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TRABALHO E VIDA ECONÓMICA

1.INTRODUÇÃO
Tal como tantos outros aspectos da sociedade, o trabalho e a
vida económica estão a conhecer enormes transformações. Ao
que parece, somos sistematicamente confrontados com o
discurso do “fim das carreiras”, com notícias sobre fusões
empresariais e redução do número de efectivos, e discursos
contraditórios sobre o impacto das tecnologias de informação
no local de trabalho. Uma forma de complementar a
demissão da vida económica actual, consiste em considerar
a trajectórias profissionais.
O sociólogo Richard Sennett analisa este aspecto na sua
recente investigação sobre os efeitos do trabalho
contemporâneo no carácter pessoal. Sennett compara e
contrasta as vidas e carreiras de país e filhos para focar a
transformação ocorrida na experiência do trabalho (Sennett
1998).
Sennett traçou o perfil de Enrico, um imigrante italiano
que passou os seus anos de trabalho como porteiro num
edifício de escritórios na baixa desta cidade. Embora não
gostasse das precárias condições de trabalho e do baixo
salário, o emprego proporcionava a Enrico um sentido de
respeito por si próprio e uma forma “honesta” de cuidar
da sua mulher e filhos.
Durante quinze anos, Enrico limpou toalhas e esfregou o
chão dia após dia até conseguir pagar uma casa num
subúrbio da cidade. Enrico soube com bastante
antecedência quando se iria reformar e quanto dinheiro
teria à sua disposição. Tal como Sennett notou, o trabalho
de Enrico “tinha um propósito único e durável, servir a
sua família.
Neste capítulo iremos analisar a natureza do
trabalho nas sociedades modernas e observar
as mudanças que actualmente mais afectam a
vida económica. Ao fazer isso, iremos então
considerar com mais detalhe alguns dos
desafios e oportunidades com que se
confrontam Rico, Jeanette e muitos outros
indivíduos que têm de lidar com novas e
"flexíveis" condições de trabalho.
Definição do trabalho
Para a maioria dos indivíduos o trabalho é, de todas as actividades, a
que ocupa a maior parte das suas vidas. Associamos, frequentemente,
a noção de trabalho a escravidão - um conjunto de tarefas que
pretendemos minimizar e, se possível, a que queremos escapar.
Nas sociedades modernas ter um emprego é importante para se
preservar o respeito por si próprio. Mesmo quando as condições de
trabalho são relativamente desagradáveis e as tarefas a realizar
monótonas, o trabalho tende a ser um elemento estruturante na
constituição psicológica das pessoas e no ciclo das suas actividades
diárias.
O trabalho é a realização de tarefas que envolvem esforço físico e
mental, com o fim de produzir bens e serviços para a satisfação das
necessidades humanas.
Há diversas características do trabalho que são relevantes a este
respeito: Dinheiro, nível de actividade, variedade, estrutura temporal,
contactos sociais e identidade pessoal.
Trabalho remunerado e não
remunerado
Consideramos muitas vezes como trabalho apenas aquele que é
remunerado. No entanto, este é um ponto de vista demasiado
simplista. O trabalho não remunerado (como o trabalho
doméstico ou a reparação do próprio carro) fazem parte da vida
de muitas pessoas. Muito do trabalho realizado na economia
informal não é registado directamente nas estatísticas oficiais de
emprego.
Podemos definir o trabalho, remunerado ou não, como a
realização de tarefas que envolvem o dispêndio de esforço
mental e físico, com o objectivo de produzir bens e serviços para
satisfazer necessidades humanas. Uma ocupação ou emprego é
um trabalho efetuado em troca de um pagamento ou salário
regular. O trabalho é, em todas as culturas, a base da economia.
O sistema económico consiste em instituições que tratam da
produção e distribuição de bens e serviços.
Tendências no sistema ocupacional
Nas sociedades modernas, o sistema económico depende da
produção industrial. Os sistemas de produção pré-modernos
baseados sobretudo na agricultura. Na sociedade modernas, pelo
contrário, só uma pequena percentagem da população trabalha na
agricultura e o próprio cultivo da terra se tornou industrializado.
A indústria moderna está em constante transformação, isso é mais
caracterizado através do desenvolvimento tecnológico. A natureza da
produção industrial também muda devido a influências sócias e
económicas mais amplas. Se considerarmos o sistema ocupacional
dos países industrializados durante o século XX, podemos observar
profundas alterações impulsionadas pela economia global e pelos
avanços tecnológicos no tipo de trabalho desempenhado.
E no início do século, o mercado de trabalho era denominado pelo
manual de “colarizinho azul” tendência que, posteriormente, viria
sofrer uma inversão no sentido de crescimento de trabalho de “
colarizinho branco” no sector dos serviços.
Economia do conhecimento
O autor afirma que, uma economia do conhecimento é aquela em que
grande parte da força de trabalho está envolvida não na produção
material ou distribuição de bens materiais, mas na sua concepção,
desenvolvimento, tecnologia, marketing, vendas e serviços.
O caso de Enrico e do seu filho Rico, descrito no início deste capítulo,
fornece uma ilustração clara desta mudança para a economia do
conhecimento. O trabalho de Enrico era típico de muitos empregos da
era industrial, na medida em que envolvia trabalho físico que produzia
resultados tangíveis (um edifício de escritórios limpo e ordenado).
Rico, em contrapartida, é um trabalhador do conhecimento - o seu
trabalho como consultor está centrado no uso e aplicação de
informação. Não produz directamente nada que possa ser observado ou
medido de forma tradicional
A divisão do trabalho e a dependência
económica
O trabalho divide-se em numerosas ocupações diferentes, em que as
pessoas se especializam. Nas sociedades tradicionais, o trabalho não
agrícola baseava-se em ofícios, cujo domínio perfeito era adquirido
depois de um longo período de aprendizagem. O trabalhador executava
normalmente todas as fases do processo de produção, do princípio ao
fim. Por exemplo, ao fabricar uma charrua, um ferreiro teria de forjar
ferro, moderá-lo e finalmente montar a charrua.
Com o desenvolvimento da produção industrial moderna muitos dos
ofícios tradicionais desapareceram , sendo substituídos por
especialistas que operam no âmbito de processos de produção mais
amplos. Um electricista, actualmente a trabalhar numa indústria, pode,
por exemplo, inspeccionar e reparar apenas algumas partes de uma
determinada máquina, enquanto outras pessoas se ocupam de outras
partes e de outras máquinas.
Nas sociedades modernas antes da industrialização, a maior
parte do trabalho tinha lugar em casa, sendo realizado de forma
colectiva por todos os membros do agregado familiar. Os
avanços na tecnologia industrial, como a maquinaria que opera
a electricidade e a carvão, contribuíram para a separação entre
o trabalho e a casa.
O contraste entre a divisão do trabalho nas sociedades
tradicionais e nas modernas é verdadeiramente extraordinário.
Mesmo nas maiores sociedades tradicionais, não havia
normalmente mais do que vinte ou trinta ofícios principais,
juntamente com escassas ocupações especializadas, como as
de negociante, soldado ou padre.
Para Marx, a mutação para a industrialização e o trabalho
remunerado iria por certo desembocar na alienação entre os
trabalhadores. Uma vez empregados numa fábrica» os
trabalhadores perderiam todo o controlo sobre o seu trabalho.
Defendia que os trabalhadores num sistema capitalista adoptam
eventualmente uma orientação instrumental face ao trabalho,
vendo-o simplesmente como uma forma de ganhar a vida.
Durkheim tinha uma perspectiva mais optimista sobre
a divisão do trabalho, apesar de também reconhecer
os seus efeitos potencialmente nocivos. De acordo
com Durkheim, a especialização de papéis iria
fortalecer a solidariedade social no âmbito das
comunidades. Em vez de viverem em unidades
isoladas e auto-suficientes, as pessoas estariam
ligadas entre si por laços de dependência mútua. A
solidariedade seria reforçada através de
relacionamentos multidireccionais de produção e
consumo.
Durkheim viu este arranjo como sendo altamente
funcional, apesar de também estar consciente de a
solidariedade social poder ser perturbada se a
mudança ocorresse demasiado depressa. Chamou a
este sentido resultante de falta de normas anomia
O Taylorismo e o Fordismo

Nos finais do século XVIII, Adam Smith, um dos fundadores da


economia moderna, identificou várias vantagens, em termos do
aumento de produtividade, resultantes da divisão do trabalho. A
sua obra mais famosa, A Riqueza das Nações *, abre com uma
descrição da divisão do trabalho numa fábrica de alfinetes. Taylor
estava preocupado com a melhoria da eficiência industrial, mas
deu pouca atenção aos resultados dessa eficiência. A produção
em série necessita de mercados de massa, e o industrial Henry
Ford foi dos primeiros a perceber esta ligação.
O Fordismo, um desenvolvimento dos princípios de gestão de
Taylor, é o nome usado para designar o sistema de produção em
série associado à criação de mercados de massa. Enquanto o
Taylorismo se centrou na forma mais eficiente de executar tarefas
separadas, o Fordismo avançou um pouco mais, ligando essas
mesmas tarefas outrora separadas num sistema de produção
fluido e contínuo. Uma das inovações mais significativas de Ford
foi a construção de uma linha de montagem móvel.
As mulheres e o local de trabalho
Muitas vezes as mulheres tinham uma grande influência dentro do lar
em consequência da sua importância nos processos económicos,
mesmo sendo excluídas do mundo masculino da política e da guerra.
Com o tempo e o progresso da industrialização, estabeleceu-se uma
divisão crescente entre casa e local de trabalho. As mulheres vieram a
ser associadas aos valores “domésticos”, sendo responsáveis por
tarefas como o cuidado das crianças, a manutenção da casa e a
preparação da comida para a família.

As taxas de emprego da mulher fora do lar, em todas as classes, eram


bastante baixas mesmo já bem entrado o século XX. Ainda em 1910,
na Gra-Bretanha, mais de um terço das mulheres com emprego eram
criadas ou empregadas domésticas. A força de trabalho feminino
consistia essencialmente em jovens mulheres solteiras, cujos salários,
quando trabalhavam em fábricas ou escritórios, eram enviados
directamente para os pais. Ao casar retiravam-se da força de trabalho,
dedicando-se apenas às obrigações familiares.
O género e as desigualdades no trabalho
Apesar de possuírem igualdade formal em relação aos
homens, as mulheres são ainda alvo de uma série de
desigualdades no mercado de trabalho. Nesta secção,
analisaremos três das principais desigualdades que as
mulheres enfrentam no trabalho: a segregação
ocupacional, a concentração em empregos a tempo
parcial e a disparidade de remunerações.(ESRC, 1997)
A segregação ocupacional em função do género é um
dos factores principais da persistência de uma
disparidade de salários entre homens e mulheres.
Apesar do enraizamento da segregação ocupacional e da
disparidade salarial, há sinais de que as desigualdades
extremas de género se estão a atenuar e de que as
atitudes que as sustentam continuam em mudança.
Divisão domestico de trabalho
O trabalho doméstico tem sido tradicionalmente encarado
como o domínio das mulheres, enquanto o domínio do
“trabalho real” fora de casa era reservado aos homens.
Neste modelo convencional, a divisão doméstica do
trabalho - a forma como as responsabilidades domésticas
são partilhadas entre os membros do agregado familiar -
era bastante clara: as mulheres dedicavam-se mais, por
vezes de forma exclusiva, às tarefas domésticas,
enquanto os homens “sustentavam” a família com o seu
salário.
O período de desenvolvimento da separação entre “casa”
e “trabalho” também assistiu a outras mudanças. Antes
das invenções e equipamentos proporcionados pela
industrialização terem influenciado a esfera doméstica, o
trabalho em casa era difícil e penoso.
A Precarização do trabalho
As transformações profundas que ocorrem
actualmente no mercado de trabalho enquadram-
se na transição de uma economia baseada na
indústria para uma economia baseada nos serviços.
A difusão das tecnologias de informação está
também a provocar transformações na estrutura
das organizações, no tipo de gestão utilizado e na
forma como as tarefas são distribuídas e
executadas.
Os trabalhadores, em diversos tipos de ocupações,
vivem hoje a precarização do trabalho, um
sentimento de receio a respeito da estabilidade
futura da sua posição e do seu papel no local de
trabalho.
O fenómeno da precarização do trabalho
tornou-se um dos principais tópicos de debate
no âmbito da sociologia do trabalho em
décadas recentes. O esforço no sentido da
eficiência e do lucro faz com que os indivíduos
com poucas qualificações - ou as qualificações
“erradas” - sejam relegados para empregos
precários e marginais, vulneráveis às mudanças
nos mercados globais. Apesar dos benefícios
trazidos pela flexibilidade no local de
trabalho, vivemos hoje numa cultura de
“contratação e despedimento”, onde a ideia
de um “emprego para toda a vida” já não tem
cabimento.
Efeitos nocivos para precarização
de trabalho
O Inquérito sobre a Precarização e Intensificação do Trabalho
observou que, para muitos trabalhadores, a precarização do trabalho
consiste em muito mais do que o medo do desemprego. O estudo
revelou que, à medida que as estruturas organizacionais se
desburocratizam e que ganha terreno a tomada de decisão no local
de trabalho, também se exige dos trabalhadores uma maior
responsabilização no trabalho.
Um segundo aspecto nocivo da precarização do trabalho diz respeito
à vida pessoal dos trabalhadores. O estudo observou uma forte
correlação entre a precarização do trabalho e a fragilidade da saúde.
Esta ligação é fundamentada por dados do Inquérito aos Agregados
Domésticos Britânicos, o qual revela que a saúde física e mental dos
indivíduos se deteriora com episódios de precarização laboral
prolongada. Em vez de se adaptarem às condições precárias, os
trabalhadores permanecem ansiosos e em stress constante.
(Burchell et al. 1999).
pela atenção
dispensada!
 Duvidas;
 Sugestões e
 Acréscimos.

“As qualidades do bom trabalho não são as


qualidades do bom carácter”.
(A. Giddes. 2008)

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