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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS

SUMÁRIO
MÓDULO 01

Unidade de Aprendizagem 5........................................33

5 Relações e vínculos humanos na modernidade:


trabalho e família...................................................33

BIBLIOGRAFIA.......................................................41

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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS

Unidade de Aprendizagem 5

5 Relações e vínculos humanos na modernidade: trabalho e família

OBJETIVOS

MÓDULO
01
1 Analisar os impactos da modernidade sobre o trabalho

2 Introduzir conceitos básicos das Ciências Sociais sobre família

3 Suscitar reflexãos sobre as transformações na estrutura


dos vínculos familiares no contexto da modernidade

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Faz alguns anos, tempo que se usava TV por assinatura e nãohavia ainda o streaming,
estava zapeando pelos canais e parei num canal no qual passava um filme italiano. A cena
era a seguinte: uma jovem passava apressada e um tanto angustiada passava pela Fontana
di Trevi. Não parou para jogar a moedinha e fazer um desejo, como é tradição. Ela entrou
numa casa nas proximidades da famosa Fonte. A sala era mal iluminada, e ela assentou-se,
arrumou a bolsa no colo e depois de alguns instantes entrou um homem e se assentou. Era
um mago, um adivinhador que diante diante dele uma bola de cristal. Olhou firmemente (e
com um ar de charlatão) e disse três palavras apenas: lavore, salute o amore?

Desliguei a televisão e fiquei ali sentado, por alguns minutos pensando: tantos anos
estudando o comportamento humano, a sociedade, a história e o mago do filme havia resu-
mido todas as lutas humanas em três palavras: lavore, salute o amor? Em português: tra-
balho, saúde ou amor? E não é que ele tinha razão. Os problemas e lutas dos seres humans
estão sempre numa dessas áreas: trabalho, saúde e amor.

A proposta dessa unidade de aprendizagem é lançar um olhar a partir das Ciências


Sociais para essas dimensões da vida humana. Na unidade anterior já foi examinado o
tema do trabalho e da tecnologia sob o viés da sociedade do cansaço. Nessa unidade lan-
çaremos outros olhares sobre o tema do trabalho e somaremos a ele o exame dos vínculos
humanos, especialmente no tema da família e também o tema do lazer, do tempo livre.
Como já tratamos do tema do adoecimento na unidade anterior, deixaremos de lado o tema
da saúde.

É importante frisar que metodologicamente a leitura apresentada busca a objetivi-


dade, isso para que seja feita da melhor forma possível. Entretanto, no contexto do curso

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teológico o objetivo é que a leitura da realidade feita pelas Ciências Sociais seja utilizada
para intervenções à luz dos valores cristãos.

Mãos à obra.

Definição de trabalho

Em todas as culturas o trabalho está na base da vida social. O trabalho é a execução


de atividades que exigem o emprego de esforço mental e físico e cuja finalidade é a pro-
dução de bens e serviços que satisfaçam as necessidades humanas. A categoria trabalho
abrange tanto as atividades remuneradas quanto as não remuneradas. Uma das principais
características das sociedades modernas é a transformação do trabalho em emprego re-
munerado. Embora o trabalho não-remunerado não tenha desaparecido - continua a existir
por exemplo, na forma do trabalho doméstico ou mesmo do trabalho voluntário - a grande
maioria dos indivíduos no mundo moderno obtém os recursos econômicos para sua manu-
tenção por meio de um emprego remunerado.

O trabalho, nas sociedades modernas, exerce um papel fundamental na construção


da identidade social dos indivíduos. Deste modo, o tipo de trabalho e a renda que se obtém
por meio dele exercem forte influência sobre o lugar de cada indivíduo na sociedade, sobre
as relações sociais que estabelece com outras pessoas e sobre a sua própria auto-estima.

Compreensão do termo do ponto de vista sócio-político-econômico

O trabalho está sempre inserido num sistema econômico. No sistema capitalista


moderno o trabalho é essencialmente industrial e urbano. Apenas uma reduzida parcela
da população permanece vinculada à agricultura ou residindo na área rural. O processo
de transferência da mão de obra trabalhadora do campo para a cidade, ocorrido a partir da
Revolução Industrial do século XVIII, foi sempre marcado por violência. Com a mecaniza-
ção das fazendas as pessoas precisam partir em busca do trabalho na cidade, mas sem
qualificação, nada lhes garante que encontrarão trabalho ou que, caso o encontrem, a re-
muneração seja suficiente para sua manutenção. A dimensão social do trabalho reforçou a
convicção de que a relação trabalhista não pode ser relegada apenas à esfera econômica.
A esfera política deve exercer seu papel para que o trabalho seja visto como um direito e
para que as condições nas quais é exercido sejam condizentes com a dignidade humana. O
trabalho como direito foi consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem das
Nações Unidas nos seguintes termos: Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego
(Art. 23). Desde então, a grande maioria dos países tem desenvolvido a noção de trabalho
como direito e atribuído ao Estado um papel de regulação das relações trabalhistas e de
proteção ao trabalhador.

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PROPÓSITO DO TRABALHO

PARA PENSAR
Qual é o propósito do trabalho? Aqueles que estão tentando de-
senvolver uma compreensão cristã a esse respeito consideram,
em primeiro lugar, a Criação. A Queda fez com que alguns tipos
de trabalho se tornassem tediosos (o solo foi amladiçoado e
seu cultivo se tornou possível somente por meio do trabalho
pesado e do suor), mas o trabalho em si é uma conquência da nossa criação à ima-
gem de Deus. O próprio Deus é representado em Gênesis 1 como trabalhador. Seu
plano criativo se desenrolou dia a adia, ou estágio a estágio. Alé do mais, quando viu
o resultado do seu trabalho, declarou-o como sendo “bom”. Ele sentiu-se plenamente
satisfeito com o trabalho que havia feito. Seu último ato, antes de descansar no séti-
mo dia, foi criar os seres humanos e, ao fazê-lo, fez deles trabalhadores também. Deu
a eles uma parte do seu próprio domínio sobre a terra e disse-lhes para exercerem
seus dons criativos em subjugá-la. Assim, desde o princípio homens e mulheres têm
sido mordomos privilegiados de Deus, comissionados a guardar e desenvolver o meio
ambiente em seu nome.

(STOTT, J. Os cristãos e os desafios contemporâneos. Viçosa: Ultimato, 2014, p. 227)

História das relações de trabalho

Antes da industrialização a maior parte do trabalho era realizado em casa e o traba-


lhador dominava todas as etapas do processo de confecção de um produto. O trabalho na
período industrial moderno produziu duas grandes mudanças: saída do trabalho da casa
para a fábrica e a divisão do trabalho em partes a serem executadas por indivíduos diferen-
tes, conhecida também como divisão do trabalho. A divisão do trabalho aumentou a pro-
dutividade de modo espantoso, mas foi responsável pela alienação dos trabalhadores. Karl
Marx salientou que o trabalhador perdeu o controle sobre o processo produtivo e tornou-se
apenas mais uma peça na engrenagem da maquinaria industrial. O taylorismo e o fordismo,
como sistemas que procuram extrair o máximo da divisão industrial do trabalho, são as
principais expressões da submissão dos seres humanos às máquinas. O ritmo de produção
foi acelerado e como conseqüência o ser humano foi submetido ao ritmo acelerado das
máquinas. Marx completava a explicação do processo de alienação destacando que, de um
lado o, trabalho alienado aumentava a produção industrial e a riqueza dos proprietários das
fábricas e, de outro lado, aumentava a insatisfação dos trabalhadores por serem reduzidos
a um apêndice das máquinas.

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A crítica das relações de trabalho, inaugurada no século XIX, propiciou a organização


de movimentos de reinvindicação de melhorias para os trabalhadores. Destes movimentos
surgiram os sindicatos e as políticas públicas ligadas ao trabalho. Diversas conquistas fo-
ram feitas (redução da jornada de trabalho, direito à greve, condenação do trabalho infantil,
licença maternidade etc.), mas a essência das relações de trabalho nas economias capita-
listas não foi alterada.

Tendências no mundo do trabalho

A partir da década de 60 do século passado uma série de mudanças começaram a ocor-


rer no mundo do trabalho. Para caracterizar o conjunto de mudanças que estavam ocorrendo
surgiram dois termos: sociedade pós-industrial (1967) e sociedade da informação (1982).

Daniel Bell criou o termo sociedade pós-industrial para indicar, no caso dos EUA e de
outros países desenvolvidos, a transição de uma economia onde a maioria dos empregos
estava indústria para uma economia na qual a maior parte dos empregos encontrava-se no
setor de serviços, principalmente nos serviços relacionados com saúde, educação, lazer,
pesquisa e administração. As indústrias continuam a existir, mas por conta da revolução
tecnológica geram cada vez menos empregos diretos. O termo sociedade da informação
foi popularizado por John Naisbitt em seu livro Megatrends (1982). Naisbitt continuava tra-
balhando dentro das referências de Bell acentuando, entretanto, que a informação passou
a ser o recurso estratégico numa economia pós-industrial.

O novo lugar da informação na produção ensejou novas experiências no mundo do


trabalho. Essas novas experiências tinham o objetivo comum de superar as limitações do
modelo inflexível de trabalho criado pelas linhas de montagem industrial. Produção flexível,
produção em grupo, trabalho em equipe são algumas das experiências feitas na busca de
adaptação do trabalho aos novos tempos. Não obstante às inovações tecnológicas e os
esforços de algumas experiências para flexibilização do trabalho, constata-se que os tra-
balhadores, com as novas tecnologias de informação, estão prolongando cada vez mais a
jornada de trabalho. Em muitos casos a jornada de trabalho pode chegar a 60 ou mais horas
de trabalho semanal.

As mulheres e o trabalho

Um capítulo especial do trabalho no mundo moderno diz respeito ao papel das mulhe-
res. Com a tendência à diminuição no número de filhos por casais e com o aumento da es-
colaridade as mulheres estão buscando com maior freqüência o trabalho fora dos limites
da casa. Todavia, persistem ainda desigualdades relacionadas ao gênero. Duas delas são
mais freqüentes: segregação ocupacional e disparidade salarial. A segregação ocupacional
diz respeito ao fato de cargos de direção ficarem na sua maioria com os homens, ou ainda,

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de algumas ocupações (cargo de secretaria, enfermagem, serviço social, cuidado de crianças


etc.) serem reservadas quase que exclusivamente às mulheres. A disparidade salarial apare-
ce naquelas ocupações em que mulheres, em condições de igualdade com os homens em
matéria de qualificações, obrigações e desempenho, recebem remuneração inferior.

Desemprego
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) define desemprego nos seguintes ter-
mos: um desempregado é um indivíduo que não possuindo um emprego, têm disponibilida-
de para iniciar no trabalho dentro de duas semanas e que buscou, sem êxito, um emprego
no mês anterior. Duas distinções podem ser feitas ainda: o desemprego temporário que
compreende aqueles indivíduos que estão formados e buscam ingressar no mercado de
trabalho ou aqueles que estão numa fase de recolocação; desemprego estrutural diz respei-
to às mudanças na economia que fazem com que determinadas profissões desapareçam,
seja por conta das inovações tecnológicas ou porque os produtos gerados naquele sistema
ocupacional passaram a ser importados de uma outra localidade do globo. Os índices de
desemprego estão sempre em oscilação. No Brasil os índices registrados pelo Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) têm oscilado nas últimas duas décadas entre 6% e
12% da população economicamente ativa.
PARA PENSAR

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) E TRABALHO

A IA poderia ajudar a criar novos empregos humanos de outra


maneira. Em vez de os humanos competirem com a IA, poderiam
concentrar-se nos serviços à IA e na sua alavancagem. Por exem-
plo, a substituição de pilotos humanos por drones eliminou alguns
empregos, mas criou muitas oportunidades novas em manuten-
ção, controle remoto, análise de dados e segurança cibernética. As Forças Armadas dos
Estados Unidos precisam de trinta pessoas para operar cada drone Predator ou Reaper
sobrevoando a Síria, enquanto a análise das informações coletadas por ele ocupa pelo
menos mais oitenta pessoas. Em 2015 a Força Aérea dos Estados Unidos não contava
com uma quantidade suficiente de humanos treinados para preencher todas essas posi-
ções, e enfrentava, ironicamente, uma crise para tripular suas aeronaves não tripuladas.
Se for assim, é possível que o mercado de trabalho em 2050 se caracterize pela coope-
ração, e não pela competição, entre humanos e IA. Em campos que vão do policiamento
à atividade bancária, equipes formadas por humanos e IA poderiam superar o desempe-
nho tanto de humanos quanto de computadores. (HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o
século 21 (Portuguese Edition) (p. 49). Companhia das Letras. Edição do Kindle.)

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Além das estatísticas de desemprego é importante considerar o impacto bastante ne-


gativo que a experiência do desemprego têm sobre a vida das pessoas. O desemprego pode
desencadear problemas de ordem financeira, problemas de saúde (física e mental) e nos
relacionamentos sociais e afetivos de uma pessoa. A estruturação da identidade pessoal
em torno da profissão potencializa o impacto negativo que a experiência do desemprego
tem sobre a vida das pessoas.

A teologia cristã e a ética do trabalho

Destacamos no início que o trabalho representa um elemento importante na formação


da identidade de uma pessoa. Jesus se recusou a identificar o valor de qualquer pessoa
com a sua profissão. Pouco importava se essa pessoa era um pescador ou um coletor de
impostos. Felizmente para Zaqueu, que não foi visto por Jesus como o coletor de impostos,
mas como alguém que poderia tornar-se “um filho de Abraão” (veja Lucas 19.1-10). Deste
modo, para nós cristãos, a resposta ao convite de Jesus – “Siga-me” – é vital para definição
de nossa identidade.

A noção de vocação (chamado) é um termo chave para compreensão da relação que o


cristão mantém com o trabalho. Em primeiro lugar somos “vocacionados/chamados” por
Deus para sermos cristãos. Paulo afirma: “...peço a vocês que vivam de uma maneira que
esteja de acordo com o que Deus quis quando chamou vocês (Ef 2.1). Em segundo lugar
somos chamados a desempenhar nossa atividade profissional no mundo como um serviço
oferecido a Deus. Sobre isto Paulo afirma: “O que vocês fizerem façam de todo o coração,
como se estivessem servindo ao Senhor e não as pessoas” (Cl.23).

As noções de justiça e solidariedade também são importantes para uma compreensão


cristã das relações de trabalho. A Bíblia encerra recomendações para que os patrões tratem
com justiça os trabalhadores, por exemplo: “Não oprimirás o trabalhador pobre e necessi-
tado, seja ele de teus irmãos, ou seja dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das
tuas portas. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, e isso antes que o sol se ponha; por-
quanto é pobre e está contando com isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja
em ti pecado. (Dt 24.14-15); Lembra-nos que “o trabalhador é digno de seu salário” (1ª Tm
5.8), e que os patrões não devem reter “fraudulosamente” o salário de seus empregados (Ml
3.5; Tg 5.4). Sob a perspectiva da solidariedade destacam-se as orientações de socorro aos
pobres (Ex 23.11; Dt 15.11; Mt 25.35;Gl 2.10). A percepção em nossos dias das dimensões
estruturais do desemprego e da pobreza devem impulsionar as comunidades cristãs à ini-
ciativas de solidariedade que ultrapassem os limites do assistencialismo. Tais iniciativas
podem estender-se desde programas de qualificação e requalificação profissional até o
desenvolvimento de empresas fundamentadas na noção de economia solidária.

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As mudanças na relações familiares

Uma das áreas em que as transformações trazidas pela modernidade foi sentida com
mais intensidade são os vínculos familiares. Desde seus primórdios as Ciências Sociais
têm trabalhado com definições básicas sobre esse universo das relações familiares. Fa-
mília sob o ponto das Ciências Sociais é um grupo de pessoas diretamente unidas por
conexões parentais sendo que os membros adultos se responsabilizam pelos cuidados
com as crianças. Parentesco é um conceito importante para o entendimento da família e
se entende parentesco a partir das conexões entre indivíduos estabelecidas por casamen-
to e por linhas de descendência que ligam parentes consanguíneos (mães, pais, irmãos,
etc). Casamento é outro conceito-chave e sob a perspectiva das Ciências Sociais é definido
como uma união sexual entre duas pessoas adultas e precisa ser validado socialmente, isto
é, reconhecido e aprovado.

Uma das principais mudanças trazidas pela urbanização foi a passagem da família am-
pliada para a família nuclear. A primeira compreendia uma convivência cotidiana com avós,
tios, primos e seus respectivos conjuges. A família nuclear compreende pai e mãe vivendo
junto com seus filhos. Evidentemente os laços amplos de parentesco existem, mas não
existe a dinâmica de convivência cotidiana.

Algumas tendências se apresentam como globais no que se refere às famílias no sécu-


lo XXI. Em algumas regiões do planeta são mais lentas, mas a direção parece ser a mesma.
Vejamos

Casamento - menos pessoas estão se casando e aquelas que se casam o fazem cada
vez mais tarde, ou seja, mais velhas.

Filhos - a taxa de natalidade vem caindo na maioria dos países ocidentais e asiáticos.
Aqueles que optam por ter filhos acabam fazendo mais tarde e tendo menos filhos que seus
pais.

Divórcio - as taxas de divórcio continuam crescendo no mundo inteiro. Estima-se que


cerca de 40% dos casamentos terminam em divórcio.

Famílias monoparentais - trata daquelas famílias em que as crianças vivem com ape-
nas um dos pais.

Não é preciso grande esforço para perceber que os fatores acima estão interligados e
se reforçam mutuamente. Uma contribuição importante para o entendimento dos relacio-
namentos conjugais foi oferecido pelo sociólogo inglês Anthony Giddens, trata do conceito
de relacionamento puro para descrever a atitude das pessoas em relação ao casamento.
Segundo ele, um relacionamento puro:

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[...] refere-se a uma situação em que se entra em uma relação social


apenas pela própria relação, pelo que pode ser derivado por cada pes-
soa da manutenção de uma associação com outra, e que só continua
enquanto ambas as partes considerarem que extraem dela satisfa-
ções suficientes, para cada um individualmente, para nela permane-
cerem (Giddens, 1993, p. 68-69).

De um lado, constata Giddens, as pessoas estão livres para assumir compromissos por
amor, sem as pressões econômicas ou familiares tão presentes no mundo antigo. Porém,
o casamento fundamentado na subjetividade sentimental e em expectativas de autossatis-
fação por parte dos cônjuges empurra os relacionamentos para a instabilidade e o elevado
nível de divórcios das sociedades modernas.

ANTES DE VIRAR A PÁGINA

Olhar para os dados pode ser uma ferramenta importante para a igreja pensar ações
específicas para diferentes públicos. Veja abaixo algumas informações sobre divórcio
no Brasil e pense sobre caminhos ministeriais para auxiliar as famílias:

- De acordo com o IBGE No Brasil, em 2010, o tempo médio entre a data do casamento
e a data da sentença ou escritura do divórcio era de cerca de 16 anos. Em 2021, houve
uma diminuição do tempo do casamento para 13,6 anos. Nas grandes regiões, esse
tempo médio variou entre 15 a 17 anos em 2010 e entre 12 a 15 anos em 2021.

- A mulher é a responsável pela guarda dos filhos na maioria dos divórcios: 54,2% em
2021, ante 57,3% em 2020.

- O adiamento da maternidade entre as mulheres brasileiras e a progressiva mudança


da estrutura de nascimentos no país aparecem de forma clara nas estatísticas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A parcela de mães acima dos 30
anos entre as crianças nascidas em um ano avançou de 24% em 2000 para 37,3% em
2021, segundo as Estatísticas do Registro Civil 2021

(Fonte:https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noti-
cia/2023/02/16/divrcios-voltam-a-bater-recorde-no-pas-diz-ibge.ghtml)

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