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1 - Sustentabilidade e investimentos
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a evolução da sustentabilidade no
mercado de investimentos e os conceitos de investimento sustentável.
Evolução da sustentabilidade
Entre as três dimensões das questões ASG — ambientais, sociais e de governança
corporativa —, a última foi a primeira a ser incorporada pelos investidores. Fica claro quando
entendemos que as ações de governança são aquelas que influenciam como os
conselheiros, diretores e demais executivos orientam as decisões da empresa.
Uma instituição com boas práticas de governança corporativa tem, portanto, uma
melhor capacidade de gestão e, por isso, espera-se que ela gere melhores
resultados e maior valor para os seus acionistas (IBGC, 2015).
Hoje, podemos dizer que boa parte dos investidores institucionais, ou seja,
organizações especializadas na gestão de investimentos, já analisa a governança
corporativa como parte das questões essenciais para a escolha de empresas que
vão compor, por exemplo, as suas carteiras de ações.
Comentário
De alguns anos para cá, especialmente a partir da década de 1990, as questões ambientais
também entraram na pauta. Os desafios ambientais, como o aumento da poluição e do
desmatamento, as mudanças climáticas e até mesmo desastres — como o que ocorreu em
Brumadinho, MG — chamam a atenção para os riscos que as questões ambientais podem
representar para todos, mas especialmente, neste caso, para a operação de uma empresa.
A atenção para com o meio ambiente é fundamental para que tenhamos recursos, como
Exemplo
O agronegócio, com o apoio de alguns relatórios de instituições, como a Embrapa, busca
medir o efeito potencial das mudanças climáticas na agricultura brasileira.
De acordo com pesquisa, boa parte dos cultivos analisados apresenta um potencial de
queda na produção, dependendo do cenário de aumento médio de temperatura e o
horizonte de tempo (EMBRAPA, 2008).
Em um país como o Brasil, que tem uma boa parte do PIB ligado ao agronegócio, os
impactos das mudanças climáticas podem representar uma queda no crescimento
econômico.
Ao analisar esses impactos potenciais, os investidores entendem que as questões
ASG podem representar riscos à rentabilidade das suas carteiras e, por isso,
aumentam a busca por informações que permitam que estes profissionais
consigam incorporar, também, tais riscos aos seus processos de análise de
empresas e decisão de alocação em carteira.
O aumento da demanda por informações ASG das empresas é crescente, segundo
pesquisas de mercado, como a da Ernst & Young (EY), aponta que cerca de 90% dos
investidores acredita que essas informações podem ser importantes no ajuste do
valor atribuído às empresas (EY, 2018).
Esse movimento, que passou a tratar de temas ASG entre os investidores, ficou
mais conhecido como investimentos responsáveis. Nas próximas seções,
abordaremos os principais conceitos, iniciativas e práticas do mercado brasileiro e
internacional sobre esta agenda.
Investimentos responsáveis
Ativos
Consideramos ativos os bens que o investidor possui em carteira. São considerados
exemplos dessa classe: ações, títulos públicos do governo, dívidas de empresas
(ex.: debêntures), cotas de fundos de investimento, moedas, entre outras
modalidades possíveis.
Diversos fatores ASG devem ser considerados, mas eles vão depender,
basicamente, do que estamos analisando. As questões mais relevantes no setor de
petróleo, por exemplo, que têm impactos significativos sobre o meio ambiente, não
são as mesmas do setor de educação, com um impacto muito maior sobre os
aspectos sociais.
Chamamos de materialidade esse olhar setorial específico sobre as atividades de
cada empresa para determinar a relevância das questões ASG.
Vamos analisar uma empresa do setor de varejo: as Lojas Renner. Entre as questões
ambientais, as mais relevantes talvez sejam, por exemplo, o uso de energia nas lojas
ou as emissões de gases de efeito estufa (GEE) da sua operação logística, como o
transporte das mercadorias por caminhões a diesel, altamente poluentes. No
entanto, ao analisarmos os seus aspectos sociais, alguns pontos chamam a
atenção.
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1º ponto
O relacionamento com os fornecedores: Sabemos que a cadeia de confecção está
altamente exposta a riscos de trabalho degradante ou análogo ao escravo. Como
compradora, a Renner possui a corresponsabilidade por estes fornecedores.
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2º ponto
O relacionamento com o cliente: Qualquer empresa no setor de varejo que lida diretamente
com o consumidor final precisa estar atenta às suas demandas, necessidades e satisfação,
para garantir e aumentar sua participação no mercado.
certo?
Sim, é verdade. E é justamente por isso que vários profissionais acreditam que a
sustentabilidade reduz os resultados das empresas. Esse é um dos principais mitos
do investimento responsável e já existem várias evidências contrárias a esse
dilema.
Tomemos o exemplo citado há pouco, das Lojas Renner. O investimento em
eficiência energética — troca de iluminação por lâmpadas mais econômicas e
regulação do ar condicionado — não traz benefício apenas para o meio ambiente,
mas reduz o custo de manutenção das lojas.
Comentário
Projetos, como o de eficiência energética, muitas vezes se pagam em um curto espaço de
tempo e podem ser vantajosos para as empresas.
Com o tempo, as questões ASG passaram a ser vistas pelos investidores como uma
forma de avaliar a gestão das companhias. Aquelas que estão preocupadas com a
satisfação dos seus colaboradores, a gestão adequada de fornecedores, o olhar
para o meio ambiente e para a governança corporativa tendem a realizar uma
gestão mais madura de suas atividades.
Com isso, tendem a apresentar um desempenho melhor que seus concorrentes. É
simples: empresa que está no vermelho não pensa no verde!
Questão 1
Qual das alternativas representa melhor o falso dilema entre o desenvolvimento sustentável
e os modelos econômicos tradicionais?
Questão 2
Os índices de sustentabilidade
Índices de ações são a principal referência para sabermos a média de desempenho deste
tipo de investimento em determinado mercado. No Brasil, por exemplo, o principal índice de
ações é o IBOVESPA, que vemos anunciado todos os dias nos jornais e publicações do
mercado financeiro.
Quando ouvimos que um índice subiu ou caiu, isso significa que, em média, suas
ações se valorizaram ou desvalorizaram, respectivamente.
A criação de um índice de sustentabilidade tem como principal objetivo conferir a
tese que apresentamos neste documento. Se as ações de empresas com boas
práticas em sustentabilidade tendem a ter uma rentabilidade maior, poderia se
esperar que um índice composto dessas empresas se valorizasse mais do que os
tradicionais do mercado.
Foi com esta intenção que surgiram os índices de sustentabilidade, que são
carteiras teóricas de ações escolhidas por suas iniciativas e indicadores ASG.
Mas afinal, para que serve um índice?
Além do Dow Jones Sustainability Index, outros índices foram criados em diversos
países do mundo, inclusive no Brasil. A B3 lançou em 2005, ainda como Bovespa, o
índice de sustentabilidade empresarial (ISE), que há 15 anos avalia as empresas
listadas no mercado brasileiro em diversos aspectos da sustentabilidade. O
processo de construção do ISE segue as seguintes etapas:
• Sete dimensões
Dimensão Definição
Compromissos com o desenvolvimento
sustentável, alinhamento às boas práticas de
Geral sustentabilidade, transparência das
informações corporativas e práticas de
combate à corrupção.
Impactos pessoais e difusos (para toda a
sociedade e o meio ambiente) dos produtos e
Natureza do produto serviços oferecidos pelas empresas, adoção do
princípio da precaução e disponibilização de
informações ao consumidor.
Relacionamento entre sócios, estrutura e
Governança corporativa
gestão do conselho de administração,
processos de auditoria e fiscalização, práticas
relacionadas à conduta e a conflito de
interesses.
Econômico-financeira Políticas corporativas (normas e procedimentos
Ambiental internos), gestão (iniciativas e processos),
desempenho (indicadores e metas) e
Social
cumprimento legal.
Política corporativa, gestão, desempenho e
nível de abertura das informações sobre o tema
Mudança do clima (quanto a empresa divulga ao mercado sobre as
suas iniciativas e como mede a sua exposição a
questões climáticas).
• Dimensões do ISE.
Adaptado de B3, 2020.
• Agricultura;
• Transporte aéreo;
• Aeroportos;
• Materiais de construção;
• Químicos e farmacêuticos;
• Construção;
• Engenharia de grandes sistemas;
• Cadeias de fastfood;
• Alimentos, bebidas e tabaco;
• Florestas, papel e celulose;
• Mineração e metais;
• Petróleo e gás;
• Geração de energia;
• Logística terrestre e marítima;
• Supermercados;
• Produção automobilística;
• Gestão de resíduos;
• Água;
• Controle de pragas.
2. Médio
1. Baixo
• Tecnologia de informação;
• Mídia;
• Financiamento ao consumo;
• Investidores em propriedade;
• Pesquisa e desenvolvimento;
• Atividades de lazer e esporte;
• Serviços de suporte;
• Telecom;
• Distribuidores atacadistas.
Atenção!
Investimentos responsáveis
Saiba mais sobre as estratégias de investimentos responsáveis.
Em todo o mundo, crescem anualmente os recursos direcionados a essas
estratégias de investimento. A Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) aponta
para um crescimento de 34% do volume de recursos que adotam estratégias de
investimento responsáveis em regiões desenvolvidas.
Na mesma publicação, são apresentados aumentos expressivos nas estratégias de
produtos temáticos (+269%), best in class (+125%), investimento de impacto (+79%)
e integração (+69%), todas avaliadas entre os anos de 2016 e 2018. Veja:
No Brasil, ainda temos poucas opções para os investidores que desejam direcionar
seus recursos para a sustentabilidade. Na pesquisa da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), os gestores dizem que
as principais estratégias adotadas são o best in class, por 30%, e as exclusões, por
cerca de 27% das instituições (ANBIMA, 2018).
Para que a agenda avance no Brasil, assim como em outras regiões no mundo, é preciso
que o mercado de investimento inove, tanto nos processos de análise como na criação de
novos produtos de investimento.
• Princípio 1
• Incorporaremos as questões ASG às análises e aos processos de decisão de
investimentos.
• Princípio 2
• Seremos proprietários ativos e incorporaremos os temas de ASG às nossas
políticas e práticas de detenção de ativos.
• Princípio 3
• Buscaremos a transparência adequada nas entidades em que investimos
quanto às questões ASG.
• Princípio 4
• Promoveremos a aceitação de implementação dos princípios dentro da
indústria de investimentos.
• Princípio 5
• Trabalharemos em conjunto para ampliar a eficácia na implementação dos
princípios.
• Princípio 6
• Reportaremos nossas atividades e progresso em relação à implementação
dos princípios.
A seguir, saiba mais sobre as características dos proprietários e gestores de ativos,
bem como dos prestadores de serviços financeiros:
Proprietários de ativos
Nesta categoria, em geral, estamos falando de grandes investidores institucionais,
como fundos de pensão — públicos ou privados —, fundações, famílias com grandes
fortunas e outras instituições que são detentoras de recursos de investimentos.
Gestores de ativos
Nesta categoria, encaixam-se instituições especializadas na gestão de recursos de
terceiros. Esses gestores podem, inclusive, administrar fundos ou produtos que
recebam os recursos dos proprietários de ativos. Mas, também, podem criar
produtos para o mercado de varejo, recebendo investimentos diretos de pessoas
físicas, por exemplo.
Prestadores de serviços financeiros
Consultorias, agências de informação, bolsas de valores e outras instituições
ligadas ao mercado de investimentos podem aderir ao PRI nesta categoria.
Além de ter sido um dos primeiros acordos voltados para o setor financeiro, a força
dos investidores institucionais que o apoiaram gerou um movimento positivo que
ampliou rapidamente o número de signatários do acordo e o volume de recursos
que passou a se comprometer com a agenda ASG.
Em 2020, o PRI atingiu a marca de 3 mil signatários, que respondem por cerca de
US$90 trilhões em ativos sob gestão.
No mercado brasileiro, o PRI ganhou força desde o início do acordo. Tendo a Previ —
fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil — como um dos 20
apoiadores iniciais, o Brasil foi o primeiro a estruturar uma rede local de signatários
do PRI, em 2007.
O modelo brasileiro espelhou a criação de nove outras redes locais, para que
investidores possam considerar as particularidades de seus mercados no processo
de debate e integração ASG. Atualmente, o Brasil possui 65 signatários do PRI.
Um estudo das Nações Unidas afirma que as regulações do sistema financeiro que
abordam as questões ASG dobraram entre 2013 e 2017 (UNEP-FI, 2018). O PRI, da
mesma forma, observa um aumento expressivo destas regulações, orientado
especificamente para o mercado de investimentos, veja:
A tendência de aumento da regulação sobre o tema não deve ser modificada nos
próximos anos. Em diversas regiões, o debate já faz parte das agendas do setor
público e, especialmente, do setor financeiro. Em 2017, foi estabelecida uma rede
internacional de Bancos Centrais e Supervisores, a NGFS (Network for Greening the
Financial System, ou Rede para um Sistema Financeiro mais Verde, em tradução
livre).
A iniciativa já conta com 54 membros dos cinco continentes, que representam mais
de 57% do PIB Global. O Banco Central do Brasil aderiu ao NGFS em 2020.
Uma vez que essas iniciativas se traduzam em novas regulações, aumentará o controle
sobre os gestores de recursos e, esperamos, sobre as empresas investidas. Até este
momento, a maior parte das regulações é orientativa, ou seja, indica de forma ampla e sem
critérios específicos que os investidores devem atentar para os riscos ASG na sua
estratégia de investimentos.
É aplicável a todas as instituições que reportam ao Banco Central, desde os grandes bancos
até cooperativas de crédito, bancos de investimento, corretoras de valores etc.
Formulário de referência
O formulário de referência é um documento de divulgação obrigatória, exigido pela
comissão de valores mobiliários (CVM), no qual a empresa divulga as principais
informações sobre suas práticas de gestão, resultados financeiros, fatores de risco,
atendimento à regulação e outras políticas relevantes.
O recado é claro: aos investidores que ainda não consideram os temas ASG de
forma estratégica, a questão está, cada vez mais, migrando para uma agenda
obrigatória. Antecipar a regulação costuma custar menos às instituições, que têm
mais tempo para implementar estratégias, processos e controles.
Além disso, quem já possui experiência no tema consegue, inclusive, debater com o
regulador para dizer o que de fato funciona e o que torna inviável o processo de
investimento. De qualquer forma, o processo parece ser cada vez mais inevitável.
Questão 1
Questão 2
3 - Tendências e desafios
Ao final deste módulo, você será capaz de definir caminhos possíveis para a integração da
sustentabilidade nas decisões de investimentos, seus desafios e tendências.
Com isso, surgem novos olhares para o ASG, que buscam orientar as políticas
públicas, as práticas das empresas e, por consequência, as decisões financeiras.
Alguns desses tópicos são explicados neste módulo, mas não concentram todo o
debate em torno da sustentabilidade, que é muito mais complexo.
Esse grupo de cientistas de todo o mundo realiza estudos para avaliar em que nível
Comentário
Outra dificuldade é que este não é um tema para o qual podemos prescrever uma receita
única, que se aplique a todos os setores e empresas. A sustentabilidade exige uma reflexão
para encontrar a materialidade e os riscos específicos de cada organização, o que é mais
complicado quando ainda não existe tanto conhecimento sobre o tema.
Os próprios reguladores têm se articulado para aumentar a padronização de dados ASG nas
empresas, facilitando a vida de analistas e gestores de investimentos.
Questão 1
Entre todos os temas das questões ASG, qual aspecto tem sido mais debatido e chamado
mais a atenção de governos e investidores dos países desenvolvidos nos últimos anos?
A Aspecto ambiental
B Aspecto social
E Aspecto financeiro
Questão 2
Considerações finais
Trouxemos o debate das questões ambientais, sociais e de governança corporativa
(ASG).
No primeiro módulo, destacamos como ocorreu a evolução da sustentabilidade
como a conhecemos hoje e definimos os investimentos responsáveis. Com isso,
trouxemos uma visão ampla sobre a relação entre finanças e sustentabilidade.
No segundo módulo, abordamos os diferentes índices de sustentabilidade e das
suas principais funções, e falamos sobre a importância do papel regulatório para o
setor. Por fim, trouxemos os principais desafios e tendências das questões ASG,
adequando o debate aos dias atuais.
Agora você compreendeu a importância de aprofundarmos o debate de
sustentabilidade, baseados nos aspectos econômicos e financeiros que regem as
economias dos países contemporâneos.
Para encerrar, ouça agora um resumo dos principais pontos abordados neste
conteúdo.