. Já bem-estar sustentável não é um oxímoro. “Bem-estar é Ecologia acho
“NA Vide, a respeito dos efeitos da qualidade dos docentes, o relatório How
muito possível de combinar, mas crescimento material com Ecologia é dificil” (p. 41). the World's Best-
Performing Schools Come out on Top. E
37
Vide, sobre reprodução cultural e conflitos, Paul E. Willis, in Learning to Labour: How
?» Vide Arjen E. J. Wals (Ed.). Review of Contexts and Structures for Education
Working Class Kids Get Working Class Jobs. New York: Columbia University Press, 1977, for Sustainable
Development: 2009. Paris: Unesco, 2009, p. 30: “(...) recent ESD documents
*2 Vide Gustavo Ioschpe, in À ignorância custa um mundo: o valor da educação no desen- and discourse
tend to show a shift from education to learning to emphasize the need for continuous
volvimento do Brasil, op. cit. p. 14-15: “Hoje, fala-se de educação no Brasil como se engagement in sustainability in formal, non-formal and informal settings on the one hand
estivéssemos na Roma antiga; como se sua função fosse o enobrecimento da classe patrícia and the need for capacity-building, participation and self-determination for sustainable
em sua trajetória rumo à vida contemplativa e/ou sua preparação para discussões no foro development on the other”. Sobre o tema, vide Denise Souza Costa, in Direito fundamental
imperial sobre a construção da polis ideal. (...) Mas a educação (...) não é apenas um direito à educação, democracia e desenvolvimento sustentável. Belo Horizonte: Fórum, 2011.
do cidadão, mas um patrimônio estratégico do país, uma ferramenta indispensável ao seu
? Vide David Card e Alan B. Krueger, in Wages, School Quality, and Employment Demand.
desenvolvimento”.
Oxford: Oxford University Press, 2011.
JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 7 | 167
166 | SUSTENTABILIDADE = DIREITO AO FUTURO Ã PARA O
SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA

e reducionista limitar-se a essa abordagem. Há, sob o Ponto Assentadas tais premissas, resulta nítido que a educação
de vista da sustentabilidade, quatro eminentes pressupostos,
indispensáveis para se alcançar o alto retorno da educação. Et condição de investimento apenas econômico (ainda que não
maximizadora do desenvolvimento, a saber:
(a)' Educação para a causalidade de longo espectro: a educação
| Precisa ser fortemente redirecionada para o desenvolvimento
sustentável é aquela que se compagina com uma per E quradouro.”” Mais: tem de ser processada, desde a infância,
cepção intertemporal de que as condutas (omissivas
= no intuito de vencer, nos primórdios, as razões do stress ne-
ou comissivas) são peças de sutil engrenagem cha-
— gativo, dos distúrbios comportamentais e da perturbação
mada causalidade, com a nota de que existem efeitos,
= emocional, características desses tempos de excessivo indi-
que se propagam até depois de nossas vidas. Existe.
vidualismo*! e de insatisfação mais ou menos generalizada.
uma espécie de lei que faz com que tudo repercuta em E. Como acentua Howard Gardner, “um dos segredos da
tudo e projeta os impactos positivos e negativos de nossas
E mudança mental é a produção de uma mudança nas “repre:
ações, a longuíssimo prazo, donde emana o componente
h * sentações mentais” do indivíduo — a maneira específica pela
intertemporal da sustentabilidade como inerência.
a qual a pessoa percebe, codifica, retém e acessa informações”.
nuclear do conceito articulado no Capítulo 1.
Exatamente por esse motivo, sobe de ponto a valia
g

(b) Educação para a pluridimensionalidade do desenvolvi-


mento: a educação precisa cooperar para o desen.
volvimento, nas suas várias dimensões (ética,
social,
econômica, ambiental e jurídico-política), prepa- JW Vide Resolução Conama nº 422, de 2010, que estabelece diretrizes para as campanhas, ações
e projetos de educação ambiental, formal e não formal, conforme a Lei nº 9.795/99, sendo
rando para uma vida intersubjetiva rica, empática * que, nos termos do art. 2º, figura entre as diretrizes, quanto à abordagem, “focalizar a
e produtiva, acima das disputas territoriais frívolas questão socioambiental para além das ações de comando e controle, evitando perspectivas
meramente utilitaristas ou comportamentais”, assim como “adotar princípios e valores
dos adeptos do crescimento pelo crescimento, cla- para a construção de sociedades sustentáveis em suas diversas dimensões social, am-
biental, política, econômica, ética e cultural”.
ramente envolvidos em petição de princípio. “= Mº Vide, por exemplo, Gary S. Becker, in Human Capital: a Theoretical and Empirical Analysis,
(c) Educação como causa poderosa: a educação, com with Special Reference to Education, op. cit.
foco, :
mobilizae é causa mais enérgica do queos vícios tradicionais + *» Vide Pedró Jacobi, in Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pes-
quisa, n. 118, p. 195, mar. 2003: “(...) ideia de sustentabilidade implica a prevalência da
do paradigma da insaciabilidade patológica. Quer premissa de que é preciso definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um
conjunto de iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes
dizer, em lugar dos apelos mesquinhos, a sustenta- sociais relevantes e ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo
bilidade, vista com magnitude, assume espaço nobre informado, o que reforça um sentimento de co-responsabilidade e de constituição de va-
lores éticos”.
nas políticas públicas, impregna mentes, altera-as “o Vide Richard Layard e Judy Dunn, in A Good Childhood: Searching for Values in a Com-
Plasticamente, facilitando que internalizem o novo petitive Age. London: Penguin, 2009.
* Vide Richard Layard e Judy Dunn, in A Good Childhood: Searching for Values in a Competitive
valor constitucional (descrito no Capítulo 5). . Age, op. cit. p. 6: “By excessive individualism we mean the belief that the prime duty of
the individual is to make the most of her own life, rather than to contribute to the good of
(d) Educação como fonte de homeostase social: a educação others. Of course, some degree of individualism is necessary for survival, and individual
sustentável de qualidade pressupõe que a apren- choice and self-determination are vital ingredients of a good life. But individual will never
lead satisfying lives exceptin a society where people care for each other and promote each
dizagem seja percebida como parte do trabalho pela other's good as well as their own”.
homeostase social, entendida como capacidade bio- “2 Vide Howard Gardner, in Mentes que mudam: a arte e a ciência de mudar as nossas mentes.
Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 18.
lógica e institucional de promover o reequilíbrio “É Vide, para uma abordagem de divulgação, Daniel Goleman, in Inteligência ecológica:
dinâmico e propício ao bem-estar duradouro. 'O impacto do que consumimos e as mudanças que podem melhorar o planeta, Rio de
Janeiro: Elsevier, 2009.
168 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 7 | 169
SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA

transformação — sem precedentes — das representações mentai


com aquele engajamento que erradica a coerção Is, "como s menos favorecidos,
é como ; se fizesse do seu próprioO corpo
do imediatism na qual estivesse preso, mas dela não mais
reducionista, que tudo destrói, sem nada aperfeiçoa
r.
0. Duma mina desmoronada,
de
E aspirasse sair paraà liberdade.
Tais situações são convincentemente reveladoras da
7.3 Pré-compreensões terão de ser trocadas e. carência de educação multidimensional de qualidade, assu-
a midas as premissas referidas. Educação constante e continua
E Représentações e pré-compreensões para resistir às cascatas informacionais,** espalhadas por
hostis à natu r
terão de ser substituídas, inclusiv poluidores empedernidos e lobbies insinuantes. Educação
e na fase adulta (mais de
pendiosamente, nesse caso). A tiva e da vontade. Recondicionamento, por meio de pro-
partir daí, o novo modo E :» x cogni
pensar, atento aos nexos causais
de longa duração, emer = nessos internos e externos que propiciem uma reformatação do estilo
responsável pela dignidade intrínseca de todos
os seres RES ! de vida, com o anelo de contribuir ao desenvolvimento integrado de
Nesse prisma, quando alguém, por
exemplo, aceita "todos aqueles que compõem a árvore darwiniana da vida.
retomada dos métodos utilizados pelo Dito de outra maneira, quer-se uma educação susten-
s primitivos di ant l
de nosso país, isto é, a queimada como “téc tável de qualidade, com metas a serem monitoradas. Quer-
nica” de Pi a
e cultivar a terra, encontra-se into
xicado porerros inaceitáil
se, sobretudo, universalizar uma educação contínua (formal
de formação educacional. Claramen e informal) que favoreça uma concepção sistêmica da vida,
te, não é o bastante pr 4
clamar, em diplomas normativos, que “Seja para desbloquear habilidades, seja para liberar forças
a queimada é E inventivas, seja, enfim, para dominar os impulsos límbicos,
ambiental: impõe-se propiciar uma
reeducação de ue dando prova, simultaneamente, de frugalidade e suficiência.
queima, no sentido de fazê-lo ciente
dos graves sales HM =” Educação para a sustentabilidade que, no banquete da
micos que gera.
Por outra parte, quando uma existência, sabe deixar a mesa na hora certa, com humor diante
em cada três criancas dos truques falaciosos. Aceita, com naturalidade, as mevitáveis
encontra-se acima do peso, inad
iável considerar a educa a crises de crescimento, no exercício da hierarquização, sem que
alimentar, em bases práticas, como deve
r find simao os fatos sejam tisnados pela retórica frouxa da insaciabilidade
urgente cumprimento. Ou quando alg
uém não cuida de seus patológica, que insiste em defender o indefensável.
idosos e deixa de observar o dever de
se capacitar para ajudá- Educação sustentável é, antes de tudo, o convite à
los de mane ira eficiente e eficaz, oferece
provas usas reciclagem íntima, rumo à equidade intergeracional e à
de deseducação para a sustentabilidade
. “ataraxia” dos antigos.** Devidamente imantada pelo norte do
e Sempre para ilustrar, quando um us
indivíduo lança uma
fétida fumaça de tabaco em outrem
e eleva perigosamente o
níveis de substâncias tóxicas nos fuma 4 Vide, sobre cascatas informacionais, Cass R. Sunstein, in A verdade. sobre os boatos, op. cit.,
ntes passivos emdl p. 29: “Os boatos frequentemente se espalham através das cascatas informacionais. A
sina! categórico de premência do ajus dinâmica básica por trás dessas cascatas é simples: quando certo número parece acreditar
te educacional ara O em um boato, outras também acreditarão nele, a menos que tenham -bons motivos para
convívio. A despeito de, numa
autofraude net acreditar que seja falso”.
associar, às Vezes, O vício ao praz %5 Vide, por exemplo, o movimento Todos pela Educação, com as seguintes metas até 2022: toda
er, em função do alívio ten
Porário provocado, sujeito a tenebroso criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8
efeito rebote. anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo jovem com o Ensino Médio
si ad alguém imagina que a vida toda se concluído até os 19 anos e investimento em educação ampliado e bem gerido. É bom início,
petição desenfreada e à invasão dest resume à sem dúvida.
rutiva, sem empatia 36 Naturalmente, o conceito de ataraxia teria de ser adaptado ao atual estágio evolutivo.
Como quer que seja, de acordo com as escolas da era helenística, poderia significar
70 JUAREZ FREITAS
1 SUSTENTABILIDADE- DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 7 | 171

au
SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA

desenvolvimento reconcebido, não aceit


a converter nenhuma Em suma, a educação para a sustentabilidade merece
modalidade de escravidão em negócio rentável. Ofer
ece hi.
berdade e parcimônia, em vez de ganância e
dissipação dos. le local.” Condição sine qua non para retirar do papel os
que não aprenderam nada com a termodin
âmica, nem com E da pioneira Conferência sobre Meio Ambiente Humano,
A

a entropia.
E Educação para a sustentabilidade ajuda ) E a Estocolmo, chegando a Rio+20; estabelecer, na vida
a compreender E parceria para o desenvolvimento que interessa, como
as leis naturais e aplicá-las com acurácia
, na demolição de: os Objetivos do Milênio; avançar, nos moldes
mitos e apriorismos dos que só veem prec DE: E onizam
onceitos nos Outros, : eridos, em relação ao importante Relatório Brundtland, de
as voltas com a manipulação, grosseira ou
dissimulada, típica Ee” enfim, acatar o valor e o princípio da sustentabilidade em
dos dominadores que não se dominam.
Nessa linha de considerações, , seu E raizamento constitucional de 1988, em vez de patética
a educação para a sus.
tentabilidade convoca uma pedagogia de
unidade na biodi- E O o remancádo, tudo começa pela mudança das pré-
versidade, que conduza o ser hum
ano a sair da caverna do.
imediatismo nevoento. Incorpora a titu » compreensões e continua na prática vitalícia do reconheci-
laridade de direitos k "mento da interligação do mundo natural, que permite uma
fundamentais daqueles que sequer nasc
eram. Descrê de tudo
aquilo que se revelar impeditivo da boa
lógica intertemporal, “uma atitude que caracteriza uma educação para a susten-
em face da compenetrada descoberta do
nexo de causalidade “tabilidade é a do constante gosto pelo novo, com a necessária
de longa duração.
Com esse foco, a educação para a sustentabili E filtragem crítica e o comprometimento sólido com o bem in-
dade faz com que, k tertemporal de todos, não com ideias rígidas e ortodoxas que
sob determinado aspecto, o porvir se converta
em instantaneidade, servem somente a vas ilusões. E
na conquista do dinâmico reequilíbrio
ecológico. Antecipa- Mas, afinal, o que há de realmente promissor nos voláteis
se. Liberta a consciência do movimento
das manadas. O e paradoxais dias que correm? Certamente, é avançada a ideia
ponto crítico passa a ser, então, o de enco
ntrar os afins, nesse de que o sistema político-institucional existe para propiciar
grande empreendimento, a favor do bem-
estar material e condições estruturais para o bem-estar das gerações presentes
imaterial no presente, sem prejuízo do futu
ro, usando o poder sem inviabilizar o bem-estar das gerações futuras. Para ser
multiplicador é polarizador para viabiliz mais exato, a novidade pedagógica radica no cumprimento do
ar, sem retrocesso, a
sustentabilidade multidimensional. princípio vinculante do desenvolvimento sustentável (ou da
Educação para a sustentabilidade é num sustentabilidade, como se prefere), aplicável interdisciplinar
a fórmula, pre-
parar para a escolha do modelo mais adequado e transversalmente.
ao desenvolvimento
intertemporal. Tudo sem abdicar do sens Em lugar das categorias presas ao curto prazo, a novi-
o de urgência e da
melh or compreensão da unidade da vida, dade reside nas lentes da sustentabilidade e no acesso que
que não suprime
as diferenças benéficas. proporcionam à causalidade de longo alcance. Assim, mentes

tranquilitas animi (tranquilidade da alma)


ou securitas (imperturbabilidade), evidentemente
com fortes contrastes de alcance do conceito. 37 Sobre local e global, recorde-se que é expressão ee por A sda a am
Para constatar tal contraste, vide Epicurus,
Epicurea. Lipsiae: B. G. Teubneri, 1887, p. in er maisi antiga.
i Entre nós, vide,
7 por exemplo, Crisistianete 1 Derani À, ças
64 et seq.; e Hans Friedrich August von
(Ed.). Stoicorum veterum fragmenta. Arnim cam midonça as In: Alessandra Galli (Coord.). Direito socioambiental: ho
Stutgardiae: B. G. Teubneri, 1905, v.
1, fr. 205, p.50.
menagem a Vladimir Passos de Freitas. Curitiba: Juruá, 2010, v. 2, p. 76.
1 72 JUAREZ FREITAS
1
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO
FUTURO CAPÍTULO 7 | 173
SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO QUE IMPORTA

abertas revitalizam o tema do direito


fundamental à ed "al não mais se estabelece o conflito com o valor intrínseco
em vez de reproduzirem pedagogia
s anacrônicas Por q ção, ps demais seres vivos. O adequado consiste, por todo o
Plo, não resta dúvida que insistir, em.
no Século XXI ém cat E ynosto, em tratar a educação como inteiramente destinada
que denotam noção demasiado
estreita do antropocente
e erro cognitivo crasso, que pode
conduzir a verdadei á
Ssmg
% estimular uma aprendizagem para a vida toda, de ordem a
tástrofes ambientais. S ca. construir uma sociedade intertemporalmente justa.
=]
Nessa medida, o direito à edu
cação sustentável re
investimento naquilo que com
provadamente funciona: ap
er para l "7,4 Em resumo
toda a vida (lifelong learning). Com
nthony Giddens, as “novas o observa.
3 tec nol ogi as e a asc ensão da |
Frise-se que o objetivo desse capítulo não foi o de enve-
,
onomia do conhecime E
nto estão transformando as Vis | vedar pela seara da pedagogia e suas múltiplas escolas (por mais
tradicionais sobre o trabalho ões
e a educação. : O ritmo frenéti =| fascinante que o assunto seja)”! ou de mergulhar criticamente
da mudança tecnológica co.
está criando uma rotatividade
muito ho estudo das correntes de sociologia da educação,*º porém
ue ae emprego que
jamais houve (...) a formação o de fixar premissas essenciais para uma efetiva educação
Ea ne e qualificações hoje ocorrem
no decorrer de k sustentável, quais sejam, a título de recapitulação:
: aa e a das pessoas (...)
A ideia de escolarização, com (a) Educação para a causalidade de longo espectro, com a
dd Ea aba o
conhecimento dentro de insti- E ciência de que os efeitos das ações de hoje se pro-
o caminho para à pagam para depois de nossas existências, o que
de “aprendizagem” que ocorre i
dm Eidivéreiiad dot supõe perceber o elemento intertemporal da susten-
e em momentos diferentes”.
O certo consiste, por na E tabilidade;
palavras, em educar, com renova
ção de eia qu E (b) Educação para a multidimensionalidade do desenvol-
compreensão sistemática do amb
iente em que a ld aci vimento (em termos éticos, sociais, econômicos,
ambientais ejurídico-políticos), o que demanda, a par
dé É da cognitiva formação multifacetada, uma especial
e E peculiari zante da capacidade do pensam
ongo prazo, a diferenciá-lo dos ento prospectivo habilidade para trabalhar pela unidade dialética da
outros seres que o acom vida, com senso integrativo e performance redutora
panham no processo evolucion
ário. Razão para fazê-lo mais das iniquidades intergeracionais;
( e nã o menos) responsáv4 el
por aqueles que não con
antecipar perdas e benefícios. seguem '
; ao : sai de cena o despót
ico antropocentrismo e reentra desenvolvimento humano. Nenhum dos países que escolheu a via do crescimento puro .
nvolvimento humano,” agora escapou do ciclo vicioso”.
em patamar mais alto, no , *! Vide, por exemplo, os controvertidos estudos funcionalistas de Talcott Parsons e Robert
F. Bales, in Family, Socialization and Interaction Process. London: Routledge & Kegan Paul,
1956. Vide, para ilustrar o debate (não menos interessante) sobre o chamado currículo
8a V ide Norman Lon gworth, in ife) on g Learni a
i Lifel 8 mmj Actioon:
n: Transforming oculto, John Taylor Gatto, in Dumbing us down: the Hidden Curriculum of Compulsory
i Education in the pi
Schooling. Gabriola Island: New Society Publishers, 2002. Vide, para evocar abordagem
a o Anthony Giddens, in Socio provocante sobre a reprodução das desigualdades e controle simbólico, Basil B. Bernstein,
logia, op. cit, p. 621.
ide, em abordagem diversa, Gust in Class, Codes and Control. London: Routledge & Kegan Paul, 1990. v. 4, The Structure of
avo loschpe, in A ignorância custa
educação no desen
ol imen
volv e: to do
d B; Tasil,
um mundo: : oo valor
valor d da Pedagogic Discourse.
sil op. cit.
Op. 1 P. 97 7 , especialmente
que o melhor caminho para chegar ao tão desejado ciclo
ao assinalar: mn otamos *2 Vide, por exemplo, Rob Moore, in Education and Society: Issues and Explanations in the
virtuoso é através da ênfase no Sociology of Education. Cambridge: Polity, 2004.
JUAREZ FREITAS
174 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

(c) Educação como causa poderosa (não simples CAPÍTULO 8


alfa.
betização verde, por mais meritória que seja), pois.
p as uma grande causa éÊ capaz de
apen desalojar
patologias arraigadas e fazer crescer a coluna
dos.
ativos no livro contábil da evolução;
(d) Educação como fonte de homeostase social
(não a
reprodução cultural de estereótipos e estigmas), enten
- SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL
dida a homeostase como capacidade biológica
e
institucional de promover o reequilíbrio dinâm SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLITICOS
ico
e propício ao bem-estar no presente e no futur
o,
"Tais linhas mestras, uma vez acolhidas,
apresentam o x
condão de desencadear uma profunda reorientaç R : Sumário: 8.1 Questão-chave — 8.2 Quatro principais vícios da política insus-
ão da pauta
política, com o potencial de gradativamente liber tentável - 8.2.1 Primeiro vício — Patrimonialismo — 8.2.2 Segundo vício — Tráfico de
tá-la daquilo influências — 8.2.3 Terceiro vício — Omissivismo — 8.2.4 Quarto vício — Mercenarismo
que bloqueia as visões de futuro. Precisamente
por isso, co- - 8.3 A política da sustentabilidade -
nhecer = para superar — os vícios da política
insustentável
eis o tópico de fundo do capítulo a seguir.
8.1 Questão-chave
Neste capítulo, cuida-se de responder à questão-chave:
quais são os principais vícios políticos que inviabilizam a con-
cretização do princípio constitucional da sustentabilidade, nos
moldes delineados? Vícios políticos, por acordo semântico, são
aquelas disfunções que afastam a política da governança conducente,
intertemporalmente, ao bem de todos, impedindo a justiça intra
e intergeracional.*? Quer dizer, são os vícios que impedem
a política exercida, de maneira saudável, como exercício de

2 Vide, no sentido de uma governança responsiva, United Nations — Department of Economic


and Social Affairs, Reconstructing Public Administration after Conflict: Challenges, Practices
and Lessons Learned: World Public Sector Report 2010. New York: United Nations,
2010, p. 7: “a distinction is made among three broad models of public administration
and management underlying contemporary government HRM reforms: traditional public
administration; public management, including an important recent development, new public
management, and responsive governance. In some measure, they are chronological, yet they
overlap in both historical time and substance. The last of the three — responsive governance
— is not so much a historical model as an emergent set of trends, Its inclusion reflects a
potential convergence of thinking, based on significant developments in practice and new
challenges”. Note-se que não há, na referência acima, direta ligação com a abordagem
de Philippe Nonet e Philip Selznick, im Direito e sociedade: a transição ao sistema jurídico
responsivo. Rio de Janeiro: Revan, 2010, tema que refoge do presente livro.
176 | UAREZ FREITAS
O emaf ADIEIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 8
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS | 177
vontade conjunta e articulada, em benefício das gerações Prese
) e futuras.
ntes iedade resulta sufocado, quase extinto. Mais: as marcas
Observados de maneira detida, nota-se que A assoais e carismáticas são engenhosamente fabricadas, com
Os piores idêntico cuidado com que é feita a promoção de certas be-
vícios se instauram pelo triunfo da “polí
tica real”, aquela. hidas. O conteúdo da garrafa importa pouco ou nada. Nessas
imantada pelo exclusivismo dos interesses de curto Prazo,
mercê do desenfreado apetite de perp | E cunstâncias, o primado da sustentabilidade é como que
etuação dos anelos E oqueado, posto entre parênteses. Tocado na-superfície, na
particularistas. A insustentável soberania
do imediato radica, | Ene das hipóteses.
portanto, no cerne do culto patológico do
poder pelo poder , O jeidas invisíveis de prevenção (por exemplo, de sa-
Este se converte em fim per se, e forja uma
dependência físico- + neamento ambiental) não são implementadas, às vezes, por
química no cérebro dos agentes políticos.
Não por outro motivos subalternos e inconfessáveis. A política viciada alia-
motivo, os meios passam a ser acriticamente considerad
os E E. à irracionalidade e faz preponderar concepções absoluta-
válidos. Ocorre o embotamento anarcotiza =» mente autoritárias. Não suporta a liberdade de expressão.
nte no campo da
avaliação moral e dos objetivos de longo | “Tenta subjugá-la. O jogo da cooperação e do interesse comum
alcance. O eclipse
de valores impera nas mentes avariadas, E visto com desdém reacionário. Preocupações estritamente
às voltas com a de-
pendência tóxica em relação ao poder vigen = familiares ou de cumplicidade são a tônica dos políticos vi-
te, qualquer que
seja ele. go ciados. O outro, no geral das vezes, é visto como potencial
A manipulação vigora. O engano e á inimigo. O realismo maquiavélico toma conta de tudo.
o autoengano go-
vernam. Preponderam os impulsos elementares, negativos e Essa política mal alinhavada passa a ser, então, presa
entrópicos. A política desvirtuada revela-se, fácil da falácia “realista”, segundo a qual os resultados justifi-
paradoxalmente,
impotente para o autocontrole. Reclama É cariam os meios. Tese logicamente indefensável. Afinal, os e
doses cada vez mais
elevadas de dominação, com o temor superiores não podem ser alcançados por meios torpes, sob pena de
extenuante da síndrome
de abstinência, que faz o político tradiciona não serem superiores. Como pondera, com acerto, Amartya Sen,
l suar frio diante
da ameaça de ficar fora do círculo do poder * há “razões excelentes para que não se confundam os meios
, no qual aspira o
reconhecimento fácil e as regalias do escap 1
com os fins, e para que não se olhe para os rendimentos e para
ismo.
Nesse quadro patético, a política é conf a opulência como se fossem importantes em si mesmos, ao
undida com
espécie de máquina de guerra, direcionad invés de os avaliar condicionalmente, tendo em conta aquilo
a para conquistas
ensandecidas ou para o lucro no mercado " que ajuda as pessoas a realizar, nomeadamente uma vida boa
das vantagens
ilícitas. O ideal construtivo e solidário” e com valor” .*” ú 5
: de democratização
da economia, redução continuada Por outras palavras, os vícios políticos são condicionamentos
do coeficiente Gini” e da
psíquicos e morais que impelem o homem, no âmbito da polis, a ser
0 devorador do homem e de seu futuro, numa voracidade frenética.
** O debate sobre o conceito de poder
é complexo. Vide, por exemplo, sobre a Tais vícios, reiterados ao longo dos tempos, podem, no li-
(mais do que o exercício) do poder, exami capacidade
Steven Lukes, in Power: a Radical View.
nado numa perspectiva diferente das usuais
, mite, consumar tipo de lobotomia ética no animal político,
New York: Palgrave Macmillan, 2005.
*s Vide PNUD — Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento. Relatório fazendo-o incapaz de governar os impulsos. O senso moral
volvimento do Desen-
Humano 2007/2008: combater a mudan
mundo dividido. New York: PN UD,
ça do clima: solidariedade human
a num resulta asfixiado pelo vício.
2007.
“é Vide, a propósito, Ricardo Paes de Barros
, Miguel Nathan Foguel e Gabriel Ulysse
Desigualdade de renda no Brasil: uma anális a (Org.).
e da queda recente. Brasília: Ipea, 2007.
2 v. *? Vide Amartya Sen, in A ideia de justiça. Coimbra: Almedina, 2010, p.312.
178 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 8 | 179
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

Apesar desse quadro, a sociedade mostra certa satu- as votações congressuais secretas, O desestímulo à
ração relativamente à política viciada. Percebe-se que a imentos sociais, E O
à dos movime
boa. rticipação direta, a cooptação
! idolos?,
política da sustentabilidade experimenta chances de, a Pouco. pá e porativismo de aluguel, a rendição à real politik, a regulação
e pouco, assumir o controle da situação. Lentamente, poderá. co
“estat al sem indepen
dência e'a descontinuidade administrativa.
sair do abrigo e, à luz do sol, proporcionar uma libertação Cogita-se, aqui, da política não apenas esverde ada, mas
dos condicionamentos aprisionantes, oferecendo sinais
con- E vel, no sentido de fortalecer a racionalidade social e de
cretos de respeito à dignidade das atuais e futuras gerações, iso , numa transiçã
j a das decisões Ç o
avar a sério a tomada conjunt
—Pe ao
Com sinergia e novas relações sociais, afirmando
o valor eq a economia de baixo carbono,“" com o sábio resgate das
N

princípio constitucional da sustentabilidade, a políti


E
ca deixará a naturais.
de ser a vítima ingênua ou docilmente servil do ii de so a come com a
patrimonia- =»BeDito de outro modo, a sustentabilida
lismo?* e romperá com a famigerada inércia perante as falhas
de mercado.*º = democracia de verdade e de peso, em lugar da plutocraci
s
A partir daí, não será aceita, com espantosa natura * coronelismo, extratos da cultura de artimanhas, burocratismo
li- inice, com raízes escravocratas. a
dade, a suposta governabilidade forjada pelo fisiol
ogismo É O ro entende-se a democracia como direito
clientelista, assim como será, em larga medida,
partidarização da gestão pública. O indiferentismo
mitigada a * constitucional à construção pelo povo do seu Rope Ru
ético, a “próximo e de longo prazo, tendo em conta as DT ge ma E
preponderar o novo paradigma da sustentabilidade, eficien
lugar à moralidade pública, que nada tem a ver com
cederá | “ais e imateriais, cujo atendimento supõe a partilha
o mora- efi oderes constituídos.
lismo hipócrita.
Nessa linha, espera-se que o novo paradigma supra sa aa ilustrar, sinais da política Sn
falta de compromisso de longo alcance, assim como
a “tentável, além do desenvolvimento de baixo carbono (mo E o
amplie pela sustentabilidade, não o contrário): o acesso facilita EA
o apreço às políticas derivadas do Estado Sustentável. da
certo, gargalo a ultrapassar, nessa transição,
Por economia lícita, a canalização criteriosamente regulada
é o formalismo poupança, O incentivo às chamadas tecnologias brandas, a E
utilizado para esconder a dominação repressiva e
a timidez dução dos tributos indiretos e dos encargos RR a a
no controle consequencial das decisões políticas.
venção e a precaução como notas dominant es do planejame
Afastadas tais anomalias, a política descontaminada, por
estatal, o resguardo estrutural da estabilidade dos ERR
assim dizer, retirará de cena a dominação carismática,
o prag- solução hábil e tempestiva dos conflitos e o aperfeiçoamento
matismo de resultados a qualquer custo, o excesso de
regras inclusivo do processo decisório.
para vender facilidades, o “balcão de negociações”, o
tráfico
de influências para obter vantagens indevidas, a opaci
dade
8.2 Quatro principais vícios da política insustentável
8 Vide, sobre patrimo
nialismo no Brasil, Raymundo Faoro, in Os donos
patronato político brasileiro. 3. ed. São Paulo: Globo, 2001. do poder: formação do . Assentado o acordo sobre o conceito de vícios políticos,
Vide, ainda, Sérgio Buarque de
Holanda, in Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
Leal, in Coronelismo, enxada e voto: o município e
2008; e Victor Nunes impõe-se, em rápidas pinceladas, apontar aqueles que, mais
o regime representativo no Brasil. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
!
*? Vide, sobre falhas de mercado conducentes ao
desperdício e à poluição, Nicholas H. Stem, i
4 Vide o documento Rumo a uma economiai verde: caminhos para o a Sgesus-A
imento
in À Blueprint for a Safer Planet; How to Manage
Climate Change and Create a New Era of tentável e a erradicação da pobrezaí uma síntese para tomadores de de E
Progress and Prosperi ty. London: Bodley Head, 2009.
- PNUMA, 2011.
JUAREZ FREITAS “ E
180 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTUR! CAPÍTULO 8 | 181
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

intensamente, con
spiram contra a sustentabilidade
que tudo indica, quatro os principa . S ão, ag Eco ntinuados. é A cidadania ecológica sequer desponta, a não
is vícios, a saber:
monialismo arcaico, o tráf
ico de influênc O Patrj
ias para ao
de vantagens ilícitas, o omi
ssivismo causador de dan btenção E a politica do Estado patrimonial, patologica-
mercenari o E Rida é o reino do senhor que faz os cidadãos virarem
smo sem peias. Sem
E ra sugá-los energeticamente e, a seguir, descartá-los.
oras, a é a realidade crua do Estado patrimonial.
8.2.1 Primeiro vício — Pat ão se pode deixar de considerar essa prática como ri-
rimonialismo
E. E incompatível com a filosofia política do Estado
“a tável. Crucial, nessa medida, extinguir esse patrimo-
4 a : uicáio por sua primariedade distorcida, mediante
E! — A dos “insights” libertadores da sustentabilidade.
a atmosfera das articulações E” E Daí a relevância da descrença em relação ao culto feti-
e dos debates. Instaura, o p
monialismo,
a identificação indevida entre E “chista dos políticos “proprietários” do poder, que A
e privada. O espaço público é as esferas pública | a dimensão econômica da sustentabilidade e a se se
tido, sem a menor cerimônia, b “dãos como meros objetos decorativos, pa
como extensão do privado. à o e e
Quer dizer, os patrimonialistas * empregados para a satisfação de seus caprichos. y ' Ro
apoderam-se do Estado e despudoradamente, das elites estatamentais, gm o
como se fosse um aparelho tecnoc
rático, espécie de engrenagem
de préstimos secundários, a ser a E Raymundo Faoro, com o objetivo de manter o Es
viço de mesquinhos propósitos E
pessoais ou grupusculares. nação“!
A rigor, o Estado patrimoni ! sos peso como realmente são, tudo parece expe-
al, segund
o o olhar envie-
sado pelo vício, deixa de existir rimentar desencanto. É natural. A racionalidade Ens o
para a eficácia direta «imediata
dos direitos fundamentais exige dar passo adiante. Sobrevém, então, aquela orça se
(salvo concessões mínimas), eis que
gravita em torno de suas própri mum dos que superam o amargor do diagnóstico e pa E
as razões, invariavelmente
ligadas aos caprichos dos que se a encarnar o discurso sadio e inteligente da ae cando :
assenhoram da força política
para gerenciar a manutenção face de tudo o que acorrenta, confina, desvia e estiola. Rs
do status quo.
Segundo o patrimonialismo, a con o princípio da sustentabilidade, cedo ou tarde, represen
quista do poder é for- fim do patrimonialismo.
temente nutrida pela cobiça dos espólios, à
custa do bem-estar
das gerações atuais e futura
s, num espetáculo de biza
mescla do com pitadas de assistencial rrice,
ismo para camuflar e de 8.2.2 Segundo vício — Tráfico de influências
formalismo abstrato e tecnocrát
ico para tentar “legitimar”.
Nesse freak show predatório, os pat O segundo principal vício da política insustentável, um-
rimonialistas abusam
do Estado Constitucional bilicalmente associado ao anterior, é o tráfico de influências,
e da sociedade, desmatam
pública e fazem a queimada contín a cena
ua das melhores aspirações. * no encalço da vantagem ilícita. Significa o uso de situação
Cidadãos são vistos como escrav
os submissos ou potenciais
servidores temerosos do Projet z

o de saques e vampirismos “! Vide Raymundo Faoro, in Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro, op.
cit. p. 836.
182 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 8 | 183
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE É A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

| próxima ou íntima do poder para obter vant "os descendentes, no mercado da política. Numa percepção
agens indevid, as,
Diferencia-se da pressão legítima, porque pret a título de ajuda, estragam a vida de
À T ; ende “rasa do emotivismo,*”
do favorecimento ímprobo ou da promessa envenenadapelafaso vi
seus filhos, amigos ou parentes. Desviam-nos, nos atalhos do
preponderar o interesse ilegítimo, nunca o 4 er
trabalho prostituído. Enriquecem-nos apenas materialmente.
mérito
O tráfico político vende facilidades, em nome
do pode “Contraem, desse modo, dívidas sérias para cóm o futuro. Por
ou da proximidade com os poderosos, no
comércio ilícito de “outras palavras, destroem o futuro, ao prometer sucesso rá-
vantagens ou das promessas de vantagens.
j ido e ardiloso, em detrimento da lucidez autocrítica.
Curioso nota
r que se repete o que ocorreu no
escravidão. A época, alguns alforriados
tempo da. pP Tal prática ignóbil, avessa ao trabalho digno, representa
tornavam-se, y forte aversão ao mérito. Para vencê-la, só se conhece um
vez conq uistada a liberdade, traficantes
vos, quando deveriam ter-se convertido
e senhores de a "remédio eficiente e eficaz: defender, em contraponto, os in-
em abolicionistas d * teresses legítimos da-sustentabilidade, exclusivamente por
| Pope linha . Acomodaram-se às seduções fácei
s da nova meios idôneos e com a máxima transparência de intenções.
E O remédio consiste, portanto, em avançar nas boas
Infelizmente, com muitos contem
rosamente o mesmo. Uma vez conquist
porâneos rigo- dá-se , práticas da política reconfigurada, particularmente por meio
convivio com os poderosos), agem como
ado o poder (ou 0 = da democracia participativa (se possível, em escala global e
membros de ua- Fora dos limites de modelos clássicos)“* e do constante moni-
drilhas que almejam tomar cada milímetr
o dos palácios nah » foramento social das prioridades, como forma de revitalizar
insaciável busca de Vantagens e recompen
sas espúrias. | " 0jogo democrático, que não se exaure em concepções repre-
Note-se que tais vantagens são sempre
materiais. Nin- E sentativas.
guem pode alcançar ganho substancial
ou imaterial dessa | Aolado disso, é imprescindível consolidar o novo para-
maneira. Mas criaturas fortemente obnu
biladas praticam os digma da sustentabilidade, erguendo instituições compatíveis.
maiores truq ues para cométer o engano e o auto
enga
no. Fazem Sem dúvida, o tráfico de influências sobrevive das falhas de
amágica e, frequentes vezes, acreditam no
próprio ilusionismo mercado, da informação assimétrica e, destacadamente, deins-
Empregam, com desfaçatez, o pretexto
do realismo acrítico, tituições frágeis e capturadas. Nutre-se das descontinuidades
Em nome dele e de supostas imposições
da “política real” o abruptas, da ausência gritante de motivação racional dos atos
mais rudemente, da expectativa de aposentadoria
afrouxam Os seus padrões éticos e se dourada administrativos, dos superfaturamentos e direcionamentos
permitem fazer o que ilícitos das contratações, das punições seletivas de acordo com
jamais aceitariam, de bom grado, que
outros fizessem.
Admitem exceções injustificadas para status e renda, entre outras impropriedades e desleixos morais.
si e para os seus Em contraste, consoante o paradigma da sustentabili-
Vendem-se. Aplicam estranha argument
ação com base numa
pessimamente assimilada economia dos dade, o poder é, antes de tudo, dever ético. O poder não precisa ser,
males. Anelam vida
fácil e fabricam dificuldades alheias. como na descrição weberiana, a capacidade de fazer com que
Numa metáfora: atro-
pelam a República para cuidar dela. Adot as nossas pretensões sejam acolhidas, apesar das resistências
am, para far6io
uma argumentação corrompida, prenhe
daquelas falácias e
armadilhas examinadas no Capítulo 6. sen-
am A propósito, o trabalho apela também à sensibilidade, mas não é emotivista, naquele
Em grande parte das vezes, cedem a apel tido de Charles L. Stevenson, in Ethics and Language. New Haven: Yale University Press,
os familiares 1944. Contém prescrição, com o uso do deve, mas não se renuncia à busca de verdade.
ou de alcova. Tentam resolver a vida
econômico-financeira “3 Vide David Held, in Models of Democracy. 3º ed. Cambridge: Polity, 2004.
18 4 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
| 185
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

de outrem.““ O nome disso é força. Que


m não distingue eo vê
como simples fonte de realização dos dese Nesse caso, o poder, eticamente concebido como dever,
jos (numa reedição, “deveria ser exercitado em tempo útil, cumprindo
séculos depois, da virti maquiavélica), É Guer
faria melhor se se man.
tivesse. longe dele. A oferecer alternativa razoável de moradia, notac amen e às
E aos idosos e aos adolescentes, com a máxima prio-
Note-se: não se trata de Propor o Ricos
moralismo político, mas Em geral, as enchentes não matam. O que mata é a
de moralidade raciocinada que Eade.
reprova as práticas “realistag”
não universalizáveis, as qua
is hostilizam a impessoalida
se escondem em supostas razões de e E: RE o exemplo: chega a ser consternador ver o número
de Estado, numa subjugação e bens públicos sem qualquer função útil, com autoridades
ao impulsivismo sem escrúpulo
s. 5
Não se pode ser tímido na con 'omissas em dar a destinação adequada à propriedade. Bens
clusão: a política não A que
precisa'nem deve ser um
vil balcão de negociações,
ER * ociosos, sem função socioambiental, num
só faz manter as oligarquias refratárias, dispos
algo que tantos não possuem o lugar seguro para morar e tra aa

O]
afastar o poder do dever
tas a tudo para " "| Oque dizer da carência de políticas públicas de saúde
incontornável da sustentabilidade or
multidimensional. . Hb preve ntiva ou da falta de leitos hospitalares? E dos deveres
"| desegurança, com a falta crônica de policiamento ostensivo?
EE E da qualidade do processo de desenvolvimento cognitivo e
8.2.3 Terceiro vício — Omi Yvolitivo chamado educação? E o saneamento ambiental, capaz
ssivismo
o de salvar tantas vidas, algo que não tem sido feito de modo
Outro vício político grave a sup
erar é o omissivismo, ou * minimamente satisfatório?
Seja, a prática de impor o dan
o, fingindo nada fazer, com Claro, em face de tantas omissões, não setrata de clamar
descumprimento culposo ou q
intencional dos deveres da sus- pelo populismo onírico, mas de combater a inércia incons-
tentabilidade. Trata-se de arbitr .
ariedade por omissão. titucional disseminada. Inércia omissivista insustentável.
Como é recorrente, por exempl
o, pessoas morrem, por- Faz-se decisivo compreender que o novo estilo político da
que vivem em zonas de risco.
Mortes facilmente evitáveis. sustentabilidade não se coaduna com essa omissão causadora
Até autoridades reconhecem
que uma das causas reside na de danos; mal que muitos praticam dissimuladamente.
ocupação territorial irregular. —
Acrescentem-se os erros de Uma ampliada responsabilidade revela-se indescartável:
drenagem e o descumprimento
reiterado da remoção das aquela responsabilidade para com a eficácia intertemporal dos
Pessoas que remanescem nas
encostas e nas áreas críticas direitos fundamentais, antes que o dano ocorra. De fato, o omis-
mapeadas. As vítimas, nesse
caso, não podem ser culpadas. sivista é aquele que mata, omitindo o SOCOITO. Agride, ao não
Muitas são crianças. Outras
são criaturas que subestimam proteger. Participa da corrupção, ao fingir não vê-la. Rouba,
OS Tiscos, seja por otimismo ing .
ênuo e irrealista, seja por es- ao deixar roubar, podendo evitá-lo. A omissão é diferente
tarem gravemente embaraçad
as para uma escolha racional P | daabstenção ética e juridicamente aceitável. Os omissivistas
Tampouco a natureza pode .
ser considerada a causa única fingem que o poder-dever de maximizar o bem de todos não
dos danos. concerne a sua esfera de atuação.
Ora, para alcançar o Estado Sustentável, mais do que
“4 Vide, para conferir o conce
ito weberiano, Hans Heinrich
debater sobre o seu tamanho (paradoxalmente, excessivo e
(Ed.). From Max Weber: Essays Gerth e Charles Wright Mills
in Sociology. London: Routledg
e & Kegan, 1948, p. 180.
pequeno), cumpre não compactuar com a omissão danosa,
186 FUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 8 | 187
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

* especialmente em áreas nevrálgicas, tais como a saúde pre


ventiva e a educação de qualidade. a Por esse motivo de fundo, reformas importantes não
Ademais, fazer pesquisas de opinião são feitas. O financiamento limpo de campanhas, a maior efi-
e, a partir de las,
seguir a média empobrece o "rácia nos gastos públicos, a tributação justa (menos indireta
debate político. Mediocriza
por definição. Explora defeitos e oculta urgê -Q e regressiva), a correção das distorções federativas (com as
ncias que a média
não quer ver. Sim, se a maioria esti * quas guerras fiscais fratricidas), a independência funcional da
ver patologicamente aa
calacrada em crenças ou convic
ções erradas (destruid “regulação pública: tudo é adiado, porque são assuntos com
da natureza ou contrárias à austeridade E certo déficit de voltagem emocional ou porque contrariam
fiscal por exem o ,
impõe-se trabalhar pelas ideias tra A
interesses dos financiadores.
nsformadoras sem or qO,
Ainda mais que o olhar médio, Os adeptos da política mercenária apostam na ambigui-
quando predomina +85 a
sempre enxerga ou pretende dade protelatória, na agressividade visceral ou na criação de
o melhor para todos “dada
enorme dificuldade que muitos têm marcas e slogans. Com artifícios, passam a impressão de que
de lidar com os: es
números.“ partilham dos mesmos valores do eleitor (não importa quais
Por todos os motivos, induvidos E
o que o omissivismo é sejam), tentando inspirar confiança e lealdade. Investem no
por assim dizer, uma verdâdeir a praga a ser combatida É À alarde de supostas qualidades personalistas-e, por último,
O protagonismo pensado, capaz
de sopesar e avaliar, cl cuidam de uma ou outra ideia, desde que logre apoio fácil.
senso de antecipa
Ipaç ã , às
ção, as consequência
ênci s, próxima ser m Não por acaso, como enfatizado, esse processo lembra o
do agir e do não agir.
A a da construção de marca de bebida viciante. Não é acaso que o
dinheiro seja tão decisivo numa eleição. Investe-se na compra
8.2.4 Quarto vício — Mercenarismo do eleitor pela emoção. O eleitor é visto como um objeto, um
alvo, uma coisa votante.
sd Sustentabilidade exige honest Claro, não se mostra errôneo ter sensibilidade para o
o compromisso com as
= Is prioridades do desenvolvime que pensa o eleitor. O errado é reduzi-lo à parte límbica do
nto durável, daí por que
ME E Ga com a mercenarizaç
ão da política demagógica cérebro para que o candidato visceral tenha mais vantagem.
onsiste
iste em fazer do pode r econômômiico o s É como se a política não quisesse abandonar o século XVI,
debate público. ituti
A apenas acrescida de parafernália tecnológica e adocicada pela
Ns A Eai po náriS da política
abre caminho para o do- linguagem coloquial.
Ad a iloso, manipulador e condescen
Rigs ni O mercenário passa a dep
dente dos pluto- O político mercenário e demagógico é, em síntese, aque-
ender da eleição ou da le que abusa da vulnerabilidade do eleitor, presa fácil das
he e Ea pre tender generalizar, alguns per
E abem
igosamente inseguranças, dos apetites e das superstições. Transforma a
fazer outra co coisa. - C Como precis
trace com o eleitor médio, con
i am compar til
part h r
ilha luta política num jogo de apostas em cavalos, especialmente
ferem privilégio à emoção e quando as eleições se tornam plebiscitárias. E, no curso do
sutocam a argumentação cons
istente. mandato, quantas vezes percebe-se que o eleito, antes numa
ES
en E cruzada moralista, escondia um simples gângster faturando
E Superado, por falta de confi
rmação empírica, o“ teorema
do eleitor mediano”. com a vida dupla.
Vide, sobre a insensibilidade para
I
os grandes núm eros, Paul Slovic, in
Will Never Act”: Psychic Numbing
and Geno
“IFILook at the Mass O político mercenário estuda como fazer para induzir
comportamentos, mediante ardis. Promete incentivos para
cide. Judgment and Decision
n.2, p. 79-95, Apr. 2007. Making, v.2,
JUAREZ FREITAS
188 | SUSTENTABILIDADE = DIREITO AO FUTURO R CAPÍTULO
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS 8 18
9

projetos que utilizam técnicas da idad


e média.
irracional apenas para ser melhor manipulad Decodifica E Quer dizer, as políticas públicas devem ser aquelas esco-
vezes, produz alertas só o. Frequent a! Jhidas por cidadãos bem informados, em processo não pater-
para provocar ou atiçar
Outras vezes, finge ser contra det os dese J U nalista, sujeito a revisões periódicas, no processo de tomada
erminada Coisa para ver
essa mesma coisa. "coletiva de decisão, sob o signo juris tantum da cooperação
“Mas não precisa ser necessari q
amente assim. Em ha “sensata, científica e razoável.
monia com o paradigma = Com efeito, do mesmo modo que o desenvolvimento
da sustentabilidade, o pode
capaz de estabelecer, com transpar r s 7
ência, metas intertem or À deve ser outro (inconfundível com O simplista crescimento
e as prioridades nascerão de esco
lhas livres da violência ss a | econômico),“2 a política da sustentabilidade precisa ser outra,
mica, explícita ou sublimina
r,“” formal ou informal. bem distinta daquela que hoje domina a cena.
Reitere- se: o mercenarismo é, por E
compatível com todos os motivos in. É essencial, gradativamente, abrir espaço para uma polí-
a sust entabilidade, que supõe, ao
determinado grau, uma adesão livre
menos EA | » | tica diferenciada, que ponha termo à rendição pseudo-realista
e soberana. q | ainiquidade* e aos vícios corrosivos do patrimonialismo, do
* omissivismo, do mercenarismo e do tráfico de influências.
8.3 A política da sustentabili Em outro dizer, não se mostra inelutável ou inexorável
dade
Eu O poder democrático, exerci que a política prossiga, de modo canhestro, no reino do emoti-
eriva daquela racionalidade do de forma sustentável vismo, destituído de sopro emancipatório.
dissipadora de manipulações
Em lugar disso, a política da sustentabilidade, praticada
da dominação carismática, tra como vocação libertária de movimentos individuais e sociais
dicional ou Tacional-legal, par
usar a conhecida tipologia web a que não querem tomar de assalto o governo, trabalha para
eriana 1º
Nesses moldes, a democraci criar nichos para novas ideias.
a (si
nergicamente represen-
tativa e direta, nos termos Seria ingênuo, para não dizer temerário, negar que
do art. 1º da CI. passa
com todos Os consectários a designar
, o direito constitucional
ina
qualquer transformação paradigmática possa ser atrasada
intang ível ao reconhecimento da lib lienável é
erdade
de cada cidadão, nesse
status ” na definição inters
ubjetiva e intertemporal do
dos direitos e deveres fundamentais conteúdo *» Nesse passo, há ressonância — em parte — com a ideia de pluralismo razoável, de que fala
das gerações presentes e futuras, John Rawls, a despeito de remanescentes dificuldades em sua fundamentação, in Political
sempre que viável diretamente so Liberalism. New York: Columbia University Press, 1993.
“2 Vide o documento Green Economy: Developing Countries Success Stories. Nairobi:
UNEP,
mA O EO 2010.
407
no a a fre pda Ҽ Vide o documento The Inequality Predicament: Report on the World Social
elimine vide, para reflexão adicional, Situation
í , In À lógica do consumo: verd a descrição crua de 2005. New York: DESA; United Nations, 2005, p. 26: “The key tó reducing poverty in a
Rio de Janeiro: Nova Front a i
eira, 2009. ) sustainable manner, particularly with an eye to promoting social justice, is to focus on
“8 Vide, , sobre os riscos deu Rg dá
ma socii edade racii onalizad “ building a fairer and more equitable society. Economic growth alone is not a panacea, as
de Thesis: Explorations and a, George Ritzer ; the level of inequality can be a determining factor in the impact growth has on poverty
Extensions. London: Sage, izati
Nei 1998. é Ri a AR
pt in Fado de sociologia. 5. reduction. Overcoming inequalities requires an investment in people, with priority
do à tipologia, três legi ed, Rio de Janeiro: LTC, 1982 given to enhancing educational attainment, skill development, health care and overall
timações: básicas 4odo domí P. 99, onde arrola
ni o e da obediênc
domini liênciia:
a: a a au au! toridade dos s well-being, and to expanding and improving opportunities for quality employment.
Pelo conformismo tradiciona
e À pessoal — típic l a autor idade d
) a do grande dema 8080 — i inári Equal attention must be given to the socio-political dimensions of poverty, and a serious
cion E alme
Ir nte criadas. São todas e, aindao , a autorida Rde s basead
das,espec
espec
i alialmente as duas commitment is needed to ensure that discrimination is eliminated and its consequences
B o Es se Era i prime
i iras, E modo
ds: s deco
com o poder legitimament e democrático, na visão aqui i
de dominaçã , are addressed, that the equal protection of human rights is guaranteed, and that a better
E e Juarez Teitas, in Dire eafrosada balance is achieved in the distribution of political power and the level of representation ,
ito constitucional à demo
eixeira (Org.). Direito à democ cracia. In: Juarez Freitas
racia: ensaios transdiscipl e Ande V among all stakeholders. Accordingly, people need to be empowered to voice their concerns
inares, , op. OP. cit, Cit.
E and participate more actively in decision-making processes”,
JUAREZ FREITAS ! É ,
190 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTUR CAPÍTULO | 191
SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁVEL SUPERAÇÃO DOS VÍCIOS POLÍTICOS

por desvios, relutâncias e atitudes


retrógradas. De fato O novo paradigma será capaz de, política e eticamente,
mais notáveis avanços costumam , os.
ser produzidos em ese
Afinal, se fosse para vencer
rapidamente alas, frente aos maiores desafios ambientais, arro a os no
com base em try
e falácias, o ator político se
converterianum mero agen ques E Previsão do PNUMA,º” especialmente: alinhar a
caráter, em vez de ser o pr te sem | E E Sa com a sustentabilidade global, transformar a
otagonista da transforma
digmática. ção para-
Epac dade humana para aproveitar as novas oportunida-
O certo não é, pois, descon
hecer puerilmente a poli. | e j i ove
tica, senão o de praticar
um modo diferente de faz é m 2050), reconectar ciência e política, catalisar mu-
ê
funções insanas e das pol ar -la, sem
exploração coletiva das dis
a comportamentaisis e em relação ao ambiente, mudar o
“danças
extremistas. A política da sus izações
tentabilidade firma o f OCo
Tquezas genuínas,“ na ec
onomia de baixo carbono e na
nas “Dê paradigma do manejo, acelerar a implementaçã
:a Eo Rs ia
com- fren jovável, - integrar a biodiversida de nas agendas, li ai co m
:
"às consequências das mudanças cliimáti máticas e m inimizar os
científico do impacto das pol Prec os de novas tecnologias.
| É
íticas públicas.
Somente o novo paradigma 4 = Desse modo, longe de pretender efetuar ensaio especí
compreensões individuais conduzirá à troca das pré-
e grupais, na senda de mudanç "fico sobre o complexo tema do poder, quer-se apenas realç
sérias de mentalidade, “7 as íti
“que os grandes vícios da política,
ar
a longo prazo, sãoã francam ente
que afastem, entre o utr Se
degradação ambiental, o des os mal es,
matamento, o uso de tecnologi a. “insustentáveis. Os vícios destroem-se a si : mesmos ou, o q ue é
agressivas, a carência de tra as pior, suprimem a viabilidade da vida E a a
balhos decentes! e todo o 421

bouço que gera o temor cor arca- “dado que insistem no se desenvo lvimen
rosivo da perda do controle o
a própria vida.“ sobre
i à catástrofe.
E Es contudo, que o patrimonialismo acabe, Ra
“4 Vide, sobre o fenômeno Psic
ológico do Sroup polarization, toda ditadura, por desmoronar. O tráfico de inn SE ;
Political Philosophy, v. 10, Cass R. Sunstein, in The Journ
al of e
e Mark R. Lepper, in Biased
n. 2, P. 175-195, June 2002.
Vide, aind
Assimilation and Attitude Polaa, Charles G. Lord, Lee Ross
extinto, até pelo cansaçobeta ER adoro inda
Theories on Subsequently Cons rization: the Effects of Prior
v.37,n. 11, p. 2098-2109,
idered Evidence. Journal of
Personality and Social Psycholo reensão razoável da sustenta e, 2
Nov. 1979. gy,
* Vide PNUD, Relatório do
Desenvolvimento Humano 2010: RE ses absolutizadas dessa ou daquela po sena OR
vias para o desenvolvimento a verd adeira riqueza das naçõ
do desenvolvimento humano,
humano, op. cit., Pp. 10: (...)
afirm ação nuclear da abordage
es: narismo da política cederá diante da concepção ep a
em contraste, diz que o bem m
do que o dinheiro: tem a ver
com
-estar tem a ver com muito mais
de vida que têm motivos Para as possibilidades que as Pessoas têm de cumprir os plan
dever ético de lidar adequadamente como que é comum. É
escolher e seguir. Daí o noss os
— ama economia de desenvol
vimento humano, em que
o apelo a uma nova economia Dito isso, o correto é acelerar, ao máximo, O processo Pe
estar humano e o crescimento o objetivo é aumentar o bem-
concretizadas na medida
e em que as outras polític. as são
em que façam avançar o avaliadas e vigorosamente lítico de transformações estruturais e comportamentais, e
longo prazo”. E ainda, à P. desenvolvimento humano
a curto ea
19: “O desenvolvimento huma
verdadeiro desenvolvimento no, se não for sustentável,
humano”. não é
*!$ Para aprofundar essa Pers
pectiva hermenêutica, vide
sistemática do direito, op. cit. Juarez Freitas, in A interpreta “0 Vide o documento 21 Issues for the 21 Century: ResulE of the UNEP Foresight ight Proce: ss on
ção
“2 Vide, sobre o direito ambi Emerging Environmental Issues. Nairobi: UNEE, 2012. A ie alga Na
ental na origem de progress
Morand-Deviller, in Le droit os de mentalidade, Jacqueli ?! Vide, sobre a responsabilidade humana em termos geológicos, p apa
de | “environnement. 10º éd.
Paris: PUF, 2010, p. 121.
ne
“8 Vide o documento Empregos E audeÉ d ori e Laurent Carpentier, in Voyage dans Vanthropocêne: cette now
verdes: rumo ao trabalho dece
com baixas emissões de nte em um mundo sustentá é
mes les héros. Arles: ; Actes sud, 2010.
20 a a
carbono. Brasília: PNUMA;
OIT; OIE; CSI, 2008.
vel e
“2 Vide, sobre os temores de A ie Hansen, in Climate Catastrophe. New Scientist, v. 195, n. 2614, p. 30-34, July
controle sobre a própria vida,
Character: the Personal Cons Richard Sennett, in The Corr
equences of Work in the New osion of
1998, p. 19. Capitalism. New York: Norton,
is a : como ilustração de possíveis abordagens do tema, Hirofumi
i i ia in ct
Economic
Analysis of Social Common Capital. Cambridge: Cambridge University ;
JUAREZ FREITAS
1 92 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

SUSTENTABILIDADE E A INDISPENSÁ CAPÍTULO 8 | 193


VEL SUPERAÇÃO DOS vícIOS POLÍTI
COS
prol do bem-estar sustentável, com
tudo aquilo que repre. Ho furacão Katrina ou da crise fina
senta em renovaçã o (não mero arejamento) das práticas Socia nceira mundial em curso,
e em conexão mais afinada is ora com inflexão europeia.
entre as ciências ambientaisgs
política. s ea A sustentabilidade, assumida prudencia
“contaminada dos Principais Víci lmente e des-
Não se trata de fugir infantilm os da política, desperta uma
ente dos riscos,” que-
rendo construir um miraculoso “mova responsabilidade, não apenas voltada para
Estado segurador perpétua os danos
e universal, que redundaria “passados, senão que para evitar os danos futuros, ou seja,
no onipotente segurador, ou E ada
des-
seja, que tentaria — como fez a interromper, sem o omissivismo
causador de danos
o Japão, em dado momento = E injustos, a formação do nexo de caus
transformar a todos em supost alidade.“
amente protegidos do berço P Emsuma asustentabilidade traz consigo j
ao túmulo, sem bases sólida uma inovação
s de financiamento. Esse mod
paternalista é atuarialmente insustentável elo | na matriz política, com força suficiente para
para proteger as. moldar insti-
gerações futuras. Com efeito, * tuições diferenciadas, nem antropocêntr
o Estado, que faz a todos incapa- icas ao extremo, nem
zes de assumir os deveres * sonegadoras da dignidade humana.“
de autonomia, mostra-se
de patrimonialismo, inconc resquício A indissociável dimensão jurídico-polític
iliável com a sustentabili a da sustenta-
No entanto, o Estado que dade. bilidade exige boa governança e respeito
lança a todos, especialment ao direito funda-
mais frágeis, na zona de risco e os " mental à boa administração, com toda
e os remete ao seguro privado, s as implicações em
demonstra cab termos de transparência e de eficiência sub
almente a sua face omissi ordinada à eficá-
va em momentos cia.“
dramáticos, como se consta
tou diante das perdas dec Por todo o exposto, a dimensão jurídico-pol
orrentes
ítica mostra-
se vital. Não se pode imaginar que, com
a SE os maus modos
OG (SS a atuais de fazer a política, nublados pela ótic
“ Vide Dan W. O'Neill, Rob Dietz e a do imediatismo
Sustainable Economy in a Worl Nigel Jones (Ed.). Enough,
is enough: Ideas for a inconsequente, seja possível avançar para
Economy Conference, op. cit,
d of Finite Resources: the Repo
rt of the Steady State o desenvolvimento
p. 110: “There is a disconcertin constitucionalmente pretendido. Em contrapa
and the media about the down
sides of endless economic grow
g silence among politicians rtida, igualmente
th. A similar and equally não é crível que, fora da política, seja possível
limpar o cenário
da irracionalidade, até porque a má política
costuma andar
de braç os com a tecnocracia.
Assim, quando se pretende conjugar ciên
cia à política,
local activism). The time to put
these ideas into practice is at entenda-se bem: não se trata de investirem
important or vital topic for vigo hand — there is no more falsa racionalida-
that delivers sustainable well-bei
rous public dialogue than the
development of an economy de. Ao revés: pretende-se tão só que a fixa
ng”. ção das prioridades
“8 Vide, para ilustrar o debate políticas passe pelo crivo da pesquisa
Goldemberg (Coord), Energia
científico sobre os Principais
problemas energéticos, José sistemática sobre o
e desenvolvimento sustentável. São impacto dos custos e benefícios diretos
“s Vide o documento 21 Issues
for the 21% Century: Result of the
Paulo: Blucher, 2010 p. 36. e indiretos.
Emerging Environmental Issues, UNEP Foresight Process on
op. cit. p. 11; “Taking action to
access to scientific information, improve communication,
and other underlying causes
provide an atmosphere by whic of broken bridges, will “8 Vide, sobre
h the scientific community can a mutação da responsabilidade em face
Of society. Policymakers will be respond better to the needs precaução, François Ost, in La nature hors do futuro, inclusive prevenção e
better informed, and the public la loi: Vécologie à Vépreuve du droit. 2º éd.
based policies. The scientific comm will benefit from evidence- La Découverte, 2003. Paris:
unity will take its rightful Place
society, providing valuable cont as an integral part of “2 Para uma visão intermediária entre o
ributions to the handling of impo antropocentrismo forte e o não-antropocent
suck as climate change and envi rtant issues of our day vide Serge Gutwirth, in Trente ans de théori rismo,
ronmental degradation”. e du droit de Venvironnement: concepts
“ Sobre o temado risco, vide, entre outros, opinions. Environnement et Société, v. ét
Barthe, in Agir dans un monde incer Michel Callon, Pierre Lasc 26, Normes et environnement, p. 5-17,
oumes e Yannick Ҽ Vide Juarez Freitas, in Discricionariedade 2001.
tain: essai sur la démocratie techn administrativa e o direito fundamental à boa
ique. Paris: Seuil, 2001. nistração Pública, op. cit. Admi-
4 JUAREZ FREITAS
19, SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

Eis uma tare


fa que é jurídica, Porque a
Constitui CAPÍTULO 9
determina o olhar para o perdurável e inte ção
demonstrou
rger acional, com
em capítulos anteriores. E é tare
r
“ > Ose
fa política
4

intuito de formular e cumprir


uma agenda integrada
e intertemporalmente confiável.

não são estanques, nem parale


las que nunca se encontram. SUSTENTABILIDADE E O NOVO
São elementos orgânicos, int DIREITO ADMINISTRATIVO
er-relacionados e mutuamente. MH)
dependent es (ambiental, social, eco
L nômico, jurídico-político.

E precisamente a dimensão pol


ítica de cores limpas que
pode fazer com que a equida
de intergeracional e a reduçã
das desigualdades sociais e reg o
ionais sejam tidas como me — 9.3.1 Racionalidade imparcial, eficiente e eficaz — 9.3.2 Fundamentação e.
tas de sustentabilidade, por exc
elência. Mais: a democracia. * devida processualização das decisões — 9.3.3 Sindicabilidade aprofundada das
especialmente a participativa, * condutas do agente estatal — 9.3.4 Resolução administrativa dos conflitos = 9.3.5
precisa ser entendida como “

procedimento sustentável, à diferença do Fim do burocratismo paralisante — 9.3.6 Prevenção e precaução, em lugar da
autoritarismo certi
lizador e não cooperativo. Propic “gestão que chega tarde — 9.3.7 Defesa da constitucionalidade de ofício e da
ia o alargamento cultural d regulação do Estado Sustentável — 9.4 Principais mudanças na hermenêutica
participação, com a tendência
de gerar adesão espontânea às “das relações de administração — 9.5 Sustentabilidade e regulação — 9.5.1 Re-
mudanças comportamentais gulação: necessidade dé novo modelo — 9.5.2 Conceito de regulação estatal
indispensáveis ao desenvolvi-
mento que interessa. -9.5.3 O agente regulador — 9.5.4 Características da regulação sustentável — 9.6
Licitações e contratações sustentáveis: obrigatoriedade de ponderação
Lógico, mudança dessa env dos
ergadura implica abor- custos e benefícios, diretos e indiretos — 9.6.1 Incorporação cogente de critérios
dagem distinta das relações de adm paramétricos de sustentabilidade para aferir a proposta mais vantajosa para a
inistração. Justamente
Por esse motivo, tratar-se-á, no capítulo pró Administração Pública — 9.6.2 Sustentabilidade e contratação administrativa
ximo, do novo =9.6.3 A proposta mais vantajosa é aquela que se encontra alinhada com as
políticas públicas sustentáveis — 9.6.4 Conceito de licitações sustentáveis — 9.7
sustentabilidade. 6ora pelo princípio da
Rumo ao Estado sustentável

9.1 Mudança de paradigma do Direito


Administrativo
No quadro das relações administrativas brasileirasº! em
direta associação com o princípio constitucional da susten-
tabilidade, importa promover uma robusta guinada de rota.

“! Para aprofundar, vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios
fundamentais. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. Vide, também, Juarez Freitas, in Discri-
cionariedade administrativa e o direito fundamental à boa Administração Pública, op. cit.
196 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
197
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO
9

Não é justo fingir que as coisas marcham magn


ificamente É Claro que esse novo ciclo, nas relações de administração,
incontestável a premência de reformul
ações estruturais e d :
fundo, não apenas de adaptação estil
ística e formal aos novos
rentará, por algum tempo, resistências psicológicas“ e,
tempos. am alguns casos, até dissonâncias cognitivas. Claro também
Como se afigura inequívoco, nas “A "que não será com retórica que se “descarbonizará” o mundo
relações administra
tivas, os direitos fundamentais aind “das relações de administração. Importa adicionar às políticas
a não se impõem com a
mínima densidade eficacial. Por exemplo, | públicas uma laboriosa reorientação sistemática, entendendo
o Estado-Admi.
nistração, em matéria de controle estr a sustentabilidade, à semelhança da dignidade,” como valor
atégico dos danos pes-
soais e ambientais, permanece frágil e pouc "e como princípio de estatura constitucional.
o efetivo em áreas
nevrálgicas, como ilustram a poluição Em face da consciência de que águas conceituais para-
do diesel (com liberação
excessiva de enxofre) e a falta de planejam "das não são salutares, o melhor é, assim, trocar grande parte das
ento dian
te das eg-
pécies exóticas invasoras,“2 que cau
sam prejuízos sistêmicos | pressuposições reinantes sobre a relação de administração. Desse
de monta. Outro exemplo: a política
de mobilidade urbana. modo, em lugar de crer no Direito Administrativo do século
ainda não confere a prioridade obri
gatória aos serviços de * XIX, baseado na suposta (e, na realidade, seletiva) obediência
transporte público coletivo. Mais:
o acesso à informação as regras legais ou de ajoelhar perante os ícones da eficiência
é direito fundamental, porém claudi
cam os procedimentos olientelista e imediatista (anos 1990), o novo paradigma abraça
assecuratórios, algo que inibe o controle
relativo à implemen- a eficácia intertemporal, numa postura compatível com a ci-
tação dos programas, Projetos e açõe
s dos órgãos e entidades “dadania ativas* e altiva, avessa à imposição unilateral e auto-
públicas.
Em toda parte, a fragilidade na gua nitária*” do sujeito sobre o objeto da regulação.
rda do direito ao | Naturalmente, importa fazê-lo mediante acurada hie-
futuro pela Administração Pública é
fato lamentável e incon- rarquização de custos e benefícios (diretos e indiretos) das
tendível. Para modificar o panorama,
o que fazer? De início, decisões administrativas, acolhido o dever de preservação
exigir editais sustentáveis — tema des
envolvido no tópico 9.6
deste capítulo —, mormente após o des
envolvimento susten-
tável ter sido explicitado no art.
3º da Lei nº 8.666/93, com a a “aquisição de bens, contratação de serviços e obras por parte dos órgãos e entidades
redação dada pela Lei nº 12.349/2010, de molde da
a terem de aco- administração pública federal direta, autárquica e fundacional deverão conter critérios
de
lher, sem exceção, critérios para sustentabilidade ambiental, considerando os processos de extração ou
métricos de sustentabilidade, zação e descarte dos produtos e matérias-primas”.
fabricação, utili-
com repercussões significativas em
termos de qualificação ** Não há comonão concordar, no ponto, com Mark Mawhinney, in Desenvolvimento sustentável:
interdisciplinar dos projetos. uma introdução ao debate ecológico. São Paulo: Loyola, 2005, Pp. 197-198, ao salientar
que
o “tema do desenvolvimento sustentável precisa de uma abordagem transdiscip
linar mais
eficiente e de uma conscientização da existência de barreiras psicológicas associadas
fN a ele,
de um gerenciamento de mudanças mais eficiente, especialmente em situações
a Nem sempre são questões fáceis complexas
eticamente. Vide, a propósito, Dale e do uso mais disseminado de instrumentos de futuridade eficientes para ajudar no
meio ambiente: uma introdução, Op. ci. Jamieson, in Ética & geren-
p. 270, acerca do conflito nativo versus ciamento de mudanças”.
entanto, há casos fáceis: fica difícil exótico. No
encontrar alguém que não concorde *” Vide, sobre a dignidade como valor fundamental convertido em princípio jurídico
de combater o mosquito da dengu com a necessidade de esta-
e. - tura constitucional, Luís Roberto Barroso, in A dignidade da pessoa humana no
“3 Vide a Leinº 12.587/2012, artigo direito
s 5º e 6º. constitucional contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos
e critérios de apli-
“4 Vide a Leinº 12.527/2011, art. 7º. cação. Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, v. 10, n. 12, p. 86-137,
nov. 2011.
A Vide, a propósito da obrigatoriedade, ** Vide, sobre o tema, entre outros, Gregorio Arena, in Cittadini attivi:
no caso da Administração Federal, a Instru un altro modo di pen-
mativa nl, de 19 de janeiro de 2010, do ção Nor- sare all'Ttalia. 2. ed. Roma: Laterza, 2011.
Secretário de Logística e Tecnologia da Inform
ção do Ministério do Plane jamento, Orçamento e Gestão, segun a- “2 Vide, sobre tais etapas, o documento Unlocking the Human Potential for
do a qual, no seu art. 18, Public Sector Perfor-
mance: World Public Sector Report 2005, da ONU.
198 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRAT
IVO | 199

ambiental como “limitação constitucional explícita à atividade Na concorrência entre ambos os paradigmas, observa-se
econômica”, * areprodução subjacente do vetusto jogo dos impulsos
Neste capítulo, serão arrolados aspectos-chave que re. versus
- inteligências, do prazer imediato versus o bem-estar dura-
querem, por assim dizer, carga intensa de engajamento técnico- " douro, da vista curta versus o planejamento de longo prazo,
científico, em prol do advento da gestão pública sustentável. " que impede crises sistêmicas.
Impõe-se, dessa maneira, a escolha entre o velho
para-
9.2 Da sustentabilidade nas relações administrativas * digma do burocratismo opaco e o novo paradigma da susten-
E tabilidade cooperativa, sinérgica e abolicionista de arcaicos
Reprise-se a ideia fulcral de que há dois paradigmas em » grilhões do passivismo regressivo. Nesse embate, não resta
conflito, fenômeno que, para não fugir da regra, também se | lugar para abstenção: opta-se pelo Direito Administrativo da
verifica na seara do Direito Administrativo, com refrações pa-
sustentabilidade.
radoxais. O paradigma antiquado (o da insaciabilidade patri a
+

Argumenta-se, uma vez mais, a favor do novo model


monialista ou da calculabilidade insensata), ainda dominante, o
" cognitivo e decisório, na realização de objetivos fundamentais
por força do peso inercial do status quo, entroniza o inercismo,
* do Estado Constitucional, não dos caprichos de agente
a tirania do curto prazo e o emotivismo decisionista. Cultua | s
a autoridade pela autoridade e se fia nos poderes erráticos * políticos, nem de omissivismos jamais universalizáveis.
Ee Quer dizer, almeja-se descrever e prescrever uma admi-
da discrição. Insufla a informação assimétrica. Nada faz para
resolver — e ainda agrava — os problemas da seleção adversa
4
| nistração pública redesenhada sob o influxo do direito funda-
e do risco moral.'*! P mental à boa administração pública e do princípio constitucional
Já o paradigma da sustentabilidade procede ao contrá- da sustentabilidade (seja na esfera teórica, seja na prática ope-
rio e se pauta pela racionalidade dialógica, pluralista e prospectiva, racional), no intuito de torná-la eficiente e eficaz no induzimento
com plasticidade acoplada às exigências de fundamentação do bem-estar.
e de estabilidade, no processo decisório. Não serve ao simplista Acima de querelas toscas, impõe-se viabilizar a tutela
crescimento econômico pelo crescimento, pois supõe políticas incisiva do direito à administração eficiente e eficaz, propor-
propiciatórias à universalização do bem-estar e à coesão social, cional cumpridora de seus deveres, com transparência, moti-
com regulação protetiva contra as disfunções do mercado e, vação, imparcialidade e respeito à moralidade, à participação
sempre que necessário, com a tempestiva assimilação das social e à plena responsabilidade por suas condutas omissivas
lições de fracassos.º e comissivas. Tutela que, em várias hipóteses — como no
dever de fornecer remédios de uso contínuo ou na interdição
“9 Vide STF. ADI nº 3.540-MC,, Pleno. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 12.9. 2005. DJ,
| de produtos letais —,*º faz a diferença entre a vida e a sua
3 fev. 2006.
“1 Vide Frederic S. Mishkin, in Moeda, bancos e mercados financeiros. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC,
completa negação.
2000, p. 124-125, que'explica: “Seleção adversa é um problema de informação assimétrica
que acontece antes de a transação ocorrer: tomadores com risco de crédito
Almeja-se, por outras palavras, a progressiva constitu-
elevados são os
que mais ativamente buscam empréstimos. Portanto, as partes contratantes que mais
pro-
cionalização das relações administrativás. Constitucionali-
vavelmente produzirão um resultado indesejável são também as que mais provavelme
nte
se engajarão na transação (...). O risco moral surge após a transação ocorrer: 0 emprestado
zação, no sentido de conferir pronunciada expansão eficacial,
r
corre o risco de o tomador se engajar em atividades indesejáveis, do ponto de vista
do
emprestador, porque diminuem a probabilidade de repagamento do empréstimo
”.
“2 Vide, por exemplo, o documento Carbon Capture and Storage: Lessons from the Competitio *º Vide, sobre o tema da poluição com elementos letais, Rachel
n Carson, in Silent Spring. 40%
for the First UK Demonstration. London: National Audit Office, 2012. anniversary ed, Boston: Mariner Books, 2002.
200 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE -— DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE EO NOVO DIREITO CAPÍTULO 9 | 201
ADMINISTRATIVO

direta e indireta, ao direito à gestão pública sustentável. Cons


l Nessa linha, a sustentabilidade tem de incidir, nas re-
titucionalização, no intuito de enfrentar a gigantesca 4
falta "lações de administração, em comunhão indissolúvel com os
de proximidade, quase abismo, entre o plano
dos Princípios: "demais princípios de regência. Com efeito:
constitucionais e o mundo dos fatos.
(a) O princípio do interesse público genuíno (nem
Em resumo, imprescindível que o novo Direito
Admi sempre coincidente com o interesse da máquina
nistrativo constitucionalize, vez por todas, as
relações de estatal) é imantado agora pelo dever de preservar a
administração, forçando a transição para
o novo ciclo d integridade dos seres vivos e o dinâmico equilíbrio
gestão sustentável (com o aperfeiçoamento
de ferramentas ecológico. Marcha para além da concepção antro-
e incentivos disponíveis),“4 reendereçada à
agregação de. pocêntrica, em sentido estrito, para dar conta da
benefícios e resultados de comprovada
qualidade. O que. ) proibição constitucional de crueldade contra os'
pressupõe, antes de tudo, controle de qual
idade decisória e seres vivos em geral. Numa frase: não consulta o
de execução, em termos organizacionais,
com a adoção de . interesse público genuíno nada que inviabilizar a inte-
checklist para as grandes decisões administrati
vas,“ em con- gridade e o valor intrínseco da vida.
formidade com as metas transparentemente
estabelecidas (b) Influenciado pelo norte do desenvolvimento du-
acima dos mandatos.
rável, o princípio da proporcionalidade” determina a
Nessa linha, a ressignificação sistemátic
a do Direito Ad- vedação de danos intra e intergeracionais, causados por
ministrativo, a partir da troca de pré-compreen
sões, faz com indivíduos de mesmas características morfofisiológicas
que a “finalidade cogente” (da qual falava
Ruy Cirne Lima) ou nas relações entre espécies distintas, por excesso ou
tenha, nos dias em curso, de incorporar necessariamente
sustentabilidade como vetor nevrálgico. Logo, a inoperância. Isto é, interdita condutas e políticas que
é obrigatório, se perdem nas malhas da arbitrariedade (por ação
nas relações administrativas, aquele desenvolvi
mento apto a produzir ou por omissão), sublinhando que o omissivismo
o bem-estar duradouro, individual e colet
ivamente. Fora disso, há tem sido um dos vícios mais lesivos ao paradigma
desvio de finalidade.
da sustentabilidade.
(c) O princípio da legalidade,“ em consórcio com o
“ Vide, sobre a necessidade de adaptar ferramentas, Clandi
o E. Ruviaro et al. in Life
princípio constitucional da sustentabilidade, deixa-se
Cycle Assessment in Brazilian Agriculture
Production, v. 28, p- 9-24, June 2012.
Facing Worldwide Trends. Journal of Cleaner nuançar ricamente pela perspectiva de prazo longo e de
free
ao e OlivierPES, e
Sibony, in: The Case for Behavioral Strategy.
McKinsey Quarterly,
sopesamento adequado dos efeitos de aplicação da norma
“é Vide, para um checklist de controle
no tempo (sem a ingenuidade de tratá-la apenas
da qualidade decisória,
Daniel Kahneman, Dan Lovallo e Olivier
Sibony, in Before
a contribuição importante de
You Make That Big Decision...
como válida ou inválida), sob pena de irraciona-
Harvard Business Review, v: 89, n. 6, P.
motivated errors, or errors driven by the
51-60, June 2011: “1. Is there any reason to suspect lismo em nome (falso) da previsibilidade jurídica.
self-interest of the Tecommending team?; 2. Have
the people making the recommendation fallen
in love with it?; 3. Were there dissenting Aparece, antes de mais, como determinação mo-
opinions within the recommending team?: 4.
Could the diagnosis of the situation be overly
influenced by salient analogies?; 5. Have credibl dulada de observância do Direito Administrativo
e alternatives been considered?; 6. If you

*” Vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op. cit.,
p. 61.
“s Vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op. cit,
p. 70.
202 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO | 203

sustentabilidade, consagra o direito fundamental à boa


a reserva legal e a crença cega informação e viabiliza o escrutínio social da qualidade
regras (ecos da Escola da Exe as multidimensional das decisões administrativas.
gese e do pensame Ato.
clássico) neguem a constitucion (g) O princípio da motivação determina a fundamentação
alização das relaçõOeg “explícita, clara e congruente” (Lei nº 9.784/99, art.
administrativas, impedindo |
o alinhamento come
gências de legiti Xi. 50). Agora, as decisões administrativas, outrora
midade substancial contínua.
(d) O princípio da imparcialidade tidas como imunes ao controle ou inteiramente
ou da impessoali- discricionárias, têm de ser motivadas, também sob
dade“ tem a ver com o Estado
-Administração. o prisma da sustentabilidade, sempre que afetarem os
que não se deixa guiar pelos
caprichos para favorecer direitos das gerações atuais e futuras. Uma vez moti-
gerações presentes em detriment
o das futuras, ou vice. vadas, tendo em conta essa nova perspectiva, serão
versa. Uma gestão sustentáv
el é Precisamente aquela correspondentemente vinculadas: é o fim potencial
desatrelada de objetivos episód
icos, na qual vigora da discricionariedade insustentável.
a cabal proibição de qualquer
discriminação torpe | O princípio da ampla sindicabilidade ganha acen-
e, concomitantemente, o
dever de frear, ou de tuado reforço em sua ligação com o princípio da
extinguir, a iniquidade intergera
cional. sustentabilidade, porque este estimula o exercício
(e) O princípio da moralidade,
por sua vez, veda as intertemporal dos controles externo, interno, social e
condutas eticamente transgressoras |]
do senso mo- h
judicial. Assim, por exemplo, nos termos da Lei
ral médio superior da sociedade
, a ponto de não. nº 12.587/2012, impende controlar, não apenas os
comportar em condescendência ou leniên
invocação expansiva da doutri cia, nem elementos formais, mas a eficiência, a eficácia e a
na dos frutos da efetividade da circulação urbana. Algo que acarreta
arvore envenenada. Naturalmente
, não se coaduna inequívoca ampliação de espectro dos controles.
com a universalização daquelas máx
imas de condy ta que O princípio da inafastabilidade da jurisdição“ (CF,
levam ao perecimento dos liames de
decência e solidarie- art. 5º, XXXV) passa a ser lido como salvaguarda do
dade entre as gerações. Nesse pon
to, a relação com o acesso à tutela jurisdicional contra qualquer lesão
paIncípio da sustentabilidade, em
sua feição ética ou ameaça de lesão aos direitos das gerações atuais
é umbilical.
e futuras, acima da tutela imediatista e atomizada,
(£) O Princípio da publicidade ou
da máxima trans- cuja crise prestacional resta, aliás, sobejamente co-
parência possível (não somente
mecânica divul- nhecida.
gação oficial),s! em conjugação
com o princípio da 0) O princípio da eficiência (vedação de meios ina-
propriados e imperativo de alcançar o mais com
e TOMO Dar o menos) e o princípio da eficácia (vedação de
*º Vide Juarez Freitas, in O contro
p- 86-87.
l e dos atos administrativos e
os princípios fundamentais, op. cit., descumprimento dos objetivos e metas constitu-
0 Vide Juarez Freitas, in O contro
l e dos atos administrativos e os
cionais) guardam sólida relação com a meta do
p. 87. princípios fundamentais, op. cit,
4
a V ide Ju arez
rez control
Fre tas, , In O on ro, e do: 5 atos ad; ministrati E ig À
istrativo:
vos e os prin
Fiuncipio.
pios fu fun dam entais,
niais, op. cit, “2 Vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op. cit.,
p. 118.
UAREZ FREITAS
204 DN tupADE = DIREITO AO FUTURO | 205
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

desenvolvimento durável, sobremodo


ndo se qua são decisivos para a sustentabilidade, dado que
tem em mente, nos termos
propostos, que a eficiên. impõem ao Estado-Administração o dever de, EE
cia precisa estar subordina
da à eficácia, com o fr pectivamente, avaliar a formação do nexo causa E
de evitar que o excesso de
eficiência conduza, porto interrompê-lo antes que os danos (certos ou signifi-
exemplo, ao crescimento eco
nômico que se alimen cativamente prováveis) aconteçam. Não sem razão,
do consumo inconsequente
de bens Posicionais por exemplo, a Lei nº 12.305/2010 consagra expres-
do crédito irresponsavelmente
concedido. É: samente, no art. 6º, os referidos princípios.
(k) O princípio da legitimidade
ss (CF, art, 70) quer De tudo, decorrem duas conclusões. Em primeiro aci
Tesguardar aspectos de fundo,
nas relações admi » princípio constitucional da sustentabilidade encontra-se
nistra tivas, impondo ultrapassar as aparên Di o aos demais princípios regentes das relações de
enganosas da regularidade tra ão, influenciando-os e sendo por eles influenciado.
formal. Com efeito,
apenas o prisma substanciali Em E ando lugar, tais relações precisam receber, cada mi
sta, não o formalismo
extremado, é que se revela

Rs passo dem prai o


favorável à realização E ais, a coloração límpida (mais do que verde) a ncia ie
não-quantitativista do desenv
olvimento.
(1) O princípio da responsabili E i a lon ué:
dade da Administração
Pública e dos entes prestador O assa Eiia falar em titularidade dos
es de serviços públicos
por ações e omi ssões,“ tema de tópico especí EÉ os fundamentais também das gerações futuras.
do Capítulo fico
10, exige, por assim
dizer, o Estado
Sustentável, emancipado do
habitual omissivismo
e capaz de, em suas intervenç
ões, garantir o direito
fundamental à boa administr Cumpre estabelecer os traços que identificam o aa
ação, requisito para
O primado conjunto dos dir nizado novo ciclo da gestão pública, pa a É
eitos fundamentais de
gerações presentes e futuras. Í j o paradigma
i da insacia
i iabilidade pluto É
(m) Princípios da prevenção RE “escravocrata” Ê e coisific
e da precaução, nas rela- poluidora, isificante, ; quque ainda
c molesta,
ções de admi nistração,'* nos termos contamina e perturba as relações de administração.
examinados,

9.3.1 Racionalidade imparcial, eficiente e eficaz


Primeiro traço: a transição derelações de administração,
*9 Vide Juarez Freitas, in O contr
olê dos atos administrativos e EA ú SE a
P. 138. Vide, ainda sobre o os princípios fundamentais, Op. ora sob o influxo de facciosismos e imediatismos de vário
tema cit,
cípios constitucionais da Administ dos princípios, Cármen Lúcia Antunes Rocha, in Prin-
ração Pública. Belo Horizonte:
Bandeira de Mello, in Curs
o de direito administrativo, Del Rey, 1994; Celso Antônio
Daniela Campos Libório Di 29. ed. São Paulo: Malheiro
s, 2012;
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urbana. In: Adilson Abreu na gestão democrática da polít
Dallari, e Daniela Campos
Libório Di Sarno (Coord.).
ica 2012; Mariai Ea i - É au i Pietro, ita in eDireito administrativo.
ini:
participação ; 25. ed. Sãoã Paulo: : Atlas,Atlas, 202012: 1
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tituição brasileira de 1988. Grotti qa E Boal Interesse
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São Paulo: Malheiros, 2003;
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José dos Santos Carvalho 2, ed. Belo Horizonte: Fóru
Filho, in Manual de direito m, 2011; pi o arência administrativa e novas tecnologias: o dever e no e
2012; Marçal Justen Filho administrativo. 25. ed. São
, in Curso de direito admin Paulo: Atlas, O reito eo princípio democrático. Interesse Público — IP, v. 8, n. 39, p. ;
istrativo. 8. ed. Belo Hori
zonte: Fórum, set./out. 2006.
206 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO


CAPÍTULO 9
ADMINISTRATIVO | 207
matizes, rumo ao paradigma da racionali
dade imparcial e Revela-se inaceitável qualquer manobra que tente dar
norteada, intertemporalm
ente, pela eficiência (CF, art, 37) 8 E arida à imposição de caprichos ou fisiologismos do admi-
pela eficácia (CF, art. 74), mediante con
trole de qualidade das: Elirado: cujos interesses correntes não podem ser sobrepostos
decisões administrativas. Não se pode ign
orar que ainda a "aos direitos da sociedade futura. Desmascarada
comum o estilo rústico do decisionismo aut a postura
ocrático. Exemplos. temerária, sem avaliação consequencial, a atitude favorável
de dislates não faltam. Revela-se cor
riqueira a invocação. » à constitucionalização efetiva das relações de administração
impertinente e deslocada da locução int
eresse público para. consiste em oferecer boas razões de fato e de direito (vale dizer,
dissimular projetos secundários, ilógic
os e distorcidos do: “razões ética e logicamente sustentáveis), em todo o processo
poder de manipular e de desperdiçar. Par
a ilustrar, Cite-se o + * decisório, no bojo do qual cada ato administrativo é elo apenas.
Tetoque vistoso em equipamentos púb
licos, às vésperas de Mais: fora dessa motivação intertemporalmente defensável,
eleição, em obras que não resistem à pri
meira chuva forte "os atos administrativos despontam como simples irrupções
(após as eleições, é claro). Em contraste
, seguindo as premissas | decisionistas, inconciliáveis com a lógica da sustentabilidade.
susten
táveis, devem-se celebrar contratos +
administrativos com -
uma lógica descoincidente com a
do calendário eleitoral. Em
poucas palavras, imprescindível fome . 9.3.3 Sindicabilidade
ntar uma perspectiva aprofundada das condutas do
saneadora, que afugente, na tomada
trativas, as escolhas irracionais, dol
das decisões adminis- agente estatal
osa ou culposamente
inconstitucionais, e incentive os prog Terceiro traço: a transição de relações administrativas,
ramas desembaraçados
do jugo distorcido do imediato. manchadas pela virtual imunidade dos agentes políticos,
;
rumo à sindicabilidade aprofundada das condutas omissivas
e comissivas do agente público lato sensu (ou seja, toda pes-
9.3.2 Fundamentação e devida proces Soa que prestar trabalho, ainda que transitório, ao Estado), no
sualização das
exercício do controle da sustentabilidade social, ambien
decisões tal,
econômica, ética e jurídico-política. Com efeito, em que pesem
Segundo traço: a transição de relações Os expressivos avanços em matéria de responsabilidade obje-
administrativas
de matriz arbitrária rumo à consiste tiva do Estado por ações e omissões, ainda se contemplam
nte fundamentação/mo-
tivação e à devida processualização agentes de alto escalão, mediante ardis variados, logrando
das decisões. Trata-se da fácil
incorporação do controle de sustentabilidade das evasão da regressiva e acintosamente despreocupados com à
motivações sub-
jacentes às decisões administrativas. Com efeit
o, no ciclo novo da obtenção de resultados constitucionalmente aceitáveis. É que
gestão pública de processos sustentáveis perdura a noção errônea, sequela do paradigma deteriorado,
, espera-se o esgota-
mento da conduta solipsista na prática consoante a qual o agente político gozaria de insindicabilidade,
de atos, contratos e
procedimentos administrativos. Em vez a despeito do flagrante demérito das suas condutas ruinosas.
da discricionariedade
abso luta e incontrastável (ainda com
um), mister cobrar um
Situação que só tem servido para o exercício inescrupuloso
processo decisório, desde o iníci
o, vinculado a princípios e
do poder, numa sequência de insuportáveis danos materiais
direitos fundamentais das gerações e morais.
atuais e futuras, no cum-
primento diligente e expedito dos deveres Em contraposição, onovo paradigma da sustentabilidade
constitucionais.
afasta-se, por inteiro, desse mito da insindicabilidade e repõe
)
JUAREZ FREITAS
208 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9 | 209
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO
ADMINISTRATIVO

a imunidade no devido lugar, isto é, na defesa de opiniões |


palavras e votos. Sem espaço para dúvida razoável, ninguém cico e psíquico. Inadmissível, assim, embaraçar ou embar-
pode, no sistema constitucional E ar empreendimentos produtivos pelo só gosto kafkiano de
democrático, restar livre para
perpetrar danos injustos a quem quer retardar ou pelo medo de decidir de acordo com o melhor
que seja. O ressarei A eito. Por certo, o império do medo e da burocratização
mento de dano ao erário será imprescritível. Em acepção negativa) não se coaduna
Nessa medida | com a entronização
toda condescendência se mostra inad
missível, seja na ava- z PE do princípio constitucional da sustentabilidade, nas relações
liação dos resultados diretos e cola
terais, seja na crítica dos "administrativas.
processos.
| Assim, para ilustrar, é meta — como figura na Agenda
proposta no Capítulo 4 — a reforma (não apenas cosmética)
9.3.4 Resolução administrativa dos conf “do processo de licenciamento ambiental, no intuito de fazê-lo
litos * cooperativo, razoável e federativo. Inaceitável, à luz do novo
Quarto traço: a transição de modelo à paradigma, o indescritível congestionamento que converte
calcado quase exclu-
sivamente na repressão (normalmente
apenas no papel ou " a máquina pública em serva de interesses subalternos, com
voltada para os menos poderosos) para paralisias ilógicas, tão nocivas como as acelerações temerárias.
uma gestão pública de
ênfase na resolução administrativa de
conflitos interpessoais, E O novo ciclo das relações de administração muda tudo:
O novo paradigma tem a ver, portanto
, com o aperfeiçoamento — não se admitem gargalos, nem se abusa do “administrado”, em
das técnicas consensuais ou negociais,
tais como os termos de Be torturantes processos administrativos e judiciais. Investe-se,
ajustamento da conduta, a mediação e a concilia
ção, em
vez da | firmemente, no controle sinérgico, integrado e com duração

aposta infrutífera nas repressões (or
dinariamente) de fachada, " razoável.
que pouco ou nada agregam às melhoras
comportamentais.

"936 Prevenção e precaução, em lugar da gestão que


9.3.5 Fim do burocratismo paralisante
chega tarde
Quinto traço: a transição de relações
administ
rativas É] Sexto traço: a transição da gestão pública que “chega
truncadas pelas exigências labirínticas
do burocratismo sádico | tarde” para aquela que confere senso de urgência às medidas
para a observância, em tempo útil, do
direito fundamental à de prevenção e de precaução,*“* de ordem a introjetar, mais do
boa administração, com a devida prop
orcionalidade, isto é, que nunca, uma mirada antecipatória nas relações adminis-
sem exce ssos alarmistas ou omissões pres
tacionais. Ness
a trativas. Para ilustrar, a fiscalização do trabalho deve coibir as
Ótica, o poder/dever administrati
vo deixa de ser a expressão condições ocupacionais cancerígenas.” Nesta seara, a com-
deformadora dos desejos do agente polí
tico e se alça ao pata- preensão abrangente em sede de causas e concausas não pode
mar de cumprimento dos deveres proc
essuais e substanciais
de promoção do bem-estar de gerações
, com fluidez e em
tempo razoável.
E “é Vide, a respeito de critérios da União Europeia sobre precaução, Maria Cristina Cesar de
A rigor, no ciclo emergente, progride-se Oliveira, in Princípios jurídicos e jurisprudência socioambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2009,
do atraso para-
sitário rumo à qualificação técnica p. 59-60.
(não tecnocrática) da esco- *” Vide a pesquisa Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho. Rio de Janeiro:
lha de políticas públicas, com focona promoção INCA, 2012, segundo a qual vários tipos de tumor estão diretamente relacionados ao am-
do bem-estar biente de trabalho.
JUAREZ FREITAS , :
210 | SUSTENTABILIDADE = DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 211
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTR
ATIVO

ser obnubilada, de forma alguma, pelos inebriantes conselhos e se defende e merece deferência é o ativismo que realiza,
dados pela famigerada inércia dos omissos.“ mor exemplo, a defesa enérgica dos consumidores de serviços
Dito em outras palavras, imprescindível assumir, úblicos, a fixação hábil de limites prudenciais
em. à alavancagem
todos os campos, a responsabilização, sem ilusões cogniti dos bancos ou, ainda, a redução drástica das assimetrias de
Vas, /
pelas condutas omissivas e comissivas em decorrência da falta "informação, que geram os referidos males da seleção adversa
significativa (não apenas residual) de observância dos deveres
» edo risco moral.**
de prevenção e de precaução. A pouco e pouco, progredir E É que, como se viu na grande crise de 2008 (e em seus
se-á da gestão passiva e cúmplice para uma sincrônica gestão
: desdobramentos até hoje), o necessário estudo dos impactos
tempestivamente interruptora do nexo de causalidade
de * regulatórios precisa contemplar, na análise de Tiscos, os impac-
dramãs e tragédias perfeitamente evitáveis.
| tos derivados da não regulação e/ou da regulação inoperante.
* Emsuma, revela-se capital incorporar mudanças institucionais
9.3.7 Defesa da constitucionalidade de ofício e da * do Direito Administrativo, com a adoção de nova atitude her-
menêutica, reorientada para a obtenção de benefícios, diretos
regulação do. Estado Sustentável | eindiretos, de natureza intertemporal.
Sétimo traço: a transição de relações administrativas,
ainda bloqueadas ou “capturadas” por sectarismos patrimonia
-. 9,4 Principais mudanças na hermenêutica das
listas, rumo ao Direito Administrativo ativador de princí
pios:
fundamentais | relações de administração
p F ma . .

da Carta, na construção do desenvolvimento


mm.

durável, sem se enredar na efemeridade governamental.


Nessa e
Para consolidar as transições aludidas, útil arrolar deter-
medida, o Estado-Administração precisa atuar, nos
limites de minadas diretrizes hermenêuticas, amplamente aconselháveis
suas atribuições, como guardião da constitucionali
dade, não à consolidação do princípio constitucional da sustentabilidade,
se permitindo defender o indefensável. Com efeito, o contro
le na seara das relações administrativas.
de constitucionalidade não é privativo ou monopólio do Poder
Primeira diretriz: urge conferir primazia ao controle de
Judiciário.” Não se mostra remotamente plausível compactuar
qualidade das escolhas do administrador público. Por esse
com o redutor exclusivismo, que gera leniência quanto às in-
ângulo, sugere-se vivamente o controle primordial de efi-
constitucionalidades dolosas ou culposas, produzidas pela
ciência e eficácia das decisões administrativas, no sentido de
própria Administração.
* verificar a consonância da performance concreta do gestor
Como nunca, devem ser enaltecidas as práticas admi- com os objetivos fundamentais da Carta. E não se diga que
nistrativas equilibradas do Estado Constitucional, com o desi-
são demasiado fluidos para serem conhecidos ou que servem
derato de exorcizar a cultura de inconstitucionalidad
e. Parece, apenas como matéria de política legislativa. Para exemplificar:
no entanto, que prepondera, em algumas mentes, um tipo de
em termos de controle das políticas públicas, insofismável,
ativismo que não serve: o ativismo excludente. Ao revés,
o como visto, que já existem indicadores alternativos de quali-
dade do desenvolvimento, em vez das abordagens voltadas
*B Vide, sobre omissivismo, o Capítulo 8.
* Vide Juarez Freitas, in O dever de aplicar a Constituição
de ofício. Revista Latino-Americana
de Estudos Constitucionais, v. 10, n. 12, p. 27-52,
nov. 2011.
0 Vide Frederic S. Mishkin, in Moeda, bancos e mercados financeiros, op. cit., p. 124-137,
21 2 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

CAPÍTULO 9 | 213
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRA
TIV! o

iva! e de baixo carbono. Nesse prisma, a suspeita de


minação persecutória ou de favorecimento espúrio, in-
ve em matéria ambiental, será concomitantemente uma
neita de improbidade administrativa.
SRD Se gunda dirret
etrriz
iz:: urge contempl
ar a repercus . Quinta diretriz: urge resguardar o pluralismo não dog-
social das decisões ad
ministE rativas, ou Seja, 5 são sa me “urico, de modo que o apriorismo acrítico seja abandonado, uma
só se d
7 que as primazias jurídicas funcionam só à primeira vista.
m, tomar um princípio em detrimento desmesurado dos
ais ou adotar qualquer unilateralismo pernicioso, significa
virtuar a motivação/argumentação administrativa. Por
qua vez, a abertura de eventual exceção tem de ser rigorosamente
otivada, pois, no geral das vezes, impacta direitos e interesses
gerações atuais e futuras.
Sexta diretriz: urge manter uma atitude de coerência,
gundo a qual deve-se intentar, invariavelmente, a harmo-
mização entre as demandas geracionais e os textos normativos, numa
aTerceirae diretr
diretriz;
iz: Urge ter predis: posi terpretação/aplicação das regras que respeite, no círculo
os conflitos. Dito de ção à resolução admi- ermenêutico, a primazia dos princípios fundamentais, isto
outro modo, uma re é, que realize a hierarquização tópico-sistemática sustentável
solução
e princípios e regras. Nessa linha, a boa decisão administra-
"tiva exige análise e síntese, sopesamento objetivo, em lugar
“do impulsivismo enviesado, típico do paradigma da insacia-
à bilidade. Ainda: reclama fundamentação intertemporal, já que
toda decisão administrativa tem de estar afinada, a longo
prazo, com os indicadores do desenvolvimento perdurável.
À Sétima diretriz: urge ter atitude proativa, segundo a qual
| admite-se que, embora sem completude cabal e predeter-
* minada, o sistema administrativista é completável dialeticamente
* por seus operadores, com o acréscimo de soluções úteis à direta
* aplicabilidade dos direitos fundamentais (CF, art. 5º, 81º), nota-
Sas
o O
461
Vide, P: ara uma a
tentativa clássi No
damente no atinente à sustentabilidade multidimensional, nos
ca de construçã= a
mercadoria , mas
como uma com
ur tidade y A 1 do
o de
L eop
ética da terra ”
Pp!old LM AS, a nd
/ que não a vê como * moldes aqui defendidos, sem qualquer renúncia ao processo
Co u inty ty Alma ny AC:
: with
Wi
P
-

*º Vide, sobre economia verde e inclusiva, o portal Vitae Civilis - Cidadania e sustentabili-
=

York: UNDESA DSD; UNE


P; UNCTAD, 2012 dade. Disponível em: <http://www-vitaecivilis.org.br>. Vide, ainda, o portal Green Economy
bi

Coalition — Prosperity for All within One Planet Limits. Disponível em: <http://www.
É
tm

1 greeneconomycoalition.org>.
214 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 215
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

legislativo. Nunca é demais frisar que decorre da Constituiçã ambito das relações internas e externas do Estado-Adminis-
o direito à boa administração pública, independentemente ração. Reciprocamente, essa abertura faz reconhecer que a
de pontuais lacunas da disciplina legislativa. Certo, força E: stão pública, mormente em face do mundo digital,1º precisa
convir que uma das condições para gerar desenvolvimento ser arejada para propiciar uma sindicabilidade alargada das
durável é a presença do mínimo de estabilidade de regras, políticas públicas.
e padrões, porém a estabilidade não se confunde com zona. A, Nona diretriz: urge atentar para a exata e fiel observância
de conforto procrastinatório, muito menos com das finalidades intergeracionais do sistema constitucional, de
a singela
preservação patética do status quo poluente, ainda
mais “sorte a admitir que as normas administrativas somente são
quando se sabe que os maiores perigos são os criado | bem interpretadas e aplicadas quando vistas como desdobra-
s por nós:
mesmos, como demonstrou judiciosamente Rachel Carson " mentos dos objetivos intertemporais para os meios, nunca o
em sua obra clássica.“ Quer dizer, sob a égide da Carta, F

* contrário. Não se pode ofuscar o dever (autônomo) de correção


não
adianta invocar a máxima de que lei é lei, porque, sobre * equitativa intergeracional, instado o agente público a prestar
ser
tautológica, trai irresponsabilidade moral repulsiva,
a qual. “contas de custos baseados numa visão de longo prazo.% A
não se coaduna com o patamar evolutivo associado à Ótica
da salvaguarda nuclear do direito ao futuro é imperativa para a
sustentabilidade, que exige conformação plena
com o Direito | Administração e dimana, antes de mais, da compreensão do
como totalidade dinâmica e requer considerações
axiológicas Direito Administrativo como interligação de normas e fins
adicionais. Desse modo, a título ilustrativo, não ú superiores, conducentes à proteção tutelar do valor intrínseco
deveria chocar
que, em determinados casos, defenda-se o recon
hecimento * detodos os seres vivos. Tal interligação sistemática viabiliza
do direito à concessão de uso de bem público para * “mutações” legítimas e apresenta o condão de acrescentar
fins de
assegurar a efetividade do direito fundamental à habitação. eficácia aos direitos fundamentais, às vezes geometricamente
Mais: a função (social, ambiental, econômica) da propr (ainda que sem saltos). Dessa atitude em prol da susfenta-
iedade
dos bens públicos (e privados) revela-se indescartável. Uma bilidade nas relações de administração, emana também o
postura funcionalmente recomendável é, sempre e sempr cumprimento (não mera evocação retórica) dos objetivos de
e,
aquela organicamente ativadora do plexo inteiro dos direit justiça ambiental, acima de formalismos datados.
os
fundamentais. Significa, na gestão pública, a promoção planejada e siste-
Oitava diretriz: urge adotar uma atitude contínua de aber- mática do bem-estar, no presente e no futuro. Com efeito, ignorar
tura, que faz o Direito Administrativo permeável à aparição de o poder subjetivo do bem-estar“” costuma ser erro mortal.
novos princípios, notadamente à vista de sofisticadas e com- O bem-estar merece ser o critério forte de aferição da qualidade
plexas exigências regulatórias, por exemplo, em matéria
de
internalização dos impactos ambientais negativos. Os citado
s
princípios da prevenção e da precaução exemplificam bem “5 Vide a Lei de Acesso à Informação — Lei nº 12.527/2011, art. 3º, IH.
o
fenômeno. Supõem admitir, sem restrição míope, que o Direit “6 Vide, para a crítica aos que calculam custos baseados na visão de curto prazo, R. Buckmins-
o ter Fuller, in Operating Manual for Spaceship Earth. New ed. Baden: L. Miller, 2008.
Administrativo existe, com senso de inovação e 8
167 Vide, entre outros, Jingping Xu e Robert E. Roberts, in The Power of Positive Emotions:
cautela, para Ifs a Matter of Life or Death — Subjective Well-Being and Longevity over 28 Years in a
evitar danos e assegurar o bem-estar multidimen
sional, no General Population. Health Psychology, v:29, n. 1, p. 9-19, Jan. 2010. Aí se adota bom acordo
semântico sobre os componentes do bem-estar: “This study longitudinally examined
Subjective Well-Being (SWB) and its components, namely, Positive Feelings (PF, including
global life satisfaction [GLS]), domain life satisfaction [DLS], and positive affect [PA]) as
*% Vide Rachel Carson, in Silent Spring, op. cit.
obra chave do movimento ambiental. well as Negative Feelings (NF) as predictors of longevity in a general population”.
216 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9 217
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

multidimensional da gestão
pública. Assim, Por exemplo, noai,
dido exame da matriz de transpor
tes, afasta-sea velha a
de discricionariedade des
vinculada, que não tem
sequer em situações extremas, permiih
a interdição de determ
escolhas públ icas, destituídas da mínima inadas:
razoabilidade Sob a influência direta do princípio constitucional da
stentabilidade, indispensável reconfigurar o tema da regu-
lação. É que as falhas de regulação são geradoras de insusten-
abilidade sistêmica, por definição.
FP Ostradicionais modelos regulatórios, que deveriam ter
promovido a correção tempestiva das “falhas de mercado”
(assimetria de informação, externalidades negativas, compe-
Hicão desleal e falta de transparência), fracassaram de maneira
rotunda, inclusive nos países centrais, já por deficiências no |
“campo operacional da regulação (redundâncias e sobreposi-
ções pleonásticas), já pela grave ausência de disciplina, como
dro, noções como discricio
nariedade (vinculada a Pri “sucedeu em relação ao mercado bancário paralelo, que se
e Ro fundamentais), expectativa ncípios |
de , “instalou com espantosa facilidade tóxica, como diagnosticou
(a tonteira esm dir eit o e direito
aece e, em alguns casos, à Paul Krugman.'*
o direito se impõe)
Por sua vez, os modelos voltados ao combate às “falhas
* de governo" (na linha de George Stigler, com a “teoria da
à captura”) também contribuíram — ainda que involuntaria-
Ro em definitivo, do solo cul
mente — à desregulação alastrada, que tomou parte decisiva
tivado pela razão crítica na formação do nexo causal da grande crise. de confiança
ais mudanças de premis
sas hermenêuticas, con
radas em bloco, são pod side- mundial, ora em curso.
erosas ferramentas à
disposição da

voliti
ti vos que inibem as inaadi *? Vide Paul Krugman, in A crise de 2008 e a economia da depressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009,
diááve
veiis transformações
Õ jurídico- p. 168, a propósito do sistema bancário sombra (shadow banking system), que observou,
políticas. com acuidade: “Os bancos convencionais, que aceitam depósitos e são parte do Federal
Cs a Reserve, operam mais ou menos à luz do sol, com livros escancarados e com reguladores
1 olhando sobre seus ombros. Já as operações das instituições não depositárias, que
a O são
468 Ed bancos de fato, em contraste, são muito sombrias. Com efeito, até a eclosão da crise, parece
ia instit uti o no
eg Relatório Brun
I
na dtland, Report of the World que pouca gente se deu conta de como o sistema bancário sombra se tornara importante”.
Developmene t: Our Common Futu Commission.on
RE Ra re » Op. Op. cif.:Cif.: “4.31 , The
“4.31, The objecobjecti “> Embora não se deva menosprezar, a contribuição de George J. Stigler, in The Theory of
o era gentina nature of the t in-
tan Oblemsea globalenvironment/develo pare Economic Regulation. The Bell Journal of Economics and Management Science, v.2,n.1, p.3-21,
tor institutions, ; national and aa
internat
rnatiiona l that were establis
onal,
pations and compartmentalize i hed on : Spring 1971, certamente exagerou o fenômeno da captura: “The state — the machinery
Nes e duros doa and e SR d concerns, » G Gove
chan ges has been a Seltd ae to ” gen- and power of state — is a potential resource or threat to every industry and society. (...)
su ne change ed
themselves. The challenges are A central thesis of this paper is that, as a rule, regulation is acquired by the industry and
integrated, requiring comprehe both inter d.
nsive approaches and pat designed and operated primarily for its benefit”. Ora, é inegável que tal teoria denunciou
io pldipadando
a algo grave, mas conduziu à desregulação e aos seus devastadores efeitos.
ey

218 | JUAREZ FREITAS


SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO 2
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO
19

9.5.2 Conceito de regulação estatal


De maneira incontestável, a desregulação estatal revelou-
Por todos os motivos, a elaboração grad E uma aposta desastrada na farsa da resiliência infalível dos
ual de n
base administrativista de regulação estatal, no século o mercados (que não se confunde com a resiliência aqui defen-
“dida para O desenvolvimento). Na realidade, a resiliência de
(implicitamente, mercado mostrou-se uma ilusão monumental, que gerou reais
direito à boa regulação
imparcialidade, à transparência,”
. . . x
), ou seja, direito ]
A + X estragos sistêmicos.”
à prevenção e preco Falta construir, portanto, um modelo regulatório inter-
y ) 4

a proporcionalidade, à motivação,
à eficiência e à eficácia ai “disciplinar, com o aprimoramento do regime daqueles que
Estado- neini qind ã lato sensu.“2 Com 0
efeito, im porta não exercem a função regulatória indelegável, compreendida
sucumbir à regulação facciosa, “cap
turada”, “governativa” como inerência do “poder de polícia administrativa”, no
tendenciosa de qualquer matiz, tam
.

pouco incorrer nas crenças


.
ou I
“contexto da renovação global do Direito Administrativo,” que
falsas da concorrência perfeita, do
equilíbrio de mercado eem viabilize a universalização de bens essenciais e de serviços de
outras falácias inocentes ou nem
tão inocentes, assim como as qualidade,” com observância de indicadores de bem-estar e
arroladas por John Galbraith.“»
is À sustentabilidade exige cons
* sustentabilidade.” Com razão, Tony Judt assinala que “uma
istente arcabouço regul |
tório de longo prazo, pois, como adve
rte Amartya Sen, a E
de que a economia de mercado corr
ige a si mesma = eé re "45 Sem cair na falácia — apontada por John Kenneth Galbraith — de esperar demais do
ponsavel pelo afastamento da imp Federal Reserve, é certo que Alan Greenspan errou ao disseminar a ideia de resiliência
rescindível regulação -
ignorar ou tolerar atividades de mer infalível dos mercados. Vide o seu livro The Age of Turbulence: Adventures in a New World.
cado que seriam doc New York: Penguin Press, 2007. De outra parte, tem razão Paul Krugman, in A crise de 2008
até para o nem sempre compreendido ea economia da depressão, op. cit., ao apontar a “falta de tração do Fed (...) quando se trata
Adam Smith, 174 de tomadores mais arriscados” (p. 182). E acrescenta: “O Fed de Bernanke também tem
enfrentado o problema de, reiteradamente, estar atrasado” (p. 184).
“6 Vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op. cit,,
E a a propósSEE
ito, a Lei E de Acesso à Informação
— Lei nº 12.527/2011 especialmente o Capítulo 3, destinado à reconceituação do “poder de polícia adminis-
opn ne . ano mari na administrativa e o direito funda trativa”. No Capítulo 1, ao tratar dos princípios fundamentais de Direito Administrativo,
ação | » Op. cit. : Vide, també mental à boa Admi
imbém, m, Juar
Juarez Freitas, in O controle d; há sugestão de caminhos para que o Direito Administrativo da regulação não chegue tarde
E iaem os atos adn tr ; :
m pe ja com a incorporação
de reflexões sobre a eo demais. Daí a ênfase aos princípios cogentes da prevenção e da precaução./A propósito,
Aid ide novo modo de int: erpretar à á em maio de 2008, já tinha sido lançada por Henry M. PaulsoriJr. uma-proposta para alterar
e pratici ar o Direit
irei o Administra
ini tivo,i inclusive substancialmente o marco regulatório do sistema financeiro norte-americano. Trata-se
473
Vide
a:
John Kenneth Galbraith, in À do documento Treasury's Summary of Regulatory Proposal, buscando “market stability
economia das fraudes in
pi E o Companhia das Letras, 2004, co regulation, safety and soundness regulation associated with government guarantees, and
S prestigiosa À forma de
d fraude, , nossa business conduct regulation — can better react to the pace of market developments and
” RPE mais ele; ; ante fu i
numa “Teputação falsa e favorável $ encourage innovation and entrepreneurialism within a context of enhanced regulation”.
do Fed” (p. es Derco eo
ie Amartya Sen, in Capitalism j beyond Infelizmente, já era tarde, embora a mudança estrutural revele-se, ainda hoje, mais urgente
aa sé Ra cia the Crisi
risis. ; ,
“The implicit faith in theabi creo do que nunca.
» Which Is largely responsible for ção
Re the rem i “7 Vide, por exemplo, Antonio La Spina e Giandomenico Majone, in Lo Stato regolatore. Bologna:
a to ignore the activities of a ions i
E o E ma a dE ca H Mulino, 2000. Sobre as principais teorias sobre regulação, vide Jack M. Beermann, in
E do economic crisis is partly Administrative Law. 3º ed. New York: Aspen Publishers, 2010, p. 9-13.
: t O market
T tp processes, ; and the crisis
generated by a huge
y anxiety and lack of trust in the financ crisis isi now bei i “* Tomada a regulação como inerência do “poder de polícia administrativa”, em sentido am-
ial market and in businesses in Gb
e dA plo. O estudo à base de tal acordo semântico é desenvolvido no Capítulo 3 de nosso O
controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op. cit. p. 186-210.
happens, 5 these problems were already “2 Vide Joseph E. Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi, in Mismeasuring our Lives: Why
i
y ident ified ini the ei
ified
peni mto been neglected by those i GDP doesn't add up: the Report. New York: New Press, 2010, p. 10: “Another key message,
nicially who have a
diin the United Stateses,, and who inca ea and unifying theme of the report, is that the time is ripe for our measurement system to
have been e busy citing
iti Ad
shift emphasis from measuring economic production to measuring people's well-being;
And measures of well-being should be put in a context of sustainability”.
— ep
9 2 0 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO O FUTURO
CAPÍTULO 9 | 221
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINI
STRATIVO

"| Dessa maneira, numa espécie de superação parcial do


ema clássico dos Poderes, as entidades reguladoras inde-
e dentes passam a desempenhar determinadas atribuições
sad a autoridade legítima do Es f ndelegáveis na medição qualitativa e no acom
O pode ser o melhor de instituição intermediária panhamento
s políticas de longo prazo (inclusive fiscais).
j 7 Máximeapósa crise internacional da “bolha” imobiliária
e dos derivativos, reveladora de estridentes falhas do Estado,
2.5.3 O agente regulador ça reconhecer o papel regulatório voltado ao incentivo de
À pouco e pouco, com o red áticas alinhadas com o retorno social, como preconiza Joseph
esenho regulatório, começará glitz,“*º numa perspectiva reformista que se coaduna, em
a ceder O executivismo hip
ostasiado (sobretudo no pre ga medida, com a proposta de Agenda da Sustentabilidade.
cialismo, que se caracteriza s E
pela concentração unipessoa
algo imperial — das chefia l a Decerto, a competência, no tocante à regulação, apresenta-
s de Estado e de governo).
Feliz. "se emblemática situação de regime jurídico institucional, sem
tímidos, é verdade — de ati “descartar a esfera própria da autorregulação.“s Os próprios
nar para o papel de guardi
políticas de sustentabilidad ão d dirigentes gozam de estabilidade extraordinária, justamente
e, que transcendem os ma
na ciência de que não há ca ndat À * à vista desse liame institucional, não contratual. Nessa ótica,
minho defensável que não
consideração os interesses leve é E as considerações regulatórias, por serem de Estado, têm de
legítimos das gerações fut
Nesse ponto, sobreleva a uras ul “ser independentes em relação às ponderações exclusivamente
Valorização das atividades
conjunturais (de rarefeita racionalidade sistêmica), ainda que
aquelas e estas não sejam de todo excludentes.
O ponto é que o novo modelo de regulação intertem-
poral, em sinergia com os demais controles, deve corrigir, de

*8 Vide o testimony de Joseph E. Stiglitz, The Future of Financial Services Regulation. House
Financial Services Committee, Oct. 21º 2008. Sua proposta de reforma regulatória está
assentada nas ideias de que “financial markets are not an end in themselves (:..), the
problems are systemic and systematic” e nos seguintes princípios gerais: incentives —
“aligned with social returns”; transparency — “good information”; e competition — “balance
pliance — das “regras do jog between government and markets”. Vide, ainda, Marçal Justen Filho, in O direito
regu-
o”. latório. Interesse Público, v.9,n. 43, p- 19-40, maio/jun. 2007. Sobre a crise aludida, vide Martin
Wolf, in A reconstrução do sistema financeiro global. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009,
p. 198-
200: “(...) Parte das soluções para nossas dificuldades é limitar a escala dos desequilíbrios
4 V ide Tony
o J ud t , mm
macroeconômicos, uma vez que, não raro, eles são exacerbados pela debilidade financeira.
R citexõ
fl es
ões sobr
sobre
e u m século esquecido: 1 901-
01 2000. Rio de anei
J
À outra parte é operar o sistema financeiro de maneira a reduzir a tibieza, na hipótese
ro; Objeti Via,
Vi de Pet; e: rM. Senge
de correções macroeconômicas (...) precisamos imaginar um mundo diferente em que o
etal., Z in The Nece: Ssary
are Working Together
R EU oluti
t on am ow Indiv: idua
d lsI and Or 8 anizations
capital flua de maneira produtiva e segura para os países pobres”. E assinala: “(...) o bom
to Create a Sustaina
P. 9: “ThereO is no viable p path ble World. London: Nicholas governo é, portanto, o fundamento de qualquer sistema financeiro sofisticado” (p: 21).
forw: ard that does not take Brealey 2010,
into
i account the needs of future ** Em nosso sistema, por exemplo, a cooperação entre Comissão de Valores Mobiliários e
a ANBID merece ser avaliada como possível fonte de sinergias, desde que a regulação
estatal permaneça indelegável e não fuja de suas atribuições. Apenas para ilustrar, a CVM
deveria passar a ser ainda mais rigorosa quanto aos prospectos de fundos, assim como na
regulação dos clubes de investimento e, ainda, das auditorias privadas.
222 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO dA
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREIT CAPÍTULO 9
O ADMINISTRATIVO

preferência de modo preventivo, tanto as falha


s de Merca , “4 Características da regulação sustentável
como as falhas governamentais, ambas lesivas. Lógico,
não
se devem subestimar os riscos de “captura”, com Assentados tais pressupostos,
as suas col cumpre arrolar as prin-
nhecidas artimanhas e falácias. O que se defen is características da prescrita regulação estatal (no âmbito
de é que tais
riscos somente são amplificados quando autarquias reguladoras brasileiras, sem excluir a autorre-
não há verdadeira
autonomia regulatória, notadamente ação e a regulação que opera no seio da Administração
na seara ambiental,
Colima-se, desse modo, erguer, eta), nos seguintes termos:
a favor da sustentabilidade |
uma regulação isenta, firme, proba (a) A regulação sustentável precisa ser mais de Estado
e socialmente controlada,
na qual os reguladores, especialmente do que “governativa”, no sentido de o regulador
no caso de serviços
públicos delegados e na disciplina de exercer atividade típica de Estado Constitucional,
mercado, possam atuar
como indutores de trabalho decentes inconfundível com visões parciais do Poder Execu-
Sublinhe-se que, na ótica propo tivo. Logo, convém deixar sulcada a imparcialidade
sta, a regulação da sus.
tentabilidade é atividade de disciplina como tônica, sem lugar para o passivismo.
da atividade econô-
mica relevante ou de serviços públicos,
efetuada com relativa | (b) A regulação sustentável pode ser desempenhada
independência em relação à própria por entidades que não levam o nome de agências
Administração Pública,
em articulação, quando possível, reguladoras, porém importa que sejam autônomas,
com os mecanismos inter- |
nacionais de governança. técnicas e interdisciplinares, vale dizer, não subor-
Esta é a regulação que interessa. Contu dinadas às pressões espúrias e que exerçam tal
do, apenas será função precípua, em regime especial, contemplando
factível se, ao lado da democracia representa
tiva, houver pro- as relações de administração necessariamente num
-Bresso significativo no tocante ao princípio
da participação,” horizonte de longo prazo.
por exemplo, em audiências públicas antes
de toda resolução A regulação sustentável deve ser redutora de assi-
de cunho regulatório, sob pena de nulid
ade. Audiências pú- metrias (combatendo os problemas da seleção
blicas efetivas,“ não mera atividade de
consulta passiva ou de adversa e do risco moral) e promotora da correção
fachada, nem simples idealização mitológica
da participação.” de falhas do mercado e do governo. Ou seja, precisa
corrigir, em tempo razoável, as disfunções adminis-
ae aaa o documento A OIT no Brasil: trabalho trativas lato sensu, coibir fraudes, avaliar e informar
decente para uma vida digna. Brasília:
OIT, sobre os riscos de mercado.
“86 Vide, sobre mecanismos de governança
B. Stewart, in The Emergence of Global
global, Benedict Kingsbury, Nico Krisch
Administrative Law. IL] Working Paper
e Richard (d) A regulação sustentável deve observar o princípio
Global Administrative Law Series. 2004/1, da máxima transparência, isto é, precisa agir de
ci Vide, no ponto em que enfatiza o
princípio democrático da participação
interpretação constitucional, Stephen G. como guia de molde a afastar, inteiramente, a opacidade do pro-
Breyer, in Active Liberty: Interpreting our
cratic Constitution. New York: Knopf,
2005, especialmente p. 102-108.
Demo- cesso regulatório e a estimular a participação social.
a Esta é, para ilustrar, a melhor intelecção
públicas na ANTAQ e na ANTT.
da Lei nº 10.233/01, que disciplina as audiên
cias
Ademais, os reguladores não devem descurar do
: caráter inteligível
“2 Vide Julia S. Guivant e Philip Macnaghten
, in O mito do consenso: uma perspectiva
de seu trabalho, ou seja, não
-ta com- podem abusar da linguagem indecifrável no pro-
Sociedade, v. 14, n.2, p. 89-104, , jul./d
jul./dez.
ez
cesso de tomada de decisões. Não há disfunção


224 | JUAREZ FREITAS EA
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREIT
O ADMINISTRATIVO | 225

ciedade, por nada compreender emancipar, ao máximo, da ingerência de facciosismos,


sobre a atividade pois se pretende alcançar eficiente e eficaz regulação
regulatória.
é redutora de conflitos intertemporais e liberta, o mais
(e) A regulação sustentável dev
e cumprir, com Tigor
a Lei de Processo Administrati possível, das preocupações transitórias, próprias
vo: incide a Lé do emocionalismo
nº 9.784/99, inclusive quanto decisionista. No entanto, deve
ao dever de Motivação.
em todas as etapas. A eventual ser enérgica o bastante para exigir, com vigor
rejeição de Proposta ,
da sociedade precisa ser consisten medidas emergenciais (é o caso, para ilustrar, de
temente motiva. a ANS cobrar dos planos de saúde providências e
da. Ademais, o processo de
regulação deve observar.
a adequação entre meios e fins investimentos que impeçam o “apagão” de leitos
, com o emp
rego de
interpretação da norma administr hospitalares). o
ativa que “me. A regulação sustentável precisa assumir metas tra-
lhor garanta o atendimento do
fim público a que (1)
se dirige”. Dito de outro mod çadas pela lei, mas, antes disso, pela Constituiç
o, os reguladores ão,
devem assegurar o contraditóri ciente de que o descumprimento de políticas cons-
o e à ampla defesa | titucionalizadas pode render ensejo à responsabi-
(sem prejuízo de medidas cautelares dev
ida
mente lização, por conduta omissiva ou comissiva.
justificadas), com a abertura de
prazo para a corre- (0). A regulação sustentável guarda deferência à “re-
ção de falhas, superado o unilat
eralismo infrutífero serva de administração”“º e à “reserva da lei”, salvo
do Direito Administrativo dos séc
ulos anteriores. nas hipóteses de violação a princípios, objetivos
() A regulação sustentável exige rec
rutamento entre
aqueles que, além da reputação ilib e direitos fundamentais. Inovação regulatóri
ada (“ficha lim- a, se
pa”), possuem qualificação própri houver, terá de se conter'nos limites da juridicida
a para a regulação de
setorial
, sem o extravio partidarizante. sistemática. Quer dizer, a regulação não pode litigar
(g) Aregulação sustentável deve atuar contra a “reserva da lei”, mas conviver com ela pro-
de maneira sistê- dutivamente.
mica*” (exemplo: viáveis os convên
ios entre os regu-
ladores, sem prejuízo de convênios
entre regulação É (k) A regulação sustentável, sem sobreposições pleo-
eautorregulação, desde que, como násticas viciosas, tem de atuar de modo concaten
sublinhado, não ado
representem escapismo do car e sincrônico, isto é, em sinergia com as atividades
áter indelegavel- gerais de controle, sob pena de prosseguirem os
mente estatal, nem se criem
zonas de sombra).
(h) A regulação sustentável, par impasses licitatórios e as paralisias, por exemplo,
a evitar os insinuan-
tes ou ostensivos conflitos em matéria ambiental.
de interesse, precisa se
(1) A regulação sustentável deve exercer papel “arbitral
público”: os entes reguladores, perante eventuais
U tdo ce E MALE A a
conflitos, podem versar, em matéria de competên
“0 Vide o art. 2º da Lei nº 9.784
/99, -
“! Sobre o tema, vide Juare
z Freitas, in Discricionaried
ade administrativa e o direit
cia própria, sobre direitos disponíveis (acessíveis
boa Administração Pública, op. cit. espec o fundamental à
ialmente o capítulo sobre a era da
nistrativa. É motivação admi-
“2 Vide, a respeito de atuação sistê ',
mica, a proposta de Agenda da *º Vide, entre nós, Arícia Fernandes Correia, in Por uma releitura do princípio da
Capítulo 4. Sustentabilidade, no legalidad
e.ad-
ministrativa e da reserva de administração. Dissertação
(Mestrado) — Faculdade de Direito,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2008.
ER ci a

22 6 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO | 227

públicas, não podem cair no omissivismo cúmplice.


A autorrestrição regulatória não litiga com a atuação
dinâmica incidente sobre os setores regulados e
fecunda de conciliação, transa fiscalizados.
ção e termo de con
pro
misso, com resultados animad (q) A regulação sustentável deve adotar a concepção
ores. q
(m) A regulação sustentável de discricionariedade administrativa expressa-
motiva, de maneira co j
“ &ruente e explícita, todas mente vinculada ao primado dos direitos funda-
as suas decisões que 10
tarem direitos ou interesses mentais, inclusive das gerações futuras. Por isso,
de gerações atuais a a inserção primacial de objetivos constitucionais,
futuras.
na pauta regulatória, é obrigatória em face do art.
3º da Constituição, mas também para concretizar a
sustentabilidade em toda aplicação normativa (de
da falácia das falsas causas.“
a
princípios e regras) e em toda gestão de processos.
(o) A regulação sustentável precis Nesse aspecto, convém não idolatrar o conceito
a intervir, com.
balanceada isonomia e equidade interger de discricionariedade técnica, como se fosse insin-
notadamente em
acional À dicável.
temáticas ambientais: nas áreas
reguladas, relevante combater (r) Aregulação sustentável das atividades econômicas
as práticas preda- sistemicamente relevantes e dos serviços públicos
tórias, a par de coibir concentra
ções injustas e deve ser norteada pela ponderação adequada de
domínios abusivos de mercad
o, e, sobretudo, não
chegar tarde, por exemplo, custos e benefícios, diretos e indiretos, bem como
ao evitar os males da |
poluição letal do ar, que mata milhares pela avaliação acurada dos riscos,“* de maneira a
de pessoas propiciar retornos proporcionais aos setores regu-
Por ano, em nosso país.
(p) A regulação sustentável deve |
lados, mas evitado o efeito indesejável da fuga
superar a cultura
do
Peso excessivo emprestado ao Pod regulatória, que mantém setores estratégicos à mar-
er Executivo, gem de qualquer controle. Ademais, os princípios
dado que, especialmente no presid
encial
ismo, tal.
tendência gera instabilidade e vol
atilidade nas.
regras do jogo
, afugentando ou congelando osin
tidores produtivos, em vez de prop ves- | *» Vide, para aprofundar, Juarez Freitas, in Discricionariedade administrativa e o direito funda-
DP mental à boa Administração Pública, op. cit. capítulos 1 e 2.
iciar a segurança
jurídica para investimentos ben * Vide o documento Improving the Administrative Process: a Report to the President-Elect
of
éficos de longo. the United States. Washington, DC: American Bar Association; Section of Administrative
Prazo, próprios da economia de Law and Regulatory Practice, 2008: “(...) our report urges you, first, to make prompt
baixo carbono.. appointments of well qualified individuals to serve in your administration. Second,
De outra parte, convém reiterar: os reguladores, we urge you to join forces with Congress to rationalize and streamline the rulemaking
sem usurpar o papel dos formulado process. More specifically, in overseeing the rulemaking process, you should (a) support
res de políticas the use of sound scientific risk assessment, (b) aggressively advance the use of information
and communication technologies, (c) insist that agencies receive the funding they need
for excellence in science and technology, and (d) seek to improve the management of the
ad sa o CATA
regulatory process. Third, we urge you to ensure that when federal agencies actto preempt
“* Vide, 4 a propósito, , o Capítulo 6, , que trata das falácias
fc state law, they should address these issues in explicit terms and act only after appropriate
da-dedisão. q i
as e armadilhas 3
no processo de tomada consultation with affected state officials. Fourth, we urge you to support ABA-sponsored
legislation to reform the adjudication provisions of the Administrative Procedure Act”.
29, 8 JUAREZ FREITAS
;
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO | 229
da prevenção e da precaução
merecem introjens. do contraditório e da ampla defesa, assim como da
renovada pelos reguladores, que
não pode rea duração razoável do processo, a par da resposta con-
perestimar, nem subestimar os riscos, Vedatl q
retrocessos. sistente a todas as alegações do “administrado”, prefe-
A regulação sustentável tem de 28 rencialmente antes da tomada de decisão regulatória
respeitar o dire; que possa afetá-lo;
fundamental à boa administr
ação pública co
preendido = Com inspiração O direitoà regulação isonômica ou imparcial, isto
no art. 41 da Ca
dos Direitos Fundamentais de é, aquela que não pratica discriminação negativa de
Nice e, sobretidl
na Constituição brasileira — qualquer tipo, nem se deixa mover por rivalidades,
como o direito fundal
mental à administração públic vinditas ou sentimentos escusos, e, além disso, cumpre
a eficiente e efic '
proporcio nal cumpridora de seus deveres o incontornável escopo de reduzir, afirmativamente,
transparência, motivação cod as iniquidades sociais e regionais;
, imparcialidade á 1h
peito à moralidade, à par
ticipação social e à le q - O direito à regulação proba, que veda condutas etica-
res ponsabilidade por suas con mente não universalizáveis, omissivas ou comissivas,
dutas omisstuadh
com issivas.+” Trata-se de sín inequivocamente desonestas, aí incluídas as que
tese qui somatgi )
de direitos subjetivos públic demonstram complacência com os deslizes associados
os e deveres cond |
pondentes, , que inadmitem a às arbitrariedades do “coronelismo” ;“º
antijurí
urídica
dica iné
dos reguladores. O direito à regulação eficiente (respeitadora da com-
Eis
E a regulação a ser paulatina E
mente alcançada. É patibilidade entre os meios empregados e os resultados
não há como deixar de reconh que:
e cer, no tocante ao papeler
regu- pretendidos), eficaz (respeitadora de compatibilidade
latório do Estado Susten
tável, determinado rol de direit entre os resultados efetivamente alcançados e os men-
inalienáveis, notadamente:
4 suráveis objetivos traçados pela Constituição), econo-
- O direito à regulação transp
arente, que implica coibir micamente ciosa, fiscalmente responsável e redutora
a opacidade (negadora da dem
ocracia real, por defi- de conflitos intertemporais,”º que só fazem conspirar
nição), salvo nos casos em que
o sigilo se apresentar contra o desenvolvimento perdurável.
justificável e, ainda assim, não defini
tivamente Assim, o controle sistemático das relações administra-
dado o sigilo eterno); -
ne tivas precisa densificar, de modo consistente, o princípio
0) direito à regulação dialógica
, com a referida pro- constitucional da sustentabilidade. Bem por isso, a regulação
cessualizaçã o administrativa, isto é, com
as garantias

PRO E e ANT,
GERA |
Vide Juarez Freit; as, in
E 499
Vide, sobre o tema, Victor Nunes Leal, in Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime
Discricion ariedade administra
j nistração Pública, op. cit, Pp. tiva e o direito fundamental representativo no Brasil, op. cit.
22-23. à boa Admi-
500
“8 doSobre ad ano Spco
o tema, Ou seja, sem abdicar de apontar caminhos, já que o mercado, por si só, é incapaz de se
a em face do art. 41 da C arta
de Nice, vide, portar com a racionalidade ingenuamente postulada por muitos. Em contrapartida,
Z-Arana Mufioz, in El buen gobie
de instituciones públicas. Nava rno y la Eur confira-se a tentativa de solução conciliatória (intervenção e liberdade de escolha) na pro-
rra: Aranzadi, 2006. Vide
in diritto ad una buona + também, Diana-Urania Galet posta (a ser bastante aperfeiçoada) de Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein, in Nudge:
amministrazione eurói ea ta,
procedimentali nei confronti come fonte di essenziali garanzie Improving Decisions about Health, Wealth, and Happiness. New Haven: Yale University
della Pubblica Aim inistrazione.
Pubblico Comunitario, v. 15, Rivista Italiana di Diritto Press, 2008. Entre nós, sobre conflitos intertemporais e o problema da miopia temporal,
n. 3-4, P. 819-857, 2005
vide Eduardo Giannetti, in O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros, op. cit.
230 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULOS * | 231

pública”! das atividades de mércado


sistemicamente rel am | bolhas especulativas (reedições, com tintas con-
vantes (tais como as atividades bancárias ou Os Pl
saúde) e das delegações de serviços anos de. temporâneas; da ilogicidade espantosa da crise
públicos te m de Passar holandesa das tulipas) também precisam ser com-
por transformações de fundo, com a incorporação
paradigma, fortemente aplicável desse batidas rigorosamente.
ao Direito Administralil (b) A regulação investe em competência técnica com-
Entretanto, para o êxito da renova
da concepção, a ati patível com a sustentabilidade multidimensional,
vidade estatal regulatória, partic
ularmente a exercida pelas Í isto é, investe na qualificação interdisciplinar dos
autarquias regulador as, precisa experimentar reconf
sensiveis. Ei-las, a título de fix iguraçõ agentes, além de zelar, no caso das autarquias,
ação: “a pela efetiva autonomia, sem que o “contrato”! de
(a) A regulação, numa exp
ressiva e compenetrada gestão, previsto no art. 37, 88º, da CF, represente
mudança de estilo, precisa
abandonar a hipertrofia ingerência indevida ou desvirtuamento do controle.
das práticas de imposição uni
lateral e autoritária de performance.
rec onhecendo a primazia da conciliação, da
tragem pública, da mediação arbi (c) A regulação deve propiciar reequilíbrio justo e
e da negociaçã dinâmico entre retornos econômicos e sociais,*%
ética *º sem abdicar, quando
impositivo, do é com a salvaguarda do direito à intangibilidade
poder-dever de sancionar (co
m pleno contradith da equação econômico-financeira, bem como da
Ho, mas sem tibieza, inércia ou procra
nação) sti partilha de ganhos e benefícios, diretos e indiretos,
Claro que toda condescendência
com a degradação com o usuário. Ademais, sem ser demasiado inter-
(direta e indireta), contrária ao
bem-estar e ao egui- ventiva, a regulação tem o compromisso estrutural
líbrio dinâmico, terá de ser err
adicada. Fraudes e de fomentar a economia de baixo carbono, com as
Ss
ande
dl a
TomieE
RA = ME
Ke
inovações correspondentes.
a e ad dna E
no pm : esente trabalho, em sentido
a Tessao pode administrativista (sem descon: (d) A regulação de atividades econômicas relevantes
' ter acepçãoo ampla,
ampla, abarcando
ab. d a regulaçãoã legal), ou
mento do poder-dever de Testringir
o exercício dos direitos de Mm
sei ] precisa ser intensa e socialmente controlada, até
pe
para evitar o excesso intrusivo do Executivo e/
ou a sua “captura”. No ponto, está certo Cass R.
;
Tatian É 7 CristiRR NUASini, Maria Fernanda a Pi Pires de Carvalho Pe É Sunstein, ao defender novo status do usuário na
Belo
! à Martins
Horiz onte: ; da Costa
Fórum Camarão, in Licitações e contratos: aspectos relevantes. 2, ed pe
, ; 2008:
independentes: fundamentos e seu
; Flori ano de Azeved
i êncii
relação regulatória.” Além disso, o. controle social
regime fhidico. a
Justen Filho, in O direito das agênc ars NO
ias reguladoras independentes. Sã
* A depender do acordo semântico, é manifesto que não se trata de contrato, mas simples
oras.
Ba , 2003; e Pedro Henrique Poli compromisso de cumprimento de metas. Importa é que tais metas não se confundam com
a bi público concedido. Porto Alegre: Sínte Figuei i T a interferência indevida sobre a indelegável atividade regulatória.
ç : ES x edad econômica se, 1999, Pp. PR a P
e democracia : o debate norte-ameri caro
EM *s Qualquer semelhança com o conceito esposado de homeostase não é mera coincidência.
7 e dergio Guerra, in Agências reguladoras: São Paio: dilema a 56 Vide Christopher MceCrudden, in Social Policy and Economic Regulators: Some Issues
governança em rede. Belo Horizont d izaçã e ia piramiaala from the Reform of Utility Regulation. mn: Christopher McCrudden (Ed.). Regulation and
502
e Fórum 2012, ZASÃO PDS pi
a
Vide, a,a propó
ra sito de tais tendê
Mancia! s, o Capít Deregulation: Policy and Practice in the Utilities and Financial Services Industries. Oxford:
e u lo 1 de nosso O controle
' dos atos adminini
istrativos Oxford University Press, 1999, p. 275-291.
503
Vide Paulo Valério1 Dal Pai Moraes e Márcia Amaral 57 Para o contexto americano, vide as sugestões de Cass R. Sunstein, in O constitucionalismo
Ro agentes públicos e advog Corrêa de Morais, in A negociação ética
ados: mediação, conciliação, após o New Deal. In: Paulo Mattos (Coord.). Regulação econômica e democracia: o debate
ases, estilos e ética da negoc arbitra: gem, ] princípios, técnic
iação. Belo Horizonte: Fórum, as, norte-americano, op. cit., p. 136. Embora, de fato, aposte no reforço de poder e controle do
2012 Executivo em matérias regulatórias, acerta quando propõe “reformulação das doutrinas
a32 |! [UAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO
CAPÍTULO 9
ADMINISTRATIVO | 233

— empreendido pela democracia participativa


ou De fato, seria erro grave, nessa altura, deixar de reco-
direta — não exclui os demais controles expressos
ou implícitos, mas a eles deve ser somado, nhecer a regulação como independente, na relação plurilateral
sinergi. das parcerias público-privadas e das concessões “comuns”,
camente. Nesse diapasão, em vez do temor exces-
sivo de “captura” ou dos graves desvios levantados notadamente quando se almejam relações confiáveis de longo
pela chamada teoria econômica da regulação, à razo. Naturalmente, tudo há de ser concebido com sensatez,
postura constitucionalmente sustentável consiste Ea vez que os investidores produtivos de longa maturação
em incentivar a sociedade a assumir maior prota- demandam o ambiente isento dos severos riscos de alterações
gonismo, estimulando-a a construir padronizações abruptas no cenário negocial. :
voluntárias, a exigir a universalização de serviços Não se trata, bem de ver, de postular aquela indepen-
essenciais e a fazer frente às falhas de merc dência que redunda em clima de hostilidade entre a entidade
ado e de
governo, ao mesmo tempo. reguladora e o poder concedente. Ao contrário. Os reguladores
(e) No crucial momento de redefinição do sistema precisam evitar qualquer usurpação, pois devem promover
re-
gulatório brasileiro, força consagrar as atividades uma solidária atuação conjunta a favor da prestação eficiente
regulatórias como típicas de Estado, mais do que e eficaz da atividade estatal, reendereçada à multidimensional
de governo. E mais: o modelo plurilateral (parceiro sustentabilidade. EE
público, parceiro privado e usuário) revela-se insu- No modelo sugerido, ao menos como ideal, a regulação não
ficiente, pois não se coaduna com a política de Estado guarda identidade monista com o titular do serviço, isto é, com
Constitucional, e turba a sua credibilidade. o parceiro público — opção de capital relevância, ainda mais
Faz-se
indispensável acrescentar um polo no redesenho no presidencialismo. A par disso, a regulação deve resguardar
das relações jurídicas de delegação, a saber: além o mínimo de estabilidade institucional em meio à turbulência
do
parceiro público, do parceiro privado e do usuário, do mundo volátil.
útil acrescentar a figura do autônomo regulador,
sem debilitar a figura do controle externo. Além do
mais, o fato de o regulador não realizar a 9.6 Licitações e contratações sustentáveis:
definição
da política setorial em nada lhe subtrai — ao revés
— a competência para fiscalizar os demais polos. obrigatoriedade de ponderação dos custos e
Opta-se, de conseguinte, pela regulação como polo benefícios, diretos e indiretos
relativamente autônomo, não apêndice nem braço
da Administração Direta. 9.6.1 Incorporação cogente de critérios paramétricos
de sustentabilidade para aferir a proposta mais
do direito administrativo para colocar os cidadão
s no mesmo plano das entidades
vantajosa para a Administração Pública
reguladas”.
* Vide George J. Stigler, in A teoria da regulaç
ão econômica. In: Paulo Mattos (Coord.).
Como elemento chave do novo Direito Administrativo
Regulação econômica e democracia: o debate norte-a
mais complexa e reconhecendo insuficiências
mericano, op. cit., p. 23. Para uma visão (norteado, concomitantemente, pelo direito fundamental à
da teoria em tela, na mesma obra, vide Sam
Peltzman, in À teoria econômica da regulaç
ão depois de uma década de desregulação, boa administração e pelo princípio constitucional da susten-
p. 8I-124,
* Sobre as vantagens da padronização voluntária, tabilidade), as licitações da União, dos Estados, do Distrito
vide William Edwards Deming, in Saia da
crise: as 14 lições definitivas para controle de qualida
de. São Paulo: Futura, 2003, p. 210. Federal-e dos Municípios, em todos os Poderes, precisam
JUAREZ FREITAS
234 SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9 | 235
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTR
ATIVO

incorporar, ao escrutínio das propostas, os incontorná


veis ! Eis, então, as premissas de fundo, a serem aplicadas às
critérios paramétricos de sustentabilidade para ponderar d
maneira motivada, os custos e os benefícios sociais, licitações e contratações públicas:
ambientais;
as e
L
(a) a sustentabilidade é “valor supremo”, assim como
econômicos. Custos e benefícios, diretos
e indiretos, com estimativa |
dentro da máxima objetividade mensurável, das é princípio de envergadura constitucional, deontolo-
externalidades, gicamente aplicável às contratações públicas, sem
Apenas assim, será aferida a real vantagem para a Admi- exceção.
nistração Pública, para além das avaliaçõ
es centradas nos (b) dispõe-se de condições normativas suficientes para con-
custos de curto prazo, distorcidos e
unidimensionais. “a cretizar esse princípio constitucional, desde que se
Força vestir, para tanto, nos certames
licitatórios, as lentes invista numa gestão adequada de riscos, no âmbito
da sustentabilidade social, ambiental, econ
ômica, com todasas das contratações administrativas.
correlações éticas e jurídico-políticas. Não
se trata de simpleg (c) as licitações, com a observância justificada dos cri-
faculdade, tampouco de modismo passagei
ro, como teima em térios de sustentabilidade, encontram-se forçadas
objetar o conservadorismo redutor. Trata-se
de assumir, vez a conferir, desde a tomada de decisão, prioridade
por todas, que, em qualquer processo administ
rativo, o Estado aquelas políticas que ensejam o bem-estar às gera-
tem de implementar as políticas constitucion
alizadas, com q ções presentes, sem impedir que as gerações futuras
desempenho da função indutora de boas práti
cas sustentáveis, produzam o seu próprio bem-estar, sob pena de
ao lado da função isonômica de oferecer igua
lação formal E abuso da discricionariedade.
substancial de oportunidades.
(d) as licitações sustentáveis trabalham com modelos.
Vale dizer, as licitações e contratações
públicas, nos paramétricos de estimativas razoáveis dos custos
próximos tempos, obrigatoriamente terão (com idônea pesquisa de campo), diretos e indiretos,
de ser exami-
nadas num horizonte intertemporal dilatado, sociais, ambientais e econômicos, na ciência de que
mais respon-
sável e consequente. E não só: impõe-se
que todos os atos o melhor preço é aquele que implica os menores impactos
e contratos administrativos passem a ser sind e externalidades negativas e os maiores benefícios globais.
icados À base do
princípio deontológico da sustentabilidade, que
não é simples
declaração programática. É norma vinculante
, orientada para
procedimentos e resultados, de cuja força 9.6.2 Sustentabilidade e contratação administrativa
normativa são
inferíveis tegras comportamentais aptas a
depurar as cores, Apenas para recapitular: a Constituição, em seu preâm-
ora cinzentas, da gestão pública. Mais do que
“verde”, quer-se bulo, consagra o desenvolvimento como “valor supremo”,
uma licitação com todas as cores limpas.
ladeado pelo bem-estar, pela igualdade e pela justiça. Mas
Não há como tergiversar ou fingir indiferença: a con- qual desenvolvimento? A leitura sistemática da Carta, aqui
tratação administrativa, para ser infralegal e legít
ima, terá de ser empreendida, indicou que só pode ser o desenvolvimento
sustentável. Como sublinhado, as gera
ções futuras são, desde qualificado como sustentável, sobretudo em função dos arts.
já, titulares de direitos fundamentais
(CF, art. 225), de modo 3º, 170, VI, e 225, da CF.
que o longo prazo, acompanhado do cont
role preventivo, Além disso, como observa Amartya Sen, a “avaliação
torna-se horizonte ineliminável no julgamen
to das decisões do desenvolvimento não pode ser dissociada da vida que as
administrativas.
pessoas podem levar e da verdadeira liberdade que desfrutam.
JUAREZ FREITAS
236 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AQ FUTURO CAPÍTULO 9 | 237
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

O desenvolvimento dificilmente pode ser,visto apenas


com tais atividades que o Estado Constitucional colima incentivar
relação ao melhoramento de objetos inanimados de conve.
E contratações da Administração Pública. Aplica-se, nesses
niência, como um aumento do PIB (ou da renda Pessoal
) ow moldes, o princípio da sustentabilidade, sem carência de inter-
a industrialização — apesar da importância que possam ter
mositio legislatoris, à esfera dos atos, procedimentos e contratos
como meios para fins reais”. De fato. Não custa sublinhar. qministrativos, que precisam contribuir, doravante, para a
o desenvolvimento é multidimensional (socia
l, ambiental “qualidade de vida das gerações presentes, sem acarretar a
econômico, ético e jurídico-político). Tais
dimensões estão supressão do bem-estar das gerações futuras. a
entrelaçadas indissoluvelmente e precisam impr
egnar as re- F Com efeito, o princípio constitucional da sustentabilidades
lações de administração em geral. Bem
observadas as Coisas, não deixa de obrigar pela eventual ausência de regras legais
O que prescreve O constituinte é o desenvol
vimento intra e expressas, razão pela qual, na via administrativa, qualquer
intergeracional, promotor do ambiente limpo
e da equidade visão débil do princípio, em termos eficaciais, revela-se lesiva,
social, dado que ambientes degradados! e iníquos
afetam ne. configurando retorno ao culto (seletivo) do legalismo, com os
gativamente o conjunto da sociedade, em espec
ial no atinente sacrifícios humanos associados. Dito de outra maneira, sem
à saúde.'2 Quer dizer, o constituinté
pretende, inclusive nas admitir o retrocesso hermenêutico, o Estado-Administração
relações administrativas, fomentar um
desenvolvimento sistê- tem o dever de aplicar a Lei Fundamental de ofício, construindo e
mico e integrado, o qual, sem aceitar postura froux
a ou omissi- reconstruindo as regras instrumentalmente voltadas a vivifi-
vista perante a natureza, determina
razoabilidade à atuação car o princípio constitucional da sustentabilidade, entendido
humana que precisa gerar, com a melhora
das ferramentas b
"em consórcio necessário com os demais princípios.''s Mais:
de gestão,3 uma prosperidade contínua, não
o simplório e toda discricionariedade administrativa encontra-se plenamente
utili tarista crescimento econômico, medido no não menos vinculada à sustentabilidade, ou seja, não se depende de regras
simplório PIB. legais por acréscimo (ainda que esclarecedoras leis tenham
Sem dúvida, existem atividades econômicas surgido recentemente, como será enfatizado a seguir) para a
venenosas
que provocam mais danos do que valor agreg aplicação imediata desse princípio constitucional. O contrá-
ado.'!! Não são
rio representaria arbitrariedade por omissão. Justamente de
“o Vide Amartya Sen, in A ideia de justiça, op. cit.,
p. 380. seu caráter vinculante, surge o lastro que ampara, por exem-
2 Vide, sobre o conceito de poluição como degrad
atividades que direta ou indiretamente prejud
ação da qualidade ambiental resultante de plo, o ato administrativo que fixa limites razoáveis para as
iquem a saúde, a segurança e o bem-estar, o
art. 3º, III, da Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente.
*2 Vide Richard G. Wilkinson e Kate Pickett,
in The Spirit Level: Why Greater Equality Makes
Societies Stronger. New York: Bloomsbury Press, n. 5, p. 1649-1675, Aug. 2011. Trata-se de rigoroso estudo sobre o custo social da aço
2010. Mostram, com dados convincentes,
que a iniquidade causa danos à sociedade inteira. do ar, em termos de saúde e produtividade, apontando aquelas indústrias (soli e e
Comparam pessoas de mesma renda,
educaç ão ou classe, entre vários países, combustion, sewage treatment, stone quarrying, marinas, and oil and coal-fired power plan o
e constatam,
não por acaso, que apresentam
melhor saúde (inclusive mental) aquelas que nas quais os danos ambientais são superiores ao valor agregado. Ademais, propõem, co
vivem em sociedade menos desiguais.
*º Vide, a propósito, a pesquisa Six Growing Trends pertinência, a inclusão das externalidades ambientais no system of national accounts.
in Corporate Sustainability: an Ernst & Young
Survey in Cooperation with GreenBiz Group. “5 Vide STF. ADI nº 3.540-MC, Pleno. Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 1º.9. 2005. DJ, 3 fev. SEE
London: EYGM, 2012, p.3:“1, Sustainability
reporting is growing, but the tools are still develo em cuja ementa se lê: “O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado
ping; 2. The CFO's role in sustainability
is on the rise; 3. Employees emerge as a
key stakeholder group for sustainability de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos
and reporting; 4, Despite regulatory uncertainty, programs internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo
greenhouse gas reporting remains strong,
along with growing interest in water; 5. Awaren equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia”. ad
ess is on the rise regarding the scarcity of
business resources; 6. Rankings and ratings matter to company executives”. és Trata-se — convém reiterar — de diretriz vinculante e de pronta concretização admi-
54 Vide Nicholas Z. Muller, Robert Mendelsohn e William Nordha nistrativa, jurisprudencial e legislativa, que se encontra entrelaçado a outros no
Accounting for Pollution in the United States us, in Environmental como prevenção e precaução, e que guarda sinergia, por ala
Economy. American Economic Review, v. 101, asp pone
poluidor-pagador. Vide, a propósito, CF, art. 225, 83º, e Lei nº 6.938/81, art. 4º, ;
JUAREZ FREITAS
238 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 9 239
SUSTENTABILIDADE E O NOVÓ DIREITO ADMINISTRATIVO

emissões de poluentes ou que limita


o cancerígeno benz cedefinir, na íntegra, o perfil das contratações públicas.
Nesse
em líquidos.” Note-se bem: não se trata pecto, importa consignar, nos
de o administra contratos administrativos,
empreender inovação legislativa,
nem de cometer Usurpa esponsabilidade compartilhada pela destinação final dos
síduos e, quando couber, pela logística reversa. Não se trata
de matéria de maior ou menor predileção do administrador,
“odavia de incontornável obrigação legal e constitucional.
Nessa ótica, nas licitações e contrata
ções administrativas Sempre para ilustrar: o reúso de águas, a aquisição de
imperioso assumir que a proposta
mais vantajosa será sempre veículos que utilizem combustíveis renováveis, a exigência
aquela que se apresentar a mais apta a
gerar, direta ou indiretamente, de plano de gerenciamento de resíduos sólidos e a adoção de
o meno r impacto negativo e, simultaneame
n te, os maiores benefícios “medidas de poupança de energia não são simples escolhas,
econômicos, sociais e ambientais. ; bao!
Daí segue que o sistema de ava
"escravas dos juízos de conveniência e de oportunidade. Por
liação de custos, sob | outras palavras, são providências que não dependem do âni-
pena de violação ao princípio
constitucional em apreço, terá mo benigno ou esclarecido do administrador. Apresentam-se
de ser reformulado e incluir
os custos indiretos, hoje seg * como resultantes deontológicas do princípio constitucional
mente negligenciados, no intuito
de estimar os dispêndios da sustentabilidade e das regras que, expressamente ou por
futuros a serem efetuados em fun
ção de previsíveis impactos * inferência, ajudam a densificá-lo. No limite, o desperdício
sistêmicos das decisões administrati
vas tomadas. Vale dizer pode configurar, se doloso, uma vulneração da probidade
antes de licitar, não se podem mai
s ignorar, candidamente, | administrativa. A obra errada e inútil, o serviço nefasto e o
os custos ambientais, sociais e econôm
icos
de cada escolhi produto nocivo compõem um quadro inadmissível de vio-
administrativa e seus previsíveis
efeitos colaterais. Como se lações ao princípio.
sabe, a má licitação (quase) sem
pre começa antes da abertura. Além disso, importa ter presente, em nome da judicio-
do proced imento. sa calculabilidade dos impactos, que, não raro, o custo para
Outro ponto: com o seu gigantesco investir, por exemplo, no monitoramento do uso de recursos
poder de contratação
cumpre ao Poder Público influenciar a matr
iz produtiva, num fódi hídricos ou da energia costuma significar investimento de “x”,
de convergência para que os for
necedores, em geral, comecem mas pode propiciar, ao longo de anos, uma economia da or-
a se tor nar vigilantes quanto ao ciclo de dem de várias vezes “x”. Também os financiamentos públicos,
vidas? dos
produtos e
serviços — desde a obtenção de mercê do princípio em tela, encontram-se compelidos, nor-
matérias-primas e insumos
passando pelo processo produtivo mativamente, a inserir considerações precisas de viabilidade
e consumo até a disposição
final. Trata-se de mudança de gestão
que ostenta o condão de no longo prazo, de ordem a balancear, transparentemente,
os custos, diretos e indiretos, bem como os riscos associados
as externalidades negativas. Não somente: o financiamento
(público e privado) tem de contemplar a sustentabilidade,
em todas as suas facetas, inclusive para evitar o ingresso em
empreendimentos fadados à “tragédia grega” da insolvência.
** Nesse as aspecto, , indispensá vel assim
imiilar que a boa admini
Assim, por exemplo, medidas cautelares dos Tribunais de
Constituição em tempo útil e de ofício ã i
*2 Vide a Lei nº 12.305/2010, art, 3º,
. DITO AD
i
Contas são impositivas para coibir os desvios nos financia-
IV, sobre o ciclo de vida do produto.
mentos públicos nas contratações administrativas.
240 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO | 241
Na esfera licitatória, com efei
to, impõe-
se imediar.
mente induzir boas práticas (um dos papeis » enxofre, por exemplo. Melhor se a preferência recair sobre
fulcrais do di sículos elétricos, híbridos ou movidos a biocombustível,2
sustentável), tais como a redução dra
mática do uso de a
tos nocivos e tóxicos, com o incentivo me adotem rigorosos controles de emissão,” no intuito de .
de técnicas e propai
alternativas. Nessa linha, por exemplo, as mer Feduzir a poluição do ar, especialmente nos grandes centros
endas ese
devem ser compostas exclusivamen rbanos, fenômeno que, frequentes vezes, assume proporções
te de alimentos isento
agrotóxic os (seriamente certificados), com Vatais. Lógico, cumpre que a origem dessas alternativas seja,
mais antioxidar ah
e sem cancerígenos. socialmente, sustentável. Ninguém pode aceitar, por exemplo,
Os edifícios públicos, ainda para a etanol oriundo de trabalho escravo.
ilust
construídos de maneira inteligentemente rar, precisam ser | Adicional constatação: apresenta-se inescapável a im-
sustentável não
apenas com a adoção de pontuais tecn
Ed

" plementação, também por intermédio dos certames licitatórios, das


ologias de fachada. Por
.
É

exemplo, uma construção em área políticas públicas que valorizem a mobilidade urbana, ainda
contaminada simplesmente |
não pode ser aceita, sem que se pro “mais após a Lei nº 12.587/2012, com o incentivo deliberado e
ceda a completa (e, nã
Taro, onerosa) descontaminação firme ao transporte público de qualidades? e, de outra parte,
prévia. Mais: os edifícios
obrigatoriamente devem ser “verdes” " com a adoção preferencial de determinados modais de trans-
, obtendo a certifica ão
cabível, com ganhos operacionais | portes (ferrovias e hidrovias) para o escoamento de pessoas e
e preservacionistas Não
importa que seja um pouco mais caro
, de início, se acarret ] produção, haja vista a saturação crítica do modal rodoviário.
redução média expr essiva no custo de operação e max * Como se afigura irrefutável, o trânsito, nas metrópoles,” é
do bem-estar. Nessa linha, o selo imiza 5 ,
“verde” (“Leed”, “A nal estressante testemunho da falta de planejamento sistêmico,
outro) pode começar a ser cautelosamen
te ala n pe Adil que se revela, a cada dia, mais insustentável.
nistração e cobrado pelos controla
dores. É que os edifícios Enfim, tais exemplos são suficientes, por ora, para
verdes” consomem menos energia, cui
dam do descarte e d * colocar em destaque o papel que o Estado-Administração
redução de resíduos, diminuem as
emissões de cluenç
utilizam a vegetação para reduzir
a temperatura (eventual. consonância com o princípio positivo da sustentabilidade
mente, “telhado verde”), empregam
materiais oriundos de multidimensional. Numa frase: a sustentabilidade vincula. |
locais próximos, assim: como podem
utilizar equipamentos
avançados (como o elevador de fre
nagem rege nerativa) que
contribuem à eficiência subordinada
à eficácia. Bem por md | Vide, por exemplo, sobre o tema, Luís Augusto Barbosa Cortez (Coord.). Bivetanol de cana-
Os projetos básicos e executivos, na ) de-açúcar: P&D para produtividade e sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010.
contratação deco e 52 A certificação, dotada de credibilidade, assume caráter decisivo. ; |
serviços de engenharia, devem con
templar as opções redu- “3 Vide o Comunicado do IPEA 113 - Poluição veicular atmosférica, set. 2011, p. 24, que aposta |
toras dos custos de manutenção e de em alternativas tecnológicas limpas e, em lugar de políticas contraditórias que favorecem
operacionalização, não o transporte individual, postula a prioridade do transporte coletivo.
apenas os de construção. 4 Vide, sobre o sistema intermodal, Sérgio Besserman Vianna, José Eli da Veiga e Sérgio |
Ainda: Os veículos a serem adquiridos Abranches, in A sustentabilidade do Brasil. m: Brasil pós-crise: agenda para a próxima dé-
pelo Poder Público
“haverão de ser os menos poluentes, cada. Rio de Janeiro; São Paulo: Elsevier; Campus, 2009, p. 320.
não emitindo níveis nocivos 5 Cidades fazem esforço meritório para vencer gargalos, como Copenhague e Oslo. Em toda
parte, exige-se acentuada mudança de concepção e de planejamento dos centros urbanos,
» Vi muitos dos quais verdadeiramente impróprios para a vida digna.
a :
ne ilustrar, a Ra FR .
de Itaipu, no Programa Cultivando * Para ilustrar a reciprocidade causal entre as múltiplas dimensões, vide a pesquisa Bene-
qa Água Boa, em parceria
pio lindeiros ao lago, , com a vanços nos
unicipios fícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 2010. Vide, ainda,
gri ra orgân projet
jj os de educa
ed çãoã dm ambient
i al e
ica e com repercussão expressiva na o estudo intitulado Saneamento: desafios para expansão dos investimentos. Brasília: CNI,
merenda escolar sem agrotóxico
2011.
JUAREZ FREITAS -
242 SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 243
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

Não se pode esgrimir com a discrici


onariedade para deixar Nesse enfoque, podem-se catalogar as regras censif
de cumprir os ditames do princípio.
doras do princípio da sustentabilidade (ou do desenvol-
Logo, numa primeira conclusão,
consigne-se que não se E nto sustentável), aplicáveis às licitações e aos contratos
trata de simples faculdade, mas de obri
gação constitucional elegal ri trativos, em três grandes grupos: (1) regras legais; (ii)
realizar as licitações e contratações
administrativas sustentáveis, Es mistas expressas ou decorrentes do poder re-
em todos os Poderes e por todos os Poderes, Dito J
gulamentar e (iii) regras interpretativas inferíveis do sistema
de outro modo,
o dever de efetuar contratações púb
licas sustentáveis exige a que servem para colmatar pontuais lacunas.
consti tucional,
reconformação de comportamentos:
guiado pelo imperativo ” Convém grifar: revela-se equivocada qualquer espera
fundamental da sustentabilidade, gestor precisa, em
relações de administração, pro todas as excessiva por adicionais| regras expressas, uma vez q ue a
mover o bem-estar das gerações * demora, nesse caso, pode ser cor rosiva
j eficácia
daEae ap rdo
icáci nuclea:
presentes, sem inviabilizar o bem-es
tar das gerações futuras, princípio constitucional. Enfatize-se a vincula
cujos direitos fundamentais são, des gos per
de logo, plenamente re- do sistema, a qual não pode ser ofuscada ou Eb
conhecidos pelo ordenamento jurídico : sl e:
. sidade ou pela inércia administrativa Me
Nas licitações e contratações públ
icas, o Estado-Admi- . o Estado-Administração aa pode pas RS, ne a
nistração tem de ser ineditamente diligente,
na
proteção ativa eres adaptativos, sob a alegação pt
do direito ao futuro. Assentado esse pio no ep
ponto, cumpre notar que Docas Ra
o controle mais significativo dos atos as no altar pagão do dé /
, procedimentos e con-
tratos adm inistrativos é o da eficácia (CF, , a Ega
art. 74), em
lugar da O os urídicos, ri natureza instrumental
simples eficiência ou da mera lega oi e
lidade (CF, art. 37). Como contraditoriamente, desservir à eficácia do
Vist
o, q eficiência, em situações paradoxais,
pode até produzir mais Encontram-se destinadas a propiciar uma cata Pardo
velozmente o insustentável. Por isso, a densific
ação do
princípio da dos princípios, objetivos e direitos fundamentais. Enisagos
eficácia (entendido, aqui, como a obt Pois bem: no primeiro grupo de regras (1), P E
enção de resultados e pro-
cessos compatíveis com os objetivos evocar, a título ilustrativo, a Lei de Mudanças ira : e
fundamentais da Carta,
não apenas aptidão de produzir efei oe Eb a poa penis
tos no mundo jurídico) nº 12.187/2009). Tal GR
é que importa à sustentabilidade. O celeridade, 1vol
Estado-Administração não imulem, com
pode prosseguir insuficiente e ineficaz na Does eonblogins; predispostos a contribuir para pane
proteção ativa dos direitos
fundamentais das gerações presentes nomia de baixo carbono, assim como para a Eee a
e futuras.28
estabelecimento de critérios seguros de preferência, nas o Hi
públicas, para aquelas propostas ue la na
5 Trata-se de variação do conceito,
tório Brundtland, Nosso futuro comum
centrado
em necessidades, contido no citado Rela- economia de recursos naturais (art. 6º, a ote-se:
: relatório da Comissão Mundial
sobre Meio Am-
de sustentabilidade, aqui defendido,
é o de princípio constitucional que
independentemente de regulament determina,
ação legal, com eficácia direta e
sabilidade do Estado e da socie imediata, a respon- 1ãe, para
Vid, aprofundar, , J uarez Freitas, in À sit áti
ão sistemática
interpretação irei
do direito, op. cit,Ci 4 P P. 228-
dade para a concretização solidá
material e imaterial, socialment ria do desenvolvimento
e inclusivo, durável e equânime,
inovador, ético e eficiente, no intuit ambientalmente limpo, 50 Vide,
i OSIto,
a proposi it , a: as recomendações do T CU, em au: dit orla
; racional
operacio! sobre políticas
: pu-
o de assegurar, no presente e no futuro,
bem-estar. o direito ao ns ca: se mudanças climáticas, in TC 026.061/2008-6, Acórdão 2.462/2009, Rel. Min. Aroldo

“28 Vide, à propósito, entre outros


, Johannes Dietlein, in Die Lehre E gs
Schutzpflichten. Berlin: Duncker von den grundrechtlichen 5 Vi : Q
6 7 XIL da Lei nº
2
12.187 /2009, ao estabelecer, entre os instrumentos a olítica
und Humblot, 2005. ide o art.

Mudança do Clima, as medidas existentes, ou a serem cr iadas, -.) dentre


Nacional sobre
244| JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO


CAPÍTULO 9
ADMINISTRATIVO | 245
dispositivo, os critérios de preferência devem
ser aplicados até
para a simples autorização e, q fortiori, para demasiado pobre e restritiva, em termos sistêmicos, exigindo
a celebração dos
contratos públicos, que requerem estabili "menos do que o princípio constitucional prescreve (por exem-
dade e Pressupõem.
alta previsibilidade das condutas. o é matéria eminentemente de sustentabilidade social a
Outra regra densificadora, alojada E eência de acessibilidade, quando se considera que o país
no corpo da Lei de
Licitações, alterada pela Lei nº
12.349/2010,º determina quea ão pode, sem sacrifício do verdadeiro o a
licitação “destina-se a garantir a observ descurar do bem-estar de milhões de pessoas portadoras de
ância do princípio cons-
titucional da isonomia, a seleção da * deficiências).
proposta mais vantajosa |
para a administração e a promoção 8 a a controvertida Lei do Regime Diferen-
do desenvolvimento nacio-
nal sustentável.” Quer dizer o legislad “ciado de Contratações (Lei nº 12.462/2011), teve o cuidado de
or infraconstitucional
reconhece a interdependência dos “repetir, no seu art. 3º, que aslicitações e contratações, ne
princípios da isonomia e
da sustentabilidade nas licitações " em conformidade com o RDC, deverão observar o princípio do
públicas. Como é lógico,
isonomia e sustentabilidade (soc desenvolvimento sustentável e, mais do que
ial, econômica e ambiental) isso, no seu art.
são princípios a serem compatibiliz 4º, fez constar inovadoramente que, nas licitações e contratos,
ados e de aplicação obri-
gatória conjunta. | terá de ser observada, entre outras, a diretriz de “busca da
. « sr

Verdade que, há muito, o art. * maior vantagem para a administração pública, considerando
12 da Lei de Licitações,
determ inava que, nos projetos básicos e
projetos executivos i custos e benefícios, diretos e indiretos, de natureza econômica,
de obras e serviços, seja considera
do, entre outros requisitos, social ou ambiental, inclusive os relativos à manutenção, ao
o impacto ambiental, assim como a fun
cionalidade e a ade- " desfazimento de bens e resíduos, ao índice de depreciação
quação ao interesse público.» Entr
etanto, igualmente certo | econômica e a outros fatores de igual relevância”. Trata-se
que existem, até hoje, prédios
públicos, portos e rodovias que de exigir a avaliação, pelos controles interno e externo, dos
precisam ser regularizados, simple
smente porque operam custos, diretos e indiretos, a serem parametricamente considerados.
sem licença ambiental.* Como quer que-seja, repu
tar a sus- Naturalmente, a referência abrangente a custos econô-
tentabilidade como somente amb
iental seria uma leitura micos, sociais e ambientais é categórica e oportuna tradução,
pasto Seo E ADS 3 em seu amplo espectro, do princípio constitucional da susten-
as quais o estabelecimento de critérios
de preferência nas licitações e concor tabilidade. Mas não só: no art. 10 admite-se, com a pertinente
blicas (...) para as propostas que propi rências pú-
ciem maior economia de energia, água
e outros motivação, na contratação das obras e serviços, a remuneração
“2 Vide Jessé Torres Pereira Junior
, in Desenvolvimento sustentável:
a nova cláusula geral das
variável vinculada ao desempenho da contratada, com base
contratações públicas brasileiras. Intere
verdade, a Lei nº 12.349/10 veio dar
sse Público, v. 13, n. 67, Pp. 71, maio/jun.
2011: “Em em metas e critérios de sustentabilidade estipulados no instru-
cobro à omissão do regime legal geral
contratações (...) que não explicitava das licitações e "Ê mento convocatório e no contrato. No art. 14 diz-se que, nas
(...) o que já decorria da Constituiç
vinha sendo alvo de regras em leis setori ão da República e
*º Vide, a propósito, as recomendaç
ais e normas infralegais específicas”. licitações, poderão ser exigidos requisitos de sustentabili-
ões do TCU a respeito do sistema
ambiental, cobrando relatório conso de licenciamento dade. Não se de trata, porém, de faculdade, mas de poder-
lidado dos impactos mitigados e
não mitigados,
009.362/2009-4, Acórdão 2.212/2009, dever. O mesmo se diga do art. 19, ao determinar que o
Rel. Min. Aroldo Cedra
“* Nesse aspecto, força conferir as recent z.
es portarias interministeriais, que se
julgamento pelo menor preço ou menor desconto considere
em tornar mais razoável o proce empenharam
sso de licenciamento ambiental,
situações graves, em portos e rodov assim como regularizar o menor dispêndio da administração, contemplados os custos
ias, por exemplo, que ainda opera
Mudanças mais profundas fazem
-se necessárias, entretanto, para
m sem licença. indiretos na definição desse menor dispêndio.
impacto ambiental uma verdadeira tornar a avaliação de
Portaria Interministerial nº 419, de
avaliação de sustentabilidade. Vide,
especialmente, a Contudo, a consagração da sustentabilidade, no plano
26.10.2011.
f
das regras legais, não cessa por aí. Entre os objetivos da Política
246 JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINIS
TRATIVO | 247

Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010, art. 78 x, É. a manutenção e operacionalização da edificação, ao lado da
figura a prioridade obrigatória, nas aquisições e contratações, Putilização de tecnologias que reduzam o impacto ambiental.
governamentais, para produtos reciclados e recicláveis e bens | Como se nota, o ato administrativo em apreço nada mais
serviços e obras que considerem os critérios compatíveis com faz do que detalhar, de forma inicial, relevantes mandamentos
padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis | "derivados do sistema. Por sinal, no caso de bens e serviços, o
Prioridade, aqui, tem de ser lida de acordo com a Primazia art. 5º deixa estampado, didaticamente, que as administrações
da substância sobre a forma. Quer dizer, sempre que possível à poderão” exigir que os bens sejam constituídos, no todo ou
optar entre um ou outro bem, a escolha legítima só poderá “em parte, por material reciclado, atóxico, biodegradável ou
recair sobre aquele que estiver em sintonia com as exigências. » que sejam observados os requisitos ambientais para a obtenção
globais da sustentabilidade. Não se admite esposar retorica- » de certificação do INMETRO como produtos sustentáveis ou
mente o sentido fraco do termo prioridade, porque se impõe 4 de menor impacto ambiental em relação a similares. Nova-
descartar os produtos que não apresentarem as citadas caracte- "mente, a despeito da literalidade, entretanto, não se trata de
rísticas, sobremodo perante alternativas com preços razoáveis * mera faculdade, mas de obrigação, eis que o princípio da
e condições técnicas abalizadas para atender os requisitos da sustentabilidade impõe prevenção e precaução.“ No ponto,
sustentabilidade. O que se objetiva, nesse diploma, é acelerar aliás, a instrução normativa não somente faz remissão a
a transição para os negócios “verdes” e, com isso, para novos outros atos administrativos (e.g., Resoluções do CONAMA,
padrões de consumo, uma vez que os métodos usuais (business Resoluções da ANVISA, normas do INMETRO, etc.), mas
as usual) simplesmente podem tornar a espécie humana "cuida de prestigiar princípios, por assim dizer, miscíveis com
a sustentabilidade, como é o caso da economicidade. Nessa
inviável.
linha, prescreve corretamente que, antes de iniciar o processo
O segundo grupo (ii) é o das regras administrativas ex-
de aquisição, a Administração Pública precisa verificar a dis-
pressas, as quais, a seu modo, também visam a concretizar
ponibilidade e a vantagem da reutilização de bens, por meio
o princípio constitucional da sustentabilidade, no exercício
de consulta ao fórum eletrônico de materiais ociosos.”
do poder regulamentar. A título de ilustração, cumpre citar Dito de modo sintético, tal ato administrativo, ainda que
a Instrução Normativa nº 1/2010, da Secretaria de Logística,
mereça ser aperfeiçoado, revela-se vetor útil de aplicação do
do Ministério do Planejamento, que dispõe sobre os critérios princípio positivo da sustentabilidade, que determina condutas
obrigatórios de sustentabilidade na aquisição de bens, contra- estatais voltadas ao desenvolvimento duradouro, ambiental-
tação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal mente limpo, eficiente, eficaz e ético, socialmente equânime,
direta, autárquica e fundacional. Com acerto, esclarece o ato
administrativo que tais critérios, no atinente às especificações,
“s Por isso, convém enfatizar que, a rigor, não se trata de faculdade, mas de poder-dever,
devem constar no instrumento convocatório, “considerando os haja vista que o art. 225, 81º, V, da Carta, estabelece que se impõe ao Poder Público con-
processos de extração ou fabricação, utilização e descarte dos trolar a produção e a comercialização de “substâncias que comportem risco para a vida,
a qualidade de vida e o meio ambiente”, o que implica não permanecer inerte e con-
produtos e matérias-primas” (art. 1º). A par disso, remete ao descendente com práticas nocivas contra os seres humanos e os seres vivos em geral.
art. 12 da Lei nº 8.666/93, e desdobra a regra legal, orientando-a “e Vide, sobre prevenção e precaução, Paulo Affonso Leme Machado, in Direito ambiental
brasileiro. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. Vide, por sua defesa do “constitucionalismo
no sentido de que as especificações e demais exigências do pro- administrativo, que favorece uma abordagem precaucional”, Patryck de Araújo Ayala, in
jeto básico ou executivo, para contratação de obras e serviços Devido processo ambiental e o direito fundamental ao meio ambiente. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011, p. 403.
de engenharia, precisam ser elaboradas visando à economia 57 Vide, entre outros atos administrativos, o Decreto nº 7.404/2010, art. 80, V.
248 | JUAREZ FREITAS
"
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO 9 | 249

de modo a assegurar, no presente e no futuro, as con diga 4


efetivas para o bem-estar. Regras simi q "redefinição da filosofia licitatória, ao cobrarem imediatamente
lares existem ou dev
exist ir no âmbito dos Estados, Municípi o exame motivado de custos e benefícios, diretos e indiretos,
os e Distrito Fede A
sendo lícito sublinhar que regras gera em termos econômicos, sociais e ambientais, de maneira para-
is” já se encoii metricamente convincente.-
perfeitamente acessíveis para que as cont
ratações pública Com efeito, indispensável inovar nos critérios de julga-
passem, de pronto, a ser sustentáveis,
em todos os Pode a =» mento e controle. Não é lícito negligenciar:que a sustentabi-
e esferas.
Entretanto, caso se constate rema
q lidade representa — ao contrário do que dizem os seus críticos
nescente omissão d "superficiais — um potencial ganho de eficiência, com a redu-
Tegra legal ou administrativa expressa,
restará o caminho dé ção significativa de custos, às vezes no plano imediato. Não
extrair o intérprete-administrador ou
o controlador, por for ] por outro motivo, a sustentabilidade deixa de ser, gradativa-
“de inferência, as regras do terc
eiro grupo (iii), isto é, aque
cons truídas, por assim dizer, pelo aplicador mente, o ardil para ganho de imagem ou de reputação, para se
que não se furta da converter numa estratégia disseminada de agregação de valor
compromisso de oferecer, motivadament
e, a sua contribuição para a Administração Pública e para as próprias contratadas. .
à eficácia crescente dos princípios cons
titucionais. A não ser Afortunadamente, afloram sinais de percepção mais
assim, uma suposta falta de regras seria
usada como arma aguçada e esclarecida, pois começa a se difundir a noção de
contra
a força vinculante do sistema constitu
cional, arma que que a sindicabilidade das decisões administrativas haverá de
nenhum agente público idôneo tem o porte para
carregar. se estender no tempo e no espaço, para contemplar múltiplos
. Em suma, conclui-se que existem regr
as suficientes (dos *
três grupos citados) para se considerar efeitos, numa permanente reavaliação,” com o reforço da pro-
plena e imediatamente gramação, do planejamento e do monitoramento, no tocante
aplicável O princípio constitucional
da sustentabilidade nas aos impactos nos meios físico, biótico e socioeconômico. É
licitações e contratações administrativas brasilei
ras. que os critérios estratégicos da sustentabilidade, no processo
de tomada da decisão, requerem distanciamento temporal e
9.6.3 A proposta mais vantajosa é aqu capacidade de prospecção de longo prazo, como abandono resoluto
ela que se da visão reducionista segundo a qual o sistema jurídico
encontra alinhada com as políticas
públicas cuidaria apenas de fatos passados. Em outros termos, o gestor
sustentáveis público é instado a exercer, com o emprego do aludido checklist para
Nada justifica que a licitação siga grandes decisões," o sensato juízo prospectivo de longo prazo.
presa a crit
érios sim-
plistas ou à metodologia tradicional Nessa prospecção, o gestor público responsável não
de julgamento. Melhor
preço, frequentes vezes, é diferente de meno pode realizar juízos adstritos ao imediato ou à pressão em-
r preço, con templado sob
o prisma do longo prazo. Como visto pobrecedora do curto prazo, típico comportamento daqueles
, o certo é que os controla-
' dores, notadamente os Tribunai
s de Contase o Poder Judiciário
que não apenas desprezam os princípios, como se alienam a
devem assumir, na perspectiva abraçada
, o protagonismo HE
*º Vide, a propósito, Hans-Georg Gadamer, in Verdade e método. Petrópolis: Vozes, 2002, v. 1,
ao destacar a importância hermenêutica de, ao compreender, levar em conta a história dos
ESTE ai RE E TN efeitos.
8 Oart.3º da Lei de Licitações, ao + * Vide, outra vez, para um checklist de controle da qualidade decisória, Daniel Kahneman,
; consagrar o princípio do desenvolvi
olvim
cula, como parece incontrovers 9, norma geral, á i Dan Lovallo, e Olivier Sibony, in Before You Make That Big Decision... Harvard Business
logoo aplicável a todas ase
esferas federativas. Review, op. cit., p: 51-60.
250 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 251
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

interesses
do ri
Deve vencer todo e qualquer
Sa omodaticia: o seu horizonte haverá de ser ohtrai Co de " da outorga (Lei nº 8.987/95, art. 4º). Todavia, o certo, em
stado Sustentável, no qual o ciclo de vida O horizonte homenagemlnb ao E art. 50 da Lei nº 9.784/99, é reconhecer o
do s So da,
serviços
a Rato pa : Produtos e | * caráter obrigatório dessa motivação d e maneira generaliza
E E escrutinado, com rigor crítico, no + do
a em todas as licitações e contratações públicas e, à vista
a : multidimensional, a ser descrito ase do certame,
tó Fara ; avultam, nesse contexto de transição uir.,a princípio, indispensável encapsular, na justificação
Não
nero gma da sustentabilidade, uma tríade de qui o escrutínio minucioso dos requisitos da sustentabilidade.
50
para
É
a sua implem entação x
ex
E
R
estõesd se deve esquecer que, consoante o inciso I do citado art.
sempr e que Os
s
contrataçõe públicas. ç Itosa nas licitações e da Lei nº 9.784/99, a motivação é impositiva
s
m
UmaE primei
licitação. oa questão
e atos administrativos negarem, limitarem ou afetarem direito
concerne aos antecedentes d
doe izer, antes deElasela ser levada a efeito, impõ !- e interesses.
o ao
e m Ora, nas atuais circunstâncias, nada está mais expost
a o indagação típica da sustentabil
Sirena
idade: ) É a
o e apresenta benefícios que supera exame dos efeitos e do impacto sobre os direitos, sobretudo
que
público s diretos e indiretos? Considerou o administ ad dos efeitos e do impacto sobre o direito ao futuro, do
luz do princí pio
; COM esmero e capaci ; rador as decisões administrativas escrutináveis à
cálculos (no sentido
confiável do termo) a hi E acidade de “constitucional da sustentabilidade.” Numa frase: o que
l à
medidas de raci
dn E poôtese de resolver a demanda c
dução à ou com o emprego daquilo o afeta o futuro, afeta o direito constitucional e fundamenta
aa a e e ocioso? Mais: a decisão adirdristenas EM sustentabilidade, logo deve ser devidamente justificado.
a- . pa Uma segunda questão típica de desenvolvimento du-
lici-
todas as suas dis No Principio da sustentabilidade dl
En ia
rável envolve a implementação propriamente dita do certame
inclusive as sociais e econômica ? momento de
a solução tatório. Superada a primeira fase, é chegado o
dé esa sistêmi ica ou contribui
: par xné rol
e que só dificultam a vida de Helo adfortnaçaa definir o objeto? e de inserir, no exame da habilitação e no
osa para a
ever TAC E dos critérios de avaliação da proposta mais vantaj
razões de fato e de di- ambiental,
reito, id
do o saia (oferecer
a eleição o das premissas), nessa fase, terá Administração, os requisitos da sustentabilidade
sis-
dEsificare 7 Coerente e consistentemente, o mérito E econômica e social. Requisitos que, mercê da importância
m
Ro o s é
as Jaa que o certame supérfluo ou esa E têmica, na etapa do julgamento das propostas, transcende
e-se: no
— sem excluir — o exame de mera legalidade. Reiter
ado,
de questão que : A a Paço mais ser tolerado. Como se trata
E si pia sd licitação, faz-se apropriado cogitar, projeto básico, quando se cogita de orçamento detalh
is dos custos,
cumpre que, doravante, constem estimativas razoáve
licitações s ustent AVI
ro, de ã apenas 4 sorte que,
de contrataçõea s sust Etriávels aveis, e não diretos e indiretos, relacionados às externalidades, de
ao A A propósi E
pedia no caso específico da licitação para a con-
Bliacheris e Maria Augusta Soares
Rd a Públicos, existe explícita cobrança de ato 52 Vide, com ênfase na dimensão ambiental, Marcos Weiss
Sustentab ilidade na Administ ração Pública: valores e práticas de
onveniência e, por suposto, de sustentabilidade de Oliveira Ferreira (Coord.).
gestão socioambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
do objeto, habilitação e obrigações
5º Vide, sobre critérios a serem inseridos na especificação
Maria Junqueir a Terra, Luciana Pires Csipai e Mara Tieko
imposta à contr atada, Luciana
sustentáveis: três passos para
Ss Uchida, in Formas práticas de implementação das licitações
Cálculo relativo públicas. In: Murillo Giordan
econômicos.
à estima dos custos ( diretos s ei
e indi ir etos) e benefíci a inserção de critérios socioambientais nas contratações sustentáveis.
f os ambientais, e contratações públicas
ZA sociais e
Santos e Teresa Villac Pinheiro Barki (Coord.). Licitações
Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 225-242.
252 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE —- DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 253
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

para ilustrar, não se considere


exclusivamente o custo econa disponíveis ou disponibilizáveis, bens e produtos
mic
o imediato para a construção de préd
io, mas também e ociosos ou alternativos. Aqui, as perguntas centrais
manutenção e o da operação, à
vista das soluções adota q são: A decisão administrativa de licitar é compatível
Finalm ente, uma terceira questão pró
tabilidade é aquela relativa à fase pria da su q com o princípio da sustentabilidade em todas as suas
de celebração e exec a dimensões? A licitação pode auxiliar o cumprimento
contrato administrativo, isto
é, ao cumprimento das obriça
tuadas. Nessa fase, que não pode = ad de variadas regras protetivas, gerais ou individuais,
ser separada das ante e da sustentabilidade? A quais políticas públicas, de
conferir-se-á, fis calizatoriamente, se a esti
mativa dos e estatura constitucional, a licitação específica deve
diretos e indiretos, acolhida
no texto do contrato, result
sucedidana execução, consoante o sope e atender prioritariamente, a partir da definição do
samento dose cus eustos objeto?
e benefícios, expostos ao acompa
nhamento permanent (b) Nas fases de implementação do certame e na etapa
aspectos comensuráveis e income
nsuráveis 5 sempre a de celebração e fiscalização subsequente do contrato
Proporcionalidades: (eis as que
stões suibiicentásr E i É a administrativo, destacam-se as indagações a serem
temporalmente aceitável a execuç
ão?; A omissão de mádil respondidas a contento: Quais são as especificações
executória causa dano juridicam
ente injusto?). E do objeto que, sem realizar discriminação nega-
Estas questões medulares são indi
ssociáveis paraoolh tiva,“ reclamam tratamento diferenciado, segundo
que não se deixa confinar pela vist
a curta. Só as lentes da sust E: o princípio constitucional da sustentabilidade? A
tabilidade permitem enxergar dinami
camente os elementos a seo contratação administrativa contemplará o ciclo de
enquadrados, nas respectivas etap
as do certame licitatório. Nãj vida dos produtos ou restará adstrita à variável do
elementos triviais, mas cruciais m
, nos testes da vida Entrei
uia Ee síntese, as intuito de melhor e preço, numa perspectiva imediatista? A contratação
e retê-los, arrolem-se traz resultados defensáveis a longo prazo ou reduz
dE E anguram os mais rele
vantes para o teste da as oportunidades de gerações futuras produzirem
(a) Em primeiro lugar, antes de o seu próprio bem-estar? Por último, as obrigações
começar a licitação, es- pactuadas, segundo o edital sustentável, são cum-
sencial responder se existe conven
iência motivada pridas de fato?
para iniciar o certame, inclusive
verificar se existem, Uma vez enfrentadas essas questões, reciprocamente
ER
implicadas, resulta que, na hipótese de a licitação ser consi-
O AAA
Vide, sobre a possibilidade
de fazerem escolhas razoáveis
derada necessária e prestimosa, haverá, ato contínuo, de passar
bilidade, Amartya Sen, in A ideia
545
de justiça, op. cit., p. 275. RR a
pelo filtro, segundo o qual a escolha da proposta mais vantajosa
m Jack Beatson e Martin H.
Matthews, in Administrative
proporcionalidade, i não pode ser guiada pelo critério limitante do menor preço, mas do
Oxfor
Oxfc d: Oxford Univ.
es
sina di
À : Press, s 2011 + P-'25
]
Law: Text ari UR
3, envolvendo 5 questões:
ões: “(i “(i) Do
sa preço intertemporalmente melhor (ou do preço sustentável), uma
na
j
ne (e.g. a human right)?; fores
*, (1) Is the measure = ia vez que, em determinadas circunstâncias, o gasto maior no
Is the adoption of the meas
ure necessary orar EE ad
i jecti
ua
presente pode representar expressivo ganho adiante, com
+ Or Outweighed, by th
(e.g. in terms of benefits whic i ich i
h flow from securing the
Etmaio, Edi
aqui ab O: rdado, entre
tr tanto, to, | há pelo menos
? Ma que 56 Existem tratamentos diferenciados, na própria Constituição, que não necessariamente
mais du. a: s 1) d agações:
aceitável o impacto da medida 7A omissão
é mtertem P oralmer te podem ser considerados discriminatórios negativos, ao menos se não redundarem em
da medida causa dano
juridicamente mjust
0? protecionismos exagerados e nocivos. Vide, por exemplo, CF, art. 219.
254 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 255
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

a redução de custos futuros. Nesse prisma, a licitação e à


contratação precisam decisão administrativa idônea tem de respeitar processos
tomar parte maiúscula no bojo das po- o resultados futuros. E equívoco olhar só para o processo
líticas de Estado (não somente de governo), com o intento de (sem antecipar os resultados), assim como é equívoco olhar
estimular negócios de cores limpas e gastos sustentáveis lato apenas para Os resultados, descurando do processo e de suas
sensu, inclusive eticamente.
garantias. Noutras palavras, a licitação, norteada pelo prin-
Os critérios de sustentabilidade passam a ser con.
+ “cípio positivo da sustentabilidade (com o cumprimento das
cebidos, nessa linha, como instrumentos redefinidores do finalidades e regras instrumentais relacionadas), pode-deve
estilo de controle da gestão pública (para além do tradicional servir como promotora de políticas de maior retorno para a
comando e controle), mediante a sindicabilidade
alargada dos equidade de longo alcance, com apreço à saúde pública” e
elementos vinculados de julgamentos administrativos.
Eis a à redução (ou internalização) de externalidades negativas,
nova vinculação: não se admite a contratação que compr nada se licitando que não se submeta ao crivo da ponderação
ometa
irresponsavelmente a qualidade de vida das atuais e futuras geraçõe
s, objetiva do custo-benefício.
Nesse contexto, o consumo, diferentemente do Pode parecer tarefa simples, mas não é. O maior ini-
hiper-
consumismo, pode até ser pontualmente maior (ex.: migo mora nos desvios cognitivos e emotivos que turbam a
tecnologia
pedagógica nas salas de aula), com a condição de que qualidade das decisões.** No entanto, se a alteração afigura-
esteja
orientado para aquilo que realimenta, gradualmente, o se complexa, daí não segue qualquer impossibilidade de
bem-
estar material e imaterial. Todo desperdício e todo sobrepreço construção da governança ética, eficiente e eficaz. Quando
devem ser exemplarmente coibidos, porque, como assina retemperados devidamente, os critérios de julgamento se
lado,
o princípio da economicidade (sem sucumbir ao econo metamorfoseiam e evoluem para operar como autênticos
mi-
cismo utilitarista) encontra-se intrinsecamente vincu critérios de sustentabilidade.
lado ao
princípio da sustentabilidade. Assim, a licitação, em lugar de maculada pelos conhe-
Na tarefa do equilíbrio de finalidades só aparentemente cidos vícios patrimonialistas, começará a ser produtivamente
contraditórias, o princípio constitucional da sustentabilidad responsável, desde que se mantenha no âmbito de suas fina-
e
proíbe, ao mesmo tempo, a ineficiência e a inefic lidades, que incluem combater o manejo descriterioso de
ácia, nas lici-
tações e contratações públicas (finalidade inibitória). recursos” e as métricas falaciosas. Sem dúvida, as licitações
Obriga
a prevenção e a antecipação, com planejamento estratégico públicas, contendo especificações sustentáveis do objeto,
e
antevisão dos resultados de obras, serviços e utiliz
ação dos
ajudam, por exemplo, no cumprimento, embora tardio, da
bens (finalidade antecipatória e prospectiva). Permite garantia do “direito a cidades sustentáveis”,* isto é, cidades
induzir
Os comportamentos intertemporalmente responsáveis (finali
da-
de indutora). Em razão disso, novos métodos serão
necessários. 7 Vide John Elkington, in Sustentabilidade, canibais com garfo e faca, op. cit. p. 110: “a sociedade
Por exemplo: as licitações processadas eletronicamente gozam depende da economia — e a economia depende do ecossistema global, cuja saúde repre-
senta o pilar derradeiro”. 5
de preferência, na comparação com os processos de consu
mo “8 Vide, sobre viés, Daniel Kahneman, Paul Slovic e Amos Tversky (Ed.). Judgment under
de papel, até para facilitar a detecção de fraudes. * Uncertainty: Heuristies and Biases. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
Merece ênfase que uma licitação sustentável implica * Vide, sobre governança ética, Norma Sueli Padilha, in Fundamentos constitucionais do direito
ambiental brasileiro. Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2010, p. 116.
tomada de decisão que leve em consideração os impact 5» Convém nunca esquecer que as infrações ambientais podem acarretar, por si, a proibição
os públicos
e privados, diretos e indiretos, prospectivamente. Vale dizer, de contratar com a Administração Pública.
a 1 Vide o Estatuto da Cidade — Lei nº 10.257/2001, art, 2º, [: “A política urbana tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,
WAREZ FREITAS
256 | e RANEIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 257
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

livres dos males trazidos pela mass


a de poluentes, com edi- custentáveis demandam uma inserção cabal e inegociável
fício
s saudáveis e eficientes (green building
), monitoramento E critérios que contemplem projeções inteligíveis de longo
obrigatório da qualidade do ar, pert
inente destinação dos re. espectro e realista precificação.
síduos (logística reversa e responsa
bilidade compartilhada)
economia sensível de água potável
e, sobretudo, Planejament 4
integrado, em contraste Q
com o urbanismo caótico 9.6.4 Conceito de licitações sustentáveis
comandado e insalubre,
pelo indiferente império das coisa
ilustrar o poder de transformação: s. Ainda para
Tudo considerado, útil oferecer o conceito de licitações
nas licitações para a con-
cessão de serviços de transpor “sustentáveis: são aquelas que, com isonomia, visam a seleção
tes de passageiros, revela-se
inegociável exigir veículos com de proposta mais vantajosa para a Administração Púb ar
baixas emissões, forçando a
indústria nacional a inovar ease ponderados, com a máxima objetividade possível, os custos
adaptar aos padrões interna-
cionais de emissões. - e benefícios, diretos e indiretos, sociais, econômicos e am-
Em síntese, mudanças profunda bientais. Ou, de forma mais completa, são os Procedimentos
s podem ser fortemente
favorecidas por sensatas opções administrativos por meio dos quais um órgão ou entic o
administrativas. N atural-
mente, para acelerar a boa resposta da Administração Pública convoca interessados E no seio e
aos desafios do desenvol
vimento includente, ss urge
investir no sist certame isonômico, probo e objetivo — com a finalidade de
ema nacional de
avaliação dos custos, que migre para selecionar a melhor proposta, isto é, a mais sustentável, quan-
parâmetros abrangentes
de aferição dos custos diretos
e indiretos, sociais, ambientais do almeja efetuar pacto relativo a obras e serviços, compras,
nômicos, de sorte a favorecer e eco- alienações, locações, arrendamentos, concessões e permissões,
uma governança eticamente
resp onsável e liberta do amadorismo. exigindo, na fase de habilitação, as provasindispensáveis para
Deveras, as licitações
assegurar o cumprimento das obrigações avença as.
Pelo exposto, a ressignificação das licitações e dos con-
garantia do direito a cidades tratos administrativos, informados pelo direito fundamental
entendido como o direito à terra sustentáveis,
» àO transporte
urbana, à moradia, ao Saneamen
to ambiental, à infraes-
e aos serviços públicos, ao trabalho
à boa administração e pelo princípio em tela, conduz à adoção
Presentes e futuras gerações”. e ao laze obrigatória dos critérios de sustentabilidade, em todos os Poderes e
“ *2 Vide Jerry Yudelson, in Green
Building A to Z; Understan ding no Estado inteiro. Desse modo, erguer-se-á, gradualmente,
Building. Gabriola: New Society Publi the Language of Green um
shers, 2008, Pp. 15-18: “a green build
is built considering five factors”.
Ei-los: (a) “promote selection of appro
ing is one that
priate sites and
renovado padrão comportamental, nas relações de administração
environmentaly sustainable site
development” (evitando, por exemp
áreas contaminadas); (b) “promote lo, construir em
efficient use of water resources”
reuso dos recursos hídricos); (por exemplo, com
(c) “conserve energy, use rene
wable energy-and protect
a eo atento da sustentabilidade representa, nessa
atmospheric resources” (por exemp
lo, com o emprego de Placas solar
de performance dos equipamentos
; (d) “conserve building materials,
es e o monitoramento medida, progresso notável de controle sistêmico da efetivi-
waste and sensibly use natural reducé construction
localidade e devidamente certi
resources” (por exemplo, empregan
do material da
dade dos objetivos constitucionais, no mundo real, percor-
ficado); e (e) “protect and enha
quality” (por exemplo, com sensores nce indoor environomental
para níveis de dióxido de carbono rendo o arco que vai da tomada de decisão administrativa,
adequados de ventilação). é com sistemas
*º Vide, outra vez, John Elkingl
passando pelo financiamento, até a execução e a avaliação
“não será suficiente “esverde dos resultados. Sublinhe-se: a sustentabilidade é princípio
constitucional, deontologicamente estruturante. Incide em
todas as províncias do sistema jurídico, de maneira a ess
inadiável a sua exteriorização na seara administrativa. As
258 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE-= DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9
| 259
"7
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

licitações e contratações públicas, com a cogência dos critérios d


sustentabilidade, precisam andar em sinto e das propostas mais vantajosas nas licitações eram unidimen-
nia com as políticas mi
blicas que ensejam o bem-estar das gerações presentes, sem sionais e simplistas. Após, os critérios sociais, ambientais e eco-
in e mômicos começam a ter presença obrigatória nos editais. Antes,
que as gerações futuras produzam o seu bem-estar,
em cidades th acontecia o domínio da sindicabilidade legalista e vicejava uma
campos limpo s. Devem, pois, acontecer em processos ,

trai 7 desvinculada da eficácia dos princípios


rentes e eletrônicos, sem os conhecidos conlu discricionariedade
ios e sobrepr a
com levantamentos inteligíveis e honestos de custo constitucionais. Após, surge a sindicabilidade (inclusive judicial)
s e beca E
sociais, ambientais e econômicos, tendo em da qualidade das decisões tomadas. Antes, a causalidade, para fins
mente a pio
concomitante por menores impactos negativos de responsabilização, era vista de maneira linear e imedia-
e maiores bene
globais, numa gestão estratégica, a serviço da qualidade tista. Após, o nexo de causalidade é entendido em termos sistêmicos
d il
como objetivo central. e de longo alcance, alcançando a omissão. Antes, os direitos só
a
Ea Em última instância, formal e material
o primente, minimamente — em migalhas — eram oponíveis ao Estado.
cipio constitucional da sustentabilidade Após, o direito fundamental à boa administração pública passa a
(ou do desenv
mento sustentável, se se preferir) ser plenamente tutelável. Antes, vigorava a dignidade extrema-
tem o condão de a oil
e pouco, remodelar, por inteiro, damente antropocêntrica e indiferente à sorte da vida em
o Direito Adiministos OR
reen dereçando-o para o intertemporal bem de geral. Após, é assimilada a vedação constitucional da crueldade
todos (CF al
39%, reconcebido, a despeito dos merc
enarismos, direi como entre humanos e entre espécies. Antes, o formalismo das regras
ao bem-estar das gerações atuais e futuras.
Nesse diapasão á servia ao arbítrio e ao direcionamento espúrio de grupos
Estado assu me o tríplice desiderato de (1) induzir
ainternal insaciáveis. Após, o controle de constitucionalidade includente, ao
zação dos custos, (ii) precificar a inoperân
cia e (iii) incentiva máximo, impõe o dever de cumprir a Constituição de ofício. Antes,
os benefícios sistêmicos da equidade inte
rgeracional para : a decisão administrativa era tomada sem tino consequencial,
florescimento humano, tingido por limpas
cores Rea a! indiferente a efeitos colaterais e às externalidades. Após, a
lugar dos corantes cancerígenos do falso prog
resso Tudo iss decisão motivada (de maneira clara e congruente) não mais des-
requer, sem dúvida, discernimento científico
interdiscisln a considera os impactos sociais, econômicos e ambientais. Antes,
probidade e visão de longo prazo. Afinal, na seara das
administrativas, o Estado Constitucional relações constatava-se, de modo impune, o domínio da baixa política
é chamado a cum rir, de e do coronelismo fisiológico, com as suas modulações frouxas.
ofício, o dever inapelável de salvaguardar o
direito ao bares Após, são realçadas a imparcialidade, a equidade intergeracional
e a continuidade das políticas de longo prazo. Antes, o que se via
9.7 Rumo ao Estado sustentável: era o domínio das falhas de mercado sem regulação ou com
Es Existe um Direito Administrativo,
regulação insuficiente. Após, começa a ser vista como deci-
antes e depois da
ência cogente do princípio da sustentabilidade. inci- siva uma regulação proporcional (sem excesso e omissão). Antes, os
Antes, as escolhas recursos hídricos eram tratados como bens privados. Após, as águas
passam a ser entendidas, de modo emblemático, como bens públicos,
sos Vide, a propósito, o
Cidades Sustentáveis,
documento A Rio+20 ea constru ção
São Paulo, 2012.
de cidades sustentáveis. Programa por excelência. Antes, a saúde era tida como uma questão in-
6 Pora
ha poa rigor,
i registr
i e-se que a expressão acima cim também foi encontrada até o mo
dividual apenas. Após, a saúde pública desponta como dever
, ra com feições próprias, no relatório de gestão
estadual Novo Espírito Santo; fundamental do Estado. Antes, havia dependência excessiva
Ra
Gover no do Estado 2003-2010 — José Tosé Antonioi Martini uzzo.
itóri : Governo do Estado do
Vitória
em relação ao legislador. Após, a eficácia direta e imediata dos
JUAREZ FREITAS
260 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 9 | 261
SUSTENTABILIDADE E O NOVO DIREITO ADMINISTRATIVO

direitos fundamentais é levada às melhores consequências, por


des. na conformação das políticas de assento constitucional, sem
temidos controladores. Antes, o moralismo ou o amora
lismo ainvocação ladina e escapista da “reserva do possível” ou do
subjugavam. Após, a moralidade pública começa a ser
assimilada realismo distópico. Não há outra missão dessas figuras senão
como princípio jurídico. Antes, o caos urbano e à imobilidad
e, a de defender, a longo prazo, a preponderância concreta de
Após, o direito irrenunciável às cidades sustentáveis. Antes,
a princípios, objetivos e direitos fundamentais nas relações ati-
temeridade de gastos públicos sem retorno, os aditivos
ilegais nentes à prestação dos serviços universais e à disciplina das
e o famigerado sobrepreço. Após, a responsabilidade
fiscal e “atividades de relevância coletiva.
uma ambiência confiável para investimentos produtivos.
Antes, a Por todo o exposto, força concretizar o Estado-Admi-
tirania do calendário eleitoral. Após, a governança
com escala de nistração Sustentável, aquele que tem em vista, nas relações
longa duração. Antes, os princípios constitucionais eram
tidos de administração, o bem-estar multidimensional no presente, sem
como apelos vazios, quixotescos ou quiméricos. Após, comprometer o bem-estar no futuro, isto é, o Estado us deixa
nasce
o reconhecimento do caráter cogente dos princípios funda de praticar a irracionalidade do não-Direito, especia mente
mentais
e das regras correlatas, expressas ou inferíveis. Antes, para merecer a “deferência” aludida, no exercício das atri-
o que se
percebia era a blindagem do agente ímprobo. Após, buições próprias. Somente desse modo, a regulação estatal
o que
se verifica é o dever de probidade querendo subir às altas conseguirá operar como redutora (direta ou oblíqua) dos
esferas.
Antes, o impulso e o emotivismo do administrador. chamados custos de transação. Por outras palavras, os
Após, q
racionalidade dialógica e a cientificidade paramétrica na avalia agentes públicos precisam passar a proteger, com prevenção
ção de
processos e resultados. Antes, o trabalhador tratad e precaução, as expectativas legítimas, em sentido mais rico
o de maneira
servil. Após, o trabalho decente. Antes, a aversão
à temática am- e abrangente do que o tradicional. Mas não convém nutrir
biental. Após, a responsabilidade ambiental compar
tilhada. Antes, ilusões: erguer o Direito Administrativo da sustentabilidade
a eficiência sem eficácia. Após, a eficiência subordinada à eficáci é construção de gerações, a exigir insistência e pertinácia em
a.
Antes, a opacidade dolosa. Após, a transparência eletrônica prol do paradigma emergente. Gradualmente, entretanto, o
e em
tempo real. Antes, a subsunção sem justificativa da escolh Direito Administrativo, nas relações entre o cidadão e Estado-
a de
premissas. Após, a hierarquização tópico-sistemática das Administração,” deixará de ser aquele que se preocupa tão só
escolhas
públicas. Antes, a titularidade restrita aos grupos poder com a suposta eficiência ou com os interesses particularistas
osos
de hoje. Após, a titularidade dos direitos fundamentais de geraçõ mascarados de razões de Estado. Passará a ser o Direito Ad-
es ministrativo da gestão pública participativa, transparente,
presentes e futuras. Antes, o tráfico nefasto de influências.
Após, redutora de assimetrias e eficaz densificadora do princípio
a legitimidade argumentativa e a persuasão racional. Antes,
a da sustentabilidade, que haverá de imantar, no Século XXI,
gestão desidiosa, pesada e lenta. Após, a gestão efetivamente
inte- as relações em sua totalidade. E
ressada em resultados aferíveis por meio de indicadores qualit
ativos. Eis a tarefa fascinante de reconstruir o Direito Admi-
Em suma, a sustentabilidade, no Direito Administra
tivo nistrativo, segundo pré-compreensões filtradas, as quais,
Teconfigurado, passa a ser uma tarefa eminente de Estad
o (não entre outros aspectos, favorecem uma auspiciosa releitura
mais contraposto à sociedade), no rumo de nova tradição
que da responsabilidade do Estado e do papel da interpretação
transcenda o estritamente governamental. Em semel
hante jurídica, precisamente os temas centrais do capítulo a seguir.
perspectiva, os administradores e os reguladores são
— ou
deveriam ser — independentes e interdependentes,
já ao
corrigirem falhas de mercado e de governo, já na execu 57 Vide o World Public Sector Report 2005, da ONU, com a descrição das três a e ES
ção e lações entre cidadão e o Estado, quais sejam, a fase da obediência, a dos clientes
eficiência e a da transparência, da participação e da eficácia.
CAPÍTULO 10

SUSTENTABILIDADE,
RESPONSABILIDADE DO ESTADO E
NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

Sumário: 10.1 Características do Estado Sustentável — 10.2 Releitura da res-


ponsabilidade — 10.2.1 Responsabilidade preventiva — 10.2.2 Responsabilidade
e proporcionalidade — 10.2.3 Conceito de responsabilidade do Estado: o nexo
causal — 10.2.3.1 Excludentes do nexo causal — 10.2.3.2 Responsabilidade por
ação e omissão — 10.2.4 Omissão desproporcional — 10.2.5 Configuração da
omissão: três questões — 10.3 Reservas à reserva do possível — 10.4 Princípios |
da prevenção e precaução — 10.4.1 Princípio da prevenção — 10.4.2 Princípio da
precaução — 10.4.3 Aplicabilidade dos princípios da prevenção e precaução — 10.5 |
Interpretação jurídica à luz do princípio da sustentabilidade — 10.6 Máximas
de concretização da sustentabilidade

10.1 Características do Estado Sustentável


O Estado Sustentável, no século em curso, terá de ope-
rar em modelo que viabilize, em concreto, a economia de
baixo carbono e a responsabilidade pelas presentes e futuras |
gerações. Por certo, não poderá ser confundido com o Estado
patrimonialista, avesso à solidariedade emancipatória, ao
planejamento intertemporal e à gestão de riscos. Impõe-se, |,
no mínimo, a pronta suspensão desse modo costumeiro de
ver as coisas. |
Onovo modelo só cobra sentido se introjetar o princípio |

|
constitucional da sustentabilidade em todo o tecido do sistema |

558 Vide, sobre tal suspensão, Peter M. Senge et al., in Presence: Exploring Profound Change in
People, Organizations, and Society. New York: Doubleday, 2004, p. 29.
JUAREZ FREITAS ;
264| SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 10
265
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
]

jurídico-político, nos termos propostos no


Capítulo inicial |
Do contrário, o Estado prosseguirá para : consi idera irremovível a imoral insaciabilidade das nervuras
sitário, com a crônica der estatal. , o ;
incapacidade de pensar a longo pra
zo e, pior, comportando-se E” E Decerto a escolha do modelo da sustentabilidade ps
como se fosse uma espécie exótica inv
asora nas relações com õ
Sri de concepções
de deixar de lado uma série pi as.
a sociedade.
E i
só mentes abertas aceitam ênci
a premência visar
deAEiada
Quer dizer, em lugar do patrimoniali E ntanto
smo reman Escente. DO truções sociais e tradições IÇO que não à funcionam a o npai :
do sécu lo XIX (com a noção inflacionada
deres exorbitantes”), onovo paradi
e
exaurida de “po. E im, embora não se deva descartar a tradição, comp E
gma enfatiza o modelo de
Est ado alicerçado numa racionalidad O acender são dois momentos indispensáveis à recepç
e dialógica e nas virtudes atal l
ã estatal. y
maciças do desenvolvimento E e novo estilo i de a tuação
durável,
põem fim à in- que
felicidades social e rejeitam a dis E Ora, a maior novidade radica justamente na dna
cricionariedade “ecocida”, ç estrutur
existe para propicia r as condições
. ma,

xi
. .
É

bem como a dominância predat


ória dos loteadores de poder. nico
Ademais, o Estado Sustentávelss não mena
ra o bem-estarA das geraç Õ presentes sem sacrificar o: bem-estar
erações
se esconde em suy- uia
postos juízos de conveniência ou de
oportunidade para nada das gerações futuras. Por outras palavras,
fazer. Cumpre, sem preguiça mac recisamente, na internalização do princípio cons sa
unaímica, os papéis (de j RR
defesa e prestacionais) relacionados a sustentabilidade, aplicável à San ee
a competências indelega-
Velmente suas (por exemplo, de reg ã apenas ao camp o avançado
íti o, não do Direito Am daal,
ulação e polícia ambiental)
e esti mula, ao máximo, a democracia part ue Desse modo, em vez de e categorias categorias p presas ao isolaAR
icipativa.
Não por acaso, o paradigma da sus nismo
i e aos intej [
resses correntes, e a n ovidade ilumina Ra
tentabilidade suscita
outro tipo de olhar* sobre o conc acarreta, no escru tínio ini das relações ju rídicas, o RE
a
eito de responsabilidade
do Estado. Também aqui se constata indicabi
sindicabilid i ade d e longo espectro, a: Éo vestir E as le Ria
uma luta hamietiana, o
embate entre dois modos de pensar lug
Desse modo, em lugar red
da g estão enre Exa
o Direito, a saber: o pa- b entabilidade.
aixõeshi governativas eno imediatismo fragmentário int
radigma da sustentabilidade vers abs
us aquele paradigma que
aptas s E
1

orador da oneomania,'S isto é, do o


. L

E
E e DS
59 Vide, por suas didáticas crític : ireito íticas
integrado das políticas a
de Estado, apto reco-
as aos detratores do conceito,
Stéphanie Jumel, in Le développem Jean-Claude Van Duysen e
ent durable. Paris: L'Harmattan, E
nhecer,no isão c crítica
numa revisão íti das teorias clássicas (de Bernard
ias clã pe
2008, p. 165-166.
“O Vide Richard Layard, numa abordagem econô mica, in Felicidade: lições de uma Windscheid, Rudolf Ihering i e md ac inek, ne entrenao ou
ciência. Rio de Janeiro: BestSeller
, + 2008, p. 262: “Também é nova
ânci moralmente certo dar uma ire
sobre direitos titularida
subjejetivos, j a itul e ani
: anto, esse deveria ser um dos princ
materialmente) fundamentais de psaçães paes e Eae :
ipais
» essoas mais infelizes são as menta
doentes. Nós sabemos como ajudar lmente
a maioria deles, mas hoje apenas cerca
recebe tratamento. Nós lhes deve
mos mais do que isso”.
de um quarto uma justa
j à de riscos,
ponder ação i S, cu stosÉ e benefícios, No
iret
* Prefere-se, aqui, a expressão Estad
o Sust indiretos
indi (externalida d
i ades), sociais, ambi eentais e ecoAR ;
seja na formulação, seja na implementação das política
Estado socioambiental e direitos funda
“2 Vide Shepard Krech HI, John Rober
mentais. Porto Alegre: Livr. do Advo
gado, 2010, p. 16. titucionalizadas.
t McNeill e Carolyn Merchant (Ed.).
World Environmental History. New Encyclopedia of
York: Routledge, 2004, p. 471; “Envi
tion combats both the pollution and ro nmental regula-
issues of natural areas and resources, plalaneta
but also allows dré Trigueiro,
igueiro, in1 Mundo sus tentável 2: | novos rumos paraEnd um a
s of natural areas and resources. p. 23: “Segundo dados do pigs er ie
It ad- EN a Eidos Globo, 2012,
'y upon human health and welfare, af
also upon the integrityand quality of ecosystems » In addition, but Eissoitál Clínicas de São Paulo, 3% dos brasileiros, a maior
Promotes conservation, preservati environmental regulation pipa iv; o É É gente que usufrui apenas e o momento ips Es pr ma:
on, and protecti on of the envir
onment”.
En vezes é deixado de lado por não ter nenhuma utilida
JUAREZ FREITAS
266 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AQ FUTURO CAPÍTULO 10
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
| 267

Com efeito, insistir, no século XXI, em disputas que sugerido paradigma proporciona a responsabilidade intergeracional
pressupõem uma noção demasiado antropocêntrica é erro
do Estado em múltiplas facetas, ou seja, à responsabilidade ética,
DS
cognitivo crasso, que pode conduzir a verdadeiras catástrofes ER
jurídico-política, ambiental, social e econômica.
ambientais. Certo, a dignidade humana está contemplada, por
Sob a sua influência normativa, nas relações públicas
exemplo, no art. 3º e no caput do art. 225, mas a Constituição,
e privadas, impende afirmar, preferencialmente de maneira
originariamente, foi além e vedou a crueldade também
contra seres branda e o mais altruísta possível, a eficácia do direitofunda-
não humanos. Dito de maneira frontal, prescreve-se um conjunto
mental ao ambiente limpo, (a) com crescente independência
de pré-compreensões recondicionadoras dá interpretação do
regulatória (preconizada no Capítulo 9; (b) com o Direito
sistema jurídico como fator crucial à obtenção do dinâm
ico Administrativo mais de Estado Constitucional (e da sociedade,
equilíbrio ecológico. Eis que a nova funcionalidade
cogente por suposto) do que governativo; (c) com a sindicabilidade
demanda, a par da intangível dignidade humana, proteger e
plena da motivação (explicitação dos fundamentos de fato e
tutelar o valor intrínseco dos seres conscientes cóntra a cruel.
de direito) dos atos e procedimentos estatais, sob o crivo da
dade, na linha do que prescreve o art. 225 da Carta.
sustentabilidade; (d) com a redução dos males derivados da
Claro, afirmar a intangibilidade da dignidade humana
seleção adversa e do risco moral (fenômenos já descritos) : (e)
é conquista que não pode comportar retrocesso, sem que os
com a superação da cultura eminentemente adversarial; (£)
Estados se rebaixem à condição de seus violadores, às vezes
a com o controle enfático no tocante ao princípio da eficácia
pretexto de neutralizá-los.* O que se quer, contudo, é expan
dir (mais do que singela — e, não raro, paradoxal — eficiência) ;(g)
essa noção para abarcar a proibição de toda e qualquer
com a precaução e a prevenção como tônicas do planejamento
crueldade. Nessa ótica, a nota peculiar do ser humano é tão
e do controle estratégico; (h) com o rigoroso cumprimento do
só a capacidade do pensamento prospectivo de longo prazo,
devido processo (formal e substancial); (i) com a formulação
a diferenciá-lo de outros seres vivos que o acompanham no
consistente e congruente das decisões de longa maturação;
processo evolucionário. Razão somente para fazê-lo mais,
não () com o reconhecimento da plurilateralidade das relações
menos, responsável por aqueles que não conseguem antecipar
jurídicas; e (k) com o reconhecimento do valor intrínseco de
perdas e benefícios.
todos os seres passíveis de sofrimento (não apenas dos seres
Vale dizer, sob o prisma constitucional da sustentabili
dade, humanos). e ed
cumpre retirar de cena o despótico antropocentrismo exacerbado
e Nessa linha, o Estado Sustentável é o da participação
instaurar o caráter intangível da dignidade humana em patamar mais
engajada, garantidor da confiança intertemporal, nas relações
alto, no qual não mais ocorra o desprezo ao valor intrín
seco
dos demais seres que já possuem ciência do sofrimento.
Bem por isso, importa reconhecer e tutelar, coibindo
a 565 brando, entende-se, aqui, influência legitima sem uso da força. Vide, sobre a
perda de biodiversidade, o direito fundamental ao futuro, sob ada soft power, Joseph S. NH im Soft Power: the Means to Success in bg
pena de kafkiano, temerário e desolado alheamento das exi- New York: Public Affairs, 2004, p. 5, ainda que com acepção algo distinta. é e gi
K
empatia, Frans de Waal in The antiquity of empathy. Science, v. 336, n. 6083, p. & Ei
gências do constitucionalismo de ponta. Com efeito, apenas o maio 2012. Vide, ainda, para estimular a reflexão sobre grupo e instintos sociais, Edw:
Wilson, in The social conquest of earth. New York: Liveright, 2012.
56 Vide Yvette Lazzeri e Emmanuelle Moustier, in Le développement pda du e
à la mesure. Paris: L'Harmattan, 2008, p. 23: “Le développement durab SR ses
4 Vide, sobre o tema, entre tantos, Dieter Grimm, in À Vengagement de tous. La participation des citoyens et le partenariat de tous oEee a
dignidade humana é intangível. Revista
de Direito do Estado — RDE, v. 4, n. 19/20, p. 14, jul./dez. 2010. de la société sont nécessaires à la durabilité sociale, économique et environnem
développement”.
; JUAREZ FREITAS ! CAPÍTULO 10 | 269
268 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

públicas e privadas. É o Estado da continuidade univer- Para além disso, o Estado Sustentável é fiscalmente
salizante da prestação de serviços públicos e da vinculação idôneo, isto é, não abre mão de planejar e de poupar (em vez
da discricionariedade à priorização tópico-sistemática dos de hipertrofiar o custeio) para dispor dos recursos necessários
princípios e direitos fundamentais. É o Estado que controla/ ao complexo de investimentos estruturais em prol do desen-
fiscaliza, sem estabelecer o império do medo. É.o. Estado que volvimento duradouro e do aumento da produtividade. Dito
pode transacionar, com os devidos cuidados, sem colocar
em. de outro modo, o Estado Sustentável é o oposto do Estado
risco O genuíno interesse universalizável. cujas raízes viciadas são bem conhecidas. Atua como guar-
É o Estado do tempo útil, que considera preferenciais dião da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais
ja mediação, a arbitragem, a resolução célere e tempestiva de das gerações atuais e futuras, com política equalizadora deli-
conflitos. É o Estado que não chancela manobras procrastina- berada, meta clara de diminuir as injustificáveis diferenças de
tórias e zela pela duração razoável dos processos. É, ainda, renda e o ânimo consciente de evitar, com incentivos ou rigor,
o Estado da racionalidade aberta à governança global” e ida “tragédia dos comuns”.*º
ao alargamento da cidadania, em lugar do patrimonialismo É Pa é, como sublinhado no capítulo ante-
fechado e narcísico. Todavia, convém não ter ilusão: o Estado rior, o Estado do direito fundamental à boa administração”? e
sustentável não pode ser o velho Estado-nação, que cogita da sustentabilidade como princípio constitucional, que começa
ingenuamente de soluções autárquicas e fechadas, isto é, ase ancorar expressamente na legislação, como sucedeu, para
sem encaminhamento das propostas que contribuam à causa ilustrar, com a redação dada ao art. 3º da Lei de Eetiaçoes ou
unificada da sobrevivência e da justiça, como bem com o advento da Lei de Mobilidade Urbana, art. 5º. TI.
observa
Zygmunt Bauman.
O “global” tem de ser “local”, mas a recíproca é verda-
deira. Soluções isoladas e provincianas perdem o fio da sis- 10.2 Releitura da responsabilidade
tematicidade. É dizer, cuidar da sustentabilidade econômi
ca,
Por todo o exposto, para que se instaure o Estado Sus-
por exemplo, não pode ser feito sem o cuidado das vantagens tentável, relevante que não persista o acintoso quadro de
comparativas. Já a sustentabilidade ambiental tem de ser de- omissivismo inconstitucional, especialmente nas relações
fendida para além das fronteiras. Por sua vez, a sustentabi- administrativas e ambientais (exemplificando: os editais pre-
lidade jurídico-política exige adicionais mudanças no plexo cisam, como sublinhado no capítulo anterior, incorporar 0s
normativo, sem ignorar a evidente internacionalização das critérios paramétricos de sustentabilidade; a população ao
fontes jurídicas. pode continuar a ser envenenada pelo enxofre em nossas ruas,
o transporte coletivo deve ter a primazia; os a
não podem ser dados com o fito exclusivo no crescimen a E
57 Vide, sobre a dimensão global da cidadania e a problemat
ização da noção de Estado curto prazo; as reformas estruturais, que ampliam a Bro uti
vidade, não podem tardar, à espera da próxima crise; novos
soberano, Klaus Bosselmann, in Institutions for Global Governanc
e. In: Colin L. Soskolne
(Ed.). Sustaining Life on Earth: Environmental and Human Health through Global
Governance. Lanham: Lexington Books, 2008, p. 13-21.
** Vide Zygmunt Bauman, in A ética é possível num mundo de consumido
res? Rio de Janeiro:
Zahar, 2011, p. 114: “As causas de sobrevivência e de justiça,
frequentemente em conflito
entre sino passado, apontam agora na mesma direção, demanda 569 Vide Garrett Hardin, in The Tragedy of the Commons. Science, Sp; cit., P. Ca ai
m estratégias semelhantes
e tendem a convergir numa só causa; e essa causa unificada
não pode ser perseguida sm Vide Juarez; Freitas, in Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa
(muito menos satisfeita) localmente e por esforços apenas locais”. nistração Pública, op. cit.
JUAREZ FREITAS
270 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 10 271
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

leitos precisam ser cobrados de hospitais públicos ePrivados;


as penas cruéis não podem prosseguir e assim por diante) *10.2.1 Responsabilidade preventiva
,
Indispensável, para tudo isso, taxa de investimento compat Dessa maneira, o Estado Sustentável, sem evasiva pro-
i-
vel com o desenvolvimento duradouro, à base de Poupança crastinatória e com gradual redução do consumo público,
interna, sem restar tão excessivamente dependente do capital pode ênci
compensar e, de preferência, i
evitar enção e
(com prevenç
externo.” - precaução) os danos oriundos de toda e qualquer Rap ni
Assim, a ousada releitura da responsabilidade proporcional de seus agentes, por excesso ou inop !
do Esta-
do, coibindo ações e omissões desproporcionais, implica fazer o momento, pois, de repensar a responsabilidade estata ' em
frente aos desafios complexos da gestão pública sintonia com a premissa de que o Estado existe para os direitos
sustentável,
notadamente para lidar (a) com a formação de poupança pú- relativos à sustentabilidade justa,” não o contrário. Existe para
blica; (b) com os investimentos urgentes em infraestrutu salvar e resgatar, não para ofender ou prejudicar gerações
ra; (c) presentes e futuras. Existe para prevenir, não para chegar tarde.
com o uso das energias renováveis, sem formação de
bolhas Existe para poupar e investir com impessoalidade, não para os
especulativas; e, não menos importante, (d) com todos
os itens caprichos de dominações e manipulações emotivistas. Existe
- que compõem a Agenda da Sustentabilidade,
defendida no para promover o desenvolvimento durável, não para cultuar o
Capítulo 4. O Estado Sustentável é, resumidame
nte, aquele crescimento (hiperconsumista) pelo crescimento. Existe para a
capaz de cumprir tal Agenda de ofício. Cumpre fazê-lo
, an- cidadania ativa e altiva, não para a insaciabilidade que só faz
tes que seja tarde, para que se instaure a guarda efetiv
a da enganar os consumidores vulneráveis das políticas públicas.
constitucionalidade,”? a ser produzida de ofício pela
Admi- Não se trata de considerar tolamente que as compen-
nistração Pública.
sações resolvem tudo (às vezes até pioram, quando mal
Certo: noutra época, representou significativo avanço
encaminhadas), mas de enxergar que o crucial é criar uma
pretender que administrar seria aplicar a lei de ofício,
sem atmosfera antecipatória de responsabilidade (pública e par-
rendição a subjetivismos.? Absorvido esse ponto, importa
dar ticular), perante os direitos fundamentais, de sorte que os|
passo adiante e perceber que administrar é aplicar a Consti
tuição danos causados por ação ou omissão*” não aconteçam ou,
em tempo útil e de ofício. O que não exclui a legalidade e o
res- na pior das hipóteses, deixem de ocorrer. Para tanto, indis-
peito às regras, mas insere o compromisso maior de
garantir, pensável precificar a inoperância, para não consentir com a
em primeiro plano, a eficácia direta à rede complexa dos princíp retomada perversa da omissão.
ios
fundamentais, entre os quais o princípio da sustentabilidade, Em resumo, a meta prioritária, segundo o novo para-
com a
tutela individual e coletiva dos direitos associados. digma aplicável às políticas públicas, consiste em, a todo
transe, evitar os custos diretos e colaterais dos danos provocados
Vide Albert Fishlow, in O novo Brasil: as conquist
por ações e omissões injustificáveis dos agentes estatais.
as políticas, econômicas, sociais e nas
relações internacionais. São Paulo: Saint Paul,
2011, p. 278.
”2 Para aprofundar os argumentos em favor da guarda
ampliada da Constituição, vide
Juarez Freitas, in O controle de constitucionalidade pelo Estado-adminis
Revista de Direito Administrativo & Constitucional,
tração. A&C — 4 i Justice:
inabili with
Vide William E. Rees, ini Toward Sustainability are Human Nature and History
ice: are
v. 10, n. 40, p.217-238, abr./jun. 2010. Vide, ; a Side? In: Colin L. Soskolne (Ed.), Sustaining Life on Earth: Environmental and Human
sobretudo, Juarez Freitas, in O controle dos atos administ
rativos e os princípios fundamentais, ' Health through
roi À p. 81 -98.
Global Governance, op. cit., Te
op. cit,
2 Vide a contribuição de Miguel Seabra Fagundes, in i e Patryck de Araújo
95 Vide JoséE Rubens Morato Leite 1 Aya la, ; in Dano ambiental: do individual
l
O contrôle dos atos administrativos pelo ão dice extrapatrimonial: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010,
Poder Judiciário. 3. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 1957, p. 17.
p. 195.
JUAREZ FREITAS
272 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 10 | 273
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

10.2.2 Responsabilidade e proporcionalidade administração, convindo realçar o caráter solidário


aa As considerações subsequentes somente da responsabilização dos degradadores.”
cobram Pleno
significado se encartadas no horizonte intertem (b) ao Poder Público cumpre, sem solução de conti-
poral do para
digma da sustentabilidade, no qual se abandonam
os impulsos | nuidade, conferir absoluta prioridade ao que a Carta
prepotentes e as omissões lesivas do
patrimonialismo indefe designa como tal, motivo pelo qual não se admite
sável. O Estado passa a ser eminentemente respo invocar a discricionariedade administrativa ou a
nsável pelo di
de bem-estar vivido, que não guarda exata correlaç reserva do possível para deixar de implementar, por
ão com o gra !
de satisfação com a vida, como provou Dani
el Kahneiiar exemplo, programas de atenção às vítimas poten-
Redimensionada, a responsabilidade do
Estado é entendida
ciais ou efetivas de danos ambientais, nem para
em consórcio indissolúvel com a proporcion
alidade que veda, ao deixar de formular e de cumprir as políticas globais
mesmo tempo, ações e omissões antijurídicas. A da sustentabilidade.! É preciso, nesse ponto, avan-
partir daí, cabo
observar, com grande reserva, a reserva do possí
vel,” já que, a rigor
çar em relação ao princípio do poluidor-pagador,
uma vez configurado o nexo de causalidade, apres assim como incentivar o não poluidor por meio de
enta-se des-
cabida e imprópria qualquer invocação de impo políticas premiais transparentes, seja para melhor
ssibilidade
Por todos os motivos, imperioso conso incentivar as reservas particulares de patrimônio
lidar a tada
reinterpretação da responsabilidade do Estad natural, seja para induzir a gestão pertinente de
o, acolhendoa
relação, na margem, entre proporcionalidade, preve resíduos (por exemplo, no descarte de produtos
nção e respon- :
sabilidade, mediante reexame criterioso da imputação eletrônicos, com a impositiva logística reversa).
do nexo de
causalidade intertemporal. Assim, com o fito de Ademais, na “gestão e gerenciamento de resíduos
sensibilizar
para a Ótica aqui preconizada, no rumo da resp sólidos, deve ser observada a seguinte prioridade:
onsabilidade
sustentável, plausível afirmar que: , não-geração, redução, reutilização, reciclagem,
(a) configura-se lesiva a inércia ou omissão tratamento dos resíduos sólidos e disposição final,
incons- ambientalmente adequada dos rejeitos”. Vale
titucional que nasce do descumprimento do dever
de formular e de implementar as políticas da suste dizer, as políticas da sustentabilidade, outrora conside-
n- radas simples alternativas, são cogentes: não matéria
tabilidade, a tempo de inibir ou afastar os danos
perfeitamente evitáveis. Tal dever se apresenta de opção partidária ou ideológica, mas pautas
rela- inescapáveis de Estado e da sociedade, sob pena
cionado intimamente ao direito fundamental à boa
de responsabilização.
E Vide, a propósito, Daniel Kahneman, in Thinking
, Fast and Slow, op. cit. Vide, sobre essa
distinção, André Lara Resende, in Bem-estar 59 Vide STJ. REsp nº 1.071.741/SP, 2º Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. Julg. 24.3.2009. DJe,
e húbris. Valor Econômico, São Pauls 23 mar.
2012: a experiência vivida pode ser melhorada 16 dez. 2010.
com políticas públicas, mas o gráu de
É Satisfação com a vida é primordialmente uma
questão de aprimoramento pessoal”. 58 Vide STJ. REsp nº 699.287/AC, 2º Turma. Rel. Min. Mauro Campbell Marques. Julg.
Vide, sobre o tema da reserva do possível, Jorge Reis Novais, 13.10.2009. DJe, 23 out. 2009, relativamente a ex-prefeito que teria “ordenado que o lixo
in Direitos sociais: teori coletado na cidade fosse depositado em área totalmente inadequada (situada aos fundos
jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundam
entais. Coimbra: Wolters Kliwer de uma escola municipal e de uma fábrica de pescados), de modo que tal ato, por acarretar
Coimbra Ed., 2010, que, após reconhecer que a
realização dos direitos fundamentais grandes danos ao meio ambiente e à população das proximidades, reclama a respon-
implica
custos (p. 96), observa que não se pode
admitir que a reserva do possível
usada para desvalorizar a condição dos direitos sei sabilização do agente público”.
fundamentais sociais (p. 103% ig
78 Sobre decisões na í 4 . 58 Vide Maurício Oliveira, in O governo também pode inovar. Guia Exame de Sustentabilidade
cit, p. 139-154. margem, vide Paul Krugman e Robin Wells, in Introdução à economia, op. 2010, op. cit., p. 64-69. ç
582 Vide.o art. 9º da Lei nº 12.305/2010.
JUAREZ FREITAS 2
274 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERERETAÇÃO JURÍDICA 75

(c) resulta configurado o nexo de causalid


ade entre pode compor, em determinadas circunstâncias, a
imercia inconstitucional e o evento
danoso na cir E rede de causalidade do dano iníquo: se o Estado
cunstância da negligência estatal de providên
. A . . A "

cias omisso contribui, por exemplo, para danos am-


f E

acautelatórias, por exemplo, de remoção (com alter


». | bientais causados à unidade de conservação, pela
nativas) das pessoas de mapeadas áreas de risco
(e falta de prevenção exigível, isto é, por omissão ou
face da obrigatoriedade da ordenação e do
cor inércia deficitária do exercício regular do poder de
do uso do solo, de forma a evitar a
exposição df polícia ambiental, responde solidariamente, sem
população a riscos de desastres, conforme
a Lei E
12.608/2012, que alterou o Estatuto da Cidad prejuízo de buscar o ressarcimento do causador
e). “direto”ss Mais: para o fim de “apuração do nexo
Ao lado disso, claro que “é possível estabelece
r-se de causalidade no dano ambiental, equiparam-se
multa cominatória em liminar contra ente
público quem faz, quem não faz quando deveria fazer,
com o objetivo de evitar dano à população” ss:
(d) mostra-se, outra vez para ilustrar, quem deixa fazer, quem não se importa que façam,
o nexo de causa-
lidade entre o óbito por dengue hemorrág quem financia para que façam, e quem se beneficia
ica e a quando outros fazem”, admitida a “legitimidade
notória omissão dos agentes públicos, nessa
quali- passiva de pessoa jurídica de direito público para
dade, que poderiam tê-lo evitado e não
o fizeram
ou seja, não tomaram as providências que responder por danos causados ao meio ambiente
se Re
punham e que eram insofismavelmente viáve em decorrência da sua conduta omissiva quanto ao
is no
caso específico. dever de fiscalizar”.*º
(e) desponta robusto o nexo de causalid
ade entre a
(g) o Estado Sustentável é inescusavelmente respon-.
morosidade imotivada do Estado, ao retardar sável pela correção das matrizes energéticas e dos
a
apreciação de pedido e, em decorrência,
gerar modais de transportes, assim como pela falta injusti-
dano iníquo, assim como ao proferir “licença
para ficável de investimentos em saneamento ambiental:
a exploração de atividade econômica em zona
am- são sindicáveis, doravante, as políticas públicas, no
biental, sem as exigências legais, responde
solida- seu conteúdo e em seus mecanismos operacionais
riamente com o infrator pelos danos produzido ou executórios, não se admitindo a causação de
s”
.57
(f) a omissão injustificável de policiamento ambi retrocessos pontuais ou estruturais, não raras vezes,
ental
ostensivo, em zonas de emissão de poluente fáceis de antever.
s letais,
Pois bem: para manter asserções desse calibre, de ma-
nao Vide, r especi
É alment7e 1 o art. . 42-A do o E Estatuto da Cidad
neira consistente e sem endossar o quimérico Estado segurador
universal, força ter presente que a responsabilidade do Estado,
i e (Lei i nº 10.25 7 /2001), introduzido
i

no /RS, 2º Turma. Rel. Min.


i Castro Meira.
i Julg. 17.4.2008. DJe, 9 maio
ao /RJ, 1º Turma. Rel. Min.
i Luizi Fux. Julg; 27.10.2009. DJe, 2
fev. 588 Vide STJ. REsp nº 1.071.741/SP, 2º Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. Julg. 24.3.2009. DJe,
cada 16 dez. 2010.
, 1º Turma. Rel. Min.
i Teori i Albino
Albi Zavascki. Julg. 2.4.2009. 5» Vide STJ. REsp nº 650.728/SC, 2º Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. Julg. 23.10.2007. DJe,
di 2 dez. 2009.
Julg. 3.6.2008. DJe, 23 jun. 50 Vide STJ. AgRg no Ag nº 822.764/MG, 1º Turma. Rel. Min. José Delgado. Julg. 5.6.2007. DJ,
2 ago. 2008.
JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 10 | 277
276 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

de maneira isonômica,” precisa ser reequacionada à luz Resultado: o primado do direito fundamental à boa
x
forte
do primado eficacial do direito fundamental à boa
adminis- "administração demanda assimilar, vez por todas, o ns
tração e da correspondente ultrapassagem da dominação de
vontades particularistas, pouco ou nada
cípio da sustentabilidade como intimamente associado à
propensas a acolher a proibição de excessos e à simultânea vedação de inércia ou
proba impessoalidade e o horizontes projetado da
intergeracional, no âmbito da gestão pública.
equidade * inoperância das medidas determinadas pela Constituição. De
fato, juntamente com a perspectiva iii da Ae
intertemporal, impõe-se afastar o culto irracional e a a a
10.2.3 Conceito de responsabilidade do Estado: status quo** arbitrário (por ação ou por omissão), e e E
o | impede as políticas de menor custo e de maiores bene
nexo causal
Nesse prisma, a responsabilidade do Estado merece
ser reconceituada como o dever das pessoas
jurídicas de 10.2.3.1 Excludentes do nexo causal
direito público e de direito privado prestadoras
de serviço Nessa perspectiva, o Estado Sustentável, sem Stud à
público lato sensu de prevenir danos incidentes
sobre as atuais autonomia individual,* será responsabilizável Ea
e futuras gerações e, se for o caso, inden
izar e compensar, não apenas pela conduta comissiva (ação), mas tam a! F -
independentemente de considerações sobre :
culpa ou dolo,
todos os prejuízos materiais ou imateriais, indi omissão causadora de danos desproporcionais. Natura e
viduais ou “admitidas as excludentes do nexo causal, a saber: (a) a cupa
transindividuais, causados desproporcionalmente
a terceiros
por seus agentes, nessa qualidade, por ação ou omiss exclusiva da vítima (excludente total); (b) a culpa concorrente
ão.54 “da vítima (excludente parcial); (c) o ato ou fato de e
(excludente, no geral das vezes, embora haja casos É fi
* A preservação da igualdade de ônus está na gênese
da responsabilidade da Administração ponsabilidade civil do Estado decorrente diretamente a E
em que pese o dano ter sido produzido por jerce nor; se
perante suas possíveis vítimas. Vide, apenas
para ilustrar, sobre os fundamentos da
responsabilidade administrativa, Pierre-Laurent
Frier e Jacques Petit, in Précis de droit e que E
administratif. 5 éd. Paris: Montchrestien, 2008, p. 532. a força maior (irresistível) ou o caso fortuito (des
atribuível a razões internas); e (e) a impossibilidade mota a
2 Vide o capítulo sobre responsabilidade em
Juarez Freitas, Discricionariedade administrativa
o direito fundamental à boa e
Administração Pública, op. cit.
“3 Vide Hans-Georg Gadamer, in Verdade e método,
op. cit. v. 1, p. 400, ao assinalar, com acerto, de cumprimento do dever (como assinalado, não basta a
embora noutro enfoque: “Aquele que não tem um horizonte é
suficientemente longe e que, por conseguinte, superva um homem que não vê
loriza o que lhe está mais próximo”.
No enfoque aqui adotado
, o horizonte projetado de longo prazo, não
tradição, é que auxilia a compreender melhor as novas apenas baseado na
funções do Estado. ári de hospital
o exercício de suas atribuições no berçário i úbli
público. ei o
ão de todos
& Vide, por ser caráter emblemático, STF. RE nº
495.740-AgR/DE, 2º Turma. Rel. Min. Celso E ressupostos primários determinadores do reconhecimento de ERR
de Mello. Julg.15.4.2008. DJe, 14 ago. 2009: “A jurisprudência dos bioliva
o FE poder público, , o que faz emergir o dever de indenização pelo dano p
reconhecido a responsabilidade civil objetiva do Tribunais em geral tem
poder público nas hipóteses em que o ou patrimonial sofrido”. E
eventus damni ocorra em hospitais públicos (ou 5 Vide, a respeito do apego ao status quo, a as farta no Capítulo 6. beato
mantidos pelo Estado), ou derive de tra-
tamento médico inadequado, ministrado por funcionário público 56 Vide Christine Jolls e Cass R. Sunstein, im oa Through ita ma
, ou, então, resulte de
conduta positiva (ação) ou negativa (omissão) À
imputável a servidor público com atuação na : “A more fundamental concern wi
área médica. Servido ra pública gestante, que, no desempenho de suas à ton be)
foi exposta à contaminação pelo citomegalovírus, atividades laborais, Sêi indivi dual autonomy. When government t isi is «engaged di in (w' : hat it considers
Ives dr S

consistiam, essencialmente, no transporte


em decorrência de suas funções, que in
ebi 7 de is a risk that it will manipulate its citizens to serve its own no x a
de material potencialmente infecto-contagioso a Lei nº 10.744/2003 — Assunção, pela União, de sas E step
(...). Filho recém-nascido acometido da “Síndrome 57 Vide, a es propósito,
terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou e ad
de West, apresentando um quadro de
paralisia cerebral, cegueira, tetraplegia, epilepsia
e malformação encefálica, decorrente COR aeronaves de matrícula brasileira operadas por empresas brasileira >
de infecção por citomegalovírus contraída
por sua mãe, durante o período de gestação,
aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo.
JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 10
278 SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA | 279

simples alegação de reserva-do possível, porque se im RE Público ou de seus delegados. Consoante esse raciocínio, as
nutrir, como regra, reservas à reserva do possível). 4 f
condutas 'comissivas e omissivas, uma vez presente o liame
causal, serão sempre antijurídicas em sentido sistêmico, ainda
quando “lícitas” em sentido estrito ou quando consideradas
10.2.3.2 Responsabilidade por ação e omissão apenas as condutas dos agentes. E o serao justamente por
Ora bem, se a responsabilidade do Estado pode ser violarem o núcleo de direitos fundamentais, inclusive nos
traduzida como obrigação de evitar, reparar ou compensar, casos de execução equivocada da norma ou de aplicação da
independentemente de culpa ou dolo do agente, os danos Jei, cuja inconstitucionalidade tiver sido supervenientemente
materiais e imateriais, individuais ou coletivos, causados declarada.
a terceiros (não necessariamente usuários de serviços pú- Ao que tudo indica, não há nada de substancial, em
blicos),” por ação ou omissão desproporcional, não faz sentido nosso sistema, que justifique tratamento radicalmente distinto
separar regimes para condutas omissivas e comissivas. entre ações e omissões. Ambas as condutas podem afetar di-
Bem observada, a responsabilidade do Estado é una. Nessa reitos fundamentais, prejudicando o princípio constitucional
leitura sistemática do modelo constitucional, o que se afirma da sustentabilidade, dado que a responsabilidade reclama,
é a presunção juris tantum do nexo de causalidade, viáveis as assertivamente, O proporcional cumprimento dos deveres rela-
excludentes, tanto em relação às condutas comissivas como cionados à tutela direta e imediata da totalidade dos direitos
no atinente às omissivas. Tal presunção de causalidade nasce fundamentais das gerações atuais e futuras, igualmente
da Constituição e do seu reconhecimento da vulnerabilidade titulares de direitos. Assim, na esfera ambiental, significa,
presumida das possíveis vítimas do descumprimento dos entre outra coisas, a responsabilidade objetiva do Estado por
deveres de sustentabilidade multidimensional. danos causados por ação e por omissão fiscalizatória, na ade-
Vale dizer, o particular ou suposta vítima, é que se pre- quada intelecção dos arts. 3º, IV, e 14 da Lei nº 6.938/81, em
sume veraz na afirmação do nexo. As presunções de legiti- harmonia com a Carta.
midade e de veracidade, nessa situação, têm de vir em defesa Nessas bases, à vítima de hoje (ou à futura, com alguém
das vítimas (atuais ou futuras) das condutas lesivas do Poder em nome dela) incumbe somente alegar a antijuridicidade
das políticas públicas insustentáveis, ora pelo cometimento
de excessos, ora pela não menos nociva — e costumeira até
*º Vide STJ. REsp nº 1.051.023/RJ, 1º Turma. Rel. Min. Francisco Falcão. Rel.
Teori Albino Zavascki. Julg. 11.11.2008. DJe, 1º dez. 2008: “art.
p/ Acórdão Min. — inatividade. Tal releitura estratégica (não apenas tática)
37, 86º, da Constituição,
dispositivo auto-aplicável, não sujeito a intermediação legislativa ou
administrativa para
da responsabilidade não ignora os efeitos cumulativos. Não
assegurar o correspondente direito subjetivo à indenização. Não cabe invocar,
tal responsabilidade, o princípio da reserva do possível ou a insuficiênc
para afastar foge do exame prospectivo dos danos. Afinal, no presente estágio,
Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação
ia de recursos.
da Administração ou o risco maior é o da omissão que pouco ou nada faz, fingindo fazer
dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado, caso
em que os recursos finan- o máximo possível. A
ceiros para a satisfação do-dever de indenizar, objeto da condenação
, serão providos na
forma do art. 100 da Constituição”. Assume-se, portanto, posição progressista de afirmação
*º Vide STF. RE nº 591.874/MS, Pleno. Rel. Min. Ricardo Lewandowski.
Julg. 26.8.2009. DJe, 18
dez. 2009: “A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado do paradigma da sustentabilidade, que empurra o Estado para
prestadoras
de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários, e
não usuários do serviço, além das fronteiras e da “zona de conforto”, forçando-o a redu-
zir despesas correntes para que sobrem recursos destinados às
segundo decorre do art. 37, 86º da CF. A inequívoca presença do nexo
'de causalidade
entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não usuário do serviço
público é
áreas nevrálgicas, no ritmo certo e na escala de tempo maior.
reito privado”.
280 | JUAREZ FREITAS À
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 10 | 281
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA.

Não se trata de voluntarismo espetaculoso. Ao revés. Trata-


de ativismo da Constituição e dos seus objetivos fundamentais nl de agente público (segundo requisito) e o dano juridicamente
iníquo (terceiro requisito), dimana o dever reparatório ou com-
ativismo nada tem do extremado subjetivismo desrespeita l
dor da alteridade do sistema normativ pensatório, incumbido o ônus da prova da não formação do
o. O ativismo, / ness a * nexo causal ao Poder Público ou aos seus delegados.
acepção, não deve ser tomado com o
sentido habitualmente | Vale dizer, existem abstenções lícitas e positivas, contudo
pejorativo de atuação invasiva ou usurpató 4
ria dos centros d "há abstenções categoricamente antijurídicas e interditadas: as
poder, mas como recusa de praticar
o passivismo que del omissões desproporcionais. O tempo de tolerância para com tais
cumpre os mais elementares
deveres constitucionais
de inadmissível inércia (dolosa ou culposa) mer omissões precisa chegar ao fim. O que ensejará o início de
. Não setrata e : ciclo do Estado historicamente mais produtivo e socialmen-
outras palavras, de prestigiar qualquer supervalorização
poder, mas de compensar as fraquezas estr de te homeostático. Uma nova versão do Estado de bem-estar,
uturais ou pontuais agora em sentido multidimensional”! que não se coaduna
"de diligência pública.
com déficits de democracia, nem com planos simplistas de
austeridade pela austeridade, que só tornam mais difícil equa-
10.2.4 Omissão desproporcional cionar o problema das dívidas públicas. O Estado Sustentável,
sem omissão, sabe induzir o desenvolvimento durável (não
| Nesse registro, constatação inescapável:
ções a para mais ou para menos
despropor- o crescimento pelo crescimento), com disciplina nas contas
— caracterizam, segundo
a aplicação do princípio em tela, violaçõe públicas, inovação e aumento de produtividade.
raro, inconstitucionalidades,
s sistêmicas e não Como se percebe, em matéria de responsabilidade do
a serem proclamadas sr: os Estado, há longo caminho a trilhar. Falta, sem dúvida, aguçar
respectivos efeitos.
Sempre para ilustrar, se a Administ
; a ideia de que existe a proibição constitucional de excesso e
Tespeitar, com o lançamento de editais
ração Pública não de inércia. Tudo isso requer novo foco hermenêutico, desig-
responsáveis, o prin- nadamente para concretizar os emergentes princípios da
cípio do desenvolvimento sustentável, est
Licitações, cometerá omissão lesiv
ampado a Lei de prevenção e da precaução.“ Importa, ademais, aperfeiçoar o
a, além de nulidade. Ainda: teste da sustentabilidade no controle proporcional das con-
se o Estado-Administração tardar em
excesso para oferiete dutas omissivas e comissivas das pessoas jurídicas de direito
leitos hospitalares (diretamente e/ou cobr
ando dos planos público e de direito privado prestadoras de serviço público.
de saúde), resultará aquém do cumprimen
to basilar dos de-
veres constitucionalmente estabelecido
s. A antijuridicidade
resultará, nesses
casos, de reprovável, sob todos os
inobservância dos deveres diretame aspectos 10.2.5 Configuração da omissão: três questões
nte estatuídos pela L,
Fundamental. Ao se tratar especificamente da omissão, cumpre acres-
E i
Trata-se de arbitrariedade por omissão. De centar as seguintes questões pertinentes no exame de cada
maneira que, do
nexo causal direto (primeiro requisit
o) entre ação ou omissão
“1 Vide, sobre o bem-estar multidimensional, Joseph E. Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul
Fitoussi, in Report by the Commission on the Measurement of Economic Performance and
Kmiec, que arrola vários sentidos Social Progress, op. cit. p. 14-15.
para o ativismo (sem exaurir as possib
The1441-1477,
p. Origin andOct.Current M anin
2004 e gs of “ “Judicial
dci Ea , . :
ilidades) , “2 No caso das lâmpadas, por exemplo, a precaução exige não apenas considerações
Activism”. California Law Review, v. 92, n. 5; econômicas, mas de saúde (com os cuidados para evitar câncer na pele). Vide, a respeito,
para escrutínio nessa linha, as pesquisas sobre OLEDs (Organic Light Emitting Diode).
rs 282 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CAPÍTULO 10 | 283
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

caso, para verificar se está


sta presente , OU Não,
ã a omissãSão dange concernentes à responsa-
e insustentável: r.
Osa Assimiladas tais máximas,
(a) omissivistas não
ÉErro pilidade por omissão, vê-se que desculpas
a

estatal é socialmente benéfica


ma
L

numa omissão q ue negligl enc o se tra- podem suplantar as razões sérias da Constituição e“* do Estado
i i E Par
Rbteenç
obt re ão efica Ze razoáví el dos os Rn a a Sustentável.
fi
fins e objeti
jeti vo S cons-
(b) a abstenção estatal é necess
b
um.

ária ou s e trata de omis-


f

a que impõe sacrifícios iní


quos e inaceitáveis na 410.3 Reservas à reserva do possível
E istribuição dos encargos?
É importante reiterar a necessidade de reservas à reserva
1

apo % entre eficiência


no tr, ei

e equidade, o cu do possível. Desse modo, O dano juridicamente injusto, que


. “A ú

apo a abstenção é justificável ou


io

n-
prejudica direito ou interesse legítimo (individual ou transi
me. Lu A

se trata
r
É E 4

Fes que produz resultado


s (diretos e indi possa ser
l Justiticáveis a longo prazo? : dividual), caracteriza-se por ser: (a) certo, embora
(b)
É e artir odo acr Fi ésci desse teste adaptado às peculiari
ea futuro, no sentido de também alcançar gerações futuras;
pante
ara o enunciado de
dades especial (não eventual), ainda que reflexo; e (c) discre
ne
gentes que que rela máxi
rci elaac res
ipon
osab
nili
adadme,a a sust dos parâmetros da sustentabilidade.
proporcionalidade, E Na associação esclarecedora entre sustentabilidade,
a saber: , pm
(a) proporcionalidade e responsabilidade, supera-se, com folga,
a
e
Ser
fan
Ls .
a
.

insustentável o dano cau


.
ú

sado ,
Rn Et q pe 0a sua causa for, parcia
l ou total- o vetusto e rígido corte dicotômico entre atos lícitos e ilícitos
a a puras seus, nessa qualidade em sentido estrito. Dessa responsabilidade, assim balanceada
ab pad utas desproporcionais par
a mais e intertemporalmente concebida, defluem as seguintes
nos. A indenização será principais observações:
proporcional
? exo i 4 (a) O dever de sustentabilidade faz com que a vítima
(b)
O princi
Principio da responsabi
atual ou futura, em razão de sua presumida vulne-
a
objeti
cr
lidade ext
racontratual rabilidade (por força da Constituição), não tenha o
va E Eai do Estado coíbe a arbitrar
atal omissiva ou comiss
ie- ' ônus de provar a culpa ou o dolo do agente, nessa
'excludentes:* a presunção
iva, mas admite qualidade. Suficiente que nada exclua, no curso do
não é de culpabilidade processo, a formação do nexo causal direto entre
mas do nex
iro de causalidade. O omiss ivi
de dano juridicamente iníquo S a ação ou a inatividade e o evento danoso. Entre-
da
tanto, a responsabilidade objetiva não é entendida
E
cionaliA veda mop
i erânci
ância na implementação como imputação cega do dever indenizatório. Tal
Politicas essenciais ao desenv
olvimento dai entendimento mostrar-se-ia conducente ao destem-
vel e aà concreti
tdo zacã
E ção do dirire eito fundamental à> boa pero do risco absoluto.

Ra
SO), in A nova separação dos poderes. Rio
Vide a: S vária 4 No ponto específico, assiste razão a Bruce Ackerman,
séria para o Estado moderno deve
603 A
i s posiiçÕ
ções a respeito in Juarez Freit Juris, 2009, p. 75: “Uma Constitu ição
a de Janeiro: Lumen
São Paulo: Malheiros , 2006. e(Org). Responsabilidade civil do Estado para assegura r que as pretensõ es burocráticas atinentes à
tomar medidas contundentes
técnica não sejam simples mitos legitimadores”.
UAREZ FREITAS CAPÍTULO 10 | 285
284 | STENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

(b) Sem precisar lançar mão do conceito de “culpa anô- assim, renovada e fortalecida, a teoria E
Ressurge,
nima” (não individualizável) em sede de respo pe -
nsa- responsabilidade extracontratual do Estado, mise
bilidade pelas condutas omissivas do Poder Público, sta pe
rincípio da sustentabilidade, segundo o qual o
a omissão do cumprimento (ou o desidioso cumpri- EP
dever de zelar pela natureza, em sua multidimensiona ida
mento) do princípio constitucional da susten
tabili- (nela incluída a espécie humana), vista qualquer omissão como
dade gera o dever de indenizar ou de compensar.
inconstitucional, ao afetar o âmago dos direitos fundamentais,
Desaconselhável enquadrar a omissão como
simples com a quebra da prevenção ou da precaução.
condição para o evento danoso, tampouco concebê-
la como mera situação favorável à ocorrência de
prejuízo. A omissão carrega o frustrado princípio ativo 10.4.1 Princípio da prevenção
do dever estatal não cumprido, em relação às gerações
presentes e futuras. A propósito, eis o princípio da prevenção, nos seus a
mentos centrais: (a) alta e intensa probabilidade ae e
dano especial e anômalo; (b) atribuição e po Êo
Poder Público evitar o dano social, econômico ou E len :
10.4 Princípios da prevenção e precaução
e (c) ônus estatal de produzir a prova da excludente do nex
De fato e de direito, o Estado Sustentável não pode chegar idade intertemporal.
C
tarde. O certo é defender que o Poder Público ostenta antevê-se, com segurança, o
à obri- E pn os SS DOStOS
gação de trabalhar para o ambiente (institucional e
natural) resultado insustentável e, correspondentemente, nos limites
duradouramente sadio, respeitada a “prioridade absol
uta” das atribuições, configura-se a obrigação de o Estado eee
nos termos expressos da Constituição, no art. 227.5
as medidas necessárias e adequadas, interruptivas da rede
Fr

É que o princípio constitucional da preve


nção,* em causal, de sorte a impedir o dano antevisto.
Direito Administrativo e no Direito Ambiental,
mais até do
que o da precaução, determina, sem mora ou sofisma
acomo-
datício, o cumprimento diligente, eficiente e eficaz
, dos deveres 10.4.2 Princípio da precaução
de impedir o nexo causal de danos perfeitamente previ
síveis, Por sua vez, o pfincípio da precaução, dotado de efi-
sob pena de responsabilização objetiva do Estado. Como
men- cácia direta e imediata, impõe ao Poder Público js oo
passivismo complacente,
submisso, servil e obscurantista. não tergiversáveis, com a adoção de medidas antecipatórias”
e proporcionais, mesmo nos casos de incerteza quanto à
produção de danos fundadamente temidos (juízo de veros-
5 Força, cada vez mais, levar em devida conta o
similhança).
art. 227 da Constituição: “É dever da família,
da socieda de e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta
ção, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao Tespeito, à liberdad iein
e e à convivência familiar e comu- “7 Sobre a ação antecipada e o princípio da precaução, vi Paulo e
ão, vide o do,
nitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração,
Direito ambiental brasileiro, op. cit. Não se trata de simples pe. estenda
violência, crueldade e opressão”. aipim
e 1992.
“ Sobre os princípios constitucionais da prevenção e da ífica, nos moldes do Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro
vide Juarez Freitas, in O controle dos atos
precaução em Direito Administrativo, e J tamento bibliográfico específico, Gabriel Wedy, in O princípio con meg
Capítulo 1.
administrativos e os princípios fundamentais, op. cit., a oba cad instrumento de tutela do meio ambiente e da saúde pública.
'Horizonte: Fórum, 2009.
286 | |SUSTENTAB
WAREZ FREITAS
ILIDADE - DIREITO AO FUTURO
. CAPÍTULO 10
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA | 287

A inobservância desse dever também configura, ou, vigilância toxicológica para combater os males agudos e
ao menos, tem o condão de configurar, omissão antijurídica, crônicos causados pela exposição excessiva a agrotóxicos.
específica, certa e anômala. Com efeito, à semelhança do que No caso, a certeza do dano não comporta tergiversações. Há
sucede com a ausência de prevenção exigível, a falta ou falha
* certeza, nesse momento, de que determinado prejuízo ocorrerá
de precaução pode gerar dano (material e/ou moral) injusto (milhares de mortes anônimas e invisíveis), se a rede de causa-
e, portanto, indenizável, embora dispendiosamente absorvido fidade não for tempestivamente interrompida. Dad
pela castigada massa dos contribuintes. O ponto relevante é que não se admite a inércia do Es-
Dito isso, para dissipar confusões terminológicas rema- tado, sob pena de responsabilização proporcional. A omissão
nescentes, assim como ocorrem entre risco e perigo, convém significativa passa a ser vista como causa jurídica do evento
distinguir, com nitidez, os princípios da prevenção e da pre- danoso, não mera condição. Ou seja, na esfera jurídica da
caução. prevenção, antevê-se, com segurança, O resultado negativo
e, correspondentemente, nos limites das atribuições, Gap a
obrigação de o Estado tomar as medidas interruptivas da rede
10.4.3 Aplicabilidade dos princípios da prevenção e causal, de molde a evitar o dano antevisto.
precaução : Ainda para ilustrar: imprescindível, em larga escala,

O princípio da prevenção, no Direito Administrativo e


tomar consistentes medidas preventivas contra os males
trazidos por espécies exóticas invasoras, que afetam os ecos-
no Direito Ambiental, estatui, com aplicabilidade direta,
!|
que sistemas, tais como o mosquito transmissor da dengue, o
o Poder Público, na certeza de que determinada atividade
futura implicará dano injusto, encontra-se forçado a coibi-la,
mexilhão-dourado, o “pinus” e outras espécies introduzidas
sem plano de manejo, que comprovadamente causam danos
desde que no rol de suas atribuições e possibilidades orça-
à saúde ou perdas econômicas expressivas.”
mentárias. Dito às claras, presentes os requisitos, tem o dever
Mais um exemplo: trata-se de iniludível dever de pre-
incontornável de se antecipar e de agir preventivamente, sob”
venção (não de precaução) o combate aos danos trazidos pela ,
pena de responsabilização.
prática do tabagismo, uma vez que tais malefícios são sobe-
Para ilustrar o dever de prevenção: se existe certeza de
jamente conhecidos. Não se mostra remotamente plausível a.
que milhares de pessoas morrerão, por ano, em função
das argumentação contrária, baseada em dúvida, salvo por arte
complicações decorrentes da inalação do enxofre (liberado
do sofisma. Viável, desse modo, a outorga da tutela específica
pelo diesel) acima de padrões internacionais, então o Estado
para que o Poder Público tome as providências obrigatórias
tem o dever de intervir, no sentido de que se promovam, em
de caráter preventivo. Este exemplo serve para realçar que,
tempo hábil, as devidas adequações dos motores veiculares independentemente (e até antes) de lei proibitiva, o Ra
e da qualidade de
dos combustíveis, evitando a mortandade da prevenção já determinava a vedação do fumo em locais
humana. Não basta simples resolução formal, pois se impõe risco, com eficácia direta e imediata. OP.
aqui a cobrança efetiva de providências que tornem a pre- De sua parte, o princípio da precaução, direta e imedia-
venção eficiente e eficaz. Outro exemplo: indispensável a tamente aplicável, -tradiiz-se, nas relações administrativas,

“8 Sobre a distinção entre perigo e risco, vide Ulrich Beck, in Políticas ecológicas en la edad de
riesgo: antídotos: la irresponsabilidad organizada. Barcelona: E] Roure, 99 Vide, a propósito, Karina Ninni, in As invasões bárbaras. O Estado de S.Paulo, São Paulo,
1998, p. 115. p. H4-H5, 23 fev. 2011.

,
CAPÍTULO 10
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288 | jAREZ FREITAS
ETENTABILIDADE — DIREITO AO FUTU
RO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

como dever de o Estado motivadamente evitar, nos limites de o Princípio 15: quando houver ameaça de danos certos ou
suas atribuições e possibilidades orçamentárias, a Produção: ! reversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve
de evento que supõe danoso, em face de fundada convie E utilizada como razão para postergar medidas destinadas
ção.
(juízo de forte verossimilhança) quanto ao risco de, não sendo "aprevenir a degradação.
interrompido tempestivamente o nexo de causalidade, ocorrer Pois bem: em consórcio com os princípios da prevenção
o prejuízo desproporcional," isto é, superior aos custos da eda precaução, o princípio constitucional da en
contra
eventual atividade interventiva.“!! “ prescreve O fim da prepotência do imediatismo, na luta
No cotejo com o princípio da prevenção,*? a diferença os maiores fatores de risco paraa espécie humana, peito
reside apenas no grau estimado de probabilidade da ocorrên- quais, para ilustrar, as manipulações, as fraudes e as avaliações
negligentes de risco no mercado financeiro. ne
cia do dano irreversível ou de difícil reversibilidade (certeza
versus verossimilhança). Nessa medida, o Poder
Tal cortejo de males não pode ser exitosamente ataca
Público,
para concretizar o princípio da precaução, age na presunção -
4
com a miopia! dos imediatistas empedernidos que, no gera!
pro-
— ligeiramente mais intensa-do que aquela que o obriga a das vezes, conspiram para confirmar as mais tenebrosas
das atribui ções, que
prevenir — de que a interrupção proporcional e provisória fecias. Exige-se, desse modo, nos limites
do nexo de causalidade consubstancia, no plano concreto, o poder regulatório da sustentabilidade cumpra, com ea
atitude mais vantajosa do que a resultante da liberação do os deveres de prevenção e de precaução, ensejando ambiente
liame de causalidade. amigável para as relações entre os seres vivos, sem prejuízo
os de autorregulação.
No sistema brasileiro, o princípio da precaução brota
E Fon influxo de = princípios, o Poder Público tem o
do art. 225 da Constituição e aparece, para ilustrar, na Lei de
direito-dever de, arrimado em sólidos fundamentos Ro
Biossegurança (Lei nº 11.105/2005, art. 1º). Internacionalmente,
e de direito, impedir a configuração do liame de causali e
podemos localizá-lo, nos anos 1960, por exemplo, na Suécias
danosa, ao longo do tempo. Disso resulta, com exata dose de
prudência, autêntica mudança paradigmática: os princígios
e na Alemanha. Entretanto, força destacar a Declaração Rio-
92, que o estabeleceu,“ ainda que em linguagem imprecisa, da precaução e da prevenção, vivenciados com ânimo de pro e
homeostase social, abrem espaço obrigatório para o cumprimento
So Vide, entre tantos, Ana Gouveia e Freitas Martins, in O princípio da precaução no tempestivo da Agenda da Sustentabilidade. Í E
direito do
ambiente. Lisboa: AAFDL, 2002, p. 88.
Força, nessa linha, incorporar a noção de responsabi
(ética, social, jurídico-política, “ambienta
1 Sobre custo economicamente aceitável, vide Bernard Dobrenko, in A caminho
fundamento para o Direito Ambiental. In: Sandra Akemi Shimada Kishi, Solange Teles da
de um
dade multidimensional
Silva e Inês Virgínia Prado Soares (Org.). Desafios do direito ambiental no século XXI: estudos e econômica) do Estado por ações e omissões, a quem incumbe a
prova das eventuais excludentes. De ordem a evoluir para
em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 70.
92 Vide François Ost, in O tempo do direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p. 40, 343. Entre nós,
sobre diferenças entre prevenção e precaução, vide José Rubens Morato Leite e Patryck de uma performance estatal que cuide da salvaguarda Rc
poral dos direitos fundamentais relacionados ao ambiente
Araújo Ayala, in Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense Universitária
,
2002, p. 62. Vide, ainda, Marcelo Abelha Rodrigues, in Instituições de direito ambiental. São
Paulo: M. Limonad, 2002, p. 149. A propósito de visão crítica contra maximalismos em
matéria de precaução, vide Paulo de Bessa Antunes, in Princípió da precaução: breve ictaicão
nda E al à boa Administraç
também ao nosso Discricionariedade administrativa e o direito fundament
análise de sua aplicação pelo Tribunal Regional da 1º Região. Interesse Público, v. 9,
n. 43,
p- 41-74, maio/jun. 2007. s el a
Pública, op. cit.
13 Vide o Swedish Environmental Protection Act, de 1969. o de e da e E
615 Sobre ê tema da “miopia” temporal, vista como “atribuiçã a
4 Vide Juarez Freitas, in O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais, op: cit., i
intenso ao que está á m
mais a i óximo
próximo de nós m n no tempo, em E
detrimento
de ou
Capítulo 1, no qual foram inseridos os princípios da prevenção e da precaução na regência valor do amanhã: ensaio sobre
encontra mais afastado”, vide Eduardo Giannetti, in O
das relações de administração pública. Não por acaso, a abordagem, neste capítulo, remete reza dos juros, op. cit, p. 174.
CAPÍTULO 10 | 291
JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
290 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

saudável, especialmente para lidar, por exemplo, (a) com Dessa maneira, poder-se-á melhorar sensivelmente a
desastres naturais, nas cerca de quinhentas áreas de risco noM performance brasileira, nos indicadores do Environmental
Brasil, que envolvem cinco milhões de pessoas, como deter. Performance Index,ºº mirando firmemente nos progressos de
mina o Estatuto da Cidade, recentemente alterado pela Lei * outros países. Somente para ilustrar: aproveitar-se-ão as expe-
nº 12.608/2012; (b) com o Direito Administrativo da Saúde " siências positivas da Suíça, que resguarda a biodiversidade e
observados os valores mínimos do produto da arrecadação “mantém belo quadro de mobilidade sustentável. Observar-se-á
de tributos a serem aplicados em ações e serviços de saúde a Letônia, com os seus programas de agricultura sustentável
pública, de acesso universal e gratuito, consoante a Lei Com- e redução dramática de agrotóxicos. Da Noruega, assimilar-
plementar nº 141/2012; (c) com o reconhecimento ao direito se-ão poderosas inovações tecnológicas e a conservação de
subjetivo oponível ao Poder Público de obter o saneamento recursos naturais. De Luxemburgo, poder-se-á reter o conjunto
ambiental, a reordenação urbana,“ o tratamento de resíduos de programas de estímulo a veículos ecológicos, assim como
o abastecimento de água potável, o esgotamento e tudo o mail de incentivo à energia solar. Da Costa Rica, assimilar-se-á o
que se impõe como prioridade para tornar o meio sadiamente empenho no reflorestamento eno emprego das energias alter-
habitável; (d) com a vigilância sanitária mais aguda, associada nativas. Da Áustria, pode-se evocar o exemplo de estímulo à
à garantia de alimentação adequada, isenta de contaminação; formação de jardins. Do Reino Unido, poder-se-á aproveitar o
(e) com a transparência. online da execução orçamentária, E exemplo de liderança em matéria de enfrentamento das mu-
tempo real (como determina a Lei Complementar nº 141/2012 danças climáticas. Da Suécia, poder-se-á emular a produção
art. 31); (f) com as obrigatórias licitações sustentáveis em aqui- de bioenergia, e assim por diante.
sições e obras públicas (como versado no capítulo anterior); Como se nota, experiências positivas não faltam, a de-
(g) com a reserva à reserva do possível, no atendimento aos monstrar que é perfeitamente possível transcender a simples
deveres de educação inclusiva e de qualidade; (h) com a re- reforma de gestão dos processos. Precisamente por isso,
gulação confiável do mercado de capitais, de maneira a evitar requer-se a completa releitura da responsabilidade multi-
pirâmides e bolhas fraudulentas; (i) com o fomento à economia dimensional do Estado Sustentável, no intuito de conferir
ambientalmente correta, via realinhamento de 'incentivos;” eficácia ao direito fundamental à boa administração pública,
()) com o direito fundamental à moradia, inclusive com o em tempo útil e de ofício, a partir da encarnação do princípio
emprego de imóveis públicos para fins de regularização fun- constitucional da sustentabilidade, nos moldes aqui sugeridos.
diária; (k) com eficiência e eficácia da mobilidade urbana, de
modo que o transporte público goze de primazia; e (1) com 10.5 Interpretação jurídica à luz do princípio da
o ambiente de trabalho decente.
sustentabilidade
Todo o preconizado pressupõe uma nova interpre-
tação jurídica. Há, nessa abordagem, declarada e assumida
Si Vide, a propósito, Clovis Beznos e Márcio Cammarosano (Coord.). Direito ambiental e urba-
nístico: estudos do Fórum Brasileiro de Direito Ambiental e Urbanístico. Belo Horizonte:
Fórum, 2010. “pré-compreensão”“ de que o intérprete/aplicador do Direito
” Vide Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein, in Nudge: Improving Decisions about Health,
Wealth, and Happiness, op. cit., p. 202: “Quando os incentivos estão mal alinhados, é
apropriado para o governo consertar esse problema realinhando-os (...). A maioria dos al.,
1% Vide, sobre o ranking em que o Brasil figura em trigésimo lugar, John W. Emerson et
especialistas acredita que os sistemas desse tipo, baseados em incentivos, devem substituir
in Environmental Performance Index and Pilot Trend Environmental Performance Index. New
regulamentações de comando e controle. E nós concordamos. Abordagens baseadas em Haven: Yale Center for Environmental Law and Policy, 2012, p. 10.
incentivos são mais eficientes e eficazes, e também aumentam a liberdade de escolha”.
e Pré-compreensão, que, sob certo aspecto, constitui a realidade histórica do ser, como
8 Vide a Lei nº 12.587/2012, art. 6º, VI. adverte Hans-Georg Gadamer, in Verdade e método, op. cit. v. 1, p. 368.
JUAREZ FREITAS
CAPÍTULO 10 | 298
2992
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

deve estar a serviço daquelas políticas que favorecem a cita Logo, a melhor abordagem hermenêutica nunca será
da “experiência vivida” do bem-estar. Significa, a partir daí, a da cultura apressada, na expressão de Stephen Bertman,*
reorientar as prioridades, de molde a estimular escolhas be à mas aquela candidata a universalizar (via defesa, via prestação
diferentes das usuais. 4 estatal, via participação), o desenvolvimento como liberdade
Nessa perspectiva, o contraste pode ser elucidativo. Na (em termos de avaliação e de eficácia, como pondera Amartya
interpretação sustentável: Sen)! e igualmente como equidade intergeracional. Noutros
(a) o não-reducionismo sistemático e complexo ocupa o lugar termos, reequilibrará as visões deontológicas (voltadas para o dever)
do simplismo fetichista da lógica do comando e controle: com as consequencialistas (voltadas para os efeitos futuros).
(b) a equidade intertemporal passa a ser o foco preponderante Justamente nesse enfoque mais rico, tendo em conta
o sistema constitucional brasileiro, eis, resumidamente, os
de atenção, em vez das soluções conformistas ad hoc
que não se deixam universalizar; pontos centrais para a interpretação jurídica sustentável:
(a) importa que a discricionariedade ou a liberdade do
(c) a conexão dialética entre sujeito e objeto e a racio-
intérprete esteja vinculada aos princípios e direitos fun-
nalidade intersubjetiva assumem o lugar do domínio damentais das gerações presentes e futuras, uma Vez
senhorial e absolutista da racionalidade instrumental; encontra-se, quando
que toda discricionariedade
(d) a reintegração do homem à natureza como sistema vence legitimamente exercida, vinculada ao princípio da
a contraposição entre o humano e o natural; sustentabilidade;
(e) a causalidade, considerada sistemicamente, com atenção (b) urge que 0 intérprete conheça — para vencer, de modo
às externalidades, sobrepuja o velho nexo causal linear incisivo — as falácias e armadilhas, apontadas no
e imediatista; Capítulo 6, no processo de tomada da decisão;
(f) o desenvolvimento gerador de bem-estar destrona, no (c) suplantado o extremismo textualista simplificador
balanceamento de valores e princípios, o culto dos (tão errôneo como negar a alteridade do texto nor-
bens posicionais, a degradação de nosso habitat e mativo), força reconhecer que, para além da dicotomia
a perda tenebrosa dos serviços ecossistêmicos; rígida entre sujeito e objeto, a intersubjetividade ou inte-
(g) o qualitativismo das avaliações de impactos passa a ser ratividade é nota característica e ineliminável do processo
mais relevante do que o quantitativismo dos escru- de compreensão sustentável, mormente em face de dis-
tínios utilitaristas convencionais; e curso constitucional que acolhe o catálogo aberto de
(h) o ativismo da Constituição, conciliador de universa- direitos fundamentais.
Na presente cultura nebulosa e prenhe de ardis, crucial
lismo e particularismo (tópico e sistemático), passa
robustecer o caráter libertário (no sentido alto do termo) da in-
a ocupar Os lugares do passivismo cúmplice e do
terpretação efetivadora da sustentabilidade multidimensional,
ativismo invasivo e ilegítimo.
Praeger, 1998.
823 Vide Stephen Bertman, in Hyperculture: the Human Cost of Speed. Westport:
da frase, a obra de Amartya Sen, in Desenvolvi mento como
es Vide, sobre o primeiro elemento
“1 Vide, entre as principais máximas ecológigicas, Michael imento por
i L. Cain,
i William D. Bowman e Salh liberdade, op. cit., p. 18: “A liberdade é central para o processo de desenvolv
D. Hacker, in Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 10: “A vida seria impossível ses verificando-se
duas razões: 1) A razão avaliatória: avaliação do progresso tem de ser feita
interações entre as espécies”. lmente se houve aumento das liberdades das pessoas; 2) A razão da eficácia:
primordia
condição de agente das
gi a realização do desenvolvimento depende inteiramente da livre
pessoas”,
CAPÍTULO 10 | 295
29, 4 | JUAREZ FREITAS
ÃO JURÍDICA
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇ

destinada a promover, sem vista curta, o reconheci


Mento, À/ sempre haverá elementos não comensuráveis.“º Propõe-se, ao
com todos os consectários, das gerações atuais ePe uma abordagem sistemática, baseada na métrica do desenvol-
titulares de inalienáveis e intangíveis direitos or), ainda
ga al viment 0 (para além do PIB, altamente enganad
1
*
nômicos, éticos, políticos e sociais. Desse modo, em vel
mais que, para a espécie humana, não se justificam os crité-
conduzir à cleptocracia conhecida,% q hierarquização ax ol A !
“rios clássicos de titularidade: as gerações futuras igualmente
ou o sopesamento haverá de culminar na afirmação res a O
mA possuem direitos fundamentais. Precisamente por isso,
sustentabilidade como uma das condições para que a cidida a
novo paradigma da sustentabilidade, aplicado à interpretação
torne minimamente afirmada, em sua dimensão ecoló
apenas para atender necessidades materiais, mas para ul
na 4 a jurídica, proporciona, de modo inédito, a primazia da qualidade
valores,” a partir de dados mensuráveis de desempenho
A de vida sobre as “rules” do velho paradigma, as quais, não raras
ca vezes, convertem a lei em verdadeiro oxímoro (contradição
5 No entanto, se se quiser marchar para uma inter
tação ativadora da sustentabilidade e superadora de 1488 em termos).
arcaicos, útil não subestimar o alerta de Victor Nunes Ademais, não se subordina, por definição, a prescrita
o coronelismo é parte do sistema voltado a barganhas ã
L RE
atitude interpretativa sustentável ao império da baixa política
; e dos conluios característicos da insaciabilidade patológica.
governo, pois são fundas as marcas deixadas por esse ee
O Considera viável compatibilizar o máximo de efeitos benéficos
lismo na cultura de cidadania deficitária, que demora
nos dal tivo
em curso. É o que é flagrante: quem pretender praticar das leis, não obstante os seus custos sociais, com o impera
um.
consistente Interpretação jurídica em prol da sustentabilidad de reduzir os custos de transação.
7
terá de manter acesa vigilância contra o patrimonialismo,* Há, como é fácil inferir, forte premência de efetuar po-
hjaE
criticado no Capítulo 8. derosas mudanças culturais no sentido da criação dessa pos-
é, com
ai Convém destacar: não se trata de pretender uma herm tura favorável ao desenvolvimento que importa, isto
nêutica voltada “apenas” para determinado valor ou par á
juridicidade abstrata, eis que, na avaliação de
açao ; “Diz-se de dois objetos
o Vide Amartya Sen, in A ideia de justiça, op: cit., p- 330. Explica bem:
(por exemplo,
que são comensuráveis, se é possível medi-los usando unidades comuns
bilidade, quando houver
625, Vid,
a eia á
ao 1 E Carvalho, in dois copos de leite). Teremos uma situação de não comensura
1
Cidadani
r
ar no Brasil: o longo caminho. 9. ed. Rio de Janeiro: valor que são irredutíve is umas às outras” (p. 329).
oE várias dimensõe s de
E iai a Emp costume desdobrar a cidadania em direi . Cambridge: Harvard
Ê vis, tic e - O cid
idad pleno
] adã
seria o
aquel
quele que fosse titular “1 Vide, no ponto específico, Ronald Dworkin, in Justice for Hedgehogs
i do ês direi E y Press, 2011, p. 423: “Cultures have tried to teach a malign and apparently
e civis têm como essência a liberdade individual (p. 9), ao passo . o a E Universit
and the luxury and
Pp E Ra sua essência na ideia de autogoverno (p. 10) e a ia persuasive lie: that the most important metric of a good life is wealth
richer. (...) They say
o pro repousa na justiça social (p. 10). Note-se que
pi power it brings. The rich think they live better when they are even
Not everyone
that the justice we have imagined is socialism that threatens our freedom.
o autor evidencia, com a o
a guimos, no Brasil, a sequência descrita por Marshall (p. 11)
, a many people lead contented lives without wealth. (...) there are no winners in
o - is gullible:
re a cleptocracia, Jared M. Diamond, in Armas, germes intelligible theory of
Eis umanas. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011, p. 265-293
e aço: os destinos d i this macabre dance of greed and delusion. No respectable or even
money has any value or importance im itself
Vide Amartya Sen, in À ideia de justiça, op. cit. p. 341: “todas
AR value supposes that making and spending
e as well. The
as pessoas
; têm necessidades and almost everything people buy with that money lacks any importanc
mas também têm valores e, em particular, sabemos que acarinham
a sua particular aptidão dream of a princely life is kept alive by ethical sleepwalk ers. And they in tum
ridiculous
contempt for others”.
keep injustice alive because their self-contempt breeds a politics of
para raciocinar, avaliar, escolher, partici pare atuar.
Se optarmos por ver as pessoas, apenas
em fermos das suas necessidades, poderemos acabar da economia do bem-estar) de
com uma visão muito magra da 62 Não se ignoram as advertênc ias (e alertas contra otimismos
humanidade”. of Law and Economics, v:3, p. 1-44,
Ronald H. Coase, in The Problem of Social Cost. Journal
“8 Vide Victor Nunes Leal, inCotinblisino enxada e voto: o
o teorema de Coase, mas é claro engano apostar demais na
no Brasil, op. cit.
município e o regime representativo Oct; 1960; tampouco se ignora
a despeito de tentativas posteriores do
autorregulação do mercado, como parece intuitivo,
Em Vide Raymundo Faoro, in Os donos do poder: formação do realçar a necessidade de reduzir,
patronato político brasileiro, op. próprio Coase em realizar ajustes, mas tem o mérito de
cit., p. 108. s custos de transaçã o.
ao máximo, os chamado
296 | JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 10 | 297
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

equidade intergeracional, eficiência subordinada à eficáci comuns a gerações presentes e futuras sejam o
dinâmico equilíbrio ecológico. Pretende-se, por outras sa : fundamento e o ápice da ordem jurídica, tendo o
vras, a observância do complexo axiológico da Constituição e condão de suspender a eficácia de determinadas
o que é mais, o primado dos princípios e direitos fundamentais E regras, quando estritamente necessário para asse-
várias gerações. E que, sobremodo em face da crise ambien gurar a efetividade das metas intertemporais do
sem precedentes, a hierarquização axiológica, em prol da suste sistema.“ Deve oferecer, dessa maneira, observância
tabilidade, precisa condicionar a subsunção normativa, com a elei ã crítica (sem subserviência volúvel)* aos objetivos
de novas premissas. Dessa maneira, credenciar-se-á a resdifça duradouros e permanentes da Carta, conferindo des-
o sistema constitucional, com sucessivos ajustes, patrocinado taque ao monitoramento contínuo de metas. Levar
por estilo de pensamento intertemporalmente congruente ] à vida real os objetivos e valores constitucionais,
Como acentuado, sobem de ponto princípios funda t

mentais como o da prevenção, da precaução, da equidade


intergeracional e do englobante desenvolvimento sustentável 684 Nesse contexto, não é de estranhar que haja decisões judiciais que, em circunstâncias ex-
tremas, sustam, por assim dizer, a aplicação da regra do art. 100 da CF, com o fito de
entendidos como genéticos condicionadores do plexo das bloquear recursos públicos destinados ao atendimento urgente de demandas essenciais,
disposições normativas, na relação circular com o intérprete tais como o fornecimento de remédios de uso contínuo. Em casos desse tipo, é o próprio
princípio constitucional da sustentabilidade, no diálogo com os demais princípios, que impõe deixar
historicamente responsável pelo florescimento da cidadania de aplicar uma regra para aplicar o sistema inteiro. s
ecológica e do bem-estar.“ 655 Vide, sobre o tema da volubilidade, Roberto Schwarz, in Um mestre na periferia do capitalismo:
Machado de Assis. 4. ed. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2001, p. 40-41.
Nessa ordem de considerações, direitos fundamentais e 6 A distinção entre normas e valores não pode ser feita rigidamente, como se a norma fosse
regras legisladas não mais se confundem. Desfazem-se mitos apenas binária (vale ou não vale), pois desconsidera a complexidade das funções nor-
mativas, inclusive promocionais e tenta, em vão, separar, por desejo, mais do que por
bizarrices e fantasias napoleônicas do Estado de Direito legis- argumentos, as esferas teleológicas e deontológicas, por maiores que sejam os riscos de
| lativo, assim como a pretensão de verdades acabadas, porque frouxidão valorativa que essa conexão gere. O certo é que a racionalidade das decisões de
hierarquização axiológica e de modulações tem de ser provada, em cada circunstância,
o sistema, segundo a nova postura interpretativa, incorpora com a indagação sobre se a máxima de conduta, uma vez universalizada, conduz ao bem-
finalidades que o transcendem, temporal e espacialmente. estar duradouro, para além do formalismo kantiano e das limitações da ética do discurso.
Não se faz isso só no plano da normatividade, mas também conferindo eficácia normativa
Sob esse prisma, a Agenda da Sustentabilidade começa a ser a valores e, mais intensamente, aos princípios e direitos fundamentais, que possuem maior
Vide, por sua preocupação (exagerada, mas com-
entendida como pauta constitucional, por excelência. carga de impositividade tendencial.
preensível) em distinguir o deontológico e o teleológico, Jirgen Habermas, in Direito e
democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
Vide sobre valores como norte para a interpretação, o seguinte julgado do STF: “Devem ser
postos em relevo os valores que norteiam a Constituição e que devem servir de orientação
10.6 Máximas de concretização da sustentabilidade para a correta interpretação e aplicação das normas constitucionais e apreciação da sub-
sunção, ou não (...). Vale, assim, uma palavra, ainda que brevíssima, ao Preâmbulo da
Com base no exposto e com tais fundamentos, sugerem- Constituição, no qual se contém a explicitação dos valores que dominam a obra consti-
para formular
tucional de 1988 (...). Não apenas o Estado haverá de ser convocado
| se maximas para a interpretação jurídica, orientadas especifi- as políticas públicas que podem conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a
camente para o adensamento do princípio da sustentabilidade: sociedade haverá de se organizar segundo aqueles valores, a fim de que se firme como
uma comunidade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...). Na esteira destes valores
(a) Uma interpretação constitucional sustentável pres- supremos explicitados no Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988 é que se afirma,
supõe que os princípios e direitos fundamentais nas normas constitucionais vigentes, o princípio jurídico da solidariedade” (Voto da
Relatora Min. Cármen Lúcia na ADI nº 2.649/DF, Pleno. Julg. 8.5.2008. DJe, 17 out. 2008).
A atividade econômica deve ser guiada pelo princípio da sustentabilidade, sem se deixar
prazo. “A
arrastar por tirania de interesses estritamente econômicos, mormente os de curto
atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados
& Vide Daniel Kahnemán, ; Ed Diener e Norbe Tt Schwarz (Ed.). Well-Beino: th
i a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A incolumidade do meio ambiente não pode
Hedonic Psychology. New York: Russell Sage ia 1999. pisa ad ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de
JUAREZ FREITAS CAPÍTULO 10 | 299
298 | SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO
b
SUSTENTABILIDADE, À RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

a longo prazo, é dever do intérprete que pretende se fosse imune a flutuações, na ótica do equilíbrio
ampliar, de maneira solidária, a qualidade de vi- dinâmico de longa duração; Ras
da.” Nessa medida, preferível afirmar que cabe (b) Uma interpretação constitucional sustentáv el é aque-
ao
intérprete positivar um sistema humanizador sem la que sacrifica o mínimo para preservar O a
antropocentrismo forte, ideal para melh
orar a sorte dos princípios e direitos fundamentais, veda e
da espécie humana e para banir a crueldade contr ações e omissões causadoras de danos a presentes
a
todas as formas de vida.“ É próprio do intér
prete, e futuras gerações. Como sublinhado, uma vez
nesse sentido, ser um dos guardiões das
presentes e presente o vício por ofensa ao princípio da susten-
futuras gerações,“ sem que prescrições (ou ausên tabilidade, materializa-se o dano anômalo, ainda
cia
delas) estabeleçam limitações rígidas, impeditivas que a conduta do agente possa ser catalogada como
de revisões periódicas ou de exceções fundamenta- “lícita”, em sentido estrito. De mais a mais, Res
das, sempre que o exigir o desenvolvimento dura- uma aplicação do princípio da o l H em
douro.“ Nada pode ser fixista e impermeável como consórcio com o da proporcionalidad e, viabiliza a
tempestiva: prevenção ou precaução, conforme as
circunstâncias. Numa frase: a conduta en
índole meramente econômica, ainda mais se se
tiv: er presente que a atividade econômica, ou omissiva) insustentável será inconstituciona
considerada
(por abuso ou inoperância), ao violar, no âmago, o
a disciplina constitucional que a rege, está subordinada,
cípios gerais, aquele que privilegia a “defesa do meio dentre outros prin-
ambiente” (CF art. 170, VI), que traduz
conceito amplo e abrangente das noções de meio ambient ireito ao futuro;
e natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano)
trina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de
e de m eio ambiente laboral. Dou-
(c) E id constitucional E se
nature: za constitucional objetivam
viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que
atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitá
não se alterem as propriedades e os desprezar o texto, avança para além da sua g ê
segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população,
vel comprometimento da saúde,
além de causar graves danos eco- imprimindo eficácia direta e imediata ao prin Po
lógicos ao patrimônio ambiental, considerado este em
ADI nº 3.540-MC/DF, Pleno. Rel. Min. Celso de Mello.
seu aspecto físico ou natural” (STF. que determina, independentemente de interposiçã
legislativa, com eficácia direta e imediata, a respon
Julg. 1º.9.2005. DJ, 3 fev. 2006)
&? Vide Howard Gardner, in Mentes que mudam: a arte e
a ciên cia de mudar as nossas mentes,
op. cit. p. 50, ainda hesitante, mas come
ça a cogitar, ao lado das demais inteligências,
da chamada inteligência existencial, vale dizer, a que
sabilidade do Estado e da sociedade pela dna
solidária do desenvolvimento material e peiscio )
envolve, formula e examina as per-
guntas mais importa ntes.
98 Vide, por exemplo, o julgamento da ADI nº 1.856/RJ,
26.5.2011. DJe, 14 out. 2011,em cuja ementa se
Pleno. Rel. Min. Ce Iso de Mello. Julg. socialmente inclusivo, durável e equânime, am PE
!
talmente limpo, inovador, ético eeficiente, no a
lê; “A proteção jurídico-constitucional
sada à fatina abrange tanto os animais silvestres quanto dispen-
os domésticos ou domesticados,
de assegurar, preferencialmente de modo ea
nesta classe incluídos os galos utilizados em
rinhas, pois o texto da Lei Fundamental
vedou,
em cláusula genérica, qualquer forma de submissão de
— Essa especial tutela, que tem por fundamento legitima
animais a atos de crueldade.
e precavido, no presente e no futuro, o « se É
dor a autoridade da Constituição
bem-estar (inconfundível com a mera satistação
da República, é motivada pela necessidade de impedir
a ocorrência de situações de risco
que ameacem ou que façam periclitar todas as formas de
mas, também, a própria vida animal, cuja integridade
vida, não só a do gênero humano,
cessidades materiais). |
restaria comprometida, não fora
a vedação constitucional, por práticas aviltantes, perversa
irracionais”.
s e violentas contra os seres dao a interpretação constitucional Sustentável é
&º Vide Juarez Freitas, im Discricionariedade administ
nistração
rativa e O direito fundamental à boa Admi-
Pública, op. cit., em capítulo específico sobre os princípi
precaução no Direito Administrativo brasileiro. os da prevenção e da Eron
simplistas),o desenvolvimento ético, social, juridico
to, Socdireito polfico
gídico-po ltiro
“o Sem pretender o desenvolvimento na senda hiperconsumist conômi ambiental. Assegura o fundam
a altamente equivocada. Sobre
é
oa adinisitação pública, ao viabilizar a boa governança
o tema, vide Gilles Lipovetsky, in A felicidade paradoxa
l: ensaio sobre a sociedade de hiper-
consum o. São Paulo:
JUAREZ FREITAS
300 |
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO
CAPÍTULO 10
SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE DO ESTADO E NOVA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
| 301

a confiança intertemporal, além de estimular a dinâmic à Direito“? ao enfatizar a prioridade da racionalidade aboli-
bilidade das instituições. É aquela que se aproxima EE a cionista dos históricos equívocos impostos por pressuposições
jação estatal democrática participativa, em vez de mera errôneas'º e caducas, incompatíveis com políticas realmente
governativa”. Valoriza e premia performances socialm ES direcionadas ao aperfeiçoamento, a longo prazo, da experiência
benéficas e, na dúvida, escolhe a intocabilidade dos de qualidade de vida.
a
cientes do sofrimento, no presente e no futuro. Não a Em suma, revendo noções usuais,“ a interpretação
Es
perante argumentações falaciosas dos imediatistas
em a norteada por pré-compreensões sustentáveis, devidamente
nidos, às voltas com a intenção de enganar e de tenis
— filtradas pela razão dialógica, não se deixa guiar pela inge-
E aquela que estimula, de modo não patológico, a prod nuidade de supor que os textos normativos se imponham de
da coesão social, empenhada em resolver os conflitos
na a modo automático, a despeito de reconhecer a alteridade deles.
não apenas adiá-los ou sadicamente saboreá-los. Reali
ah Tampouco mantém a ingenuidade de pretender um subje-
conciliação dialética do pensamento sistemático e da
tó a a tivismo inteiramente solto e romântico. Mais do que nunca,
como se propõe, em profundidade, noutra obra peca
a o necessário é compreender, de maneira dialética, o processo
Com efeito, ainterpretação sustentável é aquela emancipad hermenêutico, produzindo o intérprete o sistema normativo,
:
de falácias e ilusões, isto é, que não cultiva, entre
ER
embora reconheça a sua parcial autonomia. Nesse ponto, as
sam
lógicos, a causalidade linear, a petição de princípio, os cognições e escolhas sustentáveis derivam do pressuposto de
falés
Ee as generalizações apressadas e superficiais, aanfibo- considerar o Direito como sistema, não no sentido convencio-
: a Sa o conjunto de pré-compreensões conducent nal. Sistema aberto à dinamicidade da vida e suas flutuações
es
(tópico e sistemático), conducente à ultrapassagem da lógica
Jal interpretação constitucional, guiada e remodelada do sujeito contraposto. ao objeto, na linha de pensamento
princípio da sustentabilidade, é a verdadeiramente aisiemdn
pel atento ao caso e à generalização. Tal interpretação não nega O
o risco e a incerteza, pois sabe ordenar, de modo plural, a com-
Jamais conduz ao terreno da degradação lato sensu que
Senta a negação do Direito como sistema. Opera à Pere
re o plexidade, sem querer extingui-la. Contribui à reelaboração da
do normatividade, endereçando-a à laboriosa homeostase social,
critério segundo o qual, entre duas ou mais interpretações
plausíveis, cumpre dar preferência aquela que causar como se preconiza em múltiplas passagens desse livro. Não
maior
segurança e equidade intergeracional. Respeita o desiderato por acaso, sugere-se que a interpretação sustentável conduz
à reinvenção das instituições, desde o começo, quiçá para que
de não conduzir a paradoxos insolúveis e preserva, ao mesmo
tempo, a dignidade intersubjetiva e o valor litninado
da Vide, em convergência, Juarez Freitas, in A interpretação sistemática
do direito, op. cit. es-
natureza, sem as amarras da concepção de dignidade exces- 2
ão de Alexandre
pecialmente os capítulos 9 e 10. Vide, também, a excelente contribuiç
sivamente antropocêntrica. Pasqualini, in Hermenêutica e sistema jurídico: uma introdução à interpretação
sistemática
de sistema
do Direito. Porto Alegre: Livr. do Advogado, 1999. Para o exame de posições
Sublinhe-se: o acolhimento do princípio constitucional que, por motivos variados, não mais servem, vide Mario Giuseppe Losano, in Sistema e
E
da sustentabilidade, por seu caráter vinculante (em sentido estrutura no direito. São Paulo: WME Martins Fontes, 2010, v. 2.
grupos, Adam
643 Vide, sobre o tema do abolicionismo e a importância decisiva de pequenos
forte), suscita uma retemperada interpretação sistemática Hochschild, in Enterrem as correntes. Rio de Janeiro: Record: 2007,
p. 11 et seg. com a im-
do
pressionante descrição de doze homens e uma tipografia.
por exemplo,
64 Vide, noutra área, para uma revisão dos conceitos de business e de comércio,
HarperCollins,
& Vide, sob re o tema, Juarez Freitas,
itas, Paul Hawken, in The Ecology of Commerce: Doing Good Business. New York:
inin AÀ interpretação
j sistemática do direito, op. cit. Capítulo 7. 1993.
api
FREITAS
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

se pense o final como novo início. Dito de maneira direta:


propõe-se, de acordo com o paradigma da sustentabilidade,
uma interpretação jurídica marcada pelo equilíbrio dinâmico,
de sorte a atender o compromisso simultâneo de intertemporal
segurança e de intergeracional equidade. 7
Preconiza-se, em síntese derradeira, uma interpretação
sistemática, capaz de predizer movimentos e tendências (às CONCLUSÕES
vezes inevitáveis), tomando aquelas medidas impositivas de
antecipação, com o objetivo, seja pela adaptação, seja pela
mitigação, de promover continuamente o bem-estar, em suas
várias facetas. Mais: o pensamento sustentável a longo prazo
é o que melhor reúne as condições de auxiliar à resolução
cabal dos problemas, inclusive de curto prazo. A sorte ainda
Sustentabilidade, em síntese conclusiva, é princípio
não está lançada, mas uma coisa parece certa: só o pensamento
constitucional que incide, de maneira vinculante, em todas as
sustentável permite a sobrevivência da espécie humana, cujo destino
províncias do sistema jurídico-político (não apenas na seara
permanece, ao menos por ora, em nossas mãos.
ambiental). Merece acolhida, antes de mais, como novo para-
digma, a serviço deliberado da homeostase social, entendida
como a capacidade biológica e institucional de promover o
multifacetado reequilíbrio propício ao bem-estar duradouro.
Reitere-se, bem a propósito, o conceito de sustentabili-
dade aqui adotado: é o princípio constitucional que determina,
independentemente de regulamentação legal, com eficácia
direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade
pela'concretização solidária do desenvolvimento material e
imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambien-
talmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de
assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido,
no presente e no futuro, o direito ao bem-estar.
Assimilado esse conceito, proposto no Capítulo 1, a
sustentabilidade nada tem de fugaz. Aprimora o modo de
enxergar e de sindicar as políticas públicas. Estabelece, na
linha das premissas esposadas, o compromisso intertemporal
com a equidade e com a precificação da inoperância.
Faz ver, em sentido figurado, que não se pode colocar
& Vide, para ilustrar aplicação desse pensamento, William McDonough e Michael Braungart, fogo nas árvores para colher os frutos. Firma o foco nas ener-
sta to Cradle: Remaking the Way We Make Things. New York: North Point Press,
gias renováveis, sem criar bolhas especulativas. Reúne forças
304 | JUAREZ FREITAS | 305
CONCLUSÕES
SUSTENTABILIDADE — DIREITO AO FUTURO

em torno de pautas concretas (sugeridas no Capít


ulo 4 os consectários (sem se reduzir, como suspeitaria o crítico
destacar os imensos benefícios da solidariedade inte binária)
: q apressado, num falso dilema ou numa simples opção
nal, inclusive para a economia. no "como escolha inevitável, nos termos do Capítulo 3, daquele
Cuida eticamente do bem-estar presente e futuro
P paradigma que representa o bem-estar duradouro, sem
e a folga de argumentos, uma economia de 7 “0 ,
Re em otimismo excessivo em relação à “rabi
qualquer degradação. Trata, com responsabilidade objetiva
cadeada,
am iental ; Investe maciçamente em tecnol
a "toda e qualquer violação à sustentabilidade, desen
que
soluções de longo prazo.
ogias “verd. a “arbitrariamente, por ação ou por omissão. Reconhece
E “cada espécie carece de habitat específico e manifesta o pleno
Satisfaz aspirações atuais, sem se enredar rismo
pouco descura das demandas e possibilidades dor
nel respeito ao respectivo nicho ecológico, sem conservado
a acrítico.
Etentab
nt ilidade, E nes Ressese prisma
i , deve ser con cretiz
;a nao vista como mera ferramenta do cres
i ada,do vaio i A
, rac Yacional Esposa, para dizer de outro modo, o modelo da multi-
cia do ambiente
crescimento. É De fato, , Oo Minim dimensionalidade do desenvolvimento, a favor
míni o que se pode e | do
racionalidade é que auxili uxilie a ultrapassar a a idolat
q
limpo (material e imaterialmente), marchando para além
ii riaiai do do EP ado
ep
como medidor do dese nvolviment i o, Ê melh orando a métric festejado conceito do Relatório Brundtland, ainda centr
deetri a u, em
so mesas em geral, tendo como ponto de partid em necessidades materiais. Como enfatizado, represento
ra
sua época, progresso notável, digno de louvor, mas se most
a por
ia o, o relatório da Comissão Stiglitz-Sen-Fitou
ssi À o que as
eai cer da que oão :é que a sustentabilidad li e exige um imprescindível, pelas razões expostas, deixar nítid
fabricadas ou
egit sa iase prospectivo; oe de longo go p pr àzo, ; sem precedente necessidades não podem ser aquelas artificiais,
d s
tim como princípio fundam ental, que ampli i inflacionadas pelo hiperconsumismo em cascata.
trole de constitucicionalidade, Í na sear a das x: decisõ isô es UB públi E
O conceito precisa incorporar a lógica prospectiva da
lvimento sus-
privad
IN as, individuais e coleti etivas. Proporcion i a, com àre realisa i prevenção e da precaução. Ademais, o “desenvo
crítico, uma perspect Iva sistemática áti revigo rada, que ã E tentável” tem de ser visto como valor constitucional e como
para
templa o ambient al, o econôômi mico e o social E i em separspa ad princípio, assim como sublinhado no Capítulo 4, motivo
cio ao bem-
Rad
como reféns qe do merca E d o. Sem dúvidaávi , , a suste sust ntabilidad hi ade e am- ser, jurídica e eticamente, universalizável e propí
es imediatistas.
inha não faz sentido, assisim como não ã se consid estar material e imaterial, acima das necessidad
sustentável : a aborda gem focada apenas no
pila reconômico Ômie Com tais acréscimos, é que se chegou ao conceito de
no pilar social. O que f az sentid ido o éé produzir éo d sustentabilidade, recapitulado há pouco e fio cond
utor desse
i É de
nio realmment
to ente int egrado, isto
Rgra Í é,á Ê social 5 econômico,
ômie b ambi iental “livro. Considera-se, pois, a sustentabilidade um princípio
ça,
O qo político, nos moldes delineados no Capítulo 2 estatura constitucional, que determina melhor governan
ssual e
a ni supõe reduzir o impacto das ati- vale dizer, uma gestão endereçada a fortalecer, proce
seres
entes, típicas do paradi igma da insaci Í i abilidad substancialmente, a dignidade e o valor intrínseco dos
voraz, sem negligenciar as necessidades adaptati nuar
o vivos em geral. De fato, a dignidade humana merece conti
tativa de sobrevivida, com qualii dad e, da biosfe re prote ger, agora ,
i uia
ra. A A em pauta, porém já não é suficiente: cump
Ve
vez asa na seres
e não ã podem prosseguir, inercialment o dinâmico equilíbrio ecológico e o valor intrínseco dos
por tod
e, E
ento
a nden te veda ção
esivas, com seus perig
peri osos efeito
i s cumu- vivos capazes de sofrimento, com a correspo
de crueldade, nos termos do art. 225 da Constituição.
: uz-se, E no cho que entre paradigmas
i , com todos
1
JUAREZ FREITAS ' CONCLUSÕES | 307
306 | SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

Além disso, cumpre acentuar que, inquestionavelmente Em sua dimensão econômica, a sustentabiliadade reforça
o crescimento
x
econômico e o desenvolvimento não são
sinônimos. E que, sem incorrer nas falácias e nas armadilhas (a) é indispensável lidar adequadamente com custos e
psicológicas (descritas no Capítulo 6), a sustentabilidade benefícios, diretos-e indiretos, assim como efetuar o
precisa ser entendida como processo contínuo, aberto e pertinente trade-off entre eficiência e equidade intra
integrativo de, pelo menos, cinco (não apenas três) dimensões e intergeracional;
do desenvolvimento. (b) a economicidade implica o combate ao desperdício
Em sua dimensão social, a sustentabilidade reclama: lato sensu, bem como o incremento de poupança
(a) o incremento da equidade intra e intergeracional; pública, da responsabilidade fiscal e do limite regu-
(b) uma gestão aperfeiçoada de processos, que garanta latório do poder público e privado, tendo toda e
condições propícias ao florescimento virtuoso das qualquer propriedade que cumprir função social,
potencialidades humanas, especialmente no atinente econômica, ética e de equilíbrio ecológico;
à educação exitosa e de qualidade, em consonância (c) aregulação do mercado precisa acontecer de maneira
com as premissas arroladas no Capítulo 7; que a eficiência guarde comprovada e mensurável
(c) O engajamento na causa do desenvolvimento que subordinação à eficácia.
perdura e faz a sociedade mais apta a sobreviver, a Em sua dimensão jurídico-política, a sustentabilidade
longo prazo, com dignidade e respeito ao valor in- assume as feições de:
trínseco dos demais seres vivos. (a) princípio constitucional, imediata e diretamente
Em sua dimensão ética, a sustentabilidade acolhe: vinculante (CE, arts. 225, 3º, 170, VI), que gera, por
(a) aligação de todos os seres, acima do antropocentrismo exemplo, um novo Direito e uma nova interpretação
estrito; jurídica, propícia ao Estado Sustentável, assim como
(b) o impacto retroalimentador de ações e omissões; defendido nos capítulos 9 e 10;
(c) a exigência moral de universalização concreta, (b) norma que determina, a partir da revisão de titula-
tópico-sistemática, do bem-estar duradouro. ridades (admitidos os direitos de gerações futuras),
Em sua dimensão ambiental, a sustentabilidade faz a eficácia intertemporal dos direitos fundamentais
perceber que: de todas as dimensões (não apenas os de terceira
(a) não pode haver qualidade de vida e longevidade dimensão);
digna em ambiente degradado; (c) critério que permite afirmar a antijuridicidade das
(b) sem prejuízo da “modernização ambiental”, o hiper- condutas causadoras de danos intrageracionais e
consumismo haverá de ser enfrentado, notadamente intergeracionais, tais como as práticas deploráveis
nos países ricos; do patrimonialismo, entre outros vícios, descritos
(c) no limite, não pode sequer haver vida humana, sem no Capítulo 8.
o zeloso resguardo da sustentabilidade ambiental, Como se observa, a sustentabilidade não é somente uma
em tempo útil. Com efeito, ou se protege a qualidade campanha transitória, mas realmente acarreta nova Agenda,
de vida ou, simplesmente, não haverá futuro para a nos termos descritos no Capítulo 4. A título de recapitulação,
nossa espécie. ei-la, em grandes traços: adoção de novo estilo de trabalho
308 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO CONCLUSÕES | 309

dos operadores do Direito (especialmente na seara ambiental) Por mais resiliência que tenha, a natureza guarda limites
como rede cooperativa e unificada; nova sistemática de
intransponíveis, A cada ano, os tempos parecem ambien-
licenciamento ambiental, em processo com duração razoável
“falmente mais difíceis, embora hoje (apesar da crise econômica
e esclarecimento federativo das competências; segurança
em países centrais), exista, na média, maior disponibilidade
energética, com o redesenho do plexo normativo regulatório
para realizar uma transição no sentido do desenvolvimento
no intuito de incentivar seriamente as energias renováveis: confiáveis. Sem
durável, com adoção de indicadores mais
reconstituição jurídico-institucional da matriz de transportes,
margem de erro, alastra-se a consciência de que a erradicação
alinhada com prioridades de longo espectro; obrigatoriedade
de emissões tóxicas, as instituições inclusivas e a segurança
de licitações e contratações sustentáveis, com apuração de
alimentar precisam andar, lado a lado, com o consumo inteli-
custos diretos e indiretos (externalidades); tributação corretiva
gente e à responsabilidade compartilhada, evitados os males
(sem finalidade arrecadatória e regressiva), a par de incentivos
causados pelos excessos, que sobrecarregam literalmente de
' fiscais destinados a projetos comprovadamente susten-
peso a sociedade. É dessa consciência que brota a cobrança de
táveis; educação de qualidade, inclusive para o consumo;
parâmetros para a avaliação qualitativa das políticas públicas,
financiamentos públicos e privados conferidos de maneira sus-
“segundo a ótica ponderada do bem-estar das gerações atuais
tentável, sob pena de formação de bolhas creditícias; combate à
e futuras.
degradação ambiental; saneamento como dever improtelável;
Encorajar, nesse contexto, um novo ciclo de produção
planejamento demográfico sem violência; uso racional das
e de consumo afigura-se condição necessária para oferecer o
propriedades públicas e privadas; aplicação expandida dos em
bem-estar duradouro a nove bilhões de seres humanos,
princípios da prevenção e da precaução; enfrentamento in-
2050. E mais: a sustentabilidade nada tem a ver com o mora-
cessante — sem condescendência — das várias causas de po-
lismo, que não se universaliza por definição. No entanto, não
luição letal; controle participativo do orçamento ecoeficiente
se admite fuga: toda corrupção, direta ou indireta, material
e eficaz; rejeição do fundamentalismo irracional de mercado;
ou imaterial, nas relações públicas e privadas, revela-se, por
aceleração do trabalho formal e decente; fixação de políticas
definição, insustentável.
intertemporais regulatórias consistentes; cultura avessa ao
Nesses tempos paradoxais (de abundância e carências),
extrativismo puro e simplista, com fomento a negócios in-
inadmissível deixar de ver que uma postura de marcação
clusivos e “verdes” e inserção de melhores indicadores de
belicosa do território mostra-se flagrantemente incapaz de
desenvolvimento.
gerar o bem-estar intergeracional. Em contraste, uma relação
Tal Agenda, cujas raízes se confundem com a dos direi-
exemplar entre ética e bem-estar é o grande motor da susten-
tos fundamentais, pressupõe, pará obter êxito, uma mudança
tabilidade, assimilado o bem-estar como direito fundamental,
profunda de mentalidade e de governança, com base numa
a ser favorecido por uma governança, interna e global, rigo-
compreensão científica da inserção do homem na natureza.
rosamente aperfeiçoada.
Um novo estilo de vida apresenta-se rigorosamente crucial
O que importa, dito de maneira frontal, é conquistar o
para viabilizar, em alta magnitude, o desenvolvimento apto
poder de optar por um futuro alicerçado no comportamento
a ensejar melhorias robustas e estruturais, num crescendo
social sensível ao direito das gerações futuras, na ambiência
que se poderia designar por “desenvolvimento material-
limpa e na economia inclusiva, norteada pelo consumidor es-
desenvolvimento imaterial”. Essa alteração de mentalidade
clarecido, com a internalização adequada dos custos diretos
é possível. E constitucionalmente obrigatória. É crítica.
e indiretos.
e 1
310 | JUAREZ FREITAS CONCLUSÕES | 311
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

A vista do exposto, examinado o princípio constitucional todavia conhece limites e costuma reagir, quando
da sustentabilidade, na condição de novo paradigma, importa admoestada. Estabelecer uma relação harmoniosa
retomar os fios condutores do presente livro e remarcar que: com a natureza é, antes de mais nada, aprender a
(D A sustentabilidade é multidimensional (ou seja, respeitá-la sistemicamente.
é jurídico-política, ética, social, econômica e am- (IV) A sustentabilidade deve estar indissoluvelmente
biental), o que pressupõe uma notável reviravolta * associada ao bem-estar duradouro, especialmen-
hermenêutica, habilitada cientificamente a produ- te em face do stress climático ou financeiro e das
zir o descarte de pré-compreensões falhas e espú- vulnerabilidades correlacionadas. O PIB, como
rias, isto é a libertação de tudo que obstaculizar indicador econômico, deve sair da cena principal.
a convivência intergeracional solidária. Mais: as
Indicadores mais sensíveis à qualidade das polí-
dimensões da sustentabilidade devem ser tratadas
ticas ambientais precisam ser incorporados veloz-
em sincronia, com transparência (ativa e passiva). mente.
(V) A sustentabilidade prescreve que o progresso
O atraso de uma dimensão acarreta forçosamente
o atraso das demais. Não há escapatória: o inter- material não pode sonegar o imaterial, convindo
relacionamento é dado fatual. praticar uma educação multidimensional balan-
)
ceada (desde a mais tenra idade), no campo das
(1) Asustentabilidade vincula juridicamente, em sen-
inteligências e da vontade, para sobrepassar Os
tido forte, porque se trata, em nosso sistema, de
arrolados vieses de julgamento, no processo de
princípio de estatura constitucional, incorporado
tomada da decisão. Com efeito, a sustentabilidade
por norma geral inclusiva (CF, art. 5º, 82º), a re-
tem de iluminar as decisões estratégicas rumo à
querer eficácia direta e imediata dos imperativos
economia de baixo carbono, criando novo padrão
do desenvolvimento reconfigurado, em todas as
de responsabilidade e de sindicabilidade (para
áreas, não apenas no Direito Ambiental. Em boa
fazer valer, por exemplo, o direito efetivo a cidades
hora, foi introduzido, de modo expresso, na legis-
sustentáveis).
lação infraconstitucional (por exemplo, no art. 3º Asustentabilidade implica praticar a equidade com
(VD)
da Lei de Licitações, que agasalha o princípio do gerações futuras e, ao mesmo tempo, assegurar a
desenvolvimento sustentável), o que só reforça o equidade no presente, desafio inarredável de agir,
dever de sua observância generalizada. de maneira intertemporalmente integrada, para
(HI) A sustentabilidade é incompatível com a crença erradicar as discriminações (inclusive de gênero),
ingênua no crescimento econômico como fim em promover a reeducação alimentar, universalizar
si, nem se coaduna com regressivismo de qualquer o consumo consciente, regularizar a ocupação se-
matiz (presente, de modo flagrante, no sistema gura do solo e garantir o acesso a trabalho decente.
tributário): importa preservar o legado da biodi- (VII) A sustentabilidade requer ousadia crítica na im-
versidade, assim como responsavelmente inovar plementação persistente da Agenda proposta,
e ultrapassar limitações inerciais, por exemplo, em termos de eficientes e eficazes, prevenidas e
no enfrentamento dos malefícios causados por precavidas, políticas públicas (mais de Estado
espécies exóticas invasoras. A natureza é resistente, Constitucional e da sociedade do que de governo).
312 | JUAREZ FREITAS
SUSTENTABILIDADE - DIREITO AO FUTURO

(VIII) Pretende-se encorajar, no conflito entre REFERÊNCIAS


à sust
tabilidade (com equidade e resiliência justa) en-
e ;
insaciabilidade gananciosa e patológica e .
sária da qualidade de vida), o poder de
reali Zar
= aq
opção inequívoca pelo novo paradigma.
(DO) Quer-se, em suma, reciclar o modo de
compre
der e de tomar decisões que envolvem a So ACARTADA TERRA. A Iniciativa da Carta da Terra —
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Intenta-se, em última análise, promover
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e
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a melhor sorte da humanidade, acima do E : ACKERMAN, Bruce. A nova separação dos poderes. Tradução
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JUAREZÊ FREIT: REFERÊNCIAS | 315
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