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CHIZIANE, Paulina. Niketche, uma história de poligamia.

São Paulo: Companhia das Letras,


2004.

"Paulina Chiziane nasceu em 4 de junho de 1955, na cidade de Manjacaze, em Moçambique.


Seu pai era protestante e contrário à colonização portuguesa. Apesar disso, ela fez o primário
em uma escola católica. Mais tarde, se formou na Escola Comercial de Maputo e iniciou
estudos em linguística na Universidade Eduardo Mondlane.

Antes da independência de Moçambique, ocorrida em 1975, esteve envolvida com a Frente


de Libertação de Moçambique (Frelimo). No período da guerra civil, trabalhou junto à Cruz
Vermelha. Com a pacificação, em 1992, integrou o Núcleo das Associações Femininas da
Zambézia (Nafeza). Ganhou o Prêmio José Craveirinha pelo romance Niketche — uma
história de poligamia, publicado em 2002."

2. A obra é de leitura fácil ou difícil? Justifique

A obra é de leitura fácil pois a obra conta uma história, um romance que desde as primeiras
escrituras das páginas da obra, já nos deixa com uma vontade de querer saber qual é o final
da historia, ela nos envolve e principalmente eu me identifico muito com a historia.

3. Indique a temática da obra. Justifique

O romance fala sobre feminismo, tem uma clara mensagem para todas as mulheres serem
"mais amigas , mais solidárias" para se unirem numa só força e lutar uma batalha comum de
independência e de amor justo e leal. No entanto a autora que fala através da voz de Rami,
declara abertamente ser contra a poligamia. As mulheres unidas nunca podem ser vencidas. A
união que as mulheres representam no livro é a união nacional. A solução apresentada no
final do livro é uma alternativa feminista ao sistema nacional de tipo patriarcal.

4.Actualidade da obra. Razões:

A obra é actual pois verificamos uma necessidade de união das mulheres do norte ao sul. O
problema de poligamia é também é uma prática muito coorrente na nossa sociedade. Algumas
mulheres se submetem a tais praticas por não terem opcao e outras por conta da religião que
admite a poligamia, concretamente na religião muçulmana, os homens podem casar mais de
uma mulher.

5. Localize a história no espaço e no tempo. Justifique:

O tempo da narrativa não é especificado. No entanto, fica claro que a ação ocorre em um
momento posterior à guerra civil moçambicana, isto é, após o ano de 1992.

Pressupõe-se
Quanto ao espaço, as mulheres de Tony se originam de localidades moçambicanas como
Matutuíne, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado, mas a ação principal se passa no sul de
Moçambique, na cidade de Maputo.

6.Teça considerações sobre os episódios interessantes. Justifique

Percebendo a penúria em que ainda viviam as outras quatro mulheres, principalmente em


relação ao sustento de seus lares, a protagonista vai percebendo que o caminho para a
autonomia é longo, demandando atividades que possam liberá-las economicamente,
rompendo com a relação de dependência financeira que as prendem a Tony.

“Um dia disse às minhas rivais: venham, venham todas exigir o pão quando vos falta,
despertar o Tony à noite se por acaso aqui estiver quando as crianças têm febre, e quando,
na escola, os professores exigem a presença do encarregado da educação. Venham todas em
desfile, ele costuma estar e casa só à hora do almoço. Vocês são as suas mulheres e os
vossos filhos são irmãos dos meus filhos.

Este e um episodio impartante pois demostra o femenismo e a união das mulheres.

7. Apresente as personagens mais salientes e justifique porque as achas importantes:

A obra Niketche conta a história de Tony, um alto funcionário da polícia, e sua mulher, Rami,
casados há vinte anos. Certo dia, Rami descobre que o marido é polígamo: tem outras quatro
mulheres e vários filhos com cada uma. As esposas de Tony estão espalhadas pelo país: em
Maputo, em Inhambane, na Zambézia, em Nampula, em Cabo Delgado. Numa decisão
surpreendente, Rami decide ir atrás de cada uma dessas mulheres. Uma das personagens mais
salientes e a Rami, pois Niketche não conta a história de Tony, mas sim a de Rami. É a sua
voz e as suas palavras que constroem a narrativa, apresentam-nos todas situações e as
personagens e é através de sua mediação que conhecemos o marido infiel e as outras
mulheres: Julieta, Lu, Saly e Mauá. O tony também torna-se um personagem saliente pois e o
único protagonista macho.

8. Reconto da história da obra:

O livro se abre com uma situação problemática: o filho de Rami é acusado, injustamente, de
danificar o vidro de um carro. Ao tentar resolver a situação com o proprietário do veículo e
também com a criança, a personagem se vê confrontada, conscientemente, com a ausência
constante do marido.

Ao precisar justificar publicamente a ausência de Tony, Rami percebe também a situação


dolorosa de suas vizinhas. O primeiro movimento da personagem é, no entanto, de buscar a
culpa. Quem eram os responsáveis dessas “fugas” e dessas ausências? Apesar de cogitar
culpar o marido pelo seu sofrimento, Rami volta-se para si mesma, examina-se ao espelho,
culpa-se.

“Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras negras no meu
rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tenho andado a chorar muito por estes dias, choro até
demais! Olho bem para a minha imagem. Com esta máscara de tristeza, pareço um
fantasma, essa aí não sou eu.”
Porém, apesar da tristeza e do cansaço, a personagem consegue, de alguma forma, entrever
um vislumbre da sua força e de sua beleza. Pacifica-se, por ora. Mais tarde na narrativa, a
personagem explica, em um diálogo com outra mulher, que, desde sua infância, ela nunca
havia sido ensinada a ter amor-próprio, a amar-se e respeitar-se. Pelo contrário, foi-lhe
ensinado a subserviência, a obediência, a naturalização das hierarquias que colocam as
mulheres à margem de tudo, em um segundo plano onde são permanentemente coadjuvantes
de suas próprias vidas

O romance é narrado em primeira pessoa pela personagem Rami e começa com um incidente,
isto é, Betinho, seu filho caçula, quebra o vidro de um carro. O dono do automóvel fica muito
bravo. Ela pede desculpas e promete que seu marido, Tony, que é comandante da polícia, vai
resolver o problema.

A narradora-personagem, todo o tempo, recorre ao fluxo de consciência para refletir sobre a


sua condição de mulher moçambicana. Ela não é a única mulher de Tony, ele tem filhos com
uma tal Julieta. Rami decide confrontar sua rival, vai até a casa dela e diz que está ali para
buscar o marido.

A protagonista não consegue se conter, e as duas mulheres iniciam uma luta corporal. Rami
leva a pior, fica toda machucada e, surpreendentemente, Julieta cuida dos ferimentos da
outra. Elas conversam, e a narradora conhece a história de sua rival, que não vê Tony há sete
meses. Assim, Rami se compadece da outra e, mais tarde, reflete:

Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-se mulher


com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão. Esposa é água que se serve
ao caminhante, ao visitante. A relação de amor é uma pegada na areia do mar que as ondas
apagam. Mas deixa marcas. Uma só família pode ser um mosaico de cores e raças de acordo
com o tipo de visitas que a família tem, porque mulher é fertilidade. É por isso que em muitas
regiões os filhos recebem o apelido da mãe. Na reprodução humana, só a mãe é certa. No sul,
a situação é bem outra. Só se entrega a mulher ao irmão de sangue ou de circuncisão quando
o homem é estéril.

Na sequência, Rami decide conhecer Luísa, a terceira mulher de Tony. Ao chegar à casa da
outra, novamente se envolve em luta física. Acabam sendo presas e se tornam amigas. Então,
Rami vai conhecer Saly, a quarta mulher de Tony. E, depois, a Mauá, a quinta mulher do
marido. Diante disso, a narradora conclui:

O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu, Rami, sou a
primeira dama, a rainha mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando o posto de segunda
dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de terceira dama. A Saly a apetecida, é a quarta.
Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. O nosso lar é um polígono
de seis pontos. É polígamo. Um hexágono amoroso.

A partir daí, Rami passa a refletir sobre a poligamia e os papéis sociais. Então, é convidada
para uma festa de aniversário do filho da Luísa, conhece o amante da outra e acaba se
relacionando sexualmente com ele. E as duas passam a dividir o mesmo amante, cujo nome é
Vito.
Rami decide reunir todas as mulheres do marido para discutirem a situação delas. A
narradora propõe que elas se unam. Assim, no aniversário de 50 anos de Tony, Rami convida
as mulheres de seu esposo e os filhos que elas tiveram com ele. Tony fica surpreso,
envergonhado, com raiva e acaba fugindo.

Então, elas decidem fazer uma “escala conjugal”, de forma que Tony passa a ficar uma
semana em cada casa, mas ele acaba se envolvendo com outra mulher, e isso preocupa as
outras cinco. E, ao perceber a liderança de Rami, Tony resolve se divorciar dela, por
vingança, como punição.

A mulher não aceita o divórcio, mas logo surge a notícia de que Tony foi atropelado e
morreu. Porém, o corpo do homem morto está irreconhecível. Segundo a tradição, Rami se
entrega a Levy, irmão de seu esposo, mas Tony volta e descobre que o deram por morto.

Finalmente, Luísa abandona Tony, se casa com Vito e convida Rami para ser a “segunda
esposa” dele. As mulheres restantes decidem, então, ocupar o lugar vago de Luísa com uma
nova mulher para Tony, a Saluá. Mas Tony a rejeita e, em seguida, descobre que Rami vai ter
um filho de Levy e, assim, a dança de amor (niketche) chega ao seu fim.

9. Estabeleça uma relação intertextual entre esta obra e outra que tenhas lido

A representação da família, não é, pois, por acaso que a família, afinal tão antiga como a
própria humanidade, enquanto microcosmos social e comunitário, está tão presente em
qualquer uma das narrativas que escolhemos para esta reflexão. Se em «O totem» de Aldino
Muianga se reconhece um incontornável sentido moralizador da narrativa, com indisfarçáveis
apelos à salvaguarda dos valores, das tradições e dos costumes, em «Aconteceu em Saua-
Saua» de Lília Momplé há uma denúncia e uma condenação a uma ordem política e social
insustentável gerada, por exemplo, pela dominação colonial.
Por sua vez, tanto nos contos de Ungulani e de Mia Couto, respectivamente «O exorcismo» e
«Saíde o Lata de Água», como no romance Niketche de Paulina Chiziane, o que prevalece é a
constatação da degradação de um conjunto de valores que põem em causa a dignidade do ser
humano como um todo, mas sempre indissociável de uma dimensão social, de uma dimensão
colectiva.
Condição que tem necessariamente a ver com a visão, ou as visões do do mundo que
subjazem esta arte primordial de retenção do fluxo de existência nas suas inumeráveis
realizações. Se a narrativa moderna traduz superiormente a fragmentação e a solidão
fundamental do sujeito produto da modernidade, na arte de contar dos africanos, mesmo
debaixo da influência dessa mesma modernidade, subsistem motivações que resgatam uma
envolvente e plurívoca ideia de totalidade. Isto é, o ser humano representado mesmo na sua
dimensão mais íntima e subjectiva surge sempre imerso no poderoso manto da totalidade
social.

10. Apresente outros aspectos que achaste preponderantes durante a leitura:

Outros aspectos importantes e que por força dos apelos das vivências e da(s) oralidade(s) de
que se tece o quotidiano de onde surge, quer pelo ainda marcante sentido comunitário de
existência que evoca, a narrativa africana é uma alegoria da forma como a literatura constrói
a totalidade seja ela nostálgica ou utópica, seja ela o devir de todas as imprevisibilidades e de
todas as provações. E é aí onde a narrativa de vocação africana afirma a sua peculiaridade.
Ora recriando e repensando modos de existir de um espaço vital onde o ético, o político, o
cultural, o religioso e o social se dissolvem num amálgama em constante transformação, ora
reiventando a própria tradição de narrar adicionando-lhe elementos únicos e, por conseguinte,
emblemáticos.

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