Você está na página 1de 24

DESCRIÇÃO

O surgimento do neoliberalismo e as implicações da acumulação flexível sobre o processo de adoecimento resultantes das alterações na forma de produção e reprodução da vida
material.

PROPÓSITO
Compreender os aspectos constitutivos da acumulação flexível no contexto de neoliberalismo e suas determinações sobre a precarização do trabalho e o adoecimento dos
trabalhadores na sociedade contemporânea.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar a perda do sentido do trabalho no modo de produção capitalista

MÓDULO 2

Reconhecer as implicações da acumulação flexível sobre o mundo do trabalho e o processo de adoecimento dos trabalhadores na sociedade contemporânea

MÓDULO 3

Relacionar a precarização do trabalho ao surgimento do neoliberalismo e ao processo de acumulação flexível

INTRODUÇÃO
O que é trabalho?

Suponhamos que, por meio de um exercício de imaginação, você faça uma viagem pelo tempo e observe as diferentes formas que os homens encontraram para sobreviver por meio
do trabalho.

O que mudou desde os primórdios da humanidade até a atualidade? Por que, de atividade libertadora e criativa, o trabalho se tornou uma atividade que aliena e adoece o
homem?

Estas são algumas questões que facilitam o acesso ao tema proposto.

 ATENÇÃO

É importante dimensionar que, para além de uma definição formal da palavra, foi com o trabalho que "o homem se fez homem". É certo que o trabalho teve grande alcance para a
constituição do ser social, pois, ao produzir as condições necessárias à sua sobrevivência, o homem dá início a novas formas de sociabilidade.
No capitalismo, com a constituição da força de trabalho como mercadoria que é posta à venda em troca de salário, se observa a perda deste sentido positivo do trabalho. Mas você
deve estar pensando como isto ocorreu. O distanciamento entre o trabalhador e aquilo que ele produziu dá origem ao chamado "trabalho alienado".

Veremos que a centralidade dos estudos sobre o trabalho tem relação com o significado que ele assume na história. Sem deixar de lembrar a existência de modos de produção que
surgiram ao longo dos tempos, estudaremos a exploração do homem pelo homem por meio do trabalho no modo de produção capitalista.

Estudaremos que, sob a lógica do capital, o trabalho se torna instrumento de alienação, aprisionamento e adoecimento do homem.

MÓDULO 1

 Identificar a perda do sentido do trabalho no modo de produção capitalista

INTRODUÇÃO
Para iniciarmos o estudo sobre a questão do trabalho alienado e a perda do sentido do trabalho, é importante que você compreenda que trabalho não será abordado aqui como uma
atividade profissional, mas como a busca do homem pela produção dos meios necessários à sua subsistência.

O que mudou da descoberta do fogo ao salário?


A seguir, vamos entender melhor sobre esse assunto.

TRABALHO: PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA VIDA MATERIAL


No início da história, o trabalho, enquanto atividade criativa e libertadora, permitiu um maior desprendimento do homem em relação às adversidades do meio natural. Este processo
compreendeu a busca dos instrumentos, técnicas, artefatos, objetos e ajuda de outros homens, o que teve grande significado para a constituição da sociabilidade humana. Como
aponta Marx:

O PRIMEIRO PRESSUPOSTO DE TODA A EXISTÊNCIA HUMANA E, PORTANTO, DE TODA HISTÓRIA, É


QUE OS HOMENS DEVEM ESTAR EM CONDIÇÕES DE VIVER PARA FAZER HISTÓRIA. MAS PARA VIVER,
É PRECISO ANTES DE TUDO COMER, BEBER, TER HABITAÇÃO, VESTIR E ALGUMAS COISAS MAIS. O
PRIMEIRO ATO HISTÓRICO É, PORTANTO, A PRODUÇÃO DOS MEIOS QUE PERMITAM A SATISFAÇÃO
DESTAS NECESSIDADES, QUE AINDA HOJE, COMO HÁ MILHARES ANOS DEVE SER CUMPRIDO TODOS
OS DIAS E TODAS AS HORAS SIMPLESMENTE PARA MANTER OS HOMENS VIVOS.

(MARX, 2007)

Desde os primórdios da humanidade, o homem buscou produzir os meios necessários para sobreviver a partir do trabalho, mas ele não o fez sozinho. Todo este processo
compreendeu a:

INTERAÇÃO COM OUTROS HOMENS (RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO).


O QUE GARANTIU A REPRODUÇÃO (CONTINUIDADE) DA VIDA MATERIAL (CLASSES SOCIAIS,
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, RELAÇÕES SOCIAIS).

A PRODUÇÃO GERA A REPRODUÇÃO, POIS TODO MODO DE VIDA SERÁ CONDICIONADO PELA BASE
MATERIAL DA SOCIEDADE, INFRAESTRUTURA SÓCIO ECONÔMICA.

(MARX, 2007)

 ATENÇÃO

É importante ressaltar que, ao contrário dos animais, a forma como o homem responde às suas necessidades é criativa e transformadora, o que faz do trabalho a principal forma de
práxis.

PRÁXIS

Atividade prática e consciente que cria e recria um objeto antes inexistente.

Os homens, por meio do que apenas lhes é inerente, a capacidade teleológica, consegue se antecipar, projetar finalidades as suas ações, criando e recriando as condições de sua
existência material e espiritual.

CAPACIDADE TELEOLÓGICA

Inerente ao homem, pois lhe permite atribuir sentido, concretude às suas ações e ideias.

No entendimento de Lukács:
É simples de entender. Imagine que você é um artesão. Antes de começar a produção de uma bolsa, você a antevê, tem liberdade de escolher materiais, técnica e outros elementos
que utilizará ao produzi-la. Ao término do processo, você vê o produto do seu trabalho: a bolsa tal como a projetou.

Agora, cabe perguntar por que o trabalho deixa de ser expressão das necessidades do homem para servir aos interesses da exploração do homem pelo homem? Como,
de força criadora, o trabalho se transforma em força castradora do ser humano?

Para melhor entendimento deste novo sentido do trabalho, é importante dimensionar as transformações que ocorrem em torno da base produtiva das sociedades ao longo da história.

DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS E A EXPLORAÇÃO DO HOMEM


PELO HOMEM
O homem, juntando-se aos outros homens, não somente conseguiu unir esforços físicos, como também trocou ideias e técnicas em torno dos melhores meios para produzir aquilo
que necessitava. Foi por meio de todo esse processo (relações sociais de produção) que o homem produziu mais do que precisava, gerando o que foi chamado como excedente
econômico.

Aliado ao surgimento de sobras, também se constata que a divisão social do trabalho se tornou mais complexa. Se antes determinados grupos e/ou sociedade se dedicavam à caça e
outros, à fabricação de cestos, agora, a produção se diversifica. A subsunção dos indivíduos por ramo aumenta na medida em que a satisfação das necessidades sociais se torna
mediatizada pelo mercado, isto é, pela produção, troca e consumo de mercadorias. Assim, a divisão do trabalho na sociedade determina a vinculação de indivíduos em órbitas
profissionais específicas - o trabalho assume, portanto, um caráter social.

 ATENÇÃO

Porém, diante das especificidades de cada sociedade, este processo não ocorreu de forma semelhante, dando origem à acumulação de capital.

O GRAU DE DESENVOLVIMENTO DA DIVISÃO DO TRABALHO EXPRESSA O GRAU DE


DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS SOCIAIS DO TRABALHO. COM A DIVISÃO SOCIAL DÁ-
SE AO MESMO TEMPO, A DISTRIBUIÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DO PRÓPRIO TRABALHO E DOS
PRODUTOS, ISTO É, DA PROPRIEDADE, DO PODER DE DISPOR DO TRABALHO DOS OUTRO.
(MARX, ENGELS, 1977)

Repare que o trabalho assumiu diferentes sentidos dos primórdios da humanidade até os dias atuais. Como a história nos mostra, nem sempre o trabalho se configurou por sua
dimensão positiva, mas se revelou como meio de exploração do homem pelo homem, o que pode explicar a origem da palavra trabalho, como tripallium , instrumento utilizado na
antiguidade clássica para castigar os escravos.

Antiguidade Clássica

A base econômica era sustentada com a exploração do trabalho forçado dos escravos.


Idade Média

A escravidão é substituída pelo trabalho servil.


Sociedade Feudal

Em troca do uso da terra a partir da corveia, os vassalos tinham que trabalhar gratuitamente e compulsoriamente para o senhor feudal.

Observa-se, assim, que as formas de apropriação e exploração do trabalho variam em cada modo de produção conforme as forças produtivas. Como aponta Marx (1985, p.106):

[...] O MOINHO MOVIDO PELO BRAÇO HUMANO NOS DÁ A SOCIEDADE COM SUSERANO; O MOINHO A
VAPOR, DÁ-NOS A SOCIEDADE COM O CAPITALISTA INDUSTRIAL.

Por fim, podemos dizer que as relações de produção e os meios de produção compreendem as forças produtivas. De forma um pouco mais simples, poderíamos definir forças
produtivas como tudo que está envolvido na produção.
DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS, EXCEDENTE ECONÔMICO E A
DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO: MARCOS HISTÓRICOS
Assista ao vídeo a seguir em que o especialista, Rodrigo Manhães, relacionará fatos históricos relacionados ao desenvolvimento das forças produtivas, excedente econômico e
divisão social do trabalho.

ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E TRABALHO ALIENADO


A concentração de riqueza que ocorre na Europa do século XIII até meados do século XVIII resultou na desigualdade social, considerando os altos lucros resultantes da acumulação
de bens nas mãos de poucos indivíduos. Inicialmente, essa concentração, denominada como acumulação primitiva do capital, se tornou possível a partir do controle dos preços,
impostos, monopólio dos Estados absolutistas e da pirataria.

E a burguesia? Quando passou a acumular riqueza?

O comércio com as colônias e a substituição gradual das corporações de ofício prepararam o terreno para surgimento da burguesia como classe dominante.

Na crítica que faz ao modo de produção capitalista, Marx nos mostra a Revolução Industrial como um marco para o processo de alienação do trabalhador enquanto classe que é
expropriada dos produtos do seu trabalho e meio para produzi-lo. O que nos parece muito comum nos dias de hoje, já era algo presente desde o início do capitalismo: o salário pago
ao trabalhador não corresponde a aquilo que ele produziu. Esta sobra de trabalho não pago, a mais-valia absoluta, como foi chamada por Marx, se constitui no lucro o que vai ser
gerado no capitalismo com a apropriação do capital.

COMO SUJEITOS QUE NÃO POSSUEM OUTRA MERCADORIA PARA VENDER A NÃO SER A SUA PRÓPRIA
FORÇA DE TRABALHO, OS TRABALHADORES NA HORA QUE ESTIVEREM TRABALHANDO, ESTARÃO
SOB O CONTROLE DO CAPITALISTA, POIS NESTAS HORAS O TRABALHO NÃO LHES PERTENCE.

(TEIXEIRA, 1985, p. 65-72)

 ATENÇÃO

É importante ressaltar que, diante da ausência de leis destinadas à regulamentação do trabalho, eram recorrentes as práticas de exploração, como o aumento da jornada de trabalha
e uso da mão de obra infantil e feminina, concorrendo para a mais-valia.
A esfera da produção no capitalismo tem como principal elemento de sustentação aquilo que é produzido pelo trabalhador (as mercadorias) e a expropriação do seu trabalho. O que
se tem, de fato, é o trabalho necessário para produção e um trabalho excedente, mais-valia absoluta.

O QUE O OPERÁRIO PRODUZ PRÓPRIO NÃO É A SEDA QUE TECE, NÃO É OURO QUE EXTRAI DAS
MINAS, NÃO É O PALÁCIO QUE CONSTRÓI. O QUE ELE PRODUZ PARA SI PRÓPRIO É O SALÁRIO; E A
SEDA, O OURO, O PALÁCIO REDUZEM-SE PARA ELE, A UMA DETERMINADA QUANTIDADE DE MEIOS DE
SUBSISTÊNCIA, TALVEZ A UMA ROUPA DE ALGODÃO, A UMAS MOEDAS, A UM QUARTO NO PORÃO.

(MARX, 2010)

Na esfera da produção capitalista, são observados dois tipos de trabalho na mesma jornada de trabalho:

Trabalho necessário

Representa o que trabalhador recebe do capitalista e por meio do qual adquire os meios necessários para sua subsistência.


Trabalho excedente

Corresponde ao que é produzido pelo trabalhador, mas não é pago pelo capitalista. Destituído dos meios de produção, aquilo que o trabalhador produz não lhe pertence.

MAIS-VALIA ABSOLUTA E RELATIVA


Lembra do exemplo do artesão?

Suponha agora que você seja empregado de uma empresa que fabrica bolsas. Sua jornada de trabalho é de nove horas, mas a cada três horas você produz uma bolsa, cujo valor é o
equivalente ao valor do seu salário. Nas seis horas restantes, você produz mais bolsas, que resultam em um valor maior do salário que você recebeu, a mais-valia absoluta.

 ATENÇÃO

Mas é importante você saber que o lucro no modo de produção capitalista também foi obtido por meio da introdução da tecnologia, a mais-valia relativa.

No capitalismo, o lucro também foi obtido pela introdução de máquinas, tecnologia. Assim, se garantia maior produção em menor tempo, o que gera a mais-valia relativa. A introdução
de máquinas na produção fragmentou o processo de produção. Se o artesão conseguia ver o produto do seu trabalho, agora ele só participa de uma parte da produção e, por
repetidas vezes, se aliena, não reconhece o seu trabalho naquilo que produziu.

Sobre este processo, Marx afirma que:

[...] UM TRABALHADOR QUE EXECUTA UMA MESMA OPERAÇÃO SIMPLES DURANTE TODA SUA VIDA
TRANSFORMA SEU CORPO INTEIRO NUM ÓRGÃO AUTOMATICAMENTE UNILATERAL DESSA
OPERAÇÃO.

(MARX, 1867/2013, p.414)


 ATENÇÃO

É importante ressaltar que, enquanto a divisão manufatureira dependia da destreza, segurança e rapidez do trabalhador no manejo de sua ferramenta, na grande indústria, a perícia
do trabalhador torna-se em fator secundário frente ao maquinismo.

O atendimento das demandas por meio da extração da mais-valia provoca uma transformação do trabalho que, ao invés de libertar o homem, o limita às tarefas repetitivas e
previamente estabelecidas pelo dono da fábrica, o burguês. Vemos, portanto, que, de principal forma de práxis, o trabalho se revela como atividade que cerceia toda a capacidade
que o homem tem de criar e recriar as condições de sua existência.

 SAIBA MAIS

Esta limitação imposta ao homem foi definida por Marx na sua obra "Manuscritos Econômico-filosóficos" ou "Manuscritos de Paris" (1844), como alienação, quando o trabalhador
decai a uma mercadoria.

O QUE DEVERIA SER FONTE DE HUMANIDADE SE CONVERTE EM DESREALIZAÇÃO DO SER SOCIAL,


ALIENAÇÃO E ESTRANHAMENTO DOS HOMENS E MULHERES QUE TRABALHAM. O TRABALHADOR
FREQUENTEMENTE NÃO SE SATISFAZ NO TRABALHO, MAS SE DEGRADA; NÃO SE RECONHECE,
MUITAS VEZES RECUSA E SE DESUMANIZA NO TRABALHO.

(ANTUNES, 2004, p.8)

O "fetichismo da mercadoria" e a sua relação com o trabalho alienado foi o caminho encontrado para a base de sustentação da sociedade burguesa. Fetichismo da mercadoria deve
ser compreendido como uma relação coisificada entre as pessoas por meio da qual se busca ocultar a extração de mais-valia (a exploração do trabalhador). A exploração do
proletariado pela burguesia é ocultada, pois os fenômenos sociais são travestidos como "coisas" independentes dos homens e das relações que constituem na sociedade sob a lógica
do capital. Subjacente ao salário, dinheiro que o trabalhador recebe pela venda da força de trabalho, existe uma relação de exploração do proletariado pela burguesia, classe que
detém os meios de produção.

O TRABALHADOR EXPLORADO E SUBMETIDO À PRESSÃO DA MAIS VALIA ERA UMA CHAVE PARA
COMPREENDER O PAPEL DA ALIENAÇÃO, INTERFERINDO NAS ATIVIDADES HUMANAS E NA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. A SOCIEDADE NÃO ELIMINA A COOPERAÇÃO, PORÉM SEU
CARÁTER HIPERCOMPETITIVO TORNA DIFÍCIL CONVERGIR E COMPLETAR-SE NA CONVERGÊNCIA.
DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E PROPRIEDADE PRIVADA SÃO EXPRESSÕES IDÊNTICAS.

(KONDER, 2010)

A produção capitalista se caracteriza como um processo pelo qual o trabalho do homem se traveste de um caráter social, pois há a enganosa visão de que este labor de produção
envolve uma relação entre pessoas e que nele existe troca e reciprocidade, quando, na verdade, o trabalho atende exclusivamente aos interesses do capital.

TRABALHO PRODUTIVO VERSUS TRABALHO IMPRODUTIVO

Segundo Marx, o trabalho produtivo é aquele que gera riqueza, mais-valia, para o capitalista. Então, o que podemos compreender sobre o trabalho improdutivo? Veja como Marx
ilustra esta questão:
UMA CANTORA QUE CANTA COMO UM PÁSSARO É UMA TRABALHADORA IMPRODUTIVA. NA MEDIDA
EM QUE VENDE SEU CANTO É UMA ASSALARIADA OU UMA COMERCIANTE. PORÉM, A MESMA
CANTORA CONTRATADA POR UM EMPRESÁRIO QUE A PÕE A CANTAR PARA GANHAR DINHEIRO É UMA
TRABALHADORA PRODUTIVA, POIS PRODUZ DIRETAMENTE PARA O CAPITAL.

(MARX, 1975, p.99)

Podemos depreender deste exemplo que o trabalho improdutivo seria o que não gera mais-valia? Mas que tipo de trabalho seria este? Vamos refletir?

Dependendo das circunstâncias, um mesmo trabalho pode ser considerado produtivo ou improdutivo. Portanto, não é a especialidade que suscita o interesse do capitalista por um
determinado trabalho, mas o lugar que ele ocupa no processo da acumulação capitalista, na relação de troca de força de trabalho por salário.

Quando um artesão vende uma bolsa como mercadoria para o capitalista, ele não mantém uma relação de troca onde se compra a força de trabalho. Portanto, o trabalho do artesão é
improdutivo, pois não é expropriado; não gera mais-valia.

SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Vimos que, para pensarmos no trabalho como atividade que provoca um estranhamento do homem em relação a aquilo que produziu, é necessário que compreender as
transformações que ocorreram no processo de produção e reprodução da vida material.

Pelo trabalho, o homem se fez homem. Ao produzir o que precisa para se manter ele institui novas formas de sociabilidade. Produção e reprodução se relacionam, pois, ao produzir o
que necessita para sobreviver, o homem gera a vida em sociedade, sem a qual ele não conseguiria existir. Por meio de sua capacidade teleológica, o homem conseguiu fazer do
trabalho o que Marx denominou como principal forma de práxis.


No entanto, o desenvolvimento das forças produtivas gera um excedente econômico, a concentração de riqueza e, consequentemente, a desigualdade social. Instaura-se, assim, uma
nova era para o trabalho. Toda esta metamorfose que ocorre no processo de trabalho se revela por meio das especificidades de cada modo de produção.

Da mão de obra escrava ao trabalho assalariado, o que se observa?

O início de uma nova era para o trabalho. Tempos em que a relação de exploração do homem vai ser mediatizada pelo trabalho. Em meio a este novo sentido que o trabalho assume
para o homem, o capitalismo surge e se mantém vivo por meio de uma relação de exploração de trabalho como fetichização do trabalho como mercadoria, que é trocada. Se, por um
lado, podemos considerar o trabalho como fundante da vida humana, ponto de partida do processo de humanização, por outro lado, ao longo da história, ele se transforma em
instrumento de exploração.

Por fim, podemos dizer que, como destaca Antunes em seu livro Dialética do Trabalho , na longa história da atividade humana em sua incessante luta pela sobrevivência, o processo
de trabalho representa uma dupla dimensão, podendo ser entendido como atividade "que cria, mas também subordina, emancipa e aliena" (ANTUNES, 2004).

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Reconhecer as implicações da acumulação flexível sobre o mundo do trabalho e processo de adoecimento dos trabalhadores na sociedade contemporânea

TRABALHO E ADOECIMENTO NO CONTEXTO DA ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL


Da Antiguidade aos dias atuais, a história nos mostra que se o trabalho teve seus momentos de glória, como condição de humanização do ser social, ao longo da humanidade, com o
desenvolvimento das forças produtivas, ele se revelou como meio de acumulação de riqueza e exploração do homem pelo homem. Dentre os modos de produção, o capitalismo se
configurou como um sistema voraz de extração de mais-valia. Porém, se observa que nem sempre os capitalistas usaram as mesmas estratégias para manter o trabalhador em um
contexto de alienação.

A primeira metade do século XIX é marcada pela Revolução Industrial (1780-1840), que provocou a derrubada do sistema feudal e novos padrões de acumulação do capital. A
exacerbada exploração do trabalho foi evidenciada por meio de práticas, tais como o aumento da jornada de trabalho, a introdução de máquinas, exploração da mão de obra feminina
e infantil.

Em meio à consolidação do capitalismo monopolista se verifica um acirramento das questões sociais resultantes da reação da sociedade à exploração e à situação de pobreza que se
impunha sobre os trabalhadores e suas famílias naquela época. Face a esse cenário surge, sob a influência do keynesianismo, o Welfare State, também conhecido como Estado de
Bem Estar Social, um momento de implementação de políticas decorrente de uma maior intervenção do poder público sobre as questões sociais.

KEYNESIANISMO

John Maynard Keynes foi contrário à não intervenção do Estado na Economia, tal como foi proposto pelo liberalismo. Dentre vários aspectos, em seus estudos, o keynesianismo
defende que o poder público deve, quando necessário, intervir, sobre as questões sociais a partir de benefícios sociais.

WELFARE STATE

A política Welfare State tinha como objetivo o pleno emprego, demanda e o aumento do consumo. De um lado, a aceitação do lucro e do mercado como princípio do desenvolvimento
capitalista e, por outro lado, a garantia de padrões mínimos de vida para evitar o desemprego da massa.

Da era do monopólio chega-se à era da livre concorrência. Como aspectos constitutivos deste período, podemos apontar o surgimento de novas formas de gestão que incidem na
racionalização da produção aliada a novas tecnologias como as linhas de montagens. Estamos falando aqui do taylorismo e do fordismo, modelos de organização do processo
produtivo cujo objetivo principal era garantir maior produtividade com menos investimento da força de trabalho.

Veja as características de cada um desses modelos.

TAYLORISMO

Trata-se de uma de organização científica instituída por Taylor para sistematizar as relações de produção de forma científica. O processo de trabalho era fragmentado e trabalhadores
eram controlados como homens cronômetros. Além da coercitividade à qual tinha que se submeter, o trabalhador realizava apenas uma tarefa por repetidas vezes. Este modelo
também compreendeu a produção em massa de produtos, gerando prêmios aos trabalhadores pela produtividade alcançada.
FORDISMO

Henry Ford, ainda sob a liderança do capital industrial, manteve o modelo de Taylor, mas introduziu a esteira de produção ao processo de trabalho (produção em série). Este modelo
de produção que teve início em 1920 se disseminou pelas indústrias do mundo inteiro até a década de 1970.

O "Ford Bigode" (Ford T), como ficou conhecido, foi o primeiro carro construído por meio de uma linha de montagem, esteira de produção.

A administração científica de Taylor e o fordismo geraram um aumento da mais-valia relativa, considerando o aumento da divisão social, do trabalho e da mecanização. Estes dois
modelos de fragmentação do trabalho, que tinham com o objetivo o lucro e a mais-valia, distanciaram o homem da sua capacidade teleológica. Como aponta Antunes:

A ATIVIDADE PRODUTIVA, DOMINADA PELA FRAGMENTAÇÃO E ISOLAMENTO CAPITALISTA, ONDE OS


HOMENS SÃO ATOMIZADOS, NÃO PODE REALIZAR ADEQUADAMENTE A FUNÇÃO DE MEDIAÇÃO
ENTRE O HOMEM E A NATUREZA, PORQUE REIFICA (COISIFICA) O HOMEM E SUAS RELAÇÕES E O
REDUZ AO ESTADO DE UM ANIMAL NATURAL. EM LUGAR DA CONSCIÊNCIA DO SER SOCIAL, TÊM-SE O
CULTO DA PRIVACIDADE, A IDEALIZAÇÃO DO INDIVÍDUO TOMADO ABSTRATAMENTE.

(ANTUNES, 2005)

Tendo como referência o trabalho parcial, podemos identificar, assim, que o processo de organização da produção desde a Revolução Industrial manteve-se sob a lógica do capital, o
que implica dizer, como veremos, que, do maquinismo aos robôs, o homem se viu inserido no contexto da alienação.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO TOYOTISMO

A partir de 1970, em meio ao esgotamento do modelo taylorista-fordista de produção e a substituição do discurso da social-democracia a favor do Welfare State pelo discurso liberal,
tem início um redimensionamento dos paradigmas de organização e gestão do processo de trabalho com base no toyotismo, modelo japonês, considerado por alguns como a terceira
Revolução Industrial.

 SAIBA MAIS

À medida que o paradigma taylorista-fordista passa a não garantir altos índices elevados de lucros e não suporta a competitividade, a pressão da concorrência, o capitalismo passa a
buscar outra respostas para se manter vivo, gerando uma nova composição das forças produtivas.

Para que você compreenda a relação deste processo do trabalho com o adoecimento do trabalho, é necessário evidenciar sob quais bases este novo paradigma de produção se
sustenta até hoje. Dentre estes aspectos, destacam-se:

PRODUÇÃO ARTICULADA À DEMANDA


Ao contrário do fordismo, cuja produção em grande escala permitia estoque, no modelo japonês se abomina o desperdício, as sobras. Outro fato a ser destacado é a oferta de
produtos de maior qualidade, considerando a exigência de uma procura mais exigente.

TERCEIRIZAÇÃO
Grande parte do que é produzido na empresa é transferido para terceiros e o processo de produção tem uma estrutura horizontalizada, fator importante para a flexibilização.

TRABALHO EM EQUIPE
Por meio de novas técnicas de manipulação do trabalho alienado, o controle da força de trabalho evidencia-se por meio das células de produção, times de trabalho e grupos
semiautônomos. A imposição de uma relação de verticalidade do fordismo cede lugar a cooperação horizontal, possibilitando aos trabalhadores a administração cotidiana de seus
postos de trabalho, integrando-os à empresa e possibilitando-lhes a ideia de participação. No entanto, estas atividades tornam evidente a continuidade dos mecanismos de
acumulação de capital a partir do trabalho alienado, mantendo o enfraquecimento dos trabalhadores enquanto classe que é explorada.
Determinados profissionais, como assistentes sociais e psicólogos, podem servir como meios para consolidação do envolvimento manipulatório dos trabalhadores por
meio dos programas de qualidade total, discursos de parceria e cooperação. Resta saber em que medida estes profissionais têm conseguido dimensionar o lugar que
assumem nas organizações, especificamente no que se refere à adesão do trabalhador às metas das empresas e, consequentemente à geração de mais-valia e ao
adoecimento do trabalhador.

TRABALHO POLIVALENTE
É o trabalho operariado realizado em equipe, com variedade de funções. Como afirma Antunes (2005), o 'trabalho polivalente', 'multifuncional', 'qualificado', combinado com uma
estrutura mais horizontalizada e integrada entre diversas empresas, inclusive, nas empresas terceirizadas, tem como finalidade a redução do tempo de trabalho.

ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL

As repercussões das mudanças impostas pelo processo de reestruturação produtiva foram muito intensas, o que significa que a classe que vive do trabalho sofreu a mais aguda crise
do século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua objetividade e, no mínimo, afetou a sua forma de ser (ANTUNES, 2005).

A acumulação flexível compreende, como o nome já sugere, a tentativa de uma maior flexibilidade dos processos de trabalho. A rigidez e a forma repressiva com que o trabalhador
era tratado durante a produção será substituída por um tipo de controle aparentemente menos despótico. Na verdade, a exploração da força de trabalho continua, mas o homem não
a percebe.

Como afirma Pagotto:

A CRISE DA PRODUÇÃO PADRONIZADA E DA RELAÇÃO FORDISTA DE ALTOS SALÁRIOS BASEADOS NA


PUJANÇA DA DEMANDA EM RELAÇÃO À OFERTA, ACABOU CONDUZINDO AO CONCEITO DE
FLEXIBILIZAÇÃO, BEM COMO DE UMA PRODUÇÃO ORGANIZADA SOB NOVAS PREMISSAS: SURGIRAM
ABORDAGENS QUE PRECONIZAVAM A SUBSTITUIÇÃO DO TRABALHO PARCELADO E DA LINHA DE
MONTAGEM PELAS ILHAS DE PRODUÇÃO, GRUPOS SEMIAUTÔNOMOS E MALHAS DE PRODUÇÃO, NAS
QUAIS MECANISMOS AUTOMÁTICOS REDUZEM A INTERVENÇÃO DO TRABALHO VIVO AO MÍNIMO
POSSÍVEL.

(PAGOTTO, 1996, p.60)

 ATENÇÃO

Vale ressaltar que o desenvolvimento de novas tecnologias exige do trabalhador novas habilidades para as quais, muitas das vezes, não foi treinado. Se antes o trabalhador se viu
adestrado pela coercitividade da fragmentação, agora se vê confrontado com novas demandas decorrentes da flexibilização da produção, onde os cronômetros e produção são
substituídos por novas tecnologias. Desta forma, métodos de gestão da força de trabalho se sustentarão pelos mecanismos ideológicos de sujeição do trabalhador.

No modelo japonês, a alienação se mantém, mas sob formas menos visíveis de subordinação do trabalhador. Veremos que, da linha de produção aos programas de qualidade total,
muita coisa mudou. As novas técnicas de gestão do trabalho se configuram sob novas nuances para se apresentarem como menos coercitivas para os trabalhadores.

Como pontua Alves (2005), a indústria do toyotismo busca capturar o corpo e a alma do trabalhador, não sendo necessária uma coerção externa do tipo taylorista, assentada no
controle dos tempos e movimentos do trabalhador.
São muitas as mudanças, mas o que está em questão é quebrar a resistência do trabalhador e trazer ele sob a forma de "convite" para a produção, garantindo os índices de
produtividade esperados, o que se concretiza pelos novos manejos da força de trabalho. Neste cenário, novas técnicas de gestão que são atreladas a tecnologia ganham peso.

Sob o pretexto de incentivo e de qualificação técnica, estudos apontam os programas de qualidade total e participação nos lucros como formas de alcançar o consenso e o
"consentimento" do trabalhador para ser explorado.

Os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) tiveram uma função importante para este chamamento do trabalhador, o que Abramides (2003) descreve como envolvimento cooptado,
pois o trabalhador se controla a si mesmo sem que ele perceba através de estratégias ideológicas.

Além deste aspecto, podemos identificar também, mesmo fora do seu local de trabalho, na hora do seu lazer ou na sua casa, o trabalhador continua ligado à empresa, como se fosse
algo que lhe pertencesse. Trata-se, como já vimos, de mecanismos ideológicos de sujeição e contenção da classe trabalhadora, pois esvazia o seu potencial de luta.

Quais são os reais interesses das propostas de participação nos lucros e alcance de metas para obtenção de prêmios?

Nos CCQ, a empresa é concebida como o prolongamento da casa. O debate estabelece-se a fim de traçar metas e objetivos para que o trabalhador possa se destacar na empresa,
como forma de amenizar os processos de luta da classe trabalhadora em seu campo de autonomia.

O CHICOTE DAS PRIMEIRAS FASES É SUBSTITUÍDO PELA SALA DO PSICÓLOGO NAS GRANDES
EMPRESAS (PERGUNTA-SE: QUAL O APAVORANTE?). AS TÉCNICAS DO TAYLORISMO SÃO
SUBSTITUÍDAS PELAS MODERNAS PRÁTICAS DE APARÊNCIA DEMOCRÁTICA, PRETENSAMENTE
PARTICIPATIVAS E DE CUNHO SOCIAL. MUDAM OS MÉTODOS DE SUJEIÇÃO; MUDA ATÉ MESMO A
PERCEPÇÃO QUE OS TRABALHADORES DELES TÊM, MAS O OBJETIVO CONTINUA O MESMO.
NEGOCIA-SE TUDO, MENOS ESSE PONTO, VITAL QUE É, PARA A PRÓPRIA MANUTENÇÃO DO SISTEMA
CAPITALISTA: A NATUREZA DAS RELAÇÕES DE TRABALHO, ISTO É, A DOMINAÇÃO DO CAPITAL
OBJETIVANDO O CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE E A AMPLIAÇÃO DA ACUMULAÇÃO.

(TEIXEIRA, 1985, p. 65-72)

O trabalho polivalente é outro fator que vai comprometer em muito a força de trabalho empregada no toyotismo. Além de ter que conhecer a produção em sua totalidade, o trabalhador
deve participar dela a partir de várias funções.

Segundo Deluiz (1997) o novo perfil do trabalhador se expressa num patamar diferenciado multiqualificado e polivalente, devendo exercer funções muito mais abstratas e intelectuais,
implicando cada vez menos trabalho e mais manipulação simbólica. Os trabalhadores que não foram atingidos pelo desemprego estrutural se vêm diante de novas demandas para o
seu trabalho.

 EXEMPLO
Aqui nos deparamos com a seguinte situação: uma trabalhadora de uma fábrica de bolsas que durante anos de sua vida foi adestrada, com base no modelo fordista, a produzir
apenas uma parte de uma bolsa, agora precisa, para se manter no mercado de trabalho, atender às exigências de uma mão de obra qualificada e polivalente. Esta funcionária só tem
uma escolha: se adaptar aos novos ritmos e especificidade do modelo toyotista de acumulação flexível.

Com base neste exemplo, te convido aqui a refletir sobre os impactos que estas mudanças no mundo do trabalho tiveram sobre o processo de adoecimento do trabalhador. Este é um
tema que não se limita ao mundo contemporâneo do trabalho.

Desde a primeira Revolução Industrial, o homem, para sobreviver, precisou se submeter às agruras da acumulação capitalista. Como vimos, por falta de políticas sociais que os
protegessem, mulheres e crianças foram submetidas a intensas jornadas de trabalho e péssimas condições de trabalho. Eram recorrentes acidentes de trabalho, como mutilações,
decorrentes do acúmulo de horas trabalhadas e das péssimas condições de trabalho.

No modelo japonês, as mutilações são substituídas pelas lesões por esforço repetitivo LER/DORT resultante do trabalho multifuncional, como no caso do uso de computadores não
somente no horário de trabalho como em casa. Como já abordado aqui, o trabalhador ao ser envolvido como partícipe da empresa e atraído pelo discurso das metas, prêmios e
qualidade acaba investindo mais do que deveria.

O chamamento ao trabalho se impõe de tal forma que se estabelece uma demarcação muito tênue entre o que deveria ser o espaço do descanso, lazer, da família e do trabalho.
Podemos dizer que o trabalhador se perde no controle do seu trabalho.

 SAIBA MAIS

Outro aspecto observado em relação ao tipo de pressão que é exercida sobre os trabalhadores pelo toyotismo é a gestão por meta, processo pelo qual se vê claramente que os
cronômetros foram substituídos pelos faróis.

Sobre esta questão, Antunes afirma que:

A PRESSÃO PELA CAPACIDADE IMEDIATA DE RESPOSTA DOS TRABALHADORES ÀS DEMANDAS DO


MERCADO, CUJAS ATIVIDADES PASSARAM A SER AINDA MAIS CONTROLADAS E CALCULADAS EM
FRAÇÕES DE SEGUNDOS, ASSIM COMO A OBSESSÃO DOS GESTORES DO CAPITAL EM ELIMINAR
COMPLETAMENTE OS TEMPOS MORTOS DOS PROCESSOS DE TRABALHO, TEM CONVERTIDO,
PAULATINAMENTE, O AMBIENTE DE TRABALHO EM ESPAÇO DE ADOECIMENTO.

(ANTUNES, 2015, p.414)

Ainda que de forma indireta, fora do seu espaço propriamente de produção, a acumulação flexível gera o desemprego estrutural e fez com que um grande contingente de
trabalhadores, fora do mercado do trabalho formal fosse incorporado a condições precarizadas de trabalho, aumentando a relação de doenças.

Dejours e Bègue indicam um elemento importante para pensarmos: o quanto o nível de competitividade pode levar os trabalhadores até mesmo ao suicídio.

Em seus estudos, eles constaram que:


UM SUICÍDIO POSSA OCORRER NO LOCAL DE TRABALHO INDICA QUE TODAS ESSAS CONDUTAS DE
AJUDA MÚTUA E SOLIDARIEDADE - QUE NÃO ERA NEM MAIS NEM MENOS QUE UMA SIMPLES
PREVENÇÃO DAS DESCOMPENSAÇÕES, ASSUMIDA PELO COLETIVO DE TRABALHO - FORAM
BANIDAS DOS COSTUMES E DA ROTINA DA VIDA DE TRABALHO. EM SEU LUGAR INSTALOU-SE A NOVA
FÓRMULA DO CADA UM POR SI, E A SOLIDÃO DE TODOS TORNOU-SE REGRA. AGORA, UM COLEGA
AFOGA-SE E NÃO SE LHE ESTENDE MAIS A MÃO.

(DEJOURS e BEGUE, 2010, p. 21)

Por fim, cabe ressaltar que a terceirização, como um fator inerente à acumulação flexível, também se revelou como elemento propulsor de acidente de trabalho pela precarização do
trabalho, alta taxa de rotatividade e por falta de habilidade para as demandas e conhecimento de como operar em determinados equipamentos.

 ATENÇÃO

As pesquisas indicam que as um alto índice de adoecimento dos trabalhadores, sobretudo pelas condições precárias nas que realizam a sua atividade de trabalho (DRUCK, 2014).
Essas precárias condições de trabalho têm contribuído de forma significativa para a deterioração das condições de saúde e segurança no trabalho no Brasil. Vários estudos de casos
revelam o quanto os terceirizados são os mais vulneráveis, com riscos de acidentes maiores.

O MERCADO DE TRABALHO ATUAL E OS FATORES QUE LEVAM AO ADOECIMENTO


DO TRABALHADOR
Assista ao vídeo a seguir em que o especialista Rodrigo Manhães faz uma exposição panorâmica sobre o mercado de trabalho atual, pontuando os principais fatores que levam ao
adoecimento do trabalhador neste contexto e destacando o perfil do trabalhador moderno.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Relacionar a precarização do trabalho ao surgimento do neoliberalismo e ao processo de acumulação flexível

POLÍTICAS NEOLIBERAIS E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO


Em seu livro Adeus ao trabalho , Ricardo Antunes, nos leva a refletir sobre os seguintes aspectos relacionados ao que ele denominou como as metamorfoses e a centralidade do
mundo do trabalho:
O fim do trabalho? O que se passa com o mundo real do trabalho?

Cabe a nós, em relação à nova face que o trabalho enfrenta com o surgimento do neoliberalismo, perguntar:

O que mudou em relação ao mundo do trabalho?

Para melhor compreensão destas questões, vamos começar por entender os aspectos preponderantes para o surgimento do neoliberalismo e o que ele provocou em relação ao
processo de trabalho.

MUNDO DO TRABALHO E NEOLIBERALISMO


O neoliberalismo tornou-se hegemônico a partir das décadas de 1970 e 1980, adotando como principais medidas a elevação das taxas de juros; redução dos impostos para os ricos e
abolição do controle sobre o fluxo financeiro.

A busca de flexibilidade no processo de trabalho e o projeto neoliberal surge como resposta ao Estado de bem-estar social. O discurso liberal substitui o discurso social-democrata do
Welfare State e da política interventora de Keynes com base nos seguintes argumentos:

PERDA DO DINAMISMO ECONÔMICO

INCHAÇÃO DESMENSURADA DO APARELHO ESTATAL

CRISE DO MODELO ECONÔMICO (1973)

BAIXAS TAXAS DE CRESCIMENTO

ALTAS TAXAS DE INFLAÇÃO

David Harvey, em seu livro O Neoliberalismo, história e implicações , definiu o que ele chamou de reestruturação de classe, que se refere aos fatores que possibilitaram o sucesso
que o neoliberalismo alcança na economia mundial.

Segundo este pesquisador:

O ESTADO TEM DE GARANTIR A QUALIDADE E A INTEGRIDADE DO DINHEIRO. DEVE TAMBÉM


ESTABELECER AS ESTRUTURAS E FUNÇÕES MILITARES, DE DEFESA, DA POLÍCIA E LEGAIS
REQUERIDAS PARA GARANTIR DIREITOS DE PROPRIEDADE INDIVIDUAIS E PARA ASSEGURAR, SE
NECESSÁRIO PELA FORÇA, O FUNCIONAMENTO APROPRIADO DOS MERCADOS. MAS O ESTADO NÃO
DEVE AVENTURAR-SE PARA ALÉM DESSAS TAREFAS. AS INTERVENÇÕES DO ESTADO NOS
MERCADOS (UMA VEZ CRIADO) DEVEM SER MANTIDAS NUM NÍVEL MÍNIMO, PORQUE, DE ACORDO
COM A TEORIA, O ESTADO POSSIVELMENTE NÃO POSSUI INFORMAÇÕES SUFICIENTES PARA
ENTENDER DEVIDAMENTE OS SINAIS DO MERCADO[...].

(HARVEY, 2008, p.13)

Podemos verificar que todo este redirecionamento do capital monopolista em torno do resgate das taxas de lucro se revelou de forma muito voraz, resultando em políticas definidas,
uma vez que o objetivo era reter ao máximo a riqueza produzida socialmente.

Se o keynesianismo foi importante para a indústria baseada no fordismo, no modelo toyotista de acumulação flexível, o Estado deve ser suprimido como instância reguladora das
relações de trabalho. Vive-se um momento no qual o Estado Mínimo e a ampla prevalência do capital financeiro geram altos níveis de desemprego estrutural, flexibilização do
trabalho, terceirização, políticas de ajustes, cortes nos gastos sociais e retrocesso do poder sindical.

Tempo em que se observa uma desproletarização do trabalho industrial fabril e a expansão do trabalho assalariado. A maior intensificação de novas tecnologias na produção gera
crescente ondas de desemprego, abalando a seguridade social.

 ATENÇÃO

Outra questão relevante que pôde ser evidenciado neste período foi o enfraquecimento do movimento sindical. No entendimento de Trópia (2009), o sindicalismo não é tema da
ideologia neoliberal. Os ataques eram constantes, pois foram por meios deste tipo de organização que a classe trabalhadora obteve ganhos sociais significativos.

Trata-se de um momento de grandes impactos sobre o mundo do trabalho, sobretudo no que se refere às formas precárias de empregos. Os trabalhadores se deparam como um
mercado altamente competitivo de trabalho, potencializado pela introdução da tecnologia, o que resulta na substituição do trabalho vivo.

Segundo Netto e Braz (2006):

SÃO TRÊS OS TIPOS DE TRABALHADORES EXIGIDOS POR ESTE NOVO QUADRO: O TRABALHADOR
COLETIVO, AQUELE TRABALHADOR QUE DEVE INCORPORAR OPERAÇÕES E ATIVIDADES MAIS
COMPLEXAS NA PRODUÇÃO MATERIAL, O TRABALHADOR COM FORÇA DE TRABALHO BEM MAIS
QUALIFICADA E POLIVALENTE E O TRABALHADOR PARTICIPATIVO, ESTE PEDE UM TRABALHADOR
MAIS PARTICIPATIVO NOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO, COMUNICATIVO E QUE ESTEJA ATENTO AOS
RESULTADOS DA EMPRESA, ESTAS CONFIGURAÇÕES SE TRADUZEM EM UMA DUALIDADE, ONDE
ENCONTRAMOS TRABALHADORES MUITO QUALIFICADOS E COM MAIS CHANCES DE SE INSERIREM
NO MERCADO DE TRABALHO E POR OUTRO LADO UMA GRANDE PARCELA DE TRABALHADORES
PRECARIZADOS E COM MÃO DE OBRA COMUM, SENDO DE FÁCIL SUBSTITUIÇÃO PARA AS EMPRESAS.
O ESTADO BURGUÊS, ASSIM DENOMINADO POR NETTO (1992), AO MANTER SEU CARÁTER DE
CLASSE, APRESENTA COMO MUDANÇA MAIS IMEDIATA A DIMINUIÇÃO DA SUA AÇÃO REGULADORA. O
GRANDE CAPITAL ROMPE O PACTO QUE SUPORTAVA O WELFARE STATE E COMEÇA A OCORRER A
RETIRADA DAS COBERTURAS SOCIAIS PÚBLICAS, COM CORTES NOS NOS DIREITOS SOCIAIS.

(O´CONNOR, 1977)

Segundo pontua Netto (1993):

A DESQUALIFICAÇÃO DO ESTADO TEM SIDO A PEDRA DE TOQUE DO PRIVATISMO DA IDEOLOGIA


NEOLIBERAL: A DEFESA DO ESTADO MÍNIMO PRETENDE FUNDAMENTALMENTE O ESTADO MÁXIMO
PARA O CAPITAL. DENTRO DESTE CONTEXTO OCORRE UMA TRANSFERÊNCIA PARA A SOCIEDADE DE
AÇÕES QUE ANTES ERAM DO ÂMBITO DO PODER PÚBLICO.

Os impactos destas mudanças na esfera da produção resultaram em um redirecionamento da intervenção estatal nos mecanismos de regulação da produção material e da gestão
estatal e privada da força de trabalho. É um momento no qual o Estado se vê pressionado pelo empresariado para suprimir os direitos trabalhistas. A flexibilização da produção
implicou em um novo papel do Estado frente aos direitos sociais dos trabalhadores.

Mas o que podemos observar com este esvaziamento da intervenção do Estado processo de trabalho?

DESEMPREGO

FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO
TERCEIRIZAÇÃO

POLÍTICAS DE AJUSTES

CORTES NOS GASTOS SOCIAIS

No Brasil, a consolidação da ideologia neoliberal provocou o aumento do índice de desemprego, rebaixamentos e instabilidade do trabalho e nos salários dos trabalhadores. Assim, a
condição de trabalhador assalariado, com vínculo formal passa a ser cada vez mais distante para grande parcela da população.

Mas, como diz Iamamoto (2010), o que se percebe é o novo padrão de organização do trabalho, que apenas acirrou a relação já desgastada existente entre o trabalho e a questão
social e, mais uma vez, os trabalhadores presenciaram o aprofundamento das desigualdades, o que se verifica nas filas de desempregados à espera de uma vaga no mercado de
trabalho.
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
O termo precarização do trabalho tem relação com um conjunto de mudanças econômicas e sociais no mundo do trabalho, decorrentes do surgimento de neoliberalismo e do
toyotismo. Além de alterações na gestão do trabalho, também se instaura um processo de desregulamentação das relações de trabalho.

O desemprego e o processo de reestruturação produtiva capitalista fazem surgir um grande contingente de trabalhadores que são obrigados e, em alguns casos, dissuadidos a
trabalhar com baixos salários, péssimas condições de trabalho e perda de direitos trabalhistas.

 ATENÇÃO

Cabe pontuar que a precarização do trabalho impede o cidadão de ter acesso a horas de descanso, boa alimentação, moradia, e, em geral, o mínimo que necessita para ter uma boa
qualidade de vida.

A constituição federal de 1988 se configurou como um grande avanço em relação à incorporação das políticas sociais como função do Estado, fruto da reivindicação dos
trabalhadores e dos os movimentos sociais. Porém, o que podemos perceber, como destaca Sales (2010), é que o desemprego crescente, a redução dos salários e precarização das
condições colocam as famílias em situação de grande vulnerabilidade social.

Em meio a este cenário de grandes perdas, como afirma Torres:

[...] AS CONDIÇÕES DE VIDA DOS INDIVÍDUOS DEPENDEM, EM GRANDE PARTE, DA INSERÇÃO SOCIAL
DE TODOS OS MEMBROS DA FAMÍLIA, SENDO NELA QUE SE ARTICULAM AS MAIS DIVERSAS FORMAS
DE ALTERNATIVAS PARA SUPERAR AS SITUAÇÕES DE PRECARIEDADE SOCIAL, DIANTE DO
DESEMPREGO OU INSERÇÃO PRECÁRIA NO MUNDO DO TRABALHO.

(TORRES, 2010)

Histórias de famílias de catadores de lixo nos fazem refletir sobre a situação de miserabilidade e exclusão social gerada pela falta de trabalho e a necessidade da população de se
manter por meios de condições muitos precárias de trabalho.

Na ausência do Estado e de trabalho, como afirma Telles:


AS FAMÍLIAS MOBILIZAM TODOS OS SEUS MEMBROS PARA O DESENVOLVIMENTO DE PEQUENAS
ATIVIDADES INFORMAIS PARA OBTENÇÃO DE ALGUM TIPO DE RENDA COMPLEMENTAR E OUTRAS
TANTAS ESTRATÉGIAS, COMO CONSTRUÇÕES DE MORADIAS E AS DIVERSAS FORMAS DE
SOLIDARIEDADE, ONDE OS INDIVÍDUOS TENTAM SUPRIR UMA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL
FRAGILIZADAS PARA SUPRIR SUAS NECESSIDADES MÍNIMAS.

(TELLES, 1992)

Diante do desemprego muitas pessoas recorrem ao trabalho terceirizado e informal. Identifique melhor a diferença e as causas de cada um.

TRABALHO TERCEIRIZADO

O trabalho terceirizado pode ser definido como aquele em que o indivíduo foi excluído do mercado formal, pois não faz parte de uma empresa, mas acaba servindo aos interesses de
um novo modo funcional de inclusão econômica na condição de trabalhador precarizado ou como fornecedor de mercadoria. Surge, então, um processo de inclusão e exclusão do
trabalhador, uma vez que a terceirização e a externalização da produção, ao mesmo tempo em que determinam a exclusão dos trabalhadores do trabalho socialmente protegido,
criam outra forma de inclusão na economia que tem na insegurança e na desproteção do trabalho sua principal característica.

TRABALHO INFORMAL

A expressão trabalho informal, que tem origem nos estudos realizados pela Organização Internacional do Trabalho, é o trabalho sem vínculo ou benefícios fornecidos por uma
empresa sem carteira assinada, renda fixa e férias.

O trabalho informal é um tipo de trabalho no qual o cidadão não está vinculado a nenhuma empresa. É o trabalho indireto em que não há vínculo empregatício por meio de
documentação legalizada. Ocorre em estabelecimentos de natureza não tipicamente capitalista. Se distingue por baixos níveis de produtividade. Refere-se aos trabalhadores, na sua
maioria, desempregados ou com instabilidade empregatícia. Estão presentes no setor terciário da economia, em que os trabalhadores são classificados como prestadores de
serviços. Podemos observar a presença destes trabalhadores em pequenos negócios ou firmas sem registro.

A AUTOEXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES PROPRIETÁRIOS


Trabalhadores proprietários são aqueles que produzem mercadorias em sua casa com o envolvimento de todos os membros da família.

Dedeca (1996) afirma que:

ESTES TRABALHADORES FORAM APANHADOS PELO CANTO DOS CISNES DA "EMANCIPAÇÃO" DO


TRABALHADOR NA ORDEM VIGENTE. ELE ARGUMENTA QUE O TRABALHADOR SE SENTE MAIS LIVRE,
POIS NÃO ESTÁ MAIS PRESO A UM SISTEMA HIERARQUICAMENTE ORGANIZADO DE EXPLORAÇÃO E
OPRESSÃO. ELE SE SENTE COMO UM CIDADÃO, QUE TRABALHA NO SEU PRÓPRIO LOCAL DE
TRABALHO. PORÉM, O QUE SE TEM, DE FATO, É A DEFESA DA INFORMALIDADE DO TRABALHO COMO
ALTERNATIVA AO DESEMPREGO; A BANALIZAÇÃO DA CIDADANIA.

(TELLES, 1992)

O conjunto de inovações realizadas no processo de trabalho nas empresas - a terceirização, o trabalho em domicílio, a subcontratação - se apresenta como iniciativas constituidoras
de uma suposta sociedade de produtores independentes, mas, na verdade, se reproduzem por meio de sua auto exploração.

Como exemplo, veja o trecho de uma entrevista realizada por alunos do curso de Serviço Social com um trabalhador da construção civil.

Como começou a sua vida profissional?

Comecei minha vida profissional como servente de pedreiro. Quando cheguei aqui no Rio não conhecia ninguém, mas meu primo arrumou trabalho na obra em que ele já estava.
Ganhava por produção.

Como é este sistema por produção? Tem algum benefício? Carteira registrada?

Na verdade, ganhava por produção, o que significa que, quanto mais trabalhávamos, mais conseguia ganhar. Foram bons tempos em que consegui naquele momento mandar
dinheiro para os parentes, e guardar um pouco, mandava para os filhos que deixei lá.

E seu atual trabalho? Continua a fazer o mesmo serviço? Tem direitos trabalhistas ou algum benefício?

Continuo trabalhando de pedreiro oficial, porém em um trabalho considerado (subemprego) sem registro, ganhando semanalmente, pois a diária é melhor do que trabalhar com
vínculo em carteira.

Hoje, eu trabalho com um empreiteiro que gerencia a nossa mão de obra. Há colegas que são cooperados. Sendo que a cooperativa divide os lucros no final do ano. Levamos o
almoço e pagamos a nossa condução.

Contribui para o INSS? Pensa em se aposentar?

Não contribuo porque o dinheiro não sobra. São muito gastos com as crianças. Minha esposa é doméstica e tem registro, isso já ajuda nas despesas.

Quanto à aposentadoria, ainda não pensei nisso...Talvez abra um barzinho quando ficar velho.

Como é a sua vida social?

Não tenho muito tempo para isso, pois aproveito o final de semana para fazer bicos e ganhar algum a mais, mas, quando podemos, juntamos os vizinhos e fazemos um
churrasquinho.

Vimos, a partir deste exemplo, que, com o neoliberalismo, o trabalhador deixa a sua condição de assalariado para se tornar, trabalhador temporário, parcial, subcontratado,
terceirizado. As condições de extração podem se alterar, mas a exploração da força de trabalho se mantém.
OS ASPECTOS SOCIAIS DO NEOLIBERALISMO
Assista a seguir ao vídeo em que o especialista, Rodrigo Manhães, apresenta exemplos dos aspectos sociais do neoliberalismo, traçando uma relação entre eles e o bem-estar físico
e mental do trabalhador, da sua família e da comunidade onde vive.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que o processo de trabalho sofreu transformações relacionadas à forma com que o homem, em cada momento histórico, encontrou para manter a produção e reprodução da
vida material, o que pode ser evidenciado nos aspectos constitutivos de cada modo de produção. Porém, com o desenvolvimento das forças produtivas e o surgimento do excedente
econômico, teve início a exploração do homem pelo o homem por meio do trabalho.

Foi possível constatarmos que, desde o seu surgimento até os dias atuais, o capitalismo manteve-se vivo a partir de diferentes mecanismos de exploração e sujeição do trabalhador
que tinha em comum o lucro, a extração da mais valia. Aliado a este processo, também tivemos oportunidade de estudar a derrocada do fordismo e keynesianismo diante da
necessidade de um novo modelo de organização da produção e gestão da força de trabalho que garantisse alto índices de lucro, o toyotismo. Dentro deste contexto, as políticas
neoliberais, sob a lógica do capital, investem no Estado mínimo, no livre mercado e na competitividade entre os trabalhadores. Face à ausência de cobertura social, as exigências da
multifuncionalidade e dos programas de qualificação, o trabalhador se vê desamparado diante a um isolamento sem fim. Estes são os reveses que explicam o processo de
adoecimento do mundo sem trabalho.

 PODCAST
Agora, o especialista Rodrigo Manhães encerra o tema falando sobre o adoecimento no mundo do trabalho.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo; PRAUN, Luci. A sociedade dos adoecimentos no trabalho. In: Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 123, pág. 407-427, setembro de 2015. Consultado em meio
eletrônico em: 10 jan. 2021.

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo, Boitempo, 2001.

ANTUNES, Ricardo. A dialética do trabalho. Escritos de Marx e Engels. São Paulo: Expressão Popular, 2004.

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

DEDECCA, C. S. Racionalização econômica e heterogeneidade nas relações e nos mercados de trabalho no capitalismo avançado. In : Crise e trabalho no Brasil:
modernidade ou volta ao passado. (Orgs) Oliveira, C. E. B. de e Mattoso J.E.L. São Paulo: Scritta, 1996.

DELUIS, N. A Globalização econômica e os desafios à formação profissional. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

DEJOURS; BÈGUE, Florence. Suicídio e trabalho: o que fazer? Brasília: Paralelo 15, 2010.

DRUCK, Graça. A epidemia da terceirização. In: ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e miséria do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2014. v. III, p. 13-24.

HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola,2008.

LUKÁCS, G. As bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem. Temas de Ciências Humanas. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1978

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.

MARX, Karl. Miséria da Filosofia. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

NETTO, J.P. Crise do Socialismo e ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez.1993.

O`CONNOR, J. USA: a crise do estado capitalista. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977.

PAGOTTO, Maria Amelia Ferracciu. Mito e realidade na automação bancária. 1996. 250f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Campinas, SP.

TELLES, V.S. Cidadania inexistente: incivilidade e pobreza. Um estudo sobre trabalho e família na grande São Paulo. Tese (Doutorado), Departamento de Sociologia USP.

SOUZA, Paulo César Zambroni de; SOUZA, Ana Maria Ramos Zambroni de. Suicídio e trabalho: o que fazer? In: Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 26, n. 12, p. 2422-2423,
Dec. 2010. Consultado em meio eletrônico em: 26 nov. 2020.

TEIXEIRA, Déa Lúcia Pimentel; SOUZA, Maria Carolina A. F. de. Organização do processo de trabalho na evolução do capitalismo. In : Rev. adm. empres., São Paulo, v. 25, n.
4, p. 65-72, Dec. 1985. Consultado em meio eletrônico em: 26 nov. 2020.

EXPLORE+

A partir dos aspectos destacados sobre o neoliberalismo e o trabalho, te convido fazer a seguinte reflexão: quais são os processos de adoecimento nos tempos do mundo sem
trabalho?

Para subsidiá-lo, pesquise na Web o artigo Trabalho, corpo e subjetividade: toyotismo e formas de precariedade no capitalismo global , de Giovanni Alves, publicado na revista
Trabalho, Educação e Saúde, em 2005.

Assista também aos seguintes filmes:

O Lobo de Wall Street , que aborda a competitividade e stress provocado pelo mundo sob a lógica do capital e corrida pelo enriquecimento.

Estamira , que retrata as precárias condições dos catadores de lixo nos lixões das grandes metrópoles.

Quanto vale ou é por quilo? , que faz uma comparação entre as formas de exploração no Brasil Colônia e nos dias atuais

O diabo veste Prada : aborda aspectos constitutivos do capitalismo: consumo, competitividade, relações de produção.

CONTEUDISTA
Ana Paula Pereira Coelho

 CURRÍCULO LATTES

Você também pode gostar