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ANDRÉA ZHOURI

KLEMEN$ LASCHEFSKI
INTRODUÇÃO
DORALlCE BARROS PElUIRA

(ORGANIZADOIUS)

Desenvolvimento, Sustcntabilidade
e Conflitos Socíoambícntaís

Andréa Zhouri
Klemens Laschejski
Dom/ice B. Pereira

N os últimos anos, temos observado no Brasil a retomada de iniciativas poli­


ricas voltadas à viabilidade de projetos de infra-estrutura, como as hidrovias e
rodovias que recortam a Floresta Amazônica, a transposição do rio São Francisco
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA
no Nordeste, o incentivo ao agronegócio (soja, cana-ele-açúcar, eucalipto) no Cerra­
do e as hidrclétticas em vários estados da federação. Por suas conseqüências sociais
DA POLÍTICA M1BlENTAL
e ambientais, esses empreendimentos lembram a tão criticada pulítica de "integra­
ção nacional" do período militar, voltada ao crescimento econômico do mercado
Desenvolvimento e conflitos socioambientais

intemo. A atual retóricaoficial, no entanto, deixa entrever pelo menos duas diferen­
ças; i) o crescimento econômico deve ser estimulado para a "integração internacio­
nal" ao mercado "globalizado", por meio das exportações; li) para que se evitem os
"erros do passado", mas em atendimento, de fato, às exigências das instituições de
crédito internacionais, o planejamento deve ser feito com o envolvimento da socieda­
de no processo. Por essa via, espera-se alcançar o desenvolvimento "sustentável",

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No auge da implementação de tais políticas, contudo, recrudescem os já co­
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Cón\as
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nhecidos conflitos entre as esferas econômica, social e ambiental. O governo do
atual presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, antes saudado como esperança para
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rl ProL: &.L![)..IJ.údJ".,y.!Lv6<·.v -: construção de uma sociedade mais ecológica e socialmente justa, enfrentou seve­
\, Disc.~1pp:..cáJIQJb~ fg(;~íS ras criticas durante o Fórum Social Mundial realizado em 2005. A adoção de uma

\ Oat8:_J_.~_C,._~· política conservadora de ajuste econômico tem reconduzido meio ambiente e justiça
social ao estatuto de "barreiras ao desenvolvimento", colocando em risco as funda­
~""",-""""""".,

mentais conquistas ambientais das últimas três décadas.' Essa dinâmica conflituosa,

I Durante a semana de 24 a 28 de janeiro de 2005, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão,


exibiu uma série de reportagens intituladas "Barreiras ao Desenvolvimento". em que a lcgisluçüo
~~~i_ ambiental, sobretudo II licenciamento, aparece como um dos principais entraves ao desenvolvi­
Autêntica mento. As campanhas e estratégias contra o licenciamento nrnbicntal encetadas pelo Setor
Elétrico são objeto de discussão na contribuição de Zhouri, Laschcfski e Paiva a este volume.

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A INSUSTENT,\VEL LEVEZA OArOLiT1CA A\\Olf:.WAL-- DESENVOLVIMENTOECüNVUTOS socroArvlBIENTAIS
!N11<ODUÇ!iD-DESIiNVOI.VIMENTO, SUSTEI;'TAGlLlDADE E CONéLlTOS SOCIOAMDrWrAIS

porém, não se encontra circunscrita apenas ao contexto brasileiro, mas explicita as


Da Ecologia Política ao Ambientalismo de

contradições inerentes à própria noção de "desenvolvimento sustentável" forjada


Resultados: a despolitização do debate ambiental

em nível mundial.
No corrente debate sobre sustcntabílidade, a idéia de uma conciliação entre Desdeoséculo XIX, dicotomiascomo objetividade-subjetividade, indivíduo­
os "interesses" econômicos, ecológicos e sociais ocupa papel chave. Prevalece a sociedade, agente-estrutura e natureza-cultura têm sublinhado o pensamento cien­
crença de que os conflitos entre os diferentes segmentos da sociedade possam tífico e social. Nos anos de 1960, diversos movimentos sociais, acompanhados por
ser resolvidos por meio da "gestão" do diálogo entre os atores, com a finalidade debates epistemológicos no campo da ciência", lançaram novas bases para as ten­
de se alcançar um "consenso". Essa política de gestão utiliza-se, inclusive, de tativas de superação desses pares dicotômicos próprios do pensamento ocidental.
diversas técnicas e cstrarégias que visam atender à premissa da "participação", Como esforço de recuperação da imbricação entre natureza e cultura, interessa
essa última compreendida e empreendida, na maioria das vezes, apenas como uma destacar a emergência de uma critica ambiental à moderna sociedade industrial
oitiva da sociedade, com ênfase numa imprecisa noção de "população local". representada pela ecologia política'. Ao criticar os custos crescentes da reprodu­
Problemas ambientais e sociais são entendidos como meros problemas técnicos e .ção do sistema produtivo, o pensamento da ecologia política expressava um avanço
administrativos, passíveis, portanto, de medidas mitigadoras e compensatórias. em relação às análises então vigentes que enfocavam as contradições do modo de
Os efeitos não-sustentáveis do desenvolvimento - pautado esse na idéia de cres­ produção capitalista. O que se denunciava em urna alienação mais radical do que a
cimento econômico via industrialização direcionada à exportação de mercadorias, simples expropriação da mais-valia, qual seja,a alienação entre a sociedade industri­
com o objetivo de acumulação de riqueza abstrata no contexto da globalização­ aI e a natureza, o sujeito e o mundo.
são percebidos como solucionáveis por meio da utilização de novas tecnologias O surgimento dessa crítica transformadora suscitou, no entanto, reações por
e de um planej amento racional. parte dos defensores da industrialização enquanto evolução fatalista. Os ecolo­
Os organizadores da presente coletânea divergem dessa visão, pois não con­ gistas foram rotulados como românticos e ingênuos opcsitores do progresso.
cebem o meio ambiente como uma realidade objetiva, instância separada e externa­ Mas os impasses relativos à poluição e à escassez de recursos para a produção
às dinâmicas sociais e políticas da sociedade. Eles entendem que os conflitos ambi­ industrial não passaram desapercebidos pelos paladinos do desenvolvimentis­
entais extrapolam as tentativas de resolução técnica e gerencial propostas pela mo, sendo paulatinamente incorporados como "variáveis ambientais" legítimas
concepção hegcmônica de desenvolvimento sustentável. na discussão sobre a sociedade industrial, Em verdade, no cerne dessa visão
Nesse sentido, este livro constitui-se em um convite à reflexão critica sobre aloja-se a fé nas soluções tecnológicas para as chamadas "externalidades" do
determinadas noções e práticas que se consolidaram na década de 1990, subli­ processo produtivo. E, com isso, uma eerta despolitização do debate ecológico foi
nhando tanto as análises acadêmicas como as políticas ambientais atuais, a partir ocorrendo, na medida mesma em que as forças hegemônicas da sociedade reco­
da institucionalizução da vigente concepção de desenvolvimento sustentável. nheciam e institucionalizavam aqueles temas ambientais que não colocavam em
No entanto, um tal exercício reflexivo implica, de inicio, a consideração da existên­ cheque as instituições da sociedade vígente. Tal processo inseriu-se ainda num
cia de distintas formas de conceber e de se interagir com o meio ambiente, levan­ contexto de transformações em escala global que, nas décadas subseqüentes,
do-nos a reconhecer os múltiplos projetos de sociedade que, não raro, acionam incluiu o fim da Guerra Fria, o declínio do socialismo real e o incremento da
diversas matrizes de sustentabilidade c esbarram nas reais assimetrias de poder globalização econômica (SOUSA SANTOS, 1999; SANTOS, 2000; GUIMARÃES, 2000,
_impressas nas dinâmicas sociais e políticas. Por essa razão, são abordados neste entre outros). As referências políticas foram, então, se deslocando, alojando­
volume os conflitos inerentes às diferentes racionalidades, lógicas e processos se por entre inúmeros lugares sociais, incluindo uma variedade de ambicntalis­
de apropriação do território, o qual alude a territorialidades para além dos espaços mos. Foi dessa forma que a década de 1990 consagrou o termo "desenvolvimento
físicos, sociais e culturais subsumidos pelo ambientalismo neoliberal, dito prag­
mático ou de resultados, vigente nas últimas duas décadas. No geral, embora
, Referlmo-nos ao debate cientifico envolvendo Adorno (1976), Adorno e Hokhcirncr (1973),
ressoem algumas referências caras ao pensamento crítico da ecologia política, as Popper (1959,1992), Lakatos e Musgravc (1968,1970), Kuhn (1970) e, particularmente,
abordagens representam experiências reflexivas atinentes ao processo histórico Fcyrabcnd (1975).
brasileiro e às opções de inserção do país na globalização contemporânea, por , Ivan lllich (1975), André Gorz (1987), Jeun-Pierre Dupuy (1980), Cornelius Castcriadis e
Daniel Cohn-Bendit (1981), estes últimos mais influentes no Brasil, figuram entre os protago­
meio da liberalização econômica.
uistas desse movimento.

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A INsUSTtNTAvEL LEVEZA DA NLirrCA AMBJENTAL- DESENVOLVIMENTO ECONFUTOS SOCJO.'\fM3IENTAIS hfrKODUÇÃO- DESENVOLVIMENTO,SUSTEIlTABlLlOADE E CDNFLITOS SOCIOAMnJEI>ITAIS

sustentável?' como um campo de reconhecimento da "crise ambiental" em escala p. 25), somente os instrumentos compatíveis com a ideologia da "auto-regulação
planetária e como uma proposição para conciliação e consenso entre a critica pelo mercado", tais como a certificação de produtos "ecologicamente corretos" e o
ambiental e a sociedade industrial'. "Comércio de Carbono",' passaram a ter relevância na política mundial.
Em conseqüência, o potencial transformador apresentado pela crítica da ecolo­
gia política cedeu lugar ao "ambientalísmo de resultados", ancorado como projeto A adequação do meio ambiente e da
reformador no bojo da perspectiva economicista hcgemônica. Por meio desta, regis­ sociedade ao crescimento econômico
trou-se, então, um superpcsicionamento do "mercado global" como regulador das
'políticas ambientais e sociais, sobretudo a partir da institucionalização do neolibe­ Diante desse quadro, a Conferência Rio+ I0, em 2002, na África do Sul, realizou
ralismo, ocorrida com a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um balanço sobre as condições socioambientais do planeta, revelando o agrava­
1995. A título de ilustração, um marco histórico e simbólico do conflito entre os mento da situação de degradação ambiental, espoliação c expropriação dos recur­
defensores da "auto-regulação pelo mercado" c aqueles que sustentam uma regula­ sos humanos c naturais (SIIClIS, 2002),9 As avaliações negativas confirmaram a
ção dos assuntos ambientais ]1ormeio do Estado pode ser registrado pela abertura necessidade de repensarmos os conceitos e crenças consagrados na década de
das negociações internacionais li respeito do Protocolo de Biosegurança no âmbito 1990. Entre esses, biodiversidade, sociodivcrsidade, justiça social, direitos huma­
das Nações Unidas em 1999'. Esse instnnnento internacional de regulação previa o nos c desenvolvimento social [oram içados a temas entrelaçados pela idéia de de­
direito de os países signatários intervirem 110 sentido de se impor uma restrição ao senvolvimento sustentável. Contudo, o discurso global em favor do desenvolvi­
comércio transuacional de organismos geneticamente modificados. Tal iniciativa mento sustentável inscreveu, de fato, sociedade e desenvolvimento, numa concepção
contrariava, porém, os princípios de "livre comércio", vindo a constituir um marco evolucionista e totalizadora de "crescimento econômico". A "natureza" - conside­
histórico dos embates entre tratados ambientais e regras de não-discriminação do rada como realidade externa à sociedade c às relações sociais - foi convertida em
comércio ditadas pela üMC. As negociações, contudo, fracassaram, diante da re­ uma simples variável a ser "manejada", administrada e gerida, de modo a não impe­
sistência de alguns países, entre eles EUA e Canadá".
dir "o dcs envolvimento". 10
No clima de tensão existente entre o "regime econômico" representado pela
Os problemas sociais e ambientais, tratados instrumentalmente como "interes­
OMe e o "regime ambiental" conduzido no âmbito das Nações Unidas (Si\CHS, 2000,
ses" personalizados, tornam-se, nessa ótica, passíveis de negociação entre atores,

~ Um dos primeiros registros do lermo aparece no documento chamado f'Vor/rI Conservotion Stra­
, Durante a Terceira Conforôncia das Partes, Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
reg)', publicado em 1980 pelas organizações JUCN (U1l150 lnternacinnal paro Conservação da
Mudanças do Clima, em Quioto (COP-J), no Japão, em 1997, 36 países il~duslriali~ados
Natureza) c WWF (Fundo Mundial para a Natureza), sob o patrocinio das Nações Unidas, Contu­
comprometeram-se a reduzir, até 2012, SU3...l\ emissões de gases de efeito estufa em 5,2%, em
do, desenvolvimento sustentável se popular-iza com a publicação do relatório Nosso FI/furo
relação aos níveis de 1990. Nesse contexto, foi criado o "mercado de carbono", que permite
Co ll1 11I11, ou Rclatóric Bruntland, em 1987, consolidando-se com a Conferência das Nações
a cornercializnção do direito de emitir certas quantidades de CO, em troca de investimentos
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992,
em projetos para implementar técnicas "limpas" de redução de lais emissões, O protocolo de
5 A busca de um consenso da sociedade a respeito de seus diversos interesses atingiu o ápice com Quioto entrou em vigor no dia 16 de Fevereiro de 2005. Esse tema é objeto de urna análise
a proposta da Agenda 21, principal documento resultante da Rio-n, Ele apresentava uma mais detalhada por Laschctski, neste volume,
lista preliminar de iniciativas, a fim de tornar o século XXl viável para todos. Nessa confe­
., Para exemplificar, mesmo Uma fonte of'icial cnmo a Organização de Desenvolvimento c
rência, as Nações Unidas l ançnrnm um apel(, para a elaboração de agendas próprias cru
Cooperação Ecouõrnica (OCDE) constatou que as emissões de r,i1s carbônico dos paises
diferentes níveis políticos c sociais locais, regionais, nacionais c internacionuis, Exatamente
membros cresceram em 6% entre 1990 e 1998, prevendo um uumento de 33% entre 2000 e
por se basear em UI1l consenso impossivc] entre segmentes, rac ionulidades e interesses diver­
2020. Além disso, a solidariedade internacional diminuiu. A ajuda financeiro dos países desen­
gentes, essa proposta, na prática, n50 tem se concretizado.
volvidos reduziu-se de 7% em termns reais entre 1993 c 2001, passando de 0 ,32% n 0,22%> do
(, O Protocolo da Bioscgurança, discutido durante os anos subseqüentes, no âmbito da Convenção produto interno bruto dos países doadores da OCDE (CORDELLlER; DlDJOT, 2002, p, 38),
sobre a Biodivcrsidade assinada por 174 países durante a Rio-n, traio dos riscos representados '" Para uma leitura crítica da idéia de desenvolvimento, ver Esteva (1992), assim C01110 Suchs
pelos organismos gencticnmcntc modificadcs para a biodivcrsidade c pura a saúde humana. (1992, 2000) c Uns Ribeiro (2000). Para Esteva, o termo surgido no séc. XIX, no campo ria
" Este debate ocorreu durante a sexta rodada da "Op en Entlet! "ri hoc WOl'killg Group 011 biologia, i'oi transportado para a ecunomiu, guardando, contudo, os significados originais,
Biosttfcty", rcalizadu pelas Nações Unidas (14/02 a 23/02/1999), quando seis patses do cha­ como a concepção de que um orgunismo envolve de lima forma simples para Dutra mais
mado Grupo Miami ·(EUA, Canadú, Austrúlia, Argentina, Chile c Uruguai) rejeitaram o Proto­ aperfeiçoada, mais madura ou complexo. Neste sentido, essa noção teria modulado as; Jlolíti­
colo. Este somente entrou em vigor no dia 29 de janeiro de 2003, durante a Conferência das eas ctnocêntricas do sêe. XIX, assim como a ideulogia desenvolv imeutista do séc. XX,
Partes, crn Montreal. A ré janeiro de 2005, ratificaram o Protocolo I J I países. Do grupo sobretudo o programa americano do Pós-Guerra, que lançou os EUA corno a forma societária
Miami, assinaram Argentina, Canadn,'Chile c Uruguai, embora não o tenham ainda ratificado "mais aperfeiçoada", enquanto rotulnva 2/3 da humanidade, de uma forma negativa e homo­
(hltp:l/www.biodiv.org, acesso em 24 de janeiro de 2005). gênea, sob a categoria de "subdesenvolvimento".

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A INsusrENTÁvl:L J.r.V~A DA roLÍTlCI\ AMBfENTi\L- DESENVOLVlt...IENTO E CONfo1..lTOS SOCIDAMI31ENTA1S INTRODUÇÃO - DESENVOLVIMENTO, SUSTENT,\BILlDADE E CONr:LrrOS SOCIOAMBIENTAIS

Para legitimar essa prática, instituições governamentais se empenham no envolvi­ qualificados nas "ciências ambientais" (ecólogos, biólogos, geógrafos, qunmcos,
mento da chamada "sociedade civil", Participação, parceria e "empoderamento" engenheiros florestais e sanitaristas, entre outros), Tais especialistas, em conseqüên­
(empowermentv; tomaram-se palavras-chave nas estratégias do Banco Mundial ou cia da segmentação dos saberes pela ciência modem a, limitam-se aos temas de seu
da Cooperação Técnica Alemã tGesellschofi[itr Technische Zusammenurbeit - GTZ), domínio particular, operacionalizando os saberes fragmentados, a partir da lógica
entre outros organismos internacionais de crédito e de cooperação. Por essa via, hegernônica do desenvolvimento!", Surge, assim, o "perito técnico", treinado na
espera-se promover a capacitação dos atores mais fracos, para as "negociações" arte da "resolução de conflitos" e alocado 1I0S departamentos c secretarias ambien­
com os agentes governamentais e com o setor privado, A idéia básica das "mesas tais das administrações públicas e privadas, Sua atuação se destaca, sobretudo, a
redondas" participativas é a de criar um novo sistema de regulação com a finalidade partir da legislação ambiental que passou a exigir a elaboração de estudos ambien­
de se estabelecer um "consenso", Em nível internacional, esse tipo de "goveman­ tais para o licenciamento de empreendimentos que acarretam reconfigurações socio­
ça" é considerado, cada vez mais, uma resposta á critica da falta de legitimidade ambientais. Entretanto, como apontam La corte e Barbosa (1995, p. 254) "no proces­
democrática da s instituições internacionais. Em teoria, a noção de governança seria so de produção especifico das empresas de estudos e projetos, uma divisão de
remissiva à busca de uma gestão livre de validação por ideologias dominantes, para trabalho e uma associação entre interesses e metodologias" raramente conduzem à
melhor divisão de poder entre as parcerias. Nesse entendimento, uma "boa" gover­ inviabilização ou à redefinição dos projetos, O olhar técnico compartimentado ape­
nança deveria considerar, assim, o respeito aos direitos humanos e aos padrões nas promove nma adequação do meio ambiente e da sociedade ao projeto proposto,
ecológicos mínimos de conservação e de transparência democrática, Na prática, fazendo com que outros olhares e saberes não-enquadrados pelo discurso técnico­
porém, o uso retórico de tais categorias não garante, de fato, uma orientação na
científico sejam, assim, excluídos dos processos de classificação e de definição
direção dc um projeto político plural, democrático e sustentável, como há muito é
sobre os destinos dos espaços.
reivindicado pelas diversas lutas sociais". Os convidados a essa "governança"
são geralmente os representantes da chamada sociedade civil "organizada", aí se A "adequação ambiental" constitui, então, um verdadeiro paradigma, inserido
incluindo as ONGs e os movimentos sociais e ambientalistas - alguns, antes, porta­ na visão desenvolvimcntista que, ao apostar na "modernização ecológica", motiva
dores de um contra-discurso ao desenvolvimento - institucional e culturalmente ações políticas que atribuem ao mercado "a capacidade institucional de resolver a
preparados para esse jogo político. Ou seja, são participantes qualificados, sobre­ degradação ambiental" (ACSELRAD, 2004a, p. 23). Como um paradigma reformador, a
tudo por meio da profissionalização técnica, com habilitações na linguagem compu­ adequação se coloca na contramão dos percursos que visam à construção de um
tacional e no acesso à internet, bem como no domínio idiomático da língua inglesa, paradigma transformador para a sustentabilidade. Esse paradigma demandaria, para
entre outras coisas". Assim é que, várias ONGs, diante do seu crescente peso além do foco nas alternativas técnicas inseridas no âmbito dos objetivos do merca­
político, parecem ter acomodado seus discursos e práticas no bojo dessa formação do, a consideração sobre a finalidade eloempreendimento vis-à-vis com os segmen­
englobante, celebrando a nova tendência como uma vitória do "arnbientalisrno de tos sociais beneficiados, os potenciais ecológicos de produção do lugar e as condi­
resultados" (ZI-IOURJ, 2004)13, ções sociais c culturais das populações envolvidas.
Essa nova configuração da política ambiental, iniciada nas décadas de 1980 e M as, ao contrário dessa perspectiva, na adequação dos processos produti­
1990, ao consagrar a especialidade técnica Ç01110 um "capital específico" do "campo vos, em geral, é dado ênfase apenas numa possível "revolução da' eficiência", em
ambiental", aumentou a demanda de órgãos públicos e de ONGs por profissionais detrimento de um debate maior sobre a necessária "revolução da suficiência"
(Si\CHS, 2000), qual seja a mudança nos padrões de produção e consnmo da so­
ciedade, base para pensarmos, de fato, a sustentabilidadc. É forçoso" pois, reconhe­
11 Dagnino (2004) adverte para a existência hoje ele lima "convergência nervcrsa'' entre projetos
políticos distintos que n.lZCI11 liSO das mesmas categorias pnliticas, tais como cidadania, participação cer que a adaptação tecnológica, com vistas a uma maior eficiência na produção (no
e sociedade civil, porúrn Com Iinulidadcs opostas. Esse fato tomaria confusa ri identificação das
referências políticas por parte dos atores sociais envolvidos, algo que corrobora a visão de Sacbs
(2000) sobre n submissão do "regime umbientul" uo "regime econômico", em nível mundlul. I.' Segundo Sousa, Santos (2003, 1'. 56-57), "As idéias do autonomia da ciência e do desinteresse do
11 Esta situação remete às dinâmicas do "campo ambiental", com seu "capital especifico", lal corno conhecimento cientifico, quc durante muito tempo eonstituírarn a ideologia espontânea dos
analisado nas contribuições de Carneiro neste volume. cientistas, colapsaram perante o fenômeno global da industrialização da ciência a partir sobretudo
., Por exemplo, no Grccnpcace, Thilo Bnde, gerente do organização entre 1995 c 2001, introduziu das décadas de trinta e quarenta. Tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas
a "busca por soluções" como um item chave das campanhas da entidade, marcando assim uma de Estado do leste europe.u, a industrialização da ciência OCDITCtOl1 o compromisso desta com os
mudança cstratégfcu ela política de confrontação para a prática da cooperação com a indústria e centros de poder econômico, social e político, os quais passaram a ter um papei decisivo na
com o mercado em geraJ. definição das prioridades científicas".

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INrRODUçAO ~ DESENVOLVIMENTO, SUSTE!'<íABILll1ADE E CONFLITOS SOCIOAM81P.NTAIS
A LNSU!Jí'ENTÀVEL LE\'EZ,'\DA I'OLlnCA AMB18NTAL- DSSENVOLVIME1"ffO 5 CONfLITOSSOClOAMRJE:.NTAlS

questões materiais relacionadas ao consumo e à produção, por valores culturais


sentido do não-desperdício no uso dos recursos ambientais e da diminuição das
ernissôcs), embora necessária, não é suficiente para garantir a sustentabil idade relativos ao que se chama genericamente de "qualidade de vida"!'.

no sentido amplo -- ambiental, social, política, cultural e econômica - de toda a O "ambientaiismo dos pobres", ou a luta pela justiça ambiental, é marcado,
sociedade (LIõFF, 2001). no Brasil; pela resistência' à supremacia das intervenções no espaço pelas elites e
pelos grupos políticos por elas apoderados (com representantes assentados em
Sociedade sustentável: a luta pela justiça ambiental diferentes escalões do Estado). Esse desenho dispõe de uma dinâmica que mere­
ce ser questionada quanto à natureza das classes sociais e dos conflitos funda­
Pensar a sustentabilidade em uma sociedade tão diversa e desigual como a men tais formados frente ao controle do sistema histórico de ação e de dominação
brasileira requer, além de uma revolução da eficiência e da suficiência, equacío­ social do espaço. A má distribuição de terras, como acesso c posse, assim como a
na-la impreterivelmente à diversidade cultural, à democratização do acesso aos decisão de não-resolução dos afrontamentos que delas descolam, ilustra a perma­
recursos naturais e à distribuição dos riscos da produção industrial. Trata-se de nência de embates desiguais, que geram ebulições entre os sujeitos dessa dinâmi­
um principio elejustiça ambiental (MART1NEZ-AuER, 1999), on seja, da cspaciali­ ca. Ela traz à tona, ainda hoje, apesar do discurso da participação, decisões sobre
zação da justiça distributiva (DWTSCH LVNCH, 2001). Na nossa sociedade, as a regulação do uso e ocupação do solo que reproduzem um formato "de cima para
considerações sobre a distribuição do "espaço ambiental" (Orscnoon, 1995) baixo", privilegiando segmentos restritos da sociedade em razão do seu "jogo de
remetem aos conflitos em torno de direitos territoriais e significados culturais, forças" na conjunção dos domínios econômicos, políticos e sociais.
que ultrapassam tentativas de valoração monetária da natureza, mesmo na for­ Os desafios que se colocam para a construção da sustcntabilidade e da
ma de medidas mitigadoras ou compensatórias. As assimetrias na classificação justiça ambiental no Brasil exigem, portanto, o reconhecimento das formas histó­
e na apropriação social da natureza resultam em uma distribuição ecológica ricas de significação e apropriação do espaço, que anulam uma multiplicidade de
desigual. O conflito eclode quando o sentido e a utilização de um espaço ambi­ formas de conceber e agir junto ao ambiente natural. Isso remete à necessária
eutal por um determinado grupo ocorre em detrimento dos significados e usos valorização das aIteridades culturais disseminadas por entre as várias camadas
que outros segmentos sociais possam fazer de seu território, para, com isso, sociais, assim como a compreensão das dinâmicas de poder existentes entre elas.
assegurar a reprodução do seu modo de vida. Entendemos, pois, que projetos A heterogeneidade cultural de nossa sociedade contrapõe-se à forma homogeini­
industriais homogencizac1ores do espaço, tais como hidrelétricas, mineração, zante dc intervenção na natureza, expressando propostas d<õ sustcntabilidadcs
monoculturas de soja, eucalipto, cana-ele-açúcar, entre outros, são geradores de plurais -múltiplas possibilidades de viver, que se refletem na diversificação do
injustiças ambientais, na medida em que, ao serem implementados, imputam ris­ espaço c inspiram uma visão de sustcntabilidade que deve necessariamente arti­
cos e danos às camadas mais vulneráveis da soeiedade. Os conflitos dai decor­ cular as dimensões da eqüidade, da igualdade, da distribuição, assim como da
rentes denunciam contradições, nas quais as vítimas das injustiças ambientais u~iversalidadc do direito de viver na singularidade.
não só são verdadeiramente cxcluidas do chamado desenvolvimento mas assu­
mem todo o ônus dele Iesultante. No entanto, esses excluidos não se constituem As contribuições dos autores
como vítimas passivas do processo e vêm se organizando em variados movimen­
tos, associações e redes, de que são exemplos o movimento dos atingidos por Os artigos desta coletânea inserem-se no contexto apresentado acima, desta­
cando problemas e contradições na implementação de políticas ditas ambientais ou
barragens, os movimentos cxtrativistas representados pelas "quebradeiras de
coco" e pelos seringueiros e os dos contaminados pela indústria do amianto nas
zonas industriais urbanas. Tais movimentos possuem, assim, diversas formas de L' A lese pós-materialista de lnglchart (1977) parte de UlTIa concepção desmatcrializada do meio
manifestarem seu desacordo, seu embaraço, sua revolta c sua reivindicação (MARTINS, ambiente, da economia c do. "consciência ambiental", que oricutaria o ambientahsmo uortc-arncri­
cano, 'Por exemplo. Este estaria muito mais relacionado à mudança ele valores da classe média que,
1997, p. 14), ao mesmo tempo em que se colocam como portadores de outros projetos tendo reso.vidas suas questões de sobrevivência, tenderia a se preocupai' com a "qualidade de vida"
de vida e interação com o meio ambiente. c o acesso às amenidades ambientais. Contrariumente a essa abordagem, Guna e Martinez-Alier
(19%), a partir de realidades c movimentos nos países do bcrnisfório sul, reafirmam a materialidade
Nessa perspectiva, os segmentos sociais qu<õ têm sua base material ameaçada
da realidade ambienta! que sustenta Uma variedade de amhiemalismos, identificados C0l110 arnbicn­
c lutam por sua conservação poclem representar o que Guha e Martinez-Alier (1996) talisrno dos pobres, Oll ambientalismo da sohrevivência C da subsistência. Entre os sujeitos desses
denominam de "ambicntalismo dos pobres", Este distinguir-se-ia, em suas motiva­ umbicntalismos na ÁrriC8., Ásia e América Latina, lambem associados ao movimento pela justiça
ambiental nos EUA. situam-se, 110 Brasil, 05 chamados socioarnuicntalistas.
ções e experiências, de outras modalidades de ambicntaJismo cuja pauta substituiu

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i\ \NSUSTE~'1·ÁVI.:LLl='VE:ZA 0,\ rOLfTrCA Al\-fB1ENTAL- DF_C:;~NVOLVIME.;\jTO E CONFLITOS SOCIOAMBIENTA!S
INTROIJUÇÃO- DESENVOLVIMENID, SUSTENTAE ILIDWE ECONFLITOSSOCIOAMBIENmJS

sustentáveis, efetivadas dentro de um esquema de adequação da natureza e das recursos; e a do Setor Elétrico, que, a partir de urna ótica de mercado, entende o
populações locais aos programas hcgcmônicos de desenvolvimento econômico. território como propriedade e, como tal, mercadoria passível de valoração monetária,
Em sua maioria, as contribuições expressam reflexões a partir de diferentes traba­ Nesse campo de lutas em que as diferentes posições sustentam forças desiguais
lhos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GES­ perpetuam-sepolíticas socialmente injustas e ambientalmente insustentáveis.
TA/UFMG) e suas parcerias". O terceiro capítulo, de Eder Jurandir Carneiro, analisa a "Oligarquízação da
'Política Ambiental' Mineira", sobretudo por intermédio do Conselho Estadual de
O livro é constituido por nove capítulos organizados em três blocos. No pri­
Política Ambiental de Minas Gerais (COPAM). Conclui que, ao longo dos anos, a
meiro bloco, apresentamos uma reflexão teórica e critica sobre o conceito de desen­
forte tendência à "oligarquização" do poder nesse campo é consolidada por uma
volvimento sustentável, tal como institucionalizado nas duas últimas décadas, e
estabilização que não somente restringe a quantidade c a diversidade de agentes
análises empíricas sobre a oligarquização da polí tica ambiental em Minas, a dester­
participantes mas também fomenta um consenso de conteúdo em tomo de funda­
ritorialização elepopulações locais por projetos hidrelétricos e o processo de licen­
mentos da ideologia do desenvolvimento sustentável. A oligarquização produz-se
ciamento ambiental. No segundo bloco, tratamos das políticas para as unidades de
também pela exclusão, tácita ou explícita, de agentes portadores de interesses e
conservação e a participação das comunidades vizinhas a essas unidades, com o
concepções que ameacem os pressupostos do jogo.
questionamento do papel do Estado como um dos reguladores do espaço. No
terceiro bloco, são discutidas as políticas de desenvolvimento para o Cerrado, com No quarto capítulo, Andréa Zhouri, Klemens Lasehefski e Ângela Paiva reto­
ênfase no avanço do ngroncgócio, suas conseqüências para as populações locais, mam pressupostos dos capítulos anteri ores , apresentando "Uma Sociologia do
assim como as mais recentes políticas internacionais cujos projetos pilotos estão Licenciamento Ambiental: o caso das hidrelétricas em Minas Gerais", com análises
sendo implementados em Minas Gerais (Protocolo de Quioto, Mecanismo de De­ empíricas sobre a marginalização das populações atingidas por barragens nos pro­
senvolvimento Limpo, moncculturas de eucalipto etc). cessos de licenciamento. A instituição do licenciamento ambiental, embora dese­
nhada a partir de um paradigma de adequação ambiental, configura-se como uma
Assim, o primeiro capítulo, de autoria de Eder Jurandir Carneiro, intitulado
conquista da sociedade desde a década de 1980. Contudo, encontra-se atualmente
"Política Ambiental e a ideologia do Desenvolvimento Sustentável", procura articu­
sob forte ameaça. Os autores reconhecem a importância do licenciamento, mas
lar a chamada "crise ambiental" contemporânea com os desenvolvimentos estrutu­
abordam os problemas estruturais e procedimentais desse instrumento de política
rais do sistema mundial de produção dc mercadorias. A ideologia do desenvolvi­
ambiental, com ênfase nos conflitos sccioambientais derivados da concepção he­
mento sustentável é considerada a doxa da "questão ambiental", restringindo o gernônica de desenvolvimento e da oligarquização do campo ambiental.
âmbito dos agentes e dos discursos 1cgítimos, que assumem como pressuposto
O segundo bloco temático enfoca os problemas da participação no âmbito da
tácito a viabilidade da compatibilização entre, de um lado, a continuidade da apro­
criação de Unidades de Conservação. Doralice BaJTOS Pereira, em "Parodoxos do
priação das condições naturais pelo processo de acumulação de riqueza abstrata e,
papel do Estado nas Unidades de Conservação", destaca os processos de criação
de outro, os múltiplos liSOS sociais dessas condições naturais (como condições ela
de áreas protegidas no Brasil, que tendem il redefinição e reapresentação de diver­
vida no planeta).
sos usos e ocupações (p. cx. a mineração, o agropastoril, o residencial e o turístico),
O capitulo "Paisagens Industriais e Desterritorialização de Populações Locais: nem sempre em consonância com os interesses políticos, ambientais, econômicos e
conflitos socioarnbicntais em projetos hidrelétricos", de Andréa Zhouri e Raquel sociais. Uma das principais di ficuldarles encontradas corresponde exatamente à
Oliveira, analisa o lugar das comunidades atingidas por barragens hidrelétricas no regulação centralizada do uso e ocupação do solo. A autora busca pontuar como a
campo dos conflitos em tomo da apropriação social da natureza representado pelo atuação elo Estado pode resultar na (des)constmção e vulnerabilidade da qualidade
licenciamento ambiental. Destacam-se duas racionalidades em confronto: a das co­ dos espaços protegidos, por meio da criação da paisagem e da adequação da diver­
munidades rurais, que têm na terra o "patrimônio" da família e ela comunidade, sidade dc representações promotoras de tensões e conflitos.
resguardado pela "memória coletiva" e por regras de liSO e compartilhamento dos Em "Dilemas da Participação na Gestão de Unidades de Conservação: a Expe­
riência do Projeto Doces Matas na RPPN Mata do Sossego", Luciana Braga Paraíso
l r, O GESTA, vinculado institucionalmente 00 Departamento de Sociologia e Antrupologin du trata do envolvimento de populações vizinhas às áreas protegidas nos planos de
FAFIOIIUPMG, é um grupo interdisciplinar criado desde 2001, o partir das atividades de pesquisa, ação de projetos de conservação da natureza. O trabalho discute a noção de parti­
ensino ~ extcnsãc em tcmúticus socinarnbicntais. Agradecemos especialmente: as participações
cipação, junv- às associações de moradores e ao grupo de experimcntarlores em
neste volume de Erler Jurandir Carneiro (UFS.J), Ricardo Ferreira Ribeiro (PUC-MG) c Carlos
Eduardo tvluzzellu Silvu (UNI-BH). práticas aglicolas alternativas e artesanais das comunidades de entorno à Mata do

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A INSU::'íENTAvEL LEVEZA DA I'OLfTICA AMBIENTAL - DESENVOLVl1\.1ENTO ECONFLITOSSOCIOAMBlEHTAIS lNTRODuçÀO - DP.SENVO~Vr/'vtEl·..rrOl SUSTEl'ITAatUDADF.. E CONFLITOS SOC\DAM8iENTAIS

Sossego, Zona da Mata, Minas Gerais. A autora mostra as limitações das estratégi­ Referências
as adotadas, tendo em vista o alcance de um ambiente realmente participatívo e
ACSELRAD, H. Justiçn Ambíental: ação coletiva e estratégias urgurncntativas, In:ACSEL­
democrático na condução das ações. RAD, H.; PÁDUA, 1. A.; HERCULANO, S. (Orgs.). Jus/iça ambiental e cidadania. Rio de
O terceiro bloco temático trata das conseqüências sociais e ambientais dos Janeiro: Relume-Dumará, 2004a.
programas de desenvolvimento que resultaram no avanço da fronteira agrária e ACSERALD, H. Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relurne-Dumará, 2004b.

pecuária no bioma Cerrado. A contribuição de Ricardo Ferreira Ribeiro, "Da 'lar­


ADORNO, T.; HüKHEIMER, M. Dialectic ofEnltghtenment. London: 1\llen Lanc, 1973.

gueza' ao 'cercamento': um balanço dos programas de desenvolvimento do Cerra­


do", traz uma avaliação da chamada "modernização da agricultura brasileira", que ADORNO, T. The Positivist Dispu/e in German Sociology. London: lleinernann, 1976.

transformou esse setor da economia nacional a partir dos anos de 1970, e tem sido CASTORIADJS, C.;COHN-BENDJT, D. Da ecologia aulonomia. São Paulo: Brasiliense, 1981.

objeto de investigação e debates desde então. O autor discute a inserção desses


CORDELLJER, S.; DIDIOT, B. (Dir.). L 'état du monde 2003: annuaire économique e/

programas na história da ocupação humana naquela região c a forma como os


géopolltique mondiale. 22'. cd. Paris: La Découverté, 2003.

diferentes grupos sociais que lá conviveram e se sucederam utilizaram os recur­


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cola se dá hoje distintamente daquele da década de 1970, quando sua abertura se para a Justiça Ambientalde Cidades Latino-americanas. In:ACSELRAD, H. (Org.). A Duração
apoiou cm fortes incentivos do Estado. Atualmente, ela se desenvolve simultânea à das cidades. Sustentabilidade e risco lias potiticasurbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 200 I.
intensificação do uso do cspaço e dos recursos naturais pejo "agroncgócio" transna­
DOUGLAS, M. Environrnentsar risk, hnplicit Mcanings, selected essays in anthropoiogy.
cional das corporações em rede. Esse avanço e essa intensificação enfrentam dois
London c Ncw York, Routledge, Taylor & Francis Group, 1999.
problemas interligados: o impacto ambiental, em especial sobre a biodiversidade e
sobre os recursos hídricos do biorna, e o conflito territorial com populações locais. A DUPUY, .l-P Introdução à crítica da ecologia política. Rio de Janeiro:CivilizaçãoBrasileira, 1980.
tensão e a disputa territorial entre o agroncgócio c as comunidades rurais confrontam ESCOBAR, A. Planning. In: SACHS, W. (Ed.), The Development Diciionory: A Guitle (o
o uso e a apropriação do Cerrado: o espaço enquanto lugar de viver (habitat) e o Knowledge as Power. London: Zcd Book, 1992.
espaço enquanto lugar do negócio (mercadoria). ESTEVA, G. Devcloprncnt.Jn: SACHS, W. (Ed.). The Development Dlctionary: 11 Guide lo
A coletânea se encena com a reflexão: "O Comércio de Carbono, as Plantações Ktiowledge as Power. London: Zed Book, 1992.
de Eucalipto e a Sustentabilidade de Políticas Públicas", de K1cmcns Laschefski, FEYEAR13EN D, 1'. Against Method. Outline 0/ an Anarcliist Tlieory ofKnowlcdge. Lon­

que mostra como políticas ambientais em nível internacional contribuem também dou, NLB, Atlantic Highlands: Hurnanitics Press, 1975,

para a reativação da transformação do Cerrado em paisagens monoculturizadas. G1DDENS, A. I1s conseqiiéncias da modernidade. São Paulo: Uncsp, 1991.

Durante a Conferência sobre Mudauças Climáticas em Kyoto, Japão (1997), foi


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criado o MDL - Mecanismo do Desenvolvimento Limpo. Empresas mineiras foram


as primeiras a elaborarem projetos-piloto a serem financiados pelo MDI,: plantações GUATTAR1, F. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.

de eucalipto para a produção de carvão vegetal como alternativa ao carvão mineral. GUHA, R.; MART1NEZ-ALlER, 1. l/arieties ofEnvironmentolism. Londres: Earthscan, J 996.

A sustcntabilidade dessas empresas foi avaliada com base em parâmetros geográfi­


GUIMARÃES, S. P. Quinhentos WIOS de periferia: WIW contribuição ao estudo da polltica

cos a fim de se verificar os processos espaciais implicados nos conceitos, entre internacional. Porto Alegre:Ed. Universidade/UFRGS, 2000; Riode Janeiro: Contraponto, 1999.
outros, de espaço ambiental e dívida ecológica. A aprovação elos projetos depende
lNGLEHART, R. The Silent Rcvolution: Clwnging Values anil Political Styles. Princeton:

da certificação do Forest Stewardship Council- FSC (Conselho de Manejo Flores­


Princeton University Press, 1977.

tal), organização apoiada por ONGs ambienta listas, e inclui o chamado processo
stakeholdet; o esquema de participação do fSC. Nesse contexto, portanto, a análise INGOLD, T. Tlie Perception O/lhe Environment: Essays 011 Livelihood, Dwelling and Skill.

Lonclon e New York: Routleclge, Taylor e Francis Group, 2000.

do processo vai se referir à luta das comunidades, na vizinhança das plantações,


para assegurar seu espaço ambiental e seus direitos. KUHN, T. TheSuucture oftlie ScietuificRevolution. Chicago:Univcrsityof'ChicagoPress, 1971:J.

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I
I
A lN!)USTEN"i'Á vn, LEVE?..A I)A pOLíTICA AMB1ENT.~L -, Dr:S~NVOLVIMt:NTO p. cosnrros SOCIOAI\1BIENTAIS

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