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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

Direito Civil II

Prof.ª Dr.ª Rosa Maria de Andrade Nery

Turma: MF-02

Alunos:

Giovanna Battaglia - RA00299179


Manuela Mazzucchelli - RA00299575
Pedro Henrique Pires Gaspar - RA00302896
Victor Sette Manetti Andrade - RA00299291

Seminário IV (27/09/2021)

Responda, de maneira fundamentada, às questões abaixo.

01) Diferencie nulidade de anulabilidade.

Apesar de serem termos semelhantes, os termos nulidade e anulabilidade possuem


conceituações distintas. Segundo a jurista Maria Helena Diniz, a nulidade “pode ser arguida por
qualquer interessado, pelo Ministério Público, quando lhe caiba intervir, e pelo magistrado de
ofício independentemente de alegação da parte, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e a encontrar provada, se tiver, p. ex., em mãos de qualquer documento que
evidencie falta de elemento essencial”1, ou seja, a nulidade pode ser provada por qualquer
interessado, que saiba da falta de elemento sine qua non da validade do negócio.

Diferente da nulidade, a anulabilidade somente poderá ser alegada pela parte


preujidicada no negócio jurídico ou por seus representantes legais, assim postula a professora
Maria Helena Diniz “ [...] a anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudicados no negócio

1
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 37ª Edição. São Paulo:
Saraiva, 2020. 612 p.
jurídicos ou por seus representantes legais [...]” 2, sendo assim tanto o Ministério Público quanto
os juízes, não podem alegar a anulabilidade. Outra divergência da anulabilidade, reside no fato
de que a mesma, somente terá efeito, após julgada, assim como postula o art. 177 do Código
Civil:

“Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de
ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo
o caso de solidariedade ou indivisibilidade”3

02) Quais as causas de nulidade dos negócios jurídicos?

As causas de nulidade dos negócios jurídicos, estão prescritas no art. 166 e no caput do
art. 167, do Código Civil, que assim as lista:

“Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a


sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem


cominar sanção.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se


dissimulou, se válido for na substância e na forma.”4

2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 37ª Edição. São Paulo:
Saraiva, 2020. 612 p.
3
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
4
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
A nulidade absoluta do negócio jurídico é dotada de efeito ex tunc, sobre suas causas
Maria Helena Diniz assim versa: “São nulos os atos que: não tiverem qualquer elemento
essencial; apresentarem objeto ilícito ou impossível; não revestirem a forma prescrita em lei;
preterirem alguma solenidade imprescindível para sua validade; forem praticados com infração
à lei, aos bons costumes; a lei taxativamente declarar nulos ou proibir sua prática, sem cominar
sanção de outra natureza; e forem simulados” 5.

03) Quais as causas de anulabilidade dos negócios jurídicos?

As causas de anulabilidade do negócios jurídico estão listadas no art. 171, do Código


civil, que assim as prevê:

“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou


fraude contra credores.”6

A nulidade relativa do negócio jurídico é dotada de efeito ex nunc, e sobre suas causas,
Maria Helena Diniz assim versa: "Serão anuláveis os atos negociais: 1) se praticados por pessoa
relativamente incapaz, sem a devida assistência de seus legítimos representantes. [...] 2) Se
viciados por erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo, ou fraude contra credores. 3) Se a lei
assim o declarar, tendo em vista a situação particular em que se encontra determinada pessoa” 7

04) Por que fraudar a lei é causa de nulidade do negócio jurídico?

Ao ter por objetivo fraudar a lei, o negócio jurídico infringe diretamente o ordenamento
jurídico, de modo que o negócio possui estrutura aparentemente legal, porém a sua finalidade
prática é antijurídica. Tendo isso em vista, o negócio jurídico que tem por objetivo fraudar a lei
é nulo de acordo com o inciso VI do artigo 166 do Código Civil.

5
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 24ª Edição. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 532.
6
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
7
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 24ª Edição. São Paulo:
Saraiva, 2007. págs. 532-533.
"Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;"8

Esse requisito para a validade do negócio jurídico postulado pelo Código garante que a
capacidade do agente e a licitude do objeto não são os únicos reguladores da validade do ato
negocial, requerendo-se ainda que a exteriorização da vontade do agente atenda ao plano de
legitimidade, ou seja, que o ato possua uma causa que possua conformidade com as finalidades
do sistema jurídico.

05) Caracterize erro e dolo, distinguindo-os.

No que tange erro e dolo, ambos correspondem a vícios da vontade, porém, se


distinguem entre si. O dolo é o meio empregado para enganar alguém, de modo que este ocorre
quando o sujeito é induzido por outra pessoa ao erro, no que diz respeito ao negócio jurídico,
ou seja, trata-se de o artifício, a astúcia, a maquinação, de que alguém se serve para enganar o
outro e obrigá-lo a praticar uma ação que sem isso não praticaria. Já o erro consiste em uma
noção falsa de um sujeito sobre determinado objeto, de modo que este não pode ser induzido,
referindo-se a algo acidental. Esta falsa noção se trata do engano, ou melhor dizendo, o
desconhecimento absoluto acerca de algo, podendo ser dividido em erro acidental e substancial.

É acidental quando diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa, ou


do objeto, não havendo qualquer influência no negócio jurídico. Isso porque, não se pode
presumir que se o declarante soubesse das verdadeiras circunstâncias não fizesse o negócio. Ou
caso a pessoa a quem a manifestação da vontade se dirige se propor a realizar a vontade real do
manifestante, segundo o artigo 144 do Código Civil.

8
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
"Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do manifestante."9

O erro também pode ser essencial ou substancial, sendo este o erro de fato por recair
sobre circunstância de fato, ou seja, sobre as qualidades essenciais da pessoa ou da coisa, como
consta no artigo 139 do Código Civil.

"Art. 139. O erro é substancial quando:

I – interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades


a ele essenciais;

II – concerne á identidade ou á qualidade essencial da pessoa a quem se refira declaração de


vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III – sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico."10

06) Que são vícios do consentimento? Quais são eles? Explique-os.

De acordo com o professor Carlos Roberto Gonçalves, “os referidos defeitos, exceto a
fraude contra credores, são chamados de vícios do consentimento, porque provocam uma
manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e verdadeiro querer do agente.”
Desse modo, o autor afirma que eles criam uma divergência e um conflito entre a vontade
manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou. São, portanto, conhecidos como vícios de
consentimento o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo e a lesão.

O erro consiste na falsa percepção da realidade por um sujeito sobre determinado objeto,
de modo que este não pode ser induzido por outro. Esta falsa noção se trata do engano, ou

9
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
10
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
melhor dizendo, o desconhecimento absoluto acerca de algo, podendo ser dividido em erro
acidental ou substancial.

Por sua vez, o dolo pode ser compreendido como o meio empregado para enganar
alguém, de modo que este ocorre quando o sujeito é induzido por outra pessoa ao erro. Por fim,
entende-se por coação o defeito do querer do agente que não quer declarar algo mas o faz
impelido por um receio de um mal que possa lhe advir a alguém de sua bem-querência. Desse
modo, pode-se afirmar que os três vícios do consentimento podem causar anulabilidade do
negócio jurídico.

A coação é o vício do consentimento que refere-se a ameaça física ou moral exercida


sobre uma pessoa, ou bens, com o objetivo de constranger alguém a realizar um negócio
jurídico. Nesse sentido, a coação pode ser exercida contra a própria pessoa que realizou o
negócio jurídico, contra alguém da família da pessoa que realizou um negócio jurídico, contra
os bens da pessoa que realizou o negócio jurídico e contra qualquer outro indivíduo que não
pertença à família da pessoa que realizou o negócio, entretanto, neste último caso, o juiz
decidirá se houve coação.

De acordo com o artigo 156 do Código, “configura-se o estado de perigo quando


alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.” Desse modo,
compreende-se que é um vício que refere-se a necessidade de salvar-se ou salvar alguém da
família de graves danos, tais como risco de morte, lesão à saúde, risco quanto à integridade
física e etc. Assim sendo, o perigo deve ter sido a razão determinante do negócio jurídico, visto
que o estado de perigo retira da pessoa a condição de declarar livremente a sua vontade.

Por fim, tem-se como vício do consentimento a lesão. Segundo o art. 157 do Código
Civil, “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se
obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta''. Assim, em
virtude de haver a desproporção em relação à prestação oposta, o negócio jurídico em questão
traz um prejuízo patrimonial excessivo; uma das partes obtém vantagem no resultado do
negócio, em detrimento à condição desfavorável de outro paciente.

07) Que são vícios sociais? Quais são eles? Explique-os.


Os vícios sociais referem-se aos vícios que incidem nos negócios jurídicos, já que o
negócio jurídico foi realizado com a intenção de prejudicar terceiros; ferir a lei ou a boa-fé. Nos
vícios sociais não existe a divergência entre a vontade real da pessoa e a vontade declarada no
negócio, uma vez que a intenção da pessoa realmente era prejudicar terceiros. Desse modo,
considerando que o negócio jurídico foi realizado com a intenção de prejudicar terceiros, nota-
se um defeito do negócio jurídico; o vício social. É vício social previsto no Código Civil a
fraude contra credores e a simulação.

Entende-se por fraude contra credor a manobra maliciosa do devedor, que aliena o seu
patrimônio, a fim de não pagar o(s) credor(es). Isso se dá em virtude do patrimônio do devedor
responder por suas dívidas, sendo a garantia do credor. Desse modo, se o devedor alienar seu
patrimônio, o credor não conseguirá cobrar o seu crédito, uma vez que o que garante o
pagamento da dívida é o patrimônio do devedor, como mencionado. Assim, ao diminuir o seu
patrimônio, o devedor se torna insolvente, pois não tem patrimônio suficiente para garantir o
pagamento de suas dívidas.

Isto posto, de acordo com o professor Carlos Roberto Gonçalves, “a fraude contra
credores não conduz a um descompasso entre o íntimo querer do agente e de sua declaração,
mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros. Por essa razão, é considerada vício
social.” 11

A simulação é a segunda modalidade dos vícios sociais, e condiz à declaração enganosa


da verdade, a fim de produzir efeito diverso daquele declarado no negócio jurídico. Negócio
simulado é, portanto, aquele que oferece uma aparência diversa do efeito querer das partes, que
por sua vez, fingem um negócio que na realidade não desejam. Sendo assim, o professor Silvio
Rodrigues coloca que “a simulação caracteriza-se quando duas ou mais pessoas, no intuito de
enganar terceiros, recorrem a um ato aparente, quer para esconder um outro negócio que se
pretende dissimular, quer para fingir uma relação jurídica que nada encobre.” Portanto, pode-
se afirmar que trata-se de uma burla, intencionalmente construída em conluio pelas partes que
almejam disfarçar a realidade enganando terceiros.

11
Gonçalves, Carlos R. Esquematizado - Direito civil 1: parte geral - obrigações - contratos. 10ª ed.,
p. 350. Editora Saraiva, 2019.
08) Quais espécies de erro invalidam os negócios jurídicos? No que consiste cada uma dessas
espécies?

O erro é o vício de consentimento que se forma sem o induzimento de outrem, ou seja,


no erro a vontade se forma com base na falsa convicção do agente sobre uma situação fática ou
lei, criando, modificando ou extinguindo vínculos jurídicos. Entretanto, o erro só causará
nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico caso seja essencial ou substancial, como
especificado no artigo 138 do Código Civil.

"Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de
erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio."12

Tendo isso em vista, as hipóteses de erro substancial estão enumeradas no art. 139, do
CC, e este se caracteriza pelas seguintes modalidades: error in persona, quando diz respeito à
identidade da pessoa com que o agente pratica o negócio jurídico ou alguma de suas qualidades;
error in corpore, se ocorre desacordo entre a vontade real e a declarada, portanto, se refere à
identidade do objeto do negócio; error in negotio, quando há um equívoco a respeito da
natureza do negócio jurídico que está sendo celebrado; error in substantia, se o agente identifica
corretamente a natureza do vínculo estabelecido, assim como o objeto em função o negócio está
sendo operado, porém, desconhece algumas qualidades ou características essenciais; error in
juris, quando há o desconhecimento das implicações em decorrência do negócio jurídico, porém
este erro não é via de regra para a anulabilidade ou nulidade do negócio jurídico.

"Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades


a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de


vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

12
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico."13

09) Quais os elementos da fraude contra credores? De que modo poderia ser intentado
seu reconhecimento judicial?

Há dois elementos que compõem o conceito de fraude contra credores. Um elemento


objetivo, isto é, o eventus damni, corresponde a todo ato capaz de prejudicar o credor, quer por
tornar insolvente o devedor, quer por já haver sido ele praticado em estado de insolvência.

Por sua vez, o elemento subjetivo, o consilium fraudis, é caracterizado pela má fé, isto
é, intuito malicioso de ilidir os efeitos da cobrança. Quando o ato praticado for a título gratuito,
referentes a doação, o intuito fraudulento presume-se de maneira absoluta. Já nos atos onerosos,
que condizem a compra e venda, é necessário demonstrar que o devedor tinha ao menos o
potencial conhecimento de que seu ato o levaria à insolvência e que o terceiro adquirente
possuía conhecimento, sendo efetivo ou presumido, de que a alienação levaria o alienante a
esse estado. Sendo assim, o professor Silvio Rodrigues afirma que “concorrendo o consilium
fraudis e o eventus damni, surge o defeito do ato jurídico.”14

No art. 158 do Código Civil, estão previstas as hipóteses de remissão ou perdão da


dívida para configurar ato fraudulento. Desse modo, se o devedor utilizou-se ou não da má-fé,
a remissão ou perdão serão lidos como fraude contra credores. Nestes casos, o credor poderá
ajuizar Ação Pauliana. Ademais, de acordo com o segundo parágrafo do art. 158, “só os
credores que já eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.”

Há de se destacar, além disso, que nos negócios onerosos, se não existirem os requisitos
objetivo e subjetivo, não se fala em anulabilidade. Por outro lado, nos casos em que houver
disposição gratuita ou remissão da dívida, não será necessária a existência do consilium fraudes,
isto é, o elemento subjetivo; basta apenas o evento danoso para o ato ser considerado
fraudulento.

13
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
14
Rodrigues, Silvio. Direito Civil vol. 1. 25ª ed., p. 288
Por fim, conclui-se que para se ter reconhecimento judicial é necessário a Ação
Pauliana, também chamada de Revocatória, que possui o objetivo e finalidade a aplicação do
princípio da patrimonialidade do devedor.

10) Gustavo dispõe à venda um candelabro belga prateado. Priscila, uma colega de trabalho,
apreciando o design moderno do objeto, resolve levá-lo para seu apartamento para ver ele
combina com o ambiente de sua sala. Gustavo consente. Em sua casa, nota que é perfeitamente
compatível o objeto com a decoração do ambiente. Em conversa com Giovana, amiga íntima
com a qual divide o domicílio, revela o preço pedido por Gustavo pelo objeto. Giovana,
entusiasmada, diz que se trata de uma pechincha, pois além da manifesta beleza, os candelabros
belgas são famosos em todo o mundo pela sua qualidade e composição em prata. O negócio é
celebrado. Após alguns meses, em dificuldade financeira, Priscila, pensando em vender o
candelabro, manda-o para avaliação. O avaliador não nega a origem belga do objeto, mas diz
que se trata de peça feita de latão revestida com liga de metais prateados. Priscila ingressa em
Juízo alegando ter sido enganada por Gustavo. Fundamente posicionamento jurídico que
solucione o conflito, entre as regras da Teoria dos Defeitos do Negócio Jurídico.

O negócio celebrado por Gustavo e Priscila possui um vício que o faz passível de
anulabilidade, isto porque, nele há um erro quanto ao objeto, o candelabro belga, supostamente
de prata. O Código Civil assim versa sobre o erro:

“Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de


vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa
de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou


a alguma das qualidades a ele essenciais;” 15

No negócio firmado se tem falsa noção em relação às qualidades essenciais do objeto,


um erro substancial. O erro quanto ao objeto não é escusável, mesmo que Gustavo desconheça-
se de sua verdadeira natureza, pois funda-se no princípio da boa fé objetiva e da confiança. O
negócio firmado viola o interesse individual de uma das partes, porém, por se tratar de um vício
que pode resultar na anulabilidade, há a possibilidade de se consertá-lo pela adequação do valor
do negócio e da descrição do objeto. Outra possibilidade seria a da anulação do negócio, que

15
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
teria como efeito a volta ao estado anterior, a restauração do statu quo ante, de maneira que
Gustavo devolveria a quantia paga e priscila o lustre, o objeto comprado.

11) Conceitue em poucas palavras:

a) erro;

Fala-se de erro quando o agente, por desconhecimento ou falso conhecimento das


circunstâncias fáticas, age de um modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira
situação

b) dolo;

O dolo pode ser definido como a intenção de realizar determinado ato. No que diz a
respeito ao negócio jurídico, o dolo pode ser causa de nulidade do negócio jurídico.

c) coação;

A coação pode ser definida como, todo resultado do descumprimento de normas não
obrigatórias, como cometer um ato que vá contra os princípios de determinada instituição
religiosa, em que a pena por tal violação não é obrigatória, porém moral.

d) estado de perigo;

Segundo o art. 156 do Código Civil, "configura-se o estado de perigo quando alguém,
premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela
outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”. Desse modo, constitui o estado de
perigo a situação de extrema necessidade que conduz um indivíduo a celebrar negócio jurídico
em que assume obrigação desproporcional e excessiva.

e) lesão;

É possível definir lesão como o prejuízo que um indivíduo sofre na conclusão de um ato
negocial, resultante da desproporção existente entre as prestações das duas partes. Assim sendo,
o art. 157 do Código consta: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.”

f) fraude contra credores;


A fraude contra credores constitui-se como todo ato suscetível de diminuir ou onerar
seu patrimônio, eliminando ou reduzindo a garantia que este representa para pagamento de suas
dívidas, praticado por devedor insolvente ou por ele reduzido à insolvência. É, ademais,
caracterizada como um vício social, visto que não conduz a um descompasso entre o íntimo
querer do agente e a sua declaração.

g) simulação.

A simulação consiste em celebrar-se um ato, que possui aparência normal, mas que, na
realidade, não visa ao efeito que juridicamente devia produzir. É, portanto, um defeito do ato,
apelidado pela doutrina de vícios sociais, positivado na conformidade entre a declaração de
vontade e a ordem legal, em relação ao resultado daquela, ou em razão da técnica de sua
realização.

12) Considerando a Teoria dos Defeitos do Negócio Jurídico, enquadre as hipóteses abaixo,
quando possível, numa das causas de nulidade ou anulabilidade previstas no CC, justificando o
porquê do enquadramento:

a) Carlos, presenciando seu apartamento consumir-se pelas chamas de um incêndio, propõe que
Marco, bombeiro, arrisque-se na tentativa de salvar sua filha de 9 anos de idade que estava
dormindo no local. Em recompensa, promete lhe dar todos os seus bens, caso consiga salvá-la.
O bombeiro obteve êxito e exige a entrega do patrimônio de Carlos.

O negócio estabelecido entre e Carlos e Marco é nulo, pois devido as circunstâncias em


que o contrato foi verbalmente firmado, um incêndio colocando a filha de Carlos em risco,
Carlos foi coagido a firmar o contrato, devido ao risco de vida que sua filha se encontrava,
assim se configurando no art. 151 do Código Civil:

“Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que
incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua
família, ou aos seus bens”

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido
literal da linguagem.
Desse modo, se configura a coação na declaração da vontade de Carlos, pelo fato de no
momento da celebração do contrato, a vida de sua filha encontrar-se, em perigo iminente.
Ademais, ainda pode se citar o art. 112 do Código Civil:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas


consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Neste caso, o artigo 112 enquadra-se neste caso, pois por se tratar de uma situação de
extrema urgência, Carlos teria prometido seus bens como forma de manifestar sua preocupação,
valendo assim a intenção de que ele ficaria muito grato ao bombeiro, ao invés de literalmente
transferir todos os seus bens.

b) Ana resolve vender seu carro. Percebendo pontos de ferrugem na lataria, encera-o para
valorá-lo mais. Paulo, decidido a comprar carro, opta por celebrar negócio com Ana, diante de
um carro em ótimas condições mecânicas e lataria impecável. Só depois descobre o ferrugem
na lataria e o péssimo estado do veículo.

O negócio firmado, de venda do carro de Ana para Paulo é anulável, uma vez que Ana
encerando o carro e assim tornando a aparência do carro mais atrativa, faz uma propaganda
enganosa de seu carro, pois o mesmo possui problemas de ferrugem na lataria e o carro está em
péssima condição. Deste modo, apesar do contrato em si não violar as condições de validade
do negócio jurídico, o negócio é anulável, pois Paulo foi lesado com a compra do carro.

c) Catarina, menor impúbere, assina termo comprometendo-se a vender seu computador a


Antônio, menor púbere.
Neste caso, o negócio jurídico estabelecido entre Catarina e Antônio é nulo, uma vez
que, é condição para a existência do negócio jurídico que ambas as partes sejam absolutamente
capazes. Neste caso, como a condição não é respeitada, pois Catarina sendo menor impúbere, é
absolutamente incapaz, o negócio é nulo

d) Mário dá a João R$ 500,00 em pagamento de uma dívida. Esqueceu-se de que já havia feito
o pagamento dela, em outra ocasião.

Segundo o art. 171 do Código Civil, “além dos casos expressamente declarados na lei, é
anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.”

Assim sendo, entende-se que o caso exposto caracteriza-se como anulável, uma vez que
ele apresenta vício resultante de lesão. Isso porque João, o lesionário, não agiu com boa-fé,
visto que aproveitou-se do fato de Mario, o lesado, ser inexperiente, e com isso, Mario realizou
o pagamento da dívida duas vezes. Dessa forma, nota-se prestação desproporcional e
aproveitamento de inexperiência, caracterizando lesão, e por conseguinte, anulabilidade do
negócio jurídico.
Bibliografia:

Gonçalves, Carlos R. Esquematizado - Direito civil 1: parte geral - obrigações -


contratos. 10ª ed. Editora Saraiva, 2019.

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