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FATO, ATO E NEGÓCIO JURÍDICO

Parte Geral e Obrigações

Fato Jurídico É Todo acontecimento, natural ou humano e suscetível


de produzir efeitos jurídicos. Os fatos Jurídicos constituem gênero
que inclu
i eventos puramente naturais (fatos jurídicos em sentido
restrito), e atos humanos de que derivam efeitos jurídicos, quais
sejam, atos jurídicos e atos ilícitos. Tal a classificação adotada pelo
Código Civil ao considerar que, no ato Jurídico ou lícito, o efeito
jurídico deriva da vontade do agente (contratos, testamentos), ao
passo que no ato ilícito o feito independe da vontade do agente, que,
ao agir com dolo ou culpa e ocasionar dano a outrem, ocasionará
efeitos jurídicos que, em absoluto, desejou, porque sempre sujeito às
sanções legais.
ACONTECIMTOS CAPAZES DE ALTERAR OS
EFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

 Caso fortuito ou força maior são fatos capazes de modificar os


efeitos de relações jurídicas já existentes, como também de criar
novas relações de direito. São eventualidades que, quando ocorrem,
pode escusar o sujeito passivo de uma relação jurídica pelo não
cumprimento da obrigação estipulada. E o caso, por ex., de uma
tempestade que provoque o desabamento de uma ponte por onde
deveria passar um carregamento confiado a urna transportadora.
Diante de tal situação e da impossibilidade da continuação do
itinerário, a transportadora livra-se da responsabilidade pela entrega
atrasada do material. Porém, para que determinado caso fortuito ou
força maior possa excluir a obrigação estipulada em um contrato, é
necessária a observação de certas circunstâncias, tais como a
inevitabilidade do acontecimento e a ausência de culpa das partes
envolvidas na relação afetada. Caso não haja a presença de
qualquer destes requisitos, não pode haver caso fortuito ou força
maior que justifiquem o descumprimento contratual.
“Factum principis”
 é aquele fato também capaz de alterar relações jurídicas já
constituídas, porém, através da presença da intervenção do
Estado e não da ação da natureza ou de qualquer
eventualidade. Tal situação se configura quando o Estado,
por motivos diversos e de interesse público, interfere numa
relação jurídica privada, alterando seus efeitos e, por vezes,
até assumindo obrigações que antes competiam a um ou
mais particulares. Por ex. o Estado pretende construir uma
estrada que cortará o espaço físico de determinada
indústria, provocando sua desapropriação e a conseqüente
extinção do estabelecimento industrial, mediante,
obviamente, indenização. Porém, não só a indústria será
extinta como também os demais contratos de trabalho dos
empregados do local. Diante de tal situação, a autoridade
pública obriga-se a assumir as devidas indenizações
trabalhistas, conforme disposto no art. 486 da CLT.
Atos Jurídicos no Sentido Amplo

 O Ato jurídico “lato sensu”,


necessariamente, é decorrente da vontade
do homem devidamente manifestada, ou
seja, não há ato jurídico sem a devida
participação volitiva humana. Para que se
constitua um ato jurídico, o direito brasileiro
adotou a necessidade da declaração da
vontade, que pode ser expressa ou tácita.
Atos Jurídicos “Stricto Sensu”

. Os atos jurídicos no sentido estrito são


aqueles decorrentes de uma vontade
moldada perfeitamente pelos parâmetros
legais, ou seja, uma manifestação volitiva
submissa à lei. São atos que se caracterizam
pela ausência de autonomia do interessado
para auto regular sua vontade, determinando
o caminho a ser percorrido para a realização
dos objetivos perseguidos.
Defeitos dos atos Jurídicos

 Vícios do Consentimento:
 Erro
 Dolo
 Coação
 Simulação
 Fraude contra credores
 Estado de perigo
DOS VÍCIOS DE CONSENTIMENTO

 O erro ou ignorância, o dolo e a coação são


vícios da vontade que contaminam o ato
jurídico.
 Noutras circunstâncias a manifestação da
vontade encobre uma intenção diferente, que
visa a prejudicar o direito de alguém, ou fugir
às prescrições da lei. Em tais casos a vontade
fica juridicamente viciada, porque a boa-fé e
a honestidade são pressupostos de uma
vontade real, no sentido jurídico da
expressão. Também neste caso o vício atinge
os atos jurídicos, tornando-os anuláveis.
INEFICÁCIA DO ATO

Três situações podem ocorrer para a ineficácia do


ato:
 1º) a vontade não ter existido;

 2º) a vontade tenha existido, pois o interessado

desejou realmente praticar o ato, mas a sua


“vontade” estava contaminada por um dos vícios
de consentimento;
 3º) a vontade existe e funciona normalmente,

porém, desvia-se da lei ou boa fé e orienta-se no


sentido de prejudicar terceiros ou infringir o
direito.
DO ERRO E DA IGNORÂNCIA

ART. 138, CC:


 Erro é a noção falsa das coisas: crer

falso o que é verdadeiro e verdadeiro o


que é falso.
 Ignorância é a ausência de qualquer

noção, isto é, completo


desconhecimento a respeito do que se
trata.
GRAUS DE ERRO
 Existem dois graus de erro, que tanto pode ser
substancial quanto acidental.

 O erro substancial, também conhecido como essencial, é


o que sem ele o ato não se realizaria. É aquele que foi a
determinante do ato ou a sua condição.

 O erro substancial pode revestir-se de várias


modalidades, conforme se refira à natureza do ato, ao
objeto principal da declaração, à qualidade essencial ao
objeto do ato e à qualidade da pessoa a quem se refira a
declaração da vontade. Estas modalidades estão
indicadas nos artigos 139 a 144 CC.

DO ERRO SOBRE A NATUREZA DO ATO

 Dá-se erro sobre a natureza do ato,


quando se tem a intenção de celebrar um e
realiza-se outro. É o erro sobre o próprio
negócio. Como um contrato de venda na
suposição de que era locação ou alguém
que empresta um objeto e o outro recebe
como doação. Aqui a própria natureza do
ato é alterada já que a pessoa que errou
entendia realizar um ato diferente daquele
que declarou consentir.
ERRO SOBRE O OBJETO PRINCIPAL DA
DECLARAÇÃO

 Este erro ocorre sobre o objeto principal


da declaração quando o próprio corpo da
coisa não é aquele que o agente tinha em
mente, isto é, quando não se verifica a
identidade entre o objeto do ato e aquele
que o agente supunha que devia ser. Como
exemplo temos alguém que vende o prédio
sem elevador quando o comprador
supunha ser um prédio com elevador, ou a
compra de um carro de 16 válvulas que
tem apenas 8
ERRO SOBRE A QUALIDADE DA PESSOA A
QUEM SE REFIRA
 A declaração da vontade só se refere àqueles atos em
que a própria pessoa da outra parte teve consideração
especial para a declaração de vontade. Realmente, em
geral, o erro sobre a pessoa é indiferente nos contratos.

 Excepcionalmente, porém, em certos atos jurídicos, a


declaração de vontade é feita em consideração da
pessoa, atendendo-se a qualidades que ela apresenta.
Assim, por exemplo, no casamento, em que a declaração
de vontade dos nubentes se refere diretamente à pessoa,
na sucessão testamentária, no contrato de sociedade, no
contrato oneroso tendo por objeto ato infungível,
doação, dote, etc.
Para que se possa arguir erro são seus
requisitos:
 1) ser escusável, quer dizer, ter por
fundamento uma razão plausível ou ser tal
que uma pessoa de inteligência comum e
atenção ordinária o possa cometer;

 2) ser real, quer dizer, não recair sob


meras qualificações, ou, como diz o art.
142 CC, sobre indicação da pessoa ou da
coisa, quando uma e outra se podem
identificar.
DO FALSO MOTIVO – ART. 140, CC

 Vê-se logo que o artigo faz menção à uma falsa causa, que so
viciará o ato jurídico quando vier expressa como razão
determinante dele.

 O motivo dos atos jurídicos tem dois sentidos diferentes.

 Num sentido o motivo se confunde com o próprio objeto da


obrigação, é o fim visado pela parte ao realizar o negócio
jurídico e, portanto, é parte constitutiva do ato.

 Noutro sentido a causa significa os motivos do ato jurídico, isto


é, certas razões estranhas ao objeto do ato, que induzem o
agente a realizá-lo.
DO DOLO – ART 145-150, CC
 O dolo pode ser passivo ou ativo.

 Dolo é o artifício malicioso ou a manobra fraudulenta


empregada para enganar uma pessoa e levá-la a praticar
uma ação, que, sem isso, não praticaria. Este é o dolo
ativo.

 No dolo passivo ocorre uma omissão dolosa.

 Pelo conceito de dolo, este induz sempre a pessoa a um


erro, mas, nesta hipótese, não é o erro por si mesmo que
vicia o ato jurídico e, sim, a sua causa, o próprio dolo,
porque o artifício malicioso ou a manobra fraudulenta,
ou a omissão dolosa que causou o erro, tem um efeito
muito mais amplo sobre a eficácia do ato jurídico.
A ANULAÇÃO DO ATO JURÍDICO POR
DOLO
São condições de rescisão:
 I) que o dolo seja causa do ato, isto é, que a pessoa tenha sido levada a
praticar o ato por efeito do artifício malicioso ou da manobra fraudulenta e,
portanto, se não fosse o engano em que caiu, não teria celebrado o ato;

 II) que o artifício malicioso ou as manobras fraudulentas sejam obra do


contraente. Em regra assim acontece; mas, às vezes, o dolo poderá ser do
representante de uma das partes, ou mesmo de terceiros;

 III) Que o artifício malicioso ou as manobras fraudulentas sejam tais que


possam iludir a uma pessoa sensata que cuida de seus negócios com
atenção. O dolo não se presume, mas a sua prova poderá ser feita por
todos os meios admitidos em direito, inclusive por presunções. De um
conjunto de fatos pode-se deduzir, claramente, a má intenção de um
agente e, pois, pode-se verificar se tais fatos eram capazes de iludir a uma
pessoa medianamente sensata;

 IV) Que não haja uma compensação de dolos, isto é, que não hajam ambas
as partes procedido com dolo. O intuito da lei é proteger a boa-fé. Quando
as duas partes agiram maliciosamente não há o que defender.
DA COAÇÃO – art. 151-155, CC

 Coação é constrangimento, é imposição, é


violência. É a pressão física ou moral exercida
sobre alguém para induzí-lo à prática de um
ato.
 A coação deve ser encarada sob dois
aspectos: absolutamente intrínseco e
absolutamente extrínseco. Absolutamente
intrínseco é o estado de espírito em que o
agente, perdendo a energia moral e a
espontaneidade do querer, realiza o ato que
lhe é exigido. Absolutamente extrínseco é a
violência física ou moral exercida sobre a
pessoa para constrangê-la à prática do ato.
A ANULAÇÃO DE UM ATO JURÍDICO PELO DEFEITO
DE COAÇÃO ESTÁ SUBORDINADA A CERTAS
CONDIÇÕES
I) a coação há de ser tal que incuta...
 a) a gravidade da ameaça ou intimidação deve ser apreciada de
acordo com as circunstâncias personalíssimas do paciente. Para que
haja coação é preciso que o paciente se encontre em situação grave,
senão na realidade, ao menos na aparência, ou no modo de ele
compreender a situação.

 b) essa ameaça ou intimidação deve ser injusta. O detalhe é que se for


feita no exercício normal de um direito não teremos a coação. É o caso
do credor que ameaça o seu devedor com a execução do crédito na
intenção de haver o seu pagamento. Aí o credor está no exercício
regular do direito e, se o devedor, para livrar-se da execução, faz uma
dação em pagamento, ou qualquer outro negócio jurídico para solver a
obrigação, não poderá pretender anulá-lo por coação. Para que assim
se dê, é necessário que o exercício seja normal; se for anormal, será
abuso de direito e poderá constituir coação. Da mesma forma, o
simples temor reverencial não é considerado como coação. O temor
reverencial deverá vir acompanhado de ameaças, para que surja a
figura da coação.
 II) fundado temor de dano. Da ameaça ou intimidação grave, deve resultar para
o paciente fundado temor de dano, ou seja, deve dar-lhe, ao menos
subjetivamente, a impressão fundada de uma situação insuperável, de maneira
que a sua resistência acarrete dano à sua pessoa, à sua família, ou aos seus
bens. Esse fundado temor é que constitui propriamente a coação, porque é ele
que subtrai a energia moral do agente, enfraquecendo-lhe a liberdade de
querer, para arrastar-lhe às injunções do coator.

 III) dano iminente. O dano temido deve ser iminente, quer dizer, deve ser
esperado a cada momento, sem poder ser evitado com os recursos ordinários.
Em geral, a iminência do dano depende do coator, isto é, ele é que tem em suas
mãos os elementos necessários para desfechar o golpe, ou faz constar isso, para
extorquir o consentimento do paciente. Essa possibilidade de sofrer um mal, de
um momento para outro é que constitui o dano iminente.

 IV) dano igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido. Além de iminente o
dano, nosso código indica ainda que ele deverá ser, pelo menos, igual ao
receável do ato extorquido. Na apreciação desse requisito, o juiz deve ter
autonomia larga e não encará-lo literalmente, para não ser levado à prática de
injustiças, que poderiam anular legítimos interesses do direito.
DO ESTADO DE PERIGO – ART. 156 CC

São pressupostos legais da cláusula


geral:
 a)necessidade salvar-se ou a pessoa
de sua família;
 b)grave dano conhecido pela outra
parte;
 c)obrigação excessivamente onerosa.
DA LESÃO – ART. 157, CC

 “Lesão é, assim, o prejuízo resultante


da enorme desproporção existente
entre as prestações de um
contrato, no momento de sua
celebração, determinada pela premente
necessidade ou inexperiência de uma
das partes". (CARLOS ROBERTO
GONÇALVES)
A FRAUDE CONTRA CREDORES – art.
158-165, CC
 Na fraude contra credores o ato jurídico
é verdadeiro, mas a consequência dele
é prejudicar aos credores que o
realizam. Fraude, como é empregado
neste caso, é todo ato prejudicial ao
credor, por tornar o devedor insolvente
ou ter praticado em estado de
insolvência.
AS MODALIDADES DOS ATOS
JURÍDICOS.
 A cláusula que subordina o efeito do ato jurídico e evento incerto e
futuro, denomina-se condição, as quais podem ser lícitas elícitas e
potestativas.

São lícitas todas as condições que a lei expressamente não vedar.


As condições impossíveis são tidas por inexistentes, se a
impossibilidade for física. Se juridicamente impossível tornam inválidos
os atos a elas subordinados.
Em caso de condição suspensiva, enquanto esta não se verificar,
inviabiliza a aquisição do direito a que este tem em vista.

Em caso de condição resolutiva, não se realizando esta, vigirá o ato


jurídico, exercível a partir do momento deste o direito por ele
estabelecido. Uma vez verificada a condição fica extinto o direito a que
a mesma s opõe.
Considera-se porém ocorrida a condição relativamente aos efeitos
jurídicos, caso tenha sido obstado pela parte a quem a mesma
desfavorecer.
A PROVA DO ATO JURÍDICO.

 Uma vez que não subordinam-se a forma especial, são susceptíveis


de provar, nos termos do art. 136, do Código Civil. Além das
hipóteses ali enumeradas, farão, da mesma forma, prova dos atos
jurídicos, entre outras, a certidão textual, as certidões expedidas
por oficial público e os traslados, sempre escritos no vernáculo, ou
oficialmente vertidos para o idioma nacional.
Nos atos jurídicos, a prova testemunhal apresenta restrições,
dependendo do valor nos contratos, apresentando-se como
absoluta até determinado valor e, como subsidiária nos contratos
de qualquer valor.

As testemunhas serão admitidas mediante a abservação de certos
requisitos, inobservados os quais apresentarão incapacidade para
depor nessa qualidade de ato, tratando o código, de modo
especial, dos parentes e do sigilo profissional.

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