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A PESQUISA SOBRE SUSTENTABILIDADE


ESTRATÉGICA NO BRASIL: FATOS E DADOS
 

GABRIEL AGUIAR DE ARAUJO


Universidade do Grande Rio
gabriel_aguiar@hotmail.com
 
JOSIR SIMEONE GOMES
Universidade do Grande Rio
josirsgomes@gmail.com.
 

 
A PESQUISA SOBRE SUSTENTABILIDADE ESTRATÉGICA NO
BRASIL: FATOS E DADOS
RESUMO
As transformações ambientais e sociais ocorridas no mundo desde a revolução
industrial, principalmente após a segunda metade do século XX, fizeram com que as empresas
começassem a ser mais cobradas quanto ao seu posicionamento responsável. Tal fato levou
pesquisadores a aprofundarem seus estudos no intuito de ajudar as empresas a superarem estes
desafios. Assim, verificou-se a necessidade de embutir as questões socioambientais na
estratégia dos negócios. Este trabalho buscou entender como as pesquisas sobre
sustentabilidade estratégica no meio organizacional estão se desenvolvendo no Brasil. Para
tanto, foi realizado levantamento bibliométrico com intuito de identificar as publicações
acadêmicas da área e sociométrico para verificar de que maneira seus pesquisadores e
instituições de ensino superior (IES) estão trabalhando. Os resultados indicam que estas
pesquisas estão se tornando cada vez mais frequentes, porém ainda há longo caminho a ser
seguido no desenvolvimento dos estudos. Pesquisadores que publicam com coautores são a
maioria, porém o fato de publicarem coletivamente não aumenta a produtividade dos mesmos.
As redes formadas por estes autores apresentam-se dispersas e alguns pesquisadores exercem
papel chave no desenvolvimento das mesmas. As redes formadas por IES é mais densa e
menos dispersa, porém também depende de algumas poucas instituições para ser formada.
PALAVRAS-CHAVE:
Sustentabilidade, estratégia, pesquisa, análise de redes sociais.

THE RESEARCH ON STRATEGIC SUSTAINABILITY IN


BRASIL: FACTS AND DATA
ABSTRACT
The environmental and social changes in the world since the industrial revolution,
especially after the second half of the twentieth century, took companies to be levied on its
responsible position. This fact led researchers to deepen their studies to help companies
overcome these challenges. Thus, the need for embedding social and environmental issues in
business strategy arose. This study sought to understand how research on strategic
sustainability in businesses is being developing in Brazil. To reach this objective, bibliometric
survey was conducted with the aim of identifying academic publications in the field and
sociometric to verify in which way its researchers and higher education institutions (HEIs) are
working. The results indicate that these research are becoming increasingly common, but
there is still a long way in the development of studies that mixes strategies of companies with
sustainable practices. Researchers who publish with coauthors are the majority, but the fact
that they publish collectively does not increase productivity thereof. The networks formed by
these authors is scattered and some researchers exert key role in their development. The
networks formed by HEIs is denser and less dispersed, but also depends on a few institutions
to be formed.
KEYWORDS:
Sustainability, strategy, research, social network analysis.

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INTRODUÇÃO
Entende-se por desenvolvimento sustentável a capacidade de satisfazer as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem as suas próprias necessidades (CMMAD, 1988, p. 46). Baseado nesta definição,
Elkington (1997) propôs que o desempenho organizacional não deveria ser mensurado
exclusivamente pelo resultado financeiro, mas também pelo resultado ambiental e social, pois
estes fatores estão diretamente relacionados à sobrevivência e bem estar da humanidade.
Os pioneiros nestes estudos foram os europeus. Um grupo de pesquisadores,
conhecido como Clube de Roma, iniciou um estudo no fim da década de 60 do século
passado, objetivando identificar os limites de crescimento do planeta. Dada a importância do
tema, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu em 1972 a Conferência de
Estocolmo com intuito de debater questões ambientais também a nível global. Além desses
dois movimentos, diversos outros foram realizados na sequência, o que trouxe significativas
consequências legais e sociais aos países participantes.
Desde então, os resultados de pesquisas e acordos entre países estão tornando as
legislações quanto ao meio ambiente e os direitos civis mais rígidas, além de incentivarem a
conscientização dos consumidores sobre seus direitos e ferramentas de pressão sobre as
organizações. Assim, a partir da década de 80 do século passado, a sustentabilidade tornou-se
assunto popular no meio acadêmico da administração.
Em consequência desses movimentos, as empresas foram obrigadas a considerarem
em seus planejamentos aspectos que antes simplesmente ignoravam. Tal fenômeno é
conhecido como internalização das externalidades e trouxe profundos desafios na maneira
como as empresas são geridas. Esta nova realidade se tornou novo campo de estudos
organizacionais que até os dias atuais se encontra em expansão, principalmente por meio dos
estudos sobre responsabilidade social corporativa (RSC) e sistemas de gestão ambiental
(SGA).
Dada a magnificência dos desafios impostos pela sustentabilidade, as empresas estão
sendo obrigadas a replanejar suas atividades sob esse novo paradigma. Nesse sentido, ações
sustentáveis isoladas não são mais eficazes para responder a estas novas demandas. Têm-se
que o panorama é complexo e exige ações de maior vulto, ou seja, aquelas associadas à
estratégia empresarial, onde são considerados aspectos de maior impacto e longo prazo. Nesse
sentido, no presente trabalho, considera-se sustentabilidade estratégica, as ações fomentadoras
do desenvolvimento sustentável que estão embutidas na estratégia organizacional.
Com base no exposto, este estudo tem como objetivo principal entender como as
pesquisas sobre sustentabilidade estratégica no meio organizacional estão se desenvolvendo
no Brasil. Para tanto, foi realizado levantamento bibliométrico com intuito de identificar as
publicações acadêmicas da área e sociométrico para verificar de que maneira seus
pesquisadores e instituições de ensino superior (IES) estão trabalhando. Como objetivos
secundários, pretende-se verificar se pesquisadores da área que publicam com outros autores
são mais produtivos do que autores que publicam isoladamente, identificando se a rede de
pesquisadores é fator que contribui para o desenvolvimento da temática.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Sustentabilidade Estratégica
A degradação ambiental resultante da atividade industrial do século XX, chamou a
atenção de diversos setores da sociedade e impôs uma série de restrições às cadeias
produtivas. Tais restrições chegaram às empresas por meio de alterações legais ou na forma
de escassez de matérias primas. Associado a isso, diversas crises e escândalos financeiros

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abalaram a confiança das pessoas nas empresas, principalmente nas grandes corporações.
Dessa maneira, a partir da década de 1970, diversos movimentos de conscientização social e
ambiental passaram a influenciar as empresas por meio dos seus stakeholders.
Em função da importância do tema, diversos estudos foram conduzidos para tentar
enxergar como as empresas podem superar os desafios impostos pela sustentabilidade.
Elkington (1997) argumenta que as empresas ou indústrias que não forem capazes de se
adaptar, poderão estar fadadas ao fracasso. Hart (2006) defende a ideia de que o mundo
capitalista passa por um momento de destruição criativa em que os atuais padrões de consumo
serão suplantados.
O termo sustentabilidade estratégica está relacionado aos investimentos sociais e
ambientais diretamente realizados no núcleo dos negócios de uma empresa. Dessa maneira, as
organizações que conseguem integrar a sustentabilidade em suas estratégias, são mais aptas a
aproveitar oportunidades e neutralizar ameaças decorrentes de demandas sociais e ambientais,
garantindo assim, vantagem competitiva (CLARO; CLARO, 2014).
Porter e Kramer (2011) argumentam que boa parte das empresas possui uma visão
míope sobre a criação de valor. Dessa maneira, ainda estão presas a um pensamento antigo em
que a criação de valor econômico é incompatível com o progresso social. Para eles, a criação
de valor compartilhado, ou seja, aquele que considera as necessidades e desafios sociais em
conjunto com a criação de valor econômico, é a perspectiva que funcionará para aumentar a
competitividade das empresas.
Nesse sentido, é crescente a preocupação das organizações quanto à incorporação de
ações de responsabilidade social corporativa nas suas estratégias empresariais visando
desenvolver produtos, aplicar processos e realizar negócios pautados nos preceitos da
sustentabilidade, além de também responder às expectativas e pressões dos stakeholders
(SANTOS; DA SILVA; GÓMEZ, 2012).
Análise de Redes Sociais
O desenvolvimento científico é responsável por buscar soluções para os problemas
existentes. Assim, diversas organizações empenham-se em aprimorar seus produtos e
processos por meio do conhecimento advindo de atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D). Além delas, as universidades e pesquisadores contribuem para o desenvolvimento das
inovações científicas. Nos dias atuais, em função da complexidade e abrangência dos desafios
existentes, a dinâmica de P&D está cada vez mais plural, fazendo com que pesquisadores e
instituições formem redes de cooperação visando difundir conhecimento, aprendizagem e
desenvolvimento tecnológico (BULGACOV; VERDU, 2001).
Segundo Yayavaram e Ahuja (2008), em um ambiente tecnológico dinâmico, as
estruturas de conhecimento que são caracterizadas por grupos densos de pesquisadores e
instituições conectados por laços fracos a outros grupos densos de pesquisadores e instituições
são mais propensas a desenvolver inovações mais úteis do que as estruturas caracterizadas
somente por grupos densos ou somente por grupos isolados.
Tal constatação pode se apoiar no conceito de buracos estruturais. O mesmo foi
desenvolvido por Burt (1992) e está fundamentado no trabalho de Granovetter (1973) que
entende que os laços fracos entre dois atores de uma rede social geram um efeito paradoxal.
Mesmo que se especule o contrário, essa aparente fraqueza dos laços é indispensável no
aproveitamento de oportunidades e na integração entre comunidades. Isso porque os laços
fracos não demandam a mesma energia para serem mantidos, mas permitem igual acesso ao
conhecimento. Dessa maneira, um ator eficiente, é aquele que possui muitos buracos
estruturais em sua rede.

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A análise de redes sociais (SNA) é uma metodologia empregada na análise do
comportamento de indivíduos conectados por laços específicos, refletindo as interações e
interconectividades ali presentes. Dessa maneira, o foco da análise não está no indivíduo em
si, mas sim no seu papel e no papel desempenhado pelo grupo (SOUZA; QUANDT, 2008).
Segundo Carpenter, Li e Jiang (2012), diversos estudos empregaram a SNA nos
ambientes organizacionais, tanto a nível interpessoal, quanto a nível interorganizacional. Para
os autores, existem basicamente dois tipos desses estudos. Aqueles focados na pesquisa sobre
capital social e aqueles focados na pesquisa sobre o desenvolvimento da rede. Naturalmente,
em função do foco e do nível pretendido, há necessidade do pesquisador usar métodos,
indicadores e constructos específicos.
METODOLOGIA
Para se atingir os objetivos propostos, realizou-se um recorte longitudinal de 37
eventos, sendo, entre os anos de 1997 a 2013, de artigos acadêmicos publicados no Encontro
da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), entre
os anos de 1998 e 2013, de artigos acadêmicos publicados nos Seminários em Administração
da FEA-USP (SemeAd), entre os anos de 2001 a 2013, de artigos acadêmicos publicados no
Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente (ENGEMA), entre os
anos de 2003 a 2013, de artigos acadêmicos publicados no Encontro de Estudos em Estratégia
(3Es) e entre os anos de 2004 a 2013, de artigos acadêmicos publicados no Simpósio de
Excelência em Gestão e Tecnologia (SEGeT).
Optou-se por selecionar artigos publicados exclusivamente em anais de eventos, pois
considera-se que nestes ocorre o nascimento de artigos que serão publicados em periódicos
após passarem por revisões e debates. Dessa maneira, evita-se a contagem duplicada de
autores e trabalhos. Além disso, Walter e Bach (2013) argumentam que esse tipo de seleção
favorece a homogeneidade da amostra, bem como garante maior quantidade de dados.
A seleção dos artigos foi feita na área de estratégia dos eventos e também nas áreas
específicas (sustentabilidade, SGA ou RSC), quando fosse o caso. Para tanto, foi utilizado
sistema de busca em que as palavras – sustentabilidade, sustentável, ambiental, ambiente ou
social – e suas correspondentes nos idiomas inglês e espanhol estivessem presentes no título
ou palavras-chave nos artigos da área de estratégia e as palavras – estratégia, estratégico ou
estratégica – e suas correspondentes nos idiomas inglês e espanhol estivessem presentes no
título ou palavras-chave nos artigos das áreas de RSC, SGA ou sustentabilidade, quando
aplicável. Após esse primeiro filtro, foi realizada leitura dos resumos dos artigos buscando
verificar se os mesmos realmente tratavam da temática em análise.
Após essa fase de seleção, foram analisadas as estatísticas descritivas sobre os artigos
e buscou-se, por meio de teste não paramétrico (Mann-Whitney), identificar se os autores que
escrevem coletivamente são mais produtivos que os autores que escrevem isoladamente. Para
essas análises, utilizou-se o software SPSS, versão 17.0. Além dessas análises, os autores e
suas respectivas instituições foram identificados, sendo elaboradas matrizes quadradas com os
mesmos visando identificar a rede de pesquisadores e a rede de IES sobre o tema. Dessa
maneira, no presente estudo foram analisadas duas redes, uma onde os atores são os autores
dos artigos e outra onde os atores são as IES. Ambas foram formadas por laços de coautoria.
Além da matriz quadrada, foram elaboradas apresentações gráficas da rede. As análises de
redes sociais foram realizadas por meio do software Ucinet, versão 6.507, e visaram: 1)
identificar a centralidade dos atores e sua ação como gatekeepers, considerando que atores
proeminentes são aqueles envolvidos em muitos relacionamentos com outros atores; 2)
identificar quantidade de buracos estruturais e comparar a eficiência entre atores,

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considerando que contatos redundantes tendem a ser desnecessários; 3) identificar blocos de
pesquisadores por meio da análise de equivalência estrutural.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta a quantidade total de artigos nos eventos pesquisados, bem como
a quantidade de artigos nas áreas de estratégia e temas relacionados à sustentabilidade (o
somatório dessas áreas é apresentado). Além dessas informações, na penúltima coluna é
apresentada a quantidade de artigos que se enquadram nos critérios apresentados no parágrafo
anterior e foram selecionados para o estudo.
Tabela 1 – Quantitativo de Artigos
Artigos nas áreas de
Quantidade total de Artigos
Evento Estratégia e/ou
ARTIGOS SELECIONADOS
sustentabilidade
3Es 679 (100%) 679 (100%) 17 (2,5%)
EnANPAD 11495 (100%) 1404 (12,2%) 52 (0,5%)
ENGEMA 1232 (100%) 1232 (100%) 58 (4,7%)
SEGeT 3550 (100%) 1103 (31,1%) 22 (0,6%)
SemeAd 4554 (100%) 764 (16,8%) 24 (0,5%)
TOTAL 21510 (100%) 5182 (24,1%) 173 (0,8%)
Fonte: dados da pesquisa
Com base nos números apresentados na Tabela 1, observa-se que os campos de
estratégia e sustentabilidade representam quase um quarto dos trabalhos apresentados nos
eventos analisados (24,1%), porém, pelos critérios de filtragem estabelecidos na pesquisa,
apenas 0,8% dos artigos tratam de ambos os assuntos em pauta. Isso indica que tanto o tema
da estratégia, quanto o tema da sustentabilidade atraem pesquisadores, porém poucos
empreendem pesquisas que levem em conta como ocorre a interação entre essas duas áreas.
Ao todo, 394 pesquisadores foram os responsáveis pela publicação dos artigos
selecionados. Destes, 94% (371) escreveram seus artigos com coautores e apenas 6% (23)
publicaram isoladamente.
A Tabela 2 apresenta a quantidade de artigos por evento ao longo do período
analisado. Os traços indicam que não houve evento no ano, ao passo que o algarismo “0”
indica que houve evento, porém não houve artigo publicado que atendesse aos filtros da
pesquisa.
Tabela 2 – Quantidade de artigos publicados por evento
Evento\ano 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 Total %
Engema - 0 0 0 2 0 4 0 0 0 0 5 0 17 12 11 7 58 34%
Enanpad 1 0 0 0 3 5 4 1 3 3 3 1 4 8 4 8 6 54 31%
Seget - - - - - - - 0 4 5 3 2 0 2 1 3 2 22 13%
Semead - 0 0 0 0 0 0 1 4 0 1 2 4 1 2 5 2 22 13%
3Es - - - - - - 0 - 0 - 0 - 3 - 7 - 7 17 10%
Total 1 0 0 0 5 5 8 2 11 8 7 10 11 28 26 27 24 173 100%
% 1% 0% 0% 0% 3% 3% 5% 1% 6% 5% 4% 6% 6% 16% 15% 16% 14% 100%
Fonte: dados da pesquisa
Analisando os dados contidos na Tabela 2, observa-se que a maior parte dos artigos
publicados (60,7%) concentra-se nos últimos quatro anos (2010 a 2013). De 1997 a 2000,
apenas um artigo foi publicado (0,6%) e, entre 2001 e 2009, houve acréscimo gradual da
quantidade de artigos publicados (38,3%). Estes números indicam que este campo de pesquisa

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apresenta franco crescimento e corroboram a importância que a sustentabilidade está tomando
dentro das organizações.
Os eventos mais visados pelos pesquisadores são o ENGEMA (34%) e o EnANPAD
(31%), sendo que, nos últimos quatro anos, o primeiro apresenta 80,8% a mais de artigos do
que segundo. Tal fato indica que o ENGEMA está se tornando o evento brasileiro de maior
vulto nas pesquisas sobre sustentabilidade estratégica. Essa conclusão pode estar embasada no
fato do evento ser o único dos cinco pesquisados que apresenta exclusividade na temática
ambiental.
A Tabela 3 apresenta em ordem decrescente o número de artigos que as 10 instituições
de pesquisa mais produtivas publicou. Destacam-se como polos de pesquisa sobre
sustentabilidade estratégica a UFSM, USP e UFSC. Juntas, elas representam 27% dos artigos
publicados. Observa-se que o número total de artigos publicados presentes na tabela é 249,
sendo o total de artigos selecionados 173. Tal discrepância ocorre em função de um mesmo
artigo poder ser escrito por pesquisadores de diferentes instituições.
Tabela 3 – Quantidade de artigos publicados por instituição de ensino
Rótulos de Linha 3Es Enanpad Engema Seget Semead TOTAL
UFSM 2 5 6 1 5 19
USP 1 4 6 1 4 16
UFSC 4 5 2 1 12
UFRGS 7 1 8
UNIVALI 4 2 2 8
EAESP-FGV 2 4 1 7
UFBA 5 2 7
UFC 5 2 7
UFLA 1 1 2 1 1 6
UFPB 3 2 1 6
OUTRAS 19 34 57 24 19 153
TOTAL 23 74 89 31 32 249
Fonte: dados da pesquisa
A Tabela 4 apresenta a produtividade de autores que escreveram mais de um artigo.
Com base na mesma, observa-se que, em termos absolutos, os autores que publicaram seus
artigos com coautores foram muito mais produtivos que os autores que publicaram
isoladamente. Isso indica que a rede de autores deve possuir correlação com a produtividade
dos seus integrantes. Para se testar essa suposição, foi utilizado o teste de Mann-Whitney. O
referido teste foi escolhido, pois a amostra utilizada não atende aos pressupostos da análise de
variância (ANOVA), mas também serve para verificar se a média dos grupos são
estatisticamente iguais. Assim, tem-se que:
Ho= média entre os grupos são iguais
Ha= média entre os grupos são diferentes

Tabela 5 – Teste de Mann-Whitney


Número de artigos publicados
Mann-Whitney U 3928,50
Wilcoxon W 4204,50
Z -1,145
Sig. da assimetria (calda dupla) 0,252
Fonte: dados da pesquisa

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A Tabela 5 apresenta os resultados do teste de Mann-Whitney. Observa-se que o valor
de significância (p-valor) ficou acima de 0,05, indicando que se falha em rejeitar a hipótese
nula. Assim, mesmo supondo-se o contrário, conclui-se que as médias são estatisticamente
iguais e não há diferença entre a produtividade dos autores que escrevem isoladamente dos
autores que escrevem coletivamente.
Tabela 4 – Autores que publicaram dois ou mais artigos
Autores isolados Qtde Autores em grupo Qtde
José Milton de Sousa Filho 2 Clandia Maffini Gomes 8
Jordana Marques Kneipp 5
Luciana Aparecida Barbieiri da Rosa 5
Mônica Cavalcanti Sá de Abreu 5
José Milton de Sousa Filho 4
Elaine Ferreira 3
Flavia Luciane Scherer 3
Luana das Graças Queiroz de Farias 3
Lucas Veiga Ávila 3
Luciano Barin Cruz 3
Maria de Fátima Barbosa Goés 3
Samuel Carvalho De Benedicto 3
Adilson Carlos da Rocha 2
Alexandre de Almeida Faria 2
André Gustavo Carvalho Machado 2
André Luis Rocha de Souza 2
Andréa Cardoso Ventura 2
Attus Pereira Moreira 2
Carla Regina Pasa Gómez 2
Carlos Ricardo Rossetto 2
Christiane Madalena Matheus de Alcântara 2
Edilei Rodrigues de Lames 2
Edison Fernandes Polo 2
Eliete Pozzobon Palma 2
Geraldo Sardinha Almeida 2
Gesinaldo Ataíde Cândido 2
Gilnei Luiz de Moura 2
João Fernando Zamberlan 2
João Serafim Tusi da Silveira 2
Jorge Cunha 2
José Célio Silveira Andrade 2
Josiane de Andrade Pereira 2
Josuéliton da Costa Silva 2
Larissa Teixeira da Cunha 2
Lúcia Rejane Da Rosa Gama Madruga 2
Lucia Santana de Freitas 2
Marcos Antonio Gaspar 2
Marcos Cohen 2
Paulo Mauricio Selig 2
Rafael Barreiros Porto 2
Rivanda Meira Teixeira 2
Roberto Schoproni Bichueti 2
Rodrigo Belmonte da Silva 2
Soraya Giovanetti El-Deir 2
Uiara Gonçalves de Menezes 2
Fonte: dados da pesquisa
Como observado na Tabela 5, não há diferença significativa entre a média de trabalhos
publicados por autores isolados ou em grupo. Independente desta condição, este trabalho
considerou o efeito das redes entre pesquisadores. Isso porque, cada vez mais, a ciência está
se tornando um empreendimento coletivo. Assim, autores e instituições de pesquisa formam

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grupos com intuito de aperfeiçoar a produção de trabalhos. Tal fenômeno é muito recorrente
nas ciências naturais, porém está se tornando cada vez mais presente nas ciências sociais
(MOODY, 2004). Em se tratando da pesquisa sobre o assunto, Watanabe, Gomes e Hoffmann
(2013) afirmam que a coautoria é o principal atributo para se configurar uma rede entre
pesquisadores.
Considerando o exposto, a Figura 1 apresenta graficamente as redes formadas pelos
autores. Para facilitar a visualização, os componentes estão indicados por cores diferentes de
acordo com o tamanho dos mesmos.
Figura 1 – Rede de Autores

Fonte: dados da pesquisa


Analisando a Figura 1, chega-se à conclusão que a produção acadêmica nas áreas de
estratégia e sustentabilidade é composta por diversas sub-redes de pesquisadores, muitas
vezes isoladas, além dos autores isolados (não representados na Figura). Foram gerados 104
componentes, sendo que 37 com dois autores, 32 com três autores, 20 com quatro autores e o
restante com cinco ou mais autores. O componente principal possui 25 atores. A figura 2,
apresenta graficamente o componente principal.
Neste diagrama é possível visualizar que as autoras Clandia M. Gomes, Luciana A. B.
da Rosa e Jordana M. Kneipp possuem maior quantidade de artigos em comum, fato esse
evidenciado pela largura dos laços.
A densidade de uma rede é calculada pela proporção entre a quantidade máxima de
laços possíveis e a quantidade de laços existentes. Essa medida serve para indicar o nível de
proximidade entre os atores da rede (SOUZA e QUANDT, 2008). O grau médio indica o
valor da média aritmética do número de laços dos atores da rede (HANNEMAN e RIDDLE,
2005). Componente é considerado uma sub-rede de uma rede maior e o diâmetro indica a
maior distância possível entre os pontos da rede e é medido em número de laços (SOUZA;
QUANDT, 2008).

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Figura 2 – Componente Principal da rede de autores

Fonte: dados da pesquisa


A Tabela 6 apresenta os dados gerais da rede. Observa-se baixa densidade geral
(0,6%), corroborando a visualização da Figura 1. O grau médio da rede também é baixo
(2,45), indicando que os autores possuem pouca autoria em conjunto. A distância média entre
autores é de 1,75 laço e o diâmetro da rede é de 5 laços.
Tabela 6 – Dados Gerais
REDES DE
AUTORES
Grau médio 2,45
Densidade 0,006
Componentes 104
Distância média 1,75
Diâmetro 5
Fonte: dados da pesquisa
Atores proeminentes são aqueles muito envolvidos em relacionamentos com outros
atores (WASSERMAN e FAUST, 1994). Para essa variável, não há uma preocupação
explícita com a direção do relacionamento. O que conta é em quantos laços o ator está
envolvido. Basicamente há três tipos de centralidade. De grau, de proximidade e de
intermediação. A primeira diz respeito ao número de laços que o ator possui com os demais.
A segunda tem a ver com a relação entre as distâncias de um ator com os demais. A terceira
indica quantas vezes um ator pode intermediar as relações entre os demais atores (FAUST e
WASSERMAN, 1992).
Com relação à centralidade dos autores, os achados explicitados na Figura 2 são
corroborados pelos dados da tabela 7.

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Tabela 7 – 10 Autores mais Centrais
AUTOR GRAU PROXIMIDADE INTERMEDIAÇÃO
Clandia Maffini Gomes 13 0,41 102,41
Jordana Marques Kneipp 9 0,34 48,15
Adilson Carlos da Rocha 8 0,24 44,48
Francies Diego Motke 8 0,31 21,59
Luana das Graças Queiroz de Farias 8 0,00 13
Luciana Aparecida Barbieiri da Rosa 8 0,33 13,97
Samuel Carvalho De Benedicto 8 0,00 37
André Luis Rocha de Souza 7 0,00 8
Eliete Pozzobon Palma 7 0,30 13,78
Monica Cavalcanti Sá de Abreu 7 0 21
Fonte: dados da pesquisa
Observa-se que as três medidas de centralidade apresentam resultados pouco
dissonantes. Isso significa que os autores mais centrais também exercem a função de
gatekeepers, ou seja, servem de ponte entre autores menos proeminentes e conseguem acessar
mais facilmente todos os demais atores da rede.
Além dessa análise, a Tabela 8 apresenta em ordem alfabética os gatekeepers, que
segundo Hanneman e Riddle (2005), são os atores responsáveis pela conexão dos sub-grupos
dentro dos componentes da rede. Por sua posição estratégica na rede, são considerados atores
relevantes.
Tabela 8 - Gatekeepers
Ator Gilnei Luiz de Moura Minelle Enéas da Silva
Alexandre de Almeida Faria José Milton de Sousa Filho Monica Cavalcanti Sá de
Carla Regina Pasa Gómez Josias Jacintho Bittencourt Abreu
Carlos Ricardo Rossetto Lucas Veiga Ávila Paulo Mauricio Selig
Clandia Maffini Gomes Rafael Barreiros Porto
Luciano Barin Cruz
Edison Fernandes Polo Rivanda Meira Teixeira
Luciel Henrique de Oliveira
Elaine Ferreira Roberto Bazanini
Marcos Antonio Gaspar
Flavia Luciane Scherer Marcos Cohen Samuel Carvalho De
Geraldo Sardinha Almeida Maria de Fátima Barbosa Benedicto
Gesinaldo Ataíde Cândido Goés Soraya Giovanetti El-Deir
Fonte: dados da pesquisa
Apenas três atores apresentados na Tabela 8 figuram entre os 10 mais centrais. Isso
evidencia a característica de dispersão e baixa densidade da rede, pois atores com menor
centralidade assumem papéis considerados importantes e de relevância na rede.
Utilizam-se os termos buracos ou lacunas estruturais para definir a separação e
conexão entre os contatos não redundantes da rede. Como resultado da existência de buracos
estruturais, dois contatos provêm benefícios que são aditivos ao invés de repetitivos
(GRANOVETTER, 1973; BURT, 1992). A Tabela 9 apresenta os dados acerca da eficiência
dos atores em estruturar sua rede de contatos.
Ao se analisar as lacunas estruturais apresentadas na Tabela 9, observa-se boa
eficiência por parte dos atores selecionados. Tal fato pode ser explicado pela baixa densidade
da rede e grande número de componentes isolados. As pesquisadoras Mônica Abreu e Clandia
Gomes se destacam dos demais pesquisadores por apresentarem boa eficiência, mesmo com
grande número de lacunas e densidade menor que a maioria dos pesquisadores.

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Tabela 9 – 10 Maiores Lacunas Estruturais (rede de autores)
Pesquisador Eficiência Lacunas Densidade
José Milton de Sousa Filho 0,84 4,2 0,2
Monica Cavalcanti Sá de Abreu 0,836735 5,857143 0,190476
Elaine Ferreira 0,777778 2,333333 0,333333
Geraldo Sardinha Almeida 0,777778 2,333333 0,333333
Gesinaldo Ataíde Cândido 0,777778 2,333333 0,333333
Luciano Barin Cruz 0,777778 2,333333 0,333333
Marcos Cohen 0,777778 2,333333 0,333333
Paulo Mauricio Selig 0,777778 2,333333 0,333333
Rafael Barreiros Porto 0,777778 2,333333 0,333333
Clandia Maffini Gomes 0,763314 9,923077 0,25641
Fonte: dados da pesquisa
Em SNA, a análise de posição pode ser mais útil do que a análise individual dos
agentes e suas conexões. O conceito chave por trás desse posicionamento é a equivalência
estrutural, isto é, diz respeito a um tipo específico de relações estabelecido por uma categoria
particular de agentes. A característica mais relevante nesta abordagem é evidenciada nas
relações entre estes grupos de pontos, chamados de blocos, na matriz (SCOTT, 2000). O
primeiro algoritmo para investigação da equivalência estrutural foi desenvolvido por Breiger,
Borrman e Arabie (1975) e Schwartz (1977) e se chamava CONCOR (CONvergence of
iterated CORrelations). O resultado deste procedimento é apresentado na Figura 3.
Figura 3 – Dendograma CONCOR de Equivalência Estrutural

Fonte: dados da pesquisa


Ao se observar a Figura 3, verifica-se a existência de oito grupos equivalentes no nível
3 e quatro grupos no nível 2. Isso significa que estes atores apresentam mesmo papel dentro
do nível de análise realizado. Observando-se que os dois primeiros grupos formados possuem
mais de 50% dos pesquisadores, conclui-se que não há muita heterogeneidade entre os atores
da rede, indicando que, de maneira geral, os autores trabalham em conformidade e suas redes

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apresentam configurações relativamente similares. Analisando a Figura 1, infere-se que os
papéis de maior recorrência nesta rede são aqueles dos componentes de dois ou três
pesquisadores isolados.
Considerando-se as instituições de pesquisa a que os pesquisadores pertencem, foi
elaborado um diagrama (Figura 4) com as redes formadas pelas mesmas. Os laços foram
determinados pela produção em conjunto, assim, a filiação dos pesquisadores foi considerada
na elaboração da matriz. Casos redundantes, em que mais de um pesquisador da mesma
instituição participou da escrita do mesmo artigo, foram desconsiderados.
Figura 4 – Redes de instituições de pesquisa

Fontes: dados da pesquisa


Cada componente está representado por uma cor diferente. A largura dos laços é
determinada pela quantidade de artigos em comum. Assim como na rede de autores, as
instituições isoladas foram suprimidas na Figura.
Observa-se que a rede de instituições apresenta bem menos componentes e atores do
que a rede de autores. Tal fato é explicado pelo fato de que cada instituição pode ter diversos
pesquisadores afiliados, funcionando como uma proxy do desenvolvimento científico na área.
Ao todo, foram 10 componentes. Das 97 instituições avaliadas, 20 não publicaram em
conjunto com outras IES.
A Figura 5 apresenta o componente principal da rede de instituições que conta com 41
atores. Isso significa que 42% das instituições pesquisadas participam da mesma rede de
pesquisas sobre sustentabilidade estratégica. Comparada à rede de pesquisadores, que
somente 6,4% dos pesquisadores estavam no componente principal, esta rede indica que, em
termos gerais, as instituições exercem papel significativo no compartilhamento do
conhecimento sobre o tema. Observa-se que as instituições que mais publicam conjuntamente
são a UNIVALI e a UFSC (3 artigos), UFLA e UFSJ, UFSM e USP, UFSM e IFI-SVS, IFI-
SVS e URI, UNASP e PUC-Campinas (2 artigos).

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Figura 5 – Componente principal da rede de instituições

Fonte: dados da pesquisa


A Tabela 10 apresenta os dados gerais das redes. Observa-se que o grau médio desta
rede é menor que o grau médio da rede de pesquisadores. Isso pode ser explicado pelo menor
número de atores na rede. Em contrapartida, a densidade da rede é três vezes maior que a
densidade da rede de autores. A distância média e o diâmetro também são maiores, indicando
que esta rede apresenta-se mais distribuída e dependente de gatekeepers.
Tabela 10 – Dados Gerais
REDES DE
INSTITUIÇÕES
Grau médio 1,65
Densidade 0,017
Componentes 10
Distância média 3,44
Diâmetro 8
Fonte: dados da pesquisa
Com relação à centralidade das instituições, os dados apresentados na Tabela 11
mostram que a USP é a IES mais central. Isso implica dizer que esta instituição goza de mais
prestígio na publicação de trabalhos referentes ao tema.
Tabela 11 – 10 instituições mais Centrais
AUTOR GRAU PROXIMIDADE INTERMEDIAÇÃO
USP 14 0,56 616
UFLA 8 0,27 217
IMES 5 0,30 39
PUC-CAMPINAS 5 0,24 57,5
UFSM 5 0,14 390
UFSC 5 0,03 277
FAAP 4 0,29 0
USCS 4 0,29 0
UNIP 4 0,29 0
UNASP 4 0,24 18,5
Fonte: dados da pesquisa

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Em termos de capacidade de intermediação, a USP também é líder, porém chama a
atenção o desempenho da UFSM e da UFSC, segundo e terceiro lugar respectivamente. Isso
indica que estas instituições funcionam como gatekeepers, e portanto, também possuem
elevado prestígio e consequente acesso ao conhecimento.
Os dados apresentados na Tabela 12 corroboram os achados discutidos no parágrafo
acima. A UFSM é a IES mais eficiente em termos relativos. Isso significa que, dentre as
instituições pesquisadas, ela consegue tirar melhor proveito de seus laços. Isso não significa
que, em termos absolutos, ela tenha desempenho superior às outras IES no compartilhamento
do conhecimento. De maneira geral, as cinco maiores lacunas estruturais demonstram alto
índice de eficiência por parte das IES pesquisadas, evidenciando que, há bom potencial de
inovação entre as pesquisas desenvolvidas na área.
Tabela 12 –10 Maiores Lacunas Estruturais (rede de instituições)
Pesquisador Eficiência Lacunas Densidade
UFSM 0,92 4,60 0,10
USP 0,90 12,57 0,11
UFLA 0,88 7,00 0,14
EAESP-FGV 0,78 2,33 0,33
URI 0,78 2,33 0,33
PUC-CAMPINAS 0,68 3,40 0,40
IMES 0,52 2,60 0,60
ESUP 0,50 1,00 1,00
FAE 0,50 1,00 1,00
Fonte: Dados da pesquisa.
A Figura 6 apresenta o dendograma CONCOR de equivalência estrutural. Diferente da
rede de pesquisadores, onde existia dois grupos majoritários que detinham mais de 50% dos
pesquisadores, a rede de instituições de pesquisa apresenta quatro grupos mais relevantes, o
que evidencia que esta rede é mais heterogênea em relação ao papel das IES no
desenvolvimento das pesquisas sobre sustentabilidade estratégica. Conclui-se então que as
instituições de pesquisa comportam-se de maneira mais própria e independente na formação
de seus laços baseados na produção acadêmica.

Figura 6 - Dendograma CONCOR de Equivalência Estrutural

Fonte: Dados da pesquisa

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi entender como as pesquisas sobre sustentabilidade no
meio organizacional estão se desenvolvendo no Brasil. Baseado no tamanho da amostra
encontrada, ao se comparar com o total de artigos publicados no período, conclui-se que ainda
há longo caminho a ser seguido no desenvolvimento de pesquisas que conjugam estratégias
de empresas com práticas sustentáveis.
No que diz respeito à produtividade dos autores da área, observa-se que a maioria
publica seus trabalhos com coautores, o que é considerado positivo no desenvolvimento de
qualquer ciência. Porém, observou-se que autores que publicam em conjunto não são mais
produtivos do que aqueles que publicam isoladamente.
A rede de coautores da área apresenta baixa densidade e muitos componentes, sendo
que boa parte desses estão isolados. Tal estrutura indica que há pouco intercâmbio entre esses
autores, ficando evidente o papel de centralidade e/ou gatekeepers de alguns pesquisadores.
Esta configuração pouco densa favorece o aparecimento de lacunas estruturais,
consideradas positivas em uma rede desta natureza. Nesse sentido, observa-se autores com
elevada eficiência, mesmo desempenhando papel de centralidade. A análise de equivalência
estrutural mostrou que os autores desempenham papéis pouco diferentes ao longo da rede, o
que corrobora a necessidade de crescimento da área.
Com relação à rede de instituições de pesquisa, observou-se um número reduzido de
componentes e a presença de boa parte dessas instituições (42%) no componente principal. A
densidade da rede é três vezes maior do que a rede de autores, porém seu diâmetro é maior, o
que indica que a rede é mais bem distribuída, porém ainda dependente de gatekeepers.
Algumas instituições desempenharam papel mais relevante no desenvolvimento da
pesquisa do que outras. USP, UFSM e UFSC são as IES que apresentaram melhor capacidade
de intermediar a produção acadêmica entre as demais instituições.
Em termos da eficiência na construção da rede, UFSM e USP conseguiram manter alto
índice (maior que 90%). Isso indica que, além de centrais, estas IES conseguem extrair o
máximo de seus laços, fazendo com que sua produção acadêmica seja enriquecida em função
desta troca de conhecimento.
O comportamento das instituições apresentou-se mais heterogêneo do que o
comportamento dos autores. Isso evidencia que ao se considerar uma abordagem mais macro
(institucional), há maior diversidade e consequente maior capacidade de desenvolvimento
científico.
Observando-se tanto a rede formada por autores, quanto a rede formada por
instituições, conclui-se que ainda há longo caminho a ser percorrido no desenvolvimento de
pesquisas sobre a sustentabilidade estratégica. Os principais indicadores que sustentam este
achado é o número excessivo de componentes com baixo número de atores e a falta de
correlação entre produção acadêmica e coautoria.
Para pesquisas futuras, sugere-se realizar a análise do efeito do tempo no
desenvolvimento das redes de pesquisadores e instituições para verificar a taxa de
crescimento das mesmas e as modificações em suas estruturas. Além disso, considera-se
importante aprofundar os estudos sobre o grau de especialidade dos principais pesquisadores
da área, buscando identificar há quanto tempo eles publicam sobre sustentabilidade
estratégica e se os mesmos somente publicam trabalhos exclusivamente sobre o tema.

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