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DIREITO CIVIL I

UNIDADE II
Monitora: Ana Maria Dantas
Professor Orientador: Rogério Moreira

DEFEITOS OU VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO – PARTE I


De acordo com o artigo 171, II do Código Civil:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.

Os defeitos ou vícios do negócio jurídico possuem origem em duas espécies:


defeito de consentimento e defeito social.
Defeito de consentimento: neste sentido, o defeito ocorre quando alguma das partes
não pôde expressar consciente e livremente a sua vontade, isto é, quando a vontade da
parte foi de alguma forma viciada, diante disto, o negócio jurídico deve ser anulado, a
fim de que não ocorra efeitos indesejáveis. São vícios da vontade: o erro, o dolo, a
coação, o estado de perigo e a lesão.
Defeito social: tem por definição a distorção na intenção do agente na realização
do negócio jurídico com finalidade de burlar interesses de terceiros, como também, de
prejudicar o meio social, consubstanciam-se em atos contrários à boa fé ou à lei,
prejudicando terceiro, há a manifestação de vontade, entretanto, esta se encontra sem
boas intenções. São vícios sociais: a fraude contra credores e a simulação.

1. ERRO
Pode ser definido como a tomada de decisão equivocada em função da falsa
representação da realidade. Para ser definido como defeito de consentimento o erro
precisa obedecer a dois requisitos: ser substancial e escusável, ou seja, não são todas
as formas de erro que resultam na anulabilidade do negócio jurídico.
O negócio jurídico não será anulado nos seguintes casos:
Erro acidental: o sujeito teria praticado o negócio mesmo se houvesse percebido a
existência do erro.
Erro indesculpável: ocorre quando o sujeito não percebeu o erro que seria
perceptível por pessoa com diligência normal.
De acordo com o Código Civil a anulação do negócio jurídico deve ocorrer quando
o erro for substancial e escusável.

Erro Substancial

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem
de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

Ainda no que tange ao erro substancial o Código civil define:

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração
de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico.

Erro Escusável
Erros escusáveis são aqueles que não podem ser percebidos por pessoas de
diligência normal. O código civil ainda define que:

Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade,
não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a
coisa ou pessoa cogitada.

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade
real do manifestante.
Ainda no que se refere ao erro, o código civil complementa:

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos
casos em que o é a declaração direta.

2. DOLO
O dolo é a conduta maliciosa praticada por um dos negociantes ou por terceiro
com o objetivo de levar o outro negociante a erro sobre as circunstâncias reais
do negócio, de modo a manifestar vontade que lhe seja desfavorável, e que ele não
manifestaria, não fosse o comportamento ilícito de que foi vítima.
Dolo principal
Quando o dolo e somente ele é a causa determinante da realização do negócio
jurídico, isto é, quando a parte apenas realizou o negócio jurídico porque foi enganada.

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Dolo acidental
A indução em erro diz respeito a aspectos não essenciais do negócio jurídico. São
distorcidas algumas circunstâncias importantes do negócio jurídico, mas não o
suficiente para fazer a parte desistir dele. O dolo acidental não implica a invalidade do
negócio jurídico, mas gera o direito à indenização pelas perdas e danos.

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a
seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Dolo de terceiro
É a manifestação ardilosa de terceiro estranho ao negócio jurídico, que o afeta.
Se o contratante sabia que terceiro estava induzindo a erro o declarante, ou devia saber
este fato, dá-se a invalidade, porém se o contratante não sabia que terceiro estava
induzindo a erro o declarante, e não tinha meios de sabê-lo, o negócio prevalece,
mesmo em se tratando de dolo principal. Neste caso, o terceiro constrangedor
responderá por perdas e danos.

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem
ludibriou.

Dolo de ambas as partes


Caracteriza-se pelo dolo bilateral, ou seja, situação em que as duas partes agem
maliciosamente. E nesse caso, o negócio jurídico não é passível de anulação e
continua a produzir efeitos. Ninguém pode se aproveitar da própria torpeza.

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o
negócio, ou reclamar indenização.

O código civil ainda complementa com algumas outras regras:

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito
de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se
que sem ela o negócio não se teria celebrado.

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e
danos.

3. COAÇÃO
A coação é um vício do negócio jurídico que funciona como uma forte violência
(física ou moral) aplicada para que alguém seja forçado a realizar determinado ato
contrário à sua vontade. A coação vicia a declaração de vontade quando desperta no
paciente o receio fundado de dano iminente e relevante à pessoa dele, sua família ou
seu patrimônio.

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus
bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
São requisitos da coação:

• Determinante da declaração de vontade: sem ela, o declarante constrangido não


teria emitido a sua vontade;

• Grave: deve incutir na pessoa o fundado temor de dano irreparável à sua pessoa,
família ou bens e, eventualmente, a amigos, empregados e não-familiares, estes
a critério do juiz;

• Iminente: feita uma ameaça de dano futuro, se houver condições materiais para
evitar eficazmente a ocorrência do dano, não há invalidade;

• Injusta: se a parte ou terceiro ameaçou exercer regularmente um direito, não há


coação nem invalidade do negócio jurídico. O simples temor reverencial também
não invalida o negócio.

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade
dela.

Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial.

Coação de Terceiro
No que tange a coação de terceiros estranhos ao negócio jurídico, existem as
seguintes possiblidades:

• Nos casos em que o contratante possuir o conhecimento de que o terceiro estava


coagindo o declarante, então o negócio jurídico deverá ser anulado.

• Contudo, se o contratante não tiver tal conhecimento, o negócio deverá


prevalecer, mesmo se tratando de dolo principal, nestes casos, o contratante
responde solidariamente com o terceiro por possíveis perdas e danos
decorrentes do negócio jurídico.

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse
ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por
perdas e danos.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a
que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá
por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

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