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a. 174
n. 459
abr./jun.
2013
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
DIRETORIA – (2012-2013)
Presidente: Arno Wehling
1º Vice-Presidente: Victorino Chermont de Miranda
2º Vice-Presidente: Affonso Arinos de Melo Franco
3º Vice-Presidente: José Arthur Rios
1º Secretário: Cybelle Moreira de Ipanema
2º Secretário: Maria de Lourdes Viana Lyra
Tesoureiro: Fernando Tasso Fragoso Pires
Orador: Alberto da Costa e Silva
CONSELHO FISCAL
Membros Efetivos: Antonio Gomes da Costa, Jonas de Morais Cor-
reia Neto, Marilda Correia Ciribelli.
Membros Suplentes: Marcos Guimarães Sanches, Pedro Carlos da Silva Telles,
Roberto Cavalcanti de Albuquerque.
CONSELHO CONSULTIVO
Membros nomeados: Carlos Wehrs, Evaristo de Moraes Filho, Helio Leoncio
Martins, João Hermes Pereira de Araújo, José Pedro Pin-
to Esposel, Lêda Boechat Rodrigues, Luiz de Castro Sou-
za, Miridan Britto Falci, Vasco Mariz
DIRETORIAS ADJUNTAS
Arquivo: Jaime Antunes da Silva
Biblioteca: Claudio Aguiar
Cursos: Antonio Celso Alves Pereira
Iconografia: D. João de Orleans e Bragança e Pedro K. Vasquez (sub-diretor)
Informática e Dissem. da Informação: Esther Caldas Bertoletti
Museu: Vera Lúcia Bottrel Tostes
Patrimônio: Guilherme de Andrea Frota
Projetos Especiais: Mary del Priore
Relações Externas: Maria da Conceição Beltrão
Relações Institucionais: João Mauricio de A. Pinho
Coordenador da CEPHAS: Maria de Lourdes Viana Lyra e Lucia Maria Paschoal
Guimarães (sub-coord.)
Editor do Noticiário: Victorino Chermont de Miranda
COMISSÕES PERMANENTES
ADMISSÃO DE SÓCIOS: CIÊNCIAS SOCIAIS: ESTATUTO:
Alberto da Costa e Silva Antônio Celso Alves Pereira Affonso Arinos de Mello Franco
Alberto Venancio Filho Cândido Mendes de Almeida Alberto Venancio Filho
Carlos Wehrs Helio Jaguaribe de Matos Célio Borja
Fernando Tasso Fragoso Pires Lêda Boechat Rodrigues João Maurício A. Pinho
José Arthur Rios Maria da Conceição de M. Cou- Victorino Chermont de Miranda
tinho Beltrão.
GEOGRAFIA: HISTÓRIA: PATRIMÔNIO:
Armando Senna Bittencourt Eduardo Silva Afonso Celso Villela de Carvalho
Jonas de Morais Correia Neto Guilherme de Andrea Frota Antonio Izaías da Costa Abreu
Miridan Britto Falci Lucia Maria Paschoal Guimarães Claudio Moreira Bento
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão Marcos Guimarães Sanches Fernando Tasso Fragoso Pires
Vera Lúcia Cabana de Andrade Maria de Lourdes Vianna Lyra. Roberto Cavalcanti de Albur-
querque.
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
E
GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos.
Et possint sera posteritate frui.
Indexada por/Indexed by
Ulrich’s International Periodicals Directory – Handbook of Latin American Studies (HLAS) –
Sumários Correntes Brasileiros
Correspondência:
Rev. IHGB – Av. Augusto Severo, 8-10º andar – Glória – CEP: 20021-040 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Fone/fax. (21) 2509-5107 / 2252-4430 / 2224-7338
e-mail: presidencia@ihgb.org.br home page: www.ihgb.org.br
© Copright by IHGB
Tiragem: 700 exemplares
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Revisora: Sandra Pássaro
Secretária da Revista: Tupiara Machareth
Trimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450
(2011)
N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional. – N. 427: Inventá-
rio analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia e Oceania integrante do acervo
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro / coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley
– N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26 de maio de 2006.
– N. 436: Curso - 1808 - Transformação do Brasil: de Colônia a Reino e Império.
CONSELHO CONSULTIVO
Amado Cervo – UnB – Brasília – DF – Brasil
Aniello Angelo Avella – Universidade de Roma Tor Vergata – Roma – Itália
Antonio Manuel Botelho Hespanha – UNL – Lisboa – Portugal
Edivaldo Machado Boaventura – UFBA e UNIFACS – Salvador – BA
Fernando Camargo – UFPEL – Pelotas – RS – Brasil
Geraldo Mártires Coelho – UFPA – Belém – PA
José Octavio Arruda Mello – UFPB – João Pessoa – PB
José Marques – UP – Porto – Portugal
Junia Ferreira Furtado – UFMG – Belo Horizonte – MG – Brasil
Leslie Bethell – Universidade Oxford – Oxford – Inglaterra
Márcia Elisa de Campos Graf – UFPR– Curitiba – PR
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho – UFPE – Recife – PE
Maria Beatriz Nizza da Silva – USP – São Paulo – SP
Maria Luiza Marcilio – USP – São Paulo – SP
Nestor Goulart Reis Filho – USP – São Paulo – SP – Brasil
Renato Pinto Venâncio – UFOP – Ouro Preto – MG – Brasil
Stuart Schwartz – Universidade de Yale – Inglaterra
Victor Tau Anzoategui – UBA e CONICET – Buenos Aires – Argentina
SUMÁRIO
SUMMARY
Carta ao Leitor 11
Lucia Maria Paschoal Guimarães
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Propostas radicais no Parlamento regencial: 13
república, religião e escravidão
Radical proposals in the House of Representatives
during the regency period: republic, religion and slavery
Marcello Otávio Neri de Campos Basile
A formação do acervo do Gabinete Português de Leitura 43
no século XI
Creating the collection of the
Gabinete Português de Leitura in the nineteenth century
Fabiano Cataldo de Azevedo
e Luís Felipe Dias Trotta
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Centenário de uma ruptura institucional na República: 173
o caso do Conselho Municipal do Distrito Federal
The centennial of an institutional rupture in the Brazilian Republic:
the case of the Federal District’s Municipal Council
José Henrique do Carmo
Os naturalistas no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: 209
V – Maximilian Alexander Phillip von Wied-Neuwied
(1782-1867)
The Naturalists in the Brazilian Institute of History and Geography:
V – Maximilian Alexander Philip von Wied-Neuwied (1782-1867)
Melquíades Pinto Paiva
O Curso Capistrano de Abreu (1953), no IHGB: 217
a construção de um legado intelectual
The Capistrano de Abreu course at the Brazilian Institute of History
and Geography (IHGB) in 1953: building an intellectual legacy
Rebeca Gontijo
Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira Belchior 243
Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira Belchior
Carlos Wehrs
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Isabel Odonais no Rio Amazonas em 1769 247
Isabel Odonais on the Amazon River in 1769
Jean Marcel Carvalho França
IV – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
Passagens para o Índico: Encontros brasileiros 259
com a literatura moçambicana
Adelto Gonçalves
Geografia histórica do Brasil: 265
capitalismo, território e periferia
Luciene Pereira Carris Cardoso
• Normas de publicação 273
Guide for the authors 275
Carta ao Leitor
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
12 – Todavia, como observou com argúcia Ilmar Mattos, era este o ponto fraco dos pro-
gressistas; em meio à situação caótica que parecia assolar o Império desde o início do pe-
ríodo regencial, cada vez mais imputada ao excesso de liberdade, não conseguiam evitar
que esta sua bandeira fosse atrelada ao princípio da ordem pregado por seus adversários,
ao qual acabariam se vendo forçados a aderir para escapar da pecha de anarquistas, de
inimigos da integridade nacional e mesmo de antimonarquistas. MATTOS, Ilmar Rohloff
de. O Tempo Saquarema: a formação do Estado imperial. 2ª ed. São Paulo: Hucitec, 1990,
capítulo II, pp. 141-143.
13 – Sobre esse assunto, ver BASILE, Marcello. O “negócio mais melindroso”: reforma
constitucional e composições políticas no Parlamento regencial (1831-1834). In: NEVES,
Lúcia Maria Bastos P. das (org.). Livros e impressos: retratos do setecentos e do oitocen-
tos. Rio de Janeiro: Eduerj, 2009.
2. As aspirações republicanas
Legalmente, os adeptos do regime republicano de governo não po-
diam assumir abertamente sua profissão de fé, por qualquer meio que
fosse, pois a Constituição de 1824, o Código Criminal de 1830 e a lei de
imprensa de 20 de setembro deste último ano proibiam expressamente a
defesa da mudança de regime e até críticas diretas ao imperador.14 Ainda
assim, desde 1830, a imprensa exaltada da Corte esmerou-se, em sua
maioria, na defesa dessa forma de governo. Para tanto, empregou vários
artifícios retóricos e discursivos a fim de driblar as interdições legais,
denotando maneiras diversas de apoiar a República; recursos esses que
não excluíam a propaganda aberta e tampouco livraram alguns redatores
de jornal de retaliações e processos judiciais. De todo modo, produziram
uma linguagem republicana que articulava, em um sistema de ideias, um
vasto conjunto de mudanças políticas, sociais e econômicas radicais des-
tinadas a depurar os resíduos “absolutistas” do Estado e os traços “aristo-
cráticos” da sociedade brasileira. Eram as chamadas reformas republica-
as causas judiciais entre súditos dos dois países seriam resolvidas por
árbitros ou jurados nomeados pelas partes; haveria auxílio mútuo para
compartilhamento de instituições, ofícios e produções; e as duas nações
iriam colaborar para a “conservação, e perfeição da forma nacional de
governo, em todas as calamidades que se oponham a seu melhoramento
físico ou moral”. Tratava-se, portanto, de uma curiosa confederação entre
Brasil e Estados Unidos, nos moldes de uma espécie de reino unido, mal-
grado os regimes políticos distintos dos dois países. Era este ponto o que,
provavelmente, mais susto deve ter causado, pois suscitava o temor de
que o projeto tivesse, no fundo, conotações republicanas. Não por acaso,
a proposta sequer entrou em discussão.19
20 – Ibidem, 1835, t. 1º, pp. 78 (primeira e segunda citações) e 79. Embora a votação te-
nha sido nominal, conforme sugerido pelo deputado exaltado Barboza Cordeiro, os Anais
não discriminam os nomes dos votantes.
21 – Cf. MATTOS, Ilmar Rohloff de. Op. cit., capítulo II, seção 2.
3. Igreja e religião
Tal como a forma de governo, religião representava outro dogma po-
lítico, uma vez que a Igreja Católica Apostólica Romana era considerada
pela Constituição e pelo Código Criminal como religião oficial do Brasil,
atrelada ao Estado imperial.23 Mais uma vez, no entanto, alguns periódi-
cos exaltados da Corte, imbuídos de forte anticlericalismo e de rejeição
ao ultramontanismo, chegaram a propor, não apenas a plena liberdade de
culto, como também a separação entre Igreja e Estado e mesmo de cria-
ção de uma igreja (católica) brasileira separada da romana, não submetida
aos ditames da Santa Sé e do papa.24
(16,35%) foram também ocupadas por membros do clero (com igual nú-
mero dos que tomaram posse); já no Senado, 13 clérigos tiveram assento
ao longo de toda a Regência, sendo que seis foram nomeados neste perío-
do.25 A mesma autora identifica 29 padres ligados ao grupo dos modera-
dos, 11 à facção caramuru e cinco aos exaltados,26 o que se coaduna com
a divisão geral de forças políticas observadas na Câmara dos Deputados
durante as regências trinas.
4. O problema da escravidão
Um outro assunto, mais temerário e candente, por força das circuns-
tâncias encontrou maior espaço de discussão no Parlamento regencial,
embora nem por isso se possa dizer que tenha tido melhor encaminha-
mento ou acolhida. O que se debateu de fato sobre o tema da escravidão
ficou então fundamentalmente restrito à questão do tráfico negreiro, cuja
extinção, prevista para 1830, já era estipulada pelo tratado anglo-brasi-
leiro de 1826, ratificado no ano seguinte, do que resultou a sua proibição
legal pela lei de 7 de novembro de 1831.
artigo substitutivo, igualmente aprovado, que recompensava com 30$000 réis por cabeça
toda pessoa que apreendesse africanos desembarcados por contrabando ou que desse in-
formações ou fornecesse meios às autoridades que ocasionassem capturas dessa natureza.
Annaes do Parlamento Brazileiro – Camara dos Srs. Deputados, op. cit., 1831, t. 1º, pp.
29-30 e 159; t. 2º, pp. 30 (citação), 54, 55, 234-235 e 237-238.
escravidão. Adiante veremos que várias outras iniciativas como essa fo-
ram cogitadas. De todo modo, apenas a proposta de Rodrigues Torres foi
aprovada, juntamente com os dois primeiros artigos. Antes, porém, que a
discussão fosse concluída, o projeto e as emendas foram enviados à Co-
missão de Justiça Criminal da Câmara, por sugestão de Antônio Joaquim
de Mello. Só retornou ao plenário em 20 de julho, quando entraram em
pauta as emendas da comissão – integrada por Gonçalves Martins, Fran-
cisco de Paula Cerqueira Leite e José Antônio Ibiapina –, acrescentando,
entre outras coisas, que os pronunciados seriam julgados por uma junta
composta pelos juízes de Direito e pelo juiz municipal da cidade, e que
metade do produto do leilão seria destinada ao denunciante ou apreensor
e a outra às despesas de reexportação dos africanos ou aos cofres públi-
cos. Quatro dias depois, já empunhando uma das bandeiras que marcaria
o Regresso – representando os intereses escravistas –, Vasconcellos apre-
sentou pela primeira vez proposta que simplesmente abolia a lei de 7 de
novembro. Contudo, todas as emendas foram rejeitadas.36
36 – Ibidem, 1835, t. 1º, pp. 21-26; t. 2º, pp. 91-92, 105 e 108-109 (citação, p. 21).
37 – Ibidem, 1836, t. 1º, pp. 224-225, e t. 2º, p. 200 (citações, t. 1º, p. 224; e t. 2º, p. 200);
1837, t. 1º, pp. 272 (citação) e 362.
38 – Cf. RODRIGUES, Jaime. Op. cit., pp. 110-114.
39 – Cf. Annaes do Parlamento Brazileiro – Camara dos Srs. Deputados, op. cit., 1836, t.
2º, pp. 61, 149, 177 e 387; 1837, t. 1º, p. 25, e t. 2º, p. 89.
40 – Cf. RODRIGUES, Jaime. Op. cit., p. 215, que reproduz as estimativas de David Eltis
e Leslie Bethell.
Por que, então, não foram adiante essas propostas, mesmo após a
ascensão regressista no governo regencial e no Parlamento? A resposta é
bem conhecida: esbarraram todas na pressão inglesa, cada vez mais acir-
rada, em favor da eliminação do tráfico. O descontentamento britânico
com o descaso do governo brasileiro a respeito da permanência do tráfico
ilícito patenteava-se em notas diplomáticas que cobravam da Regência
medidas coercitivas mais enérgicas e efetivas. Na sessão de 17 de setem-
bro de 1835, foi lida na Câmara uma representação dirigida pela Câmara
dos Comuns inglesa ao seu monarca, pedindo uma revisão dos tratados
firmados com as nações envolvidas no comércio negreiro, de modo a in-
cluir cláusulas como o direito de busca por toda a costa ocidental e orien-
tal africana, a prerrogativa de apreensão das embarcações equipadas para
o tráfico mesmo quando não contenham escravos a bordo e a declaração
desse “iníquo e detestável comércio” como pirataria. A petição foi re-
passada ao governo brasileiro pelo ministro plenipotenciário inglês H. S.
Fox, juntamente com a resposta dada pelo rei, o qual afirmava também
ressentir-se desse “nefando tráfico” e assegurava já estar em negociações
com tais nações a fim de atender àquelas reivindicações. Em seu ofício,
Fox reiterava que o governo inglês “teria a maior satisfação em receber
uma nova prova, dada na assinatura dos artigos acima mencionados, de
que a regência do Brasil, em nome de S. M. o Imperador, coopera com
o governo e povo britânico”.41 Contudo, um ano depois, o novo ministro
plenipotenciário inglês Hamilton J. C. Hamilton, em nota lida na Câmara
em 2 de setembro, voltava a protestar contra a “negligência das auto-
ridades” brasileiras na repressão ao contrabando negreiro. Denunciava
o despacho dado pela Alfândega do Rio de Janeiro a uma embarcação
portuguesa notoriamente empregada no tráfico, assinalando que ocorrên-
cias semelhantes eram comumente observadas, o que servia de “incenti-
vo para animar tão criminosas especulações” e tornava “letra morta” os
tratados e convenções internacionais firmados com o intuito de cercear
41 – Annaes do Parlamento Brazileiro – Camara dos Srs. Deputados, op. cit., 1835, t. 2º,
pp. 297-299 (citações, p. 298).
um prazo de 20 anos; alegava então que “não queria que isto se fizesse de
repente, porque era a coisa mais impolítica possível, mas que se marcasse
um prazo para ela se acabar”.54 Um mês depois, em 6 de junho, seu pai
Antônio volta à questão, sugerindo que “se fixe um prazo dentro do qual
deve a escravidão cessar no Brasil”.55 Em 7 de maio do ano seguinte, o
mesmo deputado propôs o prazo de 25 anos para o término da escravidão,
assim como a imediata criação de um imposto de 3$000 réis por cativo,
que substituiria as taxações existentes sobre a produção e a exportação
dos produtos nacionais.56 Todos esses projetos foram, é claro, sumaria-
mente rejeitados, sem qualquer discussão, patenteando a disposição dos
parlamentares da Regência de não abrir espaço a propostas emancipacio-
nistas.
Considerações finais
Marcada pelo despontar da esfera pública, a década de 1830 assina-
lou o momento de maior amplitude e diversificação do debate e da ação
políticos ao longo do Império. Desenvolveu-se, então, uma linguagem
política radical, que articulava a proposição de vasto conjunto de trans-
formações políticas, sociais e econômicas, destinadas a expurgar resíduos
“absolutistas” do Estado e traços “aristocráticos” da formação social
brasileira, que teriam sido herdados da colonização lusitana e reforça-
dos após a Independência.57 Tais mudanças tenderiam a fortalecer os ele-
mentos democráticos próprios do sistema americano, em detrimento dos
elementos monárquicos típicos do sistema europeu. Embora a imprensa
– em estreita consonância com as ruas e com as associações – tenha sido
o lugar privilegiado de desenvolvimento dessas ideias, o Parlamento re-
gencial (em especial, a Câmara dos Deputados) também foi palco de pro-
postas radicais. Temas impolíticos (segundo expressão da época) como
república, religião e escravidão tocavam em assuntos considerados quase
54 – Ibidem, 1835, t. 1º, pp. 22-23.
55 – Ibidem, 1835, t. 1º, pp. 155 e (citação) 156.
56 – Ibidem, 1836, t. 1º, p. 24.
57 – Ver a respeito BASILE, Marcello. O radicalismo exaltado: definições e controvér-
sias. In: NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira das, e FERREIRA, Tânia Bessone da C.
(org.). Dimensões políticas do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2012.
Fontes
Annaes do Parlamento Brazileiro – Camara dos Srs. Deputados. Sessões de
1831 a 1837. Coligidos por Antonio Pereira Pinto e por Jorge João Dodsworth.
14 ts. Rio de Janeiro: Typographia de H. J. Pinto / Typographia de Viuva Pinto &
Filho, 1878 / 1879 / 1887.
Annaes do Parlamento Brazileiro – Camara dos Srs. Senadores. Sessão de 1840.
Rio de Janeiro: Typographia Mercantil, 1874.
Astréa. Rio de Janeiro: Typographia Patriotica da Astréa, 21 de abril de 1831 a
18 de agosto de 1832. Redatores: Antonio José do Amaral e José Joaquim Vieira
Souto.
Collecção das leis do Imperio do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1830.
Constituição Política do Império do Brasil. In: CAMPANHOLE, Adriano, e
CAMPANHOLE, Hilton Lobo (org.). Constituições do Brasil: 1824, 1891, 1934,
58 – José Murilo de Carvalho assinala, no entanto, que, assim como a passagem do novo
radicalismo para o republicanismo da década de 1870 representou um retrocesso no que
tange à variedade e à profundidade das reformas propostas, esvaziando a agenda política,
este mesmo radicalismo também constituiu um retrocesso quando comparado ao dos exal-
tados dos anos de 1830. CARVALHO, José Murilo de. Radicalismo e republicanismo. In:
CARVALHO, José Murilo de, e NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das (org.). Repen-
sando o Brasil do oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009, p. 42. Sobre as críticas da geração de 1870 às instituições imperiais, ver
ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São
Paulo: Paz e Terra, 2002.
Bibliografia citada
ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do
Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BASILE, Marcello Otávio Neri de Campos. Anarquistas, rusguentos e
demagogos: os liberais exaltados e a formação da esfera pública na Corte
imperial (1829-1834). Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PPGHIS –
UFRJ, 2000.
BASILE, Marcello Otávio Neri de Campos. O Império em construção: projetos
de Brasil e ação política na Corte regencial. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro:
PPGHIS – UFRJ, 2004.
BASILE, Marcello. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In:
GRINBERG, Keila, e SALLES, Ricardo (org.). O Brasil imperial, v. II: 1831-
1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
BASILE, Marcello. O “negócio mais melindroso”: reforma constitucional e
composições políticas no Parlamento regencial (1831-1834). In: NEVES, Lúcia
Maria Bastos P. das (org.). Livros e impressos: retratos do setecentos e do
oitocentos. Rio de Janeiro: Eduerj, 2009.
BASILE, Marcello. Deputados da Regência: perfil socioprofissional, trajetórias
e tendências políticas. In: CARVALHO, José Murilo de, e CAMPOS, Adriana
Pereira (org.). Perspectivas da cidadania no Brasil Império. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011.
BASILE, Marcello. O bom exemplo de Washington: o republicanismo no Rio de
Janeiro (c.1830 a 1835). In: Varia Historia, v. 27, nº 45. Belo Horizonte: Programa
de Pós-Graduação em História da UFMG, janeiro-junho de 2011.
BASILE, Marcello. O radicalismo exaltado: definições e controvérsias. In:
NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das, e FERREIRA, Tânia Bessone da C.
(org.). Dimensões políticas do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa,
2012.
BETHELL, Leslie. A abolição do comércio brasileiro de escravos. Brasília:
Senado Federal, 2002.
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1981.
Resumo: Abstract:
Este artigo tem como objetivo principal delinear The main objective of this article is to under-
o panorama da formação do acervo do Gabine- stand how the collection of the Rio de Janeiro
te Português de Leitura do Rio de Janeiro, ten- Gabinete Português de Leitura was created by
do como recorte cronológico os primeiros dez following a chronological order during its ini-
anos, pois serão fundamentais para a estrutura tial decade. This timeline will be vital for the
que será seguida. Para isto, partiu-se de um structure that the institution will assume. With
minucioso cotejamento das fontes que fazem that purpose in mind, we undertook a detailed
parte do arquivo histórico da Instituição. Apesar comparison of the sources that are part of the
de privilegiar os livros, aborda o interesse por historical archive of the institution. Inasmuch
periódicos e a maneira como esses impressos as the books are the privileged focus, this paper
entravam e circulavam nesta instituição portu- will also approach the interest for periodicals
guesa. Utiliza uma narrativa expositiva com fi- and the ways in which those printed matters en-
nalidade de mostrar os detalhes de um dos mais tered and circulated in this Portuguese-Brazil-
importantes núcleos de sociabilidade da capital ian institution. An expository narrative will be
do Império. used with the purpose of showing the details of
one of the most important social centers of the
Empire’s capital city.
Palavras-chave: Gabinete Português de Lei- Keywords: Real Gabinete Português de Lei-
tura; Circulação de impressos; História da Im- tura; circulation of printed matters; History of
prensa. the Press.
Introdução
Nosso objeto é o Gabinete Português de Leitura (GPL), que aqui
olvidaremos do título de Real por coerência histórica, uma vez que só
recebe este título em 1906. Como objetivo e recorte cronológico a circu-
lação de impressos nesta Instituição nos anos de 1830 a 1860, pois, pelas
análises que já realizamos e publicamos em outros trabalhos observamos
ter sido este período o de maior aquisição. Optamos metodologicamente
por um texto expositivo, por isso evitaremos excessos de considerações
e alinhamentos teóricos, o que, decerto, esperamos, dará mais espaço a
um conteúdo inédito que poderá de alguma maneira colaborar com outras
pesquisas nessa temática. O texto seguirá uma narrativa linear e, quando
possível, por motivos didáticos, faremos algum tipo de subdivisão.
9 – Tratamos amiúde deste tema em: AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. Contributo para
traçar o perfil do público leitor do Real Gabinete Português de Leitura: 1837-1847. Revis-
ta Ciência da Informação. Brasília, vol. 37, n. 2, pp. 20-31, maio/ago. 2008.
10 – GABINETE PORTUGUEZ DE LEITURA NO RIO DE JANEIRO [GPL]. Actas da
Sessão da Diretoria. 1837-1847 passim. Chamamos a atenção que estas Actas e as demais
que serão citadas aqui estão organizadas por décadas.
Emprego Valor %
Compra de livros no Rio de Janeiro 600$000 7,5
[Compra de livros] em Portugal e Europa 3,000$000 37,5
[Compra de livros] no Rio de Janeiro p. livros estrangeiros 300$000 3,75
[Compra de livros] na Europa [para livros estrangeiros] 1,700$000 21,25
Estantes 600$000 7,5
Mobília 400$000 5,0
Estatutos e impressão 240$000 3,0
Timbre, Apolise e Sello 220$000 2,75
Extraordinarios 100$000 1,25
Saldo que servira pª occorrer ás despezas ordinarias 840$000 10,5
Soma 8,000$000 100
24 – CARVALHO, Kátia de. Travessia das letras. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.
Estamos finalizando uma pesquisa, com orientação da profa. dra. Carmen Irene Oliveira,
que visa – dentre outros objetivos – identificar elementos da formação identitária do GPL,
tendo como método a Análise de Discurso de vertente francesa.
25 – GPL. Relatório apresentado à Assemblea da Sociedade [...]. Op. cit., pp. 6-7.
26 – A respeito deste livreiro, como fonte, este e outros artigos da mesma autora: BAS-
TOS, Lúcia Maria Bastos P. Trajetórias de livreiros no Rio de Janeiro: uma revisão histo-
riográfica. In: Encontro Regional de História, ANPUH-RJ. História e Biografias. Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro, 2002.
de junho de 1880. Esta escolha não foi aleatória. Desde 1875 o GPL já
fazia uma movimentação no sentido de tornar-se o principal organizador,
no Brasil, dos festejos para o centenário da morte de Luís de Camões, que
em Portugal previa-se também para aquela data. Acreditamos, inclusive,
não obstante o fato de não haver menção nas Actas, que tenha sido a par-
tir de 1880, a mudança do nome da Rua da Lampadosa para rua Luís de
Camões.
Assim, fica claro que as doações eram frequentes, sobretudo por par-
te dos acionistas, mas não há informações dos critérios a que elas estavam
condicionadas.
Não vamos fazer um mapeamento das doações, por fim, podemos ci-
tar a doação da valorosa obra Verdadera informaçam das terras do Preste
Joam das Indias, edição de 1540, pelo Comendador Manuel Salgado Ze-
nha, em 26 de julho de 187850.
Isso nos leva a pensar que houve um esforço por parte de alguns por-
tugueses de integrar a cultura de seu país à vida da nação brasileira. Do
ponto de vista histórico é possível entender que o GPL é expressão dos
laços culturais, linguísticos e civilizatórios que inexoravelmente ainda
uniam Portugal e Brasil no século XIX e também nos séculos vindouros,
por mais que naquele momento ainda houvesse resquícios de um sen-
timento antilusitano em parte da população carioca70. Antônio Cândido
Genealogia 4
Geographia, Corographia e Topographia 19
Grammaticas 11
Historia 296
Historia Natural 21
Hygiene 8
Ideologia 2
Legislação 34
Litteratura 312
Logica 1
Maçoneria 1
Mathematicas 24
Medicina 68
Metrologia 2
Mineralogia 2
Moral 34
Musica 2
Mythologia 5
Náutica 4
Nobiliarchia 1
Novellas 421
Numismatica 1
Ordem Militar 1
Orthographia 4
Pauperimos 2
Pharmacia 8
Philologia 8
Philosofia 20
Physica e Chimica 18
Physinomia 2
Poesia 181
Politica 109
Rhetorica e eloquencia 9
Stenographia 1
Tactica terrestre e naval 11
Theatro 61
Theologia e culto 98
Variedades 21
Viagens 67
Fonte: GPL. Catalogo dos livros do Gabinete Portuguez de Leitura no Rio de Janeiro
seguido de um supplemento das obras entradas no Gabinete depois de começada a impressão.
Rio de Janeiro: Typ. Americana de I. P. da Costa, 1844.
[...] constando que ao mesmo Snrº [Thomas José Pereira Lima] que al-
gumas obras novas ahi [Lisboa] tem sido publicadas quer em Historia,
Litteratura ou Theatro, elle [o bibliotecário] roga a Vsª se sirva com-
prar um exemplar logo que se annuaciar a venda ou pª assignatura73.
[...] seria absurdo empregar todos os annos huma avultada soma do ca-
pital da Sociedade na leitura accidental e momentânea de periódicos,
distrahindo assim dos objectos de leitura permanente e aniquilando,
em poucos anos a totalidade do mesmo capital80.
76 – GPL. Actas da Sessão da Diretoria. 1837-1847. 14 jun. 1837.
77 – GPL. Actas da Sessão da Diretoria. 1837-1847. 26 jul. 1837.
78 – GPL. Livro do copiador. 24 jul. 1840. Conjunto de cartas emitidas pelo GPL de
1837 a 1868. Esse documento foi de grande valia para a confirmação de alguns aspectos
referente às negociações com o mercado livreiro em Portugal, e ainda, revelou detalhes do
perfil dos acionistas da Instituição em seu papel de leitores.
79 – GPL. Actas da Sessão da Diretoria. 1837-1847. 6 jun. 1837.
80 – GPL. Relatório apresentado à Assemblea da Sociedade [...]. Op. cit., p. 9.
Essa atenção por parte dos membros do Gabinete pode ser justificada
também pela falta de espaço que dispunham para um acervo que crescia
progressivamente. Por essa época estava sediado na Rua São Pedro, nº
83. A citação ainda denota a hierarquização de competência, no momento
que o Diretor propõe que o bibliotecário, José de Almeida e Silva, pro-
ceda à visão da seleção.
Considerações finais
Como lugar de memória, como vetor de transmissão de saberes e
herança cultural, o GPL se perpetuou e, apesar de fugir do modelo dos
gabinetes franceses e até mesmo dos congêneres portugueses, foi um dos
poucos que restaram fieis à proposta inicial dos fundadores, sem que hou-
vesse um engessamento de ideias. Ficam as questões: será que isso teria
acontecido se fosse apenas criada uma associação de cunho político? Será
que o livro e a marca da biblioteca não contribuíram para o sucesso dessa
Instituição? Será que graças a esses dois elementos o GPL adquiriu um
poder muito maior que qualquer outra associação lusa (referimo-nos ao
período estudado)?
99 – JACOB, Christian. Prefácio. In: O poder das bibliotecas: a memória dos livros no
Ocidente. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2000, p. 9.
quais a República do Havaí foi anexada em 1898. Estudando fontes regionais, Sacunta-
la de Miranda não contempla essa hipótese, considerando que a emigração micaelense
termina no final do século XIX (MIRANDA: 1999, capítulo IV). O surto continental de
1911-12 parece ser novidade e marca em qualquer caso um pico, sendo daí em diante
este destino cada vez ainda menos escolhido, até desaparecer nos anos 1920. Aliás, entre
1890-1914, metade dos chegados reemigravam para a Califórnia, devido à queda dos
salários sob o efeito da vinda crescente de trabalhadores orientais. Sobre tudo isto ver:
DIAS: 1981; SILVA: 1996.
3 – O Século e O Mundo, dias 22, 23 e 24 de fevereiro de 1911; revista Brasil-Portugal,
1º de março de 1911.
4 – 1912: 88.929 emigração legal, 95.154 com emigração clandestina, segundo BAGA-
NHA: 1991, 723-739.
16 – CAMPOS: 1943 [1925]; REBELO: 1931, 45; PEREIRA: 2002, 84-85; PEREIRA:
1994 [1976], 212-215.
17 – PEREIRA: 1983, 261-264. O afluxo de remessas foi tão importante do ponto de vista
financeiro que o Estado português instituiu a Agencia Financial do Rio de Janeiro para
canalizar as transferências para Portugal, cuja designação exacta passou a ser Agência Fi-
nancial contra o Banco de Portugal como Caixa Geral do Tesouro Português, de 1895 até à
sua extinção em 1925. A Agência veio juntar-se ao já importante circuito bancário privado
que se constituíra essencialmente nos anos 1873-75 (ver PEREIRA: 1983, 257-260). Cál-
culo e análise das remessas, anuais e mensais, canalizadas pela Agência Financial entre
1891 e 1924, com base na centena de livros de registros de saques individuais e diários
da Agência, existentes no Arquivo Histórico do Banco de Portugal, em PEREIRA: 2002,
57-78.
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CAMPOS, Ezequiel de, 1943 [1925] – “Proposta de lei de organização rural” in
O enquadramento geo-económico da população portuguesa através dos séculos,
Lisboa, Editora Revista Ocidente, 2ª edição.
18 – Dados in BAGANHA: 1999, excelente síntese sobre a política do Estado Novo nesta
matéria. Mas a interpretação aqui apresentada é da minha responsabilidade, não coinci-
dindo inteiramente com a apresentada pela autora.
Edivaldo M. Boaventura 1
Resumo: Abstract:
A Companhia de Jesus foi três vezes expulsa de The Society of Jesus was expelled from Portu-
Portugal. A terceira vez resultou do anticlerica- gal three times. The third time was the result
lismo da República Portuguesa, instalada em of the general anticlericalism of the Portuguese
1910. Banidos de sua terra, os jesuítas foram Republic which was installed in 1910. When the
para Salvador da Bahia e fundaram o Colégio Jesuits were expelled from Portugal, they went
Antônio Vieira, em 15 de março de 1911. No to Salvador, in Bahia, where they founded the
ano de 2011, o Colégio comemorou o primeiro Antonio Vieira School on March 15, 1911. The
centenário. A trajetória dos cem anos consta do School celebrated its first centennial in 2011.
livro do centenário que narra vidas e histórias de The lives and stories of the members of the Je-
uma missão jesuíta. O artigo ocupa-se ainda do suit Mission are told in a book which was then
Colégio, na metade do século XX. published. This paper also discusses the role of
the School during half of the Twentieth Century.
Palavras-chave: Jesuítas, República Portugue- Keywords: Jesuits; Portuguese Republic in
sa em 1910, Colégio Antônio Vieira, educação 1910; Antonio Vieira School; confessional pri-
particular confessional. vate education.
1 –1Mestre e Ph.D. em Educação, pela The Pennsylvania State University, EUA; doutor,
docente livre e professor emérito da Universidade Federal da Bahia; titular da Cadeira
de Pedro Calmon, na Academia Portuguesa da História, sócio correspondente do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e emérito do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia (IGHB). E-mail: edivaldoboaventura@terra.com.br.
Por seu turno, Pedro Calmon (1995, p. 53) assim o descreveu: “O di-
retor – furiosamente atacado pelos anticlericais – chamava-se Luís Gon-
zaga Cabral, um dos homens mais ilustres, um dos caracteres mais nobres
de que podia orgulhar-se a Igreja de Portugal. Não fui seu aluno, mas
aderi aos antigos estudantes que iam ouvir-lhe a prédica, no seminário
tomista, o mais falado deles – Anísio Teixeira [...]” Calmon o relaciona
com a extinta monarquia portuguesa: “Lembro-me que uma vez visitei o
padre Cabral na sua cela, convalescia de longa doença. Na parede, sob a
cruz de Cristo, espalmava-se a bandeira azul e branca da monarquia libe-
ral. Outros que a renegassem, não o duro paladino da tradição lusitana.”
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2004, pp. 974-980.
Resumo: Abstract:
Este artigo tem dois objetivos: o primeiro con- This article has two goals: the first one is to
siste em apresentar um esboço de um tipo ideal present an outline of an ideal type of the cul-
do homem culto (Der gebildete Mensch) do sé- tured man (Der gebildete Mensch) in the Nine-
culo XIX, mais precisamente no contexto cultu- teenth Century, more precisely in the German
ral alemão. Para tal, defino o homem culto como cultural context. In that sense, I define the cul-
aquele capaz de pensar universalmente, agir de tured man as one who is able to think universal-
maneira autônoma e ser capaz de construir uma ly, to act autonomously and is capable of build-
imagem da continuidade. O artigo tem como se- ing an image of continuity. The second goal of
gundo objetivo refletir sobre a atualidade deste this article is to reflect on that model at present,
modelo, considerando que, apesar de todas as taking into consideration that, in spite of the fact
características acima já terem sofrido críticas that all of the above-mentioned characteristics
duras e até mesmo justas, os desafios que leva- have already suffered harsh, and even fair, criti-
ram à sua criação ainda permanecem. cisms, the challenges that led to their creation,
still persist.
Palavras-chave: Homem culto – Universalida- Keywords: Cultured man; universality; Auton-
de – Autonomia – Continuidade. omy; Continuity.
4 – Para uma história do conceito, ver: VIERHAUS, Rudolf. Bildung. In: BRUNNER,
Otto; CONZE, Werner; KOSELLECK, Reinhart (orgs.) Geschichtliche Grundbegriffe:
Historisches Lexikon zur politisch-sozialen Sprache in Deutschland. Band 1: A – D. Stutt-
gart: Ernst Klatt, 1974, pp.508-551.
5 – HEGEL, Georg W.H. Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichte. Band 1:
O mais grave, porém, não seria diagnosticado por Weber (cuja vi-
são ainda nos permite vislumbrar a possibilidade de uma lucidez heroica,
capaz de resistir às demandas de instrumentalização do conhecimento),
München; Wien: Carl Hanser Verlag, 1966, pp. 9-22. O texto de Schiller foi apresentado
originalmente como uma Antrittsvorlesung (aula magna) na Universidade de Jena, em 26
de maio de 1789.
23 – Cf. SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem. São Paulo: Iluminuras,
1990, p. 26.
24 – Basta ler a reação de Schiller aos excessos revolucionários na França, expressa em
carta ao Príncipe de Augustenburg, de 13/7/1793: “A tentativa do povo francês de esta-
belecer-se nos seus sagrados direitos humanos e conquistar uma liberdade política trouxe
a lume apenas a incapacidade e a indignidade do mesmo, e lançou de volta à barbárie e à
servidão não apenas este povo infeliz, mas, com ele, também uma considerável parte da
Europa, e um século inteiro". In: SCHILLER, Friedrich. Cultura estética e liberdade. Org.
Ricardo Barbosa. São Paulo: Hedra, 2009, p. 74. Antecipando, em certa medida, o que
Karl Marx dirá em sua Crítica à filosofia do direito de Hegel, Schiller afirma na mesma
carta que também é necessário “(...) começar a criar cidadãos para a constituição antes de
poder se dar uma constituição aos cidadãos”. In: idem, p.78.
25 – HEGEL, Georg W.H. Vorlesungen über die Philosophie der Weltgeschichte. Band 1:
Die Vernunft in der Geschichte. Hamburg: Meiner, 1994, p.115.
26 – KOSELLECK, Reinhart. Einleitung – Zur anthropologischen und semantischen
Struktur der Bildung. In: ______. (org.) Bildungsbürgertum im 19. Jahrhundert. Teil II:
Bildungsgüter und Bildungswissen. Stuttgart: Klett-Cotta, 1990, p. 20.
27 – O romance de formação mostra as tentativas nem sempre bem-sucedidas de harmo-
nização e sintonia entre indivíduo e sociedade. Cf. MORETTI, Franco. The way of the
world: The Bildungsroman in European culture. London: Verso, 1987; JACOBS, Jür-
gen. Wilhelm Meister und seine Brüder: Untersuchungen zum deutschen Bildungsroman.
München: Wilhelm Fink, 1972, cap. I; MAAS, Wilma Patrícia. O cânone mínimo: O Bil-
dungsroman na história da literatura. São Paulo: Editora Unesp, 2000, cap.1.
41 – Cf. WHITE, Hayden. The Value of Narrativity in the Representation of Reality. In:
______. The Content of the Form: Narrative discourse and historical representation. Bal-
timore; London: The Johns Hopkins University Press, 1987, p. 21.
42 – NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos. São Paulo: Companhia das Letras,
2006, p. 60.
Conclusão
Para concluir, farei duas ressalvas ao que acabo de dizer: em primei-
ro lugar, minha intenção não era restaurar o ideal da Bildung tal como
ele foi vivido e pensado na Alemanha desde fins do século XVIII até
fins do XIX, começando em Goethe e Schiller e velado por Burckhardt e
Nietzsche. Estudos – como o de Fritz Ringer44 – já lhe apontaram limites
sociais e políticos a não serem menosprezados. Sei que, além de apontar
as dificuldades objetivas em tratar do assunto, deveria ter assumido, logo
no início, o risco subjetivo de idealizar, cristalizar, ou, para usar um termo
nietzschiano, monumentalizar o conceito de Bildung e prantear como car-
pideira sua inatualidade. Reconheço suas origens sociais e, neste sentido,
históricas e datadas. Para ficar em um exemplo: a ideia de universidade
de Schiller, demasiadamente inatual e até cruel para uma sociedade de
massas como a nossa, é impraticável. Mas o meu propósito foi apenas o
de identificar estas críticas e demonstrar que tais traços não envelheceram
ou desbotaram de todo; restaurá-los me pareceria uma maquiagem mór-
bida. Talvez fosse necessário desenhá-los novamente, e ver, sobretudo,
que a barbárie da especialização (manifesta na universalização da própria
experiência), o absolutismo da utilidade e a pressa em julgar ainda estão
presentes, e que o pluralismo metodológico, a resistência à instrumentali-
zação e a busca de explicações complexas ainda são, a meu ver, caminhos
possíveis de serem trilhados. Não são fáceis.
isso, sujeita a ser uma mera fórmula. Mas talvez seja necessário apon-
tar alguns pontos de partida – que jamais prescindiram da documentação
– para encontrar motivação para perceber que, sim, a aposta na cultura
ainda é algo válido e digno de engajamento, bastando, para tal, perceber
o quanto o utilitarismo, a pressa e a universalização de experiências par-
ticulares são ameaças exteriores e, muitas vezes, interiores.
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HUMBOLDT, Wilhelm von. Sobre a organização interna e externa das
instituições científicas superiores em Berlim. In: KRETSCHMER, Johannes;
Resumo: Abstract:
Este artigo tem como objetivo discutir novas hi- The purpose of this article is to discuss new hy-
póteses sobre a trajetória de D. Pedro II, a partir potheses on the trajectory of Emperor D. Pedro
de sua relação com o campo científico. O traba- II, based on his relations with the scientific area.
lho tem como fontes os documentos do Arquivo The sources for this work were documents from
da Casa Imperial do Brasil – a documentação the Archives of the Brazilian Imperial House –
privada do imperador – custodiados pelo Museu the Emperor’s private documents – under the
Imperial, com destaque para os 44 diários e a custody of the Imperial Museum. We focused
correspondência com intelectuais como Fran- on the 44 diaries and his correspondence with
cisco Adolpho de Varnhagen, Antonio Gonçal- intellectuals such as Francisco Adolpho de
ves Dias, Alexandre Herculano e Jean Louis Varnhagen, Antonio Gonçalves Dias, Alexandre
Armand de Quatrefages de Bréau. Esses docu- Herculano and Jean Louis Armand de Quatre-
mentos são fontes privilegiadas para a reflexão fages de Bréau. These documents are privileged
sobre questões mais amplas inerentes ao perío- sources for the reflection on larger issues inher-
do monárquico brasileiro, entre elas a constru- ent to the period of the Brazilian monarchy;
ção da identidade nacional, e para a busca nos among others, the building of a national iden-
relatos deixados pelo imperador de aspectos tity. They are also sources for the search in the
reveladores em relação à problemática teórica reports left by the Emperor of revealing aspects
fundamental: a dialética entre agente social e relating to a vital theoretical problem: the dia-
estrutura social. A luta pela hegemonia do dis- lectics between social agent and social struc-
curso no campo científico, a partir de uma nova ture. The struggle for the supremacy of debates
ciência – a Antropologia –, mostra-se como on the scientific area, including a new science
um fio condutor interessante para se repensar a – anthropology – appears to be an interesting
trajetória de D. Pedro II em sua passagem do lead to help rethink D. Pedro II’s trajectory dur-
ethos aristocrático ao ethos burguês. A pesqui- ing his transition from the aristocratic ethos to
sa permite afirmar que D. Pedro II participou the bourgeois ethos. The research allows us to
efetivamente destes debates, não apenas como reaffirm that D.Pedro II actually participated in
diletante, mecenas ou rei ilustrado, mas de uma the debates, not just as a dilettante, a sponsor or
maneira incisiva que aproximaria o seu modo de a cultured king, but rather in a decisive manner
pensar, sobretudo a partir da década de 1870, ao that would bring his way of thinking, especially
repertório de ideais da geração de intelectuais as from the 1870’s, closer to the catalogue of
de 1870, o que se apresenta como uma nova ideas from the generation of the 1870 intellec-
perspectiva para a compreensão da paradoxal e tuals; this appears to be a new perspective to
complexa trajetória do imperador. help understand the Emperor’s paradoxical and
complex trajectory.
Palavras-chave: D. Pedro II; Trajetória; Antro- Keywords: D. Pedro II; Trajectory; Anthropo-
pologia. logy.
1. Introdução
A História nacional deve ser a imagem da verdade histórica apresen-
tada da forma que, segundo a consciência do historiador, interessa e
convém à nação. Francisco Adolpho de Varnhagen
por maior que possa ser a tentação de querer reduzir o papel que um
homem só possa exercer no curso da história, força é confessar que os
poderes que enfeixava o imperador, e ninguém mais os teve no mesmo
grau entre nós, não deixam silenciá-lo ou subestimá-lo. (HOLANDA,
2010:141)
4 – Gilberto Freyre. D. Pedro II, imperador cinzento de uma terra de sol tropical. Con-
ferência lida na Biblioteca do Estado de Pernambuco, em 1925. Publicada em Perfil de
Euclides e outros perfis.
4. D. Pedro II e a Antropologia
É importante salientar que no Brasil, no início da década de 1850, o
campo historiográfico abarcava os debates etnográficos. No IHGB, a Ses-
são de Arqueologia e Etnografia Indígena teve sua criação aprovada em
1847, mas somente foi oficializada em 1851. No Museu Nacional, o setor
de arqueologia e etnografia só viria a ser oficializado a partir da reforma
conduzida pelo então diretor Ladislau Netto, em 1876.
e morais e a língua, as crenças e a moral comum].” Histoire des progrès des études an-
thropologiques depuis la fondation de la Société : compte rendu décennal (1859-1869), lu
dans la séance solennelle du 8 juillet 1869. 1870. p. 23. Disponível em: http://gallica.bnf.
fr/
15 – Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geo-
graphico Brasileiro. Tomo XIII. 1850. Segunda Edição. Rio de Janeiro: Typographia de
João Ignacio da Silva. 1872. p. 128. Disponível em: http://www.ihgb.org.br/rihgb.
21 – Ver Documento do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. I-POB – Maço 187 – Doc.
8508. Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC
22 – Ver Documento do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. I-POB – Maço 198 – Doc.
9000. Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC
alguma coisa sobre Gaspar Corte Real que viu a Groenlândia antes
de Colombo ter descoberto a América. Trouxe publicações que lá me
deram.
5. Conclusão
24 – Ver Documentos do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. I-POB – Maço 163 – Doc.
7558; II-POB – Maço 166 – Doc. 7630; II-POB – Maço 169 – Doc. 7756; II-POB – Maço
175 – Doc. 7953; II-POB – Maço 183 – Doc. 8340; I-POB – Maço 193 – Doc. 8801; I-
-POB – Maço 195 – Doc. 8865; I-POB – Maço 200 – Doc. 9127; II-POB – Maço 200
– Doc. 9127; I-POB – Maço 202 – Doc. 9175; I-POB – Maço 203 – Doc. 9252. Acervo
Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC.
não foi apenas um mecenas, curioso ou diletante amigo das ciências; se-
gundo, que D. Pedro II não fez deliberadamente uso de imagens construí-
das para associá-lo à civilização e ao progresso; terceiro, que a ligação de
D. Pedro II com a Antropologia é reveladora de uma mudança na estrutu-
ra social – a passagem à modernidade – e que este processo estrutural é,
na verdade, o motor das ações do sujeito social.
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Resumo: Abstract:
Esse trabalho visa descrever dois processos re- This paper aims at describing two processes re-
lacionados ao desenvolvimento, apogeu e declí- lating to the development, climax and decline of
nio do transporte ferroviário no Brasil e, em um railway transportation in Brazil and, at a sec-
novo momento, um outro processo, o de retoma- ond moment, another process which will discuss
da desse modal de transporte na atualidade. Os the current recuperation of that transportation
sistemas de transportes são determinantes para system. Transportation systems are essential for
o desenvolvimento econômico e social das regi- the economic and social development of adja-
ões adjacentes, isto é, na medida em que esses cent regions, i.e., when those systems are imple-
sistemas são implementados configura-se um mented, they facilitate the transport of the re-
direcionamento das atividades produtivas e, em sult of productive activities and, concomitantly,
concomitância, um progresso relativo. À medi- bring relative progress. As the railways began to
da que as ferrovias foram perdendo sua supre- lose their supremacy, the process inverted, caus-
macia, o processo se inverteu, causando a estag- ing their stagnation and the decline of economic
nação dessas e um refreamento das atividades activities of the communities along the rails.
econômicas das localidades que as margeavam; This was notorious in at least one case: that of
ao menos no caso da São Paulo Railway isso foi the São Paulo Railway. The Vitória-Minas Rail-
notório. A Estrada de Ferro Vitória–Minas teve way had a different trajectory. This is why the
trajetória diferenciada. Por isso, a descrição de description of two similar realities with diverse
duas realidades próximas, mas com caracterís- characteristics may be a way to understand the
ticas particulares, pode ser um caminho para a present circumstances of railway transportation
compreensão do atual momento do modal ferro- in Brazil. The research methodology will in-
viário de transporte no Brasil. Além da pesquisa clude not only academic bibliography, but also
bibliográfica acadêmica, são utilizadas obras literature, technical data, technical reports and
literárias, dados, relatos de técnicos e documen- documents originating from visits to the head-
tos resultantes de visitas efetuadas às sedes des- quarters of those railways.
sas ferrovias.
Palavras-chave: História do transporte ferrovi- Keywords: History of railway transportation;
ário, desenvolvimento urbano e regional, inter- urban and regional development; intermodal
modalidade de transportes transportation.
Introdução
Existe toda uma concepção geopolítica que envolve os processos re-
lativos à escolha, elaboração e manutenção de um modal de transportes.
O caso ferroviário não foge a essa regra. No entanto muitas das decisões
e das experiências de construção das ferrovias foram pautadas por inte-
resses particulares, mesmo que a partir de uma visão geopolítica ampla.
Histórica, econômica e politicamente essas questões resvalam diferentes
interesses relativos a lobbies políticos, ao capital, estrangeiro e nacional,
suas necessidades e, por fim, à capacidade dos diversos grupos em ver
contempladas suas demandas. Na mesma controvérsia estão envolvidos
o aproveitamento dos recursos naturais e questões relativas à tecnologia
dos transportes. O que foi um exemplo da capacidade construtiva e de
engenho humano, agora é paradigma da estagnação do transporte ferro-
viário e seu entorno, exemplificado em localidades como Paranapiacaba,
em São Paulo, sua involução econômica e quase aniquilamento enquanto
assentamento urbano. Noutra ponta, a mineração e siderurgia nas Minas
Gerais só fez aumentar e desenvolver a ferrovia que margeia os caminhos
desenhados pelos rios Doce e Piracicaba desembocando no litoral do Es-
pírito Santo. O desenvolvimento gerado apoiado exclusivamente no pro-
duto minério trouxe crescimento Econômico para o polo gerador e para
o porto, ainda que possa se questionar o tipo de desenvolvimento gerado.
tes deve ser uma decisão social, com participação de todos interessados,
e não uma decisão tomada por um ou poucos setores da sociedade. Nesse
sentido o papel do Estado é determinante, ou seja, a questão dos transpor-
tes deve ser tratada como uma questão de política pública e não apenas
como uma política de investimento financeiro.
3 – Ver a obra de Caldeira (1995) que narra essa aventura empreendedora. O caso aqui
em questão não é tratar de figuras isoladas, das biografias e dos personagens históricos
que constituíram esse processo. O escopo se foca no desenvolvimento das ferrovias e dos
caminhos de aço remanescentes desse processo.
4 – É imperioso informar que esse sistema foi também utilizado na EFVM entre Itabira e
Vitória, e o sentido disso reforça o modelo afirmado por Minami. Cabe ressaltar que cada
cidade e empresa manteve suas próprias características. Interessantemente a Ferrovia Vi-
tória–Minas tem como característica básica a mesma estrutura da single-enterprise citada
pelo professor da FAU-USP. A companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale, e as cidades de
onde extrai seu principal artigo são assistidas por ferrovias ou delas são próximas, como
caso de Carajás, Itabira, Mariana e São Gonçalo. A atividade mineradora norteia ou tem
sido o carro-chefe das atividades das cidades, apesar destas não serem construídas pela
impresa mineradora, tiveram inexoravelmente sua administração e desenvolvimento.
5 – Como outro exemplo diferente das cidades ou vilas ferroviárias, Fordlândia no Pará,
cidade que Henri Ford erigiu no Norte do Brasil no início do século XX. Trataremos do
exemplo da Vitória–Minas mais adiante.
6 – Ver Michel Foucault, Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis,Vozes,1987.
Ver também do mesmo autor Microfísica do poder, Rio de Janeiro, Graal, 1979, pp. 209-
229.
dré e tem sido fonte de trabalhos e discussões entre o Estado e o terceiro setor no sentido
de se aproveitar todas essas vocações e potenciais citados por Minami (1999).
um setor que nos anos 1970 chegou a produzir em média três mil vagões
por ano, e que, nos anos 1990, passou a fabricar menos de 200 unidades
(BARAT, 2007).
Conclusões
A história da SPR e de Paranapiacaba remete aos riscos e perdas de
uma desestruturação ferroviária. Na SPR a salvação do seu sucateamen-
to se deu pela utilização de parte da malha pelos trens metropolitanos
e da privatização do restante pela MRS, que escoa cargas por antigos
caminhos. Trechos da Vitória–Minas, mormente que ligam Itabira à ca-
pital do Espírito Santo, ou seja, exatamente aqueles que garantem econo-
micamente a existência desse caminho de ferro podem sofrer o mesmo
processo de degradação com a diminuição e a competição com outros
locais que oferecem um minério de melhor qualidade e/ou melhor custo-
-benefício no futuro próximo. Como as vias são privatizadas, a decisão
a seu respeito também será, sendo assim, se não for viável economica-
mente tal via será desativada. Sem a carga ou a produção não se justifica
o aparato logístico. O que então aqui se delineia é que é necessário en-
tender os sistemas de transportes como meios que podem ser geradores
de desenvolvimento, seu aproveitamento então poderá ser feito através
de redirecionamentos dos usos. Para tanto é necessário, primeiramente,
participação social deliberativa e posteriormente a construção de um pla-
Referências Bibliográficas
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Belo Horizonte: Argentum, 2009.
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Resumo: Abstract:
Eleito ao final de 1909 o Conselho Municipal Elected at the end of 1909, the Municipal Coun-
(Câmara Municipal) do Distrito Federal, à épo- cil (City Hall) of Rio de Janeiro, then based in
ca sediado na cidade do Rio do Janeiro, não the city of Rio de Janeiro, did not have its legiti-
teve a sua legitimidade reconhecida pelo poder macy acknowledged by the Federal Government
executivo federal e também pelo prefeito. Os in- nor by the Mayor. Administrative officers then
tendentes recorreram ao Supremo Tribunal Fe- resorted to the Supreme Court, who gave them
deral, que lhes garantiu cobertura jurídica para full legal coverage to implement the mandate.
a execução do mandato. Esta proteção legal foi This legal protection was denied by the Federal
negada pelos poderes Executivo Municipal e and Municipal Executive Powers as well as by
Federal e pelo Poder Legislativo, caracterizan- the Legislative Power, thus establishing both
do uma ruptura institucional e constitucional na an institutional and constitutional rupture in
história da Primeira República. São apresenta- the history of the First Republic. Official docu-
dos fatos, registrados em documentos oficiais e ments and printed materials of that period reg-
publicações da época. istered facts that will be discussed in this article.
Palavras-chave: Ruptura institucional; estado Keywords: Institutional rupture; Constitutional
democrático de direito; constituição; conflito democracy; Constitution; Conflict amidst Re-
entre poderes da Republica. publican powers.
9 – LUCCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In Fontes histó-
ricas. PINSKY, Carla Bassanezi (organizadora). 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2011.
10 – REMOND, René. Uma história presente, pp. 21 e 22. In Por uma história política.
REMOND, René (direção de). Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2003.
A eleição do Conselho
Em 31 de outubro de 1909 foram realizadas eleições para 16 inten-
dentes (vereadores) do Distrito Federal, para o triênio 1909/1912, então
dividido em dois distritos.
da collaboração do Conselho Muncipal, que ora não existe, por não ter
se constituído na forma de direito15.
anexo/RHC2793.pdf
20 – CAMARA, Annaes, 1911, vol. II, sessão de 1º de junho, p. 95. Disponível em: http://
imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=1/6/1911
21 – BARBOSA, Ruy. Trabalhos Jurídicos. Obras Completas de Ruy Barbosa. Rio de
Janeiro: Fundação Casa de Ruy Barbosa, 1993, vol. XXXVI, tomo III, p. 130. Disponível
em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/rbonline/obrasCompletas.htm
[...]
Acordam conceder a ordem impetrada para que aos pacientes seja per-
mitido o ingresso no edifício do Conselho Municipal para exercerem
sem detença, estorvo ou dano, os direitos decorrentes dos seus diplo-
mas, continuando no processo de verificação de poderes, expedindo-
-se para esse fim os respectivos salvo-condutos.
A posse do Conselho
Em 25 de dezembro de 1909, em sessão solene do Conselho Municipal,
foram empossados, pelo Conselho anterior, os intendentes reconhecidos.
Dos intendentes eleitos pelo segundo distrito tomou posse apenas Enéas de
Sá Freire, deixando de fazê-lo José Clarimundo Nobre de Mello, Honório
dos Santos Pimentel, Antonio Rodrigues de Campos Sobrinho e Francisco
Pinto da Fonseca Telles. 31
33 – SENADO, Annaes, 1911, vol. II, sessão de 1º de junho, pp. 8-9. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/PQ_Edita.asp?Periodo=1&Ano=1911&
Livro=2&Tipo=9&PagMin=1&PagMax=486&Pagina=8
34 – CÂMARA, Annaes, 1911,vol. II, sessão de 1º de junho, p. 28. Disponível em: http://
imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=1/6/1911
35 - SENADO, Annaes, 1911, vol. II, sessão de 1º de junho, p. 3. Disponível em: http://
www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/PQ_Edita.asp?Periodo=1&Ano=1911&Livro
=2&Tipo=9&PagMin=1&PagMax=486&Pagina=3
36 – DOU, 1910, 15 de maio, p. 3340. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/dia-
rios/1676716/dou-secao-1-15-05-1910-pg-14/pdfView#xml=http://www.jusbrasil.com.
br/highlight/1676716/
37 – Os julgamentos destes habeas corpus são considerados históricos nos Anais do Su-
premo Tribunal Federal, pelo fato do plenário desta corte ter aceitado a interpretação
ampla, liberal, da aplicação do instrumento do habeas corpus, posição, que na ausência
dos modernos instrumentos jurídicos, como os mandatos de segurança e de injunção, era
defendida por Ruy Barbosa.
40 – SENADO, Annaes, 1911, vol. II, sessão de 1º de junho, p. 3. Disponível em: http://
www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/PQ_Edita.asp?Periodo=1&Ano=1911&Livro
=2&Tipo=9&PagMin=1&PagMax=486&Pagina=3
41 – D O U 1910, 13 de fevereiro, p. 1182. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.
br/diarios/1636303/dou-secao-1-13-02-1910-pg-14/pdfView#xml=http://www.jusbrasil.
com.br/highlight/1636303/
42 – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Eleição
Presidencial de 1910. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
29092003estatisticasecxxhtml.shtm
43 – CAMARA, Annaes, 1911, vol. II, sessão de 1º de junho, p. 28. Disponível em: http://
imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=1/6/1911
44 – FON-FON, p. 14. Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em: http://objdigital.
bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1909/fonfon_1909_051.pdf
45 – Lei nº 1.269, de 15 de novembro de 1904. Lei Rosa e Silva. Disponível em: http://
www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1900-1909/lei-1269-15-novembro-1904-584304-nor-
ma-pl.html
A Substituição do Conselho
Nos Anais do Senado de 1911 registram-se vetos do prefeito Bento
Ribeiro46 às resoluções do Conselho Municipal, assinadas em 30 de no-
vembro e 9 de dezembro de 1911, por Gabriel Ozório de Almeida, pre-
sidente, José Clarimundo Nobre de Mello47, primeiro-secretário e Alme-
rindo Thomas Malcher de Bacellar, segundo-secretrário. Isto constata o
afastamento do Conselho Municipal secretariado por Júlio do Carmo, que
teria mandato expirando em 15 de novembro de 1912.48
Ao final:
Ao seu final:
53 – CÂMARA, Annaes, 1911, sessão de 4 de maio de 1911, pp. 77-91. Disponível em:
http://imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=4/5/1911
54 – DOU, 1911, 2 de abril, p. 3.814. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/dia-
rios/1754800/dou-secao-1-02-04-1911-pg-54/pdfView#xml=http://www.jusbrasil.com.
br/highlight/1754800/
AUGUSTO DE VASCONCELLOS
66 – FON-FON, 1907, p. 32. Acervo Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em: http://
objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1907/fonfon_1907_003.pdf.
67 – FERROLHO. Careta nº 156. Rio de Janeiro, 27 de maio de 1911, p. 14. Fundação
Biblioteca Nacional. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodi-
cos/careta/careta_1911/careta_1911_156.pdf
á sua facção política todos os intendentes eleitos.” Fundação Biblioteca Nacional. Dis-
ponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1909/
fonfon_1909_049.pdf
75 – CARETA, p. 24. Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em: http://objdigital.
bn.br/acervo_digital/div_periodicos/careta/careta_1910/careta_1910_087.pdf
76 – A coluna “Enquanto a Politica Esfrega um Olho”, da revista Fon-Fon de 20 de no-
vembro de 1909, p. 22, em referência à apuração dos votos da eleição para o Conselho
Municipal registra: ”[...] Ora vejam vocês, dizia Arthur Marques de lápis e block em
punho, fazendo a reportagem da Junta para a Gazeta, estão aqui os Pretores apurando
votos e lá fora a policia a apurar os votantes.[...]”. Fundação Biblioteca Nacional. Dis-
ponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1909/
fonfon_1909_047.pdf
O Conselho afastado
A documentação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janei-
ro, que apresenta o Inventário Analítico dos membros do Conselho Munici-
pal do antigo Distrito Federal77, indica o mandato que deveria ser de 1907 a
1909, como sendo um mandato de 1907 a 1910. Deste modo, ao prorrogar
ficticiamente o mandato de intendentes que cumpriram o seu período legis-
lativo somente até 1909, comete um erro.
Conclusão
A omissão do Conselho Municipal de 1910 nas informações oficiais
e a forma sucinta com que reportam a sua história, muitas vezes assumin-
do a sua discutível ilegalidade, reforçam a história oficial ou dos vence-
dores.
A síntese destes acontecimentos, que envolveram decisões judiciais,
já conduziu a interpretações do comportamento dos juízes do Supremo
Tribunal Federal, no período, tratando as decisões como de natureza polí-
tica ou pessoal não analisando, entretanto, a possível natureza hermenêu-
tica das sentenças.
O Poder Judiciário todas as vezes que foi instado a manifestar-se de-
clarou-se pela legalidade do Conselho, quer diretamente, quer em apoio
individual a seus intendentes.
O controle do alistamento de eleitores e das mesas eleitorais que
participariam da eleição presidencial de 1º de março de 1910, no Distrito
Federal, envolvendo o senador Rui Barbosa e o marechal Hermes da Fon-
seca, bem como da eleição para o Congresso Nacional, em 30 de janeiro
de 1912, seriam o principal motivador da crise.
Decorridos cem anos dos acontecimentos no Conselho Municipal
do Distrito Federal de 1910, a neutralidade gerada pelo tempo possibilita
outros ângulos de visualização deste fato histórico. Sua melhor compre-
81 – BOLETIM DA PREFEITURA DO DISTRITO FEDERAL. Districto Federal (Rio de
Janeiro): Prefeitura Municipal, 1919, p. 181. Disponível em: http://books.google.com.br/
books?ei=jFSzTZ7ULObg0QHr96T9Cw&ct=result&id=t98kAQAAIAAJ&dq=Artigo+
%C3%BAnico.+Fica+aberto+o+cr%C3%A9dito+extraordin%C3%A1rio+de+5%3A326
%24000&q=Julio+do+Carmo
Resumo: Abstract:
O autor estuda os naturalistas sócios do Insti- The author of this article studies the naturalists
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), members of the Brazilian Institute of History
fundado em 1838. Este trabalho trata de Maxi- and Geography Instituto Histórico e Geograf-
miliam Alexander Phillip von Wied-Neuwied ico Brasileiro – IHGB), founded in 1838. The
(1782-1867), importante ornitologista alemão article discusses Maximilian Alexander Philip
durante o século XIX. von Wied – Neuwied (1782-1867), important
German ornithologist during the Nineteenth
Century.
Palavras-chave: IHGB, sócios, naturalistas, Keywords: IHGB; Membersxhip; Naturalists:
Maximiliam Alexander Phillip von Wied – Neu- Maximilian Alexander Philip von Wied-Neu-
wied (1782 – 1867). wied (1782-1867)
Viagem ao Brasil
Juntamente com aqueles dois naturalistas-viajantes, o príncipe dei-
xou a cidade do Rio de Janeiro em 4 de agosto de 1815, explorando a
mata costeira do norte do Rio de Janeiro, Espírito Santo e sul da Bahia.
Nesta altura, já estava sem a companhia de Sellow e Freyreiss, que fica-
ram em Vitória (ES).
Resultados da viagem
Os resultados da viagem de Wied-Neuwied ao Brasil se comportam
em três agrupamentos: botânica, zoologia e etnografia. O segundo é o de
maior importância, por ser ele um conhecido ornitologista.
Agradecimentos
– Sinceros e profundos agradecimentos são devidos a Hitoshi No-
mura e Maria Delcina Feitosa, pelas ajudas recebidas na busca de biblio-
grafia.
Bibliografia consultada
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biobibliográfico. Bol. Mus. Nac., Rio de Janeiro, VII (3) : 187-210, [2] ests.
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Mun., São Paulo, 74 : 283-291.
Resumo: Abstract:
O artigo analisa os discursos proferidos duran- This article analyzes the lectures given during
te o Curso Capistrano de Abreu, realizado no the Course on Capistrano de Abreu held at the
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em Brazilian Institute of History and Geography
1953, em homenagem ao I Centenário de Nasci- in 1953, in celebration of the first birth cen-
mento do Historiador João Capistrano de Abreu tennial of historian João Capistrano de Abreu
(1853-1927). O objetivo é compreender as ima- (1853-1927). The objective of this article is to
gens e representações do homenageado então understand the images and representations of
produzidas, que o consagraram como intelectual the celebrated historian which appeared at the
símbolo da cultura brasileira ao estabelecer seu time consecrating his legacy as the intellectual
legado. symbol of Brazilian culture.
Palavras-chave: Capistrano de Abreu; IHGB; Keywords: Capistrano de Abreu; IHGB; Ccom-
comemoração; legado intelectual; cultura bra- memoration: Intellectual Legacy; Brazilian
sileira. Culture.
mento de seu patrono, o que acabou não se concretizando inteiramente. Restou um discur-
so de Jayme Coelho, pronunciado na SCA em 23/10/1953 e incluído na Revista do IHGB.
Ver COELHO, 1953. Há breve menção dos planos da Sociedade em MONTEIRO, 1953.
A Biblioteca Nacional organizou uma exposição sobre o historiador, inaugurada no dia 22
de outubro de 1953 e a Sociedade de Estudos Históricos patrocinou uma conferência na
Universidade de São Paulo, em 24 de novembro de 1953. Ver ZEMELLA 1954. Outros
textos produzidos em função do I Centenário são: MENEZES, 1953; TAUNAY, 1953;
REBELLO, 1953. GOMES, 1953. LOBO, 1953; BARRETO, 1953.
7 – Ver “Curso Joaquim Nabuco”. Revista do IHGB, vol. 260, jul.-set., 1949, pp. 107-
334; “Curso Rui Barbosa”. Revista do IHGB, vol. 205, out.-dez., 1949, pp. 3-159.
8 – Ver seção “Arte, Ciência & Cultura” do jornal O Globo, dos dias 2, 8 e 19 de setem-
bro e 6, 12, 19, 21, 22 e 23 de outubro de 1953.
9 – OTÁVIO FILHO, 1953, p. 46. Entre frequentadores do Curso Capistrano de Abreu
estavam o general Cândido Rondon, Tasso Fragoso, Tobias Monteiro e Assis Chateau-
briand.
10 – ABREU, Capistrano. “Uma grande ideia”. In: _____. Ensaios e estudos. 4a série. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1976, p. 90. Originalmente publicado na
Gazeta de Notícias, em 17/4/1880.
11 – Ver carta de Capistrano de Abreu ao conde Afonso Celso, 8/10/1917. Revista do
IHGB, t. 8, vol. 132, 1917, pp. 790-791.
12 – Nota biobibliográfica anexada à carta de Capistrano de Abreu a Guilherme Studart,
de 18/8/1901, vol. 1, p. 152. É interessante notar que, ao longo de quarenta anos, Capis-
trano publicou apenas dois artigos na Revista do IHGB.
13 – Ver conferências publicadas na Revista do IHGB, vol. 221, outubro-dezembro, 1953.
Todos os textos citados a seguir foram publicados neste mesmo volume. Por conta disso,
a referência incluirá apenas o nome do autor, o título do artigo e a página.
Roupa escura e usada, roupa branca serzida, mas ambas muito limpas.
Gravata preta ao deus dará. As mangas do casaco meio curtas. Bol-
sos enchumaçados de papéis. Andar ligeiro e um tanto pendido para
diante. Estatura regular. Tronco robusto. Cabeça chata de cearense.
Rosto largo, de maças salientes e olhos miúdos, quase fechados à luz.
Os cabelos grisalhos e esgrouviados. Bigode e barba sem trato. Boca
larga e franca. Gestos rápidos, ligeiramente trêmulos.16
Alguém cuja recusa das convenções sociais estaria de acordo com o papel
de um intelectual renovador dos estudos sobre o Brasil.19
19 – Regina Abreu observa como o material iconográfico pode ser utilizado na construção
da memória sobre um dado indivíduo, de modo a cristalizar uma imagem visual a ser
aceita coletivamente. Ver ABREU, 1994, pp. 5-6 (versão digital).
que sua glória foi construída ainda em vida e não após a morte. Como
pode ser lido na epígrafe que abre esse capítulo, “não precisou Capistrano
que os anos passassem para que fosse louvado e glorificado. Grande em
vida continuou grande depois de morto”.20
27 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. A longa viagem da biblioteca dos reis. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2002.
28 – Restaram poucos registros sobre essa exposição. Ver anúncio da inauguração em O
Globo, 23/10/1953, capa e p. 9. Entre as personalidades que compareceram ao evento,
estavam: José Linhares, Jaguaribe Matos e Gilson Amado.
(...) a História foi tudo para ele, trabalho e divertimento, cadeia e eva-
são, tormento e consolo, preocupação e alegria. Ela é que lhe encheu
os dias de isolamento e viuvez; que lhe escolheu os amigos, que lhe
ditou as cartas mais íntimas. Ela ainda, a benfeitora tranqüila, que
guardou o seu nome para a posteridade e nos foi buscar, a todos nós,
em nossas casas, para esta homenagem à sua memória.34
lio Goeldi, Clima do Pará. Também contribuiu com artigos próprios, como A Geografia
do Brasil, onde fez um sumário dos estudos geográficos produzidos por “pré-geógrafos,
“geógrafos de gabinete” e “geógrafos de campo”.
43 – RODRIGUES, 1953, p. 121.
44 – Idem ibidem, pp. 124, 126-127.
Bibliografia
ABREU, Capistrano. “Uma grande ideia”. In: _____. Ensaios e estudos. 4a série.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1976, p. 90. Originalmente
publicado na Gazeta de Notícias, em 17/4/1880.
_____. Carta ao conde Afonso Celso, 8/10/1917, R. IHGB, Rio de Janeiro, t. 8,
vol. 132, 1917, pp. 790-791.
ABREU, Regina. “Entre a nação e a alma”, Estudos históricos, Rio de Janeiro,
vol. 7, n. 14, pp. 205-230.
AMARAL, Eduardo Lúcio Guilherme. Correspondência cordial. Fortaleza:
Museu do Ceará, 2003.
BARRETO, Adahil. Discurso na Câmara dos Deputados. R. IHGB, Rio de
Janeiro, vol. 221, out.-dez., 1953, pp. 239-245.
BARROSO, Gustavo. “Capistrano de Abreu e a interpretação do Brasil”, R.
IHGB, Rio de Janeiro, vol. 221, out./dez., 1953, pp. 92-101.
BUARQUE, Virgínia Albuquerque. Escrita singular: Capistrano de Abreu e
Madre Maria José de Jesus. Fortaleza: Museu do Ceará, 2003.
COELHO, Jayme. “Capistrano de Abreu”, R. IHGB, Rio de Janeiro, vol. 221,
out.-dez., 1953, pp. 214-216.
GOMES, Onofre. Discurso pronunciado no Senado Federal, R. IHGB, Rio de
Janeiro, vol. 221, out.-dez., 1953, pp. 217-233.
LEÃO, Múcio. “Capistrano de Abreu e a cultura nacional”, R. IHGB, Rio de
Janeiro, vol. 221, out./dez., 1953, pp. 102-119.
Resumo: Abstract:
A comunicação texto presta tributo à memoria The contribution pays tribute to the memory of
do socio Elysio Custódio Gonçalves de Oliveira Elysio Belchior Gonçalves de Oliveira Belchior,
Belchior, falecido em 14 de junho de 2011. O who died on June 14, 2011. The author reminds
autor lembra aspectos da sua trajetória intelec- aspects of Elysio’s intellectual career, as well as
tual e do convívio com o dileto amigo. the living with his dear friend.
Palavras-chave: Memória – história – amizade. Keywords: Memory – history – friendship.
As palavras que hoje, aqui nesta sala, pronuncio deveriam ter sido
ouvidas noutra ocasião: durante o velório, porém, estávamos por demais
conturbados e constrangidos. Estava ali estirado um amigo nosso de lon-
ga data. Ou então deveria ter falado no momento de seu sepultamento,
mas outro fator de grande importância sobreveio e impediu-me de ex-
ternar ordenadamente meus sentimentos. É que pairava no ar a suspeita,
bastante fundada, de que teria havido uma troca de identidade entre dois
corpos que haviam saído do hospital em que ocorreram os óbitos. Eu e
muitos outros, que o conheciam bem, partilhavam esta opinião. Mas o
que fazer? Por esse motivo, nos instantes em que era descido à sepultura
nosso confrade, estava eu já com algumas palavras alinhavadas numa tira
de papel, a fim de cumprir o piedoso dever de prestar-lhe uma última ho-
menagem, mas na ocasião ninguém se manifestou e também permaneci
calado. Não demonstrei em público a admiração e a estima que sempre
dedicava ao amigo que partia.
Sua morte, golpe rude para todos os que o conheciam, embora já pre-
visível há algum tempo, contristou os companheiros. Na semana seguinte
às exéquias, como de praxe, observou-se o minuto de silêncio, nesta sala.
E nada mais. Achei pouco, como amigo que fora durante três décadas.
Hoje, quando já não importa se houve ou não troca na identificação dos
mortos e estes retornaram ao pó, fica aqui nossa fraterna homenagem
àquele homem erudito e modesto, possuidor de um espírito puro, e que há
de ficar no silêncio amargurado da nossa saudade, na lembrança imarces-
cível de seus dias em harmonia de atos e sentimentos.
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Resumo: Abstract:
O documento que o leitor encontrará a seguir é The document that follows is the translation
a tradução de uma carta do agrimensor francês of a letter from the French land surveyor, Jean
Jean Godin des Odonais, endereçada ao reno- Godin des Odonais, addressed to the renowned
mado Charles-Marie de la Condamine, contan- Charles-Marie de la Condamine, describing
do as aventuras de sua esposa, a peruana Isabel the adventures of his wife, the Peruvian Isabel
Odonais, que, em dezembro de 1769, depois de Odonais who, after a series of mishaps followed
uma série de contratempos e de um naufrágio, by a shipwreck in December 1769, managed to
sobreviveu surpreendentes duas semanas sozi- survive two weeks all by herself, starving and
nha, esfomeada e perdida na floresta amazônica, lost in the Amazon forest, until she was found by
até ser encontrada por dois índios catequizados. two Church-indoctrinated native Indians.
Enquanto minha mulher errava pela floresta, o seu fiel negro, em com-
panhia de uns índios que ele recrutara em Andoas para auxiliá-lo, tor-
nou a subir o rio. O senhor R., mais preocupado com os seus negócios
do que em apressar o envio de uma canoa para salvar a vida dos seus
benfeitores, mal chegou a Andoas, partiu com seus camaradas e com
sua bagagem para Omagnas. O negro chegou com os índios à cabana
onde ele havia deixado sua ama e seus irmãos, seguiu seus rastros
pela floresta e encontrou os cadáveres, já infectos e irreconhecíveis.
Persuadido de que ninguém tinha escapado da morte, o negro e os ín-
dios retornaram à cabana, recolheram tudo o que tinha sido lá deixado
e seguiram para Andoas, onde chegaram antes de minha mulher. O
negro, que não tinha dúvidas acerca da morte de Madame Godin, foi
ao encontro do senhor R., em Omagnas, e entregou-lhe todos os bens
que carregava. Este sabia que o senhor de Grandmaison aguardava an-
siosamente em Loreto a chegada de seus filhos. Uma carta de Tristan,
que tenho em mãos, comprova que meu sogro, informado da chegada
do negro Joaquim, pediu ao próprio Tristan que o fosse buscar e o
conduzisse à sua presença. Contudo, nem Tristan nem o senhor R. se
dispuseram a atender meu sogro. Ao contrário, o senhor R., por sua
própria conta, tratou de enviar o negro para Quito, guardando consigo
as bagagens que este lhe tinha entregado.
Edição utilizada
A trágica história de Madame Godin des Odonais foi publicada pela primeira vez
em finais de 1773, provavelmente pelo próprio Charles-Marie de la Condamine,
num panfleto de 30 páginas, intitulado Lettres de M. D. L. C. à M * * *. A
missiva foi republicada em 1778, na segunda edição da famosa Rélation abregée
d’um Voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique Méridionale, de Condamine. A
Bibliografia
AYALA, Carlos Capriles. Sola, a través de la selva amazónica. Caracas:
Consorcio de Ediciones Capriles; Ediciones Bexeller, 1988.
BLANCPAIN, Marc. Le plus long amour. Paris: B. Grasset, 1971.
FROIDEVAUX, Henri. “Documents Inédits sur Godin des Odonais et sur son
séjour à la Guyane”. In: Revue de la Société des Américanistes de Paris. Paris:
Hôtel des sociétés des savantes, Tomo 3, 1898, pp. 91-148.
LA CONDAMINE, Charles-Marie de. Viagem na América meridional descendo
o rio Amazonas (1735-1745). Brasília: Senado Federal, 2000.
LA CONDAMINE, Charles-Marie de. Viagem pelo Amazonas (1735-1745). Rio
de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Edusp, 1992.
MULLER, Richard. Isabel Godin. Guayaquil: Editorial Jouvin, 1936.
MALOUET, Pierre Victor. Voyage dans les forêts de la Guyane Française. Paris,
G. Sandré, 1853.
IV – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
I
Escritores moçambicanos na fase inicial da literatura de seu país
sempre se declararam inspirados por autores brasileiros. Foi o caso de
José Craveirinha (1922-2003), filho de pai português e mãe africana, que
se dizia leitor atento de Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade
(1893-1945), Graciliano Ramos (1892-1953), Carlos Drummond de An-
drade (1902-1987), Jorge Amado (1912-2001), Raquel de Queiroz (1910-
2003), João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e outros. Sem contar que
tivera em Leônidas da Silva (1913-2004), o Diamante Negro, centroavan-
te da seleção brasileira de 1938 e inventor do lance chamado de “gol de
bicicleta”, um ídolo de sua juventude, admiração que compartilhava com
muitos de sua geração.
III
Em “José Francisco Albasini e a saúde do corpus moçambicano”,
César Braga-Pinto, doutor em Literatura Comparada pela University of
California, Berkeley, e professor da Northwestern University, em Illinois,
recupera a trajetória literária e jornalística de José Francisco Albasini, o
Bandana (1877-1935), irmão de João Albasini. Ambos fundaram o pri-
meiro jornal escrito e dirigido por uma elite de intelectuais negros e mu-
latos em Moçambique, O Africano (1908-1918), que seria sucedido por
O Brado Africano (1918-1974).
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• Exceto os trabalhos dirigidos à seção Bibliografia, os autores deverão, obrigatoriamente, apresentar
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250 (duzentos e cinqüenta) palavras, seguidas das palavras-chave, mínimo 3 (três) e máximo de 6 (seis),
representativas do conteúdo do trabalho, também em português e inglês, e no idioma original quando
for o caso.
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arquivística equivalente de onde foram copiados, acompanhados de uma introdução explicativa.
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the book in italics: subtitle. Edition. City: Publisher, year, p. nn-nn.
• Article: LAST NAME, First Name. Title of the article. Title of the jounal in italics. City: Publisher.
Vol., n., p. x-y, year.
• Thesis: LAST NAME, First Name. Title of the thesis in italics: subtitle. Thesis (PhD in …..) Institution.
City, year, p. nn-nn.
• Internet: LAST NAME, First Name. Title. Available at: www….., consulted dd.mm.yy.
Only the texts presented accordingly to the rules defined above will be ac-
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