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INOVAÇÕES

TECNOLÓGICAS E
TRANSFORMAÇÃO
DIGITAL
ESG (environmental,
social and
governance)
Juliane do Rocio Juski

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Conceituar ESG (environmental, social and governance).


> Identificar uma organização que possua as boas práticas de ESG.
> Relacionar os principais pontos de atuação em ESG.

Introdução
As práticas ESG (environmental, social and governance, ou governança am-
biental, social e corporativa) são um novo conceito de gestão organizacional
que vem se popularizando no Brasil nos últimos três anos. A estratégia de
ESG é elaborar diretrizes e recomendações de boas práticas sobre questões
ambientais, sociais e de governança corporativa. Esses princípios se baseiam
nas ideias de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade.
Neste capítulo, você vai estudar a origem e a trajetória desse conceito e
como o ESG representa uma contribuição importante para os mecanismos de
gestão e análise de investimentos, além de ser uma ruptura na perspectiva
do papel desempenhado pelas empresas na sociedade. Para compreender
essa importância, você vai estudar indicadores de boas práticas de ESG e os
principais pontos de atuação de uma organização para implementar o ESG.
2 ESG (environmental, social and governance)

O que é ESG e como ele surgiu


A questão ambiental tornou-se um assunto de destaque nas mesas de nego-
ciações ao redor do mundo. Problemas como o efeito estufa, o derretimento
das calotas polares e, consequentemente, o aumento nos desastres natu-
rais evidenciam a necessidade urgente de se repensar a estrutura global
capitalista. Grandes líderes globais vêm discutindo medidas e sanções para
frear os problemas socioambientais e implementar novas diretrizes para as
tomadas de decisão.
Nesse cenário, desde a década de 1990, a pauta ambiental vem ganhando
relevância e tornando-se protagonista das discussões globais. Em meio a
essas necessidades, vimos emergir conceitos como a responsabilidade social
corporativa e a sustentabilidade. São exatamente esses os conceitos precur-
sores que servem de base para um novo modelo que se tornou famoso nos
últimos anos: o ESG.
De acordo com Calderan et al. (2021), o avanço da pandemia de covid-19
ao redor do mundo evidenciou como diversos problemas socioambientais
antes ignorados precisam ser olhados com mais atenção, além de impulsionar
novas formas de gestão. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) já observavam
que o comportamento do consumidor vinha em uma crescente mudança. No
cenário do marketing 4.0, vemos a mudança na postura do cliente em seu
momento de tomada de decisão, com uma escolha baseada não apenas no
preço ou no reconhecimento da marca, mas também em uma conexão mais
profunda com os princípios e valores da marca. Com a pandemia, essa mudança
se tornou mais nítida. As pessoas passaram a repensar suas prioridades e,
nos momentos de maior tensão, viram com bons olhos aquelas empresas
que se propuseram a ajudar o próximo e se posicionaram diante de cenários
inseguros. É nesse momento de mudança de paradigmas que os princípios
norteadores da responsabilidade social e da sustentabilidade se reagrupam
em torno do conceito de ESG.

Conceito de ESG
Segundo Sgrillo (2021), a sigla ESG trata-se de um conjunto de princípios e
diretrizes para medir, analisar, denunciar e corrigir diversos desafios enfren-
tados no mundo e na economia contemporânea.
Para compreender como esse conceito se delineou, Calderan et al. (2021)
apontam que o surgimento do conceito foi em 2004, no relatório Who cares
wins, fruto de uma iniciativa conjunta entre a Organização das Nações Unidas
ESG (environmental, social and governance) 3

(ONU) e instituições financeiras, chamadas de UN Global Compact. O propósito


da iniciativa era desenvolver diretrizes e recomendações sobre como melhorar
e integrar as questões ambientais, sociais e de governança corporativa no
gerenciamento de ativos e serviços financeiros.
Sgrillo (2021) complementa esse resgate histórico ao apontar que, desde
os anos 1990, algumas empresas já divulgavam dados que se assemelhavam
ao ESG, a partir dos princípios de responsabilidade de investimentos. Para o
autor, esse surgimento do conceito no seio do setor financeiro é explicável,
pois desde a sua gênese a área financeira se caracteriza como um dos motores
da economia global. De acordo com Sgrillo (2021, documento on-line):

[...] através de fluxos de capitais que permeiam nossa sociedade, observa-se que
não apenas o funcionamento de toda a estrutura econômica está intimamente
atrelado ao setor financeiro, como o impacto de suas atividades.

Isso significa que atividades financeiras e de trocas e o desenvolvimento


industrial são fatores essenciais para o desenvolvimento da sociedade.
Sgrillo (2021) ainda pontua que essa importância como força motriz da
sociedade também carrega uma grande responsabilidade, uma vez que as
lógicas econômica e financeira são algumas das maiores causadoras dos
problemas ambientais e sociais que enfrentamos atualmente. Adotando essa
lógica, o autor afirma que o surgimento do ESG atrelado ao setor financeiro se
conecta à proposta de os principais agentes financeiros globais perceberem a
necessidade de se repensar a lógica econômica global e corrigir as posturas
adotadas pelo sistema capitalista antes do meio ambiente entrar em colapso.

Podemos destacar o impacto ambiental das indústrias nos últimos dois séculos
como propulsores do avanço do aquecimento global. Ademais, a exploração de
recursos naturais na busca pela expansão econômica e crescimento traz mazelas
sociais que são indissociáveis ao conceito de desenvolvimento econômico nos
termos atuais (SGRILLO, 2021, documento on-line).

Nesse contexto, as organizações internacionais, em parceria com os setores


privados e os governos, vêm trabalhando para construir novos paradigmas e
tentar frear os impactos do aquecimento global e das mudanças climáticas,
além de combater a desigualdade social. Assim como Calderan et al. (2021),
Sgrillo (2021) pontua que essa mudança de perspectiva impulsionou as or-
ganizações a desenvolverem o ESG e a cobrarem de outras empresas que se
posicionem e adequem seus modelos de gestão para uma alternativa mais
sustentável.
4 ESG (environmental, social and governance)

Sustentabilidade como essência


A preocupação das organizações com as questões socioambientais não surgiu
com o ESG. Conforme apontam Costa e Ferezin (2021), o tripé da sustentabi-
lidade é a essência que norteou os princípios do ESG, e essas questões vem
sendo discutidas desde a sua forma original, triple bottom line, um conceito
desenvolvido pelo sociólogo inglês John Elkington (2012) ao elencar as pers-
pectivas econômica, social e ambiental para compor o desenvolvimento
sustentável.
Para Elkington (2012, p. 52), a sustentabilidade é o “princípio que assegura
que nossas ações de hoje não limitarão a gama de opções econômicas, sociais
e ambientais disponíveis para as futuras gerações”. Em resumo, para o autor:

[...] esse é o novo paradigma do século XXI e o desenvolvimento sustentável proposto


pelos governos e líderes corporativos como solução para uma gama de problemas
que agora estão começando a fazer parte da pauta internacional (ELKINGTON,
2012, p. 52).

Esses problemas incluem não apenas a camada de ozônio, o aquecimento


global e o colapso da pesca nos oceanos, mas também problemas sociais,
como a desigualdade social e a mortalidade infantil (ELKINGTON, 2012).
Para driblar o esvaziamento do conceito de sustentabilidade, e como o
termo poderia apresentar um modo empírico de comprovação, Elkington (2012),
em Sustentabilidade: canibais de garfo e faca, cuja primeira edição é de 1999,
apresenta uma forma aplicar a ideia de sustentabilidade por meio de três
vertentes que podem ser mensuradas: a prosperidade econômica, a qualidade
ambiental e a justiça social. Esse modelo mensurável ficou conhecido como
triple bottom line, e os três pilares (econômico, social e ambiental) receberam
o nome de 3P (profit, planet, people) (ELKINGTON, 2012).
Elkington (2012, p. 108) esclarece que tais conceitos não eram novidade, pois
o Relatório Brundtland já havia deixado claro que “questões de igualdade entre
gerações estavam no coração da sustentabilidade”. Apesar disso, a maioria das
empresas que se mostraram flexíveis na Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 e Rio
92, não tinha ideia da intensidade da lógica do desenvolvimento sustentável
e não sabia como fazer para efetivamente caminhar para a sustentabilidade.
O mais preocupante, segundo Elkington (2012), era que esses problemas não
eram simplesmente econômicos e ambientais; tanto em suas origens quanto
em sua natureza, eles geravam questões sociais, éticas e, acima de tudo,
políticas. As mudanças não podem ser superficiais. Elas requerem profundas
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transformações, como redefinir as visões do significado de igualdade social,


justiça social e ética empresarial. Esta última visão, por sua vez, “exigirá um
melhor entendimento não somente das formas financeira e física do capital,
mas também do capital social, humano e natural” (ELKINGTON, 2012, p. 108).
Diante desse cenário da necessidade de profundas transformações, a
SustainAbility desenvolveu o conceito dos três pilares do desenvolvimento
sustentável, ainda em 1999. Elkington (2012, p. 110) explica que há interdepen-
dência entre os pilares, pois “a sociedade depende da economia, e a economia
depende do ecossistema global, cuja saúde representa o pilar derradeiro”.
O autor afirma que os três pilares não são estáveis; eles estão em um fluxo
constante de vai e vem em razão de pressões sociais, políticas, econômicas e
ambientais. Portanto, segundo o autor, o desafio da sustentabilidade é mais
difícil que qualquer outro tomado isoladamente, uma vez que a relação dos
pilares é intrínseca, se afetando mutuamente.

A SustainAbility é uma instituição de consultoria fundada em 1987


pelos ativistas John Elkington e Julia Hailes, com o propósito de
orientar empresas a desenvolver modelos de produção com responsabilidade
econômica, social e ambiental por meio da melhoria das práticas comerciais.

O pilar econômico (profit) não se relaciona apenas ao capital econômico; ele


precisa ser entendido de um modo mais amplo, absorvendo uma gama maior
de conceitos, como capital natural e capital social. Além disso, é necessário
assumir uma responsabilidade compromissada e integrada aos outros dois
pilares. Segundo Elkington (2012), os pilares se sobrepõem, e da aproximação
entre o desempenho econômico e o ambiental surge a ecoeficiência. Segundo
o autor, a ecoeficiência pode ser definida como o fornecimento de bens e
serviços com preços competitivos que, além de satisfazer as necessidades
humanas e trazer qualidade de vida, reduz progressivamente os impactos
ambientais e ecológicos, diminuindo a utilização de recursos naturais durante
o ciclo de vida a um nível próximo do suportável pelo planeta.
O pilar ambiental (planet) também inclui, além do capital natural, pressões
sobre a cadeia de fornecimento e a desafiante questão da justiça ambien-
tal. No âmbito das empresas, “a tarefa vem se tornando mais fácil com o
desenvolvimento e a publicação dos padrões de gerenciamento ambiental
internacional, como o ISO 14001” (ELKINGTON, 2012, p. 120).
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O pilar social (people) inclui o tratamento de questões sociais, políticas,


éticas e culturais. Nesse pilar, o principal capital é o social, entendido por
Elkington (2012) como uma capacidade que surge da prevalência da confiança
de uma sociedade ou parte dela. “Ela é uma medida da capacidade de as
pessoas trabalharem juntas, em grupos ou organizações, para um objetivo
comum” (ELKINGTON, 2012, p. 124). Os desafios desse pilar são enormes, como
a valorização dos direitos humanos, a criação de mais empregos, o aumento
do poder feminino, a diminuição da pobreza e a estabilidade da população
(ELKINGTON, 2012).
Para Costa e Ferezin (2021), com a crescente diversidade e o conhecimento
da capacidade organizacional, surgiram novas variações conceituais da sus-
tentabilidade. Uma dessas variações é o ESG, que se baseia no tripé proposto
por Elkington, mas substitui o fator econômico para o termo governança
corporativa. De acordo com Costa e Ferezin (2021, documento on-line), essa
nova concepção “amplia a visão e não somente engloba o resultado comercial,
mas também a transparência nesta divulgação, os comitês de auditoria, a
conduta corporativa e o combate à corrupção”.
Depois de entender o conceito de ESG e sua origem, é possível notar como
essa estratégia engloba as dimensões sociais, ambientais e de governança
corporativa, trabalhadas nas organizações de forma conjunta. O processo de
composição da tríade ESG não leva à fragmentação das partes, mas, sim, à
percepção da complexidade que envolve a inter-relação dessas três esferas.
É essencial que essa tríade seja aplicada de forma integrada nas organizações
contemporâneas.

Boas práticas de ESG


Como vimos, o termo ESG ganhou popularidade a partir de 2004, com a publi-
cação de Who cares wins, do pacto global da ONU em parceria com o Banco
Mundial. A aplicação das diretrizes ESG vem ganhando grande visibilidade
desde então, com preocupações constantes do mercado financeiro sobre os
assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável. As questões relacionadas
ao meio ambiente, à justiça social e à governança passaram a ser consideradas
fatores essenciais nas análises de riscos e nas relações de investimentos, pois
indicam solidez das empresas, custos mais baixos, maior resiliência para lidar
com incertezas e melhor reputação junto aos stakeholders.
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Nesse cenário, grandes nomes do mercado começaram a implementar


as diretrizes ESG e passaram a exigir que sua cadeia de fornecedores se
adequasse ao novo modelo. De acordo com Calderan et al. (2021), entre os
objetivos do pacto global estava o desenvolvimento de mercados financei-
ros mais fortes e resilientes, preocupados em gerar contribuições para o
desenvolvimento sustentável e promover a conscientização e compreensão
mútua dos envolvidos ao discutir alternativas para gerar mais confiança nas
instituições financeiras. Ao colocar ênfase nas questões socioambientais e
nos riscos organizacionais, as diretrizes do ESG colocam, definitivamente,
as esferas ambiental e social na prerrogativa estratégica, que é incorporada
pelo mercado empresarial.
Essas diretrizes do ESG estão compiladas conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1. Questões ambientais, sociais e de governança que impactam o


valor das organizações e dos investimentos

Questões de
Questões ambientais Questões sociais
governança

„ Mudanças climáticas e „ Saúde e segurança no „ Estrutura e


riscos relacionados à local de trabalho. responsabilidade
necessidade de reduzir „ Relações do conselho.
emissões tóxicas e comunitárias. „ Práticas de
resíduos. „ Questões de direitos contabilidade e
„ Nova regulamentação, humanos na empresa divulgação.
ampliando os limites e fornecedores/ „ Estrutura do
da responsabilidade instalações dos comitê de
ambiental em relação a contratados. auditoria e
produtos e serviços. „ Relações com independência dos
„ Aumento da pressão o governo e a auditores.
da sociedade civil comunidade no „ Remuneração
para melhorar o contexto das executiva.
desempenho, a operações em países „ Gestão de
transparência e a em desenvolvimento. questões de
responsabilidade, „ Aumento da pressão corrupção e
levando a riscos da sociedade civil suborno.
de reputação se para melhorar o
não for gerenciado desempenho, a
corretamente. transparência e a
„ Mercados emergentes responsabilidade,
para serviços levando a riscos
ambientais e produtos de reputação se
ecológicos. não for gerenciado
corretamente.

Fonte: Adaptado de Calderan et al. (2021).


8 ESG (environmental, social and governance)

A partir de uma série de recomendações baseadas em estudos de casos e


a exposição de uma curadoria de iniciativas já realizadas globalmente, essas
boas práticas são agrupadas no relatório da Global Compact e organizam
a estratégia de ESG. Para Calderan et al. (2021), com essas diretrizes mais
assertivas e práticas para investidores e empresários, o termo ESG passa
a compor uma série de padrões para as operações de uma empresa. Os in-
vestidores socialmente conscientes usam tais padrões para selecionar seus
investimentos em potencial e evitar que empresas possam representar algum
risco financeiro maior por causa de suas práticas ambientais.
Calderan et al. (2021) defendem que o ESG traz uma contribuição impor-
tante: a difusão da governança corporativa atrelada a questões socioam-
bientais, expandindo seu alcance para além de grandes atores empresariais
e institucionalizando o conceito em diferentes esferas e proporções. Para
Calderan et al. (2021, p. 4), “a institucionalização do conceito em diferentes
esferas e nas atuais proporções, especialmente expressas nas mais recentes
práticas de gestão, permite entendê-lo como um ‘fenômeno’ organizacional”.
Calderan et al. (2021) alertam para o fato de que, atualmente, as empresas
utilizam as diretrizes de ESG como um diferencial competitivo, aproximando-se
de uma prática de greenwashing, ou marketing verde. Esse alerta também é
levantado por Kieszkowski (2021, p 14), que afirma que:

[...] apesar de uma definição em termos nacionais, quando analisado o cenário


internacional ainda falta consenso sobre quais são as medidas e os critérios a
serem utilizados, além da desconfiança quanto às informações fornecidas pelos
possíveis receptores de investimentos internacionais.

O greenwashing, ou marketing verde, é a prática de associar a imagem


da organização a boas práticas socioambientais sem de fato exercer
ações benéficas nessas esferas. Ou seja, sem realizar medidas para reduzir os
impactos ambientais. As práticas de greenwashing envolvem situações em que
produtos, marcas e outras atividades corporativas são mostradas como bené-
ficas para o ambiente, mas na verdade não são. Também existem ações parciais
de responsabilidade socioambiental utilizadas como diferencial competitivo,
sendo que, na prática, tais ações são parciais ou mascaram práticas negativas
em relação à tríade da sustentabilidade (ANTONIOLLI; GONÇALVES-DIAS, 2015).
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Índice ESG Brasil


A bolsa de valores oficial do Brasil, a B3, dispõe de seis índices de sustenta-
bilidade. Eles servem de parâmetro para os investidores comprometidos com
a temática e auxiliam as companhias a incorporarem questões da prática de
ESG. Esses indicadores consolidam os fatores do desenvolvimento sustentável
e mensuram a atuação das empresas comprometidas com a causa. Veja a
seguir quais são os índices da B3 (2022):

„ Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE);


„ Índice de Carbono Eficiente (ICO2);
„ Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC);
„ Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT);
„ Índice de Governança Corporativa — Novo Mercado (IGC-NM);
„ Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).

Para Sion e França (2021), as práticas de ESG podem ser usadas para dizer
quanto um negócio busca formas de minimizar seus impactos no meio am-
biente, a fim de construir um mundo mais justo e responsável para as pessoas
em seu entorno, além de manter os melhores processos de administração.
Com sua ampla utilização, o ESG também passou a ser usado para investi-
mentos com critérios de sustentabilidade. Em vez de analisar apenas índices
financeiros, por exemplo, investidores também observam fatores ambientais,
sociais e de governança de uma companhia.

No Brasil, as empresas vêm desenvolvendo e aprimorando suas


práticas de ESG. Na vanguarda, encontramos o Instituto Ethos,
uma organização não governamental (ONG) criada com a missão de mobilizar,
sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente
responsável. Para desenvolver seu propósito, o Instituto Ethos atua a partir
de quatro grandes áreas: direitos humanos, gestão para o desenvolvimento
sustentável, integridade e meio ambiente. Para auxiliar as empresas, o instituto
criou os Indicadores Ethos, uma ferramenta de gestão que visa a apoiar as
empresas na incorporação das práticas sustentáveis e de responsabilidade
social em suas estratégias de negócio.
O banco Santander é uma das empresas que se destacam como exemplo de
boas práticas na implementação de estratégias ESG, integrando, há tempos, o
guia do Instituto Ethos.
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O Santander tem como base a transparência em termos de governança,


além de processos, políticas e condutas pautadas nos princípios do ESG.
De acordo com a empresa, desde 2002, ela realiza análise de risco socioambiental.
A partir de 2009, a organização aderiu aos Princípios do Equador. Além disso, o
Santander tem um sistema de gestão ambiental consolidado, com ações e metas
que envolvem funcionários e fornecedores. No âmbito social, a empresa está
ampliando a diversidade interna, incorporando profissionais com experiências
e qualificações variadas. No aspecto da governança, a conduta do banco é
baseada na governança com excelência e responsabilidade, com foco na gestão
de riscos, na satisfação dos clientes e na geração de benefícios aos acionistas
e à sociedade (SANTANDER, 2022).
Em 2021, a revista Exame fez uma premiação para as empresas mais bem
classificadas nos indicadores ESG. Entre as empresas premiadas estão:
O Boticário, Natura, Itaú, Ambev, Movida, Mercado Livre e Grupo Fleury (DIAS,
2021).

Como implementar uma estratégia de ESG


No âmbito das ações empresariais, Sion e França (2021) relatam que os pa-
drões de ESG passaram a ser adotados como forma de avaliar o risco e as
oportunidades das empresas, expandindo essa atuação do setor econômico
para as questões sociais e ambientais. Para os autores, a estratégia de ESG
é capaz de atribuir um reconhecimento às organizações como instituições
social e ambientalmente responsáveis, e portanto capazes de atrair mais
investimento. Em outras palavras, elas atraem investidores credenciados
para investimentos socialmente responsáveis (IRS).
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo (SCOGNAMIGLIO, 2022), Fábio
Alperowitch, gestor brasileiro de fundos que tem como foco as boas práticas
de ESG e gerencia R$1,7 bilhão em investimentos, apresenta um panorama
histórico de como essa estratégia passou a ser mais procurada pelos investi-
dores brasileiros. De acordo com ele, a preocupação com o desenvolvimento
sustentável é uma premissa que há anos vem sendo desenvolvida pela Europa,
mas nos Estados Unidos não há esse mesmo entusiasmo, e o Brasil tem um
histórico de acompanhar o modelo americano, não o europeu. Com a eleição
de Donald Trump e suas decisões sobre a relevância das questões ambientais,
diversas empresas utilizaram a estratégia de ESG como uma forma de se
posicionar e contrastar suas ações frente ao governo norte-americano. Esse
mesmo movimento foi observado no Brasil, após a eleição do presidente
Jair Bolsonaro e de sua política ambiental. Com isso, as empresas se es-
pelharam no modelo americano e passaram a adotar estratégias de ESG
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como uma resposta às preocupações do mercado global. Ainda de acordo


com Alperowitch, as relações de consumo se alteraram profundamente, e o
novo consumidor está preocupado com os impactos que as empresas estão
gerando no planeta, além de dar importância a como essas empresas utili-
zam os recursos naturais e lidam com questões como igualdade de gênero e
posicionamento sobre temas imprescindíveis (p. ex., racismo, diversidade e
inclusão) (SCOGNAMIGLIO, 2022). É por isso que as práticas de ESG ganharam
tanta relevância nesse período pandêmico.
Para Sion e França (2021), a necessidade de geração de riqueza a partir
da lógica de inclusão socioeconômica, de proteção ao meio ambiente e de
melhoria nas condições da qualidade de vida das pessoas é uma temática
que afeta as operações nos setores público e privado. É por esse motivo que
a estratégia de ESG ganhou tanto destaque.
Entretanto, se esse reconhecimento é identificado, como implementar em
um negócio? O primeiro passo é definir uma estratégia e uma metodologia
para implementação. Para isso, é necessário fazer uma análise minuciosa
de toda a organização e de sua cadeia produtiva, a fim de identificar os
processos de gestão e produção e, assim, elencar quais aspectos precisam
ser ajustados ou melhorados.

Boas práticas ambientais


O pilar ambiental do ESG envolve uma série de ações destinadas ao cuidado
com o meio ambiente. De acordo com Sion e França (2021), as estratégias de
gestão precisam ser pensadas em associação ao ideal sustentável, por meio
da integração e da conscientização sobre os potenciais impactos ambientais
negativos advindos das atividades. Essa prática deve ser constante ao longo
de todo o processo produtivo.
Para amenizar esses impactos negativos, os principais pontos de atuação
englobam: a utilização de energias renováveis, como a solar e a eólica; a
redução significativa de emissão de gases que contribuem com o efeito estufa;
e a diminuição da geração de resíduos sólidos (para isso, é indicada a criação
de um plano de gerenciamento de resíduos com descrição dos processos de
reciclagem, reúso e descarte adequado). As boas práticas ambientais também
incluem a não poluição de águas e mananciais, o respeito à biodiversidade,
a prevenção de desastres e a gestão de riscos ambientais.
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Para Sgrillo (2021), no prisma ambiental, busca-se analisar, formular estra-


tégias e corrigir problemas relacionados à emissão de carbonos, ao consumo de
água, à geração de energia limpa e aos tópicos relacionados à preservação do
planeta. Tudo isso deve estar sempre atrelado à sustentabilidade energética.

Boas práticas sociais


Para Sion e França (2021), os critérios sociais estão relacionados à preocupa-
ção da empresa com a sociedade, ou seja, ao seu impacto junto à sociedade.
Nesse sentido, os autores apontam como frentes de atuação no âmbito social
ações e políticas organizacionais que respeitem a diversidade e permitam a
inclusão. Além disso, podemos inserir nesse pilar a promoção do bem-estar
no ambiente trabalho, com medidas para oferecer cuidados com a saúde
física e mental dos funcionários; a execução de ações positivas para a co-
munidade ao entorno; a contribuição com projetos sociais desenvolvidos
pela comunidade do entorno; e o auxílio ao desenvolvimento intelectual de
funcionários e colaboradores.
Sion e França (2021) esclarecem que as boas práticas sociais devem ser
realizadas com todos os stakeholders, ou seja, tanto com os consumidores e
clientes quanto com os funcionários, colaboradores e fornecedores. Da mesma
forma, Sgrillo (2021) indica que o prisma social aborda questões pertinentes aos
direitos humanos, à forma como o mercado de trabalho absorve e trata seus
empregados. Por isso, temáticas como o trabalho infantil, a saúde e a segu-
rança no trabalho são abordagens que devem pautar as ações organizacionais.

Boas práticas de governança


A governança é o pilar que analisa as esferas de gestão e os setores admi-
nistrativos, por isso suas ações envolvem a elaboração de programas que
consideram a diversidade e a independência dos gestores e do conselho da
empresa. De acordo com Sion e França (2021), os critérios de governança
estão relacionados à gestão do processo de decisão, proteção dos direitos
e interesses dos stakeholders, estruturação de mecanismos e processos de
controle da operação da empresa quanto aos princípios éticos e distribuição
igual de direitos e responsabilidades.
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Sgrillo (2021) identifica que, no prisma de governança, questões rela-


cionadas à prática de lobbying, corrupção e diversidade social devem estar
contempladas nas estruturas de direção das empresas, e suas políticas devem
ser construídas a partir de um diálogo entre a empresa, a sociedade civil, os
governos e as organizações internacionais.
A sigla ESG carrega, em sua essência, a proposta do movimento de res-
ponsabilidade social corporativa e de sustentabilidade dos anos 1990, um
conjunto de diretrizes que unem o compromisso da organização a seus vários
públicos e ao meio ambiente. Neste capítulo, vimos que a utilização do termo
em larga escala no cenário global aconteceu a partir de 2004, quando o pacto
global entre a ONU e o Banco Mundial identificou nessas práticas indicadores
atrelados à solidez financeira e ao desenvolvimento sustentável.
A estratégia de ESG tornou-se uma necessidade real e um diferencial
competitivo. Com as mudanças no comportamento do consumidor, as práticas
socioambientais e de governança são fatores que influenciam diretamente
na tomada de decisão de compra e investimento. É com base nesse princípio
que as empresas vêm elaborando programas e ações voltadas aos três pilares
do ESG, com práticas positivas nos âmbitos social, ambiental e de gestão.

Referências
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14 ESG (environmental, social and governance)

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