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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

Maria Flávia Cerqueira de Souza

Pedro Almeida da Silva

Roteiro

Salvador

2021
Introdução
O trabalho tem como objetivo principal a exposição no que tange aos vícios e
defeitos dos negócios jurídicos, em especial com foco em Coação, que foi o defeito
jurídico escolhido. Os demais defeitos jurídicos estão transcritos nos Artigos 151 a
165 do Código Civil de 2002, o qual iremos abordar brevemente, são eles: Erro,
Dolo, Coação, Estado de perigo, Lesão, que se classificam como vício de
consentimento e a Fraude contra credores e Simulação, que se classificam como
vícios sociais. Os vícios de consentimento são aqueles no qual não permitem que a
vontade expressada pelo agente seja livre e de boa fé, desse modo, prejudicam a
natureza do negócio jurídico, contudo, a vontade viciada suscita a anulabilidade do
negócio. Já os vícios sociais se caracterizam pela vontade manifestada, não possuir
a boa-fé que deveria apresentar.

A declaração de vontade é o elemento estrutural ou requisito de existência do


negócio jurídico. Para que seja válido, todavia, é necessário que a vontade seja
manifestada livre e espontaneamente. Pode acontecer, no entanto, algum defeito na
sua formação ou declaração, em prejuízo do próprio declarante, de terceiro ou da
ordem pública, caso haja com pré-requisitos o dolo, o erro, a coação e etc, com vista
a provocar um desequilíbrio negocial em favor de um, em detrimento do outro, essa
relação jurídica não estará caracterizada como válida, sendo assim, nula ou
anulável, pois não preencheu os requisitos mínimos da função social, da
transparência e honestidade que são elementos essenciais para que se possa criar
um negócio jurídico válido, atendendo ao bem comum de direito. Quando a vontade
não se manifesta, ou é embaraçada não se pode nem mesmo se falar em existência
do negócio jurídico. Logo, o mesmo é nulo. O negócio jurídico será inexistente por
lhe faltar o requisito primordial, isto é, a autonomia da vontade individual, desviando
substancialmente do princípio da liberdade.

O jurista Pontes de Miranda desenvolveu a Escada Ponteana, uma estrutura


única para explicar, interpretar e entender os elementos que constituem o negócio
jurídico. A escada foi dividida em três planos, sendo eles: o Plano de Existência, o
Plano de Validade e o Plano de Eficácia. Primeiramente, o Plano de Existência
trata do que deve existir para que o negócio jurídico de fato exista. Para isso são
necessários quatro elementos do pressuposto da existência: o agente, o objeto, a
forma e a manifestação de vontade. O negócio se torna inexistente quando houver
algum problema entre esses elementos, por exemplo, nos casos de agente
incapaz, objeto impossível, forma inadequada ou vontade não manifestada. Nesse
contexto, o Plano de Validade tem por finalidade verificar se o negócio é
válido de acordo com a norma. Segundo o artigo 104 do código civil, a
validade do negócio jurídico requer: o agente, que deve ser capaz, o objeto, que
deve ser lícito, possível, determinado ou determinável, a forma, que deve ser
prescrita ou não defesa em lei, e por último, a vontade que deve ser livre, consciente
e voluntária. É nesta escala que os elementos do plano de existência são
qualificados. Por fim, o Plano de Eficácia analisa se o negócio jurídico está
produzindo efeitos. É possível um negócio jurídico ser válido, mas não ter plano
de eficácia, pois o negócio pode estar suspenso por uma condição suspensiva ou
aguardando por um termo inicial. Sendo assim, seus elementos são chamados de
acidentais, uma vez que sua presença é dispensável, são eles: condição, termo ou
encargo.

1. Vícios do negócio jurídico


2.1. Erro
O Erro é a consequência de um negócio jurídico celebrado com a falta de
conhecimento exato sobre uma coisa, objeto, pessoa ou natureza do próprio
negócio. A respeito disso o Prof. CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA faz uma
excelente explanação “quando o agente, por desconhecimento ou falso
conhecimento das circunstâncias, age de um modo que não seria a sua vontade, se
conhecesse a verdadeira situação, diz-se que procede com erro”

O erro está previsto nos artigos 138 a 144 do Código Civil, podendo ser classificado
em substancial (ou essencial) e acidental (ou não essencial). Substancial, sendo o
erro que incide sobre fatos determinantes do negócio, gerando anulabilidade, pois
sem este, não teria sido realizado o ato. Para exemplificar este erro, os professores
Gagliano e Filho (2019), trazem o caso do colecionador que, pretendendo adquirir
uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça feita de material sintético, já
o erro acidental é aquele que incide sobre fatos irrelevantes que não configura em
anulabilidade para o contrato.
As hipóteses de erro substancial estão previstas no art. 139 do Código Civil, sendo
possível identificar: error in negotio; error in corpore; error in substantia; e error in
persona.
2.2. Dolo
O dolo é o erro provocado por uma terceira pessoa na relação jurídica ou por uma
das partes, a vítima é induzida ao erro, ou seja sendo enganada em benefício de
outrem. O dolo está previsto nos artigos 145 a 150 do Código Civil. O dolo pode ser
classificado em principal (ou essencial ou determinante) ou acidental. O dolo
principal, de sentido anulatório no negócio jurídico, como parte principal do contrato
e sem ela, a parte não realizaria o ato. Já o dolo acidental que, em conformidade
com o art. 146 do Código Civil, não serve para a anulação do negócio, cabendo
apenas à satisfação das perdas e danos, por conta das condições menos vantajosas
estabelecidas no negócio para o declarante.

Em matéria doutrinária, também se classifica , o dolus bonus e o dolus malus. O


dolo malus, é a regra, aquele que gera anulabilidade, por nele existir a vontade de
enganar resultando em um prejuízo. O dolus bonus, não se aplica a anulabilidade,
sendo apenas casos de exageros cometidos pelo vendedor. Washington de Barros
Monteiro afirma serem admissíveis tais manifestações exageradas “no giro diário
dos negócios, porque, com um pouco de diligência, um pouco de perspicácia,
podem ser dissipadas, desde que os exageros não sejam acompanhados de
artifícios”.

Classifica-se o dolo, em outro critério, em dolo positivo, quando a ação partir do


agente, ou negativo, sendo o silêncio proposital de uma das partes. O art. 147 do
Código Civil admite o dolo omissivo, tendo como pano de fundo, sem dúvida, a
proteção à boa-fé

Há ainda o dolo de terceiro que está previsto no art. 148 do Código Civil, aquele que
não intervém direta ou indiretamente no negócio e o terceiro responderá por todas
as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
2.3. Coação
A coação está prevista nos artigos 151 a 155 do Código Civil. A inexistência da
vontade leva a vítima a realizar um negócio jurídico que, em outras condições, não
realizaria, precedido por violência física ou moral, ameaça e constrangimento.

São dois tipos de coação: física (“vis absoluta”); e moral (“vis compulsiva”). A vis
absoluta, caracterizada por uma pressão de força exterior e bruta, deixando a vítima
sem opção de defesa. Na vis compulsiva, ocorre uma ameaça contra a vida ou a
algum bem protegido juridicamente. Serão analisados os casos de coação de forma
subjetiva, assim, o sexo, a idade, a formação intelectual e profissional serão levadas
em conta para aferir a existência, ou não, de coação, segundo o professor Cristiano
Chaves. Serão expostos casos da jurisprudência ao longo deste artigo.

Dos requisitos da coação:


O Art. 151 CC, explicita que nem toda ameaça configura coação. Para que
tal ocorra é necessário a existência dos seguintes requisitos: a) deve
ser a causa determinante do ato; b) deve ser grave; c) deve ser injusta; d) deve
dizer respeito a dano atual ou iminente; e) deve constituir ameaça de prejuízo à
pessoa ou bens da vítima ou a pessoa de sua família.

a) deve ser a causa determinante do ato: deve haver relação de


causalidade entre coação e o ato extorquido, ou seja, o negócio deve ter sido
realizado somente por ter havido grave ameaça ou violência, que provocou na
vítima fundado receio de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens.
Sem ela o negócio não teria se concretizado.
b) deve ser grave: Há de ser de tal intensidade que efetivamente incuta
na vítima um fundado temor de dano (moral ou material) a bem que considera
relevante. Para aferir a gravidade segue-se o critério concreto , ou seja
avaliar em cada caso as condições particulares ou pessoais da vítima. Art. 152
CC, Art. 153, 2ª parte.
c) deve ser injusta: esta expressão deve ser entendida como ilícita,
contrária ao direito, ou abusiva.. Art. 153 CC 1ª parte. Assim, não constitui
coação a ameaça feita pelo credor de protestar ou executar um título de
crédito vencido e não pago, o pedido de abertura de um inquérito
policial, a intimidação feita pela mulher à um homem de propor contra
ele investigação de paternidade, porque aqui estão procedendo de
acordo com o direito. É injusta a conduta de quem se vale de meios
ilegais para obter vantagem indevida: credor que ameaça proceder execução
de hipoteca contra a devedora caso não concorde em desposá-lo; indivíduo
que surpreendendo alguém cometendo crime ameaça denunciá-lo caso não
realize com ele determinado negócio; marido que surpreende mulher em
adultério e obtém dela a renúncia à sua meação em favor dos filhos.
d) deve dizer respeito a dano atual e iminente: significa atual e inevitável. Pois a
ameaça de mal impossível, remoto ou evitável, não constitui coação capaz de viciar
o ato. O mal é iminente sempre que a vítima não tenha meios para
furtar-se ao dano, quer com próprios recursos, quer mediante auxílio de outrem,
ou da autoridade pública. A Iminência não significa imediatamente, basta que
a ameaça provocou, desde logo, temor intenso na vítima para conduzi-la a
contratar.
e) deve se constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da
vítima oupessoas de sua família: a intimidação pode ocorrer como
sofrimentos físicos, cárcere privado, tortura etc. A coação de dano
patrimonial pode ser incêncio, depredação, greve etc.

Na Coação exercida por terceiro os Arts. 154 e 155 CC explana que a


coação exercida por 3º só vicia o negócio jurídico e permite sua anulação
pelo lesado se a outra parte, que se beneficiou, dela teve ou devesse ter
conhecimento. Há, nesse caso, cumplicidade do beneficiário, que responderá
civilmente com o 3º pelas perdas e danos devidos àquele,como proclama
o art. 154 CC. Em caso de negócio jurídico unilateral, como testamento e
a promessa de recompensa, a coação de terceiro continuará ensejando sempre a
anulação, uma vez que ali não existem partes, mas sim agente e terceiros a
quem se dirige a declaração de vontade.

Seção
Da coação
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser
tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à
família do paciente,o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a
idade, a condição, asaúde, o tempe ramento do paciente e todas as
demais circunstâncias que possam influirna gravidade dela.
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um
direito, nem o simples temor reverencial.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro,
se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de
terceiro, sem que aparte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter
conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e
danos que houver causado ao coacto.

2.4. Estado de perigo


No estado de perigo, a vítima é levada ao negócio por conta do risco pessoal (perigo
de vida ou de grave dano à saúde ou à integridade física de uma pessoa).
Inexistente na Codificação de 1916, o estado de perigo está previsto no art. 156 do
Código Civil. O professor Pablo Stolze traz os seguintes exemplos na doutrina: o
indivíduo, abordado por assaltantes, oferece uma recompensa ao seu libertador para
salvar-se; o sujeito está se afogando e promete doar significativa quantia ao seu
salvador; o dono da embarcação fazendo água se compromete a remunerar
desarrazoadamente a quem o leve para o porto até mesmo a expressão “meu reino
por um cavalo”, da obra de Shakespeare, pode ser um exemplo didático desse vício.

2.5. Lesão
Na lesão ou estado de necessidade, surge da ameaça a danos patrimoniais, como a
urgência de honrar compromissos, de evitar a falência ou a ruína dos negócios. A
lesão também não estava presente no Código de 1916, surgindo no novo Código
Civil no art. 157.
Segundo Maria Helena Diniz, o instituto da lesão tem como finalidade "proteger o
contratante, que se encontra em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele
sofrido na conclusão do contrato, devido à desproporção existente entre as
prestações das duas partes”.

2.6. Fraude contra credores


Segundo a lei, “os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida,
se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda
quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos
dos seus direitos. Igual direito assiste aos credores cuja garantia se torna
insuficiente. Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
anulação deles”. Nesse vício a vítima não participa do ato, mas sofre suas
consequências. Vislumbra-se prática maliciosa, realizada pelo devedor, de atos que
desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por
dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios.
Dois são seus elementos: o objetivo (eventus damni), que é todo ato prejudicial ao
credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de
insolvência, ainda quando o ignore ou ante o fato de a garantia tornar-se
insuficiente; e o subjetivo (consilium fraudis), que é a má-fé, a intenção de prejudicar
do devedor ou do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança. A fraude
contra credores, somente é atacável por ação pauliana ou revocatória, movida pelos
credores quirografários, que tem por finalidade a aplicação do princípio da
responsabilidade patrimonial do devedor, restaurando-se aquela garantia dos seus
bens e proclama a sua ineficácia relativa.

2.7. Simulação
Consiste na declaração enganosa da vontade, visando a obter resultado diverso do
que aparece, para iludir terceiros, ou burlar a lei. Na simulação existe um conluio
entre declarante e declaratário, denominado pactum simulationis. Em suma: o que
existe é uma declaração de vontade mentirosa. São seus requisitos: a) divergência
intencional entre a vontade real e a exteriorizada; b) acordo simulatório entre as
partes; c) objetivo de prejudicar terceiros.
No que diz respeito às espécies, ela pode ser: a) absoluta: quando aparenta negócio
jurídico que não existe. b) relativa (dissimulação): quando aparentar conferir ou
transferir direitos à pessoa diversa daquela a que realmente se confere ou transfere.
Nesse viés, a simulação maliciosa é aquela que tem por efeito atingir interesse
juridicamente protegido de terceiro, ao passo que a simulação inocente, a contrario
sensu, não atinge interesse jurídico de terceiro. Art. 167 diz que toda simulação,
inclusive a inocente, é invalidante.

2. Coação como instrumento das relações entre empregado e empregador


Modernamente, não raro, são os casos de coação moral no mercado de trabalho. As
empresas exigem cada vez mais dos seus funcionários, que muitas das vezes, são
tratados como máquinas para que o faturamento seja a cada instante superado.
Com isso, é possível perceber a adoção de métodos de trabalho que implicam uma
dissimulada violência à dignidade da pessoa humana do trabalhador. O assédio
moral expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, na qual não
são transmitidas informações necessárias para a realização de tarefas, quando
todas as suas decisões são contestadas, o trabalho é criticado de forma injusta ou
exagerada. Esse tipo de agressão ao trabalhador se caracteriza por ser operado de
forma contínua e prolongada, durante sua jornada de trabalho no exercício de suas
funções, principalmente em relações hierárquicas, de um ou mais superiores
direcionados a um ou mais subordinados, ou um grupo de pessoas de forma
autoritária com a intenção de desmoralizar, desqualificar profissionalmente e
desestabilizar emocional e moralmente. São características do assédio moral: a) a
abusividade da conduta; b) a natureza psicológica do atentado à dignidade psíquica
do indivíduo; c) a reiteração da conduta; d) a finalidade de exclusão.
Quanto às normas existentes, o poder judiciário quando provocado, tem embasado
na Carta Magna de 1988, expressa no art. 5º, inc. III que – ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Bem como, a Lei n. 4.898, de
09 de dezembro 1965 (Lei do Abuso de Autoridade), também regula os casos de
assédio moral, mais precisamente no art. 4º, alínea b: “submeter pessoa sob sua
guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei''. No
assédio moral verticalmente ascendente, o superior faz uso do seu poder e cargo
para infringir ao empregado a violência psicológica, com a intenção de destituir o
empregado do cargo em função ao perfil ou serviço que não adequou à proposta da
empresa. O assédio é imposto para que através dessa situação o empregado peça
desligamento da empresa sem que ela tenha ônus algum para com ele. É o que
acontece no caso que será abordado no presente trabalho.

3.1. Apresentação do caso


Em 2018, a juíza do Trabalho confirmou a sentença em que declarou nulo o pedido
de demissão feito pela funcionária de um banco. Isso porque ficou provado no
pedido de demissão que a funcionária foi coagida a se demitir devido ao assédio
moral sofrido pela vítima durante seu tempo na empresa. A juíza, ainda, reverteu o
pedido de demissão em rescisão indireta do contrato de trabalho, tendo como
sentença a indenização em R$ 50 mil por danos morais.

A bancária ajuizou em 29.06.2016 uma reclamação trabalhista requerendo, a


condenação da reclamada ao pagamento das seguintes verbas: descaracterização
de cargo de confiança, intervalo do art. 384 da CLT, aplicação do divisor 150,
indenização por assédio moral, nulidade do pedido de demissão e honorários
assistenciais. A funcionária relata que sofria constrangimentos no local de trabalho e
que quando não alcançava suas metas era cobrada por sua superior, que ameaçava
demiti-la constantemente. A nulidade do pedido de demissão foi pleiteada afirmando
que a ré pediu para sair do emprego em razão dos abusos sofridos no trabalho.

Para a juíza, Roselene Aparecida Taveira, os elementos analisados convergem para


se concluir pela invalidade do pedido de demissão, realizado quando a autora estava
sob coação, em estado análogo ao de perigo, submetida a críticas e pressões
reiteradas. O tratamento abusivo do superior hierárquico caracteriza falta grave do
empregador, ensejando a conversão do pedido de demissão em rescisão indireta do
contrato.

É possível notar que a coação aplica-se a nulidade do contrato de trabalho, uma vez
que vicia o consentimento e ficando provado que a vítima não estava em condições
físicas e mentais para tomada de decisão, além de viver sob ameaça constante de
sua integridade física. A principal motivação que leva a funcionária ao ato, não
apresenta relação direta com o emprego em si, e sim com o medo constante em um
ambiente hostil, por isso, faz necessário o respeito nas relações entre particulares e
contratos de emprego mais sólidos que protejam a vítima de situações de
constrangimento relatadas aqui.

Fica claro, aqui, a importância do Poder Judiciário no que se refere à efetivação dos
direitos, com a finalidade de amenizar a diferença de poder nas relações de
emprego, reproduzindo um meio em que o trabalhador não renuncie a seus direitos
Referências

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD , Nelson. Curso de Direito Civil. 15. ed.
Salvador: JusPODIVM, 2017. 861 p.

GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil:
parte geral. 21. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2019. 795 p. v. 1.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15º REGIÃO (Campinas). Roselene


Aparecida Taveira. Sentença,processo: 0011341-90.2016.5.15.0043. Campinas, 8
mar. 2018. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2018/4/art20180423-04.pdf. Acesso em: 24
maio 2021.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, 19. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 326.

SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil: Contemporâneo. 3. ed. São Paulo:


Saraiva educação, 2020. 1136 p.

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